Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA Antonio Albano B. Moreira Jackson Teixeira Bittencourt G es tã o A D M IN IS T R A Ç Ã O E E C O N O M IA A nt on io A lb an o B . M or ei ra Ja ck so n Te ix ei ra B itt en co ur t A Administração é uma ciência universal, utilizada desde a criação humana, na vida pessoal e coletiva, para atingir resultados com recursos que estavam disponíveis sob diversas formas. Os impérios, as migrações, os enriquecimentos e tantos outros fatores deram-se a partir de práticas, rudimentares ou complexas, em que a Administração não era explicitamente registrada. Vivemos um período de transições rápidas e radicais em todos os ramos da atividade humana. São tempos difíceis para as organizações porque mudanças normalmente são traumáticas e causam perdas para aqueles que não se adaptam aos rápidos e novos tempos. Principalmente hoje, são essenciais o estudo, a reflexão, o embasamento nos princípios e fundamentos da Administração e acima de tudo, agilidade e inovação. Os principais temas econômicos da atualidade noticiados pela mídia nacional e internacional estão intrinsecamente relacionados com a própria existência da sociedade moderna, na medida em que esses temas têm influência direta no cotidiano das pessoas. Muitas vezes não conseguimos entender qual a razão de algumas medidas econômicas adotadas por nossos economistas e/ ou dirigentes governamentais, contudo não podemos viver à margem dessas questões, pois elas influenciam ou irão influenciar direta ou indiretamente a vida de todos os cidadãos. Durante os capítulos adiante iremos transitar sobre conceitos básicos, criar significados com base na história dos acontecimentos e ainda dialogar sobre a gestão atual e a economia brasileira. Tudo isso de forma clara e objetiva. Curitiba 2021 Administração e Economia Antonio Albano B. Moreira Jackson Teixeira Bittencourt Ficha Catalográfica elaborada pela Editora Fael. M838a Moreira, Antonio Albano B. Administração e economia / Antonio Albano B. Moreira, Jackson Teixeira Bittencourt – Curitiba: Fael, 2021. 234 p. 978-65-86557-66-4 1. Administração 2. Economia I. Bittencourt, Jackson Teixeira II. Título CDD 658 Direitos desta edição reservados à Fael. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael. FAEL Direção Acadêmica Francisco Carlos Sardo Coordenação Editorial Angela Krainski Dallabona Revisão Editora Coletânea Projeto Gráfico Sandro Niemicz Imagem da Capa Stock.adobe.com/Looker_Studio Arte-Final Hélida Garcia Fraga Sumário Carta ao Aluno | 5 1. Conceitos básicos de administração e organização | 7 2. Abordagem científica/clássica da administração | 21 3. Teoria das relações humanas | 53 4. A moderna gestão | 65 5. Princípios de Economia: Escassez, Trade-offs e Custo de Oportunidade, Fronteira das Possibilidades de Produção, Problemas Econômicos e Sistemas Econômicos | 111 6. Economia de mercado: modelo microeconômico; demanda e seus determinantes; oferta e seus determinantes; equilíbrio do mercado | 131 7. Moeda, inflação e sistema financeiro | 149 8. Políticas macroeconômicas e comércio internacional | 169 9. Teoria da firma: produção e custos | 189 10. Economia Brasileira Contemporânea: Planos de Estabilização, Inserção na Globalização e os Entraves da Economia Brasileira | 205 Gabarito | 223 Referências | 231 Prezado(a) aluno(a), A compreensão dos fatos está ligada à aprendizagem sig- nificativa, quando vemos sentido naquilo que está sendo apre- sentado e muitas vezes iniciamos um processo de substituição de ideias ligadas ao senso comum por conhecimentos cientí- ficos. A administração e a economia estão atreladas ao nosso cotidiano. Em qualquer nível, todos nós tomamos decisões sobre administração e economia em nossas vidas, mesmo sem percebermos. E aqui vale um ponto de atenção, sempre cuidar para que essas decisões, por mais corriqueiras que sejam, não se baseiem no senso comum. A melhor maneira de se evitar isso é pesquisar, estudar. A atividade econômica é de fundamental importância para a sobrevivência humana e para o progresso de toda sociedade. Os princípios da administração e da economia são apresentados nesta obra de forma clara e concisa possibilitando reflexões sobre Carta ao Aluno – 6 – Administração e Economia a maneira com a qual as sociedades decidem empregar seus recursos e as consequências dessas decisões. Vivenciamos um momento ímpar na história – pandemia, eleitos climáticos, conflitos geopolíticos, desigual- dade, inovação tecnológica, inteligência artificial – todos esses fatores, independente se positivos ou negativos, afetam diretamente a economia global e a administração de recursos e pessoas. Estudar e compreender essa dinâmica torna-se estratégico, independente de sua área direta de atu- ação ou formação. Bons estudos! 1 Conceitos básicos de administração e organização Temos observado, nos últimos tempos, algumas opiniões contrárias ao estudo da Teoria Geral da Administração, a tradi- cional TGA, dentro dos cursos de Administração. O principal argumento usado é o fato de que esse estudo versa sobre um pas- sado distante e remonta ao início da formalização das organiza- ções empresariais. Usando dos mesmos argumentos, poderíamos invalidar, também, o estudo da história ou mesmo dos conceitos mais bási- cos de qualquer outra ciência tradicional. Por exemplo, podería- mos deixar de estudar as operações aritméticas básicas por estas serem muito antigas e terem sido estabelecidas em um passado distante? A resposta, com certeza, é não, tanto para a matemática como para qualquer outra ciência. – 8 – Administração e Economia É por meio das pesquisas e dos estudos que consolidaram conhe- cimentos sobre como as pessoas se organizam em busca de resultados comuns e de como essas organizações podem melhorar sua eficiência e eficácia em busca desses resultados que podemos nos espelhar para melhorar o funcionamento das organizações atuais, fazê-las mais competi- tivas e, mais importante, poder fazê-las mais duráveis e sólidas. Apesar de todo o avanço que se fez no estudo e na disseminação da Administração, ainda temos índices muito elevados de mortalidade prematura das nossas empresas, causados por falta de aplicação de conceitos administrativos já amplamente estudados e comprovados. 1.1 A Administração atual O estudo histórico da evolução da Administração por meio da sua teoria e das várias concepções e visões surgidas ao longo do tempo, embasados em estudos científicos, nada mais é do que o processo da evolução de uma ciência construindo novos conhecimentos e conceitos em princípios e fundamentos já estabelecidos anteriormente. O fato de, na sua forma tradicional, o estudo da Administração voltar-se, principal- mente, à análise das teorias administrativas baseadas e estabelecidas em realidades e organizações completamente diferentes das atuais de forma alguma invalida a utilização desses princípios e fundamentos pelas orga- nizações atuais. Essa evolução revela uma ciência viva e em constante atividade e desenvolvimento, provocando, com isso, o grande desafio para os admi- nistradores e organizações de aplicarem os princípios e os conceitos de modo que as organizações beneficiem-se e se promova uma melhoria contínua de cada organização de forma específica e da Administração como um todo. 1.1.1 A importância e o papel do administrador A Administração ou gestão e o administrador ou gestor, termos com sentidos sinônimos e utilizações idênticas, na sua atividade, são respon- sáveis por atingir os objetivos dos grupos sob sua responsabilidade e, portanto, estão presentes em todas as organizações, tendo em vista que – 9 – Conceitos básicos de administração e organização são um conjunto organizado de recursos humanos, físicos e monetários, trabalhando organizados por meio de um sistema de processos funcionais, valores, políticas, cultura e práticas,para um objetivo comum. É a partir do trabalho do gestor, transformando conhecimento em ganhos, que a organização chega aos seus objetivos. O mundo atual, caracterizado pela necessidade constante por melhores resultados exigi- dos às organizações, sejam elas públicas, privadas ou de caráter social, leva à pressão por uma constante melhoria dos processos organizacionais e da produtividade aos seus gestores. O esforço em atingir esses resul- tados não é o foco da gestão, mas, sim, o resultado alcançado mediante este esforço (NOBREGA, 2004). Caracteriza-se, então, o papel do administrador, ou gestor, como pode ser denominado, como a busca constante pela melhoria na produtividade e nos resultados das suas organizações ou setores de uma organização, por meio da otimização da utilização de todos os recursos e processos colo- cados à sua disposição no alcance dos objetivos propostos. Dessa forma geral, verificamos que a presença de um administrador ou gestor se faz necessária em qualquer tipo de organização, organismo ou grupo social definido com um objetivo comum estabelecido. Por isso enfatizamos a importância do estudo dos princípios e fun- damentos históricos não só para entender o passado, mas, também, para a aplicação de tais elementos, garantindo, assim, resultados semelhantes (NOBREGA, 2004). Sabemos que os princípios básicos de uma ciência são estes: mesmas condições, mesmos processos, mesmos componentes darão o mesmo resultado, sob as mesmas condições ambientais. Sob esse enfoque amplo, descrito anteriormente, o papel do admi- nistrador adquire importância dentro das empresas, já que é dele que se espera o planejamento das estratégias e das ações empresariais, o acom- panhamento diário dessas ações estabelecidas e quanto elas estão contri- buindo para os objetivos propostos, a gestão dos recursos financeiros nas suas especificidades dos recebimentos, pagamentos, financiamentos e aplicações dos recursos materiais, envolvendo máquinas, equipamen- tos, edifícios e matérias-primas e a sua