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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENSINO DE CIÊNCIAS E MATEMÁTICA MOVIMENTO ANTIVACINA E O ENSINO DE CIÊNCIAS: CARACTERIZAÇÃO DE ASPECTOS HISTÓRICOS, SOCIAIS E PERCEPÇÕES DE LICENCIANDOS EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS NATAL /RN 2022 WILLIANNE KELLE TAVARES SILVA MOVIMENTO ANTIVACINA E O ENSINO DE CIÊNCIAS: CARACTERIZAÇÃO DE ASPECTOS HISTÓRICOS, SOCIAIS E PERCEPÇÕES DE LICENCIANDOS EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Ensino de Ciências e Matemática como requisito parcial para obtenção de título de Mestre em Ensino de Ciências e Matemática. Orientador: Profº Drº Melquesedeque da Silva Freire NATAL /RN 2022 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Central Zila Mamede Silva, Willianne Kelle Tavares. Movimento antivacina e o ensino de ciências: caracterização de aspectos históricos, sociais e percepções de licenciandos em ciências biológicas / Willianne Kelle Tavares Silva. - 2022. 126 f.: il. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Exatas e da Terra, Programa de Pós- Graduação em Ensino de Ciências e Matemática, Natal, RN, 2022. Orientador: Prof. Dr. Melquesedeque da Silva Freire. 1. Vacinas - Dissertação. 2. Movimento antivacina - Dissertação. 3. Ensino de ciências - Dissertação. I. Freire, Melquesedeque da Silva. II. Título. RN/UF/BCZM CDU 615.371 Elaborado por Ana Cristina Cavalcanti Tinoco - CRB-15/262 RESUMO As vacinas foram fundamentais para o controle e erradicação de epidemias e pandemias na história humana sendo, portanto, indispensáveis à saúde pública e ao bem-estar individual e coletivo. Em contrapartida, a hesitação e movimentos antivacina, tais como os observados na Revolta da Vacina (1904) e no contexto atual da pandemia de Covid-19 influenciam os índices de coberturas vacinais e levantam outras preocupações relativas a aspectos sociais e educacionais. Diante da problemática, este trabalho buscou compreender aspectos do movimento antivacina e suas implicações para o ensino de ciências a partir do exame dialógico de dados da literatura e da percepção de licenciandos de biologia sobre a temática. A consulta à literatura sobre o tema contribuiu para a definição do aporte teórico de aproximação ao objeto de estudo, evidenciando também o caráter multifacetado do problema. A fim de levantar dados empíricos que contribuíssem com as análises foi realizada uma experiência formativa com licenciandos de ciências biológicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), desenvolvida em um conjunto de atividades didático-pedagógicas na modalidade de ensino remoto. Os encontros foram gravados e os registros orais e escritos produzidos nas interações discursivas foram transcritos, organizados e analisados por meio da Análise Textual Discursiva (ATD). Os resultados sugerem que os licenciandos reconhecem a relevância da imunização, as influências que afetam a decisão vacinal, a atuação do professor e o ambiente escolar. Entretanto, aspectos históricos, epistemológicos e de natureza da ciência relacionados à temática abordada foram menos evidentes na perspectiva de análise dos participantes, destacando a necessidade de se problematizar e dar ênfase a essas questões no ensino e na formação docente, de modo a contribuir para a construção de conhecimentos mais amplos acerca da vacinação e de como decisões mais bem fundamentadas podem ser tomadas sobre o tema. Palavras-chave: vacinas; movimento antivacina; ensino de ciências ABSTRACT Historically, vaccines have been successfully used to control and eradication of epidemics and pandemics and, therefore, essential to public health and individual and collective well-being. On the other hand, hesitation and anti-vaccine movements such as, Brazil’s 1904 Vaccine Revolt and currently in the Covid-19 pandemic, influence vaccination coverage rates and bring other concerns regarding to social and educational aspects. Thus, this work aimed to understand aspects of the anti-vaccine movement and its implications for Science Teaching, based on a dialogic examination literature data and biological sciences undergraduates’ perception on this issue. A literature review on the subject was crucial to define the theoretical framework to approach our study and also pointed out its multifaceted character. In order to gather empirical data that could support the analysis, an educational intervention was carried out in a remote teaching scenario with biological sciences undergraduates at Federal University of Rio Grande do Norte (UFRN). Discursive interactions during the meetings were recorded in audio and video subsequently analyzed by using Textual Discourse Analysis. Findings suggest that undergraduates recognize the importance of vaccines and its immunological action, the potential influences that affect vaccines decision- making, misunderstanding as a factor of vaccine acceptance or rejection, and that science teachers have a relevant social role regards to this issue. Nevertheless, historical, epistemological and nature of science aspects related to the topic addressed were least evident from the perspective of the participants’ analysis, highlighting the need for problematizing these issues in both science teaching and teacher education, in view of contribute to building of a wider knowledge about vaccination and on how well-founded decisions can be made on the subject. KEY WORDS: vaccines; anti-vaccine movement; science teaching LISTA DE ILUSTRAÇÕES (figuras e quadros) FIGURAS Figura 1 – Resumo do processo de categorização segundo a hesitação dos antivacinas da Covid-19..............................................................................................43 Figura 2 –Sistema Circulatório da Ciência (Adaptado de Latour, 1999b) .................47 Figura 3 - Resumo das atividades desenvolvidas..................................................... 50 Figura 4 - Modelo do questionário utilizado como atividade no Encontro 2...............51 Figura 5 – Momento de exibição do vídeo no Encontro 2..........................................52 Figura 6 - Momento de apresentação das imagens e socialização das observações durante o Encontro 3..................................................................................................53 Figura 7 - Posters utilizado na atividade do Encontro 4.............................................54 Figura 8 – Resumo da coleta de dados realizada nos encontros 2, 3 e 4.................55 Figura 9 - Exemplo de codificação dos fragmentos de textos....................................57 Figura 10 – Unidades de Significados às categorias iniciais correspondentes..........58 Figura 11 – Unidade de análise com mais de um sentido..........................................60 Figura 12 – Etapa de agrupamento das unidades de significados em categorias iniciais e a categoria final correspondente..............................................................................60 Figura 13 - Resumo de sequência de eventos considerando a Revolta da Vacina (1904) ........................................................................................................................76 QUADROS Quadro 1 - Relação das vacinas de acordo com data de descoberta ou de uso clínico.........................................................................................................................22Quadro 2 – Tipos de imunobiológicos (vacina) com o período de criação, doses, e faixa etária, sexo e condição de gestação..................................................................25 Quadro 3 – Códigos das unidades de significados, sentido/significado, título e quantidade de unidades..............................................................................................59 Quadro 4 – Posicionamentos dos licenciandos sobre a relevância da imunização....61 Quadro 5 - Posicionamentos dos licenciandos em relação as influências que afetam a decisão.......................................................................................................................67 Quadro 6 – Posicionamentos dos licenciandos sobre a atuação do professor no contexto de movimentos antivacinas (classificação em subcategorias) ....................................................................................................................................79 Quadro 7 – Posicionamentos dos licenciandos sobre os diversidade de papéis do professor.....................................................................................................................80 Quadro 8 – Posicionamentos dos licenciandos sobre a atuação do professor e a necessidade de conhecimentos conceituais de ciências e biologia............................83 Quadro 9 – Respostas dos licenciandos sobre a atuação do professor na contextualização histórico e social..........................................................................................................................84 Quadro 10 - Posicionamentos dos licenciandos relacionados às ações/comportamentos..............................................................................................85 Quadro 11 - Posicionamentos dos licenciandos sobre o ambiente escolar........................................................................................................................86 Dedico este trabalho a todxs os meus colegas professores de ciências e biologia, que se dedicam a valorização da ciência e resistem em meio aos percalços da profissão. AGRADECIMENTOS Minha gratidão a Deus por acreditar que Ele me ama e quer o melhor para mim. À minha família, por