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Animais Peçonhentos e Venenosos


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Presença de animais peçonhentos e 
venenosos em diferentes 
categorias zoológicas
Reino Animal 
(Aut.: Lúcia Helena Salvetti De Cicco)
Porifera (Poríferos)
Cnidaria (Cnidários))
Echinodermata (Equinodermos)
Mollusca (Moluscos)
Arthropoda (Artrópodes)
Crustacea (Crustáceos)
Insecta (Insetos)
Chilopoda (Quilópodes) 
Diplopoda (Diplópodes) 
Arachnida (Aracnídeos)
Platyhelminthes (Platelmintos)
Nemertinea (Nermertíneos)
Annelida (Anelídeos)
Chordata (Cordados) 
- Acrania (Acrânios)
- Craniata (Craniotas) - Pisces e Tetrapoda
Pisces (Peixes)
-Chondrichthyes (peixes cartilaginosos)
-Osteichthyes ( peixes ósseos )
Tetrapoda (Tetrápodes)
-Amphibia (Anfíbios) 
-Reptilia (Répteis) 
- Aves (Aves) 
-Mammalia (Mamíferos)
Distribuição de animais peçonhentos e tóxicos em compartimentos bióticos:
Ambientes aquáticos
Invertebrados
Porifera
Cnidaria
Annelida
(Xiphosura)
Crustacea
Mollusca
- Gastropoda
- Cephalopoda
Echinodermata
Vertebrados
Cyclostomata
Pisces
Reptilia (Hydrophiinae)
Ambientes terrestres
Invertebrados
Arachnida
- Scorpiones
- Araneae
- Acari
Chilopoda
Diplopoda
Insecta
- Hymenoptera
- Coleoptera
- Lepidoptera
Vertebrados
Amphibia
Reptilia
- Sauria (Helodermatidae; Varanidae)
- Serpentes
Aves
Mammalia
Biogeografia: ciência que 
estuda a distribuição geográfica 
dos seres vivos. 
Grandes regiões bióticas do 
mundo :
Amazônia
Pantanal
Pampa
Mata Atlântica
Cerrado
Caatinga
Diferentes conjuntos de espécies venenosas/peçonhentas em diferentes biomas Diferentes conjuntos de espécies venenosas/peçonhentas em diferentes ecorregiões
AMAZONIA
CHACO
E PANTANAL
surucucu
caiçaca
sucuri-
amarela
AMAZONIA
CHACO
E PANTANAL
Dendrobates
quinquevittatus
Dermatonotus muelleri
Rhinella ocellata
AMAZONIA
CHACO
E PANTANAL
T. paraensis
T. metuendus
T. confluens
Bothriurus sp.
Toxicologia x Toxinologia
Toxicologia :
• Ciência que estuda as interações danosas 
entre compostos químicos de qualquer 
natureza e os sistemas biológicos 
(organismos, populações, etc...)
Toxinologia (estudo das toxinas)
(1962, Sociedade Internacional de Toxinologia)
Ciência que estuda as interações entre substâncias 
tóxicas produzidas, acumuladas ou adquiridas por
organismos vivos e os sistemas biológicos -
TOXINAS
Além das propriedades químicas e modo de ação das 
toxinas, aborda também a biologia dos seres 
produtores, estrutura e função do aparelho inoculador, 
papel ecológico dos venenos (o significado biológico 
para os organismos envolvidos)
• Venenos, toxinas e peçonhas são semioquímicos, e mais 
especificamente, são alomônios (ou aleloquímicos – do grego 
állos - outro, diverso; alomônios são usados para comunicação 
interespecífica - para defesa, especificamente), distinguindo-se 
de feromônios (usados para comunicação intraespecífica: 
sexuais, territoriais, de alarme, de trilha, de oviposição, etc…)
• Substâncias químicas utilizadas para a comunicação entre 
organismos são denominadas genericamente por 
semioquímicos [do grego semion (= marca ou sinal)] 
Animais venenosos:
• Produzem toxinas mas não possuem aparelho inoculador. 
• Provocam envenenamento passivo (contato – taturanas; compressão 
de glândulas – sapos; ingestão - alguns peixes). 
(Fonte: Jared et al. 2021)
Animais peçonhentos:
• Dotados de glândulas de 
toxinas e de estruturas 
para inoculação deste 
(dentes ocos ou sulcados, ferrões, 
quelíceras, forcípulas, aguilhões, ...).
