Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ESOFAGITE E SÍNDROMES DISPÉPTICAS E DOENÇAS FUNCIONAIS DO TRATO GASTROINTESTINAL Caso 05 Sessão Tutorial Resumo Adentre o fascinante mundo do trato gastrointestinal e explore suas profundezas com este abrangente documento que desvenda os segredos das doenças que afetam esse intrincado sistema. Aqui, você encontrará um tesouro de conhecimentos sobre condições que vão desde a comum Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) até a enigmática Doença de Crohn, bem como informações valiosas sobre anemias relacionadas a distúrbios gastrointestinais e as mais recentes inovações terapêuticas. Escrito por alunos de medicina, este guia combina informações atualizadas e precisas com exemplos práticos e ilustrativos, tornando a leitura atraente e fácil de compreender. Você descobrirá as últimas técnicas de diagnóstico e tratamento, bem como diretrizes atualizadas para o manejo dessas doenças na atenção primária à saúde. Aventure-se nesta jornada repleta de insights e novas perspectivas no campo das doenças gastrointestinais. Este documento se tornará uma ferramenta indispensável para profissionais de saúde e estudantes em busca de ampliar seus conhecimentos e habilidades, garantindo um melhor cuidado aos pacientes afetados por essas condições. Então, prepare-se para embarcar nesta emocionante viagem de aprendizado e descobertas! Caso 05 Sessão Tutorial 2 SUMÁRIO Capítulo 1: Esofagite 1.1. Anatomia do esôfago 1.2. Fisiologia do esôfago 1.3. Farmacologia aplicada à esofagite 1.4. Patologia da esofagite 1.5. Diagnóstico da esofagite 1.6. Tratamento da esofagite Capítulo 2: Síndromes dispépticas e doenças funcionais do trato gastrointestinal 2.1. Anatomia do trato gastrointestinal 2.2. Fisiologia do trato gastrointestinal 2.3. Farmacologia aplicada às síndromes dispépticas 2.4. Patologia das síndromes dispépticas e doenças funcionais 2.5. Diagnóstico das síndromes dispépticas e doenças funcionais 2.6. Tratamento das síndromes dispépticas e doenças funcionais Capítulo 3: Doenças do esôfago 3.1. Acalasia 3.2. Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) 3.3. Esôfago de Barrett 3.4. Esofagite eosinofílica 3.5. Câncer de esôfago 3.6. Distúrbios da deglutição e motilidade 3.7. Doença de Crohn e o esôfago Capítulo 4: Manifestações hematológicas de doenças gastrointestinais 4.1. Anemia megaloblástica 4.2. Anemia ferropriva secundária a sangramento Capítulo 5: Infecção por H. pylori e sua associação com a DRGE 5.1. Epidemiologia e patogênese da infecção por H. pylori 5.2. Diagnóstico e tratamento da infecção por H. pylori 5.3. Associação entre H. pylori e DRGE Capítulo 6: Tratamento cirúrgico da DRGE e ligadura elástica de varizes esofágicas 6.1. Indicações e técnicas cirúrgicas para o tratamento da DRGE 6.2. Ligadura elástica de varizes esofágicas Capítulo 7: Secreções no trato gastrointestinal 7.1. Fisiologia das secreções no trato gastrointestinal Capítulo 8: Farmacologia e terapêutica aplicada à DRGE e síndromes dispépticas 8.1. Antiácidos 8.2. Inibidores dos receptores H2 8.3. Inibidores da bomba de prótons (IBP) 8.4. Tratamento não medicamentoso da DRGE Capítulo 9: Semiologia e exame físico aplicados à esofagite, gastrite e úlcera gástrica 9.1. Palpação do abdome e achados semiológicos na esofagite 9.2. Achados semiológicos na gastrite 9.3. Achados semiológicos na úlcera gástrica Capítulo 10: Novos conceitos no diagnóstico da DRGE 10.1. Avanços no diagnóstico da DRGE Capítulo 11: Manejo da DRGE no adulto na atenção primária à saúde CASO 05 Identificação: J.J.S.M.., sexo masculino, 13 anos de idade, estudante, natural de Salvador-BA, procedente de Pituaçu Informante: A genitora / o paciente Queixa Principal: “Bolo na garganta e queimor há 3 meses” História da Moléstia Atual (HMA): Paciente em consulta com Gastroenterologista na Clínica FTC, acompanhado da genitora, com relato de que o paciente iniciou quadro de disfagia intermitente, associado a dor e queimor em região retroesternal, sem irradiação há cerca de 3 meses. Refere que por vezes sente sensação de regurgitação e algumas vezes chega a apresentar náuseas e vômitos com restos alimentares. Refere sensação de esvaziamento gástrico lentificado. Relata que a pirose é mais intensa após alimentação e vem em uso de Omeprazol 20mg/dia, sem melhora do sintoma. Diurese de coloração habitual, nega disúria, polaciuria, oligúria ou outros sintomas urinários. Nega hematêmese, enterorragia ou diarreia. Relata trânsito intestinal lentificado, ficando até 5 dias sem evacuar. Nega alergia alimentar, mas não sabe referir intolerâncias. Nega alergia medicamentosa. Interrogatório Sistemático: Nega outros sintomas além dos já referidos na HMA. História Patológica Pregressa: Nega patologias. Nega internamentos. Nega cirurgias. Calendário Vacinal atualizado - SIC (informado durante o atendimento). História Familiar: Genitor diabético, genitora hipertensa, avô materno portador de DPOC, avó paterna diabética. História Social: Natural de Salvador, residindo toda infância no bairro de Pituaçu, estudante do 8º ano do ensino fundamental, mora em casa própria, com rede elétrica, água encanada e filtrada, com rede de esgoto. História Alimentar: Alimenta-se mal, com horários irregulares para as suas refeições. Alimentação pobre em frutas, legumes e verduras, dieta rica em gorduras, carboidratos açucares e bebidas gaseificadas. Exame Físico: Geral: Bom estado geral, corado, hidratado, anictérico, normotenso, eupneico em ar ambiente. Dados Antropométricos: Altura 1,75m; Peso 76Kg; IMC 25,3. Sinais Vitais: Pressão Arterial (PA): 120x80mmHg; Pulso Radial: 98bpm; Frequência Respiratória (FR) 18ipm; Temperatura Axilar (Tax) 35,8oC; Glicemia Capilar: 112mg/dl; Oximetria de Pulso: 98% em ar ambiente. Pele: Corado, com turgor e elasticidade normais, mucosas normocoradas, não palpo linfonodos em cadeias cervicais, submandibulares, axilares, infraclavicular; sem alterações dos pelos. Cabeça: forma normal, sem lesões aparentes. Olhos, ouvidos, nariz e boca sem anormalidades, dentes em perfeito estado de conservação. Em uso de aparelho ortodôntico. Orofaringe sem hiperemia em úvula e palato, sem presença de petéquias ou hipertrofia de amígdalas. Pescoço: nuca livre, traqueia na linha média, tireoide sem anormalidades, ausência de turgência de jugular patológica (TJP) em decúbito de 45°, realizada a inspeção das carotídeas sem sinais de estase, palpação das carótidas com contorno do pulso suave, e amplitude do pulso normal, ausculta das carótidas bilateral nos 3 níveis com ruídos habituais, sem sopro. Aparelho Respiratório: Tórax e pulmões: simétrico, sem esforço respiratório (tiragens ou uso de musculatura acessória). Expansibilidade preservada bilateralmente. Frêmito tóraco vocal (FTV) uniformemente palpável bilateralmente. Som claro atimpânico à percussão. Murmúrio vesicular bem distribuído, sem ruídos adventícios (MVBD s/ RA). Aparelho Cardiovascular: Precórdio normodinâmico. Ausência de atritos. Ictus invisível, palpável em 5º Espaço Intercostal (EIC) no nível da Linha Hemiclavicular Esquerda (LHCE) medindo cerca de 2 polpas digitais, não propulsivo; Ritmo Cardíaco Regular em 2 tempos com bulhas normofonéticas (RCR 2T c/ BNF). Ausência de sopros ou extra-sístoles. Ausência de turgência de jugular patológica (TJP). Pulsos arteriais periféricos simétricos, sincrônicos e com boa amplitude. Abdome: Globoso às custas de panículo adiposo, presença de víbices, cicatriz umbilical protrusa e centrada, sem lesões de pele, cicatrizes, circulação colateral ou herniações. Peristalse normal presente em todos os quadrantes e ausência de sopros em focos arteriais abdominais. Hepatimetria medindo cerca de 10 cm (lobo direito). Espaço de Traube livre. Sem visceromegalias. Doloroso à palpação profunda em região epigástrica (intensidade 4/10). Ausência de sinais de irritação peritoneal. Murphy, Blumberg no ponto de McBurney ausentes. Ausência de massas.Gênito-urinário e região perineal: Genitália masculina, características de adulto, com exposição completa da Caso 05 Sessão Tutorial 4 glande, sendo possível observar orifício uretral, presença de pelos escuros e ásperos em região supra púbica e escrotal, sem hiperemia ou lesões; bolsa escrotal com presença dos dois testículos, ausência de hidrocele ou herniações. Região perianal sem hiperemia, sem presença de fistulas, fissuras ou prolapso. Membros: Ausência de edema, lesões de pele, sinais de insuficiência venosa ou arterial. Panturrilhas livres. Pulsos periféricos palpáveis simétricos e amplos. Aparelho osteoarticular: ausência de deformidades articulares ou sinais inflamatórios. Articulações com boa amplitude de movimentos. Coluna vertebral com curvaturas fisiológicas, ausência de dor à palpação das apófises espinhosas, mobilidade normal, mas com referência de dor em membros inferiores ao deambular. Sistema nervoso: Ativo, reativo, lúcido e orientado em tempo e espaço. Sem déficit motor aparente. Nuca livre, sem sinais de irritação meníngea. Pupilas isocóricas e fotorreagentes. Reflexos superficiais profundos presentes simétricos e sem anormalidades. Glasgow 15. Conduta: Feita orientação dietética e de hábitos de vida. Solicitados exames laboratoriais, Exames de fezes com parasitológico e pesquisa de sangue oculto nas fezes, EDA (Endoscopia Digestiva Alta) com biópsia (incluindo pesquisa de H. Pylori) e Manometria. Prescrito esomeprazol magnésio 20mg/dia pela manhã em jejum e Domperidona 10mg antes do café, almoço e jantar para ser utilizado até consulta de retorno com os resultados de exames. Caso 05 Sessão Tutorial 5 Capítulo 1: Esofagite 1.1. Anatomia do esôfago O esôfago é um tubo muscular que conecta a faringe ao estômago, permitindo a passagem do bolo alimentar. A anatomia do esôfago pode ser dividida em três partes: cervical, torácica e abdominal. Abaixo, estão alguns aspectos relevantes da anatomia do esôfago: 1. Localização e extensão: O esôfago tem aproximadamente 25 cm de comprimento, começando na altura da sexta vértebra cervical (C6) e terminando na junção esofagogástrica, ao nível da décima primeira vértebra torácica (T11). 