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Educação Feminina no Século XIX

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Prévia do material em texto

2 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO 
LINHA CULTURA E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO 
 
 
 
 
 
 
 
 
Mãe-esposa e professora: educadoras no final do 
século XIX 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rossana Kess Brito de Souza Pinheiro 
 
Orientadora: 
Profª Drª Maria Arisnete Câmara de Morais 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NATAL/RN 
2009 
 
 
 
 
 
 
3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA 
 
Divisão de Serviços Técnicos 
 
 
 
Pinheiro, Rossana Kess Brito de Souza. 
Mãe-esposa e professora: educadoras no final do século XIX/ Rossana Kess Brito de Souza 
Pinheiro. – Natal, 2009. 
219 f. Il. 
 
 
Orientadora: Prof ª. Dr.ª Maria Arisnete Câmara de Morais 
Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Sociais 
Aplicadas. Programa de Pós-Graduação em Educação. 
 
 
1.República - Tese. 2. Século XIX – Tese. 3. Professora - Tese. 4. Educação feminina - Tese. 5. Mãe-
esposa – Tese. I. Morais, Maria Arisnete Câmara de. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 
III. Título 
 
 
 
 RN/BS/CCSA CDU 37: 396(813.2) (043.2) 
 
 
 
 
 
4 
 
Rossana Kess Brito de Souza Pinheiro 
 
 
 
 
 
 
 
 
Mãe-esposa e professora: educadoras no final do 
século XIX 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tese apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Educação da Universidade 
Federal do Rio Grande do Norte, como 
exigência parcial para obtenção do título de 
Doutora em Educação sob a orientação da 
Profª Drª Maria Arisnete Câmara de Morais. 
 
 
 
 
 
 
 
NATAL/RN 
2009 
 
 
 
 
 
 
5 
 
Mãe-esposa e professora: educadoras no final do século XIX 
 
 
 
 
Tese apresentada e aprovada em 29 de Maio de 2009, na Universidade Federal do Rio 
Grande do Norte/Programa de Pós-Graduação em Educação. 
 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA: 
 
______________________________________________________________________ 
Profª. Drª Maria Arisnete Câmara de Morais (UFRN - Orientadora) 
 
______________________________________________________________________ 
Prof.ª Dr.ª Jane Soares de Almeida (UNESP- Titular externo) 
 
______________________________________________________________________ 
Prof.ª Dr.ª Ilane Ferreira Cavalcanti (IFET- Titular externo) 
 
______________________________________________________________________ 
Prof.ª Dr.ª Marlúcia Menezes de Paiva (UFRN- Titular interno) 
 
______________________________________________________________________ 
Prof.ª Dr.ª: Maria Inês Sucupira Stamatto (UFRN- Titular interno) 
 
______________________________________________________________________ 
Prof. Dr. João Maria Valença de Andrade (UFRN- Suplente interno) 
 
______________________________________________________________________ 
Prof.ª Dr.ª Ligia Pereira dos Santos (UEPB- Suplente externo) 
 
 
6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho aos meus dois 
amores: Artur, amor desde a 
eternidade e Walter, amor para 
além da vida. 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Este trabalho é consagrado a Grande Deusa, princípio feminino de vida e criação 
divina na antiga Arte pagã dos meus ancestrais. 
 
Muitas pessoas colaboraram para a execução deste projeto investigativo. A estes ilustres 
anônimos os meus sinceros agradecimentos. No entanto, gostaria de destacar algumas 
pessoas cujo coração e intelecto tencionou a dor com amor e me proporcionaram fazer 
este trabalho com alegria e firmeza de propósito: 
 
Minha mãe, Salete, por me fazer entender o amor incondicional e o cuidado materno 
que se estende pelas gerações. Sem o seu cuidado para com Artur não teria a paz 
necessária para fazer o que precisava ser feito. 
 
Minha doce Prófi, Arisnete, minha mãe acadêmica, por ser o facho iluminador sempre 
presente indicando-me o caminho das pedras e ensinando-me a conviver com elas como 
parte da existência, sem atirá-las ou retirá-las. O seu cuidado para com suas orientandas 
inspira-me cotidianamente. 
 
Meu marido, Walter, de quem amo ser esposa, companheiro na jornada da vida que foi 
meu interlocutor, meu faz-tudo, meu descanso, meu aconchego e minha alegria. “Beijo 
de boca no fim do dia” transformou-se no bálsamo diário que me manteve firme no 
propósito de dar existência às marcas femininas no século XIX. 
 
Meu filho Artur, de quem adoro ser mãe, com quem aprendi a Ser mais com ele e com 
os outros. Seu sorriso e suas tiradas inteligentes fazem tudo valer a pena no fim do dia. 
 
Minha comadre, Jalmira, por agüentar meus delírios intelectuais e partilhar sonhos e 
ideais de uma educação melhor para nosso país nestes 13 anos de convivência. 
 
Meus irmãos e sobrinhos, que me fornecem dia a dia o sentido supremo de família no 
carinho e nas preces. 
 
Meu pai, Expedito, por me fazer entender muito cedo que disciplina e meta existencial 
são quase tudo na nossa jornada terrena. A perda desse princípio é a perda de si mesmo. 
 
Conce, irmanada no mesmo compromisso social de trazer a nossa história aos olhos do 
mundo e das nossas alunas no curso de Pedagogia da Universidade do Estado do Rio 
Grande do Norte (UERN). 
 
Profª Marlúcia Paiva, que me iniciou na pesquisa historiográfica acadêmica 
estabelecendo um divisor de águas em minha formação como docente estimulando a 
autonomia intelectual, a preocupação político-social e a diversidade de saberes para a 
nossa profissão. 
 
Profª Marta Araújo, minha professora de História da Educação, através de quem pude 
vislumbrar um universo teórico-metodológico que pudesse responder as minhas 
constantes inquietações existenciais. 
8 
 
Profª. Rosanália Sá Leitão Pinheiro, por seus comentários, seu carinho e suas 
contribuições em minha formação e, particularmente, por colocar seu conhecimento a 
nossa disposição trabalhando conosco nesta produção. 
 
Profª. Inês Stamatto pelas valiosas contribuições por ocasião do meu Seminário I 
ajudando de maneira definitiva a organizar categorias, conceitos e recorte temporal, 
elementos estruturais básicos para a continuação efetiva deste trabalho. 
 
Profª Ilane Cavalcante por sua leitura valorosa no nosso Seminário II contribuindo de 
forma definitiva para a melhoria do texto ora apresentado. 
 
Antonieta, Lúcia e “seu” Manoel, do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do 
Norte, pela solicitude e carinho com que fui tratada nas minhas incursões de pesquisa. 
 
Naide e Sarynha, duas moças lindas, de almas nobres que com abraços energéticos e 
uma infindável vontade de compartilhar, partilharam a existência dessa tese 
contribuindo, mais do que quaisquer outras, com documentação importante em 
momento decisivo desta investigação. Sem elas algumas elaborações não teriam sido 
possíveis. 
 
Colegas da Base de Pesquisa Gênero e Práticas Culturais: abordagens, educativas e 
literárias, particularizados em minhas coleguinhas de turma Mariza Pinheiro, Edna 
Rangel e Isabel Carvalho. 
 
Colegas do Departamento de Educação do Campus de Assú da UERN por entenderem 
minhas ausências e facilitarem meu trabalho na Instituição no processo de finalização 
do trabalho. 
 
CAPES, pelo apoio financeiro a mim estendido através do Programa de Bolsas de 
Pesquisa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
 
 
 
RESUMO 
 
 
Este texto se orienta através das discussões empreendidas no universo da História da 
Educação Norte-rio-grandense, circunscrita à História das Mulheres nas primeiras 
décadas do Brasil republicano e à análise do que se esperava dessa educação no âmbito 
da educação feminina. Evidenciamos as representações femininas em Natal, entre os 
anos de 1889 e 1914, com o objetivo de configurar as relações de gênero com ênfase 
nos aspectos morais, intelectuais e pedagógicos exigidos dessas mulheres. Utilizamos 
como fontes documentaisa Legislação educacional, civil e penal, tanto no âmbito 
nacional, como estadual e municipal. Circunscrevemos a nossa busca no jornal A 
República, no qual evidenciamos a literatura que circulava em Natal sob a forma de 
Folhetim, Contos e Poesias, bem como nos demais textos dos autores presentes que 
fizeram parte do corpus da análise para este estudo, localizados em arquivos públicos e 
privados do Rio Grande do Norte, como o Instituto Histórico e Geográfico do Rio 
Grande do Norte (IHGRN) e o Arquivo Público Estadual do Rio Grande do Norte 
(APE-RN). O uso do método indiciário e as proposições da História Cultural foi o 
suporte teórico-metodológico apropriado à realização de um trabalho dessa natureza. 
Essa perspectiva operacional permitiu elaborar nuanças sobre este tempo de transição, 
entre o século XIX e XX, e trazer a lume a mulher deste período. A base de 
argumentação que relacionava a mulher à maternidade e à domesticidade, e estas ao 
ideário de abnegação e sacerdócio, aliou-se a uma demanda vinda do aumento no 
quantitativo de escolas femininas e alocou a mulher como a mais apropriada para o 
melhor desempenho educacional no país, a partir de suas bases: a educação primaria. 
Para além do universo escolar, outra face de mulher se apresentava neste universo 
político republicano. A mãe-esposa e a institucionalização da educação doméstica 
associavam o gênero feminino também com a educadora no lar. Seja no público, como 
professora, seja no privado, como mãe-esposa, o cuidado feminino é percebido nessa 
configuração como a base educacional que a República e o entre-séculos legaram ao 
século XX brasileiro. 
 