• Provocam envenenamento 
ativo
(Fonte: Jared et al. 2021)
Seria então correto afirmar que
“Peçonha é injetável, veneno é ingerível” ?
Sob condições naturais, sim.......
Venenos:
• substâncias tóxicas produzidas em tecidos ou glândulas 
não especializadas ou acumuladas/ adquiridas pelos 
organismos após ingestão de presa(s);
• Também podem ter origem mineral ou artificial
• sob condições naturais, a intoxicação ou envenenamento 
ocorre após ingestão (via enteral), mas tb. pode ocorrer 
por contato;
• são misturas de substâncias, ação difusa;
• Em plantas, são geralmente metabólitos secundários (não
essenciais à atividade celular); 
• servem primariamente como defesa.
Peçonha:
• substâncias produzidas em/por tecidos/glândulas 
especializadas, em geral conectadas por meio de um 
ducto excretor a um aparato inoculador (dentes, 
quelíceras, ferrões, espinhos, etc...);
• o empeçonhamento ocorre por via parenteral *** ou por 
contato;
• a > das peçonhas são destruídas por via enteral ***;
• é uma mistura de substâncias, ação difusa;
• serve, primariamente, como defesa
(ex.: peixe leão) 
ou para captura e digestão de presas (serpentes, aranhas)
Toxinas para defesa e predação
Componentes dos venenos/peçonhas animais:
Nenhum veneno ou peçonha é composto por uma única 
substância química. Ao contrário, são misturas mais ou menos 
complexas de várias substâncias (20-25 moléculas, dissolvidas 
em água), que agem em sinergia
Histrionicotoxina
(produzida por um anfíbio Dendrobatidae)
Toxina peso molecular
(µ= unidades de massa atômica)
Frações tóxicas da peçonha de Conus sp. e seus vários efeitos sobre o organismo humano
Balançar a cabeça
Movimentos circulares
Arrastar as patas traseiras
Sonolência
Incoordenação
Saltos involuntários
paralisia
Chutes para trás, coceira,
Depressão de atividade
Coma
Paralisia
Depressão de atividade
Tremores
Arrastar-se
Depressão seguida de hiperatividade
Normal
Coceira, convulsõis
Convulsões, sangramentos
Convulsão
Normal
Toxinas - substâncias quimicamente puras, que 
integram a composição de venenos e peçonhas, agindo 
de modo mais ou menos específico sobre os sistemas 
biológicos
interagem com macromoléculas biológicas, tais como 
enzimas e receptores
Grupo de substâncias 
químicas
Exemplo
Ex. de grupo 
zoológico em que 
ocorre 
Ácidos alifáticos ácido fórmico formigas
ácido isobutírico besouros
Poliquetídeos ácido ocadáico esponjas
brevetoxinas dinoflagelados
Terpenos agelasina A esponjas
asperidol A corais
Esteróides bufotoxinas anfíbios
cortexona besouros
Saponinas steroidosaponinas estrelas-do-mar
sapogeninas pepinos-do-mar
Derivados do fenil-propano benzoquinona besouros
hidroquinona
Alcalóides indólicos surugatoxina mexilhões
Alcalóides quinazolínicos ciguatoxina peixes
tetrodotoxina anfíbios
Alcalóides piridínicos nemertilina nemertíneos
histrionicotoxina anfíbios
Alcalóides purínicos saxitoxinas flagelados
mexilhões
Alcalóides esteróides batracotoxina anfíbios
samandarina
Aminas alifáticas acetilclina vespas
nereistoxina anelídeos poliquetos
Aminas fenil-alquil norepinefrina abelhas
leptodactylina anfíbios
Aminas indol-alquil 5-hidroxitriptamina cnidários
bufotenina anfíbios
Aminas imidazólicas histamina insetos
Oligopeptídeos dermorfina águas-vivas
polistesquinina-R1 vespas
Polipeptídeos noxiustoxina escorpiões
neurotoxinas pós-sinápticas serpentes
Proteínas enzimas insetos
neurotoxinas pré-sinápticas serpentes
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:
Como as toxinas atuam
- Qual a função primária das toxinas animais? 
- Porque surgiram, para qual finalidade devem ter 
surgido ao longo da evolução??
Qual a função primária das toxinas animais? 
1. Imobilização de presas
(tb. em venenosos, como os anfíbios ??)