compra, manutenção e venda, a gestão de todos os aspectos que envolvem a gestão dos recursos huma- – 10 – Administração e Economia nos da organização, seleção, recrutamento, relacionamentos interpesso- ais, análise da satisfação, treinamento e demissão de funcionários. Por- tanto, o campo de atuação do administrador é bastante amplo e variado, cabendo, hoje, diversas atividades relacionadas e correlatas a um admi- nistrador profissional. De forma mais resumida, podemos afirmar que a Administração trata da condução das organizações lucrativas ou não lucrativas de uma forma racional das suas atividades. E essa condução deve ocorrer mediante o planejamento, a organização, a direção e o controle de todas as atividades que ocorrem em uma organização, decorrentes de uma diferenciação e divisão do trabalho (CHIAVENATO, 2004). Apesar de recentes no Brasil, os cursos de Administração são relati- vamente antigos nos Estados Unidos, tendo ali surgido no fim do século XIX, na Wharton School, em 1881. Enquanto já havia formado-se algo em torno de 50 mil administradores, 4 mil mestres e 100 doutores nos EUA, surgia, em 1952, o início do estudo da Administração no Brasil (FEA- -USP, 2012). Não é mera coincidência a criação das escolas de Administração no Brasil e o início dos períodos do processo de desenvolvimento no país. Inicialmente, de forma tímida, no período Vargas, e mais concre- tamente no governo Juscelino. O início da industrialização e o cres- cimento das empresas geram uma necessidade muito grande de um contingente de mão de obra qualificada para gerir essas empresas e ocupar cargos intermediários de gestão. Essa necessidade de profissio- nais qualificados gera a necessidade da formação de administradores profissionais, por meio do ensino formal profissional da Administra- ção. O início desse ensino foi marcado pela criação da Fundação Getu- lio Vargas (FGV) e da FEA-USP (FEA-USP, 2012). Atualmente, o estudo profissional da Administração está amplamente difundido e solidificado. A profissão de administrador é regulamentada mediante a Lei n. 4.769/1965 e sua atividade registrada e fiscalizada por meio dos Conselhos profissionais estaduais e o federal, o Conselho Regio- nal de Administração (CRA), em nível estadual, e o Conselho Federal de Administração (CFA), em nível federal. – 11 – Conceitos básicos de administração e organização 1.1.2 As organizações atuais e o administrador Se, de alguma forma, a grande diversidade de organizações presentes no mundo atual poderia levar a crer em uma dificuldade de adaptação interna do administrador a cada uma delas e às suas especificidades e heterogenei- dades, isso não ocorre devido ao fato de que o papel do administrador é determinado e estabelecido como a definição das estratégias, o diagnóstico das situações e dos problemas, a priorização e a alocação dos recursos, o planejamento da sua aplicação e a criação de diferenciais competitivos, por meio da inovação de processos e produtos (CHIAVENATO, 2004). Mesmo considerando todas as diversificações de tamanho, estrutura, características, tipos de produtos ou processos, as organizações podem ser classificadas em dois grandes grupos: lucrativas, as chamadas empresas privadas, e as não lucrativas, aí incluindo um grande leque de organiza- ções, desde as filantrópicas, ONGs, igrejas, até os serviços públicos, exér- cito, etc. Por outro lado, percebemos que a procura por profissionais com- petentes da Administração, focados em resultados, aumenta em função da alta competição que o mundo globalizado provocou em todos os setores da economia. Desde as pequenas empresas até os grandes grupos multina- cionais, todas as organizações devem buscar suas vantagens competitivas e seus diferenciais sob a liderança de administradores competentes. Dentro desse leque variado e extenso de organizações e cargos nelas existentes, o administrador deve procurar, na sua formação, adquirir deter- minadas habilidades que o levem a se destacar perante seus pares e a gal- gar cargos nas estruturas das organizações. Essas habilidades podem ser divididas em três grandes grupos (CHIAVENATO, 2004): 2 Habilidades técnicas – são aquelas decorrentes do conhecimento e da experiência profissional e são a implantação de métodos, téc- nicas e processos para a realização das tarefas, é o fazer. 2 Habilidades humanas – relacionadas ao convívio social com seus colegas. É a capacidade de trabalhar em equipe e de propor soluções à interação, à liderança e à resolução de conflitos. 2 Habilidade conceitual – refere-se à capacidade de abstra- ção, de visualizar o futuro, de tomar decisões por meio do – 12 – Administração e Economia raciocínio e do diagnóstico das situações e alternativas dis- poníveis; de interpretar o ambiente, os dados disponíveis, a missão da organização e poder levá-la a novos horizontes e a novos patamares de eficácia e produtividade, otimizando recursos e aproveitando oportunidades. De acordo com o crescimento que o administrador terá dentro da estrutura hierárquica, essas três habilidades serão exigidas de forma diferente. Partindo do nível operacional, temos, aqui, um forte predo- mínio e necessidade das habilidades técnicas, os conhecimentos e os métodos são as exigências dos cargos de supervisão, ainda muito ligados ao acompanhamento e ao controle das atividades operacionais e com fraca presença da aplicação das habilidades humanas. Conforme o admi- nistrador sobe na escala hierárquica, as atividades operacionais ficam mais distantes e logo ele precisa aplicar suas habilidades humanas de liderança, resolução de conflitos e de trabalho em equipe. Esse nível caracteriza-se pelos cargos de gerência intermediária, é o chamado nível tático da organização. No nível mais alto da organização, a alta direção, temos uma forte presença da necessidade de habilidades con- ceituais. É o predomínio das ideias, da abstração das tomadas de decisão estratégicasque envolvem toda a organização e uma perspectiva de médio e longo prazo, na sua maioria. Paralelamente ao desenvolvimento dessas habilidades, exige-se do administrador três tipos de competências no exercício da sua atividade. Essas competências devem ser duráveis e constituir a base sólida da atu- ação do profissional, porque as rápidas mudanças a que as empresas são expostas não devem provocar a sua obsolescência (CHIAVENATO, 2004). Para isso, o administrador deve orientar sua competência dentro de linhas mestras duráveis, o conhecimento, seu referencial, sua base de decisão, sua experiência profissional e não deve estar estagnado e imutável. O profissional deste século deve estar em constante aprendizado e ter a capacidade do aprender a aprender, a habilidade de colocar seu conheci- mento em prática, o saber fazer e aplicar. Deve, ainda, ter a capacidade de identificar, dentro da sua bagagem cognitiva, quais elementos podem ser – 13 – Conceitos básicos de administração e organização aplicados em cada caso e em cada desafio da sua carreira e ter a segurança nessa aplicação. Por último, é necessária uma competência comportamen- tal ou atitude para poder interagir com o mundo que o rodeia, liderar suas equipes no alcance dos objetivos, estabelecer o ritmo e o estilo de trabalho que vai ser observado, imitado e seguido. É a forma como as outras duas habilidades anteriores são colocadas para o grupo e os outros. Essas três competências são as guias mestras que nortearão a carreira do administra- dor rumo ao sucesso e ao topo da organização. Saiba mais Henry Mintzberg, norte-americano, nascido em 2 de setembro de 1939, é Ph.D em Administração. É autor e acadêmico referên- cia na Administração com vários estudos e livros relacionados às funções de gerência, administração e análises sobre as fun- ções dessa área. Para além das competências relacionadas, Mintzberg em seus estu- dos, identificou e catalogou dez papéis executados pelo administrador, catalogados em três grupos classificatórios: interpessoais, informacionais e decisórios (apud CHIAVENATO, 2004). Os papéis interpessoais são aqueles que se relacionam com as pessoas, como o próprio nome indica. Eles se referem à forma como o administrador se relaciona com as pessoas e as influencia, em decorrência das suas habilidades humanas. Os papéis informacionais têm a ver com as informações com as quais o administrador lida, com a rede de informações que ele precisa montar, seu desenvolvimento e manutenção, bem como à forma como ele troca essas informações com seus colegas. Os papéis decisórios relacionam-se na forma como o administrador toma decisões, escolhe opções, processa e usa as informações e também como põe em prática suas habilidades huma- nas e de relacionamento interpessoal. Podemos ver, no quadro 1.1, os dez papéis do administrador, a classificação desses três grupos de papéis e seus componentes mais simples. – 14 – Administração e Economia Quadro 1.1 Os dez papéis do administrador. Categoria Papel Atividade Interpessoal Representação Assume deveres cerimoniais e simbó- licos, representa a organização, acom- panha visitantes, assina documentos legais. Liderança Dirige e motiva pessoas, treina, acon- selha, orienta e se comunica com os subordinados. Ligação Mantém redes de comunicação dentro e fora da organização, usa malotes, tele- fonemas e reuniões. Informacional Monitoração Manda e recebe informação, lê revistas e relatórios e mantém contatos pesso- ais. Disseminação Envia informação para os membros de outras organizações, envia memoran- dos e relatórios, telefonemas e contatos. Porta-voz Transmite informações para pessoas de fora, através de conversas, relatórios e memorandos. Decisorial Empreen- dimento Inicia projetos, identifica novas ideias, assume riscos, delega responsabilida- des de ideias para outros. Resolução de conflitos Toma ação corretiva em disputas ou crise, resolve conflitos entre subordina- dos, adapta o grupo a crises e