Palavras-chaves: República, século XIX, professora, educação feminina, mãe-esposa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
 
This text is organized through discussions undertaken in the area of the History of 
Education in Rio Grande do Norte, circumscribed to the History of Women from the 
first decades of the Brazilian Republic, and to the analysis of what was expected of this 
education. We examined representations of women in Natal, between 1889 and 1914, 
with the goal of configuring relations between the sexes with the emphasis on moral, 
intellectual and pedagogical aspects required of these women. As documental sources 
we utilized the educational, civil and criminal Legislation, on a National scope, as well 
as on a State and Municipal scope. We circumscribed our search to the newspaper A 
República, in which we found literature that circulated in Natal in the form of 
pamphlets, short stories and poetry, as well as other texts by authors that were part of 
the corpus of analysis of this study, located in public and private archives in Rio Grande 
do Norte, such as the Historical and Geographic Institute of Rio Grande do Norte 
(IHGRN) and the State Public Archive of Rio Grande do Norte (APE-RN). The use of 
the indexing method and the propositions of Cultural History were the appropriate 
theoretical-methodological framework to complete studies of this nature. This 
operational perspective permitted us to elaborate nuances about this time of transition 
from the 19th to the 20th Century, and to spotlight the fire of the women from this 
period. The basis of the argument that related women to maternity and domesticity, and 
within the ideals of abnegation and religious leadership, aligned to a demand coming 
from the increase in the quantity of schools for women, allocated women as the most 
appropriate for superior in educational performance in the country, based on its 
foundations: primary education. Beyond the universe of formal education, the other side 
of women appeared in republican politics. The mother-spouse and the 
institutionalization of domestic education associated the female gender with the role of 
educator at home as well. Be it in the public sphere, as a teacher, or in private, as 
mother-spouse, female care is perceived in this configuration, as an educational base 
that the Republic, and in transition, bequeathed to the Brazilian 20th Century. 
 
Key-words: Republic, 19th Century, teacher, female education, mother-spouse. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
 
 
RÉSUMÉ 
 
Ce texte s’ oriente sur des discussions établies dans l’univers de l’histoire de l’éducation 
du Rio Grande do Norte, circonscrite à l’histoire des femmes pendant les dix premières 
années du Brésil républicain et sur l’analyse de se que l’on attend de cette éducation 
dans le champ d’action de l’éducation féminine. Nous avons mis en évidence les 
représentations féminines à Natal, entre 1889 et 1914, ayant comme objectif celui de 
configurer les relations de genre, en priorisant les aspects moraux, intellectuels et 
pédagogiques exigés de ces femmes. Nous avons utilisé comme sources documentales 
la législation éducationnelle, civile et pénale, aussi bien du point de vue national, que 
du point de vue de l’état et du municipe. Nous avons circonscrit notre recherche dans le 
journal A Republica, dans lequel nous avons mis en évidence la littérature qui circulait à 
Natal sous forme de feuillets, contes et poésies, aussi bien que dans les autres textes des 
auteurs présents qui ont fait partie du corpus de l’analyse de cette étude, localisés dans 
les archives publiques et privées du Rio Grande do Norte, comme l’institut historique et 
géographique du Rio Grande do Norte(IHGRN) et les archives publiques de l’état du 
Rio Grande do Norte(APE-RN). L’utilisation de la méthode indiquée ainsi que les 
propositions de l’histoire culturelle ont été le support théorique et méthodologique 
approprié pour la réalisation d’un travail de cette nature. Cette perspective 
opérationnelle a permis d’élaborer des nuances sur ce temps de transition, entre le 
XIXème et le XXème siècle, et de faire ainsi connaître la femme de cette période. La 
base d’argumentation qui mettait en relation la femme avec la maternité et les travaux 
domestiques, avec une idée d’abnégation et de sacerdoce, s’est alliée à une demande 
dûe à l’augmentation de la quantité d’écoles féminines et a fait apparaître la femme 
comme étant la plus appropriée pour le meilleur développement éducationnel dans le 
pays, à partir de ses bases: l’éducation primaire. Au delà de l’univers scolaire, une autre 
facette de la femme se présentait dans cet univers politique républicain. La mère-épouse 
et l’institutionalisation de l’éducation domestique associaient également le genre 
féminin à l’éducatrice du foyer. Que ce soit dans le publique, en tant que professeure, ou 
dans le privé, en tant que mère-épouse, le soin féminin est perçu dans cette 
configuration comme étant la base éducationnelle que la république et l’entre-deux 
siècle ont léguée au XXème siècle brésilien. 
 
Mots-clés: République, XIXème siècle, professeure, éducation féminine, mère-épouse 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
 
ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES 
 
CAPA 
§ Página do Segundo Livro de Leitura de Felisberto de Carvalho (1934, p.12), “Júlia, a 
boa mãe”. 
CAPÍTULO II 
§ Jornal A República: jan. a jun. de 1897 ......................................................................40 
CAPÍTULO III 
§ Guiomar de Vasconcelos entre as irmãs Calafange ....................................................57 
§ Dolores Cavalcanti entre amigas ................................................................................58 
§ Dolores Cavalcanti ......................................................................................................61 
§ Júlia Medeiros .............................................................................................................62 
§ Festa de Sant´ana em Caicó, RN – 1926 ....................................................................63 
CAPÍTULO IV 
§ Praça Augusto Severo .................................................................................................94 
§ Melhoramentos na capital: A casa de detenção ..........................................................98§ Melhoramentos da capital: Asilo de Mendicidade .....................................................99 
§ Anúncio: Livraria Cosmopolita ................................................................................103 
§ Programação Polytheama .........................................................................................106 
§ Coreto da Praça Augusto Severo ..............................................................................107 
§ Anúncios: Emulsão Scott e afinação de pianos ........................................................109 
§ Anúncio: Segredo de beleza .....................................................................................110 
CAPÍTULO V 
§ Escola Doméstica de Natal .......................................................................................131 
§ Prospecto com programa da Escola Doméstica de Natal .........................................138 
§ Programa de ensino para a Escola Normal de Natal .................................................141 
CAPÍTULO VI 
§ Jornal A República (29 ago. 1908) ............................................................................150 
CAPÍTULO VII 
§ Lição 32 do Segundo Livro de Leitura de Felisberto de Carvalho (1934, p.157).... 179 
PALAVRAS FINAIS 
§ La liberté guidant le peuple ......................................................................................200 
13 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
 
 
 
Primeiras palavras ................................................................................. 14 
 
Capítulo I 
De quando a idéia era apenas uma idéia ................................................... 17 
 
Capítulo II 
Notas do caminho .................................................................................... 31 
 
Capítulo III 
Perfis de educadoras no Rio Grande do Norte .......................................... 52 
 
Capítulo IV 
República, Modernidade e Civilização em Natal ...................................... 82 
 
Capítulo V 
Educação e educação feminina: fim de século, início de res-publica ..... 112 
 
Capítulo VI 
Marcas de um tempo, imagens de mulheres em Natal ............................144 
 
Capítulo VII 
Outras marcas, outras imagens: mãe-esposa e professora .......................174 
 
Palavras finais ....................................................................................... 198 
 
Referências .............................................................................................205 
 
 
 
 
 
 
14 
 
Primeiras Palavras 
 
 
Não foi, portanto, a priori que estabeleci os 
limites de minha investigação. Foram as 
características da documentação, tais como 
as encontrava nos documentos cluniacenses, 
que me propuseram esses limites (DUBY, 
1994, p. 25). 
 
 
Este texto de Duby nos ajuda a refletir sobre as idas e vindas de um pesquisador 
na construção de um objeto de estudo, de uma investigação histotiográfica. Ajuda-nos a 
perceber a importância de permitir falarem as fontes e deixar-se conduzir pelas marcas 
históricas daqueles e daquelas que nos antecederam. 
O presente trabalho é vinculado à Base de Pesquisa Gênero e Práticas culturais: 
abordagens históricas, educativas e literárias e ao projeto integrado Gênero, Educação 
e Práticas de Leitura/CNPq, através do qual o projeto inicial ganhou contornos de uma 
tese no mosaico construído pelo conjunto de pesquisadores que constituem essa Base de 
Pesquisa. Enquadra-se na linha de pesquisa Cultura e História da Educação do 
Programa de Pós-graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, que 
reúne pesquisas sobre gênero e relações sociais, práticas institucionais e culturais. 
O estudo em questão tem como objetivo identificar as representações femininas 
em Natal, particularmente a mãe-esposa e a professora, buscando analisar as 
características femininas exigidas às demandas sociais natalenses nas primeiras décadas 
da República no Brasil. Busca configurar, ainda, as relações de gênero no âmbito da 
educação feminina e as discussões entre educação escolar e doméstica na realidade 
dada. Esta educação doméstica é também aqui pensada como a educação do espírito 
social, que traz como mediador principal a própria formação social em que o individuo 
se insere e, ao mesmo tempo em que espelha é por ela espelhada. Os discursos de 
parlamentares, clérigos, literatos, jornalistas aparecem nas fontes analisadas como textos 
educativo-instrucionais que colaboram com os processos formais de educação na forja 
de modelos sociais, também de gênero. 
O texto da tese está apresentado o feixe de sete capítulos que servem a este 
trabalho como um condutor estrutural à tese que pretendemos demonstrar. Essa 
disposição surgiu para nós como um fio condutor à pesquisa que, combinado com as 
15 
 