Peçonhas animais apresentam diferenças em sua composição, uma
vez que a estrutura bioquimica resulta de adaptações moleculares
para matar e diferir as presas. Estas podem diferir em diferentes
habitats e locais e assim, a composição ds peçonhas de uma mesma
especie podem ser diferentes, em partes de sua distribuição
geografica (e.g., diferenças na composição da peçonha em
populações de B. atrox de florestas de várzea - menos hemorrágica e mais
coagulante - e de terra firme na Amazonia. Seria devido à dieta?)
[Sousa LF, Portes-Junior JA, Nicolau CA, Bernardoni JL, NishiyamaMY Jr, Amazonas DR, Freitas-de-Sousa LA,
Mourão RH, Chalkidis HM, Valente RH, Moura-da-Silva AM. Functional proteomic analyses of Bothrops atrox venom
reveals phenotypes associated with habitat variation in the Amazon. J Proteom. 2017; 159:645 32-46]
Ilha de Queimada 
Grande, litoral de SP
Jararaca-ilhoa 
(Bothrops insularis)
Jararacas de ilhas na costa 
brasileira dependem de aves 
como alimento e suas toxinas 
precisa imobilizar a presa com 
mais eficiência.
Ilha de Alcatrazes, 
litoral de SP
Jararaca-de-Alcatraz 
(Bothrops alcatraz)
Funções primárias das toxinas animais
2. Pré-digestão
(por enzimas)
(tb. em venenosos??)
F
o
to
 M
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B
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o
n
o
n
a
tt
o
Funções primárias das toxinas animais 
3. Defesa
Em espécies 
peçonhentas, as 
toxinas em geral 
exercem as 3 
funções...
Venenos como defesa:
Ex.: anfíbios (sapos, rãs, pererecas) - secreções da pele são fonte 
muito rica de moléculas biologicamente ativas. A maior parte delas 
são alcalóides, aminas biogênicas e peptídeos antimicrobianos 
(e.g., dermaseptinas – P. oreades)
Índios Matses, Maioruna e outros, fronteira 
Peru/BR – vacina sapo kambô
(Phyllomedusa bicolor)
Tapiragem – mudança das cores das 
penas de aves por meio de misturas de 
toxinas de anfíbios e outras substâncias
(índios Enawene nawe)
Qto. ao local de ação, os venenos/peçonhas animais são 
classificados em 2 grupos:
Hemotóxicos x Neurotóxicos
Hemotóxicos:
• atuam sobre o sistema circulatório, destruindo as 
paredes dos vasos sanguíneos e causando 
hemorragias (ou coagulação dos glóbulos sanguíneos 
e tromboses, como no ornitorrinco e algumas 
serpentes). 
• aqueles de espécies regionais raramente matam um 
adulto saudável, mas..... . alejam
Neurotóxicos (NTX - neurotoxinas): 
• atuam sobre os músculos do coração e sistema 
respiratório (efeitos são periféricos, e não sobre o 
SNC, pois não atravessam a barreira 
hematoliquórica). 
• são venenos paralisantes, que agem + rapidamente 
que os hemotóxicos, geralmente utilizados por 
animais que pretendem preservar a vítima para 
consumo posterior.
• NTX pré x pós sinápticas
• Algumas toxinas atuam 
inibindo ou promovendo a
liberação de altas doses 
de acetilcolina pela 
terminação nervosa, 
levando tb a um bloqueio 
neuromuscular  falha 
respiratória  morte (e.g.,
dendrotoxinas, toxinas 
crotálicas) 
NTX pré-sinápticas
• bloqueio dos receptores de acetilcolina
• bloqueio dos canais de potássio
• bloqueio de canais de sódio
Os canais são moléculas localizadas na superfície das 
células nervosas e musculares, muito difundidas no 
reino animal e com papel fundamental na manutenção
e propagação do potencial de ação e da contração
muscular, ou seja, na locomoção. Assim, venenos e 
peçonhas em táxons muito distintos têm ações
muito semelhantes que resultam na imobilização
das presas e/ou predadores
NTX pós-sinápticas
Glândula de veneno das 
serpentes peçonhentas - é 
uma gl. salivar modificada, 
que ainda retém função 
digestiva e produz 
grande quantidade de 
enzimas: 
Proteinases, Nucleases, 
Fosfolipases
(digerem proteínas)
Glândula de Duvernoy
Enzimas presentes nos venenos animais: funções 
digestivas
Ação “digestiva” de toxinas de Bothrops spp.
