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PAãÆO--TERRA-E-LIBERDADE-X-DEUS--PAüTRIA-E-FAMAìLIA--IntroduAAúo-a-HistAria-do-RN--MONTEIRO--Denise-Mattos--2015

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© Copyright 2015 - Edição Flor do Sal / Natal - RN
flordosal@uol.com.br
Ia. edição: EDUFRN, 2000 
2a. edição: Cooperativa Cultural, 2002 
3a. edição: EDUFRN, 2007 
4a. edição: Flor do Sal, 2015
Autora
Denise Mattos Monteiro 
Editores
Flávia Celeste Martini Assaf e Adriano de Sousa
Revisão 
Márcio Simões
Designer Gráfico e Capa 
José Antonio Bezerra Junior
Foto da Autora
Giovanni Sérgio
Ilustração da Capa
índio Tarairiú, tribo extinta.
Óleo de Albert Eckhout, pintor holândes (1654).
Catalogação da publicação na Fonte.
M775i Monteiro, Denise Mattos.
introdução à História do Rio Grande do Norte / Denise 
Mattos Monteiro. - 4. ed. - Natal, RN: Flor do Sal, 2015.
208 p. : il.
ISBN 978-85-69107-00-2
1. História do Rio Grande do Norte. I. Título.
CDD 981.32
Todos os direitos desta edição reservados à Flor do Sal 
Rua Nascimento de Castro, 1926, S 108 - Lagoa Nova - 59.056-450 - Natal/RN - Brasil 
e-mail: flordosal@uol.com.br - Telefone: 84 3025-4297
mailto:flordosal@uol.com.br
mailto:flordosal@uol.com.br
CAPÍTULO
Pão, Terra e Liberdade x Deus, Pátria e Família: as 
lutas sociais e a evolução política no Rio Grande 
do Norte, no pós-Revolução de 30 (1930 a 1937)
DENISE MATTOS MONTEIRO
Lauro Lago, João B atista G alvão e Jo sé M acedo [da e sq u e rd a p ara a 
d ireita): três m em b ro s do G overno P opular N acional R evolucionário 
sendo levados p a ra a p risão , em N atal, no an o d e 1935. [Foto do livro 
Praxedes: u m operário no poder, d e M oacyr O liveira Filho)
142
INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO NORTE
Pão, Terra e Liberdade x Deus, Pátria e Família: as 
lutas sociais e a evolução política no Rio Grande 
do Norte, no pós-Revolução de 30 (1930 a 1937)
A década de 1930 havia se iniciado no Brasil sob a perspectiva de mu­
danças. O movimento armado vitorioso, sob a liderança de Getúlio Vargas, 
fizera do combate ao sistema de poder oligárquico sua principal bandeira.
Uma vez empossado como Chefe do Governo Provisório, Vargas tratou 
de garantir a presença do novo Governo em cada estado, através dos "inter­
ventores”, que deveriam ser preferencialmente militares, oriundos de outros 
estados que não aquele para cujo governo eram nomeados. As interventorias 
visavam assegurar uma ruptura no poder dos grupos oligárquicos tradicio­
nais, nas diferentes unidades da Federação. Para o Nordeste, foi nomeado 
Juarez Távora, liderança do movimento tenentista, como representante do 
Governo Provisório e seu elo com os interventores na região. Era a chamada 
"Delegacia do Norte”.
A resistência oligárquica às mudanças que se anunciavam, porém, 
não se faria esperar e geraria uma instabilidade permanente no governo 
dos interventores, que, frente à pressão dos grupos de poder tradicionais, 
renunciavam ao cargo ou eram demitidos e substituídos por ordem de Var­
gas. Nesse processo de transição, o governo revolucionário, buscando a 
consolidação, acabaria por se adequar às diferentes conjunturas políticas 
estaduais, equilibrando-se entre os interesses oligárquicos e as aspirações 
dos que haviam combatido e apoiado a Revolução de 1930.
Essa instabilidade foi característica do governo do Rio Grande do Norte, 
estado para o qual foi designado o maior número de interventores - cinco no 
total - dentre os estados do Nordeste, nos anos que decorreram entre 1930 e 1935.
Dois exemplos ilustram a força que aí era exercida pelas oligarquias duran­
te as interventorias. Com a tomada do poder em 1930, foi criado um Tribunal 
Especial, com ramificação nos estados, através dos interventores, encarregado 
de investigar, denunciar e estabelecer a punição para aqueles que haviam 
praticado atos de corrupção. O primeiro interventor, Irineu Joffili, tentou dar 
continuidade a um processo sobre sonegação fiscal, contra a empresa M. F. 
do Monte & Cia., uma das maiores casas exportadoras do estado, estabelecida 
em Mossoró, no final do século XIX, pelo “coronel” Miguel Faustino do Monte. 
A ação do interventor, porém, não foi firmemente respaldada pelo Governo 
Provisório de Vargas, o que levou Joffili a renunciar ao cargo. Processo seme­
lhante ocorreu quando o terceiro interventor, Hercolino Cascardo, em 1931, 
condenou o ex-governador Juvenal Lamartine à perda dos direitos políticos 
e devolução do dinheiro público. Também sem respaldo do Governo Federal, 
Cascardo renunciou, vendo prevalecer os interesses oligárquicos.149
1,9 Quatro anos mais tarde, Hercolino Cascardo seria um dos líderes de um grande movimento popular 
contra o governo de Getúlio Vargas.