acreditar nas minhas capacidades, por todo o suporte para que eu alcance os meus objetivos, pelas palavras de incentivo e confiança. Em especial a mainha, Girlene Cristina Tavares Silva e a painho Wellder Kleiber Silva por serem o meu tudo, por darem o máximo de si pela minha vida. Hoje, sou o que sou devido a vocês. À minha irmã, Gabrielle e seu esposo Jhonatas, pela amizade e companheirismo. Ao meu sobrinho, Miguel, obrigada por florir a minha vida. Ao meu noivo, Felipe, por ser um dos que mais me instiga a buscar o melhor, obrigada por tudo. Sem vocês, tudo seria mais difícil! Aos meus avós (Joaquim e Arlinda) por compreenderem as minhas ausências. Também a Larissa, pela companhia em todos os momentos. A todos os meus amigos da vida, em especial, Rosani e Letícia, minha eterna gratidão. À Comunidade Caminhando para Santidade a qual Deus me chamou para doar a minha vida, obrigada pelas orações e apoio. Em especial, a Cristiane (in memorian), Izabel, Denise, Eduarda Kallyne e a todos os meus irmãos consagrados, obrigada por compartilhar o SIM comigo. Gostaria de agradecer ao meu orientador Melquesedeque da Silva Freire por acreditar em mim, pela paciência e cuidado. O senhor que me apoiou desde o início, enxergando o que não conseguia, meu muito obrigada para todo sempre. Gratidão à professora Márcia Gorette que é um exemplo de ser humano e profissional, obrigada pelo acolhimento no início desse caminho. Aos demais professores do PPgECM da UFRN por todo conhecimento compartilhado, pelas marcas de saber deixadas em minha memória. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela concessão de bolsas de estudos. “É justo que muito custe o que muito vale” Santa Tereza D’Ávila SUMÁRIO Introdução.................................................................................................................13 Capítulo 1. Vacinas: aspectos do desenvolvimento histórico e importância social.........................................................................................................................17 1.1. Um breve caminho sobre a origem das vacinas............................................17 1.2. Relevância da vacinação para a saúde pública.............................................21 1.3. Episódios de resistência e movimentos antivacina......................................28 Movimento Antivacina no contexto da “Revolta da Vacina (1904)”.................33 Aproximação à pandemia da Covid-19............................................................35 Capítulo 2. O papel e a importância do Ensino de Ciências em consideração ao movimento antivacina.............................................................................................37 Capítulo 3: Metodologia..........................................................................................47 3.1 Natureza da pesquisa........................................................................................48 3.2 Contexto da investigação empírica..................................................................48 3.3 Coleta de dados..................................................................................................55 3.4 Organização e Análise dos dados....................................................................55 3.5 Descrição da codificação das fragmentações dos textos.........................................................................................................................57 3.6 Das Unidades de Significados às categorias finais........................................57 Capítulo 4: Resultados e Discussão.......................................................................61 4.1 Relevância da imunização.................................................................................61 4.2 As influências que afetam a decisão................................................................67 4.3 Atuação do professor........................................................................................78 Diversidade de papéis.....................................................................................80 Conhecimentos conceituais.............................................................................82 Contextualização histórico e social..................................................................84 Ação/comportamento.......................................................................................85 4.4 Ambiente escolar................................................................................................86 4.5 Considerações das análises: novas compreensões.......................................88 Conclusão.................................................................................................................94 Referências...............................................................................................................98 ANEXO 1 – CHARGE UTILIZADA DO MOVIMENTO: REVOLTA DA VACINA (1904).......................................................................................................................106 ANEXO 2 – IMAGENS UTILIZADAS NA ATIVIDADE 03.......................................107 APÊNDICE I – RESULTADOS DAS ATIVIDADES DO ENCONTRO 3..................111 APÊNDICE II – CÓDIGOS DAS UNIDADES DE SIGNIFICADO E CATEGORIAS INICIAIS, ATRIBUIÇÃO DOS TÍTULOSE QUANTIDADE DE US.........................112 APÊNDICE III – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – TCLE..........................................116 APÊNDICE IV – TERMO DE AUTORIZAÇÃO PARA GRAVAÇÃO DE VOZ E/OU REGISTRO DE IMAGENS (FOTOS E/OU VÍDEOS)..............................................119 APÊNDICE V– PARECER CONSUBSTANCIADO CEP/UFRN.............................121 13 Introdução O presente trabalho tem razões que fomentam a minha trajetória pessoal e formativa que contribuíram para o meu interesse na área. Diante disso, há a necessidade de revisitar os eventos que marcaram o caminhar e culminaram para a realização desta pesquisa. Anterior ao meu ingresso no curso de mestrado no Programa de Pós- Graduação em Ensino de Ciências e Matemática – PPGECM na Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, realizei o curso de Licenciatura Plena em Ciências Biológicas na UFRN. Acerca da minha formação inicial, licenciatura em ciências biológicas, destaco a minha trajetória desenvolvida ao longo dos cinco anos. No início da graduação, fiz parte do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – PIBID/BIOLOGIA, na qual permaneci por pouco tempo decorrente de questões pessoais, porém, pude participar das reuniões e andamentos de projetos que estavam sendo desenvolvidos naquele período, assim como, compreender as dimensões que estruturavam o Programa. A partir da breve experiência, pude observar elementos da prática docente e o que estava relacionado com o ambiente escolar, e que considero de grande valia o pouco tempo em que permaneci ao Programa. O contato com as disciplinas de bases educacionais e os estágios supervisionados tiveram influências para a minha permanência como futuro docente. As discussões em sala de aula sempre me fizeram refletir sobre o papel e importância do professor, o quão era complexa a sua atuação, relacionadas as variadas deficiências e limitações de formação, por exemplo. Além disso, os desdobramentos em uma sociedade massacrante, que fere, julgam àqueles que contribuem para a formação de muitos. A maioria dos estágios foi realizada em escolas estaduais do município de Parnamirim/RN, com exceção de um deles, o qual realizei em espaço não formal de ensino (Museu Câmara Cascudo) decorrente de uma greve no âmbito da educação do estado do Rio Grande do Norte na época. No geral, observei aspectos 14 normativos, pedagógicos, estruturais, organizacionais que desafiam a prática docente. Paralelo às experiências vivenciadas através da grade curricular do curso, fui bolsista de iniciação científica (IC) durante a metade do curso até a sua finalização no Laboratório de Estudos em Biotecnologia Vegetal. Desenvolvi trabalhos sobre análises bioquímicas de plântulas, mais especificamente, o girassol, uma das oleaginosas importante como uma alternativa econômica de biocombustíveis. Aprendi muito e, ao mesmo tempo, era uma vida intensa, entre executar protocolos experimentais, leituras e obtenção de resultados. Entre os anos de 2017 e 2019, apresentei os trabalhos desenvolvidos durante a Semana de Ciência, Tecnologia e Cultura – Cientec/UFRN. Como resultado de iniciação científica publiquei um trabalho de coautoria na área em questão junto com os meus colegas de laboratório e o professor responsável. Mais tarde, os rumos acabaram me levando para outro destino, ao ingresso na pós-graduação a nível de mestrado no PPGECM. Sob a orientação do professor Drº Melquesedeque da Silva Freire, pude investigar, refletir e desenvolver sobre os aspectos relacionados à pesquisa, bem como, sobre a minha prática docente. Por ele fui acompanhada na docência assistida na disciplina de Instrumentação para o Ensino de Química I ofertada através da Educação à Distância (EAD). Nela, pude compreender algumas perspectivas do Ensino Superior e os possíveis desafios do EAD. No início do curso, a professora Márcia Gorette me abraçou em seu grupo de pesquisa (Argec) e as reuniões que participei deixaram marcas significativas quanto à literatura e o gosto também pela argumentação científica no Ensino de Ciências, que por sua vez, está estreitamente conectado com o letramento científico. Isso me leva a enxergar uma das ferramentas para alcance quanto a formação do sujeito cidadão, um dos objetivos do Ensino de Ciências. Nas reuniões, pude perceber que todos pesquisavam com intensa satisfação sendo felizes com o que trabalham. Isso, trouxe para as minhas formações pessoal e profissional, inserido no fazer pesquisa. Entretanto, com o andamento das disciplinas e objeto de estudo pessoal tornou inviável a participação. 