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Indaial – 2020 ElEmEntos do ProcEsso civil, PEnal E trabalhista Prof. Hector Luiz Martins Figueira 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2020 Elaboração: Prof. Hector Luiz Martins Figueira Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: F475e Figueira, Hector Luiz Martins Elementos do processo civil, penal e trabalhista. / Hector Luiz Martins Figueira. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 187 p.; il. ISBN 978-65-5663-047-2 1. Processo civil. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 340 III aPrEsEntação Olá, acadêmico! Seja bem-vindo ao Livro Didático Elementos do Processo Civil, Penal e Trabalhista. Esta disciplina tem como objetivo trazer um grande apanhado dos temas mais principais afetos ao eixo principal da processualística brasileiro. Vale dizer, que para quem pretende advogar, conhecer processo é de suma importância para o realizar de um bom trabalho na defesa do direito das pessoas, bem como na compreensão das burocracias do funcionamento da máquina pública. Por isso, é indispensável o seu estudo. Na Unidade 1 estudaremos os princípios e regras aplicáveis ao processo civil, lembrando que o processo civil é de onde partem todas as regras primárias do processo, influenciando e sendo usado pelo processo penal e do trabalho. Será, portanto, necessário, compreendermos o conceito de jurisdição primeiramente, para entender o funcionamento e construção do processo de conhecimento, para assim, visualizarmos as ações civis na prática. Na Unidade 2 estudaremos o processo penal e seus principais institutos, como o inquérito penal — sistemas inquisitorial e acusatório. E ainda a ação penal e suas diversas e diferentes classificações, o que será de suma relevância para quem pretende ingressar nesta área. Na Unidade 3, nós dedicaremos o nosso estudo para entender as peculiaridades do processo do trabalho e seu funcionamento no âmbito de uma justiça especializada. Este processo usa o processo civil como fonte subsidiária, mas é um mecanismo mais célere. Seja muito bem-vindo ao módulo de elementos do processo civil, penal e do trabalho, será um prazer acompanhar você nesta caminhada de construção do conhecimento. Boa leitura e bons estudos! Prof. Hector Luiz Martins Figueira IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA V VI Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer teu conhecimento, construímos, além do livro que está em tuas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela terás contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar teu crescimento. Acesse o QR Code, que te levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para teu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nessa caminhada! LEMBRETE VII UNIDADE 1 – ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL ................................................1 TÓPICO 1 – DIREITO E PROCESSO ....................................................................................................3 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................3 2 DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL .........................................................................5 3 DIVISÃO DO DIREITO PROCESSUAL ...........................................................................................7 3.1 DIREITO PROCESSUAL CIVIL .......................................................................................................7 3.2 DIREITO PROCESSUAL PENAL ....................................................................................................8 3.3 DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO ....................................................................................8 4 EFICÁCIA DA LEI PROCESSUAL NO TEMPO E NO ESPAÇO .................................................8 5 INTERPRETAÇÃO DA LEI PROCESSUAL ......................................................................................9 6 CONSTITUIÇÃO E PROCESSO .......................................................................................................13 7 PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL ......................................................15 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................17 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................18 TÓPICO 2 – PROCESSO DE CONHECIMENTO, DE EXECUÇÃO E CAUTELAR ..................21 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................21 2 AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO........................................................................21 3 JURISDIÇÃO: CONCEITO E ESPÉCIES .........................................................................................23 4 JURISDIÇÃO CONTENCIOSA E VOLUNTÁRIA: QUADRO ESQUEMÁTICO ..................25 4.1 JURISDIÇÃO CONTENCIOSA .....................................................................................................26 4.2 JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA ........................................................................................................27 5 PROCESSO DE EXECUÇÃO ..............................................................................................................27 6 PROCESSO CAUTELAR .....................................................................................................................30 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................33 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................34 TÓPICO 3 – AÇÃO PROCESSUAL CIVIL .........................................................................................37 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................37 2 RELAÇÃO JURÍDICA PROCESSUAL .............................................................................................373 ATOS PROCESSUAIS: CONCEITO, CLASSIFICAÇÃO E FORMA .........................................40 4 NULIDADES PROCESSUAIS ...........................................................................................................43 5 SENTENÇA – ELEMENTOS E EFEITOS DA SENTENÇA ........................................................45 6 COISA JULGADA: ORIGEM, CONCEITO E ESPÉCIES DE COISA JULGADA ...................47 LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................................51 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................55 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................56 UNIDADE 2 – ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL PENAL ............................................59 TÓPICO 1 – PROPEDÊUTICA DO DIREITO PROCESSUAL PENAL ........................................61 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................61 2 APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL ................................................................................62 sumário VIII 3 A LEI PROCESSUAL PENAL NO ESPAÇO E NO TEMPO .........................................................64 4 PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL .............................................................................................65 5 SISTEMAS PROCESSUAIS - ACUSATÓRIO (PRIVADO E PÚBLICO), INQUISITÓRIO E MISTO ....................................................................................................................................................69 5.1 SISTEMA ACUSATÓRIO CLÁSSICO/PRIVADO .......................................................................69 5.2 SISTEMA INQUISITIVO/INQUISITÓRIO ...................................................................................69 5.3 SISTEMA ACUSATÓRIO MODERNO/PÚBLICO ......................................................................70 5.4 SISTEMA MISTO .............................................................................................................................71 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................73 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................74 TÓPICO 2 – INQUÉRITO POLICIAL E AÇÃO PENAL 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................77 2 CONCEITO, NATUREZA JURÍDICA DO INQUÉRITO POLICIAL .........................................78 3 CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO POLICIAL......................................................................85 4 NOTITIA CRIMINIS .............................................................................................................................86 5 CONCEITO DE AÇÃO PENAL E CONDIÇÕES DA AÇÃO ......................................................87 6 AÇÃO PENAL PÚBLICA ....................................................................................................................89 7 AÇÃO PENAL PRIVADA ...................................................................................................................93 7.1 AÇÃO PENAL PRIVADA SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA ..........................................................95 7.2 AÇÃO PENAL PRIVADA PERSONALÍSSIMA ..........................................................................96 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................98 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................99 TÓPICO 3 – DENÚNCIA X QUEIXA E JURISDIÇÃO X COMPETÊNCIA ..............................101 