143
DENISE MATTOS MONTEIRO
Nesse contexto, a Delegacia do Norte, exercida por Juarez Távora, foi 
extinta antes de completar um ano de existência, tendo se mostrado inútil, 
frente a um sistema de poder solidamente estabelecido, cujas bases nos 
municípios, controladas pelos “coronéis”, permaneceram intocadas com a 
Revolução de 1930.
Em nível nacional, a reação oligárquica se consubstanciou num movi­
mento armado, que ficou conhecido como a Revolta Constitucionalista de 
1932. Com a ascensão de Vargas ao poder, a Constituição Republicana de 
1891, vigente durante a Primeira República, havia sido revogada e o Con­
gresso Nacional dissolvido, assim como as Constituições estaduais e as As­
sembleias Legislativas em cada estado. A Revolta Constitucionalista, iniciada 
em São Paulo, com o apoio de oligarquias estaduais, exigia a convocação 
de uma Assembleia Constituinte para o país, o que significava, na prática, 
o fim do Governo Provisório. Embora a revolta tenha sido derrotada pelas 
forças militares desse governo, a reorganização constitucional foi iniciada 
por Vargas. No mesmo ano, ele promulgou um Código Eleitoral, que deu 
o direito de voto às mulheres, mas proibiu o voto dos analfabetos, criou a 
Justiça Eleitoral e instituiu o voto secreto.150 151 As eleições para a escolha dos 
membros de uma Assembleia Nacional Constituinte, que deveria elaborar 
a nova Constituição e escolher o novo Presidente, foram convocadas para 
o ano de 1933.
A partir de então, o movimento tenentista, cujos ideais revolucionários 
abriram caminho para Vargas, começaria a esvaziar-se. Enquanto muitos de 
seus membros optariam pela volta aos quartéis, outros escolheriam soluções 
políticas mais radicais, como a ala liderada pelo tenente Luís Carlos Prestes 
fizera quando eclodiu a Revolução de 1930, a ela negando seu apoio por 
considerá-la uma “revolução oligárquica”.
Ao paulatino refluxo do tenentismo, correspondeu uma rearticulação das 
oligarquias, frente às eleições que se aproximavam. Por um lado, Vargas, 
pretendendo passar de chefe do Governo Provisório a Presidente da República 
e, portanto, dependendo do voto dos deputados constituintes federais a serem 
eleitos em cada estado, aproximou-se cada vez mais dos velhos grupos agrá­
rios, numa manobra política que fortaleceu esses grupos.1” Por outro lado, 
estes últimos organizaram novos partidos em seus estados para concorrer 
às eleições, visando à representação de tais estados na Assembleia Nacional 
Constituinte e, sobretudo, a reconquista da política estadual.
No Rio Grande do Norte, objetivando lançar candidatos às eleições para 
deputados constituintes federais, foram criados dois partidos. O primeiro 
deles, o Partido Popular, ao contrário do que sua denominação faz crer, era 
uma expressão dos tradicionais donos do poder no estado. Sob a liderança 
do ex-governador José Augusto Bezerra de Medeiros, reunia figuras como o 
também ex-governador Juvenal Lamartine e Dinarte Mariz, ambos primos de 
José Augusto e representantes da elite agrária do Seridó. O segundo, o Partido 
Social Nacionalista do Rio Grande do Norte, representava a resistência de
150No Rio Grande do Norte, o direito de voto das mulheres havia sido obtido dois anos antes, em 1928.
151 Em campanha eleitoral, Getúlio Vargas esteve em Natal, em 1933.
144
INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO NORTE
interventorias frente aos grupos tradicionais. Dele participava João Café 
Filho, que, tendoiniciado sua vida política na organização de sindicatos de 
trabalhadores no estado, e apoiado a Revolução de 1930, chegou a Chefe de 
Segurança Pública. Realizadas as eleições em 1933, o Partido Popular saiu 
vitorioso, elegendo três dos quatro deputados constituintes federais.
A vitória do poder oligárquico iria ocorrer também nas eleições de 1934. A 
nova Constituição, promulgada nesse ano, determinava que haveria eleições 
para deputados federais e deputados constituintes estaduais, os quais deve­
riam elaborar as Constituições de seus estados e eleger seus governadores 
e representantes no Senado Federal. Nessas eleições, não apenas as forças 
presentes na eleição do ano anterior se recomporiam, como também novos 
atores políticos entrariam em cena, numa disputa acirrada na qual não 
faltaram os episódios violentos.
Formou-se no estado a chamada “Aliança Social”, que reuniu, mais uma 
vez, as forças originárias da Revolução de 1930, lançando seus candidatos 
a deputados federais e constituintes estaduais, e Mário Câmara para o 
Executivo estadual. Câmara foi o último dos cinco interventores do Rio 
Grande do Norte designado por Vargas, no período 1930-1935, e possuía 
raízes locais, pois sua “família tinha bases eleitorais em Ceará-Mirim, na 
zona açucareira”.152 O Partido Popular, além de seus próprios candidatos a 
deputados, indicou para o governo Rafael Fernandes Gurjão, proprietário de 
terras e de salinas e membro de uma poderosa família de Mossoró.
Dois novos partidos, entretanto, também lançaram candidatos a depu­
tados, expressando a complexidade política crescente do país. Novas ideias 
políticas, que atraíam setores sociais antes marginalizados no sistema de 
poder da Primeira República, passaram a ser propagadas ou mais difundidas, 
especialmente entre as camadas médias urbanas e a classe operária.
