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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO DA INFORMAÇÃO E DO CONHECIMENTO GEILSON DE MACEDO BIBIANO DESENVOLVIMENTO DE UMA SOLUÇÃO PARA SUPORTE À TOMADA DE DECISÃO EM UM ÓRGÃO PÚBLICO COM APLICAÇÃO CONCOMITANTE DA GESTÃO DA INFORMAÇÃO E DE UMA FERRAMENTA DE BUSINESS INTELLIGENCE Natal - RN 2022 GEILSON DE MACEDO BIBIANO DESENVOLVIMENTO DE UMA SOLUÇÃO PARA SUPORTE À TOMADA DE DECISÃO EM UM ÓRGÃO PÚBLICO COM APLICAÇÃO CONCOMITANTE DA GESTÃO DA INFORMAÇÃO E DE UMA FERRAMENTA DE BUSINESS INTELLIGENCE Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Gestão da Informação e do Conhecimento da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como parte das exigências para obtenção do título de Mestre em Gestão da Informação e do Conhecimento. Área de concentração: Informação e conhecimento na sociedade contemporânea. Linha de pesquisa: Gestão, comunicação e uso da informação. Orientador: Prof. Dr. Wattson José Saenz Perales Natal - RN 2022 Bibiano, Geilson de Macedo. Desenvolvimento de uma solução para suporte à tomada de decisão em um órgão público com aplicação concomitante da gestão da informação e de uma ferramenta de business intelligence / Geilson de Macedo Bibiano. - 2022. 79f.: il. Dissertação (Mestrado Profissional em Gestão da Informação e do Conhecimento) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Programa de Pós-Graduação em Gestão da Informação e do Conhecimento. Natal, RN, 2022. Orientador: Prof. Dr. Wattson José Saenz Perales. 1. Gestão da informação - Dissertação. 2. Inteligência de negócios - Dissertação. 3. Necessidades informacionais - Dissertação. 4. Tomada de decisão - Dissertação. 5. Projetos acadêmicos - Dissertação. I. Perales, Wattson José Saenz. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título. RN/UF/Biblioteca CCSA CDU 005.94 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências Sociais Aplicadas - CCSA Elaborado por Eliane Leal Duarte - CRB-15/355 GEILSON DE MACEDO BIBIANO DESENVOLVIMENTO DE UMA SOLUÇÃO PARA SUPORTE À TOMADA DE DECISÃO EM UM ÓRGÃO PÚBLICO COM APLICAÇÃO CONCOMITANTE DA GESTÃO DA INFORMAÇÃO E DE UMA FERRAMENTA DE BUSINESS INTELLIGENCE Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Gestão da Informação e do Conhecimento da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como parte das exigências para obtenção do título de Mestre em Gestão da Informação e do Conhecimento. Orientador: Prof. Dr. Wattson José Saenz Perales Aprovada em 02 / 08 / 2022 BANCA EXAMINADORA ____________________________________ Prof. Dr. Wattson José Saenz Perales Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Orientador) ____________________________________ Prof. Dr. Pedro Alves Barbosa Neto Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Examinador Interno) ____________________________________ Prof. Dr. Wagner Junqueira de Araújo Universidade Federal da Paraíba (Examinador Externo) Dedico este trabalho a você, leitor (a), que está em busca de aprender e compartilhar conhecimentos. AGRADECIMENTOS Agradeço à Deus, por ter me proporcionado a oportunidade de desenvolver a pesquisa e por ter me guiado nos momentos de dúvidas, mostrando que a desistência é sempre o caminho mais fácil, mas não é o caminho que Ele planejou. Agradeço à minha mãe, Gelva, que já no ensino infantil me ensinou que o ato de estudar é uma ferramenta de crescimento pessoal e social e, que o conhecimento nenhum sistema é capaz ignorar. Agradeço ao meu orientador, o professor Wattson Perales, pela paciência e pelos valiosos ensinamentos ao longo dessa jornada. Agradeço aos amigos que tenho a honra de compartilhar o ambiente de trabalho e que contribuíram de forma singular em diferentes etapas da pesquisa: Gilmar, que me orientou e me ajudou no início dessa jornada compartilhando seus conhecimentos e experiências; Anderson, que me ajudou na aplicação de TI quando meu conhecimento não era suficiente; Prof. Josué, por me incentivar e agregar conhecimento durante todas as etapas da investigação; Rose, Janilda e prof. Jorge, equipe excepcional que fortaleceu o alcance dos objetivos com as ricas contribuições de melhorias no estudo. Agradeço ao Profº. Pedro e ao Prof.º Wagner, membros da banca, pela disponibilidade e pelas indispensáveis contribuições ao estudo. Agradeço a todos os amigos que de forma direta ou indireta contribuíram para a pesquisa por meio do compartilhamento de conhecimentos, experiências e motivações. Já sentiu a água do mar tocar seus pés após uma longa e cansativa jornada? É como um abraço da vida. RESUMO A gestão da informação mostra-se necessária para o aperfeiçoamento de processos decisórios e para o alcance de objetivos e metas nas organizações. Neste cenário, torna-se imprescindível gerir o excesso de informações produzidas e entregar aquelas que são úteis para os tomadores de decisão. Assim, esta pesquisa busca desenvolver um produto - protótipo - de Business Intelligence, sob a ótica da gestão de informação, para dar suporte à tomada de decisão no processo de gerenciamento das reformulações de projetos acadêmicos na Diretoria de Projetos Acadêmicos - DPA/UFRN. Este processo é gerenciado pela DPA por meio do aplicativo Trello, onde são registrados os fluxos informacionais desde o início de uma solicitação de reformulação em projeto acadêmico até a sua implementação. O estudo propôs de forma específica quatro objetivos: 1. Identificar as necessidades informacionais dos atores da tomada de decisão no processo investigado; 2. Modelar um ambiente de BI para gerenciar as informações produzidas durante o gerenciamento das reformulações em projetos acadêmicos no âmbito da DPA; 3. Elaborar um painel de indicadores de desempenho para suporte à tomada de decisão; 4. Validar a solução desenvolvida frente às necessidades informacionais dos atores envolvidos. Os objetivos foram alcançados por meio de uma pesquisa aplicada, qualitativa e descritiva, adotando-se os procedimentos metodológicos propostos por Blessing e Chakrabarti (2009) na obra “DRM, A Design Research Methodology”. A coleta de dados do estudo foi realizada por meio de pesquisa documental, pesquisas bibliográficas, reunião dirigida e grupos focais, obtendo-se, como resultado, um protótipo de um painel de indicadores utilizando-se a ferramenta Microsoft Power BI com base em modelos de GI e a metodologia de BI. O produto atendeu as necessidades informacionais dos usuários, que o aplicam tanto no acompanhamento de desempenho do processo estudado quanto nas tomadas de decisões inicialmente voltadas para ações de melhoria contínua. Palavras-chave: Gestão da Informação. Inteligencia de negócios. Necessidades informacionais. Tomada de decisão. Projetos acadêmicos. ABSTRACT Information management proves to be necessary for the improvement of decision-making processes and for the achievement of objectives and goals in organizations. In this scenario, it becomes essential to manage the excess of information produced and to deliver those that are useful to decision makers. This research seeks to develop a Business Intelligence product - prototype - from the perspective of information management,to support decision-making in the academic projects management reformulation process in the Academic Projects Board - DPA/UFRN. This process is managed by DPA through the Trello application, where information flows from the beginning of an academic project reformulation request to its implementation. The study specifically proposed four objectives: 1. Identify the informational needs of the decision-making actors in the investigated process; 2. Model a BI environment to manage the information produced during the management of reformulations in academic projects under the DPA; 3. Develop an indicator performance panel to support decision making; 4. Validate the developed solution from informational needs of the involved actors. The objectives were achieved by means of an applied, qualitative and descriptive research, adopting the methodological procedures proposed by Blessing and Chakrabarti (2009) in the work “DRM, A Design Research Methodology”. Data collection for the study was carried out through documentary research, bibliographic research, directed meeting and focus groups, obtaining, as result, a prototype of an indicators panel developed using the Microsoft Power BI tool based on GI models and BI methodology. The product fulfilled the information needs of the users, who apply it both in the performance of the study process and in making decisions initially aimed to continuous improvement actions. Keywords: Information management. Business Intelligence. Information needs. Decision- making. Academic projects. LISTA DE QUADROS Quadro 01 - Atividades da etapa de identificação de necessidades e requisitos ............. 31 Quadro 02 - Etapas da pesquisa baseada em DRM ......................................................... 42 Quadro 03 - Etapas e estudos da pesquisa - desenvolvimento de uma nova solução...... 42 Quadro 04 - Técnicas de coleta de dados para cada objetivo específico da pesquisa ..... 47 Quadro 05 - Detalhamento do quadro de gerenciamento das reformulações .................. 52 Quadro 06 - Compilado das necessidades informacionais dos usuários ......................... 60 LISTA DE FIGURAS Figura 01 - Modelo genérico de gestão da informação de Davenport (1998) ................ 21 Figura 02 - Modelo de gestão da informação de McGee e Prusak (1994) ...................... 22 Figura 03 - Metáfora do Modelo Sense Making de Brenda Dervin ................................ 