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Síndrome Coronariana Aguda SCA Síndrome coronariana aguda (SCA): isquemia miocárdica (angina pectoris instável) ou infarto (com ou sem supradesnivelamento concomitante do segmento ST). Angina instável: dor torácica cardíaca nova, progressiva (mais grave, prolongada ou frequente do que episódios anteriores de angina), ou ocorrendo em repouso, sem evidências sorológicas de necrose de miócitos, ou seja, sem elevação de concentrações séricas de troponina ou isoenzima MB da creatinoquinase (CK-MB). Infarto agudo do miocárdio (IAM): dor torácica cardíaca com evidências sorológicas de mionecrose. Como a angina instável e o IAM sem supradesnivelamento do segmento ST são caracterizados pela ausência de supradesnivelamento do segmento ST, eles são denominados SCA sem supradesnivelamento do segmento ST ou SCA-SSST. Diz-se que o paciente com dor torácica de origem cardíaca e de início agudo, evidências sorológicas de mionecrose e supradesnivelamento do segmento ST persistente (> 20 minutos) tem um IAM com supradesnivelamento do segmento ST. Angina Angina estável: desconforto no peito que ocorre de forma previsível e reprodutível em um determinado nível de esforço, com duração média de 1 a 5 minutos, é aliviada com repouso ou com nitratos e cujas características não se alteram no período de 2 meses. A angina estável é o quadro clínico inicial da doença cardíaca isquêmica em 50% dos casos. TTO: fatores de risco, MEV, nitrato quando dor. Angina instável: > 20 minutos, desencadeada por esforços menores ou até mesmo em repouso. Não melhora com repouso. Progressivo. Dor torácica Tipo A: definitivamente anginosa: desconforto retroesternal precipitado pelo esforço, com irradiação típica para o ombro, mandíbula ou face interna do braço esquerdo, aliviado pelo repouso ou nitrato. Características que dão certeza de SCA, independentemente dos exames complementares. Tipo B: provavelmente anginosa: dor torácica cujas características faz da SCA a principal hipótese diagnóstica, porém com necessidade de exames complementares para a confirmação do diagnóstico. Tem a maioria das características da dor definitivamente anginosa, podendo ser típica sob alguns aspectos, mas atípica em outras. FATORES DE RISCO PARA DAC - Idade (homens > 55 e mulheres > 65 anos) - Tabagismo - Dislipidemias: triglicérides ≥ 150 mg/dL - LDL colesterol > 100 mg/dL; HDL 40 mg/dL - Diabetes melito - História familiar prematura de doença cardiovascular: homens < 55 anos e mulheres < 65 anos - Hipertensão arterial sistêmica FISIOPATOLOGIA O evento precipitante em quase todos os indivíduos com SCA-SSST é a ruptura ou erosão da placa aterosclerótica em artéria coronária, com subsequente agregação plaquetária e formação de trombo, levando à oclusão subtotal da artéria envolvida (IAM do tipo 1). Em um paciente ocasional, a oclusão total trombótica da artéria leva a SCA-SSST, em vez de IAM com supradesnivelamento do segmento ST, quando irrigação colateral substancial perfunde a região do miocárdio distal à artéria ocluída. Alguns pacientes apresentam incompatibilidade entre o aporte e a demanda de oxigênio do miocárdio, causada por um processo secundário que não seja a doença da artéria coronária (IAM do tipo 2). Ruptura de placa A ruptura ou erosão da placa aterosclerótica em artéria coronária é o evento inicial na maioria dos pacientes com SCA-SSST. Inflamação local e sistêmica, características mecânicas e alterações anatômicas contribuem para a transformação de uma placa aterosclerótica estável em uma placa chamada vulnerável, cuja ruptura desencadeia aderência, ativação e agregação plaquetária, com subsequente formação de trombo. Deposição de LDL na oxidada na parede da artéria coronária → estimula resposta inflamatória → acúmulo de macrófagos e linfócitos T na borda da placa → essas células inflamatórias secretam citocinas (fator de necrose tecidual, interleucina-1, interferona), que inibem a síntese e a deposição do colágeno e enzimas (metaloproteinases de matriz e catepsinas), que promovem a degradação do colágeno e da elastina → tornando a capa fibrosa vulnerável à ruptura. As capas fibrosas finas têm maior probabilidade de erodir ou romper do que as grossas. Locais de baixo estresse de cisalhamento (bifurcações vasculares), têm produção reduzida de substâncias vasodilatadoras endoteliais (óxido nítrico e prostaciclina), acúmulo acelerado de lipídios e células inflamatórias, degradação aumentada da matriz extracelular e adelgaçamento da capa fibrosa, todos contribuindo para a instabilidade da placa. Neovascularização da placa aterosclerótica: peptídios angiogênicos (fatores de crescimento de fibroblastos, fator de crescimento endotelial vascular, fator de crescimento placentário, oncostatina M e fator induzível por hipóxia), que é secretado por células musculares lisas, células inflamatórias e plaquetas. Essa neovascularização contribui para o crescimento do ateroma e para o tráfego de leucócitos, hemorragia de placa e desestabilização. Formação de trombo Após a erosão ou ruptura de uma placa vulnerável, as plaquetas circulantes aderem às proteínas subendoteliais expostas, após as quais são ativadas. Com a ativação, as plaquetas mudam de formato de discoide para estrelado, aumentando a área de superfície na qual a formação de trombina pode ocorrer. As plaquetas então liberam o conteúdo de seus grânulos intracelulares (tromboxano, serotonina, difosfato de adenosina [ADP], fator de von Willebrand, fibrinogênio) no ambiente imediato e promovem vasoconstrição focal do segmento arterial adjacente e ativação de plaquetas próximas. As plaquetas também aumentam o número de receptores da glicoproteína IIb/IIIa em sua superfície e a afinidade desses receptores para se ligarem ao fibrinogênio circulante. O resultado é a agregação plaquetária, que ocorre quando o fibrinogênio se liga aos receptores da glicoproteína IIb/IIIa das plaquetas adjacentes, criando assim um “tampão plaquetário”. Com a formação do tampão plaquetário, o sistema de coagulação se ativa e gera trombina, que é um poderoso estimulador da ativação e agregação plaquetária. A trombina também converte o fibrinogênio em fibrina, que é incorporada ao trombo. A oclusão arterial coronariana subtotal por esse trombo rico em plaquetas compromete o fluxo sanguíneo na artéria envolvida, resultando em um desequilíbrio do suprimento e da demanda de oxigênio dos miócitos perfundidos pela artéria. A embolização distal de trombos ricos em plaquetas no local de uma placa rompida pode contribuir para o comprometimento do fluxo sanguíneo. Se o desequilíbrio entre oferta e demanda for transitório, os miócitos envolvidos tornam-se isquêmicos, mas não morrem porque a isquemia é de duração insuficiente para causar necrose. O paciente tipicamente se queixa de dor torácica cardíaca em repouso, mas não há evidências sorológicas de mionecrose (concentrações séricas elevadas de troponina ou CK-MB), e ocorre na angina instável. Se o desequilíbrio entre oferta e demanda for sustentado, os miócitos isquêmicos começam a morrer e ocorre o infarto. O paciente tipicamente se queixa de dor torácica de origem cardíaca em repouso e as evidências sorológicas de mionecrose confirmam o diagnóstico de IAM SSST. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Pressão retroesternal, contração ou sensação de peso que pode ser intermitente e recorrente ou persistente. Se os episódios forem intermitentes e recorrentes, a duração de cada episódio pode variar de apenas alguns minutos a várias horas. A dor torácica pode irradiar para o braço esquerdo, pescoço ou mandíbula e pode ser acompanhada por diaforese, náuseas, dor abdominal, dispneia ou síncope. Equivalente anginoso: apresentações atípicas, dor ou desconforto torácico vago, dor epigástrica, indigestão de início agudo, fadiga inexplicada ou dispneia. São frequentes em pacientes mais jovens (25 a 40 anos) e mais velhos (> 75 anos), mulheres e pacientes com diabetes melito, insuficiência renal crônica ou demência. Exame físico: achados normais, evidências de disfunção ventricular esquerda, como estertoresbasilares ou galope ventricular, hipotensão ou hipoperfusão periférica. Excluir outras causas potenciais dos sintomas do paciente, incluindo as não cardíacas (costocondrite, pneumotórax, embolia pulmonar, pneumonia) e outras doenças cardíacas não atribuíveis à isquemia miocárdica (dissecção aórtica, pericardite, hipertensão arterial sistêmica grave, arritmias). DIAGNÓSTICO Condições que aumentam a probabilidade de o paciente sintomático apresentar isquemia miocárdica ou IAM incluem idade avançada, diabetes melito, doença vascular extracardíaca e dor torácica irradiando para o braço esquerdo, pescoço ou mandíbula como o sintoma inicial. A isquemia miocárdica é altamente provável se os sintomas anginosos forem acompanhados por anormalidades de ECG (ondas Q, infradesnivelamento do segmento ST ou supradesnivelamento ≥ 1 mm de magnitude ou inversão da onda T em múltiplas derivações precordiais) ou concentrações séricas elevadas de troponina ou CK-MB. É importante indagar sobre o uso de cocaína e metanfetaminas no paciente com suspeita de SCA, principalmente em menores de 40 anos ou com poucos fatores de risco tradicionais para aterosclerose. Essas substâncias psicoativas aumentam a demanda miocárdica de oxigênio e diminuem o suprimento de oxigênio ao causar vasoespasmo e trombose. Análise toxicológica da urina quando houver suspeita de abuso de substância psicoativa como causa de SCA. Eletrocardiograma Um ECG, que deve ser realizado e interpretado nos primeiros 10 minutos após a chegada do paciente ao hospital, é particularmente valioso se obtido durante um episódio sintomático. Se o paciente apresentar supradesnivelamento persistente (> 20 minutos) do segmento ST, a terapia de reperfusão imediata deve ser iniciada. Alterações transitórias do segmento ST que se desenvolvem durante um episódio sintomático em repouso e desaparecem quando o paciente está assintomático sugerem fortemente SCA-SSST. Infradesnivelamento do segmento ST (ou supradesnivelamento transitório do segmento ST) e anormalidades da onda T ocorrem em até 50% dos pacientes com SCA-SSST. Um ECG completamente normal não exclui a possibilidade de SCA-SSST; cerca de 5% dos pacientes que recebem alta do departamento de emergência e são diagnosticados com SCA apresentam um ECG normal. Isquemia ou infarto no território da artéria coronária circunflexa esquerda frequentemente escapa da detecção com um ECG padrão de 12 derivações, mas pode ser detectado com as derivações do lado direito (V4R e V3R) ou derivações posteriores (V7 a V9). No paciente cujo ECG inicial é normal, ECG seriados (intervalos de 15 a 30 minutos durante a primeira hora) devem ser realizados rotineiramente e durante episódios sintomáticos, e devem ser comparados com traçados anteriores para identificar novas anormalidades no segmento ST ou na onda T. A inversão da onda T simétrica e profunda (> 2 mm) nas derivações anteriores está frequentemente associada a uma estenose hemodinamicamente significativa da artéria coronária descendente anterior esquerda (DAE) proximal ou esquerda principal. Biomarcadores séricos A anamnese inicial, o exame físico e o ECG sozinhos não conseguem confirmar ou excluir um SCA. Os modernos testes de alta sensibilidade podem detectar a troponina no sangue dentro de 2 horas do início dos sintomas em pacientes com IAM-SSST. Um nível indetectável de troponina de alta sensibilidade na apresentação ao hospital reduz a probabilidade de IAM para menos de 1% e pode identificar dois terços dos pacientes de risco muito baixo que podem ser enviados para casa com segurança. Com os ensaios convencionais, as elevações da troponina são geralmente detectáveis em até 4 horas após o início da mionecrose, mas a detecção pode demorar até 8 horas em alguns indivíduos. Como uma única medição normal da troponina sérica é insuficiente para excluir IAM em um paciente com sintomas recentes, os pacientes com suspeita de IAM são geralmente observados, com uma medição repetida da troponina (e um ECG repetido) de 3 a 6 horas após o início dos sintomas ou sempre que houver recorrência da dor no peito. Os níveis de troponina sérica também ajudam na estratificação de risco agudo de todos os pacientes com SCA no momento da chegada do paciente ao hospital. Exames complementares: radiografia de tórax (dissecção de aorta), teste de esforço, angiocoronariografia por TC com multidetectores (descartar DAC), ecocardiograma (miocardite, dissecção aórtica ou embolia pulmonar). Cineangiocoronariografia: pacientes considerados de alto risco de morte, IAM ou isquemia recorrente nos dias, semanas e meses seguintes, pacientes com isquemia miocárdica espontânea ou induzível, apesar da terapia clínica apropriada; e em pacientes com apresentação clínica indeterminada ou difícil e subsequente avaliação não invasiva inconclusiva. Os resultados da cineangiocoronariografia ajudam a determinar se a revascularização é apropriada e, se for o caso, se deve ser realizada por cirurgia ou intervenção coronariana percutânea (ICP). Infarto Agudo do Miocárdio IAM SEM SUPRA DE ST Tipos de IAM Tipo 1: infarto miocárdico espontâneo Obstruções aterotrombóticas agudas. Infarto espontâneo relacionado a ruptura, ulceração, fissura, erosão, dissecção ou exposição de nódulo calcificado de placa aterosclerótica de uma ou mais artérias coronárias, levando a diminuição do fluxo sanguíneo miocárdico ou êmbolo plaquetário distal com consequente necrose miocárdica. Tipo 2: infarto miocárdico secundário a desequilíbrio isquêmico Desequilíbrio entre oferta e demanda de oxigênio. Lesão e necrose miocárdica quando uma condição que não a DAC contribui para um desequilíbrio entre a oferta do oxigênio miocárdico e/ou demanda. Predomínio de redução de oferta: - Espasmo coronariano - Embolia coronariana - Disfunção coronariana endotelial - Dissecção coronariana espontânea - Hipotensão grave - Anemia grave - Hipóxia grave - Bradiarritmia Predomínio de aumento de demanda: - Taquiarritmia - Hipertensão grave Condições clínicas que contribuem com redução de oferta e aumento de demanda: sepse, insuficiência cardíaca, fibrilação atrial de alta resposta ventricular, taquicardia supraventricular prolongada, emergência hipertensiva. Tipo 3: infarto miocárdico resultante em morte com biomarcadores indisponíveis Morte cardíaca com sintomas sugestivos de isquemia miocárdica e alterações isquêmicas presumivelmente novas no ECG (incluindo BRE), mas a morte ocorreu antes da coleta de amostras sanguíneas, antes de detectar aumento/queda de biomarcador ou simplesmente não foram coletados. Tipo 4a: infarto miocárdico relacionado a intervenção coronariana percutânea Infarto miocárdico associado com intervenção coronariana percutânea (ICP). Angioplastia. Tipo 4b: infarto miocárdico relacionado a trombose de stent Infarto miocárdico definido pelos mesmos critérios do tipo 1, adicionando o achado de trombose de stent detectado por angiografia coronariana ou autópsia. Tipo 5: infarto miocárdico relacionado a cirurgia de revascularização miocárdica Infarto miocárdico associado com cirurgia de revascularização miocárdica (CRVM). Critérios diagnósticos (1) Elevação e/ou queda de troponina cardíaca, com pelo menos um valor de troponina acima do percentil 99% do limite superior da normalidade e um dos abaixo: - Sintomas de isquemia miocárdica aguda; - Alterações isquêmicas eletrocardiográficas; - Desenvolvimento de ondas Q patológicas; - Evidência em exame de imagem de perda nova de miocárdio viável ou nova alteração de mobilidade segmentar em padrão consistente com etiologia isquêmica; - Identificação de trombo coronariano por angiografia ou por autópsia. (2) Elevação e/ou queda de troponina cardíaca, com pelo menos um valor de troponina acima do percentil 99% do limite superior da normalidade e evidência de desequilíbrio entre oferta de oxigênio miocárdico e demanda não relacionados a trombose coronariana e um dos abaixo: - Sintomas de isquemia miocárdica aguda; - Alterações isquêmicas eletrocardiográficas; - Desenvolvimento de ondasQ patológicas; - Evidência em exame de imagem de perda nova de miocárdio viável ou nova alteração de mobilidade segmentar em padrão consistente com etiologia isquêmica. (3) Morte cardíaca com sintomas sugestivos de isquemia miocárdica acompanhada por alterações isquêmicas presumivelmente novas ou fibrilação ventricular e sem possibilidade de coleta de sangue para marcadores, ou cujo infarto é detectado na autópsia. (4a) IAM relacionado à ICP é definido como elevação de troponina cardíaca acima de 5x o valor do percentil 99% do limite superior da normalidade quando o valor basal é normal ou elevação de troponina > 20% e valor absoluto acima de 5x do valor do percentil 99%, quando o valor basal da troponina já é acima do percentil 99% do limite superior da normalidade e a curva prévia de troponina era estável ou até em queda (≤ 20% de variação). Além disso, um dos fatores a seguir: - Alterações isquêmicas eletrocardiográficas; - Desenvolvimento de ondas Q patológicas; - Evidência em exame de imagem de perda nova de miocárdio viável ou nova alteração de mobilidade segmentar em padrão consistente com etiologia isquêmica; - Achados angiográficos compatíveis com complicação que limita o fluxo coronariano. (4b) IAM relacionado a ICP (intervenção coronária percutânea) associada a trombo. Mesmos critérios do tipo 1, adicionando identificação de trombo intrastent por angiografia ou na necrópsia. (5) IAM relacionado à cirurgia de revascularização miocárdica é definido como elevação de troponina cardíaca acima de 10x o valor do percentil 99% do limite superior da normalidade quando o valor basal é normal ou elevação de 20% e valor absoluto acima de 10x do valor do percentil 99%, quando o valor basal da troponina já é acima do percentil 99% do limite superior da normalidade e a curva prévia de troponina era estável ou até em queda (≤ 20% de variação). Além disso, um dos fatores a seguir: - Desenvolvimento de ondas Q patológicas; - Evidência em exame de imagem de perda nova de miocárdio viável ou nova alteração de mobilidade segmentar em padrão consistente com etiologia isquêmica; - Achados angiográficos compatíveis com nova oclusão de enxerto ou coronária nativa. IAM sem obstrução coronariana (MINOCA) IAM com curva enzimática mas sem obstrução coronariana, presente em 5-6% dos casos de infarto. Se apresenta com pouca expressão eletrocardiográfica e pouca elevação de troponina, mas pode até ter supradesnivelamento de segmento ST. O critério diagnóstico é um IAM que preenche (A) a quarta definição universal de IAM, (B) ausência de obstrução coronariana na angiografia (estenose de ≥ 50% em vasos principais e/ou FFR (fração de reserva de fluxo coronariano) > 0,8); (C) ausência de critério de IAM tipo 2. Mecanismos: ruptura de placa com trombose transitória, vasoespasmo coronariano, disfunção microvascular, dissecção coronariana. Recomenda-se monitorização para arritmias graves, uso de dupla antiagregação, estatinas, IECA, betabloqueadores e redução de fatores de risco. Se o espasmo coronariano for diagnóstico, o paciente pode receber bloqueador de canal de cálcio. O prognóstico é melhor do que o do IAM tradicional. A investigação do MINOCA continua após a angiografia com ressonância magnética para investigar miocardite, Takotsubo e miocardiopatia. Angina vasoespástica A angina vasoespástica é definida por 3 critérios: - Angina que responde a nitrato. Episódio espontâneo e um dos seguintes: angina com início em repouso (preferencialmente à noite ou cedo), variação diurna em tolerância a exercício (em geral reduzida de manhã), hiperventilação pode precipitar um episódio, bloqueadores de canal de cálcio podem aliviar um episódio, mas betabloqueadores, não. - Alterações de ECG transitórias. Episódio espontâneo e um dos seguintes em duas derivações: supra ST ≥ 1 mm, infra ST ≥ 1 mm ou novas ondas U negativas. - Espasmo coronariano: oclusão total ou subtotal (pelo menos 90%) transitória com alterações de ECG em episódio espontâneo ou provocado por acetilcolina, ergot ou hiperventilação. São fatores de risco tabagismo, resistência à insulina e herança familiar. O quadro é desencadeado por mudança de atividade autonômica, efedrina ou similares (cocaína, álcool, butano, sumatriptano, anfetaminas), intervenção coronariana, botulismo, deficiência de magnésio. Pode se apresentar com padrão de episódios recorrentes. A dor é indistinguível da angina clássica, exceto pelo contexto. Episódios ocorrem em geral em repouso, preferencialmente à noite ou cedo. No departamento de emergência, em muitos casos, não será possível diferenciar de angina instável e será necessária uma estratificação invasiva para determinar o diagnóstico. As alterações de ECG da SCA não se resolvem geralmente com nitrato ou bloqueador de canal de cálcio. Em pacientes com aterosclerose coronariana e angina vasoespástica, pode ocorrer IAM. Existe associação de angina vasoespástica com arritmias, inclusive arritmias malignas. Diagnósticos diferenciais incluem IAM com supra, pericardite aguda, síndrome de Takotsubo, repolarização precoce, angina microvascular (síndrome X) e espasmo esofageano. Tratamento de primeira linha é com bloqueador de canal de cálcio – previne vasoconstrição e promove vasodilatação. Nitratos também são efetivos. Deve-se repor magnésio se houver deficiência. Não oferecer betabloqueadores não seletivos (como o propranolol), pois exacerbam o vasoespasmo. Evitar triptanos. - Diltiazem: 240-360 mg/d - Anlodipina: 5-10 mg/d - Nifedipina: 30-90 mg/d - Dinitrato: 5 mg - Mononitrato: 10-40 mg - Propatilnitrato: 15-30 mg ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO Classificação de Killip: Escore TIMI-NSTEMI: Em pacientes com risco baixo ou intermediário, exames não invasivos podem excluir o diagnóstico como um teste de estresse (preferencialmente com imagem) ou a angiotomografia de coronárias. Os pacientes com confirmação de IAM devem ser internados e submetidos a estratificação coronariana invasiva. Pacientes são considerados de baixo risco para desenvolver arritmias cardíacas desde que não apresentem nenhum dos