mudan- ças. Alocação de recursos Decide a quem atribui recursos. Pro- grama, orça e estabelece prioridades. Negociação Representa os interesses da organização em negociações com sindicatos, em vendas, compras ou financiamentos. Fonte: Chiavenato (2004, p. 5). – 15 – Conceitos básicos de administração e organização Quadro 1.2 Os dez papéis do administrador. Categoria Papel Atividade Interpessoal Representação Assume deveres cerimoniais e simbóli- cos, representa a organização, acompa- nha visitantes, assina documentos legais. Liderança Dirige e motiva pessoas, treina, aconse- lha, orienta e se comunica com os subor- dinados. Ligação Mantém redes de comunicação dentro e fora da organização, usa malotes, telefo- nemas e reuniões. Informacional Monitoração Manda e recebe informação, lê revistas e relatórios e mantém contatos pessoais. Disseminação Envia informação para os membros de outras organizações, envia memorandos e relatórios, telefonemas e contatos. Porta-voz Transmite informações para pessoas de fora, através de conversas, relatórios e memorandos. Decisorial Empreend i - mento Inicia projetos, identifica novas ideias, assume riscos, delega responsabilidades de ideias para outros. Resolução de conflitos Toma ação corretiva em disputas ou crise, resolve conflitos entre subordina- dos, adapta o grupo a crises e mudanças. Alocação de recursos Decide a quem atribui recursos. Pro- grama, orça e estabelece prioridades. Negociação Representa os interesses da organização em negociações com sindicatos, em vendas, compras ou financiamentos. Fonte: Chiavenato (2004, p. 5). – 16 – Administração e Economia 1.2 Origem histórica da Administração Mesmo que só recentemente tenha sido formalizada a profissão de administrador e a Administração estabelecido-se como uma ciência, as funções e os princípios administrativos já estão presentes desde a forma- ção dos pri meiros grupos humanos. Nos diversos registros da história da humanidade, na sua evolução e, principalmente, na sua organização em sociedade, de alguma forma estiveram presentes competências adminis- trativas para que essas ações ou sociedades organizadas tivessem sucesso. 1.2.1 A Administração através dos tempos A necessidade da caçada em grupo dos antigos homens, há milhões de anos, levou-os a organizarem-se de forma a obter o melhor resultado nas suas empreitadas e a registrar suas experiências e táticas para que, em futuras caçadas, usassem os mesmos modelos de sucesso, como ficou registrado em pinturas conservadas em várias cavernas da Europa. Mais recente que nossos ancestrais rupestres, da mesma forma, 4 mil anos a.C., os egípcios demonstraram alta utilização das funções da gestão para o sucesso na construção das suas pirâmides, utilização tão eficaz que até hoje discute-se qual organização e gestão utilizadas e a forma como elas foram construídas, além de se reconhecer que uma alta competência de planejamento, organização e controle da gestão egípcia se fez presente nessas construções. Várias outras demonstrações de conceitos de gestão até hoje usados estão presentes em registros históricos. Na Bíblia, encontramos o regis- tro de Moisés como um gestor, ao vê-lo seguir os conselhos de Jatro, seu sogro, sobre a forma como organizar as tribos judaicas estrutural- mente e hierarquicamente e como funcionaria o processo de comando e de comunicação entre ele, os líderes das tribos e todos os seus compo- nentes. Ali ele já aplicaria os conceitos da delegação, pois concedeu-lhes a autoridade da tomada de decisões, como seus representantes diretos. Limitando a autoridade desses chefes a assuntos mais simples, cabendo à autoridade dos assuntos mais complexos a si próprio, por meio de um processo de comunicação na estrutura hierárquica, estaria ou não Moisés – 17 – Conceitos básicos de administração e organização aplicando princípios de estruturação organizacional que muitos séculos depois foram formalizadosem manuais, organogramas e fluxogramas até hoje usados em todas as organizações? Com certeza, podemos afirmar que sim. Podemos afirmar, também, que a Administração da forma como a vemos hoje começou nesses antigos modelos de estruturação e gestão ( CHIAVENATO, 2004). Várias outras demonstrações da aplicação de princípios e práticas administrativas foram registradas ao longo dos séculos e em variados lugares do planeta, tendo sempre em comum a preocupação da organiza- ção, do controle, da produtividade e da maximização dos recursos utiliza- dos. Podemos verificar esses fatos históricos no quadro 1.2, que trata da linha do tempo da Administração, a seguir. Ao longo do tempo, têm sido sempre muito presentes as funções da Administração, principalmente as militares e religiosas, em que se fazem necessárias organização e hierarquia muito formais, além de uma definição muito clara de funções. A Administração ganhou muito das experiências militar e religiosa e seus conceitos bem-sucedidos. Ainda hoje temos muito presentes nas nossas organizações formas e similaridades herdadas, prin- cipalmente, da organização militar e, mais especificamente, dos exércitos. Individualmente, também observamos essa presença. A partir da necessidade da execução da mais simples tarefa humana diária: qual a sequência das tarefas domésticas a executar, como elaborar uma receita culinária ou qual o trajeto a fazer para otimizar minhas tarefas na rua, etc. Algumas das funções básicas da Administração estarão presentes caso o objetivo seja a otimização e o sucesso nessas tarefas, sejam elas o plane- jamento da sequência correta das tarefas a executar, a verificação sobre se existem os componentes certos da receita e a quantidade certa ou qual o tempo gasto para o deslocamento de um lugar a outro, para poder chegar aos compromissos a tempo. O estudo e a aplicação da gestão estão presentes de forma mais sim- ples nos aspetos mais práticos e corriqueiros da vida humana, a sua apli- cação consciente trará imensos benefícios na busca do sucesso pessoal e profissional, mediante planejamento pessoal ou da carreira, organização de tempo e recursos, execução do planejado e, no aspecto mais prático, a otimização de recursos financeiros. – 18 – Administração e Economia Quadro 1.3 Linha do tempo da Administração. Período e local Evento 3000 a.C., Mesopotâmia Civilização suméria. Escrituração de operações comer- ciais. Primeiros dirigentes e funcionários administrativos profissionais. Século XXVI a.C., Egito Construção da Grande Pirâmide. Evidências de planeja- mento, organização e controle sofisticados. Século XXIV a.C., China O Imperador Yao usa o princípio da assessoria para diri- gir o país de forma descentralizada. Século XVIII a.C., Babilônia Código de Hamurabi. Escrituração meticulosa de opera- ções. Evidências de ênfase no controle. Século XVI a.C., Egito Descentralização do reino. Logística militar para a prote- ção das províncias. Século XII a.C., China Constituição da Dinastia Chow. Século VIII a.C., Roma Começo do Império Romano, que duraria 12 séculos. Os embriões de todas as instituições administrativas moder- nas são criados nesse período. Século VI a.C., China Confúcio expõe uma doutrina sobre o comportamento ético dos cidadãos e dos governantes. Século V a.C., China Mêncio procura sistematizar princípios de administração. Século V a.C., Grécia Democracia, ética, qualidade, método científico, teoriza- ção e outras ideias fundamentais. Século IV a.C., China Sun-Tzu prescreve princípios de estratégia e comporta- mento gerencial. Século III a.C., Roma O exército romano é o modelo para os exércitos nos séculos seguintes. Esse modelo influenciaria outros tipos de organizações. 1494, Gênova Luca Pacioli divulga o sistema de partidas dobradas para escrituração contábil no livro Summa de Arithmetica, Geo- metria, Proportioni et Proportionalità (Obras completas de aritmética, geometria, proporções e proporcionalidades). – 19 – Conceitos básicos de administração e organização Período e local Evento Século XVI, Veneza O Arsenal de Veneza usa contabilidade de custos, nume- ração de peças inventariadas, peças padronizadas e inter- cambiáveis e técnicas de administração de suprimentos. O Arsenal também utiliza uma linha de montagem para equipar os navios. Em 1574, durante uma visita de Hen- rique III da França, um navio foi montado, equipado e posto ao mar em uma hora. Século XVI, Florença Maquiavel publica O príncipe, um tratado sobre a arte de governar, em que são enunciadas as capacidades do dirigente. Meados do século XVIII, Inglaterra Início da Revolução Industrial. 1776, Inglaterra A riqueza das nações, de Adam Smith, descreve e elogia o princípio da divisão do trabalho e a especialização dos trabalhadores. Final do século XVIII, Europa e Estados Unidos Desenvolve-se a produção baseada em peças padroniza- das e intercambiáveis. 1810, Escócia Robert Owen inicia uma experiência de administração humanista na fiação New Lanark. Início do século XIX, França Primeiros sistemas de participação nos resultados para os trabalhadores. Início do século XIX, Inglaterra Primeiros sindicatos de trabalhadores. Final do século XIX, Alemanha Wilhelm Wundt cria a psicologia experimental. 