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................101 2 DENÚNCIA E SEUS REQUISITOS ................................................................................................102 3 QUEIXA CRIME ..................................................................................................................................104 4 JURISDIÇÃO .......................................................................................................................................105 5 COMPETÊNCIA E CRITÉRIOS DE FIXAÇÃO ............................................................................106 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................110 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................114 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................115 UNIDADE 3 – ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO .........................117 TÓPICO 1 – HISTÓRICO DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO E ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA DO TRABALHO ..................................................119 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................119 2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO .........................122 3 FONTES DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO .........................................................124 4 PRINCÍPIOS DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO E PECULIARIDADES NO PROCESSO DO TRABALHO ..........................................................................................................127 5 VARAS DO TRABALHO ..................................................................................................................136 6 TRIBUNAIS REGIONAIS DO TRABALHO ................................................................................138 7 TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO .....................................................................................139 8 MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO ...................................................................................139 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................142 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................143 IX TÓPICO 2 – COMPETÊNCIA TRABALHISTA, PARTES, AÇÃO, PROCEDIMENTOS, DISSÍDIO INDIVIDUAL E AUDIÊNCIA TRABALHISTA ..................................147 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................147 2 COMPETÊNCIAS E TIPOS DE COMPETÊNCIA TRABALHISTA .........................................148 3 PARTES, REPRESENTAÇÃO PROCESSUAL, PROCURADORES E TERCEIROS .............150 3.1 PARTES............................................................................................................................................151 3.2 LITISCONSÓRCIO ........................................................................................................................151 3.3 CAPACIDADE PROCESSUAL ....................................................................................................151 3.4 REPRESENTAÇÃO........................................................................................................................153 4 AÇÃO, PROCESSO E PROCEDIMENTO NOS DISSÍDIOS INDIVIDUAIS .......................153 4.1 PETIÇÃO INICIAL .......................................................................................................................155 4.2PROCEDIMENTOS .......................................................................................................................156 4.3 DISSÍDIOS INDIVIDUAIS ............................................................................................................158 5 AUDIÊNCIA TRABALHISTA .........................................................................................................158 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................161 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................162 TÓPICO 3 – RECURSOS TRABALHISTAS, EXECUÇÃO TRABALHISTA E DISSÍDIO COLETIVO .......................................................................................................................165 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................165 2 RECURSOS TRABALHISTAS .........................................................................................................165 3 EXECUÇÃO TRABALHISTA – LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA .............................................168 4 DISSÍDIO COLETIVO ......................................................................................................................170 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................172 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................177 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................178 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................181 X 1 UNIDADE 1 ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • compreender os conceitos de processo e sua historicidade; • estudar a organização e funcionamento dos sistemas processuais; • analisar os conceitos as ações processuais de cada área; • entender o funcionamento da jurisdição; • pensar sobre os conceitos e natureza jurídica de cada área processual. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – DIREITO E PROCESSO TÓPICO 2 – PROCESSO DE CONHECIMENTO, DE EXECUÇÃO E CAUTELAR TÓPICO 3 – AÇÃO PROCESSUAL CIVIL Preparado para ampliar teus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverás melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 DIREITO E PROCESSO 1 INTRODUÇÃO O conceito de Direito Processual deve ser compreendido como sistema de princípios e normas legais que se interagem entre si com o intuito de regularem o processo, servindo, ainda, para disciplinar as ações dos sujeitos interessados na prestação jurisdicional. Já a divisão do Direito Processual de ser analisada sobre o prisma da jurisdição, que é una e isso decorre do poder estatal que também é uno no formato de federação. Assim, dando origem a um direito processual igualmente uno, dotado de um sistema de princípios e regras para o exercício da jurisdição. Assim, o direito processual, como um todo, se origina dos grandes princípios e garantias constitucionais pré-existentes, inclusive de outros países (Portugal, Itália e Alemanha) e em nosso país se subdivide em três categorias, a saber, processo civil, processo penal e processo do trabalho, que dialogam com o direito constitucional. O Direito Processual Civil, modernamente deve ser entendido conjuntamente com as premissas estruturantes do Direito constitucional, sendo estes dois o processo e Constituição Federal de 1988, envolvidos e relacionados com o que a doutrina denomina de direito material levado à apreciação do judiciário, este direito que está sendo discutido pelas partes. Em termos processuais, pode-se denominar termo jurídico. Assim, o processo civil existe no ordenamento mediante a interface com o direito constitucional, por ser a Carta Maior a estrutura fundamental do direito brasileiro. A teoria do Direito Constitucional tem se desenvolvido a tal ponto que o movimento do neoconstitucionalismo ultrapassa o direito material e passa a promover uma mudança fática contemporânea para o Direito Processual Civil, instaurando uma nova ordem jurídica em sede de processo. A introdução ao estudo e à compreensão do Direito Processual Civil brasileiro, inicialmente, pode ser entendido como mero resultado de leis e de um processo metafísico, que se reduz ao ponto de vista da subsunção: aplicação legal de causa e efeito, respeitando a tradição jurídica ocidental da civil law. UNIDADE 1 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL 4 A evolução do sistema jurídico foi tamanha, que a construção jurídica é diferenciada e sofisticada a cada processo/demanda que se inicia nos Tribunais de todo país. Principalmente, em razão da flexibilidade dos dispositivos normativos, que possibilitam a solução incisiva do caso concreto em tela. Em síntese, o processo é o principal instrumento concretizado de direitos disponíveis, assim, resulta daí a importância de seu estudo. O processo pode ser compreendido por três dimensões distintas, a saber: • Processo como método de criação de normas jurídicas. • Processo como ato jurídico complexo (procedimento). • Processo compreendido como relação jurídica. Ainda, vale ressaltar em termos introdutórios que procedimento também é uma denominação muito recorrente em direito processual civil, e a doutrina majoritária o define como "ato-complexo de formação sucessiva", ou seja, o processo e o procedimento existe por meio de um conjunto de atos jurídicos e processuais, que se relacionam entre si, e que possuem como objetivo ordinário, realizar a prestação jurisdicional. Assim, podemos concluir que o procedimento é gênero e o processo é espécie. Em outras palavras, processo é o procedimento estruturado em contraditório conforme manda a legislação prevista. Desse modo, podemos identificar a existência de um direito fundamental ao processo, decorrente do acesso à justiça, nessa toada, o acesso ao processo justo, deve estar garantido pela ampla defesa e pelo contraditório, ambos princípios insculpidos na Constituição Federal e corroborados em sede de processo civil. Tais princípios garantem