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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO Caroline de Albuquerque Mourão Alves LÓGICAS CAUSATION E EFFECTUATION: UMA ANÁLISE QUANTITATIVA DE EMPREENDEDORES EX- EMPRETECOS NO RN Natal 2022 CAROLINE DE ALBUQUERQUE MOURÃO ALVES LÓGICAS CAUSATION E EFFECTUATION: UMA ANÁLISE QUANTITATIVA DE EMPREENDEDORES EX-EMPRETECOS NO RN Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Administração, na área de gestão organizacional, e linha de organizações, estratégia e tecnologia da informação. Orientador: Afrânio Galdino de Araújo, Dr. Coorientador: Felipe Luiz N. B. de Melo, Dr. Natal 2022 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências Sociais Aplicadas - CCSA Alves, Caroline de Albuquerque Mourão. Lógicas causation e effectuation: uma análise quantitativa de empreendedores ex-empretecos no RN / Caroline de Albuquerque Mourão Alves. - 2022. 111f.: il. Dissertação (Mestrado em Administração) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Programa de Pós-Graduação em Administração. Natal, RN, 2022. Orientador: Prof. Dr. Afrânio Galdino de Araújo. Coorientador: Prof. Dr. Felipe Luiz Neves Bezerra de Melo. 1. Empreendedorismo - Dissertação. 2. Empreendedor - Dissertação. 3. Lógica Effectuation - Dissertação. 4. Lógica Causation - Dissertação. 5. Empretecos - Dissertação. I. Araújo, Afrânio Galdino de. II. Melo, Felipe Luiz Neves Bezerra de. III. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. IV. Título. RN/UF/Biblioteca CCSA CDU 005.342 Elaborado por Eliane Leal Duarte - CRB-15/355 Caroline de Albuquerque Mourão Alves LÓGICAS CAUSATION E EFFECTUATION: UMA ANÁLISE QUANTITATIVA DE EMPREENDEDORES EX-EMPRETECOS NO RN Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Administração, na área de gestão organizacional, e linha de organizações, estratégia e tecnologia da informação. Natal, 21 de março de 2022. Afrânio Galdino de Araújo Professor Doutor - Universidade Federal do Rio Grande do Norte Presidente da Banca Examinadora Felipe Luiz Neves Bezerra de Melo Professor Doutor - Universidade Federal do Rio Grande do Norte Membro externo à Instituição Dinara Leslye Macedo e Silva Calazans Professora Doutora - Universidade Federal do Rio Grande do Norte Membro Externo ao Programa Mauro Lemuel de Oliveira Alexandre Professor Doutor - Universidade Federal do Rio Grande do Norte Membro Externo ao Programa Dedico esse trabalho a Deus e a todos os estudantes e professores que enfrentaram dias difíceis na vida pessoal e profissional em meio a pandemia da Covid-19. AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus por ter sido minha força e sustento para vencer todas as etapas dessa conquista profissional. Ao meu esposo Rafael, por todo incentivo e por ter confiado mais em mim do que eu mesma. Aos meus filhos João e Marcos, que na inocência de criança, me fazem mais forte e tornam sempre tudo mais leve. Aos meus pais e irmãos, por sempre acreditarem e viabilizarem o que fosse possível para que eu cumprisse essa meta. Aos meus sogros pelo apoio e confiança. Às minhas cunhadas, que já doutoras, me ensinaram e deram dicas valiosas na construção deste trabalho. Aos meus sobrinhos Ruben e Maria, pelo sorriso e amor dedicados a mim em cada reencontro. À Neuma, Rita e Marcelo, que cuidaram de tudo o que tive que deixar de lado, especialmente a casa e meus filhos, enquanto me dedicava a estudar, pensar e escrever todo este trabalho. Ao meu orientador prof. Afrânio, por ter “aberto as portas” do mestrado ao me aceitar como aluna especial, e por toda a disponibilidade e conhecimento dedicados à conclusão deste trabalho. Ao meu coorientador prof. Felipe, que mesmo sempre à distância, se posicionou com muita presença ao compartilhar tanto conhecimento e auxílio diante dos muitos desafios nesta jornada. A todos os professores, desde a minha infância até o mestrado, pelos ensinamentos e exemplos compartilhados. Ao PPGA/UFRN, especialmente na pessoa do secretário Marcel, pela disponibilidade e esforço em ajudar em todos os detalhes administrativos, especialmente diante do curso do mestrado em meio a uma pandemia. Aos meus colegas de sala por todo o apoio desde o início, quando eu me dividia entre aulas, grupos de estudo, amamentação de um filho e adaptação escolar do outro, até a fase de conclusão, quando em meio ao isolamento social, me vi cercada de incentivo e confiança de que ia dar tudo certo. Ao professor Fernando e colegas da UFRN Ana Eliza, Samara, Patrícia, Rebeka, Ana Clara, Luciana, Jéssica, Solange e Mayara, por terem vivenciado mais de perto todos os desafios do mestrado. Obrigada por toda paciência e apoio. Às minhas amigas, por terem estado dispostas a me ouvir, me incentivar, me alertar e me aplaudir. Às irmãs e amigas em Cristo do Instituto Hesed Natal, pelo presente que me deram de poder estar em sua companhia nos momentos de aflição, louvor e gratidão, e me fazerem sentir totalmente amparada por Jesus e Maria nessa caminhada. A todos os participantes da pesquisa de campo, por terem feito parte e torcido pelo sucesso do trabalho. Ao SEBRAE/RN, por mesmo dentro de sua limitação legal, ter prestado apoio a esta pesquisa. A todas as pessoas que cruzaram meu caminho e foram suporte na minha vida pessoal e profissional. E por último, novamente meu agradecimento a Deus: pois tudo começa e termina por Ele e para Ele. “Fazei tudo por amor, assim não há coisas pequenas: tudo é grande.” (São Josemaria Escrivá, 1934) Alves, Caroline de Albuquerque Mourão. Lógicas Causation e Effectuation: uma análise quantitativa de empreendedores ex-Empretecos no RN [dissertação]. Natal: Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2022. RESUMO O objetivo do estudo consiste em analisar as relações entre as abordagens Causation e Effectuation e as características de empreendedores ex-participantes do Empretec do SEBRAE/RN em seus negócios. O método adotado é quantitativo, por meio de uma pesquisa empírica, cujos dados foram obtidos em corte transversal, com aplicação de um questionário baseado em um instrumento de pesquisa já validado nacional e internacionalmente. Além da descrição do perfil da amostra, técnicas estatísticas foram utilizadas: Análise Fatorial Exploratória (com bootstrap) e Regressão Linear Múltipla Robusta, contando com o auxílio dos programas G*Power 3 para tratamento da amostra e do SPSS 27 para os demais procedimentos. Com os resultados estatísticos, obteve-se satisfatória resposta e ajuste fatorial no teste de escala de forma quantitativa, e foi possível inferir que ambas as abordagens e suas respectivas variáveis são contundentes, mas especialmente a de Causation, que também é impactada com significância pelo gênero, idade, origem de recursos e o fato de os participantes estarem atualmente empreendendo. A de Effectuation é timidamente influenciada pelasmesmas variáveis, mas não em todas suas subdimensões. Concluiu-se que há coexistência de ambas as abordagens nas tomadas de decisões dos ex-Empretecos, apesar de uma predominância do modo Causation. Palavras-chave: Empreendedorismo. Empreendedor. Effectuation. Causation. Empretecos. Alves, Caroline de Albuquerque Mourão. Causation and Effectuation Logics: a quantitative analysis of ex-Empretecos entrepreneurs in RN [dissertation]. Natal: Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2022. ABSTRACT The objective of the study is to analyze the relationships between the Causation and Effectuation approaches and the characteristics of entrepreneurs who are ex-participants of Empretec do SEBRAE/RN in their businesses. The method adopted is quantitative, through an empirical research, whose data were obtained in cross-section, with the application of a questionnaire based on a research instrument already validated nationally and internationally. In addition to the description of the sample profile, statistical techniques were used: Exploratory Factor Analysis (with bootstrap) and Robust Multiple Linear Regression, with the help of the G*Power 3 programs for sample treatment and SPSS 27 for the other procedures. With the statistical results, a satisfactory response and factor adjustment were obtained in the scale test in a quantitative way, and it was possible to infer that both approaches and their respective variables are strong, but especially that of Causation, which is also significantly impacted by gender, age, source of resources and the fact that the participants are currently entrepreneurs. Effectuation is timidly influenced by the same variables, but not in all its sub-dimensions. It was concluded that there is coexistence of both approaches in the decision-making of ex- Empretecos, despite a predominance of the Causation mode. Keywords: Entrepreneurship. Entrepreneur. Effectuation. Causation. Empretecos. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Principais princípios Causation x Effectuation ....................................................... 30 Figura 2 - Amostra válida ......................................................................................................... 48 Figura 3 - Protocolo de busca na base Web of Science ............................................................ 89 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Apoio aos pequenos negócios durante a pandemia ................................................ 19 Quadro 2 – Característica e Comportamento Empreendedor ................................................... 35 Quadro 3 - Caracterização da pesquisa..................................................................................... 