1881, Esta- dos Unidos Joseph Wharton funda a primeira faculdade de Admi- nistração. Final do século XIX até os anos 10 do século XX, Estados Unidos Movimento da Administração Científica. Fonte: adaptado de Maximiano (2010, p. 15). – 20 – Administração e Economia Da teoria para a prática A necessidade da aplicação dos conceitos e funções da Administra- ção está presente em todos os setores da atividade humana. Isso se torna evidente na forma como a aplicação desses conceitos e funções leva ao sucesso determinadas organizações ou atividades ou como a falta ou má execução dessas funções faz com que os resultados pretendidos não sejam alcançados. Para que sejam evidenciadas tais premissas, propomos a verificação, durante um período relativamente curto, por exemplo, uma semana, da presença, da necessidade ou mesmo da falta de conceitos e aplicação das funções básicas do administrador – prever, planejar, organi- zar, controlar e avaliar, por meio da observação de notícias emitidas pelos meios de comunicação de massa, bem como dos resultados apresentados pelas organizações em geral. Podem ser observados, por exemplo, os índi- ces de mortalidade das empresas brasileiras e as suas causas relativas à falta da aplicação tanto de princípios da Administração quanto das fun- ções administrativas. Síntese Mesmo que tenham evoluído ao longo da história do homem em sociedade, os princípios, fundamentos e conceitos básicos da Adminis- tração sempre estiveram presentes e exerceram influência sobre a sobre- vivência e sucesso das organizações. Em parte ou na sua totalidade, as funções administrativas de prever, planejar, organizar, controlar e avaliar estiveram e ainda estão presentes na atividade do administrador. Essas funções, bem como as competências básicas necessárias relativas aos conhecimentos exigidos ao cargo, as habilidades em transformar esses conhecimentos em prática, o comportamento determinado em melhorar e inovar, mais os dez papéis exigidos ao administrador catalogados por Mintzberg nas categorias de papéis da interpessoalidade, da relação infor- macional e da relativa às tomadas de decisão, são fundamentais a todas as organizações lucrativas ou não lucrativas, para que atinjam os resultados pretendidos mediante eficaz utilização de todos os recursos disponibiliza- dos ao administrador. 2 Abordagem científica/clássica da administração A partir dessa situação geral que se vivia no mundo indus- trial da época, mais a intensa concorrência no mercado, a neces- sidade de estudos sobre como melhorar tal situação forma uma consequência natural. Assim, surgiram, paralelamente, nos EUA, por meio de Frederick Taylor e, na Europa,com Henri Fayol, os primeiros princípios e estudos para o estabelecimento da ciência da Administração. 2.1 Administração Científica A partir da implantação do racionalismo de Descartes, que estabelecia o poder da razão e do método para a resolução de todos os problemas e negando todo o conhecimento empírico, os ramos da ciência passaram a substituir o conhecimento tradicio- nal pelo racional e, com isso, a formalizar as bases científicas dos diversos ramos do conhecimento. No entanto, o trabalho indus- trial ainda não tinha sido atingido pelo processo de racionaliza- – 22 – Administração e Economia ção já estabelecido nas outras ciências. Com o panorama geral de insatis- fação e desorganização existentes nesse ambiente, estavam estabelecidas as condições para que surgissem esses estudos. A Abordagem Clássica, na sua vertente da Administração Científica, focou seus estudos e observações na busca da eficiência máxima na exe- cução das tarefas fabris e na melhor forma para sua execução. O papel do administrador era, mediante observação dos tempos e movimentos e padronização, achar a eficiência máxima da operação. 2.1.1 Taylor e a ciência da Administração O principal expoente do início da Administração Científica foi o engenheiro Frederick Winslow Taylor (1856-1915). Independente de se considerar Taylor como seu criador, o movimento da Administração Científica teve a participação de várias outras pessoas que trabalharam na busca da resolução dos problemas da época, já citados, e na obtenção de eficiência e produtividade, por meio de bases científicas com princí- pios e técnicas que poderiam ser sistematizadas e utilizadas por todas as organizações (MAXIMIANO, 2010). Apesar de esses estudiosos terem contribuído muito com o desenvolvimento da Administração Científica, todos eles destacavam a liderança de Taylor nesse movimento, a qual foi reforçada pela importância de suas contribuições e estudos no processo de estabelecimento da Administração como ciência. Devemos destacar, também, que algumas das bases do movimento da Administração Científica, como a divisão do trabalho, a especialização das tarefas e os problemas da produção em massa, já tinham sido salien- tados e detectados por Adam Smith, em seu livro A riqueza das Nações, em 1776. Toda essa base histórica, mais a situação das empresas, encon- traram em Taylor a mente brilhante, o espírito de observação e a grande experiência em fábrica capazes de observar e definir os problemas que se viviam nos ambientes fabris da época. Seu gosto por esse ambiente o fez trocar a tradição familiar da advocacia e iniciar uma carreira industrial bem-sucedida, que o levou de simples trabalhador a engenheiro chefe em 12 anos. Paralelamente à sua ascensão no trabalho, o gosto pela indústria o levou a estudar, na parte da noite, engenharia, área em que teve uma car- – 23 – Abordagem científica/clássica da administração reira também brilhante, obtendo o título de mestre. Ele chegou a ter várias invenções patenteadas, comprovando o brilhantismo da sua capacidade. Na sua carreira como engenheiro, Taylor pôde observar os proble- mas vividos na época. Sobressaindo, entre vários, os listados a seguir ( MAXIMIANO, 2010). 2 Falta de clareza e noção das responsabilidades entre trabalhadores por parte da Administração e quais tarefas lhe eram atribuídas. 2 Salários fixos que provocavam a desmotivação dos trabalhado- res em produzir mais. 2 Trabalhadores deixavam de cumprir suas responsabilidades. 2 Falta de embasamento na tomada de decisão por parte dos admi- nistradores, baseando-se em opiniões e intuição. 2 Falta de coordenação nas atividades interdepartamentais. 2 Trabalhadores não treinados e sem aptidão para as tarefas que lhes eram designadas. 2 Falta de visão estratégica dos gerentes no sentido de que um melhor desempenho e a busca por excelência em todos os níveis levaria a uma melhor performance empresarial e consequente- mente a retribuições a eles e seus operários. 2 Falta de padrões operacionais provocava conflitos entre operários e capatazes em função de divergência de resultados da produção. Esses problemas, comuns nas empresas da época e que ainda pode- mos observar em muitas empresas atuais, tornaram-se uma preocupação para Taylor ao longo da sua carreira e o levaram a várias observações e experiências no sentido da sua resolução. Reflita Quando são apontados os problemas existentes nas empre- sas e, mais especificamente, nas indústrias do início do século passado e que levaram à criação da Ciência da Administração, podemos pensar que esse tipo de problema não existe nas orga- – 24 – Administração e Economia nizações atuais. O que observamos, contudo, é muitas pequenas e microempresas – e algumas médias até – viverem ambientes com a configuração de problemas semelhantes aos encontrados por Taylor e seus pares. Já que se estabeleceram alguns princí- pios, naquela época, para resolver tais problemas, por que não utilizar as mesmas soluções propostas por Taylor nas empresas atuais para solucioná-los? Como não poderia deixar de ser, em função dos problemas da Admi- nistração do período serem eminentemente fabris, o movimento da Admi- nistração Científica surgiu na Sociedade Americana de Engenheiros, insti- tuição presidida por Taylor em determinada época. A ideia central do movimento da Administração Científica foi a orga- nização racional do trabalho, visando eliminar o empirismo aos diferen- tes processos de trabalho. Por meio da uniformidade de interesses entre patrões e empregados e da aplicação dos princípios da racionalização do trabalho, ambos poderiam ganhar o máximo possível. As bases conceitu- ais que apoiaram o movimento são destacadas a seguir. 2 O homem visto como uma máquina, eminentemente racional e que sempre toma as decisões mais apropriadas à solução do p roblema, maximizando assim os resultados. Movido, basica- mente, por incentivos financeiros e recompensas, por isso se estabeleceriam bases padronizadas de incentivos. É impor- tante referir que, na época, considerava-se o homem como “vadio”, totalmente interesseiro e sem motivação para o tra- balho, fazendo-o apenas porque poderia, sem as recompen- sas salariais e incentivos de produtividade, morrer de fome. Esse conceito é classificado como Homo economicus, ou homem econômico, e vinha provocando um posicionamento, por parte da Administração, em um sentimento de imputação de culpa ao operário de todos os males que aconteciam nas fábricas e em uma isenção dos gerentes quanto a essa respon- sabilidade. Ao longo do tempo e com a evolução das outras ciências sociais, principalmente da psicologia, e da evolução – 25 – Abordagem científica/clássica da administração do homem em sociedade, poderemos observar a correspon- dente evolução do conceito do homem e seu posicionamento perante as organizações. 2 O estudo minucioso de tempos e movimentos repetitivos exe- cutados pelos operários nos seus trabalhos. A partir desse estudo, encontrar a melhor maneira de executar a tarefa, enfo- cando, quase em totalidade, as tarefas a serem executadas, para construir a partir daí o restante da organização fabril e das recompensas salariais. 2 Criação dos métodos de trabalho que levassem ao desempenho máximo em cada tarefa, incluindo-se nisso as máquinas mais indicadas a cada operação. 2 Paralelamente ao estudo das tarefas e do melhor método de executá-las, a análise da fadiga humana decorrente da execução repetitiva e prolongada dessas tarefas. 2 A especialização do operário a partir de uma divisão racional do trabalho a ser executado. Sendo estabelecida a especiali- zação exigida ao trabalhador, a seleção adequada dos traba- lhadores seria mais fácil, e o seu treinamento em cada tarefa, uma consequência racional. 2 Uma decorrência da divisão do trabalho foi a organização da estrutura fabril em cargos e a definição das tarefas de responsa- bilidade desses cargos, eliminando, assim,alguns dos problemas existentes na época, da indefinição de responsabilidades e falta de comando. 