O primeiro deles foi a Ação Integralista Brasileira (AIB), fundada em 
1932, em São Paulo. Ideologia autoritária de direita, inspirada no fascismo 
de Benito Mussolini, na Itália, e no nacional-socialismo de Adolf Hitler, na 
Alemanha, o integralismo estava apoiado essencialmente no catolicismo 
conservador, no anticomunismo, no nacionalismo e no culto ao chefe, sob 
o lema “Deus, Pátria e Família”. Contando com milícias uniformizadas - 
os chamados “camisas verdes” a AIB foi o “o primeiro partido político 
brasileiro com implantação nacional”, constituindo “o primeiro movimento 
de massa no Brasil”.153 154 Em sua organização interna, baseada em rígida hie­
rarquia, os dirigentes máximos eram, sobretudo, profissionais liberais, altos 
funcionários públicos e oficiais superiores do Exército e da Marinha.
Em 1933, foi fundado o núcleo da AIB no Rio Grande do Norte, que obteve 
apoio, sobretudo, de parte das camadas médias urbanas. O movimento con­
seguiu organizar núcleos em várias cidades do estado e editou dois jornais: 
A Renovação, em Natal, e A Voz Integral, em Mossoró.15,1 Representando o
' “ SPINELLI, J. Antônio. Getúlio Vargas e a oligarquia potiguar. 1930-1935, p.131.
153TRINDADE, Hélgio. Integralismo. O fascismo brasileiro na década de 30, p.1-2.
154Segundo Luiz G. Cortez, em PeQuena história do integralismo no RN, essas cidades foram: Natal, 
Papari (Nfsia Floresta), Arez, Goianinha, Currais Novos, Acari, Flores (Florânia), Jardim do Seridó, 
Caraúbas, Açu, Luiz Gomes, São Miguel, Apodi, Mossoró e Macafba.
145
DENISE MATTOS MONTEIRO
pensamento conservador e contando com a simpatia de padres e bispos, 
foi particularmente forte no Seridó, onde o padre Walfredo Gurgel exercia 
importante liderança entre os católicos. Nas eleições de 1934, a A1B lançou 
três candidatos a deputado constituinte estadual.155
Dentre seus líderes, estava o escritor e professor Luís da Câmara Cascudo, 
membro do primeiro triunvirato que dirigiu o movimento no estado. Em 
1934, aos 36 anos de idade, ele se tornou o primeiro “chefe provincial” do 
integralismo estadual. Nessa função, foi um dos principais divulgadores da 
ideologia fascista/integralista, não apenas entre os jovens estudantes do 
Colégio Atheneu, mas, sobretudo, em cidades do interior, as quais percorreu 
pregando o fascismo brasileiro. Além disso, colaborou ativamente, com seus 
artigos, em jornais e revistas da Ação Integralista Brasileira, especialmente 
no jornal A Ofensiva, porta-voz nacional do movimento.156
O segundo partido a aparecer na cena política dessas eleições foi o Parti­
do União Operária e Camponesa do Brasil, sigla sob a qual se apresentaram 
os candidatos comunistas, visto que o Supremo Tribunal Eleitoral havia 
negado autorização para o registro do Partido Comunista do Brasil, impedido 
de atuar legalmente desde 1927. Pelo Partido da União Operária e Camponesa 
do Brasil, foram lançados cinco candidatos para a Câmara Federal e 24 para 
a Assembleia Constituinte Estadual.157
Figura 45 - Um bigode ao estilo de Hitler, como o de Câmara Cascudo, o quarto na fila da frente,
da direita para a esquerda, seria também um símbolo de opção política? (Camisas verdes)
155Candidatos da AIB: Otto de Brito Guerra, Waldemar de Almeida e Ewerton Cortês.
156Segundo Luiz G, Cortez, em Câmara Cascudo, um jornalista integralista, p. 39, Câmara Cascudo 
"era ligado à corrente antissemita e tinha fortes ligações com o grupo ultradireitista e 
nacionalista” dentro da Ação Integralista Brasileira. De acordo com Hélgio THndade, Integralismo: 
o fascismo brasileiro na década de 30, p. 207, Câmara Cascudo estava também entre aqueles 
integralistas que admitiam o recurso à violência para tomar o poder. Foi o que ele defendeu em seu 
artigo no jornal "A Ofensiva”, de 31 de maio de 1934, ao escrever: "O que importa é a vitória. Ela 
virá matematicamente certa, pacífica se for possível, violenta, com o sacrifício do nosso sangue, 
se a tanto formos levados”.
157 Para a Câmara Federal, concorreram: Lauro Reginaldo da Rocha, Agostinho Dias da Silva, Acrísio 
João de Araújo, José Tertuliano da Motta e Luiza Gomes dos Santos.
146
INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO NORTE
No contexto da grande crise econômica de 1929, que gerou um aumento 
do desemprego e do custo de vida e a queda dos salários, e da eclosão da 
Revolução de 1930, que ocasionou a desarticulação de muitos sindicatos, 
o Partido Comunista do Brasil participou da reorganização do movimento 
sindical, junto com socialistas e anarquistas. O movimento sindical avançou 
e os anos compreendidos entre 1930 e 1935 caracterizar-se-iam por inúmeras 
greves por todo o país, envolvendo diferentes categorias de trabalhadores. 