de modo individual os direitos civis fundamentais. a) Processo como método de criação de normas jurídicas. Compreende o processo legislativo, o administrativo e o jurisdicional de criação da norma jurídica. b) Processo como ato jurídico complexo (procedimento). São os atos procedimentais, que formam o processo judicial e servem para prestação judicial. c) Processo compreendido como relação jurídica. A relação jurídica deve ser estabelecida e analisada por meio do caso concreto. QUADRO 1 – CONCEITO DE PROCESSO FONTE: O autor Por fim, vale destacar as importantes características do pensamento jurídico contemporâneo-processual, a saber: TÓPICO 1 | DIREITO E PROCESSO 5 • Reconhecimento da força normativa da Constituição: a Constituição é a norma hipotética fundamental, que prevê centralmente o processo civil e estrutura seu funcionamento na ordem jurídica atual. • Desenvolvimento da teoria dos princípios: reconhece a eficácia normativa, deixando de ser o princípio considerado como técnica de integração do Direito e passa a ser espécie de norma jurídica. • Transformação da hermenêutica jurídica: o direito por meio das leis e do processo de atuação de direito deve ser criativo e interpretativo com vistas à prestação jurisdicional e na melhor solução dos conflitos,neste sentido a intepretação das normas pelos juízes de acordo com o princípio da proporcionalidade e razoabilidade é imprescindível. • Expansão e consagração dos direitos fundamentais: com o advento das constituições escritas, o direito positivo traz um conteúdo ético mínimo que respeita a dignidade da pessoa humana, por meio da eficácia horizontal dos direitos fundamentais e humanos no bojo das relações privadas. Tendo em vista os conceitos explorados anteriormente, podemos, de modo bem resumido, dizer que o direito é o pressuposto de ordem de um ordenamento jurídico, e que através do seu arcabouço jurídico de normas constitucionais e infraconstitucionais, consegue organizar a vida social. Para que todas as normas e garantias sejam colocadas em prática, é fundamental a existência de um processo e de um procedimento, que garanta o cumprimento de todos os direitos previstos no ordenamento. 2 DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL O direito material, deve ser reconhecido e compreendido na teoria como bens jurídicos tutelados por uma pessoa de direito processual. Este último, por sua vez, se apresenta como conjunto de regras e princípios que regulamentam a melhor forma para a aplicação do direito material. Ou seja, um precisa do outro para existir fisicamente. Assim, em que pese a existência de diferenças, o direito processual e o direito material caminham juntos trilhando um movimento de cooperação, o direito processual é o instrumento utilizado por juízes e advogados, para se chegar a concretização do direito material. Exemplo: • Eu tenho um crédito a receber – direito material. • Eu ingresso com uma ação de cobrança contra o devedor – direito processual. O direito material, será, portanto, o conjunto de normas que conferem direitos aos cidadãos, regulará as relações entre as partes, é o interesse primário delas, ou seja, a própria relação subjetiva. Outros exemplos: o direito à vida, o direito ao nome, o direito à propriedade etc. Caso esses direitos sejam violados, UNIDADE 1 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL 6 desrespeitados, não cumpridos, você se valerá do direito processual. Esse conjunto de regras previstas e organizadas que serviram de instrumento para buscar e viabilizar o reparo da violação sofrida referente ao direito material. Logo, o processo é um interesse secundário, também conhecido por ser uma relação triangular, tendo em vista que o juiz intermedia o conflito entre as partes. FIGURA 1 – DIREITO MATERIAL X DIREITO PROCESSUAL FONTE: O autor Historicamente, nem sempre o direito processual foi compreendido como um ramo autônomo. No primeiro momento, denominada fase de sincretismo, o direito processual era visto como um direito adjetivo. Explica-se: a ação processual era o próprio direito material, se lesado, gerava a possibilidade ao ofendido de buscar a reparação pelos danos causados e a sua concretização. Adiante, teve-se a segunda fase, denominada de autonomista ou conceitual, seu início foi com a construção e a demarcação de um conceito para a ciência processual, mas que ainda visualizava o direito processual como um corriqueiro instrumento técnico à serviço da ordem jurídica material vigente, sem qualquer construção crítica e reflexiva acerca da sua finalidade. Como terceira fase, tem-se o que chamamos de fase instrumentalista, a fase processual moderna. Nesse caso, o processo atinge elevados níveis de desenvolvimento e passa a ser estudado e aprendido em seu contexto fático como um instrumento necessário para a efetivação da justiça social, analisando seu fim e sua funcionalidade em meio à convivência social. Desse modo, compreende-se a instrumentalidade do processo, pois ele não é um fim em si mesmo, mas um meio de se alcançar um fim, um meio pelo qual a parte concretiza o seu direito de ação, e busca a aplicação da jurisdição pelo Estado, através do juiz, a fim de que se pacifique determinado conflito. TÓPICO 1 | DIREITO E PROCESSO 7 No processo civil o princípio da instrumentalidade das formas pressupõe que, mesmo que o ato seja realizado fora da forma prescrita em lei, se ele atingiu o objetivo, esse ato será válido. Leia o Art. 188, CPC. Os atos e os termos processuais independem de forma determinada, salvo quando a lei expressamente a exigir, considerando-se válidos os que, realizados de outro modo, lhe preencham a finalidade essencial. DICAS 3 DIVISÃO DO DIREITO PROCESSUAL O direito processual existe por meio de algo que a doutrina chama de jurisdição: que se trata do poder que o Estado detém para aplicar o direito a um determinado caso específico, visando solucionar conflitos de interesses e com isso proteger a ordem jurídica e a autoridade da lei. No Brasil, a jurisdição é uma, isso quer dizer que é a total expressão do poder estatal também uno por meio de uma Federação. Isso quer dizer também, que direito processual será uno. Ou seja, existirá como um sistema de princípios e normas para o exercício da jurisdição. Mas importa destacar que o direito processual como um todo, origina-se dos principais princípios e garantias constitucionais presentes na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Podemos compreender ainda, em nosso ordenamento jurídico, a existência de uma subdivisão da processualística em: civil, penal, e do trabalho. Sabe-se da existência de outros processos, como o tributário e o constitucional, contudo não serão objetos deste estudo. 3.1 DIREITO PROCESSUAL CIVIL O Direito Processual Civil é classificado um ramo do direito público — pois o Estado é detentor do processo, e sua composição se dá por um conjunto de princípios e normas jurídicas que guiam os processos de natureza civil. Ajudando, ainda, na solução de conflitos de interesses e fazendo valer o respeito às leis de forma definitiva e coativa. O objetivo do processo civil é instrumental, ou seja, tenta a efetividade das leis materiais. Assinala o meio legal para acesso das partes aos tribunais, em determinado conflito de ordem privada e também auxilia a tramitação do acesso à justiça. Esse processo é gerido pelas regras comuns do Direito Civil (nomeadamente pelo Código de Processo Civil e complementarmente pelo Código Civil). UNIDADE 1 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL 8 O novo CPC traz consigo novos objetivos que merecem destaque: como a celeridade processual e a segurança jurídica. O novo código tenta prestigiá- las, coibindo dois dos piores vícios do processo civil atual: a morosidade e a insegurança da justiça brasileira. 3.2 DIREITO PROCESSUAL PENAL O Direito Processual Penal também denominado de Direito Processual Criminal é a área de estudo voltada à atividade de jurisdição de um Estado soberano, no julgamento de pessoas acusadas por pratica de condutas criminosas previamente tipificadas em lei. O procedimento de legitimação do direito estatal de punir, chamado de processo penal é uma área de constante crescimento devido aos elevados e alarmantes índices de criminalidade do país. Ainda podemos dizer que, a matéria processual tem por finalidade trazer a matéria penal da teoria para a realidade, oferecendo as ferramentas necessárias para que este possa ser aplicado na sua integralidade. Com esse objetivo delineado, sua finalidade será a de fixação da relação jurídica nascida do ilícito penal provocado, após sua ocorrência. Desse modo, pode o Estado mediante provocação, revogar determinados direitos do indivíduo criminoso. 3.3 DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO O Direito do trabalho, desde sempre, possui sua função de proteção aos trabalhadores, renegados sempre a uma condição de miséria e penúria em nossos país, devido à força e opressão dos conglomerados empresários no fator exploração de mão-de-obra. A função social e o objetivo do Direito processual do trabalho é dar vida a esta proteção prevista no direito material. Por meio de uma reclamação trabalhista, pode o trabalhador, reclamar o direito de receber férias não pagas, aviso prévioindenizado, buscar uma indenização por assédio moral oriundo da relação laboral, entre outros pedidos. A parte hipossuficiente — empregado — tem a sua disposição, mecanismos processuais para fazerem valerem seus direitos constitucionais e celetistas que lhe são cabíveis. 