considerações da orientadora do trabalho, bem como as solicitações do próprio objeto 
de estudo, constituiu peças de um mosaico sobre o entre-séculos e a mulher natalense do 
período. 
De quando a idéia era apenas uma idéia, é o primeiro capítulo. Dissertamos sobre 
a construção do objeto de análise, apresentamos os objetivos, a questão-tese motivadora 
da tese, e a tese em si. O segundo capítulo, Notas do caminho, é uma discussão sobre os 
procedimentos e a abordagem teórico-metodológica utilizada. Escrevemos notas sobre 
os caminhos percorridos, na relação com suporte teórico-metodológico e procedimentos 
de análise e uma revisão bibliográfica que colaborou para dimensionarmos melhor o 
objeto em estudo. As fontes utilizadas, o campo de investigação, categorias e conceitos 
são como notas que compõem a música metodológica que tentamos executar. 
No terceiro capitulo, Perfis de educadoras no Rio Grande do Norte, fazemos uma 
leitura das representações do feminino, evidenciando pesquisas realizadas sobre o 
período e a relação com os dados construídos e com a questão-tese proposta. No 
capítulo quatro, República, modernidade e civilização em Natal, configuramos a 
sociedade natalense entre 1889 e 1914, trazendo, principalmente, as instituições sociais 
presentes e o modo de ser das mulheres nessa configuração. Em Educação e educação 
feminina: fim de século, início de res-pública, está presente a ideia de educação do 
período, as maneiras como os processos educacionais se faziam sentir na sociedade 
natalense, a educação como um modo civilizador em seu processo nas várias 
instituições sociais, configurada em uma cidade e em um país que, sob o título de 
República Federativa, ainda se republicava e contava com a educação para este 
propósito. 
Marcas de um tempo, imagens de mulheres. Neste capítulo, identificamos e 
analisamos modos de ser e de fazer das mulheres em Natal. Trazemos um panorama das 
marcas históricas femininas, na tentativa de fornecer aos leitores e leitoras uma 
cartografia do gênero feminino em seus papéis sociais. 
Nosso último esforço escrito, Mãe-esposa e professora: representações femininas 
no final do século XIX, mostra as categorias centrais desta tese que ganham vida através 
das práticas e representações dispostas nos discursos e silêncios dos obituários, 
felicitações, anúncios e teorias que configuram o ser mulher na transição do século XIX 
para o XX. 
Finalmente, uma tentativa de conclusão desta escrita nos remete às impressões 
que este trabalho nos trouxe. Os movimentos intelectuais aqui empreendidos nos 
16 
 
permitiram pensar a continuidade de pesquisas na área de história da educação, gênero e 
formação de professores que se desdobram a partir desta investigação e das ideias sobre 
educação escolar, educação doméstica e cuidado materno, na perspectiva histórica das 
relações de gênero. 
Os capítulos ora apresentados descortinam uma história da educação feminina 
para além da instituição escolar, no momento em que a expansão da instrução pública 
no Brasil, o acesso feminino a essa instrução e a inserção gradativa cada vez maior 
desse segmento da populaçãoa essa modalidade de trabalho se apresentava em franco 
processo de expansão. Vinde e vede. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
17 
 
Capítulo I 
De quando a ideia era apenas uma ideia 
 
 
As relações entre História, História da 
Educação e a formação do educador são 
estreitas, íntimas, porque se o papel da 
educação é a formação humana e se o 
homem se define por sua historicidade, 
então o educador só pode desempenhar 
adequadamente sua função na medida em 
que se enraizar historicamente (SAVIANI, 
2003, p. 21). 
 
 
O desejo por aprofundar estudos acerca das representações femininas emerge da 
minha trajetória pessoal caracterizada por ser mãe, esposa e professora. Cada um desses 
papéis sociais, e com perfis específicos, está relacionado com o meu meio social e com 
as relações interpessoais estabelecidas nessa configuração. Essa trajetória estabelece 
uma íntima e estreita relação com as duas categorias centrais no desenvolvimento do 
estudo que ora proponho, ou seja, gênero e educação. 
Foi, portanto, na tentativa desse enraizamento histórico de que fala Saviani, que o 
objeto deste estudo se apresenta como sendo as representações femininas em Natal entre 
os anos de 1889 e 1914. Ele emergiu de minha pesquisa anterior, em nível de mestrado, 
realizada entre os anos de 2000 e 2003, sob o título História da educação das mulheres 
em Natal (1889-1899) (PINHEIRO, 2003). Investigamos, nesse trabalho, a educação 
das mulheres em Natal, na primeira década do governo republicano no Rio Grande do 
Norte. No seu decurso, vislumbramos um indício de investigação que buscasse a mulher 
por trás das professoras encontradas, ou ainda as representações femininas na transição 
do século XIX para o XX na realidade dada. A relação entre a história das mulheres e 
nossa trajetória formativa docente se perde nas brumas de um tempo em que, menina, 
ainda buscava as primeiras letras. 
A imagem de uma constante e benéfica solidão é a marca da minha trajetória 
pessoal nos limites desta existência. Essa existência solitária e introspectiva conduziu-
me a um universo literário específico desde o aprendizado das primeiras letras. Os 
romances, as histórias de fadas, castelos, magias, guerras religiosas, cavaleiros e brumas 
distantes. Os romances históricos faziam eco com os clássicos da literatura universal e o 
século XIX, na escrita de Machado de Assis, José de Alencar, Álvares de Azevedo, Eça 
18 
 
de Queirós, Honoré de Balzac, Gustave Flaubert, Conan Doyle ou Oscar Wilde. 
Escritores ingleses, portugueses, franceses e brasileiros que traziam para mim os anos 
oitocentos nas venturas e aventuras de seus personagens. Ao mesmo tempo, constituíam 
um portal de formação existencial que definia na menina características que a 
acompanhariam em sua constituição identitária de ser mulher. Noções de 
comportamento moral, emocional e intelectual que se tornaram paráfrases de uma vida. 
No processo de construção do objeto de estudo do doutorado, esse universo 
mítico-literário se encontrou com jornais, legislação e pesquisas sobre a sociedade 
brasileira do século XIX. Entre a ficção e a realidade, uma percepção: o século XIX 
tinha muito a dizer sobre as bases que formam o pensamento educacional brasileiro, 
sobre as bases que fundam o ser professora e professor no Brasil. Como se organizava, 
então, o projeto educacional para mulheres, no universo de um projeto social brasileiro 
na cidade de Natal/RN, no final do século XIX? Em torno de quais demandas morais, 
intelectuais e sociais este projeto educacional se ordenava? Quais eram as 
representações femininas que essas demandas provocavam em Natal entre 1889 e 1914? 
Na direção desta última questão, construímos a tese ora defendida. 
O ano de 1889, para o Rio Grande do Norte como para o Brasil, configura-se 
como um momento político motivador de uma série de transformações sociais, culturais 
e educacionais a partir da Proclamação da República. Este é um aspecto da nossa 
história que convida-nos a uma investigação acerca de como se organizavam as relações 
de gênero e, ainda, como se movimentavam as mulheres, particularmente as 
professoras, no interior desse projeto de sociedade que nascia. 
Nesse período, o discurso da ação transformadora da educação para a 
consolidação de um modelo político e econômico visava o desenvolvimento da nação 
brasileira. Revelava o sentido que a instrução assumia em Natal, e as demandas exigidas 
para homens e mulheres no período em foco. Esta instrução deveria suprir a ignorância 
popular, elemento incompatível com o sistema representativo, que se desejava construir. 
Mais do que isso: deveria superar um modelo social tradicional e levar o país ao 
progresso pelas asas da modernidade e da civilização. Em uma sociedade que se queria 
civilizada pela educação, a mulher passa a ser a referência na função de moralizar essa 
sociedade, a partir de uma certa conduta e de uma certa condução no espaço 
educacional. Moralidade é seu discurso. Virtude, a sua meta. E nas primeiras décadas do 
Brasil Republicano, o imaginário social natalense estava carregado desses conceitos. 
 
19 
 
 
 
Diferentemente dos demais segmentos da população, o encorajamento 
à participação da mulher apelava para seu humanitarismo sentimental 
e para os impulsos do coração. A contribuição esperada da mulher 
pelos ideais republicanos sugeria que o seu trabalho se caracterizasse 
como filantrópico e que seu nível de atuação fosse o de afetuosa 
colaboradora na consecução dos ideais nacionais (CHAMON, 2005, p. 
88). 
 
 
Sugestionados por esta configuração histórica, ruminamos em silêncio sobre os 
obituários, felicitações de aniversário e nascimento, propagandas de artigos femininos, 
discursos de Diretores de Instrução Pública, artigos sobre educação, política e aspectos 
cotidianos de Natal, bem como os romances apresentados na forma de folhetins, poesias 
e contos registrados nos jornais do século XIX que circulavam na cidade. Os jornais, 
principalmente, se tornaram ponto de apoio e de partida para um outro olhar sobre o 
magistério feminino, a partir da Proclamação da República no Brasil em 1889 até o 
início da Primeira Guerra Mundial em 1914. Aos poucos fomos percebendo que, apesar 
das formas distintas como se apresentavam esses dados – seja uma nota de falecimento 
ou uma felicitação de aniversário –, existia um discurso articulado que dizia e apontava 
para uma representação do ser feminino em Natal. 
Nosso encontro com Maria Luiza de França, uma professora que cometeu suicídio 
em 1897, nos fez pensar sobre um modelo de professora que tentava encontrar 
mecanismos táticos entre as estratégias organizadas por um mundo intelectualmente 
masculino. Sua história se apresentava como um processo que se mostrava complexo 
para as mulheres que educavam mulheres no final do século XIX e que exigia, muitas 
vezes, sacrifícios, como foi possível identificar na trajetória de vida desta professora. 
Após três anos residindo e lecionando na escola situada no bairro da Ribeira, a 
professora Maria Luiza de França publicou um anúncio no jornal A República, 
oferecendo seus serviços de professora em outra escola, também de sua propriedade, 
mas agora situada no bairro da Cidade Alta (ESCOLA MISTA DE INSTRUÇÃO 
PRIMÁRIA, 1897, p. 2). A mudança de domicílio da professora e suas conseqüências 
são matérias de destaque naquele jornal no mês de abril. Alguns dias depois do anúncio 
citado acima, em 26 de abril de 1897, ela cometeu suicídio. 
Através de cartas que ela mesma escreve serem apenas desabafos para serem destruídos, 
explicou os motivos que a levaram a realizar o intento. A miséria que a envolvia, a falta 
de perspectiva social e afetiva, os empréstimos constantes para pagar dívidas que só se 
20 
 
