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Carolina Ferreira DOENÇAS DOS NEURÔNIOS MOTORES -Doenças do neurônio motor são um grupo heterogêneo de distúrbios nos quais a perda seletiva de função dos neurônios motores superiores, neurônios motores inferiores, ou ambos, resulta em comprometimento do movimento voluntário -O neurônio motor caracteriza-se pela distribuição na região anterior da medula e tronco cerebral desempenhando papel de integração de impulsos de origem do SNC e atividade muscular -As patologias que afetam o neurônio motor caracterizam-se por causarem apoptose neuronal, isto é dano na estrutura funcional celular, seja por alterações do DNA ou por stress funcional, ou necrose c/ agressão direta ao neurônio motor como na poliomielite -A doença do neurônio motor é um termo que se aplica a síndromes clínicas com características próprias como a Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), Atrofia Muscular Progressiva (AMP), Esclerose Lateral Primária (ELP), Paralisia Bulbar Progressiva(PBP). -A doença adquirida + comum dos neurônios motores, a esclerose lateral amiotrófica (ELA), é uma combinação de distúrbio dos neurônios motores superiores e inferiores -As características do envolvimento do neurônio motor inferior são perda de massa muscular (atrofia) fasciculações, e paresia flácida c/ reflexos tendíneos normais ou diminuídos. -A disfunção do neurônio motor superior pode provocar ↑do tônus muscular, clônus, fraqueza na distribuição piramidal, c/ reflexos tendinosos ↑, e respostas plantares em extensão (sinal de Babinski) https://www.google.com.br/url?sa=i&url=http%3A%2F%2Fraciocinioclinico.com.br%2Fblog%2Frevisoes%2Ffraqueza-muscular-avaliacao-pratica-e-raciocinio-clinico%2F&psig=AOvVaw3wt2KnlfXexozAeUf9Ay4F&ust=1587006743442000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCPCi8_y66egCFQAAAAAdAAAAABAD https://www.google.com.br/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fslideplayer.com.br%2Fslide%2F284552%2F&psig=AOvVaw0dB-3sOuKJajiiE3x_hrGr&ust=1587006625999000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCOiX6MW66egCFQAAAAAdAAAAABAJ Carolina Ferreira -A marca patológica dos distúrbios degenerativos do neurônio motor é a morte dos neurônios motores inferiores (que consistem nas células do corno anterior da medula espinal e seus homólogos no tronco encefálico, que inervam a musculatura bulbar) e dos neurônios motores superiores ou corticospinais (originam-se da camada 5 do córtex motor e descem pelo trato piramidal p/ formar sinapses c/ os neurônios motores inferiores, seja direta ou indiretamente via interneurônios) ❑ DISTÚRBIOS SELECIONADOS DO NEURÔNIO MOTOR INFERIOR ESCLEROSE LATERAL AMIOTRÓFICA -A ELA é um distúrbio neurodegenerativo progressivo que causa lesão e morte celular dos neurônios motores inferiores no tronco encefálico e medula espinal, bem como os neurônios motores superiores no córtex motor -É a forma + comum de doença progressiva do neurônio motor -Embora no início possa envolver perda seletiva de função apenas dos neurônios motores superiores ou inferiores, a ELA termina causando perda progressiva de ambas as categorias de neurônios motores -De fato, se ñ houver comprometimento nítido de ambos os tipos de neurônio motor, o diagnóstico de ELA é duvidoso -Em um subgrupo de casos, a ELA surge concomitantemente c/ demência frontotemporal ocorre a degeneração dos neurônios corticais frontotemporais e atrofia cortical correspondente →EPIDEMIOLOGIA -ELA tem uma incidência de aproximadamente 2 por 100.000 e a prevalência de 6 a 8 por 100.000 -A incidência global é relativamente uniforme, c/ exceção de alguns focos de alta incidência, tais como as ilhas de Guam, no Pacífico Ocidental -A doença afeta predominantemente pessoas de meia-idade e idosos, c/ uma média de idade de 55 a 60 anos no aparecimento, embora indivíduos + jovens também possam ser afetados -O aumento de idade, o sexo masculino (relação masculino-feminino ≈1.6:1), e a suscetibilidade genética são os únicos fatores de risco comprovados -Aproximadamente 90% dos casos de ELA ocorrem esporadicamente, porém