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Carla Bertelli – 5° Período Doenças Desmielinizantes 1 – Estudar a fisiopatologia e diagnóstico diferencial das doenças desmielinizantes (imunomediadas, hereditárias, infeciosas e metabólicas). 2 – Revisar os diagnósticos diferenciais de paralisia flácida. 3 – Diferenciar Doença do Neurônio Motor Inferior e Doença do Neurônio Motor Superior 4 – Estudar a fisiopatologia, manifestações clínicas e diagnóstico da Síndrome de Guilain Barré e ELA Sistema Piramidal Responsável pela execução dos movimentos voluntários, realizados através de músculos estriados. As fibras do sistema piramidal se iniciam principalmente nas células piramidais gigantes ou células de Betz localizadas na área 4 de Brodmann. Os neurônios motores do sistema piramidal são chamados neurônios motores superiores. Suas fibras estabelecem sinapses com os neurônios motores de núcleos do tronco encefálico e neurônios motores da coluna cinzenta anterior da medula, chamados neurônios motores inferiores ou neurônios alfa. Os nervos periféricos (cranianos ou espinhais) originários dos neurônios motores inferiores, inervam os músculos estriados, que contraem e provocam os movimentos. As fibras do trato piramidal constituem o trato córticonuclear (constituído pelos tratos córtico- mesencefálico, córtico-pontino e córtico-bulbar) e o trato córticoespinhal. As fibras do trato piramidal, após saírem do córtex cerebral, descem pela coroa radiada, passam pela perna posterior da capsula interna, ocupam a base do pedúnculo cerebral, a base da ponte e as pirâmides na base do bulbo. Pelo fato de suas fibras ocuparem as pirâmides do bulbo, recebeu o mesmo o nome de trato piramidal Na decussação das pirâmides, situada na parte distal do bulbo, a maior parte (75% a 90%) das fibras do trato córtico-espinhal cruzam para o lado oposto, constituindo o trato córtico-espinhal lateral ou cruzado, ocupando o funículo lateral da medula. A porção remanescente (25% a 10%) das fibras constituem o trato córtico-espinhal ventral ou direto, ocupando o funículo anterior da medula. Uma parte das fibras do trato córtico-espinhal ventral inerva neurônios motores inferiores do mesmo lado, enquanto outra parte cruza para o outro lado, inervando neurônios motores contralaterais Vias Corticospinais – As vias corticospinais conduzem impulsos para o controle de músculos nos membros e no tronco. Os axônios dos neurônios motores superiores no córtex cerebral formam os tratos corticospinais, que descem através da cápsula interna do encéfalo e do pedúnculo cerebral do mesencéfalo. No bulbo, os feixes axônicos dos tratos corticospinais formam brotos ventrais conhecidos como pirâmides. Cerca de 90% dos axônios corticospinais sofrem decussação no bulbo e, então, descem para a medula espinal, onde formam sinapses com um neurônio do circuito local ou com um neurônio motor inferior. Os 10% restantes que permanecem ipsolaterais acabam fazendo decussação na medula espinal, no nível onde formam sinapses com um neurônio do circuito local ou com um neurônio motor inferior. Desse modo, o córtex cerebral direito controla a maior parte dos músculos no lado esquerdo do corpo e o córtex cerebral esquerdo controla a maior parte dos músculos no lado direito do corpo. Existem dois tipos de vias corticospinais: o trato corticospinal lateral e o trato corticospinal anterio • Trato Corticospinal Lateral – Os axônios corticospinais que sofrem decussação no bulbo formam o trato corticospinal lateral no funículo lateral da medula espinal • Trato Corticospinal Anterior – Os axônios corticospinais que não sofrem decussação no bulbo formam o trato corticospinal anterior no funículo anterior da medula espinal Via Corticonuclear – A via corticonuclear conduz impulsos para o controle dos músculos esqueléticos na cabeça. Os axônios dos neurônios motores superiores do córtex cerebral formam o trato corticonuclear, que desce com os tratos corticospinais através da cápsula interna do encéfalo e do pedúnculo cerebral do mesencéfalo Doenças Desmielinizantes Carla Bertelli – 5° Período Doenças Desmielinizantes A bainha de mielina é essencial para a condução rápida de sinais nervosos ao longo de axônios com grande diâmetro. Os oligodendrócitos produzem e mantêm mielina no sistema nervoso central (SNC). As células de Schwann produzem e mantêm mielina nos nervos periféricos. Inúmeras doenças afetam preferencialmente a mielina, sendo que os neurônios, axônios e outros tipos de células são relativamente preservados. Essas doenças desmielinizantes variam amplamente em termos de etiologia e patogênese e incluem infecções imunomediadas, infecções