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1 Caro aluno Você está recebendo o terceiro livro da Unidade Técnica de Imersão (U.T.I.) do Hexag Vestibulares. Este material tem o objetivo de retomar os conteúdos estudados nos livros 5 e 6, oferecendo um resumo estruturado da teoria e uma seleção de questões que preparam o candidato para as provas dos principais vestibulares. Além disso, as questões dissertativas permitem avaliar a capacidade de análise, organização, síntese e aplicação do conhecimento adquirido. É também uma oportunidade de o estudante demonstrar que está apto a expressar suas ideias de maneira sistematizada e com linguagem adequada. Aproveite este caderno para aprofundar o que foi visto em sala de aula, compreender assuntos que tenham deixado dúvidas e relembrar os pontos que foram esquecidos. Bons estudos! Herlan Fellini ENTRE LETRAS BETWEEN ENGLISH AND PORTUGUESE ENTRE FRASES GRAMÁTICA 3 INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS 23 LITERATURA 41 INGLÊS 73 REDAÇÃO 53 SUMÁRIO © Hexag Sistema de Ensino, 2018 Direitos desta edição: Hexag Sistema de Ensino, São Paulo, 2021 Todos os direitos reservados. Autores Lucas Limberti Murilo Almeida Gonçalves Pércio Luis Ferreira Rodrigo Martins Diretor-geral Herlan Fellini Diretor editorial Pedro Tadeu Vader Batista Coordenador-geral Raphael de Souza Motta Responsabilidade editorial, programação visual, revisão e pesquisa iconográfica Hexag Sistema de Ensino Editoração eletrônica Felipe Lopes Santos Leticia de Brito Ferreira Matheus Franco da Silveira Projeto gráfico e capa Raphael de Souza Motta Imagens Freepik (https://www.freepik.com) Shutterstock (https://www.shutterstock.com) Todas as citações de textos contidas neste livro didático estão de acordo com a legis- lação, tendo por fim único e exclusivo o ensino. Caso exista algum texto a respeito do qual seja necessária a inclusão de informação adicional, ficamos à disposição para o contato pertinente. Do mesmo modo, fizemos todos os esforços para identificar e loca- lizar os titulares dos direitos sobre as imagens publicadas e estamos à disposição para suprir eventual omissão de crédito em futuras edições. O material de publicidade e propaganda reproduzido nesta obra é usado apenas para fins didáticos, não representando qualquer tipo de recomendação de produtos ou empresas por parte do(s) autor(es) e da editora. 2021 Todos os direitos reservados para Hexag Sistema de Ensino. Rua Luís Góis, 853 – Mirandópolis – São Paulo – SP CEP: 04043-300 Telefone: (11) 3259-5005 www.hexag.com.br contato@hexag.com.br GRAMÁTICA 4 Observe estas frases: O autor aprovou a biografia. Os autores aprovaram as biografias. No primeiro exemplo, o verbo “aprovar” encontra-se na terceira pessoa do singular, concordando com o seu sujeito, “o autor”, também no singular. No segundo exemplo, o sujeito “os autores” está concordando em número (plural) com o verbo. Nesses dois exemplos, as flexões de pessoa e número correspondem-se. A concordância verbal ocorre quando o verbo está flexionado para concordar com seu sujeito. Regra geral O sujeito simples (com apenas um núcleo) concordará com o verbo em número e pessoa. Ex.: promotora divulgou o evento. As promotoras divulgaram o evento. Oitenta e cinco por cento dos entrevistados não acei- tam a alteração da lei. * Se a expressão que indicar porcentagem não for seguida de substantivo, o verbo deve concordar com o número. Ex.: Vinte e cinco por cento querem aumento de sa- lário. Um por cento conhece bem a matéria. Outras regras 1. Sujeito formado pelo pronome relativo “que”: a con- cordância em número e pessoa é feita com o antecedente do pronome. Ex.: Fui eu que paguei e saí mais cedo. Fomos nós que compramos o carro. 2. Sujeito formado pela expressão “um dos que”: o verbo deve assumir a forma plural. Ex.: Se você é um dos que cantam em karaokê, certa- mente terá seu repertório favorito. Importante Na linguagem corrente, a tendência é a concordância no singular: Ex.: Ele foi um dos deputados que mais lutou para a aprovação da proposta. Ao comparar com um caso em que se use um adjetivo: Ex.: Ela é uma das alunas mais atenta da sala. A análise dessa construção mostra que a forma no singu- lar é inadequada para a língua escrita. Portanto, as formas aceitáveis gramaticalmente são: Ex.: Das alunas mais atentas da sala, ela é uma. Dos deputados que mais lutaram pela aprovação da pro- posta, ele é um. 1. A palavra ”se” Dentre as diversas funções exercidas pelo se, há duas de particular interesse para a concordância verbal. § o se como índice de indeterminação do sujeito; § o se como partícula apassivadora. Como índice de indeterminação do sujeito, o se acom- panha os verbos intransitivos, transitivos indiretos e de ligação, que obrigatoriamente são conjugados na ter- ceira pessoa do singular. Ex.: Precisa-se de vendedores com prática. Confia-se demais em pesquisas de opinião. Como pronome apassivador, o se acompanha verbos tran- sitivos diretos e transitivos diretos e indiretos na formação da voz passiva sintética. Nesse caso, o verbo deve concor- dar com o sujeito da oração. CONCORDÂNCIA VERBAL CONCORDÂNCIA VERBAL II 5 Ex.: Construiu-se um enorme edifício onde ficava a velha casa. Construíram-se novos edifícios onde ficava a velha casa. Aluga-se quarto para estudantes. Alugam-se quartos para estudantes. 2. O verbo ser A concordância verbal dá-se sempre entre o verbo e o su- jeito da oração. No caso do verbo ser, essa concordância pode ocorrer também entre o verbo e o predicativo do su- jeito. O verbo ser concorda com o predicativo do sujeito: a) se o sujeito for representado pelos pronomes isto, isso, aquilo, tudo, o e o predicativo estiver no plural. Ex.: Isso são lembranças que devem ser esquecidas. Aquilo eram problemas urgentes. b) se empregado na indicação de horas, dias e distân- cias, o verbo ser concorda com o numeral. Ex.: É uma hora. São três da manhã. Eram 13 de setembro quando partimos. Daqui até o shopping são dois quarteirões. Importante Na indicação de dia, o verbo ser admite as seguintes con- cordâncias: 1. No singular, concordando com a palavra explícita dia. Exemplo: Hoje é dia quatro de junho 2. No plural, concordando com o numeral (sem a palavra dia). Exemplo: Hoje são quatro de junho. c) se o sujeito indicar peso, medida, quantidade e for seguido de palavras ou expressões como pouco, muito, menos de, mais de, etc., o verbo ser fica no singular. Ex.: Cinco quilos de arroz é mais do que suficiente. Três metros de tecido é pouco para fazer o vestido. Duas semanas de férias é pouco para viajar. d) se o sujeito for uma expressão de sentido partitivo ou coletivo e o predicativo estiver no plural, o verbo “ser” concorda com o predicativo. Ex.: A grande maioria no protesto eram jovens. O resto foram atitudes impensadas. A concordância nominal baseia-se na relação entre um substantivo e as palavras que a ele se referem para carac- terizá-lo (artigos, adjetivos, pronomes adjetivos, numerais adjetivos e particípios). Em suma, a concordância nominal se ocupa basicamente da relação entre nomes. a) Crianças barulhentas (concordância entre o substantivo feminino crianças, no plural, e seu qualificador barulhentas também no plural e no feminino). b) A criança está agitada. (concordância feita entre o substantivo feminino criança, no singular, e seus qualificadores a e agitada, também no singular e feminino). Observação: Em geral, o substantivo funciona como núcleo de um termo da oração e o adjetivo, o artigo, o pronome ou o numeral, como adjunto adnominal. Dessa forma, é o nú- cleo que determina se as palavras relacionadas a si devem ficar no singular ou no plural, no feminino ou no masculino. Para compreender o conceito de regência é fundamen- tal entender que as palavras, ao ocuparem suas posi- ções nas estruturas sintáticas da língua, podem esta- belecer vínculos de subordinação com outras palavras. Nas estruturas subordinadas, há sempre um termo que subordinaoutro. O primeiro chama-se subordinante, termo que determina e do qual depende o segundo, seu subordinado. CONCORDÂNCIA NOMINAL REGÊNCIA 6 Essa relação em que uma palavra funciona como comple- mento da outra chama-se regência. Diz-se que as palavras que dependem de outras são por elas regidas. As palavras que regem as outras são chamadas de regentes. Esses vínculos de subordinação vêm, por vezes, marcados por preposições, semanticamente escolhidas por determina- dos nomes e verbos para marcar a relação que eles estabe- lecem com os complementos nominais e verbais que regem. Exemplos a) Gosto de viajar. (O verbo gostar rege um objeto in- direto, a ele subordinado no interior do predicado-ver- bal. A preposição de marca a regência desse verbo). b) Tenho medo de avião. (O substantivo medo rege um complemento nominal, a ele subordinado. A pre- posição de marca a regência desse substantivo). Portanto, o estudo que segue refere-se às relações que se es- tabelecem entre nomes e seus complementos (regência no- minal) e entre verbos e seus complementos (regência verbal). Regência nominal É a denominação dada à relação semântica que se estabe- lece entre substantivos, adjetivos e determinados advérbios e seus respectivos complementos nominais. Essa relação vem sempre marcada por preposição. Alguns nomes listados a seguir costumam vir acompanha- dos de um complemento nominal e exigem o uso de de- terminadas preposições para que o enunciado construído tenha sentido enquanto estrutura do Português. § impróprio para § semelhante a § contrário a § indeciso em § sensível a § descontente com § insensível a § desejoso de § liberal com § suspeito de § diferente de § natural de § vazio de Regência de alguns advérbios § longe de § perto de Regência verbal É a denominação dada à relação semântica que se es- tabelece entre verbos e seus respectivos complementos (objetos direto e indireto). No caso dos objetos indiretos, essa relação vem sempre marcada por uma preposição. Atenção Para melhor compreender os principais aspectos envolvi- dos na questão da regência verbal, é fundamental relem- brarmos a noção de transitividade (argumentação) verbal. § Quanto à predicação, os verbos podem ser classifica- dos em intransitivos e transitivos. § Verbos intransitivos apresentam sentido completo e não necessitam de complemento (objeto direto ou indireto). § Verbos transitivos necessitam de um complemento de valor substantivo (objeto direto ou indireto) para integrar-lhes o sentido. Nesse caso, a transição entre o verbo e seu complemento pode ser direta (caso dos verbos transitivos diretos, que regem objetos diretos) ou indireta (caso dos verbos transitivos indiretos, que regem objetos indiretos). Ex.: A garota comprou uma maçã. (verbo transitivo di- reto rege um objeto direto). A garota gosta de maçã. (verbo transitivo indireto rege um objeto indireto). Observação: Para que seu sentido fique completo, al- guns verbos exigem um objeto direto e um objeto indireto, sequencialmente. A esses verbos chamamos bitransitivos. A garota deu uma maçã de presente ao amigo. (uma maçã é objeto direto do verbo dar e ao amigo é objeto indireto do mesmo verbo, introduzido pela preposição a). Nesse exemplo, a preposição de, que aparece diante do termo “presente”, não apresenta relação com a noção de transitividade verbal, mas introduz um adjunto adnomi- nal do objeto direto, qualificando-o apenas. Assim, para a discussão de regências nominal e verbal são relevantes apenas aquelas preposições que ligam complementos a um verbo (objetos indiretos) ou a um nome (complemen- tos nominais). É transitivo direto no sentido de acariciar. Ex.: Sempre agrada a criança quando a vê. / Sempre a agrada quando a vê. 7 É transitivo indireto no sentido de causar agrado a, satis- fazer, ser agradável a. Rege complemento introduzido pela preposição a. Ex.: A peça de teatro não agradou aos espectadores. / A peça de teatro não lhes agradou. Aspirar É transitivo direto no sentido de sorver, inspirar (o ar), inalar. Ex.: Aspirava o suave aroma do perfume. (Aspirava-o.) É transitivo indireto no sentido de desejar, ter como am- bição. Ex.: Aspirávamos a uma viagem para a Europa. (Aspi- rávamos a ela.) Observação: Como o objeto indireto do verbo aspirar não é pessoa, mas uma coisa, não são usadas as formas pronominais átonas lhe e lhes, mas as formas tônicas a ele(s), a ela(s), conforme a gramática normativa (exemplo anterior). É o nome que se dá à junção de duas vogais idênticas. É de grande importância a crase da preposição a com o artigo feminino a(s); com o pronome demonstrativo a(s); e com o a inicial dos pronomes aquele(s), aquela(s), aquilo e com o a do relativo a qual (as quais). Na escrita, a crase é indicada pelo acento grave ( ` ). Para o entendimento da crase, é fundamental também dominar a regência dos verbos e nomes que exigem a preposição a. Aprender a empregar a crase, portanto, consiste em apren- der a verificar a ocorrência simultânea de uma preposição e de um artigo ou pronome. Ex.: Vou a + a França. Vou à França. Nesse exemplo, há ocorrência da preposição a, exigida pelo verbo ir (ir a algum lugar) e a ocorrência do artigo a que está determinando o substantivo feminino França. Se ocorrer esse encontro e a fusão dessas duas vogais, essa fusão é indicada pelo acento grave. Ex.: Conheço a estudante. Refiro-me (a + a) à estudante. No primeiro exemplo, o verbo é transitivo direto (conhecer algo ou alguém), logo, não exige preposição e não há ocor- rência de crase. No segundo exemplo, o verbo é transitivo indireto (referir-se a algo ou a alguém) e exige a preposição a. Portanto, a crase é possível, desde que o termo seguinte seja feminino e admita o artigo feminino a ou um dos pro- nomes já especificados. Monossílabas Levam acento agudo ou circunflexo as palavras monossíla- bas terminadas em: § a(s) – já; lá; vás § e(s) – fé; lê; pés § o(s) – pó, dó; pós Oxítonas São as palavras que possuem a última sílaba tônica. Levam acento agudo ou circunflexo as palavras oxítonas termina- das em: § a(s) – vatapá; carajás; cajás § e(s) – você; café; cafunés § o(s) – jiló; avô; carijós § em / ens – também; ninguém; armazéns Paroxítonas São as palavras que possuem a penúltima sílaba tônica. Le- vam acento agudo ou circunflexo as palavras paroxítonas terminadas em: § i(s) – júri; lápis; tênis § us – vênus; vírus; ônus § r – caráter; revólver; mártir § l – útil; amável; têxtil § x – tórax; fênix; ônix CRASE REGRAS DE ACENTUAÇÃO 8 § n – éden; hífen; líquen § um/uns – álbum; álbuns; médium § ão(s) – órgão; órgãos; órfão § ã(s) – órfã; ímã; imãs § ps – bíceps; fórceps § on(s) – rádon; rádons Proparoxítonas São as palavras que possuem a antepenúltima sílaba tôni- ca. Todas as palavras proparoxítonas levam acento agudo ou circunflexo. Casos especiais São sempre acentuadas as palavras oxítonas com os diton- gos abertos grafados “éis”, “éu(s)” ou “ói(s)”. Ex.: anéis; herói; chapéu. Não são acentuadas as palavras paroxítonas com os diton- gos abertos “ei” e “oi”, uma vez que existe oscilação em muitos casos entre a pronúncia aberta e fechada. Ex.: assembleia; proteico; alcaloide. Não se acentuam os encontros vocálicos fechados. Ex.: pessoa; canoa; voo. Observação: Se o verbo estiver no futuro (mesóclise), poderá haver dois acentos: amá-lo-íeis. Não levam acento gráfico as palavras paroxítonas que, ten- do respectivamente vogal tônica aberta ou fechada, são homógrafas de artigos, contrações, preposições e conjun- ções átonas. Ex.: para (verbo e preposição); pelo (substantivo e pre- posição) Levam acento agudo o “i” e “u”, quando representam a se- gunda vogal tônica de um hiato, desde que não formem sílaba com “r”, “l”, “m”, “n” e “z” ou não estejam seguidos de “nh”. Ex.: viúva; raízes (raiz); faísca. Não leva acento a vogal tônica dos ditongos “iu” e “ui”. Ex.: caiu; retribuiu; tafuis. Nãoserão acentuadas as vogais tônicas “i” e “u” das pa- lavras paroxítonas quando essas vogais estiverem precedi- das de ditongo decrescente. Ex.: maoista; baiuca; bocaiuva. Serão acentuadas as vogais tônicas “i” e “u” das pala- vras oxítonas quando, mesmo precedidas de ditongo de- crescente, estão em posição final, sozinhas na sílaba, ou seguidas somente de “s”. Ex.: Piauí; teiú; tuiuiús. A 3a pessoa de alguns verbos se grafa da seguinte maneira: § quando termina em “em” (monossílabas). Ex.: tem / têm; vem / vêm. § quando termina em “ém”. Ex.: contém / contêm; convém / convêm § quando termina em “ê” e derivados: Ex.: crê / creem; revê / reveem Levam acento agudo ou circunflexo as palavras terminadas por ditongo oral (que não é nasal) átono crescente ou decrescente. Ex.: ágeis; espontâneo; ignorância. Leva acento agudo ou circunflexo a forma verbal termina- da em “a”, “e” e “o” tônicos, seguidas de “la(s)” e “lo(s)”. Ex.: movê-lo; fá-los; sabê-lo-emos. Leva acento agudo a vogal tônica “i” das formas verbais oxítonas terminadas em “air” e “uir”, quando seguidas de “la(s)” e “lo(s)”, caso em que perdem o “r” final. Ex.: atraí-los; possuí-lo. Não levam acento os prefixos paroxítonos terminados em “r” e “i”. Ex.: super-homem; semicírculo. Leva acento circunflexo diferencial a sílaba tônica da 3a pessoa do singular do pretérito perfeito “pôde”, para dis- tinguir-se de “pode”, forma da mesma pessoa do presente do indicativo. 9 Durante o curso, estudamos diversas categorias gramaticais operadas por termos que são semelhantes (por exemplo, usos variados para o termo “que”). Agora, chega o momento de organizarmos esses elementos (e conhecermos alguns outros novos) a fim de nos prepararmos de modo adequado, seguro e eficaz para os vestibulares Funções de “A” a) Artigo Classe de palavras variável que determina substantivos § Será encontrado sempre antecedendo substantivos de gênero feminino de modo que, ao pronunciá-los, seja possível notarmos seu contato morfológico com esse substantivo, especialmente em seu papel de particulari- zação/especificação (“a casa”, “a porta”, “a tristeza”, “a Cláudia”). b) Preposição Classe de palavras invariável que conecta termos, podendo estabelecer entre eles algum sentido § A preposição “a” pode ser encontrada como resultado de um processo de regência verbal ou regência nomi- nal. Vejamos Ex.: Ela se referiu ao documento da casa (o verbo pro- nominalizado “referir-se” solicita preposição “a”, que será colocada diante do termo “documento”). Ex.: Tenho horror a hospitais (o substantivo “horror” solicita preposição “a”, que será colocada diante do termo “hospitais”) Atenção: Em nenhum dos dois casos apresentados anteriormente, o “a” poderia ser classificado como artigo, pois ele antecede as palavras “documento” e hospitais, que são masculinas. c) Pronome oblíquo Classe de palavras variável que ocupar o lugar de um subs- tantivo que está em posição de complemento § O termo “a” será pronome oblíquo quando funcionar como complementador de sentido de verbos transitivos diretos, em processos de regência em que esses verbos não sejam encerrados pelas consoantes “s”, “r” ou “z”; ou sons nasais. Ex.: Passe a palavra abaixo para o infinitivo e encontre- -a no jogo de caça-palavras (o verbo “encontrar solicita como complemento o pronome “a” logo a sua frente) Ex.: Eu a vi no cinema na semana passada (o verbo “ver” solicita como complemento o “a” que foi coloca- do em posição anterior a esse verbo) Atenção: Como pronome oblíquo, o “a” pode ser colocado em posição anterior ou posterior ao verbo, dependendo de regras específicas de colocação pronominal (consultar li- vro 4). Em posição posterior, irá se conectar ao verbo por meio de hífen. d) Pronome demonstrativo Classe de palavras variável que indica o lugar, a posição ou a identidade dos seres em relação às três pessoas do discurso, podendo situá-los no espaço, no tempo ou no próprio texto. § O termo “a” funcionará como pronome demonstrativo quando for substituível na sentença pelos pronomes “aquele”, “aquela” ou “aquilo”. Ex.: Leve a (= aquela) que está em cima da mesa Atenção: O termo “a” com função de pronome demonstrativo, cos- tuma vir antecedido dos termos “que” e “do(a)”. Funções de “QUE” a) Substantivo O “que” será substantivo quando vier antecedido de um artigo (definido ou indefinido), seguido de preposição “de” Ex.: Esse menino tem um quê de artista! Atenção: O “que”, na função de substantivo, deverá receber acento circunflexo. b) Pronome interrogativo É encontrado no início frases interrogativas. Ex.: Que aconteceu com os vendedores ambulantes? FUNÇÕES DE “A”, “QUE” E “SE” 10 c) Pronome relativo Serve para recuperar termos que foram anteriormente mencionados, fazendo-lhes referência. Ex.: O livro que você me emprestou é muito bom! Atenção: O “que”, na função de pronome relativo, pode ser subs- tituído pelas construções “o(s) qual(is)” ou “a(s) qual(is)” d) Preposição O “Que” é utilizado aqui para substituir o “de” após o ver- bo “ter” Ex.: Ele tem que sair no horário hoje. e) Conjunção § INTEGRANTE: introduz oração substantiva (substituível pelo pronome “isso”) Ex.: É necessário que façamos algumas alterações no sistema. § COMPARATIVA: trata-se de um “que” antecedido de marca comparativa de superioridade ou inferioridade Ex.: Não há maior prova de amor que doar a vida pelo irmão. § CAUSAL: trata-se de um “que” substituível por “pois”, “porque” ou “já que” Ex.: Tenho que tomar cuidado, que esse chão é muito escorregadio. § CONSECUTIVA: trata-se de um “que” antecedido de elemento de intensidade (“tão”, “tanto”, “tal”, “ta- manho”...) Ex.: É tão pequeno que não alcança a geladeira. § EXPLICATIVA: trata-se de um “que” substituível por “pois”, “porque” ou “já que”, diante de verbos em condições de imperativo ou incerteza Ex.: Vocês precisam escutar, que é muito importante. § INTERJEIÇÃO: geralmente utilizado em expressão de espanto Ex: Quê! Não acredito que vai custar tudo isso! f) Advérbio § O “que” pode ser substituído pelo advérbio modal “como”. Ex.: Que roupa mal costurada era aquela! (Como aquela roupa era mal costurada!) § O “que” pode ser substituído pelo advérbio de inten- sidade “tão” Ex.: Que enganados andam os homens! (Tão engana- dos andam os homens!) g) Partícula expletiva Não tem função na oração. Serve apenas para realçar de- terminado termo. Ex.: Há muito tempo que não vou visitar meus avós. h) Pronome adjetivo Trata-se de um pronome “que” que irá acompanhar um substantivo em situações interrogativas, exclamativas ou indefinidas. Ex.: Que horas são? (interrogativo) Ex.: Que bonita sua roupa! (exclamativo) Funções de “SE” a) Conjunção § Conjunção subordinativa integrante: introduz orações subordinadas substantivas (o “se” pode ser substituído pelo pronome “isso”). Ex.: Quero saber se ela realmente me ama. § Conjunção subordinativa condicional Ex.: Alugue um veículo se precisar chegar mais cedo ao local. b) Pronome reflexivo Sujeito pratica e sofre ação verbal Ex.: A garota cortou-se com a tesoura escolar. Atenção: Como pronome reflexivo, o “se” também funcionará como objeto direto, objeto indireto ou sujeito do infinitivo. c) Partícula apassivadora Quando se liga a verbos transitivos diretos, constituindo uma voz passiva sintética. Ex.: Entregaram-se as correspondências d) Índice de indeterminação do sujeito O sujeito se tornará indeterminado quando se liga: § verbos transitivos indiretos § verbos intransitivos 11 § verbos de ligação Ex.: Discorda-se dos fatos apresentados no processo. Atenção: O fenômeno do índice de indeterminação do sujeito obriga o verbo a ficar sempre no singular. e) Partícula expletiva Não desempenha nenhuma função sintática ao se associar a verbos. Ex.: Ele acabou de se sentar f) Partícula integrante do verbo Trata-se de um “se” que é parte integrante do verbo para que ele possa exercer suas relações de sentido.Ex: Ele se queixou com o departamento pessoal Os sinais de pontuação são recursos gráficos próprios da linguagem escrita. Embora não consigam reproduzir toda a prosódia da linguagem oral, estruturam os textos e pro- curam estabelecer as pausas e as entonações da fala. Basi- camente, têm como finalidade: 1. assinalar as pausas e as entoações na leitura; 2. separar palavras, expressões e orações que devem ser destacadas; e 3. esclarecer o sentido da frase, afastando qualquer am- biguidade. Os principais sinais de pontuação são: Vírgula ( , ) Indica uma pausa pequena e, geralmente, é usada: a) em datas, para separar o nome da localidade, Ex.: São Paulo, 29 de julho de 2015. b) após os advérbios sim ou não, usados como resposta no início da frase; Ex.: Você gostou do presente? – Sim, adorei! c) após a saudação em correspondência (social e comercial); Ex.: Com carinho, Atenciosamente, d) para separar termos de uma mesma função sintática; Ex.: O apartamento tem dois quartos, dois banheiros, uma sala e um quintal. Obs.: A conjunção e substitui a vírgula entre o último e o penúltimo termo. e) para destacar elementos intercalados como; § Uma conjunção; Ex.: Viajaremos nas férias, logo, temos que nos orga- nizar. § Um adjunto adverbial; Ex.: Estes relatórios, com certeza, foram bem feitos. § Um vocativo; Ex.: Diga-me, Ana, com quem andas, que te direis quem és. § Um aposto; Ex.: Matemática, uma das disciplinas mais exigentes, deve ser estudada com afinco. § Uma expressão explicativa (isto é, a saber, ou melhor etc.); Ex.: A prova consta de 20 questões dissertativas, isto é, questões que devem ser redigidas. f) Para indicar a elipse de um termo; Ex.: Ana foi mais cedo; eu, mais tarde. g) Para separar orações intercaladas; Ex.: O importante, ressaltou o ator, é contracenar da melhor forma possível. h) para separar orações coordenadas assindéticas; Ex.: Ela correu pela manhã, malhou à tarde, meditou à noite. i) para separar orações coordenadas adversativas, conclusi- vas, explicativas e algumas orações alternativas; Ex.: Esforçou-se muito; porém, não conseguiu a apro- vação. PONTUAÇÃO I 12 Vá devagar, que a estrada é perigosa. Viaje muito, pois será recompensado com belas lem- branças. As pessoas ora dançavam, ora cantavam. Importante! Se a conjunção e assumir valor de adversidade, o uso da vírgula é obrigatório, de acordo com a gramática normativa. Exemplo: Nadou muito, e morreu na praia. j) Para separar orações subordinadas adverbiais; Ex.: Quando chegou, encontrou a carta em cima da mesa. l) Para isolar as orações subordinadas adjetivas explicativas. Ex.: O grande prédio, que ainda estava em construção, dominava toda a paisagem. Ponto e vírgula ( ; ) Indicam uma pausa maior que a vírgula, uma entoação descendente em relação à prosódia da frase, mas assina- lam que o período não terminou. Empregam-se nos se- guintes casos: a) para separar orações coordenadas não unidas por con- junção e que guardem relação entre si; Ex.: O show está lotado; a plateia está animada. b) para separar orações coordenadas, desde que haja pelo menos uma delas separando elementos por vírgula; Ex.: O painel informava o seguinte: dez deputados vo- taram a favor do acordo; nove, contra. c) para separar itens de uma enumeração; Ex.: Para a receita do bolo serão necessários: ovos; tri- go; chocolate. d) para alongar a pausa de conjunções adversativas (mas, porém, contudo, todavia, entretanto etc.), em substituição à vírgula; Ex.: Gostaria de partir hoje; todavia, o ônibus só sairá amanhã. e) para separar orações coordenadas adversativas inseri- das no meio da oração. Ex.: Esperava encontrar todos os amigos no reencontro; revi, porém, apenas alguns. Reticências ( ... ) Marcam uma suspensão da frase, revelando elementos de natureza emocional. Empregam-se: a) para indicar continuidade de uma ação ou fato; Exemplos: O professor ficou falando... b) para indicar suspensão ou interrupção do pensamento; Exemplo: Foi até lá achando que... c) para representar, na escrita, hesitações comuns na lín- gua falada; Exemplo: Não comi chocolate... porque... porque es- tou de regime. d) para deixar o sentido da frase em aberto, permitindo uma interpretação pessoal do leitor. Exemplo: Se você soubesse a metade da história... Observação: Além do amplo valor sugestivo em matizes prosódicos, as reticências e o ponto de exclamação são auxiliares da lin- guagem afetiva e poética. Aspas ( “ ” ) Têm a função de destaque do texto. São empregadas: a) antes e depois de citações ou transcrições textuais; Exemplo: Como diz o ditado, “água mole, pedra dura; tanto bate até que fura”. b) para assinalar gírias populares. Exemplo: A bola “beijou” o travessão. Observação: Se houver necessidade de usar aspas em trechos já en- tre aspas, empregam-se aspas simples. Exemplo: “Tinha-me lembrado da definição que José Dias dera deles, ‘olhos de cigana oblíqua e dissimulada’. Eu não sabia o que era oblíqua, mas dissimulada sabia, e queria ver se podiam chamar assim. Capitu deixou-se fitar e examinar.” (Machado de Assis) PONTUAÇÃO II 13 U.T.I. - Sala TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Leia o poema de Manuel Bandeira (1886-1968) para responder à(s) questão(ões) a seguir. Poema tirado de uma notícia de jornal João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número. Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro Bebeu Cantou Dançou Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado. (Libertinagem & estreLa da manhã, 1993.) 1. (UNESP 2019) a) Em que verso se verifica um desvio em relação à nor- ma-padrão da língua escrita (mas recorrente na língua oral)? Reescreva o verso, corrigindo esse desvio. b) Cite duas características, uma de natureza temáti- ca e outra de natureza formal, que afastam esse poe- ma da tradição parnasiano-simbolista. 2. (FUVEST) Considere a imagem abaixo, extraída da apresentação do filme A Amazônia, que faz parte da campanha “A natureza está falando”. No áudio desse filme, a atriz Camila Pitanga interpreta o seguinte texto: Eu sou a Amazônia, a maior floresta tropical do mun- do. Eu mando chuva quando vocês precisam. Eu man- tenho seu clima estável. Em minhas florestas, existem plantas que curam suas doenças. Muitas delas vocês ainda nem descobriram. Mas vocês estão tirando tudo de mim. A cada segundo, vocês cortam uma das mi- nhas árvores, enchem de sujeira os meus rios, colocam fogo, e eu não posso mais proteger as pessoas que vivem aqui. Quanto mais vocês tiram, menos eu tenho para oferecer. Menos água, menos curas, menos oxi- gênio. Se eu morrer, vocês também morrem, mas eu crescerei de novo... a) Por estar em primeira pessoa, o texto constitui exemplo de uma determinada figura de linguagem. Identifique essa figura e explique seu uso, tendo em vista o efeito que o filme visa alcançar. b) No referido áudio, é possível perceber, no final da locução da atriz, uma entonação especial, represen- tada na transcrição por meio de reticências. Tendo em vista que uma das funções desse sinal de pontuação é sugerir uma ideia não expressa que cabe ao leitor inferir, identifique a ideia sugerida, neste caso. 3. (UNICAMP) Por ocasião da comemoração do dia dos professores, no mês de outubro de 2003, foi veiculada a seguinte propaganda, assinada por uma grande cor- poração de ensino: Parabéns [Pl. de parabém] S. m. pl. 1. Felicitações, con- gratulações. 2. Oxítona terminada em “ens”, sempre acentuada. Acentuam-se também as terminadas em “a”, “as”, “e”, “es”, “o”, “os”, e “em”. Para a homenagem ao Dia do Professor ser completa, a gente precisava ensinar alguma coisa. a) Observe os itens 1 e 2 do verbete PARABÉNS. Há diferenças entre eles. Aponte-as. b) Levando em conta o enunciado que está abaixo do verbete, a quem se dirige essa propaganda? c) Diferentes imagens da educação escolar sustentam essa propaganda. Indique pelo menos duas dessas imagens. TEXTOSPARA A PRÓXIMA QUESTÃO: MAÍRA Maíra só descobriu todo o seu poder um dia quando brincava com Micura na praia. Cada um deles tinha, le- vantada, uma mão cheia de vaga-lumes para alumiar, mas a luzinha era muito pouca. Maíra desenhou, assim mesmo, ali na areia da praia, uma arraia com seu fer- rão e tudo. Mas naquela penumbra se distraiu pisou na arraia desenhada. Foi aquela ferroada! Compreendeu, então, que podia fazer qualquer coisa: - Sou Maíra - lembrou - sou o arroto de Deus-Pai. Ele, ambir, agora tem nome: é Mairahú, meu pai. Meu filho será Mairaíra. - Pegou então a conversar com o irmão, Micura, sobre o que podiam fazer. Maíra: - O mundo de Mairahú, meu pai, é feio e triste. Não um mundo bom para a gente viver. Podemos me- lhorá-lo. Micura: - Não vá o Velho se ofender! Maíra: - Pode ser. É melhor não fazer nada. Micura: - Bobagem. Alguma coisinha podemos fazer. Maíra: - Vamos, então, tomar dos que têm, o que eles têm, para dar aos que não têm. Micura saltou alegre: - Sim, vamos, primeiro o fogo. Ando com frio e com muita vontade de comer um churrasco. O fogo era do Urubu-rei que mandava na aldeia gran- de das gentes urubus. Eles só comiam corós de carniça tostados no borralho. Não precisavam tanto do fogo. Usavam mais era luz para ver bem a carniça e o calor para esquentar o corpo nu quando se desvestiam das penas para brincar de gente. O jeito que os gêmeos encontraram para roubar o fogo foi matar um veado grande, muito grande, deixá-lo apo- 14 drecer para criar bastante bicho-coró e, então, mandar levar uma moqueca de corós para o Urubu-rei e con- vidá-lo para vir à comilança. Assim fizeram. Maíra de- senhou um cervo enorme, soprou para que vivesse e o matou ali mesmo. Quando estava bem podre e bicha- do, mandaram o passarinho que fala mais línguas, um papagaio, maracanã, atrás do Urubu-rei. Eles ficaram escondidos debaixo da carniça para agarrar o reizão bicéfalo quando ele pousasse. Assim fizeram. Quando o Urubu-rei estava bem preso, Maíra gritou: - Calma, meu rei. Não tenha medo. Só quero o fogo pro meu povinho. Todos andam com frio. Só comem o cru. Mas se armou a maior das confusões porque o Urubu- -rei começou a responder com as duas cabeças, falando ao mesmo tempo, cada qual dizendo uma coisa. Maíra não entendia nada. Aí uma cabeça do Urubu-rei virou-se para a outra e as duas caíram numa discussão cerrada. O tempo ia passando sem que Maíra soubesse o que fazer. Afinal, teve a ideia de mandar Micura agarrar o rei-falador. Levantou, então, suas duas mãos e fez de cada uma delas uma cabeça de urubu com bico e tudo e passou, assim, a conversar duro com as duas cabeças do reizão. Só deste modo conseguiu que ele mandas- se trazer o fogo, mas o rei ainda quis enganar Maíra entregando fogos que queimavam pouco e não davam luz. Felizmente ali estava Micura experimentando tudo. Provava um e dizia: - Não, este não serve não; não é o fogo que precisamos. Não, este também não é o fogo que precisamos. Não, este também não é o fogo de verdade. - Afinal, conse- guiram o fogo verdadeiro e fizeram o trato. Maíra: - Vocês urubus vão comer carniça com fartura; o chefão de duas cabeças vai ficar com uma só, para não enganar mais ninguém, mas nesta vai usar esse diade- ma vermelho e branco que eu lhe dou agora. Urubu-rei: - Fiquem com o fogo vocês, mairuns. Mas fa- çam muita carniça pra nós. (darcy ribeiro. maíra.) PROMETEU ACORRENTADO Ésquilo (A cena é o pico duma montanha deserta. Chegam Po- der e Vigor, que trazem preso Prometeu; segue-os, co- xeando, Hefesto, carregando correntes, cravos e malho.) PODER. Eis-nos chegados a um solo longínquo da terra, caminho da Cítia, deserto ínvio. Hefesto, é mister te de- sincumbas das ordens enviadas por teu pai, acorrentan- do este celerado, com liames inquebráveis de cadeias de aço, aos rochedos de escarpas abruptas. Ele roubou uma flor que era tua, o brilho do fogo, vital em todas as artes, e deu-a de presente aos mortais; é preciso que pague aos deuses a pena desse crime, para aprender a acatar o poder real de Zeus e renunciar o mau vezo de querer bem à Humanidade. HEFESTO. Poder e Vigor, a incumbência de Zeus para vós está terminada; nada mais vos embarga. Eu, porém, não me animo a agrilhoar à força um deus meu parente a um píncaro aberto às intempéries. Todavia, é imperioso criar essa coragem; é grave negligenciar as ordens de meu pai. (...) PODER. Basta! Para que te atardares em lástimas per- didas? Por que não abominas o deus mais odioso aos deuses, que entregou aos mortais um privilégio teu? HEFESTO. O parentesco e a amizade são forças formi- dáveis. PODER. Concordo, mas como se podem transgredir as ordens de teu pai? Isso não te infunde medo? HEFESTO. Tu és sempre cruel e audacioso. PODER. Lamentos não curam os teus males; não te can- ses à toa em lástimas ineficazes. HEFESTO. Oh! que ofício detestável! (...) HEFESTO. Podemos ir. Seus membros já estão amarrados. PODER. (a Prometeu) Abusa, agora! Furta aos deuses seus privilégios para entregá-los aos seres efêmeros! Que alívio te podem dar deste suplício os mortais? Erra- dos andaram os deuses em te chamarem Prometeu; tu mesmo precisas de alguém que te prometa um meio de safar-te destes hábeis liames! (Retiram-se Poder, Vigor e Hefesto.) PROMETEU. Éter divino! Ventos de asas ligeiras! Fontes dos rios! Riso imensurável das vagas marinhas! Terra, mãe universal! Globo do sol, que tudo vês! Eu vos invo- co. Vede o que eu, um deus, sofro da parte dos deuses! Contemplai quão ignominiosamente estracinhado hei de sofrer pelas miríades de anos do tempo em fora! Tal é a prisão aviltante criada para mim pelo novo capitão dos bem-aventurados! Ai! Ai! Lamento os sofrimentos atu- ais e os vindouros, a conjeturar quando deverá despon- tar enfim o termo deste suplício. Mas que digo? Tenho presciência exata de todo o porvir e nenhum sofrimento imprevisto me acontecerá. Cumpre-me suportar com a maior resignação os decretos dos fados, sabendo inelu- tável a força do Destino. Contudo, não posso calar nem deixar de calar minha desdita. Por ter feito uma dádiva aos mortais, estou jungido a esta fatalidade, pobre de mim! Sou quem roubou, caçada no oco duma cana, a fon- te do fogo, que se revelou para a Humanidade mestra de todas as artes e tesouro inestimável. Esse o pecado que resgato pregado nestas cadeias ao relento. (teatro grego. seLeção, introdução, notas e tradução direta do grego por Jaime bruna. são pauLo: cuLtrix, 1964.) 