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Movimentoantivacinaensino-Silva-2022

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENSINO DE CIÊNCIAS E 
MATEMÁTICA 
 
 
 
 
 
 
MOVIMENTO ANTIVACINA E O ENSINO DE CIÊNCIAS: CARACTERIZAÇÃO DE 
ASPECTOS HISTÓRICOS, SOCIAIS E PERCEPÇÕES DE LICENCIANDOS EM 
CIÊNCIAS BIOLÓGICAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NATAL /RN 
2022 
 
WILLIANNE KELLE TAVARES SILVA 
 
 
 
 
 
MOVIMENTO ANTIVACINA E O ENSINO DE CIÊNCIAS: CARACTERIZAÇÃO DE 
ASPECTOS HISTÓRICOS, SOCIAIS E PERCEPÇÕES DE LICENCIANDOS EM 
CIÊNCIAS BIOLÓGICAS 
 
 
 
 
 
 
Dissertação apresentada ao Programa de Pós- 
Graduação em Ensino de Ciências e Matemática 
como requisito parcial para obtenção de título de 
Mestre em Ensino de Ciências e Matemática. 
 
Orientador: Profº Drº Melquesedeque da Silva Freire 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 NATAL /RN 
 2022 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN 
Sistema de Bibliotecas - SISBI 
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Central Zila Mamede 
 
 
 
 
 
 
 Silva, Willianne Kelle Tavares. 
 Movimento antivacina e o ensino de ciências: caracterização de 
aspectos históricos, sociais e percepções de licenciandos em 
ciências biológicas / Willianne Kelle Tavares Silva. - 2022. 
 126 f.: il. 
 
 Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do 
Norte, Centro de Ciências Exatas e da Terra, Programa de Pós-
Graduação em Ensino de Ciências e Matemática, Natal, RN, 2022. 
 Orientador: Prof. Dr. Melquesedeque da Silva Freire. 
 
 
 1. Vacinas - Dissertação. 2. Movimento antivacina - 
Dissertação. 3. Ensino de ciências - Dissertação. I. Freire, 
Melquesedeque da Silva. II. Título. 
 
RN/UF/BCZM CDU 615.371 
 
 
 
 
 
Elaborado por Ana Cristina Cavalcanti Tinoco - CRB-15/262 
 
RESUMO 
 
As vacinas foram fundamentais para o controle e erradicação de epidemias e 
pandemias na história humana sendo, portanto, indispensáveis à saúde pública e ao 
bem-estar individual e coletivo. Em contrapartida, a hesitação e movimentos 
antivacina, tais como os observados na Revolta da Vacina (1904) e no contexto atual 
da pandemia de Covid-19 influenciam os índices de coberturas vacinais e levantam 
outras preocupações relativas a aspectos sociais e educacionais. Diante da 
problemática, este trabalho buscou compreender aspectos do movimento antivacina 
e suas implicações para o ensino de ciências a partir do exame dialógico de dados da 
literatura e da percepção de licenciandos de biologia sobre a temática. A consulta à 
literatura sobre o tema contribuiu para a definição do aporte teórico de aproximação 
ao objeto de estudo, evidenciando também o caráter multifacetado do problema. A fim 
de levantar dados empíricos que contribuíssem com as análises foi realizada uma 
experiência formativa com licenciandos de ciências biológicas da Universidade 
Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), desenvolvida em um conjunto de atividades 
didático-pedagógicas na modalidade de ensino remoto. Os encontros foram gravados 
e os registros orais e escritos produzidos nas interações discursivas foram transcritos, 
organizados e analisados por meio da Análise Textual Discursiva (ATD). Os 
resultados sugerem que os licenciandos reconhecem a relevância da imunização, as 
influências que afetam a decisão vacinal, a atuação do professor e o ambiente escolar. 
Entretanto, aspectos históricos, epistemológicos e de natureza da ciência 
relacionados à temática abordada foram menos evidentes na perspectiva de análise 
dos participantes, destacando a necessidade de se problematizar e dar ênfase a 
essas questões no ensino e na formação docente, de modo a contribuir para a 
construção de conhecimentos mais amplos acerca da vacinação e de como decisões 
mais bem fundamentadas podem ser tomadas sobre o tema. 
Palavras-chave: vacinas; movimento antivacina; ensino de ciências 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
Historically, vaccines have been successfully used to control and eradication of 
epidemics and pandemics and, therefore, essential to public health and individual and 
collective well-being. On the other hand, hesitation and anti-vaccine movements such 
as, Brazil’s 1904 Vaccine Revolt and currently in the Covid-19 pandemic, influence 
vaccination coverage rates and bring other concerns regarding to social and 
educational aspects. Thus, this work aimed to understand aspects of the anti-vaccine 
movement and its implications for Science Teaching, based on a dialogic examination 
literature data and biological sciences undergraduates’ perception on this issue. A 
literature review on the subject was crucial to define the theoretical framework to 
approach our study and also pointed out its multifaceted character. In order to gather 
empirical data that could support the analysis, an educational intervention was carried 
out in a remote teaching scenario with biological sciences undergraduates at Federal 
University of Rio Grande do Norte (UFRN). Discursive interactions during the meetings 
were recorded in audio and video subsequently analyzed by using Textual Discourse 
Analysis. Findings suggest that undergraduates recognize the importance of vaccines 
and its immunological action, the potential influences that affect vaccines decision-
making, misunderstanding as a factor of vaccine acceptance or rejection, and that 
science teachers have a relevant social role regards to this issue. Nevertheless, 
historical, epistemological and nature of science aspects related to the topic addressed 
were least evident from the perspective of the participants’ analysis, highlighting the 
need for problematizing these issues in both science teaching and teacher education, 
in view of contribute to building of a wider knowledge about vaccination and on how 
well-founded decisions can be made on the subject. 
KEY WORDS: vaccines; anti-vaccine movement; science teaching 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ILUSTRAÇÕES (figuras e quadros) 
 
FIGURAS 
Figura 1 – Resumo do processo de categorização segundo a hesitação dos 
antivacinas da Covid-19..............................................................................................43 
Figura 2 –Sistema Circulatório da Ciência (Adaptado de Latour, 1999b) .................47 
Figura 3 - Resumo das atividades desenvolvidas..................................................... 50 
Figura 4 - Modelo do questionário utilizado como atividade no Encontro 2...............51 
Figura 5 – Momento de exibição do vídeo no Encontro 2..........................................52 
Figura 6 - Momento de apresentação das imagens e socialização das observações 
durante o Encontro 3..................................................................................................53 
Figura 7 - Posters utilizado na atividade do Encontro 4.............................................54 
Figura 8 – Resumo da coleta de dados realizada nos encontros 2, 3 e 4.................55 
Figura 9 - Exemplo de codificação dos fragmentos de textos....................................57 
Figura 10 – Unidades de Significados às categorias iniciais correspondentes..........58 
 
Figura 11 – Unidade de análise com mais de um sentido..........................................60 
 
Figura 12 – Etapa de agrupamento das unidades de significados em categorias iniciais 
e a categoria final correspondente..............................................................................60 
 
Figura 13 - Resumo de sequência de eventos considerando a Revolta da Vacina 
(1904) ........................................................................................................................76 
 
QUADROS 
Quadro 1 - Relação das vacinas de acordo com data de descoberta ou de uso 
clínico.........................................................................................................................22Quadro 2 – Tipos de imunobiológicos (vacina) com o período de criação, doses, e 
faixa etária, sexo e condição de gestação..................................................................25 
Quadro 3 – Códigos das unidades de significados, sentido/significado, título e 
quantidade de unidades..............................................................................................59 
 
Quadro 4 – Posicionamentos dos licenciandos sobre a relevância da imunização....61 
Quadro 5 - Posicionamentos dos licenciandos em relação as influências que afetam a 
decisão.......................................................................................................................67 
Quadro 6 – Posicionamentos dos licenciandos sobre a atuação do professor no 
contexto de movimentos antivacinas (classificação em subcategorias) 
....................................................................................................................................79 
Quadro 7 – Posicionamentos dos licenciandos sobre os diversidade de papéis do 
professor.....................................................................................................................80 
Quadro 8 – Posicionamentos dos licenciandos sobre a atuação do professor e a 
necessidade de conhecimentos conceituais de ciências e biologia............................83 
Quadro 9 – Respostas dos licenciandos sobre a atuação do professor na 
contextualização histórico e 
social..........................................................................................................................84 
Quadro 10 - Posicionamentos dos licenciandos relacionados às 
ações/comportamentos..............................................................................................85 
Quadro 11 - Posicionamentos dos licenciandos sobre o ambiente 
escolar........................................................................................................................86 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho a todxs os meus 
colegas professores de ciências e biologia, 
que se dedicam a valorização da ciência e 
resistem em meio aos percalços da 
profissão. 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Minha gratidão a Deus por acreditar que Ele me ama e quer o melhor para mim. 
À minha família, por acreditar nas minhas capacidades, por todo o suporte para 
que eu alcance os meus objetivos, pelas palavras de incentivo e confiança. Em 
especial a mainha, Girlene Cristina Tavares Silva e a painho Wellder Kleiber Silva por 
serem o meu tudo, por darem o máximo de si pela minha vida. Hoje, sou o que sou 
devido a vocês. À minha irmã, Gabrielle e seu esposo Jhonatas, pela amizade e 
companheirismo. Ao meu sobrinho, Miguel, obrigada por florir a minha vida. Ao meu 
noivo, Felipe, por ser um dos que mais me instiga a buscar o melhor, obrigada por 
tudo. Sem vocês, tudo seria mais difícil! 
Aos meus avós (Joaquim e Arlinda) por compreenderem as minhas ausências. 
Também a Larissa, pela companhia em todos os momentos. A todos os meus amigos 
da vida, em especial, Rosani e Letícia, minha eterna gratidão. 
À Comunidade Caminhando para Santidade a qual Deus me chamou para doar 
a minha vida, obrigada pelas orações e apoio. Em especial, a Cristiane (in memorian), 
Izabel, Denise, Eduarda Kallyne e a todos os meus irmãos consagrados, obrigada por 
compartilhar o SIM comigo. 
Gostaria de agradecer ao meu orientador Melquesedeque da Silva Freire por 
acreditar em mim, pela paciência e cuidado. O senhor que me apoiou desde o início, 
enxergando o que não conseguia, meu muito obrigada para todo sempre. 
Gratidão à professora Márcia Gorette que é um exemplo de ser humano e 
profissional, obrigada pelo acolhimento no início desse caminho. Aos demais 
professores do PPgECM da UFRN por todo conhecimento compartilhado, pelas 
marcas de saber deixadas em minha memória. 
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) 
pela concessão de bolsas de estudos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“É justo que muito custe o que muito 
vale” 
Santa Tereza D’Ávila 
 