27 Figura 04 - Dinâmica dos fluxos de informações ............................................................ 29 Figura 05 - Modelo de fluxo de informação nas organizações........................................ 30 Figura 06 - Ciclo de análise do Business Intelligence ..................................................... 37 Figura 07 - Correlação entre a metodologia de BI e os modelos de GI referenciados .... 38 Figura 08 - Design Research: intenção, objetivos e facetas do design ........................... 41 Figura 09 - Detalhamento da metodologia baseada em DRM ......................................... 43 Figura 10 - Dinâmica de reformulações em projetos acadêmicos ................................... 46 Figura 11 - Visão geral do processo de gerenciamento de reformulações no Trello ...... 51 Figura 12 - Esboço desenvolvido a partir da reunião dirigida ......................................... 54 Figura 13 - Processo de reformulações em projetos acadêmicos .................................... 57 Figura 14 - Percurso da coleta de dados do Trello .......................................................... 59 Figura 15 - Painel de indicadores - produto final ............................................................ 61 Figura 16 - Recorte do painel com a ilustração dos indicadores criados ........................ 62 Figura 17 - Campos personalizados no Trello para registro de dados............................. 63 Figura 18 - Última etapa do processo (destaque vermelho) ............................................ 64 Figura 19 - Histórico de movimentações dos cartões no Trello ...................................... 65 Figura 20 - Ícone da função de relatórios ........................................................................ 66 Figura 21 - Relatório de reformulações por tipo de erro que provocou retrabalho ......... 67 Figura 22 - Relatório de reformulações por tempo de tramitação em cada etapa ........... 68 Figura 23 - Relatório de projetos e suas respectivas quantidades de reformulações ....... 68 LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS GI Gestão da Informação BI Business Intelligence PROPLAN Pró-Reitoria de Planejamento UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte DPA Diretoria de Projetos Acadêmicos FUNPEC Fundação Norteriograndense de Pesquisa e Cultura BDTD Biblioteca Digital de Teses e Dissertações UFTM Universidade Federal do Triângulo Mineiro UTFPR Universidade Tecnológica Federal do Paraná TI Tecnologia da informação KPI key performance indicator ETL Extract, Transform and Load DW Data Warehouse DRM Design Research Methodology PDI Plano de Desenvolvimento Institucional SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................13 2 REFERENCIAL TEÓRICO.....................................................................................19 2.1 Gestão da informação..............................................................................................19 2.1.1 Comportamento informacional...............................................................................24 2.1.1.1 Necessidades informacionais...............................................................................25 2.1.2 Fluxo de informação...............................................................................................28 2.1.3 Business Intelligence e gestão da informação: aplicação prática...........................32 2.1.3.1 Metodologia de Business Intelligence.................................................................35 3 METODOLOGIA.......................................................................................................39 3.1 Procedimentos metodológicos.................................................................................40 3.1.1 Etapas da pesquisa..................................................................................................41 3.1.1.1 Clarificação da pesquisa......................................................................................43 3.1.1.2 Estudo descritivo I...............................................................................................44 3.1.1.3 Estudo prescritivo................................................................................................50 3.1.1.4 Estudo descritivo II..............................................................................................50 4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS....................................................51 4.1 Objetivo 1 - Identificação das necessidades informacionais................................51 4.2 Objetivo 2 - Modelagem do ambiente de BI..........................................................56 4.2.1 Coleta de dados.......................................................................................................57 4.2.2 Transformação........................................................................................................59 4.2.3 Carga.......................................................................................................................59 4.2.4 Armazenamento......................................................................................................59 4.3 Objetivo3 - Elaboração de um painel de indicadores de desempenho...............60 4.4 Objetivo 4 - Validação da solução desenvolvida...................................................69 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................71 REFERÊNCIAS.............................................................................................................73 APÊNDICE I..................................................................................................................78 APÊNDICE II................................................................................................................80 13 1 INTRODUÇÃO A informação e a tomada de decisão estão intimamente ligadas dentro dos ambientes organizacionais. De um lado, a informação figura como bem intangível das organizações e, de outro, a tomada de decisão é subsidiada por esse bem. A informação configura-se como um recurso que, através de uma boa gestão, permite à organização melhorar seu desempenho na busca pelo cumprimento de metas e objetivos organizacionais. “Como qualquer outro recurso, a informação deve ser reconhecida por sua importância na estrutura organizacional, visto que é insumo básico para o desenvolvimento das diversas atividades estratégicas, táticas e operacionais” (VALENTIM et al. 2008, p.186). A informação norteia a tomada de decisão nas organizações e, segundo Choo (2006), cada modelo de processo decisório possui abordagens diferentes na obtenção e uso das informações, que podem reduzir as incertezas nas tomadas de decisão de três formas distintas: 1) Gerando uma situação de escolha através da estruturação do problema, que determina quais informações são necessárias no processo decisório; 2) Definindo preferências e selecionando regras; e, 3) Representando alternativas viáveis e suas possíveis consequências. Cabe à organização, seja ela pública ou privada, gerir o grande volume de informações que produzem buscando identificar e filtrar aquelas que são úteis e interessantes para os tomadores de decisão. Os membros da organização possuem o papel de interpretar as informações e usá-las de forma satisfatória e alinhada ao desenvolvimento organizacional. Para tanto, os fluxos de informações entre as unidades das organizações devem apresentar sinergia de forma que não existam barreiras ou dificuldades no acesso às informações relevantes, caso contrário, pode haver o comprometimento da qualidade da gestão. Na literatura, a gestão de informação (GI) encontra-se amparada por vários modelos que a orientam por meio do estabelecimento de etapas e fluxos informacionais que norteiam a obtenção, o tratamento, o armazenamento, o compartilhamento e o uso da informação no ambiente organizacional. Nesta perspectiva, este trabalho faz uma abordagem de GI a partir do entendimento da origem do termo e os conceitos que o definem. Ademais, são introduzidos alguns modelos de gestão informacional para clarificação da pesquisa, explicando-se as etapas que envolvem uma GI e os fatores envolvidos no processo de gestão. 