de origem genética e doenças nutricionais. • Desmielinização – Destruição da bainha • Dismielinização – Processo de regeneração defeituosa da mielina previamente destruída Tipo Doença Imunomediadas Recorrentes: • Esclerose Múltipla • Neuromielite Óptica Monofásicas: • Neurite Óptica • Mielite Transversa • Encefalomielite Aguda Disseminada Hereditárias • Adrenoleucodistrofia • Leucodistrofia • Matacromática Metabólicas • Deficiência de B12 • Mielinólise Pontina Central Infecciosas • Leucoencefalopatia multifocal progressiva •Panencefalite Esclerosante Subaguda As doenças desmielininzantes do SNC são condições adquiridas que se caracterizam por dano preferencial à mielina, com relativa preservação dos axônios. Os deficits clínicos são consequências do efeito da perda de mielina na transmissão dos impulsos elétricos ao longo dos axônios. A história natural das doenças desmielinizantes é determinada, em parte, pela limitada capacidade de o SNC regenerar a mielina normal e pelo grau de danos secundários que os axônios sofrem à medida que a doença progride. Vários processos patogênicos podem causar a perda da mielina. Estes incluem destruição imunomediada de mielina, como na esclerose múltipla, e infecções. Na leucoencefalopatia multifocal progressiva, a infecção dos oligodendrócitos pelo vírus JC pode resultar em perda da mielina (descrita anteriormente). Além disso, doenças hereditárias podem afetar a síntese ou a manutenção dos componentes da mielina, sendo denominadas leucodistrofias e discutidas juntamente com as doenças metabólicas As doenças desmielinizantes são caracterizadas pela degradação da mielina e podem causar efeitos negativos na comunicação neural pois diminuem a condução do potencial de ação. Quando a bainha de mielina é comprometida ocorrem alterações nos sentidos e funções, em vista disso, alguns processos podem ser irreversíveis. Entre as principais enfermidades desmielinizantes do SNC destacam-se a esclerose múltipla (EM), a neuromielite óptica (NMO) e a encefalomielite aguda disseminada (ADEM) Neuromielite Óptica – Chamada anteriormente de doença de Devic, é uma doença de caráter inflamatório/desmielinizante. Caracteriza-se por afetar preferencialmente o nervo óptico e a medulam causando surtos graves de neurite óptica bilateral e mielite transversa com características clínicas diferentes da esclerose múltipla. A RM de coluna geralmente evidencia lesão acometendo a extensão equivalente a três ou mais segmentos vertebrais. Isso ajuda à diferencia-lo da EM, cujas lesões medulares são menos extensas. A dosagem sérica do anticorpo Antiaquaporina 4 (NMO-IgG) tem alta especificidade.. Essa proteína é o principal canal de água de astrócitos, e as áreas de desmielinização na NMO mostram perda de aquaporina4. Esses anticorpos ferem astrócitos através de mecanismos dependentes do complemento. As lesões do tronco cerebral, especialmente próximas à área postrema, com clínica de náuseas e vômitos incoercíveis, manifestações encefálicas com lesões de diencéfaloe narcolepsia sintomática fazem parte do espectro clínico da doença. Encefalomielite Aguda Disseminada – A encefalomielite aguda disseminada é uma desmielinização monofásica difusa que pode se seguir a uma infecção viral ou, raramente, a uma imunização viral. Os sintomas se desenvolvem tipicamente 1 ou 2 semanas após a infecção antecedente e incluem dores de cabeça, Carla Bertelli – 5° Período letargia, e coma em vez de achados focais, como se vê na EM. A evolução clínica é rápida, e até 20% das pessoas afetadas morrem; os demais pacientes se recuperam completamente. Caracteriza-se pelo envolvimento multifocal da substância branza, apresentando-se tipicamente como desordem monofásica. Geralmente precedida por um processo infeccioso ou imunização. Os sintomas e sinais típicos incluem um quadro de encefalopatia de instalação rápida, acompanhada de déficits neurológicos multifocais. Pode recorrer em qualquer idade, porém, mais comum na população pediátrica. Neurite Óptica, Encefalite e Mielite associados ao MOG-IgG – Anticorpos contra a proteína mielina dos oligodendrócitos (MOG-IgG), associados a um fenótipo semelhante a NMO com clínica de neurite óptica, encefalite com lesões desmielinizantes do cérebro e/ou mielite caracterizam a síndrome MONEM. Encefalomielite Hemorrágica Necrotizante Aguda – (também conhecida como leucoencefalite hemorrágica aguda de Weston Hurst) é uma síndrome fulminante de desmielinização que em geral afeta adultos jovens e crianças. A doença quase invariavelmente é precedida por infecção das vias áreas superiores, na maior parte das vezes de etiologia desconhecida. A doença é fatal em