de 5% a 10% são familiares, geralmente c/ uma forma de herança autossômica dominante. →FISIOPATOLOGIA -O processo de degeneração neuronal na ELA é complexo https://www.google.com.br/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fwww.slideshare.net%2FCleantoSantosVieira1%2Fsistema-nervoso-aula-1-fisiopatologia-do-neuronio-motor-superior-e-periferico&psig=AOvVaw0dB-3sOuKJajiiE3x_hrGr&ust=1587006625999000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCOiX6MW66egCFQAAAAAdAAAAABAD Carolina Ferreira -O subtipo da doença causada por mutações da superóxido dismutase (SOD1) é responsável por 20% dos casos ELA familiar e 2% de ELA em geral -SOD1 mutante parece desencadear uma interação complexa de vários processos patogênicos, incluindo o estresse oxidativo, agregação proteica, disfunção mitocondrial e comprometimento do transporte axonal -Células ñ neuronais nas proximidades dos neurônios motores podem contribuir p/ a lesão neuronal -Os astrócitos que expressam SOD1 mutante exercem efeitos tóxicos nos neurônios motores vizinhos através de mecanismos ainda indefinidos -Doença do neurônio motor familiar foi ligada a mutações em SOD1, alsina, senataxina, angiogenina, VAPB, dinactina, TDP-43 e FUS/TLS →PATOLOGIA - Na necropsia, as características patológicas macroscópicas da ELA consistem na atrofia do giro pré-central cerebral, esclerose e palidez dos tratos corticoespinais da medula espinal, o adelgaçamento do nervo hipoglosso e das raízes nervosas ventrais pode ser observado e a atrofia muscular é óbvia -Microscopicamente, os pacientes c/ ELA apresentam tipicamente a perda de + de 50% de seus neurônios motores espinais e têm gliose astrocítica difusa na substância cinzenta da medula espinal -Os neurônios motores no núcleo de Onuf da medula espinal sacral, que inervam os músculos do assoalho pélvico, e os núcleos motores dos nervos cranianos III, IV e VI, que controlam os movimentos oculares, são relativamente preservados -A característica cardinal em neurônios motores residual é a presença de inclusões proteináceas ubiquitinadas, que podem ser compactas ou sob forma de fios dobrados e partidos -No córtex motor, há perda variável dos neurônios motores superiores e gliose astrocitária -Nos tratos corticoespinais descendentes, são observadas perda axonal, palidez da mielina e gliose -O músculo esquelético atrofiado mostra fibras atróficas angulares e agrupamento de fibra, resultantes de processo de denervação, seguido de reinervação por brotamento de terminações nervosas motoras distais próximas, embora a reinervação nessa doença seja consideravelmente menos extensa do que na > dos distúrbios que comprometem os neurônios motores (poliomielite, neuropatia periférica --C/ a progressão da desnervação, percebe-se facilmente a atrofia muscular em biópsias musculares e ao exame clínico essa é a origem do termo amiotrofia -Na ELA, o citoesqueleto do neurônio motor é comprometido logo no início da doença. -Observa também a proliferação da astróglia e da micróglia, que sempre acompanha todos os processos degenerativos do sistema nervoso central (SNC) -A morte dos neurônios motores periféricos do tronco encefálico e da medula espinal gera desnervação e consequente atrofia das fibras musculares correspondentes -A perda dos neurônios corticais resulta em adelgaçamento nos tratos corticospinais que trafegam pela cápsula interna e pelo tronco encefálico até as colunas lateral e anterior de substância branca na medula espinal -Uma característica marcante da doença é a seletividade da morte de células neuronais, pois todo o aparato sensorial, os mecanismos regulatórios para o controle e coordenação dos movimentos, permanece intacto. Exceto nos casos de demência frontotemporal, os componentes cerebrais necessários p/ o processamento cognitivo também são preservados. -Dentro do sistema motor, verifica-se alguma seletividade de comprometimento,os neurônios motores essenciais à motilidade ocular ñ são acometidos, tampouco os neurônios parassimpáticos da medula espinal sacral (o núcleo de Onufrowicz, ou Onuf) que inervam os esfincteres do