4 EFICÁCIA DA LEI PROCESSUAL NO TEMPO E NO ESPAÇO A eficácia da lei é ensinada na disciplina de Introdução ao Estudo Do Direito, como sendo a aptidão para que uma lei possa produzir efeitos jurídicos. Logo, os efeitos da lei, podem ser limitados a um determinado local (espaço) ou a um determinado período de tempo. Tal limitação se sobrepõe, inclusive, à lei processual. TÓPICO 1 | DIREITO E PROCESSO 9 No que se refere ao espaço, a lei processual é regulada pelo princípio da territorialidade. Importa ressaltar, que a lei processual tem eficácia apenas no território brasileiro. Isso ocorre, pois, a norma processual possui como objetivo disciplinar a atividade do estado-juiz. E essa atividade é a revelação do poder soberano do Estado, assim pode-se afirmar que leis estrangeiras não podem regular normas processuais nacionais. Em termos normativos, as leis processuais estão geridas pela Lei de Introdução às Normas do Direito brasileiro — LINDB (Decreto-Lei n° 4.657/1942). Em regra, as novas leis sancionadas pelo presidente da república, só começam a viger após o período de vacatio legis, quarenta e cinco dias depois de publicada, caso não venha prevendo outro prazo na lei, conforme art. 1º da referida lei. No Brasil, ainda relacionado a ideia do tempo, nosso país adotou o sistema do isolamento dos atos processuais. Ou seja, a lei processual tem validade geral e posterior, não podendo retroagir. Desse modo, os atos processuais praticados na vigência da lei antiga não serão afetados por nova lei que sobrevier. Não se pode esquecer que o processo penal excepcionou esta regra: lá retroagirá a lei para beneficiar o réu. A lei processual terá validade imediata e geral “respeitando o ato jurídico perfeito, a coisa julgada e o direito adquirido” (BRASIL, 1942, Art. 6º). ATENCAO 5 INTERPRETAÇÃO DA LEI PROCESSUAL Sabe-se que interpretar uma lei constitui em obter o sentido e o alcance da norma jurídica, procurando considerar o conteúdo que o texto possui com relação à realidade fática. Noutras palavras, pode-se afirmar que o exercício de interpretação incide em determinar o conteúdo expresso na lei, fixando o significado do enunciado legal. No perfeito ensinamento de Carlo Maximiliano (2002, p. 3): [...] interpretar é explicar, esclarecer; dar o significado de vocábulo atitude ou gesto; reproduzir por outras palavras um pensamento exteriorizado, mostrar o sentido verdadeiro de uma expressão; extrair, de frase, sentença ou norma, tudo o que na mesma se contém. UNIDADE 1 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL 10 No âmbito da dogmática jurídica, a atividade de interpretação é dada na maioria das vezes ao juiz, para que ele diga como e quando devo aplicar aquela lei. A interpretação é tão marcada no nosso país, que ela pode se dar de forma monocrática, podendo, cada juiz, ter uma interpretação diferente sobre o mesmo caso concreto. Contudo, todos os operadores do direito interpretam a lei. A interpretação se caracteriza então por meio do provimento do juiz e o discurso retórico e teórico dos advogados e dos promotores. Pode auxiliar ainda o estudo jus filosófico de muitas pessoas da academia. Nesse sentido, depreende- se que a hermenêutica, como meio de se interpretar, está fortemente relacionada à Filosofia do Direito. A Escola da Exegese foi a fonte principal e mais tradicional para se buscar a excelência na interpretação de leis e tentava-se, ainda, entender o que estava pensando o legislador ao escrever tal norma. Tem-se essa escola como marco inicial da ciência do direito moderno, já que apenas com o aparecimento da codificação o Direito admite suas nuances como ciência, na definição epistemológica da palavra. Assim, durante muito tempo se acreditou que a finalidade principal do jurista seria desvendar o significado da lei, através de um meio declaratório — como se os juízes fossem portadores de uma verdade real e absoluta e tivessem a missão de fazer grandes revelações. Assim, cabia ao juiz explicar as palavras do legislador da forma mais clara possível, mesmo que isso implicasse em um exercício de adivinhação, deveria sempre o jurista buscar manter a vontade do legislador, ou ao menos dizer o que ele pretendeu. De modo crítico e reflexivo, poderia dizer que a escola da exegese via na lei a única fonte do direito, a lei era o fim em si mesmo. Pode-se afirmar que para tal escola "a lei e o direito constituem a mesma realidade, pois a única fonte do direito é a lei e tudo que estiver estabelecido na lei é direito" (DINIZ, 1995, p. 46). Aplicando-se a teoria da escola da Exegese, o intérprete não precisaria buscar outros elementos além do próprio texto legal para sua compreensão. Não se levaria em conta a realidade fática, nem os princípios do direito por exemplo, já que a lei, externada na forma de códigos, era apresentada como um compêndio que previa e disciplinava toda e qualquer conduta humana. Diante das definições estabelecidas, a doutrina e os magistrados tinham uma importância diminuta, como tudo já estava previsto pela lei, os juízes deveriam ser na maioria, senão em todos os casos, meros declaradores de direitos e aplicadores da lei, no direito francês estes juízes ficaram conhecidos por serem simplistas declaradores de la bouche de la loi, ou “a boca da lei”, como falamos aqui no Brasil. Desta maneira, conclui-se que a tarefa do magistrado consistiria em um simples exercício silogístico. TÓPICO 1 | DIREITO E PROCESSO 11 Nesses casos, para a obtenção da melhor justiça, deveria o juiz partir de duas premissas para chegar a uma conclusão e só assim proferir a sentença. A saber: a premissa maior seria a lei, e a premissa menor a situação de fato, o caso concreto. E a sentença seria a conclusão de tal silogismo: a aplicação da regra geral à situação real, como demonstrado a seguir: FIGURA 2 – NORMA E CASO CONCRETO FONTE: O autor É possível perceber que todo esse percurso delineado no esquema da Figura 2, retrata a natureza material e processual de uma lei e todo o seu processo interpretativo. Nesses casos, e em outros, a lei terá a natureza jurídica de norma processual por servir como regulamentação da atuação das pessoas na esfera e no decorrer do processo. Assim, clara é a colaboração esclarecedora de Moacyr Amaral Santos (1994, p. 34): Mas, repita-se, as leis processuais, em sua essência, regulam as atividades dos órgãos jurisdicionais no exercício da função jurisdicional, isto é, aquelas atividades, não só dos juízes como das pessoas que com estes colaboram, destinadas à atuação da lei aos concretos e determinados conflitos de interesses. Não poderíamos deixar de lembrar que as normas processuais possuem natureza de normas de direito público, ou seja, decorrer do Estado. Na regra geral, não podem ser descumpridas por vontade das partes envolvidas no conflito, sendo, portanto, normas de aplicação e cumprimento obrigatório. Podemos ainda acrescentar que a arte de interpretar é extrair um sentido, mas obter o sentido dentro de uma ordem normativa da própria esfera processual, é não só descobrir a razão e o sentido de ser do texto, como também seu significado dentro do sistema de princípios e da realidade operada por todos os atores judiciários. UNIDADE 1 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL 12 A tarefa interpretativa, constituirá a missão de trazer à luz todo o conteúdo da norma, a fim de desnudar o que ali se contém. Importa esclarecer que vontade descrita na lei, não demonstra apenas a vontade do legislador, mas traduz dos fatos e circunstâncias da época — regidas pelo binômio local e tempo — expressando o sentimento de uma determinada sociedade. Como as sociedades mudam com o tempo, as leis também deveriamacompanhar este dinamismo. De tal modo, vê-se que interpretar é determinar o valor, buscando o significado e o alcance da lei em dado momento da história. Lembre-se de que a interpretação das leis processuais deve sempre ser visualizada e entendida como um instrumento para aplicação do direito material, e tem por fim principal a obtenção de justiça e a pacificação dos conflitos. Caminhando para o fim, deve-se ressaltar que não existem regras ou métodos interpretativos determinados para análise das normas processuais. Recomenda-se que ao efetuar a interpretação de lei processual, o ordenamento jurídico deve ser visualizado no todo, realizando sempre uma interpretação sistematizada, levando em conta os princípios informativos e constitucionais do processo, como, por exemplo, a instrumentalidade, a efetividade, a ampla defesa, e contraditório. Art. 5º, LV, CRFB: “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”. IMPORTANT E Ainda, sobre tal temática, não poderia deixar de trazer a brilhante e esclarecedora lição de Pontes de Miranda, na qual, a principal regra jurídica de interpretação do direito processual é a que se pode formular do seguinte modo: A regra jurídica processual há de entender-se mera regra para que se realize o direito objetivo e, pois, no sentido de não atingir o direito material. Se, em algum ponto, há derrogação a esse, em vez de (ou) junto à regra jurídica processual está a regra de direito material, heteretópica, a que se deve tal derrogação (MIRANDA, 1995, p. 68-69). Ao final, podemos dizer que para as leis processuais não se aplicam regras próprias de interpretação a serem aplicadas, basta que sejam razoavelmente compreendidas e reveladas, levando em consideração as finalidades do processo e sua característica. Por isso, se faz tão