avolumavam, a solidão, apesar das alunas com quem ela vivia, a fizeram realizar o que 
o jornal classificava como um “lamentável ato dedesespero” (SUICÍDIO,1897, p.3). 
Uma mulher, uma professora que se julgava digna, com um comportamento moral que 
não justificava a punição da indiferença pelos seus vizinhos. A mudança de domicílio 
estava relacionada à forma como estava sendo tratada por estes vizinhos em 
conseqüência talvez de um amor por ela alimentado e que não era consoante com aquilo 
que se esperava de uma professora. O momento histórico vivido por ela em Natal, no 
fim do século XIX, não concebia um comportamento feminino que não se enquadrasse 
na categoria mãe-esposa. 
Maria Luiza era parte de um segmento social - as professoras - responsável por 
um processo de educação feminina em Natal, sintonizado com um discurso corrente, 
como o expresso na obra Educação Nacional de Veríssimo (1890 p. 47-52). Este autor 
percebe a formação do caráter como um dos aspectos mais importantes para se 
organizar a educação em todo o país. Advogava para a mulher uma educação que a 
capacitasse para ser mãe de família e reguladora da economia doméstica, pois a mãe 
brasileira com o seu “amor maternal, sem energia, deixa ver quão deficiente, senão 
dissolvente, era a educação doméstica como educação do caráter”. Portanto, a educação 
escolar deveria superar esta deficiência. 
 Esta professora ensinava particular, trabalhava todas as matérias exigidas pelos 
Regulamentos de Instrução Pública Primária a meninos de ambos os sexos, mas isso 
não bastava; era preciso que a mulher professora possuísse uma conduta social que 
reforçasse o projeto social moralizador que se desejava construir nas primeiras décadas 
do Brasil Republicano. A morte de Maria Luiza de França reforça a força do discurso da 
virtude e da moralidade destinado à mulher dentro e fora do lar. A sua história retrata a 
dificuldade de ser mulher e professora, nessa configuração. Reforça, para nós, a ideia de 
um perfil construído em cima de valores morais, de um “fabrico” do “ser professora”, 
do “ser mulher” e de instituições organizadas com base em um perfil de professora que 
formaram as bases da profissão docente no Brasil. 
Esta foi Maria Luiza ou o que me foi possível saber sobre ela. Existiram outras 
que figuravam no jornal oferecendo seus serviços de educadoras, transitando entre a 
escola privada e a pública, recebendo homenagens públicas pelo seu zelo, sendo 
exortada a comparecerem com as notas das estudantes. As várias representações de 
professora se relacionam com os vários perfis de mulher encontrados e sugerem um 
mergulho nas nuanças de cada um desses perfis, nos rumos de uma representação 
21 
 
histórico-cultural do ser docente na configuração escolhida, na relação com esta mulher 
existindo por trás da professora. 
Ao nos debruçarmos sobre o tema que envolve esta pesquisa – relações de gênero 
na educação feminina republicana –, recordamos as discussões, ainda como estudante 
de Magistério entre os anos de 1989 e 1991. Em sala de aula, na disciplina de Didática, 
ou na sala da diretora da Escola Estadual Berilo Wanderley, as discussões que 
envolviam as maneiras de vestir enquanto professora, tomavam o rumo de uma 
performance didática na qual o vestuário deveria funcionar como indicativo de boa 
professora. Shorts, sandálias e camisetas decotadas surgiam como um elemento de 
descrédito às qualidades intelectuais de uma docente. A roupa de uma educadora não 
devia chamar mais atenção que o conteúdo no quadro a giz. 
Apesar de escaparem à nossa compreensão os motivos que justificavam um 
discurso e uma prática que estabeleciam fronteiras entre o modo de ser da professora e 
dos estudantes, assumi o que me ensinavam ser o correto, sob a alegação de ser sensato. 
Carrego em mim as marcas dessa formação que não é minha e nem da professora de 
didática, mas de uma construção histórico-cultural. 
As fronteiras estabelecidas nas aulas de Didática entre o modo de ser da 
professora e dos estudantes ressoam, de certo modo, na minha prática educativa. Ao 
ministrar nossas aulas, percebo que elas se estruturam, também, a partir de um modelo 
que evoca processos formativos históricos e que inclui uma representação apropriada 
para o gênero feminino nessa profissão: modos ponderados, roupas compostas, em 
consonância com uma relação de sala de aula que pretende não dispersar a atenção dos 
estudantes para qualquer outra coisa que não seja o conteúdo programado. 
Mas quando foi que os modos individuais do Ser, como sua maneira de falar ou 
vestir, se confundiram com o conjunto de atributos que caracterizam sua profissão ou 
seu exercício profissional? Até que ponto o indivíduo, em sua vida pessoal, se confunde 
com o profissional que ele é? E em que medida isto interfere no seu fazer docente? No 
universo da nossa formação para a docência, as linhas que separaram o individual do 
profissional sempre foram muito tênues. Muitas vezes modos de Ser foram confundidos 
com modos de fazer. Certos modos de falar ou de sentar pareciam demonstrar 
incompetência ao serviço docente e eram aspectos da nossa personalidade que nos 
descaracterizavam como docentes aptas a uma sala de aula1. Ao mesmo tempo, os 
 
1 Acreditamos que tal dimensão talvez ocorra em todas as profissões. Limitamos-nos a falar da profissão 
docente por ser aquela que nos caracteriza com também a este trabalho. 
22 
 
questionamentos que fizemos e as nossas percepções, nos convidaram a uma reflexão 
sobre as representações culturais de mulheres professoras. 
Na continuidade da minha formação como docente, as pesquisas da área 
educacional, particularmente as leituras e discussões empreendidas durante as reuniões 
de estudo na Base de Pesquisa Gênero e Práticas Culturais: abordagens históricas, 
educativas e literárias, indicaram um caminho a trilhar nas respostas às minhas 
inquietações. 
Uma dessas leituras, o texto Mulheres na sala de aula, de Louro (1997), nos 
trouxe aspectos peculiares sobre a formação das professoras. A autora analisa, entre 
outros aspectos, como a maneira de vestir de uma professora possuía estreita relação 
com a manutenção de sua reputação e que estas deveriam expressar um caráter 
assexuado e distante, tido como apropriado para essas mulheres. Esses elementos 
caracterizaram o ser professora a partir da segunda metade do século XIX. 
Essa postura austera está representada na tese Sinhazinha Wanderley: o cotidiano 
do Assu em prosa e verso (1876-1954) (PINHEIRO,1997), através das práticas 
pedagógicas da professora Maria Carolina Wanderley Caldas. Dona Sinhazinha 
Wanderley, como era conhecida, ministrava aulas no Município de Assu (RN) na 
primeira metade do século XX. A autora traz relatos de ex-alunos e contemporâneos 
dessa professora acerca do seu comportamento e modo de trajar-se. Suas vestimentas 
sóbrias, sempre nas tonalidades azul, cinza e bege, obedeciam a um único estilo: saias 
longas e casaco com pregas. Desta forma, destituía-se dos babados, rendas e laçarotes 
usados por suas contemporâneas. Ao mesmo tempo em que deixava de lado tais 
adereços nas roupas, deixava também a representação de mulher, como símbolo de 
feminilidade e maternidade, e assumia a de professora, literata e partícipe do universo 
cultural público, portanto, masculino na primeira metade do século XX. Parece-nos que 
assumir uma imagem reservada através das roupas proporcionava, nesta configuração, 
os indicadores de credibilidade e respeitabilidade necessários a essa inserção. Indiciava, 
ainda, o modelo de seriedade que a profissão docente, nos permitindo chamá-la assim, 
carregava. 
A imagem séria das professoras era indicador de inteligência como também de 
severidade: as roupas escuras, o cabelo em coque, quase sempre de óculos. A varinha de 
ensinar e o olhar repreendedor completavam a indumentária que ela precisaria 
representar para ter o controle de sala de aula, dos alunos, do conteúdo e do trabalho 
docente. No jogo dasrepresentações do ser mulher professora, os discursos de 
23 
 
parlamentares, médicos, clérigos, legisladores não apenas espelharam essas mulheres, 
mas as produziram. 
A professora assume um papel importante nesse processo educacional: era preciso 
que a mulher professora possuísse um perfil que reforçasse o discurso da virtude e da 
moralidade, dentro e fora do lar. No espaço público e privado, era de sua 
responsabilidade exercer uma influência benéfica que contribuiria para a moralização da 
sociedade. 
Esse modo de ver ou de colocar as regras sociais reorganizou também o discurso 
pedagógico, a prática educativa e a instrução feminina específica àquela ordem social. 
Este aspecto possibilitou à mulher uma inserção gradativa na vida pública, tanto como 
aluna quanto como professora nas escolas femininas das primeiras décadas do Brasil 
Republicano. 
No final do século XIX, o pensamento liberal brasileiro intensificou seus 
propósitos com vistas a colocar o Brasil no nível das nações mais avançadas. Os 
projetos de reforma de ensino estavam sintonizados com uma tendência em se construir 
um novo modo social no século que se avizinhava. Um projeto pedagógico aliado a um 
projeto social promoveria o almejado desenvolvimento da nação (BOTO, 2004, p. 1). 
Em 1892, ressoava em Natal o discurso dos intelectuais e teóricos da educação 
brasileira. Através do jornal A República, esse discurso é relacionado com os anseios e 
expectativas do recente governo republicano. 
 