2. Camadas: O esôfago é composto por quatro camadas principais: a) Mucosa: A camada mais interna do esôfago, formada por epitélio escamoso estratificado não queratinizado. A mucosa possui pregas longitudinais que permitem a expansão do esôfago durante a deglutição. b) Submucosa: Camada de tecido conjuntivo frouxo contendo glândulas esofágicas que secretam muco, ajudando na lubrificação e proteção da mucosa. c) Muscular própria: Composta por duas camadas de músculo liso – uma camada interna circular e uma camada externa longitudinal. A porção superior do esôfago contém músculo estriado, enquanto a porção inferior é composta por músculo liso. d) Adventícia: A camada mais externa do esôfago, formada por tecido conjuntivo frouxo que une o esôfago às estruturas adjacentes. 3. Esfíncteres esofágicos: O esôfago possui dois esfíncteres principais que controlam a passagem do bolo alimentar e previnem o refluxo do conteúdo gástrico: a) Esfíncter esofágico superior (EES): Localizado na porção superior do esôfago, é formado principalmente por músculo estriado e é responsável por prevenir a entrada de ar durante a respiração e evitar que o conteúdo da faringe retorne ao esôfago. b) Esfíncter esofágico inferior (EEI): Localizado na junção esofagogástrica, é composto por músculo liso e tem a função de prevenir o refluxo do conteúdo gástrico para o esôfago. O diafragma também auxilia na função do EEI, exercendo pressão adicional sobre a porção abdominal do esôfago. 4. Irrigação sanguínea e drenagem linfática: O esôfago é irrigado por várias artérias, como as artérias tireoidiana inferior, aorta torácica e gástrica esquerda. A drenagem venosa ocorre através das veias esofágicas, que desembocam nas veias ázigos e hemiázigos e na veia gástrica esquerda. A drenagem linfática ocorre através de uma rede de vasos linfáticos que seguem as artérias esofágicas. 5. Inervação: A inervação do esôfago é fornecida por dois sistemas nervosos principais: o sistema nervoso autônomo e o sistema nervoso entérico. a) Sistema nervoso autônomo: O esôfago é inervado pelos nervos vagos (parassimpático) e pelos nervos esplâncnicos torácicos (simpático). O sistema parassimpático estimula a contração da musculatura lisa esofágica e a secreção das glândulas esofágicas, enquanto o sistema simpático relaxa a musculatura lisa e inibe a secreção. b) Sistema nervoso entérico: O esôfago possui dois plexos entéricos (submucoso e mioentérico) responsáveis pela coordenação das atividades motoras e secretoras do esôfago. O plexo submucoso (de Meissner) regula a secreção das glândulas esofágicas, e o plexo mioentérico (de Auerbach) controla a contração da camada muscular própria. Exemplo: Durante a deglutição, a passagem do bolo alimentar pelo esôfago é facilitada pela ação coordenada dos esfíncteres esofágicos e das camadas musculares. O esfíncter esofágico superior (EES) relaxa, permitindo a entrada do Caso 05 Sessão Tutorial 6 bolo alimentar no esôfago. Em seguida, ocorre a peristalse esofágica, uma onda coordenada de contrações musculares que impulsiona o bolo alimentar em direção ao estômago. Por fim, o esfíncter esofágico inferior (EEI) relaxa, permitindo a passagem do bolo alimentar para o estômago e, em seguida, contrai-se novamente para evitar o refluxo do conteúdo gástrico. 1.2. Fisiologia do esôfago A fisiologia do esôfago envolve principalmente a deglutição, a peristalse e a função dos esfíncteres esofágicos. Esses processos garantem o transporte seguro e eficiente do bolo alimentar da faringe ao estômago. 1. Deglutição: A deglutição é um processo complexo e coordenado que envolve a ação de músculos voluntários e involuntários. Divide-se em três fases: a. Fase oral: É uma fase voluntária, na qual a língua empurra o bolo alimentar para o fundo da boca em direção à faringe. b. Fase faríngea: Inicia-se quando o bolo alimentar entra em contato com a parede posterior da faringe. É uma fase involuntária, durante a qual ocorre o fechamento da laringe para prevenir a aspiração, e o esfíncter esofágico superior (EES) relaxa para permitir a passagem do bolo alimentar para o esôfago. c. Fase esofágica: Também involuntária, envolve a peristalse esofágica e a ação do esfíncter esofágico inferior (EEI) para permitir a passagem do bolo alimentar ao estômago. 2. Peristalse esofágica: A peristalse é a onda coordenada de contrações musculares que ocorre ao longo do esôfago, impulsionando o bolo alimentar em direção ao estômago. Existem dois tipos de peristalse esofágica: a. Peristalse primária: É iniciada pela deglutição e envolve a coordenação do sistema nervoso central, dos nervos periféricos e do sistema nervoso entérico. Essa onda de contração peristáltica viaja do EES ao EEI em aproximadamente 8 a 10 segundos. b. Peristalse secundária: Ocorre em resposta à distensão do esôfago por alimento residual ou refluxo gástrico. É iniciada e coordenada pelo sistema nervoso entérico e ajuda a limpar o esôfago de qualquer resíduo. 3. Função dos esfíncteres esofágicos: Os esfíncteres esofágicos desempenham um papel fundamental na prevenção do refluxo e na proteção das vias respiratórias: a. Esfíncter esofágico superior (EES): Relaxe durante a fase faríngea da deglutição, permitindo a passagem do bolo alimentar para o esôfago. Em seguida, contrai-se rapidamente para evitar o retorno do conteúdo esofágico à faringe. b. Esfíncter esofágico inferior (EEI): Mantém-se contraído em repouso, prevenindo o refluxo do conteúdo gástrico. Durante a fase esofágica da deglutição, relaxa brevemente para permitir a passagem do bolo alimentar para o estômago e, em seguida, contrai-senovamente. Exemplo: A deglutição e a peristalse esofágica são processos fundamentais para a fisiologia do esôfago. Um exemplo de disfunção no processo de deglutição é a acalasia, uma condição na qual o esfíncter esofágico inferior (EEI) não relaxa adequadamente e a peristalse esofágica é comprometida. Isso resulta em dificuldade para engolir, dor no peito e regurgitação do alimento. Outro exemplo é a doença do refluxo gastroesofágico (DRGE), na qual o EEI não fecha corretamente ou se abre inapropriadamente, permitindo que o conteúdo gástrico volte ao esôfago. Isso pode causar sintomas como azia, dor no peito e, em casos mais graves, esofagite e complicações como o esôfago de Barrett. Além disso, a fisiologia do esôfago também está envolvida na secreção de muco pelas glândulas esofágicas. O muco desempenha um papel importante na lubrificação do esôfago e na proteção da mucosa esofágica contra danos mecânicos e químicos. Alterações na produção e na qualidade do muco podem predispor a condições como esofagite e úlceras esofágicas. Em resumo, a fisiologia do esôfago envolve a coordenação de processos como deglutição, peristalse e função dos esfíncteres esofágicos para garantir o transporte seguro e eficiente do bolo alimentar da faringe ao estômago. A compreensão desses processos é fundamental para o diagnóstico e tratamento de condições esofágicas, como a esofagite. 1.3. Farmacologia aplicada à esofagite O tratamento farmacológico da esofagite visa aliviar os sintomas, promover a cicatrização da mucosa Caso 05 Sessão Tutorial 7 esofágica e prevenir complicações. As principais classes de medicamentos utilizadas no tratamento da esofagite são: 1. Antiácidos: Os antiácidos neutralizam o ácido gástrico e proporcionam alívio rápido dos sintomas da esofagite, como a azia. Exemplos de antiácidos incluem hidróxido de alumínio, hidróxido de magnésio e carbonato de cálcio. No entanto, os antiácidos têm efeito temporário e não são ideais para o tratamento a longo prazo. 2. Inibidores dos receptores H2 (antagonistas H2): Esses medicamentos reduzem a produção de ácido gástrico, bloqueando os receptores H2 nas células parietais do estômago. Exemplos incluem ranitidina, cimetidina, famotidina e nizatidina. Os inibidores dos receptores H2 são geralmente utilizados para tratar esofagite leve a moderada. 3. Inibidores da bomba de prótons (IBP): Os IBPs são os medicamentos mais eficazes para o tratamento da esofagite e da DRGE, pois bloqueiam a enzima H+/K+-ATPase, responsável pela secreção de ácido clorídrico nas células parietais do estômago. Isso resulta em uma supressão significativa da produção de ácido. Exemplos de IBPs incluem omeprazol, lansoprazol, pantoprazol, esomeprazol e rabeprazol. 4. Procinéticos: Medicamentos procinéticos, como a metoclopramida e a domperidona, melhoram a motilidade gástrica e esofágica, promovendo o esvaziamento gástrico e reduzindo o refluxo gástrico. Esses medicamentos podem ser utilizados em conjunto com os inibidores da bomba de prótons ou inibidores dos receptores H2 para melhorar os sintomas da esofagite e DRGE. 5. Agentes mucoprotetores: Os agentes mucoprotetores, como o sucralfato, formam uma barreira protetora sobre a mucosa esofágica, protegendo-a da ação corrosiva do ácido gástrico. O sucralfato pode ser utilizado para promover a cicatrização da mucosa esofágica em casos de esofagite. 