15 De algum modo, a minha intenção sempre foi unir aspectos da Natureza da Ciência com o Ensino de Ciências e/ou Biologia, porém, não sabia como proceder. Com as poucas experiências no ensino, o meu olhar se atentava a tal questão e urgia para investigações nesse sentido; algo que envolvesse questões históricas e/ou filosóficas. Ingressei no curso de mestrado no ano de 2020 e todos os olhares estavam voltados para a pandemia e a instabilidade causada pelo novo coronavírus. Vivíamos um momento crítico de saúde pública que afetou os diversos setores da sociedade mundial (político, econômico, educacional, científico, social, entre outros). Ao tratar sobre ciência e entendendo que vacina é um resultado de uma prática científica relacionada diretamente ou indiretamente aos setores que constitui a estrutura da sociedade, me debrucei a buscar de forma breve os elementos envolvidos com as resistências associados ao movimento antivacina. Compreendendo também, em partes, como essa problemática surge na formação inicial, pois me leva a entender que existem aspectos históricos e sociais envolvidos. Diante do cenário vivido acerca da pandemia da Covid-19 e as associações com as diversas problemáticas envolvidas com a produção e eficácia de uma vacina que correspondesse positivamente ao novo coronavírus, surgia, ao mesmo tempo, controvérsias acerca do êxito, do tempo de produção, aplicação e atuação, especulações sobre a diversidade de laboratórios e “marcas” das vacinas, a insegurança e/ou não aceitação em relação às recomendações dos órgãos competentes de saúde e os protocolos de biossegurança. Informações essas propagadas e direcionadas de diferentes origens, as quais com seus impactos fragilizaram decisões dividindo opiniões sobre a vacinação no mundo global, contribuindo e fortalecendo o movimento antivacina. Acredito no quão é valioso a temática por envolver uma complexidade de questões e que como professora de ciências considero a docência como ferramenta de auxílio no combate ao negacionismo científico fortemente visível nos dias de hoje em relação à vacinação. Não assumo a Ciência como a detentora do conhecimento pronto e acabado, mas, acredito na sua transformação sempre que houver necessidade. Pois, a prática científica é envolvida por diversas articulações humanas e não-humanas que depende de relações complexas e difusas e não se restringe aos 16 espaços de laboratório e àqueles que fazem parte diretamente (Lima et.al.,2019). Compreendendo a importância da vacinação como fruto da prática científica e destacando o papel do Ensino de Ciências como subsídio das informações coerentes desde a educação básica, se faz necessário o olhar atento para a problematização do movimento antivacina e os aspectos históricos e sociais envolvidos, como maneira de reflexão. Dada a questão de pesquisa que norteia este trabalho, isto é, “Como a problematização do movimento antivacina em seus aspectos históricos e sociais pode contribuir para reflexões sobre o papel, importância e limitações do Ensino de Ciências?”, e com a finalidade de investigar e responder a nossa interrogação, o objetivo geral dessapesquisa é: Compreender aspectos do movimento antivacina e suas implicações para o ensino de ciências, a partir do exame dialógico de dados da literatura e da percepção de licenciandos de biologia sobre a temática. Assim, planejamos os seguintes objetivos específicos: 1) Caracterizar elementos característicos do movimento antivacina, em seus aspectos históricos e sociais, à luz de publicações científicas relacionadas ao tema; 2) Analisar possíveis relações de aspectos do movimento antivacina e as ideias expressas por licenciandos em ciências biológicas acerca da problemática em estudo; 3) Identificar potenciais contribuições que a problematização do movimento antivacina pode apresentar para o ensino e a formação inicial de professores de ciências. Desta forma, dividimos este trabalho em 4 (quatro) capítulos como descritos abaixo. No primeiro capítulo da dissertação são discutidos aspectos históricos do desenvolvimento e uso das vacinas, sua importância para a saúde humana, bem como dos movimentos de resistência e hesitação que acompanharam esse processo, destacando-se, o contexto da “Revolta da Vacina”, que marcou o Brasil no início do século XX, finalizando com uma aproximação mais recente à pandemia da COVID-19 17 e os indícios de resistência às vacinas manifestados em diferentes meios e discursos mais recentes. No capítulo 2 (dois) são discutidos aspectos do papel da Educação em Ciências a partir da problemática dos movimentos antivacina e os desafios que esse tema introduz para o ensino e para a formação de professores na área. No capítulo 3 (três) é apresentado o percurso metodológico da pesquisa, o contexto de levantamento de dados empíricos e o referencial teórico utilizado para a organização e análise dos dados. No capítulo 4 (quatro) são discutidos os resultados e as principais conclusões do estudo, construídas a partir das análises. Capítulo 1. Vacinas: aspectos do desenvolvimento histórico e importância social 1.1. Um breve caminho sobre a origem das vacinas Com base em fontes secundárias de pesquisa, este item visa apresentar um panorama acerca da origem da primeira vacina diante de um contexto histórico de saúde pública a partir do surgimento da varíola e seus impactos causados na época. A partir dela, pode ser perceptível o início no que se refere à imunização por vacinação. Em seguida, brevemente, há o destaque de outras vacinas desenvolvidas ao longo da história e suas implementações. Sabe-se que a vacinação contribui significativamente para os índices de saúde. É importante salientar que a primeira parte deste capítulo não tem a finalidade de abordar critérios historiográficos específicos que impliquem nas perspectivas de História da Biologia e Medicina, apenas apresenta menções sobre as vacinas de modo geral para acompanhamento e situação de sua trajetória como prática científica e importância para o bem-estar individual e coletivo. A busca pela imunização surgiu a partir da necessidade de diminuir a mortalidade causada por doenças infecciosas que arruinavam socialmente o mundo. Diante dessa necessidade, por melhores condições de existência humana e a 18 diminuição dos impactos ocasionados pelas epidemias, a humanidade percorreu em direção a produção das vacinas (LAROCCA & CARRARO, 2000). Ao trilhar a história das vacinas em suas origens, partimos para a época de uma das maiores pandemias existente. Nesse sentido, nos referimos à varíola. Moléstia infecciosa grave causada pelo Poxvirus variolae, resultando em febre alta vômitos, dores generalizadas e principalmente pelo aparecimento de bolhas, que deixam cicatrizes pelo corpo (BERTOLLI FILHO, 2006, p.07). A varíola também é caracterizada como uma virose altamente contagiosa que se espalhou mundialmente por volta do século XVIII, sendo responsável por elevados números de mortes ao longo da história humana, embora as primeiras evidências tenham sido datadas ainda no século III em múmias egípcias. De acordo com Fernandes (1999, p. 11) a varíola dizimou populações ao longo dos séculos, deixando marcas físicas e sociais. Até o presente momento, a vacina contra a varíola é considerada a “a primeira iniciativa frutífera em direção ao controle imunitário das doenças infecciosas” (LAROCCA; CARRARO, 2000, p.43). Durante a idade média, remédios à base de ervas foram utilizados como cura e prevenção da varíola. Na época, o médico Sydenham, acreditava que a cura se dava pela transferência de calor e por isso, as janelas deveriam ficar abertas (RIDEL, 2005) A partir de evidências de experimentos iniciais foi constatado a ausência do reaparecimento de algumas doenças em indivíduos previamente infectados. Na China, crostas da varíola foram dessecadas e pulverizadas e, posteriormente, inaladas, favorecendo a compreensão em relação às infecções contra a doença (CALLENDER, 2016). Lady Mary Wortley Montagu1 1verificou que a doença poderia ser evitada a partir da inoculação de líquido extraído de crostas de varíola de indivíduo infectado na pele de indivíduo sadio (FEIJÓ; SÁFADI, 2006). Montangu foi uma das pioneiras no desenvolvimento da técnica de inoculação. Apesar disso, sua contribuição foi, praticamente, esquecida. Mais tarde, esse processo se chamou de 1 Foi pioneira nas técnicas de inoculação no que se de refere a vacinação. Baseou seus experimentos na observação de uma técnica usada por mulheres turcas para proteger as crianças da varíola. Ela definiu as bases para a descoberta de Jenner. 