40 Quadro 4 - Caracterização da amostra ...................................................................................... 41 Quadro 5 - Método de pesquisa ................................................................................................ 42 Quadro 6 - Questões do constructo teórico e seus respectivos códigos ................................... 44 Quadro 7 -Variáveis para filtro e variáveis independentes ....................................................... 46 Quadro 8 - Requerimentos de amostra ..................................................................................... 52 Quadro 9 - Pressupostos da RLM e testes aplicados ................................................................ 70 Quadro 10 - Hipóteses alternativas e significâncias ................................................................. 75 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Área do curso de graduação .................................................................................... 56 Tabela 2 – Resultados descritivos de perfil .............................................................................. 57 Tabela 3 - Resultados descritivos da escala de Causation e Effectuation ................................ 59 Tabela 4 - Médias por dimensão............................................................................................... 62 Tabela 5 - Correlações entre as dimensões ............................................................................... 62 Tabela 6 - Cargas fatoriais e comunalidade.............................................................................. 66 Tabela 7 - Estatísticas do modelo fatorial ................................................................................ 68 Tabela 8 - Modelo de regressão para variável dependente Causation ..................................... 71 Tabela 9 - Modelo de regressão para variável dependente Effectuation – Flexibilidade ......... 72 Tabela 10 - Modelo de regressão para variável dependente Effectuation - Perdas aceitáveis . 73 Tabela 11 - Modelo de regressão para variável dependente Effectuation – Experimentação .. 74 Tabela 12 - Modelo de regressão para variável dependente Effectuation - Pré-acordos .......... 74 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 - Poder estatístico em função do tamanho da amostra ............................................. 50 Gráfico 2 - Boxplot de outliers ................................................................................................. 54 LISTA DE SIGLAS AFE: Análise Fatoral Exploratória ANPAD: Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Administração ASN: Agência Sebrae de Notícias GEM: Global Entrepreneurship Monitor MEI: Micro Empresáros Individuais QDAS: Qualitative Data Analysis Software RLM: Regressão Linear Múltipla RM: Regressão Múltipla RN: Rio Grande do Norte SEBRAE: Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SMART: Specific, Measurable, Achievable, Relevant, Time-bound TEA: Total Early - Stage Entrepreneurial Activity UNCATD: United Nations Conference on Trade and Development WOF: Web of Science SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 17 2. EMPREENDEDORISMO E O EMPREENDEDOR, LÓGICAS CAUSATION E EFFECTUATION E O EMPRETEC .................................................................................... 26 2.1 O EMPREENDEDORISMO E O EMPREENDEDOR ................................................ 26 2.2 LÓGICAS CAUSATION E EFFECTUATION .............................................................. 28 2.3 EMPRETEC: METODOLOGIA DE EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA ................. 32 3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS..................................................................... 39 3.1 Caracterização da pesquisa ............................................................................................ 39 3.2 Seleção dos sujeitos de pesquisa e caracterização da amostra ...................................... 40 3.3 Método de pesquisa ....................................................................................................... 41 3.4 Coleta e dados ................................................................................................................ 43 3.4.1 Instrumento e coleta de dados ................................................................................ 43 3.4.2 Composição e análise da amostra ........................................................................... 48 3.4.3 Tratamento dos dados ............................................................................................. 53 4. ANÁLISE QUANTITATIVA: LÓGICAS CAUSATION E EFFECTUATION E A SUA ADOÇÃO POR EMPREENDEDORES EM SEUS NEGÓCIOS ............................. 55 4.1 Resultados descritivos ................................................................................................... 55 4.1.1. Analisando as médias por dimensão ...................................................................... 61 4.2 Análise Fatorial Exploratória.........................................................................................63 4.3 Regressão Linear Múltipla Robusta .............................................................................. 68 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 76 REFERÊNCIAS...................................................................................................................... 81 APÊNDICES ........................................................................................................................... 88 ANEXOS................................................................................................................................ 101 17 1. INTRODUÇÃO O objetivo desse primeiro capítulo é uma breve descrição sobre os temas abordados neste trabalho, assim como sua contextualização, incluindo indicadores econômicos. Também contará com as justificativas e motivações que embazaram o problema de pesquisa a ser apresentado, seguido dos objetivos geral e específicos que se busca responder. Academicamente, o empreendedorismo foi identificado pelos economistas, em um primeiro momento, como um elemento útil para o desenvolvimento, depois, os comportamentalistas tentaram entender o empreendedor como pessoa (FILION, 1999). Para o autor, o campo do empreendedorismo pode ser definido como aquele que centraliza o estudo nos empreendedores, examinando suas atividades, características, efeitos sociais e econômicos e os métodos de suporte facilitadores da atividade empreendedora. E é para essa perspectiva que o olhar dessa pesquisa se volta. De acordo com Perry, Chandler e Markova (2012), sob um ponto de vista mais comportamental, o corpo principal da pesquisa sobre empreendedorismo é baseado nos modelos de tomada de decisão racional empregados pela economia neoclássica, ou seja, já é sabido que ele foi focado durante anos em atividades caracterizadas pelo pensamento econômico e planejado (FISHER, 2012), o modo Causation (SARASVATHY, 2001). Porém, à medida que o interesse pelo tema se intensificou, uma série de novas perspectivas teóricas surgiram para explicar as ações e a lógica que fundamentam o comportamento do empreendedor (FISHER, 2012). O autor afirma ainda que essas alternativas para descrever a ação empreendedora - como a teoria Effectuation (SARASVATHY, 2001) - sugerem que, sob certas condições, os empreendedores seguem um caminho diferente para identificar e explorar oportunidades. Saras Sarasvathy (2001) nomeou como Causation e Effectuation caminhos possíveis se decidir por empreender, como resultado do seu doutorado (1998) orientado pelo Nobel em Economia Herbert Simon, que rendeu à Saras o prêmio Academy of Management (mais importante congresso científico em Administração) de melhor trabalho apresentado em 2001. Segundo Sarasvathy (2001), Causation e Effectuation são duas abordagens alternativas que os empreendedores usam no processo de desenvolvimento de novos empreendimentos (SARASVATHY, 2001). Enquanto a abordagem Causation é direcionada a um objetivo com base na previsão, os empreendedores que seguem uma lógica Effectuation são mais propensos a ajustar seus objetivos e estratégias conforme a situação se desenvolve e com base nos recursos 18 que eles controlam, tentando alavancar contingências à medida que surgem (ALSOS et al., 2016). Apesar das divergências apontadas sobre o termo “teoria” dado ao modo Effectuation (ver Anexo A), existe um consenso entre diversos autores, conforme a revisão de literatura de Grégoire e Cherchem (2020), de que Effectuation é de fato uma alternativa ao modo tradicional (Causation), inclusive os autores concluíram por meio de várias observações empíricas que a Effectuation (sendo uma teoria ou não) pode naturalmente co-ocorrer ao lado de outros modos de agir, e esta premissa levou a uma série de estudos com foco em fatores que afetam a condução por Effectuation. Mesmo com todas as diversas combinações possíveis entre as duas formas expostas, há uma considerável convergência sobre uma certa condição relevante para a aplicação do modo Effectuation: a de alta incerteza. Para diversos outros autores (ALSOS et al., 2016; CHANDLER et al., 2011; FISHER (2012); GRÉGORIE; CHERCHEM, 2020; ILONEN; HEINONEN; STENHOLM, 2018; MELO; SILVA; ALMEIDA, 2019), um dos argumentos básicos deste modo é que seus princípios são particularmente úteis em condições de verdadeira incerteza. Além de medidas de apoio governamental, o enfretamento de situações de incerteza, considerando-as, segundo Knight (1921), como situações expressas por valores