intestino e da bexiga. Carolina Ferreira →MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS -ELA é caracterizada por uma combinação de degeneração do neurônio motor superior e do inferior -A degeneração do neurônio motor inferior provoca fraqueza, atrofia e fasciculação nos membros e na musculatura bulbar -As características de disfunção do neurônio motor superior incluem a presença de reflexos tendíneos vivos ou exaltados em um membro atrofiado, aumento do tônus muscular e, às vezes, presença do sinal de Babinski -A doença bulbar do neurônio motor superior causa paralisia pseudobulbar c/ labilidade emocional, reflexo vivo na mandíbula, redução dos movimentos repetitivos da língua, fala cansada e que requer esforço -A fadiga e a perda de peso também são sintomas frequentes -C/ a doença em estágio terminal, a > dos pacientes irá apresentar características de disfunção do neurônio motor superior e do inferior que afetem os 4 membros e a musculatura bulbar -Em aproximadamente 75% dos pacientes, a doença começa distal, focal e assimetricamente no membro superior e membro no inferior ou territórios bulbar, seguido pela disseminação progressiva da lesão em uma progressão anatomicamente lógica p/ grupos contíguos dos neurônios motores -Os indivíduos afetados podem notar fraqueza, atrofia e descoordenação motora de uma mão ou comprometimento da dorsiflexão unilateral do pé -As fasciculações são + evidentes nos grandes músculos proximais dos membros https://www.google.com.br/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fwww.msdmanuals.com%2Fpt%2Fcasa%2Fdist%25C3%25BArbios-cerebrais%2C-da-medula-espinal-e-dos-nervos%2Fdoen%25C3%25A7as-dos-nervos-perif%25C3%25A9ricos%2Fesclerose-lateral-amiotr%25C3%25B3fica-ela-e-outras-doen%25C3%25A7as-do-neur%25C3%25B4nio-motor-dnms&psig=AOvVaw3ibbFuuiAm-_Hh5w9ZhfKI&ust=1587007168308000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCMDl8se86egCFQAAAAAdAAAAABAD Carolina Ferreira -Nos membros superiores, os músculos tenares e músculos intrínsecos da mão tendem a ser gravemente afetados, enquanto o tríceps e flexores dos dedos são relativamente poupados até a doença avançada -Nos membros inferiores, o padrão de fraqueza assume uma distribuição piramidal (flexores + fracos do que os extensores), c/ fraqueza precoce de flexão do quadril e dorsiflexão do tornozelo e grave comprometimento dos músculos distais -Os sintomas bulbares, que são a característica inicial em aproximadamente 25% dos pacientes, são especialmente comuns em mulheres idosas c/ ELA. O primeiro problema é geralmente a fala arrastada, inicialmente aparente apenas quando o indivíduo está cansado -Os pacientes muitas vezes têm um misto de disartria espástica/ flácida, nos quais se desenvolve uma fala firme e estrangulada em função do componente do neurônio motor superior, com uma qualidade nasal superposta como um resultado da paresia flácida do neurônio motor inferior do palato e da nasofaringe -Em pacientes c/ doença bulbar, o exame revela frequentemente a fraqueza dos músculos faciais; uma língua espástica, fraca, atrofiada e fasciculada; e uma contração da musculatura mandibular viva -A disfagia, inicialmente + pronunciada p/ líquidos do que p/ sólidos, geralmente segue a disartria em algumas semanas ou meses -As complicações incluem perda de peso e refeições prolongadas e árduas c/ episódios frequentes de tosse, sialorreia e pneumonia por aspiração. -A fraqueza dos músculos respiratórios raramente é a característica inicial da ELA o que causa dispneia e ortopneia -Presença de movimento paradoxal da parede abdominal durante a inspiração e declínio acentuado na capacidade vital forçada na posição supina são sinais indicativos de fraqueza diafragmática. Cefaleia matutina, anorexia e sonolência diurna são sintomas de retenção noturna de dióxido de carbono -A fraqueza muscular do pescoço, que é frequente durante o curso da doença, causa dificuldade em manter a cabeça ereta (síndrome da cabeça caída) -Os movimentos dos olhos tendem a ser poupados, mesmo na doença avançada, o que permite comunicação através dos movimentos dos