SUMÁRIO 
 
 
Introdução.................................................................................................................13 
Capítulo 1. Vacinas: aspectos do desenvolvimento histórico e importância 
social.........................................................................................................................17 
1.1. Um breve caminho sobre a origem das vacinas............................................17 
1.2. Relevância da vacinação para a saúde pública.............................................21 
1.3. Episódios de resistência e movimentos antivacina......................................28 
 Movimento Antivacina no contexto da “Revolta da Vacina (1904)”.................33 
 Aproximação à pandemia da Covid-19............................................................35 
Capítulo 2. O papel e a importância do Ensino de Ciências em consideração ao 
movimento antivacina.............................................................................................37 
Capítulo 3: Metodologia..........................................................................................47 
3.1 Natureza da pesquisa........................................................................................48 
3.2 Contexto da investigação empírica..................................................................48 
3.3 Coleta de dados..................................................................................................55 
3.4 Organização e Análise dos dados....................................................................55 
3.5 Descrição da codificação das fragmentações dos 
textos.........................................................................................................................57 
3.6 Das Unidades de Significados às categorias finais........................................57 
Capítulo 4: Resultados e Discussão.......................................................................61 
4.1 Relevância da imunização.................................................................................61 
4.2 As influências que afetam a decisão................................................................67 
4.3 Atuação do professor........................................................................................78 
 Diversidade de papéis.....................................................................................80 
 Conhecimentos conceituais.............................................................................82 
 Contextualização histórico e social..................................................................84 
 Ação/comportamento.......................................................................................85 
4.4 Ambiente escolar................................................................................................86 
4.5 Considerações das análises: novas compreensões.......................................88 
Conclusão.................................................................................................................94 
Referências...............................................................................................................98 
ANEXO 1 – CHARGE UTILIZADA DO MOVIMENTO: REVOLTA DA VACINA 
(1904).......................................................................................................................106 
ANEXO 2 – IMAGENS UTILIZADAS NA ATIVIDADE 03.......................................107 
APÊNDICE I – RESULTADOS DAS ATIVIDADES DO ENCONTRO 3..................111 
APÊNDICE II – CÓDIGOS DAS UNIDADES DE SIGNIFICADO E CATEGORIAS 
INICIAIS, ATRIBUIÇÃO DOS TÍTULOSE QUANTIDADE DE US.........................112 
APÊNDICE III – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO TERMO DE 
CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – TCLE..........................................116 
APÊNDICE IV – TERMO DE AUTORIZAÇÃO PARA GRAVAÇÃO DE VOZ E/OU 
REGISTRO DE IMAGENS (FOTOS E/OU VÍDEOS)..............................................119 
APÊNDICE V– PARECER CONSUBSTANCIADO CEP/UFRN.............................121 
 
 
 
13 
 
Introdução 
 
 O presente trabalho tem razões que fomentam a minha trajetória pessoal e 
formativa que contribuíram para o meu interesse na área. Diante disso, há a 
necessidade de revisitar os eventos que marcaram o caminhar e culminaram para a 
realização desta pesquisa. 
 Anterior ao meu ingresso no curso de mestrado no Programa de Pós-
Graduação em Ensino de Ciências e Matemática – PPGECM na Universidade Federal 
do Rio Grande do Norte - UFRN, realizei o curso de Licenciatura Plena em Ciências 
Biológicas na UFRN. 
 Acerca da minha formação inicial, licenciatura em ciências biológicas, destaco 
a minha trajetória desenvolvida ao longo dos cinco anos. No início da graduação, fiz 
parte do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – PIBID/BIOLOGIA, 
na qual permaneci por pouco tempo decorrente de questões pessoais, porém, pude 
participar das reuniões e andamentos de projetos que estavam sendo desenvolvidos 
naquele período, assim como, compreender as dimensões que estruturavam o 
Programa. A partir da breve experiência, pude observar elementos da prática docente 
e o que estava relacionado com o ambiente escolar, e que considero de grande valia 
o pouco tempo em que permaneci ao Programa. 
 O contato com as disciplinas de bases educacionais e os estágios 
supervisionados tiveram influências para a minha permanência como futuro docente. 
As discussões em sala de aula sempre me fizeram refletir sobre o papel e importância 
do professor, o quão era complexa a sua atuação, relacionadas as variadas 
deficiências e limitações de formação, por exemplo. Além disso, os desdobramentos 
em uma sociedade massacrante, que fere, julgam àqueles que contribuem para a 
formação de muitos. A maioria dos estágios foi realizada em escolas estaduais do 
município de Parnamirim/RN, com exceção de um deles, o qual realizei em espaço 
não formal de ensino (Museu Câmara Cascudo) decorrente de uma greve no âmbito 
da educação do estado do Rio Grande do Norte na época. No geral, observei aspectos 
 
14 
 
normativos, pedagógicos, estruturais, organizacionais que desafiam a prática 
docente. 
 Paralelo às experiências vivenciadas através da grade curricular do curso, fui 
bolsista de iniciação científica (IC) durante a metade do curso até a sua finalização no 
Laboratório de Estudos em Biotecnologia Vegetal. Desenvolvi trabalhos sobre 
análises bioquímicas de plântulas, mais especificamente, o girassol, uma das 
oleaginosas importante como uma alternativa econômica de biocombustíveis. Aprendi 
muito e, ao mesmo tempo, era uma vida intensa, entre executar protocolos 
experimentais, leituras e obtenção de resultados. Entre os anos de 2017 e 2019, 
apresentei os trabalhos desenvolvidos durante a Semana de Ciência, Tecnologia e 
Cultura – Cientec/UFRN. Como resultado de iniciação científica publiquei um trabalho 
de coautoria na área em questão junto com os meus colegas de laboratório e o 
professor responsável. Mais tarde, os rumos acabaram me levando para outro destino, 
ao ingresso na pós-graduação a nível de mestrado no PPGECM. 
 Sob a orientação do professor Drº Melquesedeque da Silva Freire, pude 
investigar, refletir e desenvolver sobre os aspectos relacionados à pesquisa, bem 
como, sobre a minha prática docente. Por ele fui acompanhada na docência assistida 
na disciplina de Instrumentação para o Ensino de Química I ofertada através da 
Educação à Distância (EAD). Nela, pude compreender algumas perspectivas do 
Ensino Superior e os possíveis desafios do EAD. 
 No início do curso, a professora Márcia Gorette me abraçou em seu grupo de 
pesquisa (Argec) e as reuniões que participei deixaram marcas significativas quanto 
à literatura e o gosto também pela argumentação científica no Ensino de Ciências, 
que por sua vez, está estreitamente conectado com o letramento científico. Isso me 
leva a enxergar uma das ferramentas para alcance quanto a formação do sujeito 
cidadão, um dos objetivos do Ensino de Ciências. Nas reuniões, pude perceber que 
todos pesquisavam com intensa satisfação sendo felizes com o que trabalham. Isso, 
trouxe para as minhas formações pessoal e profissional, inserido no fazer pesquisa. 
Entretanto, com o andamento das disciplinas e objeto de estudo pessoal tornou 
inviável a participação. 
 
15 
 
 De algum modo, a minha intenção sempre foi unir aspectos da Natureza da 
Ciência com o Ensino de Ciências e/ou Biologia, porém, não sabia como proceder. 
Com as poucas experiências no ensino, o meu olhar se atentava a tal questão e urgia 
para investigações nesse sentido; algo que envolvesse questões históricas e/ou 
filosóficas. Ingressei no curso de mestrado no ano de 2020 e todos os olhares estavam 
voltados para a pandemia e a instabilidade causada pelo novo coronavírus. Vivíamos 
um momento crítico de saúde pública que afetou os diversos setores da sociedade 
mundial (político, econômico, educacional, científico, social, entre outros). 
 Ao tratar sobre ciência e entendendo que vacina é um resultado de uma prática 
científica relacionada diretamente ou indiretamente aos setores que constitui a 
estrutura da sociedade, me debrucei a buscar de forma breve os elementos envolvidos 
com as resistências associados ao movimento antivacina. Compreendendo também, 
em partes, como essa problemática surge na formação inicial, pois me leva a entender 
que existem aspectos históricos e sociais envolvidos. 
 Diante do cenário vivido acerca da pandemia da Covid-19 e as associações 
com as diversas problemáticas envolvidas com a produção e eficácia de uma vacina 
que correspondesse positivamente ao novo coronavírus, surgia, ao mesmo tempo, 
controvérsias acerca do êxito, do tempo de produção, aplicação e atuação, 
especulações sobre a diversidade de laboratórios e “marcas” das vacinas, a 
insegurança e/ou não aceitação em relação às recomendações dos órgãos 
competentes de saúde e os protocolos de biossegurança. Informações essas 
propagadas e direcionadas de diferentes origens, as quais com seus impactos 
fragilizaram decisões dividindo opiniões sobre a vacinação no mundo global, 
contribuindo e fortalecendo o movimento antivacina. 
Acredito no quão é valioso a temática por envolver uma complexidade de 
questões e que como professora de ciências considero a docência como ferramenta 
de auxílio no combate ao negacionismo científico fortemente visível nos dias de hoje 
em relação à vacinação. Não assumo a Ciência como a detentora do conhecimento 
pronto e acabado, mas, acredito na sua transformação sempre que houver 
necessidade. Pois, a prática científica é envolvida por diversas articulações humanas 
e não-humanas que depende de relações complexas e difusas e não se restringe aos 
 