importante uma interpretação sistemática da lei processual de forma honesta e coerente. TÓPICO 1 | DIREITO E PROCESSO 13 6 CONSTITUIÇÃO E PROCESSO Atualmente, se faz muito importante o estudo do Direito Processual Civil integrado com o Direito Constitucional. Por isso é fundamental toda uma compreensão acerca dos direitos fundamentais, principalmente dos principais direitos fundamentais processuais que se apresentam no art. 5º da CRFB. E ainda, compreender através das chamadas “dimensões de direitos fundamentais” toda esta classificação histórica. Sobre isso, podemos acrescentar que “o juiz não pode se limitar ao que o legislador infraconstitucional estabelecer devendo ater-se, principalmente, ao que foi estabelecido pela Constituição” (MARINONI, 2010, p. 55). Amaral de Souza (2008, p. 104) ensina que “O processo deve seguir à risca o que a Constituição Federal para ele estabeleceu, principalmente no que se refere à tutela dos direitos fundamentais: imunizar e reparar, quando preciso, o direito [...] de acordo com os preceitos e valores inseridos na Constituição Federal”. Deste modo, a análise dos princípios processuais previstos na Constituição é de suma importância. Um dos mais relevantes é o princípio do Contraditório, que se trata de uma garantia fundamental prevista no rol do art. 5º da Constituição da República. “O princípio do contraditório significou a obrigação de audiência bilateral, de comunicação do ajuizamento da causa e dos atos processuais, bem como a possibilidade de impugnar tais atos” (GRECO, 2005, p. 547). Com o propósito de melhor compreender o tema proposto, é necessário ressaltar a diferença entre o Direito Constitucional Processual e o Direito Processual Constitucional. Nas lições de Daniel Mitidiero (2011, p. 39): No plano das relações entre processo e Constituição, ressalta-se a existência do “direito processual constitucional”, que constitui a condensação metodológica e sistemática dos princípios constitucionais do processo. Essa colocação metodológica e sistemática revela ao processualista dois sentidos vetoriais em que se pode sentir as relações entre processo e Constituição: de um lado, na via Constituição- processo, tem-se a tutela constitucional deste e dos princípios que devem regê-lo, alçados a nível constitucional; de outro, na perspectiva processo-Constituição, a chamada jurisdição constitucional, voltada ao controle de constitucionalidade das leis e atos administrativos e à preservação de garantias oferecidas pela Constituição. Assim, o Direito Constitucional Processual se relaciona com as normas processuais previstas na CF/88 e aos princípios processuais constitucionais, como por exemplo, o Princípio do Devido Processo Legal (due process of law) e do Juiz Natural, os quais são aplicados ao processo, em geral, e que veremos de forma mais detalhada na próxima seção. UNIDADE 1 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL 14 Ainda vale lembrar, que, modernamente, os estudos do Direito Processual também foram influenciados por uma nova corrente de estudos denominada neoconstitucionalismo, que propõe uma renovação do pensamento jurídico. Guilherme Botelho (2010, p. 39), sobre o neoconstitucionalismo esclarece: Trata-se de um movimento umbilicalmente ligado ao Estado Constitucional. Correto afirmar que corresponde ao próprio Estado Constitucional de Direito em funcionamento ou, ainda, o Estado Constitucional em prática. Em suma: é o modo de pensar próprio do Estado Constitucional; sua consequência lógica e previsível. Um método baseado na lógica argumentativa, em correspondência à adoção de constituições ricas em enunciados normativos fundamentais de conceitos de abertura semântica que passam a exigir do jurista maior conhecimento inter-relacional das diversas ramificações do direito, e não apenas ele. Neste sentido, com o advento do neoconstitucionalismo, passou a ter maior atenção ao direito processual e uma grande mudança principalmente na perspectiva da atuação do juiz. Obrigando que o magistrado profira suas decisões baseadas, preponderantemente, na Constituição Federal. E, para que isso fosse alcançado, passou a adotar conceitos jurídicos indeterminados e cláusulas gerais, que bem conhecemos como o princípio da boa-fé objetiva. Esses princípios por sua vez, imprimem uma marca de flexibilidade, e evita a rigidez das soluções, permitindo ao juiz maior liberdade na sua função decisória e ainda exige dele um maior conhecimento do direito. Assim, o processo passa a ser estudado e entendido a partir de uma premissa constitucionalizada atentando-se aos princípios gerais do Direito, que, somado a uma preparação específica, permitindo aos atores do campo jurídico uma ação do direito através de novas técnicas, tais como o respeito aos princípios gerais de direito. Além do mais, a Constituição passou a ser o requisito para aplicação das legislações infraconstitucionais, diversos fatores influenciaram esse novo modo de pensar e agir processualmente. Isso só foi possível, pois buscou-se compreender que a Constituição não é apenas um limite a esse poder político, sendo mais do que isso, é um conjunto de normas fundamentais hipotéticas que devem ser cumpridas para o bem-estar da população e para o reforço da cidadania e do estado democrático de Direito. Sabe-se que existem diversas manifestações dessas mudanças na forma de pensar a relação entre o processo e a Constituição, conforme lição de Fredie Didier Jr. (2009, p. 98), neste sentido destacamos algumas: a) parte-se da premissa de que a Constituição tem força normativa e, por consequência, também têm força normativa os princípios e os enunciados relacionados aos direitos fundamentais; b) desenvolvimento de uma nova hermenêutica constitucional (com a valorização dos princípios e o desenvolvimento dos princípios da proporcionalidade e razoabilidade). TÓPICO 1 | DIREITO E PROCESSO 15 7 PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL Os ensinamentos basilares que constituem e orientam a formação dos sistemas que compõem o Direito ProcessualCivil. Dentro dessa seara, podemos destacar os seguintes princípios: a) Princípio da Imparcialidade do Juiz: para que a decisão proferida pelo juiz seja justa e válida, é preciso que o magistrado atue de forma imparcial. Ele não pode preferir e privilegiar nenhuma das partes. O juiz deve se posicionar entre as partes e acima delas, esta é a primeira condição para que possa exercer a sua função judicante. A princípio da imparcialidade do juiz é pressuposto lógico para que a relação processual se instaure e seja válida, senão ele poderá ser considerado suspeito ou impedido para prosseguir naquele caso. b) Princípio da Igualdade: os advogados e as partes devem ter tratamento isonômico pelo juiz. Esse princípio encontra-se previsto no art. 5° da CF. Isso ocorre, porque as partes e os procuradores devem merecer tratamento igualitário, assim gozaram das mesmas oportunidades de fazer valer em juízo os seus questionamentos. c) Princípio do Contraditório e da Ampla Defesa: na relação processual é basilar e de conhecimento de todos, que ambas as partes no processo devem ter direito de se manifestar sobre o que está em juízo e de se defender de quaisquer afirmações que lhes forem imputadas. Nesse sentido, ensina Leonardo Greco (2010, p. 539) que: O princípio do contraditório pode ser definido como aquele segundo o qual ninguém pode ser atingido por uma decisão judicial na sua esfera de interesses, sem ter tido a ampla possibilidade de influir eficazmente na sua formação em igualdade de condições com a parte contrária. d) Princípio da ação: também denominado princípio da demanda, diz que compete à parte a iniciativa de provocar à jurisdição. Chama-se ação o direito de demandar nos órgãos jurisdicionais, visando à satisfação de um direito. A jurisdição sempre será inerte e, para a sua movimentação ela deve ser provocada. e) Princípio da disponibilidade e da indisponibilidade: refere-se ao poder que as pessoas têm de exercer ou não seus direitos. No Direito Processual tal poder é ratificado pela possibilidade de apresentar ou não sua pretensão em juízo, bem como de apresentá-la da maneira que melhor lhes couber e renunciar a ela ou a certas situações processuais. De modo contrário, prevalecerá no processo criminal o princípio da indisponibilidade, já que o cometimento de um crime se trata de uma lesão irreparável ao interesse coletivo e a pena deve ser obrigatoriamente cumprida para a restauração da ordem jurídica que fora infringida. f) Princípio dispositivo e princípio da livre investigação das provas: verdade formal e verdade real: o princípio do dispositivo determina que o juiz depende da iniciativa das partes quanto às provas e às alegações da decisão, para fazer a instrução da causa. Cabe ao juiz ter acesso e mandar produzir todas as provas cabíveis e necessárias para se conseguir a verdade real. UNIDADE 1 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL 16 g) Princípio da economia e instrumentalidade das formas: como o processo se trata de um instrumento, não se pode permitir um gasto exagerado com relação aos bens que estão em disputa, logo, deve existir uma necessária proporção e razoabilidade entre fins e meios, para equilíbrio do binômio custo-benefício daquilo que está sendo tratado. E jamais desperdiçar recursos públicos do poder judiciário e tempo dos jurisdicionados. h) Princípio do duplo grau de jurisdição: muito criticado por algumas pessoas, ele garante a possibilidade de revisão, por