 
A transformação desse ramo do serviço público deve ser o primeiro 
cuidado de um governo patriótico e nacional porque, como bem disse 
José Veríssimo, o único meio de criar um caráter brasileiro, uno e reto, 
e a força capaz de manter a coesão nacional no meio da diversidade de 
clima, de costumes, de interesses, e mesmo de raças, alterado o tipo 
brasileiro pela imigração no sul e pelo elemento indígena no norte, seria 
uma instrução sólida e nacional, onde se procurasse incutir no espírito 
das crianças, de par com os princípios sãos da ciência, o amor pátrio 
por meio do exemplo e estudo das nossas coisas sabiamente explicadas 
e desenvolvidas (BIBLIOTECA PÚBLICA, 1892, p.1)2. 
 
 
Esse discurso revela o sentido que a instrução assumia no século XIX, na cidade 
de Natal. As ideias republicanas da década de 1870 até as primeiras décadas do século 
 
2 Optamos nesse trabalho pela atualização da ortografia dos documentos e fontes encontrados. 
24 
 
XX referendam a instrução pública como indispensável ao progresso do país. Esta 
instrução deveria suprir a ignorância popular, elemento incompatível com o sistema 
representativo que se desejava construir. A instrução tornara-se imprescindível ao 
progresso e desenvolvimento de qualquer nação que se quisesse moderna e democrática. 
E naquele momento todas queriam (HOBSBAWN, 1999, p. 46-56). 
No entanto, o regime republicano, que nasce em 1889 sob a acepção jurídica do 
estado de direito, não traduz esse ideal democrático em seus processos eleitorais. 
Fraude, voto de cabresto, favores políticos e exclusão contrariavam os princípios 
políticos do novo regime (FERREIRA, 2001). A res-publica, no seu sentido 
etimológico, como “coisa pública” ainda não era tão pública assim. A expressão 
implícita “para todos” ainda era traduzida na prática “para alguns”. E nessa necessidade 
de re-publicar, ou ainda torná-lo pelo povo e para o povo, era uma realidade. Que 
melhor instituição de controle social que a escola elementar de primeiras letras para isto 
se fazer acontecer? Mas essa foi uma realidade que, nesse período, se configurava 
apenas como uma ideia de alguns segmentos da sociedade, notadamente os intelectuais 
como Euclides da Cunha, Silvio Romero ou Henrique Castriciano. 
 Ao mesmo tempo em que se mutilava de fato a democracia, a lei também 
exteriorizava uma contradição afirmando por meio do Artigo 72, parágrafo 2º, da 
Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 1891 na qual todos são 
iguais perante a lei (CONSTITUIÇÃO, 2007), enquanto no Artigo 70, excluía do 
direito de voto mendigos, analfabetos, religiosos e soldados. Além dessas categorias 
claramente excluídas, a primeira Constituição Federal do Brasil Republicano 
deliberadamente não emitiu qualquer especificidade sobre as mulheres no que concerne 
ao mérito das eleições. Esta omissão é perceptível a partir da fala do Deputado Pedro 
Américo, congressista por ocasião da citada constituição. 
 
 
Deixo a outros a gloria de arrastarem para o turbilhão das paixões 
políticas a parte serena e angélica do gênero humano. A observação 
dos fenômenos afetivos, fisiológicos, psicológicos, sociais e morais 
não me permite erigir em regra o que a historia consigna como 
simples, ainda que insignes, exceções. Pelo contrario, essa observação 
me persuade que a missão da mulher é mais doméstica do que pública, 
mais moral do que política. Demais, a mulher, não direi ideal e 
perfeita, mas simplesmente normal e típica, não é a que vai ao foro ou 
à praça pública, nem às assembléias políticas defender os direitos da 
coletividade, mas a que fica no lar doméstico, exercendo as virtudes 
feminis, base da tranqüilidade da família, e por conseguinte da 
felicidade social (CAVALCANTI, 2002, p.291). 
25 
 
 
Ao deixar a glória do sufrágio feminino a outros congressistas, talvez em outra 
constituição e mesmo em outro tempo histórico, excluiu qualquer menção, ainda que 
excludente, a esta matéria na Constituição de 1891. A representação que o feminino 
assume neste pensamento é de uma relação em que às mulheres é conferido o espaço 
privado e a profissionalização das funções domésticas e femininas. Mas como esta tese 
tende a demonstrar o trabalho feminino se organiza, neste período, entre o público e o 
privado, ao mesmo tempo em que transforma esta agente social, em vetor de cuidado 
(no sentido educacional) dentro e fora do lar. 
Também nos documentos norte-rio-grandenses, como a Constituição Política do 
Rio Grande do Norte de 1898 e a legislação educacional vigente entre 1889 e 1914, são 
perceptíveis aspectos que dizem do papel social atribuído às mulheres, bem como as 
relações de gênero em fins do século XIX e início do século XX. Essas relações 
estavam expressas também nos jornais do período, como A República. 
Em dezembro de 1891, o governador Miguel Joaquim de Almeida Castro é 
deposto (DEPOSIÇÃO, 1891, p.1). Sua deposição está diretamente ligada à deposição 
de Deodoro da Fonseca da Presidência do Brasil e à posse de Floriano Peixoto. Para o 
Governo do Rio Grande do Norte é instaurada uma Junta Governativa, composta por 
Francisco Lima e Silva, Manoel do Nascimento Castro e Silva e Joaquim Ferreira 
Chaves (ARAÚJO, 1982, p.102). Esta Junta Governativa se manteve no exercício 
governamental até a eleição do Governador Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, em 
22 de fevereiro de 1892. 
Assinando como Senhoras Norte-rio-grandenses, as mulheres manifestam sua 
crença na Junta Governativa, adjetivando-a de patriótica e defensora da verdade. Essas 
senhoras se caracterizavam como virginais irmãs do povo e expressavam, de maneira 
literária, uma representação feminina desse período. Contemplavam o ideal republicano 
através das emoções sinceras de sua alma feminil, cultuavam a liberdade e seguiam os 
deveres preconizados pela nova ordem social. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
26 
 
 
 
Nós que sentimos n’alma as emoções sinceras 
As efusões leais das consciências sãs 
Nós que somos do povo as virginais irmãs 
Nós que temos na fronte o íris da esperança 
Esses eflúvios bons de um novo alvorecer 
Que sabemos prestar um culto à liberdade 
Que sabemos seguir a trilha do dever 
Nós que colhemos sempre os louros da vitória 
Quando se faz mister amordaçar a dor 
Que só temos no lábio essa palavra – Honra 
Que só temos na mente esse ideal – Amor 
Agora que o porvir sorrindo nos acena 
Quea cerração passou, que é tudo rosicler 
Viemos vos trazer as bênçãos da família 
Viemos vos saudar em nome da mulher. 
(À PATRIÓTICA JUNTA GOVERNATIVA DO ESTADO, PELAS 
SENHORAS NORTE-RIO-GRANDENSES, 1891, p.3) 
 
 
 Honra, amor, virtude, razão, família e verdade são palavras que carregam em si 
uma trajetória histórica e que se materializam nessa configuração, sugerindo o modo de 
ser e de viver das mulheres do fim do século XIX. Seu discurso condensa uma relação 
político-social do período, como também uma relação entre os gêneros e a 
representação da mulher republicana. 
 
As mulheres foram transformadas em heroínas domésticas, 
responsáveis pelo restabelecimento da harmonia do lar e da paz da 
família. Com seus sofrimentos, sacrifícios e virtudes, deveriam afastar 
todo mal que porventura circundasse seu nicho de amor (CHAMON, 
2005, p. 67). 
 
A poesia publicada no periódico norte-rio-grandense e o discurso que dela se 
depreende encontram relação com a fala do deputado Pedro Américo, anteriormente 
citado, à Assembléia Constituinte sobre o voto feminino. Referendava o discurso 
vigente e valorizava a mulher como uma missionária na República, com um 
compromisso mais moral do que político. 
Por outro lado, a vida pública para a mulher era considerada diante de um sentido 
de urbanidade nascente. Uma urbanidade que colocava a mulher como anfitriã e 
responsável pela harmonia do lar. A escola e sua educação estética, ou seja, aquela 
destinada às funções de sociabilidade, educação religiosa e moral, cumpria parte dessa 
função ao proporcionar conteúdos como os do Colégio Particular Natalense. 
27 
 
 
Sexo Feminino, Diretora D. Luiza Lima, R. da Conceição, n. 26. 
Ensina primeiras letras, todos os trabalhos de agulha, noções de 
música com exercícios de piano. Aceita alunas internas e externas. 
Mensalidades para as primeiras 40$000 reis; para as segundas 3$000 
reis. O pagamento será adiantado (COLÉGIO PARTICULAR 
NATALENSE, 1892, p. 2). 
 
Apesar desta educação ocorrer, como pudemos perceber pela leitura das fontes, 
prioritariamente com base nos espaços escolares, concordamos com Lopes e Galvão 
(2001, p.24) que a educação nunca se restringiu apenas à escola. Outras práticas 
educativas aconteceram “ao longo do tempo, fora dessa instituição e, às vezes, com 
maior força do que se considera”. Em redor dessas práticas é que também focalizamos 
nossa pesquisa. Para além da educação escolar, outros processos formativos interferiam 
na organização do pensamento e da ação dos indivíduos em uma configuração dada. 
Os contos e poesias registrados no período alimentavam o ideal de mulher 
virtuosa e abnegada no exercício de sua missão de mulher junto aos filhos e ao marido. 
Um desses contos, A partilha, publicado por Coelho Neto no jornal A República, de 10 
de janeiro de 1897, retrata a história de uma viúva com dois filhos pequenos, tentando 
superar a fome e a doença para cuidar deles. Seu sofrimento é identificado como parte 
do dever de mãe que, enquanto embala o filho pequeno e tenta saciar a fome do outro, 
esquece de sua precária saúde e segue na missão materna cantarolando passivamente. 
 