14 Nesse cenário, realiza-se um estudo e aplicação da metodologia do Business Intelligence (BI) como um processo de gestão informacional voltado para a tomada de decisão, definindo-se o termo Business Intelligence e explicando BI como uma metodologia de gestão e não apenas como uma ferramenta ou tecnologia, de forma que BI tem sido usado como forma de solucionar problemas de negócios organizacionais relacionados aos dados. Diretamente, o BI não é responsável pelas ações de tomada de decisão e, sim, pela entrega das informações certas para que melhores ações sejam tomadas. Nessa linha de raciocínio, a gestão de informação dentro de uma empresa ou órgão público pode-se valer do processo de BI, abordando tratamento de dados, a eliminação de redundâncias, o manuseio, o uso e compartilhamento de informações, além do uso de indicadores de desempenho organizacionais, gráficos e tabelas dinâmicas. A presente pesquisa foi realizada no ambiente organizacional da Pró-Reitoria de Planejamento - PROPLAN da UFRN, com foco no uso estratégico das informações que são produzidas durante o processo de gerenciamento das reformulações em projetos acadêmicos que é realizado pela Diretoria de Projetos Acadêmicos - DPA. Reformulações em projetos acadêmicos é um processo que se inicia quando os coordenadores responsáveis pelos projetos solicitam à Fundação Norteriograndense de Pesquisa e Cultura (FUNPEC1), instituição que apoia a execução dos projetos, alguma alteração no plano de trabalho original - as alterações podem ser mudanças no plano de aplicação dos recursos financeiros ou no número de membros participantes do projeto, por exemplo. Assim, após os procedimentos administrativos da solicitação, a FUNPEC encaminha um documento para a DPA contendo o pedido da respectiva reformulação. Em seguida, a DPA realiza análises de conformidades da solicitação e realiza os devidos encaminhamentos internamente e, em alguns casos, com outras unidades externas à DPA. A equipe da DPA, envolvida no processo de reformulações em projetos acadêmicos, compreende 8 (oito) profissionais, sendo um diretor, um pró-reitor de planejamento, uma coordenadora e 5 (cinco) analistas de projetos. Atualmente, a equipe realiza o gerenciamento do processo através do aplicativo Trello, espaço virtual que possui listas/colunas com várias tarefas representadas por cartões, que podem ser movidos, editados e compartilhados com os vários membros participantes. Embora a 1 FUNPEC é uma entidade de direito privado, sem fins lucrativos, com personalidade jurídica própria e com autonomia patrimonial, financeira e administrativa e com estatuto próprio. A missão da FUNPEC é estimular, apoiar e gerenciar atividades de ensino, pesquisa e desenvolvimento científico, tecnológico e cultural, promovendo a integração entre a UFRN e a Comunidade, através de parcerias com Instituições Públicas e Privadas. Disponível em: https://funpec.br/fundacao/a-funpec/. Acesso em: 20 jun. 2022. 15 DPA produza um grande volume de dados através da gestão na ferramenta Trello, esses mesmos dados não são agregados nem transformados em informações que possam possibilitar uma melhor compreensão do processo. Dessa forma, os tomadores de decisões não conseguem investigar os aspectos positivos e negativos no gerenciamento das reformulações e, consequentemente, ficam limitados em promover ajustes e melhorias para uma melhor eficiência do processo como um todo. Nesta perspectiva, tem-se o problema que é objeto deste estudo: Como o BI pode aperfeiçoar a tomada de decisão no processo de gerenciamento das reformulações em projetos acadêmicos que tramitam na DPA sob a ótica da gestão da informação? Frente ao problema de pesquisa exposto, foi estabelecido o objetivo geral da pesquisa: Desenvolver um produto de Business Intelligence, sob a ótica da gestão de informação, para dar suporte à tomada de decisão gerencial no processo de gerenciamento das reformulações de projetos acadêmicos na DPA. A fim de atingir o objetivo geral foram definidos os seguintes objetivos específicos: 1. Identificar as necessidades informacionais dos atores da tomada de decisão no processo de gerenciamento de reformulações de projetos acadêmicos que tramitam na DPA; 2. Modelar um ambiente de BI para gerenciar as informações produzidas durante o gerenciamento das reformulações em projetos acadêmicos no âmbito da DPA; 3. Elaborar um painel de indicadores de desempenho para suporte à tomada de decisão no processo investigado; 4. Validar a solução desenvolvida frente às necessidades informacionais dos atores envolvidos. Justifica-se a presente pesquisa quanto a sua importância na esfera acadêmica, institucional e profissional/pessoal. No âmbito acadêmico, a justificativada pesquisa se debruça na interdisciplinaridade da gestão da informação e na relevância que o estudo possui para a área da Ciência da Informação. Através de um estudo bibliométrico da produção científica sobre o tema da pesquisa, na base de dados Scopus (Elsevier) e na base da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD), foi observado que não há uma quantidade significativa de trabalhos que tratam de maneira conjunta os termos: Information management (gestão da 16 informação), decision making (tomada de decisão) e business intelligence (inteligência de negócios). Na base de dados da Scopus, foram utilizados os termos de busca: Information management, decision making e business intelligence. Além disso, foram aplicados os filtros de período de 2012 a 2022 e dos idiomas inglês e português. Assim, foram constatadas 112 (cento e doze) publicações científicas que atendiam aos termos pesquisados, das quais apenas 4 (quatro) produções eram nacionais. Os autores, em sua maioria, deram preferência pela produção de documentos para apresentações em conferências, contabilizando 85 (oitenta e cinco) trabalhos. Porém, também foram produzidos 24 (vinte e quatro) artigos, 2 (dois) capítulos de livros e uma revisão sobre o tema. Nos últimos 10 (dez) anos, de 2012 a 2021, houve uma média de 11 (onze) publicações a respeito do tema investigado. Sendo que no ano atual, no período de referência até junho de 2022, foram produzidos apenas 2 (dois) trabalhos e, no ano de 2021 foram realizadas 7 (sete) publicações, metade do valor em relação ao ano anterior, 2020, que contabilizou 14 (quatorze) trabalhos realizados, indicando um decréscimo no número de publicações a partir de 2021. Quanto às áreas das publicações realizadas sobre o tema, destaca-se a área de ciências da computação, com 91 (noventa e um) estudos associados, seguida pela área de engenharia, com 36 (trinta e seis) publicações e, a área de negócios, com 30 (trinta). A área de estudo de ciências sociais, na qual este trabalho se desenvolve, ocupa o sexto lugar no quesito número de publicações associadas, totalizando 9 (nove) produções. Em relação ao estudo bibliométrico na base de dados da BDTD, foram utilizados os seguintes termos de busca: Gestão da Informação, inteligência de negócios e tomada de decisão. E os filtros aplicados foram com os períodos de 2012 a 2022 e os idiomas inglês e português. O resultado na BDTD retornou 17 (dezessete) trabalhos, sendo 12 (doze) dissertações e 5 (cinco) teses, tendo a Universidade de São Paulo - USP com mais estudos sobre o tema, com 3 (três) trabalhos, seguida pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro - UFTM, com 2 (dois) e Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR, também com 2 (dois) publicações. A Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, instituição de ensino onde foi realizada esta dissertação, não apresentou trabalhos sobre o tema estudado. 17 Portanto, o estudo bibliométrico demonstra que não foram realizados muitos estudos sobre o tema investigado e, que no âmbito nacional, há poucas produções. Outrossim, a UFRN não apresentou trabalhos para os critérios de busca na BDTD, indicando que esta dissertação pode aumentar o rol de temas estudados em projetos de pesquisa da Universidade. Na esfera institucional, a pesquisa é relevante para o aperfeiçoamento da gestão da informação e de processos decisórios a partir do estudo do processo investigado neste trabalho, uma vez que é um passo importante para disseminar e aplicar os aprendizados da pesquisa em outros processos institucionais. Ademais, de acordo com o Mapa Estratégico 2019-2023 da UFRN, o foco da pesquisa insere-se na perspectiva do desenvolvimento institucional, que traz os “[...] objetivos estratégicos relacionados com gestão de pessoas, infraestrutura, comunicação e tecnologia da informação que, geridos por meio de boas práticas de gestão estratégica, governança, processos e riscos, levam à excelência da gestão” (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE, 2019). Na esfera profissional, o pesquisador exerce a função de coordenador de informações institucionais na Pró-Reitoria de Planejamento da UFRN e observou uma carência de gestão informacional voltada para a tomada de decisão. Assim, enxergou a oportunidade de desenvolver um estudo a partir de um processo específico, mas que poderia ser replicado para outros processos organizacionais e, principalmente, ser capaz de inserir uma semente na cultura organizacional da PROPLAN quanto à gestão, tornando realidade o processo de tomada de decisão suportado por produtos gerados através da concepção de GI. O pesquisador vivencia, no serviço público, um momento de transformação digital, de inserção e de uso de novas tecnologias no compartilhamento de informações e busca conectar a literatura sobre GI com a prática, contribuindo não apenas para seu crescimento profissional, como também para o próprio ambiente organizacional no qual está inserido. O próximo capítulo traz a fundamentação teórica da pesquisa. Inicialmente, aborda-se a definição de gestão da informação e realiza-se um estudo sobre modelos de GI que guiam a pesquisa. Em seguida, expõe-se o tema comportamento informacional dos usuários para embasar a identificação das necessidades informacionais proposta no estudo. Logo após, explica-se o assunto sobre fluxo de informação, trazendo suas definições e seus elementos, além de ser apresentado o modelo de fluxo de informação de Beal (2004). No tópico subsequente, são apresentadas as definições, as características 18 e a metodologia de Business Intelligence, correlacionando a metodologia de BI com os modelos de GI referenciados na pesquisa. O capítulo seguinte, metodologia, apresenta a caracterização da pesquisa quanto a sua natureza e ao seu objetivo, assim como explica de forma detalhada o percurso metodológico seguido pelo pesquisador e como os objetivos propostos foram alcançados. Por fim, os dois últimos capítulo trazem, respectivamente, a análise e discussão dos resultados e as considerações finais do estudo realizado. 