muitos pacientes ou leva a deficits significativos na maior parte dos sobreviventes Mielinose Pontina Cetral – Doença aguda caracterizada por perda de mielina na ponte e nas porções do tegmento pontino, geralmente em um padrão mais ou menos simétrico. Surge mais comumente de 2 a 6 dias após a rápida correção da hiponatremia, embora também possa ser associada a outros distúrbios eletrolíticos graves ou desequilíbrios osmolares, e também pode ser conhecida como transtorno de desmielinização osmótica.. Embora possa envolver a maioria das partes do cérebro, as regiões periventriculares e subpiais são poupadas, e é extremamente raro o processo se estender abaixo da junção pontomedular. O quadro clínico das lesões pontinas é o de uma quadriplegia em rápida evolução, que pode ser fatal ou levar a deficits graves em longo prazo, incluindo a síndrome do encarceramento, em que os pacientes ficam totalmente conscientes, mas sem apresentar resposta. É imperativo que a hiponatremia seja corrigida devagar e com cuidado, a fim de evitar essa complicação trágica. Paralisia Flácida Paralisia flácida é um tipo de paralisia muscular que ocorre quando os músculos do corpo ficam fracos e flácidos devido a danos no sistema nervoso que controla os movimentos musculares. Esses danos podem ser causados por várias condições, incluindo infecções virais como a poliomielite, doenças autoimunes como a síndrome de Guillain-Barré e doenças neuromusculares como a distrofia muscular. A paralisia flácida é caracterizada por uma fraqueza muscular que pode afetar um lado do corpo ou ambos os lados, dependendo da causa da condição. Os músculos afetados podem parecer flácidos e ter uma diminuição no tônus muscular. Além disso, a pessoa com paralisia flácida pode ter dificuldade em realizar atividades diárias, como andar, segurar objetos ou mover-se. A fisiopatologia da paralisia flácida depende da causa subjacente da condição A poliomielite é uma das causas mais conhecidas da paralisia flácida. Segundo Kew et al. (2004), o vírus da poliomielite ataca as células nervosas que controlam os músculos, resultando em uma inflamação dessas células e, eventualmente, sua destruição. Isso leva a uma interrupção na transmissão dos impulsos nervosos para os músculos, resultando em fraqueza e paralisia. • A síndrome de Guillain-Barré é uma doença autoimune que pode causar paralisia flácida. De acordo com a revisão de Willison et al. (2016), nessa condição, o sistema imunológico do corpo ataca erroneamente as células nervosas que controlam os músculos. Isso resulta em danos aos nervos periféricos, causando fraqueza e perda de tônus muscular. • A distrofia muscular é uma doença neuromuscular que também pode causar paralisia flácida. Segundo a revisão de Darras et al. (2018), nessa condição, ocorre uma degeneração progressiva dos músculos, resultando em fraqueza e perda de tônus muscular. Isso pode ser causado por mutações genéticas que afetam a produção de proteínas importantes para a saúde muscular. Diagnóstico Diferencial O diagnóstico diferencial da paralisia flácida envolve outras condições que podem causar fraqueza muscular e perda de tônus, mas que têm causas diferentes daquelas que Carla Bertelli – 5° Período causam a paralisia flácida. Alguns dos diagnósticos diferenciais da paralisia flácida incluem: 1. Paralisia espástica: a paralisia espástica é uma condição que resulta em rigidez muscular e aumento do tônus muscular. Ela é causada por danos à parte do cérebro ou da medula espinhal que controla o movimento dos músculos. A paralisia espástica é geralmente causada por condições como acidente vascular cerebral, traumatismo craniano ou lesões na medula espinhal. 2. Miosite: a miosite é uma condição inflamatória que afeta os músculos. Ela pode causar fraqueza muscular e dor. A miosite é geralmente causada por uma resposta imune anormal e pode ser associada a outras condições autoimunes, como lúpus e artrite reumatoide. 3. Miastenia gravis: a miastenia gravis é uma doença autoimune que causa fraqueza muscular e fadiga. Ela é causada por uma resposta imune anormal que interfere na transmissão dos impulsos nervosos para os músculos. 4. Esclerose lateral amiotrófica: a esclerose lateral amiotrófica (ELA) é uma condição neurológica que causa fraqueza muscular e atrofia. Ela é causada por danos às células nervosas que controlam os músculos e é geralmente progressiva e fatal. 