16 
 
espaços de laboratório e àqueles que fazem parte diretamente (Lima et.al.,2019). 
Compreendendo a importância da vacinação como fruto da prática científica e 
destacando o papel do Ensino de Ciências como subsídio das informações coerentes 
desde a educação básica, se faz necessário o olhar atento para a problematização do 
movimento antivacina e os aspectos históricos e sociais envolvidos, como maneira de 
reflexão. 
Dada a questão de pesquisa que norteia este trabalho, isto é, “Como a 
problematização do movimento antivacina em seus aspectos históricos e 
sociais pode contribuir para reflexões sobre o papel, importância e limitações 
do Ensino de Ciências?”, e com a finalidade de investigar e responder a nossa 
interrogação, o objetivo geral dessapesquisa é: 
Compreender aspectos do movimento antivacina e suas implicações para o ensino 
de ciências, a partir do exame dialógico de dados da literatura e da percepção de 
licenciandos de biologia sobre a temática. 
Assim, planejamos os seguintes objetivos específicos: 
1) Caracterizar elementos característicos do movimento antivacina, em seus aspectos 
históricos e sociais, à luz de publicações científicas relacionadas ao tema; 
2) Analisar possíveis relações de aspectos do movimento antivacina e as ideias 
expressas por licenciandos em ciências biológicas acerca da problemática em estudo; 
3) Identificar potenciais contribuições que a problematização do movimento antivacina 
pode apresentar para o ensino e a formação inicial de professores de ciências. 
Desta forma, dividimos este trabalho em 4 (quatro) capítulos como descritos 
abaixo. 
No primeiro capítulo da dissertação são discutidos aspectos históricos do 
desenvolvimento e uso das vacinas, sua importância para a saúde humana, bem 
como dos movimentos de resistência e hesitação que acompanharam esse processo, 
destacando-se, o contexto da “Revolta da Vacina”, que marcou o Brasil no início do 
século XX, finalizando com uma aproximação mais recente à pandemia da COVID-19 
 
17 
 
e os indícios de resistência às vacinas manifestados em diferentes meios e discursos 
mais recentes. 
No capítulo 2 (dois) são discutidos aspectos do papel da Educação em Ciências 
a partir da problemática dos movimentos antivacina e os desafios que esse tema 
introduz para o ensino e para a formação de professores na área. 
No capítulo 3 (três) é apresentado o percurso metodológico da pesquisa, o 
contexto de levantamento de dados empíricos e o referencial teórico utilizado para a 
organização e análise dos dados. 
No capítulo 4 (quatro) são discutidos os resultados e as principais conclusões 
do estudo, construídas a partir das análises. 
Capítulo 1. Vacinas: aspectos do desenvolvimento histórico e importância 
social 
1.1. Um breve caminho sobre a origem das vacinas 
Com base em fontes secundárias de pesquisa, este item visa apresentar um 
panorama acerca da origem da primeira vacina diante de um contexto histórico de 
saúde pública a partir do surgimento da varíola e seus impactos causados na época. 
A partir dela, pode ser perceptível o início no que se refere à imunização por 
vacinação. Em seguida, brevemente, há o destaque de outras vacinas desenvolvidas 
ao longo da história e suas implementações. Sabe-se que a vacinação contribui 
significativamente para os índices de saúde. É importante salientar que a primeira 
parte deste capítulo não tem a finalidade de abordar critérios historiográficos 
específicos que impliquem nas perspectivas de História da Biologia e Medicina, 
apenas apresenta menções sobre as vacinas de modo geral para acompanhamento 
e situação de sua trajetória como prática científica e importância para o bem-estar 
individual e coletivo. 
A busca pela imunização surgiu a partir da necessidade de diminuir a 
mortalidade causada por doenças infecciosas que arruinavam socialmente o mundo. 
Diante dessa necessidade, por melhores condições de existência humana e a 
 
18 
 
diminuição dos impactos ocasionados pelas epidemias, a humanidade percorreu em 
direção a produção das vacinas (LAROCCA & CARRARO, 2000). 
Ao trilhar a história das vacinas em suas origens, partimos para a época de 
uma das maiores pandemias existente. Nesse sentido, nos referimos à varíola. 
Moléstia infecciosa grave causada pelo Poxvirus variolae, resultando em 
febre alta vômitos, dores generalizadas e principalmente pelo aparecimento 
de bolhas, que deixam cicatrizes pelo corpo (BERTOLLI FILHO, 2006, p.07). 
A varíola também é caracterizada como uma virose altamente contagiosa que 
se espalhou mundialmente por volta do século XVIII, sendo responsável por elevados 
números de mortes ao longo da história humana, embora as primeiras evidências 
tenham sido datadas ainda no século III em múmias egípcias. De acordo com 
Fernandes (1999, p. 11) a varíola dizimou populações ao longo dos séculos, deixando 
marcas físicas e sociais. Até o presente momento, a vacina contra a varíola é 
considerada a “a primeira iniciativa frutífera em direção ao controle imunitário das 
doenças infecciosas” (LAROCCA; CARRARO, 2000, p.43). 
Durante a idade média, remédios à base de ervas foram utilizados como cura 
e prevenção da varíola. Na época, o médico Sydenham, acreditava que a cura se dava 
pela transferência de calor e por isso, as janelas deveriam ficar abertas (RIDEL, 2005) 
A partir de evidências de experimentos iniciais foi constatado a ausência do 
reaparecimento de algumas doenças em indivíduos previamente infectados. Na 
China, crostas da varíola foram dessecadas e pulverizadas e, posteriormente, 
inaladas, favorecendo a compreensão em relação às infecções contra a doença 
(CALLENDER, 2016). Lady Mary Wortley Montagu1 1verificou que a doença poderia 
ser evitada a partir da inoculação de líquido extraído de crostas de varíola de indivíduo 
infectado na pele de indivíduo sadio (FEIJÓ; SÁFADI, 2006). Montangu foi uma das 
pioneiras no desenvolvimento da técnica de inoculação. Apesar disso, sua 
contribuição foi, praticamente, esquecida. Mais tarde, esse processo se chamou de 
 
1 Foi pioneira nas técnicas de inoculação no que se de refere a vacinação. Baseou seus experimentos na 
observação de uma técnica usada por mulheres turcas para proteger as crianças da varíola. Ela definiu as bases 
para a descoberta de Jenner. 
 
19 
 
“variolação” e foi utilizado na Europa Ocidental, Inglaterra e Estados Unidos (FEIJÓ; 
SÁFADI, 2006). 
Embora tenha sido realizada por diferentes técnicas, mas com o mesmo 
objetivo de proteger os indivíduos de formas graves da doença, a variolação, era uma 
prática insegura que poderia ter consequências graves ou dar abertura para o 
surgimento de outras doenças (CUNHA, et al. 2009). 
As investigações sobre vacinas ganharam força em 1796 com o médico 
britânico Edward Jenner. Ele inoculou material de vaca infectada por varíola (cowpox) 
em uma criança de 8 anos, Jammy Phipps, após observar que trabalhadores da zona 
rural, especialmente mulheres que ordenhavam vacas não contraíam a doença ao ter 
contato com o animal infectado (LESSA; DÓREA, 2013; CALLENDER, 2016), ou 
tinham apenas sintomas brandos e rápida recuperação quando contaminadas. 
De acordo com Mello e Gervitz (2020), esse fato ocorreu após as experiências 
de Benjamin Jetsy, um fazendeiro inglês da época. Ele observou que as pessoas que 
tinham contato com a varíola bovina não contraíam a varíola humana. Segundo os 
relatos, utilizou uma agulha de tricô nas bolhas dos contaminados e fez perfurações 
nos braços dos familiares para o contato com o líquido. Portanto, o que Jenner fez foi 
a repetição de experimentos anteriormente executados. 
Segundo Rezende et al. (2002), Jenner repetiu os experimentos várias vezes 
por dois anos com a obtenção dos mesmos resultados. Inicialmente, houve repulsa 
quanto a pesquisa de Jenner, tendo em vista a técnica utilizada que não foi aceita 
facilmente (LAROCA; CARRARO, 2000), pois existiam resistências de caráter 
religioso e filosófico. Porém, mais tarde, seu trabalho foi reconhecido e publicado. Tais 
investigações proporcionaram o avanço na imunização, sendo considerada uma das 
maiores conquistas de saúde pública (DUBÉ; VIVION; MACDONALD, 2015). 
A origem da palavra “vacina” se dá pela tradução latina da palavra vaca (vacca) 
e a varíola bovina significa vaccínia (RIDEL, 2005). Em 1885, Louis Pasteur, chamou 
de vacina qualquer preparação de um agente que fosse utilizado para imunização de 
uma doença infecciosa (LAROCCA & CARRARO, 2000; FEIJÓ; SÁFADI, 2006). Foi 
em um estudo junto com Robert Koch que houve a categorização de diversos micro-
 
20 
 
organismos responsáveis por causar infecções (HOMMA et al., 2011). E, a partir dainvestigação acerca da cólera da galinha, identificou bactérias enfraquecidas, 
permitindo a criação de um tipo de vacina se propondo a testar o material contra a 
raiva animal (MELLO; GERVITZ, 2020). 
Apesar da descoberta, existia um percurso a trilhar, devido a fatores que 
dificultavam a eficácia das vacinas como: o tempo de produção e características dos 
antígenos, principalmente quanto a reprodução dos vírus (MELLO; GERVITZ, 2020), 
por serem parasitas intracelulares obrigatórios, ou seja, dependentes de outras 
células para a sua sobrevivência. Além disso, Mello e Gervitz (2020), evidenciam a 
importante contribuição no avanço de produção das vacinas por parte do patologista 
Ernest Goodpasture que cultivou o vírus da influenza em ovos de galinha em 1931, 
técnica utilizada nos dias de hoje. 
A erradicação da varíola junto à Organização Mundial da Saúde fomentou 
iniciativas para a imunização e em relação a novas pesquisas e objetivos de 
erradicação de doenças (HOMMA et al., 2011). Com o passar do tempo diversas 
vacinas foram desenvolvidas em resposta a epidemias como: poliomielite, sarampo, 
caxumba, rubéola, difteria, tétano, coqueluche, raiva, cólera, tuberculose, febre 
amarela, influenza, rubéola, hepatite A e B, dentre outras (CUNHA et al., 2009; 
HOMMA et al., 2011). 
A vacinação de rotina em populações marca o século XX contribuindo para a 
redução dos números de mortalidade e na erradicação de doenças (VAZ; GARCIA, 
2003). Considerando a diversidade de infecções emergentes ao longo do tempo e 
história, em 2009, no México, o novo vírus Influenza A começou a circular conferindo 
origem a uma pandemia em fase 6 pronunciada pela Organização Mundial da Saúde 
(BELLEI; MELCHIOR, 2011). Segundo a Secretaria de Vigilância em Saúde no Brasil, 
a H1N1 foi responsável por 2.051 óbitos e mais de 44 mil casos confirmados com 
maior pico nas regiões sul e sudeste do país. A imunização contra o novo Influenza A 
iniciou em 2010, entretanto, diante de novas modificações, em 2011 uma nova vacina 
composta por três variações virais foi recomendada mundialmente (BELLEI; 
MELCHIOR, 2011). 
 