19 2 REFERENCIAL TEÓRICO Neste capítulo são abordados os tópicos que norteiam a pesquisa. Primeiro, apresenta-se a definição de gestão da informação e um estudo sobre os modelos de GI de Daveport (1998) e McGee e Prusak (1994), que foram adotados pela pesquisa devido as suas características e suas respectivas aplicabilidades no estudo. No segundo tópico, comportamento informacional, estuda-se o assunto necessidades informacionais dos usuários, que se mostra fundamental para a pesquisa, visto que o tema se alinha ao primeiro objetivo específico do estudo. No terceiro tópico, são abordadas as definições de fluxo de informação e seus elementos, assim como o modelo de fluxo de informação de Beal (2004), uma vez que a pesquisa recai sobre um processo que naturalmente envolve um fluxo informacional. Por fim, o último tópico traz as definições, os elementos e a metodologia de aplicação de Business Intelligence e, para guiar o alcance dos objetivos propostos da pesquisa, correlaciona-se a metodologia de BI com os modelos de GI estudados. 2.1 Gestão da informação Detlor (2010) define a Gestão da Informação como o gerenciamento dos processos e sistemas que criam, adquirem, organizam, armazenam, distribuem e usam informações com o objetivo de ajudar as organizações a acessar, processar e usar informações de forma eficiente e eficaz. Valentim et al (2008), por sua vez, entende que GI é o [...] conjunto de ações que visa desde a identificação das necessidades informacionais, o mapeamento dos fluxos formais (conhecimento explícito) de informação nos diferentes ambientes da organização, até a coleta, filtragem, análise,organização, armazenagem e disseminação, objetivando apoiar o desenvolvimento das atividades cotidianas e a tomada de decisão no ambiente corporativo. (VALENTIM 2008 et al, p. 187) Barbosa (2008) destaca que o foco principal da GI é a informação ou conhecimento explícito, por meio do gerenciamento de diferentes documentos que são produzidos, armazenados e utilizados no ambiente organizacional. Para Pereira (2003), a GI é multidisciplinar e une conhecimentos e habilidades das áreas de Administração, Ciências da Informação e Tecnologias da Informação. Além disso, a autora afirma que na 20 prática, a gestão da informação é feita por meio de métodos, metodologias e técnicas para coletar, processar, difundir e usar as informações que são úteis à tomada de decisões. Hoje em dia, as organizações produzem uma grande massa de informações e os gestores estão diante de constantes mudanças tecnológicas que contribuem tanto para a geração de novas informações quanto para o próprio entendimento e uso daquelas que sejam úteis para a tomada de decisão. Segundo Detlor (2010), as informações produzidas pelas organizações devem ser tratadas como um recurso estratégico que precisa ser gerenciado como qualquer outro recurso da organização, onde as tecnologias da informação (TIs) devem fazer parte de qualquer plano de gerenciamento de informações, pois as TIs desempenham um papel importante na medida que ditam como as informações são gerenciadas dentro da organização. “Diante de um mundo informacional inserido no paradigma das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), as organizações são protagonistas de um ambiente que se caracteriza por uma grande produção informacional, e que precisa ser organizada para seu acesso e uso” (VALENTIM, 2010, pg. 144). De acordo com Turban et al (2010), as organizações, privadas ou públicas, estão sob pressão das constantes mudanças informacionais que as obrigam a serem inovadoras na forma que trabalham. Assim, as decisões organizacionais necessitam de quantidades consideráveis de dados, informações e conhecimento. “O tomador de decisão necessita de informações relevantes, mas, antes de tudo, precisa de dispositivos de filtros pois, está exposto a uma massa infinita de informações irrelevantes, muitas delas, que ele mesmo solicitara” (SANTOS, 2000, p.205). E para processá-las, geralmente se necessita de um bom sistema informacional, que “é o conjunto interdependente das [...] tecnologias de informação (hardware e software), dos procedimentos e métodos que deveriam permitir à empresa dispor, no tempo desejado, das informações que necessita (ou necessitará) para seu funcionamento atual e para sua evolução” (SIQUEIRA, 2005, pg. 5). Segundo Braga (2000), as tecnologias da informação permitem gerir as informações em novos moldes, agilizando o fluxo de informações e facilitando a tomada de decisão. Davenport (1998), em sua obra Ecologia da Informação, apresenta um modelo de gestão da informação em que as TIs são apenas recursos que podem ser utilizados no processo de GI e que a ênfase durante a criação, a distribuição, a compreensão e o uso da informação deve ser o recurso humano disponível. Em seu modelo, o autor define quatro passos genéricos, ilustrados na figura 01, que podem ser gerenciados de acordo com a realidade da organização: A determinação das exigências, a obtenção, a distribuição e a utilização. 21 Figura 01. Modelo genérico de gestão da informação de Davenport (1998) Fonte: Adaptado de Davenport (1998, p. 175) Segundo Davenport (1998), na etapa de determinação das exigências da informação, que é um problema difícil, as informações necessárias são identificadas com base na percepção dos atores quanto ao problema e a situação, havendo a identificação de como os gerentes e os funcionários percebem seus ambientes informacionais. O autor defende que essa etapa é a mais subjetiva e que apenas usufruir de tecnologias, como computadores, e agrupar dados para um determinado processo decisório, não é mais viável. Assim, faz-se necessária uma investigação individual ou em grupo da organização, com perguntas direcionadas aos gerentes sobre quais dados ou informações eles necessitam. Além disso, torna-se importante o acompanhamento do dia-a-dia dos gerentes e suas atividades na organização, observando-se os diferentes tipos de informações disponíveis para auxiliar na compreensão das necessidades informacionais. Quanto à etapa de obtenção da informação, Davenport (1998) diz que é uma atividade contínua que engloba três passos - exploração do ambiente informacional, classificação da informação e, formatação e estruturação das informações: ● Exploração do ambiente informacional: De acordo com Davenport (1998), a exploração das informações deve ser realizada combinando as tecnologias informacionais com os recursos humanos, pois são as pessoas que realizam a filtragem de dados para agregar valor à informação, adicionando contexto e interpretação aos dados, por exemplo. O autor ainda defende que o melhor ambiente de exploração é aquele em que todos realizam a coleta de dados e o compartilhamento de informações. ● Classificação da informação: Davenport (1998) afirma que classificar as informações é uma atividade que demanda bastante mão-de-obra, responsável por definir os esquemas iniciais e monitorar a necessidade de novas categorias de informações. O autor diz ainda que devem ser observados alguns pontos antes de classificar as informações: Quais informações devem ser classificadas, como sua classificação influenciará no comportamento individual das pessoas e como será feita a atualização da classificação. 22 ● Formatação e estruturação das informações: Conforme Davenport (1998), é neste passo que as informações são estruturadas de acordo com os documentos que a organização possui, visto que eles apresentam contexto e resumem ou filtram informações utilizadas pelos gerentes. A etapa de distribuição das informações refere-se ao momento em que os atores recebem as informações de que necessitam. A distribuição da informação, segundo Davenport (1998), é influenciada pela arquitetura da informação, pela estrutura política e pelo investimento tecnológico que a organização realiza. Assim, o processo que envolve pessoas, documentos e computadores são os melhores, de acordo com o autor. Por fim, na etapa de utilização da informação, o uso da informação, segundo Davenport (1998), é bastante pessoal, quanto ao modo que os atores procuram, absorvem e digerem as informações antes de uma tomada de decisão. Com uma abordagem voltada para a tomada de decisão, Mcgee e Prusak (1994) criaram um modelo de GI em que a informação figura como um recurso estratégico da organização. E assim como o modelo de Davenport (1998), o modelo de Mcgee e Prusak (1994) é genérico - ilustrado na figura 02, pois pode ser adaptado para a realidade organizacional de cada empresa. Mcgee e Prusak (1994) definiram as seguintes etapas: identificação das necessidades e requisitos da informação, coleta, tratamento e apresentação, classificação e armazenamento, desenvolvimento de produtos e serviços, distribuição e disseminação da informação e, análise e uso da informação. Figura 02. Modelo de gestão da informação de McGee e Prusak (1994) Fonte: Adaptado de McGee e Prusak (1994, p. 108) 23 McGee e Prusak (1994) definiram a primeira etapa do modelo como sendo a identificação das necessidades e requisitos da informação, tarefa considerada a mais importante e complexa para a GI, pois os usuários possuem dificuldades em externalizar ou identificar suas reais necessidades informacionais. Dessa forma, os autores esclarecem que é importante que haja várias fontes de informações disponíveis no ambiente organizacional e, sobretudo, confiáveis. Segundo McGee e Prusak (1994,p. 116) os “[...] profissionais da informação precisam ter conhecimento das fontes de informação disponíveis que podem ser valiosas para o cliente ou sua organização antes de fazer a entrevista”. Assim, pode-se introduzir o termo necessidade de informação de forma mais precisa para os usuários. Ainda, de