Mas a repressão ao movimento operário nesses anos seria crescente, com a 
dissolução violenta de greves e comícios, fechamento de sindicatos, prisão 
e deportação de lideranças. Paralelamente a isso, o Governo Provisório de 
Vargas passaria a controlar a organização de sindicatos de trabalhadores, 
com a elaboração de uma série de leis que os subordinaria cada vez mais ao 
Ministério do Trabalho, por ele criado em 1930.
No Rio Grande do Norte, haviam sido fundados dois núcleos do Partido 
Comunista na segunda metade da década de 1920, em Mossoró e Natal. Na 
primeira dessas cidades, a fundação do núcleo esteve diretamente ligada 
à criação do sindicato dos salineiros em 1931, a mais numerosa categoria 
de trabalhadores do oeste do estado, incluindo os milhares de homens que 
migravam do campo em busca de trabalho em Mossoró, Areia Branca e 
Macau, na época de safra do produto.
A preparação do sal, colheita e transporte para os aterros, e 
poste rio rm en te para as "b arcaças” conduzirem aos navios 
cargueiros, com o era norm al nessa época, carecia de m uita 
mão de obra. A perm anência de mais de uma dezena de navios 
ancorados no “lam arão” desses portos, à espera de encherem os 
seus porões para conduzirem para o sul do país, concorria para 
maior número de emprego. Esse trabalho, sem horário certo, era 
processado de forma contínua, porque à mercê dos horários das 
marés. Tanto podia ser noite como dia, o sal era transportado 
num “balaio”de cipó com um “calão de madeira, nos ombros 
de um a dupla de hom ens usando roupas velhas, chapéu de 
palha e calçados com "alpercatas de rabicho .
Eram alimentados à base de café, bolacha, farinha, feijão, carne 
de charque, fornecidos pelo "barracão da própria salina, que 
lhes cobrava preços duzentas ou trezentas vezes mais caros que 
os preços normais do comércio.
Os que m oravam m ais próximo das salinas tinham encontro 
com as fam ílias aos dom ingos, e os m ais d istan tes um a ou 
duas vezes por mês. As condições desse trabalho desum ano 
levavam esses pobres trabalhadores à condição de nas idades de 
quarenta a cinquenta anos aparecerem como verdadeiros trapos 
hum anos, a maioria deles cegava pelos raios solares em choque 
com a brancura do sal. Outros portadores de volumoso calo no 
om bro ou com um defeito físico que se lhes apresentava, ou 
ainda, o "m axixe", denom inação que era dada a um a doença 
que contraíam nos pés, pelo contato com o potássio do sal, que 
iniciava rachando e depois engrossando a pele de tal form a, 
que se tornava difícil unir os dedos, e m uitos deles ficavam 
im possibilitados de usar sapatos.
147
DENISE MATTOS MONTEIRO
Talvez um percen tu a l de no m áxim o uns cinco por cento 
desses trabalhadores pensassem no futuro e fizeram pequenas 
econom ias que davam para viverem m odestamente. A grande 
maioria, porém, terminava esmolando ou sustentados por filhos 
ou parentes em atividade.1“
A partir da organização, em Mossoró, da Associação dos Trabalhadores 
na Extração do Sal, mais tarde chamada Sindicato do Garrancho, entre 
1931 e 1935, todos os sindicatos fundados não apenas em Mossoró, mas 
em toda a região oeste, foram organizados pelo PCB”1M, como o sindicato 
dos trabalhadores da construção civil, o dos operários sapateiros e o dos 
ferroviários. A força do Partido ficou demonstrada na primeira greve geral 
das salinas, ocorrida em 1932, ano de uma grande seca no Nordeste, que 
implicou, mais uma vez, desemprego, fome, doenças, êxodo e saques a 
depósitos de alimentos, nas cidades. Mas foi, sobretudo, na grande greve 
de 1934 que o trabalho de sindicalização do Partido Comunista se mostrou 
efetivo, quando pararam não só as 32 salinas entre Mossoró e Areia Branca 
como a própria cidade de Mossoró, visto que a greve teve a adesão de eletri- 
citários, ferroviários, padeiros, operários da construção civil, barcaceiros e 
estivadores, num total de cinco mil trabalhadores.160
Em Natal, a atuação do Partido Comunista na organização dos traba­
lhadores era forte na União dos Estivadores Natalenses e no Sindicato dos 
Sapateiros, e várias greves eclodiram nesses anos, como a dos operários da 
Light and Power, empresa canadense que “tinha o monopólio dos serviços 
de bonde, água, luz e telefone”.161 Essa atuação, porém, era extremamente 
difícil, pois, além de sofrer uma intensa repressão policial, concorria com o 
trabalho de sindicalização que vinha sendo realizado por Café Filho desde 
os anos 20, o qual controlava vários sindicatos.
Dessa forma, a tentativa de criar uma primeira confederação sindical, no 
estado, em 1932, denominada “União Geral dos Trabalhadores”, sob orien­
tação do Partido Comunista, “à margem da legislação sindical imposta pelo 
Ministério do Trabalho” e constituindo “uma ameaça à hegemonia cafeísta”, 
se revelou infrutífera por “não conseguir reunir um número expressivo de 
sindicatos”.1“
O movimento operário no estado era especialmente forte entre salineiros 
e estivadores, duas categorias de trabalhadores que se achavam numeri­
camente concentradas - ao contrário dos trabalhadores rurais estavam
iss SABINO, Geraldo. História do sindicalismo no Rio Grande do Norte, p. 30-31.
FERREIRA, Brasília C. O sindicato do garrancho, p. 79.