2 Estabelecimento de prêmios de produção e incentivos salariais, em função da definição clara das tarefas, dos métodos de traba- lho e tempos e movimentos. Com esses elementos, era possível a definição de padrões de produtividade. 2 Criação das condições ambientais físicas necessárias ao bom andamento do trabalho e à sua melhor execução por parte do operário. Em decorrência do estudo dos condicionantes da fadiga humana na tarefa, seriam proporcionadas as melhores – 26 – Administração e Economia condições de conforto físico para que o operário pudesse produ- zir o máximo possível. 2 Definição da supervisão funcional, com clarificação do alcance e a necessária especialização e conhecimento do supervisor para cada tarefa a ser supervisionada. Essas foram, portanto, as ideias que nortearam e sustentaram a racionalização da Administração e estabeleceram um método cientí- fico no estudo da área, o que fundamentou o seu reconhecimento como ciência. A busca final da Administração Científica foi a da eficiência máxima das operações mediante a padronização de tempos e movimen- tos executados pelos operários. A padronização aconteceria por meio da divisão do trabalho mais detalhada possível e do estudo dos tempos e movimentos necessários para a execução das tarefas decorrentes dessa divisão, sempre buscando a mais eficiente forma de execução. A partir dessa padronização ocorreria a seleção, o treinamento e os pagamentos dos incentivos dos operários. 2.1.2 Princípios organizacionais Apesar do foco inicial dos estudos de Taylor e da Sociedade Ameri- cana de Engenheiros Mecânicos ser a resolução do problema dos salários, com a evolução dos estudos foi percebido que o problema da remuneração dos operários, sua produtividade e a consequente premiação e incentivo à melhoria da produção era apenas um daqueles com que se debatiam as indústrias da época. A análise mais profunda da situação vigente permitiu perceber outras variáveis influenciadoras e ampliar a visão do problema. Como pode ser observado na figura 2.1, que aborda os três momentos da Administração Científica, o movimento para a formação de tal Adminis- tração se dividiu em três fases distintas, saindo do enfoque na produtivi- dade e na remuneração dos operários para o estabelecimento e a consolida- ção dos princípios norteadores da Administração Científica, substituindo os velhos métodos de trabalho empíricos e, assim, ampliando o enfoque do chão de fábrica, pressuposto inicial dos estudos, para as organizações como um todo. Por exemplo, a recomendação da dissociação da tarefa – 27 – Abordagem científica/clássica da administração de planejar da atividade produtiva, tornando-a mais global e formalizada (MAXIMINIANO, 2006). Figura 2.1 Três momentos da Administração Científica. Pr im ei ra fa se Se gu nd a fa se Ù Ataque ao problema dos salários. Ù Estudo sis- temático do tempo. Ù Definição de tempos padrão. Ù Sistema de administração de tarefas. Ù Aplicação de escopo, da tarefa para a administração. Ù Definição de princípios de administração do trabalho. Ù Consolidação dos princípios. Ù Proposição de divisão de autoridade e responsabili- dades dentro da empresa. Ù Distinção entre técnicas e princípios. Te rc ei ra fa se Fonte: Maximiano (2010, p. 54). Os princípios estabelecidos na época, como a base de toda a Admi- nistração, tiveram a participação de vários estudiosos e formaram muitos outros, mas alguns ficaram mais presentes. Taylor salientou quatro, mas deixou registrados muitos outros decorrentes ou complementares a estes: 1. princípio do planejamento – o método empírico usado na época e comandado pela vontade do operário deveria ser substi- tuído por um planejamento rigoroso das tarefas a serem executa- das, estabelecendo um método científico de trabalho para todas as tarefas. 2. princípio de preparo – a partir do estabelecimento do melhor método para a realização de cada tarefa, o passo seguinte deveria ser a escolha científica do trabalhador mais indicado a executar essa tarefa, de acordo com sua habilidade, e treiná-lo adequadamente para que pudesse atingir a produtividade máxima estabelecida no método determinado. Além da atenção na máxima e melhor exe- cução das tarefas pelos operários, estabeleceu-se, nesse princípio, também, uma atenção na escolha, na preparação e na disposição das – 28 – Administração e Economia máquinas dentro da fábrica da maneira mais científica, para que se pudesse ter a máxima produtividade e a menor perda de tempo entre tarefas e movimentações dos materiais. 3. princípio da execução – a execução das tarefas feita da melhor e mais produtiva maneira exigia que elas fossem distribuídas e as responsabilidades determinadas aos operários. 4. princípio do controle – tendo o método sido estabelecido, os operários bem escolhidos e treinados, as tarefas distribuídas, o passo seguinte mais lógico é a verificação da execução das tarefas, a qual deve seguir os padrões estabelecidos e o que foi planejado anteriormente. Reflita Será que hoje esses princípios já estão solidificados e ampla- mente aplicados em todos os ambientes fabris, das micro e pequenas empresas às grandes? Não estariam, aqui, os primórdios das nossas normas de produ- ção com qualidade? Para além desses quatro princípios mais importantes outros foram estabelecidos e que ou eram essenciais aos quatro principais ou eram sua decorrência, de forma mais detalhada. 1. Decompor todas as atividades a serem exercidas pelos operá- rios nas suas mais elementares operações, sua análise, estudo e medição dos tempos gastos em cada movimento. O objetivo era estabelecer a melhor maneira com os movimentos mais rápido e econômicos, verificando, assim, a forma como os operários deveriam executar cada tarefa de maneira minuciosa. 2. Selecionar os trabalhadores para cada tarefa a ser executada em função dos tempos e movimentos estabelecidos como padrão, de forma mais científica possível. – 29 – Abordagem científica/clássica da administração 3. Especializar, treinar e instruir os trabalhadores de maneira que eles fossem capazes de executar as operações da forma como foram estabelecidas anteriormente. 4. Separar as funções operacionais de preparação e operação. 5. Engajar os operários na busca da produtividade e no alcance dos padrões de produção estabelecidos por meio de incentivos e prê- mios de produção maiores, caso estes fossem ultrapassados. 6. Planejar e preparar a produção tanto estabelecendo metas de produção, métodos e processos de execução, tempos de prepa- ração das máquinas como determinando máquinas, ferramentas, equipamentos e todos os recursos necessários para a melhor exe- cução da produção. 7. As vantagens resultantes da racionalização do trabalho divi- didas proporcionalmente a todos os interessados: patrão, ope- rários e clientes. 8. Manter a execução do trabalho nos níveis pretendidos, melhorá- -lo e corrigi-lo por meio de controle. 9. Organizar os processos, equipamentos e matérias necessários à produção em uma classificação otimizada ao seu uso. Como pudemos observar, esses princípios se concentram mais no estudo do trabalho e na especialização e controle da melhor maneira de realizar as tarefas. Talvez em decorrência de os estudos terem sido fei- tos na Sociedade Americana de Engenheiros e mais especificamente por Taylor, um mestre em engenharia, a Abordagem Clássica, na sua vertente da Administração Científica, ficou, portanto, conhecida como a Aborda- gem Científica focada nas tarefas e na melhor forma da sua execução. 2.1.3 Avaliação da Administração Científica Não obstante o grande avanço que as empresas obtiveram com a utilização dos princípios da Administração Científica, como não poderia deixar de acontecer, esta recebeu pesadas críticas quanto à sua implan- tação e abordagem. – 30 –Administração e Economia Com a total racionalização da operação fabril foram obtidos enormes ganhos de produtividade, eliminação de desperdícios e redução de custos, além disso, o grande ganho da possibilidade de uma produção em massa, o que contribuía em larga escala para a redução de custos da manufatura. Essa redução de custos permitiu que os bens manufaturados chegassem ao mercado com preços mais baixos sem comprometer os ganhos dos ope- rários, como vinha acontecendo até então. Para se obter um custo mais baixo, o caminho natural vinha sendo baixar os salários dos operários, até então a principal causa de todos os males das organizações. A Administração Científica veio introduzir um novo conceito indus- trial, a era da máquina e da produção em massa. A total racionalização, mecanicismo e estudo de tempos e métodos nos mínimos detalhes era a regra geral a ser aplicada para tudo. E quando se falava tudo, incluíam-se, também, os operários, vistos única e simplesmente como recursos forne- cedores da mão de obra capaz de fazer funcionar as máquinas ou outros equipamentos e que, consequentemente, deveriam ter comportamentos semelhantes às máquinas, sempre repetidos da mesma forma otimizada e evitar sinais de fadiga que pudessem provocar mudança de ritmo de trabalho ou fazer movimentos fora dos preestabelecidos. Daí o rótulo de “mecanicista” a esse movimento. A empresa e tudo a ela relacionado resumiam-se a uma organização rígida, racional e padronizada em perfeita sincronia, como engrenagens de uma máquina. Aqui notamos que a atenção aos aspectos subjetivos do ser humano, como suas emoções, sentimentos e as necessidades sociais, foi rele- gada a um segundo plano, apenas com foco na produtividade. Como expoente crítico nessa priorização da força do trabalho físico do elemento humano das empresas da época temos o filme Tempos modernos, de Charlie Chaplin. Dica de filme Para entender melhor o ambiente em que se vivia na época da implantação dos princípios da Administração Científica, indica- mos filme Tempos modernos, de