21 
 
Decorrente de fatores adversos como ambientais e ações humanas, por 
exemplo, surge a necessidade por pesquisas científicas em relação a imunização. Há 
manifestações de doenças, mutações virais, novas cepas de um mesmo vírus 
aparecem e como consequência, antígenos são investigados a fim de desenvolver 
novas vacinas que favoreçam a não propagação de doenças, reduzindo as taxas de 
mortalidade e controle na erradicação de doenças. Há a necessidade de aprofundar 
os conhecimentos sobre a imunização, pois existe muito a desenvolver mesmo com 
todos os avanços através da vacina (VAZ; GARCIA, 2003). Entretanto, atualmente, 
obtemos bons resultados nos testes de imunização contra o HIV (Vírus da 
Imunodeficiência Adquirida) em humanos. A partir da tecnologia de RNA mensageiro 
foi realizado um ensaio em 2021 que avaliou a eficácia do imunizante, o qual está 
sendo desenvolvido na Universidade de George Washington, nos Estados Unidos 
(PEBMED – fevereiro 2022). 
Em concordância com Callender (2016), as vacinas e suas implementações 
são consideradas um dos esforços mais bem sucedidos já colocados em prática para 
a saúde pública mundial. 
1.2. Relevância da vacinação para a saúde pública 
 A imunização é necessária à saúde pública, pois contribui para as respostas 
imunológicas individual e coletiva por prevenir a disseminação de doenças em que 
fortalece a resposta imunológica impedindo surtos de doenças, pois contribuem para 
o controle e redução de mortes por tais patógenos. É, portanto, um instrumento de 
prevenção (CAMACHO; CODEÇO, 2020) contra a disseminação de doenças sejam 
por agentes virais ou por bacterioses. Vale salientar, que as vacinas foram 
responsáveis na erradicação e surto de epidemias, pandemias que foram destaques 
na história humana e assim, sendo à saúde. 
Através dos diversos tipos de vacinas existentes sejam de microrganismos 
enfraquecidos atenuados, de inativados ou mortos, à base de RNA ou de vetores 
virais, elas irão induzir o sistema imunológico a produzir anticorpos específicos. Após 
a vacinação, o indivíduo é capaz de resistir aos micro-organismos por produzir células 
de memória ao patógeno (APS, 2018), que por sua vez, pode desencadear a doença, 
 
22 
 
mas não ocorre o agravamento de sintomas. As vacinas são extremamente seguras 
mesmo que com um tempo perca sua eficácia e necessite de reforço. 
De acordo com Hochman (2011) a vacinação se destacou como medida 
preventiva e ao mesmo tempo promissora devido a seu mecanismo de ação. E por 
isso é um “elemento essencial no direito à saúde” (SILVA, et al. 2019) representa um 
dos maiores sucessos do ser humano no controle e na erradicação de doenças 
infectocontagiosas (LESSA; DÓREA, 2013). A vacina é apresentada como um 
investimento em saúde com efeitos positivos de custo e eficácia; contribuinte do 
aumento dos índices da expectativa de vida, consequência do crescimento de vacinas 
disponíveis e os programas de incentivo à saúde pública. 
O quadro abaixo apresenta a relação das vacinas mais comuns quanto ao ano 
de divulgação ou uso clínico. 
Quadro 1 – Relação das vacinas de acordo com o ano de divulgação ou de uso clínico 
ANO VACINA 
1798 Varíola 
1885 Raiva 
1914 Cólera 
1921 Tuberculose (BCG) 
1938 Febre amarela 
1945 Influenza 
1948 Difteria, tétano e coqueluche de células inteiras (DTP) 
1955 Pólio injetável (VIP) 
1961 Pólio oral monovalente 
1963 Pólio oral trivalente (VOP) e sarampo 
1976 Sarampo, caxumba, rubéola (SCR) 
1981 Meningocócica polissacarídica (A, C, Y, W135) 
1982 Hepatite B derivada de plasma 
1983 Pneumocócica polissacarídica 23-valente 
1986 Hepatite B recombinante 
1987 Haemophilus influenzae do tipo b (Hib) polissacarídica 
1990 Haemophilus influenzae do tipo b (Hib) polissacarídica conjugada 
1995 Varicela e hepatite A 
1996 Difteria, tétano e coqueluche acelular infantil (DTPa) 
1998 Pneumocócica polissacarídica 7-valente 
2003 Influenza atenuada spray nasal 
 Fonte: Adaptado de CUNHA, et. al (2009, p. 22). 
 
 
23 
 
Ao longo do tempo, os índices da medida profilática tornaram-se significativos, 
fato refletido na saúde mundial. As campanhas de vacinação destacam-se como um 
dos instrumentos de política pública brasileira capazes de mudar a trajetória da saúde 
(BARBIERI et al., 2017; FONSECA, 2018). No século XVIII, na Inglaterra, 10% dos 
óbitos totais e um terço das mortes em crianças eram responsabilidade da varíola 
(APS et al., 2017). O êxito contra esse vírus demonstrou que a vacinação em massa 
tinha o poder de erradicar a doença, pois o último caso notificado no Brasil e no mundo 
foi na Somália, em 1971 e 1977, respectivamente. 
No Brasil, com a adesão das vacinas, doenças foram erradicadas e 
controladas: varíola (1973), poliomielite (1989), sarampo (2016) e diminuição da 
coqueluche, por exemplos (PASSOS; MORAES FILHO, 2020). Podemos citar o caso 
do sarampo “que passou a ser doença compulsória nacional em 1968” (DOMINGUES 
et al., p. 7, 1997), a qual durante anos foi uma das principais causas de mortalidade 
infantil. 
A partir da implementação do Plano Nacional de Eliminação do Sarampo em 
1992 com campanhas de vacinação, foi possível atingir a aproximadamente 95% da 
redução de casos (DOMINGUES et al., 1997); além disso, a diminuição de óbitos e 
complicações em crianças. Segundo a OPAS/OMS, nos anos 80, os números de 
casos chegaram a mais de 4 milhões, entretanto, com a cobertura vacinal em 2017 foi 
de aproximadamente 170 mil casos de infecção, reduzindo drasticamente os números 
de pessoas infectadas pelo vírus. Os dados revelam que a vacina tem sido uma 
intervenção eficaz por evitar mais de dois milhões de mortes anualmente (MIZUTA et 
al., 2019; OLIVEIRA et al., 2020). Outro dado importante é quedevido a vacinação 
contra difteria, sarampo, tétano neonatal; coqueluche e poliomielite, os números 
diminuíram de 0,9 milhões para 0,4 milhões entre os anos de 2000 e 2010. De caráter 
mundial, com a introdução da vacinação, houve o declínio da poliomielite e sarampo, 
rubéola e caxumba (SCR) durante as décadas de 1950 e 1960, (APS, 2018). 
Outro exemplo a citar é a influenza, uma das enfermidades que permite a 
intervenção preventiva em saúde pública através da vacinação (BÓS; MIRANDOLA, 
2013). Nos Estados Unidos, as epidemias de influenza foram responsáveis por um 
média de 20.000 mortes por ano em períodos de inverno. Entretanto, com a vacinação 
 
24 
 
e objetivos de reduzir as complicações e prevenir a virose, sua eficácia pôde atingir 
90% em adultos saudáveis (YANO; TIYO, 2013). 
No Brasil, o Programa Nacional de Imunização (PNI) coordena as atividades 
de acordo com diretrizes e experiências, organizando toda a política nacional de 
vacinação da população brasileira (BRASIL, 2014). Decorrente da importância da 
imunização quanto aos índices de diminuição e erradicação, em 1973 foi desenvolvido 
o PNI através do Sistema Único de Saúde (SUS). Foi com sua adesão que houve a 
estruturação da política de imunizações no país. 
Após a sua institucionalização em 1975 pela Lei 6.259, houve a primeira 
campanha nacional de vacinação contra a Poliomielite. E, como resultado, o último 
caso registrado ocorreu na Paraíba em 1989. Nessa direção, o Brasil e os demais 
países americanos recebeu o certificado que a doença e o vírus haviam sido 
eliminados. Atualmente, o PNI é integrante do Programa da Organização Mundial da 
Saúde com a apoio da UNICEF, dos Rotary Internacional e do Programa das Nações 
Unidas para o Desenvolvimento (FIOCRUZ, 2020). 
O Programa conta com 60 imunobiológicos, dentre eles vacinas, soros e 
imunoglobulinas (DATASUS – Programa Nacional de Imunizações/PNI), sendo 41 de 
vacinação. Abaixo, segue a tabela contendo alguns dos imunobiológicos disponíveis 
no DATASUS segundo o PNI, destacando as doses e faixa etária. 
 