5. Síndrome de Miller-Fisher: a síndrome de Miller- Fisher é uma variante da síndrome de Guillain-Barré que pode causar fraqueza muscular, perda de tônus muscular e problemas de equilíbrio. Doença do Neurônio Motor Superior As doenças do neurônio motor superior afetam a via nervosa que envolve os neurônios motores localizados no córtex cerebral, tronco encefálico e medula espinhal superior. Essa via é responsável pela transmissão dos impulsos nervosos que controlam a atividade muscular voluntária. As principais doenças do neurônio motor superior incluem a esclerose lateral amiotrófica (ELA), a paralisia pseudobulbar e a síndrome de Babinski. A fisiopatologia dessas doenças envolve uma disfunção dos neurônios motores superiores e sua conexão com os neurônios motores inferiores, que inervam os músculos. A síndrome do neurônio motor superior: ocorre, por exemplo, nos acidentes vasculares cerebrais, os AVCs, que acometem com maior frequência a cápsula interna e causam paralisia da metade oposta do corpo (hemiplegia). Após rápido período inicial de paralisia flácida, instala-se uma paralisia espástica (com hipertonia e hiperreflexia), com presença do sinal de Babinski. Nesse caso, praticamente não há hipotrofia muscular, pois o neurônio motor inferior está intacto. A expressão "síndrome do neurônio motor superior" deveria ser empregada no plural, por se referir a vários neurônios motores superiores e não apenas àqueles que originam o trato corticoespinhal. Uma lesão em qualquernível do sistema corticospinal ou em outros componentes relacionados do neurônio motor superior, desde o córtex motor até logo acima do segmento de origem de um arco reflexo, é acompanhada de espasticidade e hiper-reflexia O padrão típico de reflexo nas lesões do trato corticospinal, a síndrome do neurônio motor superior, é o exagero de reflexos tendinosos profundos (RTP), o desaparecimento de reflexos superficiais e o surgimento de reflexos patológicos • Lesões corticais: Desde acidentes vasculares encefálicos ou sangramentos significativos até tumores e infecções. Lesões corticais provocam um padrão característico de fraqueza muscular, no qual um membro é acometido preferencialmente devido à distribuição da representação motora no homúnculo do córtex motor primário. Os infartos, por exemplo, que acometem o território da artéria cerebral média afetam preferencialmente o membro superior e a face e não o membro inferior. Com frequência, existem outros sinais corticais associados, tais como afasia ou negligência, e os pacientes podem apresentar cefaleia ou crises epilépticas. Fraqueza muscular de origem cortical também pode ser causada por enxaqueca atípica ou paralisia de Todd pós-crítica e essas condições devem ser aventadas quando o cenário clínico for apropriado • Lesões subcorticais: como as que ocorrem na cápsula interna, provocam um quadro de fraqueza muscular unilateral mais completo, que pode ou não poupar a face. Doenças desmielinizantes como a esclerose múltipla (EM) são, com frequência, implicadas na fraqueza muscular de origem subcortical, embora várias outras etiologias como infarto ou tumor também sejam possíveis. A Carla Bertelli – 5° Período fraqueza muscular atribuída a uma lesão no tronco encefálico pode manifestar-se como fraqueza unilateral em um membro superior e um membro inferior, com acometimento facial associado. De modo geral, existem sinais/sintomas atribuíveis à disfunção de nervos cranianos, como diplopia e dormência facial ou hemiataxia consequente a envolvimento dos tratos cerebelares no tronco encefálico. • Lesões raquimedulares: Após a decussação nas pirâmides da medula oblonga (bulbo), o trato corticoespinal lateral é formado na medula espinal que percorre ipsilateralmente ao dimídio inervado, localizado logo à frente das colunas posteriores e medialmente ao trato espinocerebelar posterior. 10% das fibras do trato corticoespinal não fazem a decussação na pirâmide e descem para a medula espinal para formar o trato corticoespinal anterior ou ventral. Os pacientes com fraqueza muscular relacionada com patologia raquimedular apresentam, tipicamente, queixas motoras e sensitivas que podem ser bilaterais ou localizadas em um membro. Pode ou não ocorrer dor e sua descrição varia conforme a causa da fraqueza muscular. Pode ocorrer rigidez relacionada com mielopatia, sinal de Lhermitte (sensações semelhantes a choques elétricos durante a flexão do dorso) ou dorsalgia difusa. Também podem ocorrer distúrbios da função vesical ou intestinal que exigem investigação diagnóstica à procura de compressão raquimedular. Sinais e sintomas relacionados ao neurônio motor superior: Espasticidade, Hiperreflexia dos reflexos tendíneos profundos e/ou clônus, Sinal de Babinski/resposta plantar extensora, Sinal de Hoffmann, Abalo mandibular exagerado, Disartria espástica e Afeto pseudobulbar Doenças do Neurônio Motor Inferior As doenças