indeterminados e não quantificáveis (a exemplo de uma imprevisível pandemia na magnitude da causada pelo novo coronavírus), as empresas assumem papel primordial, e com ela, o seu principal agente, o empreendedor. O empreendedorismo tem cada vez mais se tornado uma alternativa profissional. Por necessidade ou oportunidade (APARICIO; URBANO; AUDRETSCH, 2016), ele é um instrumento econômico consequência de inúmeras decisões tomadas por indivíduos diante dos riscos e incertezas envolvidos no processo de empreender. Segundo o Relatório Executivo sobre o Brasil em 2019, do Global Entrepreneurship Monitor (GEM), quase 90% dos empreendedores em sem primério negócio concordam (total ou parcialmente) que a escassez de emprego constitui uma das razões para se lançar no empreendedorismo pela primeira vez. E mais: desses, 26,2% mencionaram que “ganhar a vida porque os empregos são escassos” foi a única motivação para começar um negócio (GEM, 2019a) E mais, no mesmo ano, a taxa de empreendedorismo total no país foi de 38,7%, correspondendo a mais de 25,5 milhões de brasileiros, número superior ao do ano anterior, 19 sendo a segunda mais alta da série histórica, e revelando mais uma vez o quanto o empreendedorismo é presente e sentido no cotidiano do país (GEM 2020a). E não foi diferente com a pandemia da Covid-19: com o aumento da taxa de desemprego, foram adotadas medidas de apoio aos pequenos negócios, dentre outras: pagamento de auxílio emergencial de R$600/mês, inclusive para informais, autônomos e micro empresáros individuais (MEI); prorrogação do pagamento de tributos; suspensão temporária dos contratos de trabalho e redução da jornada e salários; financiamento facilitados (GEM, 2020b). O Brasil, inclusive, se destacou no cenário mundial em relação a esse tipo de ações, como se observa no quadro abaixo: Quadro 1 - Apoio aos pequenos negócios durante a pandemia Ações Brasil Reino Unido Itália EUA Canadá Espanha México Suspensão contrato de trabalho sim sim sim Redução jornada/salário Sim sim Auxílio emergencial Sim sim Sim sim sim Diferimento impostos Sim sim sim Sim sim sim Apoio financeiro Sim sim sim Sim sim sim sim Fonte: GEM (2020b) Como consequência, os números de empreendedorismo responderam positivamente. Segundo a Exame (2021), a crise econômica levou milhões de brasileiros a abrirem o próprio negócio e os registros de MEIs cresceram 8,4% em 2020. Ou seja, nem mesmo a crise causada pela pandemia foi capaz de frear a escalada do empreendedorismo no Brasil. De acordo com dados do Ministério da Economia, o país registrou recorde no número de novas empresas abertas em 2020 e encerrou o ano com cerca de 20 milhões de negócios ativos, o que representa um aumento de 6% em comparação com 2019 (MAPA, 2020). Em 2021, somente no 3º quadrimestre foram abertas 1.209.634 empresas, aumento de 1,8% em relação ao mesmo período em 2020, e considerando também o fechamento, o saldo em 2021 foi positivo de 2.615.906 empresas, 13,0% maior em relação ao ano de 2020, o maior saldo da série histórica (MAPA, 2021). No Nordeste, em 2020, houve um saldo positivo de aproximadamente 378 mil empresas abertas, com um crescimento, somente no terceiro quadrimestre, de 13,6% em relação ao mesmo período deano anterior (MAPA, 2020). E no estado do Rio Grande do Norte, lócus de pesquisa deste trabalho, os dados são da mesma natureza: 20 “A baixa taxa de mortalidade no RN, que foi de 8%, pode ser explicada por outro dado que a pesquisa revelou. 61% dos empreendedores potiguares tinham conhecimento ou experiência no ramo em que decidiu abrir o negócio, o que denota que o empreendedorismo não foi motivado por uma necessidade. Mas, 52% do total desse público estava desempregado e resolveu empreender para ter uma fonte de renda. E é nesse contingente que se enquadra a maioria dos MEIs.” (TRIBUNA DO NORTE, 2021) Sendo o empreendedorismo um instrumento de crescimento econômico (FONTENELE, 2010), seu agente assume papel central no crescimento da economia de uma localidade (NOGAMI; MEDEIROS; FAIA, 2014). E mais, há uma relação recíproca, segundos estes autores (2014), pois pesquisas apontam que um país crescente economicamente reflete em práticas empreendedoras (FONTENELE, 2010). A contribuição da atividade empreendedora para o desenvolvimento econômico varia de acordo com o ambiente em que ela ocorre (NOGAMI; MEDEIROS; FAIA, 2014). Reconhecendo essa relação entre empreendedorismo e desenvolvimento econômico, e de forma complementar às ações governamentais já apresentadas, evidencia-se especialmente a importância das ações de fomento ao empreendedorismo, nesse trabalho representada pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), cuja missão é “promover a competitividade e o desenvolvimento sustentável dos pequenos negócios e estimular o empreendedorismo” (SEBRAE, 2020a). No Rio Grande do Norte (RN), alinhado ao nacional, os projetos do SEBRAE buscam a consolidação de um modelo de desenvolvimento nacional baseado na facilitação do acesso a insumos produtivos, entre os quais conhecimento, crédito, tecnologia e capacitação, em favor de micro e pequenos negócios e empreendimentos emergentes (SEBRAE, 2020a). Dentre eles, há o EMPRETEC, um seminário (exclusivo do SEBRAE no Brasil) que identifica, estimula e desenvolve o comportamento empreendedor, tendo como mote dinâmicas e práticas vivenciais que ajudam os participantes (chamados Empretecos) a aplicar os conhecimentos adquiridos (EMPRETEC, 2020). No RN, já atraiu mais de 7.000 empreendedores, e mais de 285.000 no Brasil. Na pesquisa bibliográfica que antecedeu esse estudo, foi verificado um artigo relacionando a lógica Effectuation e o SEBRAE, mas não um programa ou curso especificamente. Pereira et al. (2017) demonstrou com essa sua pesquisa qualitativa que os programas de treinamento em empreendedorismo do SEBRAE e as políticas de apoio estão em desacordo com a prática real de alguns microempresários da favela da Rocinha, no Rio de 21 Janeiro, cujo sucesso empreendedor pôde ser explicado pela lógica Effectuation (grifo nosso). Outro artigo relevante foi o de Melo, Silva e Almeida (2019), no qual os autores consideraram a variável dicotômica “auxílio de agências de apoio ao empreendedorismo”, incluída por tradicionalmente organizações de fomento ao empreendedorismo, como o SEBRAE, apoiarem os empreendedores nos processos de planejamento e concepção do negócio, então buscou-se verificar se havia relação entre tal variável e as abordagens de empreendedorismo Causation e Effectuation. Como resultado, os autores identificaram evidências da associação entre a abordagem Causation e o apoio de agências de fomento ao empreendedorismo na concepção de negócios (grifo nosso). Com base nas relações academicamente já investigadas entre empreendedorismo, Causation, Effectuation, incerteza, desenvolvimento econômico e o SEBRAE, como agência de fomento ao empreendedorismo, e também nos resultados empíricos de Pereira et al. (2017) e Melo, Silva e Almeida (2019), concluiu-se haver uma lacuna de estudo sobre o programa específico Empretec e as lógicas Causation e Effectuation em um ambiente de alta incertezas, pois, em meio às dificuldades econômicas, sociais e até pessoais, independente da motivação, para muitos indivíduos a solução é iniciar o próprio negócio ou lutar para se reinventar no negócio já existente. Visualizar oportunidades, aceitar a incerteza e apostar seus recursos foram algumas das decisões durante o percurso de empreendedores em Natal, no Rio Grande do Norte. Tendo como norte explorar decisões empreendedoras de ex-participantes de um programa de fomento ao empreendedorismo no estado do Rio Grande do Norte à luz dos conceitos de Causation e Effectuation, a proposta deste trabalho é analisar os ex-alunos do Empretec (ou ex-Empretecos), como um exemplo relevante no Estado de investimento do SEBRAE (uma agência de fomento) no empreendedorismo, e a adoção de ferramentas Causation e Effectuation por esses ex-alunos e empreendedores em seus negócios, esperando encontrar as relações entre os perfis e os constructos e assim inferir relevâncias e impactos com os dados obtidos. Diante da incerteza como protagonista do mundo enfrentado em 2020, do reconhecimento da importância do apoio formal e efetivo, como do SEBRAE, aos empreendedores e também sua persistência para o enfretamento e superação, tanto individual como coletiva, de mais uma crise mundial, surgiu meu interesse em entender as decisões na criação e condução dos negócios, à luz das lógicas Causation e Effectuation, tendo os empreendedores participado de um curso no campo do empreendedorismo, o Empretec, que 22 seguem empreendendo em situações de alta incerteza, pelo menos até o momento da aplicação do questionário (setembro/2021). Essa seria a inquietação e relevância pessoais. Buscou-se a relevância teórica, além das lacunas de estudos anteriores que serão ratificadas no próximo subitem, por meio do intuito de relacionar tais decisões com os dois modelos conceituados por Saras Sarasvathy (2001), dentro do tema de estratégia comportamental da divisão de Estratégia em Organizações, proposto pela Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Administração (ANPAD): “O tema 'Estratégia comportamental' visa divulgar as pesquisas que envolvem, de forma ampla, aspectos ligados ao comportamento, cognição, emoção, atenção, interações sociais e processos de tomada de decisão estratégica. [...] Este campo, além de incluir métodos tradicionais de pesquisa, inclui outros importantes para a compreensão dos aspectos comportamentais da estratégia. (ANPAD, 2020). A ANPAD (2020) sugere