olhos -Da mesma forma, a força dos músculos do assoalho pélvico é relativamente preservada -C/ a disfunção do neurônio motor inferior e desnervação precoce, a 1º evidência da doença é início insidioso de fraqueza assimétrica, em geral distalmente em um dos membros -A fraqueza causada pela desnervação associa-se à emaciação e atrofia progressivas dos músculos e, em especial no início da doença, abalos espontâneos das unidades motoras ou fasciculações. Nas mãos, é comum predomínio da fraqueza extensora sobre a flexora -Quando a desnervação inicial compromete a musculatura bulbar o problema inicial é dificuldade de mastigação, deglutição e dos movimentos da face e língua -Quando o comprometimento corticoespinal é acentuado, há hiperatividade dos reflexos de estiramento muscular (reflexos tendíneos) e, c/ frequência, resistência espástica à movimentação passiva dos membros acometidos -A degeneração de projeções corticobulbares que inervam o tronco encefálico gera disartria e o exagero das expressões motoras de emoção que são um excesso involuntário de riso ou choro (afeto pseudobulbar) →DIAGNÓSTICO -O diagnóstico da ELA é essencialmente clínico e ñ há teste diagnóstico específico -É essencial p/ o diagnóstico o envolvimento simultâneo dos neurônios motores superior e inferior com fraqueza progressiva, e a exclusão de todas as alternativas de diagnósticos. Carolina Ferreira -O distúrbio é classificado como ELA “definida” quando 3 ou 4 dos seguintes locais são acometidos: neurônios motores bulbares, cervicais, torácicos e lombossacrais. Quando 2 locais são comprometidos, o diagnóstico é “provável”, e quando apenas um local é implicado, o diagnóstico é “possível”. Faz-se uma exceção para aqueles que apresentam sinais dos neurônios motores superior e inferior progressivos em apenas um local e uma mutação do gene que codifica a superóxido-dismutase (SOD1) -O diagnóstico também requer a ausência de outros processos da doença, conforme determinado por meio de teste eletrofisiológico, neuroimagem, e se realizada,biópsia. -Cerca de 8% dos pacientes nos quais ELA é inicialmente diagnosticada têm outras síndromes de neurônio motor inferior, como neuropatia multifocal motora com bloqueio de condução, doença de Kennedy ou compressão mista de medula espinal e raiz nervosa -Os testes sanguíneos que podem ser úteis em distinguir a ELA de síndromes semelhante incluem hemograma e níveis séricos de cálcio, testes de função tireoideana, eletroforese de proteínas séricas, teste p/ sífilis (Venereal Disease Research Laboratory), creatina cinase, marcadores inflamatórios (velocidade de hemossedimentação e proteína C reativa), e anticorpos antigangliosídeos GM1 e antiglicoproteína associada à mielina (MAG) -Os testes adicionais guiados por achados clínicos do paciente poderiam incluir anticorpo contra o receptor de acetilcolina; detecção de mutação em pacientes com suspeitas de doença familiar, doença de Kennedy ou atrofia muscular espinal (AME); detecção de metais pesados; porfirinas urinárias; níveis séricos de hexosaminidase A e B; teste para Borrelia (doença de Lyme) e teste para vírus da imunodeficiência humana -As características típicas da ELA na eletroneuromiografia (ENMG) incluem evidências de denervação ativa (ondas agudas positivas, fibrilação e fasciculações) e de denervação/reinervação crônica, resultando em rarefação dos potenciais (perda de unidades motoras) e presença de potenciais de amplitude e duração ↑(reinervação das fibras musculares por neurônios vizinhos, levando a um > nº de fibras musculares por neurônio), processo que ñ podem ser explicado por um único nervo, raiz ou lesão do plexo -P/ confirmação do diagnóstico de ELA há necessidadede alteração em 3 ou + segmentos (cranial, cervical, torácico ou lombar) -Exames de neuroimagens do cérebro e da medula espinal são, muitas vezes, necessários p/ excluir patologia estrutural -Os testes basais de função respiratória devem ser realizados em todos os pacientes →TRATAMENTO E PROGNÓSTICO -A ELA é + bem controlada em centros especializados que oferecem tratamento multidisciplinar -As equipes