acordo com McGee e Prusak (1994), após construir o consenso sobre quais são as informações necessárias, desenvolve-se um plano de coleta das informações em suas respectivas origens. A coleta de informação é o momento em que as informações são obtidas das fontes disponíveis seguindo procedimentos manuais ou eletrônicos. Com as informações coletadas, o próximo passo é classificá-las e armazená-las em sistemas adequados e estes processos podem ser realizados em paralelo com o tratamento e apresentação das informações, evitando barreiras informacionais devido a grande quantidade de documentos que possa existir e facilitando o acesso dos usuários às informações, que podem ser lidas com mais rapidez. McGee e Prusak (1994) reforçam que o sucesso dessas etapas depende da correta identificação das necessidades informacionais, para o projeto ser dimensionado corretamente. Além disso, é essencial garantir que os sistemas estejam adaptados à forma com que os usuários trabalham com a informação. Durante o desenvolvimento de produtos e serviços de informação a participação humana é fundamental. Similar ao modelo de Davenport (1998), a ideia centrada nesta etapa é que as tecnologias da informação e comunicação são apenas recursos da organização, e sem o fator humano envolvido no processo, não seria possível criar um sistema informacional adequado. Segundo McGee e Prusak (1994), nesta etapa os usuários finais podem acrescentar notáveis perspectivas ao processo a partir de seus conhecimentos e experiências. A etapa de distribuição e disseminação da informação deve ser marcada pela criação de canais de comunicação eficientes entre a origem e o destino das informações. Segundo McGee e Prusak (1994), neste processo é preciso que os usuários tenham ciência de quem está interessado ou precisando das informações no ambiente organizacional e, saibam onde consultar informações com facilidade. 24 Por fim, chega-se na etapa de análise e uso da informação, que de acordo com McGee e Prusak (1994), é o momento que ocorre o preenchimento da lacuna intelectual dos usuários, reduzindo suas incertezas no processo de tomada de decisão. Como a etapa inicial do modelo apresentado abarca a identificação das necessidades informacionais dos usuários, cabe um estudo mais detalhado sobre o que a literatura traz a respeito do tema. 2.1.1. Comportamento informacional O comportamento informacional está interligado às necessidades informacionais dos usuários e é investigado na área da ciência da informação por meio de estudos de usuários, que lidam com as informações de formas distintas. Esses usuários, segundo Silva (2013), manifestam um comportamento informacional na dimensão psicopessoal e sociocontextual, que são complementares entre si. A autora diz que a dimensão psicopessoal refere-se às características psicossomáticas próprias dos usuários, enquanto que a dimensão sociocontextual, que é estudada nesta pesquisa, refere-se ao contexto onde emergem as necessidades informacionais. Segundo Gasque e Costa (2010, p. 22), comportamento informacional “refere-se às atividades de busca, uso e transferência de informação nas quais uma pessoa se engaja quando identifica as próprias necessidades de informação”. Bert e Araújo (2017, p. 392) dizem que comportamento informacional relaciona-se “[...] com a identificação da necessidade de informação, percebida pelos sujeitos que estão em busca de resolver seus problemas informacionais.” Na concepção dos autores Pettigrew, Fidel e Bruce (2001, p. 44), o termo comportamento informacional trata-se de “[...] como as pessoas necessitam, buscam, entregam e usam a informação em diferentes contextos”. Para González-Teruel (2005), o estudo do comportamento informacional ajuda a identificar quais os problemas informativos que os usuários possuem na vida profissional e quais são as barreiras que devem ser superadas para se obter as informações que necessitam. Na literatura, ao longo do tempo, os estudos de usuários ocorreram através de três abordagens: a tradicional, a alternativa e a sociocultural. Segundo a autora Tanus (2014), a abordagem tradicional refere-se ao usuário como ser passivo, que é mero utilizador de um sistema ou serviço. Em contrapartida, na abordagem alternativa, a autora diz que o usuário da informação é visto como um sujeito cognoscente e ativo ao longo do processo de busca e uso da informação. Enquanto que na abordagem sociocultural, os usuários são 25 qualificados como sujeitos informacionais e constroem e interpretam as informações coletivamente, considerando o contexto ou o ambiente em que estão inseridos. Para Figueiredo (1994), é por meio de estudos de usuários que são identificadas as necessidades de informações de um indivíduo e se essas necessidades estão sendo satisfeitas adequadamente. Segundo González-Teruel (2005), a observação sistemática do usuário oferece uma ferramenta de grande valor para tomar decisões na gestão das unidades de informação em uma organização. De acordo com Cunha, Amaral e Dantas (2015), há quatro categorias que definem os propósitos gerais dos estudos de usuários: 1. Identificar as necessidades de informação para a tomada de decisão e para a avaliação de efetividade de um sistema ou serviço de informação; 2. Analisar a interação do usuário com o sistema; 3. Identificar as características gerais dos usuários; 4. Apoiar os estudos científicos e os estudos comparativos. (CUNHA; AMARAL; DANTAS, 2015, p. 40) Esta pesquisa busca atingir o primeiro propósito elencado pelos autores Cunha, Amaral e Dantas (2015) referente ao estudo de usuário - identificar as necessidades de informação para a tomada de decisão e para a avaliação de efetividade de um sistema ou serviço de informação. Assim, o tópico seguinte abordará sobre necessidades informacionais. 2.1.1.1 Necessidades informacionais Há várias definições sobre necessidades informacionais na literatura e, segundo González-Teruel (2005), esse tema é visto desde uma perspectiva cognitiva, como uma situação problema, como um estado anômalo de conhecimento ou como um momento de incerteza. Segundo González (2004), as definições de necessidades da informação giram em torno de três aspectos: Fluxo de informação, comunicações formais e informais e uso das informações. “[…] deve ser considerado que a busca, requisito, demanda ou desejo de informações documentais é um reflexo que existe na necessidade de informação do indivíduo” (GONZÁLEZ, 2004, p. 61). Já MARTÍNEZ-SILVEIRA (2007, p. 119) diz 26 que “A necessidade só pode ser descoberta por dedução, através do comportamento, ou por um ato de enunciação da pessoa que a detém”. É importante diferenciar o termo necessidade de informação de alguns conceitos que são encontrados em estudos de usuários e que causam confusões terminológicas - desejo, necessidade, demanda, uso e requisito. Os autores Cunha, Amaral e Dantas (2015) dizem que o desejo se refere à percepção do indivíduo sobre a informação que precisa para resolver problemas, e que segundo Figueiredo (1994), desejo é aquilo que o usuário gostaria de ter. Já a necessidade, os Cunha, Amaral e Dantas (2015) explicam que está relacionada com a informação para resolver problemas e atividades que um indivíduo precisa realizar. “Necessidade é o que um indivíduo deve (ought) ter para o seu trabalho, pesquisa, edificação, recreação, etc.” (FIGUEIREDO, 1994, p. 34) A demanda, por sua vez, é vista como uma ação em que os indivíduos requerem informações, que nãonecessariamente são àquelas que eles necessitam. Por fim, Figueiredo (1994) diz que o uso é aquilo que o usuário de fato utiliza, enquanto o requisito é entendido como aquilo que é necessário, que é desejado e/ou demandado. Segundo Beal (2004), mapear as necessidades informacionais possibilita a realização de um planejamento mais eficaz durante um desenvolvimento de sistemas de informações, além de permitir um investimento mais assertivo em tecnologias da informação, pois há o entendimento daquilo que seja mais importante para os usuários. Esses estudos dos usuários podem ser realizados com enfoque centrado nos sistemas informacionais ou centrados nos próprios indivíduos. Dessa forma, conhecer as necessidades informacionais dos usuários com enfoque nos indivíduos é importante para construir um ambiente organizacional alinhado aos objetivos e estratégias de negócios, havendo a sinergia entre a estrutura tecnológica oferecida para a gestão da informação e os usuários que usam as TIs para sanar suas necessidades. Os usuários, geralmente, pedem as informações que acreditam que os sistemas podem entregar e não o que realmente precisam (CUNHA, AMARAL e DANTAS, 2015). Assim, com a identificação das necessidades informacionais, é possível definir as informações que integrarão os sistemas, influenciando o modo como os usuários buscam e usam essas informações (DANTAS e CARVALHO, 2017). Correlacionando necessidades e usos da informação, Le Coadic (1996) diz que esses termos são interdependentes e se relacionam de uma forma complexa capaz de determinar o comportamento dos usuários e suas práticas. Com o objetivo de representar as relações entre os usuários e as informações, vários modelos teóricos foram desenvolvidos nos estudos de usuários, como o modelo de 27 Brenda Dervin (1983), por exemplo. Brenda Dervin construiu o modelo conhecido como Sense Making (construção de significado), em 1983, do ponto de vista cognitivo, “[...] propôs o seu modelo ao entender que o indivíduo, como um ser humano em movimento, passa por diversas experiências de construção de significado e, diante de determinada situação, é obrigado a parar pela ausência de informação: o “vazio cognitivo” (CUNHA et al, 2015, pg. 102). Foi empregada, neste modelo, uma metáfora em torno dos elementos situação, lacuna (gap) e uso, sendo utilizada uma ponte como exemplo, que constitui o meio de preencher a lacuna entre a situação e o uso, conforme ilustrado na figura 03. Figura 03. Metáfora do Modelo Sense Making de Brenda Dervin Fonte: Pereira (2008) Para Dervin (1983), a situação (em tempo e espaço), é o contexto em que surge o problema informacional, enquanto que a lacuna ou gap, que provoca a descontinuidade no conhecimento fazendo surgir a necessidade informacional, é entendida como a distância entre a situação atual e a situação desejada. Já o uso, é compreendido como o elemento que representa o resultado atingido ao aplicar o processo de sense-making. Ainda segundo Dervin (1992), os usuários precisam de esforços para se perceberem e perceberem o meio ambiente da situação durante o processo de desenvolvimento das estratégias cognitivas que visam a obtenção de respostas a fim de serem preenchidas as devidas lacunas. As lacunas existentes entre a situação atual e aquela em que os usuários desejam alcançar são preenchidas através de estudos, pesquisas e por meio de fluxos formais e informais de informações, tópico visto a seguir. 