neuromusculares representam um grupo grande de afecções que comprometem a unidade motora, ou seja, o corpo celular do neurônio motor inferior, o nervo periférico, a junção neuromuscular ou o tecido muscular esquelético. Para classificar as inúmeras doenças neuromusculares, é útil seguir a rota anatômica do neurônio motor inferior, possibilitando, assim, a identificação e o diagnóstico das principais doenças específicas em cada sítio topográfico primário Ocorre, por exemplo, na paralisia infantil (poliomielite), há destruição do neurônio motor inferior situado na coluna anterior da medula ou em núcleos motores de nervos cranianos. Nesse caso, há paralisia com perda dos reflexos e do tônus muscular (paralisia flácida), seguindo-se, depois de algum tempo, hipotrofia dos músculos inervados pelas fibras nervosas destruídas Geralmente há diminuição dos reflexos, muitas vezes associada à perda da sensibilidade. A localização da fraqueza focal por doença da raiz, do plexo e do nervo periférico requer excelente conhecimento de neuroanatomia periférica. As lesões do neurônio motor inferior acometem músculos inervados por uma estrutura específica, como uma raiz nervosa ou um nervo periférico. Por exemplo, uma lesão do TCE causa fraqueza da rotação lateral do ombro. Esse movimento é realizado pelos músculos infraespinal e redondo menor. O redondo menor é suprido pelo nervo axilar e o infraespinal, pelo nervo supraescapular; ambos estão enfraquecidos apesar de suas diferentes inervações segmentares. Perda dos reflexos tendinosos profundos A fraqueza e a emaciação por acometimento do neurônio motor inferior Quando uma lesão interrompe totalmente o neurônio motor inferior ou seus processos periféricos, há inércia e flacidez do músculo afetado, que deixa de se contrair de maneira voluntária ou reflexa. As fibras musculares diminuem de tamanho e há emaciação ou atrofia de toda a massa muscular. Se não houver reinervação a tempo, o músculo poderá tornar-se fibrótico, com aumento do tecido conjuntivo e infiltração adiposa. Em virtude da interrupção das vias autônomas, as doenças do neurônio motor inferior podem estar associadas a alterações tróficas da pele e dos tecidos subcutâneos: edema, cianose ou palidez, diminuição da temperatura, sudorese, alterações dos pelos e das unhas, alterações da textura cutânea, osteoporose e até mesmo ulcerações e escaras de decúbito. As fibras autônomas podem ser um elemento na atrofia muscular em virtude de “disfunção trófica” e perda de controle vasomotor Carla Bertelli – 5° Período A doença do neurônio motor inferior (DNMI) é uma condição que afeta os neurônios motores inferiores, que se encontram na medula espinhal e no tronco cerebral. Esses neurônios são responsáveis pela transmissão dos impulsos nervosos que controlam diretamente a contração muscular. A DNMI pode ser causada por uma variedade de condições, como esclerose lateral amiotrófica (ELA), atrofia muscular espinhal e poliomielite. Os sintomas típicos da DNMI incluem fraqueza muscular, atrofia muscular, fasciculações (movimentos musculares involuntários), reflexos diminuídos ou ausentes e cãibras musculares. Já a doença do neurônio motor superior (DNMS) afeta os neurônios motores superiores, que se encontram no córtex cerebral e no tronco cerebral superior. Esses neurônios são responsáveis pela transmissão dos impulsos nervosos que controlam indiretamente os neurônios motores inferiores. A DNMS pode ser causada por condições como esclerose lateral amiotrófica, paralisia pseudobulbar e síndrome de Babinski. Os sintomas típicos da DNMS incluem espasticidade (rigidez muscular), hiperreflexia (aumento dos reflexos), reflexos patológicos (respostas reflexas anormais), clônus (movimentos rápidos e involuntários de um músculo) e alterações no tônus muscular. Síndrome de Guillain-Barré É uma polineuropatia inflamatória aguda autolimitada, na maioria das vezes desmielinizante, de mecanismo autoimune e pós-infeccioso. Nesta síndrome, a desmielinização, também de origem autoimune, acomete os nervos periféricos e a sintomatologia decorre diretamente da redução ou ausência de condução do impulso nervosoque leva à contração da musculatura estriada esquelética, resultando em fraqueza muscular progressiva seguida de paralisia. • Embora a patologia de base das duas doenças, esclerose múltipla e síndrome de Guillain Barré seja a mesma - desmielinização, uma acomete o sistema nervoso central, e a outra o periférico. O curso clínico das duas é também bastante diferente. • A síndrome de Guillain-Barré é aguda na maior parte das vezes, e ocorre em surto único de evolução rápida, período de estabilização e tendência