incluem geralmente um neurologista, enfermeira, terapeuta ocupacional, fisioterapeuta, fonoaudiólogo e nutricionista -O tratamento deve enfocar os sintomas e a preservação de independência e qualidade de vida -Durante o curso da doença, os pacientes frequentemente necessitam de encaminhamento p/ a colocação de uma sonda de gastrostomia e para fornecer suporte respiratório -O riluzol, um bloqueador de canais de sódio cujo principal mecanismo de ação é reduzir a excitotoxicidade por meio da inibição pré-sináptica da liberação de glutamato, prolonga a sobrevida em aproximadamente 3 meses quando administrada em 50 mg duas vezes ao dia, pode causar fadiga, náuseas e tontura -Devem ser realizados testes de função hepática na visita inicial e, mensalmente, durante os primeiros 3 meses de terapia -Em pacientes c/ problemas bulbares progressivos, o posicionamento adequado, a atenção p/ alimentos e consistência de líquidos e as técnicas protetoras de deglutição são úteis. Se a perda de peso continuar, suplementos nutricionais de altas calorias serão adicionados entre as refeições Carolina Ferreira -A colocação de uma sonda de gastrostomia por via endoscópica ou sob orientação radiológica é recomendada em pacientes que apresentam desidratação, perda de peso de 10% a 15% e episódios frequentes de sufocamento angustiante, prolongado e cansaço nos horários das refeições ou desenvolvam pneumonia por aspiração. A sonda devem idealmente ser colocadas antes que a capacidade vital forçada (CVF) do paciente caia abaixo de 50% do esperado -O tratamento deve enfatizar a detecção e prevenção da pneumonia por aspiração, auxílio na eliminação de secreções com aparelho de sucção e auxílio de tosse (Cough Assist), uso de agente mucolítico como carbocisteína (em uma dose de até 750 mg 3 vezes/dia), adoção de posição semiereta p/ dormir, e antibioticoterapia agressiva p/ bronquite ou pneumonia -Pode ser útil uma pequena dose de lorazepam por via sublingual (0,5 a 1 mg) se a dispneia for acompanhada por ansiedade extrema; a terapia c/ opiáceos (como morfina, diamorfina ou fentanil) pode ser administrada por via oral, transdérmica ou por infusão subcutânea para aliviar a angústia respiratória durante os estágios mais avançados da doença -Em estágios terminais o objetivo do tratamento é fornecer conforto, prescrevendo opiáceos e medicamentos ansiolíticos conforme necessário p/ aliviar o desconforto ou a angústia. →PROGNÓSTICO -As características clínicas associadas ao pior prognóstico incluem idade avançada no início dos sintomas, comprometimento precoce da função respiratória, sintomas bulbares e + rápida necessidade de atenção médica -A duração média a partir do início dos sintomas até a morte em pacientes c/ ELA esporádica varia de 27 a 43 meses -A taxa média de sobrevida de 5 anos é de 25%, e aproximadamente 5% dos pacientes irão sobreviver por mais de 10 anos -A causa comum de óbito é insuficiência respiratória, que pode ser acompanhada pela broncopneumonia. ATROFIA MUSCULAR ESPINAL -O termo de atrofia muscular espinhal (AME) abrange um grupo de distúrbios de neurônio motor inferior puro que causam fraqueza muscular progressiva e simétrica e atrofia -Devido a musculatura bulbar ser afetada, um termo alternativo proposto foi de “neuronopatia motora hereditária” -O tempo de aparecimento é variável, ocorrendo desde a fase intrauterina até a vida adulta -As AMEs são uma família de doenças seletivas no neurônio motor inferior de início precoce -O defeito na > das famílias com AME reside em um locus no cromossomo 5 que codifica uma suposta proteína de sobrevida do neurônio motor (SMN), a qual é importante na formação e no tráfego de complexos de RNA através da membrana nuclear →EPIDEMIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA -O tipo + comum de AME é causado por mutações nos genes de sobrevivência do neurônio motor (SMN), sendo herdado como um distúrbio autossômico recessivo -Estima-se que a frequência de portadores de uma mutação SMN é de 1 em 50. -AME tipo I (doença de Werdnig-Hoffmann) tem uma incidência de 1 em 8.000 nascidos -AME é dividido