4. (UNESP) Muitos verbos, como é o caso de “renun- ciar”, apresentam mais de uma regência, por vezes sem alteração relevante de significado, de modo que a rea- lização da regência em cada frase se torna dependente da escolha estilístico-expressiva do escritor. Com base nesse fato, a) considerando que na frase “e renunciar o mau vezo de querer bem à Humanidade” o verbo “renunciar” aparece como transitivo direto, escreva uma frase em que o mesmo verbo apareça como transitivo indireto e outra em que apareça como intransitivo; b) reescreva a seguinte frase de Micura tornando o verbo “precisar” transitivo indireto: “Não, este tam- bém não é o fogo que precisamos”. 15 5. (UNICAMP) Matte a vontade. Matte Leão. Este enunciado faz parte de uma propaganda afixada em lugares nos quais se vende o chá Matte Leão. Obser- ve as construções a seguir, feitas a partir do enunciado em questão: Matte à vontade. Mate a vontade. Mate à vontade. a) Complete cada uma das construções acima com palavras ou expressões que explicitem as leituras pos- síveis relacionadas à propaganda. b) Retome a propaganda e explique o seu funciona- mento, explicitando as relações morfológicas, sintáti- cas e semânticas envolvidas. U.T.I. - E.O. 1. (UNICAMP) O texto abaixo é parte de uma campanha promovida pela ANER (Associação Nacional de Editores de Revistas). SURFAMOS A INTERNET, NADAMOS EM REVISTAS A Internet empolga. Revistas envolvem. A Internet agarra. Revistas abraçam. A Internet é passageira. Revistas são permanentes.E essas duas mídias estão crescendo. Um dado que passou quase despercebido em meio ao barulho da Internet foi o fato de que a circulação de re- vistas aumentou nos últimos cinco anos. Mesmo na era da Internet, o apelo das revistas segue crescendo. Pense nisto: o Google existe há 12 anos. Durante esse período, o número de títulos de revistas no Brasil cresceu 234%. Isso demonstra que uma mídia nova não substitui uma mídia que já existe. Uma mídia estabelecida tem a ca- pacidade de seguir prosperando, ao oferecer uma expe- riência única. É por isso que as pessoas não deixam de nadar só porque gostam de surfar. (adaptado de imprensa, n. 267, maio 2011, p. 17.) a) O verbo surfar pode ser usado como transitivo ou intransitivo. Exemplifique cada um desses usos com enunciados que aparecem no texto da campanha. Indique, justificando, em qual desses usos o verbo as- sume um sentido necessariamente figurado. b) Que relação pode ser estabelecida entre o título da campanha e o trecho reproduzido a seguir? Como essa relação é sustentada dentro da campanha? A Internet empolga. Revistas envolvem. A Internet agarra. Revistas abraçam. A Internet é passageira. Revistas são permanentes. TEXTOS PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: TEXTO 1 A REVOLUÇÃO DO CÉREBRO O seu cérebro é capaz de quase qualquer coisa. Ele con- segue parar o tempo, ficar vários dias numa boa sem dormir, ler pensamentos, mover objetos a distância e se reconstruir de acordo com a necessidade. Parecem su- perpoderes de histórias em quadrinhos, mas são apenas algumas das descobertas que os neurocientistas fizeram ao longo da última década. Algumas dessas façanhas sempre fizeram parte do seu cérebro e só agora conse- guimos perceber. Outras são frutos da ciência: ao decifrar alguns mecanismos da nossa mente, os pesquisadores estão encontrando maneiras de realizar coisas que antes pareciam impossíveis. O resultado é uma revolução como nenhuma outra, capaz de mudar não só a maneira como entendemos o cérebro, mas também a imagem que faze- mos do mundo, da realidade e de quem somos nós. [...] O seu corpo, ao que parece, é muito pequeno para con- ter uma máquina tão poderosa quanto o cérebro. Prova disso veio em julho, quando foram divulgadas as aven- turas de Matthew Nagle, um americano que ficou pa- ralítico em uma briga em 2001. Três anos depois, cien- tistas da Universidade Brown, EUA, e de quatro outras instituições implantaram eletrodos na parte do cérebro dele responsável pelos movimentos dos braços e regis- traram os disparos de mais de 100 neurônios. Enviados a um computador, esses sinais permitiram que ele con- trolasse um cursor em uma tela, abrisse e-mails, jogasse videogames e comandasse um braço robótico. Somente com o pensamento, Nagle conseguiu mover objetos. [...] Foi [...] uma prova de que o nosso cérebro é capaz de comandar objetos fora do corpo - uma ideia que pode mudar nossa relação com o mundo. extraído da revista superinteressante, editora abriL, agosto de 2006, pp.50-59. TEXTO 2 O SÉCULO LOUCO Do século XX, no futuro, se dirá que foi louco. Um século que usou ao máximo o poder do cérebro para manipu- lar as coisas do mundo e não usou o coração para fazer isso com sentimento solidário. Um século no qual a palavra “inteligência” perdeu o seu sentido pleno, porque o raciocínio foi capaz de ma- nipular a natureza nos limites da curiosidade científica, mas não foi usado para fazer um mundo melhor e mais belo para todos. A inteligência do século XX foi burra. Foi capaz de fabricar uma bomba atômica, liberar a energia escondida dentro dos átomos, mas incapaz de evitar que se usassem duas delas, matando centenas de milhares de pessoas. O que se pode dizer da bomba atômica, como símbolo do século XX, vale para o conjunto das técnicas usadas nes- tes cem anos loucos: fomos capazes de tudo, menos de 16 fazer o mundo mais decente - como teria sido possível. Vivemos um tempo em que a inteligência humana con- seguiu fazer robôs que substituem os trabalhadores, mas no lugar de libertar o homem da necessidade do trabalho, os robôs provocam a miséria do desemprego. Inventamos a maravilha do automóvel e aumentamos o tempo perdido para ir de casa ao trabalho. Fizemos armas inteligentes, que acertam os alvos sem necessi- dade de arriscar a vida de pilotos, mas põem em risco a paz entre os povos.[...] buarQue, cristovam. os instrangeiros. a aventura da opinião na fronteira dos sécuLos. rio de Janeiro: editora garamond, 2002, pp. 113-115. TEXTO 3 A BOMBA ATÔMICA (fragmento) A bomba atômica é triste Coisa mais triste não há Quando cai, cai sem vontade Vem caindo devagar Tão devagar vem caindo Que dá tempo a um passarinho De pousar nela e voar... Coitada da bomba atômica Que não gosta de matar! Coitada da bomba atômica Que não gosta de matar Mas que ao matar mata tudo Animal e vegetal Que mata a vida da terra E mata a vida do ar Mas que também mata a guerra... Bomba atômica que aterra! Pomba atônita da paz! Pomba tonta, bomba atômica Tristeza, consolação Flor puríssima do urânio Desabrochada no chão Da cor pálida do hélium E odor de rádium fatal Loelia mineral carnívora Radiosa rosa radical. Nunca mais oh bomba atômica Nunca em tempo algum, jamais Seja preciso que mates Onde houve morte demais: Fique apenas tua imagem Aterradora miragem Sobre as grandes catedrais: Guarda de uma nova era Arcanjo insigne da paz! moraes, vinicius de. antoLogia poética. rio de Janeiro: José oLympio, 1976, pp. 147-8. *Loelia - Nome que designa uma família de orquídeas TEXTO 4 POESIA NA SALA DE AULA DE CIÊNCIAS? A LITERATURA POÉTICA E POSSÍVEIS USOS DIDÁTICOS [...] Ciência e poesia pertencem à mesma busca imagi- nativa humana, embora ligadas a domínios diferentes de conhecimento e valor. A visão poética cresce da in- tuição criativa, da experiência humana singular e do co- nhecimento do poeta. A Ciência gira em torno do fazer concreto, da construção de imagens comuns, da experi- ência compartilhada e da edificação do conhecimento coletivo sobre o mundo circundante. Tem como vínculo restritivo, ao contrário da poesia, o representar adequa- damente o comportamento material; tem, mais profun- damente que a leitura poética do mundo, a capacidade de permitir a previsão e a transformação direta do en- torno material. As aproximações entre Ciência e poesia revelam-se, no entanto, muito ricas, se olhadas dentro de um mesmo sentimento do mundo. A criatividade e a imaginação são o húmus comum de que se nutrem. [...] Nos tempos atuais, em que a Ciência e a tecnologia impregnam profundamente nossa cultura e permeiam nosso cotidiano, com seus benefícios extraordinários mas também com suas mazelas, a poesia poderia pa- recer um anacronismo. Mas, talvez, as muitas pequenas verdades científicas constituam apenas uma aborda- gem incompleta e limitada do mundo. Relembremos Einstein: Não superestimem a ciência e seus métodos quando se trata de problemas humanos! A poesia e a arte, que parecem constituir necessidades urgentes de afirmação da experiência individual, uma visão com- plementar e indispensável da experiência humana, não podem ficar de fora das atividades interdisciplinares com os jovens nas escolas, mesmo aquelas ligadas ao aprendizado de Ciências. [...] moreira, iLdeu de castro. poesia na saLa de auLa de ciências? física na escoLa, v. 3, nº 1, 2002. 2. (PUC-RJ) a) Retire, do Texto 1, uma expressão que tem um ca- ráter excessivamente informal em relação ao restante do mesmo. b) Fazendo todas as modificações necessárias, rees- creva o período a seguir sem empregar a conjunção integrante “QUE”. “Enviados a um computador, esses sinais permitiram que ele controlasse um cursor em uma tela, abrisse e-mails, jogasse videogame e comandasse um braço robótico.” c) Reescreva o período a seguir, utilizando a conjun- ção “embora” para marcar a relação estabelecida entre as duas orações. “Inventamos a maravilha do automóvel e aumenta- mos o tempo perdido para ir de casa ao trabalho.”17 TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: A China detonou uma bomba e pouca gente percebeu o estrago que ela causou. Assim que abriu as portas para as multinacionais oferecendo mão de obra e custos mui- to baratos, o país enfraqueceu as relações de trabalho no mundo. Em uma recente análise, a revista inglesa The Economist mostra que a entrada da China, da Índia e da ex-União Soviética na economia mundial dobrou a força de trabalho. Com isso, o poder de barganha de sindicatos do mundo inteiro teria se esfacelado. Provavelmente por isso, diz a revista, salários e benefícios tenham crescido apenas 11% desde 2001 nas empresas privadas dos Esta- dos Unidos, ante 17% nos cinco anos anteriores. (você s/a, setembro de 2005) 3. (FGV) a) Transcreva uma oração do texto introduzida pelo pronome relativo “que”. b) Qual é o antecedente desse pronome, isto é, a pa- lavra a que ele se refere? c) Qual é a função sintática desse pronome na oração em que se encontra? TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: 1Durante mais de trinta anos, o bondezinho das dez e quinze, que descia do Silvestre, parava como burro ensi- nado em frente à casinha de José Maria, e ali encontra- va, almoçado e pontual, o velho funcionário. Um dia, porém, José Maria faltou. O motorneiro batia a sirene. Os passageiros se impacientavam. Floripes cor- reu aflita a avisar o patrão. Achou-o de pijama, estirado na poltrona, querendo rir. – Seu José Maria, o senhor hoje perdeu a hora! Há mui- to tempo o motorneiro está a dar sinal. – Diga-lhe que não preciso mais. A velha portuguesa não compreendeu. – Vá, diga que não vou... Que de hoje em diante não irei mais. A criada chegou à janela, gritou o recado. E o bondezi- nho desceu sem o seu mais antigo passageiro. Floripes voltou ao patrão. Interroga-o com o olhar. – Não sabes que estou aposentado? (...) Interrompera da noite para o dia o hábito de esperar o bondezinho, comprar o jornal da manhã, bebericar o café na Avenida, e instalar-se à mesa do Ministério, si- sudo e calado, até às dezessete horas. Que fazer agora? Não mais informar processos, não mais preocupar-se com o nome e a cara do futuro Ministro. Pela primeira vez fartava a vista no cenário de águas e montanhas que a bruma fundia. (...) 4Floripes serviu-lhe o jantar, deixou tudo arrumado, e retirou-se para dormir no barraco da filha. 2Mais do que nunca, sentiu José Maria naquela noite a solidão da casa. Não tinha amigos, não tinha mulher nem amante. E já lera todos os jornais. Havia o tele- fone, é verdade. Mas ninguém chamava. Lembrava-se que certa vez, há uns quinze anos, aquela fria coisa, pendurada e morta, se aquecera à voz de uma mulher desconhecida. A máquina que apenas servia para re- cados ao armazém e informações do Ministério trans- formara-se então em instrumento de música: adquirira alma, cantava quase. De repente, sem motivo, a voz emudecera. E o aparelho voltou a ser na parede do corredor a aranha de metal, 3sempre calada. O sussur- ro da vida, o sangue de suas paixões passavam longe do telefone de Zé Maria... Como vencer a noite que mal começava? (...) O telefone toca. Quem será? (...) Era engano! Antes não o fosse. A quem estaria destina- da aquela voz carregada de ternura? Preferia que dis- sesse desaforos, que o xingasse. (...) Atirou-se de bruços na cama. E sonhou. Sonhou que conversava ao telefone e era a voz da mulher de há quinze anos... Foi andando para o passado... Abriu-se- -lhe uma cidade de montanha, pontilhada de igrejas. E sempre para trás – tinha então dezesseis anos –, ressur- giu-lhe a cidadezinha onde encontrara Duília. Aí parou. E Duília lhe repetiu calmamente aquele gesto, o mais louco e gratuito, com que uma moça pode iluminar para sempre a vida de um homem tímido. Acordou com raiva de ter acordado, fechou os olhos para dormir de novo e reatar o fio de sonho que trouxe Duília. Mas a imagem esquiva lhe escapou, Duília desa- pareceu no tempo. (...) Toda vez que pensava nela, o longo e inexpressivo inter- regno* do Ministério que chegava a confundir-se com a duração definitiva de sua própria vida apagava-se-lhe de repente da memória. O tempo contraía-se. Duília! Reviu-se na cidade natal com apenas dezesseis anos de idade, a acompanhar a procissão que ela seguia can- tando. Foi nessa festa da Igreja, num fim de tarde, que tivera a grande revelação. Passou a praticar com mais assiduidade a janela. Quan- to mais o fazia, mais as colinas da outra margem lhe recordavam a presença corporal da moça. Às vezes che- gava a dormir com a sensação de ter deixado a cabeça pousada no colo dela. As colinas se transformavam em seios de Duília. Espantava-se da metamorfose, mas se comprazia na evocação. (...) Era o afloramento súbito da namorada (...). aníbaL machado a morte da porta-estandarte e tati, a garota e outras histórias. rio de Janeiro: José oLympio, 1976. * Interregno: intervalo 18 4. (UERJ) No trecho transcrito a seguir há quatro ora- ções, cujos limites estão assinalados por uma barra: Floripes serviu-lhe o jantar, / deixou tudo arrumado, / e retirou-se / para dormir no barraco da filha. (ref. 4) Reescreva esse trecho, passando a primeira oração para a voz passiva e convertendo a segunda em oração adje- tiva introduzida por pronome. Em seguida, indique a classificação sintática e semânti- ca da última oração. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Havia já quatro anos que Eugênio se achava no semi- nário sem visitar sua família. Seu pai já por vezes tinha escrito aos padres pedindo-lhes que permitissem que o menino viesse passar as férias em casa. Estes porém, já de posse dos segredos da consciência de Eugênio, receando que as seduções do mundo o arredassem do santo propósito em que ia tão bem encaminhado, opu- seram-se formalmente, e responderam-lhe, fazendo ver que aquela interrupção na idade em que se achava o menino era extremamente perigosa, e podia ter pés- simas consequências, desviando-o para sempre de sua natural vocação. Uma ausência, porém de quatro anos já era excessiva para um coração de mãe, e a de Eugênio, principalmen- te depois que seu filho andava mofino e adoentado, não pôde mais por modo nenhum conformar-se com a vontade dos padres. Estes portanto, muito de seu mau grado, não tiveram remédio senão deixá-lo partir. (bernardo guimarães. o seminarista, 1995) 5. (FGV) Observe as reescritas do texto e responda con- forme solicitado entre parênteses. a) Seu pai já por vezes tinha escrito aos padres pedin- do-lhes à permissão para que o menino viesse passar as férias em casa. / ... opuseram-se formalmente à ideia, e responderam de forma negativa inicialmente. (Justifique se os usos do acento indicativo da crase estão ou não de acordo com a norma-padrão.) b) Para um coração de mãe porém uma ausência de quatro anos já era excessiva... (Pontue o texto e justi- fique a pontuação realizada.) 6. (UFF) A prática da gramática não deve estar desvinculada da percepção das diferenças na produção de sentido, en- caminhadas pela língua no processo de comunicação. Explique as diferentes regências do verbo “combater” e as decorrentes produções de sentido no contexto em que se inserem: “Combateremos a sombra. Com crase e sem crase.” TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: O artista Juan Diego Miguel apresenta a exposição Arte e Sensibilidade, no Museu Brasileiro da Escultura (MUBE) de suas obras que acabam de chegar no país. Seu sentido de inovação tanto em temas como em ma- teriais que elege é sempre de uma sensação extraordi- nária para o espectador. Juan Diego sensibiliza-se com os materiais que nos ro- deam e lhes dá vida com uma naturalidade impressio- nante, encontrando liberdade para buscar elementos no fauvismo de Henri Matisse, no cubismo de Pablo Pi- casso e do contemporâneo de Juan Gris. Uma arte que está reservada para poucos. Exposição: de 03 de agosto à 02 de setembro das 10 às 19h. 7. (FGV) Comente o emprego do sinal indicativo de cra- se no trecho - Exposição: de 03 de agosto à 02 de se- tembro das 10 às 19 h. 8. (UEMA)Leia o poema “Quadrilha”, de Carlos Drum- mond de Andrade. QUADRILHA João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém. João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história. fonte: andrade, carLos drummond de. aLguma poesia. são pauLo: companhia das Letras, 2013. A tira reescreve o poema “Quadrilha”. Nela, é reconta- da a segunda parte do referido poema. www.tirasnao.bLogspot.com 19 Responda às seguintes questões: a) No último quadro da tira, como se pode interpretar “(...) um poema terrivelmente trágico, e que parece de humor”, considerando o poema. b) No terceiro quadro: “Raimundo morreu num desas- tre, depois de beber muito a fim de esquecer Maria, que não lhe amava”, ocorre um desvio da norma culta em relação à regência verbal. Reescreva esse período, adequando-o às regras da sintaxe do padrão culto. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Geração Canguru Gilberto Dimenstein Ao mapear novas tendências de consumo no Brasil, pu- blicitários acreditam ter detectado a “Geração Cangu- ru”. São jovens bem-sucedidos profissionalmente, têm entre 25 e 30 anos de idade e vivem na casa dos pais. O interesse neles é óbvio: compõem um nicho de consumi- dores com alto poder aquisitivo. Ainda na “bolsa” da mãe, eles mostram que mudaram as fronteiras entre o jovem e o adulto. Até pouquíssi- mo tempo atrás, um marmanjão de 30 anos, enfiado na casa dos pais, seria visto como uma anomalia, suspei- to de algum desequilíbrio emocional que retardou seu crescimento. O efeito “canguru” revela que pais e filhos estão mu- tuamente mais compreensivos e tolerantes, capazes de lidar com suas diferenças. Para quem se lembra dos conflitos familiares do passado, marcados pelo choque de gerações, os “cangurus” até sugerem um grau de ci- vilidade. Não é tão simples assim. Estudos de publicitários divulgados nas últimas sema- nas indicam um lado tumultuado – e nem um pouco saudável – dessa relação familiar. Por trás das frias es- tatísticas sobre tendência do mercado, a pergunta que aparece é a seguinte: até que ponto os brasileiros mais ricos estão paparicando a tal ponto seus filhos que pro- duzem indivíduos com baixa autonomia? Ao investigar uma amostra de 1.500 mães e filhos, no Rio e em São Paulo, a TNS InterScience concluiu que 82% das crianças e dos adolescentes influenciam for- temente as compras das famílias. A pressão é especial- mente intensa nas classes A e B, cujas crianças, segundo os pesquisadores, empregam cada vez mais a estraté- gia das birras públicas para ganhar, na marra, o objeto de desejo. Com medo das birras, as mães tentam, segundo a pes- quisa, driblar os filhos e não levá-los às compras, espe- cialmente nos supermercados, mas, muitas vezes, aca- bam cedendo. Os responsáveis pelo levantamento da InterScience atribuem parte do problema ao sentimen- to de culpa. Isso porque, devido ao excesso de traba- lho, os pais ficam muito tempo longe de casa e querem compensar a ausência com presentes. Uma pesquisa encomendada pelo Núcleo Jovem da Abril detectou que muitos dos novos consumidores vivem uma ansiedade tamanha que nem sequer usufruem o que levam para casa. Já estão esperando o produto que vai sair. É ninfomania consumista. Jovens relataram que nunca usaram, nem mesmo uma vez, roupas que adqui- riram. Aposentam aparelhos eletrodomésticos compra- dos recentemente porque já estariam defasados. Psicólogos suspeitam que essa atitude seja uma fuga para aplacar a ansiedade e a carência, provocadas, em parte, pela falta de limite. Imaginando-se moder- nos, pais tentam ser amigos de seus filhos e, assim, desfaz-se a obrigação de dizer não e enfrentar o con- flito. O resultado é, no final, uma desconfiança, explici- tada pelos entrevistados, ainda maior em relação aos adultos. Outro estudo, desta vez patrocinado pela MTV, detectou um início de tendência entre os jovens de insatisfação diante de pais extremamente permissivos. Estão deman- dando adultos mais pais do que amigos. Para complicar ainda mais a insegurança das crianças e dos adolescen- tes, a violência nas grandes cidades leva os pais, com- preensivelmente, a pilotar os filhos pelas madrugadas, para saber se não sofreram uma violência. Brincar nas ruas está desaparecendo da paisagem urbana, ajudando a formar seres obesos, presos ao computador. Há pencas de estudo mostrando como a brincadeira, dessas em que nos sujamos, ralamos o joelho na árvore, ajuda a desenvolver a criatividade, o senso de autonomia e de cooperação. É um espaço de estímulo à imaginação. Todos sabemos como é difícil alguém prosperar, com autonomia, se não souber lidar com a frustração. Muito se estuda sobre a importância da resiliência – a capa- cidade de levar tombos e levantar como um elemento educativo fundamental. Professores contam, cada vez mais, como os alunos não têm paciência de construir o conhecimento e desistem logo quando as tarefas se complicam um pouco. Por isso, entre outras razões, os alunos decepcionam-se ra- pidamente na faculdade que exige mais foco em pou- cos assuntos. Os educadores alertam que muitos jovens têm dificul- dade de postergar o prazer e buscam a realização ime- diata dos desejos; respondem exatamente ao bombar- deamento publicitário, inclusive na ingestão de álcool, como vamos testemunhar, mais uma vez, nas propa- gandas de cerveja neste verão. Daí o risco de termos “cangurus” que fiquem cada vez mais na bolsa (e no bolso) dos pais. P.S. – Em todos esses anos lidando com educação co- munitária, posso assegurar que uma das melhores coi- sas que as escolas de elite podem fazer por seus alu- nos é estimulá-los ao empreendedorismo social. É um notável treino para enfrentar desafios. Enfrentam-se em asilos, creches e favelas os limites e as carências. Conheci casos e mais casos de alunos problemáticos que mudaram sua cabeça ao desenvolver uma ação comunitária e passaram, até mesmo, a valorizar o aprendizado curricular. http://www1.foLha.uoL.com.br/foLha/dimenstein/coLunas/gd121205.htm 20 9. (UFJF) Leia novamente: “Todos sabemos como é difícil alguém prosperar, com autonomia, se não souber lidar com a frustração.” a) Explique a concordância entre o sujeito e o verbo na parte acima destacada. b) Compare a concordância acima (Todos sabemos) com: “Todos sabem como é difícil...”. Qual é a prin- cipal diferença no impacto discursivo produzido pelas duas formas? Justifique sua resposta. 10. (ITA) Leia o texto seguinte: Antes de começar a aula - matéria e exercícios no qua- dro, como muita gente entende -, o mestre sempre declamava um poema e fazia vibrar sua alma de tanta empolgação e os alunos ficavam admirados. Com a suti- leza de um sábio foi nos ensinando a linguagem poética mesclada ao ritmo, à melodia e a própria sensibilidade artística. Um verdadeiro deleite para o espírito, uma sensação de paz, harmonia. (Osório, T. Meu querido pro- fessor. “Jornal Vale Paraibano”, 15/10/1999.) a) Qual a interpretação que pode ser dada à ausência da crase no trecho “a própria sensibilidade artística”? b) Qual seria a interpretação caso houvesse a crase? TEXTOS PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: TEXTO 1 O conceito de Trabalho Decente Trabalho Decente, para a OIT (Organização Internacio- nal do Trabalho), é um trabalho produtivo e adequada- mente remunerado, exercido em condições de liberda- de, equidade e segurança, e que seja capaz de garantir uma vida digna a todas as pessoas que dependem do seu trabalho para viver. Trata-se, portanto, do trabalho que permite satisfazer às necessidades pessoais e fa- miliares de alimentação, educação, moradia, saúde e segurança. É também o trabalho que garante proteção social nos impedimentos ao exercício do trabalho (de- semprego, doença, acidentes, entre outros) e assegura renda ao chegar à época da aposentadoria (Conferencia Internacionaldel Trabajo, 1999). É um trabalho no qual as relações entre cada trabalha- dor ou trabalhadora e seus empregadores ou empre- gadoras estão devidamente regulamentadas por lei, especialmente no que se refere aos direitos fundamen- tais no trabalho, e autorreguladas através de acordos negociados em um processo de diálogo social em di- versos níveis, o que implica o pleno exercício do direito da liberdade sindical, assim como o fortalecimento das diferentes instituições da administração do trabalho e das formas de representação e organização dos atores sociais (MARTINEZ, 2005). A noção de Trabalho Decente integra, portanto, as di- mensões quantitativa e qualitativa do emprego. Ela propõe não só medidas de geração de postos de traba- lho e de enfrentamento do desemprego, mas também de superação de formas de trabalho que se baseiam em atividades insalubres, perigosas, inseguras e/ou degra- dantes ou que geram renda insuficiente para que os in- divíduos e suas famílias superem situações de pobreza. Tal conceito de trabalho afirma a necessidade de que o emprego esteja também associado à proteção social e à noção de direitos do trabalho, entre eles os de repre- sentação, associação, organização sindical e negociação coletiva. A noção de Trabalho Decente é uma tentativa de ex- pressar, numa linguagem cotidiana, a integração de ob- jetivos sociais e econômicos, reunindo as dimensões do emprego, dos direitos no trabalho, da segurança e da representação, em uma unidade com sentido e coerên- cia interna quando considerada na sua totalidade. Qual é a diferença entre o conceito de Trabalho Decente e conceitos mais tradicionais, como o de trabalho de qualidade? Sua principal novidade é ser multidimen- sional, ou seja, acrescentar à dimensão econômica, re- presentada pelo conceito de um emprego de qualidade, novas dimensões de caráter normativo, de segurança e de participação/representação (MARTINEZ, 2005). É importante assinalar que essa diferença conceitual determina diferentes políticas, ou melhor, uma dife- rente articulação de políticas em termos de emprego e mercado de trabalho e destas com as políticas eco- nômicas e sociais. A integração e a coerência entre a política sociolaboral e a política econômica são essen- ciais para a geração de Trabalho Decente. Enquanto a política econômica cria condições para o crescimento e a geração de empregos, a política sociolaboral, integra- da com a política econômica, cria as condições para que o emprego gerado incorpore as distintas dimensões do conceito de Trabalho Decente (LEVAGGI, 2006). Ao definir a promoção do Trabalho Decente como o as- pecto central e integrador de toda a sua estratégia, a OIT reafirma o seu compromisso com o conjunto dos trabalhadores e trabalhadoras e não apenas com aque- les que têm um emprego regular, estável, protegido – no setor formal ou estruturado da economia. A pro- moção do Trabalho Decente (ou a redução dos déficits de Trabalho Decente) é um objetivo que deve ser per- seguido também em relação ao conjunto das pessoas – homens, mulheres e jovens – que trabalha à margem do mercado de trabalho estruturado: assalariados não regulamentados, tradutores por conta própria, tercei- rizados ou subcontratados, trabalhadores a domicílio, etc. Todas as pessoas que trabalham têm direitos – as- sim como níveis mínimos de remuneração, proteção e condições de trabalho –, que devem ser respeitados. Essa noção, portanto, inclui o emprego assalariado, o trabalho autônomo ou por conta própria, o trabalho a domicílio, assim como a ampla gama de atividades rea- lizadas na economia informal e na economia de cuidado (RODGERS, 2002). Existe uma forte relação entre o conceito de Trabalho Decente e a noção da dignidade humana. Com efeito, tal como discutido por Rodgers (2002), o trabalho é o âmbito para o qual confluem os objetivos econômicos e sociais das pessoas. O trabalho supõe produção e rendimentos. Mas significa, também, integração social, 21 identidade e dignidade pessoal. O vocábulo decente expressa algo que é ao mesmo tempo suficiente e de- sejável. Um Trabalho Decente significa um trabalho no qual o seu rendimento e as condições em que este se exerce estão de acordo com as nossas expectativas e as da comunidade, mas não são exageradas, estão dentro das aspirações razoáveis de pessoas razoáveis. [...] Trata-se do trabalho exercido atualmente e de suas expectativas de futuro; das condições em que este se exerce; do equilíbrio entre a vida doméstica e a vida familiar; de um trabalho que permita manter os filhos na escola, evitando que eles sejam levados ao trabalho infantil. Trata-se da igualdade de gênero e raça/etnia, da igualdade de reconhecimento e da possibilidade de que as mulheres, os negros e outros grupos discrimina- dos possam optar e assumir o controle sobre as suas próprias vidas. Trata-se das capacidades pessoais para competir no mercado, manter-se em dia com as novas tecnologias e preservar a saúde – física e mental. Tra- ta-se de desenvolver as qualificações empresariais, de receber uma parte equitativa da riqueza que se ajuda a criar e de não ser objeto de discriminação. Trata-se de poder expressar-se e ser ouvido no lugar de trabalho e na comunidade. adaptado de abramo, Laís. trabaLho decente, informaLidade e precarização do trabaLho. in: daL rosso, sadi e fortes, José augusto abreu sá (org.). condições de trabaLho no Limiar do sécuLo xxi. brasíLia: épocca, 2008. p. 40-41. TEXTO 2 Olhou as cédulas arrumadas na palma, os níqueis e as pratas, suspirou, mordeu os beiços. Nem lhe restava o direito de protestar. Baixava a crista. Se não baixasse, desocuparia a terra, largar-se-ia com a mulher, os filhos pequenos e os cacarecos. Para onde? Hem? Tinha para onde levar a mulher e os meninos? Tinha nada! Espalhou a vista pelos quatro cantos. Além dos telha- dos, que lhe reduziam o horizonte, a campina se esten- dia, seca e dura. Lembrou-se da marcha penosa que fizera através dela, com a família, todos esmolamba- dos e famintos. Haviam escapado, e isto lhe parecia um milagre. Nem sabia como tinham escapado. Se pudesse mudar-se, gritaria bem alto que o rouba- vam. Aparentemente resignado, sentia um ódio imenso a qualquer coisa que era ao mesmo tempo a campina seca, o patrão, os soldados e os agentes da Prefeitu- ra. Tudo na verdade era contra ele. Estava acostumado, tinha a casca muito grossa, mas às vezes se arreliava. Não havia paciência que suportasse tanta coisa. Um dia um homem faz besteira e se desgraça. Pois não estavam vendo que ele era de carne e osso? Tinha obrigação de trabalhar para os outros, natural- mente, conhecia o seu lugar. Bem. Nascera com esse destino, ninguém tinha culpa de ele haver nascido com um destino ruim. Que fazer? Podia mudar a sorte? Se lhe dissessem que era possível melhorar de situação es- pantar-se-ia. Tinha vindo ao mundo para amansar bra- bo, curar feridas com rezas, consertar cercas de Inverno a Verão. Era sina. O pai vivera assim, o avô também. E para trás não existia família. Cortar mandacaru, ense- bar látegos - aquilo estava no sangue. Conformava-se, não pretendia mais nada. Se lhe dessem o que era dele, estava certo. Não davam. Era um desgraçado, era como um cachorro, só recebia ossos. Por que seria que os ho- mens ricos ainda lhe tomavam uma parte dos ossos? Fazia até nojo pessoas importantes se ocuparem com semelhantes porcarias. Na palma da mão as notas estavam úmidas de suor. Desejava saber o tamanho da extorsão. Da última vez que fizera contas com o amo o prejuízo parecia menor. Alarmou-se. Ouvira falar em juros e em prazos. Isto lhe dera uma impressão bastante penosa: sempre que os homens sabidos lhe diziam palavras difíceis, ele saía lo- grado. Sobressaltava-se escutando-as. Evidentemente só serviam para encobrir ladroeiras. Mas eram bonitas. Às vezes decorava algumas e empregava-as fora de propósito. Depois esquecia-as. Para que um pobre da laia dele usar conversade gente rica? Sinhá Terta é que tinha uma ponta de língua terrível. Era: falava quase tão bem como as pessoas da cidade. Se ele soubesse fa- lar como Sinhá Terta, procuraria serviço noutra fazenda, haveria de arranjar-se. Não sabia. Nas horas de aperto dava para gaguejar, embaraçava-se como um menino, coçava os cotovelos, aperreado. Por isso esfolavam-no. Safados. Tomar as coisas de um infeliz que não tinha onde cair morto! Não viam que isso não estava certo? Que iam ganhar com semelhante procedimento? Hem? Que iam ganhar? ramos, graciLiano. vidas secas. rio de Janeiro: record, 1986. p.95-97. 11. (PUC-RJ) a) Explique a diferença de sentido entre as frases abaixo: i) Os homens sabidos diziam palavras difíceis a Fabiano. ii) Os homens, sabidos, diziam palavras difíceis a Fabiano. b) Destaque, do último parágrafo do Texto 1, a frase que, considerando a noção de Trabalho Decente, atenderia às inquietações de Fabiano na seguinte passagem: “Se ele soubesse falar como Sinhá Terta, procuraria servi- ço noutra fazenda, haveria de arranjar-se. Não sabia. Nas horas de aperto dava para gaguejar, embaraçava-se como um menino, coçava os cotovelos, aperreado. Por isso esfo- lavam-no. Safados.” (último parágrafo do Texto 2) c) Identifique o referente do pronome demonstrativo isso em “Não viam que isso não estava certo?”, no último parágrafo do Texto 2. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: O dia abriu seu para-sol bordado O dia abriu seu para-sol bordado De nuvens e de verde ramaria. E estava até um fumo, que subia, Mi-nu-ci-o-sa-men-te desenhado. Depois surgiu, no céu azul arqueado, A Lua – a Lua! – em pleno meio-dia. Na rua, um menininho que seguia Parou, ficou a olhá-la admirado... 22 Pus meus sapatos na janela alta, Sobre o rebordo... Céu é que lhes falta Pra suportarem a existência rude! E eles sonham, imóveis, deslumbrados, Que são dois velhos barcos, encalhados Sobre a margem tranquila de um açude.. mario Quintana. prosa e verso. porto aLegre: gLobo, 1978. 