seguintes critérios: - Instabilidade hemodinâmica. - Arritmia na apresentação. - Fração de ejeção do ventrículo esquerdo < 40%. - Reperfusão incompleta. - Estenose coronariana crítica de vasos principais ou complicações relacionadas à revascularização percutânea. Pacientes com baixo risco para o desenvolvimento de arritmias cardíacas requerem monitorização do ritmo cardíaco ≤ 24 h ou até a revascularização coronariana (o que ocorrer primeiro) em uma unidade de cuidados intermediários ou unidade coronariana. Indivíduos com alto risco de arritmia cardíaca necessitam de monitorização do ritmo por > 24 h em uma unidade de cuidados intensivos. RISCO DE SANGRAMENTO O tratamento das síndromes coronarianas envolve medicações antitrombóticas. Por isso, uma avaliação do risco de sangramento é fundamental e impacta na escolha dos antitrombóticos e no tempo que serão prescritos. Para estimar o risco de sangramento podem ser usados os escores de risco CRUSADE, ACUITY e PRECISE-DAPT. Outra alternativa recomendada pelo consenso europeu de SCA sem supra é o escore ARC-HBR. No departamento de emergência, o impacto de identificar alto risco de sangramento é na escolha do segundo antiagregante. Em geral, deve-se preferir o clopidogrel. Pacientes sem fibrilação atrial e com risco de sangramento alto ou muito alto devem usar clopidogrel como segundo antiagregante. Em pacientes com fibrilação atrial e sem prótese valvar mecânica a recomendação é terapia tripla incluindo anticoagulante oral direto (apixabana 5 mg 2x/d, dabigratrana 110 ou 150 mg 2x/d, edoxabana 60 mg/d, ou rivaroxabana 15 ou 20 mg/d). O segundo antiagregante escolhido deve ser preferencialmente clopidogrel, em pacientes com risco maior de sangramento. A terapia tripla deverá ser mantida por pelo menos uma semana, dependendo do risco de sangramento. Finalmente, em pacientes com prótese valvar mecânica a anticoagulação com warfarina é obrigatória. Nesse caso, a anticoagulação inicialé com terapia tripla (AAS + warfarina + clopidogrel). TRATAMENTO MOVE: Monitorização não invasiva contínua (no mínimo com pressão arterial, frequência cardíaca e cardioscopia). Oxigênio suplementar se saturação periférica de oxigênio < 90% ou se desconforto respiratório (4L/min). Acesso venoso periférico garantido para coleta de exames e infusão de medicações. ECG de 12 derivações que deve ser interpretado por um médico em até 10 minutos da admissão do paciente. Terapia de antiagregação e anticoagulação Ácido acetilsalicílico (AAS): 150-300 mg (recomendação 300 mg) VO na admissão, seguido por 100 mg VO 1x/dia é indicado em todos os pacientes com suspeita de SCA; desde que não haja suspeita de uma síndrome aórtica significativa. O AAS inibe irreversivelmente a atividade da ciclooxigenase (COX-1), reprime a produção de tromboxano A2 e interage negativamente na agregação plaquetária. Segundo antiagregante: estudos não mostraram benefício isquêmico do pré-tratamento e ainda mostraram malefício por aumento da probabilidade de sangramento. O pré-tratamento é a estratégia de medicar o paciente antes do tratamento invasivo (cineangiocoronariografia com vistas à angioplastia). Isso significa que não há indicação de oferecer um segundo antiagregante em pacientes que irão realizar uma estratégia invasiva. O segundo antiagregante deve ser feito após conhecer a anatomia coronariana, no momento da decisão de realizar a angioplastia. Em locais onde não há acesso a um serviço de hemodinâmica, é indicação classe IIb, nível de evidência C o uso do segundo antiagregante desde que o paciente não tenha um alto risco de sangramento. - Prasugrel: 60 mg VO na admissão, seguido por 10 mg VO 1x/dia. Inibidor irreversível do receptor P2Y12, contraindicado em maiores de 75 anos, com peso corporal menor 60 kg, ou com história de AVC ou AIT. Apresenta início de ação rápido (30 minutos-4 horas). Superior ao clopidogrel e ticagrelor. - Ticagrelor: 180 mg VO na admissão, seguido por 90 mg VO 2 x/dia. É um inibidor do receptor P2Y12 oral, de ligação reversível, que reduz a agregação plaquetária. Tem início de ação mais rápido (30 minutos-2 horas). Efeitos adversos incluem dispneia (sem broncoespasmo), aumento da frequência de pausas ventriculares assintomáticas e aumento do ácido úrico. Superior ao clopidogrel. - Clopidogrel: 300-600 mg na admissão, seguido por 75 mg VO 1x/dia. Apresenta tempo de início de ação demorado (2-6 horas), resultados inferiores ao ticagrelor e ao prasugrel, é metabolizado de forma variável pelo citocromo p450, apresentando variabilidade farmacodinâmica e farmacocinética individual. Anticoagulação: indicada para todos os pacientes com diagnóstico de SCA de risco intermediário ou alto para inibir a geração e a atividade da trombina, reduzindo os eventos relacionados ao trombo. Tempo porta-balão de 2h: se demorar mais do que isso para CAT usar heparina, se não, não usar. - Heparina não fracionada: 60-70 U/kg (máximo 5.000 U) EV, seguido por infusão de 12-15 U/kg/h ajustável para manter TTPA entre 1,5-2,5x o controle. - Enoxaparina: 1 mg/kg SC 2x/dia. Pacientes com ClCr 15-29 devem receber 1 mg/kg SC 1x/dia. Pacientes > 75 anos devem receber 0,75 mg/kg SC 2x/dia. Não recomendada para ClCr < 15. O monitoramento da atividade anti-Xa não é necessário, exceto nos pacientes em que ClCr 15-29 ou peso corpóreo > 100 kg. Em pacientes tratados com enoxaparina, não é recomendada dose adicional durante o cateterismo se a última injeção foi administrada há menos de 8 h, enquanto dose adicional de 0,3 mg/kg IV bolus é recomendada se a última dose foi ≥ 8 h antes da PCI. - Fondaparinux: 2,5 mg SC 1x/dia. Não recomendado para ClCr < 20. Se o paciente for para cateterismo coronariano, será necessário um segundo anticoagulante, pois o fondaparinux isolado não inibe a formação de trombos junto aos cateteres. O seu benefício é como alternativa à heparina em pacientes com trombocitopenia induzida por heparina. - Bivalirudina: trata-se de um inibidor direto da trombina utilizado por via endovenosa e ainda não disponível no Brasil. Apresenta resultados semelhantes aos da enoxaparina nos estudos e redução na incidência de sangramentos graves; de qualquer forma, indisponível no país. - Hirudina e argatroban: são moléculas inibidoras diretas de trombina. Não estão disponíveis no Brasil. O seu benefício é como alternativa à heparina em pacientes com trombocitopenia induzida por heparina. - Abciximab e agrastat: são inibidores potentes plaquetários agindo na via final de ativação, o receptor da glicoproteína IIB-IIIA. A indicação de seu uso caiu após a dupla antiagregação plaquetária e atualmente a indicação é restrita à visibilização de trombos na coronariografia. Terapia anti-isquêmica O objetivo da terapia anti-isquêmica farmacológica é diminuir a demanda miocárdica de oxigênio (diminuindo a frequência cardíaca, a pressão arterial, a pré-carga e a contratilidade miocárdica) ou aumentar o suprimento de oxigênio no miocárdio (por administração de oxigênio ou através de vasodilatação coronariana). Se mesmo com o tratamento o paciente se mantiver com dor torácica intensa, é recomendada uma angiografia coronariana em duas horas independentemente dos achados do ECG e dos níveis de troponina (trata-se de uma das recomendações emergenciais no SCA sem supra). Em pacientes cujos sintomas isquêmicos não são aliviados por nitratos e betabloqueadores, a administração de morfina 2-3 mg IV é