em subtipos de I a IV de acordo c/ a idade de início e a gravidade do fenótipo. -O gene SMN humano no cromossomo 5q13 existe em 2 formas c/ diferenças de 5 pares de bases entre SMN1 e seu homólogo centromérico SMN2 Carolina Ferreira -A > dos pacientes com AME tem ausência homozigota de SMN1 no éxon 7, porém SMN1 pode ser substituído por uma cópia de SMN2 durante a replicação do DNA por um processo conhecido como conversão gênica -Na necropsia, os pacientes c/ AME apresentam medulas espinais atróficas c/ perda de motoneurônios α e evidências de degeneração dos neurônios motores e gliose -As raízes ventrais são atróficas e a atrofia muscular está aparente com evidência microscópica de desenervação e reinervação. Ao exame neuropatológico, essas doenças caracterizam-se por extensa perda de grandes neurônios motores →MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS -AME tipo I (doença de Werdnig-Hoffmann) é caracterizada por fraqueza muscular generalizada grave e hipotonia ao nascimento ou em 6 meses; as crianças afetadas nunca sentam ou andam -O tipo II é uma forma intermediária com um início de fraqueza muscular antes dos 18 meses; os pacientes podem se sentar, porém ñ são capazes de andar sozinhos -AME tipo III (doença de Wohlfart-Kugelberg-Welander) surge após 18 meses de idade; os pacientes adquirem a habilidade de ficar em pé e caminhar, mas muitas vezes se tornam dependentes de cadeira de rodas na adolescência ou na vida adulta -Os pacientes c/ AME tipo IV têm início de fraqueza muscular na vida adulta. -A AME do lactente (AME I, doença de Werdnig-Hoffmann) tem o início + precoce e a evolução + rapidamente fatal. Em alguns casos, já se evidencia até mesmo antes do nascimento, indicada pela redução dos movimentos fetais no fim do 3º trimestre. Os lactentes acometidos são fracos e flácidos (hipotônicos) e ñ apresentam os reflexos miotáticos. A morte em geral ocorre no 1º ano de vida -A AME crônica da infância (AME II) inicia-se + tarde na infância e evolui + lentamente -A AME juvenil (AME III, doença de KugelbergWelander) manifesta-se no final da infância e tem evolução lenta e arrastada, ao contrário da > das doenças c/ desnervação, nesse distúrbio crônico a fraqueza é maior nos músculos proximais; de fato, o padrão de fraqueza clínica pode sugerir uma miopatia primária, como a distrofia da cintura dos membros → DIAGNÓSTICO -O diagnóstico de AME causada por alterações na SMN é feito por exames genéticos em um paciente c/ sinais e sintomas clínicos apropriados -Cerca de 95% dos indivíduos afetados têm deleções de SMN -É possível o diagnóstico pré-natal -A eletrofisiologia e biópsia muscular revelam evidência de desenervação -Outros distúrbios que podem manifestar-se na infância como hipotonia e um padrão de fraqueza semelhante a AME relacionado c/ SMN podem ser distinguidos por características clínicas associadas, tais como o desconforto respiratório precoce ou paralisia das cordas vocais ou uma distribuição atípica de características motoras, tais como envolvimento escapuloperoneal ou predominante do membro superior e membro inferior -A AME II e a AME III podem ser distinguidas da polineuropatia desmielinizante inflamatória crônica pela presença de proteína normal no LCR e estudos de condução nervosa normais na AME -Os pacientes c/ AME III podem ter características clínicas que são semelhantes às de neuropatias sensitivas e motoras hereditárias, porém podem ser diferenciados pela avaliaçãoneurofisiológica e teste genético. →TRATAMENTO E PROGNÓSTICO -Nenhum tratamento modificador da doença de AME está atualmente disponível -Nas AMEs II e III, as crianças podem se beneficiar de fisioterapia passiva e ativa, órteses leves, correção cirúrgica da escoliose e medidas de suporte respiratório Carolina Ferreira -Os pacientes c/ AME tipo I geralmente morrem por volta dos 18 meses, os pacientes c/ o tipo II geralmente sobrevivem até a adolescência e os pacientes c/ tipo III e tipo IV apresentam uma expectativa de vida normal. ATROFIA MUSCULAR ESPINOBULBAR/DOENÇA DE KENNEDY -Esta é uma doença do neurônio motor inferior ligada ao X