'“ FERREIRA, Brasília. Op. cit., p. 122.
161 Segundo Homero Costa, em A insurreição comunista de 1935, p. 57-58, sob a interventoria 
de Hercolino Cascardo, houve uma expansão do movimento sindical. No início de 1933, na 
capital, além dos dois sindicatos citados, existiam: o Sindicato dos Pedreiros de Natal, a União 
Social Beneficente dos Motoristas, o Sindicato dos Ferroviários da Great Western, o Sindicato 
dos Marceneiros e Pintores de Natal, a União Sindical da Prefeitura de Natal, o Sindicato dos 
Tïabalhadores das Docas do Porto (em oposição à União dos Estivadores), o Sindicato dos Pintores, 
o Sindicato dos Professores Norte-rio-grandenses e o Centro Operário Natalense.
COSTA, Homero. Ibidem, p. 57-58.
148
INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO NORTE
ligadas a atividades econômicas fundamentais para o estado - a extração 
do sal e a exportação de produtos primários - e exerciam seu trabalho em 
áreas portuárias, onde era maior o fluxo não só de mercadorias, mas também 
de homens e ideias.
Quanto aos trabalhadores rurais, era difícil o trabalho de conscientiza­
ção de seus direitos e sua organização em sindicatos, visto que, dispersos 
no campo, ocupados nas atividades agrícolas e pastoris, mergulhados no 
analfabetismo, estavam mais diretamente subordinados aos proprietários 
rurais, constituindo “currais eleitorais” de inúmeros “coronéis” no interior. 
Acrescente-se a isso o fato de que a participação política por meio do voto 
era privilégio de poucos, uma vez que só podiam votar os alfabetizados.“3
Como resultado desse quadro, nas eleições de 1934, os tradicionais grupos 
agrários puderam retomar o poder estadual: o Partido Popular elegeu qua­
torze deputados constituintes estaduais e três deputados federais, ficando, 
assim, garantida a eleição de Rafael Fernandes Gurjão, como governador do 
Estado, e de Eloy Castriciano de Souza e Joaquim Ignácio de Carvalho Filho, 
como senadores.164 A Aliança Social elegeu onze deputados estaduais e dois 
deputados federais, não tendo sido eleitos candidatos da Ação Integralista 
Brasileira e da União Operária e Camponesa do Brasil.
Enquanto Vargas, aproximando-se dos velhos grupos agrários em cada 
estado, garantiu sua eleição como Presidente constitucional da República, 
para o período 1934-1938, deixando para trás os ideais revolucionários de 
1930 e se aproximando da ideologia fascista, organizou-se no país um am­
plo movimento popular em oposição aos rumos do Governo Federal - a 
Aliança Nacional Libertadora (ANL). Estruturada em março de 1935, no Rio 
de Janeiro, congregando tenentistas, comunistas, socialistas e democratas, 
e indicando Luís Carlos Prestes - cuja popularidade era grande, desde as 
marchas da Coluna Prestes - como seu presidente de honra, a Aliança Nacio­
nal Libertadora manifestava-se, sobretudo, contra o fascismo/integralismo, 
o imperialismo e o latifúndio. Em seu programa básico, ela defendia: a 
suspensão do pagamento da dívida externa, a nacionalização de empresas 
estrangeiras, a reforma agrária nos latifúndios, a proteção aos pequenos e 
médios proprietários, a liberdade de expressão, a diminuição dos impostos, 
o aumento dos salários, a assistência ao trabalhador e mais instrução para 
o povo. Com o lema “Pão, Terra e Liberdade”, em alguns meses, essa frente 
única ganhou o apoio popular e de inúmeras lideranças progressistas do 
Brasil na época. Caravanas e comícios populares, nos quais muitas vezes 
ocorriam choques com milícias integralistas, foram organizados em dife­
rentes estados onde se estabeleciam sedes da Aliança.
Visando eliminar esse crescente movimento de oposição, Vargas promul­
gou uma Lei de Segurança Nacional, em abril de 1935. Com base nessa lei,
" Segundo Homero Costa, Op. c it, p. 82, “em 1933, [...], por ocasião das eleições para a Assembleia 
Constituinte, a população do Estado era de 764.571 habitantes, sendo que apenas 18.959 puderam 
se inscrever para votar”, ou seja, um pouco mais de 2% da população.
1M João Café Filho, da Aliança Social, e José Augusto Bezerra de Medeiros, do Partido Popular, foram 
eleitos deputados federais, sendo reeleitos duas vezes para o mesmo cargo, em 1946 e 1950. Café 
Filho se aproximaria cada vez mais de Getúlio Vargas, chegando a vice-presidenteda República 
nas eleições presidenciais de 1950, e presidente, com a morte de Getúlio, em 1954.
149
DENISE MATTOS MONTEIRO
o Governo Federal ordenou o fechamento da Aliança Nacional Libertadora 
em julho do mesmo ano, ao que se seguiram inúmeras prisões, punições e 
perseguições àqueles que haviam a ela aderido, civis e militares. À proibi­
ção de continuidade do movimento corresponderam protestos na Câmara 
Federal, ações na Justiça, comícios e manifestações populares, estes últimos 
violentamente reprimidos. Mas a Aliança permaneceu ilegal, o mesmo não 
ocorrendo com relação à Ação Integralista Brasileira, que continuou atuando 
e se organizou efetivamente como partido político nesse mesmo ano.