6. Tratamento específico para esofagite infecciosa: A esofagite causada por infecções fúngicas, como a Candida, pode ser tratada com antifúngicos, como o fluconazol. No caso de esofagite viral, como a causada pelo vírus herpes simplex, pode ser necessário o uso de antivirais, como o aciclovir. Exemplo: Um paciente com esofagite grave causada pela DRGE pode ser tratado com um inibidor da bomba de prótons, como o omeprazol, para suprimir a produção de ácido gástrico e promover a cicatrização da mucosa esofágica. Além disso, um procinético, como a metoclopramida, pode ser adicionado para melhorar a motilidade gástrica e reduzir o refluxo gástrico. Se a esofagite estiver associada a uma infecção por Candida, um antifúngico, como o fluconazol, também pode ser prescrito. Ao escolher o tratamento farmacológico para a esofagite, é importante considerar a gravidade dos sintomas, a causa subjacente e as possíveis interações medicamentosas. Além disso, o tratamento não medicamentoso, como mudanças no estilo de vida e na dieta, também desempenha um papel fundamental no manejo da esofagite e da DRGE. Em resumo, a farmacologia aplicada à esofagite envolve o uso de várias classes de medicamentos para aliviar os sintomas, promover a cicatrização da mucosa esofágica e prevenir complicações. Os medicamentos mais comuns incluem antiácidos, inibidores dos receptores H2, inibidores da bomba de prótons, procinéticos, agentes mucoprotetores e tratamentos específicos para esofagite infecciosa. 1.4. Patologia da esofagite A esofagite é uma inflamação da mucosa esofágica que pode ser causada por diversas condições e fatores. As principais categorias de esofagite incluem: 1. Esofagite por refluxo: A esofagite por refluxo é a forma mais comum de esofagite e é causada pela exposição prolongada da mucosa esofágica ao ácido gástrico proveniente do estômago. A doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) é a principal causa da esofagite por refluxo. Na patologia da esofagite por refluxo, a mucosa esofágica apresenta hiperemia, erosões, úlceras e, em casos mais graves, estenose e metaplasia (esôfago de Barrett). 2. Esofagite infecciosa: A esofagite infecciosa ocorre quando o esôfago é infectado por microrganismos, como bactérias, vírus ou fungos. A esofagite por Candida, causada pelo fungo Candida albicans, é a forma mais comum de Caso 05 Sessão Tutorial 8 esofagite infecciosa, especialmente em pacientes imunocomprometidos. A patologia da esofagite infecciosa apresenta infiltrado inflamatório, ulcerações e, em casos de infecção fúngica, presença de hifas. 3. Esofagite eosinofílica: A esofagite eosinofílica é uma condição alérgica na qual os eosinófilos, um tipo de célula do sistema imunológico, infiltram- se na mucosa esofágica, causando inflamação e disfunção esofágica. A patologia da esofagite eosinofílica apresenta numerosos eosinófilos no epitélio esofágico, microabscessos eosinofílicos e espessamento da lâmina própria. 4. Esofagite cáustica: A esofagite cáustica ocorre quando a mucosa esofágica é exposta a substâncias químicas cáusticas, como ácidos ou álcalis, geralmente devido à ingestão acidental ou intencional dessas substâncias. A patologia da esofagite cáustica apresenta necrose da mucosa esofágica, ulcerações e, em casos graves, estenose e perfuração. 5. Esofagite medicamentosa: A esofagite medicamentosa é causada pela irritação direta da mucosa esofágica por certos medicamentos, como anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), bisfosfonatos e antibióticos. A patologia da esofagite medicamentosa apresenta erosões e ulcerações na mucosa esofágica, geralmente associadas à presença do medicamento causador. Em resumo, a patologia da esofagite varia de acordo com a causa subjacente e pode incluir inflamação, erosões, ulcerações, estenose e metaplasia. A compreensão dessas alterações patológicas é fundamental para o diagnóstico e tratamento adequado da esofagite. Ao identificar a causa subjacente e tratar de acordo com a patologia específica, os médicos podem aliviar os sintomas, prevenir complicações e melhorar a qualidade de vida dos pacientes afetados por esofagite. 1.5. Diagnóstico da esofagite O diagnóstico da esofagite começa com uma avaliação clínica, incluindo histórico médico e exame físico, para identificar os sintomas, fatores de risco e possíveis causas subjacentes. Além disso, exames complementares podem ser necessários para confirmar o diagnóstico e determinar a causaespecífica da esofagite: 1. Endoscopia digestiva alta (EDA): A EDA é o exame de escolha para visualizar diretamente a mucosa esofágica e identificar sinais de inflamação, erosões, úlceras ou estenose. A EDA também permite a realização de biópsias para análise histológica, o que pode ajudar a diferenciar as várias causas de esofagite. 2. Teste de pH esofágico: O teste de pH esofágico é um exame ambulatorial que mede o pH do esôfago ao longo de um período de 24 horas, permitindo a detecção do refluxo ácido e a confirmação da DRGE como causa da esofagite. 3. Manometria esofágica: A manometria esofágica é um exame que avalia a função da musculatura esofágica e do esfíncter esofágico inferior, auxiliando no diagnóstico de distúrbios da motilidade, como a acalasia. 4. Estudos de imagem: Estudos de imagem, como radiografia contrastada do esôfago (esofagograma) e tomografia computadorizada (TC), podem ser úteis na avaliação da anatomia esofágica e na identificação de complicações da esofagite, como estenose e perfuração. 5. Testes laboratoriais: Testes laboratoriais, como hemograma completo e testes de função hepática, podem ser realizados para avaliar o estado geral de saúde do paciente e identificar possíveis comorbidades associadas à esofagite, como anemia. O diagnóstico da esofagite envolve uma combinação de avaliação clínica, exames complementares e análise histológica, conforme necessário, para determinar a causa específica da inflamação e orientar o tratamento adequado. 1.6. Tratamento da esofagite O tratamento da esofagite é baseado na causa subjacente e na gravidade da doença. Algumas abordagens gerais de tratamento incluem: 1. Mudanças no estilo de vida: Para todos os tipos de esofagite, especialmente esofagite por refluxo, algumas mudanças no estilo de vida podem ser úteis, como perder peso, evitar alimentos que desencadeiam sintomas, elevar a cabeceira da cama e evitar deitar-se logo após as refeições. 2. Tratamento farmacológico: O tratamento farmacológico varia de acordo com a causa da esofagite: a. Esofagite por refluxo: O tratamento farmacológico inclui antiácidos, inibidores dos receptores H2 (ranitidina, famotidina) e inibidores da bomba de prótons (IBP) (omeprazol, lansoprazol). Esses medicamentos Caso 05 Sessão Tutorial 9 reduzem a produção de ácido gástrico e ajudam a aliviar os sintomas e promover a cicatrização da mucosa esofágica. b. Esofagite infecciosa: O tratamento depende do agente infeccioso identificado e pode incluir antifúngicos (fluconazol) para infecções fúngicas, antibióticos (tetraciclina) para infecções bacterianas ou antivirais (aciclovir) para infecções virais. c. Esofagite eosinofílica: O tratamento pode incluir corticosteroides tópicos (fluticasona) para reduzir a inflamação e, em alguns casos, terapia dietética de eliminação para identificar e evitar alérgenos alimentares. d. Esofagite cáustica e medicamentosa: O tratamento envolve a suspensão do agente causador e o uso de IBP e sucralfato para promover a cicatrização da mucosa esofágica. Em casos graves, pode ser necessária a intervenção cirúrgica. 3. Tratamento endoscópico: Em alguns casos, como estenose esofágica ou esôfago de Barrett, pode ser necessário tratamento endoscópico, como dilatação esofágica ou ablação por radiofrequência. 4. Tratamento cirúrgico: A cirurgia pode ser necessária em casos de complicações graves da esofagite ou quando o tratamento conservador não é eficaz. Algumas opções cirúrgicas incluem fundoplicatura de Nissen para DRGE, esofagectomia para câncer de esôfago e cirurgia antirrefluxo. O tratamento da esofagite deve ser individualizado, considerando a causa específica, a gravidade da doença e a resposta do paciente às terapias. A abordagem multidisciplinar, envolvendo médicos, nutricionistas e outros profissionais de saúde, é crucial para garantir o melhor resultado possível para os pacientes afetados pela esofagite. Capítulo 2: Síndromes dispépticas e doenças funcionais do trato gastrointestinal 2.1. Anatomia do trato gastrointestinal O trato gastrointestinal (TGI) é um sistema tubular que se estende da cavidade oral até o ânus, sendo responsável pela digestão e absorção de nutrientes e pela eliminação de resíduos. A anatomia do TGI é dividida em várias seções, cada uma com funções específicas: 1. Cavidade oral: A digestão começa na cavidade oral, onde os alimentos são mastigados e misturados com saliva, que contém enzimas como a amilase salivar, que inicia a digestão dos carboidratos. 2. Faringe e esôfago: A faringe é a área da garganta que conecta a cavidade oral ao esôfago, que é um tubo muscular que transporta o bolo alimentar do esfíncter superior do esôfago até o estômago através do esfíncter esofágico inferior. 3. Estômago: O estômago é um órgão muscular em forma de saco que armazena alimentos e produz suco gástrico, composto por ácido clorídrico, enzimas e muco, que ajudam na digestão e na proteção da mucosa gástrica. O estômago é dividido em várias partes, como cárdia, fundo, corpo e antro. 4. Intestino delgado: O intestino delgado é a parte mais longa do TGI e é composto por três seções: o duodeno, o jejuno e o íleo. É o principal local de digestão e absorção de nutrientes. As enzimas pancreáticas e a bile produzida pelo fígado são lançadas no duodeno, onde ocorre a maior parte da digestão química. 5. Intestino grosso: O intestino grosso inclui o ceco, cólon (ascendente, transverso, descendente e sigmoide) e reto. Sua principal função é a absorção de água e eletrólitos e a formação e eliminação das fezes. A flora intestinal residente também desempenha um papel importante na fermentação de substâncias não digeríveis e na síntese de algumas vitaminas. 