19 “variolação” e foi utilizado na Europa Ocidental, Inglaterra e Estados Unidos (FEIJÓ; SÁFADI, 2006). Embora tenha sido realizada por diferentes técnicas, mas com o mesmo objetivo de proteger os indivíduos de formas graves da doença, a variolação, era uma prática insegura que poderia ter consequências graves ou dar abertura para o surgimento de outras doenças (CUNHA, et al. 2009). As investigações sobre vacinas ganharam força em 1796 com o médico britânico Edward Jenner. Ele inoculou material de vaca infectada por varíola (cowpox) em uma criança de 8 anos, Jammy Phipps, após observar que trabalhadores da zona rural, especialmente mulheres que ordenhavam vacas não contraíam a doença ao ter contato com o animal infectado (LESSA; DÓREA, 2013; CALLENDER, 2016), ou tinham apenas sintomas brandos e rápida recuperação quando contaminadas. De acordo com Mello e Gervitz (2020), esse fato ocorreu após as experiências de Benjamin Jetsy, um fazendeiro inglês da época. Ele observou que as pessoas que tinham contato com a varíola bovina não contraíam a varíola humana. Segundo os relatos, utilizou uma agulha de tricô nas bolhas dos contaminados e fez perfurações nos braços dos familiares para o contato com o líquido. Portanto, o que Jenner fez foi a repetição de experimentos anteriormente executados. Segundo Rezende et al. (2002), Jenner repetiu os experimentos várias vezes por dois anos com a obtenção dos mesmos resultados. Inicialmente, houve repulsa quanto a pesquisa de Jenner, tendo em vista a técnica utilizada que não foi aceita facilmente (LAROCA; CARRARO, 2000), pois existiam resistências de caráter religioso e filosófico. Porém, mais tarde, seu trabalho foi reconhecido e publicado. Tais investigações proporcionaram o avanço na imunização, sendo considerada uma das maiores conquistas de saúde pública (DUBÉ; VIVION; MACDONALD, 2015). A origem da palavra “vacina” se dá pela tradução latina da palavra vaca (vacca) e a varíola bovina significa vaccínia (RIDEL, 2005). Em 1885, Louis Pasteur, chamou de vacina qualquer preparação de um agente que fosse utilizado para imunização de uma doença infecciosa (LAROCCA & CARRARO, 2000; FEIJÓ; SÁFADI, 2006). Foi em um estudo junto com Robert Koch que houve a categorização de diversos micro- 20 organismos responsáveis por causar infecções (HOMMA et al., 2011). E, a partir dainvestigação acerca da cólera da galinha, identificou bactérias enfraquecidas, permitindo a criação de um tipo de vacina se propondo a testar o material contra a raiva animal (MELLO; GERVITZ, 2020). Apesar da descoberta, existia um percurso a trilhar, devido a fatores que dificultavam a eficácia das vacinas como: o tempo de produção e características dos antígenos, principalmente quanto a reprodução dos vírus (MELLO; GERVITZ, 2020), por serem parasitas intracelulares obrigatórios, ou seja, dependentes de outras células para a sua sobrevivência. Além disso, Mello e Gervitz (2020), evidenciam a importante contribuição no avanço de produção das vacinas por parte do patologista Ernest Goodpasture que cultivou o vírus da influenza em ovos de galinha em 1931, técnica utilizada nos dias de hoje. A erradicação da varíola junto à Organização Mundial da Saúde fomentou iniciativas para a imunização e em relação a novas pesquisas e objetivos de erradicação de doenças (HOMMA et al., 2011). Com o passar do tempo diversas vacinas foram desenvolvidas em resposta a epidemias como: poliomielite, sarampo, caxumba, rubéola, difteria, tétano, coqueluche, raiva, cólera, tuberculose, febre amarela, influenza, rubéola, hepatite A e B, dentre outras (CUNHA et al., 2009; HOMMA et al., 2011). A vacinação de rotina em populações marca o século XX contribuindo para a redução dos números de mortalidade e na erradicação de doenças (VAZ; GARCIA, 2003). Considerando a diversidade de infecções emergentes ao longo do tempo e história, em 2009, no México, o novo vírus Influenza A começou a circular conferindo origem a uma pandemia em fase 6 pronunciada pela Organização Mundial da Saúde (BELLEI; MELCHIOR, 2011). Segundo a Secretaria de Vigilância em Saúde no Brasil, a H1N1 foi responsável por 2.051 óbitos e mais de 44 mil casos confirmados com maior pico nas regiões sul e sudeste do país. A imunização contra o novo Influenza A iniciou em 2010, entretanto, diante de novas modificações, em 2011 uma nova vacina composta por três variações virais foi recomendada mundialmente (BELLEI; MELCHIOR, 2011). 21 Decorrente de fatores adversos como ambientais e ações humanas, por exemplo, surge a necessidade por pesquisas científicas em relação a imunização. Há manifestações de doenças, mutações virais, novas cepas de um mesmo vírus aparecem e como consequência, antígenos são investigados a fim de desenvolver novas vacinas que favoreçam a não propagação de doenças, reduzindo as taxas de mortalidade e controle na erradicação de doenças. Há a necessidade de aprofundar os conhecimentos sobre a imunização, pois existe muito a desenvolver mesmo com todos os avanços através da vacina (VAZ; GARCIA, 2003). Entretanto, atualmente, obtemos bons resultados nos testes de imunização contra o HIV (Vírus da Imunodeficiência Adquirida) em humanos. A partir da tecnologia de RNA mensageiro foi realizado um ensaio em 2021 que avaliou a eficácia do imunizante, o qual está sendo desenvolvido na Universidade de George Washington, nos Estados Unidos (PEBMED – fevereiro 2022). Em concordância com Callender (2016), as vacinas e suas implementações são consideradas um dos esforços mais bem sucedidos já colocados em prática para a saúde pública mundial. 1.2. Relevância da vacinação para a saúde pública A imunização é necessária à saúde pública, pois contribui para as respostas imunológicas individual e coletiva por prevenir a disseminação de doenças em que fortalece a resposta imunológica impedindo surtos de doenças, pois contribuem para o controle e redução de mortes por tais patógenos. É, portanto, um instrumento de prevenção (CAMACHO; CODEÇO, 2020) contra a disseminação de doenças sejam por agentes virais ou por bacterioses. Vale salientar, que as vacinas foram responsáveis na erradicação e surto de epidemias, pandemias que foram destaques na história humana e assim, sendo à saúde. Através dos diversos tipos de vacinas existentes sejam de microrganismos enfraquecidos atenuados, de inativados ou mortos, à base de RNA ou de vetores virais, elas irão induzir o sistema imunológico a produzir anticorpos específicos. Após a vacinação, o indivíduo é capaz de resistir aos micro-organismos por produzir células de memória ao patógeno (APS, 2018), que por sua vez, pode desencadear a doença, 22 mas não ocorre o agravamento de sintomas. As vacinas são extremamente seguras mesmo que com um tempo perca sua eficácia e necessite de reforço. De acordo com Hochman (2011) a vacinação se destacou como medida preventiva e ao mesmo tempo promissora devido a seu mecanismo de ação. E por isso é um “elemento essencial no direito à saúde” (SILVA, et al. 2019) representa um dos maiores sucessos do ser humano no controle e na erradicação de doenças infectocontagiosas (LESSA; DÓREA, 2013). A vacina é apresentada como um investimento em saúde com efeitos positivos de custo e eficácia; contribuinte do aumento dos índices da expectativa de vida, consequência do crescimento de vacinas disponíveis e os programas de incentivo à saúde pública. O quadro abaixo apresenta a relação das vacinas mais comuns quanto ao ano de divulgação ou uso clínico. Quadro 1 – Relação das vacinas de acordo com o ano de divulgação ou de uso clínico ANO VACINA 1798 Varíola 1885 Raiva 1914 Cólera 1921 Tuberculose (BCG) 1938 Febre amarela 1945 Influenza 1948 Difteria, tétano e coqueluche de células inteiras (DTP) 1955 Pólio injetável (VIP) 1961 Pólio oral monovalente 1963 Pólio oral trivalente (VOP) e sarampo 1976 Sarampo, caxumba, rubéola (SCR) 1981 Meningocócica polissacarídica (A, C, Y, W135) 1982 Hepatite B derivada de plasma 1983 Pneumocócica polissacarídica 23-valente 1986 Hepatite B recombinante 1987 Haemophilus influenzae do tipo b (Hib) polissacarídica 1990 Haemophilus influenzae do tipo b (Hib) polissacarídica conjugada 1995 Varicela e hepatite A 1996 Difteria, tétano e coqueluche acelular infantil (DTPa) 1998 Pneumocócica polissacarídica 7-valente 2003 Influenza atenuada spray nasal Fonte: Adaptado de CUNHA, et. al (2009, p. 22). 23 Ao longo do tempo, os índices da medida profilática tornaram-se significativos, fato refletido na saúde mundial. As campanhas de vacinação destacam-se como um dos instrumentos de política pública brasileira capazes de mudar a trajetória da saúde (BARBIERI et al., 2017; FONSECA, 2018). No século XVIII, na Inglaterra, 10% dos óbitos totais e um terço das mortes em crianças eram responsabilidade da varíola (APS et al., 2017). O êxito contra esse vírus demonstrou que a vacinação em massa tinha o poder de erradicar a doença, pois o último caso notificado no Brasil e no mundo foi na Somália, em 1971 e 1977, respectivamente. No Brasil, com a adesão das vacinas, doenças foram erradicadas e controladas: varíola (1973), poliomielite (1989), sarampo (2016) e diminuição da coqueluche, por exemplos (PASSOS; MORAES FILHO, 2020). Podemos citar o caso do sarampo “que passou a ser doença compulsória nacional em 1968” (DOMINGUES et al., p. 7, 1997), a qual durante anos foi uma das principais causas de mortalidade infantil. A partir da implementação do Plano Nacional de Eliminação do Sarampo em 1992 com campanhas de vacinação, foi possível atingir a aproximadamente 95% da redução de casos (DOMINGUES et al., 1997); além disso, a diminuição de óbitos e complicações em crianças. Segundo a OPAS/OMS, nos anos 80, os números de casos chegaram a mais de 4 milhões, entretanto, com a cobertura vacinal em 2017 foi de aproximadamente 170 mil casos de infecção, reduzindo drasticamente os números de pessoas infectadas pelo vírus. Os dados revelam que a vacina tem sido uma intervenção eficaz por evitar mais de dois milhões de mortes anualmente (MIZUTA et al., 2019; OLIVEIRA et al., 2020). Outro dado importante é quedevido a vacinação contra difteria, sarampo, tétano neonatal; coqueluche e poliomielite, os números diminuíram de 0,9 milhões para 0,4 milhões entre os anos de 2000 e 2010. De caráter mundial, com a introdução da vacinação, houve o declínio da poliomielite e sarampo, rubéola e caxumba (SCR) durante as décadas de 1950 e 1960, (APS, 