Figura 46 - Comício da Aliança Nacional Libertadora, no Rio de Janeiro, em 1935. (ANL)
No Rio Grande do Norte, a Aliança Nacional Libertadora foi criada em 
abril de 1935, em Natal, com uma direção integrada por militantes comunis­
tas. Mas o movimento, embora tenha conseguido criar comitês em diferentes 
cidades, “não teve o crescimento que foi observado em outras capitais” 
e “as únicas manifestações públicas ocorreram quando da vinda de uma 
caravana aliancista do Rio de Janeiro, que percorreu diversas capitais do 
país, passando em Natal [com destino a Mossoró e Fortaleza] em junho de 
1935”.165 Os poucos registros históricos existentes indicam que, dentre os 
sindicatos atuantes no Estado, o dos estivadores foi o primeiro a manifestar 
sua adesão e, entre os militares, a Aliança contava com o apoio de membros 
do 21° Batalhão de Caçadores, na capital.
A repressão do Governo Federal à Aliança Nacional Libertadora consti­
tuiu um dos fatores que levariam à chamada Insurreição Comunista de 1935, 
ocorrida simultaneamente em Natal, Recife e Rio de Janeiro.
165 COSTA, H„ Op. cit., p. 65-66.
150
INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO NORTE
A decretação da ilegalidade da ANL e a repressão que se seguiu fizeram 
com que muitos dela se afastassem, ao contrário do Partido Comunista, 
que nela permaneceu e passou a monopolizar sua direção. O “tenente” 
Luís Carlos Prestes, que havia ingressado nesse partido em 1934 e entrara 
clandestinamente no Brasil em abril de 1935, se tornara membro da direção 
do partido. Avaliando, erroneamente, que o país reunia as condiçoes para 
uma revolução - avaliação essa que havia sido discutida num Congresso de 
Partidos Comunistas da América Latina realizado em Moscou -, Prestes, 
seguindo a tradição tenentista, passou a liderar a articulação de um levante 
armado, apostando numa aliança entre militares e o movimento popular. 
Apesar da discordância e da oposição de muitos membros do próprio Partido 
Comunista do Brasil, a Insurreição começou a ser organizada, envolvendo, 
sobretudo, militares tenentistas que haviam ingressado no partido. O plano 
implicava levantes armados simultâneos por todo o Brasil, a partir de uma 
ordem da liderança, instalada no Rio de Janeiro.
No Rio Grande do Norte, muitos se preparavam para esses levantes. Entre 
eles, estavam militantes do Partido Comunista que atuavam no tra alho 
de sindicalização de trabalhadores na região oeste do estado, a partir o 
sindicato dos salineiros de Mossoró. Vários desses militantes haviam si o 
forçados a viver na clandestinidade, em face da violenta repressão ao mo 
vimento operário sindical, sobretudo nas salinas, por parte do governa or 
Rafael Fernandes Gurjão, que havia assumido o cargo em outu ro e 
e era, ele mesmo, proprietário de salinas. Em consequência a extrema 
violência policial, “aos poucos foi aumentando o número de operários que ja 
não podiam circular livremente, sem que corressem o risco de serem presos. 
Esse grupo de trabalhadores, ligados ao Partido, e com destaca a atuaçao 
na formação de sindicatos, foi sendo empurrado para a c an estini a e. 
Rapidamente, o número de trabalhadores clandestinos c egou a mais e 
trinta e à medida que a mudança de tática do governo f°i tra uzm 0 em 
maior vigilância e perseguição, começou a ficar muito i íci permanecer
naquela situação”.1“ - ■ • ,
Frente a essas circunstâncias, em uma reunião da ireçao municipa 
do Partido Comunista em Mossoró, ficou decidido que esses tra a a ores 
militantes clandestinos passariam a formar um grupo arma o, que aguar 
daria a eclosão do levante planejado no Rio de Janeiro, grupo era 1 era 0 
por Manuel Torquato de Araújo. Natural da várzea o ssu, ex sa ineiro 
que participara da criação do Sindicato e fora presii ente e sua primeira 
diretoria, Manuel Torquato, como membro do Partido Comunista em Mossoro 
e procurado pela polícia nessa cidade, havia sido designa 0 Pa â a uar na 
área de Assu, junto aos trabalhadores rurais. Esse grupo clandestino, com o
tempo, chegou a reunir aproximadamente duzentos omens, que se ívi iam
em pequenos subgrupos, movimentando-se às escondidas entre Mossoro, 
Assu e Areia Branca. “Quando necessitavam de alimentos se juntavam e 
invadiam fazendas, levando também animais. Ao mesmo tempo procuravam 
a adesão de trabalhadores [rendeiros, meeiros, agregados, colhedores de
‘ FERREIRA, Brasília C. O sindicato do garrancho, p. 127.
151
DENISE MATTOS MONTEIRO
palha de carnaúba], fazendo pequenos comícios, conclamando-os à adesão 
à luta armada”.167
Na noite de 23 de novembro de 1935, a Insurreição Comunista eclodiu, 
antes do planejado, em Natal, sendo seguida por Recife, no dia 25, e Rio de 
Janeiro, onde foi deflagrada no dia 27.