à melhora completa. Existem. Contudo, casos que evoluem para a forma crônica A síndrome de Guillain ¬Barré (SGB), também conhecida como “polirradiculoneuropatia inflamatória aguda”, é um epônimo consagrado e utilizado para descrever um grupo de doenças do sistema nervoso periférico, adquiridas e monofásicas, eventualmente recidivantes. A progressão máxima se dá ao longo de quatro semanas, inflamação − objetivada por aumento dos níveis de proteína no liquor − secundária a autoimunidade e uma combinação variável de envolvimento de raízes, plexos e axônios sensitivos, motores e autonômicos. Um pequeno número de pacientes desenvolve e permanece com paraparesia (variante paraparética), enquanto outros desenvolvem progressão inversa com envolvimento predominante dos membros superiores, cervical e disfagia (variante faríngeocervicobraquial). Há preferência de comprometimento das raízes nervosas. Nesses sítios e ao longo dos nervos periféricos, particularmente das fibras motoras, são encontrados infiltrados de linfócitos e macrófagos. Neles são encontrados restos de mielina em seus pericarions. O ataque à bainha de mielina resulta da deposição inicial de complemento/complexo de ataque à membrana na superfície externa das fibras mielinizadas (plasmalema das células de Schwann). Em tais casos, pode haver comprometimento axonal secundário que, em geral, não é de grande monta. Fenômeno autoimune desencadeado por uma infecção respiratória ou gastrointestinal. Os agentes infecciosos mais relacionados são o Campylobacter jejuni (intestinal), citomegalovírus e EBV. Em cerca de 75% dos casos, pode-se detectar a infecção de 1 a 3 semanas precedendo a doença. A patogênese provavelmente depende da imunidade humoral, já que em até 50% dos casos podem ser detectados autoanticorpos Anti-GM1 (glicofosfolipídeo 1). Quadro Clínico – Instalação hiperaguda. Inicia-se com lombalgia associada a disestesias nas extremidades dos MMII que se tornam paréticos ou plégicos. Portanto Carla Bertelli – 5° Período ocorre uma paraparesia ou paraplegia, que sempre é do tipo FLÁCIDA e ARREFLEXA. Nos dias subsequentes o comprometimento ascende para os membros superiores, que, inicialmente, ficam arreflexos e então podem tornar-se paréticos ou plégicos também. Em 50% dos casos, a evolução pode acometer a face e musculatura bulbar, levando a diparesia facial periférica, disfagia, disfonia e disartria. Em 25% dos casos há paralisia da musculatura respiratória, com indicação de suporte ventilatório invasivo. A sensibilidade térmica e dolorosa geralmente está preservada, mas a proprioceptiva e vibratória pode estar acometida. A disautonomia é uma alteração comum, mesmo nos pacientes sem outros critérios de gravidade, levando à arritmias cardíacas, sudorese e labilidade pressórica. • No quadro típico, a paralisia evolui de forma ascendente, iniciando-se em membros inferiores e podendo levar à perda da marcha. Em casos mais graves atinge a musculatura respiratória, com necessidade de ventilação mecânica. • Além do suporte ventilatório são utilizados imunoglobulinas e imunomoduladores, visando reduzir o tempo de evolução da doença. A forma clássica da SGB é caracterizada por progressão rápida de paresia flácida, ascendente, bilateral e grosseiramente simétrica, de distal para proximal, nos membros inferiores inicialmente, atingindo o nadir, em geral, ao longo de duas semanas, mas podendo progredir até quatro semanas • Envolvimento esfincteriano também pode ocorrer, havendo retenção urinária em até 20% dos pacientes, sendo importante, em tais casos, a realização de uma ressonância magnética medular para investigar o diagnóstico de mielite associada. Diagnóstico – Dado principalmente pelo quadro clínico, as vezes necessitando de exclusão de uma síndrome medular pelo exame de imagem. O exame de líquor apresenta uma alteração características: dissociação albuminocitológica (aumento de proteínas sem aumento da celularidade). Tal achado só estará presente após uma semana do início dos sintomas. Entretanto, quando a SBG estiver associada à infecção pelo HIV, pode haver pleocitose com hiperproteinorraquia. A eletroneuromiografia mostra uma polineuropatia com padrão desmielinizante Eletroneuromiografia (ENMG): essencial para o diagnóstico e a caracterização do tipo de SGB (se desmielinizante ou axonal). Anormalidades mais características aparecem duas semanas após o início da fraqueza. Preconiza-se o exame de pelo menos quatro nervos motores com ondas F, 3 sensitivos e reflexos H. Achados indicativos de desmielinização incluem prolongamento das latências das ondas F e dos reflexos H, bloqueios de condução (parciais ou