na qual surgem fraqueza progressiva e emaciação dos músculos bulbares e dos membros em homens de meia idade, acompanhadas de insensibilidade aos androgênios, que se manifesta por ginecomastia e redução da fertilidade -Além da ginecomastia, que pode ser sutil, 2 achados que diferenciam esse distúrbio da ELA são ausência de sinais de doença do trato piramidal (espasticidade) e presença de uma sutil neuropatia sensorial em alguns pacientes -O defeito molecular subjacente corresponde a uma expansão da repetição de trinucleotídeos (-CAG-) no primeiro éxon do gene do receptor de androgênio no cromossomo X -A doença de Kennedy ou atrofia muscular espinobulbar (AMEB), é um distúrbio degenerativo ligado ao X, c/ comprometimento dos neurônios motores inferiores. Apesar de rara, é importante realizar o diagnóstico, em função das implicações genéticas para a família e uma evolução mais benigna do que ocorre com ELA →FISIOPATOLOGIA -AMEB é um distúrbio de repetição de trinucleotídeo onde a expansão de CAG codifica um trato de poliglutamina do primeiro éxon do gene do receptor androgênico no cromossomo Xq11-12 -O receptor androgênico, que contém 3 domínios funcionais, é transportado p/ o núcleo, onde se liga ao DNA e atua como um fator de transcrição -A neurodegeneração em pacientes c/ AMEB é considerada resultante do ganho tóxico e dependente ao ligante da função da proteína do receptor androgênico mutante -A perda completa de sua função ñ leva à degeneração do neurônio motor -O exame patológico revela atrofia leve da medula espinal c/ atrofia e gliose no corno ventral, c/ diminuição de neurônios α-motores -O enovelamento da proteína expandida por poliglutamina (Q) leva à formação de inclusões nucleares que contêm os epítopos amino-terminais do receptor androgênico mutante dentro dos neurônios motores e certos tecidos não neuronais →MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E DIAGNÓSTICO -A média de idade do início de AMEB é de 30 anos, c/ uma faixa etária de 15 a 60 anos e a gravidade da doença e sua idade no início se correlacionam c/ o tamanho da expansão repetida -Os sintomas iniciais consistem em tremores nas mãos, fasciculações e espasmos musculares, seguido por fraqueza progressiva e atrofia do membro e músculos bulbares -A fraqueza muscular dos membros tende a ser proximal e envolve predominantemente os membros inferiores -Ñ há sinais clínicos de disfunção do neurônio motor superior -A fraqueza dos músculos faciais inferiores e da língua causa disartria, e a fraqueza mandibular pode causar a abertura da boca -A presença de fasciculações periorais c/ queixo trêmulo é uma característica -O envolvimento da faringe pode causar disfagia, e a fraqueza dos músculos respiratórios causa falta de ar -Alteração sensitiva distal leve está frequentemente presente nos membros inferiores -As características de insensibilidade leve aos andrógenos c/ ginecomastia, atrofia testicular e disfunção erétil serão, muitas vezes, aparentes -Os portadores heterozigotos do sexo feminino de AMEB podem apresentar manifestações clínicas discretas da doença Carolina Ferreira -A ENMG e a biópsia muscular, que são frequentemente realizadas em função do nível de creatino cinase, tendem a ser elevadas e revelar evidência de desnervação crônica -O rastreamento genético para a expansão de repetições CAG no éxon 1 do gene do receptor androgênico é diagnóstico. -O diagnóstico deve ser considerado em qualquer paciente do sexo masculino com um distúrbio do neurônio motor inferior puro, particularmente quando a evolução da doença for relativamente indolente, a ginecomastia estiver presente ou haja evidência de uma neuropatia sensitiva leve acompanhante. →TRATAMENTO E PROGNÓSTICO -O tratamento consiste em assistência de suporte -A evolução da doença é lentamente progressiva, em comparação c/ ELA, sendo compatível c/ a expectativa de vida normal, embora uma proporção de pacientes possa morrer de insuficiência respiratória -Os pacientes podem se tornar dependentes de cadeira de rodas durante um período de 2 a 3 décadas, porém alguns continuam capazes de andar até