Charlie Chaplin, no YouTube, no link: <http://youtu.be/D_kpovzYBT8>. Observe que um filme produzido em 1936 mantém-se atual, confrontando-nos com – 31 – Abordagem científica/clássica da administração uma comparação encontrada em algumas empresas, já logo na abertura. Algumas das situações apresentadas e ridicularizadas estão presentes nas observações críticas das posições contrárias aos postulados da Administração Científica. TEMPOS modernos. Disponível em: <http://www.youtube. com/watch?v=D_kpovzYBT8&feature=youtu.be>. Acesso em: 11 jul. 2012. Os próprios operários também começaram a se insurgir, por meio dos sindicatos e com greves, contra os altos tempos-padrão que eram estabe- lecidos como metas de produção, a grande repetição de movimentos e o trabalho apenas mecânico e sem qualquer significação pessoal que eles exe- cutavam, fazendo dar errado uma das principais premissas estabelecidas por Taylor de que os princípios da Administração iriam harmonizar as relações entre patrões e operários. Essa revolta tomou proporções tão grandes que o Congresso Americano mandou investigar o que estava se passando. Outra crítica feita ao movimento foi a de que, dividindo as tarefas na sua composição de movimentos mais elementares possíveis e treinando os operários nessas pequenas tarefas, estaria provocando-se uma especia- lização de tal modo detalhada que ao operário não restaria mais nenhuma qualificação da tarefa, bastava ser treinado de forma exclusiva na tarefa que iria executar (MAXIMIANO, 2010). A visão muito elementar do papel do ser humano na organização eliminava totalmente os elementos sociais inerentes aos funcionários atuando em grupo. O que interessava para a organização era apenas a capacidade física do operário, posta em atividade em conjunto com as máquinas. Em complemento, levantou-se a crítica de que eram postos de lado os aspectos informais da organização, bem como a vida social dos trabalhadores. Apesar de o próprio nome Administração Científica conter o aspecto ciência na sua composição, foram levantadas muitas críticas de que esse movimento não poderia ser considerado uma ciência porque não continha todos os elementos necessários a uma comprovação científica, a pesquisa e a experimentação científica de comprovação das teses. – 32 – Administração e Economia Mesmo existindo outros tipos de atividades nas empresas, a limitação do campo de aplicação da Administração Científica no ambiente fabril foi motivo de críticas também. A formação de engenheiro de Taylor e sua experiência essencialmente industrial provocaram o estreitamento do foco ao ambiente fabril. O tipo de proposta apresentado pela Administração Científica deu-se, essencialmente, no sentido de estabelecer princípios sobre como deveria funcionar a produção. Uma série de receitas, prescrições e normas padro- nizando a forma como deveria funcionar nada explicou acerca do fun- cionamento. Para os críticos ao movimento, isto era limitante na maneira como deveriam ser levadas em consideração as prescrições. Limitando-se ao estudo minucioso das tarefas e do método de traba- lho, a Administração Científica deixou de lado as interações da empresa com o meio que a rodeia, considerando-as como sistemas fechados, nos quais o funcionamento das suas partes é determinado e padronizado, não apresentando variações, o que não condiz com a realidade das empresas, que é de sistemas abertos influenciados pelo meio ambiente e imprevisí- veis no seu comportamento. Mesmo com todas as críticas que sofreu decorrentes do pioneirismo, é inegável que o movimento da Administração Científica deu início ao desenvolvimento da Administração e melhorou a forma de atuação das empresas da época, com suas inovações em termos de padronização, racionalização e uso de métodos científicos. Foi o primeiro movimento a introduzir os conceitos do aumento de produtividade por meio de métodos científicos e apresentou novos conceitos na forma de se ganhar dinheiro. Resumidamente, é possível afirmar que a Administração Científica teve sua base formada pelas premissas de comando e controle, uma única maneira certa de fazer, mão de obra, e não recursos humanos e segurança nem insegurança. Ao estabelecer como função principal da gerência pla- nejamento e controles rígidos e aos operadores a execução das tarefas de forma obediente, estabeleceu-se, também, uma forte relação de comando do supervisor para o operário, de cunho hierárquico semelhante a uma estrutura militar, em que o gerente determina a melhor maneira de execu- – 33 – Abordagem científica/clássica da administração tar as tarefas e cabe ao operário utilizar esse método sem questionar e tirar dele o melhor partido no objetivo da máxima produtividade. A visão de que os operários consistem em mão de obra disponível, em contraponto à visão dos trabalhadores como recursos humanos, não esti- mula nenhum envolvimento, tanto de um lado como do outro nas relações de trabalho. Era desprezado o reconhecimento aos operários, bem como era-lhes vedado o acesso a ter responsabilidades além daquelas já descri- tas anteriormente. A empresa não se comprometia com nenhuma lealdade para com os operários, esperando deles uma lealdade funcional. Em con- trapartida, elas garantiam uma relativa e pseudo estabilidade e segurança no trabalho. Tudo parecia estabelecido, controlado e estável. Mesmo com as análises feitas e apontados, pelos críticos, pontos negativos à Administração Científica, devemos admitir que uma série de fatos e consequências importantes à Administração atual são decorrên- cia daquela. Uma dessas decorrências é a busca constante, por parte da Administração, de produtividade e rentabilidade. Até hoje a mola propul- sora da Administração é essa busca, a constante e necessária renovação de processos e práticas para o aumento da produtividade e da rentabilidade das empresas. Assim, não podemos,de maneira alguma, retirar o mérito de Taylor no desenvolvimento industrial da sua época e consequências decorrentes da implantação das suas ideias, por isso ele é considerado o pai da Administração ( CHIAVENATO, 2004). 2.2 Teoria Clássica Paralelamente ao desenvolvimento das ideias da Administração Científica lideradas por Taylor, nos EUA, e focadas, principalmente, na tarefa e no trabalho, surgia, na mesma época, na França, uma corrente de pensamento um pouco diferente no foco, mas também preocupada em estabelecer as bases e os princípios da Administração. O expoente dessa corrente foi Henry Fayol (1841-1925), que se dedicou a estudar a Admi- nistração, dando ênfase à estrutura. – 34 – Administração e Economia Fayol fez toda a sua carreira profissional em uma mesma empresa, a mineradora e metalúrgica francesa Comambault, chegando ao cargo de diretor-geral com a empresa em situação desastrosa. Conseguiu, ao longo do tempo, levá-la ao sucesso financeiro e administrativo. Essa carreira exitosa permitiu que, após sua aposentadoria, aos 77 anos, iniciasse a divulgação dos seus princípios baseados na sua experiência profissional de sucesso. Fundou o Centro de Estudos Administrativos, que passou a difundir suas ideias por meio de reuniões que congrega- vam industriais, militares, funcionários de governo e filósofos fran- ceses. Lecionou, também, na Escola Superior de Guerra da França e suas ideias foram adotadas na Marinha francesa. Suas análises sobre as ideias de Taylor o levaram a afirmar que eram complementares às suas (MAXIMIANO, 2010). 2.2.1 A visão de Fayol da Administração e as suas funções Na sua obra Administração geral e industrial, Fayol estabelece que administrar é uma função diferente das outras atividades de uma empresa. Seria algo diferenciado das funções de finanças, produção, comerciais ou técnicas. As funções administrativas estariam acima des- tas. O autor estabelece, ainda, que essa função administrativa envolve cinco elementos ou funções básicas inerentes ao trabalho do administra- dor: prever, organizar comandar, coordenar e controlar. Ele foi o pioneiro em estabelecer que o trabalho de administrar deveria estar desvincu- lado às demais atividades de uma empresa. Aparentemente, um conceito simples, mas que se desdobra em várias consequências essenciais ao trabalho e à importância do administrador. Dentro da ótica de Fayol, o dirigente, ao alcançar os postos mais altos na hierarquia da empresa, deveria se desvencilhar dos aspectos técnicos da produção e se dedicar às funções essenciais do administrador, citadas anteriormente. – 35 – Abordagem científica/clássica da administração Figura 2.2 Proporção da função administrativa nos níveis hierárquicos. Funções administrativas Mais altos Mais baixos Outras funções não administrativas Proporcionalidade da função administrativa nos diferentes níveis hierárquicos da empresa Ù Prever ÙOrganizar ÙComandar ÙCoordenar ÙControlar Fonte: adaptado de Chiavenato (2004, p. 64). Essa visão de Fayol é bastante atual e perspicaz, já que, a todo o momento, vemos nas organizações bons técnicos, ao serem promovidos a cargos de níveis acima na estrutura, tornarem-se maus ou totalmente incompetentes administradores, por não conseguirem se desfazer das habi- lidades técnicas dos cargos mais operacionais e não conseguirem pensar sob a ótica das funções administrativas necessárias à execução das tarefas administrativas, como pode ser visto na figura 2.2, que trata da proporcio- nalidade da função administrativa. Quanto mais altos os cargos na escala hierárquica da empresa, mais a visão do administrador deve se tornar glo- bal, no sentido da visão total da empresa, mais as funções de previsão, organização, comando, coordenação e controle da Administração devem ser feitas e menos as habilidades e funções de operação serão necessárias. Fayol tornou claro e estabeleceu as bases do atual papel dos cha- mados cargos executivos. Muitas empresas, para tentar minimizar essas dificuldades de adaptação, treinam