12. (UERJ) Há no poema de Mario Quintana um mesmo sinal de pontuação – o ponto de exclamação – que apa- rece em versos diferentes e com sentidos distintos. Explicite o valor semântico atribuído a esse sinal em cada um dos versos. 13. (PUC-RJ) a) Reescreva duas vezes a segunda oração do período a seguir, substituindo o verbo “VIVER” por cada um dos seguintes verbos: I) lidar II) depender “Ele é nossa principal tecnologia social, por meio da qual vivemos hoje.” b) Pontue o período a seguir, empregando apenas um sinal de vírgula e um de dois pontos. É aquela velha história se você coloca coisas caras em casa vai precisar pôr trancas nas portas e grades nas janelas. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Leia o poema de Manuel Bandeira (1886-1968) para responder à(s) questão(ões) a seguir. Poema só para Jaime Ovalle1 Quando hoje acordei, ainda fazia escuro (Embora a manhã já estivesse avançada). Chovia. Chovia uma triste chuva de resignação Como contraste e consolo ao calor tempestuoso da noite. Então me levantei, Bebi o café que eu mesmo preparei, Depois me deitei novamente, acendi um cigarro e fiquei pensando... – Humildemente pensando na vida e nas mulheres que amei. (estreLa da vida inteira, 1993.) 1Jaime Ovalle (1894-1955): compositor e instrumentista. Aproxi- mou-se do meio intelectual carioca e se tornou amigo íntimo de Villa-Lobos, Di Cavalcanti, Sérgio Buarque de Hollanda e Manuel Bandeira. Sua música mais famosa é “Azulão”, em parceria com o poeta Manuel Bandeira. (Dicionário Cravo Albin da música po- pular brasileira) 14. (UNESP) O verso inicial do poema (“Quando hoje acordei, ainda fazia escuro”) pode ser visto como uma espécie de abertura narrativa, já que nele se observam dados indicadores de tempo (“quando”) e espaço (“fazia escuro”). Identifique no poema dois outros termos que também indicam circunstância temporal e acabam por reforçar seu caráter narrativo. Justifique sua resposta. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: 15. (UEG) As manchetes jornalísticas caracterizam-se pela objetividade, evitando comentários avaliativos e/ ou explicações causais e descrições. Reescreva o texto em um período, explicitando informações avaliativas e descritivas subentendidas na manchete. 23 INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS 24 Arte rupestre É necessário que entendamos que os registros rupestres nos revelam dados materiais da vivência de povos muito antigos, especialmente de suas relações, como a caça, a pesca e outros tipos de contatos com animais. artista desconhecido – pintura rupestre de aLtamira (c.15000 a.c.) As pinturas rupestres também foram encontradas no Bra- sil, especialmente na região de São Raimundo Nonato, no Piauí e também nas regiões da Chapada Diamantina e Gruta do Sol, na Bahia. Elas apresentam motivos natura- listas (humanos e animais em cenas de caça) ou motivos geométricos (círculos, cruzes e espirais). artista desconhecido – pintura rupestre da gruta do soL (c.40000 a.c.) Arte dos povos antigos Arte egípcia Engloba o período que vai de 2649 a.C. a 1070 a.C, abran- gendo uma notável variedade de pinturas (em afrescos e papiros), esculturas, arquitetura, cerâmicas e outros ele- mentos. Nesse período não havia ainda a distinção entre “arte” e “artesanato”, que surge no Renascimento. As obras egípcias retratavam doutrinas políticas, sociais e espirituais, com função dinástica, religiosa e cultural. Ape- sar de existirem alguns sistemas de regras para produção artística, nota-se grande criatividade no desenvolvimen- to de certas obras. A arte egípicia alinha-se, portanto, a um ideal simbólico, com função, também, comunicativa (hieróglifos). Arte grega A arte grega, em seus primórdios, recebeu forte influência da produção artística egípcia. Destacam-se as produções escultóricas e a arquitetura do período. Também encontra- mos pinturas, que, em geral, possuem como suporte vasos e ânforas. Os gregos criaram várias obras de arte que enfeitavam templos e prédios públicos, celebrando vitórias em bata- lhas e retratando pessoas famosas já mortas. Foi uma arte que idealizou um forte projeto realista de reprodução dos corpos, que em momento posterior influenciaria a arte do Renascimento. Já na arquitetura, destacam-se o rápido desenvolvimento artístico na produção de elementos geométricos e simétri- cos, e a preocupação com a ornamentação que compunha as colunas dos templos gregos, destacando-se as ordens dóricas e jônicas. Arte românica Denomina-se arte românica o período de produção artísti- ca que ocorreu durante os anos de decadência do Império Romano depois das primeiras décadas do século III (o que também demarca o início da Era Medieval). Esse período ficou fortemente marcado por alterações na arquitetura, especialmente a dos templos religiosos. As características mais significativas da arquitetura ro- mânica são a utilização da abóbada, dos pilares ma- ciços que a sustentam e das paredes espessas com aberturas estreitas usadas como janelas. A partir disso, temos construções bastante grandes e sólidas, chama- das “fortalezas de Deus”. LEITURA DE IMAGENS I (DA ARTE ANTIGA À ARTE MEDIEVAL) 25 Renascimento Possivelmente, o Renascimento é um dos períodos mais profícuos da história da arte. A consolidação da burgue- sia instituiu na sociedade a figura do mecenas, que seria o grande financiador de pesquisas científicas (a fim de que a sociedade avançasse do ponto de vista da exploração socioeconômica) e culturais (as artes como consolidação da imagem do burguês na sociedade) do período. Além disso, a valorização da razão, advinda da recuperação dos valores da Antiguidade Clássica, fez com que diminuísse a influência dos valores medievais, vinculados a uma visão de mundo católico-cristã. Do ponto de vista estético, o investimento do mecenato fez com que houvesse grandes inovações artísticas no perío- do. Os estudos aprofundados em geometria, perspectiva, anatomia humana e tridimensionalidade fizeram com que as obras artísticasganhassem uma dimensão de perfeição nunca antes vista. Devemos lembrar ainda que houve, nos países europeus, expressões distintas desses ideais, sendo comum a divisão entre renascimento italiano e renascimento alemão e dos países baixos. Barroco O contexto do Barroco está relacionado às grandes mu- danças ocorridas na Europa da Idade Moderna, especial- mente aos eventos relacionados, em um primeiro momen- to, à Reforma Protestante, movimento que se sucedeu aos questionamentos feitos por Martinho Lutero a respeito das leituras bíblicas realizadas pela igreja católica. Num segundo momento, temos uma agressiva reação por parte da igreja católica, que, aproveitando-se de incertezas que permeavam a mente das pessoas no período, reativou o Tribunal do Santo Ofício, além de ter dado origem ao Ín- dex (o índice de livros proibidos) e à Companhia de Jesus. Toda essa pressão católica que recai sobre os indivíduos se torna visível na arte barroca, que volta a explorar com maior incidência os temas religiosos. No que diz respeito à parte estética, como resquício do Re- nascimento, há o aprofundamento do realismo das formas corporais, com um trabalho mais frequente de arredonda- mento das figuras, o que ofereceu uma sensação maior de movimento às figuras que compunham a obra. Por fim, intensifica-se o trabalho com a técnica do Chiaroscuro, que consistia na elaboração de técnicas de projeção e entra- da de luz em relação a espaços mais escurecidos da obra, criando um contraste que foi usado até como elemento de diálogo com o tema religioso em voga. Rococó e Neoclássico O Rococó e o Neoclássico nasceram em Paris por volta de 1720 e perduraram até aproximadamente 1770. Foram movimentos que operaram uma reação da aristocracia francesa contra o Barroco suntuoso, palaciano e solene praticado no período de Luís XIV. O Neoclássico, em par- ticular, foi um movimento artístico que seguiu a tendência de aproximação com a retomada de um pensamento mais racional (marcada por uma nova retomada de certos valo- res da antiguidade clássica). Os valores iluministas também interferiram no modo como a arte foi encarada no período (especialmente no apego à natureza como representação de uma materialidade mais racional). Romantismo O movimento romântico enfatizou a exasperação das emo- ções, a turbulência da psicologia humana e a força terrível da natureza, muito maior do que a própria força humana (lembremos que, nos movimentos Rococó e Neoclássico, a natureza era vista como sinônimo de equilíbrio, base do sistema racional). Além disso, passava-se a viver um perío- do histórico em que os indivíduos cada vez mais se afasta- vam da noção de coletividade, entrando em um processo de individualismo cada vez mais incisivo. Impressionismo O Impressionismo foi um importante movimento que re- volucionou a pintura e abriu as portas para a chegada das tendências da arte do século XX. Os artistas impressionis- tas buscavam observar os efeitos da luz solar sobre obje- tos em vários momentos do dia para poder registrar em suas obras as variações de cores da natureza. A pintura não apresentava dimensões realistas, mas sugeria (dava a impressão ao espectador) a figuração de algo. Os artistas do Impressionismo não chegaram propriamente a formar uma escola ou movimento, apenas compartilharam algu- mas técnicas e procedimentos gerais. Os principais artistas do período foram Claude Monet e Pierre Auguste Renoir. LEITURA DE IMAGENS II (ARTES DA ERA MODERNA) 26 O Barroco e o Rococó no Brasil O Barroco no Brasil se desenvolveu do século XVII ao iní- cio do século XIX (quando já havia sido abandonado na Europa). Sua maior expressão ocorreu na arquitetura e na escultura, com predominância da temática religiosa. Já a pintura, em geral, foi realizada em afrescos dentro das igre- jas, seguindo, evidentemente, o tema religioso. No que diz respeito ao Rococó, algumas linhas desse estilo foram absorvidas pelos arquitetos do período (uma maior preocupação com o trabalho geométrico), mas sem que se bloqueassem por completo as influências barrocas. Nesse sentido, o Rococó no Brasil não apresentou muitas diferen- ças em relação ao Barroco. Primeira metade do século XIX no Brasil A influência estrangeira da missão francesa O início do século XIX no Brasil é marcado pela vinda da família real portuguesa. Dom João e sua comitiva desembar- cam em território brasileiro, na Bahia, em 1808. No mesmo ano, se transferiram para o Rio de Janeiro. Oito anos depois, em 1816, chegou ao Brasil, a pedido do rei, a Missão Artísti- ca Francesa, que consistia num conjunto de pintores que viria a fazer importantes registros de paisagens muito variadas do Brasil. Dentre esses pintores, destacaram-se Nicolas-Antoine Taunay e Jean-Baptiste Debret. Esse mesmo grupo, no próprio ano de 1816, criou a Escola Real das Ciências, Artes e Ofícios. Mais tarde, no ano de 1826, ela seria transformada na Academia Imperial de Be- las-Artes, que traria para o Brasil, na segunda metade do século XIX, as influências do Romantismo, do Realismo e até do Impressionismo. Segunda metade do século XIX no Brasil Pintura acadêmica no Brasil e modernização da arte Em meados do século XIX, com a presença da família real no Brasil, o país passou por um período de crescimento econômico, estabilidade social e de incentivo às artes, cons- truído pelo governo do imperador Dom Pedro II. A presença da Academia Imperial de Belas Artes fez com que o Brasil passasse a ter produções de grandes pintores brasileiros. No entanto, como a pintura era estudada a partir de uma base acadêmica europeia, ela refletia ainda muitos dados conservadores dessa escola, especialmente a preocupação excessiva com o realismo Superação do academicismo no Brasil Os artistas que frequentavam a Academia Imperial se- guiam padrões trazidos pela Missão Artística Francesa. O principal desses padrões consistia não numa simples imitação da realidade, mas em criar uma beleza ideal realística baseada na imitação dos modelos clássico, notadamente dos gregos. Nesse sentido, o caráter rea- lista das obras era inspirado tanto no realismo europeu, quanto nos parâmetros renascentistas. No entanto, em finais do século XIX, muitos importantes artistas saíram do país e, ao retornarem, trouxeram a influência de ou- tras experiências artísticas, especialmente o Impressio- nismo e o Pontilhismo. Merecem destaque as obras dos pintores Belmiro Barbosa de Almeida e de Eliseu D´An- gelo Visconti, que incorporaram a técnica de sensações a suas obras. Expressionismo Movimento que surgiu entre os anos de 1904 e 1905 na Alemanha, inspirado na obra O grito (1893), de Edward Munch. Surge especificamente como um movimento de reação ao Impressionismo pois, enquanto este último se preocupava prio- ritariamente com as sensações provocadas pela luz, o Expressionismo desejava retratar as inquietações psicológicas do ser humano no agitado início do século XX. Cubismo Movimento que surgiu a partir de Cézanne. A ideia dos cubistas era que os objetos se apresentassem a partir da ideia de um cubo desdobrado / aberto, com todos os seus lados no plano frontal em relação ao observador. Esse gesto faz com que se abandone a perspectiva e os dados tridimensionais. LEITURA DE IMAGENS III (A ARTE MODERNA) 27 Fauvismo Foi um movimento pontual que surgiu na França em 1905. O nome do movimento surge da palavra “fauves” (feras), e foi dado pelo crítico de arte francês Louis Vauxcelles, por conta do modo agressivo e intenso com que os artistas usavam as cores puras, sem misturas ou matizes. Além do uso intenso de cores puras, os artistas do Fauvis- mo operaram uma simplificação das formas apresentadas. Todo esse trabalho com cores intensas e formas mais atí- picas opera um deslocamento em relação a qualquer dado que fosse mais realístico. Abstracionismo Talvez seja o movimento que operou o afastamento mais radical da realidade. Caracteriza-se pela ausência de rela- ção imediataentre as formas e as cores reais. Uma tela abstrata não narra uma história, nem oferece dados plena- mente reconhecíveis. Foi um movimento que cresceu bastante durante o período relacionado a era moderna da pintura, ganhando até algu- mas distinções, como o abstracionismo geométrico que, ao invés de dispersar formas, traços e cores, passava a organi- zá-las de modo geométrico. Surrealismo O Surrealismo foi um movimento que esteve presente não só nas artes plásticas, mas também na literatura. Teve iní- cio sob a liderança do escritor André Breton e tinha como objetivo provar que a arte não poderia ser resultado de operações racionais e lógicas, mas sim de pensamentos ab- surdos e ilógicos. Nesse sentido, a instância do sonho, por exemplo, com suas imagens desconexas, passa a ser um ponto central para a estética surrealista. Além do sonho, os autores criavam “mecanismos” que os afastassem da realidade no momento da criação (o artista surrealista Joan Miró, por exemplo, costumava entrar em longos ciclos de jejum, a fim de que as alucinações da fome orientassem as imagens que surgiam em sua obra). Futurismo Como o próprio nome sugere, os futuristas valorizavam o fu- turo e as modernizações que o acompanhavam. A velocidade e os processos de mecanização passavam a fazer parte inte- grante da sociedade, e os artistas desse movimento deseja- vam incorporam as sensações e percepções que essa moder- nidade trazia. As linhas retas que eram incorporadas a suas telas tentavam reproduzir o movimento veloz das máquinas. A influência da arte moderna no Brasil Lasar Segall foi o primeiro artista a colocar o Brasil em con- tato com as experiências artísticas europeias, ainda antes do início do movimento modernista. Na obra em destaque é possível notar a influência das vanguardas na arte bra- sileira, especialmente as formas angulosas do cubismo e a variação de cores do fauvismo. anita maLfatti – o homem amareLo (1915) Anita Malfatti sofreu severas críticas de artistas mais con- servadores quando da exposição de seu trabalho no Brasil, no ano de 1917. Posteriormente, recebeu apoio de diversos artistas que passavam a seguir as linhas de influência eu- ropeia, sendo reconhecida hoje como uma das artistas que mais chamou a atenção para os novos modelos de produção do período, especialmente os trabalhos que envolviam o uso das cores, como podemos ver em O homem amarelo. Outro importante autor do movimento modernista brasilei- ro foi Vicente do Rego Monteiro. O autor viveu na Europa até 1917, quando retornou ao Brasil e participou da Sema- na de Arte Moderna de 1922. As influências vanguardistas em sua obra são bastante notáveis, especialmente o traba- lho com as formas geométricas circulares. tarsiLa do amaraL – o mamoeiro (1925) 28 Tarsila também produziu uma obra que expressava a jun- ção das experiências vanguardistas – como os sólidos modelos cubistas que usava em seus quadros – com a materialidade das vidas brasileiras, muitas vezes colocan- do temáticas que expressavam pontos de vista críticos em relação aos problemas sociais do brasileiro, especialmente em suas relações de trabalho. candido portinari – café (1934) Portinari foi outro importante pintor do período modernis- ta. Suas obras retratam com frequência as relações de tra- balho brasileiras (especialmente na terra) e o quanto elas parecem ser duras com os indivíduos, que nos seus quadros denotam sua força física por meio dos membros grandes e corpos volumosos, como vemos na imagem acima. monumento às bandeiras - victor brecheret (1936 – 1953) Na escultura, o maior destaque do modernismo brasileiro ficou por conta de Victor Brecheret, cujas obras afastaram- -se da mera imitação da realidade e ganharam expressão por meio de formas geométricas de linhas simples. A ampliação das bases artísticas A arte contemporânea, para atingir o objetivo de criar ca- minhos para que o espectador passe a integrar de alguma maneira a obra artística, irá trabalhar com matrizes varia- das que vão para além da pintura e da escultura tradicio- nais, passando a trabalhar com instalações em espaços, performances corporais e fazendo uso da natureza. Pop Art O movimento tem seu início na década de 1960, e vale-se de criações da civilização industrial a fim de constituir uma crítica irônica da cultura comercial de massa contemporâ- nea. As obras artísticas irão absorver: § as imagens dessa cultura consumista § os dados do ambiente nacionalista americano § os produtos de consumo em si § os ícones da televisão, do rádio, dos quadrinhos e do cinema Os artistas da Pop Art também se valem dessa estética do consumo para questionar os valores da arte, criando obras que seriam mais despretensiosas justamente por operar uma linguagem mais popular. Instalações A palavra instalação entra em uso no fim da década de 1960, mas sua origem é em geral atribuída aos ready-ma- des de Marcel Duchamp. Trata-se de montagens muitas vezes tridimensionais que transformam o espaço de ex- posição em um ambiente imersivo (que faça o espectador interagir ou tomar parte na obra). A princípio, as instalações eram consideradas obras lo- calizadas, criadas muitas vezes para o espaço específico de uma galeria ou exposição. Com o passar dos anos, foram se estendendo para fora dos espaços dos museus e passaram a ganhar as ruas ou mesmo as residências dos próprios artistas, transformadas em instalações abertas à visitação. Esse gesto de criar montagens amplas em espaços varia- dos tinha como objetivo zombar da ideia de que a arte era comerciável e colecionável, consolidando uma nova ideia de arte pela arte. É evidente que, com o passar dos anos, muitos museus se modernizaram e passaram a constituir espaços que acolhessem melhor as instalações, e no que diz respeito à comercialização, quando não se vendia a montagem em si, o mercado de arte negociava os estudos preparatórios e as colagens que deram origem ao projeto, a fim de financiar os custos do projeto. LEITURA DE IMAGENS IV (A ARTE CONTEMPORÂNEA) 29 Novo realismo e arte performática O novo realismo foi uma estética que surgiu em meados dos anos 1960, numa tentativa de se afastar de modo mais rígido do expressionismo abstrato que dominava o fim da década de 1950. Trata-se de uma estética que surge em um contexto de pós-guerra, com crescentes avanços tecnológicos e grandes mudanças políticas que exigiam uma postura da arte que voltasse a promover uma aproximação com a realidade. Era comum aos novos realistas a incorporação em suas obras de objetos que foram descartados no cotidiano, a fim de estabelecer uma crítica mais precisa às relações de consumo, ao desperdício, ou a tudo aquilo que a guerra representa de negativo. Os artistas também se pautavam por uma ideia de “des- truição criativa”, que resultava em ações ou performances em que os indivíduos passavam a ser, efetivamente, parte integrante da obra artística. Minimalismo Outro projeto contemporâneo importante foi o Minimalis- mo. O movimento visava, por meio de traços e formatos bastante simplificados, criar sugestões para que o espec- tador constituísse as figurações e ideias em torno da obra. Foi um movimento que inspirou muitos trabalhos que pos- teriormente forma realizados no Brasil. O movimento ca- racteriza-se por trabalhar com peças simples, com formas geométricas quadradas ou retangulares que, embora se afastem de qualquer figuração mais precisa da realidade, podem, em alguns casos, sugerir algo. Arte conceitual A arte conceitual também surge em meados dos anos 1960 como um desafio às classificações impostas à arte por museus e galerias, que costumavam afirmar ao público “isto é arte”. Nesse sentido, a arte conceitual vem como um movimento que insere a pergunta: o que é arte? As raízes da arte conceitual remontam ao Dadaísmo, e têm como objetivo colocar um conceito à frente da obra de arte em si. Nesse sentido, promove-se uma reflexão não sobre o objeto, mas sobre a ideia queestá sobre esse objeto. Ela foi operada por meio de pinturas, esculturas e até performances. Arte povera A Arte povera, cuja tradução mais direta do italiano seria “arte pobre”, consistiu em um movimento que se afirma- va como antielitista, e por esse motivo suas composições eram realizadas sempre com materiais muito simples, vin- dos da natureza ou mesmo do lixo. Embora esse gesto remeta ao trabalho com os ready-ma- des, que alguns anos antes havia sido incorporado pela Pop Art, os artistas da arte povera julgavam a crítica ao consumismo feita pela Pop Art muito esvaziada. Nesse sen- tido, o uso de materiais comuns ou de elementos da natu- reza passava a ser uma maneira de desafiar as tradições e estruturas clássicas da arte. Op art Outra importante tendência contemporânea foi a Op art (o nome é uma abreviação para Optical Art). Seu objetivo era criar uma interação com o espectador a partir de tentativas de manipulação de sua percepção visual. Os artistas usa- vam ilusões e efeitos ópticos nas obras para promover um efeito psicofisiológico sobre o observador. Land art A Land art surge em finais dos anos 1960 buscando no- vos materiais, temas e lugares para a prática artística. Os artistas desse movimento irão explorar o potencial da paisagem e do meio ambiente tanto por seus materiais quanto por sua localização. A principal ideia era: a na- tureza agora faria parte da obra, ao invés de apenas ser representada por ela. Os primeiros artistas da Land art foram americanos. Pos- teriormente, esse modelo estético se difundiu por outros países da Europa. As obras realizadas consistiam em escul- turas de monumentos feitas com a própria natureza. Urban / Street art A arte urbana se originou no fim da década de 1960 e início da década de 1970, na Filadélfia, com alguns gra- fiteiros pioneiros da região, e alguns anos depois ganha notoriedade em Nova York. A princípio o grafite se con- centrava na produção de “marcas”, que consistiam em um pseudônimo resumido inscrito em qualquer superfície pública disponível. Em momento posterior, as marcas evoluíram para “peças”, que eram ilustrações caligráficas grandes e extremamente complexas, feitas com o uso de latas de tinta spray e cuja principal mídia, se não única, era o sistema de transporte público, principalmente o metrô de Nova York. Arte contemporânea no Brasil No Brasil, a arte contemporânea também seguiu as ten- dências que vimos nas escolas anteriores. Encontramos, às vezes, estéticas mais definidas (vinculadas a um estilo determinado) e em outros momentos encontramos cruza- mentos estéticos. 30 Arte concreta (1950 – 1960) Entre os anos 1950 e 1960, durante o governo de Jusceli- no Kubitschek, o Brasil começa a apresentar grande cresci- mento econômico e avanços no campo da industrialização (que geraram aspirações em relação ao trabalho) e tam- bém no da comunicação. A partir desses avanços, a arte concreta busca uma maior integração do trabalho de arte com a ideia de produção e avanço industrial. As obras apresentam maior crença na tecnologia, grande rigor geométrico, e na matemática, estruturando ritmos e relações. O desenho das obras é preciso, feito com régua e compasso, e utiliza, tanto no suporte, quanto na maté- ria prima, materiais industrializados produzidos em série, como ferro, alumínio, tinta esmalte, entre outras. Arte neoconcreta (1960 – 1970) A arte neoconcreta surge em meio ao início da tensão políti- ca e cultural que toma o país, além do início do regime militar no país. Seu projeto estético visava denunciar o excesso de dogmatismo da estética anterior (concretismo), fazendo arte segundo “receitas preestabelecidas”, e que terminavam - ao invés de integrar a arte na vida - submetendo-a a um esque- ma de produção de potencial crítico e artístico zero. O Manifesto Neoconcreto, apoiando-se na filosofia de Merleau-Ponty, recuperava o humano, reabilitando o sensível, procurando-o fazer fundamento de um conhe- cimento real. Tinha a intenção de revitalizar o relaciona- mento do sujeito com seu trabalho. Nesse período, desta- cam-se as obras de Hélio Oiticica e Lygia Clark. Outras experiências contemporâneas (pós-1970) As produções artísticas mais recentes do Brasil preservam a integração entre o espectador e a obra. Para isso, os ar- tistas se valem do acúmulo das várias experiências que ocorreram fora do país. Entre as várias bases estéticas, vemos a apropriação de materiais do cotidiano, com proposta de releitura de ob- jetos utilizados e ruptura com os suportes tradicionais (destacando-se, mais uma vez, a escultura e a arquitetura). Outro ponto importante é a exteriorização da obra de arte (ela não se encontra apenas em museus, mas busca ou- tros espaços). Também temos uma resistência ao excesso de racionalismo visto no concretismo. Mais recentemente, ela também passa a se apropriar de discursos identitários (minorias e margens). A fotografia surge no ano de 1839, a partir de uma pa- tente mecânica criada por Louis Jacques Daguere (o da- guerreótipo). A partir daí, o aparelho fotográfico o apare- lho fotográfico evoluiu e permitiu a criação de diferentes momentos e escolas de fotografia. Fotografia no século XIX a) Imagens no daguerreótipo As primeiras imagens no daguerreótipo, embora simples, muitas vezes eram manipuladas de modo a conseguir pers- pectivas estéticas mais profundas. b) Primeiros testemunhos fotográficos Já na segunda metade do século XIX, encontram-se re- gistros fotográficos que testemunhavam grandes eventos como encontros, batalhas ou descobertas científicas. c) Instantaneidade e efeito Uma das grandes dimensões estéticas do início da fotogra- fia consistia em tentar, dentro das limitações do aparelho, criar imagens de tons mais naturalistas, que dessem uma real dimensão de registros da natureza, especialmente no que diz respeito aos usos de luz. d) Ruas e sociedade A partir do momento em que começam a se tornar mais “portáteis”, as câmeras fotográficas passam a ser utiliza- das pelos artistas para registrar as mazelas sociais, resulta- do da intensificação das desigualdades sociais na Europa da segunda metade do século XIX. e) Fotografia e ciência Entre meados e fins do século XIX, um número cada vez maior de cientistas se voltou para a fotografia a fim de do- cumentar fenômenos e eventos naturais, assim como ob- servar humanos e animais e suas relações de movimento. LEITURA DE IMAGENS V (A FOTOGRAFIA) 31 Fotografia da primeira metade do século XX A fotografia da era moderna esteve muitas vezes próxima das estéticas estudadas na pintura. A fotografia da primeira metade do século XX nos mostra as primeiras tentativas de amadurecimento estético do gênero. a) Trabalho mais cuidadoso com a imagem herbert ponting – gruta num iceberg, o terra nova à distancia (1911) Vemos que a imagem de Herbert Ponting já explora re- lações de forma e profundidade, além de uma atenção bem específica para a questão da entrada de luz no espa- ço. Também o cuidado “temporal” de fazer o registro no exato momento em que um barco passa ao fundo. b) Registro de guerra O trabalho fotográfico passa a fazer parte do registro de guerras na primeira metade do século XX. Os registros, até hoje marcantes, nos dão uma dimensão do absurdo e da violência que envolveram tais acontecimentos. c) Experimentação e abstração As perspectivas do abstracionismo também alcançaram a fotografia. Na tentativa de amadurecer o gênero este- ticamente, surgiram registros fotográficos que distorciam a figuração. d) Surrealismo O surrealismo também teve parte de sua atuação vincula- da à fotografia. A mesma perspectiva do sonho e do ab- surdo que víamos na pintura também pode ser encontrada na fotografia. e) Fotografias de rua As fotografias de rua colocavam em prática a ideia do “ins- tantâneo”, que consistiam em fotografias que registravam momentos muito particulares do cotidiano em enquadra- mentos muitas vezes específicos ou inusitados. Fotografia da segunda metadedo século XX até os dias atuais Na segunda metade do século XX, até nossos dias, a fo- tografia apresenta grandes avanços. Em alguns momen- tos, seguirá mais próxima das perspectivas que vemos na pintura e, em outros, apresentará características mais particulares. a) Performance e participação A fotografia também explorou, assim como a pintura, pers- pectivas relacionadas ao espectador participante em rela- ções que envolviam performances. b) Documentário A fotografia também explorou as relações que documen- tam grandes problemas sociais. Em geral, são fotografias marcas por forte intencionalidade, com objetivo de cons- cientizar por meio do choque. c) Paisagem alterada pelo homem A fotografia também atendeu a demandas relacionadas a denúncias sobre degradação do meio ambiente; denúncias essas que, muitas vezes, geraram fotografias memoráveis. d) Fotografia e globalização Muitos artistas também discutiram as consequências (positi- vas e negativas) da globalização no mundo contemporâneo. wang Qingsong – siga-me (2003) e) Rebelião e conflito Também foram realizados importantes registros a respeito de rebeliões e conflitos (e suas consequências) que abala- ram o mundo na segunda metade do século XIX. 32 Quadrinhos As histórias em quadrinhos são, em geral, publicadas no formato de revistas, livros ou em tiras veiculadas em re- vistas e jornais. Aliás, tendo em vista as dimensões do vestibular (elaborado com provas que não possuem gran- de espaço), o tipo mais comum de quadrinho que encon- tramos são as “tiras”. Tirinhas Trata-se de um gênero textual que mais comumente apre- senta temática humorística, mas também encontraremos (especialmente no vestibular) tirinhas de cunho social ou político, satíricas ou metafísicas (que propõem reflexões existenciais). Charges Trata-se de um gênero que, trabalhando com as lin- guagens verbal e não verbal, precisa estar em conso- nância com os conhecimentos de mundo do interlo- cutor, uma vez que o entendimento da mensagem só será efetivado se houver compreensão de contextos determinados. Cartuns Trata-se, portanto, de um gênero que, trabalhando com as linguagens verbal e não verbal, não depende de conheci- mento de mundo mais específico, pois aborda situações mais amplas. Entende-se por gênero publicitário aquele que tem como objetivo principal fazer com que o interlocutor/ouvinte tome parte em alguma causa, seja ela comprar um produto ou aderir a uma ideia. São textos de cunho persuasivo, por isso estão com- pletamente ligados à função apelativa/conativa da linguagem. Os textos publicitários estão fortemente inseridos na sociedade contemporânea e, por esse motivo, estão presentes em mui- tos vestibulares. Ao lado do gênero jornalístico, é dos que apresenta maior número de questões registradas. A respeito do texto publicitário é sempre importante pensar a sua circulação e sua recepção. A linguagem dos textos publicitários é marcada por uma maior flexibilidade em relação à gramática normativa. Como o objetivo básico desses textos é atingir rapidamente o interlocutor, é necessário que se opte, em alguns momentos, por uma linguagem mais coloquial/informal. Portanto, encontraremos muito frequentemente anúncios publicitários cujos textos apresentam “desvios” em relação à norma padrão. QUADRINHOS, TIRINHAS, CHARGES E CARTUNS O GÊNERO PUBLICITÁRIO 33 Dos vários tipos de gêneros existentes, o jornalístico é um dos mais amplos, pois envolve características pertencentes a vários tipos de composição textual. Por esse motivo é também um dos gêneros mais trabalhados em provas de vestibulares e no ENEM. A notícia A notícia é um dos elementos que compõem o gênero jor- nalístico. Está espalhada pelos mais diversos meios de co- municação (jornais, revistas, rádio, internet). Tecnicamente, podemos dizer que a notícia se caracteriza pelo puro registro de fatos, sem que haja a emissão de opi- nião da pessoa que a escreve. O objetivo básico de uma notícia é transmitir informações a um leitor de ma- neira objetiva e precisa. A partir dessa definição, podemos inferir que a notícia trabalha pelos mesmos termos da fun- ção referencial da linguagem (buscar informações de um referente no mundo, e transmiti-las objetivamente). Reportagem A reportagem também é um tipo de gênero jornalístico que costuma apresentar textos mais longos e bastante detalha- dos. A reportagem costuma retratar a observação direta de um repórter sobre acontecimentos e situações específicas. Artigo de opinião e editorial Os artigos de opinião e editoriais também são parte do gênero jornalístico e têm como característica serem textos que articulam notícias a partir de elementos argu- mentativos. Existem algumas pequenas diferenças entre os dois estilos de texto. O artigo expressa um ponto de vista da pessoa que o assina, e geralmente aborda ques- tões sociais, políticas e culturais. Sua condução é feita com elementos argumentativos que tentam persuadir o leitor da opinião que está sendo apresentada. Já o editorial manifesta a opinião não de um indivíduo, mas de um órgão de imprensa como um todo, por esse moti- vo não é assinado por um particular (não expressa ponto de vista particular). Costumam abordar temas de grande projeção nacional ou internacional, também sobre temas sociais, políticos ou culturais. Embora sua condução tam- bém apresente elementos argumentativos de persuasão, o editorial costuma ser mais equilibrado e informativo do que o artigo de opinião. Também conhecidos como injuntivos, os textos técnicos são utilizados não apenas como elemento informativo, mas princi- palmente como elemento instrucional (que ensina alguém a fazer algo a respeito de algum assunto). É um tipo de texto que muitos confundem com o texto de divulgação científica, uma vez que ambos são escritos por um especialista da área. Mas há uma diferença essencial: no texto técnico há a preferência por uma linguagem mais especializada (complexa), enquanto os textos de divulgação científica têm como objetivo apresentar para o grande público uma pesquisa científica/técnica em linguagem mais acessível. Essa diferença na abordagem se dá justamente por conta dos objetivos finais desses textos: cien- tífico informa e divulga; técnico informa e ensina. TEXTO JORNALÍSTICO TEXTOS TÉCNICOS E CIENTÍFICOS 34 U.T.I. - Sala 1. (UNICAMP) Ao analisar A primeira missa no Brasil, obra de 1860, feita por Victor Meirelles e exposta atu- almente no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, o historiador Rafael Cardoso inseriu o quadro no gênero da pintura histórica. Para o autor, tal gênero “deveria partir de um grande e elevado tema e mostrar o domínio do pintor de um amplo leque de informações não pictóricas. Ou seja, em meados do século XIX, tanto a correção da indumentária representada quanto o es- pírito cívico da obra eram sujeitos a exame detalhado. O quadro teria grandes formatos, composições comple- xas e perfeito acabamento. A realização de uma pintura assim poderia levar anos e geralmente correspondia a um atestado de amadurecimento do pintor.” adaptado de rafaeL cardoso, a arte brasiLeira em 25 Quadros (1790-1930). rio de Janeiro/são pauLo: record, 2008, p. 54-55. a) Explique as razões pelas quais podemos considerar que a obra em questão é baseada em uma noção de história oficial e heroica. b) Qual era a visão predominante dos integrantes da Semana de Arte Moderna de 1922 em relação à arte acadêmica? Justifique sua resposta. 