que diversos temas podem ser incluídos para contribuir, inclusive, com o aprimoramento de abordagens teóricas e temas da estratégia como, dentre outros, Effectuation, pesquisando as características dos decisores e seu desempenho, a tomada de decisão estratégica, o oportunismo, a adaptação de recurso, a implementação da estratégia, o comportamento sobre crise. Diversos autores seguem publicando a respeito da teoria Effectuation em periódicos relevantes (ver Apêndice B), inclusive promovendo análise e debates teóricos a respeito da evolução do assunto como uma teoria. E nesse ponto, encontramos uma divergência de visões, o que pode ser tratado como oportunidade para o incremento de conhecimentos para a evolução da matéria. “A pesquisa de Effectuation enfrenta desafios consideráveis, No entanto, as ideias de Effectuation permanecem poderosas – e manifestamente atraem o interesse contínuo de um círculo cada vez maior de acadêmicos ao redor do mundo. Apesar de algumas das observações que fizemos em nossas análises levantarem preocupações, oportunidades atraentes abundam para contribuir” (GRÉGOIRE; CHERCHEM, 2020, p. 637, tradução nossa). De acordo com Reuber, Fisher e Coviello (2016), a discussão recente sobre Effectuation adotou a abordagem de desenvolvimento da teoria, avaliando a Effectuation como uma teoria e fornecendo ferramentas e ideias para sua construção e reconstrução. Sua posiçãocomo uma teoria do empreendedorismo e seu processo de construção de teoria, particularmente no campo da pesquisa organizacional, levantaram várias preocupações e questões importantes, como 23 relatadas por Arend, Sarooghi e Burkemper (2015), Gupta et al., (2016), Reuber, Fisher e Coviello (2016), Read, Song e Smit, (2009), Grégorie e Cherchem (2020), dentre outros. Os autores (2020) realizaram uma revisão estruturada da literatura considerando 101 artigos sobre Effectuation publicados entre os anos de 1998 e 2016 em periódicos listados no Journal Citation Reports (JCR), um relatório de avaliação das revistas científicas mais influentes do mundo. Com a análise, sugeriram recomendações de estudos: “Trazendo à luz as articulações teoria-e-método que caracterizam a pesquisa existente sobre Effectuation, nossas análises ajudam a esclarecer algumas das questões mais importantes, ao mesmo tempo frustrando alguns novos avanços. Por sua vez, essas observações permitem um foco mais preciso em áreas específicas de intervenção, permitindo assim a identificação criativa de caminhos possíveis para se seguir em frente (GRÉGORIE; CHERCHEM, 2020, p. 640).” • recomendação 1: Adotar uma articulação conceitual de Effectuation como um modo de ação. Corroborando com Arend, Sarooghi e Burkemper (2015), a questão levantada é se Effectuation é uma teoria, e para eles, não é. Para os autores (2020), conceber Effectuation como um modo de ação permite, portanto, construção de teoria e acumulação de conhecimento. Além disso, o termo modo de ação implica associações mais diretas com as manifestações comportamentais concretas mencionadas em seus princípios; • recomendação 2: "Definir novos meios de observação para manifestações de Effectuation” (GRÉGORIE; CHERCHEM, 2020, p. 633). Os autores expõem que as pesquisas consideradas em seus estudos se baseiam majoritariamente em métodos qualitativos, com esquemas de codificação e outras regras de interpretação nem sempre especificadas. Ratificam que não são contra esses tipos de coletas de dados, mas, na medida do possível, encorajam a articulação de dados em termos de “métricas” e/ou “quantificações” relevantes, de modo a permitir avaliar até que ponto o que é observado representa a escolha por um modo de ação (Causation ou Effectuation), e com que intensidade ou força. Para os autores, isso permitiria sistemáticas comparações dentro e entre os casos. Em suma, eles explicitam que os meios não precisam ser necessariamente quantitativos, pois, na prática, o tipo de método de medição que eventualmente seja proposto depende de interpretações qualitativas inclusive, mas que eles possam ser sistematicamente traduzidos em termos de escalas ou dimensões; • recomendação 3: Desenvolver explicações do tipo "por que" (e estudá-las). Os autores incentivam pesquisas rigorosas sobre os efeitos e consequências da Effectuation, como 24 o porquê de um determinado antecedente promover a mobilização de um modo de ação Effectuation (grifo nosso). Também projetos de pesquisas que permitam capturar instâncias específicas das explicações, o que pode implicar esforços para documentar a aprendizagem real, em que a experiência do empreendedorismo promove a mobilização deste modo de ação (grifo nosso). E por fim, relatar especificamente os resultados empíricos das sugestões indicadas, que permitem a construção do conhecimento e replicações em estudos. Além da contribuição teórica já exposta (referente aos temas de pesquisa da ANPAD), tentaremos seguir paralelamente outros caminhos: ser continuação de estudos prévios (direção #4, ver AREND et al., 2015), utilizando especialmente como referências empíricas os trabalhos de Melo, Silva e Almeida (2019) e Pereira et al. (2017); e seguir as recomendações (descritas acima) de Grégoire e Cherchem (2020), focando nas manifestações reais da Effectuation como um modo de ação, utilizando o método quantitativo, considerando resultados e aplicações anteriores, como forma de comparação e continuação dos estudos. E por fim, há também a relevância prática e social que será promovida através da obtenção e análise de dados de empreendedores do estado do Rio Grande do Norte, buscando entender a relação entre os modos de agir Causation e Effectuation e os perfis da amostra de ex-Empretecos do SEBRAE-RN, auxiliando-os no entendimento sobre os princípios de cada modo e como eles influenciam as tomadas de decisão. Nesse contexto, o problema da presente pesquisa é: em que medida existe uma associação entre a adoção das lógicas Causation e Effectuation e os empreendedores (ex- participantes) do Empretec como curso de capacitação e de fomento ao empreendedorismo? E tem-se como objetivo de estudo: Analisar a relação entre a adoção das lógicas ou ferramentas Causation e Effectuation e os empreendedores nos seus negócios, para encontrar relações significantes entre o perfil da amostra e ambas as abordagens e maior impacto nas ações de Effectuation. Os objetivos específicos consistem em: a) Levantar os perfis dos empreendedores que participaram do Empretec no SEBRAE/RN; b) Analisar como as questões de perfil impactam nas ações de Causation e Effectuation dos empreendedores que participaram do Empretec no SEBRAE/RN. c) Propor sugestões aos empreendedores de forma a aproximá-los do modo de agir Effectuation em suas tomadas de decisão no empreendedorismo. 25 O próximo capítulo conterá a fundamentação teórica a respeito do empreendedorismo e o empreendedor, das lógicas Causation e Effectuation e por mim sobre o seminário do Empretec. 26 2. EMPREENDEDORISMO E O EMPREENDEDOR, LÓGICAS CAUSATION E EFFECTUATION E O EMPRETEC O objetivo desse capítulo é apresentar as principais definições sobre os temas estudados após a pesquisa bibliográfica, cujo protocolo consta no Apêndice A. Para tanto, a divisão se dará em três subitens. No primeiro, a busca por uma apresentação não exaustiva de relevantes definições sobre empreendedorismo, especialmente sobre seu agente, o empreendedor e o ambiente em que ele atua. No segundo, a abordagem do constructo teórico do trabalho, uma explanação sobre a teoria Effectuation e lógica Causation como formas de agir de empreendedores, tanto na criação como na condução dos negócios, com base no estudo seminal de Saras Sarasvathy (2001) e outros advindos dele, escritos por ela e por diversos outros autores, incluindo um debate teórico acadêmico (AREND; SAROOGHI; BURKEMPER, 2015). Por último, a contextualização do Empretec como ferramenta de fomento ao empreendedorismo, especialmente no processo de formação de empreendedores por meio do SEBRAE, que já ofereceu tal seminário mais de oitenta vezes no Rio Grande do Norte. 2.1 O EMPREENDEDORISMO E O EMPREENDEDOR Da Cunha et al. (2018), de forma resumida e prática, define empreendedorismo como qualquer tentativa de criação de um novo negócio ou a expansão de um empreendimento existente, seja por iniciativa de um indivíduo, grupo de pessoas ou por empresa já estabelecida, e aprofundando-se. Complementa ao afirmar que ele é um impulsionador essencial da sociedade, um formidável motor do crescimento econômico, pois promove a inovação necessária não apenas para explorar novas oportunidades, mas também para incentivar a produtividade e criação de empregos, sendo instrumento para encarar os mais difíceis desafios da sociedade (BOSMA et al., 2020). Academicamente, o empreendedorismo foi identificado pelos economistas, em um primeiro momento, como um elemento útil para o desenvolvimento, depois, os comportamentalistas tentaram entender o empreendedor como pessoa (FILION, 1999). Para o autor, o campo do empreendedorismo pode ser definido como aquele que centraliza o estudo nos empreendedores, examinando suas atividades, características, efeitos sociais e econômicos 27e os métodos de suporte facilitadores da atividade empreendedora. E é para essa perspectiva que o olhar dessa pesquisa se volta. Para Gartner (1988), não há como ser simplista ao estudar o empreendedorismo, que é um processo complicado: “ele requer ação” (MCMULLEN; SHEPHERD, 2006, p.132). Gartner (1988) afirma que a questão fundamental não reside em entender quem é o empreendedor, mas sim o que ele faz, como ele age (grifo