o final da vida. DOENÇA DE TAY-SACHS DO ADULTO -Diversos relatos descreveram neuropatias predominantemente do neurônio motor inferior, iniciadas no adulto, que decorriam de deficiência da enzima β- hexosaminidase (hex A) -Elas tendem a distinguir-se da ELA em razão de serem lentamente progressivas; pode haver disartria e atrofia cerebelar evidente nos exames de imagem -Em casos raros, também pode haver espasticidade, embora em geral esta ñ ocorra NEUROPATIA MOTORA MULTIFOCAL COM BLOQUEIO DA CONDUÇÃO -Nesse distúrbio, a função do neurônio motor inferior é comprometida regional e cronicamente por bloqueios da condução eminentemente focais -Muitos casos apresentam títulos elevados de anticorpos monoclonais e policlonais contra o gangliosídeo GM1 os anticorpos produzam desmielinização seletiva focal paranodal dos neurônios motores -A neuropatia motora multifocal c/ bloqueio da condução ñ se associa a sinais corticospinais -Pode responder de modo formidável a tratamentos como imunoglobulina IV ou quimioterapia ❑ DISTÚRBIOS SELECIONADOS DO NEURÔNIO MOTOR SUPERIOR ESCLEROSE LATERAL PRIMÁRIA -Esse distúrbio raríssimo surge de forma esporádica em adultos de meia-idade ou + velhos -Clinicamente, caracteriza-se por fraqueza espástica progressiva dos membros, precedida ou acompanhada de disartria espástica e disfagia, o que indica comprometimento associado dos tratos corticospinal e corticobulbar -Ñ há fasciculações, amiotrofia e alterações sensoriais; a eletromiografia e a biópsia muscular ñ mostram desnervação Carolina Ferreira -Ao exame neuropatológico, verificam-se perda seletiva das grandes células piramidais no giro pré-central e degeneração das projeções corticoespinais e corticobulbares -Os neurônios motores periféricos e outros sistemas neuronais são poupados -A evolução da ELP é variável; apesar de ter-se descrito sobrevida a longo prazo, a evolução pode ser tão agressiva quanto a da ELA, c/ uma sobrevida de cerca de 3 anos entre o início da doença e a morte -No início de sua evolução, a ELP pode ser confundida com a esclerose múltipla ou outras doenças desmielinizantes, como a adrenoleucodistrofia PARAPLEGIA ESPÁSTICA FAMILIAR -Em sua forma pura, a PEF costuma ser transmitida de modo autossômico; a > dos casos de início no adulto é herdada de modo dominante -Os sintomas costumam surgir na terceira ou quarta década de vida, e caracterizam-se por fraqueza espástica progressiva c/ início nas partes distais dos membros inferiores; contudo, existem variantes c/ início tão precoce que o diagnóstico diferencial inclui paralisia cerebral -A PEF apresenta uma sobrevida longa, talvez por poupar a função respiratória -Nas fases avançadas da doença, pode haver urgência e incontinência urinárias e, às vezes, incontinência fecal; a função sexual tende a ser preservada -Nas formas puras de PEF, a fraqueza espástica das pernas muitas vezes é acompanhada de anormalidades (de vibração e posição) das colunas posteriores e disfunção intestinal e vesical -Alguns membros da família podem ter espasticidade sem sintomas clínicos -Ao contrário, particularmente quando herdada de modo recessivo, a PEF pode ter formas complexas ou complicadasnas quais a função alterada do trato corticoespinal e da coluna posterior é acompanhada de envolvimento significativo de outras regiões do sistema nervoso, incluindo amiotrofia, deficiência intelectual, atrofia óptica e neuropatia sensorial -Em termos neuropatológicos, a PEF corresponde a uma degeneração dos tratos corticospinais, que têm um aspecto quase normal no tronco encefálico, mas evidenciam crescente atrofia em níveis + caudais da medula espinal; de fato, o quadro patológico é de uma axonopatia distal das fibras neuronais longas dentro do SNC. -Defeitos em numerosos loci podem originar formas de PEF de herança dominante ou recessiva -O gene mais comumente implicado na PEF de herança dominante denomina-se espastina, que codifica uma proteína de interação microtubular -A forma dominante de início na infância mais comum origina-se de mutações no gene atlastina.
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