6. Ânus: O ânus é a abertura final do TGI, controlada por esfíncteres internos e externos que permitem a eliminação das fezes. Além desses órgãos principais, o sistema gastrointestinal é auxiliado por órgãos acessórios, como o fígado, que produz bile, e o pâncreas, que secreta enzimas digestivas e hormônios que regulam o metabolismo dos nutrientes. A anatomia do trato gastrointestinal é complexa e altamente especializada para garantir a digestão e absorção eficientes dos alimentos e a eliminação adequada dos resíduos. Caso 05 Sessão Tutorial 10 2.2. Fisiologia do trato gastrointestinal A fisiologia do trato gastrointestinal (TGI) envolve processos complexos e coordenados para realizar as funções de digestão, absorção e eliminação. Esses processos incluem: 1. Motilidade: A motilidade do TGI é controlada por movimentos coordenados dos músculos lisos, como a peristalse, que promove o transporte do bolo alimentar ao longo do TGI. No estômago, ocorrem movimentos de mistura e trituração, enquanto no intestino delgado, ocorrem segmentações para facilitar a digestão e a absorção. 2. Secreção: O TGI secreta substâncias essenciais para a digestão e proteção da mucosa. A saliva, produzida pelas glândulas salivares, inicia a digestão e facilita a deglutição. O suco gástrico, composto por ácido clorídrico, enzimas e muco, é secretado pelas células gástricas e auxilia na digestão e proteção da mucosa. O pâncreas secreta enzimas digestivas e bicarbonato, enquanto o fígado produz bile, que emulsiona as gorduras. 3. Digestão: A digestão envolve a quebra química dos alimentos em moléculas menores que podem ser absorvidas pelo TGI. A digestão começa na boca com a ação da amilase salivar e continua no estômago e intestino delgado com a ação de enzimas proteolíticas, lipolíticas e carboidrase. 4. Absorção: A absorção de nutrientes ocorre principalmente no intestino delgado, que possui uma enorme superfície de absorção devido às vilosidades e microvilosidades. Os nutrientes são absorvidos por mecanismos passivos (difusão simples) e ativos (transporte ativo e co- transporte). 5. Eliminação:O intestino grosso absorve água e eletrólitos restantes e forma as fezes. A eliminação das fezes ocorre através do ânus, onde os esfíncteres internos e externos controlam a saída das fezes. 6. Regulação: A fisiologia do TGI é regulada por mecanismos neurais e hormonais. O sistema nervoso entérico, parte do sistema nervoso autônomo, regula a motilidade e secreção do TGI. Hormônios como a grelina, secretina, colecistocinina e peptídeo inibidor gástrico também desempenham papéis importantes na regulação da fisiologia gastrointestinal. A fisiologia do trato gastrointestinal é um sistema altamente coordenado e complexo que garante a digestão e absorção eficientes dos alimentos e a eliminação adequada dos resíduos. 2.3. Farmacologia aplicada às síndromes dispépticas As síndromes dispépticas são um grupo de distúrbios funcionais do trato gastrointestinal (TGI) que incluem a doença do refluxo gastroesofágico (DRGE), gastrite, úlceras pépticas e dispepsia funcional. O tratamento farmacológico das síndromes dispépticas visa aliviar os sintomas, tratar a causa subjacente e prevenir complicações. Algumas das principais classes de medicamentos utilizadas no tratamento das síndromes dispépticas incluem: 1. Antiácidos: Os antiácidos, como hidróxido de alumínio, hidróxido de magnésio e carbonato de cálcio, neutralizam o ácido gástrico e proporcionam alívio sintomático rápido. Eles são utilizados principalmente no tratamento da DRGE e úlceras pépticas. 2. Inibidores dos receptores H2 (H2RAs): Medicamentos como ranitidina, cimetidina e famotidina bloqueiam os receptores H2 nas células parietais gástricas, reduzindo a produção Caso 05 Sessão Tutorial 11 de ácido. Eles são usados no tratamento da DRGE, gastrite e úlceras pépticas. 3. Inibidores da bomba de prótons (IBPs): Os IBPs, como omeprazol, lansoprazol e pantoprazol, inibem irreversivelmente a enzima H+/K+-ATPase nas células parietais, reduzindo a produção de ácido gástrico. Os IBPs são eficazes no tratamento da DRGE, gastrite, úlceras pépticas e esofagite de refluxo. 4. Agentes procinéticos: Medicamentos como metoclopramida, domperidona e cisaprida aumentam a motilidade do TGI, melhorando o esvaziamento gástrico e reduzindo o refluxo gastroesofágico. Eles são utilizados principalmente no tratamento da DRGE e dispepsia funcional. 5. Antagonistas dos receptores da serotonina (5- HT3): Ondansetron e granisetron são antagonistas do receptor 5-HT3 que aliviam náuseas e vômitos associados a algumas síndromes dispépticas. 6. Tratamento da infecção por Helicobacter pylori: A erradicação do H. pylori é fundamental no tratamento de gastrite e úlceras pépticas causadas por esta bactéria. Um regime típico inclui um IBP, um antibiótico (como claritromicina ou amoxicilina) e um agente antimicrobiano (como metronidazol ou tinidazol). 7. Agentes protetores da mucosa: Medicamentos como sucralfato e misoprostol protegem a mucosa gástrica, promovendo a cicatrização de úlceras pépticas e prevenindo complicações. O tratamento farmacológico das síndromes dispépticas envolve o uso de medicamentos que aliviam os sintomas e tratam a causa subjacente. A escolha do medicamento e a duração do tratamento dependem do diagnóstico específico e da gravidade dos sintomas. Em alguns casos, pode ser necessário combinar diferentes classes de medicamentos para alcançar o melhor resultado terapêutico. É importante lembrar que o tratamento farmacológico deve ser complementado por mudanças no estilo de vida e medidas não farmacológicas, como evitar alimentos e bebidas que desencadeiam sintomas, comer refeições menores e mais frequentes, evitar deitar-se logo após as refeições, elevar a cabeceira da cama e controlar o estresse. Além disso, é fundamental monitorar os pacientes para detectar possíveis efeitos colaterais e interações medicamentosas, e ajustar o tratamento conforme necessário. Por exemplo, os IBPs podem aumentar o risco de fraturas ósseas e infecções intestinais, enquanto os agentes procinéticos podem causar efeitos colaterais neurológicos, como discinesia tardia. Em resumo, o tratamento farmacológico das síndromes dispépticas envolve o uso de várias classes de medicamentos que atuam na redução da produção de ácido gástrico, no aumento da motilidade gastrointestinal e na proteção da mucosa. A escolha do tratamento deve ser individualizada e baseada no diagnóstico específico, na gravidade dos sintomas e na presença de fatores de risco ou comorbidades. Além disso, o tratamento deve ser complementado por medidas não farmacológicas e ajustes no estilo de vida para garantir o melhor resultado terapêutico possível. 2.4. Patologia das síndromes dispépticas e doenças funcionais As síndromes dispépticas e doenças funcionais do trato gastrointestinal (TGI) abrangem uma série de condições que causam desconforto ou dor na região do abdômen superior, sem uma causa orgânica identificável. Algumas das condições mais comuns incluem: 1. Dispepsia funcional: Caracteriza-se por dor ou desconforto crônico na região do estômago, sem uma causa aparente, como ulcerações ou inflamação. A patologia exata da dispepsia funcional não é totalmente compreendida, mas pode envolver anormalidades na motilidade gástrica, sensibilidade visceral aumentada, infecção por Helicobacter pylori e fatores psicológicos, como estresse e ansiedade. 2. Síndrome do intestino irritável (SII): É uma condição crônica que afeta o cólon e se manifesta como dor abdominal, inchaço e alterações no hábito intestinal (diarreia, constipação ou ambos). A patologia da SII é complexa e pode envolver anormalidades na motilidade e na sensibilidade do cólon, inflamação de baixo grau, alterações na microbiota intestinal e fatores psicológicos. 3. Gastroparesia: Refere-se ao esvaziamento gástrico atrasado na ausência de obstrução mecânica. A gastroparesia pode ser idiopática ou estar associada a condições como diabetes, doenças neurológicas e distúrbios do tecido Caso 05 Sessão Tutorial 12 conjuntivo. A patologia subjacente inclui danos aos nervos e músculos do estômago e anormalidades na motilidade gástrica. 4. Constipação funcional: É caracterizada por dificuldade persistente para evacuar, com fezes duras ou escassas, sem uma causa orgânica aparente. A patologia da constipação funcional pode envolver anormalidades na motilidade do cólon, disfunção do assoalho pélvico e fatores psicológicos. 5. Diarreia funcional: É uma condição crônica caracterizada por diarreia recorrente sem causa aparente. A patologia pode envolver anormalidades na motilidade do cólon, secreção de fluidos aumentada e fatores psicológicos. Embora essas condições não tenham uma causa orgânica claramente identificável, elas podem estar associadas a fatores genéticos, ambientais, dietéticos e psicológicos. As abordagens de diagnóstico e tratamento geralmente envolvem a exclusão de outras causas possíveis e o manejo dos sintomas por meio de mudanças no estilo de vida, tratamento farmacológico e, em alguns casos, terapia psicológica. 2.5. Diagnóstico das síndromes dispépticas e doenças funcionais O diagnóstico das síndromes dispépticas e doenças funcionais do trato gastrointestinal envolve uma combinação de avaliação clínica, histórico médico, exame físico e, em alguns casos, exames complementares. A abordagem diagnóstica pode incluir: 1. Avaliação clínica: Inicialmente, o médico irá coletar informações sobre os sintomas do paciente, incluindo a duração, frequência, gravidade, localização e quaisquer fatores desencadeantes ou aliviadores. Além disso, é importante obter informações sobre o histórico médico pessoal e familiar, uso de medicamentos, hábitos alimentares e fatores de estilo de vida, como estresse e atividade física. 