razoável enquanto se espera pela angiografia coronariana, com a ressalva de que a morfina pode retardar a absorção intestinal das medicações. Nitratos: inicialmente, a dor torácica deve ser aliviada com uso de nitrato sublingual. Pode ser usado o dinitrato de isossorbida 5 mg. Se não houver resposta satisfatória, a medicação pode ser repetida a cada 5 minutos por mais duas vezes. Os nitratos intravenosos (nitroglicerina 25 mg/5 mL 10 mL + SG 240 mL, correr EV BIC dose inicial de 5-10 mcg/min ou 1,5-3 mL/h) são indicados se não houver resposta ao tratamento com nitrato sublingual. Sob uma monitoração cuidadosa da pressão arterial, a dose deve ser titulada para cima até que os sintomas sejam aliviados e em pacientes hipertensos até a pressão arterial ser normalizada, a menos que surjam efeitos secundários (principalmente dor de cabeça ou hipotensão). Além do controle de sintomas, não há indicação para o tratamento com nitrato. Contraindicações: ingestão recente de um inibidor de fosfodiesterase tipo 5 (dentro de 24 h para sildenafil ou vardenafil e 48 h para tadalafil), devido ao risco de hipotensão grave. Outra contraindicação é o infarto de ventrículo direito (constatado por supra ST em V3R e V4R). Betabloqueadores: inibem competitivamente os efeitos miocárdicos das catecolaminas circulantes reduzindo a frequência cardíaca, a pressão arterial e a contratilidade miocárdica, diminuindo o consumo de oxigênio no miocárdio. A FC alvo é de aproximadamente 60 bpm. Não devem ser utilizados em pacientes com contraindicações aos betabloqueadores (PR > 240 ms, bloqueios atrioventriculares complexos e broncoespasmo), ou em pacientes com risco de desenvolver choque cardiogênico (sinais de insuficiência cardíaca e de baixo débito, idade > 70 anos, frequência cardíaca > 110 bpm ou < 60 bpm, pressão arterial sistólica < 120 mmHg) ou ainda em pacientes com sintomas possivelmente relacionados ao vasoespasmo coronariano ou ao uso de cocaína, pois podem favorecer o espasmo, deixando a vasoconstrição mediada por efeito alfa sem oposição pela vasodilatação mediada por beta. - Metoprolol 5 mg EV a cada 5 minutos (máximo de 3 doses). - Metoprolol 25-100 mg VO 1x/dia. - Propranolol 10-80 mg VO 2-3x/dia. Bloqueadores dos canais de cálcio: diminui o influxo de cálcio através da membrana celular, reduzindo a contratilidade miocárdica e o tônus vascular, a velocidade de condução atrioventricular (AV) e a atividade do nó sinusal. Os efeitos benéficos nas síndromes coronarianas se devem a uma combinação das suas ações, diminuindo o consumo miocárdico de oxigênio, após-carga, a contratilidade e a FC, além de aumentarem a oferta de oxigênio ao miocárdio, pela vasodilatação coronária que promovem. A vasodilatação coronariana originada é semelhante e independe do agente usado. Para controlar os sintomas, os antagonistas do cálcio são tão eficientes quanto os betabloqueadores, entretanto não reduzem a incidência de angina refratária, infarto ou óbito; ao contrário, parecem acentuar a incidência dessas complicações. As doses recomendadas são: - Verapamil 80 a 120 mg três vezes ao dia. - Diltiazem 60 mg três a quatro vezes ao dia. Na angina instável, o diltiazem tem sido o bloqueador de cálcio mais utilizado. Cateterismo cardíaco A angiografia coronariana invasiva tem papel central no manejo de pacientes com SCA. Tem como objetivos: - Confirmar o diagnóstico de SCA relacionado à DAC (ou descartar origem coronariana de dor torácica) e, como consequência, orientar o tratamento e evitar exposição desnecessária a agentes antitrombóticos. - Identificar a lesão culpada. - Avaliar a anatomia coronariana e estabelecer a indicação de revascularização coronariana por stent ou cirurgia de revascularização do miocárdio. - Identificar outras causas para dor, como fístula coronariana ou vasoespasmo. O momento da angiografia depende do quadro clínico do paciente e de suas características. Outras medicações Estatinas: recomenda-se iniciar terapia com estatina de alta intensidade (exemplo: atorvastatina 40 mg VO 1x/dia) na admissão em todos os pacientes com SCA. Inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA) (enalapril 5-20 mg VO 2x/dia) recomendados em pacientes com disfunção sistólica ou insuficiência cardíaca, hipertensão ou diabetes. Os bloqueadores do receptor de angiotensina são indicados em pacientes que são intolerantes (por tosse ou angioedema) aos IECA. Antagonista da aldosterona (espironolactona 25 mg VO 1x/dia): recomendado em pacientes com disfunção sistólica (fração de ejeção do ventrículo esquerdo ≤ 40%) e insuficiência cardíaca ou diabetes após SCA. Bloqueador de bomba de prótons (pantoprazol 40 mg VO 1x/dia) é indicado em pacientes com dupla antiagregação plaquetária com risco de sangramento digestivo: história de úlcera gástrica ou sangramento do trato gastrointestinal, uso de anticoagulantes, uso crônico de anti-inflamatórios não esteroidais ou corticóide ou 2 dos seguintes: ≥ 65 anos, dispepsia, doença do refluxo gastroesofágico, infecção por Helicobacter pylori ou uso de álcool. Os principais objetivos da reabilitação cardíaca, incluindo aconselhamento sobre atividade física, dieta, cessação do tabagismo, controle de peso e metas para controle de lipídios e pressão arterial devem ser indicados no relatório de alta do paciente. Medicações indicadas na SCA-SSST Antiagregante AAS 300 mg VO dose de ataque, seguida por AAS 100 mg VO ao dia Inibidor do receptor de ADP (no momento da angioplastia, ou no PS quando não haverá estratégia invasiva precoce) Prasugrel 60 mg VO dose de ataque, seguida por 10 mg ao dia (5 mg ao dia para pacientes com mais de 75 anos ou peso menor que 60 kg) Ticagrelor 180 mg VO dose de ataque, seguida de 90 mg a cada 12 horas Clopidogrel 300-600 mg VO dose de ataque seguida de 75 mg ao dia (usar clopidogrel apenas se prasugrel ou ticagrelor indisponíveis, não tolerados ou contraindicados) Anticoagulação Heparina não fracionada: 60 U/kg em bolus EV seguida de 12 U/kg/h (suficiente para manter TTPA entre 1,5-2,5). Diluição sugerida: 25.000 U de heparina em 500 mL de SG 5% Enoxaparina 1 mg/kg SC a cada 12 horas (0,75 mg/kg a cada 12 horas se mais de 75 anos. 1 mg/kg 1x/dia se clearance de creatinina < 30) Fondaparinux: 2,5 mg SC ao dia Vasodilatador Dinitrato de isossorbida: 5 mg SL a cada 5 minutos (máximo 15 mg) Nitroglicerina: dose inicial de 5-10 µg/min e aumento de infusão conforme necessidade para controle de dor. Diluição sugerida: 1 ampola (50 mg/10 mL) em 240 mL de SG 5% Betabloqueador Metoprolol 25-100 mg VO ao dia Hipolipemiantes Atorvastatina 40 mg ao dia IAM COM SUPRA DE ST É caracterizado por isquemia miocárdica aguda profunda (“transmural”) que afeta áreas relativamente maiores do miocárdio. A causa subjacente é essencialmente a interrupção completa do fluxo sanguíneo miocárdico regional. O infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST (IAMCST) é diagnosticado por manifestações clínicas compatíveis associadas a evidência de necrose miocárdica usando modalidades laboratoriais, eletrocardiográficas ou de imagem. Um eletrocardiograma deve ser realizado em até dois minutos da chegada do paciente e deve ser analisado em até 10 minutos para identificação de supradesnivelamento de segmento ST. A mortalidade hospitalar do IAMCST é similar à do IAMSST, mas a mortalidade em um ano tem uma tendência de ser menor em comparação a pacientes com IAMSST. Os preditores