 
 
 
 
25 
 
Quadro 2 – Tipos de imunobiológico (vacina) com o período de criação, doses, faixa etária, sexo e condição de gestação 
Tipo de imunobiológico - vacina Períodos Doses Faixa etária, sexo e condição de gestação 
BCG (BCG) 1994 1 dose (rotina)Dose 2 (indicações) 
menor de 1 ano, 1 ano, 2 anos, 3 anos, 4 anos, 5 a 6 anos, 7 a 14 
anos, 15 a 59 anos, 60 anos e mais 
Contra Febre Amarela (FA) 1994 1 dose e 1 reforço a cada 10 anos 
menor de 1 ano, 1 ano, 2 anos, 3 anos, 4 anos, 5 a 9 anos, 10 a 
14 anos, 15 a 59 anos, 60 anos e mais 
Contra Febre Tifóide (FT) 1995 3 doses ou 1 dose e 1 reforço 
2 a 4 anos, 5 a 8 anos, 9 a 12 anos, 13 a 19 anos, 20 a 59 anos, 
60 anos e mais 
Contra Haemophilus influenzae tipo b 
(Hib) 
1994 4 doses 
menor de 1 ano, 1 ano, 2 anos, 3 anos, 4 anos, 5 a 6 anos, 7 a 17 
anos, 18 a 19 anos, 20 a 59 anos, 60 anos e mais 
Contra Hepatite A (HA) 2000 2 doses e 1 reforço 
1 a 4 anos, 5 a 8 anos, 9 a 12 anos, 13 a 19 anos, 20 a 59 anos, 
60 anos e mais 
Contra Hepatite B (HB) 1994 
3 doses (4ª dose somente para 
indicações) 
menor de 1 ano, 1 ano, 2 anos, 3 anos, 4 anos, 5 a 10 anos, 11 a 
14 anos, 15 a 19 anos, 20 a 59 anos, 60 anos e mais 
Contra Influenza (INF) 2000 
Menor de 1 ano a 8 anos: 2 doses em 
caso de prim. Vacinação; 9 anos e mais: 
1 dose 
menor de 1 ano, 1 a 2 anos, 3 a 8 anos, 9 a 12 anos, 13 a 19 
anos, 20 a 59 anos, 60 anos e mais 
Contra Meningococo AC (MnAC) 1994 dose única 
2 a 4 anos, 5 a 8 anos, 9 a 12 anos, 13 a 19 anos, 20 a 59 anos, 
60 anos e mais 
Contra Pneumococo 23 (Pn23) 1994 1 dose e 1 reforço 
2 a 4 anos, 5 a 8 anos, 9 a 12 anos, 13 a 19 anos, 20 a 59 anos, 
60 anos e mais 
Contra Rubéola (monovalente) 1995 a 2000 dose única 
menor de 1 ano, 1 a 4 anos, 5 a 8 anos, 9 a 12 anos, 13 a 19 
anos, 20 a 59 anos, 60 anos e mais 
Contra Sarampo (monovalente) 1994 a 2003 2 doses 
menor de 1 ano, 1 a 4 anos, 5 a 8 anos, 9 a 12 anos, 13 a 19 
anos, 20 a 59 anos, 60 anos e mais 
Dupla Adulto (dT) 1994 3 doses e 1 reforço 
menor de 1 ano, 1 ano, 2 anos, 3 anos, 4 anos, 5 a 6 anos, 7 a 14 
anos, 15 a 59 anos, 60 anos e mais 
 
26 
 
Dupla Infantil (DT) 1994 3 doses e 1 reforços 1 a 4 anos, 5 a 8 anos, 9 a 12 anos, 13 a 19 anos, 20 a 59 anos, 
60 anos e mais 
Dupla Viral (SR) 2000 a 2004 dose única 
Hexavalente (HX) 2006 3 doses 
12 anos, 13 a 14 anos, 15 a 16 anos, 17 a 19 anos, 20 a 24 anos, 
25 a 29 anos, 30 a 34 anos, 35 a 39 anos, 40 a 44 anos, 45 a 49 
anos 
Oral Contra Poliomielite (VOP) 1994 3 doses e 2 reforços 1 a 4 anos 
Oral Contra Poliomielite (Campanha 1ª 
etapa) (VOP) 
1994 dose única menor de 1 ano 
Oral Contra Poliomielite (Campanha 2ª 
etapa) (VOP) 
1994 dose única 
menor de 1 ano, 1 ano, 2 anos, 3 anos, 4 anos, 5 a 6 anos, 7 anos 
e mais 
Oral de Rotavírus Humano (RR) 2006 2 doses 
menor de 1 ano, 1 ano, 2 anos, 3 anos, 4 anos, 5 a 6 anos, 7 anos 
e mais 
Pentavalente (DTP+HB+Hib) (Penta) 2003 3 doses menor de 1 ano, 1 a 4 anos, 5 anos e mais 
Tetravalente (DTP/Hib) (TETRA) 2002 3 doses menor de 1 ano, 1 a 4 anos, 5 anos e mais 
Toxóide Tetânico 1994 a 2000 3 doses e reforço menor de 1 ano (entre 6 e 24 semanas de vida) 
Tríplice Acelular (DTPa) 2000 3 doses e 2 reforços menor de 1 ano 
Tríplice Bacteriana (DTP) 1994 3 doses e 2 reforços menor de 1 ano, 1 ano, 2 anos, 3 anos, 4 anos, 5 a 6 anos 
Tríplice Viral (SCR) 1995 
1 dose 
7 a 11 anos, gestantes de 12 a 14 anos, não gestantes de 12 a 14 
anos, homens de 12 a 14 anos, gestantes de 15 a 49 anos, não 
gestantes de 15 a 49 anos, homens de 15 a 49 anos, 50 a 59 
anos, 60 anos e mais 
2ª dose (4 a 6 anos) menor de 1 ano, 1 ano, 2 anos, 3 anos, 4 anos, 5 a 6 anos 
Fonte: Adaptado do DATASUS (2022) – Programa Nacional de Imunizações/PNI 
 
 
27 
 
Mais uma vez, é importante ressaltar que a proteção através da vacinação não 
é apenas individual e sim, coletiva, pois ela evita a disseminação em maior extensão 
de doenças que podem levar a óbitos ou sequelas, de modo, a comprometer a 
qualidade de vida das pessoas. Quando o indivíduo é imunizado há impacto no 
processo coletivo em que o indivíduo está inserido, diminuindo a probabilidade que 
outros sejam infectados (DOBRACHINSKI, 2011). Com a vacinação, podemos atingir 
a imunidade de rebanho obtida a partir da maior proporção de indivíduos vacinados 
de maneira a prevenir a transmissão e barrar a propagação do vírus. Como resultado, 
os números de infecção diminuem e protegem até mesmo aqueles não imunizados. 
Ao tratar-se sobre a relevância da vacinação e os números envolvidos, cabe 
ressaltar neste parágrafo sobre a poliomielite, por exemplo. Sua incidência de 
diminuição desde 1988 em mais de 99% em todo o globo, ao mesmo tempo, eliminada 
dos continentes americanos e do Brasil desde 1991 e 1994, respectivamente (OMS, 
2019). Outro relato de acordo com dados da Organização Pan-Americana da Saúde 
em 2021, o Haiti certificou a eliminação do tétano neonatal. 
Entretanto, a pandemia mais recente ocasionada pelo vírus do Covid-19 trouxe 
diversas Fake News (por informações, notícias, postagens) a partir do contato com as 
diversas tecnologias de informação e comunicação que levou o leitor a 
pseudoinformações. Nesse contexto, houve indícios de que a progressão da doença 
levaria ao controle, ou seja, a imunidade coletiva por contágio desenvolveria 
imunidade contra o vírus. Porém, de acordo com a Organização Mundial da Saúde 
(OMS), tal opção não seria a melhor estratégia adotada por razões científicas, éticas 
e jurídicas. 
Segundo a nota técnica divulgada na época pela USP (Universidade de São 
Paulo), essa opção favorecia a aparição de novas variantes do vírus. Tal ideia 
associada à não adoção dos protocolos de biossegurança (máscara cobrindo boca e 
nariz, medidas de isolamento social) resultaram em uma média 680 mil mortes 
atualmente somente no Brasildesde o início da pandemia (DATASUS, 2022) e mais 
de 15 milhões no mundo (OMS, 2022). 
 
 
28 
 
Em síntese, existe uma forte associação da vacina com a melhoria da saúde e 
qualidade de vida demonstrando a cobertura vacinal ser indispensável. 
1.3. Episódios de resistência e movimentos antivacina 
 O movimento antivacinação ou “anti-vaccinaton” (em inglês) é uma oposição à 
vacinação e se configura como um fenômeno global que segundo ele, os 
manifestantes defendem a transparência da informação pública e o direito à escolha 
individual (BELTRÃO et al., 2020). É caracterizado por afirmações de que as vacinas 
acarretam malefícios utilizando argumentos que são “inseguras e ineficientes” 
(RADZIKOWSKI et al., 2016). Esse movimento é o principal responsável pela queda 
de adesão ao esquema vacinal. 
Segundo APS (2018, p.3), “o movimento antivacina é tão antigo quanto a 
própria vacinação”. Com o surgimento da vacina contra a varíola e sua 
obrigatoriedade houve a resistência por parte dos sujeitos ao considerar a vacina 
como uma invasão de liberdade. Entre 1840 e 1853, na Inglaterra, a vacinação tornou-
se obrigatória por meio de uma lei pró-vacinação a qual gerou insatisfações utilizando 
argumentos de liberdade individual e medo da tirania médica (JÚNIOR, 2019). 
Em 1982 ocorreu a publicação do documentário “DPT: Vaccine Roulette” 
associando a vacina tríplice bacteriana a danos cerebrais (REVISTA MÉDICO EM DIA 
– AGOSTO 2017). Em sua abertura, havia uma criança gritando à medida que a 
agulha penetrava na pele, uma voz narrando que a DTP causaria danos às crianças 
e o título sendo apresentado letra por letra após o som de tiros de revólver 
(FERRAIRO, 2015). Nos anos 90 no Camarões, surgiu o boato de que havia aplicação 
de vacinas que causavam esterilização em mulheres (DUBÉ; VIVION; MACDONALD, 
2015). 
 Nesta direção, em 1998, o movimento ganhou força a partir da publicação do 
artigo na revista inglesa “The Lancet” pelo médico Andrew Wakefield e colaboradores, 
em que relacionou a tríplice viral: sarampo, caxumba e rubéola com inflamações 
intestinais e espectro autista (MIZUTA et al., 2019). A publicação de Alfred Wakefield 
instigou para o renascimento de agitações contrárias ao relacionar a vacina tríplice 
(caxumba, sarampo e rubéola) com o autismo em pleno século XXI (DALL’AGNOL, 
 