Toxinas dos venenos e peçonhas animais, 
independente de qual grupo zoológico as 
produzem, visam 
NEUTRALIZAR ELEMENTOS CHAVE DA 
LOCOMOÇÃO
e assim imobilizar a presa !!
Fatores que influenciam na toxicidade dos 
venenos/peçonhas:
• Dose e via
• Espécie
• Idade e massa 
• Sexo
• Sazonalidade
• Composição qualitativa e quantitativa
• Variações geográficas
Fatores que influenciam na toxicidade dos venenos:
• Dose e via 
• Conceito fundamental em Toxicologia: toda substância 
pode ser tóxica. A diferença entre ser tóxica ou benéfica 
reside na via e na dose de aplicação (físico medieval 
Paracelsus, séc. 16).
• uma toxina protêica, se ingerida pode ser digerida, mas 
por via parenteral, pode ser letal. 
• mais efetivas vias de intoxicação: intravenosa; 
intraperitoneal, intramuscular, intra ou sub-cutânea. 
•pele íntegra: 
capaz de absorver algumas 
toxinas, como aquelas 
produzidas por anfíbios 
Dendrobatidae.
Fatores que influenciam na toxicidade dos venenos:
• Espécie – distintos graus de sensibilidade
Ex.: o veneno de uma aranha "viúva negra" tem LD50
(letalidade) de 0,9 mg por kg, para o camundongo. Ou seja, 
0,013 mg de veneno é bastante para matar um camundongo. 
Mas são necessários 2mg para matar um sapo.
Fatores que influenciam na toxicidade dos venenos:
• Idade e massa – ex., veneno de aranhas: em adultos, pode 
causar distúrbios ao sistema nervoso e ritmo cardíaco, 
câimbras, tremores, vertigem, além de dor; em crianças e 
pessoas de fraca constituição, pode ser fatal. Não só o peso é 
responsável, mas diferenças bioquímicas no metabolismo, 
parâmetros fisiológicos, etc.
• Sexo -
• Variações sazonais -
• Variações em composição – qualitativas e 
quantitativas
• Variações geográficas – ex., P. olfersii, cobra-verde
Produção de toxinas estimula organismos a 
desenvolverem mecanismos para lidar com estes 
compostos sem sofrer seus efeitos deletérios. Quais 
mecanismos podem ser empregados?
• Rápida excreção
• Detoxificação em metabólitos menos perigosos
• Armazenamento seguro em certos “compartimentos” 
do corpo (gordura, fâneros, ...)
• Inibição do efeito tóxico mediante resistência ou 
desensibilização
Guerra armamentista.....
Interesse médico e médico-veterinário em toxinas: 
• Difusão do conhecimento: fornecimento de informações / 
esclarecimentos tais como recomendações para prevenir 
acidentes e para tratá-los; 
• Pesquisa científica: geração de conhecimento básico dos 
processos patológicos gerados pelas toxinas; estudo das 
propriedades das toxinas com vistas à produção de 
antídotos;
• Inovação: interesse econômico pelas moléculas 
patenteáveis que são ou poderão ser exploradas pela 
indústria farmacêutica para a geração de fármacos 
destinados ao tratamento de patologias humanas e 
animais. 
Perereca pode conter a cura 
do mal de Chagas
Rota Brasil Oeste (17/02/2004)
Ibama - Uma perereca recém-
descoberta no Cerrado pode ser a 
esperança no combate ao mal de 
chagas, causado pelo Trypanosoma 
cruzi. A perereca Phyllomedusa 
oreades – ainda sem nome popular, 
traz na pele um princípio ativo, 
chamado dermaseptina, que já está 
sendo estudado por uma equipe de 
pesquisadores da Embrapa, com 
resultados animadores. Estima-se que 
o mal atinja cerca de 18 milhões de 
pessoas em todo o mundo; quase 
quatro milhões no Brasil. 
Brand, GD; Leite, JRSA; 
Silva, LP; Albuquerque, 
S; Prates, MV; Azevedo, 
RB; Carregaro, V; Silva , 
JS; Sá, VCL; Brandão, 
RA and Bloch Jr, C. 
2002. Dermaseptins 
from Phyllomedusa 
oreades and 
Phyllomedusa distincta. 
Anti-Trypanosoma cruzi 
activity without 
cytotoxicity to 
mammalian cells. J. 
Biol. Chem., 277(51): 
49332-49340.
Trachycephalus venulosus
(perereca-cola; família Hylidae)