 
Cantava e as lágrimas rolavam-lhe em dois fios ao longo da face 
magra e pálida. Sofria, mas como era preciso que o pequeno 
adormecesse, cantava, indo e vindo, devagar, embalando nos braços a 
criança. O mais velho, três anos, olhava-a sorridente e, de quando em 
quando, cantarolava ‘Estou com fome, mamãe, estou com fome...’ - 
Não chores! Olha que vai acordar o maninho. Espera. E, 
desabotoando, o corpinho tirou o peito farto, pojado de leite e 
espremeu-o, trincando os lábios descorados por onde as lágrimas 
corriam fio a fio e, entregando a tigelinha ao filho: - Toma! E não 
faças bulha (COELHO NETO, 1897, 2). 
 
 
Acreditamos que as práticas dessas leituras colaboravam como meio educacional 
na modelagem de um novo perfil de sociedade que o regime republicano solicitava. A 
base de argumentação que relacionava maternidade, domesticidade, abnegação e 
sacerdócio aliou-se à uma demanda advinda do aumento no quantitativo de escolas 
28 
 
femininas e alocou a mulher como a mais apropriada para o melhor desempenho 
educacional no país a partir de suas bases: a educação primária. 
Em uma sociedade que se queria civilizada pela educação, esse gênero passa a ser 
a referência na função de moralizá-la a partir de certa conduta e de certa condução 
também no espaço educacional. Moralidade é seu discurso. Virtude, a sua meta. 
Ao buscar a história da educação das mulheres, é possível olhar para dentro das 
escolas femininas. Através das disciplinas, propostas nos Regulamentos Estaduais e nos 
anúncios das escolas privadas, pudemos vislumbrar uma sintonia entre um discurso 
sobre o sentido de ser cidadão e uma instrução que pretendia um perfil de mulher, de 
família e de sociedade. 
O que caracterizava o ensino nessas instituições era um currículo que priorizava a 
educação da mulher para além do aspecto instrucional (COLÉGIO N. S. DA 
APRESENTAÇÃO, 1894, 2). Educação esta que se destinava a suprir um modelo de 
mulher idealizado pelo discurso republicano, que era o de educadora dos filhos e 
formadora dos futuros cidadãos, além de se pretender um traquejo social e a boa 
representatividade da mulher junto ao esposo. 
Esta configuração posta trazia consigo a necessidade de definição de um perfil de 
mulheres capazes de educar outras mulheres para este fim. As mulheres reivindicavam a 
instrução, ou seja, ler e escrever “como forma de socialização” e sua inserção no mundo 
letrado através de espaços de comunicabilidade como jornais femininos, tanto lendo 
como escrevendo nestes ou para estes jornais (MORAIS, 2002, p. 69-76). A sociedade 
reivindicava uma civilização que se traduziria em progresso. Ambas as reivindicações 
encontravam na educação este transmissor cultural por excelência. 
Tais anseios sociais faziam com que as escolas destinassem às moças, além dos 
conteúdos instrucionais, a música, as línguas estrangeiras e as habilidades domésticas, 
formando-as para serem anfitriãs perfeitas, esposas dedicadas e mães ideais. Toda a 
configuração traz em seu bojo um modo de ser mulher. Perguntei-me, então: o que 
caracterizava esse modo de ser professora nesse momento especifico, no qual se 
organizava (e legitimava) no Brasil e em Natal um novo sistema de governo? 
Para as professoras as habilidades intelectuais sintonizavam-se com características 
morais especificas. Nos impressos do período há uma recorrência acerca desse modo de 
ser e de se conduzir enquanto professora. Os indícios apontam a existência de uma 
representação moral, intelectual e pedagógica para se exercer a função de professora nas 
primeiras décadas do período republicano em Natal. O discurso da moralidade e da 
29 
 
virtude não estava descrito explicitamente nos conteúdos a serem oferecidos às 
mulheres. Mas estavam nos textos dos jornais, nos eventos cotidianos, nas ações das 
professoras, no modo como estas mulheres se movimentavam na sociedade natalense. 
O período de análise, com início em 1889, estende-se até 1914 e se orienta em 
duas direções: o desejo por buscar a professora e a educação que transita entre o século 
XIX e o XX e também por considerar um marco de finalização do século XIX, a 
Primeira Guerra Mundial. Esta guerra, que se iniciou com o assassinato do arquiduque 
austro-húngaro Francisco Ferdinando, marcou o fim do século XIX em seus valores 
sócio-culturais, seus modos de ser e de viver, suas maneiras de pensar, suas práticas 
culturais. 
 
Tratava-se de uma civilização capitalista na economia; liberal na 
estrutura legal e constitucional; burguesa na imagem de sua classe 
hegemônica característica; exultante com o avanço da ciência, do 
conhecimentoe da educação e também com o progresso material e 
moral; e profundamente convencida da centralidade da Europa, berço 
das revoluções da ciência, das artes, da política e da indústria e cuja 
economia prevalecera na maior parte do mundo, que seus soldados 
haviam conquistado e subjugado; uma Europa cujas populações, 
incluindo-se o vasto e crescente fluxo de emigrantes europeus e seus 
descendentes haviam crescido até somar um terço da raça humana; e 
cujos maiores Estados constituíam o sistema da política mundial 
(HOBSBAWM, 1999, p. 16). 
 
 
Em Natal, foi o marco inicial da institucionalização da educação doméstica, com a 
inauguração da Escola Doméstica de Natal, voltada a uma educação para as mulheres e 
o espaço privado. Um movimento que se organizava dentro processo de expansão da 
educação escolar com a consolidação da Escola Normal de Natal e a criação dos Grupos 
Escolares, a partir de 1908. 
Foi ainda o período de expansão da cidade no sentido leste, engolindo as dunas e 
se descobrindo para o mundo. Foi o período da iluminação pública e das instituições de 
controle salutares; da implementação de um sistema de transporte coletivo e das casas 
de diversão, como o Cine Polytheama, inaugurado em 1911. 
O período que se estende entre 1889 e 1914 são anos relevantes para o 
entendimento do moderno, do civilizador e do desenvolvimento das sociedades do 
século XX. Natal, como capital do Estado, era uma delas. Muitas características de 
nossa época têm sua origem nas últimas décadas do século XIX. Algumas bem claras, 
30 
 
como a legislação moderna relativa ao bem-estar social. Outras, nem tanto, como a 
presença maciça das mulheres no magistério voltado às séries iniciais da educação 
escolar. 
Foi nesse momento histórico específico que, mesmo sendo educadas para o lar, as 
mulheres eram professoras, escritoras e dividiam o espaço público com os homens na 
pequena Natal do período ora em análise. O longo século XIX (HOBSBAWM, 2006) 
termina no Brasil com a expansão do ensino pela interiorização da educação, a criação 
de grupos escolares e a implementação das escolas normais em todo o país. Essa 
demanda educacional se organizava em torno de uma figura cuja inserção é 
gradativamente percebida em todas as dimensões sociais: a mulher (professora) 
republicana. 
O trabalho docente feminino se consolida num processo reconhecido como 
“feminização do magistério”. Aqui associamos este processo também ao cuidado 
materno como um vetor educacional que se coadunava a um projeto educacional, 
político e econômico envolto em um ideário de civilidade e de modernidade. Voltava-se 
a um país que tentava se organizar como Estado-Nação sob o lema da ordem e do 
progresso. O enquadramento a esta nova ordem social somente seria possível pela 
educação instrucional e moral da sociedade. E esta educação deveria ser executada pela 
parte serena e angélica do gênero humano, ou seja, pela mulher. Mas não apenas na 
educação escolar, pública. Também este cuidado educacional deveria estar nas casas, no 
privado. Esta educação deveria estar nas mãos de uma mulher específica, ou melhor, de 
certas facetas singulares de mulheres: a professora, na escola e a mãe-esposa, na casa. 
Sempre cuidando dos futuros cidadãos da República. 
Na tentativa de demonstrar isto, rumamos em duas direções: uma que busca a 
configuração norte-rio-grandense e natalense no fim do século XIX e a outra, a 
participação da mulher no espaço público e privado no universo das representações 
femininas em Natal, entre os anos de 1889 e 1914. 
 
 
 
 
 
 
 
31 
 
Capítulo II 
Notas do Caminho 
 
 
 
Embora não planeado e não imediatamente 
controlável, o processo global de 
desenvolvimento de uma sociedade não é de 
modo algum incompreensível. Por detrás 
dele não há quaisquer forças sociais 
‘misteriosas’ (ELIAS, 1970, p.161). 
 