nosso), numa perspectiva que investigue os aspectos comportamentais ligados à atitude de empreender. A abordagem comportamental, como perspectiva teórica sobre o tema, vê a criação de uma organização como um evento contextual, resultado de muitas influências, e o empreendedor faz parte do complexo processo de criação de novos empreendimentos (FISHER, 2012; GARTNER, 1988; SARASVATHY, 2001). Shane e Venkataraman (2000) definiram o campo do empreendedorismo como sendo a investigação acadêmica de como, por quem, e com que efeitos as oportunidades de criar bens e serviços futuros são descobertas, avaliadas e exploradas, ou seja, o campo envolve o estudo de fontes de oportunidades; os processos de descoberta, avaliação e exploração de oportunidades; e o conjunto de indivíduos que os descobrem, avaliam e exploram (grifo nosso). Gartner (1989, p. 64) afirmou: “não há como separar a dança do dançarino”, ou seja, não há como separar o empreendedorismo do empreendedor, e assim o comportamento do empreendedor, suas decisões, o ambiente em que se encontram, tornam-se inerentes ao estudo do empreendedorismo, assim como retomam Shane e Venkataraman (2000, p. 218): “é improvável que o empreendedorismo possa ser explicado apenas por referência a uma característica de certas pessoas, independentemente das situações em que se encontram”. Sarasvathy (2008) também enfatiza o empreendedor. Em uma seção de seu livro The empirical journey, chamada “Desempenho do Empreendedor, não apenas da Empresa” (p. 14), a autora conclui com resultado de sua pesquisa: “Os estudos atuais de empreendedorismo tendem a se concentrar no desempenho do empreendimento. [...] A visão da experiência empresarial (entrepreneurial expertise), no entanto, transforma o destaque no desempenho do empreendedor” (SARASVATHY, 2008, p. 14). Welter, Mauer e Wuebker (2016), em seu artigo sobre modelos comportamentais e conceitos teóricos como Effectuation, ao considerarem também o ambiente, adicionam mais uma fator sobre a ação de empreender: que ela pode ser vista como uma ação sob incerteza, ela abraça a incerteza como sua característica distintiva. Ou seja, a decisão de se tornar (e se 28 manter) empreendedor é sempre permeada por um ambiente de incerteza, que pode ser pela insegurança de comprometer bens e tempo, pelo ambiente político, social e econômico, pela falta de recursos, ou simplesmente pelo medo de perder, de errar, de decidir. E como decidir e empreender em meio à incerteza? A crise advinda com a chegada do novo coronavírus, adicionada à crise econômica, política e social já existente no Brasil, definitivamente colocaram o empreendedorismo em evidência como uma das saídas estratégicas a vários acontecimentos: queda de faturamento, aumento de endividamento, da inadimplência, falências, demissões, maior flexibilização das relações de trabalho, mudanças na forma de trabalhar, gerir, aprender e ensinar, também nas dinâmicas familiares, alterando a disponibilidade e a necessidade de recursos diversos. Para tal, consideramos que é axiomático o fato de as empresas enfrentarem ambientes marcados por instabilidade e alto nível de dinamismo (WRIGHT et al., 2005). E segundo Laskovaia et al. (2019), embora já considerando tais condições, as empresas que operam em economias em crise enfrentam uma situação ainda mais desafiadora, pois precisam navegar em um ambiente extremamente desfavorável, com seu modus operandi estabelecido sendo questionado. E complementou: “as crises no ambiente externo têm uma influência substancial em todos os tipos de negócios, mas as pequenas e médias empresas tendem a ser especialmente vulneráveis a essas condições” (LASKOVAIA et al., 2019, p. 456). 2.2 LÓGICAS CAUSATION E EFFECTUATION Envolver técnicas de controle não preditivo configura uma das saídas para enfrentar a incerteza, segundo Sarasvathy (2001). Esse conceito foi concebido em um estudo de empresários especialistas que descobriram que evitavam o uso da previsão ao lidar com as incertezas envolvidas na construção de novos empreendimentos. E aí nasceu a teoria Effectuation, abordagem alternativa ao modo Causation de tomada de decisão, este baseado em uma racionalidade procedimental, que permite a um empreendedor identificar e analisar todas as soluções potenciais e selecionar a mais adequada. No seu livro, Sarasvathy (2008) explica que os princípios da experiência do empreendedor encontrados (no seu estudo empírico em 1998) invertem os principais critérios de tomada de decisão das teorias e das práticas convencionais de gestão, antecipando a mudança de paradigma (do Causation para o Effectuation) no processo decisório no empreendedorismo. Abaixo, os princípios identificados pela autora que antecedem a dualidade (didática) entre os dois modos de agir, e que inclusive constam na tese (e artigo) de Pereira (2017), uma das 29 referências desta pesquisa, e na revisão sistemática de Grégoire e Cherchem (ver tabela 2 em GRÉGOIRE; CHERCHEM, 2020). 1. Bird-in-hand principle ou “pássaro na mão” (tradução livre): é o princípio da ação orientada por meios (em oposição à ação dirigida por objetivos). A ênfase está na criação de algo novo com os recursos existentes. 2. Affordable-loss ou “perdas aceitáveis” (tradução livre): é o princípio que prescreve o comprometimento prévio com o que se aceita perder, em vez de investir em cálculos sobre os retornos esperados para o negócio. 3. Crazy-quilt ou “colcha de retalhos” (tradução livre): é o princípio que envolve a negociação com todas e quaisquer partes interessadas que estão dispostas a assumir compromissos reais com o projeto, sem se preocupar sobre custos de oportunidade ou realização de elaboradas análises competitivas. 4. Lemonade ou “limonada” (tradução livre): é o princípio que sugere o reconhecimento e a apropriação da contingência, aproveitando surpresas em vez de tentar evitá-las, para superá-las ou adaptar-se a elas. 5. Pilot-in-the-plane ou “piloto no avião” (tradução livre): é o princípio que insiste em confiar e trabalhar com a agência humana como o principal impulsionador de oportunidade, em vez de limitar os esforços empresariais à exploração de fatores exógenos, como trajetórias tecnológicas e tendências socioeconômicas. A autora então conclui: Cada um dos cinco princípios acima incorpora técnicas de controle não preditivas, ou seja, para controlar as situações de incertezas é preciso reduzir o uso de estratégias preditivas, e juntos, apontam para uma lógica de ação chamada Effectuation” (SARASVATHY, 2008, p. 16). Desde sua tese em 1998, Sarasvathy (2001) entende que os processos de Effectuation são consistentes com estratégias não preditivas, o que é corroborado em WILTBANK et al. (2006), e que em condições de incerteza, não há uma maneira viável de calcular o retorno esperado para um determinado curso de ação. Assim, em vez de analisar alternativas e selecionar aquela com o maior retorno esperado, o empreendedor considera o seu limite perdas possíveis. Há um foco na flexibilidade, utilização da experimentação, uma combinação de ‘aprender fazendo’ e ‘tentativa e erro’, buscando exercer controle sobre o futuro fazendo alianças e estabelecendo pré-contratos com fornecedores, concorrentes e clientes em potencial. 30 Sarasvathy (2001), ao resumir a literatura sobre tomada de decisão, concluiu que uma decisão envolve: (1) um determinado objetivo a ser alcançadoou uma decisão a ser tomada, geralmente específica e bem estruturada, (2) um conjunto de meios ou causas alternativas, (3) restrições, muitas vezes impostas pelo ambiente, e (4) critérios para selecionar entre os meios, quase que sempre almejando a maximização do retorno esperado em termos de um objetivo pré-estabelecido. Em suma, essa estrutura pressupõe um processo de decisão envolvendo causalidade, seria o modo Causation de decidir (SARASVATHY, 2001). No entanto, sendo o cerne da sua teoria, uma decisão envolvendo Effectuation, consiste em: (1) um determinado conjunto de meios (que geralmente consiste em características / circunstâncias relativamente inalteráveis do tomador de decisão); (2) um conjunto de efeitos ou possíveis aspirações, (3) restrições (também vistas como oportunidades para) possíveis efeitos e; (4) critérios para selecionar entre os efeitos, geralmente um nível predeterminado de perda acessível ou risco aceitável relacionado aos meios fornecidos (SARASVATHY, 2001). Abaixo, uma apresentação dos principais pressupostos, segundo Sarasvathy (2001, 2003, et al., 2008) do modo Causation e do Effectuation, a serem detalhados em seguida. Figura 1 - Principais princípios Causation x Effectuation Fonte: Elaborado pela autora (2021), segundo Sarasvathy (2001) 1. Perdas aceitáveis, e não retornos esperados: Os modelos mais tradicionais focam na maximização dos retornos por meio da seleção de estratégicas ótimas. Agindo de modo Effectuation, experimenta-se tantas estratégias sejam possíveis considerando a limitação de recursos. “Como não se pode evitar surpresas negativas na busca de surpresas positivas, uma das chaves para uma ação Effectuation consiste no gerenciamento de falhas. O empreendedor do tipo Effectuation busca projetar falhas inteligentes que podem ser contidas localmente e contribuir para o seu aprendizado, e continuamente impulsiona uma Causation retornos esperados análises competitivas conhecimento pré-existente previsão de um futuro Effectuation perdas aceitáveis alianças estratégicas exploração de contingências cocriação de um futuro 31 série de pequenos sucessos que podem ser acumulados ao longo do tempo (SARASVATHY et al., 2008, p. 340, tradução livre). 