2018). Outro exemplo a citar é a influenza, uma das enfermidades que permite a intervenção preventiva em saúde pública através da vacinação (BÓS; MIRANDOLA, 2013). Nos Estados Unidos, as epidemias de influenza foram responsáveis por um média de 20.000 mortes por ano em períodos de inverno. Entretanto, com a vacinação 24 e objetivos de reduzir as complicações e prevenir a virose, sua eficácia pôde atingir 90% em adultos saudáveis (YANO; TIYO, 2013). No Brasil, o Programa Nacional de Imunização (PNI) coordena as atividades de acordo com diretrizes e experiências, organizando toda a política nacional de vacinação da população brasileira (BRASIL, 2014). Decorrente da importância da imunização quanto aos índices de diminuição e erradicação, em 1973 foi desenvolvido o PNI através do Sistema Único de Saúde (SUS). Foi com sua adesão que houve a estruturação da política de imunizações no país. Após a sua institucionalização em 1975 pela Lei 6.259, houve a primeira campanha nacional de vacinação contra a Poliomielite. E, como resultado, o último caso registrado ocorreu na Paraíba em 1989. Nessa direção, o Brasil e os demais países americanos recebeu o certificado que a doença e o vírus haviam sido eliminados. Atualmente, o PNI é integrante do Programa da Organização Mundial da Saúde com a apoio da UNICEF, dos Rotary Internacional e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (FIOCRUZ, 2020). O Programa conta com 60 imunobiológicos, dentre eles vacinas, soros e imunoglobulinas (DATASUS – Programa Nacional de Imunizações/PNI), sendo 41 de vacinação. Abaixo, segue a tabela contendo alguns dos imunobiológicos disponíveis no DATASUS segundo o PNI, destacando as doses e faixa etária. 25 Quadro 2 – Tipos de imunobiológico (vacina) com o período de criação, doses, faixa etária, sexo e condição de gestação Tipo de imunobiológico - vacina Períodos Doses Faixa etária, sexo e condição de gestação BCG (BCG) 1994 1 dose (rotina)Dose 2 (indicações) menor de 1 ano, 1 ano, 2 anos, 3 anos, 4 anos, 5 a 6 anos, 7 a 14 anos, 15 a 59 anos, 60 anos e mais Contra Febre Amarela (FA) 1994 1 dose e 1 reforço a cada 10 anos menor de 1 ano, 1 ano, 2 anos, 3 anos, 4 anos, 5 a 9 anos, 10 a 14 anos, 15 a 59 anos, 60 anos e mais Contra Febre Tifóide (FT) 1995 3 doses ou 1 dose e 1 reforço 2 a 4 anos, 5 a 8 anos, 9 a 12 anos, 13 a 19 anos, 20 a 59 anos, 60 anos e mais Contra Haemophilus influenzae tipo b (Hib) 1994 4 doses menor de 1 ano, 1 ano, 2 anos, 3 anos, 4 anos, 5 a 6 anos, 7 a 17 anos, 18 a 19 anos, 20 a 59 anos, 60 anos e mais Contra Hepatite A (HA) 2000 2 doses e 1 reforço 1 a 4 anos, 5 a 8 anos, 9 a 12 anos, 13 a 19 anos, 20 a 59 anos, 60 anos e mais Contra Hepatite B (HB) 1994 3 doses (4ª dose somente para indicações) menor de 1 ano, 1 ano, 2 anos, 3 anos, 4 anos, 5 a 10 anos, 11 a 14 anos, 15 a 19 anos, 20 a 59 anos, 60 anos e mais Contra Influenza (INF) 2000 Menor de 1 ano a 8 anos: 2 doses em caso de prim. Vacinação; 9 anos e mais: 1 dose menor de 1 ano, 1 a 2 anos, 3 a 8 anos, 9 a 12 anos, 13 a 19 anos, 20 a 59 anos, 60 anos e mais Contra Meningococo AC (MnAC) 1994 dose única 2 a 4 anos, 5 a 8 anos, 9 a 12 anos, 13 a 19 anos, 20 a 59 anos, 60 anos e mais Contra Pneumococo 23 (Pn23) 1994 1 dose e 1 reforço 2 a 4 anos, 5 a 8 anos, 9 a 12 anos, 13 a 19 anos, 20 a 59 anos, 60 anos e mais Contra Rubéola (monovalente) 1995 a 2000 dose única menor de 1 ano, 1 a 4 anos, 5 a 8 anos, 9 a 12 anos, 13 a 19 anos, 20 a 59 anos, 60 anos e mais Contra Sarampo (monovalente) 1994 a 2003 2 doses menor de 1 ano, 1 a 4 anos, 5 a 8 anos, 9 a 12 anos, 13 a 19 anos, 20 a 59 anos, 60 anos e mais Dupla Adulto (dT) 1994 3 doses e 1 reforço menor de 1 ano, 1 ano, 2 anos, 3 anos, 4 anos, 5 a 6 anos, 7 a 14 anos, 15 a 59 anos, 60 anos e mais 26 Dupla Infantil (DT) 1994 3 doses e 1 reforços 1 a 4 anos, 5 a 8 anos, 9 a 12 anos, 13 a 19 anos, 20 a 59 anos, 60 anos e mais Dupla Viral (SR) 2000 a 2004 dose única Hexavalente (HX) 2006 3 doses 12 anos, 13 a 14 anos, 15 a 16 anos, 17 a 19 anos, 20 a 24 anos, 25 a 29 anos, 30 a 34 anos, 35 a 39 anos, 40 a 44 anos, 45 a 49 anos Oral Contra Poliomielite (VOP) 1994 3 doses e 2 reforços 1 a 4 anos Oral Contra Poliomielite (Campanha 1ª etapa) (VOP) 1994 dose única menor de 1 ano Oral Contra Poliomielite (Campanha 2ª etapa) (VOP) 1994 dose única menor de 1 ano, 1 ano, 2 anos, 3 anos, 4 anos, 5 a 6 anos, 7 anos e mais Oral de Rotavírus Humano (RR) 2006 2 doses menor de 1 ano, 1 ano, 2 anos, 3 anos, 4 anos, 5 a 6 anos, 7 anos e mais Pentavalente (DTP+HB+Hib) (Penta) 2003 3 doses menor de 1 ano, 1 a 4 anos, 5 anos e mais Tetravalente (DTP/Hib) (TETRA) 2002 3 doses menor de 1 ano, 1 a 4 anos, 5 anos e mais Toxóide Tetânico 1994 a 2000 3 doses e reforço menor de 1 ano (entre 6 e 24 semanas de vida) Tríplice Acelular (DTPa) 2000 3 doses e 2 reforços menor de 1 ano Tríplice Bacteriana (DTP) 1994 3 doses e 2 reforços menor de 1 ano, 1 ano, 2 anos, 3 anos, 4 anos, 5 a 6 anos Tríplice Viral (SCR) 1995 1 dose 7 a 11 anos, gestantes de 12 a 14 anos, não gestantes de 12 a 14 anos, homens de 12 a 14 anos, gestantes de 15 a 49 anos, não gestantes de 15 a 49 anos, homens de 15 a 49 anos, 50 a 59 anos, 60 anos e mais 2ª dose (4 a 6 anos) menor de 1 ano, 1 ano, 2 anos, 3 anos, 4 anos, 5 a 6 anos Fonte: Adaptado do DATASUS (2022) – Programa Nacional de Imunizações/PNI 27 Mais uma vez, é importante ressaltar que a proteção através da vacinação não é apenas individual e sim, coletiva, pois ela evita a disseminação em maior extensão de doenças que podem levar a óbitos ou sequelas, de modo, a comprometer a qualidade de vida das pessoas. Quando o indivíduo é imunizado há impacto no processo coletivo em que o indivíduo está inserido, diminuindo a probabilidade que outros sejam infectados (DOBRACHINSKI, 2011). Com a vacinação, podemos atingir a imunidade de rebanho obtida a partir da maior proporção de indivíduos vacinados de maneira a prevenir a transmissão e barrar a propagação do vírus. Como resultado, os números de infecção diminuem e protegem até mesmo aqueles não imunizados. Ao tratar-se sobre a relevância da vacinação e os números envolvidos, cabe ressaltar neste parágrafo sobre a poliomielite, por exemplo. Sua incidência de diminuição desde 1988 em mais de 99% em todo o globo, ao mesmo tempo, eliminada dos continentes americanos e do Brasil desde 1991 e 1994, respectivamente (OMS, 2019). Outro relato de acordo com dados da Organização Pan-Americana da Saúde em 2021, o Haiti certificou a eliminação do tétano neonatal. Entretanto, a pandemia mais recente ocasionada pelo vírus do Covid-19 trouxe diversas Fake News (por informações, notícias, postagens) a partir do contato com as diversas tecnologias de informação e comunicação que levou o leitor a pseudoinformações. Nesse contexto, houve indícios de que a progressão da doença levaria ao controle, ou seja, a imunidade coletiva por contágio desenvolveria imunidade contra o vírus. Porém, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), tal opção não seria a melhor estratégia adotada por razões científicas, éticas e jurídicas. Segundo a nota técnica divulgada na época pela USP (Universidade de São Paulo), essa opção favorecia a aparição de novas variantes do vírus. Tal ideia associada à não adoção dos protocolos de biossegurança (máscara cobrindo boca e nariz, medidas de isolamento social) resultaram em uma média 680 mil mortes atualmente somente no Brasildesde o início da pandemia (DATASUS, 2022) e mais de 15 milhões no mundo (OMS, 2022). 28 Em síntese, existe uma forte associação da vacina com a melhoria da saúde e qualidade de vida demonstrando a cobertura vacinal ser indispensável. 1.3. Episódios de resistência e movimentos antivacina O movimento antivacinação ou “anti-vaccinaton” (em inglês) é uma oposição à vacinação e se configura como um fenômeno global que segundo ele, os manifestantes defendem a transparência da informação pública e o direito à escolha individual (BELTRÃO et al., 2020). É caracterizado por afirmações de que as vacinas acarretam malefícios utilizando argumentos que são “inseguras e ineficientes” (RADZIKOWSKI et al., 2016). Esse movimento é o principal responsável pela queda de adesão ao esquema vacinal. Segundo APS (2018, p.3), “o movimento antivacina é tão antigo quanto a própria vacinação”. Com o surgimento da vacina contra a varíola e sua obrigatoriedade houve a resistência por parte dos sujeitos ao considerar a vacina como uma invasão de liberdade. Entre 1840 e 1853, na Inglaterra, a vacinação tornou- se obrigatória por meio de uma lei pró-vacinação a qual gerou insatisfações utilizando argumentos de liberdade individual e medo da tirania médica (JÚNIOR, 2019). Em 1982 ocorreu a publicação do documentário “DPT: Vaccine Roulette” associando a vacina tríplice bacteriana a danos cerebrais (REVISTA MÉDICO EM DIA – AGOSTO 2017). Em sua abertura, havia uma criança gritando à medida que a agulha penetrava na pele, uma voz narrando que a DTP causaria danos às crianças e o título sendo apresentado letra por letra após o som de tiros de revólver (FERRAIRO, 2015). Nos anos 90 no Camarões, surgiu o boato de que havia aplicação de vacinas que causavam esterilização em mulheres (DUBÉ; VIVION; MACDONALD, 2015). Nesta direção, em 1998, o movimento ganhou força a partir da publicação do artigo na revista inglesa “The Lancet” pelo médico Andrew Wakefield e colaboradores, em que relacionou a tríplice viral: sarampo, caxumba e rubéola com inflamações intestinais e espectro autista (MIZUTA et al., 2019). A publicação de Alfred Wakefield instigou para o renascimento de agitações contrárias ao relacionar a vacina tríplice (caxumba, sarampo e rubéola) com o autismo em pleno século XXI (DALL’AGNOL, 29 2020). Mesmo após as investigações e comprovações da ausente relação, tal divulgação foi responsável pela falta de confiabilidade e incertezas quanto a eficácia das vacinas. Além disso, surgiu a teoria de que a vacina contra a varíola mesmo atenuada reagiria no intestino e entraria pela corrente sanguínea com destino ao cérebro (CALLENDER 2016); em 2016, casos de microcefalia foram associados a lote de vacinas vencidas (RODRIGUES DA SILVA, M.; APARECIDA DE SOUZA TELES, L.; GASPAR DA SILVA ANDRADE, 2020). As notícias perpetuam-se até os dias de hoje e causam reflexo devastador quanto à cobertura vacinal no Brasil e no mundo. Por exemplo, as coberturas vacinais infantis demonstram dados visíveis ao retratar aos casos de sarampo, coqueluche e até a reintrodução da poliomielite em locais antes já extinta. Em 2018, nos estados de Roraima e Amazonas foram mais de 1.500 casos de sarampo (OMS, 2018). No Reino Unido em 1970, surgiu a ideia da vacina contra a coqueluche sugerindo problemas neurológicos após a vacinação, o qual se espalhou pela Europa, Estados Unidos, União Soviética e Austrália, tendo como consequência a suspensão da vacina o Japão nos anos 80 (DUBÉ; VIVION; MACDONALD, 2015). Os impactos causados por esses movimentos podem ser os mais diversos. As coberturas infantis em 2016 estavam acima de 95%, indicando relevante aceitação por parte da população (APS, 2018). Entretanto, a partir de 2016, houve declínio resultando no aumento de mortalidade infantil e por sua vez, o enfraquecimento do Sistema Único de Saúde (SUS). Em 2018, houve a reincidência de casos de sarampo em vários países. No Brasil, houve um surto da doença chegando a 10 mil casos na Região Norte e assim, perdeu o certificado do país livre de sarampo (PINTO JUNIOR, 2019; RODRIGUES DA SILVA, M.; APARECIDA DE SOUZA TELES, L.; GASPAR DA SILVA ANDRADE, 2020). No contexto da América Latina, as coberturas vacinais em 2018 demonstram- se abaixo do recomendado pela OMS (OPAS, 2019). No Reino Unido, houve a queda de 9% da taxa de vacinação em 1 ano (ORTIZ-SÁNCHEZ et al., 2020) devido a relação do autismo com a vacina contra a tríplice viral. Na Califórnia, foi criado o “The 30 Vaccine Book: Making the right decision for your child”, o qual favoreceu para o aumento no percentual de pessoas não vacinadas (CALLENDER, 2016). Em relação a situação pandêmica recente, Ortiz-Sánchez et al., (2020), retrata a reflexão das falsas informações sobre o Covid-19. Os autores elencam fatores preocupantes como a divulgação da mistura de ácido nítrico e cloreto de sódio para tratamento de infecção, e vacina com microchip. Dentre esses e outros, pode-se considerar que afetam a vacinação potencializando a resistência relacionada à descrença na ciência, como determinante na estruturação da tomada de decisão (MATOS et al., 2020). Sobre o momento mais recente, Dall’Agnol (2020, p. 2): Há um crescente movimento antivacina que é preocupante e expressa tanto visões morais questionáveis quanto negacionismo científico, pondo em risco muitas vidas. Em suma, podemos observar que há uma forte relação entre a ascensão de movimentos antivacinação e os surtos de doenças anteriormente controladas. A contestação e a resistência fazem parte da própria história das vacinas, refletindo nos movimentos antivacina ao redor do mundo (POLAND; JACOBSON, 2001). Nesse sentido, há interrelações entre política, ciência, saúde pública e a mídia resultando na credibilidade dada aos movimentos que constituem risco a saúde individual e coletiva (RODRIGUES DA SILVA, M.; APARECIDA DE SOUZA TELES, L.; GASPAR DA SILVA ANDRADE, 2020). Existem diversas influências motivadas por razões relacionadas à hesitação vacinal, recusa vacinal e movimento antivacina que resultam em implicações como a redução nas taxas de aceitação da vacina e no aumento de surtos e epidemias, por exemplos (DUBÉ, VIVION & NONI E MACDONALD, 2015). A recusa pode ter total ou atraso na administração devido a questões envolvidas. Portanto, existem interrelações entre os diversos contextos que envolvem questões política, ciência, saúde pública, valores religiosos, crenças, desinformação, características sociodemográficas, liberdade individual, teorias das conspirações os quais determinam a decisão de pais em vacinar seus filhos. Podemos ainda citar a relação com a segurança das vacinas e confiança dos serviços prestados; utilização dos efeitos colaterais como razões para não vacinação; administração simultânea de doses; propostas rápidas para novas 31 vacinas; o conhecimento insuficiente que podem levar o indivíduo a ser a favor da hesitação vacinal (CALLENDER, 2016). Com a veiculação da internet e a oportunidade para a difusão de mensagens por ativistas de antivacinação, tem despertado sobre a segurança e eficácia de vacinas a partir de informações imprecisas. A internet, como fonte de informação tem sido porta voz de comentários antivacina em que as pessoas têm utilizado apenas algumas informações de apoio, utilizando falácias lógicas, descartando outras informações, apoiando-se em falsos conhecimentos (CALLENDER, 2016). De certo modo, ela favorece para o negacionismo científico no que se refere à imunização por vacinação. O quadro a seguir apresenta de forma sintética os principais determinantes envolvidos com as decisões dos pais pela vacinação de aceitação ou recusa vacinal. Baseado em estudos que examinaram a tomada de decisões considerando determinantes contextuais (influências diversas como comunicação e mídia,valores religiosos); determinantes organizacionais (relacionados a qualidade dos serviços da vacinação); determinantes individuais (conhecimento dos pais, atitudes e crenças, características sociodemográficas) (DUBÉ, VIVION & NONI E MACDONALD, 2015). Principais determinantes na decisão dos pais pela vacinação Determinantes contextuais Influências históricas, políticas e socioculturais Crises anteriores de saúde pública; Política; Religião; Etnia; Gênero; Normas sociais, pressão social; Rede social; Relações de poder e/ou diferenças desiguais na cultura entre profissionais de saúde e pacientes. Ambiente de comunicação e mídia Promoção/comunicação sobre vacinação; Líderes influentes/antivacinação; Rumores; Mídias sociais e Internet. Determinantes individuais 32 Características sociodemográficas Nível educacional; Status sociodemográfico; Composição familiar; Migração. Conhecimento e atitudes Conhecimento e conscientização sobre imunização (quem, quando, onde); Percepções da segurança das vacinas (medo de eventos adversos); Percepções da eficácia das vacinas; Percepções do risco; Crenças sobre imunidade; Prioridades de saúde/percepções da importância de vacinação para a saúde da criança/geral atitudes sobre saúde e prevenção; Arrependimento antecipado. Experiências anteriores com serviços de saúde e vacinação Encontros anteriores com profissionais de saúde; Medo de agulhas/dor da criança após a imunização; Eventos negativos após vacinação anterior da criança. Confiança no sistema de saúde e nos prestadores de cuidados de saúde Desconfiança da indústria farmacêutica; Desconfiança da comunidade médica; Interesses conflitantes percebidos de saúde fornecedores e autoridades de saúde pública. Recomendações de profissionais de saúde. Determinantes organizacionais Disponibilidade e qualidade dos serviços de vacinação Custos (diretos e indiretos); Barreiras de distância/geográficas; Confiabilidade do fornecimento de vacinas; Conveniência da prestação de serviços de vacinação; Motivação e atitudes da equipe de saúde Equipe de saúde treinada e competente; Capacidade de se comunicar com os pais. Problemas específicos de vacinas Esquema de vacinação; Introdução de uma nova vacina ou formulação; Modo de administração; Modo de entrega. Fonte: Adaptado de DUBÉ, VIVION & NONI E MACDONALD (2015, tradução nossa) 33 Movimento Antivacina no contexto da “Revolta da Vacina (1904)” As discussões acerca da eficácia das vacinas não são recentes; estando presente desde que as vacinas foram desenvolvidas (DUBÉ, VIVION & NONI E MACDONALD, 2015). A insatisfação popular por meio da resistência ao método de imunização no Brasil contra a varíola, deu origem a um movimento considerado relevante para a história da saúde pública e científica do país. No início dos anos de 1900, houve o manifesto popular conhecido como a “Revolta da Vacina”, acontecida no Rio de Janeiro e marcada pela reação popular à campanha de vacinação contra a varíola na época (FONSECA; DUSO, 2020; PASSOS; MORAES FILHO, 2020). A causa da aversão não foi somente pela obrigatoriedade da vacina e seus efeitos, mas também por questões políticas da época. Os grupos contrários sentiam-se intimados pelas pessoas que aplicavam a vacina, enfermeiros e fiscais, pois agiam com agressividade. Contudo, a população era contra as condições de aplicação que tinha medidas autoritárias (SEVCENKO, 2003) reivindicando a liberdade do próprio corpo. As condições higiênicas e a falta de saneamento básico do município do Rio de Janeiro eram precárias, e, como consequência, havia manifestação de doenças infectocontagiosas favorecendo focos de epidemias. O processo ocorreu sob os comandos do médico e sanitarista Oswaldo Cruz e assim, considerada como parte das reformas sanitárias e projetos de urbanização do governo da época. Como resultados das medidas implementadas de acordo com Pôrto (2003) envolveram a demolição de cortiços, dando espaços para alargamento de ruas, indivíduos refugiando-se para morros, originando as periferias. De acordo com Challoub (1996), o movimento é considerado um dos maiores levantes populares ocorridos no Brasil no início do século XX, paralisando o Rio de Janeiro entre os dias 10 e 16 quando decretado o Estado de Sítio, iniciando o controle da rebelião e a dura repressão aos agitadores com prisões ou deportações (CARVALHO, 1987). 