29 
 
2020). Mesmo após as investigações e comprovações da ausente relação, tal 
divulgação foi responsável pela falta de confiabilidade e incertezas quanto a eficácia 
das vacinas. 
Além disso, surgiu a teoria de que a vacina contra a varíola mesmo atenuada 
reagiria no intestino e entraria pela corrente sanguínea com destino ao cérebro 
(CALLENDER 2016); em 2016, casos de microcefalia foram associados a lote de 
vacinas vencidas (RODRIGUES DA SILVA, M.; APARECIDA DE SOUZA TELES, L.; 
GASPAR DA SILVA ANDRADE, 2020). As notícias perpetuam-se até os dias de hoje 
e causam reflexo devastador quanto à cobertura vacinal no Brasil e no mundo. Por 
exemplo, as coberturas vacinais infantis demonstram dados visíveis ao retratar aos 
casos de sarampo, coqueluche e até a reintrodução da poliomielite em locais antes já 
extinta. Em 2018, nos estados de Roraima e Amazonas foram mais de 1.500 casos 
de sarampo (OMS, 2018). 
No Reino Unido em 1970, surgiu a ideia da vacina contra a coqueluche 
sugerindo problemas neurológicos após a vacinação, o qual se espalhou pela Europa, 
Estados Unidos, União Soviética e Austrália, tendo como consequência a suspensão 
da vacina o Japão nos anos 80 (DUBÉ; VIVION; MACDONALD, 2015). 
Os impactos causados por esses movimentos podem ser os mais diversos. As 
coberturas infantis em 2016 estavam acima de 95%, indicando relevante aceitação 
por parte da população (APS, 2018). Entretanto, a partir de 2016, houve declínio 
resultando no aumento de mortalidade infantil e por sua vez, o enfraquecimento do 
Sistema Único de Saúde (SUS). Em 2018, houve a reincidência de casos de sarampo 
em vários países. No Brasil, houve um surto da doença chegando a 10 mil casos na 
Região Norte e assim, perdeu o certificado do país livre de sarampo (PINTO JUNIOR, 
2019; RODRIGUES DA SILVA, M.; APARECIDA DE SOUZA TELES, L.; GASPAR DA 
SILVA ANDRADE, 2020). 
 No contexto da América Latina, as coberturas vacinais em 2018 demonstram-
se abaixo do recomendado pela OMS (OPAS, 2019). No Reino Unido, houve a queda 
de 9% da taxa de vacinação em 1 ano (ORTIZ-SÁNCHEZ et al., 2020) devido a 
relação do autismo com a vacina contra a tríplice viral. Na Califórnia, foi criado o “The 
 
30 
 
Vaccine Book: Making the right decision for your child”, o qual favoreceu para o 
aumento no percentual de pessoas não vacinadas (CALLENDER, 2016). 
Em relação a situação pandêmica recente, Ortiz-Sánchez et al., (2020), retrata 
a reflexão das falsas informações sobre o Covid-19. Os autores elencam fatores 
preocupantes como a divulgação da mistura de ácido nítrico e cloreto de sódio para 
tratamento de infecção, e vacina com microchip. Dentre esses e outros, pode-se 
considerar que afetam a vacinação potencializando a resistência relacionada à 
descrença na ciência, como determinante na estruturação da tomada de decisão 
(MATOS et al., 2020). Sobre o momento mais recente, Dall’Agnol (2020, p. 2): 
Há um crescente movimento antivacina que é preocupante e expressa tanto 
visões morais questionáveis quanto negacionismo científico, pondo em risco 
muitas vidas. 
Em suma, podemos observar que há uma forte relação entre a ascensão de 
movimentos antivacinação e os surtos de doenças anteriormente controladas. 
A contestação e a resistência fazem parte da própria história das vacinas, 
refletindo nos movimentos antivacina ao redor do mundo (POLAND; JACOBSON, 
2001). Nesse sentido, há interrelações entre política, ciência, saúde pública e a mídia 
resultando na credibilidade dada aos movimentos que constituem risco a saúde 
individual e coletiva (RODRIGUES DA SILVA, M.; APARECIDA DE SOUZA TELES, 
L.; GASPAR DA SILVA ANDRADE, 2020). 
 Existem diversas influências motivadas por razões relacionadas à hesitação 
vacinal, recusa vacinal e movimento antivacina que resultam em implicações como a 
redução nas taxas de aceitação da vacina e no aumento de surtos e epidemias, por 
exemplos (DUBÉ, VIVION & NONI E MACDONALD, 2015). A recusa pode ter total ou 
atraso na administração devido a questões envolvidas. Portanto, existem interrelações 
entre os diversos contextos que envolvem questões política, ciência, saúde pública, 
valores religiosos, crenças, desinformação, características sociodemográficas, 
liberdade individual, teorias das conspirações os quais determinam a decisão de pais 
em vacinar seus filhos. Podemos ainda citar a relação com a segurança das vacinas 
e confiança dos serviços prestados; utilização dos efeitos colaterais como razões para 
não vacinação; administração simultânea de doses; propostas rápidas para novas 
 
31 
 
vacinas; o conhecimento insuficiente que podem levar o indivíduo a ser a favor da 
hesitação vacinal (CALLENDER, 2016). 
 Com a veiculação da internet e a oportunidade para a difusão de mensagens 
por ativistas de antivacinação, tem despertado sobre a segurança e eficácia de 
vacinas a partir de informações imprecisas. A internet, como fonte de informação tem 
sido porta voz de comentários antivacina em que as pessoas têm utilizado apenas 
algumas informações de apoio, utilizando falácias lógicas, descartando outras 
informações, apoiando-se em falsos conhecimentos (CALLENDER, 2016). De certo 
modo, ela favorece para o negacionismo científico no que se refere à imunização por 
vacinação. 
 O quadro a seguir apresenta de forma sintética os principais determinantes 
envolvidos com as decisões dos pais pela vacinação de aceitação ou recusa vacinal. 
Baseado em estudos que examinaram a tomada de decisões considerando 
determinantes contextuais (influências diversas como comunicação e mídia,valores 
religiosos); determinantes organizacionais (relacionados a qualidade dos serviços da 
vacinação); determinantes individuais (conhecimento dos pais, atitudes e crenças, 
características sociodemográficas) (DUBÉ, VIVION & NONI E MACDONALD, 2015). 
 Principais determinantes na decisão dos pais pela vacinação 
Determinantes contextuais 
Influências históricas, 
políticas e socioculturais 
 
Crises anteriores de saúde pública; 
Política; Religião; Etnia; Gênero; Normas sociais, 
pressão social; 
Rede social; Relações de poder e/ou diferenças 
desiguais na cultura entre profissionais de saúde e 
pacientes. 
 
Ambiente de comunicação e 
mídia 
 
Promoção/comunicação sobre vacinação; 
Líderes influentes/antivacinação; 
Rumores; 
Mídias sociais e Internet. 
 
Determinantes individuais 
 
 
32 
 
Características 
sociodemográficas 
Nível educacional; 
Status sociodemográfico; 
Composição familiar; 
Migração. 
 
Conhecimento e atitudes 
 
Conhecimento e conscientização sobre 
imunização (quem, quando, onde); 
Percepções da segurança das vacinas (medo de 
eventos adversos); 
Percepções da eficácia das vacinas; 
Percepções do risco; 
Crenças sobre imunidade; 
Prioridades de saúde/percepções da importância 
de vacinação para a saúde da criança/geral 
atitudes sobre saúde e prevenção; Arrependimento 
antecipado. 
Experiências anteriores com 
serviços de saúde e 
vacinação 
Encontros anteriores com profissionais de saúde; 
Medo de agulhas/dor da criança após a 
imunização; Eventos negativos após vacinação 
anterior da criança. 
Confiança no sistema de 
saúde e nos prestadores de 
cuidados de saúde 
Desconfiança da indústria farmacêutica; 
Desconfiança da comunidade médica; Interesses 
conflitantes percebidos de saúde fornecedores e 
autoridades de saúde pública. Recomendações de 
profissionais de saúde. 
Determinantes organizacionais 
 
Disponibilidade e qualidade 
dos serviços de vacinação 
Custos (diretos e indiretos); 
Barreiras de distância/geográficas; Confiabilidade 
do fornecimento de vacinas; Conveniência da 
prestação de serviços de vacinação; 
 
Motivação e atitudes da 
equipe de saúde 
Equipe de saúde treinada e competente; 
Capacidade de se comunicar com os pais. 
 
Problemas específicos de 
vacinas 
Esquema de vacinação; 
 Introdução de uma nova vacina ou formulação; 
Modo de administração; 
Modo de entrega. 
 
Fonte: Adaptado de DUBÉ, VIVION & NONI E MACDONALD (2015, tradução nossa) 
 
 
 
33 
 
Movimento Antivacina no contexto da “Revolta da Vacina (1904)” 
As discussões acerca da eficácia das vacinas não são recentes; estando 
presente desde que as vacinas foram desenvolvidas (DUBÉ, VIVION & NONI E 
MACDONALD, 2015). A insatisfação popular por meio da resistência ao método de 
imunização no Brasil contra a varíola, deu origem a um movimento considerado 
relevante para a história da saúde pública e científica do país. 
 No início dos anos de 1900, houve o manifesto popular conhecido como a 
“Revolta da Vacina”, acontecida no Rio de Janeiro e marcada pela reação popular à 
campanha de vacinação contra a varíola na época (FONSECA; DUSO, 2020; 
PASSOS; MORAES FILHO, 2020). A causa da aversão não foi somente pela 
obrigatoriedade da vacina e seus efeitos, mas também por questões políticas da 
época. Os grupos contrários sentiam-se intimados pelas pessoas que aplicavam a 
vacina, enfermeiros e fiscais, pois agiam com agressividade. Contudo, a população 
era contra as condições de aplicação que tinha medidas autoritárias (SEVCENKO, 
2003) reivindicando a liberdade do próprio corpo. 
As condições higiênicas e a falta de saneamento básico do município do Rio 
de Janeiro eram precárias, e, como consequência, havia manifestação de doenças 
infectocontagiosas favorecendo focos de epidemias. O processo ocorreu sob os 
comandos do médico e sanitarista Oswaldo Cruz e assim, considerada como parte 
das reformas sanitárias e projetos de urbanização do governo da época. Como 
resultados das medidas implementadas de acordo com Pôrto (2003) envolveram a 
demolição de cortiços, dando espaços para alargamento de ruas, indivíduos 
refugiando-se para morros, originando as periferias. 
De acordo com Challoub (1996), o movimento é considerado um dos maiores 
levantes populares ocorridos no Brasil no início do século XX, paralisando o Rio de 
Janeiro entre os dias 10 e 16 quando decretado o Estado de Sítio, iniciando o controle 
da rebelião e a dura repressão aos agitadores com prisões ou deportações 
(CARVALHO, 1987). 
 