Em Natal, o levante começou no 21° Batalhão de Caçadores, por iniciativa 
de soldados, cabos e sargentos. A ideia do levante fora favorecida pela notícia 
de que muitos deles seriam dispensados de seus serviços, aumentando o 
contingente de desempregados da cidade. Além disso, o novo governador 
eleito - Rafael Fernandes Gurjão - “iniciou um processo de demissões e 
readmissões, retirando dos cargos públicos todos aqueles que não estivessem 
sintonizados com os interesses do antigo e novo sistema de poder. A extinção 
da Guarda Civil, criada pelo interventor Mário Câmara, levou ao desemprego 
e à conspiração algumas centenas de cidadãos”.168
Em nome da Aliança Nacional Libertadora e com a adesão de “um grupo 
de civis, incluindo algumas mulheres, [que] invadiram o quartel, se fardando 
e se armando” [...], os revoltosos “organizaram o deslocamento de tropas 
para os pontos estratégicos da cidade”. Assim foram ocupados “o palácio do 
governo, a residência do governador, a central de usina elétrica, a estação fer­
roviária, a central telefônica e telegráfica e o aeroporto da cidade”.169 Apesar 
da resistência armada em alguns lugares, como os quartéis da Polícia Militar 
e do Pelotão de Cavalaria da Polícia e a Escola de Aprendizes Marinheiros, a 
cidade ficou em poder dos revoltosos, que organizaram um Governo Popular 
Nacional Revolucionário, composto de cinco membros.170 171 Uma de suas pri­
meiras medidas foi a organização de grupos compostos por militares e civis 
armados, que, em caminhões, se dirigiram a cidades do interior, de forma a 
consolidar a Insurreição no estado. Ao mesmo tempo, procuraram divulgar 
seus objetivos através do rádio, do telégrafo e da distribuição de boletins, 
além de editar um jornal - A Liberdade.™
Para a expansão do Governo Popular Nacional Revolucionário no 
interior, foram organizadas três Colunas. A primeira delas se dirigiu para 
Ceará-Mirim e era comandada por Benilde Dantas, militante do Partido 
Comunista, que, “poeta e natural desta cidade, foi um dos fundadores da 
ANL no estado, ajudando a formar diversos comitês”. Ocupada a cidade, 
seguiram para o município de Baixa Verde. A segunda Coluna dirigiu-se ao 
Seridó, onde dominou alguns municípios e ocupou a cidade de Santa Cruz.
167 COSTA, Homero. A insurreição comunista de 193S, p.71. A guerrilha duraria mais de um ano 
nessa área.
168 GÓES, Maria da Conceição Pinto de. A aposta de Luiz Ignácio Maranhão Filho. Cristãos e 
comunistas na construção da utopia, p. 41.
169COSTA, Homero. Op. cit., p. 86-87.
170 Foram eles: o sargento Quintino Clementinode Barros, como Secretário de Defesa; o administrador 
da Casa de Detenção Lauro Cortez Lago, Secretário de Interior e Justiça; o advogado João Batista 
Galvão, Secretário de Viação; o funcionário dos Correios e Telégrafos José Macedo, Secretário de 
Finanças, e o operário sapateiro José Praxedes de Andrade, Secretário de Abastecimento Público. 
Vejam-se, no anexo J, trechos do programa do Governo Popular Nacional Revolucionário.
171 Foi editado apenas um número desse jornal, sob a responsabilidade de Raimundo Reginaldo da 
Rocha, professor primário em Mossoró e um dos fundadores do Partido Comunista naquela cidade.
152
INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO NORTE
A terceira Coluna tomou São José do Mipibu, Arez, Goianinha, Canguaretama, 
Pedro Velho, Montanhas e São Gonçalo. Além dessas cidades, Nova Cruz foi 
ocupada por grupos organizados por Orlando Azevedo, "médico, formado na 
Alemanha, muito conhecido e respeitado na cidade [...] partidário da Aliança 
Social”. Nesses deslocamentos, foram comuns a participação de civis, a soltura 
de presos acusados de comunistas e a formação de juntas de governo locais. 
Dessa forma, "no dia 26 de novembro de 1935 praticamente a metade dos 41 
municípios do estado esta[va] ocupada pelos rebeldes”.172
A repressão ao movimento, entretanto, já havia sido iniciada e a 
Insurreição, que eclodira em Recife foi controlada pelas tropas do Go­
verno Federal, que se dirigiram para o Rio Grande do Norte. No estado, 
uma Coluna da Insurreição, que partira da cidade de Santa Cruz em 
direção a Currais Novos, enfrentou resistência no meio do caminho e 
se dispersou. O avanço da repressão levaria ao fim do levante, três dias 
após o início deste.'73
O grupo guerrilheiro que atuava na região oeste do estado, o qual, 
ao que tudo indica, não tinha conhecimento da eclosão inesperada do 
levante em Natal, em virtude de atuar na clandestinidade, em meio à 
grande dificuldade de comunicação, foi duramente reprimido pela polícia 
e por bandos de jagunços a mando de fazendeiros. Manuel Torquato de 
Araújo, seu líder, cuja cabeça foi posta a prêmio, foi assassinado por 
um membro do próprio grupo, em meio à repressão que se seguiu à 
Insurreição Comunista de 1935.
No país, mais de cinco mil pessoas foram indiciadas em processos. Desse 
total, 1039 eram relativos ao Rio Grande do Norte, estando aí incluídos 
todos os estivadores filiados ao sindicato União dos Estivadores e, ainda, 
soldados, agricultores, funcionários públicos, comerciantes e motoristas. 
Desse total de indiciados, 695 eram relativos a Natal e 344 às cidades do 
interior. Em decorrência dos processos, 154 pessoas foram condenadas à 
prisão no estado.''