34 Segundo Porto e Ponte (2003, p. 729), o episódio envolve vários elementos significativos que envolve a vacina e sua utilização social. A vacinação de modo geral segundo o autor, De fato, longe de ser um ato isolado, sujeito apenas aos parâmetros de aferição e decisão da medicina ou das ciências biomédicas, a vacinação é também, pelas implicações socioculturais e morais que envolve, a resultante de processos históricos nos quais são tecidas múltiplas interações e onde concorrem representações antagônicas sobre o direito coletivo e o direito individual, sobre as relações entre Estado, sociedade, indivíduos, empresas e países, sobre o direito à informação, sobre a ética e principalmente sobre a vida e a morte. Para o motim popular de 1904, havia descrença quanto à vacina e especulações de que causaria a morte ou deformações físicas (FONSECA; DUSO, 2020). As vacinas como pesquisas recentes, ainda desconhecidas e de difícil compreensão ao pensar no que ela era, no sentido do próprio processo de construção de conhecimento científico, de acordo com os autores. A aprovação da lei obrigatória foi estabelecida através de intensas discussões e o decreto denominado pela população como o “Código de Torturas” (HOCHMAN, 2011) causou uma intensa insatisfação por parte da população; uma reação negativa a qual foi responsável por conflitos e a interrupção da aplicação da vacina. Como consequência, em 1908, houve um novo surto da doença com a eclosão de casos (PORTO, 2003). A agitação não foi somente da sociedade civil – popular, mas havia declarações por parte de políticos opositores do governo da época. Os discursos defendiam direito à liberdade de escolha do cidadão, além da crítica a obrigatoriedade da vacina colocando em dúvida sua segurança, chamando-a de “veneno” (SHIMIZU, 2018). Segundo a autora, o relato de que a vacina antivariólica teria causado a morte por infecção generalizada de uma mulher após a vacina, contribuiu para as inquietações da população e repercussão negativa acerca dela. Contudo, pode-se afirmar que a Revolta da Vacina foi o movimento pioneiro no Brasil de antivacinação. Por fim, pode-se considerar que foi a primeira campanha de vacinação acontecida no Brasil e ao mesmo tempo, raiz para movimentos antivacinação que surgiram ao logo do tempo. Além disso, focam nas reações adversas que podem ocasionar e como consequência, induzem a recusa vacinal. 35 Hoje, é possível visualizar a criação de grupos antivacinas, os quais criam informações incorretas baseadas em sites eletrônicos ausente de fundamentação científica (RODRIGUES DA SILVA, M.; APARECIDA DE SOUZA TELES, L.; GASPAR DA SILVA ANDRADE, 2020) gerando sentimentos de antivacinação a fim de descredibilizar a prática vacinal. Isso, foi perceptível durante a Covid-19 considerando um contexto mais atual. Aproximação à pandemia da Covid-19 A OMS, em 31 de dezembro de 2019, foi alertada sobre casos de pneumonia em Wuhan, cidade da China. Entretanto, tratava-se de uma nova cepa de coronavírus ainda não identificada. Após passado os dias, o surto do novo coronavírus passou a fazer parte da Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESP II), constituindo o mais alto nível de alerta da OMS (OPAS, 2020). De acordo com o órgão, é a sexta vez na história que é declarada uma Emergência de Saúde Pública seguido da pandemiada H1N1, Poliovírus, surto do ebola na África Ocidental, Zika vírus associado a casos de microcefalia e malformações congênitas e surto do ebola no Congo. Em março de 2021, a COVID-19 foi caracterizada pela OMS como uma pandemia (OPAS, 2022). As medidas adotadas a fim de diminuir as curvas de contaminação e morte incluíram e são utilizadas até hoje como o uso de máscaras, condições de higiene, distanciamento, isolamento em caso de testagem positiva (COUTO; BARBIERI; AMORIM, 2021). A pandemia foi de intensa preocupação para indivíduos com comorbidades (doenças cardiovasculares, diabetes, obesidade, doenças associadas ao sistema respiratório e outras). O mundo enfrentou consequências da Covid-19, ocasionada pelo novo coronavírus SARS-CoV-2, também chamado de novo coronavírus que resultou no fechamento de escolas, comércios indústrias (COUTO; BARBIERI; AMORIM, 2021) e que afetou diretamente a economia global e as relações sociais. Foi intensa a mobilização junto a governos, comunidades científicas, indústrias farmacêuticas e outras instituições de vários países na arrecadação de recursos para a produção de vacinas (HOSANGADI et al., 2020) envolvendo a eficácia, testagem, 36 aplicação de doses, divulgação de resultados e efeitos adversos das vacinas (OLIVEIRA, 2021). O Reino Unido foi o primeiro país a aprovar um imunizante e sua aplicação iniciou em dezembro de 2020; outros países da Europa como Alemanha, França, Portugal, Itália dentre outros, estão entre os primeiros países a participarem do programa de vacinação contra o novo coronavírus no continente e no mundo. No Brasil, cerca de 6 vacinas estão disponíveis à população: AstraZeneca, CoronaVac, Covaxin, Janssen, Pfizer e Sputnik V (MILER-DA-SILVA et al., 2021). Segundo o que afirma esses autores, existe um grupo de indivíduos que desconfia acerca das vacinas. Entretanto, as incertezas e desconfianças diante das vacinas não são atuais. Em mais um momento é marcada pela insegurança em relação a vacina sustentadas nas supostas consequências de morte ou deformações físicas. Sabe-se que a desconfiança e tal incredulidade contribuem para tendem a aumentar com os movimentos antivacina. Na pandemia da Covid-19 foi perceptível a resistência contra as vacinas que apontou um cenário para o conflito individual versus coletivo, pois com as vacinas tem- se além da imunidade individual, a coletiva, quando atinge o nível de cobertura vacinal elevada (COUTO; BARBIERI; AMORIM, 2021). A decisão por não se vacinar revelou a divisão de grupos a favor e contrários a vacinação. Entretanto, o descontentamento com as próprias medidas profiláticas também foi evidente. A partir disso e outros fatores que envolve todo o aparato social e suas interrelações podemos observar indícios de movimentos antivacina. Com a internet e as informações espalhadas rapidamente, neste tempo, foi ainda mais explícito. À medida que as pesquisas sobre as vacinas avançavam teorias conspiratórias tomavam a mesma proporção, das mais diversas como o lucro das indústrias farmacêuticas acerca do “vírus chinês” (criado para colocar a China no topo do mundo), vacina com chip para monitorar as pessoas (COUTO; BARBIERI; AMORIM, 2021). Em conformidade com Zaracostas (2020) e Marques e Raimundo (2021) esse fenômeno se dá pela divulgação das fake news pelas redes sociais (Twitter, Facebook, WhatsApp, etc) e que exercem influência diretamente na decisão do indivíduo. A partir do fato, a OMS junto com outros órgãos lançou plataformas com a intenção de barrá-las. 37 O discurso negacionista fomentou o movimento antivacinação durante o período mais crítico do Covid-19 de forma a potencializar uma maneira de pseudociência sobre o vírus (MARQUES; RAIMUNDO, 2021) e certos grupos mobilizou argumentos a fim de desacreditar a ciência e de invalidá-la, como afirma os autores. Inclusive, com discursos de ódio pautados em verdades absolutas que se tornaria impossível contestá-lo. E, ao mesmo tempo, a reflexão do papel do Ensino de Ciências e dos professores da área diante da temática dos movimentos antivacinas. Pode-se dizer que o movimento antivacina no cenário do SARS-CoV-2 tem deixado marcas e levado a refletir sobre o que acontece na história da saúde pública e os seus aspectos científicos. Com base em dados oficiais dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos registrou em março de 2022 que média semanal mortes resultou em 383 não vacinados e 261 vacinado. Embora, a diferença aparenta não ser grande, porém é necessário conhecer quantas pessoas foram vacinadas e quando feito as comparações dos coeficientes de mortalidades é possível identificar diferenças contrastantes. A mortalidade por Covid-19 a partir de 12 anos entre os não vacinados foi 17 vezes mais alta entre os vacinados e inclusive, 8 vezes mais alta do que só os que receberão duas doses de vacinas (MONTAÑEZ, LEWIS, 2022). Capítulo 2. O papel e a importância do Ensino de Ciências em consideração ao movimento antivacina No cenário atual, o trabalho da Ciência tem sido árduo no enfrentamento da Covid-19 e das fake news (SANTOS, 2020). Durante esse período ocorreu desenvolvimento das medidas preventivas, a compreensão acerca do novo coronavírus no corpo humano para caracterizar os sintomas, suas ações, elaboração de testes de diagnóstico eficazes e ainda, a produção de vacinas que capazes de amenizar os danos ou quem sabe erradicá-lo. Acerca da desinformação e a pandemia no Brasil e em outros países como Itália e Estados Unidos, um estudo realizado pela Avaaz em parceria a SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações) revela que 94% dos brasileiros tiveram acesso a pelo menos uma das notícias falsas sobre o novo coronavírus (SANTOS, 2020). 