34 
 
Segundo Porto e Ponte (2003, p. 729), o episódio envolve vários elementos 
significativos que envolve a vacina e sua utilização social. A vacinação de modo geral 
segundo o autor, 
De fato, longe de ser um ato isolado, sujeito apenas aos parâmetros de 
aferição e decisão da medicina ou das ciências biomédicas, a vacinação é 
também, pelas implicações socioculturais e morais que envolve, a resultante 
de processos históricos nos quais são tecidas múltiplas interações e onde 
concorrem representações antagônicas sobre o direito coletivo e o direito 
individual, sobre as relações entre Estado, sociedade, indivíduos, empresas 
e países, sobre o direito à informação, sobre a ética e principalmente sobre a 
vida e a morte. 
Para o motim popular de 1904, havia descrença quanto à vacina e 
especulações de que causaria a morte ou deformações físicas (FONSECA; DUSO, 
2020). As vacinas como pesquisas recentes, ainda desconhecidas e de difícil 
compreensão ao pensar no que ela era, no sentido do próprio processo de construção 
de conhecimento científico, de acordo com os autores. A aprovação da lei obrigatória 
foi estabelecida através de intensas discussões e o decreto denominado pela 
população como o “Código de Torturas” (HOCHMAN, 2011) causou uma intensa 
insatisfação por parte da população; uma reação negativa a qual foi responsável por 
conflitos e a interrupção da aplicação da vacina. Como consequência, em 1908, houve 
um novo surto da doença com a eclosão de casos (PORTO, 2003). 
A agitação não foi somente da sociedade civil – popular, mas havia declarações 
por parte de políticos opositores do governo da época. Os discursos defendiam direito 
à liberdade de escolha do cidadão, além da crítica a obrigatoriedade da vacina 
colocando em dúvida sua segurança, chamando-a de “veneno” (SHIMIZU, 2018). 
Segundo a autora, o relato de que a vacina antivariólica teria causado a morte por 
infecção generalizada de uma mulher após a vacina, contribuiu para as inquietações 
da população e repercussão negativa acerca dela. Contudo, pode-se afirmar que a 
Revolta da Vacina foi o movimento pioneiro no Brasil de antivacinação. 
Por fim, pode-se considerar que foi a primeira campanha de vacinação 
acontecida no Brasil e ao mesmo tempo, raiz para movimentos antivacinação que 
surgiram ao logo do tempo. Além disso, focam nas reações adversas que podem 
ocasionar e como consequência, induzem a recusa vacinal. 
 
35 
 
Hoje, é possível visualizar a criação de grupos antivacinas, os quais criam 
informações incorretas baseadas em sites eletrônicos ausente de fundamentação 
científica (RODRIGUES DA SILVA, M.; APARECIDA DE SOUZA TELES, L.; GASPAR 
DA SILVA ANDRADE, 2020) gerando sentimentos de antivacinação a fim de 
descredibilizar a prática vacinal. Isso, foi perceptível durante a Covid-19 considerando 
um contexto mais atual. 
Aproximação à pandemia da Covid-19 
A OMS, em 31 de dezembro de 2019, foi alertada sobre casos de pneumonia 
em Wuhan, cidade da China. Entretanto, tratava-se de uma nova cepa de coronavírus 
ainda não identificada. Após passado os dias, o surto do novo coronavírus passou a 
fazer parte da Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESP II), 
constituindo o mais alto nível de alerta da OMS (OPAS, 2020). De acordo com o órgão, 
é a sexta vez na história que é declarada uma Emergência de Saúde Pública seguido 
da pandemiada H1N1, Poliovírus, surto do ebola na África Ocidental, Zika vírus 
associado a casos de microcefalia e malformações congênitas e surto do ebola no 
Congo. Em março de 2021, a COVID-19 foi caracterizada pela OMS como uma 
pandemia (OPAS, 2022). 
As medidas adotadas a fim de diminuir as curvas de contaminação e morte 
incluíram e são utilizadas até hoje como o uso de máscaras, condições de higiene, 
distanciamento, isolamento em caso de testagem positiva (COUTO; BARBIERI; 
AMORIM, 2021). A pandemia foi de intensa preocupação para indivíduos com 
comorbidades (doenças cardiovasculares, diabetes, obesidade, doenças associadas 
ao sistema respiratório e outras). O mundo enfrentou consequências da Covid-19, 
ocasionada pelo novo coronavírus SARS-CoV-2, também chamado de novo 
coronavírus que resultou no fechamento de escolas, comércios indústrias (COUTO; 
BARBIERI; AMORIM, 2021) e que afetou diretamente a economia global e as relações 
sociais. 
Foi intensa a mobilização junto a governos, comunidades científicas, indústrias 
farmacêuticas e outras instituições de vários países na arrecadação de recursos para 
a produção de vacinas (HOSANGADI et al., 2020) envolvendo a eficácia, testagem, 
 
36 
 
aplicação de doses, divulgação de resultados e efeitos adversos das vacinas 
(OLIVEIRA, 2021). O Reino Unido foi o primeiro país a aprovar um imunizante e sua 
aplicação iniciou em dezembro de 2020; outros países da Europa como Alemanha, 
França, Portugal, Itália dentre outros, estão entre os primeiros países a participarem 
do programa de vacinação contra o novo coronavírus no continente e no mundo. 
 No Brasil, cerca de 6 vacinas estão disponíveis à população: AstraZeneca, 
CoronaVac, Covaxin, Janssen, Pfizer e Sputnik V (MILER-DA-SILVA et al., 2021). 
Segundo o que afirma esses autores, existe um grupo de indivíduos que desconfia 
acerca das vacinas. Entretanto, as incertezas e desconfianças diante das vacinas não 
são atuais. Em mais um momento é marcada pela insegurança em relação a vacina 
sustentadas nas supostas consequências de morte ou deformações físicas. Sabe-se 
que a desconfiança e tal incredulidade contribuem para tendem a aumentar com os 
movimentos antivacina. 
Na pandemia da Covid-19 foi perceptível a resistência contra as vacinas que 
apontou um cenário para o conflito individual versus coletivo, pois com as vacinas tem-
se além da imunidade individual, a coletiva, quando atinge o nível de cobertura vacinal 
elevada (COUTO; BARBIERI; AMORIM, 2021). A decisão por não se vacinar revelou 
a divisão de grupos a favor e contrários a vacinação. Entretanto, o descontentamento 
com as próprias medidas profiláticas também foi evidente. A partir disso e outros 
fatores que envolve todo o aparato social e suas interrelações podemos observar 
indícios de movimentos antivacina. 
Com a internet e as informações espalhadas rapidamente, neste tempo, foi 
ainda mais explícito. À medida que as pesquisas sobre as vacinas avançavam teorias 
conspiratórias tomavam a mesma proporção, das mais diversas como o lucro das 
indústrias farmacêuticas acerca do “vírus chinês” (criado para colocar a China no topo 
do mundo), vacina com chip para monitorar as pessoas (COUTO; BARBIERI; 
AMORIM, 2021). Em conformidade com Zaracostas (2020) e Marques e Raimundo 
(2021) esse fenômeno se dá pela divulgação das fake news pelas redes sociais 
(Twitter, Facebook, WhatsApp, etc) e que exercem influência diretamente na decisão 
do indivíduo. A partir do fato, a OMS junto com outros órgãos lançou plataformas com 
a intenção de barrá-las. 
 
37 
 
O discurso negacionista fomentou o movimento antivacinação durante o 
período mais crítico do Covid-19 de forma a potencializar uma maneira de 
pseudociência sobre o vírus (MARQUES; RAIMUNDO, 2021) e certos grupos 
mobilizou argumentos a fim de desacreditar a ciência e de invalidá-la, como afirma os 
autores. Inclusive, com discursos de ódio pautados em verdades absolutas que se 
tornaria impossível contestá-lo. E, ao mesmo tempo, a reflexão do papel do Ensino de 
Ciências e dos professores da área diante da temática dos movimentos antivacinas. 
Pode-se dizer que o movimento antivacina no cenário do SARS-CoV-2 tem 
deixado marcas e levado a refletir sobre o que acontece na história da saúde pública 
e os seus aspectos científicos. Com base em dados oficiais dos Centros de Controle 
e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos registrou em março de 2022 que média 
semanal mortes resultou em 383 não vacinados e 261 vacinado. Embora, a diferença 
aparenta não ser grande, porém é necessário conhecer quantas pessoas foram 
vacinadas e quando feito as comparações dos coeficientes de mortalidades é possível 
identificar diferenças contrastantes. A mortalidade por Covid-19 a partir de 12 anos 
entre os não vacinados foi 17 vezes mais alta entre os vacinados e inclusive, 8 vezes 
mais alta do que só os que receberão duas doses de vacinas (MONTAÑEZ, LEWIS, 
2022). 
Capítulo 2. O papel e a importância do Ensino de Ciências em consideração ao 
movimento antivacina 
No cenário atual, o trabalho da Ciência tem sido árduo no enfrentamento da 
Covid-19 e das fake news (SANTOS, 2020). Durante esse período ocorreu 
desenvolvimento das medidas preventivas, a compreensão acerca do novo 
coronavírus no corpo humano para caracterizar os sintomas, suas ações, elaboração 
de testes de diagnóstico eficazes e ainda, a produção de vacinas que capazes de 
amenizar os danos ou quem sabe erradicá-lo. Acerca da desinformação e a pandemia 
no Brasil e em outros países como Itália e Estados Unidos, um estudo realizado pela 
Avaaz em parceria a SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações) revela que 94% dos 
brasileiros tiveram acesso a pelo menos uma das notícias falsas sobre o novo 
coronavírus (SANTOS, 2020). 
 