meio de um recurso, das causas já julgadas pelo juiz em primeira instância, que um novo juiz (de grau superior), também denominada de segunda instância faça a reapreciação da matéria. O princípio do duplo grau de jurisdição se fundamenta na possibilidade de a decisão de primeiro grau não ser adequada, errada ou até mesmo injusta. Podendo se desdobrar a necessidade de permitir sua reforma em grau de recurso em instância superior. i) Princípio da publicidade: a publicidade norteia a maioria dos processos, exceto aqueles que correm em segredo de justiça. A presença do público nas audiências e sendo possível o exame dos autos por qualquer pessoa concebem o mais seguro instrumento de fiscalização popular sobre o trabalho dos magistrados, promotores públicos e advogados. Por fim, o povo é o juiz dos juízes, conforme é no júri popular e em direito penal. j) Princípio da motivação das decisões judiciais: todas as decisões judiciais devem, obrigatoriamente, ser motivadas pelo magistrado, fundamento jurídico e principiológico são as bases do direito brasileiro. Art. 371 do CPC - “O juiz apreciará a prova constante dos autos, independentemente do sujeito que a tiver promovido e indicará na decisão as razões da formação de seu convencimento”. NOTA Para saber mais do assunto leia os textos indicados. • A atuação do juiz no novo Código de Processo Civil, de Benedito Corezzo Pereira Filho, para o site Consultor Jurídico. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2015-mar-30/ benedito-cerezzo-atuacao-juiz-codigo-processo-civil. • O papel do Juiz no processo civil moderno, de Otacílio José Barreiros. Disponível em: http://www.revistajustitia.com.br/artigos/2w2a27.pdf. DICAS https://www.conjur.com.br/2015-mar-30/benedito-cerezzo-atuacao-juiz-codigo-processo-civil https://www.conjur.com.br/2015-mar-30/benedito-cerezzo-atuacao-juiz-codigo-processo-civil http://www.revistajustitia.com.br/artigos/2w2a27.pdf 17 Neste tópico, você aprendeu que: • O conceito de Direito Processual deve ser compreendido como sistema de princípios e normas legais que se interagem entre si com o intuito de regularem o processo, servindo ainda, para disciplinar as ações dos sujeitos interessados na prestação jurisdicional. • O processo pode ser compreendido por três dimensões distintas, a saber: processo como método de criação de normas jurídicas; processo como ato jurídico complexo (procedimento); processo compreendido como relação jurídica. • O direito processual e o direito material caminham juntos trilhando um movimento de cooperação, o direito processual é o instrumento utilizado por juízes e advogados, para se chegar a concretização do direito material. • O direito processual existe por meio de algo que a doutrina chama de jurisdição: que se trata do poder que o Estado detém para aplicar o direito a um determinado caso específico, visando solucionar conflitos de interesses e com isso proteger a ordem jurídica e a autoridade da lei. • A Eficácia da lei é ensinada na disciplina de Introdução ao estudo do direito, como sendo a aptidão para que uma lei possa produzir efeitos jurídicos. Logo, os efeitos da lei, podem ser limitados a um determinado local (espaço) ou a um determinado período de tempo. Tal limitação se sobrepõe, inclusive, à lei processual. • Interpretar uma lei constitui em obter o sentido e o alcance da norma jurídica, procurando considerar o conteúdo que o texto possui com relação à realidade fática. • O processo deve seguir à risca o que a Constituição Federal para ele estabeleceu, principalmente no que se refere à tutela dos direitos fundamentais: imunizar e reparar, quando preciso, o direito RESUMO DO TÓPICO 1 18 1 O processo compreendido como ato jurídico complexo, refere-se ao(s): a) ( ) Atos procedimentais, que formam o processo judicial e servem para prestação judicial. b) ( ) Atos legislativos, que formam o processo legislativo. c) ( ) Caso concreto que deve ser analisado pelo juiz. d) ( ) Atos procedimentais, que se formam no âmbito da administração pública direta e indireta. 2 De acordo com a eficácia da lei processual no tempo e a previsão da LINDB, é correto afirmar que: a) ( ) A lei processual não possui validade imediata após sua aprovação, precisando de sanção presidencial. b) ( ) A lei processual não possui validade imediata após sua aprovação, precisando de sanção dos ministros do STF. c) ( ) A lei processual terá validade imediata e geral respeitando o ato jurídico perfeito, a coisa julgadae o direito adquirido. d) ( ) A lei processual terá validade mediata e genérica respeitando o ato jurídico perfeito, a coisa julgada e o devido processos legal. 3 “O juiz não pode se limitar ao que o legislador infraconstitucional estabelecer devendo ater-se, principalmente, ao que foi estabelecido pela Constituição”. Essa premissa , modernamente, refere-se: a) ( ) A uma visão do processo inquisitorial. b) ( ) A uma visão global e universal do direito processual. c) ( ) A uma visão internacional do direito processual. d) ( ) A uma visão constitucionalizada do direito processual. 4 O princípio do duplo grau de jurisdição encontra guarida na alternativa: a) ( ) Garantia de possibilidade de revisão, por meio de um recurso, das causas já julgadas pelo juiz em primeira instância. b) ( ) Decisão de uma questão incidente sem resolução do mérito, isto é, sem dar uma solução final à lide proposta em juízo. c) ( ) É o pronunciamento por meio do qual o juiz, põe fim à fase cautelar do procedimento comum, bem como extingue a execução. d) ( ) Decisão de uma questão incidente com resolução do mérito, isto é, sem dar uma solução final à lide proposta em juízo. AUTOATIVIDADE 19 5 O código de processo civil aduz que: “O juiz apreciará a prova constante dos autos, independentemente do sujeito que a tiver promovido e indicará na decisão as razões da formação de seu convencimento”. Neste sentido o princípio em destaque é: a) ( ) Juiz Natural. b) ( ) Ampla Defesa. c) ( ) Contraditório. d) ( ) Da motivação das decisões judiciais. 20 21 TÓPICO 2 PROCESSO DE CONHECIMENTO, DE EXECUÇÃO E CAUTELAR UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Neste tópico vamos estudar, processo de conhecimento: é aquele em que o juiz decide qual das partes tem razão na lide e todo o desdobramento sobre ele como a audiência de instrução e julgamento. Adiante, veremos o processo cautelar como sendo o processo que tem por finalidade proteger o objeto da ação principal. E, por fim, ainda estudaremos o processo de execução e as novidades trazidas pelo Novo Código de Processo Civil, que esclarece que não haverá mais o processo cautelar autônomo. O diploma processual existente será a existência de medidas e providências com as mesmas características cautelares, mas que não darão origem a um processo autônomo. 2 AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO As audiências de instrução e julgamento, também denominadas (AIJ) pelos juízes, serventuários e advogados, se caracteriza por ser a parte mais importante do processo de conhecimento. É uma sessão pública, logo pode ser assistida por todos, e trata-se de um ato solene presidida pelo órgão jurisdicional competente, com a presença e participação das partes, advogados, testemunhas e auxiliares da justiça. O objetivo principal da AIJ é de tentar conciliar as partes, produzir se possível prova oral, dando oportunidade para se debater e posteriormente decidir a causa da forma mais justa. É denominada como de "instrução e julgamento", por serem estes seus objetos centrais: instruir (produzir provas); julgar (decidir) oralmente; tentativa de conciliação; debate (alegações finais). Entretanto, apesar de todas estas atribuições, não se trata de ato essencial dentro do processo, podendo ser dispensada quando cabível julgamento antecipado do mérito conforme prevê o artigo 355 do CPC. As principais atividades desenvolvidas na audiência de instrução e julgamento são: tentativa de conciliação; arguição do perito; produção de prova oral; apresentação de alegações finais; prolação de sentença. UNIDADE 1 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL 22 Assim, pode-se dizer que a audiência de instrução e julgamento é um ato processual solene e serve, principalmente, para colher a prova oral (depoimento de partes e/ou testemunhas). Tem sua forma e função delimitadas no Código de Processo Civil, nos artigos 358 a 368, vide: Art. 358. No dia e na hora designados, o juiz declarará aberta a audiência de instrução e julgamento e mandará apregoar as partes e os respectivos advogados, bem como outras pessoas que dela devam participar. Art. 359. Instalada a audiência, o juiz tentará conciliar as partes, independentemente do emprego anterior de outros métodos de solução consensual de conflitos, como a mediação e a arbitragem (BRASIL, 2015, s.p.). Importa destacar, ainda, que qualquer audiência exige dos advogados argumentação jurídica em defesa do seu cliente. Por acontecer de forma muito dinâmica, a AIJ é uma das que mais deixa os advogados atentos e após o novo CPC é preciso estar atento a possibilidade de se valer dos métodos consensuais de resolução de conflitos. Sobre estes métodos e tentativas conciliatórias todo o destaque deve ficar com o art. 358 do CPC no dia e hora anteriormente denominados pelo juiz, serão apregoadas as partes e seus advogados para dar início à AIJ. Toda vez que tiver início a audiência, o juiz deve, antes de passar à produção de provas, buscar conciliar as partes. A conciliação já era situação prevista