38 O contexto não é recente e surge a cada nova situação em que a sociedade precisa enfrentar junto com os pesquisadores em saúde, meio ambiente, tecnologia entre outras áreas. No ápice da epidemia do vírus Zika várias desinformações foram compartilhadas através das redes sociais (KARAT; BUSKO; GIRALDI, 2019) acarretando medo e dúvida com base no desconhecimento a respeito de mosquitos transgênicos e das vacinas. Segundo Henriques, graves podem ser as consequências da desinformação por fake news para os serviços de saúde: As informações equivocadas podem levar a diversos comportamentos e atitudes geradoras de risco, seja pela indução ao uso de tecnologias inadequadas, como medicamentos e vacinas sem indicação, ou, no outro extremo, pela recusa a tecnologias e medidas de proteção necessárias ou ainda pela desorganização que provocam nos serviços, de saúde (HENRIQUES, 2018, p. 10). Nesse sentido, as inverdades dão crédito para a hesitação vacinal devido ao medo e desconfiança em métodos e pesquisas científicos. Como abordado em parágrafos anteriores deste referente trabalho é possível notar que a problemática em relação a disseminação de notícias falsas tem suas origens e avança nos seus impactos devastadores, persistindo na história da ciência associada à saúde pública brasileira e do mundo. Fato que contribui e favorece para o negacionismo científico, levando em consideração o seu potencial e a sua consequência a respeito do que é divulgado, tornando-o cada vez mais ascendente frente a tais questões, de modo, a fragilizar cada vez mais a Ciência. De acordo com Vilela e Selles (2020), o negacionismo científico é uma ressignificação atual para as antigas rejeições ao papel da ciência, que por sua vez, acrescido com a internet e redes sociais, fortalecem a desinformação; é considerado como sendo algo menos custoso, pois não precisa sair da zona de conforto com a difusão de informações. Neste sentido, ganha vigor no espaço virtual e discursos reativos superam o diálogo das ideias (BOSCO, 2017) e, de modo a impactar as políticas públicas e as crenças alcançam as variadasdimensões (VILELA; SELLES, 2020) que põe em risco a existência humana. Diante do cenário que assombra a sociedade através do avanço do negacionismo científico, cabe especialmente ao Ensino de Ciências a busca pela discussão e ao mesmo tempo, articulação sobre essa temática marcante da era ‘pós-verdade’. 39 O negacionismo é alimentado pelo entendimento de ideias conspiratórias que representa a oposição de valores na qual se quer conservar (VILELA; SELLES, 2020) a fim de preservar explicações narradas como verdades alcançando àqueles que apresenta qualquer tipo de insegurança. Segundo Perini (2019), as conspirações produzem falsas controvérsias que geram dúvidas na opinião pública. Essas afirmações produzidas sem o debate científico podem caracterizar uma visão reducionista da Ciência por desprezar o conhecimento científico (VILELA; SELLES, 2020). Tem sido exposto pelas mídias os aspectos científicos devido a diversidade de informações em que ao mesmo tempo provoca instabilidade frente a compreensão da ciência. Os autores afirmam que os debates acerca dos resultados científicos levaram a uma questão de opinião direcionada por uma polarização política. Diante da recente pandemia da Covid-19: Vários sinais de abalo a credibilidade científica foram identificados como o caso do medicamento da hidroxicloroquina e seus possíveis resultados no tratamento do indivíduo acometido pelo vírus (CARVALHO; ORQUIZA- CARVALHO, 2020). Um exemplo da falta de confiança na ciência e seu descrédito são os movimentos antivacina - sendo um dos reflexos do negacionismo científico. Mesmo que sejam grupos de resistência em uma escala pequena, sabe-se que não estão ocultos. O bombardeio de ataques sustentado em hipóteses próprias; o apoio a disseminação de inverdades ausente de evidências científicas continuam são relevantes no cenário atual da pandemia vivenciada. O declínio das coberturas vacinais, o surgimento de novos surtos de sarampo no país, a hesitação vacinal por parte dos pais e responsáveis têm sido algumas das consequências. Vilela e Selles (2020) afirmam: “a negação da ciência é um processo mais sofisticado de produção de desinformação, que se estrutura em narrativas conspiracionistas e é travestido de Ciência.” Cada vez mais se faz necessário democratizar o conhecimento de modo que, os indivíduos sejam capazes de melhor compreender o mundo, realizar escolhas conscientes (DELIZOICOV & AULER, 2011), além disso, intervir quando necessário e capazes de expressar suas opiniões. Assim, “não envolve somente questões socioeconômicas, mas a cultura e o discernimento ético, compromissada com o 40 exercício de uma postura crítica diante de um processo de tomada de decisão (PIRES, HENRICH JÚNIOR; MOREIRA, 2018, p. 154)”. Portanto, a Educação em Ciências é essencial na orientação dessas questões em relação às decisões cidadãs/coletivas que estão relacionadas à saúde, por exemplo. Diante dos resultados do negacionismo científico, umas das características fundamentais do Ensino em Ciências é favorecer a formação do cidadão compromissado com os múltiplos fatores da vida humana (PIRES, HENRICH JÚNIOR; MOREIRA, 2018), essenciais para a consciência crítica, a autonomia e participação, capazes de mobilizar conhecimentos na resolução de problemas que envolvem a ciência (TERNEIRO VIEIRA; VIEIRA, 2013; VIEIRA; TERNEIRO-VIEIRA, 2015;) favorecendo para consolidar o elo com a sociedade em geral. Nesse sentido, superar visões fechadas, neutras e as interpretações preconceituosas dos conceitos científicos (MERCHÁN; MATARREDORA, 2016) devem ser desenvolvidos no Ensino em Ciências. Formar sujeitos capazes de identificar que toda produção científica é social, resultante dos fenômenos naturais; produtos de observações dos cientistas dentro de contextos científicos e políticos em que todos atuam na produção de conhecimentos é urgente. Assim, é impossível separar a natureza e a sociedade (LIMA et al., 2019), pois a “existência de um fato científico está associada à rede que produziu e, por essa interação, natureza e sociedade são constituídas conjuntamente (VITTORAZZI; SILVA, 2020).” A Ciência torna em ascensão durante o final do século XIX e início do século XX destacada por sua superioridade ao ser comparada a outros tipos de conhecimentos (LIMA et al., 2019). Entretanto, com a crise da modernidade, traz a desmotivação e descrença nos aspectos científicos (LOPES, 2013) e os argumentos se tornam relacionados aos fundamentalismos religioso e político com base em interesses pessoais ou grupos específicos (COSTA, 2020) a partir da comunicação pelo rádio. Neste sentido, portanto, há interpretações próprias e ao mesmo tempo, de resistência em verificar outras questões, visualizando apenas o que entende ser correto. Segundo Armstrong (2001), o agravante é que, geralmente, as ideias opostas são reagidas com violência. 41 Segundo o Dicionário de Oxford, a palavra ‘pós-verdade’ foi eleita a palavra do ano. Ela pode ser configurada como formas de adotar crenças seja na atenção aos fatos ou evidências que funcionam como indícios da verdade e a influência de elementos subjetivos como os desejos e as emoções. Portanto, a apresentamos em uma nova perspectiva segundo nos aponta Lima et.al., (2019). Ao lidar com a visão alternativa da ciência apresentada por um grupo, estamos frente à concorrência de proposições e não à oposição entre verdade e falsidade, por exemplo. É o mesmo que acontece dentro da ciência, pois a proposição científica está baseada em outras proposições para se chegar ao consenso. Nesse sentido, entretanto, na pós-verdade, as proposições se tornam divulgadas como iguais ou superior as proposições científicas. Sendo, portanto, as fontes para o surgimento de movimentos antivacinas decorrente da hesitação vacinal. A versão da ciência nem sempre será a mais bem articulada. Como sabemos ela é passível de mudanças de acordo com fatores ao longo do tempo. Mas, é um dos vieses que pode ser utilizado para analisar os fatos com validade. Silveira (2017), acredita que a ‘pós-verdade’ surgiu a partir da crise da modernidade que gerou “a crença da verdade nascida da razão”, abrindo espaço para representação do positivismo. Algo que seria simples de compreender, infelizmente, é trocado por informações de cunho digital. O questionamento acerca da Ciência de modo a diminuí-la foi acompanhada pela busca do conhecimento de si e do que está em volta (COSTA, 2020), de modo a acarretar tal crise mencionada no parágrafo anterior, sendo perceptível a fragilidade na educação crítica e no diálogo, de maneira a subsidiar argumentos que colocam em dúvida as recomendações de saúde. Diante dos discursos antivacinas é necessária a Educação em Ciências para que o indivíduo seja direcionado para as artes, ciências humanas e, sobretudo a cidadania (COSTA, 2020). Lima et al., (2019) considerou duas reflexões metafísicas a partir dos estudos de Bruno Latour que intensifica a adoção da visão científica e impacta nas opiniões públicas. A primeira é a formação de uma visão reduzida sobre a Natureza da Ciência. Como afirmam, o fluxo da ciência se dá pela mediação humana e o acesso ao conhecimento científico é atribuído na educação básica, concentrado no conteúdo e 42 não sobre o que é a ciência e sua construção. Por apresentar apenas uma parte ela se torna frágil, com aspectos absolutista, conservadora, positivista e salvífica (LIMA et. al., 2019). Em segundo, mostra-se o pronto, ausente da articulação; distante dos caminhos percorridos que chegaram à validação, e, com isso, fortalece o seu discurso positivista e autoritário. Considerando o movimento antivacinação é preciso extrapolar o conteúdo, aproximando o aluno da prática científica como a escrita e leitura de textos científicos (MODY, 2015), levando-o a construção
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