2. Alianças estratégicas, e não análises competitivas: Modelos de causalidade, como o modelo Porter em estratégia, enfatizam análises competitivas detalhadas. Os de Effectuation enfatizam as parcerias por meio de pré-compromissos das partes interessadas como forma de reduzir a incerteza e erguer barreiras de entrada. “Eles também tendem a ignorar a busca por ameaças competitivas pré- existentes, porque eles próprios não sabem quais mercados ou espaços de eventos eles vão acabar construindo” (SARASVATHY et al., 2008, p. 340, tradução livre). 3. Aproveitando as contingências em vez de evitá-las e de utilizar conhecimento pré- existente: Quando conhecimento pré-existente, como a expertise em uma nova tecnologia específica, constitui a fonte de vantagem competitiva, os modelos de Causation podem ser preferíveis. Os de Effectuation, no entanto, são melhores no aproveitamento de contingências que surgem inesperadamente com o tempo, tipicamente em ambientes de alta incerteza. “Os processos de Effectuation são excelentes na exploração de contingências. [...] Isso é especialmente verdadeiro quando se lida com as incertezas de fenômenos futuros. (SARASVATHY, 2001, p. 250, tradução livre). 4. Controlar um futuro previsível e não prever um futuro incerto: Os modelos Causation são baseados em uma lógica preditiva: na medida em que podemos prever o futuro, podemos controlá-lo. Os de Effectuation sugerem uma lógica bastante diferente para o processo de escolha: na medida em que podemos controlar o futuro, não precisamos prevê-lo, sendo imprescindível analisar os recursos básicos disponíveis no início da empresa (“quem eu sou”, “o quê eu sei” e “quem eu conheço”). “Como controlar um futuro imprevisível? A resposta a essa pergunta aparentemente paradoxal está na compreensão de que grande parte do futuro é, na verdade, produto da tomada de decisão humana. Ao trazer a bordo os principais interessados que podem “entregar” o futuro, o empreendedor não precisa perder tempo, recursos ou esforços com previsões” (SARASVATHY, 2003, p. 208-209, tradução livre). Notoriamente, Effectuation representa uma mudança paradigmática na forma como entendemos o empreendedorismo (PERRY et al., 2012), mas a própria Sarasvathy (2001), que 32 deliberadamente justapôs Causation e Effectuation como uma dicotomia para permitir uma exposição teórica mais clara, afirma ser necessário enfatizar que os processos de Effectuation não são postulados como “melhores” ou “mais eficientes” do que os processos de Causation na criação de empresas, mercados e economias. Tanto Causation quanto Effectuation são partes integrantes do raciocínio humano que podem ocorrer simultaneamente, sobrepondo-se e se entrelaçando em diferentes contextos de decisões e ações (FISHER, 2012; FLETCHER; HARRIS, 2002; ILONEN; HEINONEN; STENHOLM, 2018; RAUCH; HULSINK, 2015; SARASVATHY, 2001). E sendo a teoria Effectuation originalmente proposta para explicar como os empreendedores agem e tomam decisões, Reuber, Fisher e Coviello (2016) aponta que há um desconhecimento sobre a ação da Effectuation em diferentes contextos, como em uma intervenção educacional eficaz. Aproximando o tema de um contexto próximo, o SEBRAE, como exposto anteriormente, posiciona-se como um dos principais instrumentos de educação empreendedora no Brasil, atuando como tal há mais de 40 anos. 2.3 EMPRETEC: METODOLOGIA DE EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA De Andrade, Antenor e Tahim (2018, p. 1) afirmam: “É consenso que a criação de novas empresas é fator indispensável para a geração de estratégias de recuperação e crescimento econômico e competitividade”. E mais, embora não exista um consenso absoluto sobre o conceito do empreendedorismo como visto no item anterior, é observada a ideia de que aqueles que empreendem exercem uma função social ao identificarem oportunidades e ao convertê-las em valores econômicos (TASIC, 2017). Com o intuito de apresentar dados antes, durante e depois de 2020, ano crucial da crise advinda pela pandemia da Covid 19, seguem números apresentados pelo GEM de 2019 a 2021. Segundo o relatório GEM 2019/2020 (GEM, 2020a), em duas décadas de realização de pesquisa no Brasil, os dados de 2019 mostram que este foi um ano de resultados extremamente positivos para o universo do empreendedorismo: sendo o maior deles que o Brasil atingiu a sua 2ª maior Taxa de Empreendedorismo Total. Isso significa dizer que 38,7% da população adulta estava envolvida de alguma forma com a atividade empreeendedora. Verificamos também maior Taxa de Empreendedorismo Inicial (TEA, do inglês, Total Early - Stage Entrepreneurial Activity) desde o início da série histórica, em 1999. A considerar 2020 na análise (GEM 2021a), a taxa de brasileiros afirmando pretendiam iniciar um negócio nos próximos três anos aumentou notavelmente, de 30% em 2019 para 53% 33 naquele ano. Este foi o maior aumento proporcional entre todas as economias participantes do GEM. Mesmo com a pandemia da Covid-19, o relatório GEM 2020/2021 apontou que a TEA permaneceu estável, aumentando ligeiramente de 23,3% em 2019 para 23,4% em 2020, o que demonstra alta confiança entre este conjunto de empreendedores brasileiros em estágio inicial. E mais, 58% afirmaram ver novas oportunidades como resultado da pandemia. Esta é uma taxa bastante alta entre as economias GEM, sugerindo alguma adaptabilidade e otimismo, o qual é reforçado pelos planos de contratação de brasileiros: a taxa de adultos brasileiros planejando contratar seis ou mais funcionários para seus negócios nos próximos cinco anos foi de 8%, um aumento acentuadopara apenas 2% em 2019. Ainda conforme o GEM (2021a), isso é frequentemente usado como proxy para a confiança empresarial, dos quais parece ser bastante entre os brasileiros em estágio inicial empresários, um sinal promissor para a economia recuperação. Por fim, o report GEM 2021/2022 (GEM, 2021b), que recebeu o subtítulo de Oportunidade em meio à disrupção (Opportunity Amid Disruption), apontou que em 2021, sua taxa de TEA foi de 21%, abaixo de 2020 (23,4%), mas ainda mais alto entre todos os participantes do GEM economias com mais de 50 milhões de habitantes, ou seja, com mais de 200 milhões de pessoas no Brasil, essas taxas significam que um número substancial de pessoas está participando em atividade empresarial, tanto em fase inicial como estabelecida, todos os anos. E mais, 53,6% dos entrevistados afirmam que eles vejam novas oportunidades como resultado da pandemia. No RN, mais de 20 mil novos negócios (MEI) foram criados em plena pandemia (ASN, 2021). Os potiguares responderam ao cenário global de retração e temor empreendendo, segundo os dados da Receita Federal, o que representa uma superação em mais de 17% em relação a 2019. Ao se deparar com o elo entre empreendedorismo, função social e econômica, é aplicável também o relacionar com o fomento ao empreendedorismo, inclusive por meio da educação empreendedora, mais especificamente a metodologia Empretec. Segundo De Andrade, Antenor e Tahim (2018), as firmas são de fundamental importância para garantir o progresso social e econômico de seu entorno, gerando emprego e renda para a comunidade e competitividade para o país, ou seja, os empresários, como agentes empreendedores, desempenham papel importantíssimo no desenvolvimento econômico. Os autores também concluem que a criação de programas de empreendedorismo pode estimular as pessoas a encarar o empreendedorismo como opção válida e, por isso, a educação para o 34 empreendedorismo já vem sendo prioridade na política de muitos países industrialmente desenvolvidos e em desenvolvimento Diversos autores definem a educação para o empreendedorismo como um processo que estimula indivíduos, de forma dinâmica e socializada, a identificar oportunidades para transformar suas ideias inovadoras em um conjunto de atividades práticas, lógicas e assinaladas, cujo objetivo principal é o desenvolvimento pessoal desse indivíduo e o conhecimento formal (DE ANDRADE; ANTENOR; TAHIM, 2018). E mais, os autores expõem que, com base em sua pesquisa, a intenção de abrir seu próprio negócio cresce junto com a percepção da influência do ambiente institucional em sua formação. O que é convergente com o resultado dos estudos de Rauch e Hulsink (2015): A crescente atenção à educação para o empreendedorismo causou um debate sobre se a educação para o empreendedorismo pode afetar o comportamento empreendedor. Usamos um quase experimento [..] para testar a eficácia da educação para o empreendedorismo, apoiando-se na Teoria do Comportamento Planejado. Os resultados sugerem que a educação para o empreendedorismo é eficaz (RAUCH; HULSINL, 2015, p. 188). Com um trabalho quantitativo no ano de 2008, considerando uma amostra de 30 países e 36.525 indivíduos, Urbano e Alvarez (2014) encontraram uma relação positiva, indicando uma influência favorável das dimensões reguladora (menos procedimentos para iniciar um negócio), normativa (maior atenção da mídia para novos negócios) e cultural-cognitiva (melhores habilidades empreendedoras, menos medo do fracasso e maior conhecimento) na probabilidade de ser empreendedor. Para o SEBRAE (2020e), a Educação Empreendedora existe para despertar o empreendedorismo nas pessoas, tanto por meio do desenvolvimento de competências duráveis como da possibilidade de inserção sustentada no mundo do trabalho, ou seja, vai além da abertura de uma empresa, pois trata do investimento em uma cultura empreendedora e transformadora, pessoal e socialmente. Sua proposta, como instituição de fomento ao empreendedorismo e por meio da metodologia Empretec, é que o participante aprenda mais do que técnicas de empreender, que ele descubra seu perfil empreendedor, suas habilidades, desenvolva suas capacidades. Seu público alvo são pessoas que queiram iniciar ou expandir um negócio, ou inovar em mercados competitivos, através da potencialização de suas características e comportamentos empreendedores (SEBRAE, 2020c). 