 
Na tentativa de compreender o processo global de desenvolvimento da sociedade 
natalense de fim de século, nos apoiamos em uma abordagem teórico-metodológica que 
nos permitisse perceber além das aparentes forças misteriosas que o movem; para além 
dos seus discursos e representações. Esta tese se apresenta, desde o início, com um 
enfoque duplo e interativo: a busca de fontes documentais e de um referencial teórico-
metodológico, de maneira a tentar iluminar o primeiro com o segundo. 
Tivemos a vantagem de contar com a orientação da professora Maria Arisnete 
Câmara de Morais, cujas preocupações teóricas (1998, 2000, 2001, 2002, 2003a, 2003b, 
2006) permitiram uma interface entre história, literatura e educação, tripé favorável à 
construção desta tese. Morais nos guiou particularmente até a leitura de Elias (1970, 
1993, 1994, 1995, 2000, 2001), Chartier (1990, 1999a, 1999b) e Certeau (1982, 2002) e 
a conceitos como configuração, representação, táticas e estratégias. Outros conceitos 
como civilização, cultura e modernidade são considerados a partir da interlocução com 
Castriciano (1892, 1911), Dantas (2000), Bonfim (2005) e Veríssimo (1890). 
Pelo fato de pertencer à profissão cuja linguagem nos propomos a estudar, 
assumimos o viés de sujeito-objeto. Como professora, enfrentávamos um desafio 
semelhante àquele identificado por Bourdieu na sociologia da religião praticada por 
sociólogos padres ou ex-padres: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
32 
 
 
O interesse ligado ao fato de pertencer a um campo está associado a 
uma forma de conhecimento prático, interessada, que aquele que não 
faz parte do campo não possui. Para se proteger contra os efeitos da 
ciência (ou, quando se trata dos sociólogos, contra a concorrência 
científica), aqueles que a ele pertencem tendem a fazer dessa pertença 
condição necessária e suficiente para o conhecimento adequado. Esse 
argumento é usado correntemente, e em contextos sociais muito 
diferentes, para desacreditar qualquer conhecimento externo, não 
autóctone (“ você não pode entender", "é preciso ter vivido isso" ou 
"não é assim que isso acontece", etc.) e contém uma parcela de 
verdade" (BOURDIEU, 1990, p.110). 
 
 
Em função dessa parcela de verdade, o ponto de partida para o material empírico 
foi uma pergunta sobre nossa própria formação e sobre aquelas que formaram aquelas 
nos formaram, ou seja, sobre as professoras de nossas professoras, em seu aspecto 
histórico e cultural. Ou, ainda, sobre os discursos que as forjaram no curso do século 
XX e que chegam como permanências históricas até nós. 
Os documentos que estudamos durante o mestrado me levaram a perguntar sobre 
o modo de ser professora no século XIX. A construção do objeto de estudo para o 
doutorado nos levou a pensar sobre o projeto educacional republicano e em que a 
representação de mulher e de professora entre 1889 e 1914 se relacionava com este 
projeto. Para investigá-lo, seria preciso identificar, compreender e analisar também 
aspectos morais, intelectuais, comportamentais produzidos e compartilhados por um 
grupo cultural específico, numa realidade dada e temporalmente distante. Como fazê-lo? 
A resposta veio através de uma abordagem teórica e metodológica que partisse de 
questões específicas, conceitos e categorias de análise que permitissem explicar a 
educação feminina, na relação com a cultura, a política e a sociedade do período em 
foco. 
Desta forma, problematizamos o discurso que se articulava por meio dos 
impressos, organizando-o em questões que pudessem orientar o estudo. Como eram 
representadas as mulheres nos impressos? Como se estabeleciam as relações sociais e de 
gênero nesses escritos? Estes questionamentos são os fios condutores para as análises 
das fontes. 
Trabalhamos na construção de dados basicamente com duas linguagens: o texto 
impresso do jornal encontrado nos arquivos e sua imagem fotografada de forma digital, 
além das fotografias de imagens do período. Estas fontes documentais permitem 
33 
 
vislumbrar os indícios de uma dada configuração histórica e possibilitam asanálises 
necessárias ao desenvolvimento desta tese. 
Através desses fios (ou indícios), chegamos à institucionalização dessa formação 
e às instituições que a ela se agregam. A escola, sendo a mais óbvia delas, mas também 
as práticas de leitura e a materialidade desta, expressa em jornais, romances, contos, 
poesias, legislação, estatísticas. Iniciamos, então, pela apropriação desses materiais: os 
jornais que circulavam no período, os romances, contos e poesias que eram 
mencionados de alguma forma no jornal, seja a autoria, o título, ou mesmo o material 
literário em si, assim como os decretos e leis estaduais e nacionais e os censos 
populacionais, estatísticas escolares, com relação à distribuição de professores, escolas e 
estudantes. 
O uso do método indiciário como suporte metodológico para um trabalho desta 
natureza e as referências a Ginzburg (1989, 1991, 2000) permeiam os procedimentos de 
construção e análise de dados. Diz o autor sobre o método indiciário: 
 
 
Se a realidade é opaca, existem zonas privilegiadas – sinais, indícios – 
que permitem decifrá-la. Essa ideia, que constitui o ponto essencial do 
paradigma indiciário ou semiótico, penetrou nos mais variados 
âmbitos cognoscitivos, modelando profundamente as ciências 
humanas. Minúsculas particularidades paleográficas foram 
empregadas como pistas que permitiam reconstruir trocas e 
transformações culturais – cm uma explícita invocação a Morelli, que 
saldava a dívida que Mancini contraíra junto a Alacci, quase três 
séculos antes (GINZBURG, 1989, p. 178). 
 
 
A flexibilidade do método utilizado em trabalhos, desde as ciências humanas até 
as ciências biológicas, referendava-o como instrumento de pesquisa válido à 
compreensão dos aspectos relativos ao fenômeno humano. Ginzburg pensa o método 
indiciário a partir da técnica de um médico, Giovanni Morelli, para analisar a 
originalidade e autenticidade da autoria de pinturas. Para distinguir originais de cópias 
em obras de arte, o médico italiano do século XIX, Morelli, observava não as 
“características mais vistosas, portanto as mais facilmente imitáveis” (GINZBURG, 
1989, p. 144), mas os detalhes pouco notados e menos influenciados pela escola a que o 
pintor pertencia, como os lóbulos das orelhas ou a forma dos pés. Para ele, importavam 
os pormenores mais do que o conjunto da obra. 
34 
 
Da relação deste com outros dois médicos - Freud e Doyle -, o autor analisa a 
natureza indiciária da medicina. A medicina, por sua natureza experimental, foi se 
desenvolvendo a partir do “olho clínico” do médico sobre seu paciente ou pela relação 
humana com o doente. Os diagnósticos, antes do advento tecnológico dos exames 
médicos, contavam com os indícios recolhidos pelo médico na observação dos sintomas 
apresentados pelo enfermo. 
 Três médicos. Três estudiosos da natureza que utilizam seus conceitos biológicos 
para compreender e interpretar os indícios da alma humana: Sigmund Freud se utiliza da 
premissa de Delfos – “Conhece-te a ti mesmo” – para que os indivíduos busquem 
indícios dentro de sua trajetória de vida e se expliquem a si mesmos; Arthur Conan 
Doyle, literato inglês, nos apresenta um personagem – Sherlock Holmes – atento aos 
detalhes, ao menos óbvio, para demonstrar a força dos indícios na base de uma 
investigação criminal; e o crítico de arte italiano Morelli com sua técnica para 
diagnosticar obras de arte originais. 
As perspectivas metodológicas desses pensadores são os fios que motivam o 
tapete indiciário de Ginzburg. E é a partir da metáfora do tapete que o autor apresenta o 
método. 
 
O tapete é o paradigma que chamamos a cada vez, conforme os 
contextos, de venatório, divinatório, indiciário ou semiótico. Trata-se, 
como é claro, de adjetivos não sinônimos que, no entanto remetem a 
um modelo epistemológico comum, articulado em disciplinas 
diferentes, muitas vezes ligadas entre si pelo empréstimo de métodos 
ou termos-chave (GINZBURG, 1989, p.170). 
 
 
 
Este tapete metafórico é o caminho teórico-metodológico; o pesquisador, seu 
tecelão. Um tapete que vai se constituindo diante dos olhos deste a partir dos indícios, 
sinais, pistas fornecidas pelo campo de investigação a este último. E, nesse sentido, os 
jornais de Natal do século XIX forneceram vários indícios de como se era, de como se 
institucionalizava aquela sociedade específica no universo de um ideário de 
modernidade e civilização. A educação primeira, a educação ministrada pela mulher, 
tornava-se o carro-chefe desse movimento modernizador ou processo civilizatório. 
Nesta análise importam estes detalhes. Fios que organizam e tecem a constituição 
do ser mulher, do ser esposa, do ser professora. Como, por exemplo, o modo de vestir, 
de posar para uma fotografia, de olhar, de sorrir e de não sorrir. Também os modos 
35 
 
como são exaltadas ou execradas em discursos de várias tipologias textuais, a partir de 
olhares masculinos e femininos, de políticos, escritores e intelectuais. São pormenores 
que organizam um modo de ser e de viver da mulher de fim de século na relação com a 
outra parte do gênero humano, como também consigo mesma e com as outras mulheres. 
 A História Cultural e sua aplicabilidade nas análises das representações oferecem 
um suporte teórico adequado a esta investigação. As representações das mulheres se 
encontram dispersas em documentos escritos nos diversos suportes textuais 
encontrados. A abordagem da História Cultural pressupõe um reencontro do historiador 
com as particularidades de cada configuração, na sua complexidade, nas suas tensões e 
nas suas permanências. Isto permite, em tese, a apreensão da realidade educacional 
natalense dada a ler através destes documentos. 
 
 
O real assume assim um novo sentido: aquilo que é real, efetivamente, 
não é (ou não é apenas) a realidade visada pelo texto, mas a própria 
maneira como ele a cria, na historicidade de sua produção e na 
intencionalidade da sua escrita (CHARTIER, 1990, p. 63). 
 