2. Exame físico: Um exame físico completo, incluindo a palpação do abdômen e a avaliação do assoalho pélvico,pode ajudar a identificar áreas de sensibilidade, inchaço ou anormalidades. 3. Testes laboratoriais: Exames de sangue podem ser solicitados para avaliar a presença de anemia, inflamação ou infecção. Testes adicionais, como a pesquisa de anticorpos para doença celíaca ou a detecção de Helicobacter pylori, podem ser indicados em casos específicos. 4. Testes de imagem: Exames de imagem, como ultrassonografia abdominal, tomografia computadorizada ou ressonância magnética, podem ser úteis para excluir causas orgânicas de sintomas abdominais. 5. Endoscopia digestiva alta: A endoscopia pode ser realizada para investigar anormalidades no esôfago, estômago e duodeno, como inflamação, úlceras ou tumores. Biópsias podem ser coletadas durante a endoscopia para análise histológica e detecção de H. pylori. 6. Testes de motilidade: Estudos de motilidade, como a manometria esofágica, manometria anorretal e estudo de trânsito colônico, podem ser utilizados para avaliar a função motora do trato gastrointestinal em pacientes com suspeita de disfunção motora. 7. Testes de sensibilidade visceral: Em alguns casos, testes como a distensão do balão retal podem ser usados para avaliar a sensibilidade visceral e a função neuromuscular do trato gastrointestinal. O diagnóstico das síndromes dispépticas e doenças funcionais geralmente é feito por exclusão, descartando outras possíveis causas dos sintomas. Em muitos casos, o diagnóstico é baseado nos critérios de Roma IV, que fornecem diretrizes específicas para o diagnóstico de várias condições funcionais do trato gastrointestinal. 2.6. Tratamento das síndromes dispépticas e doenças funcionais O tratamento das síndromes dispépticas e doenças funcionais do trato gastrointestinal é geralmente multidisciplinar, envolvendo uma combinação de abordagens farmacológicas, comportamentais e, em alguns casos, cirúrgicas. As estratégias de tratamento podem incluir: 1. Abordagem farmacológica: Dependendo da causa e da gravidade dos sintomas, podem ser prescritos medicamentos como antiácidos, antagonistas do receptor H2 ou inibidores da bomba de prótons (IBPs) para reduzir a produção de ácido gástrico. Outros medicamentos, como procinéticos, antiespasmódicos e antidepressivos tricíclicos, também podem ser utilizados para aliviar os Caso 05 Sessão Tutorial 13 sintomas em algumas condições funcionais do trato gastrointestinal. 2. Modificações dietéticas: A orientação nutricional é uma parte essencial do tratamento das síndromes dispépticas e doenças funcionais. Os pacientes podem ser aconselhados a evitar alimentos que desencadeiam sintomas, como alimentos gordurosos, picantes, ácidos ou gasosos, bem como reduzir o consumo de cafeína e álcool. A alimentação deve ser fracionada, com refeições menores e mais frequentes. Em casos específicos, dietas com baixo teor de FODMAPs (carboidratos fermentáveis) podem ser úteis. 3. Gerenciamento do estresse e intervenções comportamentais: O estresse e a ansiedade podem agravar os sintomas das doenças funcionais do trato gastrointestinal. Técnicas de gerenciamento do estresse, como meditação, relaxamento progressivo e terapia cognitivo- comportamental (TCC), podem ajudar a melhorar a qualidade de vida e reduzir os sintomas. 4. Atividade física: A prática regular de atividade física pode ajudar a regular a função gastrointestinal e a reduzir o estresse. Os pacientes devem ser incentivados a se envolver em atividades físicas moderadas, como caminhar, nadar ou andar de bicicleta. 5. Probióticos: O uso de probióticos, que são microrganismos vivos benéficos, pode ser considerado em alguns pacientes com síndromes dispépticas ou doenças funcionais, embora a eficácia e a indicação específica dependam da condição e do paciente. 6. Tratamento cirúrgico: Em casos selecionados, pode ser necessário recorrer a intervenções cirúrgicas, como a correção de hérnia hiatal ou a fundoplicatura para tratar a doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) refratária. No entanto, a cirurgia geralmente é considerada um último recurso quando outras abordagens de tratamento não tiverem sucesso. É importante que os pacientes com síndromes dispépticas e doenças funcionais do trato gastrointestinal sejam acompanhados regularmente por profissionais de saúde para avaliar a eficácia das estratégias de tratamento e ajustá-las conforme necessário. Capítulo 3: Doenças do esôfago 3.1. Acalasia A acalasia é uma doença do esôfago rara e idiopática, caracterizada por uma disfunção do músculo liso do esôfago e do esfíncter esofágico inferior (EEI), resultando em dificuldades no trânsito dos alimentos e líquidos do esôfago para o estômago. A patogênese da acalasia ainda não é completamente compreendida, mas acredita-se que esteja relacionada à degeneração progressiva dos neurônios do plexo mientérico do esôfago, levando a uma perda de inervação das células musculares. Sintomas comuns da acalasia incluem disfagia (dificuldade para engolir), regurgitação de alimentos, dor torácica e perda de peso. A progressão da doença pode levar à dilatação do esôfago e ao aumento do risco de aspiração e infecções pulmonares. O diagnóstico da acalasia é baseado em uma combinação de achados clínicos e exames complementares, como: 1. Manometria esofágica: É o exame padrão-ouro para o diagnóstico de acalasia. A manometria permite a avaliação da pressão e do funcionamento do EEI e do corpo do esôfago. Na acalasia, os achados típicos incluem pressão de repouso do EEI elevada e ausência de peristaltismo esofágico normal. 2. Radiografia contrastada do esôfago: O estudo com bário permite a visualização do esôfago e do EEI em tempo real. Na acalasia, o exame geralmente mostra um esôfago dilatado e um estreitamento na junção gastroesofágica, criando a aparência clássica de "bico de pássaro". 3. Endoscopia digestiva alta: A endoscopia permite a inspeção direta do esôfago e do EEI, excluindo outras possíveis causas de obstrução, como tumores ou estenoses. O tratamento da acalasia tem como objetivo principal melhorar os sintomas e prevenir complicações. As opções de tratamento incluem: 1. Tratamento farmacológico: Medicamentos, como os bloqueadores dos canais de cálcio e os nitratos, podem ser utilizados para relaxar o EEI temporariamente. No entanto, esses medicamentos geralmente têm eficácia limitada e podem causar efeitos colaterais. 2. Dilatação pneumática: A dilatação do EEI por meio da insuflação de um balão durante a Caso 05 Sessão Tutorial 14 endoscopia é um tratamento eficaz e minimamente invasivo para a acalasia. Embora possa ser necessário repetir o procedimento, a dilatação pneumática tem uma taxa de sucesso de aproximadamente 60% a 80%. 3. Injeção de toxina botulínica: A injeção de toxina botulínica no EEI pode proporcionar alívio temporário dos sintomas em pacientes que não são candidatos à dilatação pneumática ou cirurgia. No entanto, a eficácia da toxina botul ínica tende a diminuir com o tempo, e o tratamento pode precisar ser repetido. 4. Cirurgia: A miotomia de Heller é o procedimento cirúrgico padrão para tratar a acalasia. A cirurgia envolve a divisão das fibras musculares do EEI e uma pequena porção do corpo do esôfago, facilitando a passagem dos alimentos para o estômago. A miotomia pode ser realizada por via laparoscópica ou robótica, resultando em menor tempo de recuperação e complicações pós-operatórias reduzidas. Geralmente, a cirurgia é acompanhada de uma fundoplicatura parcial para reduzir o risco de refluxo gastroesofágico após o procedimento. 5. Tratamento de suporte: A modificação da dieta, incluindo a ingestão de alimentos mais macios e a elevação da cabeceira da cama durante o sono, pode ajudar a aliviar os sintomas e reduzir o risco de aspiração em pacientes com acalasia. 6. O manejo da acalasia deve ser individualizado, levando em consideraçãoa gravidade dos sintomas, a idade do paciente, as comorbidades e a preferência do paciente. O acompanhamento regular com um gastroenterologista é essencial para monitorar a evolução da doença e ajustar o tratamento conforme necessário. 3.2. Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) A doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) é uma condição crônica caracterizada pelo refluxo anormal de conteúdo gástrico para o esôfago, levando à inflamação e irritação da mucosa esofágica. A prevalência de DRGE tem aumentado nos últimos anos, afetando cerca de 20% da população adulta nos países ocidentais. 1. Fisiopatologia: A DRGE ocorre devido ao mau funcionamento do esfíncter esofágico inferior (EEI) e à hiperprodução de ácido gástrico. O EEI normalmente atua como uma barreira entre o estômago e o esôfago, impedindo que o conteúdo gástrico volte ao esôfago. Fatores que contribuem para o desenvolvimento de DRGE incluem obesidade, tabagismo, dieta rica em alimentos gordurosos e ácidos, ingestão excessiva de álcool e algumas medicações. 2. Sintomas: Os sintomas típicos da DRGE incluem azia, regurgitação, dor no peito, dificuldade para engolir e tosse crônica. Algumas pessoas podem apresentar sintomas atípicos, como rouquidão, asma, dor de ouvido e dor de dente. 3. Diagnóstico: O diagnóstico da DRGE geralmente é feito com base nos sintomas clínicos e na resposta ao tratamento medicamentoso. Exames adicionais podem ser necessários em casos de sintomas atípicos, complicação da DRGE ou falta de resposta ao tratamento. Esses exames incluem endoscopia digestiva alta, pHmetria esofágica, manometria esofágica e estudo de refluxo bário. 