35 Empretec é um programa desenvolvido e patrocinado pela Conferência das Nações Unidas de Comércio e Desenvolvimento (Unctad), para a promoção do empreendedorismo e das micro, pequenas, e médias empresas (MPMEs) nos países em desenvolvimento, para se tornarem mais sustentáveis e adotarem o crescimento inclusivo. É atualmente promovido em cerca de 40 países em desenvolvimento nos 5 continentes: são mais de 12 mil seminários realizados, mais de 500.000 participantes no mundo (UNCTAD, 2022), e 60% dos Empretecos do mundo são do Brasil (SEBRAE, 2020d). O seminário Empretec tem demonstrado continuamente alto impacto positivo afetando a eficiência, sustentabilidade e geração de receita dos negócios dos participantes, resultando no aumento das taxas de sobre vivência e crescimento, e na criação de novos empregos. No Brasil, já são mais de 28 anos de história do Empretec pelo SEBRAE (1993 – 2022). Segundo o SEBRAE (2020d), há um alto nível de satisfação dos ex-participantes considerando os seguintes índices: 89% recomendam o seminário e mais de 80% abriram um negócio após a formação. Además, conforme o SEBRAE (2020d), a maior parte das empresas, após participação no Empretec, além de um aumento no faturamento mensal, registrou outras conquistas, como: melhoria no desempenho empresarial; mais segurança na tomada de decisões; ampliação da visão de oportunidades; aumento das chances de sucesso empresarial e, por consequência, redução significativa das possibilidades de fracasso. O seminário Empretec possui carga horária de 60 horas, distribuídas em seis dias de duração (dez horas técnicas por dia de trabalho). Nessa imersão, o Empreteco é desafiado em atividades práticas, cientificamente fundamentadas, que apontam como um empreendedor de sucesso age, tendo como base 10 características comportamentais (SEBRAE, 2020d) e 30 comportamentos empreendedors, conforme quadro abaixo: Quadro 2 – Característica e Comportamento Empreendedor CONJUNTO CARACTERÍSTICA DO COMPORTAMENTO EMPREENDEDOR COMPORTAMENTO EMPREENDEDOR Planejamento Estabelecimentos de metas Estabelece metas e objetivos que são desafiantes e que têm significado pessoal Tem visão de longo prazo, claro e específica Estabelece objetivos de curto prazo, mensuráveis 36 Planejamento e Monitoramento sistemático Divide tarefas de grande porte em subtarefas com prazoz definidos Constatemente revisar seus planos levando em conta os resultados obtidos e mudanças circunstanciais Mantém registros financeiros e utiliza-os para tomas decisões Busca de informações Dedica-se pessoalmente a obter informações de clientes, fornecedores ou concorrentes Investiga pessoalmente como fabricar um produto ou fornecer um serviço Consulta especialistas para obter assistência técnica ou comercial Realização Busca de Oportunidades e Iniciativa Faz as coisas antes de solicitado ou antes de forçado pelas circunstâncias Age para expandir o negócio a novas áreas, produtos ou serviços Aproveita oportunidades fora do comum para começar um negócio, obter financiamento, equipamentos, local de trabalho ou assistência Correr riscos calculados Avalia alternativas e calcula os riscos deliberadamente Age para reduzir riscos e controlar resultados Coloca-se em situações que implicam desafios ou riscos moderados Exigência de Qualidade e Eficiência Encontra maneiras de fazer as coisas melhor, mais rápidoou mais barato Age de maneira a fazer coisas que satisfaçam ou excedam padrões de excelência 37 Desenvolve ou utiliza procedimentos para assegurar que o trabalho seja terminado a tempo ou que atenda a padrões de qualidade previamente combinados Persistência Age diante de um obstáculo significativo Age repetidamente ou muda de estratégia a fim de enfrentar um desafio ou superar um obstáculo Faz um sacrifício pessoal ou despende um esforço extraordinário para completar uma tarefa Comprometimento Assume responsabilidade pessoal por solucionar problemas que possam prejudicar a conclusão de um trabalho nas condições estipuladas Colabora com seus empregados ou coloca-se no lugar deles, se necessário, para terminar uma tarefa Esforça-se em manter os clientes satisfeitos e coloca a boa vontade a longo prazo acima do lucro de curto prazo Poder Persuasão e rede de contatos Utiliza estratégias deliberadas para influenciar ou persuadir os outros Utiliza pessoas-chave como agentes para atingir seus próprios objetivos Age para desenvolver e manter relações comerciais Independência e Autoconfiança Busca autonomia em relação a normas e controles de outros Mantém seu ponto de vista mesmo diante da oposição ou de 38 resultados inicialmente desanimadores Expressa confiança na sua própria capacidade de completar uma tarefa difícil ou de enfrentar um desafio Fonte: Manual do Empretec 2010 (TORRES, 2018). E de forma experimental, ao considerar que para muitas organizações de educação e treinamento em todo o mundo, a pandemia do COVID-19 foi um ponto de articulação extremo para o ambiente de ensino online, para o programa Empretec da UNCTAD não foi diferente e, por isso, lidou com como reformular seu treinamento exclusivo durante a pandemia (UNCTAD, 2022). Foi testado, então, um produto inovador que parece prático ao ser entregue digitalmente, segundo a Unctad (2022): foi lançado em dezembro de 2021 no Brasil, quando o SEBRAE realizou a primeira oficina híbrida utilizando ferramentas online, como várias ferramentas e jogos online inovadores como parte do ambiente interativo. Segundo a Unctad, o workshop Empretec abraça a teoria de que a mudança comportamental pode ajudar os empreendedores, e além do já consolidado formato Empretec, com notável representativade no Brasil, os resultados positivos do novo produto significam que a UNCTAD está avançando com o desenvolvimento de um workshop de treinamento inclusive totalmente online (UNCTAD, 2022). Com base na fundamentação teórica exposta, nas informações disponíveis sobre o Empretec, na importância das agências de fomento ao empreendedorismo, representada pelos SEBRAE como agente na educação empreendedora, buscamos analisar como as trajetórias dos ex-Empretecos após o curso estão sendo conduzidas à luz das abordagens Causation e Effectuation, por meio de uma pesquisa empírica, considerando estudos semelhantes e relevantes sobre o tema. 39 3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Foi realizada uma pesquisa empírica para responder aos objetivos propostos nessa dissertação. Neste capítulo, serão apresentados os procedimentos metodológicos, abordando as subseções de caracterização do estudo, seleção dos sujeitos da pesquisa e caracterização da amostra (estes descritos como protocolo no apêndice C) e por fim, o método de pesquisa, englobando coleta, análise, interpretação de dados e discussão de resultados. 3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA Pesquisa, segundo Gil (1999), é o processo formal e sistemático de desenvolvimento do método científico, ou seja, do “conjunto de procedimentos intelectuais e técnicos adotados para se atingir o conhecimento” (p. 27), e seu objetivo fundamental é descobrir respostas para problemas levantados mediante a utilização de procedimentos científicos. Esta pesquisa é inicialmente caracterizada por sua concepção filosófica (CRESWELL, 2010) como positivista (ou pós-positivista), especialmente por ser determinista, sugerindo o exame de relações entre variáveis, e reducionista, ao buscar reduzir a teoria estuada a um conjunto pequeno e distinto a ser testado, como o de variáveis que compreendem hipóteses e as questões de pesquisa para a testagem da teoria (CRESWELL, 2010). Ademais, “o conhecimento que se desenvolve por meio de um enfoque positivista é baseado em uma observação e mensuração atenta da realidade objetiva que está no mundo lá fora”. (CRESWELL, 2010, p. 30). Definimos também que seu objetivo pode ser classificado como descritivo (GIL, 1999; VERGARA, 2000) ou explicativo, segundo o conceito de Castro (1976). Para Gil (1999) e Vergara (2000), as pesquisas descritivas têm como finalidade principal a descrição das características de determinada população ou fenômeno, estabelecendo relações entre variáveis. Castro (1976), por sua vez, compreende de outra forma: “Quando se diz que uma pesquisa é descritiva, se está querendo dizer que se limita a uma descrição pura e simples de cada uma das variáveis, isoladamente, sem que sua associação ou interação com as demais sejam examinadas” (CASTRO, 1976, p. 66). Para ele, este estudo tem a finalidade explicativa, pois aborda dados de perfil de indivíduos (descreve), mas também reduz a teoria de Causation e Effectuation a um conjunto 40 pequeno de variáveis, representando suas dimensões, e o utiliza como meio de mensuração e análise da realidade decisória de indivíduos sobre seus empreendimentos (explica). Uma vez definido o que é pesquisa e enquadrando-a como pós-positivista com o objetivo descritivo e/ou explicativo, caracterizamos também quanto à estratégia de investigação (CRESWELL, 2010). O tema Causation x Effectuation é considerado emergente, ou seja, recente e em pleno desenvolvimento, sem teoria consensualmente fundamentada. Como estratégia para testá-la, a investigação se deu por pesquisa quantitativa por meio de levantamento de dados, proporcionando “uma descrição numérica de tendências, de atitudes ou de opiniões de uma população, estudando uma amostra dessa população” (CRESWELL, 2010, p. 36). Abaixo, quadro com o resumo esquematizado da caracterização relatada: Quadro 3 - Caracterização da pesquisa CARACTERIZAÇÃO PESQUISA OPERACIONALIZAÇÃO CONCEPÇÃO FILOSÓFICA Pós-positivista (CRESWELL, 2010) Testar dimensões de uma teoria por meio de variáveis/dados de uma amostra OBJETIVO Descritiva (GIL, 1999; VERGARA, 2000); Explicativa (CASTRO, 1976) Descrever perfil de indivíduos e desvendar a relação entre as dimensões de uma teoria. ESTRATÉGIA Quantitativa por levantamento (CRESWELL, 2010) Perguntas de perfil e questões sobre o constructo de um instrumento já validado internacional e nacionalmente. Fonte: Elaborado pela autora, 2021. 