2. (FUVEST) Examine estas imagens, que reproduzem, em preto e branco, dois quadros da pintura brasileira. a) Identifique o movimento artístico a que elas per- tencem e aponte uma característica de sua proposta estética. b) Cite e caracterize um evento brasileiro importante relacionado a esse movimento. 3. (UNESP 2018) Examine a tira do cartunista argentino Quino (1932-) para responder à questão a seguir a) Na tira, o que cada um dos dois grupos de pessoas representa? b) Em português, empregamos a seguinteexpressão: “o tiro saiu pela culatra”. Explicite o sentido dessa ex- pressão e a relacione com a crítica veiculada pela tira. 4. (UNICAMP) TEXTO I Entre 1995 e 2008, 12,8 milhões de pessoas saíram da condição de pobreza absoluta (rendimento médio do- miciliar per capita até meio salário mínimo mensal), permitindo que a taxa nacional dessa categoria de po- breza caísse 33,6%, passando de 43,4% para 28,8%. No caso da taxa de pobreza extrema (rendimento médio domiciliar per capita de até um quarto de salário míni- mo mensal), observa-se um contingente de 13,1 milhões de brasileiros a superar essa condição, o que possibilitou reduzir em 49,8% a taxa nacional dessa categoria de po- breza, de 20,9%, em 1995, para 10,5%, em 2008. (dimensão, evoLução e proJeção da pobreza por região e por estado no brasiL, comunicados do ipea, 13/07/2010, p. 3.) TEXTO II a) Podemos relacionar os termos miséria e pobreza, presentes no TEXTO II, a dois conceitos que são abor- dados no TEXTO I. Identifique esses conceitos e expli- que por que eles podem ser relacionados às noções de miséria e pobreza. b) Que crítica é apresentada no TEXTO II? Mostre como a charge constrói essa crítica. 35 5. (FUVEST) Examine a seguinte matéria jornalística: Sem-teto usa topo de pontos de ônibus em SP como cama Às 9h desta segunda (17), ninguém dormia no ponto de ônibus da rua Augusta com a Caio Prado. Ninguém a não ser João Paulo Silva, 42, que chegava à oitava hora de sono em cima da parada de coletivos. “Eu sempre durmo em cima desses pontos novos. É gostoso. O teto tem um vidro e uma tela embaixo, então não dá medo de que quebre. É só colocar um cobertor embaixo, pra ficar menos duro, e ninguém te incomoda”, disse Silva depois de acordar e descer da estrutura. No dia, entretanto, ele estava sem a coberta, “por causa do calor de matar”. Por não ter trabalho em local fixo (“Cato lata, ajudo numa empresa de carreto. Faço o que dá”), ele varia o local de pouso. “Às vezes é aqui no centro, já dormi em Pinheiros e até em Santana. Mas é sempre nos pontos, porque eu não vou dormir na rua”. www1.foLha.uoL.com.br, 19/03/2014. adaptado. a) Qual é o efeito de sentido produzido pela associação dos elementos visuais e verbais presentes na imagem acima? Explique. b) O vocábulo “pra”, presente nas declarações atribuídas a João Paulo Silva, é próprio da língua falada corrente e informal. Cite mais dois exemplos de elementos linguísticos com essa mesma característica, também presentes nessas declarações. U.T.I. - E.O. 1. (UNICAMP 2019) O texto a seguir, publicado junto com a charge abaixo, foi escrito em homenagem a Marielle Franco, mulher negra, da favela, socióloga, vereadora do Rio de Janeiro. Defensora dos Direitos Humanos, Marielle foi morta a tiros no dia 14 de março de 2018, no Estácio, região central da cidade. O luto por Marielle me conduz ao poema A flor e a náusea de Carlos Drummond, cada dia mais atual, nos lembrando que “o tempo não chegou de completa justiça. O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera”. Ele pergunta: “Posso, sem armas, revoltar-me?”. O inimigo está com a faca, o queijo, os fuzis e as balas na mão, o que aumenta nosso sentimento de impotência. Drummond me mostra a flor furando “o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio” e, dessa forma, “me salvo e dou a poucos uma esperança mínima”. A poesia, território onde os assassinos não entram, tem esse poder milagroso de colocar ao nosso alcance a arma da razão com muita munição de esperança. (adaptado de José ribamar bessa freire, “uma toada para marieLLe: a fLor Que fura o asfaLto”. a charge de Quinho foi encontrada na internet peLo autor da crônica. disponíveL em http://www.taQuiprati.com.br/ cronica/1387-uma-toada-para-marieLLe-a-fLor-Que-fura-o-asfaLto. acessado em 03/09/2018.) a) Segundo o dicionário Michaelis, “estar com a faca e o queijo na mão” significa “ter poder amplo e irrestrito”. Como isso aparece no trecho da crônica e na charge? b) Como a ideia de “munição de esperança” está expressa na charge e no poema citado? 36 2. (FUVEST 2019) Examine o anúncio e leia o texto. I. II. Art. 149 Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto: Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à violência. http://www.pLanaLto.gov.br/cciviL_03/Leis/2003/L10.803.htm a) Explique a relação de sentido entre os trechos (I) “Escravidão no Brasil não é analogia” e (II) “Reduzir alguém a con- dição análoga à de escravo”. b) Qual a relação entre o uso da imagem sobre um fundo escuro e o texto do anúncio? 3. (UNESP 2018) Examine as tiras do cartunista americano Bill Watterson (1958 - ). a) Na tira 1, como o garoto Calvin interpreta o choro da mãe? Reescreva a última fala de Calvin, substituindo o verbo “antropomorfiza” por outro de sentido equivalente. b) Na tira 2, a pergunta do tigre Haroldo poderia ser considerada uma resposta para a pergunta de Calvin? Justifique. 4. (UNICAMP 2018) Canção é tudo aquilo que se canta com inflexão melódica (ou entoativa) e letra. Há um “artesana- to” específico para privilegiar ora a força entoativa da palavra ora a forma musical; nem só poesia nem só música. Um dos equívocos dos nossos dias é justamente dizer que a canção tende a acabar porque vem perdendo terreno para o rap! Ora, nada é mais radical como canção do que uma fala que conserva a entoação crua. A fala no rap é entoada com certa regularidade rítmica, o que a torna diferente de uma fala usual. Apesar de convivermos hoje “com uma diversidade cancional jamais vista”, prevalece na mídia, nos meios cultural e musical “a opinião uniforme de que es- tamos mergulhados num ‘lixo’ de produção viciada e desinteressante”. Vivemos uma descentralização, com eventos 37 musicais ricos e variados, “e a força do talento desses novos cancionistas também não diminuiu”. O rap serve-se da entoação quase pura, para transmitir informações verbais, normalmente intensas, sem per- der os traços musicais da linguagem da canção. Seu for- mato, menos música mais fala, é ideal para se fazer pro- nunciamentos, manifestações, revelações, denúncias, etc., sem que se abandone a seara cancional. Podemos dizer que o trabalho musical, no rap, é para restabelecer as balizas sonoras do canto, mas nunca para perder a concretude da linguagem oral ou conter a crueza e o peso de seus significados pessoais e sociais. Atenuar a musicalização é reconhecer que as melodias cantadas comportam figuras entoativas (modos de dizer) que precisam ser reveladas por suas letras. (adaptado de Luiz tatit. artigos disponíveis em http://www.Luiztatit. com.br/artigos/artigo?id=29/cancionistas- invis%c3%adveis. htmL e http://www.scieLo.br/pdf/rieb/n59/0020-3874- rieb-59-00369.pdf. acessados em 11/12/2017.) A partir da leitura dos textos acima, a) aponte dois argumentos de Luiz Tatit que defen- dem a ideia de que o rap é um tipo de canção. b) cite duas características, apresentadas nos textos, que corroboram que o rap é uma forma ideal de “can- ção de protesto”. 5. (UNICAMP 2018) Leia a seguir trechos das entrevistas concedidas pelo escritor chileno Alejandro Zambra ao jornal Folha de São Paulo e à revista Cult sobre seu livro Múltipla Escolha, lançado no Brasil em 2017. A obra imita o formato da Prova de Aptidão Verbal aplicada de 1966 a 2002 aos candidatos a vagas em universidades no Chile. Falando à Folha, Zambra afirma que havia na prova de múltipla escolha “uma grande sintonia com a ditadura chilena. Para entrar na universidade, teríamos que saber eliminar as orações. Havia censura, e nos aconselhavam a censurar”. E acrescenta que o sistema educacional moldava o pensamento dos alunos com “a ideia de que só existe uma resposta correta.” Abordando o sentido crítico daescolha desse formato para a narrativa, o autor explica à Cult que, tendo sido criado nesse sistema, interessava-lhe mais a autocríti- ca. Escrevendo uma espécie de novela, lembrou-se da prova e começou a brincar com esse formato. “No co- meço foi divertido, como imitar as vozes das pessoas, mas logo me dei conta de que também imitava minha própria voz, até que de repente entendi que esse era o livro. A paródia e a autoparódia, a crítica e a autocrítica, o humor e a dor...” O formato de prova oferece diversas opções para completar e interpretar cada resposta, mas pede ao leitor um movimento duplo de leitura: testar possibilidades de respostas e erigir uma opção única e arbitrária. Zambra esclarece: “me interessam todos es- ses movimentos da autoridade. A ilusão de uma respos- ta, por exemplo. Creio que este é um livro sobre a ilusão de uma resposta. Nos ensinaram isso, que havia uma resposta única, e logo descobrimos que havia muitas e isso às vezes foi libertador e outras vezes foi terrível. Quem sabe algumas vezes nós também quisemos que houvesse uma resposta única.” (adaptado de entrevistas de aLeJandro zambra concedidas ao JornaL foLha de são pauLo e à revista cuLt em maio de 2017. disponíveis em https://revistacuLt.uoL.com.br/home/aLeJandro- zambra-muLtipLa-escoLha/ e em http://www1.foLha.uoL.com.br/ iLustrada/2017/05/1885551 -Literatura-esta-Ligada-a-desordem-diz- escritor-chiLeno-aLeJandro-zambra.shtmL. acessados em 11/12/2017.) a) Cite dois fatores que levaram Zambra a adotar a forma narrativa empregada em Múltipla Escolha. b) Por que Múltipla Escolha não funciona como a Pro- va de Aptidão Verbal chilena? Justifique sua resposta com base no tipo de leitor solicitado pela obra. 6. (UNESP) Examine a tira do cartunista argentino Quino (1932- ). Pelo conteúdo de sua redação, depreende-se que o personagem Manuel Goreiro (o “Manolito”), além de estudar, exerce outra atividade. Transcreva o trecho em que esta outra atividade se mostra mais evidente. No trecho “As lojas fecham mais tarde por quê não escurese mais tamcedo”, verificam-se alguns desvios em relação à norma-padrão da língua. Reescreva este trecho, fazendo as correções necessárias. Por fim, reescreva o trecho final da redação (“nós ficamos muito mais contentes com a primavera com a chegada dela”), desfazendo a redundância nele contida. 38 7. (UNICAMP) Leia o excerto abaixo, adaptado do ensaio “Para que servem as humanidades?”, de Leyla Perrone-Moisés. As humanidades servem para pensar a finalidade e a qualidade da existência humana, para além do simples alon- gamento de sua duração ou do bem-estar baseado no consumo. Servem para estudar os problemas de nosso país e do mundo, para humanizar a globalização. Tendo por objeto e objetivo o homem, a capacidade que este tem de entender, de imaginar e de criar, esses estudos servem à vida tanto quanto a pesquisa sobre o genoma. Num mundo informatizado, servem para preservar, de forma articulada, o saber acumulado por nossa cultura e por outras, estilha- çado no imediatismo da mídia e das redes. Em tempos de informação excessiva e superficial, servem para produzir conhecimento; para “agregar valor”, como se diz no jargão mercadológico. Os cursos de humanidades são um es- paço de pensamento livre, de busca desinteressada do saber, de cultivo de valores, sem os quais a própria ideia de universidade perde sentido. Por isso merecem o apoio firme das autoridades universitárias e da sociedade, que eles estudam e à qual servem. adaptado de LeyLa perrone-moisés, para Que servem as humanidades? foLha de são pauLo, são pauLo, 30 Jun. 2002, caderno mais!. a) As expressões “agregar valor” e “cultivo de valores”, embora aparentemente próximas pelo uso da mesma palavra, produzem efeitos de sentido distintos. Explique-os. b) Na última oração do texto, são utilizados dois elementos coesivos: “eles” e “à qual”. Aponte a que se refere, respecti- vamente, cada um desses elementos. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Examine este anúncio de uma instituição financeira, cujo nome foi substituído por X, para responder às questões a seguir. 8. (FUVEST) Compare os diversos elementos que compõem o anúncio e atenda ao que se pede. a) Considerando o contexto do anúncio, existe alguma relação de sentido entre a imagem e o slogan “É DIFERENTE QUANDO VOCÊ CONHECE”? Explique. b) A inclusão, no anúncio, dos ícones e algarismos que precedem o texto escrito tem alguma finalidade comunicativa? Explique. 39 9. (FUVEST) Limite inferior Aprendi muito com o economista-filósofo Roberto de Oliveira Campos, particularmente quando tive a honra e a oportunidade de conviver com ele durante anos na Câmara dos Deputados. Sentávamos juntos e assistía- mos aos mesmos discursos, alguns muito bons e sábios. Frequentemente, diante de alguns incontroláveis cole- gas que exerciam uma oratória de alta visibilidade, com os dois braços agitados tentando encontrar uma ideia, Roberto me surpreendia com a afirmação: “Delfim, aca- bo de demonstrar um teorema”. E sacava uma mordaz conclusão crítica contra o incauto orador. Um belo dia, um falante e conhecido deputado ensurde- ceu o plenário com uma gritaria que entupiu os ouvidos dos colegas. A quantidade de sandices ditas no longo discurso com o ar de quem estava inventando o mundo fez Roberto reagir com incontida indignação. Soltou de supetão: “Delfim, construí um axioma, uma afirmação preliminar que deve ser aceita pela fé, sem exigir prova: a ignorância não tem limite inferior”. E completou, com a perversidade de sua imensa inteligência: “Com ele poderemos construir mundos maravilhosos”. netto, antonio deLfim, foLha de s. pauLo, 17/09/2014. adaptado. a) Explique por que o axioma formulado por Roberto de Oliveira Campos tornaria possível “construir mun- dos maravilhosos”. b) Identifique o trecho do texto que explica o empre- go da expressão “oratória de alta visibilidade”. 10. (FUVEST) Entrevistado por Clarice Lispector, para a pergunta “Como você encara o problema da maturi- dade?”, Tom Jobim deu a seguinte resposta: “Tem um verso do Drummond que diz: ‘A madureza, esta horrível prenda...’ Não sei, Clarice, a gente fica mais capaz, mas também mais exigente”. Nota: O verso citado por Tom Jobim é o início do poema “A ingaia ciência”, de Carlos Drummond de Andrade, e sua versão correta é: “A madureza, essa terrível prenda”. a) Aponte dois recursos expressivos empregados pelo poeta na expressão “terrível prenda”. b) Reescreva a resposta de Tom Jobim, eliminando as marcas de coloquialidade que ela apresenta e fazen- do as alterações necessárias. 11. (UNICAMP) TENHO PENA DOS ASTRÔNOMOS. Eles podem ver os objetos de sua afeição – estrelas, galáxias, quasares – apenas remotamente: na forma de imagens e telas de computador ou como ondas lumino- sas projetadas de espectrógrafos antipáticos. Mas, muitos de nós, que estudam planetas e asteroi- des, podem acariciar blocos de nossos amados corpos celestes e induzi-los a revelar seus mais íntimos segre- dos. Quando eu era aluno de graduação em astronomia, passei muitas noites geladas observando por telescópios aglomerados de estrelas e nebulosas e posso garantir que tocar um fragmento de asteroide é mais gratificante emocionalmente: eles oferecem uma conexão tangível com o que, de outra forma, pareceria distante e abstrato. Os fragmentos de asteroides que mais me fascinam são os condritos. Esses meteoritos, que compõem mais de 80% dos que se precipitam do espaço, derivam seu nome dos côndrulos que praticamente todos contêm - minús- culas esferas de material fundido, muitas vezes menores do que um grão de arroz. (...) Quando examinamos finas fatias de condritos sob um microscópio, ficamos sensibi- lizados da mesma maneira como quando contemplamos pinturas de Wassily Kandinsky e outros artistas abstratos. (aLan e. rubin*, segredos dos meteoritos primitivos. scientific american brasiL. março 2013, p. 49.) * Alan E. Rubin é geofísico e leciona na Universidadeda Califórnia. a) Esse trecho, que introduz um artigo científico sobre meteoritos primitivos, apresenta um estilo pouco usual nessa espécie de texto. Indique duas expressões no- minais ou verbais do texto que identificam esse estilo. b) Nesse trecho, ocorre uma alternância entre o uso da primeira pessoa do singular e o da primeira pessoa do plural. Dê uma justificativa para o uso dessa alter- nância na passagem. 12. (UNICAMP) a) Os infográficos apresentam informações de forma sintética, utilizando imagens, cores, organização gráfica, etc. Indique dois exemplos, do infográfico reproduzido acima, em que a informação é apresentada por meio de linguagem não verbal. b) Considerando o veículo em que foi publicado, a revista Planeta Sustentável, qual é a finalidade desse infográfico? 40 13. (UNICAMP) A intervenção urbana acima reproduzida foi criada pelo Coletivo Transverso, um grupo envolvido com arte urba- na e poesia, que afixou cartazes como esses em muros de uma grande cidade. a) Que outro texto está referido em “SEGURO MOR- REU DE TÉDIO”? b) A relação entre os dois textos – o do cartaz e aquele a que ele remete - é importante para a interpretação dessa intervenção urbana? Justifique sua resposta. 14. (FUVEST) Leia este texto: Entre 1808, com a abertura dos portos, e 1850, no auge da centralização imperial, modificara-se a pacata, fecha- da e obsoleta sociedade. O país europeizava-se, para escândalo de muitos, iniciando um período de progres- so rápido, progresso conscientemente provocado, sob moldes ingleses. O vestuário, a alimentação, a mobília mostram, no ingênuo deslumbramento, a subversão dos hábitos lusos, vagarosamente rompidos com os valores culturais que a presença europeia infiltrava, justamente com as mercadorias importadas. O contato litorâneo das duas culturas, uma dominante já no período final da se- gregação colonial, articula-se no ajustamento das econo- mias. Ao Estado, a realidade mais ativa da estrutura so- cial, coube o papel de intermediar o impacto estrangeiro, reduzindo-o à temperatura e à velocidade nativas. raymundo faoro, os donos do poder. a) Considerado o contexto, é inteiramente adequado o emprego, no texto, das expressões “europeizava- -se” e “presença europeia”? Explique sucintamente. b) As palavras “litorâneo” e “temperatura” foram usadas, ambas, no texto, em seu sentido literal? Jus- tifique sua resposta. 15. (UNICAMP) Leia a propaganda (adaptada) da Funda- ção SOS Mata Atlântica reproduzida abaixo e responda às questões propostas. a) Há no texto uma expressão de duplo sentido sobre a qual o apelo da propaganda é construído. Transcre- va tal expressão e explique os dois sentidos que ela pode ter. b) Há também uma ironia no texto da propaganda, que contribui para o seu efeito reivindicativo, expres- sa no enunciado: “Aproveita enquanto tem água.” Explique a ironia contida no enunciado e a maneira como ele se relaciona aos elementos visuais presen- tes no cartaz. 41 LITERATURA 42 CaraCTEríSTICaS dO rOmanCE rEgIOnalISTa dOS anOS 1930 Um Realismo crítico Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Jorge Amado, José Américo de Almeida, Rachel de Queiroz e Erico Verissimo formam o elenco de escritores que inaugurou, no século XX, a linha do Realismo crítico, representando problemas gerais do Brasil e outros específicos de determinadas regiões. O movimento em questão em nada se relacionava ao mero pitoresco regional ou às situações folclóricas particulares de cada local. Trata-se de uma literatura que traz para a reflexão problemas sociais marcantes do momento em que as obras foram escritas. Destinado a provocar a conscientização, o romance regionalista tem como proposta criticar para denunciar uma questão social, contribuindo, assim, para sua solução. Os regionalismos Para uma melhor compreensão da literatura regionalista crítica que se desenvolveu a partir dos anos 1930, é possível dividir a produção ficcional em vários aspectos regionalistas. Romances da seca nordestina São aqueles cuja temática centrou-se na grande tragédia cíclica nordestina: a seca. O principal enfoque dos romancistas nordestinos volta-se para a figura do vaqueiro e de sua família, flagelados no tempo da seca, expostos à inclemência da fome e da falta de trabalho. Um quadro comum aos romances regionalistas da seca é o retirante, andando com seus familiares em busca de abrigo e de comida, cena que aparece tanto em O quinze, de Rachel de Queiroz, como em A bagaceira, de José Américo de Almeida, e, sobretudo, no eixo do já clássico Vidas secas, de Graciliano Ramos. Quadro geral do regionalismo dos anos 1930 autores obra principal região/assunto José Américo de Almeida Rachel de Queiroz Graciliano Ramos José Lins do Rego Jorge Amado Érico Veríssimo A bagaceira O quinze Vidas secas Fogo morto Gabriela, cravo e canela O tempo e o vento Sertão nordestino/seca Sertão nordestino/seca Sertão nordestino/seca Sertão nordestino/engenho e cangaço Sertão nordestino/cacau, religião e amor Pampa gaúcho e cidade/colonização, história e dramas urbanos FICçãO ExpErImEnTal As experimentações que acrescentaram direções novas ao cursor literário no Brasil ganharam corpo com a publica- ção, em 1943, do romance Perto do coração selvagem, de Clarice Lispector. Nessa obra, a escritora esmiúça o interior do ser humano, dando à luz a grandeza da vida e do signi- ficado das experiências dos seres. Três anos mais tarde, em 1946, Guimarães Rosa publicou o livro de contos Sagarana, no qual as regiões brasileiras dos sertões indefinidos transcendiam o âmbito da realidade histórica e transformavam-se em espaços de seres míticos. Clarice Lispector aproximou da palavra escrita o ato de pensar e de narrar com grande criatividade, e Guimarães Rosa realizou uma verdadeira alquimia verbal ao fundir na palavra sua experiência pessoal à experiência coletiva. SEGUNDA FASE DO MODERNISMO: PROSA TERCEIRA FASE MODERNISTA 43 POESIA NO BRASIL: 1960 - 1980 Os escritos de Clarice revelam uma ficcionista de aguda sensibilidade, o que levaria a crítica literária ao espanto diante de sua obra. Perplexos também ficaram os críticos com as obras de Guimarães Rosa, cujas ousadias mórficas estabeleceram uma completa transformação linguística na literatura ao recriar o mundo sertanejo. Características de ficção do terceiro tempo modernista Narrativas interiorizadas: fluxo da consciência Uma das marcas mais flagrantes da ficção experimental é a interiorização da narrativa – o chamado fluxo da consci- ência. Geralmente, as narrativas são centradas em momen- tos de vivência interior dos personagens. Acontecimentos exteriores provocam a interiorização. É assim em Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa, em que Riobaldo – personagem central – vê-se impelido a “lembrar” os acon- tecimentos que viveu, em um longo monólogo, a partir de um evento cotidiano rotineiro, que é o ato de praticar tiro ao alvo no terreiro. A geração de 1945 foi fortemente marcada pela questão es- tética. A aventura da linguagem, a preocupação com a forma e com o rigor do texto tornaram-se o objetivo básico dessa geração, cujos nomes são de grande expressão poética. Depois de 1950, os poetas do primeiro momento do pós- -guerra dividiram-se, partindo para experimentações dife- rentes. Alguns permaneceram no esteticismo formalista, outros se encaminharam para uma poesia participante, como Thiago de Melo e Ferreira Gullar – um dos poetas mais importantes do terceiro tempo modernista. Os po- etas José Paulo Paes, Afonso Ávila, Affonso Romano de Sant’Anna, Adélia Prado e Ilka Laurito voltaram-se para as tensões sociais do mundo contemporâneo. Vanguarda concretista Em 1956, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, foi lançado oficialmente o Movimento da Poesia Concreta, na Exposição Nacional de Arte Concreta. A poesia concreta logo ganhou adesões e apoios, mas também comentários espantados e repúdios em face da desintegração total do verso tradicional e da nova adaptação da palavraao es- paço visual – no que competia com as artes plásticas, ao apresentar o mesmo despojamento que se vê nas formas da arquitetura de Brasília. Em fevereiro de 1957, a mesma exposição foi transferida para o saguão do Ministério da Educação e Cultura, no Rio de Janeiro. O Concretismo era visto por alguns como um fenômeno, um produto desorientado, sem rumos, a exemplo do que acontecia na música, com o rock’n roll, e no Cinema Novo, com Glauber Rocha. Outros, entretanto, viram no Concre- tismo a mesma disciplina da então iniciante Bossa Nova, capitaneada pelo músico e compositor João Gilberto. O Concretismo deu origem a outras manifestações poéticas. CaraCTEríSTICaS dO COnCrETISmO Desintegração do verso Como unidade do poema, o verso deu lugar à palavra, que passou a ser manifestada, simultaneamente, em três dimensões: Da consciência para o inconsciente A consciência de um ou mais personagens é flagrada e re- latada numa época qualquer em lugar qualquer. Assim se dá também nos romances e contos de Clarice Lispector: um acontecimento pode liberar ideais que vão até o inconsciente da personagem. Narrativas em primeira pessoa A narração em primeira pessoa não é um mero acaso na ficção desse tempo. Ela proporciona ao relato um intimis- mo inigualável, assim como lhe outorga verossimilhança. O narrador funciona como uma pessoa que confessa e o leitor ou ouvinte, como confidente. na pOESIa João Cabral de Melo Neto Ficou conhecido por ser o “poeta engenheiro”; Sua obra apresenta certo formalismo e rigor poético na mesma me- dida em que toca temas do cotidiano com simplicidade e didática. Tenta construir uma obra que eduque. É o autor de Morte e Vida Severina (1966) e O cão sem plumas (1950). 44 § verbal (aspecto sintático e semântico); § oral (aspecto sonoro); e § visual (aspecto gráfico). A palavra libertou-se da distribuição linear da linguagem ver- bal e aproximou-se do imediatismo da comunicação visual; o espaço de papel passou a integrar o significado do poema. Incorporação de técnicas visuais A proximidade com as artes plásticas e visuais provocou um “diálogo” entre poetas e pintores concretistas que, nos anos 1950, pontificaram no Brasil e fora dele. Técnicas pró- prias de outras artes passaram a ser utilizadas para compor o poema: colagens, desenhos, grafismos, fotografias. póS-vangUarda E pOESIa margInal Nos tristes e repressivos anos 1970, a poesia rompeu o compromisso com a realidade, com o intelectualismo e com o hermetismo modernista e partiu para ser marginal, diluidora, anticultural, pós-modernista. Sem constituir um movimento unificado, poetas jovens de- clararam-se marginais e surgiram de norte a sul do País, espalhando que a poesia perdera a pompa e a solenidade e decretando o fim da modernidade – e o início da pós-mo- dernidade, nome empregado, inicialmente, para denominar uma literatura, cuja marca traz a resistência à ditadura mi- litar como emblema. Características da poesia marginal Cumpre ressaltar, de início, que o adjetivo “marginal” refere- -se exclusivamente à opção dos poetas de não se integrarem ao sistema estabelecido. É, portanto, uma exclusão voluntária. Explorando todas as possibilidades do papel – folhetos, jornais – os artistas desse movimento foram às praças, aliaram-se à música e organizaram exposições. Poesia mutante A poesia que floresceu nos anos 1970 é inquieta, anárquica: não se filia a nenhuma estética literária em particular, embo- ra se possam encontrar nela traços de algumas vanguardas que a precederam, como o Concretismo dos anos 1950 a 1960 e o poema-processo. Os jovens poetas posicionaram-se contra as portas fechadas da ditadura, contra o discurso organizado, contra o discurso culto, contra a poesia tradicional e/ ou universal. A poesia saiu da página impressa do livro e ganhou as ruas, os muros, os sanitários públicos, as margens de ou- tros textos em forma de carona literária. Estava em folhetos mimeografados, distribuídos de mão em mão, em bares, praias, feiras, em qualquer parte. Poesia de domínio público A opção por ser marginal, por estar fora dos circuitos co- merciais do livro, circular de mão em mão, estar pichada nos muros, impressa em folhetos jogados do alto de edifí- cios, fez dessa poesia um trabalho coloquial e lúdico, que se voltou para a realidade mais imediata. A descontração foi sua marca registrada. Com ela houve certa alegria, uma forma de enfrentar a dureza dos dias em que “falar de flores é quase um crime”, como diz Ber- told Brecht. Vale destacar que a década de 60 é marcada pelo Golpe Mi- litar de 64, questão que, sem sombra de dúvida, influencia, em forma, conteúdo e distribuição, o trabalho literário. Desse modo, pode-se pensar que a Literatura produzida entre as décadas de 60 e 80 acontece sob os seguintes eventos: § Desdobramentos do governo de Juscelino Kubitschek; § Efervescência cultural (bossa nova, cinema, teatro de arena); § Golpe militar de 64; § Nacionalismo capitalizado pelo tricampeonato mundial da Seleção Brasileira; § Lei da Anistia (1979); § Os anos 80 iniciam as mobilizações populares pelas eleições direta; Assim, o estudo das produções do período pode ser seg- mentado a partir de seu gênero. Dessa forma, no tocante à prosa, pode-se estabelecer três frentes de análise: contos, crônicas e romances. Destacamos, a seguir, os principais representantes de cada gênero e as características que en- volvem as suas obras. Contos Crônicas Romances Caio Fernando de Abreu Luís Fernando Veríssimo Fernando Sabino Murilo Rubião Lygia Fagundes Telles Dalton Trevisan PROSA NO BRASIL: 1960 - 1980 45 LITERATURA LUSÓFONA CONTEMPORÂNEA: PERCEPÇÕES CRÍTICAS SOBRE A LUSOFONIA A aparição de uma literatura africana dentro de uma lista de vestibular pode ser lida sob diversas luzes. Uma delas é a da lusofonia, isto é, o fato de a língua oficial desses países ser também o português. Tal aspecto, nos coloca em face da questão colonial. Ler essas literaturas, assim como ler a literatura dita brasileira, é estar próximo do pensa- mento sobre de que forma, portanto, países como Brasil, Moçambique, Angola, entre outros, subverteram a lógica colonial por meio da linguagem. Destacam-se autores como: § Mia Couto § Pepetela § Isabela Figueiredo § Luandino Vieira § Paulina Chiziane Características Costumam abordar conflitos existenciais ligados a busca de uma ancestralidade que fora censurada pelo mundo ocidental durante os anos em que os países foram colô- nias, bem como, os processo de luta e independência de cada uma das nações. O natural e místico é oposto, muitas vezes, ao lógico e humano, elementos que, na história, cul- minaram em guerra. Contexto Pode-se configurar como principal evento da década de 80, no Brasil, a luta pela instauração das eleições diretas. Algo que daria início a um período republicano no Brasil muito próximo do que se vê hoje em dia. No mundo, houve a queda do muro de Berlim, que fun- cionou como um divisor de águas no que diz respeito à Guerra Fria. Contemporâneo Pensar a literatura contemporânea não diz respeito a pensar somente aquilo que é textualmente produzido no tempo em que se vive, mas considera a relação entre a produção artística e a percepção crítica do mo- mento presente – e, consequentemente, futuro. Assim, a compreende entender a maneira como o tempo pre- sente preserva e reconstrói a história, em paralelo à maneira como, também, a literatura preserva e reconstrói a tradição, isto é, como o novo emerge mesmo em (ou por- que em) contextos de crise, muitas vezes. Autores Hilda Hilst Conceição Evaristo Milton Hatoum Chico Buarque Século XIX: comédia Em paralelo à proclamação da independência do Brasil em 1822, o teatro brasileiro emerge em meio ao mesmo es- pírito que abraça os demais gêneros literários durante o século XIX: a tentativa de tingir com o verde e amarelo o campo artístico. Assim, João Roberto Faria, em introdução a uma antologia teatral doséculo XIX, ressalta sobretudo dois momentos distintos, mas que, sem sombra de dúvidas, são norteados pela subdivisão do gênero dramático cha- mada de comédia. Pode-se tomar como ponto inicial o encontro do ator João Caetano com a peça de Gonçalves de Magalhães Antônio José ou o poeta e a inquisição, em 13 de março de 1838. José Veríssimo marcaria que desse encontro, que fez muito sucesso com o público, nascia o teatro nacional. Comédia de Costumes Comédia Moralizante Martins Pena Machado de Assis Joaquim Manuel de Macedo José de Alencar LITERATURA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA O TEATRO NO BRASIL 46 Século XX: divismo tropical, teatro moderno e ditadura § Divismo tropical: uma espécie de motor alheio às correntes estéticas e aos dramaturgos, mas uma rela- ção passional em que, nas palavras de Tânia Brandão, pesquisadora do assunto, “este sistema teatral brasilei- ro, cujos alicerces remontavam ao século XIX, e o motor era a força bruta do ator em sintonia com as paixões da plateia”. § Teatro Moderno: foi somente com o espetáculo “Ves- tido de Noiva”, de 1943, de Nelson Rodrigues, que teve início o teatro moderno, de acordo com os críticos. § Ditadura: Durante a Ditadura Militar no Brasil, o teatro funcionou como forma de resistência, ganhando desta- que os grupos do Teatro de Arena e do Teatro Oficina. § Nomes como Plínio Marcos e Ariano Suassuna também ganham destaque durante o século XX. Estudar a literatura de Cordel é ampliar as fronteiras do que se entende por literatura. É aprofundar-se na nossa língua e naquilo que ela tem de igual e de diferente em todo território nacional. A literatura cordelista tem uma origem portuguesa, para a grande maioria da crítica literária, já que remonta o traba- lho dos trovadores. Considera-se, assim, que o cordel tenha se fundamentado no Brasil, em plena maturidade, no sécu- lo XIX, ainda que não seja possível precisar exatamente o seu início. Aspectos Gerais do Cordel § Linguagem coloquial (informal); § Humor, ironia e sarcasmo; § Pluralidade temática: folclore brasileiro, religião, políti- ca, história, sociedade etc. § Rimas e métrica, considerando a oralidade. O século XXI sem dúvida traz uma nova forma de pensar o espaço literário no Brasil. Em um momento em que se caracteriza pela ampla produção editorial, pela profissio- nalização do escritor, pela pluralidade das feiras literárias e clubes de leitura. Nessa direção, o novo século traz a consolidação de importantes ideias dos filósofos e pensa- dores do século XX, bem como configura um mundo devi- damente tecnológico e globalizado. Assim, a diversidade, a metaliteratura, a ética e a alteridade ganham des- taque no espaço artístico. Autores Prosa Poesia Geovani Martins Alice Sant'Anna Aline Bei Ana Martins Marques Julián Fuks Natasha Felix Ricardo Lísias Angélica Freitas LITERATURA DE CORDEL A ARTE LITERÁRIA HOJE 47 U.T.I. - Sala 1. (UNESPAR 2015) As gravuras talhadas em madeira (imburana, cedro ou pinho) possibilitaram aos artistas populares o domínio de todo o processo de edição dos folhetos. Os desenhos acompanham o conteúdo do folheto. A simplicidade das formas, as cores chapadas, a presença de motivos, paisa- gens e personagens nordestinas, transportam os leitores para o mundo da fantasia, imprimindo aos reis e rainhas, criaturas fantásticas e sobrenaturais, características que se aproximam do universo de experiências dos leitores. marinho, ana cristina; pinheiro, héLder. o cordeL no cotidiano escoLar. são pauLo: cortez. 2012, 47-47. Associando a Xilogravura, isto é, gravura talhada em madeira, ao processo do Cordel explique de que manei- ra ela compõe o conjunto literário do que se denomina literatura de cordel. 