de mortalidade incluem dislipidemia não tratada com estatina, idade, diabetes e hipotensão. REDES DE TRATAMENTO PARA IAM O tratamento do IAM não ocorre apenas diante do paciente, mas também muito antes, com a estruturação da rede de tratamento. Não só o IAMCST tem indicação emergencial de estratificação invasiva, mas também o IAMSST com instabilidade hemodinâmica, instabilidade elétrica, dor incoercível, insuficiência mitral aguda e padrão de supra de aVR. O gerente de cada unidade de emergência deve buscar a sua inserção em uma rede de atendimento com unidades periféricas próximas aos pacientes, unidades centrais com serviços de hemodinâmica e cardiologia intervencionista (SHCI), e centrais de regulação. Devem ser seguidos critérios para transferência de pacientes e prever diferenças de tempo de transporte de acordo com a hora do dia e fazer planos diferentes para as diferentes contingências, seja o transporte para um SHCI diferente ou a administração de trombolítico. O serviço de transporte ou atendimento pré-hospitalar deve pleitear ou coordenar com a central de regulação o transporte de pacientes com IAM diretamente para hospitais com SHCI, evitando hospitais que não dispõem deste serviço. O hospital com SHCI deve se organizar para receber esses pacientes diretamente no laboratório de hemodinâmica sem necessidade de passar pelo departamento de emergência. É responsabilidade de cada médico no serviço cobrar essa coordenação do seu gerente médico e responsabilidade de cada gerente definir a rede de atendimento do IAM e inserção de seu serviço. Tão importante quanto a criação da rede e a estrutura para medir a qualidade do atendimento através de protocolos gerenciados é a avaliação periódica dos dados, por exemplo, em reuniões mensais. Essa avaliação gerenciada pode controlar o tempo porta-balão dos pacientes; identificar gargalos e dificuldades; propor melhorias e cobrar resultados. FISIOPATOLOGIA O mecanismo de iniciação usual do IAM é a fissura, ruptura ou erosão de uma placa coronariana aterosclerótica preenchida por lipídios, resultando na exposição do sangue circulante ao cerne da placa altamente trombogênica e os materiais da matriz. As plaquetas aderem, são ativadas e se agregam. A trombina é gerada, acelerando a ativação das plaquetas e a fibrina resultante “aprisiona” os eritrócitos e leva à formação de trombo. Um trombo com oclusão total resulta, tipicamente, em IAM CSST. Em comparação, a oclusão parcial, ou oclusão quando existe circulação colateral, resulta em SCA sem supradesnivelamento do segmento ST, frequentemente com infradesnivelamento do segmento ST ou inversão da onda T. A isquemia resultante da redução do fluxo coronariano provoca lesão ou morte das células miocárdicas, disfunção ventricular e arritmias cardíacas. A necrose miocárdica começa após 15 a 20 minutos da oclusão coronariana e prossegue rapidamente em uma frente de onda do endocárdio para o epicárdio. O resgate parcial do miocárdio pode ser obtido por reperfusão em 3 a 6 horas, sendo o grau de resgate inversamente proporcional à duração e à extensão da isquemia. A extensão da necrose miocárdica também depende da demanda metabólica e do suprimentosanguíneo colateral. IAM na ausência de aterosclerose coronariana epicárdica crítica representa cerca de 10% dos IAM. Os mecanismos incluem doença microvascular, disfunção endotelial, dissecção da artéria coronária, êmbolos coronarianos, trombose in situ, vasculite, vasoespasmo primário, doença infiltrativa ou degenerativa, doenças da aorta, anomalias congênitas de uma artéria coronária ou traumatismo. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O diagnóstico de IAM tradicionalmente se baseava na tríade de desconforto torácico do tipo isquêmico, anormalidades do eletrocardiograma (ECG) e biomarcadores cardíacos séricos de necrose elevados. O diagnóstico de IAM era feito quando existiam pelo menos dois dos três critérios. Graças às suas sensibilidade e especificidade crescentes, os níveis séricos de troponina cardíaca (troponina I [TnI] e troponina T [TnT]) assumiram um papel dominante na confirmação do diagnóstico de IAM em pacientes com características clínicas ou ECG sugestivos. Anamnese: desconforto torácico do tipo isquêmico ou atipicamente com dispneia, náuseas, desconforto epigástrico, mal-estar e/ou fraqueza inexplicada. Desconforto torácico do tipo isquêmico, geralmente o sintoma clínico mais proeminente no IAM, é percebido como sensação de queimação ou de pressão retroesternal intensa, persistente (> 10 a 20 minutos), difusa e profunda; raramente o IAM é percebido como dor aguda e geralmente a dor não é em caráter de facada. O desconforto associado ao IAM é qualitativamente semelhante ao da angina pectoris, embora seja mais intenso e persistente. A localização primária da dor isquêmica típica é mais consistentemente retroesternal, mas também pode se apresentar paraesternalmente à esquerda, precordialmente à esquerda ou na face anterior do tórax. Às vezes, o desconforto é percebido predominantemente na região anterior do pescoço, na mandíbula, nos braços ou no epigástrio. Geralmente é difusa; a dor bem localizada (ponta do dedo) raramente é angina ou IAM. O padrão mais característico de irradiação da dor é para o braço esquerdo, mas para o braço direito ou para ambos os braços também pode ocorrer. Os ombros, o pescoço, a mandíbula, os dentes, o epigástrio e as áreas interescapulares também são locais de radiação. Os sinais/sintomas associados incluem, com frequência, náuseas, vômitos, diaforese, fraqueza, dispneia, inquietação e apreensão. O desconforto provocado por IAM não é aliviado de forma confiável por repouso ou nitroglicerina. O início do IAM geralmente não está relacionado a exercício físico ou outros fatores precipitantes evidentes. No entanto, o IAM pode começar durante o estresse físico ou emocional ou algumas horas após e é mais comum nessa situação do que poderia ser atribuído ao acaso. Estima-se que pelo menos 20% dos IAM sejam indolores (“silenciosos”) ou atípicos (não reconhecidos). Pacientes idosos, especialmente mulheres, e diabéticos são particularmente propensos a IAM indolor ou atípico, que ocorre em até um terço a metade desses pacientes. Como o prognóstico é pior em pacientes idosos e diabéticos, é necessária vigilância diagnóstica. Nesses pacientes, o IAM pode se manifestar como dispneia súbita (que pode progredir para edema pulmonar), fraqueza, tontura, náuseas e vômito. Estados confusionais, perda súbita de consciência, um novo distúrbio do ritmo e uma queda inexplicável da PA são outras apresentações incomuns. O diagnóstico diferencial de desconforto torácico isquêmico também deve incluir distúrbios gastrintestinais (esofagite de refluxo), dor musculoesquelética (costocondrite), ansiedade ou ataques de pânico, pleurisia ou embolia pulmonar e dissecção aguda da aorta. Exame físico: geralmente normal ou pode revelar apenas anormalidades inespecíficas. Um galope por B4 é, com frequência, auscultado se for cuidadosamente pesquisado. Com frequência, a PA está elevada inicialmente, mas pode ser normal ou baixa. Sinais de hiperatividade simpática (taquicardia, hipertensão, diaforese ou qualquer combinação desses três) frequentemente acompanham o IAM de parede anterior, enquanto a hiperatividade parassimpática (bradicardia e/ou hipotensão) é mais comum no IAM de parede inferior. O exame é mais focado na