seus chefes e administradores con- forme vão sendo promovidos, para exercer as novas funções nos cha- mados treinamentos de chefia e liderança. Essa dificuldade encontrada – 36 – Administração e Economia pelas empresas não é só vista dentro das instituições, ao serem feitas as promoções, também podem ser observadas quando um bom técnico resolve montar sua própria empresa e não consegue abandonar seu modo de raciocinar focado na produção e passar a pensar mais administrativa, estratégica e globalmente. A Administração, como uma atividade inclusa em todos os procedi- mentos humanos, seja na família, negócios ou governo, que exigissem, de alguma forma, ações de planejamento, organização, comando, coorde- nação e controle, foi uma das contribuições importantes de Fayol para a solidificação e a expansão da área. Como já visto anteriormente, Fayol apresenta o conceito de que todas as empresas têm seis funções bem definidas e atuando em conjunto, con- forme o quadro 2.1. Quadro 2.1 Funções administrativas de Fayol. Funções Responsabilidades Administrativa Coordenação das outras funções. Disposição de todos nos objetivos. Financeira Gestão dos capitais. Aplicação de recursos. Busca de recursos. Contábeis Registros e controles de custos e estoques. Balanços. Técnicas Produção de bens e serviços. Comerciais Negociação. Compra. Venda. Segurança de bens e pessoas Preservação. Proteção. Fonte: adaptado de Maximiano (2010, p. 73). A função administrativa é a que exerce o papel essencial da Adminis- tração e se coloca na cúpula das outras cinco funções. Com a evolução das atividades econômicas e empresariais, esses conceitos foram mudando – 37 – Abordagem científica/clássica da administração os nomes, adaptando-se e tornando-se mais ou menos importantes, como é o caso da função de segurança, por conta da evolução dos conceitos da Administração. Contudo, foi a partir desse conceito inicial que outros pensadores puderam evoluir para novos conceitos. Como é o exemplo da função de recursos humanos, incluída nesse rol, pela grande importância para as empresas, do fator humano e da sua gerência. Para além dessa classificação das funções empresariais, Fayol estabe- leceu qual o papel e quais as funções do administrador nas empresas. Ele verificou que o processo administrativo estava acima, coordenando todas as outras funções da empresa, e teria em sua composição os cinco elemen- tos destacados a seguir. 2 Planejar: estabelece os objetivos da empresa, especificando, tam- bém, a forma como alcançá-los. A partir de uma visão do futuro, desenvolvendo um plano de ações para atingir as metas traçadas. É a primeira das funções, servirá para operacionalizar as demais funções com a formalização das metas e forma de atuação. 2 Organizar: arranjo de todos os recursos da empresa, sejam humanos, financeiros ou materiais, alocando-os da melhor forma possível para atingir o estabelecido. 2 Coordenar: a coordenação dos esforços de toda a empresa é fundamental para implantar o planejamento e torná-lo viável para atingir as metas traçadas. 2 Comandar: é o processo de executar as tarefas pelos subordina- dos e que eles façam o que tem de ser feito. Para tal, as relações hierárquicas precisam estar bem definidas, suas responsabili- dades, amplitude de comando e relações hierárquicas e o grau de participação e colaboração de cada um para a realização dos objetivos definidos. 2 Controlar: definir os padrões e as medidas de desempenho que permitam assegurar que as atitudes empregadas serão as mais compatíveis com o que a empresa espera. O controle objetiva assegurar que tudo seja feito o mais igual possível ao que foi estabelecido. – 38 – Administração e Economia Paralelamente, Fayol refletiu sobre os conceitos de Administração e organização e suas diferenças. Para ele, seriam conceitos diferentes, sendo a Administração o mais global, incluindo um conjunto de pro-cessos i ntegrados, abrangendo os aspectos da previsão, comando e con- trole. Organização é um conceito menos abrangente, envolvendo apenas os aspectos relativos à estruturação da empresa na sua forma, portanto, fazendo parte do conceito abrangente da Administração. Para Fayol, a ideia que ele possuía sobre o funcionamento da empresa como um sistema racional de regras e autoridade, justificando sua existên- cia no fornecimento de bens e serviços aos clientes, não se aplicava apenas a organizações industriais, e, sim, a todas as empresas. Na sua visão, após a organização da empresa, os colaboradores precisam de ordens para saber o que fazer e serem coordenados da melhor maneira e com controle, para que sejam atingidos os resultados planejados. Ele criou 16 deveres específicos para os gerentes poderem exercer seu papel, contendo (MAXIMIANO, 2010): 1. preparação e planejamento cuidadosos e execução rigorosa; 2. coerência entre objetivos e recursos da empresa com a organiza- ção humana e material; 3. autoridade competente, enérgica, única e construtiva; 4. harmonização das atividades e coordenação dos esforços; 5. decisões estabelecidas de forma precisa, simples e nítida; 6. seleção do pessoal de forma eficiente e organizada; 7. obrigações definidas de forma clara; 8. encorajamento do senso de responsabilidade, bem como da ini- ciativa dos colaboradores; 9. justa e adequada recompensa pelos serviços prestados; 10. uso de sanções para erros e faltas; 11. manutenção da disciplina na organização sob sua responsabilidade; 12. interesses gerais acima dos interesses pessoais; 13. manutenção da unidade de comando; – 39 – Abordagem científica/clássica da administração 14. supervisão à ordem material e humana; 15. manutenção do controle de tudo; 16. evitar excessos de burocracia, papéis e regulamentos. 2.2.2 Os princípios da Administração segundo Fayol Completando sua obra de sistematização da Administração, Fayol, estabeleceu 14 princípios orientadores do administrador, os quais estão listados a seguir. 1. Divisão do trabalho: divisão das tarefas e especialização de pessoas em um número limitado para realizá-las, de modo a aumentar a eficiência. 2. Autoridade e responsabilidade: autoridade é o direito de dar ordens e o poder de esperar a correspondente obediência. Em contrapartida à autoridade, vem a responsabilidade de obedecer e prestar contas da execução das ordens. O equilíbrio entre a autoridade e a responsabilidade são fundamentais para o êxito da relação. 3. Disciplina: respeito aos acordos estabelecidos entre a empresa e os funcionários, mantendo a obediência a eles. 4. Unidade de comando: a cada empregado corresponde apenas um chefe e só dele deve-se receber ordens. É o princípio da autoridade única. 5. Unidade de direção: uma só orientação e plano para cada grupo de atividades que tenham o mesmo objetivo. 6. Subordinação dos interesses individuais aos interesses gerais: o interesse da empresa e dos planos sobressai e elimina interesses particulares e opiniões. 7. Remuneração do pessoal: deve ser equitativa e justa, com base em fatores internos e externos e na garantia da satisfação para os empregados e para a organização em termos de retribuição. – 40 – Administração e Economia 8. Centralização: equilíbrio entre a concentração da autoridade no topo da hierarquia da organização, sua capacidade de executar as responsabilidades a contento e a iniciativa dos subordinados. 9. Cadeia escalar: hierarquia da estrutura da empresa. A série de chefes do primeiro escalão ao último, definindo a linha de auto- ridade e responsabilidade da empresa. Princípio do comando. 10. Ordem: um lugar para cada pessoa e cada pessoa no seu lugar. Igualmente para os recursos materiais. 11. Equidade: tratamento de forma idêntica a todos, com benevo- lência e justiça sem deixar de aplicar a energia e o rigor quando necessário. 12. Estabilidade do pessoal: a manutenção das equipes promove seu desenvolvimento e gera maior eficiência, ao contrário dos impactos negativos da rotatividade. 13. Iniciativa: promoção do aumento do zelo e das atividade dos agentes e fazê-los ter iniciativas que assegurem o sucesso do planejado, dentro dos limites da autoridade e disciplina. 14. Espírito de equipe: desenvolvimento e manutenção da harmo- nia e união entre as pessoas da organização, incentivá-las a man- ter este espírito. Esses princípios foram a base para a criação da Teoria Clássica da Administração. Da mesma forma como foram lançados os princípios da Administração Científica, aqui também sobressaem os enfoques normativos e prescritivos, indicando ao administrador como deve se comportar e atuar. Sugestão de leitura Sugerimos uma pesquisa sobre os fundamentos e princípios atuais de excelência da gestão no site da Fundação Nacional da Qualidade (FNQ), disponível em: <http://www.fnq.org.br/ site/377/default.aspx> (FNQ, 2012b). A partir dessa leitura, será possível verificar a atualidade de alguns dos princípios estabe- lecidos por Fayol. – 41 – Abordagem científica/clássica da administração 2.2.3 A Teoria da Administração Mesmo com enfoques diferentes, os autores clássicos pretenderam criar uma teoria administrativa consistente e científica, baseada nos con- ceitos principais da divisão do trabalho, da especialização nas tarefas e nos trabalhadores, na coordenação por parte dos superiores hierárquicos e na separação das atividades de linha e staff. Figura 2.3 Desdobramento da abordagem clássica da Administração. Abordagem clássica Administração Científica Ênfase tarefas Teoria Clássica Ênfase estruturas Fonte: adaptado de Chiavenato (2001a, p. 54). Apesar das visões diferentes resumidas por meio da figura 2.3, Taylor e Fayol complementaram-se em seus conceitos e abordagens e o conjunto das suas visões deu o corpo necessário à criação da Teoria Administrativa. Como podemos ver no quadro 2.2, a seguir, nem uma nem outra abor- dagem seriam suficientes por si só, pois uma atende, preferencialmente, à parte operacional e à outra