28 2.1.2 Fluxo de informação Um ambiente organizacional proporciona um fluxo de dados, informações e conhecimento ao longo de sua estrutura. “É um espaço em que se estabelece a interação entre todos os componentes que ali existem, desde as pessoas e as tecnologias, até a informação com valor agregado, que servirá de subsídio para as ações organizacionais” (VALENTIM, 2012, p. 89). Neste contexto, Valentim (2012) define fluxo de informação: Os fluxos de informação podem ser entendidos como o meio em que o trinômio dados, informação e conhecimento percorre para chegar aos sujeitos organizacionais de uma organização e, que por sua vez, necessitam destes para realizarem suas atividades e tarefas e efetuarem suas ações, dentre elas a tomada de decisão (VALENTIM, 2012, p. 91). Beal (2004) define fluxo de informação como o processo de identificação de necessidades e requisitos de informação, estabelecendo-se um ciclo contínuo de coleta, tratamento, distribuição ou armazenamento e uso para subsidiar as tomadas de decisão. Segundo Valentim (2007), os fluxos informacionais são classificados em dois tipos: Os fluxos formais e os informais. Os fluxos formais referem-se àqueles ligados ao organograma da organização, em que há as interrelações entre as diferentes unidades de trabalho/centros de custos como diretorias, gerências, divisões, departamentos, setores e seções. Já os fluxos informais são as relações entre as pessoas no ambiente organizacional. Conforme ilustrado na figura 04, a estrutura física (organograma) e a estrutura de recursos humanos alimentam a estrutura informacional da organização por meio da geração, gestão e uso de dados, informação e conhecimento. Para a Valentim e Teixeira (2012), os fluxos de informação se tornam efetivos quando se aplica a gestão informacional, que se apoia nos fluxos formais da organização ou conhecimento explícito, entendido como aquilo que se é registrado. [...] os fluxos de informação formais alicerçam a gestão da informação que, por sua vez, são imbricados aos sistemas de informação gerenciais, que são imbricados aos documentos produzidos, entre outras formas formais, cuja origem reside do desenvolvimento de atividades e tarefas cotidianas, bem como da tomada de decisão. (Valentim e Teixeira, 2012, p. 153). 29 Figura 04. Dinâmica dos fluxos informacionais Fonte: Valentim (2007) Para que os dados e informações do ambiente organizacional atendam às necessidades informacionais dos usuários nos diferentes níveis da organização - operacional, tático e estratégico - é preciso gerenciar os fluxos informacionais que subsidiam os processos decisórios, agregando, assim, valor à informação. Segundo Valentim (2012), os fluxos informacionais em cada nível organizacional são distintos e possuem diferentes aplicações dependendo dos conteúdos produzidos e dos objetivos. Ainda, de acordo com a autora, o mapeamento desses fluxos com enfoque nos dados, informação e conhecimento é feito por meio de um diagnóstico nos ambientes internos e externos, estabelecendo fluxos formais de informação para o consumo da organização. Netto (2017) explica que os fluxos informacionais são compostos por quatro elementos: 1) Atores: São os agentes que atuam no fluxo de informação de formas distintas através de diferentes perfis e funções. 2) Canais: São as vias de transmissão das informações no ambiente organizacional. Os canais de comunicação do fluxo informacional podem ser formais, quando há registros físicos, ou informais, quando não há registros. Atualmente, as tecnologias de informação e comunicação são peças importantes na construção de canais unificados entre diversos atores da organização. 3) Fontes de informação: São os pontos geradores de informações no fluxo informacional, como pessoas, sistemas eletrônicos e produtos, que possam atender as necessidades dos atores envolvidos. 30 4) Tecnologias: São suportes no fluxo informacional que possibilitam o processamento, armazenamento, disseminação e utilização de informações. As tecnologias possibilitam a automatização das tarefas e o aumento da eficiência nos processos decisórios. Beal (2004), por sua vez, traz uma visão de fluxo informacional como um processo de ciclo contínuo, apresentando um modelo genérico de fluxo nas organizações, conforme ilustrado nafigura 05. As descrições das etapas de seu modelo, se assemelham bastante com aquelas presentes no modelo de GI de McGee e Prusak (1994), excetuando- se a proposta de um processo cíclico e a possibilidade de descarte de informações obsoletas ou que perderam utilidade para a organização. Para Beal (2004), a exclusão de dados e informações inúteis do repositório da organização contribui para uma melhor eficiência no manuseio das informações. Ainda, segundo a autora, as atividades de cada etapa do fluxo informacional definem a qualidade da GI na organização. Figura 05. Modelo de fluxo de informação nas organizações Fonte: Beal (2004, p. 29) Na etapa de identificação de necessidades e requisitos, Beal (2004) destaca as seguintes atividades que podem contribuir para uma melhor GI: Observação das atividades gerenciais, identificação de documentos mais importantes para a gerência, mapeamento das informações e das necessidades informacionais e administração dos requisitos de sistemas, conforme síntese apresentada no quadro 01. 31 Quadro 01. Atividades da etapa de identificação de necessidades e requisitos Etapa de identificação de necessidades e requisitos Atividades Descrição Observação das atividades gerenciais Acompanhamento da rotina de trabalho dos gerentes para entender as tarefas administrativas e as necessidades informacionais Identificação dos documentos mais importantes para a gerência O uso de documentos como unidade de informação desempenha um papel importante no processo de identificação das necessidades e requisitos da informação Mapeamento da informação disponível Identificação e descrição de informações relevantes existentes na organização, deixando claro quais são as fontes, as unidades responsáveis, os serviços e os sistemas informacionais associados. Mapeamento das necessidades de informação Durante a identificação das informações necessárias para cada tipo de usuário, é importante entender para que e como ela é usada. Mapear as necessidades informacionais permite desenvolver sistemas e investir em TI com mais eficácia. Administração dos requisitos de sistemas Realização de uma abordagem sistemática na extração, organização, documentação e gestão de requisitos dos sistemas quando há implantação de um novo SI. Fonte: Elaborado pelo autor com base em Beal (2004) Durante a etapa de obtenção das informações, Beal (2004) destaca duas atividades do fluxo informacional: a definição das fontes informacionais e a monitoração ambiental. Definir as fontes de informações é uma atividade importante para obtê-las sem ruídos e sem erros. E realizar a monitoração ambiental permite a coleta de dados alinhados com a estratégia da organização e auxilia na adaptação da organização às mudanças ambientais, uma vez que há obtenção de dados e análise do ambiente externo. Na etapa de tratamento da informação, Beal (2004) explica duas atividades que são necessárias no processo: A adaptação da informação aos requisitos do usuário e a sua classificação. A atividade de adaptação da informação proporciona a melhoria da qualidade da informação a ser disponibilizada para o usuário, por meio da adequação do estilo e da linguagem e, através da condensação e contextualização da informação, comparando-a por meio de uma série histórica conforme necessidade do usuário. Quanto 32 à atividade de classificação da informação, Beal (2004) defende a importância em realizá- la de acordo com a temática, ou seja, organizá-la por assunto ou categoria, facilitando a busca das informações pelo usuário conforme seu interesse; E de acordo com os requisitos de segurança da informação: sigilo, autenticidade, integridade e disponibilidade. Quanto ao processo de distribuição da informação, Beal (2004) defende que a melhor forma de executá-la é combinando métodos de divulgação e de busca pelo usuário, que pode encontrar uma informação conforme seu interesse ou necessidade. Para a autora, “[...] a qualidade da distribuição está intimamente relacionada à qualidade da classificação temática da informação e dos mecanismos de busca e localização” (Beal, 2004, p. 44). O armazenamento das informações, segundo Beal (2004), deve ser feito de tal forma que garanta a integridade e disponibilidade dos dados. A autora sugere a centralização no armazenamento das informações e o uso de dispositivos eletrônicos, sem negligenciar a realização de backups de arquivos e a migração das informações para novas tecnologias, acompanhando o avanço tecnológico. Na etapa do uso da informação, considerada a mais importante, Beal (2004) explica que o comportamento dos usuários afeta a qualidade do fluxo de informação e, que uma medida mitigadora do efeito negativo causado pela forma como os usuários lidam com as informações é estimular “[...] o compartilhamento das informações úteis e o uso da informação relevante disponível durante o processo decisório” (Beal, 2004, p. 45). Na sessão seguinte, será abordado o processo de aplicação da metodologia Business Intelligence correlacionando-o com a gestão da informação estudada até o momento. 