4. Tratamento: O tratamento da DRGE envolve medidas de estilo de vida, terapia medicamentosa e, em casos selecionados, cirurgia. • Medidas de estilo de vida: incluem perda de peso, cessação do tabagismo, evitar alimentos desencadeantes, reduzir o consumo de álcool, elevar a cabeceira da cama e não se deitar logo após as refeições. • Terapia medicamentosa: O tratamento farmacológico da DRGE inclui o uso de antiácidos, bloqueadores dos receptores H2 e inibidores da bomba de prótons (IBPs). Os IBPs são a classe mais eficaz de medicamentos para o tratamento da DRGE e são geralmente considerados a primeira linha de tratamento. • Cirurgia: A cirurgia antirrefluxo (fundoplicatura de Nissen) pode ser indicada em casos de DRGE refratária ao tratamento medicamentoso, complicações da DRGE ou pacientes que não desejam tomar medicamentos a longo prazo. 5. Complicações: A DRGE não tratada pode levar a complicações, como esofagite, estenose esofágica, úlceras esofágicas e Esôfago de Barrett, uma condição pré-maligna que aumenta o risco de câncer de esôfago. Caso 05 Sessão Tutorial 15 3.3. Esôfago de Barrett O Esôfago de Barrett é uma condição na qual a mucosa esofágica normal (epitélio escamoso) é substituída por um tecido metaplásico (epitélio colunar) em resposta à inflamação crônica causada pelo refluxo gastroesofágico. Esta condição é considerada pré-maligna, pois aumenta o risco de desenvolvimento de adenocarcinoma esofágico. 1. Fisiopatologia: O principal fator de risco para o desenvolvimento do Esôfago de Barrett é a exposição crônica da mucosa esofágica ao ácido gástrico devido à doença do refluxo gastroesofágico (DRGE). A inflamação crônica estimula a metaplasia das células do epitélio escamoso para células colunares. A progressão do Esôfago de Barrett para o adenocarcinoma esofágico ocorre através de um processo chamado displasia, que pode variar de displasia de baixo grau a displasia de alto grau. 2. Sintomas: Os sintomas do Esôfago de Barrett são semelhantes aos da DRGE, incluindo azia, regurgitação e dor no peito. No entanto, muitos pacientes com Esôfago de Barrett podem ser assintomáticos ou apresentar sintomas leves. 3. Diagnóstico: O diagnóstico definitivo do Esôfago de Barrett é feito por meio de endoscopia digestiva alta com biópsia. A endoscopia pode revelar áreas anormais de tecido no esôfago, que são confirmadas como Esôfago de Barrett após análise histológica das amostras de biópsia. A presença e o grau de displasia também são avaliados pela análise das amostras de biópsia. 4. Tratamento: O tratamento do Esôfago de Barrett visa controlar os sintomas da DRGE e monitorar a progressão da doença para prevenir o desenvolvimento de adenocarcinoma esofágico. • Controle dos sintomas da DRGE: Isso pode ser alcançado através de medidas de estilo de vida e medicamentos, como os inibidores da bomba de prótons (IBPs) para reduzir a produção de ácido gástrico. • Vigilância endoscópica: Pacientes com Esôfago de Barrett devem ser submetidos a endoscopias regulares para monitorar a presença e o grau de displasia. A frequência das endoscopias depende do grau de displasia e dos fatores de risco individuais. • Ablação por radiofrequência (ARF) e mucosectomia endoscópica: Estas são opções de tratamento para pacientes com Esôfago de Barrett com displasia de alto grau, visando eliminar o tecido displásico e prevenir a progressão para adenocarcinoma. 5. Prevenção: A prevenção do Esôfago de Barrett envolve a identificação e o tratamento adequado da DRGE e a adoção de medidas de estilo de vida, como a perda de peso, a cessação do tabagismo e a redução do consumo de álcool. Além disso, pacientes com DRGE devem evitar alimentos e bebidas que possam agravar os sintomas, como alimentos gordurosos, cafeína, chocolate e alimentos picantes. Também é aconselhável elevar a cabeceira da cama para ajudar a reduzir o refluxo noturno e evitar deitar- se logo após as refeições. 6. Prognóstico: O prognóstico do Esôfago de Barrett é geralmente bom, desde que a condição seja identificada e tratada precocemente. A maioria dos pacientes com Esôfago de Barrett não desenvolverá adenocarcinoma esofágico. No entanto, a vigilância endoscópica regular é crucial para identificar e tratar precocemente qualquer displasia de alto grau, a fim de reduzir o risco de progressão para câncer. 7. Complicações: A principal complicação do Esôfago de Barrett é a progressão para adenocarcinoma esofágico, que é um tipo agressivo de câncer com um prognóstico ruim. Além disso, pacientes com Esôfago de Barrett também podem apresentar complicações relacionadas à DRGE, como estenose esofágica e esofagite. Em resumo, o Esôfago de Barrett é uma condição pré-maligna associada à inflamação crônica causada pelo refluxo gastroesofágico. O tratamento e a vigilância regulares são essenciais para prevenir a progressão para adenocarcinoma esofágico. Medidas de estilo de vida e controle adequado da Caso 05 Sessão Tutorial 16 DRGE são fundamentais na prevenção e manejo dessa condição. 3.4. Esofagite eosinofílica A esofagite eosinofílica é uma doença inflamatória crônica do esôfago, caracterizada pela presença de um grande número de eosinófilos (um tipo de glóbulo branco) no tecido esofágico. Esta condição é geralmente considerada uma resposta imunológica a alérgenos alimentares ou ambientais, e é mais comum em pacientes com história de alergias, asma ou dermatite atópica. 1. Etiologia: A causa exata da esofagite eosinofílica ainda é desconhecida, mas acredita-se que envolva uma combinação de fatores genéticos e ambientais. A exposição a alérgenos alimentares ou ambientais desencadeia uma resposta imune mediada por células Th2, levando à inflamação do esôfago e ao recrutamento de eosinófilos. 2. Sintomas: Os sintomas da esofagite eosinofílica variam de acordo com a idade do paciente. Em crianças, pode se apresentar como recusa alimentar, vômitos, dor abdominal e dificuldade em ganhar peso. Em adultos, os sintomas mais comuns são dificuldade para engolir (disfagia), dor ao engolir (odinofagia), azia e dor no peito. 3. Diagnóstico: O diagnóstico da esofagite eosinofílica é estabelecido com base na história clínicado paciente, sintomas, achados endoscópicos e histológicos. A endoscopia digestiva alta é usada para visualizar o esôfago e obter biópsias para análise histológica. Os achados histológicos típicos incluem a presença de eosinófilos no tecido esofágico (>15 eosinófilos por campo de grande aumento). 4. Tratamento: O tratamento da esofagite eosinofílica tem como objetivo reduzir a inflamação e os sintomas associados. As principais abordagens terapêuticas incluem: a) Medidas dietéticas: A eliminação de alimentos alergênicos da dieta é uma das principais estratégias de tratamento. Isso pode envolver uma dieta de eliminação empírica (remoção de alimentos comuns, como leite, ovo, soja, trigo, nozes e peixe/frutos do mar) ou uma dieta baseada em testes de alergia alimentar. b) Terapia medicamentosa: Corticosteroides tópicos (como budesonida ou fluticasona) podem ser usados para reduzir a inflamação do esôfago. Inibidores da bomba de prótons (IBPs) também podem ser usados, especialmente em pacientes com sintomas de refluxo. c) Dilatação esofágica: Em casos de estenose esofágica devido à esofagite eosinofílica, a dilatação esofágica pode ser realizada para aliviar a disfagia. 5. Prognóstico: A esofagite eosinofílica é uma condição crônica que requer acompanhamento a longo prazo e tratamento. O prognóstico varia dependendo da resposta do paciente às intervenções terapêuticas e da gravidade da doença. Em geral, com o tratamento adequado, a maioria dos pacientes experimenta melhora significativa dos sintomas e redução da inflamação esofágica. No entanto, é possível que os sintomas retornem se o tratamento for interrompido ou se o paciente for exposto novamente aos alérgenos desencadeantes. 6. Prevenção: Embora a esofagite eosinofílica não possa ser completamente prevenida, é possível reduzir o risco de desenvolver a doença ou prevenir a recorrência dos sintomas. Algumas medidas preventivas incluem: Caso 05 Sessão Tutorial 17 a) Identificação e eliminação de alérgenos: Evitar alérgenos alimentares e ambientais conhecidos pode ajudar a prevenir a recorrência dos sintomas em pacientes com esofagite eosinofílica. b) Manutenção do tratamento: Pacientes que respondem bem ao tratamento com corticosteroides tópicos ou dietas de eliminação devem continuar com o tratamento conforme orientação médica. Isso ajuda a prevenir a recidiva dos sintomas e o agravamento da inflamação esofágica. c) Monitoramento regular: Consultas regulares com um gastroenterologista são importantes para acompanhar a evolução da doença e ajustar o tratamento conforme necessário. Em resumo, a esofagite eosinofílica é uma doença inflamatória crônica do esôfago que pode causar sintomas como disfagia, dor ao engolir e azia. O diagnóstico é baseado em achados clínicos, endoscópicos e histológicos, e o tratamento geralmente envolve medidas dietéticas, terapia medicamentosa e, ocasionalmente, dilatação esofágica. A prevenção da recorrência dos sintomas é fundamental e inclui a identificação e eliminação de alérgenos, manutenção do tratamento e monitoramento regular com um gastroenterologista. 3.5. Câncer de esôfago Introdução: O câncer de esôfago é uma neoplasia maligna que se origina nas células do esôfago. Existem dois tipos principais de câncer de esôfago: o carcinoma de células escamosas (CCE) e o adenocarcinoma. O CCE é mais comum em países em desenvolvimento, enquanto o adenocarcinoma é mais frequente em países desenvolvidos. O câncer de esôfago é a sexta causa mais comum de morte por câncer em todo o mundo. 1. Fatores de risco: Os principais fatores de risco para o câncer de esôfago incluem: a) Tabagismo e consumo de álcool: Ambos aumentam o risco de CCE. b) Refluxo gastroesofágico crônico: O refluxo crônico pode causar a metaplasia de Barrett, um precursor do adenocarcinoma. c) Obesidade: A obesidade está associada a um maior risco de adenocarcinoma. d) Dieta: Dietas pobres em frutas e vegetais e ricas em alimentos processados e carne vermelha podem aumentar o risco. e) História familiar de câncer de esôfago: Pessoas com parentes próximos afetados têm maior risco. 