3.2 SELEÇÃO DOS SUJEITOS DE PESQUISA E CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA Sujeitos da pesquisa são as pessoas que fornecem os dados para responder ao problema a ser investigado (VERGARA, 2000). Nesta pesquisa, os sujeitos foram oriundos da própria população intencionalmente escolhida, ou seja, as respostas não foram fornecidas por terceiros, assim, fazendo um paralelo com a definição dada por Marconi e Lakatos (2003, p. 223): “A delimitação do universo (ou população) consiste em explicitar que pessoas ou coisas, fenômenos etc. serão pesquisados”, ou seja: ex-participantes do Empretec no Rio Grande do 41 Norte nos anos de 2010 a setembro de 2021, que já empreenderam pelo menos uma vez em sua vida profissional, visto que a teoria trata de decisões práticas nos negócios. Sobre a amostra, Gil (1999), em seu capítulo específico sobre “Amostragem na pesquisa social”, apresenta o fato de que pesquisas sociais abrangem um universo de elementos tão grande que inviabiliza a sua abrangência total, e então a seleção de uma amostra desses elementossurge como alternativa representativa da população que se pretende estudar. Para análises estatísticas (detalhes no quadro 3), o ideal é a aleatória, em que cada indivíduo na população tenha a mesma probabilidade de ser selecionado (CRESWELL, 2010; VERGARA, 2000), mas como a escolha do sujeito desta pesquisa se limita grupo específico de indivíduos e não foi possível colher amostras aleatórias, por motivos a serem expostos a seguir, justificou-se então a amostragem desta pesquisa como não probabilística ou por conveniência. Adicionalmente, tem-se mais duas características aplicadas à amostra: • Por acessibilidade (VERGARA, 2000): como a pesquisadora tem acesso à gestora do seminário no SEBRAE/RN e a ex-participantes; e • Por tipicidade (YIN, 2016): pois seu objetivo foi selecionar as unidades de estudo específicas e dispor daquelas que gerem os dados mais relevantes e fartos, considerando seu tema de estudo (YIN, 2016). Quadro 4 - Caracterização da amostra SELEÇÃO DOS SUJEITOS PESQUISA OPERACIONALIZAÇÃO AMOSTRA Não probabilística ou por conveniência (CRESWELL, 2010) De acordo com a população-alvo do estudo: ex-Empretecos SEBRAE/RN Por acessibilidade (VERGARA, 2000). Facilidade de acesso. Por tipicidade (YIN, 2016) Características específicas (período de realização do seminário e experiência empreendedora). Fonte: Elaborado pela autora, 2021. 3.3 MÉTODO DE PESQUISA O método de pesquisa envolve as formas de coleta, análise e interpretação de dados propostas pelo pesquisador (CRESWELL, 2010). A coleta foi de dados quantitativos, os utilizados geralmente em pesquisas pós-positivistas (CRESWELL, 2010). As variáveis (do constructo teórico) e características (de perfil) dos indivíduos respondentes variam entre eles e 42 podem ser medidas, e então, foram relacionadas à resposta a uma questão de pesquisa sobre a qual o pesquisador esperava que os resultados mostrassem (CRESWELL, 2010). Por fim, além da análise descritiva das informações de perfil obtidas (item 3.5.1), conceitos estatísticos foram utilizados na análise e interpretação dos dados (itens 3.5.2 e 3.5.3), sendo eles caracterizados como de técnica multivariada de dado, por ter como “objetivos primários expandir a habilidade explanatório do pesquisador e a eficiência estatística” (HAIR et al., 2011, p. 465): • Análise Fatorial Exploratória (AFE): é um método estatístico multivariado que aborda o problema de analisar as estruturas das correlações entre um grande número de variáveis (respostas dos questionários), definindo um conjunto de dimensões latentes comuns, os fatores (HAIR et al., 2011; LATTIN; CARROLL; GREEN, 2011), sendo nesta pesquisa os da teoria Causation x Effectuation. • Regressão Linear Múltipla (RLM): “é uma técnica que pode ser usada para analisar a relação entre variável dependente (critério) e variáveis independentes (preditoras)” (HAIR et al., 2011, p.136), com o intenção de inferir causalidade (WOOLDRIDGE, 2005), prevendo as mudanças na dependente como resposta às mudanças nas independentes (HAIR et al., 2011). Neste estudo, a dependente de cada modelo (foram gerados mais de um) são as latentes oriundas na AFE (dos constructos Causation e Effectuation) e as independentes são as de perfil, desde que significantes. Importante ressaltar que as pesquisas sobre Effectuation e Causation têm englobado majoritariamente pesquisas qualitativas, conforme concluiu Grégorie e Cherchem (2020) em sua revisão sistemática da literatura. Dos 16 trabalhos listados sobre a prevalência relativa de Causation e Effectuation, o que se assemelha a esta pesquisa, 13 seguiram a estratégia qualitativa, enquanto 1 a quantitativa e 2 a de métodos mistos (ver Anexo B). Foi considerado, portanto, relevante investir na estratégia quantitativa, a menos utilizada, e conforme as recomendações já expostas no subitem 1.1. A caracterização do método segue esquematicamente no quadro abaixo. No subitem a seguir serão descritos mais detalhes. Quadro 5 - Método de pesquisa MÉTODO PESQUISA OPERACIONALIZAÇÃO COLETA (INSTRUMENTO) Questionário fechado (CRESWELL, 2010) Survey online com identificação anônima conduzida na plataforma Google Forms de forma autoinstrucional. 43 COLETA (TÉCNICA) Bola de neve (GOLDMAN, 1961) Rede de indicações a partir de 4 ex- Empretecos. ANÁLISE E INTEPRETAÇÃO Estatística (CRESWELL, 2010): Análises descritiva (síntese e exploração dos dados obtidos) e multivariada (Análise Fatorial Exploratória e Regressão Linear Múltipla). Fonte: Elaborado pela autora, 2021. 3.4 COLETA E DADOS Este item compreenderá as informações sobre o instrumento de coleta de dados e como ela se deu, além da composição e análise da amostra e os tratamentos dos dados para viabilizar sua posterior análise. 3.4.1 Instrumento e coleta de dados O instrumento de pesquisa foi um questionário (Apêndice D) construído com base em um instrumento já validado e testado, internacional e nacionalmente (CAI et al., 2016; CHANDLER et al., 2011; FAIA; ROSA, 2014; MELO; SILVA; ALMEIDA, 2019; MTHANTI; URBAN, 2014; PARIDA et al., 2016), adicionando itens que agregassem respostas à pergunta desta pesquisa. Antes da aplicação, foi realizado o teste piloto com 6 respondentes com quem a pesquisadora possuía mais amizade, com o intuito de haver mais liberdade, sinceridade e intenção de colaboração no momento do feedback. Segundo Creswell (2010), o teste é fundamental para estabelecer a validade do conteúdo, melhorar as questões, o formato, escalas. Essa é uma questão crítica e relevante para os pesquisadores: “o tipo de perguntas que devem ser feitas e como elas devem ser redigidas e sequenciadas” (PERREAULT, 1975, p. 544). De maneira geral, com o questionário objetivou-se descrever características e determinadas variáveis do grupo selecionado ligadas à problemática estudada (RICHARDSON, 2012). Detalhando-o quanto ao tipo de pergunta e pelo modo de aplicação, como sugerido por Richardson (2012), temos: • Quanto ao tipo de perguntas: foi um questionário de perguntas fechadas para se obter informações dos perfis dos empreendedores, como idade, sexo, nível de escolaridade, e respostas seguindo a escala métrica Likert de 7 pontos quanto aos pressupostos investigados nessa pesquisa (Effectuation e Causation). 44 Algumas perguntas de perfil aceitavam adicionar informações adicionais ao item selecionado. As dos constructos seguiram o padrão do instrumento validado internacional e nacionalmente. • Quanto ao modo de aplicação: devido às restrições e distanciamento social presentes durante a fase de coleta de dados, ele foi aplicado somente por meio virtual. Foi enviado por Whatsapp o link do formulário (Google Forms) para os participantes da pesquisa. O questionário aplicado foi dividido em 4 sessões: Perfil – parte 1, Constructo, Perfil – parte 2 e Agradecimento. Todas as questões eram obrigatórias e estão descritas nos quadros 4 e 5. Quadro 6 - Questões do constructo teórico e seus respectivos códigos Dimensão Cód. Pergunta / Variável Causation CAU Analisei as oportunidades em longo prazo e selecionei aquelas que pensei oferecer o melhor retorno? CAU2 Desenvolvi uma estratégia para melhor tirar vantagem dos recursos e capacidades disponíveis? CAU3 Desenvolvi um plano de negócios? CAU4 Organizei e implementei processos de controle para me certificar sobre o cumprimento dos objetivos pré-estabelecidos? CAU5 Tive uma visão clara e consistente sobre onde eu gostaria de chegar? CAU6 Desenvolvi um plano de produção e de ações de marketing? CAU7 Pesquisei e selecionei os mercados alvo e fiz uma análise competitiva significativa? Effectuation – Experimentação EFF_EXP Antes de montar meu negócio atual, experimentei produtos e modelos de negócio diferentes? EFF_EXP2 Tentei uma série de caminhos
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