38 
 
O contexto não é recente e surge a cada nova situação em que a sociedade 
precisa enfrentar junto com os pesquisadores em saúde, meio ambiente, tecnologia 
entre outras áreas. No ápice da epidemia do vírus Zika várias desinformações foram 
compartilhadas através das redes sociais (KARAT; BUSKO; GIRALDI, 2019) 
acarretando medo e dúvida com base no desconhecimento a respeito de mosquitos 
transgênicos e das vacinas. Segundo Henriques, graves podem ser as consequências 
da desinformação por fake news para os serviços de saúde: 
As informações equivocadas podem levar a diversos comportamentos e 
atitudes geradoras de risco, seja pela indução ao uso de tecnologias 
inadequadas, como medicamentos e vacinas sem indicação, ou, no outro 
extremo, pela recusa a tecnologias e medidas de proteção necessárias ou 
ainda pela desorganização que provocam nos serviços, de saúde 
(HENRIQUES, 2018, p. 10). 
Nesse sentido, as inverdades dão crédito para a hesitação vacinal devido ao 
medo e desconfiança em métodos e pesquisas científicos. Como abordado em 
parágrafos anteriores deste referente trabalho é possível notar que a problemática em 
relação a disseminação de notícias falsas tem suas origens e avança nos seus 
impactos devastadores, persistindo na história da ciência associada à saúde pública 
brasileira e do mundo. Fato que contribui e favorece para o negacionismo científico, 
levando em consideração o seu potencial e a sua consequência a respeito do que é 
divulgado, tornando-o cada vez mais ascendente frente a tais questões, de modo, a 
fragilizar cada vez mais a Ciência. 
De acordo com Vilela e Selles (2020), o negacionismo científico é uma 
ressignificação atual para as antigas rejeições ao papel da ciência, que por sua vez, 
acrescido com a internet e redes sociais, fortalecem a desinformação; é considerado 
como sendo algo menos custoso, pois não precisa sair da zona de conforto com a 
difusão de informações. Neste sentido, ganha vigor no espaço virtual e discursos 
reativos superam o diálogo das ideias (BOSCO, 2017) e, de modo a impactar as 
políticas públicas e as crenças alcançam as variadasdimensões (VILELA; SELLES, 
2020) que põe em risco a existência humana. Diante do cenário que assombra a 
sociedade através do avanço do negacionismo científico, cabe especialmente ao 
Ensino de Ciências a busca pela discussão e ao mesmo tempo, articulação sobre essa 
temática marcante da era ‘pós-verdade’. 
 
39 
 
O negacionismo é alimentado pelo entendimento de ideias conspiratórias que 
representa a oposição de valores na qual se quer conservar (VILELA; SELLES, 2020) 
a fim de preservar explicações narradas como verdades alcançando àqueles que 
apresenta qualquer tipo de insegurança. Segundo Perini (2019), as conspirações 
produzem falsas controvérsias que geram dúvidas na opinião pública. Essas 
afirmações produzidas sem o debate científico podem caracterizar uma visão 
reducionista da Ciência por desprezar o conhecimento científico (VILELA; SELLES, 
2020). 
Tem sido exposto pelas mídias os aspectos científicos devido a diversidade de 
informações em que ao mesmo tempo provoca instabilidade frente a compreensão da 
ciência. Os autores afirmam que os debates acerca dos resultados científicos levaram 
a uma questão de opinião direcionada por uma polarização política. Diante da recente 
pandemia da Covid-19: 
Vários sinais de abalo a credibilidade científica foram identificados como o 
caso do medicamento da hidroxicloroquina e seus possíveis resultados no 
tratamento do indivíduo acometido pelo vírus (CARVALHO; ORQUIZA-
CARVALHO, 2020). 
Um exemplo da falta de confiança na ciência e seu descrédito são os 
movimentos antivacina - sendo um dos reflexos do negacionismo científico. Mesmo 
que sejam grupos de resistência em uma escala pequena, sabe-se que não estão 
ocultos. O bombardeio de ataques sustentado em hipóteses próprias; o apoio a 
disseminação de inverdades ausente de evidências científicas continuam são 
relevantes no cenário atual da pandemia vivenciada. O declínio das coberturas 
vacinais, o surgimento de novos surtos de sarampo no país, a hesitação vacinal por 
parte dos pais e responsáveis têm sido algumas das consequências. Vilela e Selles 
(2020) afirmam: “a negação da ciência é um processo mais sofisticado de produção 
de desinformação, que se estrutura em narrativas conspiracionistas e é travestido de 
Ciência.” 
Cada vez mais se faz necessário democratizar o conhecimento de modo que, 
os indivíduos sejam capazes de melhor compreender o mundo, realizar escolhas 
conscientes (DELIZOICOV & AULER, 2011), além disso, intervir quando necessário e 
capazes de expressar suas opiniões. Assim, “não envolve somente questões 
socioeconômicas, mas a cultura e o discernimento ético, compromissada com o 
 
40 
 
exercício de uma postura crítica diante de um processo de tomada de decisão (PIRES, 
HENRICH JÚNIOR; MOREIRA, 2018, p. 154)”. Portanto, a Educação em Ciências é 
essencial na orientação dessas questões em relação às decisões cidadãs/coletivas 
que estão relacionadas à saúde, por exemplo. 
 Diante dos resultados do negacionismo científico, umas das características 
fundamentais do Ensino em Ciências é favorecer a formação do cidadão 
compromissado com os múltiplos fatores da vida humana (PIRES, HENRICH 
JÚNIOR; MOREIRA, 2018), essenciais para a consciência crítica, a autonomia e 
participação, capazes de mobilizar conhecimentos na resolução de problemas que 
envolvem a ciência (TERNEIRO VIEIRA; VIEIRA, 2013; VIEIRA; TERNEIRO-VIEIRA, 
2015;) favorecendo para consolidar o elo com a sociedade em geral. Nesse sentido, 
superar visões fechadas, neutras e as interpretações preconceituosas dos conceitos 
científicos (MERCHÁN; MATARREDORA, 2016) devem ser desenvolvidos no Ensino 
em Ciências. 
 Formar sujeitos capazes de identificar que toda produção científica é social, 
resultante dos fenômenos naturais; produtos de observações dos cientistas dentro de 
contextos científicos e políticos em que todos atuam na produção de conhecimentos 
é urgente. Assim, é impossível separar a natureza e a sociedade (LIMA et al., 2019), 
pois a “existência de um fato científico está associada à rede que produziu e, por essa 
interação, natureza e sociedade são constituídas conjuntamente (VITTORAZZI; 
SILVA, 2020).” 
 A Ciência torna em ascensão durante o final do século XIX e início do século 
XX destacada por sua superioridade ao ser comparada a outros tipos de 
conhecimentos (LIMA et al., 2019). Entretanto, com a crise da modernidade, traz a 
desmotivação e descrença nos aspectos científicos (LOPES, 2013) e os argumentos 
se tornam relacionados aos fundamentalismos religioso e político com base em 
interesses pessoais ou grupos específicos (COSTA, 2020) a partir da comunicação 
pelo rádio. Neste sentido, portanto, há interpretações próprias e ao mesmo tempo, de 
resistência em verificar outras questões, visualizando apenas o que entende ser 
correto. Segundo Armstrong (2001), o agravante é que, geralmente, as ideias opostas 
são reagidas com violência. 
 
41 
 
 Segundo o Dicionário de Oxford, a palavra ‘pós-verdade’ foi eleita a palavra do 
ano. Ela pode ser configurada como formas de adotar crenças seja na atenção aos 
fatos ou evidências que funcionam como indícios da verdade e a influência de 
elementos subjetivos como os desejos e as emoções. Portanto, a apresentamos em 
uma nova perspectiva segundo nos aponta Lima et.al., (2019). Ao lidar com a visão 
alternativa da ciência apresentada por um grupo, estamos frente à concorrência de 
proposições e não à oposição entre verdade e falsidade, por exemplo. É o mesmo que 
acontece dentro da ciência, pois a proposição científica está baseada em outras 
proposições para se chegar ao consenso. Nesse sentido, entretanto, na pós-verdade, 
as proposições se tornam divulgadas como iguais ou superior as proposições 
científicas. Sendo, portanto, as fontes para o surgimento de movimentos antivacinas 
decorrente da hesitação vacinal. A versão da ciência nem sempre será a mais bem 
articulada. Como sabemos ela é passível de mudanças de acordo com fatores ao 
longo do tempo. Mas, é um dos vieses que pode ser utilizado para analisar os fatos 
com validade. 
Silveira (2017), acredita que a ‘pós-verdade’ surgiu a partir da crise da 
modernidade que gerou “a crença da verdade nascida da razão”, abrindo espaço para 
representação do positivismo. Algo que seria simples de compreender, infelizmente, 
é trocado por informações de cunho digital. 
 O questionamento acerca da Ciência de modo a diminuí-la foi acompanhada 
pela busca do conhecimento de si e do que está em volta (COSTA, 2020), de modo a 
acarretar tal crise mencionada no parágrafo anterior, sendo perceptível a fragilidade 
na educação crítica e no diálogo, de maneira a subsidiar argumentos que colocam em 
dúvida as recomendações de saúde. Diante dos discursos antivacinas é necessária a 
Educação em Ciências para que o indivíduo seja direcionado para as artes, ciências 
humanas e, sobretudo a cidadania (COSTA, 2020). 
 Lima et al., (2019) considerou duas reflexões metafísicas a partir dos estudos 
de Bruno Latour que intensifica a adoção da visão científica e impacta nas opiniões 
públicas. A primeira é a formação de uma visão reduzida sobre a Natureza da Ciência. 
Como afirmam, o fluxo da ciência se dá pela mediação humana e o acesso ao 
conhecimento científico é atribuído na educação básica, concentrado no conteúdo e 
 
42 
 
não sobre o que é a ciência e sua construção. Por apresentar apenas uma parte ela 
se torna frágil, com aspectos absolutista, conservadora, positivista e salvífica (LIMA 
et. al., 2019). 
 Em segundo, mostra-se o pronto, ausente da articulação; distante dos 
caminhos percorridos que chegaram à validação, e, com isso, fortalece o seu discurso 
positivista e autoritário. Considerando o movimento antivacinação é preciso extrapolar 
o conteúdo, aproximando o aluno da prática científica como a escrita e leitura de textos 
científicos (MODY, 2015), levando-o a construção

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