completos), dispersão temporal, prolongamento das latências distais e diminuição das velocidades de condução. A resposta sensitiva do nervo sural, em geral, é normal. O comprometimento predominante das amplitudes dos nervos motores com preservação da condução nervosa, chegando até a inexcitabilidade nervosa consiste em alterações eletrofisiológicas encontradas na SGB axonal. Exame do líquido cefalorraquidiano: o exame do LCR, realizado na primeira semana pode ser normal. A repetição ao longo da segunda semana, particularmente ao seu final, habitualmente se associa a aumento dos níveis de proteína sem aumento do número de células. Eventualmente, o aumento pode ocorrer na terceira semana. Aumentos de mais de 50 acima de 50 células/mm3 podem indicar multirradiculite infecciosa, ou infecção secundária deverá levantar suspeita de associação a infecção secundária (principalmente HIV) ou outra comorbidade (p. ex., neoplasia). Esclerose Lateral Amiotrófica Doença degenerativa que acomete neurônios motores de forma progressiva e generalizada, tanto o neurônio motor superior como o inferior. Esclerose Lateral remete ao termo anatomopatológico para gliose na coluna lateral medular (degeneração das vias corticoespinhais – perda do 1° neurônio motor). Amiotrófica ressalta a intensa atrofia muscular secundária à perda do 2° neurônio motor e consequente denervação da musculatura. Nesta doença ocorre progressiva destruição das bainhas de mielina de feixes de fibras nervosas do encéfalo, da medula e do nervo ótico. Com isto, cessa a condução saltatória nos axônios, levando à diminuição da velocidade dos impulsos nervosos até sua extinção completa. A denominação múltipla deve-se ao fato de que são acometidas simultaneamente diversas áreas do sistema nervoso central. Carla Bertelli – 5° Período A esclerose lateral amiotrófica (doença de Lou Gehrig) é uma doença confinada aos tratos corticospinais e aos motoneurônios das colunas cinzentas anteriores da medula espinal. Raramente é familiar e hereditária em cerca de 10% dos pacientes. É uma doença crônica progressiva de etiologia desconhecida. Tipicamente, ocorre no final da meia-idade e é inevitavelmente fatal em 2 a 6 anos. É uma doença neurodegenerativa rara, caracterizada pela paralisia progressiva da musculatura voluntária refletindo a degeneração dos neurônios motores no córtex motor primário, vias corticoespinais,tronco cerebral e medula espinal Há muitos mecanismos envolvidos no processo de degeneração do neurônio motor. Parece que o indivíduo com ELA tem uma base genética de predisposição para o seu desenvolvimento, desde que certos genes sejam ativados em situações especiais. A maioria dos casos de ELA é do tipo esporádica, causa ainda é desconhecida, mas cerca de 5 a 10% dos casos têm base genética bem determinada, de herança autossômica tanto dominante como recessiva, com vários lócus gênicos já determinados. O conhecimento desses genes e dos seus mecanismos de expressão permite um melhor entendimento da doença. A diversidade dos genes envolvidos na ELA familiar ilustra a complexidade da doença. A maioria dos genes relacionados com as formas familiares determina defeito de função e agregação de proteínas intranuclear e extranuclear, decorrentes de defeitos do RNA. Seu processo patológico se caracteriza por grande seletividade do sistema motor (não acomete funções cognitivas ou sensitivas). Dentro do próprio sistema motor existe seletividade: a musculatura ocular extrínseca e os nervos parassimpáticos sacrais (esfíncter anal e urinário) costumam estar preservados. Mecanismos Envolvidos: Toxicidade ambiental, excitotoxicidade, estresse oxidativo, fatores tróficos, disfunção mitocondrial, apoptos, anormalidades do citoesqueleto, agregação proteíca, alterações metabólicas, ativação microglial, infecções viróticas, autoimunidade • A sintomatologia depende das áreas acometidas, sendo mais comum a incoordenação motora, fraqueza e dificuldades na visão. • A doença, de origem autoimune, é progressiva, com surtos sintomáticos e períodos de remissão que evoluem ao longo de vários anos Nos pacientes com esclerose lateral amiotrófica, observam-se, entre as síndromes dolorosas mais frequentes, dor miofascial, dor relacionada à espasticidade, câimbras dolorosas, ombro doloroso, dor relacionada à imobilidade e dor difusa. A dor neuropática não é usual nesses pacientes. Inclusive, existem evidências de que a incidência de dor neuropática nessa população seja menor do que na população em geral. A esclerose lateral amiotrófica (ELA) exibe deterioração em meses e desfecho em poucos anos ELA, doença do neurônio motor (DNM), doença de Charcot e doença de Lou Gehrig são nomes utilizados para caracterizar a doença pelo mundo. Comumente, a ELA é um termo usado para designar um espectro de síndromes neurodegenerativas, apesar de frequentemente caracterizar a forma apendicular das doenças do neurônio motor Os sintomas podem caracterizar uma síndrome relacionada ao neurônio motor superior ou inferior, achado típico da ELA. A presença de sintomas e sinais característicos permite melhor caracterização do sítio topográfico envolvido, possibilitando diagnósticos clínicos mais precisos. 