173 COSTA, Homero. Op cu., p. 107-112.
173 No Recife, os revolucionários renderam-se na noite de 25 de novembro. No Rio de Janeiro, o 
levante, que eclodira na noite do dia 26, havia tomado o comando do 3 o Regimento de Infantaria, 
mas foi imediatamente reprimido. Atacados por terra, mar e ar, renderam-se, no dia seguinte, assim 
como o grupo de militares que havia se apossado do comando da Escola de Aviação.
'ACOSTA, Homero. Op cit., p. 150-155. Segundo esse autor, muitas pessoas que não tinham 
envolvimento com a Insurreição foram indiciadas por perseguição política, e o papel dos delatores 
constitui um triste capitulo dos acontecimentos no Rio Grande do Norte”.
153
DENISE MATTOS MONTEIRO
n
Figura 47 — A exposição para fotografia do cadáver de Manuel Torquato revela sua importância 
política no Rio Grande do Norte, na primeira metade dos anos 1930. (Manuel Torquato)
A reação do Governo Federal foi violenta e lhe permitiu eliminar não 
apenas os comunistas, mas também todos aqueles que faziam oposição ao 
governo. Utilizando-se de uma maciça propaganda anticomunista e contando 
com o apoio da Igreja, dos integralistas e de setores da burguesia e das 
camadas médias urbanas, assustadas ante o “perigo da ameaça vermelha", 
Vargas decretou, em novembro de 1935, o estado de sítio em todo o território 
nacional, o qual seria prorrogado várias vezes e se transformaria em estado 
de guerra. Por esse meio, ficaram suspensas todas as garantias constitu­
cionais, permitindo a repressão indiscriminada, que implicaria casos de 
tortura e morte pelo país. Os partidos operários foram dissolvidos, jornais 
foram fechados, sindicatos foram controlados e parlamentares presos. Em 
1936, foi criada a “Comissão de Repressão ao Comunismo” - composta por 
civis e militares e com ação em todos os estados - e o Tribunal de Segurança 
Nacional.
154
INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO NORTE
Em 1938, novas eleições presidenciais deveriam ocorrer. A campanha 
eleitoral se iniciou com o lançamento da candidatura de Armando Sales de 
Oliveira, do Partido Constitucionalista de São Paulo, que representava, em 
essência, a tentativa de retomada da hegemonia política pelas oligarquias 
paulistas. Mais dois candidatos foram lançados: José Américo de Almeida, 
da Paraíba, e Plínio Salgado, da Ação Integralista Brasileira.
Mas Getúlio Vargas, com o apoio, dentre outros, do general Góis Monteiro 
- chefe do Estado-Maior das Forças Armadas - e de Eurico Gaspar Dutra - 
Ministro da Guerra -, já começara a articular um golpe de estado, visando 
manter-se no poder. Como parte dessa articulação, os golpistas divulgaram, 
na imprensa escrita e falada, através do Departamento de Propaganda do 
Governo, o texto de um suposto “Plano Cohen”, que consistiria num plano 
comunista, envolvendo judeus, para tomar o poder, com uma descrição deta­
lhada e aterradora das atrocidades que seriam cometidas contra a população. 
O texto falso fora inicialmente forjado pelo capitão Olímpio Mourão Filho, 
membro da Ação Integralista Brasileira. Ao mesmo tempo, Vargas enviou 
um emissário ao Nordeste com a incumbência de avaliar o apoio que teria 
dos governadores dessa região ao golpe planejado. Dentre os governadores 
que o apoiaram, estava Rafael Fernandes Gurjão, do Rio Grande do Norte.
Com o consentimento das forças mais reacionárias e antidemocráticas do 
país, Vargas obteve um poder crescente, que lhe permitiu afinal dar um golpe 
de estado, em 10 de novembro de 1937, quando o Senado e a Câmara Federal 
foram fechados, os partidos políticos extintos e uma nova Constituição foi 
imposta à nação.
Figura 48 - Luís Carlos Prestes, preso em 1935. (Prestes)
A formação de um Estado autoritário, no modelo fascista, contou com 
o apoio dos integralistas. Mas, pretendendo livrar-se do poder de ação dos
155
DENISE MATTOS MONTEIRO
membros da Ação Integralista Brasileira, Vargas ordenou o fechamento desta, 
um mês após o golpe. Em reação, a AIB, em 1938, tentou um levante armado 
contra o governo, atacando o Palácio Guanabara, no Rio de Janeiro, residên­
cia de Vargas. A tentativa de golpe, reprimida pelas forças governamentais, 
reforçou ainda mais o poder do ditador, dando-lhe munição para perseguir 
qualquer tipo de oposição ao seu governo. Entre os integralistas do Rio 
Grande do Norte, houve algumas prisões e foram abertos inquéritos policiais, 
mas todos foram absolvidos.
Os grupos oligárquicos estaduais que apoiaram o golpe passariam, daí 
para frente, a atuar em aliança com a ditadura varguista. Foi o caso do Rio 
Grande do Norte, onde Rafael Fernandes Gurjão tornou-se interventor no 
estado, nomeado pela ditadura, cargo que exerceria até 1943. Essa aliança 
permitiria ao Partido Popular, ao qual ele pertencia, deter o poder estadual 
durante todo o chamado Estado Novo. Em 1946, ao final da ditadura Vargas, 
esses grupos oligárquicos se recomporiam, para enfrentar os novos conflitos 
decorrentes do avanço da luta social e política, no estado e no país, os quais 
abririam um novo capítulo na história.
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