2. Leia o Cordel a seguir A HISTÓRIA DA LITERATURA DE CORDEL abdias campos 1 Para lhes deixar a par Sobre esta literatura Que é a mais popular E ainda hoje perdura Vamos direto ao começo Donde vem esta cultura 2 Sua primeira feitura Na Europa aconteceu Tipógrafos do anonimato Botaram o folheto seu Pra ser vendido na feira E assim se sucedeu 3 Foi Portugal que lhe deu Este nome de cordel Por ser vendido na feira Em cordões a pleno céu Histórias comuns, romances Produzidos a granel 4 Com esse mesmo papel Era na Espanha vendido Como “pliegos suetos” Assim era oferecido Em tabuleiro ambulante Ao pescoço prendido 5 O cordel introduzido No Brasil foi gradual Maior parte dos folhetos Como patrimônio oral Ingressou principalmente Como histórias de Sarau 6 Foi no Nordeste o local Que lhe brasileirizou Nos serões familiares Dos sertões aonde chegou Levando alegria ao povo Pela voz do cantador 7 Conduzia o rumor De histórias da redondeza Noticiadas em versos Dadas com toda clareza A uma população Que se tornava freguesa 8 Dos peregrinos romeiros Da mocinha apaixonada Dos ciganos que viviam A procura de estrada Dos sinais vindos do céu Anunciando a invernada 9 Sempre em versão cantada Assim o Cordel viveu Antes de 1900 Primeira edição se deu Se lá para cá permanece Mantendo o legado seu a) de acordo com o texto e os seus conhecimentos sobre o gênero, comente sobre a origem do nome cordel. b) o cordel lido dá uma pista dos assuntos tratados nesse gênero literário. Comente alguns: 3. (UEL 2020 – ADAPTADA) Leia o texto a seguir. À medida que as obras de arte se emancipam do seu uso cultual, aumentam as ocasiões para que elas sejam expostas. A exponibilidade de um busto [...] é maior que de uma estátua divina, que tem sua sede fixa no interior do templo. [...] a preponderância absoluta con- ferida hoje a seu valor de exposição atribui-lhe funções inteiramente novas, entre as quais a “artística”, a única 48 de que temos consciência, talvez se revele mais tarde como rudimentar. benJamin, waLter. “a obra de arte na era da sua reprodutibiLidade técnica (primeira versão)”. in: obras escoLhidas i. trad. sérgio pauLo rouanet, 8ª ed. são pauLo: brasiLiense, 2012. p. 187-188. A mudança do valor de culto para o valor da exposição da obra de arte revela transformações nas quais esta passa a ser concebida a partir da esfera pública. Em ou- tras palavras, a ideia de uma arte performática ganha espaço — ou necessidade — para se manifestar. Levan- do em consideração os seus conhecimentos e o mundo em que vivemos, que técnicas, literárias, teatrais, musi- cais, entre outros tipos de arte, podem exemplificar o conceito do “valor da exposição da obra” colocado por Benjamin. Escreva um parágrafo a respeito. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Contar é muito dificultoso. Não pelos anos que já se passaram. Mas pela astúcia que têm certas coisas pas- sadas de fazer balancê, de se remexerem dos lugares. A lembrança da vida da gente se guarda em trechos diversos; uns com outros acho que nem se misturam (...) Contar seguido, alinhavado, só mesmo sendo coisas de rasa importância. Tem horas antigas que ficaram mui- to mais perto da gente do que outras de recente data. Toda saudade é uma espécie de velhice. Talvez, então, a melhor coisa seria contar a infância não como um filme em que a vida acontece no tempo, uma coisa depois da outra, na ordem certa, sendo essa conexão que lhe dá sentido, meio e fim, mas como um álbum de retratos, cada um completo em si mesmo, cada um contendo o sentido inteiro. Talvez esse seja o jeito de escrever so- bre a alma em cuja memória se encontram as coisas eternas, que permanecem... (guimarães rosa, grande sertão: veredas.) 4. (Unifesp) No texto de Guimarães Rosa, como é fre- quente nos textos do autor, nota-se o emprego de fra- ses de aspecto proverbial. a) Transcreva uma dessas frases e explique seu sentido. b) Como se pode entender esse recurso, tendo como referência o projeto literário do autor? 5. (UFMG) Leia estes poemas: POEMA 1 Lar doce lar Minha pátria é minha infância Por isso vivo no exílio. cacaso. beiJo na boca e outros poemas. são pauLo: brasiLiense, 1985. p. 63. POEMA 2 Recuperação da adolescência é sempre mais difícil ancorar um navio no espaçocesar, ana cristina. a teus pés. são pauLo: brasiLiense, 1987. p. 57. Relacione os dois poemas, analisando a concepção, ex- pressa em cada um, sobre diferentes fases da vida. U.T.I. - E.O. 1. (ENEM PPL) TEXTO I Quem sabe, devido às atividades culinárias da esposa, nesses idílios Vadinho dizia-lhe “Meu manuê de milho verde, meu acarajé cheiroso, minha franguinha gorda”, e tais comparações gastronômicas davam justa ideia de certo encanto sensual e caseiro de dona Flor a esconder- -se sob uma natureza tranquila e dócil. Vadinho conhe- cia-lhe as fraquezas e as expunha ao sol, aquela ânsia controlada de tímida, aquele recatado desejo fazendo-se violência e mesmo incontinência ao libertar-se na cama. amado, J. Dona Flor e seus Dois mariDos. são pauLo: martins, 1966. TEXTO II As suas mãos trabalham na braguilha das calças do fa- lecido. Dulcineusa me confessou mais tarde: era assim que o marido gostava de começar as intimidades. Um fazer de conta que era outra coisa, a exemplo do gato que distrai o olhar enquanto segura a presa nas patas. Esse o acordo silencioso que tinham: ele chegava em casa e se queixava que tinha um botão a cair. Calada, Dulcineusa se armava dos apetrechos da costura e se posicionava a jeito dos prazeres e dos afazeres. couto, m. um rio chamaDo tempo, uma casa chamaDa terra. são pauLo: cia. das Letras, 2002. Tema recorrente na obra de Jorge amara, a figura femi- nina aparece, no fragmento, retratada de forma seme- lhante à que se vê no texto do moçambicano Mia Couto. Nesses dois textos, com relação ao universo feminino em seu contexto doméstico, observa-se que a) desejo sexual é entendido como uma fraqueza mo- ral, incompatível com a mulher casada. b) a mulher tem um comportamento marcado por convenções de papéis sexuais. c) à mulher cabe o poder da sedução, expresso pelos gestos, olhares e silêncios que ensaiam. d) a mulher incorpora o sentimento de culpa e age com apatia, como no mito bíblico da serpente. e) a dissimulação e a malícia fazem parte do repertó- rio feminino nos espaços público e íntimo. 2. (UFES) A peça teatral Dois perdidos numa noite suja, de Plínio Marcos; o conto “Famigerado”, presente em Primeiras estórias, de Guimarães Rosa; e o romance Ter- ra sonâmbula, de Mia Couto, apresentam a temática da violência como eixo norteador. Leia atentamente os fragmentos abaixo: PACO: — Boa, Tonho! Assim é que é. Homem macho não tem medo de homem. O negrão é grande, mas não é dois. (Pausa) Você vai encarar ele? TONHO: — Sei lá! Ele não me fez nada. Nem eu pra ele. PACO: — Poxa, ele disse que você é fresco. Vai lá e briga. Ele é que quer. TONHO: — Você só pensa em briga. (marcos, pLínio. Dois perDiDos numa noite suja. são pauLo: parma, 1984. p. 26). 49 Aquele homem, para proceder da forma, só podia ser um brabo sertanejo, jagunço até na escuma do bofe. Senti que não me ficava útil dar cara amena, mostras de temeroso. Eu não tinha arma ao alcance. Tivesse, também, não adiantava. Com um pingo no i, ele me dissolvia. O medo é a extrema ignorância em momento muito agudo. O medo O. O medo me miava. Convidei-o a desmontar, a entrar. (rosa, João guimarães. primeiras estórias. rio de Janeiro: nova fronteira, 1988. p. 55-56). De manhã, nossa mãe nos chamou. Nos sentamos, gra- ves. Meu pai tinha o rosto no peito. Ainda dormia? Fi- cou assim um tempo como se esperasse a chegada das palavras. Quando finalmente nos encarou quase não reconhecemos sua voz: — Alguém de nós vai morrer. E logo adiantou razões: nossa família ainda não deixara cair nenhum sangue na guerra. Agora, a nossa vez se aproximava. A morte vai pousar daqui, tenho a máxima certeza, sentenciou o velho Taímo. Quem vai receber esse apagamento é um de vocês, meus filhos. E rodou os olhos vermelhos sobre nossos ombros encolhidos. (couto, mia. terra sonâmbula. são pauLo: companhia das Letras, 2007. p. 18). Selecione um dos trechos acima e explique como o tema da violência compõe o desenrolar da obra de onde foi extraído o trecho escolhido. 3. (UNICAMP) Leia a seguinte passagem do conto “A sociedade”: O esperado grito do cláxon fechou o livro de Henri Ar- del e trouxe Teresa Rita do escritório para o terraço. O Lancia passou como quem não quer. Quase parando. A mão enluvada cumprimentou com o chapéu Borsalino. Uiiiiia-uiiiiia! Adriano Melli calcou o acelerador. Na pri- meira esquina fez a curva. Veio voltando. Passou de novo. Continuou. Mais duzentos metros. Outra curva. Sempre na mesma rua. Gostava dela. Era a Rua da Liberdade. Pouco antes do número 259-C já sabe: uiiiiiauiiiiia! (antônio de aLcântara machado,”brás, bexiga e barra funda”, em “noveLas pauListanas”. rio de Janeiro: José oLympio, 1959, p. 25). No trecho acima, a linguagem e as imagens apontam para a influência das vanguardas no primeiro momento modernista. Selecione dois exemplos e comente-os. 4. (FUVEST) Leia este trecho de “A hora da estrela”, de Clarice Lispector, no qual Macabéa, depois de receber o aviso de que seria despedida do emprego, olha-se ao espelho: Depois de receber o aviso foi ao banheiro para ficar sozi- nha porque estava toda atordoada. Olhou-se maquinal- mente ao espelho que encimava a pia imunda e rachada, cheia de cabelos, o que tanto combinava com sua vida. Pareceu-lhe que o espelho baço e escurecido não refletia imagem alguma. Sumira por acaso a sua existência físi- ca? Logo depois passou a ilusão e enxergou a cara toda deformada pelo espelho ordinário, o nariz tornado enor- me como o de um palhaço de nariz de papelão. Olhou-se e levemente pensou: tão jovem e já com ferrugem. a) Neste trecho, o fato de parecer, a Macabéa, não se ver refletida no espelho liga-se imediatamente ao aviso de que seria despedida. Projetando essa ausên- cia de reflexo no contexto mais geral da obra, como você a interpreta? b) Também no contexto da obra, explique por que o narrador diz que Macabéa pensou “levemente TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO A educação pela pedra Uma educação pela pedra: por lições; para aprender da pedra, frequentá-la; captar sua voz inenfática, impessoal (pela de dicção ela começa as aulas). A lição de moral, sua resistência fria ao que flui e a fluir, a ser maleada; a de poética, sua carnadura concreta; a de economia, seu adensar-se compacta: lições da pedra (de fora para dentro, cartilha muda), para quem soletrá-la. Outra educação pela pedra: no Sertão (de dentro para fora, e pré-didática). No Sertão a pedra não sabe lecionar, e se lecionasse, não ensinaria nada; lá não se aprende a pedra: lá a pedra, uma pedra de nascença, entranha a alma. meLo neto, João cabraL de. poesias compLetas. rio de Janeiro: J. oLympio, 1975, p.11. 5. (PUC-RJ) João Cabral de Melo Neto é considerado um dos mais importantes poetas da geração de escritores que surgiu a partir de 1945. Indique duas características do modernismo brasileiro presentes no poema “A edu- cação pela pedra” TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Desencontrários Mandei a palavra rimar, ela não me obedeceu. Falou em mar, em céu, em rosa, em grego, em silêncio, em prosa. Parecia fora de si, a sílaba silenciosa. Mandei a frase sonhar, e ela se foi num labirinto. Fazer poesia, eu sinto, apenas isso. Dar ordens a um exército, para conquistar um império extinto. pauLo LeminsKi góes, f. e marins, a. (orgs.). meLhores poemas de pauLo LeminsKi. são pauLo: gLobaL, 2001. 50 6. (UERJ) Mandei a palavra rimar, ela não me obedeceu. Falou em mar, em céu, em rosa, em grego, em silêncio, em prosa. (v. 1-4) No fragmento acima, o emprego da palavra “prosa” possibilita duas interpretações distintas do verso subli- nhado: uma que reafirma o que ele expressa e outra que se opõe a ele. Apresente essas duas possibilidades de interpretação. 7. (UNICAMP 2021) Leia abaixo alguns excertos do po- ema Menimelímetros, de Luz Ribeiro, poeta do Slam das Minas de São Paulo. Esse poema foi apresentado per- formaticamente em alguns slams de que ela participou no Brasil. os meninopassam liso pelos becos e vielas os menino passam liso pelos becos e vielas os menino passam liso pelos becos e vielas você que fala em becos e vielas sabe quantos centímetros cabem em um menino? sabe de quantos metros ele despenca quando uma bala perdida o encontra? Sabe quantos nãos ele já perdeu a conta? (...) esses menino tudo sem educação que dão bom dia, abrem até o portão tão tudo fora das grades escolares nunca tiveram reforço – de ninguém mas reforçam a força e a tática do tráfico, mais um refém (...) que esses meninos sem nem carinho não tem carrinho no barbante pensa que bonito se fosse peixinho fora d’água a desbicar no céu mas é réu na favela lhe fizeram pensar voos altos voa, voa, voa...aviãozinho e os menino corre, corre, corre faz seus corres, corres, corres (...) “ceis” já pararam pra ouvir alguma vez os sonhos dos meninos? é tudo coisa de centímetros: um pirulito, um picolé um pai, uma mãe um chinelo que lhe caiba nos pés um aviso: quanto mais retinto o menino mais fácil de ser extinto seus centímetros não suportam 9 milímetros porque esses meninos esses meninos sentem metros a) O título Menimelímetros é um neologismo que fun- de ao menos duas palavras. Quais são essas palavras? Transcreva os versos que sintetizam o título do poema. b) Na terceira estrofe, há um jogo de palavras. Iden- tifique esse jogo de palavras e explique a relação de causa e consequência estabelecida por ele. 8. (UEL 2019) Leia os fragmentos a seguir, do romance O filho eterno, de Cristovão Tezza. Já viu na enciclopédia que o nome da síndrome se deve a John Langdon Haydon Down (1828-1896), médico in- glês. À maneira da melhor ciência do império britânico, descreveu pela primeira vez a síndrome frisando a se- melhança da vítima com a expressão facial dos mongó- is, lá nos confins da Ásia; daí “mongolóides”. Que tipo de mentalidade define uma síndrome pela semelhança com os traços de uma etnia? O homem britânico como medida de todas as coisas. [...] O problema da normalidade. Talvez ele mesmo escreva um pequeno roteiro com o texto certo para as pessoas recitarem no momento da confissão da tragédia. Algo como “Não me diga! Mas imagino que hoje em dia já há muitos recursos, não? Olha, precisando de alguma coisa, conte comigo” – e então ele diria, obrigado, vai tudo bem. Mudariam de assunto e pronto. Bem, em grande número de encontros, não precisaria dizer nada: são bilhões de pessoas que não o conhecem, contra apenas umas dez ou doze que o conhecem. Essas já sabem; não preciso acrescentar nada. Na maior parte dos casos, basta dizer: Sim, a criança vai bem. Felipe, o nome dele. Obrigado. E nada mais foi perguntado e nada mais se respondeu, dando-se por encerrado o as- sunto e prosseguindo a vida em seus trâmites normais. Ele respira aliviado. tezza, c. o fiLho eterno. 7. ed. rio de Janeiro: record, 2009. p. 42-43. Os fragmentos transcritos do romance O filho eterno mostram reações do pai, ao saber que seu filho nasceu com Síndrome de Down. Suas impressões sobre a nova situação, neste excerto, revelam perspectivas diferen- tes para lidar com o problema. Cite e explique duas perspectivas que são depreendidas desses fragmentos. 9. (UNICAMP 2019) (...) Recordo-lhe que os revisores são gente sóbria, já viram muito de literatura e vida, O meu livro recordo-lhe eu, é de história, Assim realmente o designariam segundo a classificação tradicional dos géneros, porém, não sendo propósito meu apontar ou- tras contradições, em minha discreta opinião, senhor doutor, tudo quanto não for vida, é literatura, A história também, A história sobretudo, sem querer ofender, (José saramago, história do cerco de Lisboa. rio de Janeiro: o gLobo; são pauLo: foLha de são pauLo, 2003, p.12.) (...) O que você quer dizer, por outras palavras, é que a literatura já existia antes de ter nascido, Sim senhor, como o homem, por outras palavras, antes de o ser já o era. Parece-me um ponto de vista bastante original, Não o creia, senhor doutor, o rei Salomão, que há muito tempo viveu, já então afirmava que não havia nada de novo debaixo da rosa do sol. (idem, p.13.) (...) Então o senhor doutor acha que a história e a vida real, Acho, sim, Que a história foi vida, real, quero dizer, 51 Não tenho a menor dúvida, Que seria de nós se não existisse o deleatur, suspirou o revisor. (idem, p.14.) a) Nos excertos acima, revisor e autor discutem uma questão decisiva para a escrita do romance de José Saramago. Identifique essa questão, presente no di- álogo entre as duas personagens, e explique sua im- portância para o conjunto da narrativa. b) No terceiro excerto, o revisor utiliza a palavra de- leatur. O que significa essa expressão e por que ela é tão importante para o revisor? 10. (UFU 2018) TEXTO I Enciclopédia Hécate ou Hécata, em gr. Hekáté. Mit gr. Divindade lunar e marinha, de tríplice forma (muitas vezes com três cabeças e três corpos). Era uma deusa órfica, parece que originária da Trácia. Enviava aos homens os terrores noturnos, os fantasmas e os espectros. Os romanos a veneravam como deusa da magia infernal. cesar, ana cristina. encicLopédia. in: destino: poesia. organização de itaLo moriconi. rio de Janeiro: ed. José oLympio, 2016. p.35. TEXTO II I Enquanto leio meus seios estão a descoberto. É difícil concentrar-me ao ver seus bicos. Então rabisco as folhas deste álbum. Poética quebrada pelo meio. II Enquanto leio meus textos se fazem descobertos. É di- fícil escondê-los no meio dessas letras. Então me nutro das tetas dos poetas pensados no meu seio. cesar, ana cristina. sem títuLo. in: destino: poesia. organização de itaLo moriconi. rio de Janeiro: ed. José oLympio, 2016. p.39. a) Explique, em um parágrafo, de que maneira a fun- ção metalinguística se presentifica no texto I. b) A respeito do texto II, explique, em um parágrafo, a relação que se estabelece entre seios e textos. 52 REDAÇÃO 54 1) Como aprimorar o repertório pessoal? a) Aproveite suas aulas para conhecer teorias e estabelecer relações; As diferentes aulas a que você assiste durante a semana podem ser uma ótima fonte de conhecimento legitimado. Com frequência, os professores de diferentes áreas citam autores, teorias, conceitos, livros e até sugestões de filmes e séries re- lacionados a alguma temática importante para o vestibular. Portanto, sempre anote essas ideias. Aproveite o fato de elas já terem sido discutidas por um professor e terem passado por um critério mínimo de seleção. b) Procure acompanhar filmes e livros sugeridos nos material didático; Em quase todas as aulas, sobretudo nas disciplinas voltadas às humanidades, você encontra sugestões de obras sobre o tema abordado pelo professor. Eventualmente, algumas dessas produções podem se tornar ótima fonte para repertório cultural na sua redação. Portanto, sempre que possível, assista ou leia as sugestões, procurando estabelecer relações entre a situação apresentada nessas obras e os contextos históricos ou atuais da nossa sociedade . c) Siga as páginas de periódicos de grande relevância; Outra forma de aprimorar o repertório é acompanhar as notícias e reportagens de periódicos de grande relevância dentro do meio jornalístico. Como grande parte dos vestibulares compõem suas coletâneas a partir de publicações desses veículos, é fundamental atentar-se a esses conteúdos para se estar mais preparado para o debate de diferentes temas. d) Fique ligado em PODCASTs; 2) Como organizar meu repertório pessoal Para facilitar a anotação de qualquer informação que componha seu repertório pessoal, recomendados a categorização dos conteúdos a partir dos seguintes eixos temáticos: consumo, política, aparência, comunicação, educação, informação/ ciência, tecnologia, ética, trabalho, saúde, família, preconceito, racismo, espaço urbano, arte, meio ambiente , poder/domi- nação, cultura, desigualdade, saúde emocional, inclusão/preconceito. a) Adote um caderno de repertório: Adquira um caderno, não muito grande, quepossa ser facilmente consultado e anotado. Divida esse caderno a partir dos eixos temáticos sugeridos e deixe algumas folhas para cada um deles. Sempre que você obtiver uma informação relevante para seu repertório, anote-a imediatamente no caderno, pois, assim, a informação não fica perdida em outras anotações e ela poderá ser facilmente consultada na hora de se fazer a redação. Trata-se uma estratégia positiva para se criar memória visual a respeito das reflexões que fazemos. b) Crie mapas mentais em fichas (Use frente e verso para cada eixo): A partir dos mesmos eixos temáticos descritos acima, crie um mapa mental no qual você anote suas referências sobre aquele assunto. c) Crie registros digitais de a partir tabelas Se você preferir, crie seus próprios registros digitais com as referências aprendidas ao longo do ano para cada um dos eixos temáticos discutidos. REPERTÓRIO I: ORGANIZAÇÃO 55 A interdisciplinaridade costuma ser definida como a tentativa do homem de propor a interação entre dois ou mais campos do conhecimento, por meio da relação entre saberes que podem ser aproximados. Nesse sentido, ao pensarmos na interdis- ciplinaridade na prova de redação, tratamos de referências a outros campos do conhecimento, que podem ser utilizadas para fortalecer argumentos ou introduzir o tema. Portanto, procure sempre estabelecer relações entre os temas que você discute nas aulas de redação e seu conhecimento teórico ou repertório cultural, verificando se esses cruzamentos podem reforçar os argumentos que você quer defender. 1. Qual é o critério para selecionar as referências? a) Observe se a relação estabelecida, de fato, possui semelhanças com o tema ou argumento discutido; b) Dê preferência a autores com maior visibilidade em suas áreas; c) Tenha certeza do nome do autor, da obra ou do conceito que será utilizado; d) Fuja de citações “guarda-chuva”. 2. Como utilizar as referências? É sempre preciso lembrar que os conhecimentos das outras áreas – embora importantes para atingir a pontuação máxima nos exames – não devem determinar quais argumentos você discutirá em seu texto. Em outras palavras: é o argumento que seleciona a referência e não a referência que seleciona o argumento. Você incluirá uma citação ou uma analogia na redação apenas se elas estiverem relacionadas aos argumentos discutidos ou à temática proposta (uso de referências na introdução). 3. Áreas do saber comuns nas redações de vestibular 1. Literatura Não é preciso mostrar ao corretor que você leu os romances ou poesias aos quais você faz referência. Mencione apenas aquilo que é necessário para tecer a comparação. E cuidado: deixe claro que se trata de uma obra de ficção. 2. Sociologia/Filosofia Ao sustentar seus argumentos por meio de um repertório sociológico ou filosófico, não se esqueça de relacioná-los ao contexto que você está estabelecendo. Não deixe a informação solta e cuide para que as relações estabelecidas estejam próximas da temática abordada. 3. História Ao se valer de dados históricos na redação, procure estabelecer relações temporais próximas. Evite temporalidades muito distantes, ou ainda contextos muito diferentes, como comparar a pré-história com a atualidade. Sempre busque relações possíveis em que, realmente, haja uma semelhança com o contexto ou argumento discutido. 4. Estratégias para o emprego das citações Citação direta Trata-se da reprodução exata do trecho de uma obra. Ao empregá-la, é fundamental usar aspas para marcar a abertura e o fechamento dessa citação, além de mencionar – antes ou depois da referência – o nome do autor e, se possível, outro detalhe sobre o contexto, como o nome do conceito, da obra ou o ano de publicação. Citação Indireta A citação indireta é caraterizada pela paráfrase de conceitos, ideias ou frases. Nesse caso, esses conceitos devem ser men- cionados a partir das próprias palavras do aluno, e, portanto, a citação não requer o uso de aspas. REPERTÓRIO II: INTERDISCIPLINARIDADE 56 INADEQUAÇÕES DA LINGUAGEM I 1. Linguagem coloquial Durante a escrita da redação, seja pelo nervosismo ou pela falta de vocabulário, muitos alunos constroem sentenças reche- adas de coloquialismos, isto é, uso de termos da modalidade informal, geralmente associados à língua falada. Para evitar essas construções, é preciso aprender a reconhecer o uso da coloquialidade dentro do texto e possuir bom reper- tório lexical capaz de substituir tais inadequações. Observe os usos empregados abaixo e suas respectivas possibilidades de correção. INADEQUADO ADEQUADO Muitos alunos se deixam levar pelas propagandas... Muitos alunos são induzidos pelas ... Essa situação acaba acontecendo... Essa situação ocorre... 2. Clichês O clichê é a expressão de um senso comum. Nas redações de vestibular, tais construções surgem com o intuito de impressio- nar o corretor e causar um efeito positivo na leitura do texto. No entanto, elas apenas o depreciam, já que o uso constante e cristalizado não surpreende e nem inova a ideia construída ao longo da redação. Exemplos de clichês comuns no vestibular: É fundamental que a sociedade reúna todas as suas forças e combata a desigualdade... Só assim, a sociedade poderá viver cheia de esperanças... 3. Adjetivo inadequados Muitas vezes, no momento da construção das opiniões dentro de uma redação, alguns alunos empregam adjetivos inade- quados ao texto dissertativo-argumentativo exigido nos exames. Essas palavras denotam apenas a emoção do autor, sem cumprir sua função de atribuir uma avaliação, a ser comprovada pelos argumentos apresentados. A seguir, apresentam-se adjetivos úteis e adequados ao texto dissertativo-argumentativo Boa parte do Estado é negligente ao negar o direito... Isso ocorre em virtude de políticas públicas ineficazes... Parte da sociedade é conivente com as ações... As ações vinculadas à cultura são inexpressivas... A adoção de uma postura crítica é essencial aos sujeitos... Há uma publicidade abusiva que leva milhares de consumidores a... 4. Generalizações Sabe-se que a generalização é uma ferramenta problemática para construir ideias em diferentes âmbitos da vida social. Isso porque, ao generalizar, apagam-se as heterogeneidades existentes nos sujeitos, nos grupos sociais e nos conceitos. No entanto, ao escrever a redação, muitos alunos tendem a se valer dessas construções para expor seu posicionamento e seus argumentos. Assim, fique atento às formas de generalização mais comuns nas redações e supervisione seu texto sempre, evitando que elas apareçam. EVITAR USAR COM MUITA CAUTELA Todos os alunos são... Boa parte dos alunos... Nenhum político é capaz de... Poucos políticos... As pessoas sempre excluem... Muitas vezes, as pessoas... 57 5. Excesso de verbos Nos textos de redação, é fundamental prezar pela objetividade e pela clareza das ideias. Essas diretrizes também são ob- servadas pelos avaliadores no emprego que os alunos fazem dos verbos. Muitas vezes, o uso de locuções verbais, ou de construções verbais acompanhadas de substantivos poderiam ser substituídas por apenas um verbo, deixando o texto mais objetivo e preciso. Portanto, sempre que possível, prefira as formas simples. Deixe as locuções apenas para os momentos em que elas forem essenciais. A decisão estará prejudicando... A decisão prejudicará... Cabe ao governo realizar uma avaliação... Cabe ao governo avaliar... Parte da população tem desconfiança das medidas... Parte da população desconfia... 6. Excesso de palavras negativas Para garantir a objetividade e clareza em seu texto, também é essencial prezar pelas formas positivas ao redigir alguns ver- bos. Em outras palavras, trata-se de evitar o uso do advérbio “não” vinculado a alguns verbos. Veja os exemplos abaixo e observe como a supressão da partícula negativa aprimora a compreensão do período: Boa parte das verbas não chegam na hora nos institutos... Boa parte das verbas chegam atrasadas aos institutos... Muitos professores dizem que não são responsáveis... Muitosprofessores negam a responsabilidade... As políticas públicas não são eficazes... As políticas públicas são ineficazes... INADEQUAÇÕES DA LINGUAGEM II 1. Queísmo O vocábulo “que”, na língua portuguesa, assume diferentes classes gramaticais. Ele pode funcionar como pronome relativo (Alunos que trabalham...), conjunção coordenativa (Onde está, que não a vejo), conjunção integrante (É fundamental que a população...),substantivo (Ela apresenta um quê de intelectual ), e ainda está presente em uma série de locuções conjuntivas muito usadas nas redações de vestibular(já que, para que, ainda que, tão...que). Esse leque de funções torna frequente o uso da palavra “que”. Tal uso, entretanto, não deve ser banalizado, por poder levar a um texto confuso. Diante disso, é fundamental aprender formas de evitá-lo em sua redação. Os tópicos abaixo apresentam exemplos de como reconhecê-lo e suprimi-lo. a) Trocar orações adjetivas por adjetivos: Há pessoas que não sabem ler nem escrever... Há pessoas analfabetas... b) Trocar oração adjetiva por um aposto: Pedro Gouveia, que é coordenador do projeto em Brasí- lia, afirma... Pedro Gouveia, coordenador do projeto em Brasília, afirma... c) Substituir uma oração inteira por um termo nominal correspondente: É fundamental que medidas sejam criadas... É fundamental a criação de medidas... d) Reduzir as orações (INFINITIVO ou PARTICÍPIO) É fundamental que o crescimento do desemprego seja acompanhado mensalmente. É fundamental acompanhar o crescimento do desemprego mensalmente. 58 2. Desvios de concordância verbal e nominal Outra dificuldade muito presente nas redações é a concordância de nomes e verbos. É comum encontrar esses desvios gramaticais mesmo em redações avaliadas com nota máxima, já que muitos deles são dificilmente perceptíveis. Portanto, é preciso atenção. Sempre releia o rascunho de seu texto procurando por quaisquer problemas de construção gramatical. SUJEITO POSPOSTO AO VERBO Como consequência, surge as difi- culdades de se relacionar em dife- rentes âmbitos da vida social. Como consequência, surgem as dificuldades de se relacionar em diferentes âmbitos da vida social. NÚCLEO DO SUJEITO DISTANTE DO VERBO Embora o sujeito seja extenso, ele sempre deverá concordar com o verbo em pessoa e número. As dificuldades surgidas durantes os primeiros meses de gestação – sobretudo quando se trata de uma gravidez de risco – revela o quanto... As dificuldades surgidas durantes os primeiros meses de gestação – sobretudo quando se trata de uma gravidez de risco – revelam o quanto... 3. Uso inadequado de Advérbios Embora os advérbios sejam importantes em muitas situações na escrita da redação – seja para marcar o tempo, o espaço ou o modo dos verbos – seu emprego precisa ser comedido. O excesso ou mau uso de advérbios torna o texto poluído e prolixo. A dica é usar apenas quando houver necessidade. Felizmente, há pessoas que pensam diferente. Há pessoas que pensam diferente. 5. Desvios de regência verbal e nominal Ao se valer do uso de verbos transitivos indiretos e de alguns nomes, o aluno precisa estar atento à regência. Assim como os desvios de concordância, as inadequações referentes à regência são por vezes imperceptíveis. Logo, vale a pena apostar em bastante treino e em muita atenção. Observe abaixo um exemplo de desvio: VERBO REFERIR-SE Exige preposição “a” A proposta refere-se as instituições privadas, bancos públicos e terceiro setor. A proposta refere-se às instituições privadas, aos bancos públicos e ao terceiro setor. * 6. Uso inadequado dos pronomes relativos Para garantir a coesão e a coerência, os candidatos devem utilizar pronomes relativos. No entanto, é fundamental estar atento aos usos e funções de cada um deles. Abaixo, selecionamos as inadequações mais comuns. ONDE – Refere-se apenas a lugares físicos. Em outros casos, pode ser substituído por “no qual/na qual/em que” A população desalentada vive uma situação onde a esperança de conseguir um emprego não existe mais. A população desalentada vive uma situação na qual a esperança de conseguir um emprego não existe mais. Essa produção começou numa época onde as pessoas não tinham tanta escolaridade. Essa produção começou numa época em que as pessoas não tinham tanta escolaridade. CUJO – Estabelece relação de posse. A concordância em gênero e número é feita com a palavra posterior ao pronome. Os problemas que a responsabilidade pertence ao governo deixam de ser mencionados. Os problemas cuja responsabilidade pertence ao governo deixam de ser mencionados. Os projetos que os textos foram reprovados estão em análise. Os projetos cujos textos foram alterados estão em análise. 59 7. Períodos longos Muitas vezes, os alunos se esquecem de encerrar seus períodos com pontos finais, e, portanto, passam a subordinar as orações, tornando a leitura da redação confusa. Portanto, lembre-se da dica: é melhor um texto coeso e coerente construído com períodos curtos, que um texto recheado de períodos longos de difícil compreensão. Além do mais, os períodos curtos diminuem consideravelmente o risco de possíveis problemas com conjunções, vírgulas e concordâncias. A POLARIZAÇÃO DE POSICIONAMENTOS NOS TEMAS DE REDAÇÃO 1. A importância da compreensão temática e da coletânea em propostas polêmicas Em muitos vestibulares, é comum que os alunos sejam apresentados a discussões vinculadas a polêmicas dos mais variados gêneros. São comuns recortes temáticos que envolvam a legalização das drogas, a adoção da pena de morte, a descrimi- nalização do aborto, os limites do humor, entre outras abordagens que com frequência geram debates acirrados diante da opinião pública. A grande questão que paira para nossa conduta no vestibular é a forma como devemos encarar tais propostas. Às vezes, par- te dos alunos afirma ter uma opinião pronta e definitiva para o assunto e, assim, resolve dissertar na prova de redação sem fazer considerações importantes sobre o tema, começando por ignorar termos fundamentais do recorte temático abordado e negligenciar uma leitura atenta e profunda da coletânea. Muitas vezes, os recortes temáticos elaborados por essas bancas – como a VUNESP, em São Paulo – podem são semelhan- tes, mas não são iguais. Eles contêm especificidades que não devem ser desprezadas pelos estudantes. Observe os recortes temáticos abaixo: Vestibular da UNIFESP 2019 Eutanásia: entre a liberdade de escolha e a preservação da vida Vestibular da FACULDADE DE MEDICINA DE JUNDIAÍ 2019 Eutanásia: é direito do paciente decidir a hora de morrer? Embora as duas propostas apresentem uma temática comum ( a eutanásia) a abordagem sugerida propõe dimensões dife- rentes. No primeiro caso, pede-se a discussão sobre a eutanásia, considerando dois pontos de vista divergentes (liberdade x preservação), porém, não há uma pergunta categórica a ser respondida. No segundo caso, o recorte propõe uma pergunta ao aluno sobre o direito do paciente de optar pela eutanásia, o que pressupõe uma resposta – ainda que indireta – como sim ou não. Eis aí uma primeira questão chave para lidar com as temáticas polêmicas. Em outras palavras, devemos compreender exata- mente qual é a polêmica proposta para que, a partir dela, possamos reunir nossos argumentos. Uma leitura desatenta dessa questão pode facilmente levar o aluno a tangenciar o tema. 2. A importância da decisão e da clareza no posicionamento Outra questão deve ser considerada ao refletirmos sobre essas propostas. É importante sempre adotar um posicionamento claro diante do tema, evitando ao máximo ficar “em cima do muro” e, eventualmente, criar contradições em nossos textos. Esse tipo de desvio pode render a perda de muitos pontos na composição de sua nota final. Diante disso, devemos procurar observar os posicionamentos e tentar entender qual deles nos parece ser mais válido para compor a argumentação. Precisamos perceber qual dessas visões tem melhor sustentação, qual delas possui maior diálogo com arealidade em que vivemos e também qual delas realiza uma leitura mais profunda sobre a temática em questão. Tudo isso nos levará a uma decisão coerente com a proposta abordada. 