1. A disfunção do neurônio motor superior (DNMS) é caracterizada pela presença de fraqueza, reflexos tendíneos vivos e reflexos anormais. 2. A disfunção do neurônio motor inferior (DNMI) é caracterizada pela presença de fraqueza, fasciculações, atrofia e atonia. 3. A disfunção dos neurônios motores do tronco cerebral é caracterizada pela presença de disfagia e disartria • Aproximadamente 2/3 dos pacientes com ELA exibem a forma apendicular (clássica “forma de Charcot”) relacionada à fraqueza muscular focal, com início dos sintomas podendo ser distal ou proximal (menos comum) nos membros superiores e membros inferiores. Raramente, os pacientes podem notar atrofia antes do início da fraqueza, podendo apresentar espasticidade e perda de destreza. • Podem ser notadas fasciculações (espasmos musculares involuntários) ou cãibras anteriores ao Carla Bertelli – 5° Período aparecimento de fraqueza, mas comumente esses sintomas acompanham a progressão da perda motora e representam degeneração neuronal. • A fraqueza geralmente tem início insidioso, e os pacientes podem notar que os sintomas são exacerbados por alterações térmicas. Embora sejam geralmente assimétricos de início, outros membros desenvolvem fraqueza e atrofia e, cedo ou tarde, a maioria dos pacientes passa a desenvolver sintomas bulbares e respiratórios (embora não necessariamente nessa sequência). • Gradualmente, a espasticidade pode se desenvolver nos membros enfraquecidos e atróficos, afetando a destreza manual e a marcha. Diagnóstico – Baseado na presença de achados clínicos característicos, em conjunto com investigações para exclusão de síndromes mimetizadoras da ELA (p.ex., mielorradiculopatia cervical). As últimas condições podem levar a um erro de diagnóstico em 5 a 10% dos casos. A constatação clínica de sinais sugestivos da combinação entre o NMS e o NMI, que não pode ser explicado por qualquer processo de outra doença é sugestivo de ELA. Não existem exames complementares específicos. Por isso, a Federação Internacional de Neurologia definiu critérios para o diagnóstico clínico Divide-se o corpo em 4 regiões: • Bulbar – Músculos faciais e orofaríngeos • Cervical – Diafragma pra cima • Torácica – Dorso e abdome • Lombossacra – Do abdome para baixo A presença de sinais e sintomas de primeiro e segundo neurônio motor no território bulbar e mas em duas outras regiões, ou nas 3 regiões não bulbares ao mesmo tempo define o diagnóstico de ELA Dizemos que a ELA é provável quando apenas duas regiões não bulbares apresentam esses achados. O diagnóstico de ELA requer uma evidência de degeneração do NMI por exame clínico, eletrofisiológico ou neuropatológico, provas de degeneração NMS pelo exame clínico e difusão progressiva dos sintomas ou sinais dentro de uma região ou de outras regiões, como determinado pela história ou exame, em conjunto com a ausência de evidência eletrofisiológica e achados patológicos de outras doenças que possam explicar os sinais de NMI e/ou degeneração de NMS, e a evidência em neuroimagem de outros processos de doença que possam explicar os sinais clínicos observados em eletrofisiologia Exame eletroneuromiográfico: confirmar a presença de comprometimento do NMI em regiões clinicamente comprometidas. Identificar o envolvimento de NMI em regiões clinicamente não comprometidas, aparentemente. Excluir outras doenças. Neuroimagem: excluir outras doenças que poderiam mimetizar DNM/ELA. Exames laboratoriais clínicos: excluir outras doenças ELA Utilização de novos métodos eletrofisiológicos, de neuroimagem, de imuno¬histoquímica e de exames de DNA. Estudos eletrofisiológicos/eletroneuromiografia: para documentar a disfunção motora inferior em pacientes com regiões clinicamente envolvidas e não envolvidas, e também para excluir outros processos de doença. O exame clínico e o neurofisiológico são utilizados no diagnóstico de ELA quando o diagnóstico é suspeitado clinicamente, e alterações neurofisiológicas sugestivas por si só não podem elucidar o diagnóstico sem suporte clínico; elas fazem parte do estudo neurofisiológico.
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