avaliação geral da função cardíaca. A adequação dos sinais vitais e da perfusão periférica deve ser observada. Sinais de insuficiência cardíaca, tanto do lado esquerdo quanto do direito (p. ex., galope por B3, congestão pulmonar, veias do pescoço distendidas) devem ser procurados e a observação de arritmias e complicações mecânicas (novos sopros) é essencial. Se houver hipoperfusão, a determinação de sua causa primária (hipovolemia, insuficiência cardíaca direita, insuficiência cardíaca esquerda) é crítica para o manejo. ELETROCARDIOGRAMA Supradesnivelamento de segmento ST O coração é irrigado pelas coronárias direita e esquerda, sendo que esta última é dividida em artérias circunflexa e descendente anterior que irrigam: - Artéria descendente anterior: irriga a parede anterior, septal e ápice do ventrículo esquerdo que se expressa no ECG sequencialmente nas derivações de V1 a V6. - Artéria coronária circunflexa: irriga a parede lateral do ventrículo esquerdo e eventualmente a parede posterior que se expressa no ECG nas derivações DI e aVL. - Artéria coronária direita: irriga a parede inferior e eventualmente a parede posterior, no ECG: DII, DIII e aVF. Em homens esse padrão corresponde à obstrução da coronária direita em 95% dos casos. Em mulheres esse número cai para 85%. O segmento ST é o trecho do ECG entre o complexo QRS e a onda T. O ponto J é a deflexão que encerra o complexo QRS e inicia o segmento ST. O desvio do nível do segmento ST deve ser medido em relação à linha de base: o segmento PR. Em alguns casos deve-se ter atenção com o segmento PR, pois este pode estar desviado, causando falsa impressão de alteração do segmento ST. A isquemia atrial, o infarto atrial e a pericardite podem provocar um infradesnivelamento de segmento PR. Na suspeita de um desses casos, compare o segmento PR com o segmento TP para tentar definir a melhor linha de base. A definição de IAM com supradesnivelamento do segmento ST é a elevação em 1 mm do ponto J em duas derivações contíguas. Nas derivações V2 e V3 o critério de IAMCST é de 1,5 mm de elevação em mulheres, enquanto em homens acima de 40 anos são necessários 2,0 mm de elevação e em homens mais jovens que 40 anos são necessários 2,5 mm. Existem padrões que correspondem a oclusão coronariana e necessitam de reperfusão que não preenchem o critério clássico. Nas derivações V7, V8 e V9 só é necessário 0,5 mm (parede posterior). Habitualmente essas derivações não são realizadas. Você deve pesquisar as derivações posteriores quando houver infradesnivelamento de segmento ST de V1 a V3 ou V4, com ondas T positivas. - Supra em VD. Infarto de VD. Existem situações clínicas e padrões eletrocardiográficos sutis em que não é possível identificar claramente o supradesnivelamento de segmento ST, mas que merecem terapia equivalente. Em alguns casos, o IAM de parede inferior se apresenta com supradesnivelamento sutil, podendo até não corresponder ao limiar mínimo de 1 mm exigido em consenso para o diagnóstico, ou então apresentar apenas ondas T hiperagudas. Nesses casos, o segmento ST em aVL pode ser útil para se fazer o diagnóstico de IAMCST. O infradesnivelamento pode ser tão mínimo quanto 0,25 mm. Trata-se de sinal muito específico (96%), mas pouco sensível. Isso quer dizer que não ocorre na maioria dos casos, mas quando ocorre é praticamente definitivo. Essa regra não se aplica a pacientes com bloqueio de ramo esquerdo. Esses padrões são descritos a seguir. A elevação do segmento ST habitualmente segue uma progressão de eventos prévios e posteriores: Causas de supradesnivelamento de segmento ST: LEMBRA APICE ALTO Bloqueio de ramo esquerdo equivale a IAMCST: BRE novo ou presumidamente novo. TRATAMENTO Uma vez identificado o supradesnivelamento no ECG, deve-se iniciar o tratamento, independente do resultado de troponina: - Paciente deve ser colocadoem monitorização cardíaca. - Obter acesso venoso. - Medicar o paciente com a dupla antiagregação plaquetária. - Avaliar a necessidade de oxigênio suplementar se saturação < 90%. - Controle da dor deve ser obtido com nitrato, morfina e betabloqueador. A morfina não deve ser usada de rotina. O nitrato sublingual deve ser oferecido primeiro, progredindo-se para endovenoso se não houver controle. Nitratos não melhoram a sobrevida ou diminuem desfechos cardiovasculares adversos graves, mas são indicados para controle de pressão arterial, insuficiência cardíaca e alívio de sintomas anginosos. O nitrato é contraindicado na presença de infarto de ventrículo direito ou se o paciente fez uso de inibidor seletivo da fosfodiesterase 5 (sildenafil ou tadalafil). Betabloqueadores por via oral são indicados após o IAM. Pacientes com grandes infartos e sob risco de choque cardiogênico não devem receber betabloqueadores agudamente. Devem ser prescritos em casos de baixo risco ou após atingirem estabilidade hemodinâmica. O benefício de uma dose endovenosa inicial não é conclusivo, mas parece não existir. São contraindicados em pacientes com doença arterial periférica, intervalo PR > 0,24, bloqueio cardíaco, insuficiência cardíaca aguda (se não fazia uso prévio), baixo débito e risco de choque cardiogênico (idade > 70 anos, pressão arterial sistêmica < 120 mmHg, frequência cardíaca > 110 bpm ou < 60 bpm e duração prolongada dos sintomas). Para pacientes com broncoespasmo ou doença pulmonar obstrutiva crônica, usar um betabloqueador β1 seletivo como atenolol, metoprolol, bisoprolol ou nebivolol. O ácido acetilsalicílico deve ser oferecido a todos os pacientes com dose recomendada de 300 mg por via oral, exceto na alergia verdadeira ou na suspeita de dissecção de aorta. O segundo antiagregante depende do método que será utilizado para reperfusão primária. No caso de uso de fibrinolíticos estão indicados o clopidogrel ou ticagrelor. No caso da angioplastia primária está indicado o prasugrel e em segundo lugar o ticagrelor (clopidogrel só deve ser usado na indisponibilidade do ticagrelor e prasugrel). A angioplastia primária é mais eficiente na reperfusão, tem melhor resultado e apresenta menor risco de re-infarto ou isquemia residual em comparação à terapia fibrinolítica. Se o local onde o paciente estiver sendo atendido não é um centro com recurso de angioplastia primária, a decisão de transferência ou fibrinólise depende do tempo de transferência. Se o tempo entre a porta do primeiro serviço de saúde até o momento do balão no centro com hemodinâmica for menor que 120 minutos, está indicada a transferência. Caso contrário, a estratégia fibrinolítica local está indicada se não houver contraindicação. Após o fibrinolítico o paciente deve ser submetido a cineangiocoronariografia em até 24 horas. O fibrinolítico tem resultados comparáveis aos da angioplastia quando o paciente se apresenta com menos de 2 a 3 horas do início dos sintomas, apresenta risco de morte leve a moderado (TIMI-STEMI de 0 a 4), quando há grande área de miocárdio sob risco, ausência de onda Q e ausência de dúvida do diagnóstico. Fibrinolíticos O alvo para início do fibrinolítico é de 30 minutos após entrada do paciente no serviço. Estreptoquinase: dose de 1.500.000 U infundida em 1 hora. O paciente deve ser monitorado de perto e o médico deve permanecer do lado durante a infusão. No caso de hipotensão grave deve-se diminuir o ritmo de infusão e até suspender temporariamente a infusão e considerar infusão de volume. Alteplase: em pacientes com mais de 65 