no antigo Código de Processo, contudo, após 2015, ela foi favorecida e incrementada com sua previsão em diversos dispositivos. No entanto, a novidade contida no novo CPC refere-se aos métodos de conciliação. O novo código determina que a tentativa de conciliação pelo magistrado deve ocorrer independentemente de prévias e eventuais soluções consensuais do conflito, já tentadas anteriormente. Fora isso, para além do instituto da conciliação, outras formas para solução de conflitos podem ser empregadas, como é o caso da mediação e da arbitragem. Mesmo que já tenha acontecido anteriormente uma audiência de mediação, conciliação e arbitragem, deve o juiz, de acordo com a nova redação, realizar novamente a tentativa para solução do conflito entre as partes, valendo- se de quaisquer técnicas previstas para a resolução do conflito. O novo código também trouxe uma alteração com relação a AIJ, antigamente ela não poderia ser fragmentada, agora, esta hipótese está prevista, de maneira excepcional no Artigo 365 do novo CPC. Assim ficou redigido: TÓPICO 2 | PROCESSO DE CONHECIMENTO, DE EXECUÇÃO E CAUTELAR 23 Art. 365. A audiência é una e contínua, podendo ser excepcional e justificadamente cindida na ausência de perito ou de testemunha, desde que haja concordância das partes. Parágrafo único. Diante da impossibilidade de realização da instrução, do debate e do julgamento no mesmo dia, o juiz marcará seu prosseguimento para a data mais próxima possível, em pauta preferencial (BRASIL, 2015, s.p.). Vale esclarecer, que, muito embora, a parte final do dispositivo exija a concordância das partes para fragmentação da audiência, existem casos em que bastará a decisão fundamentada do juiz, ainda que dela as partes não concordem. Não se pode olvidar do Artigo 362 do Código de Processo Civil, que autoriza o adiamento da audiência de instrução e julgamento nas hipóteses ali elencadas. Os exemplos são: por convenção das partes (Inciso I) ou ausência de testemunhas devidamente justificadas (Inciso II e III). Quando se chegar ao final da audiência de instrução e julgamento, importa lembrar que ainda pode ser requisitado a apresentação de alegações finais de forma oral (o que não é muito comum e usual no direito brasileiro — geralmente usa a linguagem escrita), passada esta fase, não existindo mais nada superveniente (como suspensão e impedimento de partes, advogados ou juiz) deverá só aguardar a sentença. A AIJ tem papel muito importante para o desdobramento da ação judicial, pois nela podem ser produzidas provas importantes referentes ao caso, devendo o profissional (advogado das partes) que nela participa estar atento para não cometer erros. NOTA 3 JURISDIÇÃO: CONCEITO E ESPÉCIES Na lição de Wambier, Almeida e Talamini (2002), jurisdição, no campo do processo civil, é a função de resolver os conflitos que a ela sejam dirigidos. Não importando, se estes conflitos, se deram por pessoas naturais,jurídicas ou entes despersonalizados. Já no dizer de Galeno Lacerda, apresentada por Carneiro: Jurisdição é a atividade pela qual o Estado, com eficácia vinculativa plena, soluciona a lide declarando ou realizando o direito em concreto. Trata-se, pois, de atividade pela qual o Estado-Juiz, em substituição às partes, e com desinteresse na lide (terzietà) decide a quem cabe o direito, declarando-o ou fazendo-o ser concretizado, possuindo poderes coercitivos para tanto. Neste mister, o Estado-Juiz emprega a legislação, produto do Poder Legislativo, como fonte fim para a atividade jurisdicional (CARNEIRO, 2001, p. 98). UNIDADE 1 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL 24 O objetivo da jurisdição versa sobre a realização dos interesses que ficaram insatisfeitos, buscando a integração do direito atingido. Confere-se, que a jurisdição, teria por objeto substituir as partes e satisfazer a pretensão delas, e ao mesmo tempo que reintegra a eficácia do direito lesado, assegura ao o cumprimento da lei. São características da jurisdição: a jurisdição age por provocação — é inerte; deve ser requeira perante o Estado-Juiz; atividade pública; monopólio do Poder Judiciário e a jurisdição possui autoridade de coisa julgada. Vale dizer, que embora exista decisão de contenciosos administrativos, estas não impedem a atuação ou exercício da atividade jurisdicional, conforme disposição constitucional prevista no Artigo 5º, XXXV, CF/88. Mais uma extraordinária característica da jurisdição é a sua atividade substitutiva, ou seja, para realizar a vontade concreta da lei, o Estado-Juiz substitui as partes para uma solução possível à lide. Assim, nasce a indeclinabilidade da atividade jurisdicional, que dever ser exercida por um juiz natural, com investidura e competência para resolver a lide. Segundo a doutrina majoritária, a jurisdição se divide em duas grandes espécies: a contenciosa e a voluntária. A jurisdição contenciosa ainda se subdivide em: Jurisdição Comum e Jurisdição Especial. a) A jurisdição comum: compreende a civil e a penal. No combo da jurisdição civil, encontram-se também as demandas de natureza comercial, previdenciária e administrativa. A Jurisdição Comum atua nas esferas federal, estadual e distrital. b) A jurisdição especial: divide-se em trabalhista, militar e eleitoral. A jurisdição trabalhista pertence à Justiça Federal, salvo lugares menores, onde não haja justiça do trabalho, e o juiz estadual comum exercerá as funções própria do magistrado trabalhista. Ressalta-se que em termos de organização judiciária, todas estas jurisdições possuem primeira e segunda instâncias, possibilitando análise das decisões pelos Tribunais Superiores (STJ, TST, STM, TSE, STF) competentes a cada decisão conforme a competência da matéria tratada em cada uma delas. Já a jurisdição voluntária, é a função exercida pelo Estado, por meio do juiz, mediante um processo, no qual busca-se solucionar causas que lhe são submetidas sem existir conflito de interesses entre duas partes, conforme procedimento descrito no art. 719 do CPC. No modelo e previsão de jurisdição voluntária, os interessados buscam o judiciário para obterem determinada decisão que lhes interessam para aquisição de determinado bem da vida. Não há nessa espécie procedimental um litígio constituído. TÓPICO 2 | PROCESSO DE CONHECIMENTO, DE EXECUÇÃO E CAUTELAR 25 Na jurisdição voluntária, não há também coisa julgada, logo pode se interpretar que não há jurisdição. Observa-se então, a existência de deficiências da jurisdição voluntária para uma concepção do que venha a ser jurisdição, mas este é tema para outro debate. Caminhando para o fim desta parte, pode-se afirmar que a jurisdição, como visto, consiste em uma atividade pública, substitutiva às partes, que pretende colocar fim a um processo, satisfazendo os interesses ainda insatisfeitos, reintegrando o direito objetivo, e coroando com o cumprimento da vontade concreta da lei. Por fim, a jurisdição “[...] é uma das funções do Estado, mediante a qual este se substitui aos titulares dos interesses em conflito para, imparcialmente, buscar a pacificação do conflito que os envolve, com justiça” (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2006, p. 145). 4 JURISDIÇÃO CONTENCIOSA E VOLUNTÁRIA: QUADRO ESQUEMÁTICO Como visto, a jurisdição é o poder que o Estado tem de resolver os conflitos que lhe são submetidos a apreciação, substituindo a vontade das partes e impondo essa decisão estatal com base nas normas jurídicas. Isso ocorre para proibir a autotutela dos interesses individuais objetivando a pacificação social. A essa função do Estado dá-se o nome de jurisdição contenciosa, que, em síntese, “tem por objetivo a composição e solução de um litígio” (BORGES, 1997, p. 211). As diferenças entre a jurisdição voluntária e a jurisdição contenciosa são importantes de serem demarcadas: a jurisdição voluntária tem caráter administrativo, resolvendo um negócio judicial com a participação do juiz, a jurisdição contenciosa tem caráter jurisdicional, com objetivo a pacificação social, substituindo a vontade das partes que, se não for cumprida, pode ser aplicada de modo coercivo. Ainda no quesito diferenças, a jurisdição voluntária não apresenta conflito de interesses, logo não existe uma coisa a ser julgada. Dessa maneira, não existe uma sentença, mas sim um procedimento, ao contrário da jurisdição contenciosa, na qual o juiz age a partir de um conflito de interesses, julgando um processo e decidindo o que deve ser feito. Verifique estas diferenças no quadro esquemático a seguir: UNIDADE 1 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL 26 JURISDIÇÃO CONTENCIOSA JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA ATIVIDADE Jurisdicional Administrativa CAUSA Lides Ato ou negócio jurídico SUJEITOS Partes Interessados INICIATIVA Ação Requerimento FORMA Processo Procedimento COISA JULGADA Há Não há CRITÉRIO DE JULGAMENTO Legalidade estrita Legalidade ou equidade QUADRO 2 – TIPOS DE JURISDIÇÃO FONTE: O autor 4.1 JURISDIÇÃO CONTENCIOSA A jurisdição contenciosa tem as seguintes características: • Estabelecida quando existem partes antagônicas, havendo, de um lado, o autor, que busca conseguir uma solução judicial a um conflito de interesses e, do outro, o réu, que é a pessoa sobre a qual se pressupõe atitudes que vão contra o interesse e a ordem social. • Possui um processo judicial e uma sentença que vai favorecer uma das partes em detrimento da outra, sendo comum e rotineiro que haja litigiosidade. • A sentença judicial, proferida pelo juiz, determina a ação a