2. Sintomas: Os sintomas do câncer de esôfago podem incluir: a. Disfagia (dificuldade para engolir) b. Dor ao engolir c. Perda de peso involuntária d. Dor torácica ou nas costas e. Rouquidão f. Azia ou refluxo 3. Diagnóstico: O diagnóstico do câncer de esôfago envolve várias etapas, incluindo: a. Avaliação clínica: Os médicos coletam informações sobre os sintomas, histórico médico e fatores de risco. b. Endoscopia e biópsia: Um endoscópio é usado para examinar o esôfago e, se necessário, realizar biópsias de áreas suspeitas. c. Estadiamento: Após o diagnóstico, são realizados exames de imagem (como tomografia computadorizada e PET-CT) para determinar o estágio do câncer e se houve metástase. 4. Tratamento: O tratamento do câncer de esôfago depende do tipo, estágio e saúde geral do paciente. As opções de tratamento incluem: a. Cirurgia: A remoção do tumor e tecido circundante pode ser realizada em estágios iniciais. b. Radioterapia e quimioterapia: Podem ser utilizadas isoladamente ou em combinação com a cirurgia, dependendo do estágio e do tipo de câncer. c. Terapia alvo-dirigida: Algumas drogas atuam especificamente em alterações genéticas presentes nas células cancerosas. d. Imunoterapia: Essa abordagem estimula o sistema imunológico do próprio paciente para combater o câncer. e. Tratamento paliativo: Em casos avançados, o tratamento visa aliviar os sintomas e melhorar a qualidade de vida. e. Prevenção: Embora não seja possível prevenir todos os casos de câncer de esôfago, medidas de estilo de vida podem ajudar a reduzir o risco: f. a. Evitar tabaco e consumo excessivo de álcool. b. Manter um peso saudável. c. Adotar uma dieta rica em frutas, legumes e grãos Caso 05 Sessão Tutorial 18 integrais. d. Tratar adequadamente o refluxo gastroesofágico e outras condições que aumentam o risco. g. Prognóstico: O prognóstico do câncer de esôfago depende do tipo, estágio, idade e saúde geral do paciente. O câncer de esôfago costuma ser diagnosticado em estágios avançados, o que pode resultar em um prognóstico menos favorável. No entanto, se detectado precocemente, as taxas de sobrevivência podem ser significativamente melhores. 3.6. Distúrbios da deglutição e motilidade Os distúrbios da deglutição e motilidade são condições que afetam a capacidade do esôfago de transportar alimentos e líquidos da boca ao estômago. Esses distúrbios podem ser classificados em dois grupos principais: distúrbios da fase orofaríngea e distúrbios da fase esofágica da deglutição. 1. Distúrbios da fase orofaríngea: Estes distúrbios afetam a boca, faringe e laringe e podem ser causados por problemas neurológicos, anatômicos ou funcionais. Exemplos incluem disfunção do nervo craniano, acidente vascular cerebral, doença de Parkinson e esclerose múltipla. 2. Distúrbios da fase esofágica: Estes distúrbios afetam o esôfago e podem ser causados por problemas na motilidade esofágica ou na função do esfíncter esofágico inferior. Exemplos incluem acalasia, espasmo esofágico difuso, esôfago em quebra-nozes e hipertonia do esfíncter esofágico inferior. Aspectos relevantes dos distúrbios da deglutição e motilidade incluem: a. Avaliação: A avaliação desses distúrbios começa com uma história clínica detalhada e um exame físico. Testes adicionais podem incluir estudos radiográficos com bário, manometria esofágica, endoscopia digestiva alta e eletromiografia. b. Tratamento: O tratamento desses distúrbios varia de acordo com a causa e a gravidade dos sintomas. Algumas opções de tratamento incluem: • Terapia comportamental e reabilitação: Treinamento e exercícios específicos podem ajudar a melhorar a coordenação e a força dos músculos envolvidos na deglutição.• Medicamentos: Dependendo do tipo de distúrbio, medicamentos como antiespasmódicos, relaxantes musculares, inibidores da bomba de prótons e nitratos podem ser usados. • Procedimentos endoscópicos: Em alguns casos, a dilatação esofágica pode ser realizada para aliviar a obstrução ou estenose do esôfago. • Cirurgia: Em casos selecionados, a cirurgia pode ser necessária para tratar distúrbios da motilidade esofágica, como a acalasia ou a hipertonia do esfíncter esofágico inferior. c. Complicações: Distúrbios da deglutição e motilidade não tratados podem levar a complicações como aspiração, pneumonia por aspiração, desnutrição e desidratação. 3.7. Doença de Crohn e o esôfago A doença de Crohn é uma doença inflamatória crônica do trato gastrointestinal que pode afetar qualquer parte do trato, desde a boca até o ânus. Embora a doença de Crohn seja mais comum no íleo terminal e no cólon, ela também pode envolver o esôfago em cerca de 1-5% dos casos. A doença de Crohn esofágica é rara, mas quando ocorre, pode levar a complicações significativas e afetar a qualidade de vida do paciente. Aspectos relevantes da doença de Crohn esofágica incluem: 1. Sintomas: Os pacientes com doença de Crohn esofágica podem apresentar sintomas como disfagia (dificuldade para engolir), odinofagia (dor ao engolir), azia, dor torácica e perda de peso. 2. Diagnóstico: O diagnóstico da doença de Crohn esofágica é baseado em achados clínicos, endoscópicos, histológicos e radiológicos. A endoscopia digestiva alta é o exame de escolha para visualizar diretamente o esôfago e obter biópsias para análise histológica. Os achados endoscópicos podem incluir úlceras esofágicas, estenose, fístulas e/ou formação de pseudopolipos. Achados histológicos típicos incluem granulomas não caseosos e inflamação transmural. 3. Tratamento: O tratamento da doença de Crohn esofágica é semelhante ao tratamento de outras áreas afetadas pela doença de Crohn. As opções de tratamento incluem: a. Medicamentos: Corticosteroides orais ou tópicos podem ser usados para controlar a inflamação. Caso 05 Sessão Tutorial 19 Imunossupressores, como azatioprina e 6- mercaptopurina, podem ser usados para manter a remissão. Terapias biológicas, como os inibidores do fator de necrose tumoral alfa (TNF-alfa) – como infliximabe e adalimumabe – também podem ser usadas em casos moderados a graves. b. Nutrição enteral: Em alguns casos, a nutrição enteral pode ser usada temporariamente para melhorar o estado nutricional do paciente e permitir que o esôfago descanse e cicatrize. c. Dilatação endoscópica: Se ocorrer estenose esofágica, a dilatação endoscópica pode ser realizada para aliviar a obstrução e melhorar a deglutição. d. Cirurgia: A cirurgia pode ser necessária em casos de doença de Crohn esofágica refratária, fístulas esofágicas ou estenose esofágica recorrente. 4. Prognóstico: O prognóstico da doença de Crohn esofágica varia, mas geralmente é considerado pior do que a doença de Crohn limitada ao intestino delgado e ao cólon, devido ao risco de complicações como fístulas, estenoses e úlceras profundas. A adesão ao tratamento e o acompanhamento regular com um gastroenterologista são cruciais para monitorar a progressão da doença e ajustar o tratamento conforme necessário. 5. Prevenção: Embora não haja uma maneira conhecida de prevenir a doença de Crohn esofágica, o manejo adequado da doença de Crohn em geral pode ajudar a reduzir o risco de envolvimento esofágico e complicações. Isso inclui seguir as recomendações médicas, aderir ao tratamento prescrito e manter um estilo de vida saudável. 6. Em resumo, a doença de Crohn esofágica é uma manifestação rara da doença de Crohn que pode levar a complicações significativas e afetar a qualidade de vida. O diagnóstico é baseado em achados clínicos, endoscópicos, histológicos e radiológicos, e o tratamento geralmente envolve medicamentos, nutrição enteral, dilatação endoscópica e, em alguns casos, cirurgia. O acompanhamento regular com um gastroenterologista e a adesão ao tratamento são essenciais para controlar a doença e prevenir complicações. Capítulo 4: Manifestações hematológicas de doenças gastrointestinais 4.1. Anemia megaloblástica A anemia megaloblástica é uma condição caracterizada pela presença de eritrócitos anormalmente grandes, chamados megaloblastos, na medula óssea e no sangue periférico. Essa forma de anemia geralmente ocorre devido a uma deficiência de vitamina B12 (cobalamina) ou ácido fólico (folato), ambos nutrientes essenciais para a síntese normal de DNA e a divisão celular. 1. Causas: A deficiência de vitamina B12 pode ser causada por várias razões, incluindo má absorção (como na anemia perniciosa, uma doença autoimune que afeta a absorção de vitamina B12 no trato gastrointestinal), dieta pobre em vitamina B12 (comum em vegetarianos e veganos), cirurgia gástrica e algumas doenças gastrointestinais. A deficiência de ácido fólico pode ser atribuída a uma dieta inadequada, má absorção, aumento da demanda (como na gravidez) ou uso de medicamentos que interferem na absorção ou metabolismo do folato (por exemplo, metotrexato). 2. Sintomas: Os sintomas da anemia megaloblástica incluem fadiga, fraqueza, dispneia, palidez, glossite (língua inchada e avermelhada), perda de apetite e perda de peso. Em casos de deficiência de vitamina B12, também podem ocorrer sintomas neurológicos, como formigamento e dormência nas mãos e pés, problemas de equilíbrio e memória e, em casos graves, demência. 3. Diagnóstico: O diagnóstico de anemia megaloblástica é baseado em exames laboratoriais, incluindo hemograma completo, que mostra anemia macrocítica com índices elevados de volume corpuscular médio (VCM) e hemoglobina corpuscular média (HCM), e presença de megaloblastos na medula óssea. A dosagem de vitamina B12 e ácido fólico no sangue também é realizada para determinar a causa subjacente da anemia megaloblástica. 