60 3. Construindo teses para diferentes recortes temáticos a) Propostas com perguntas “sim × não “: A abordagens desses temas deve levar em consideração uma resposta à pergunta realizada. Não há a necessidade de essa resposta ser completamente direta e objetiva. No entanto, é importante que o posicionamento do autor esteja claro em relação à pergunta feita e não deixe dúvidas para o corretor a respeito desse ponto de vista. Ex.: TEMA: O CARRO SERÁ O NOVO CIGARRO? TESE (INTRODUÇÃO): Com as crescentes mobilizações ambientais de ONG’s, ONU e pessoas influentes, não demorará para que o carro como conhecemos hoje passe a assumir, tal como o cigarro nos dias de hoje, um valor também negativo, ultrapassado e repudiado. RETOMADA DA TESE (CONCLUSÃO): Diante dessa perspectiva, podemos analisar a ressignificação simbólica do carro para a sociedade do século XXI, que vem perdendo seu valor positivo de sucesso para um valor negativo de poluição e negligência para com o meio ambiente. (trechos extraídos de redação nota máxima do unesp 2020 – estatísticas dos aprovados no curso de medicina da unesp de 2020 – disponíveL em @desempenhosmed) TEMA: A REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL PODE COLABORAR PARA A DIMINUIÇÃO DA VIOLÊNCIA NO BRASIL? TESE (INTRODUÇÃO): Entretanto, esta medida (a redução) não só não colabora para a diminuição da violência como tende a intensificá-la, por não tratar as origens do problema, além de enterrar uma parte da juventude brasileira na cadeia ao invés de desenvolver seu potencial. RETOMADA DA TESE (CONCLUSÃO): Portanto, fica evidente que a diminuição da violência não depende de uma maior abrangência etária do cárcere. (trecho extraído de redação nota máxima do famema 2020 – estatísticas dos aprovados no curso de medicina da famema em 2020 - disponíveL em @desempenhosmed.) b) Propostas com perguntas “X ou Y” Essas propostas são semelhantes às anteriores. É importante que o aluno assuma um posicionamento claro em relação à temática, ainda que ele tenha ressalvas em relação à sua escolha. Ex.: TEMA: VESTIMENTAS RELIGIOSAS NO ESPORTE: LEGITIMAÇÃO DA OPRESSÃO OU LIBERDADE DE MANIFESTAÇÃO RELIGIOSA? TESE (INTRODUÇÃO): Impedir o uso dessa e de outras vestimentas religiosas no esporte fere a liberdade de manifestação de religião, além de ir contra os princípios da prática esportiva. RETOMADA DA TESE (CONCLUSÃO): O uso de vestimentas religiosas no esporte é, portanto, uma forma de se garantir a liberdade de manifestação religiosa de cada atleta. (trechos extraídos de redação nota máxima do unifesp 2020 – estatísticas dos aprovados no curso de medicina na escoLa pauLista de medicina / universidade federaL de são pauLo no processo seLetivo vunesp – sistema de seLeção misto 2020 – disponíveL em @desempenhosmed) c) Propostas com afirmação “entre X e Y” Nessas propostas, é importante que o aluno tenha um pouco mais de cuidado. Embora essas temáticas pressuponham uma oposição (os termos X e Y geralmente mostram ideias contrárias), é necessário que o aluno mecione as duas questões em sua redação. 61 Ex.: TEMA: EUTANÁSIA: ENTRE A LIBERDADE DE ESCOLHA E A PRESERVAÇÃO DA VIDA TESE (INTRODUÇÃO): Assim, a escolha pela eutanásia deve ser livre da ação do Estado, garantindo os direitos individuais e limitando a ação estatal à preservação da vida no que diz respeito à garantia de acesso aos trata- mentos. Arg 1: Por se tratar de uma escolha, a legalização da eutanásia não tem poder coercitivo, res- peitando o direito de quem, dentro de suas convicções, prefere suportar o sofrimento e aguardar a morte natural e, também, o direito de quem busca acabar com seu sofrimento. Arg 2: Além disso, o papel do Estado, objetivando preservar a vida das pessoas, deve ser, somente, o de proporcionar um ambiente propício para que a pessoa tome uma decisão consciente RETOMADA DA TESE (CONCLUSÃO) Em síntese, a eutanásia deve ser uma escolha livre de cada pessoa dentro de suas crenças pesso- ais e da sua capacidade de suportar uma dor física ou psicológica, sendo a interferência de outros nessa escolha uma ação indevida (trechos extraídos de redação nota máxima do unesp 2020 – estatísticas dos aprovados no curso de medicina da unesp 2020 - @desempenhosmed) TEMA: FATOS DA VIDA DAS PESSOAS NOTICIADOS NA INTERNET: ENTRE O DIREITO AO ESQUECIMENTO E O INTERESSE PÚBLICO DE ACESSO À INFORMAÇÃO” – FAMEMA 2021 TESE (INTRODUÇÃO): A Constituição Federal de 1988, também conhecida como “Constituição Cidadã”, prevê a todos o direito à privacidade. No entanto, com a internet, alguns episódios tendem a ser perpetuados entre os usuários. Nesse contexto, emerge um debate acerca de fatos das pessoas noticiadas na internet: essas vítimas merecem o direito ao esquecimento ou o acesso a tais informa- ções é de interesse público? De fato, sabe-se que o passado é importante para a construção do presente. Contudo, os indivíduos mudam ao longo dos anos e, por isso, a decisão de ter seu passado exposto ao público deve ser uma escolha individual. Certamente, o direito à pri- vacidade e a possibilidade de prejudicar a vida atual são os motivos para optar pelo esquecimento. RETOMADA DA TESE (CONCLUSÃO): Torna-se evidente, portanto, que deve ser garantido o direito ao esquecimento a quem teve fatos noticiados na internet. Não se pode permitir que o passado comprometa a honra do indivíduo no presente. (trecho extraído de redação nota máxima do famema 2021 – estatísticas dos aprovados no curso de medicina da famema em 2020 - disponíveL em @desempenhosmed.) IMPRECISÕES COMUNS EM REDAÇÕES DE VESTIBULAR: PROPOSTA TEMÁTICA E COLETÂNEA 1. Leitura do recorte temático Uma das falhas mais graves e mais comuns das redações é a má interpretação do recorte temático proposto, o que leva à fuga ou ao tangenciamento do tema. Isso ocorre, muitas vezes, pela inexperiência do candidato ou por sua falta de atenção quanto à importância da leitura nessa etapa na prova. O recorte temático, somado aos textos da coletânea, tem a função de delimitar quais são as diretrizes escolhidas pela banca para abordar o assunto. Dentre várias possibilidades de discussão, escolhe-se uma vertente, geralmente restrita, que deter- mina as principais relações a serem estabelecidas pelos candidatos. Prova dessa delimitação pode ser vista nas redações nota mil do ENEM, nas quais boa parte dos autores escolhe argumentos muito parecidos e próximos produzidos a partir da leitura atenta do recorte temático e da coletânea. Quando essa leitura atenta não é realizada, os alunos podem fugir ou tangenciar o tema. A fuga total do tema, que anula as redações em praticamente todos os exames, ocorre quando o candidato desenvolve uma ideia que não foi proposta pela banca, isto é, aborda um viés que não está proposto nem pelo recorte nem pela coletânea. A fuga parcial ocorre quando uma parte do recorte está contemplada, mas o texto ainda traz argumentos que sustentem outra direção de análise. Embora ela não anule a redação, o candidato tem sua nota seriamente comprometida. 62 Como resolver? Para não fugir ao recorte temático proposto nos exames, é possível criar algumas estratégias: 1) Transformar a proposta em uma ou mais perguntas; 2) Identificar as palavras-chave do recorte temático e trabalhar sobre elas 2. Leitura da coletânea Outro erro comum cometido pelos alunos é deixar de ler a coletânea. Não se deve esquecer que a prova de redação pressu- põe a leitura e a compreensão dos textos, o que torna essa etapa obrigatória. Além disso, erram também aqueles que optam apenas por trabalhar as ideias presentes em um dos textos, sem atentar às discussões abordadas pelos outros. Geralmente, as bancas separam os textos em mais ou menos fáceis de serem compreen- didos, e, portanto, passam a avaliar melhoro candidato que conseguiu abordar as problemáticas desenvolvidas na maioria desses textos. Como resolver? 1) Partindo da leitura do recorte temático, procure ler a coletânea respondendo às perguntas propostas; 2) Destaque as informações mais relevantes (dados, exemplos, posicionamentos, leis, etc.) 3) Procure estabelecer relações entre eles, comparando-os. Se possível, escreva algumas orações para organizar essa comparação. 3. Citação da coletânea (paráfrase) Ao se valer da coletânea para compor seus argumentos, os alunos precisam estar atentos ao modo como as informações ali presentes devem ser inseridas na redação. A maior parte das bancas examinadoras repudia a cópia integral dos textos, já que ela não apresenta uma compreensão e apropriação autoral das informações oferecidas. Convém ressaltar que não se deve fazer referências diretas à forma de exposição da coletânea, e sim citar o texto como se ele fosse uma informação proveniente do repertório de informações do próprio candidato. Cabe ao aluno compreender e interpretar os dados, inserindo-os em seu texto, caso julgue necessário. Uma boa dica é o emprego de paráfrases. Veja os exemplos: PROBLEMAS REFERÊNCIAS INADEQUADAS REFERÊNCIAS ADEQUADAS REFERÊNCIA INCORRETA Segundo o texto 2... De acordo com reportagem publicada no Jornal O Globo, ... 4. Interpretações de dados estatísticos Outro deslize comum nas redações do vestibular é a interpretação equivocada de gráficos e dados estatísticos. Às vezes, os alunos extrapolam as inferências possíveis de serem feitas e constroem informações inadequadas dos textos apresentados. Portanto, é preciso cuidado ao analisar os dados disponíveis, cuidando em reproduzir apenas os elementos prováveis dentro de uma estatística. Obs: Jamais invente dados estatísticos! Esse recurso – além de impertinente, dada a sua falsa natureza – é malvisto. PROBLEMAS COLETÂNEA INTERPRETAÇÃO INADEQUADA INTERPRETAÇÃO ADEQUADA EXTRAPOLAÇÃO 35 % dos eleitores admi- ram a ação do prefeito 65% não admiram a ação do pre- feito... Aproximadamente um terço dos eleitores admiram a ação do pre- feito. 63 1. Parágrafo expositivo A presença do parágrafo expositivo nas redações do vestibular é um dos entraves mais comuns e mais difíceis de serem solucionados. Esse fator ocorre em função da pouco experiência de muitos alunos em dissertar de modo argumentativo, isto é, evidenciado seu posicionamento a partir de opiniões. Para evitar esse deslize, é fundamental compreender e revisar a estrutura dissertativo-argumentativa. Vale lembrar que esse texto pressupõe um conjunto de posicionamentos, opiniões (ligados a persuasão), sustentado por dados, fatos e informações (ligados à exposição/comprovação das opiniões e posicionamentos). Assim, o fundamental é garantir o equilíbrio entre essas duas esferas em seu parágrafo, conforme os exemplos abaixo. PARÁGRAFO EXPOSITIVO PARÁGRAFO ARGUMENTATIVO Países de todo o mundo estão vivendo o crescimento do en- velhecimento populacional. Nas próximas décadas, a popula- ção mundial com mais de 60 anos vai passar de 841 milhões em 2014 para 2 bilhões até 2050, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). A princípio, a falta de profissionais qualificados dificulta o contato do portador de surdez com a base educacional ne- cessária para a inserção social. O Estado e a sociedade moderna têm negligenciado os direitos da comunidade surda, pois a falta de intérpretes capacitados para a tradução educativa e a inexistência de vagas em escolas inclusivas perpetuam a disparidade entre surdos e ouvintes, condenando os detentores da surdez aos menores cargos da hierarquia social. https://JornaL.usp.br (trecho retirado da redação de beatriz aLbino serviLha – redação nota miL – enem 2017) 2. Ausência de coesão Ao construir orações, períodos e parágrafos do texto, o aluno precisa estar ciente da necessidade de conectar cada uma dessas estruturas. Os pontos descontados em razão da coesão costumam ser altos e, portanto, extremamente prejudiciais na somatória final da avaliação. É fundamental fiscalizar a todo o tempo a manutenção da conexão entre os trechos. É possível se valer de conectivos e ver- bos para cumprir tal função (coesão sequencial) e também de pronomes, sinônimos, hiperônimos, termos genéricos a fim de retomar termos já expressos, mantendo uma coesão lógica dos fatos apresentados (coesão referencial). Convém lembrar que os alunos são avaliados pela presença ou ausência dessas estruturas, conforme mostra o comentário da banca do INEP a respeito de uma das redações nota mil do ano de 2017: Há também um uso diversificado de recursos coesivos que garantem a fluidez de sua argu- mentação por todo o texto, com a presença de articuladores tanto entre os parágrafos (“A princípio”, “Além disso”, “portanto”) quanto entre as ideias dentro de um mesmo parágrafo (“Também”, “Desse modo”, “pois”, “haja vista que”, “Ademais”; entre outros). redação no enem 2018 - cartiLha do participante 3. Ausência de coerência A coerência nas redações do vestibular avalia a capacidade do texto em garantir a sequência lógica e o encadeamento correto das ideias. No entanto, a ausência de planejamento e de delimitação da tese e dos argumentos levam os alunos a construírem parágrafos incoerentes, com informações contraditórias e impertinentes. É comum encontrar casos em que os candidatos resolvem escrever um argumento para cada texto da coletânea, numa clara tentativa de recriar as informações apresentadas sem o menor objetivo argumentativo. Como resultado, cria-se um texto sem relação lógica, sem direcionamento, que coloca numa sequência linear informações contraditórias, ou sem relação direta entre si. IMPRECISÕES COMUNS EM REDAÇÕES DE VESTIBULAR: ESTRUTURA 64 Para evitar problemas de coerência em seu texto, lembre-se das estratégias abaixo: § SEMPRE faça um planejamento de texto; § Deixe sua tese muito clara para o leitor; § Observe se os argumentos apresentados realmente contribuem para a defesa dessa tese; § Verifique se os posicionamentos trabalhados em seu texto não estão em contradição; § Cuide para que seu título também esteja coerente em relação ao conjunto do texto. 4. Presença de lacunas Um dos problemas que leva parte dos alunos a não atingirem a nota máxima em muitas avaliações é a presença de lacunas. Lacunas são ausências criadas ao longo do texto, a partir de ideias que foram apresentadas, mas não comprovadas ou discutidas. Para se ter uma ideia, a VUNESP estabelece a nota máxima no critério GÊNERO/TIPO DE TEXTO E COERÊNCIA a partir da capacidade do candidato de não deixar lacunas em seu texto: “Bom desenvolvimento dos argumentos: ainda que haja rara lacuna ou quebra, os argumentos são justificados/desenvolvidos de modo a convergir para o ponto de vista defendido e há progressão argumentativa (texto estratégico)”. 5. Inexistência da tese/tese A inexistência da tese no texto dissertativo-argumentativo é um erro bastante grave para o gênero. Isso porque ele com- promete toda a estrutura de desenvolvimento do texto, ao não apresentar um fio condutor que oriente a apresentação das ideias. A maior parte dos vestibulares exige tal elemento e o avalia como fundamental para a construção da redação. A análise do próprio INEP feita para os textos nota mil revela essa preocupação: Nota-se também um pleno domínio do texto dissertativo-argumentativo, uma vez que a par- ticipante estrutura adequadamente sua redação, apresentando sua tese, argumentos que a corroboram e conclusão que encerra a discussão. redação no enem 2018 - cartiLha do participante Em síntese, não caprichar na tese é comprometer a estrutura macro de todo o texto e ainda correr o risco de perder pontos pelo não cumprimento do gênero. Recomendações para a elaboração de uma tese A tese é um posicionamento a respeito de um determinado tema e, portanto, pressupõe a explicitação de julgamentos ou juízos, o que a caracteriza como um período argumentativo. Portanto, convémempregar palavras que não sejam meramente descritivas, mas que carreguem em si um aspecto parcial acerca do tema desenvolvido. Para facilitar a composição de sua tese, recomendamos algumas estratégias: 1) Empregue verbos no presente que exprimam juízos de fato a respeito de uma situação. A elite brasileira ignora a noção de cidadania e, assim, submete os outros a uma relação de hierarquia. 2) Use substantivos abstratos que apontem a ocorrên- cia de processos/eventos que ocorre, na sociedade. É importante analisar a forte influência política no setor e a im- punidade das empresas que desrespeitam a legislação. 3) Use adjetivos para julgar e avaliar processos/ atitu- des/comportamentos As ações vinculadas à cultura são inexpressivas... 4) Empregue verbos de ligação para avaliar e criticar: Diante disso, nota-se que o racismo continua presente no coti- diano brasileiro, ainda que parte da sociedade civil negue sua existência. 65 SUGESTÃO DE ESTILO I Ampliação do vocabulário Sabemos que a composição do léxico de uma pessoa – isto é, o conjunto de vocábulos de que dispõe para uso da língua – é uma construção feita ao longo de toda a vida. Ela ocorre em diferentes processos de contato com a língua, seja através da compreensão oral ou de nossa compreensão escrita. Ao nos dedicarmos à escrita de redações para o vestibular – tendo como foco o texto dissertativo-argumentativo – é comum que empreguemos com frequência as mesmas palavras, até mesmo porque, ao longo do tempo, observamos que algumas delas são capazes de precisar exatamente as ideias que queremos defender. No entanto, não podemos nos esque- cer de que a ampliação do léxico é um processo contínuo, que deve ser estimulado e valorizado. Portanto, evite o apego a fórmulas únicas de construção textual e aproveite as sugestões e análises abaixo para aumentar ainda mais suas formas de construção textual. a) Uso de substantivos abstratos Pelo fato das dissertações-argumentativas serem pautadas pela apresentação e defesa de ideias, é natural que boa parte do léxico dessa unidade textual seja composto por substantivos abstratos. Estes são responsáveis por nomear ações, processos, ideias, sentimentos, sensações, experiências entre outras convenções dentro de uma língua. Leia os conjuntos de substantivos abaixo e procure empregá-los. O ideal, ainda, é criar uma lista própria de termos em seu caderno de anotações para sempre consultá-la quando necessário. FUNÇÃO TERMOS EMPREGO Ações/ Comportamentos possivelmente inadequados: despreparo, equívoco, engano, infantilidade, negligência, brutalidade, displicência, inação, irregularidade, comedi- mento, descuido, desatenção, despreparo, ilusão, impre- visibilidade, conivência, permissividade, desgaste, insta- bilidade, fuga, incapacidade, mascaramento Ao notar a série histórica de equívocos por parte das autoridades brasileiras, nota- -se o quanto o despreparo e conivên- cia foram a tônica das condutas políticas em diferentes regimes. Ações/ Comportamentos possivelmente notáveis: Engajamento, interesse, maturidade, coerência, inte- ração, flexibilidade, coragem, clareza, aprimoramento, gentileza, cordialidade, aproximação, conciliação, ama- durecimento, simplificação, ousadia, concentração. O atual interesse e engajamento dos jovens face aos problemas ambientais re- velam o real amadurecimento político das novas gerações. PALAVRAS USUAIS SINÔNIMOS Vontade Desejo, ambição, busca, procura Trabalho Atuação, desempenho, conduta, tarefa, obrigação Objetivo Finalidade, intuito, intenção, meta, alvo Administração Gestão, atuação, operação Aumento Acréscimo, ampliação, crescimento Visão Percepção, perspectiva, entendimento, compreensão Desprezo Aversão, preterição, repulsa Manutenção Conservação, permanência, continuidade Contribuição Colaboração, aporte, auxílio Construção Criação, composição, elaboração Ligação Aliança, associação, acordo 66 b) Adjetivos Os adjetivos também são itens lexicais importantes para a construção da opinião do autor dentro do texto. No entanto, como vimos na aula 20, é preciso comedimento e atenção para empregar adjetivos adequados à norma padrão da escrita e ao texto dissertativo-argumentativo. A lista abaixo pode te auxiliar a obter novos termos para aprimorar a criticidade de seu texto nas provas de redação. PALAVRAS USUAIS SINÔNIMOS EMPREGO Prejudicial Nocivo, pernicioso, danoso É nociva a forma como tais indivíduos são tratados. Válido Apropriado, adequado, pertinente, propício, ideal, procedente O momento não poderia ser mais propício: a cidade, atu- almente, passa pelo grave processo de financeirização. Notável Evidente, perceptível, visível Nesse sentido, as incoerências a respeito do problema tornam-se visíveis. Rigoroso Austero, severo, rígido, intransigente, autoritária A austera vigilância sobre os alunos impõe-se parte na- tural do processo educativo Mentiroso Leviano, inverídico, enganoso, falacioso Assim, amplia-se a ideia falaciosa de que todo o siste- ma público de saúde está corrompido. Disseminado Difundido, compartilhado, divulgado Com efeito, tais ideias ainda precisam ser difundidas entre as autoridades brasileiras. Legítimo Lícito, aceitável, justificável – verdadeiro, genuíno É justificável o argumento defendido por boa parte da população. c) Construções verbais Conhecer e saber manipular as construções verbais da língua é algo que certamente rende maior precisão vocabular aos candidatos na hora do vestibular. Veja a lista abaixo e observe como alguns deles podem ser empregados num texto disser- tativo-argumentativo: PALAVRAS USUAIS SINÔNIMOS EMPREGO Recusar Abster-se de, isentar-se de Parte dos cidadãos abstêm-se da responsabilidade co- letiva com a luta antirracista. Continuar Permanecer, manter, conservar, preservar, perpetuar E assim, a sociedade perpetua a ideia de que parte dos cidadãos não são dignos de direitos. Defender Alegar, argumentar Outros alegam que esses adolescentes já teriam res- ponsabilidade suficiente para responder criminalmen- te por seus próprios atos. Questionar Contestar, fazer objeção a, Parte dos professores fazem objeções ao emprego do celular em sala de aula. Prejudicar Danificar, minar, comprometer, Ao reproduzir esse senso comum, mina-se qualquer possibilidade de engajamento por parte da população. Mostrar Revelar, expor, deixar entrever, Aos poucos, o grupo deixa entrever uma série de preconceitos presentes no discurso, nas ações e nas escolhas realizadas. Prosseguir Levar adiante, avançar Poucos levam adiante a lição aprendida com o passado. Querer Reivindicar, exigir, requerer Esse espaço é reivindicado justamente quanto as eli- tes tem seu privilégio questionado. Favorecer Beneficiar, possibilitar, privilegiar Ao passo que os direitos são negados, privilegia-se apenas um grupo social. 67 SUGESTÃO DE ESTILO II 1. Deslocamento e inversões sintáticas Sabemos que a clareza de um texto é fundamental para a obtenção de uma boa nota. Sabemos também que o uso recor- rente da ordem direta do português (sujeito-verbo-complemento) é uma ferramenta excelente para que o aluno não perca o raciocínio durante a escrita e evite desvios de concordância, regência e pontuação. No entanto, devido à forma com que as informações são apresentadas, muitas vezes, pode ser mais interessante recorrer a deslocamentos ou inversões sintáticas no momento da escrita. Embora, muitas vezes, já façamos uso dessas estruturas, mesmo sem nos darmos conta, é recomendável sabermos manipular as orações a fim de aprimorarmos ainda mais a orga- nização de nosso texto. a) Deslocamento da oração adverbial De acordo com a ordem canônica de apresentação sintática da língua portuguesa, advérbios, locuções ou orações adverbiais devem aparecer sempre após a estrutura sujeito-verbo-complemento, como ocorre na sentença “Os deputados aprovaram a sentença na última sexta-feira”. Entretanto, em algumas situações na escrita da redação, convém que essa informaçãotrazida pelo advérbio/locução adverbial/oração adverbial seja antecipada para o leitor. Observe os períodos abaixo: Ao longo do processo de formação da sociedade, o pensamento cinematográfico consolidou-se em diversas comunidades. Deslocamento de locução adverbial de tempo Embora a Constituição Federal de 1988 assegure o acesso à cultura como direito de todos os cidadãos, percebe-se que, na atual realida- de brasileira, não há o cumprimento dessa garantia. Deslocamento de oração adverbial concessiva e de oração adverbial temporal Assim como retratado no longa-metragem, não há, ainda, a plena democratização do acesso ao cinema no Brasil. Deslocamento de oração adverbial comparativa (trechos extraídos de redações nota máxima do enem 2019 , disponíveis na cartiLha redação a miL 2.0.) Em todas as situações, os termos adverbiais foram deslocados para o início ou para o meio da oração com objetivo de adian- tar algumas informações para o leitor. O grande desafio, ao empregar tais estruturas, é estar atento para o uso da vírgula: ela sempre será necessária para marcar esses deslocamentos. Em outros casos, o uso do deslocamento pode tornar o texto ainda mais autoral. Veja os exemplos abaixo: TESE Ainda que haja forte pressão de parte dos cidadãos, as autoridades não devem abrir mão dos programas de vacinação. TÓPICO FRASAL Ao vincularmos nossas ações ao olhar do outro, perdemos nossa própria identidade. RETOMADA DA TESE (CONCLUSÃO) Portanto, seja em função do alto custo dos ingressos, seja devido à pouca oferta de espaços para espetáculo, o teatro continua a ser uma arte relegada apenas às camadas mais altas. FECHAMENTO ESPECIAL (CONCLUSÃO) Se pertence ao homem o direito de escolher sua própria orientação religiosa, não cabe a nenhum Estado legislar sobre essa decisão. FECHAMENTO ESPECIAL (CONCLUSÃO) Enquanto o individualismo for a regra da atualidade, a solidariedade continuará a ser um discurso incapaz de se transformar em ações e em práticas efetivas. b) Inversão sintática Eventualmente, a inversão da estrutura sujeito-verbo-complemento pode ser usada para melhorar a conexão com a oração anterior, para dar mais ênfase a determinados elementos ou para tornar a redação mais autoral. Todavia, é preciso usar esse recurso com comedimento, tendo atenção para não cometer equívocos nas concordâncias verbal e nominal das sentenças. 68 Observe abaixo a diferença entre a posição de sujeitos, verbos e complementos nas orações destacadas: PERÍODO INVERTIDO PERÍODO NA ORDEM CANÔNICA Diferentemente disso, no Brasil, são raras as políticas públicas na área de moradia e inexistem meios efetivos para a contenção da especulação imobiliária. Diferentemente disso, no Brasil, as políticas públicas na área de moradia são raras e meios efetivos para a contenção da especula- ção imobiliária inexistem. Foram, justamente, os jovens os principais responsáveis pelas Jor- nadas de Junho, em 2013, no Brasil. Os jovens, justamente, foram os principais responsáveis pelas Jor- nadas de Junho, em 2013, no Brasil. Desse grande mal-entendido científico, surgiram diversas notícias falsas. Diversas notícias falsas surgiram desse grande mal-entendido científico. 2. Redução de orações Outro recurso que pode aprimorar a escrita dos alunos é a ação de reduzir orações subordinadas ou ainda de transformá-las adjetivos, substantivos ou advérbios/locuções adverbiais dentro de um período simples. Esses empregos, além de deixarem o texto mais curto e objetivo, podem melhorar a clareza nas ideias e conferir mais autoria à produção. ORAÇÕES SUBSTANTIVAS ORAÇÃO DESENVOLVIDA ORAÇÃO REDUZIDA É preciso que as ofertas de trabalho nessa área sejam ampliadas e que elas sejam dirigidas, sobretudo, à população desalentada. É preciso ampliar as ofertas de trabalho e dirigi-las, sobretudo, à população desalentada. ORAÇÃO DESENVOLVIDA ORAÇÃO TRANSFORMADA EM SUBSTANTIVO É notório que esses movimentos conquistaram sua liberdade. É notória a conquista da liberdade feita por esses movimentos. ORAÇÕES ADVERBIAIS ORAÇÃO DESENVOLVIDA ORAÇÃO REDUZIDA Quando se considera a situação brasileira, nota-se... Ao se considerar a situação brasileira, nota-se... ORAÇÃO DESENVOLVIDA ORAÇÃO TRANSFORMADA EM LOCUÇÃO ADVERBIAL Embora haja críticas à medida, ela é fundamental... Apesar das críticas à medida, ela é fundamental 3. Uso de repertório Ao longo do curso, você foi apresentado a diferentes recursos para usar seu repertório nas redações. Aqui, são apresentadas apenas outras sugestões para você se inspirar e fazer paráfrases criativas de teorias ou conceitos de dos autores selecionados. TEORIA/CONCEITO EMPREGO Num sistema de direitos de cidadania assim baseado na imunida- de de alguns e na incapacidade de outros, os direitos se tornam relações de privilégio que atuam sem a obrigatoriedade do dever. James hoLston, antropóLogo norte-americano. Diante desse exemplo, é possível dizer que James Holston acertara ao descrever a cidadania no Brasil: direitos tornam- -se privilégios sem a obrigação dos deveres, o que apenas reforça esse sentimento de hierarquia e distinção social tão presentes en- tre as camadas mais abastadas do país. A escolha dos homens, que irão exercer funções públicas, é feita de acordo com a confiança pessoal que mereçam os candidatos, não de acordo com as suas capacidades próprias. Falta a tudo a ordenação impessoal que caracteriza a vida no Estado burocrático. sergio buarQue de hoLLanda, socióLogo e historiador brasiLeiro. Nesse contexto, o interesse de parte da elite em promover pesso- as próximas para altos cargos – sejam eles públicos ou privados – em nada se distancia da cordialidade descrita por Sérgio Buarque de Hollanda: trata-se de uma seleção que despreza as capacidades próprias dos candidatos e, em vez disso, seleciona aqueles com quem mantém relações de interesse e de confiança. A racionalidade neoliberal tem como característica principal a ge- neralização da concorrência como norma de conduta. (...) O neoli- beralismo pode ser definido como o conjunto de discursos, práticas e dispositivos que determinam um novo modo de governo dos homens segundo o princípio universal da concorrência. pierre dardot e christian LavaL, fiLósofos franceses contemporâneos. A busca desenfreada pelo sucesso e pelo desempenho em dife- rentes instâncias da vida social é parte de uma nova racionalidade em operação no momento contemporâneo: a concorrência. Tal como descrevem Pierre Dardot e Christian Laval, os in- divíduos extraem a competição da esfera econômica e passam a empregá-la em nas demais relações que estabelecem. 69 prOpOSTa EnEm TEXTO 1 A história, como um campo do saber, é parte central dos embates políticos e sociais desde sua origem, pois ela faz parte da constituição das nossas sociedades, ao fornecer representações formadoras de imaginários coletivos que instituem e dão legitimidade à comunidade. Ela é fundamental para estruturar as identidades de diferentes grupos sociais, sejam nações, classes, grupos religiosos ou movimentos sociais, e, ao mesmo tempo, pode oferecer inspiração para as escolhas políticas de tais grupos. Aí estão as razões pelas quais a história ocupa lugar central nas batalhas políticas presentes, sendo objeto de tantas disputas e manipulações por parte de quem pretende justificar seus projetos de poder. rodrigo patto sá motta “desafios para uma história do tempo presente no brasiL” https://ufmg.br (06.06.2020) adaptado. TEXTO 2 A falta de interesse pela preservação da memória no Brasil, explícita no incêndio que atingiu o Museu Nacional na noite o dia 02 de setembro de 2018, é uma característica histórica e cultural da sociedade brasileira. A análise é da historiadora, pesquisadora e professora Mary del Priore, que lista, entre tantos motivos, a falta de investimentos das autoridades públicas na manutenção e valorização do patrimônio, os profes sores de história que não transmitem a paixão sobre o passado para seus alunos,os pais que preferem levar seus filhos ao shopping e não a um museu. A responsabilidade, diz a professora, é de toda a sociedade, que agora se sensibiliza ao ver um patrimônio depredado. “Todos nós temos que jogar as cinzas do Museu na nossa cabeça. Foi culpa nossa”, disse em entrevista à Carta Capital. “Nunca foi valorizado no Brasil o nosso passado, a nossa memória, a disciplina histórica. As faculdades de história, por exemplo, só começam no país no século XX. A falta de prestígio da história é histórica”, afirma. ‘a faLta de prestígio da história é histórica no brasiL’ https://www.cartacapitaL.com.br/ (03.09.2018 ) TEXTO 3 Nos últimos anos, o mundo tem vivenciado uma crescente negação de fatos históricos. Frases como “o Holocausto nunca existiu”, “o nazismo é de esquerda”, “a ditadura militar foi branda” e “não houve genocídio indígena” estão se tornando comuns em conversas diárias, seja em redes sociais ou em uma mesa de bar numa sexta à noite. Inúmeros fatores contribuem para o aumento deste fenômeno no Brasil e no mundo. A revista Aventuras na História teve acesso à abertura do evento “Negacionismos e Revisionismos: o conhecimento histórico sob ameaça”, organizado por docentes da Universidade de São Paulo (USP), onde o tema aparece como um desafio que deve ser enfrentado através do diálogo. Segundo a professora e historiadora da USP Mary Anne Junqueira, “o negacionismo está vinculado ao fortalecimento de grupos conservadores em várias partes do ocidente e também em regiões do oriente . Negar a violência de temas do passado e do presente é uma ameaça ao conhe- cimento histórico e à democracia, e deve ser visto como arma política usada por determinados setores”. Independentemente de posições políticas, o debate sobre esses conteúdos deve ser mantido por todos os cidadãos dentro de termos racionais, e construído com base em argumentos sólidos – afinal, a História é uma ciência como todas as outras. “negacionismo histórico: por Que estamos negando os fatos?” www.aventurasnahistoria.uoL.com.br (08.05.2019) TEXTO 4 https://tirasarmandinho.tumbLr.com/post/150815257424/tirinha-originaL (acesso em 02.09.2021) A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija um texto disserta- tivo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o tema , apresentando proposta de intervenção que respei- te os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista. OS PERIGOS DO DESPREZO À HISTÓRIA NA SOCIEDADE BRASILEIRA 70 prOpOSTa vESTIbUlar TEXTO 1 Novelas, filmes e séries são obras de ficção, certo? Mas quando essas obras retratam figuras e acontecimentos históricos, a maioria das pessoas espera que aquilo que estão vendo seja o que realmente aconteceu ou que, pelo menos, se aproxime da realidade dos fatos e das pessoas retratados. Isso não é o que vemos em Nos Tempos do Imperador, a atual novela das 18h da Globo. Nos Tempos do Imperador se passa na época do Segundo Reinado, com recursos parecidos aos da novela anterior: um casal romântico fictício protagoniza a história, com figuras históricas como pano de fundo — dessa vez, o romance entre Dom Pedro II e a Condessa de Barral. Porém, o resultado está sendo bem diferente: a audiência está mais baixa do que nunca, e o público está criticando os vários erros históricos da produção. Vejamos o primeiro casal protagonista romântico da novela: Pilar é uma moça rica que quer ser médica, em uma época na qual apenas homens estudavam, e se apaixona por Jorge, um escravo que foge de seu dono e muda de identidade. Várias das sequências que mais geram críticas na novela envolvem ambos. O casal birracial anda pela rua, trocando carícias livremente — isso em uma época em que muitos negros ainda eram escravizados e nem eram considerados humanos por parte dos brasileiros. É factível a existência do casal, porém demonstrar o amor à luz do dia, sem sofrer represálias, não é algo que seria possível. A cena mais incômoda foi quando Pilar acabou sendo impedida de morar na Pequena África, reduto dos negros libertos, e Jorge faz um comentário comparando o que houve com a moça ao racismo. Afinal, ter de buscar outro lugar para dormir não é nada perto de séculos de escravidão e da falta de direitos básicos. “dramas históricos precisam ter compromisso com a reaLidade?” https://www.megacurioso.com.br/ (02.09.2021) TEXTO 2 A história, como um campo do saber, é parte central dos embates políticos e sociais desde sua origem, pois ela faz parte da constituição das nossas sociedades, ao fornecer representações formadoras de imaginários coletivos que instituem e dão legitimidade à comunidade. Ela é fundamental para estruturar as identidades de diferentes grupos sociais, sejam nações, classes, grupos religiosos ou movimentos sociais, e, ao mesmo tempo, pode oferecer inspiração para as escolhas políticas de tais grupos. Aí estão as razões pelas quais a história ocupa lugar central nas batalhas políticas presentes, sendo objeto de tantas disputas e manipulações por parte de quem pretende justificar seus projetos de poder. Há iniciativas sistemáticas de alguns grupos sociais para construir representações da história que recuperam perspectivas tradicionais de inspiração conservadora. Não se trata apenas da história presente, mas também de temas clássicos como a colonização do Brasil e a escravidão, fenômenos que as lideranças e os intelectuais mais conservadores pretendem mostrar como processos sem conflito e violência. rodrigo patto sá motta “desafios para uma história do tempo presente no brasiL” https://ufmg.br (06.06.2020) adaptado. TEXTO 3 Poucos se dão conta de que, quando se vai montar uma peça, um filme, uma novela, no início está escrito “Baseado em...” Uma produção audio- visual é uma nova produção que nasce em cima do livro, em cima da história, em cima de um episódio real. Trata-se de uma nova obra, uma nova releitura, uma livre adaptação. As linguagens artísticas existem justamente para não ter compromisso com a realidade. A ficção é uma narrativa imaginária, irreal, ou para redefinir obras (de arte) criadas a partir da imaginação. Obras ficcionais podem ser parcialmente baseadas em fatos, mas sempre contêm algum conteúdo imaginário. É o que chamo das transgressões artísticas. A arte cria ilusões de realidades, espaços e pessoas inexistentes para contar histórias que nunca aconteceram. Que não se encontram na natureza, de forma a materializar visualmente as ideias que temos na cabeça. O ser humano é o único animal que produz ficção, criando uma aparência de realidade para enganar a si próprio ou a seus similares. Assim, o nosso dia a dia, nossas tarefas são a realidade que vivemos. Quem quiser viver alguns momentos de fantasia, abra um livro, assista a um filme, ouça uma música. Ou, como eu digo, o papel do historiador é contar o fato como realmente aconteceu. O papel do escritor é imaginar, contar, fantasiar como o fato poderia ter acontecido. emíLio figueira “a ficção não tem compromisso com a reaLidade” https://www.emiLiofigueira.com.br/ (09.05.2020) adaptado. TEXTO 4 Por trazer a história para o cotidiano, as novelas e minisséries são um gênero televisivo que chama a atenção da população. As obras de época possibilitam uma volta ao passado. As tramas históricas possibilitam um conhecimento sobre um determinado período ou figura histórica por meio do entretenimento que a TV oferece. Muitas pessoas, ao assistirem as tramas, despertam seu interesse em pesquisar e se aprofundar sobre os fatos históricos e a vida dos personagens, por meio de livros, internet, entre outros. Há uma relação de identidade, curiosidade e empatia que se constrói entre o personagem e o telespectador. 