ser tomada, substituindo a vontade das partes em litígio e é obrigatória, devendo ser cumprida, já que foi tomada com base em dados e fatos comprovados, tendo como respaldo a legislação pertinente ao processo. • A jurisdição contenciosa apresenta uma solução independentemente da vontade dos litigantes, sendo imperativa, de observância compulsória e, se necessário, até mesmo forçada. Notar que as diferenças estão retratadas em lei e doutrina, por isso reforço que a leitura do material deve sempre estar acompanhada do Código de Processo Civil. IMPORTANT E TÓPICO 2 | PROCESSO DE CONHECIMENTO, DE EXECUÇÃO E CAUTELAR 27 4.2 JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA No procedimento da jurisdição voluntária as regras a cumprir estão de acordo com o art. 720 e seguintes: • Instaura-se o processo por petição inicial por provocação do interessado, do Ministério Público ou da Defensoria Pública com atribuição de valor da causa e identificação da providência judicial almejada (Artigo 720). • As despesas processuais são antecipadas pelo requerente e rateadas entre todos os interessados; os interessados têm o prazo de quinze dias para poder manifestar-se (Artigo 721). • A Fazenda Pública será sempre ouvida, nos casos em que tiver interesse (Artigo 722). • O Ministério Público será ouvido, apenas nos casos do art. 178 do CPC (Artigo 721). • O pedido será resolvido em dez dias, por sentença, que é apelável (Artigos 723 e724). • Os pedidos que tramitam pelo procedimento comum de jurisdição voluntária estão regulados pelo Artigo 725. Por fim, são procedimentos especiais de jurisdição voluntária de acordo com o novo CPC: • Notificação, interpelação e protesto (Artigo 726-729). • Alienação judicial (Artigo 730). • Homologação de divórcio e separação consensuais; homologação de extinção consensual da união estável; alteração consensual de regime de bens do matrimônio (Artigos 731-733). • Abertura de testamento e codicilo (Artigos 735-737). • Arrecadação de bens da herança jacente (Artigos 738-743). • Arrecadação de bens dos ausentes; (Artigos 744-745). • Arrecadação de coisas vagas (Artigo 746). • Interdição (Artigo 747-758) • Disposições Comuns à Tutela e à Curatela (Artigos 759-762). • Organização e fiscalização das fundações (Artigos 764-765). • Ratificação dos protestos marítimos e dos processos testemunháveis formados a bordo (Artigos 766-770). 5 PROCESSO DE EXECUÇÃO A Lei 11.232/05, alterou essa sistemática do processo civil e sua subdivisão, uma vez que agora o processo de execução limitou-se a servir apenas para a satisfação dos títulos executivos extrajudiciais. UNIDADE 1 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL 28 A nova lei sepultou a necessidade de um processo autônomo (chamado de processo de execução) para as hipóteses de títulos executivos judiciais. Ocorreu uma união do processo de conhecimento com o de execução, surgindo apenas uma fase no processo de cognição chamada de cumprimento de sentença. Veja como ficou: FIGURA 3 – CUMPRIMENTO DE SENTENÇA FONTE: O autor Mesmo que a sentença tenha várias determinações, por exemplo: obrigação de fazer e obrigação de pagar quantia certa, a forma de sua efetivação seguirá o rito do art. 498 e art. 509, do CPC. Desta forma, existirá tantos procedimentos quanto houver obrigações a serem cumpridas. O processo de execução está disciplinado a partir do art. 771, CPC veja: Art. 771. Este Livro regula o procedimento da execução fundada em título extrajudicial, e suas disposições aplicam-se, também, no que couber, aos procedimentos especiais de execução, aos atos executivos realizados no procedimento de cumprimento de sentença, bem como aos efeitos de atos ou fatos processuais a que a lei atribuir força executiva (BRASIL, 2015, s.p., grifo nosso). A execução abarca duas modalidades, de maneira que são definidas quanto ao título que está sendo executado: • Primeiro, execução que tem como fundamento a execução de título extrajudicial. • A execução cujo objeto é o título judicial é denominada cumprimento de sentença. O que interessa saber é que a estrutura das duas espécies se dá pelo título. O credor precisa ter um título para executar em juízo exatamente o que determinar seu conteúdo. Importa esclarecer que o título precisa ser líquido, com valor devidamente estipulado; de modo certo e ainda exigível, ou seja, estar vencido e não houver sido pago. TÓPICO 2 | PROCESSO DE CONHECIMENTO, DE EXECUÇÃO E CAUTELAR 29 Dentro do processo de execução, não está previsto modalidade de defesa para o devedor. O meio apropriado de defesa do devedor se dá fora do processo de execução e por meio dos embargos do devedor. ATENCAO A seguir serão demostradas as modalidades de execução previstas no novo código de processo civil, destacando o respectivo artigo de cada uma destas modalidades para melhor fixação e conhecimento do conteúdo. • Toda execução é real – Artigo 789 CPC – A execução se consumará sempre sobre o patrimônio do devedor. Existe uma exceção a este princípio, que é o chamado patrimônio mínimo. Pois alguns bens são considerados como mínimo existencial à pessoa, o mínimo para garantir o direito fundamental da dignidade da pessoa humana e por isso não podem ser executados. Vide a literalidade do artigo: O devedor responde com todos os seus bens presentes e futuros para o cumprimento de suas obrigações, salvo as restrições estabelecidas em lei. • A execução deve ser útil – Artigo 836 CPC – Toda execução deve possuir um sentido de ser e existir dentro da matéria processual. Vide o artigo na íntegra: Não se levará a efeito a penhora quando ficar evidente que o produto da execução dos bens encontrados será totalmente absorvido pelo pagamento das custas da execução. • A execução deve ser econômica – Artigo 805 CPC – Ou seja, sempre será feita do modo mais barato para evitar ônus para quem está sendo executado. Íntegra: Art. 805. Quando por vários meios o exequente puder promover a execução, o juiz mandará que se faça pelo modo menos gravoso para o executado. Parágrafo único: Ao executado que alegar ser a medida executiva mais gravosa incumbe indicar outros meios mais eficazes e menos onerosos, sob pena de manutenção dos atos executivos já determinados. Por fim, vale lembrar da livre disponibilidade da execução pelo credor prevista no Artigo 755, CPC, isso quer dizer que “o exequente tem o direito de desistir de toda a execução ou de apenas alguma medida executiva”. Quem define o que é um título executivo extrajudicial é o sistema normativo, mais precisamente o art. 784, NCPC. UNIDADE 1 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL 30 “A penhora eletrônica realizada pelo convênio firmado entre Banco Central do Brasil e Poder Judiciário (BacenJud), hoje prevista no artigo 854/CPC, nasceu como um instrumento a conceder mais efetividade ao processo de execução [...]”. FONTE: <https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI301252,91041-Efetividade+da+acao+ de+execucao+evolucao+legislativa+jurisprudencial>. Acesso em: 2 mar. 2020. IMPORTANT E 6 PROCESSO CAUTELAR Com a reforma do CPC em 2015, houve também uma evidente modificação no regramento das cautelares como um todo. Possibilitando à extinção do processo cautelar autônomo e ainda viabilizando a unificação do procedimento pelo qual elas deveriam ser pleiteadas em juízo. Vale dizer, que as modificações trazidas ajudaram no processo de simplificação a tramitação das cautelares e, ao mesmo tempo em que acrescentaram valor ao estudo do tema, necessitam de compreensão de noções relativas ao objeto das cautelares e aos requisitos legalmente estipulados para sua aplicação no caso concreto que for apresentado em juízo. O que se teve foi a generalização da atipicidade da tutela antecipada, seja na modalidade conservativa ou satisfativa. Agora, estando presentes os requisitos genéricos para sua concessão, o juiz poderá determinar: arresto; sequestro; busca e apreensão ou qualquer outra medida conservativa. E também poderá, presentes os requisitos genéricos, conceder a tutela antecipada satisfativa. Vale lembra que essa concessão dependerá do caso concreto, não havendo mais requisitos casuísticos. Não podemos deixar de falar que com a reforma do CPC foram extintos o procedimento cautelar incidental, que era conhecido como a figura do apensamento dos autos do procedimento cautelar aos do principal. Foi extinta também a possibilidade de concessão de medidas cautelares de ofício pelo juiz. Diante de tais alterações, a nova legislação processual demonstrou a tendência sólida na retirada da autonomia do processo cautelar, transformando sua concessão em uma técnica processual esperada à preservação do resultado útil do processo, desde que sejam atendidos os requisitos legitimamente previstos para tanto. Acerca do tema, Daniel Amorim Assumpção Neves afirma que: https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI301252,91041-Efetividade+da+acao+de+execucao+evolucao+legislativa+jurisprudencial https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI301252,91041-Efetividade+da+acao+de+execucao+evolucao+legislativa+jurisprudencial TÓPICO 2 | PROCESSO DE CONHECIMENTO, DE EXECUÇÃO E CAUTELAR 31 O processo autônomo cautelar desaparece, e, como nunca houve um processo autônomo de tutela antecipada, é possível afirmar que deixa de existir o processo autônomo de tutela de urgência. Há tratamento diversos quanto à natureza da tutela de urgência pretendida quando o pedido for feito
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