4. Tratamento: O tratamento da anemia megaloblástica visa corrigir a deficiência de vitamina B12 ou ácido fólico. Na deficiência de vitamina B12, o tratamento pode incluir injeções intramusculares de vitamina B12, suplementos orais ou adesivos transdérmicos, dependendo da causa e gravidade da deficiência. Na deficiência Caso 05 Sessão Tutorial 20 de ácido fólico, suplementos orais de ácido fólico são prescritos. É importante identificar e tratar a causa subjacente da deficiência para prevenir a recorrência da anemia megaloblástica. Em resumo, a anemia megaloblástica é uma condição hematológica associada à deficiência de vitamina B12 ou ácido fólico e pode ter várias causas relacionadas ao trato gastrointestinal. O diagnóstico é baseado em exames laboratoriais e a abordagem terapêutica envolve a correção das deficiências de vitamina B12 ou ácido fólico, bem como o tratamento da causa subjacente. Além do tratamento específico para a anemia megaloblástica, é importante realizar um acompanhamento cuidadoso e monitorar os pacientes quanto a possíveis complicações, como anemia hemolítica e trombose venosa, que podem ocorrer em casos graves ou prolongados da doença. A prevenção da anemia megaloblástica envolve a adoção de uma dieta equilibrada, rica em vitamina B12 e ácido fólico, e a identificação e tratamento precoce de condições médicas e fatores de risco que possam contribuir para a deficiência desses nutrientes. Em alguns casos, como na gravidez ou em pacientes com histórico de deficiências de vitamina B12 ou ácido fólico, a suplementação profilática pode ser recomendada. É crucial que os profissionais de saúde estejam cientes das manifestações hematológicas das doenças gastrointestinais, como a anemia megaloblástica, para que possam identificar rapidamente essas condições e oferecer um tratamento eficaz aos pacientes. Caso 05 Sessão Tutorial21 4.2. Anemia ferropriva secundária a sangramento A anemia ferropriva é a forma mais comum de anemia e ocorre quando o corpo não tem ferro suficiente para produzir hemoglobina, a proteína presente nos glóbulos vermelhos responsável pelo transporte de oxigênio. Uma das principais causas de anemia ferropriva é o sangramento, especialmente no trato gastrointestinal. Causas de sangramento gastrointestinal que podem levar à anemia ferropriva incluem úlceras pépticas, gastrite, esofagite, câncer gástrico ou colorretal, diverticulose, doença inflamatória intestinal e angiodisplasia. A anemia ferropriva secundária a sangramento gastrointestinal geralmente se desenvolve lentamente e pode ser assintomática no início. À medida que a anemia progride, os sintomas podem incluir fadiga, fraqueza, palidez, dispneia, palpitações e tontura. Os sinais clínicos podem incluir taquicardia, sopro cardíaco e atrofia das papilas linguais. O diagnóstico da anemia ferropriva secundária a sangramento gastrointestinal é baseado na avaliação clínica, exames laboratoriais e estudos de imagem. Os exames laboratoriais podem mostrar baixos níveis de hemoglobina, hematócrito, ferritina sérica e saturação de transferrina, além de glóbulos vermelhos hipocrômicos e microcíticos. Estudos de imagem, como endoscopia digestiva alta e colonoscopia, podem ajudar a identificar a fonte do sangramento e orientar o tratamento. O tratamento da anemia ferropriva secundária a sangramento gastrointestinal envolve o tratamento da causa subjacente do sangramento, a reposição de ferro por via oral ou intravenosa e, se necessário, a transfusão de sangue. Em casos de úlceras pépticas, por exemplo, a terapia com inibidores da bomba de prótons e a erradicação do Helicobacter pylori, se presente, são cruciais para prevenir a recorrência do sangramento. A prevenção da anemia ferropriva secundária a sangramento gastrointestinal envolve a identificação e o tratamento precoce das doenças e condições que podem causar sangramento, além de garantir uma dieta adequada em ferro e, em alguns casos, a suplementação de ferro. Capítulo 5: Infecção por H. pylori e sua associação com a DRGE 5.1. Epidemiologia e patogênese da infecção por H. pylori A infecção por Helicobacter pylori (H. pylori) é uma das infecções bacterianas mais comuns no mundo, afetando aproximadamente metade da população global. A prevalência varia entre os países e é influenciada por fatores como idade, condições socioeconômicas e higiene. Epidemiologia: A infecção por H. pylori é mais comum em países em desenvolvimento e em áreas com baixas condições socioeconômicas e sanitárias. A transmissão ocorre principalmente de pessoa para pessoa através de contato oral- oral ou fecal-oral, e a infecção geralmente ocorre na infância. A prevalência da infecção aumenta com a idade, e a taxa de infecção é maior entre os idosos. Patogênese: H. pylori é uma bactéria gram- negativa, em forma de espiral, que coloniza o estômago humano. A bactéria possui mecanismos que lhe permitem sobreviver no ambiente ácido do estômago, como a produção de urease, que converte a ureia em amônia e bicarbonato, neutralizando o ácido ao redor das bactérias. A infecção por H. pylori provoca uma resposta inflamatória local e sistêmica, levando à gastrite e, em alguns casos, ao desenvolvimento de úlceras pépticas, câncer gástrico e linfoma do tecido linfático associado à mucosa gástrica (MALT). Associação com DRGE: A relação entre a infecção por H. pylori e a doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) é complexa e ainda não totalmente compreendida. Estudos mostraram resultados conflitantes, com alguns sugerindo uma associação protetora, enquanto outros não encontraram relação significativa. A infecção por H. pylori pode causar gastrite atrófica, levando a uma diminuição na produção de ácido gástrico. Essa redução na acidez pode diminuir a severidade dos sintomas da DRGE em alguns pacientes. Por outro lado, a inflamação crônica causada pela infecção por H. pylori pode aumentar a pressão no estômago e prejudicar o funcionamento do esfíncter esofágico inferior, potencialmente exacerbando a DRGE. Caso 05 Sessão Tutorial 22 Em resumo, a infecção por H. pylori é uma condição prevalente em todo o mundo, e sua relação com a DRGE ainda é um tema de debate. O entendimento completo da patogênese e das interações entre H. pylori e a DRGE é fundamental para melhorar a prevenção e o tratamento dessas condições. 5.2. Diagnóstico e tratamento da infecção por H. pylori O diagnóstico e o tratamento adequados da infecção por H. pylori são cruciais para prevenir e controlar as complicações associadas, como úlceras pépticas e câncer gástrico. A seguir, são apresentados os principais métodos de diagnóstico e opções de tratamento. Diagnóstico: O diagnóstico da infecção por H. pylori pode ser feito por meio de métodos invasivos e não invasivos. Os principais métodos de diagnóstico incluem: 1. Testes não invasivos: a. Teste de antígeno fecal: Detecta a presença de antígenos de H. pylori nas fezes do paciente. b. Teste de urease respiratório: Mede a quantidade de dióxido de carbono expirado após a ingestão de ureia marcada, indicando a presença de H. pylori no estômago. c. Teste sorológico: Detecta anticorpos contra H. pylori no sangue do paciente. 2. Testes invasivos (geralmente realizados durante a endoscopia digestiva alta): a. Teste de urease rápido (RUT): Avalia a atividade da urease produzida pelo H. pylori em biópsias gástricas. b. Histologia: Exame microscópico das biópsias gástricas para identificar a presença de H. pylori. c. Cultura: Cultivo de biópsias gástricas em meios específicos para isolar e identificar H. pylori. Tratamento: O tratamento da infecção por H. pylori visa erradicar a bactéria e aliviar os sintomas e complicações associadas. O tratamento geralmente envolve uma combinação de medicamentos, incluindo: 1. Antibióticos: A terapia com dois ou mais antibióticos, como amoxicilina, claritromicina, metronidazol ou tetraciclina, é prescrita para eliminar a bactéria. 2. Inibidores da bomba de prótons (IBPs): Omeprazol, lansoprazol, pantoprazol ou esomeprazol são usados para reduzir a produção de ácido gástrico, permitindo a cicatrização das úlceras e melhorando os sintomas. 3. Antagonistas dos receptores H2: Em alguns casos, medicamentos como ranitidina ou famotidina podem ser usados em vez dos IBPs para reduzir a produção de ácido gástrico. 4. Bismuto: O subsalicilato de bismuto pode ser adicionado ao tratamento para ajudar na erradicação do H. pylori e na proteção da mucosa gástrica. O tratamento geralmente dura de 10 a 14 dias. A escolha do regime terapêutico pode ser influenciada pela resistência bacteriana aos antibióticos, histórico médico do paciente e possíveis interações medicamentosas. A eficácia do tratamento deve ser verificada após a conclusão do regime, geral mente por meio de testes não invasivos, como o teste de urease respiratório ou o teste de antígeno fecal. É importante seguir as diretrizes locais e internacionais para o tratamento da infecção por H. pylori e ajustar as terapias conforme necessário, levando em consideração as taxas de resistência aos antibióticos na região. A adesão ao tratamento é crucial para garantir a erradicação bem-sucedida da bactéria. Os profissionais de saúde devem instruir os pacientes sobre a importância de seguir o regime prescrito e informá-los sobre possíveis efeitos colaterais dos medicamentos. Aconselhamento dietético e mudanças no estilo de vida também podem ser úteis para aliviar os sintomas e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Em casos de falha no tratamento, podem ser consideradas outras opções terapêuticas, como a terapia de resgate, que envolve a combinação de diferentes antibióticos e agentes mucoprotetores. A seleção de terapias de resgate deve ser baseada
Compartilhar