o restante administrativo, dando o enfoque completo a uma empresa. Quadro 2.2 Enfoques de Taylor e Fayol. Administração científica Administração clássica Precursor Frederick Taylor. Henri Fayol. Origem Chão de fábrica. Gerência administrativa. Ênfase Adoção de métodos racionais e padronizados; máxima divi- são de tarefas. Estrutura formal da empresa; adoção de príncipios adminis- trativos pelos altos escalões. Enfoque Produção. Gerência administrativa. Fonte: adaptado de Chiavenato (2004, p. 74). – 42 – Administração e Economia Todos os autores da Teoria Clássica foram unânimes em afirmar o estudo e a atenção da Administração cientificamente, em contraponto ao empirismo e à improvisação existente na época, introduzindo a técnica científica. O que se pretendia era a criação da “Ciência da Administração”, exigindo-se, portanto, um método de ensino organizado e sistemático para a formação dos administradores, a exemplo das outras profissões baseadas na ciência. Em relação à organização, a Teoria da Administração a estabeleceu como uma série de cargos e órgãos arrumados de forma estruturada, de tal modo dispostos que as funções organizacionais pudessem ser feitas de maneira a inter-relacionar essas partes separadas entre si e os objetivos globais como um todo. Aqui vemos uma forte influência das antigas estruturas organizacio- nais, principalmente a militar e a eclesiástica, muito rígidas, tradicionais e hierarquizadas, mantendo, ainda, uma forte ligação com o passado. Não podemos tirar o mérito das teorias clássicas de salvar as empresas do caos primitivo em que se encontravam, ainda sob forte influência da Revolução Industrial. No entanto, sob o aspecto exclusivamente das organizações e a forma como se reúnem as partes dessa organização em torno do obje- tivo geral, nada se avançou para além da imitação das estruturas militares e eclesiásticas, com forte ênfase na hierarquia e na cadeia de comando.Podemos entender uma organização como a forma de associação em torno de um objetivo comum na qual os seres humanos correspondem-se. Temos, portanto, a caracterização de uma organização por um fim comum e a forma da associação. Um implica o outro e vice-versa, a forma de asso- ciação vai ou não facilitar o atendimento do fim comum. A estrutura organizacional e a forma como é montada dão o tom de como a empresa vai funcionar. É a estrutura que estabelece a cadeia de comando, a linha de autoridade entre as posições da organização, a res- ponsabilidade de cada uma na estrutura e as responsabilidades atribuí- das a cada posição, a cadeia de comando ou cadeia escalar estabelecida pela estrutura da organização, de acordo com os princípios estabelecidos na época, deve basear-se no princípio da unidade de comando, um só comando superior para cada nível ou escala inferior. – 43 – Abordagem científica/clássica da administração Outro ponto fundamental para a criação da ciência da Administração foi o princípio da especialização e da divisão do trabalho. A divisão clara e definida do trabalho caracteriza uma organização. Essa divisão é a base e a essência da organização e a fonte orientadora para a montagem da estru- tura. Ela conduz a uma diferenciação das tarefas e à quebra da homoge- neidade. Nesse aspecto, o pensamento da época era de que, quanto maior a divisão do trabalho, maior a possibilidade de treinamento e especialização e, em consequência, seria obtida uma maior produtividade e eficiência. Para os clássicos, a divisão do trabalho poderia se dar em duas dire- ções, como veremos a seguir. 1. Vertical, de acordo com os níveis hierárquicos de autoridade e responsabilidade. É a hierarquia quem estabelece os graus de responsabilidade de cada cargo. Quanto mais alto na escala hie- rárquica, maior a responsabilidade. Quanto mais definidas as linhas de autoridade, mais eficientes seriam as organizações. Para definir a autoridade hierárquica e de comando entre um superior e o subordinado, dá-se o nome de autoridade de linha. 2. Horizontal, de acordo com as atividades da organização. Usando o conceito da especialização do trabalho e o princípio da homo- geneidade das tarefas aglutinadas. Em cada nível hierárquico as atividades são designadas para departamentos ou seções especí- ficas de forma homogênea. A divisão do trabalho, na horizontal e de acordo com os critérios de homogeneidade, é chamada de departamentalização e pode ser de vários tipos, como veremos mais adiante (CHIAVENATO, 2004). Um dos elementos incluídos por Fayol no rol dos elementos funda- mentais para a Administração foi o princípio da coordenação. Para o teó- rico, a coordenação é a unificação de esforços e atividades, de maneira harmônica, reunindo em torno dos objetivos os esforços comuns. Pode- mos, ainda, definir coordenação como a orientação de todos os envolvidos na obtenção de um alvo ou de um objetivo a ser alcançado. Para alguns autores, a coordenação é obrigatória para o sucesso das organizações. A premissa básica era que, quanto maior fosse a organização da divisão – 44 – Administração e Economia do trabalho, tanto vertical como horizontal, maior seria a necessidade de coordenação para que se conseguisse a eficiência do todo organizacional. Um ponto enfatizado na Abordagem Clássica da Administração é a estruturação de forma simples da organização, por meio da organização linear. Esse tipo de organização baseia-se em quatro princípios adminis- trativos, apresentados a seguir. 1. Unidade única e supervisão única: cada subordinado responde unicamente a apenas um superior. 2. Unidade de direção: os objetivos da organização devem orientar a elaboração de todos os planos inferiores, para que a união des- tes formem planos superiores e maiores. 3. Centralização da autoridade: a autoridade máxima da organiza- ção deve se concentrar no seu topo escalar. 4. Cadeia escalar: a autoridade deve se estruturar de forma escalar, em níveis hierárquicos, nos quais uma autoridade, associada a um nível hierárquico, subordina-se a um nível hierárquico supe- rior, até o topo em que se concentraria a autoridade máxima. Esse tipo de organização toma a forma de uma pirâmide. Nesse ponto, encontramos divergências entre os seguidores da Administração Científica, que preconizavam a autoridade funcional, devido ao seu foco essencial na tarefa. Já os seguidores da Teoria Clássica, por partirem do topo da estrutura para o detalhe, discordavam da organização funcional porque esse tipo de organização ia contra o princípio da unidade de comando; cada subordi- nado teria vários superiores de acordo com o tipo de assunto a ser analisado. Nesse aspecto, passam a ser definidos três tipos de formatação das organi- zações. A organização linear, em que se estabelece o princípio da unidade de comando de forma rígida. Para que esses departamentos possam exercer suas atividades a con- tento, surge a necessidade de criar a organização de apoio a essas ativi- dades fim, os órgãos de staff, ou de apoio, assessoria, fornecedores de serviços, recomendações, apoio e aconselhamento aos órgãos de linha, já que estes não têm a condição de prover este tipo de serviço. Os serviços fornecidos por esses órgãos de apoio não podem ser impostos aos órgãos – 45 – Abordagem científica/clássica da administração de linha, serão apenas oferecidos. Assim, surgem dois tipos de autoridade: a de linha, na qual existe a autoridade formal dos gerentes com poder para dirigir e controlar os subordinados imediatos, e a autoridade de staff, atri- buída aos especialistas, não tem poder nem autoridade, apenas aconselha, orienta e recomenda aos gerentes de linha, das suas áreas de especializa- ção, como poderiam conduzir suas ações no que tange ao assunto especí- fico de conhecimento do staff. 2.3 Os seguidores das ideias iniciais Paralelamente aos dois maiores expoentes da Administração Clás- sica, outros pesquisadores tiveram papel de destaque no desenvolvimento das ideias iniciais do movimento da criação da Administração Científica e na sua aplicação na melhoria da eficiência das empresas da época. Alguns deles foram fundamentais no mundo da Administração e mudaram com- pletamente a forma como as indústrias passaram a trabalhar, como é o caso de Henry Ford. Por outro lado, é importante realçar que, sendo Taylor o pioneiro da Administração Científica, não podemos esquecer nomes importantes que, antes dele, já tinham implantado práticas de Administração ou escrito sobre o assunto. É o caso de Adam Smith, da Inglaterra, que, em 1776, com seu livro A riqueza das nações, fala da divisão do trabalho e da espe- cialização do trabalhador como meios de obter mais produtividade. 2.3.1 Os seguidores de Taylor Como já afirmamos, é necessário mencionar que, antes de Taylor, outros nomes já vinham demonstrando iniciativas no sentido da sistemati- zação e padronização das práticas do trabalho e da Administração, no fim do século XVIII. Para resolver problemas nas oficinas sob seu comando, o capitão Henry Metcalfe (1847-1917) , do Arsenal Armado Frankford (EUA), publicou seus métodos para melhorar os processos de produção das Oficinas Públicas. No segundo caso, o de Henry Towne (1844-1924), alguns autores dizem até que foi um forte influenciador das ideias de Taylor, pois ambos conviveram tanto na Midvale Steel Co., na qual Taylor – 46 – Administração e Economia teve o apogeu da sua carreira, como na Sociedade Americana de Enge- nheiros Mecânicos, em que chegou a ser presidente. Towne propôs que a administração de fábrica tivesse a mesma importância da administração da engenharia e que a Sociedade Americana de Engenheiros Mecânicos tivesse papel de liderança na implantação do modelo de empresas com a engenharia e a administração juntas nas práticas de fábrica, sugestão aceita pela Sociedade anos depois (SILVA, 2005). Independentemente da importância que Taylor teve na liderança da Sociedade Americana de Engenheiros
Compartilhar