71 Diante de um cenário como esse, até entendemos que as produções audiovisuais sejam um produto de ficção e que, portanto, não tenham um com- promisso com o registro dahistória em si. No entanto, tais produções criam uma visão sobre aquilo que abordam, ao fornecerem uma interpretação sobre episódios que efetivamente ocorreram. Ou seja, mesmo que a ficcção não tenha essa intenção, ela também constrói uma visão sobre a história. samanta fernandes “as representações históricas como produto midiático”: um estudo sobre a minissérie “amazônia – de gaLvez a chico mendes”. dissertação de comunicação contemporânea da universidade anhembi morumbi, 2016. (adaptado) Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva um texto dissertativo-argumentativo, empregando a norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema: A REPRESENTAÇÃO DA HISTÓRIA NAS ARTES: ENTRE A LIBERDADE DE CRIAÇÃO E O COMPROMISSO COM A REALIDADE 72 73 INGLÊS 74 U.T.I. - Sala TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Emily Carr (1871-1945) Emily Carr was born on December 13, 1871, in Victoria, British Columbia, to Richard and Emily Saunders Carr, the fifth child in a family of five girls. A brother, Dick, was born in 1875. Carr began her training as an artist in her late teens. After the death of both parents, rather than be subjected to the demands of her overbearing sister Edith, Carr approached her legal guardian to secure funds to attend the California School of Design. Little of her work survives from this period, but she seems to have received basic instruction in oil painting and watercolour and was able, upon her return to Victoria in 1893, to make a living as an art teacher. In 1907, she began documenting the First Nations cultures of British Columbia. Carr continued to draw and paint throughout the 1930s until a heart attack in 1937 left her bedridden and un- able to paint. She began to devote all of her creative en- ergy to writing. Ira Dilworth, teacher and CBC executive, became her confidant and literary advisor. Dilworth’s support of her autobiographical sketches gave her both the confidence and the means to secure publication for her work. Her writing, initially broadcast on CBC Radio, gathered popular appeal and endeared her to a public that for years had been hostile to her art. Klee Wyck, first published in 1941, was a huge popular success and a critical success as well: Carr was awarded the Governor General’s Literary Award for non-fiction in 1941. Some of her other titles were The Book Of Small (1942), The House Of All Sorts (1944), Growing Pains (1946) and The Heart Of A Peacock (1953). Growing Pains tells the story of Carr’s life, beginning with her girlhood in pioneer Victoria and going on to her training as an artist in San Francisco, England and France. Also here is the frustration she felt at the rejection of her art by Canadians, of the years of despair when she stopped painting. Carr is a natural storyteller whose writing is vivid and vital, informed by wit, nostalgic charm, an artist’s eye for description, a deep feeling for creatures and the idiosyn- crasies of humanity. Emily Carr died in Victoria on May 2, 1945, with no idea that she would ultimately become a Canadian icon. adaptado de: museevirtueL-virtuaLmuseum.ca. 1. (UERJ) O gênero de um texto pode ser reconhecido tanto por seu propósito comunicativo quanto por suas características de uso de linguagem. Identifique o gênero do texto e seu propósito. Indique, também, duas dessas características. 2. (UEL) Leia os textos a seguir. TEXTO I Language carries culture, and culture carries, partic- ularly through orature and literature, the entire body of values by which we come to perceive ourselves and our place in the world. How people perceive themselves affects how they look at their culture, at their politics and at the social production of wealth, at their entire relationship to nature and to other beings. Language is thus inseparable from ourselves as a community of human beings with a specific form and character, a spe- cific history, a specific relationship to the world. (ngugi wa thiong’o) (greenbLatt, s. et aL. the norton anthoLogy. engLish Literature. 8.ed., v.2. 2005. p.2538.) TEXTO II Listen Mr. Oxford Don Me not no Oxford don Me a simple immigrant From Clapham Common I didn’t graduate I immigrate But listen Mr. Oxford don I’m a man on de run And a man on de run Is a dangerous one I ent have no gun I ent have no knife but mugging de Queen’s English In the story of my life I dont need no axe (Jhon agard) (disponíveL em:<http://year11protestpoetry.wiKispaces. co/Listen+mr+oxford+don>. acesso em: 23 set. 2013.) Com base na leitura do texto I, explique a relação entre o eu lírico e a língua inglesa no poema. Justifique com exemplos do texto II. Leia o texto para responder, em português, à questão. Land in Brazil: Farmers vs Amerindians June 15th 2013 When Brazil’s constitution was adopted in 1988, five years was meant to be enough to decide which areas should be declared Amerindian tribal lands. Nearly 25 years later, the country has 557 indigenous territories covering 13% of its area, most of them in the Amazon. But more than 100 others are still being considered. The delay is causing conflict in long-farmed regions farther south. ESTUDO DA LÍNGUA INGLESA 75 In the past month several Terena Indians have been in- jured and one killed in confrontations with police and farmers in Sidrolândia in Mato Grosso do Sul (see map). Funai started studying the region the Terena tribe claims as its ancestral home in 1993. In 2001 it proposed an indigenous territory of 17,200 hectares (42,500 acres). Landowners whose farms fell within it challenged the de- cision in court; some have titles dating from 1928, when the government ceded 2,090 hectares to the tribe and encouraged settlers to farm neighbouring land. Since then Funai, the justice ministry, the public prosecutor’s office and various judges have argued over the territory’s status. Last year owners of some of the 33 affected farms won a ruling granting them continued possession. The Terena, supported by Funai, continue to lay claim to the land. Last month they invaded several disputed farms. During a failed attempt by police to evict them from one owned by a former state politician, an Indian was killed. On June 4th another was shot in the back on a neighbouring property. He is unlikely to walk again. The evictions have now been suspended and the occu- pations continue. The justice ministry is trying to gather together local and federal politicians and tribal leaders to negotiate an end to the impasse. Brazil’s powerful farm lobby is now trying to change the constitution to give Congress the final say over future demarcations. That would probably mean few or no more indigenous territories. The government wants the power to demarcate territories to remain with the jus- tice minister and the presidency. But in states where Fu- nai’s rulings are fiercely contested, such as Mato Grosso do Sul, it plans to start seeking second opinions from agencies seen as friendlier to farmers. (www.economist.com. adaptado.) 3. (UNESP) De acordo com o texto, por que a Funai é questionada em estados fortemente agrícolas? 4. (FUVEST) School by danieL J. Langton I was sent home the first day with a note: Danny needs a ruler. My father nodded, nothing seemed so apt. School is for rules, countries need rulers, graphs need graphing, the world is straight ahead It had metrics one side, inches the other. You could see where it started and why it stopped, a foot along, how it ruled the flighty pen, which petered out sideways when you dreamt. I could have learned a lot, understood latitude, or the border with Canada, so stern compared to the South and its unruly river with two names. But that first day, meandering home, I dropped it. http://www.poetryfoundation.org/poem/244284. acesso em: 23/8/2012. Com base no poema “School”, responda em português: a) Após o primeiro dia na escola, o menino voltou para casa com um bilhete que dizia: “Danny precisa de umarégua”. Por que a exigência de uma régua pareceu apropriada? b) O que aconteceu no caminho de volta para casa e qual a consequência desse acontecimento para o aprendizado do menino? 5. (UEL) Leia o poema a seguir. 40-Love middle aged couple playing ten- nis when the game ends and they go home the net will still be bet ween them. (mcgough, r. disponíveL em: <http://home.pLanet.nL/ brui1713/Litbite/40Love.htmL>. acesso em: 14 ago. 2012.) a) Este poema mostra uma relação entre a forma do texto e sua mensagem. Qual é essa relação? b) Explique a relação entre o jogo de tênis e o casa- mento, implícita no poema. 76 U.T.I. - E.O. 1. (FUVEST) Com base na tirinha cômica “Dry Bones”, responda em português: a) O que o personagem de boné considera uma boa notícia? b) Por que a última fala do diálogo tem efeito humorístico? Justifique sua resposta. 2. (FUVEST) Is this the South Sea Bubble 2.0? I hear Tom Paine’s all a-Twitter I saw her on ThouTube... Twas GHASTLY! How goeth ye American Spring? Wilt thou be my Visagebook friend? THERE IS A great historical irony at the heart of the current transformation of news. The industry is being reshaped by technology – but by undermining the mass media’s business models, that technology is in many ways returning the industry to the more vibrant, freewheeling and discursive ways of the preindustrial era. Until the early 19th century there was no technology for disseminating news to large numbers of people in a short space of time. It travelled as people chatted in marketplaces and taverns or exchanged letters with their friends. The invention of the steam press in the early 19th century, and the emergence of mass-market newspapers, marked a profound shift in news distribution. The new technologies of mass dissemination could reach large numbers of people with unprecedented speed and efficiency, but put control of the flow of information into the hands of a select few. In the past decade the internet has disrupted this model and enabled the social aspect of media to reassert itself. In many ways news is going back to its pre-industrial form, but supercharged by the internet. Camera-phones and social media such as blogs, Facebook and Twitter may seem entirely new, but they echo the ways in which people used to collect, share and exchange information in the past. the economist, JuLy 9th 2011. adaptado. Com base no texto, responda em português: a) Que mudanças ocorreram no início do século XIX, na indústria de notícias? b) Explicite a ironia histórica, provocada pelo advento da internet, no modo de distribuição atual das notícias. 77 3. (UNICAMP) The March on Washington When the architects of our republic wrote the magnif- icent words of the Constitution and the Declaration of Independence, they were signing a promissory note to which every American was to fall heir. This note was a promise that all men, yes, black men as well as white men, would be guaranteed the unalienable rights of life, liberty, and the pursuit of happiness. It is obvious today that America has defaulted on this promissory note insofar as her citizens of color are concerned. Instead of honouring this sacred obliga- tion, America has given the Negro people a bad check, a check which has come back marked “insufficient funds.” But we refuse to believe that the bank of justice is bankrupt. We refuse to believe that there are insuffi- cient funds in the great depositories of opportunity of this nation. So we have come to our nation’s capital to cash this check. (adaptado de: http://www.mLKonLine.net/dream. htmL. acessado em: 28/09/2011.) a) Na linguagem metafórica do texto, um trecho do discurso proferido por Martin Luther King em 1963, a que se refere a “nota promissória” emitida pelos Estados Unidos da América? b) Que crenças levaram os negros estadunidenses a irem a Washington “sacar o cheque” que a América lhes deu? 4. (UNICAMP) The World Without Us by Alan Weisman – a book review Imagining the consequences of a single thought expe- rience – what would happen if the human species were suddenly extinguished – Weisman has written a sort of pop-science ghost story, in which the whole earth is the haunted house. Among the highlights: with pumps not working, the New York City subways would fill with water within days, while weeds and then trees would retake the streets. Texas’s unattended petrochemical complexes might ignite, scattering hydrogen cyanide to the winds – a “mini chemical nuclear winter.” After thousands of years, rubber tires, and more than a bil- lion tons of plastic might remain, and eventually a poly- mer-eating microbe could evolve, and, with the spectac- ular return of fish and bird populations, the earth might revert to Eden. (adaptado de: http://www.amazon.com/exec/obidos/asin/031234729/ sc /sciencedaiLy-20. acessado em: 10/10/2011.) a) O que, segundo o texto, aconteceria em Nova Ior- que, caso ocorresse uma repentina extinção da espé- cie humana? b) Segundo o texto, quais poderiam ser as consequ- ências da permanência de pneus e plásticos na Terra, milhares de anos após o desaparecimento dos seres humanos? TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES Globalization and Multiliteracies “Every reading of the word is preceded by a reading of the world. Starting from the reading of the world that the reader brings lo literacy programs (a social-and class-determined reading), the reading of the word sends the reader back lo the previous reading of the world, which is, in fact, a rereading.” pauLo freire Unesco has worked to examine the idea of varied usag- es of literacy on a global basis. Globally, multiliteracies can be perceived and applied very differently depend- ing on the nation and its culture. The table below pro- vides a few excellent examples of this. Brazil The Brazilian Geographical and Statistics Institute defines as ‘functionally literate’ those individuals who have completed four grades of schooling, and as ‘functionally ilIiterate’ those who have not. Israel Literacy is defined as the ability to ‘acquire the essential knowledge and skills that enable [individuals] to actively participate in all the activities for which reading and writing are needed’. disponíveL em: http://muLtiLiteracy.wetpaint.com/page/ gLobaLization+and+muLtiLiteracies. acesso em: 2 set. 2011. (adaptado). 5. (UEG) Compare the concept of literacy in Brazil and in Israel. Which country takes into account its quanti- tative aspects and which one considers its qualitative aspects? 78 6. (UEG) According to Paulo Freire, what is the effect of the reading of the world – literacy – on the reader’s view of the world? 7. (UEG) a) Change the following sentence from the passive voice to the active voice. Every reading of the word is preceded by a reading of the world. b) Change the following sentence into the present perfect continuous tense. UNESCO has worked to examine the idea of varied usages of literacy. TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES Personal Marketing: Selling yourself Before you begin a job search campaign you must have a personal marketing strategy. A personal marketing strategy provides you with a game plan for your job search campaign. You should look at the job search as a marketing cam- paign, with you, the job seeker, as the product. Every product, even the best ones, won’t succeed without a strong marketing strategy. This begins with a comprehen- sive, yet flexible plan. First you must know to whom you are marketing. You must identify the types of employers who would be looking for an employee with your quali- fications. Are they all within a certain industry? Are there many industries that hire employees with your back- ground? You already know that personal marketing skills are im- portant to your career and perhaps to find a better job, butthe only problem is that the art of self marketing is difficult for a lot of people. Selling yourself well doesn’t mean talking just about yourself or arrogantly telling others how great you are. By selling yourself, in an interview or an informal net- working meeting, I mean thinking first about the em- ployer’s needs and expectations and figuring out how you can create value for their organization. What does the potential employer really need from a new employ- ee? What specific technical skills, workplace competen- cies and personal qualities is the employer looking for? Now if you can ask those questions dispassionately, you should be able to identify your own strengths that match and gently weave them into every conversation you have in the world of good jobs and prospective careers. (adaptado de: http://careerpLanning.about. com e www.your-career-change.com) 8. (UNESP) Qual o significado da oração …if you can ask those questions dispassionately… no texto? A quais perguntas se faz referência nessa oração? 9. (UNESP) Liste quatro aspectos importantes a serem considerados, segundo o texto, para se realizar uma propaganda de si mesmo com a finalidade de conseguir um emprego. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Can science fiction still predict the future? In the novel 2001: A Space Odyssey, Arthur C. Clarke shows us Dr. Heywood Floyd reading his “newspad”, where he can consult any newspaper he wishes. How many future computer engineers read this science fic- tion classic – or saw the motion picture – and thought: “I want one of those!”? As science fiction fans know, finding examples in earlier fiction that resemble new technology brings a glow of satisfaction at seeing our world foretold. But how has rapid technological development affected such forecasts? Wondering how scientific advances would shape the future is not a new preoccupation – indeed, rocket propulsion may first have been suggested in a 1657 work by Cyrano de Bergerac, who shoots his hero to the moon with fire- crackers. But few have been so enthralled by imaginings of the future as John Claudius Loudon. In the March 1828 issue of Gardener’s Magazine, Loudon ran a review of Jane Webb’s The Mummy!, a novel about an Egyptian mummy resurrected in the 22nd century. So impressed was Loudon by Webb’s steam-powered agricultural machines, air beds, milking machines and smokeless fuel that he arranged an introduction to the young writer. They were later married. Enthusiasm about such speculation hasn’t been uni- versal. For example, Jules Verne’s 1863 novel Paris in the Twentieth Century depicted a 1960s world of sky- scrapers, fax machines and even a proto-internet. It was turned down by his publisher as “unbelievable”, and only finally published in 1994. In the 20th century, emerging technologies made such ideas more believable. In 1926, the first issue of the science fiction magazine Amazing Stories enthused: “Extravagant Fiction Today… Cold Fact Tomorrow”. In 1928, the British newspaper Daily Mail published an is- sue forecasting the year 2000 – with giant flat-screen tvs in public places -, which caused little surprise. As time goes by, though, it becomes increasingly difficult to distinguish between science fiction and reality. Of course, some have argued that projecting a plausible future is more science than art. Robert Heinlein was one of many authors credited with “inventing” the cellphone, which appears in his 1948 novel Space Cadet. Those with an ache to foretell the future may want to take a page out of his book: he maintained that his “prophecies” – which included atomic weapons and remote controls – were not born solely of his imagination, but rooted in his science education and knowledge of current research. andy sawyer. http://proxcooL.com 10. (UERJ) No texto, observa-se a utilização de dois re- cursos de coesão lexical: o emprego de palavras sinô- nimas e, também, o uso de palavras pertencentes a um mesmo campo semântico. Retire do texto, em inglês: § dois verbos distintos que têm sentido equivalente a predict; § dois substantivos que exemplifiquem tipos de publi- cação que veiculam textos de ficção científica. 79 Caro aluno Você está recebendo o terceiro livro da Unidade Técnica de Imersão (U.T.I.) do Hexag Vestibulares. Este material tem o objetivo de retomar os conteúdos estudados nos livros 5 e 6, oferecendo um resumo estruturado da teoria e uma seleção de questões que preparam o candidato para as provas dos principais vestibulares. Além disso, as questões dissertativas permitem avaliar a capacidade de análise, organização, síntese e aplicação do conhecimento adquirido. É também uma oportunidade de o estudante demonstrar que está apto a expressar suas ideias de maneira sistematizada e com linguagem adequada. Aproveite este caderno para aprofundar o que foi visto em sala de aula, compreender assuntos que tenham deixado dúvidas e relembrar os pontos que foram esquecidos. Bons estudos! Herlan Felini HISTÓRIA HISTÓRIA GERAL 81 HISTÓRIA DO BRASIL 111 ENTRE PENSAMENTOS e ENTRE SOCIEDADES FILOSOFIA 143 SOCIOLOGIA 159 GEOGRAFIA GEOGRAFIA 1 175 GEOGRAFIA 2 191 SUMÁRIO © Hexag Sistema de Ensino, 2018 Direitos desta edição: Hexag Sistema de Ensino, São Paulo, 2021 Todos os direitos reservados. Autores Eduardo Antôno Dimas Tiago Rozante Alessandra Alves Vinicius Gruppo Hilário Márcio Cavalcanti de Andrade Diretor-geral Herlan Fellini Diretor editorial Pedro Tadeu Vader Batista Coordenador-geral Raphael de Souza Motta Responsabilidade editorial, programação visual, revisão e pesquisa iconográfica Hexag Sistema de Ensino Editoração eletrônica Felipe Lopes Santos Leticia de Brito Ferreira Matheus Franco da Silveira Projeto gráfico e capa Raphael de Souza Motta Imagens Freepik (https://www.freepik.com) Shutterstock (https://www.shutterstock.com) Todas as citações de textos contidas neste livro didático estão de acordo com a legis- lação, tendo por fim único e exclusivo o ensino. Caso exista algum texto a respeito do qual seja necessária a inclusão de informação adicional, ficamos à disposição para o contato pertinente. Do mesmo modo, fizemos todos os esforços para identificar e loca- lizar os titulares dos direitos sobre as imagens publicadas e estamos à disposição para suprir eventual omissão de crédito em futuras edições. O material de publicidade e propaganda reproduzido nesta obra é usado apenas para fins didáticos, não representando qualquer tipo de recomendação de produtos ou empresas por parte do(s) autor(es) e da editora. 2021 Todos os direitos reservados para Hexag Sistema de Ensino. Rua Luís Góis, 853 – Mirandópolis – São Paulo – SP CEP: 04043-300 Telefone: (11) 3259-5005 www.hexag.com.br contato@hexag.com.br 81 HISTÓRIA GERAL 82 O século XIX marcou o desenvolvimento capitalista dos Estados Unidos e o início da expansão do território em di- reção ao Oeste. Desde a colonização inglesa (século XVII), havia uma série de diferenças entre as colônias do Norte e do Sul. Aquelas formavam a Nova Inglaterra e suas atividades econômicas estavam voltadas para a pesca, pecuária, atividades comerciais e produção manufatureira. Em vir- tude da forte presença dos imigrantes puritanos ingleses, a região caracterizou-se pela vida disciplinada e ética do trabalho como forma de obtenção da prosperidade eco- nômica, sinal da salvação divina. A região foi marcada pela tolerância religiosa e um estilo de vida voltado para o isolamento. As colônias centrais eram socialmente mais abertas e re- ceptivas aos grupos sociais que professassem diferentes crenças religiosas. Recebiam imigrantes de outras regiões da Europa como suecos, holandeses e escoses, os quais professavam diferentes credos. Tornaram-se importante centro econômico e mantinham fortes laços com as colô- nias do Norte. Ambas conseguiram um desenvolvimento econômico autônomo da Inglaterra, o que sustentou as revoltas quando a Inglaterra quisfazer valer as regras do colonialismo mercantilista, o que explica, de modo geral, a precoce independência norte-americana. As colônias do Sul organizaram-se nos limites da clássica exploração econômica mercantilista colonial, a plantation – exploração agrícola monocultora e exploração do tra- balho escravo, com produção de tabaco, algodão, arroz e índigo (anil), exportados para a Europa. Durante o século XIX, o território norte-americano assu- miu dimensões próximas das atuais em virtude de uma série de fatores, dentre os quais a Doutrina do Destino Manifesto, que ocupou uma posição de suporte da ati- tude norte-americana em relação àqueles povos que não são reconhecidos como seus iguais. Na expansão ao Oeste, os pioneiros dessa conquista – criadores de gado, agricultores sem terra, granjeiros e caçadores – eram imigrantes europeus e americanos sem condições de sobrevivência na costa Leste. Com cavalos ou em barcos pelos rios, punham-se em marcha para o Oeste. Expulsavam ou dizimavam as tribos indígenas, conquista- vam e povoavam as terras do interior e nelas desenvolviam a agricultura, a pecuária e a mineração. A marcha para o Oeste era, em grande parte, justificada pela Doutrina do Destino Manifesto, segundo a qual os norte-americanos tinham sido predestinados por Deus à conquista dos territórios situados entre os oceanos Atlân- tico e Pacífico. Em 1862, o presidente Abraham Lincoln criou o Homeste- ad Act (Lei da propriedade rural), que concedia terra aos imigrantes que nela se fixassem e produzissem qualquer gênero, acelerando ainda mais a ocupação territorial em direção ao Pacífico. Os novos territórios incorporados pelos Estados Unidos ao longo da expansão para o Oeste foram adquiridos pela compra, pela diplomacia ou pela guerra. A Luisiana foi comprada da França por 15 milhões de dólares; a Flórida, da Espanha por cinco milhões de dó- lares; e o Alasca, da Rússia por sete milhões de dólares. Mediante tratado diplomático negociado com a Inglater- ra, o Oregon, na costa Norte do Pacífico, foi anexado aos EUA. Em 1848, metade do território mexicano, formado pelas atuais regiões de Nevada, Califórnia, Utah, Arizona, Texas e Novo México, foi anexado pela guerra. Não foi à toa que o presidente mexicano Porfírio Diaz declarou: “Pobre México, tão longe de Deus e tão perto dos Esta- dos Unidos”. Após a conquista do Oeste, entre os anos 1861 e 1865, os Estados Unidos foram envolvidos pela guerra civil, co- nhecida como Guerra de Secessão, consequência dos an- tagonismos entre os estados do Norte (União) e os do Sul (Confederados). Como fora dito acima, a formação econô- mica das duas regiões foi muito distinta. Enquanto o Norte pregava a liberdade individual e econômica, o Sul era es- cravista e praticava a plantation. ESTADOS UNIDOS NO SÉCULO XIX GUERRA DE SECESSÃO (1861-1865) 83 bandeira Que simboLiza os estados do suL dos eua As contradições entre o Norte e o Sul aprofundaram-se com a abolição da escravidão. Em franca expansão territorial e capitalista, os Estados Unidos precisavam de uma identidade adequada a essa realidade. A escravidão tornou-se central no debate político do país que se pretendia democrático, bem como pela necessidade de liberar os capitais investidos em escravos. No Acordo de Mississipi, de 1820, decidiu- -se que a escravidão seria aceita somente abaixo do paralelo 36º40’; posteriormente, a Califórnia decidiu-se contrária à escravidão. Com o Compromisso de Clay, de 1850, cada Estado optaria pela abolição ou não da escravidão após con- sulta a seus cidadãos. Em 1854, foi criado o Partido Republi- cano que abraçou a causa do abolicionismo. A questão do protecionismo também foi um dos princi- pais motivos da Guerra Civil Norte-Americana. As indús- trias do Norte, menos produtivas que as inglesas, neces- sitavam de proteção alfandegária. Exigiam a adoção de uma política tarifária protecionista que lhes assegurasse o controle do mercado interno e eliminasse a concorrên- cia das mercadorias importadas da Inglaterra. Essa prote- ção não interessava aos grandes produtores do Sul, uma vez que, além de os produtos do Norte serem mais caros que os dos ingleses, eles corriam o risco de sofrer repre- sálias por parte dos importadores da Inglaterra, grandes compradores dos seus produtos, como do algodão. O estopim da guerra, entretanto, foi a vitória de Abraham Lincoln, candidato do Partido Republicano e representan- te dos industriais nortistas, nas eleições presidenciais de 1860. A aristocracia sulista reagiu à eleição de Lincoln e, em 1861, onze estados escravistas do Sul separaram-se do governo da União e fundaram os Estados Confederados da América. Jefferson Davis foi escolhido presidente, a capital foi estabelecida em Richmond, na Virgínia, e o general Ro- bert Lee, nomeado comandante das tropas confederadas. Esse conflito inaugurou uma nova tecnologia militar, um novo tipo de guerra. O velho fuzil de carga pela boca foi substituído pelo fuzil raiado, de precisão, de recarga pela culatra, cujos tiros saiam em repetição, ampliando a capa- cidade ofensiva dos soldados da União. Os trens também foram bastante úteis para o transporte das tropas e o telé- grafo facilitou a transmissão de notícias. As tropas desloca- vam-se rapidamente em direção às regiões onde estavam sendo travados os combates. abraham LincoLn A derrota dos exércitos confederados, em 1863, na Batalha de Gettysburg, foi decisiva. As tropas da União continua- ram avançando até a assinatura da capitulação em Appo- matox. Em 9 de abril de 1865, o general sulista rendeu-se e a guerra chegou ao fim. Alguns dias depois, no dia 14, Lincoln foi assassinado em um teatro por John Wilkes Boo- th, ator e simpatizante confederado. A Guerra de Secessão deixou 600 mil mortos e consoli- dou a supremacia política e econômica do Norte burguês e industrializado sobre o Sul agrário e aristocrático, que foi devastado. O resultado imediato da guerra civil foi o fim da escravidão, a liberação de capitais antes investidos na compra de escravos que, agora, passaram a ser aplicados no capitalismo indus- trial. A vitória dos republicanos (Norte), defensores do fede- ralismo, fortaleceu a União, permitiu o atendimento dos inte- resses das diferentes frações e facções de classe e deu feição à moderna nação norte-americana. Se, em 1860, os Estados Unidos ocupavam a posição de quarta potência mundial, em 1890 já haviam ultrapassado a Inglaterra, a Alemanha e a França e se transformado na primeira potência econômica mundial. A política isolacionista norte-americana tinha por objetivo evitar o envolvimento e a participação dos Estados Uni- dos nas guerras e conflitos travados na Europa. O supor- te teórico desse isolacionismo foi a Doutrina Monroe, formulada, em 1823, pelo presidente James Monroe, cujo princípio básico era a oposição dos Estados Unidos a qual- quer intervenção política ou militar dos países europeus 84 nos assuntos internos do continente americano, sintetiza- do no lema “a América para os americanos”. caricatura da doutrina monroe Já em 1890, o sistema industrial norte-americano se en- contra plenamente desenvolvido. Há uma preocupação com a expansão dos mercados em virtude das necessida- des de reprodução do capital, o que mostra a inserção dos EUA no movimento de expansão imperialista do final do século XIX, sendo o principal objetivo dos Estados Unidos o domínio de mercados e a reserva da matéria-prima. Após a guerra com a Espanha (Guerra Hispano-Americana – 1898) em favor da Independência de Cuba, os Estados Unidos tomaram posse de Porto Rico, Guam e Filipinas. Cuba passou a ser uma nação independente, mas sob a influência dos Estados Unidos. O intervencionismo norte-americano no Caribe atinge o seu ponto máximo na virada do século XIX com a políti- ca do presidente Theodore Roosevelt, denominada de Big Stick (Grande Porrete). Roosevelt instiga a separação do Panamá da Colômbia com a intenção de construiro ca- nal do Panamá, em 1903, procurando satisfazer interesses norte-americanos. Durante a administração de Roosevelt, deu-se também a intervenção armada em Cuba e em São Domingos. A determinação de “falar suavemente e carre- gar um porrete” apresentava, assim, resultados convincen- tes para os Estados Unidos. poLítica do big sticK UnIFICaçãO ITalIana (1870) O Congresso de Viena (1815) dividiu a Itália em sete regiões: o reino do Piemonte-Sardenha, liderado pela dinastia de Savoia; o reino Lombardo-Veneziano, ane- xado ao Império Austríaco; os Estados Pontifícios, sob a direção do Papa, mas ligado aos Habsburgos; o reino das duas Sicílias ao Sul, governado pela dinastia dos Bourbon; e três ducados, Parma, Modena e Toscana, submetidos à influência austríaca. A família real do Piemonte mantinha laços estreitos com a burguesia, o que a fez conscientizar-se do seu cresci- mento, atrelado à unificação política da Península Itálica, fundamental para o desenvolvimento do capitalismo. Se- riam criadas as condições, sob a mesma legislação, de um mesmo poder político e militar, de crescimento da mão de obra, do mercado consumidor e do crescimento da oferta de matéria-prima. O Reino do Piemonte, no Norte da Península Itálica, pas- sou por um processo de modernização que o transformou no mais poderoso dos pequenos Estados italianos. Mesmo após a derrota da Revolução de 1848, na Itália, e da res- tauração das condições próximas à política do absolutismo em todos os estados da Península, o Piemonte conservou a Monarquia Constitucional como regime político. Um surto de industrialização propiciou o fortalecimento da burguesia piemontesa cujos interesses econômicos tor- navam necessária a unidade política do país. A burguesia desejava a unificação, que garantiria a continuidade do de- UNIFICAÇÕES TARDIAS: ITÁLIA E ALEMANHA 85 senvolvimento interno e lhe daria possibilidades de concor- rência no mercado exterior, liberando a circulação de mer- cadorias dentro da Península, favorecendo as exportações e impedindo as importações dos produtos concorrentes. O nacionalismo desse reino, portanto, estava enraizado nas necessidades específicas da expansão do capitalismo, que trilhou caminhos semelhantes aos da Prússia. No Sul da Itália, outra força poderosa era a dos Camisas Vermelhas, liderada por Giuseppe Garibaldi, que defendia a criação da República com voto universal, pois acreditava que somente a unificação poderia retirar a população humilde da miséria. A Unificação Italiana contou com dois grupos cujo objetivo da unificação eram convergentes; divergiam, porém, no tocante à estrutura ideológica: o Norte (Risorgimento) era elitista burguês e Garibaldi, popular e radical. giuseppe garibaLdi Já os Estados Pontifícios, que constituíam o centro da Pe- nínsula Italiana, eram contra a unificação, visto que o Papa perderia o poder político para o chefe de Estado, caso a unificação constituísse uma política republicana ou uma Monarquia Constitucional. Após a tentativa frustrada de unificação em 1848, Cavour tornou-se primeiro-ministro do Piemonte-Sardenha, em 1852. Contando com o apoio de partidários da unificação, estimulou a luta pela unidade italiana. Em 1858, Cavour firmou com Napoleão III da França uma aliança franco-pie- montesa, que resultou na organização de um pacto militar antiaustríaco, o que favoreceu o Piemonte para iniciar em 1859 a luta pela Unificação Italiana. Napoleão III apoiaria o Piemonte numa luta contra a Áustria e receberia em pa- gamento os condados da Savoia e de Nice, pertencentes ao Piemonte; este receberia a Lombardia-Veneza, perten- cente à Áustria. Baseado nesse acordo, Cavour provocou a guerra contra a Áustria no início de 1859. Franceses e sardo-piemonteses obtiveram vitórias em Magenta e Solferino (Lombardia), mas a ameaça de intervenção militar da Prússia levou a França a se retirar da guerra, obrigando os piemonteses a firmar com a Áustria o Tratado de Zurique: a Áustria conservaria a região de Veneza e cederia a Lombardia ao Piemonte, que, por sua vez, cederia à França as regiões de Nice e Savoia. Paralelamente à guerra contra a Áustria, Garibaldi promove- ra várias insurreições de caráter nacionalista na Itália central. As tropas garibaldinas conquistaram os ducados de Toscana, Parma e Modena, assim como a região da Romanha perten- cente aos Estados Pontifícios. Em 1860, após a realização de plebiscito, esses territórios foram incorporados ao Piemonte, dos quais formou-se o Reino da Alta Itália. Em 1860, Garibaldi atacou o Reino das Duas Sicílias, co- mandando a Expedição dos Mil Camisas Vermelhas, que culminou com a conquista de Nápoles, capital do Reino. Nessa mesma época, as tropas piemontesas ocuparam a parte Oriental dos Estados Pontifícios e estabeleceram a ligação terrestre entre o Norte e o Sul da Itália. No ano seguinte, esses territórios conquistados foram incorporados à Alta Itália, que formaram o Reino da Itália, do qual Vitor Emanuel II foi proclamado rei. Com a unificação concluída, o rei Vitor Emanuel fez de Roma a capital italiana. O Papa manteve o não reconheci- mento e enclausurou-se na Basílica de São Pedro. Esse di- lema, conhecido como a Questão Romana, foi resolvido somente em 1929 com o Tratado de Latrão, acordo no qual o governo fascista de Benito Mussolini indenizava a Igreja pelos prejuízos sofridos com a perda de Roma e concedia- -lhe a soberania sobre a Praça de São Pedro, oportunidade em que foi criado o atual Estado do Vaticano. A Itália concluíra tardiamente sua unificação política, já na segunda metade do século XIX, em 1870, o que contribuiu muito para retardar seu desenvolvimento capitalista. O Sul do país permaneceu agrário e não desenvolvido, dominado pelo latifúndio e pela aristocracia rural. O Norte conseguiu um relativo desenvolvimento industrial, mas a falta de mer- cados e de matérias-primas impediu que a industrialização alcançasse grandes proporções. A Itália chegou atrasada à corrida colonial, quando a divisão do mundo já estava praticamente concluída e os mercados já dominados pela Inglaterra e pela França. A impossibilidade de formar um império colonial contribuiu para retardar ainda mais o de- senvolvimento do capitalismo italiano. 