2.1.3 Business Intelligence e gestão informacional: aplicação prática Em 1958, tivemos a primeira definição de Business Intelligence com o autor Hans Peter Luhn, em sua obra intitulada “A business intelligence system”. Luhn definiu primeiro o termo business como um conjunto de atividades com diferentes objetivos em diversas áreas: na ciência, no comércio, na indústria, dentre muitos outros setores. Em seguida, define o termo intelligence como a habilidade em se compreender as interrelações entre fatos para atingir determinado objetivo. Apenas 30 anos depois, em 1989, houve a menção ao termo BI novamente pelo autor Howard Dresner, que defendeu 33 BI como sendo um conjunto de concepções e métodos para o aperfeiçoamento da tomada de decisão nas organizações através de um sistema baseado em fatos (GROSSMANN; RINDERLE-MA, 2015). Segundo Grossmann e Rinderle-Ma (2015), na década de 1990, BI era entendido como um suporte à decisão baseado em dados conectados a repositórios centrais, por meio do uso de um processamento analítico online (OLAP) e de ferramentas capazes de gerar relatórios. Para Lönnqvist e Pirttimäki (2006), o termo BI se refere a: 1. Informações e conhecimentos relevantes que descrevem o ambiente de negócio, a própria organização e sua situação diante dos mercados, clientes, concorrentes e desafios econômicos. 2. Um processo sistemático e organizado em que as organizações adquirem, analisam e disseminam informações oriundas de fontes internas e externas importantes para as atividades de negócio e para a tomada de decisão. (LÖNNQVIST e PIRTTIMÄKI, 2006, p. 32) Na literatura, não há um consenso na definição do termo BI, enquanto há autores que entendem BI como um conjunto de ferramentas, há outros que definem BI como um conjunto de métodos, como uma metodologia para a gestão informacional, entendimento adotado nesta pesquisa. Para Pinheiro (2020), BI é o conjunto de tecnologias, instrumentos e aplicações que possibilitam a transformação de dados em informações e, estas são convertidas em conhecimento útil que auxilia na tomada de decisões devidamente fundamentadas, otimizando o desempenho das organizações. Já para Braguittoni (2017), “BI é uma metodologia, e não uma ferramenta” (BRAGUITTONI, 2017, p. 01). Segundo o autor, BI pode ser implementado com qualquer ferramenta de controle de dados ou pacote de ferramentas próprias de BI para obter, organizar e permitir acesso a informações necessárias para a tomada de decisão. Scheps (2008) também defende que BI não se trata apenas da tecnologia, pois abrange a entrega de novas perspectivas e ferramentas para os tomadores de decisão, que devem ser capazes de formular perguntas a partirdo BI. Segundo Beuren (2000), o conjunto de técnicas e estratégias do BI como gestão da informação representa uma prática analítica que permite a estruturação de um ambiente informacional, proporcionando uma gestão integrada de informações para estudos, observações e suporte à tomada de decisões no nível estratégico, em que, segundo Olszak et al. (2007), neste nível organizacional, BI permite a definição de objetivos e o acompanhamento dos mesmos. De acordo com Lönnqvist e Pirttimäki (2006), através do BI as organizações controlam o grande volume e fluxo de informações organizacionais 34 identificando e processando as informações de forma a gerar conhecimentos úteis à gestão. Segundo Vercellis (2009), BI fornece conhecimento aos profissionais através de ferramentas e metodologias que proporcionam uma tomada de decisão efetiva e oportuna. De acordo com Scheps (2008), BI faz a conexão entre as informações e as ações dentro da organização e seu valor recai em sua capacidade em promover bons hábitos no processo decisório. Ainda conforme o autor, BI deve entregar quatro características essenciais para os usuários: respostas precisas, percepções valiosas, informações pontuais e conclusões que podem ser transformadas em ações. A organização deve possuir uma cultura dedicada aos princípios e práticas que produzam insights (percepções) úteis e de alta qualidade, havendo compromisso com uma abordagem racional de tomar decisões em todos os níveis da organização. Para Grossmann e Rinderle-Ma (2015), o ponto de partida para aplicações de BI são os objetivos. Esses objetivos referem-se desde a aquisição de informações sobre alguns aspectos do processo de negócios até o aperfeiçoamento do próprio processo. Os objetivos podem ser analisados por meio dos chamados indicadores-chave de desempenho (do termo em inglês key performance indicators – KPIs), que permitem medir o desempenho do negócio em relação a alguns objetivos em qualquer perspectiva da organização. E a relação entre os indicadores e os fatores que influenciam seu comportamento podem ser usados nos processos de tomada de decisão. Scheps (2008) diz que os KPIs devem medir o que é importante para o sucesso de uma organização e serem específicos o suficiente para indicar onde encontrar a origem de um problema, caso exista. Um KPI conecta as atividades da organização aos objetivos por meio de medidas quantitativas. Os indicadores podem se referir a aspectos de desempenho específicos ou gerais da organização e serem implementados como indicadores quantitativos representados por números, indicadores direcionais que retratam se a organização está melhorando seu desempenho ou não ou indicadores de ação ou financeiros que representam mudanças ou variações de valores. (GROSSMANN e RINDERLE-MA, 2015, pg. 11, tradução nossa) Grossmann e Rinderle-Ma (2015) definem quatro cenários na aplicação do BI: 1. BI aplicado separadamente da gestão estratégica: Neste cenário, BI proporciona o alcance de objetivos a curto prazo em uma unidade organizacional. 35 2. BI como um suporte ao monitoramento da performance estratégica: As aplicações de BI voltam-se para os objetivos estratégicos e realizam o monitoramento do desempenho organizacional através de métricas. 3. BI como feedback na formulação estratégica: Nesta perspectiva, BI se propõe a avaliar o desempenho organizacional por meio de métodos analíticos. Geralmente, essa avaliação resulta na metodologia do Balanced Scorecard, para medir a evolução da organização. 4. BI como um recurso estratégico: As informações geradas pelo BI são utilizadas para o aperfeiçoamento e definição das estratégias organizacionais. 2.1.3.1 Metodologia de Business Intelligence A metodologia do BI alinha-se aos modelos de Davenport (1998), McGee e Prusak (1994) e Beal (2004) apresentados nos tópicos anteriores. Após a identificação das necessidades e objetivos da organização quanto a implantação do processo de BI, realiza-se a coleta de dados. A coleta de dados por meio do processo de BI é iniciada através da delimitação das fontes de dados não-estruturados que podem estar presentes em diferentes locais, como em websites, documentos e nos próprios sistemas informacionais das organizações, por exemplo. Esses dados de fontes externas ou internas à organização, passam pelo processo de carga conhecido pela expressão Extract, Transform and Load - ETL (Extração, Transformação e Carga), que segundo Braguittoni (2017), há tanto ferramentas específicas como Pentaho e SQL Integration Services quanto há métodos mais simples de extrair, transformar e carregar os dados por meio de arquivos digitais e de bases de dados. Quanto ao entendimento de extração, transformação e carregamento de dados, Braguittoni (2017) diz que: 1. Extração refere-se à coleta de dados periódica de uma ou mais fontes distintas, refletindo na taxa de atualização dos dados dentro da plataforma de BI e exigindo, em alguns casos, o tratamento de erros nos dados. 2. Transformação é o processo de estruturação dos dados, em que são organizados em um formato específico de acordo com a necessidade de negócio. Segundo Vercellis (2009), o objetivo desta etapa é melhorar a qualidade dos dados que foram coletados, corrigindo inconsistências, 36 valores duplicados, dados ausentes ou aqueles que possuem valores inadmissíveis. 