kg a dose é de 15 mg em bolus, 50 mg em 30 minutos e 35 mg em 1 hora. Para pacientes com menos de 65 kg a dose é de 15 mg em bolus, 0,75 mg/kg em 30 minutos e 0,5 mg/kg em 60 minutos. Tenecteplase: dose total em bolus de acordo com o peso e a idade. Para pacientes com menos de 60 kg a dose é de 30 mg. Para pacientes entre 60 e 70 kg a dose é de 35 mg. Para pacientes entre 70 e 80 kg a dose é de 40 mg. Para pacientes entre 80 e 90 kg a dose é de 45 mg. Finalmente, para pacientes acima de 90 kg a dose é de 50 mg. Pacientes com mais de 75 anos devem receber a metade da dose. No caso de reperfusão por fibrinolítico, está indicado o clopidogrel como segundo antiagregante. Após a fibrinólise podem ser usado tanto o clopidogrel quanto o ticagrelor. A enoxaparina (ou heparina não fracionada) não deve ser realizada nas primeiras 24 horas nos pacientes que receberam estreptoquinase, mas nos pacientes que receberam alteplase, bolus de 30 mg da enoxaparina deve ser feito de forma endovenosa nos pacientes com menos de 75 anos seguido de 1 mg/kg 15 minutos após e a cada 12 horas. Os pacientes com mais de 75 anos não devem receber o bolus EV e a dose é de 0,75 mg/kg a cada 12 horas. Nos pacientes com clearance de creatinina entre 15-30 mL/min/1,73 m2 a dose é de 1 mg/kg a cada 24 horas. Contraindicações aos fibrinolíticos: Critério de reperfusão Os critérios de reperfusão 60 a 90 minutos após infusão do trombolítico são: - Resolução do supradesnivelamento do segmento ST. Cálculo: somas dos supras no ECG menor do que 50% do valor inicial. - Estabilidade hemodinâmica e elétrica. - Resolução da dor. Para se constatar a resolução do supradesnivelamento pode-se utilizar o valor correspondente à soma de cada supra de todas as derivações com supra ou usar apenas o valor do maior supra de ST antes do trombolítico e comparar com o mesmo após a trombólise. É considerada sucesso a redução em pelo menos 50% deste valor. Nos casos de falha de reperfusão, seja por não resolução do supra, piora da isquemia ou por instabilidade hemodinâmica e elétrica, a angioplastia de resgate está indicada assim que possível. Angioplastia primária também pode ser indicada nos casos de isquemia recorrente ou evidência de reoclusão após fibrinólise com sucesso. Nos casos de reperfusão com sucesso a angiografia coronariana está indicada em 2 a 24 horas após a trombólise. Angioplastia primária Está indicado preferencialmente o prasugrel ao conhecer-se a anatomia coronariana. O ticagrelor é outra opção, assim como o clopidogrel. Ainda na angioplastia primária, a heparina não fracionada ou de baixo peso molecular não deve ser realizada antes da punção do acesso arterial pelo hemodinamicista. Para pacientes que se apresentam com mais de 12 horas do início do quadro a indicação de angioplastia primária é classe I se o paciente ainda estiver com sintomas compatíveis de isquemia, apresentar instabilidade hemodinâmica ou elétrica. Se o paciente estiver assintomático e se apresentar após 12 horas, mas até 48 horas, a indicação de angioplastia primária é classe IIa. Após 48 horas, no paciente assintomático a angioplastia primária é contraindicada. Na estratégia da angioplastia primária, deve ser tratada apenas a coronária relacionada ao infarto (exceto nos pacientes chocados, quando recomenda-se considerar o tratamento de todas as lesões graves). O implante de endopróteses farmacológicas (stent) é recomendado em detrimento da endoprotése metálica. O acesso radial é recomendado em detrimento do acesso femoral quando o operador é experiente no acesso radial. Inibidores de glicoproteína IIb/IIIa poderão ser indicados na sala de cateterismo em casos de trombose intracoronariana importante. Tratamento adjuvante Inibidor da enzima conversora de angiotensina está indicado assim que possível para pacientes com redução de fração de ejeção, hipertensos e diabéticos. Se não houver contraindicação deve-se prescrever um betabloqueador. Estatina em dose alta deve ser iniciada o mais precocemente possível. Para diminuir o risco de sangramento o paciente deve receber um protetor gástrico. É importante manter o tratamento do diabetes, estimular cessar o tabagismo e programar a reabilitação. CHOQUE CARDIOGÊNICO O choque cardiogênico ocorre em 6-7% dos IAM. Deve-se considerar a revascularização não apenas da lesão-alvo, mas completa desses pacientes. Nos pacientes chocados, a angioplastia primária deve ser considerada até 48 horas do início do quadro. Muitasvezes é necessário balão intra-aórtico (BIA) ou outro suporte mecânico para o ventrículo esquerdo. A evidência para o uso do BIA é melhor no paciente que recebeu fibrinolítico do que naquele que foi submetido a angioplastia primária. Atualmente, a recomendação é classe IIa para o consenso americano e classe IIb para o consenso europeu. No caso do consenso europeu a indicação não é para todo choque cardiogênico, mas apenas nos pacientes com complicações mecânicas e como uma ponte para cirurgia. COMPLICAÇÕES MECÂNICAS A apresentação das complicações precoces é bimodal, com a maioria das complicações ocorrendo nas primeiras 24 horas e o restante na primeira semana. Sopro novo com característica contínua (em maquinaria) é uma pista. Com a suspeita, solicita ecocardiografia de emergência para confirmação diagnóstica. Pacientes com complicações mecânicas podem desenvolver choque cardiogênico rapidamente; portanto, se houver indício de instabilidade hemodinâmica, considerar a colocação de BIA. No colapso circulatório, se estiver disponível, a oxigenação por membrana extracorpórea pode ser uma opção. A identificação de complicação mecânica indica internação em UTI e avaliação da cirurgia cardíaca. O prognóstico com terapia medicamentosa isolada é muito ruim; mas a cirurgia cardíaca de emergência também tem alta mortalidade. Se as condições clínicas permitirem cirurgia tardia, os resultados cirúrgicos são melhores. V1, V2 e aVF não positivas, com alteração: vetor final em outra posição. Parede posterior: ventrículo direito → Derivação posterior em infarto de VD. Parede anterior: esquerdo. Se o infarto afetar o sistema de condução (nó): bloqueio e arritmias (TV e FV). IAMSSST IAMCSST AAS Clopidogrel (se CAT > 2h). HNF (se CAT > 2h). Nitrato: hipertensão, angina ou congestão. Morfina: dor refratária. BB: se PAS > 100. Estatina. Inicial: - O2: se saturação < 94%. - AAS - Clopidogrel - HNF - Nitrato/morfina - BB - Estatina Terapia de reperfusão: - Cateterismo: tempo porta-balão < 90-120min - Fibrinolítico: TPB > 90-120min: Reversão do supra, CAT até 48h. Não reverteu, CAT imediato (angioplastia de resgate). Alta: - MEV (cessação de tabagismo) - AAS + clopidogrel (12 meses) - Estatina - IECA Angina estável: AAS + BB, antagonista de canal de cálcio ou nitrato + estatina + doença de base (IECA, BRA). - TTO: prevenir evento cardiovascular (AAS, estatina - pode associar dupla-agregação, IAM prévio com angina crônica, alto risco trombótico, etc → IAM prévio: clopidogrel, risco aumentado de IAM: rivaroxabana, menos risco de sangramento. HAS e DM: IECA ou BRA), qualidade de vida - dor (BB, BCC, nitrato). BB: não aumentar, associar Ivabradina. Estatina não atinge as metas de LDL, associar Ezetimibe. Paciente infartado: risco de AVE: região de hipocinesia pode formar trombo. - Re-infarto - AVE - Insuficiência cardíaca - Arritmia maligna Morte = choque cardiogênico + arritmia maligna (principais). Sinvastatina: 80.