 
Chartier demonstra que este real é também uma narrativa construída a partir da 
interpretação de um autor. A realidade (ou o real) é um tecido social construído onde 
grupos diferenciados se interrelacionam, num equilibro de tensões permanentes do qual 
nascem representações que esses grupos organizam sobre si e os outros. A 
representação, portanto, é um conceito que permite compreender o funcionamento da 
sociedade a partir da apreensão do real pelos indivíduos no Rio Grande do Norte do 
final do século XIX, os autores desta configuração por excelência. 
Dada a condição de não-presentidade da realidade em estudo, o conceito de 
representação norteia toda a discussão desenvolvida neste trabalho. A representação é 
uma construção que os grupos elaboram deles próprios e dos outros e se modelam a 
partir das estratégias que se determinam pelo modo como um texto ou uma imagem é 
apropriado, tanto em relação ao indivíduo como na relação com um grupo cultural 
específico. 
 
As representações do mundo social assim construídas, embora aspirem 
à universalidade de um diagnóstico fundado na razão, são sempre 
determinadas pelos interesses de grupo que as forjam. Daí, para cada 
caso, o necessário relacionamento dos discursos proferidos com a 
posição de quem os utiliza (CHARTIER, 1990, p.17). 
36 
 
 
 
Buscar as representações nas práticas e as práticas nas representações configura 
uma relação dialética percebendo o movimento histórico e cultural sujeito às 
interdependências das relações de gênero na configuração dada. 
Ao investigar a sociedade de corte de Luís XIV, Elias (2001, p. 29) parte das 
estruturas sociais de uma época determinada. Mas, ao tematizar essa estrutura social 
particular, ele inclui o estudo da evolução de modelos que permitem a comparação 
entres as diversas estruturas sociais de mesmo tipo. “A investigação de uma certa 
sociedade de corte do passado também oferece uma contribuição para o esclarecimentode extensos problemas sociológicos acerca da dinâmica social”. O conceito de 
configuração proposto pelo autor demonstra a existência de redes de interdependência 
entre sujeitos que convivem num determinado jogo social. 
Ela se caracterizaria por uma formação social de dimensões variáveis, desde uma 
corte do século XIV e uma sala de aula do século XIX, até uma cidade ou um Estado, 
onde cada homem e cada mulher estão ligados ao outro por uma relação de 
interdependência; ao mesmo tempo em que se moldam a si e aos outros, moldam a 
própria estrutura social. 
 
Em toda parte, o que vemos são os agentes individuais e seus atos, e o 
que se descreve são suas fraquezas e talentos pessoais. Não há dúvida 
de que é frutífero e mesmo indispensável estudar a história dessa 
maneira, como um mosaico de ações individuais de pessoas isoladas. 
(ELIAS, 1993, p. 16). 
 
 
Entendemos melhor o contexto social de nossa própria vida quando nos 
aprofundamos no de pessoas pertencentes à outra sociedade (ELIAS, 1993, p.93). 
Acreditamos que uma investigação sobre as mulheres das primeiras décadas da 
República revela o ser mulher com mais clareza para a atualidade. E esta revelação 
proporciona uma percepção mais acurada sobre o ser professora, o ser esposa, o ser 
profissional feminino em sua constituição histórica. Uma constituição que é, ao mesmo, 
tempo individual e coletiva. 
Admitindo a sociedade da forma como Elias coloca (um mosaico de ações 
individuais de pessoas isoladas), destacamos categorias que permitem, a priori, guiar 
nossa atenção para alguns aspectos relevantes da sociedade norte-rio-grandense do 
37 
 
período em destaque. O caminho escolhido sugere que as categorias de análise se 
organizem classificando e delimitando o objeto em estudo. 
As mulheres aparecem como filhas e esposas, mães e professoras, escritoras e 
irmãs de caridade. Elas surgem dos jornais, dos romances, da legislação do período. 
Estas representações são mais bem escrutinadas a partir de categorias de análise que 
ajudam a circunscrever melhor a pesquisa. 
Ao estudar a sociedade, a mulher e a educação brasileira através dos romances de 
Graciliano Ramos, Nunes (2005) nos convida a pensar categorias em história da 
educação e gênero. Utilizando três romances do escritor - São Bernardo, de 1934, 
Angústia, de 1936, e Vidas Secas, de 1938 - como fontes para investigar a educação da 
mulher na década de 1930, a autora sentiu-se impelida pela natureza da pesquisa e do 
objeto a ampliar seu universo de categorias. 
A autora organizou um corpus partindo da concepção de que, “na obra 
graciliânica, a mulher aparece sempre como personagem inicialmente secundária, mas 
tem um papel fundamental no desenrolar da história, sendo decisivo o seu 
comportamento para o destino da personagem masculina” (NUNES, 2005, p.14). 
Buscou então categorias que a guiassem para compreender a representação da mulher e 
os papéis sociais a ela atribuídos a partir da ótica da sociedade na qual esta mulher 
estava inserida. Estado civil, domínio da linguagem, sexualidade, casamento, família e 
mulher ideal figuram como categorias históricas definidas na sua tese, a partir das 
sucessivas leituras dos romances escolhidos. Ao lado destas, gênero e educação 
conduzem a um olhar ou a uma leitura, “com a pretensão de não ter perdido de vista a 
relação entre história e literatura nem esquecido as especificidades de cada uma” 
(NUNES, 2005, p.05). 
O primeiro caminho tomado foi uma revisão da literatura crítica da obra do 
escritor alagoano. Nesse movimento, ela percebe, além dos destaques dados pelos 
pesquisadores consultados, como a linguagem clara e concisa do escritor, sua simpatia 
por personagens simples e com um humanismo político-ideológico, categorias como 
história, memória, educação e escola entre as categorias de análise utilizadas para a 
compreensão da obra citada. O enfoque, prioritariamente literário dado às pesquisas, 
sugere a Lúcia um caminho metodológico sob outra perspectiva: olhar essa obra pelo 
viés da educação e utilizar a literatura como fonte histórica para desenvolver seu 
projeto. 
38 
 
Escolhemos também este caminho ao partirmos de uma revisão de pesquisas 
sobre educação e gênero e a leitura de fontes como jornais, livros escolares, almanaques 
disponíveis. Estas leituras nos ajudaram a pensar as nossas próprias categorias de 
análise. 
Primeiramente analisamos as monografias (NOGUEIRA, 1999; BARBOSA, 
1999) do curso de Pedagogia e as teses e dissertações (GOMES, 1999; AQUINO, 2002; 
MELO, 2002; DIAS, 2003; CARVALHO, 2004; CHAGAS, 2004; MORAIS, 2004; 
SILVA, 2004; ROCHA NETO, 2005; RODRIGUES, 2007; SOUSA, 2006; NUNES, 
2006) do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal do Rio 
Grande do Norte. Identidade feminina, constituição docente e história da educação 
delimitaram as temáticas estudadas. 
A revisão desta literatura nos ajudou a pensar gênero e educação, como categorias 
de análise; das fontes documentais e literárias emergiram mãe-esposa3 e professora. 
Essas quatro categorias permitiram organizar uma categoria central que perpassa todo o 
trabalho aonde a análise vai ao encontro das questões postas no curso da pesquisa: 
representações culturais femininas. 
A discussão metodológica empreendida ajuda a compreender como as duas 
perspectivas trazidas por Lopes (1994, p.20) categoria histórica e categorias da história 
permitem ampliar o universo de apreensão e análise de um objeto de estudo, ao mesmo 
tempo em que ancora e sustenta conceitos válidos para a elucidação de uma questão-
tese ou um problema de pesquisa. Esta autora aponta um primeiro problema: diante das 
fontes, às vezes centenas de documentos, é preciso compor um “corpus, quero tudo... 
não terei nada”. Se a abordagem funciona como lentes através das quais observamos o 
objeto investigado, as categorias são como lupas sobre as lentes que focam o olhar e não 
dispersam o pesquisador. 
As fontes da pesquisa – sejam impressos ou fotografias, digitalizados ou 
transcritos – criam vida e aparecem como um rio corrente de imagens e existências. A 
função das categorias neste trabalho é não nos perdermos nesta correnteza dos indícios 
oferecidos pelos documentos. É nosso leme nesta navegação incerta e nos ajudam a 
 
3 Durante a pesquisa e escrita de nossa dissertação de Mestrado (PINHEIRO, 2003) esta categoria 
aparecia dividida em duas organizando-se no que convencionamos chamar “binômio feminino para os 
oitocentos”. A pesquisa de doutorado reafirmou a presença dessas representações de mulher, mas não 
mais como um binômio e sim como uma unidade representacional válida para a configuração pesquisada. 
As duas tornaram-se uma na medida em que as fontes analisadas não concebiam uma esposa que não se 
tornasse mãe ou uma mãe que não tivesse sido uma esposa. 
39 
 
focalizar nossa busca em encontrar a mulher professora em Natal, entre os anos de 1889 
e 1914. 
Estas categorias mantêm a direção da pesquisa. Quando analisamos textos como 
Educação da mulher (CASTRICIANO, 1911) ou Costumes Locais (SOUZA, 1999) ou 
ainda A partilha (COELHO NETO, 1897), buscamos palavras, contextos que envolvam 
as categorias que emergiram das fontes escolhidas e dos documentos coletados no 
projeto em curso, como mãe-esposa ou professora. Estas se apresentam nos documentos 
envoltas em um ideário de virtude e moralidade, dentro de relações sociais específicas, 
em um recorte temporal estabelecido. 
Palavras, expressões, imagens recorrentes – como virtude e moralidade 
relacionadas às figuras da esposa e da professora –, nos periódicos encontrados, 
permitem vislumbrar um universo de categorias que, impostas pelas fontes, foram 
determinadas pela relevância e até mesmo pela insistência com que aparecem nos 
jornais da época. 
Um exemplo é o jornal A República, que traz uma diversidade textual relevante,

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