3. Carregamento trata-se da inserção dos dados estruturados na plataforma de BI da organização. Após o processo de carga ETL os dados são armazenados em Data Warehouse – DW, que são os bancos de dados do sistema responsáveis por receber os dados que foram extraídos das fontes e passaram pelo processo de limpeza e transformação. Segundo Braguittoni (2017), como alternativa ao DW, uma plataforma de BI pode conter bancos de dados multidimensionais – cubos, representados no mercado por diversas opções de sistemas, como o SQL Analysis Services e IBM Cognos, por exemplo, que “[...] são ferramentas que pré-processam as agregações de dados, deixando informações prontas de todos os cruzamentos possíveis, a fim de que seja dada resposta instantânea à consulta do usuário” (BRAGUITTONI, 2017, pg. 31). Por fim, quando a organização possui os dados corretamente armazenados e estruturados, realiza-se o compartilhamento de informações organizadas em uma interface de exibição para os usuários. Essa interface pode conter informações organizadas sob a forma de: I. Relatórios: Braguittoni (2017) explica que os relatórios são formas de apresentar as informações de maneira mais detalhada, que podem ser organizadas em várias linhas conforme a necessidade e filtros aplicados. II. KPIs e dashboards: De acordo com Grossmann e Rinderle-Ma (2015), os KPIs são identificados a partir dos processos organizacionais e de seus requisitos, assim como da comparação entre os resultados obtidos e o conjunto de objetivos inicialmente traçados. Braguittoni (2017) enfatiza a importância dos KPIs na comparação entre os objetivos iniciais e os alcançados, que podem indicar se a performance da organização em determinado processo foi boa ou não. Ainda, segundo o autor, os dashboards são conjuntos de KPIs e geralmente também possuem gráficos e tabelas compondo sua interface de visualização. III. Tabelas: Braguittoni (2017) diz que as informações organizadas em forma de tabelas possibilitam aos usuários sua sumarização ou detalhamento de acordo com os filtros aplicados e, que o uso de tabelas dinâmicas 37 possibilita que sejam geradas linhas e colunas de acordo com as dimensões de variáveis desejadas. Segundo Bhatiasevi e Naglis (2020), BI possibilita o acesso a informações, a análise de dados e a emissão de relatórios, permitindo aos usuários de diferentes níveis da organização a obter informações oportunas e relevantes de forma a contribuirpara a tomada de decisão. Quando a organização implementa a metodologia de BI como recurso para a gestão informacional, segundo Vercellis (2009) é possível identificar um ciclo ideal de análise do Business Intelligence, conforme ilustrado na figura 06 a seguir. Figura 06. Ciclo de análise do Business Intelligence Fonte: Adaptada de Vercellis (2009, p. 12) Na fase de análise, Vercellis (2009) explica que é necessário identificar os problemas e os fatores críticos envolvidos no processo investigado, momento em que os tomadores de decisão fazem várias perguntas e obtêm respostas rápidas de forma interativa com os dados e informações disponíveis. Durante a fase de percepção, o autor diz que as informações obtidas durante a análise são transformadas em conhecimento. Segundo Vercellis (2009), a fase de decisão é o momento em que o conhecimento obtido na etapa de percepção é convertido em decisões e, consequentemente, em ações. Já na fase de avaliação, ocorre a medição e a avaliação de desempenho através de métricas definidas pela organização. Correlacionando as etapas da metodologia do BI com os modelos de GI referenciados nesta pesquisa, chega-se à figura 07 a seguir. Análise Percepção Decisão Avaliação 38 Figura 07. Correlação entre a metodologia de BI e os modelos de GI referenciados Fonte: Elaborada pelo autor De acordo com a figura 07, infere-se que a metodologia do BI pode ser aplicada seguindo os princípios dos modelos de GI explicados nesta pesquisa. A identificação das necessidades informacionais é de suma importância para o correto dimensionamento do projeto e alcance dos objetivos inicialmente traçados, McGee e Prusak (1994) dizem que essa é uma etapa complexa a ser realizada. Assim, não apenas essa etapa inicial, como também todas as demais da metodologia de BI estudada neste trabalho seguirão os modelos referenciados, com o objetivo dar suporte à tomada de decisão à equipe da DPA em relação ao processo investigado. Diante do exposto e para facilitar o alcance dos objetivos da pesquisa e o desenvolvimento do produto, o trabalho adotará as seguintes nomenclaturas de etapas de modelo de GI considerando a metodologia de BI: 1. Identificação das necessidades informacionais; 2. Coleta, transformação, carga e armazenamento; 3. Interface de exibição das informações; 4. Compartilhamento; 5. Análise e uso. 39 3 METODOLOGIA Do ponto de vista de sua natureza, esta pesquisa caracteriza-se como aplicada, com uma abordagem qualitativa. Quanto ao objetivo, a pesquisa classifica-se como descritiva e, são adotados os procedimentos metodológicos da obra “DRM, A Design Research Methodology”, dos autores Blessing e Chakrabarti (2009). Segundo Prodanov e Freitas (2013), a pesquisa científica classifica-se, quanto a sua natureza, como básica e aplicada. A pesquisa básica gera conhecimentos novos úteis para o avanço da ciência sem viés prático, envolvendo verdades e interesses universais. Enquanto a pesquisa aplicada gera conhecimentos para aplicação prática a fim de solucionar problemas específicos, envolvendo verdades e interesses locais. A pesquisa aplicada busca “[...] que os resultados sejam aplicados ou utilizados, imediatamente, na solução de problemas que ocorrem na realidade” (MARCONI; LAKATOS, 2002). Ainda, segundo Flick (2013), este tipo de pesquisa caracteriza-se como uma pesquisa social conduzida em contextos práticos, cujos resultados são utilizados para a solução de problemas na prática. Esses problemas, segundo Gray (2012), são melhores entendidos com o uso da pesquisa aplicada, que objetiva trazer soluções com relevância prática aos stakeholders para esses problemas organizacionais. Assim, a presente pesquisa é aplicada pelo fato de buscar a construção do conhecimento para a aplicação prática e para a solução de um problema real no ambiente organizacional da Diretoria de Projetos Acadêmicos da PROPLAN, quanto à necessidade de se aperfeiçoar a tomada de decisão no processo investigado. Quanto à abordagem qualitativa da pesquisa, Prodanov e Freitas (2013) explicam que: [...] a pesquisa tem o ambiente como fonte direta dos dados. O pesquisador mantém contato direto com o ambiente e o objeto de estudo em questão, necessitando de um trabalho mais intensivo de campo. Nesse caso, as questões são estudadas no ambiente em que elas se apresentam sem qualquer manipulação intencional do pesquisador. A utilização desse tipo de abordagem difere da abordagem quantitativa pelo fato de não utilizar dados estatísticos como o centro do processo de análise de um problema, não tendo, portanto, a prioridade de numerar ou medir unidades. (PRODANOV e FREITAS, 2013, p. 70). Portanto, esta pesquisa é qualitativa, não foca em números e estatísticas, como a pesquisa quantitativa. O ambiente profissional, os fluxos de informações e interações com os participantes são as fontes de dados, em que o pesquisador “[...] deve aprender a usar 40 sua própria pessoa como o instrumento mais confiável de observação, seleção, análise e interpretação dos dados coletados” (GODOY, 1995, p. 62). Os participantes foram escolhidos propositalmente e a coleta de dados foi concebida de uma maneira mais aberta comparada à pesquisa quantitativa, aplicando-se a interpretação na análise dos dados (FLICK, 2013). Quanto ao objetivo, a pesquisa é classificada como descritiva, pois busca descrever, registrar e analisar o cenário de uso de informações e do processo de tomada de decisão na gestão das reformulações em projetos acadêmicos. Segundo Marconi e Lakatos (2002), as pesquisas descritivas recaem em um campo específico de investigação para descrever, registrar, analisar e interpretar fenômenos atuais. Gil (2002) diz que esses estudos visam descrever as características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis. 3.1 Procedimentos metodológicos Quanto aos procedimentos metodológicos, esta pesquisa se baseia na abordagem de Design Research Methodology (DRM). Segundo Blessing e Chakrabarti (2009). O termo design refere-se às atividades que geram e produzem produtos, ideias de produtos ou tecnologias para atender as necessidades dos usuários e demais stakeholders. Assim, o design research é a integração das duas principais linhas da pesquisa que tornam o design mais eficaz e eficiente na geração de produtos: a linha da criação do entendimento e a linha do suporte a esse entendimento. Blessing e Chakrabarti (2009) ilustram a intenção, os objetivos e as facetas do design (figura 08). 41 Figura 08. Design Research: intenção, objetivos e facetas do design Fonte: Nascimento (2018, p. 106) Dessa forma, a DRM refere-se aos métodos e guias a serem seguidos no desenvolvimento de uma pesquisa em Design. Para Blessing e Chakrabarti (2009) a DRM melhora as chances de obtenção de resultados válidos e úteis, e apresenta os seguintes objetivos gerais: 1. A formulação e validação de modelos e teorias sobre os fenômenos do design; 2. O desenvolvimento e validação do suporte nos modelos e teorias, com o objetivo de aperfeiçoar a prática em design, o gerenciamento, a educação, dentre outros aspectos. 3.1.1 Etapas da pesquisa Segundo Blessing e Chakrabarti (2009), DRM é composta por quatro estágios: Clarificação da pesquisa; Estudo Descritivo I; Estudo Prescritivo e Estudo Descritivo II, conforme síntese apresentada no quadro 02. Entretanto, Blessing e Chakrabarti (2009) enfatizam que: a) As quatro etapas representam o fluxo principal da metodologia, não havendo a necessidade de seguir uma sequência rígida de etapas; b) A metodologia da pesquisa não precisa possuir todas as etapas propostas pela DRM; c) Há interações entre as etapas da DRM para um melhor entendimento
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