86 UnIFICaçãO alEmã (1871) No início do século XVI, quando a Europa Ocidental firma- va o processo de formação das monarquias nacionais, a região da atual Alemanha ainda estava dividida em reinos, principados, ducados e cidades autônomas. Um desses reinos era a Prússia, localizado na região norte. Foi nesse período que se levantou pela primeira vez a possibilidade de unidade nacional. No entanto, nenhum grupo revolu- cionário da época – burguesia em formação, campesinato e pequena nobreza – era suficientemente forte para liderar sozinho tal intento. Como não se uniram, lançando-se de modo independente na luta contra a nobreza, o fracasso foi inevitável. Os príncipes foram os grandes beneficiários dessas “revoluções” e a região firmou-se como um mo- saico de pequenos Estados soberanos, que tratavam de defender sua soberania e impedir a unidade nacional. Embora não estivesse sob o mesmo poder político, a popula- ção mantinha forte elo cultural com as narrativas mitológicas que alimentaram um militarismo nobiliárquico apropriado pelos junkers – aristocracia prussiana que controlava a ad- ministração e o exército. Outro fato que sustentava o orgulho dos alemães era o I Reich É o Sacro Império): a existência do Sacro Império Romano-Germânico, unida- de política sob a qual estava a maior parte dos estados alemães. Entretanto, os alemães foram humilhados por Na- poleão, que os submeteu à Confederação do Reno e, mes- mo depois do Congresso de Viena, em 1815, seu território continuava fragmentado, com 35 Estados independentes e quatro cidades livres, dominados pela Áustria graças à Confederação Germânica. otto von bismarcK O sonho da unificação alemã só foi possível graças ao de- senvolvimentoeconômico e social dos Estados, particular- mente o da Prússia. A Áustria, que impedira a unificação alemã, tentada pela Prússia em 1850, não conseguiu im- pedir o desenvolvimento econômico de seus Estados, al- cançado graças ao Zollverein – liga aduaneira adotada em 1834, que aboliu as tarifas alfandegárias no comércio entre os Estados germânicos, o que propiciou o início da sua unidade econômica. Após sucessivas guerras – Guerra dos Ducados (1864), Guerra Austro-Prussiana (1866) e Guerra Franco-Prussiana (1870) – a Prússia, então liderada pelo ministro junker Otto von Bismarck, garantiu a unificação alemã. Cabe ressaltar a Batalha de Sedan, que selou a vitória da Prússia sobre a França e consolidou a anexação dos Estados do Sul da Alemanha, em 1871. Na Sala dos Espelhos do Palácio de Versalhes, Guilherme I, rei da Prússia, foi coroado impe- rador da Alemanha. Com a fundação do II Reich alemão, estava concluída a unificação política do país. 87 O Império Alemão destruiu o equilíbrio de poder estabele- cido na Europa desde 1815 pelo Congresso de Viena. No prazo de algumas décadas, a Alemanha se transformaria na maior potência econômica e militar da Europa. O Tratado de Frankfurt, assinado em 1871 com a França, permitiu à Ale- manha anexar as províncias francesas da Alsácia-Lorena, ricas em jazidas de ferro e carvão, além de receber da Fran- ça uma pesada indenização de guerra. Tudo isso contribuiu para o desenvolvimento do revanchismo francês, que se transformou numa das principais causas da Primeira Guerra Mundial. IMPERIALISMO E NEOCOLONIALISMO A segunda metade do século XIX foi marcada por um novo e vigoroso movimento do capitalismo, caracterizado pelo imperialismo, que submeteu a maior parte dos territórios da África e da Ásia à condição de colônia das potências eu- ropeias, principalmente as que haviam passado pela trans- formação industrial. Países como Inglaterra, Bélgica, França, Alemanha e Itália deram início a uma verdadeira corrida colonial. O novo colonialismo – neocolonialismo – pode ser entendido como fruto da política industrial e da expansão do capital financeiro, sem desprezar, contudo, as rivalidades políticas europeias, que aguçaram o nacionalismo e transfor- maram a conquista colonial em prestígio político. A propaganda a favor dos interesses imperialistas, vitais para o desenvolvimento do capitalismo, deu origem a uma série de teorias pseudocientíficas, muito populares a partir da segunda metade do século XIX. Essas teorias buscavam justificar a conquista e a colonização de outros povos pelos europeus. Em geral, elas tendiam a estabelecer uma hie- rarquia rígida entre os diferentes povos, classificados como “mais” ou “menos” civilizados ou evoluídos. Nessa hierar- quia, o primeiro lugar era ocupado pela sociedade europeia, cujo funcionamento deveria servir de modelo ideal para o resto do mundo. Essa concepção é denominada eurocentris- mo. Outra influente teoria da época foi o darwinismo social, que explica, à luz dos estudos de Charles Darwin sobre a evolução das espécies, as conquistas dos homens de acordo com seus ganhos econômicos e sociais como resultado da “sobrevivência do mais apto”. Tal teoria pseudocientífica e racista acabou sendo utilizada para legitimar as invasões eu- ropeias em outros continentes. Nesse contexto de violenta expansão imperialista, podemos destacar a Conferência de Berlim (1884–1885) como um episódio fundamental. Dela participaram todos os países co- lonialistas, que estipularam entre si os princípios reguladores do que se convencionou chamar “partilha da África”. A Con- ferência impunha às potências colonizadoras a necessidade de ocupação efetiva, demarcação e notificação de suas pos- ses aos participantes da partilha. Depois da Conferência de Berlim ocorreu a ocupação e exploração do imenso território africano, que foi palco de uma das mais sangrentas páginas da história do colonialismo europeu. Na medida em que representou a ocidentalização do mun- do, a colonização destruiu estruturas sociais tradicionais – que muitas vezes não puderam ser recompostas. No Sudeste asiático, milhares de alqueires, antes dedicados à plantação de arroz para a autossuficiência dos povos locais, foram transformados em imensas fazendas produtoras de borra- cha para exportação. Na Índia, o artesanato foi destruído. Pela primeira vez na história, o mundo encontrava-se intei- ramente partilhado, direta ou indiretamente, e submisso às grandes potências europeias e aos Estados Unidos. As gran- des potências passaram a viver uma situação de choque permanente entre si na tentativa de expandir suas áreas de dominação econômica e política. Esse choque de imperia- lismos terminaria por deflagrar a Primeira Guerra Mundial. A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL (1914-1918) O estado de espírito predominante na Europa, no período anterior a 1914, era de orgulho pelas realizações da civili- zação Ocidental e de confiança em seu progresso futuro. Os avanços na ciência e na tecnologia, a elevação do padrão de vida, a difusão das instituições democráticas, o incremento da alfabetização das massas, a posição de poder da Europa no mundo, tudo contribuía para um sentimento de otimis- mo. Esse período de euforia e otimismo que vai da segun- da metade do século XIX até a eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 1914, foi denominado de Belle Époque. Porém, paradoxalmente, o período que abrange o final da Guerra Franco-Prussiana até o início da Primeira Guerra Mundial (1871-1914) ficou conhecido como “paz armada”. 88 Um período caracterizado pelas fortes rivalidades políticas (nacionalistas), econômicas (disputa por mercados e por matérias-primas industriais) e imperialistas (concorrência colonial). A imprensa dos principais países europeus discutia e propagandeava a guerra e todos garantiam que seu país sairia vencedor. Esse militarismo criou um clima de tensão. Um dos principais fatores da Primeira Guerra Mundial – cha- mada à época de Grande Guerra –, em 1914, foi o choque de imperialismos, que possuía raízes econômicas – dis- puta por novos mercados consumidores e matérias- -primas industriais, expressando-se de modo político e militar. Além disso, a Conferência de Berlim (1885) buscou a inserção do II Reich germânico e da Itália no neocolonialis- mo através de uma série de negociações; no entanto, essa estratégia fracassou, pois a Inglaterra e a França confirma- ram o controle sobre as regiões africanas alimentando o res- sentimento alemão, propiciando o aumento da militarização e a busca de mercados consumidores por meio da guerra. soLdados em uma metraLhadora usando máscaras de gás O boicote surgiu pela decadência da hegemonia econômi- ca e militar inglesa, inclusive perdendo seu histórico status de "rainha dos mares". Houve, por exemplo, grande de- senvolvimento da marinha alemã, fato comprovado pelo lançamento, em 1912, pela Alemanha, do maior navio do mundo, o Imperator. Além da corrida imperialista, vários movimentos naciona- listas estavam presentes na Europa e promoviam o aumen- to do ódio entre as nações. Um elemento desse naciona- lismo foi o pangermanismo, que se caracterizou pela defesa da ideologia segundo a qual era um direito do povo alemão, devido ao seu passado mitológico e pureza racial, controlar a Europa central, bem como interferir nos Bálcãs. Na França, as novas gerações nasciam e educavam-se sob o signo da revanche: vingar a humilhação militar e política sofrida na Guerra Franco-Prussiana e recuperar Alsácia-Lorena. Em 1906, França e Alemanha ampliariam suas diferenças na luta pela dominação do Marrocos, con- tribuindo para aumentar a tensão internacional e acelerar a marcha rumo à guerra. Além desse embate entre as três principais potências europeias – Alemanha, França e Inglaterra –, questões nacionalistas floresciam em diversas outras regiões do continente, como no caso do nacionalismo sérvio e no expansionismo do chamado paneslavismo russo. Logo, parao início da Grande Guerra, bastava um estopim, que foi aceso nos Balcãs, região conhecida como o “bar- ril de pólvora da Europa”. Num domingo, o arquiduque herdeiro do trono austro-húngaro, que estava em Sarajevo, capital da Bósnia – região anexada pela Áustria –, sofreu um atentado enquanto passeava de automóvel com a esposa. Francisco Ferdinando e sua esposa foram assassi- nados pelo estudante bósnio, Gavrilo Princip, membro da organização terrorista secreta chamada Mão Negra, que lutava para livrar a Bósnia do domínio austríaco. Acreditando que o atentado fora preparado pela Sérvia, o Império Austro-húngaro enviou-lhe um ultimato. Pelo teor do pedido, os austríacos sinalizaram que desejavam a guerra e que certamente contariam com o apoio da Alemanha. A Sérvia, apoiada pela Rússia, recusou o ultimato. No dia 28 de julho, o Império Austro-húngaro invadiu a Sérvia, ao lado de quem a Rússia tomou posição em 1º de agosto. A partir de então, houve um verdadeiro efeito dominó: a Alemanha, cumprindo seus compromissos com a Áustria, declarou guer- ra à Rússia; a França, em socorro aos russos, declarou guerra à Alemanha e, pouco depois, os ingleses aliaram-se aos fran- ceses. Começava então a Primeira Guerra Mundial. A Guerra estabeleceu-se em torno de dois grandes polos: a Tríplice Entente e a Tríplice Aliança. A Tríplice Aliança foi o acordo militar entre a Alemanha, a Áustria-Hungria e a Itália, feito em 1882, em que cada uma garantia apoio às demais no caso de algum ataque de duas ou mais potências sobre uma das partes. A Alemanha e a Itália ainda garantiam apoio entre si no caso de um ataque vindo da França. A Itália, no entanto, especificava que seu apoio não se estenderia contra o Reino Unido. A Tríplice Entente foi uma aliança feita entre a Inglaterra, França e o Império Russo para lutarem na Primeira Guerra Mundial contra o pangermanismo e as expansões alemãs e austro-húngaras pela Europa. Foi feito após a criação da Entente anglo-russa. aviões de guerra aLemães 89 A primeira fase do conflito caracterizou-se pela guerra de movimento, rápido deslocamento de tropas, com o objetivo de destruir o inimigo em batalhas sucessivas. O principal país a deslocar seus contingentes militares foi a Alema- nha. Usando uma tática chamada de Plano Schliefen, os alemães pretendiam primeiro vencer a França para depois atacar a Rússia. Na invasão da França, violou o território belga para evitar as fortificações da futuramente famosa linha Maginot, o que serviu de pretexto para a Inglaterra declarar guerra à Alemanha. Os movimentos em massa tentados pelos exércitos tiveram poucos resultados positivos. Cada avanço de alguns quilô- metros custava uma longa preparação e milhares de vidas. Durante três anos a frente imobilizou-se. Numa extensão de 640 km, dos Alpes ao mar do Norte, os lados em confronto construíram uma vasta rede de trincheiras, que tinham abri- gos subterrâneos e eram cercadas de arame farpado. Atrás da frente de trincheiras havia outras linhas para as quais os soldados podiam se retirar e as quais podiam ser usadas para o envio de auxílio. Entre os exércitos oponentes ficava a “terra de ninguém”, uma vasta superfície de lama, árvo- res despedaçadas e troncos partidos. A guerra de trincheiras era uma batalha de nervos, resistência e coragem, travada ao som estrondoso da artilharia pesada. Era inevitavelmen- te uma carnificina. Em 1915, os italianos, apesar de aliados à Áustria e à Ale- manha, entraram na guerra ao lado da Entente, o que se justifica graças aos tratados secretos, segundo os quais a França e a Inglaterra prometiam à Itália as regiões do Tren- to, Tirol e Ístria, então sob domínio austríaco. Em novembro de 1917, a revolução socialista saiu vitoriosa na Rússia. Em março de 1918, em Brest-Litovsk, o governo da Rússia soviética assinou a paz com a Alemanha, aceitan- do suas condições que incluíam a entrega da Polônia, da Ucrânia e da Finlândia, e se retirava da guerra. No mesmo período da revolução russa, a Alemanha de- clarou guerra submarina, sem restrições, a todos os países da Entente. Seriam afundados quaisquer navios de países neutros ou não que se dirigissem aos países da Entente. Os EUA romperam relações com a Alemanha. Em março do mesmo ano, alguns navios norte-americanos em comércio com a Inglaterra foram afundados por submarinos alemães. Em 6 de abril, o Congresso norte-americano votou favora- velmente à declaração de guerra à Alemanha. Na primavera de 1918, a superioridade alemã era incontes- te a Oeste. A Entente estava ameaçada de perder a guerra e os EUA, seus capitais. Os EUA enviaram mais soldados para a França, que chegou a quase dois milhões de homens. Essa participação foi decisiva para a derrota dos impérios centrais da Tríplice Aliança. Diante das sucessivas derrotas do exército alemão, revoltas internas derrubaram o II Reich e o novo governo republicano assinou o armistício em 11 de novembro de 1918, pondo fim à guerra. Com o fim da guerra, o presidente dos Estados Unidos, Woodrow Wilson, propôs um acordo de paz chamado 14 Pontos. Em linhas gerais, tratava da criação de uma sociedade internacional que teria por finalidade manter a paz mundial, eliminar a diplomacia secreta e promover a liberdade total dos mares. Tratava, ainda, do fim da guerra sem anexações nem indenizações por parte dos países beli- gerantes. Wilson insistia na ideia de que deveria haver uma paz “sem vencedores nem vencidos”. França e Inglaterra não aceitaram todos os pontos apresen- tados pelo presidente estadunidense. A França exigia repa- rações de guerra em dinheiro, pressionada pelos vultosos prejuízos que tivera. A Inglaterra era contra a liberdade total dos mares, uma vez que neles mantinha sua hegemonia. Em junho de 1919, o Tratado de Versalhes fixava as penas a serem aplicadas aos vencidos. A Alemanha, consi- derada a “grande culpada” pelo conflito, foi despojada de um sétimo de seu território, um décimo de sua população, perdeu suas colônias, viu-se privada do território do Sarre (rico em carvão), foi obrigada a desmilitarizar a região da Renânia (fronteira com a França) e a restituir o território da Alsácia-Lorena à França, teve seus exércitos reduzidos para 100 mil homens, seu território foi separado em duas partes por um “corredor” de terras (“corredor polonês”), que dava acesso para o mar à Polônia, a cidade alemã de Dantzig foi transformada em porto livre e arcou com o pagamento de uma indenização de 33 bilhões de dólares. Ainda pelo trata- do, criou-se oficialmente a Liga das Nações, encarregada de preservar a paz mundial, desde que Alemanha e a re- cém-União Soviética fossem excluídas de sua composição. deLegação aLemã em versaLLes Um balanço da Primeira Guerra Mundial assinala o des- locamento da supremacia econômica, financeira, política e militar da Europa para os Estados Unidos. No plano 90 econômico, a guerra destruiu 40% do potencial industrial europeu e 30% de sua agricultura. No plano financeiro, de credora, a Europa transformou-se em devedora dos Esta- dos Unidos. Houve também uma mudança radical no mapa político europeu. Surgiram os Estados independentes da Hungria, Tchecoslováquia, Iugoslávia, Polônia, Letônia, Lituânia, Es- tônia e Finlândia. Vários países tiveram seu território am- pliado ou diminuído. A Grande Guerra assinalou também o declínio do capita- lismo liberal baseado na livre concorrência, cedendo lugar, pouco a pouco, ao Estado intervencionista, com a econo- mia passando a ser parcialmente regulada pelo poder go- vernamental. soLdado canadense com seQueLas dos gases tóxicos No plano demográfico, a guerra deixou um saldo de apro- ximadamente oito milhões de mortos e 20 milhões de mutilados. REVOLUÇÃO RUSSA (1917) No fim do século XIX, a Rússia possuía 22 milhões de qui- lômetros quadrados e mais de 150 milhões de habitantes. Sua principal característica era o gigante atraso econômi- co em relação aos países da Europa Ocidental.Enquanto Inglaterra, França e Alemanha passavam por um processo acelerado de desenvolvimento urbano e industrial, adota- vam regimes constitucionais e avançavam técnica e cienti- ficamente, a Rússia permanecia atrasada econômica, social e politicamente. Como país predominantemente agrário e semifeudal, a aristocracia rural e o clero ortodoxo detinham o controle da terra. Cerca de 40% das terras aráveis pertenciam à nobre- za. O processo de industrialização tivera início apenas no final do século XIX, caracterizando-se por sua extrema con- centração em algumas grandes cidades, como Kiev, Moscou e São Petersburgo, então capital do país. Essa industrialização tardia, dependente e concentrada pro- duziu, por um lado, uma burguesia fraca e incipiente e, por outro, um proletariado forte, organizado e combativo, que, dadas as suas origens rurais, mantinha estreitos vínculos com os camponeses. As péssimas condições de vida do pro- letariado expressavam-se nos baixos salários, nas jornadas de 11 ou 12 horas de trabalho e nas habitações miseráveis. Inspirados por ideais iluministas e socialistas, surgiram no país vários partidos clandestinos de oposição à autocracia czarista. Entre eles estava o Partido Social-Democrata Rus- so, baseado no socialismo marxista. Em 1903, a social-de- mocracia dividiu-se em duas facções: os bolcheviques (de bolchenstvo, maioria), liderados por Lenin, eram revolucio- nários e defendiam a instauração do socialismo na Rússia com base numa aliança entre operários e camponeses; e os mencheviques (de menschenstvo, minoria), liderados por Martov, eram revolucionários que defendiam a aliança com a burguesia e a passagem gradual ao socialismo através de uma política de reformas progressivas. cartaz boLcheviQue de 1920 Na virada ao século XX e com a construção da ferrovia tran- siberiana, os russos acabaram por se chocar com o imperia- lismo japonês, na Manchúria e na Coreia. Essa rivalidade em torno dos mercados asiáticos acabou por provocar a eclosão da Guerra Russo-Japonesa (1904-1905), na qual os rus- sos foram fragorosamente derrotados. Pelo Tratado de Port- smouth, o Japão ficou com o Sul da ilha de Sacalina, Port Arthur e o protetorado sobre a Coreia e a Manchúria. A der- rota frente ao Japão deixou clara e pública toda a crise que se escondia sob o manto da autocracia do czar Nicolau II. 91 Trabalhadores organizaram greves e manifestações em to- das as cidades importantes. Liderados pelo padre Gapon, um grupo de mais de três mil trabalhadores e suas famílias reuniram-se para protestar pacificamente diante do palácio de inverno do czar, em São Petersburgo, a 22 de janeiro de 1905. Os manifestantes queriam entregar um abaixo-assi- nado pedindo melhores condições de vida, direito de greve, reforma agrária e convocação de uma assembleia nacional. Essa manifestação pacífica culminou com o massacre dos manifestantes, recebidos a tiros pelas tropas da guarda (cos- sacos), fazendo com que essa data ficasse conhecida como Domingo Sangrento. cena do fiLme devyatoe yanvarya, de 1925, retratando o domingo sangrento O massacre de São Petersburgo criou uma onda de indig- nação pelo país seguida de greves e protestos. Os mari- nheiros do Encouraçado Potemkin, ancorado em Odes- sa, e a guarnição de Kronstadt amotinaram-se. Os diversos povos de nacionalidade não russa começaram a se movi- mentar, tornando a situação bastante grave. A burguesia apoiava a insurreição popular, procurando capitalizá-la com o objetivo de instaurar no país um regime constitu- cional e parlamentar. Os sovietes (conselhos de operários, camponeses e soldados) encabeçavam a luta contra o cza- rismo. Nesses órgãos, os trabalhadores exerciam um poder ao mesmo tempo executivo e legislativo, elegendo seus re- presentantes a partir dos locais de trabalho e quartéis, des- tacando-se o soviete de Petrogrado, liderado por Trotsky. Diante da grande onda revolucionária, o czar Nicolau II lan- çou um manifesto, em outubro de 1905, fazendo algumas concessões, entre as quais a promessa de uma Constituição que estabeleceria a eleição para o Parlamento (Duma). Tal foi a chamada Revolução de 1905. Em 1906, reuniu-se a Duma, parlamento controlado pela burguesia e pelos latifundiários, com o objetivo de redigir uma Constituição para o país. Apesar dos inquestionáveis avanços oriundos da Revo- lução de 1905, as diferenças entre as facções socialistas bolchevique e menchevique tornaram-se mais agudas, pois os bolcheviques, liderados por Lenin, passaram a defender o partido comunista, mesmo pequeno, formado por revo- lucionários profissionais que propagariam o conceito de uma revolução socialista capaz de destruir o czarismo e o capitalismo simultaneamente. Já os mencheviques propu- nham uma revolução por etapas: primeiro, a destruição do czarismo; posteriormente, mediante uma nova revolução, implantar o socialismo. Em meio ao cenário de forte agitação política, eclodiu a Primeira Guerra Mundial. A Rússia, participante da Entente, fez parte da frente Oriental da guerra, lutando contra o Rei- ch alemão. Contudo, em condições precárias e arcaicas de combate, a guerra custou três milhões de mortos, destruíra 25% da indústria e 9% da agricultura do país e não trou- xera nenhuma compensação. A inflação violenta desvalo- rizava os salários; as empresas nacionais iam à falência, acentuando ainda mais os descontentamentos sociais. No início de 1917, a burguesia, apoiada pela esquerda moderada, pressionava o governo do Czar, provocando manifestações de trabalhadores nas ruas; uma greve ge- ral paralisou os transportes na cidade de Petrogrado, novo nome de São Petersburgo. Os gritos por “pão” e “abaixo a guerra” transformaram-se em gritos de “abaixo a auto- cracia”. A polícia era insuficiente para deter o movimento; o exército foi mobilizado, mas no dia 12 de março, 27 de fevereiro, pelo calendário russo, os soldados recusaram-se a marchar contra o povo amotinado. No dia seguinte, sem o apoio do exército, o poder imperial desapareceu com a abdicação do czar. O Comitê da Duma transformou-se em Governo Provi- sório após a abdicação oficial do Imperador, presidido por Lvov. Esse governo proclamava as liberdades fundamentais, deu anistia aos presos políticos e exilados – permitindo a volta de líderes bolcheviques que estavam no exílio, entre eles Trotsky e Lenin. A timidez da política social do novo governo propiciou o avanço dos bolcheviques. A Rússia ia mal na guerra, e os fracassos provocaram reações inter- nas, como as manifestações de julho em Petrogrado, logo reprimidas. Sob forte pressão, Lvov cede lugar a Kerenski, apoiado pelos mencheviques. Os bolcheviques foram no- vamente perseguidos e Lenin refugiou-se na Finlândia, en- quanto Trotsky, presidente do soviete de Petrogrado, criou uma milícia popular, a Guarda Vermelha. O Governo Provisório de Kerenski perdia terreno, pois insistia em continuar na Primeira Guerra Mundial, ne- gava-se a distribuir terras aos camponeses e adiava as eleições para a futura Assembleia Constituinte. Lenin pre- 92 parou o povo para uma revolução armada. Na noite de 6 de novembro, 24 de outubro no calendário russo, os bolcheviques ocuparam os pontos estratégicos de Petro- grado. O encouraçado Aurora bombardeou o Palácio de Inverno, sede do governo. Abandonado por suas tropas, Kerenski foi obrigado a fugir. Rapidamente, os bolchevi- ques ganharam terreno e assumiram o poder, consolidan- do a Revolução Russa de 1917. Sem saída, o recém-formado governo soviético, a 3 de março de 1918, assinou o Tratado de Brest-Litovsky com a Alemanha: a Rússia perdia a Polônia, Finlândia, Es- tônia, Lituânia e Letônia. Diversos setores apoiaram uma contraofensiva contra o governo de Lenin, fazendo com que eclodissse uma guerra civil no país entre o Exército Branco, formado pelos setores interessados na restauração do Antigo Regime, comandado por militares ligados ao czarismo, e o Exército Vermelho, que chegou a contar comtrês milhões de soldados e foi organizado por Trotsky para lutar pela preservação da nova ordem socialista. Lenin, então, criou o comunismo de guerra, política que implicou na completa estatização dos bancos, do comércio exterior e da indústria fabril, assim como a re- quisição compulsória da produção agrícola, o estabeleci- mento da igualdade de salários e o trabalho obrigatório. Finalmente, em 1921, a guerra civil chegava ao fim com a vitória do Exército Vermelho e um saldo de nove milhões de mortos. Lenin e trotsKy em comício Os resultados econômicos do “comunismo de guerra” fo- ram desastrosos: a produção declinou, pois os trabalhado- res não estavam habituados a gerir as empresas; a moeda foi inflacionada e o comércio, paralisado. Percebendo o pro- blema, Lenin iniciou, em março de 1921, a Nova Política Econômica, NEP. Como ela continha alguns aspectos do capitalismo, no Ocidente pensou-se que a Rússia voltava à antiga ordem do capital. Na realidade, nas palavras de Lenin, tratava-se de uma tática de “dar um passo atrás, para poder dar dois passos à frente”. Do ponto de vista econômico, a NEP foi um sucesso; fez crescer a produção agrícola e industrial e impulsionou o comércio. Em 1924, a produção industrial atingiu 50% e a produção agrícola equiparou-se aos índices de 1913. Anos mais tarde, em 1924, Lenin teve uma morte preco- ce. Josef Stalin, secretário-geral do Partido Comunista, e Leon Trotsky, comissário do povo para a guerra, passaram a travar uma luta ferrenha pelo poder, que resultou anos mais tarde no assassinato de Trotsky e numa ditadura lide- rada por Stalin. A ascensão de Stalin assinalou o início de uma nova polí- tica econômica. A NEP foi abandonada e foram adotados os planos quinquenais. A Gosplan – comissão estatal de planejamento econômico – passou a se encarregar da pla- nificação da economia. Os dois primeiros planos quinquenais estabeleceram dois objetivos básicos: criação de uma indústria pesada e co- letivização forçada da agricultura, através da qual a pro- priedade privada da terra foi substituída por cooperativas agrícolas, proprietárias da produção, mas não da terra (kolkhozes), e por fazendas estatais cujas terras, máquinas e produção eram do Estado (sovkhozes). Num processo de industrialização acelerado, os planos quinquenais desenvolveram a indústria pesada com a ex- ploração de petróleo e de carvão e minério de ferro, nos Urais, na Ásia Central e na Sibéria. Em 1940, a eletrificação cresceu cerca de 80% em relação a 1928 e a produção de aço cresceu cerca de 450%, no mesmo período. Em termos políticos, Stalin implantou um governo centrali- zado no Partido Comunista. As pessoas do Comitê Central eram controladas por ele, para o que se criou uma buro- cracia distante do cotidiano da população humilde. Esses burocratas formaram uma elite chamada de nomenklatura. Críticos da URSS chamavam-na burocracia de Estado. Para esmagar a resistência e moldar um novo tipo de cidadão, devidamente motivado e disciplinado, Stalin implantou um estado totalitário na Rússia. A revolução do totalitarismo englobou toda a atividade cultural: meios de comunica- ções, literatura, artes, música, teatro passaram a ser força- dos a se submeterem à ideologia soviética. O Estado soviético exerceu os “grandes expurgos” entre os anos de 1936 e 1938, quando a oposição interna, bem como membros do próprio Partido Comunista foram afas- tados, expulsos, eliminados ou presos nos gulags – espécie de campos de concentração na Sibéria. Stalin permanece- ria a frente do Partido Comunista da União Soviética até 1953, ano de sua morte. 93 O crescimento econômico norte-americano em alguns se- tores estratégicos foi impressionante. A produção industrial cresceu 50% entre 1922 e 1929. Foram produzidos 600 mil automóveis em 1928, o que correspondeu a 75% da produção automobilística mundial. Os rádios, cuja produ- ção era mínima em 1920, atingiram 13 milhões de unida- des em 1929. Essa intensificação do ritmo de crescimento da produção norte-americana deveu-se a dois fatores: aceleração do progresso técnico decorrente da racionaliza- ção da utilização da mão de obra (taylorismo e fordismo) e processo de concentração industrial, que aumentava a capacidade produtiva das empresas pela melhor utilização dos seus recursos. Por outro lado, os investimentos maciços ampliavam enormemente a produção, permitindo a redu- ção dos preços, bem como os investimentos crescentes dos capitalistas norte-americanos no exterior. Por todas essas razões, os Estados Unidos concentravam, em 1929, 44% da produção industrial do mundo. Entretanto, o poder aquisitivo da população não acompa- nhava esse crescimento industrial. Enquanto o valor dos produtos industriais subiu cerca de 10 bilhões de dólares entre 1923 e 1929, o aumento global dos salários não foi além de 600 milhões. Nessa situação, com o crescimento dos salários menor que o aumento da produção, não havia quem consumisse boa parte do que se produzia. Embora se comprasse mais que antes, essa demanda não acom- panhava, na mesma proporção, o aumento da produção. Além disso, os produtores agrícolas, que não encontravam compradores para seus excedentes, também diminuíam o consumo de produtos industrializados. De 1920 a 1929, incentivados pela aparente prosperidade, os estadunidenses compraram desenfreadamente ações das mais diversas empresas, ações essas que atingiram em pouco tempo cotações altíssimas, muito maiores que o cres- cimento real das empresas. No momento em que algumas delas faliram, os proprietários delas deram-se conta de terem pagado muito mais por elas do que realmente valiam. Em pânico, todos os investidores passaram a querer vender suas ações, provocando uma vertiginosa baixa no seu valor. No dia 24 de outubro de 1929, conhecido como Quin- ta-feira Negra, a Bolsa de Valores de Nova Iorque sofreu a maior baixa de sua história. Mais de 16 milhões de ações não encontraram compradores. Esse episódio foi o estopim para a grande crise e ficou conhecido como o crack da Bol- sa de Nova Iorque. Como a economia estadunidense era o carro chefe do capitalismo mundial, logo a crise fez-se sentir em todo o mundo. Os Estados Unidos detinham 45% do ouro mun- dial e eram o grande centro econômico; deles dependiam para importações e exportações quase todas as nações ca- pitalistas. Somente em 1929, os norte-americanos haviam emprestado a vários países sete bilhões e 400 milhões de dólares, que reverteram em importações de produtos nor- te-americanos. Com a crise, os capitais foram repatriados, reduzindo as importações dos países estrangeiros a 32% do que tinham sido. O número de desempregados em todo o mundo variou entre 25 e 30 milhões de pessoas, de 1929 a 1933. Na In- glaterra, onde a exportação diminuiu 70% nesse período, o número de desempregados atingiu 2,7 milhões, em 1931. No plano político, as consequências não foram menos sig- nificativas. O desemprego tinha profundas repercussões sociais e as manifestações contra os governos sucediam-se por toda parte. Os movimentos políticos pregavam solu- ções radicais e encontravam numerosos adeptos entre os descontentes. Os partidos socialistas viram crescer rapida- mente suas fileiras. Contra eles surgiram os partidos fascis- tas – antiliberais e antidemocráticos –, que defendiam a formação de governos autoritários para reprimir as agita- ções das massas desempregadas. boLsa de vaLores de nova iorQue, em 1929 Em tal contexto, o candidato do Partido Democrata à pre- sidência, Franklin Delano Roosevelt, ganhou as eleições de 1932 com a promessa de restaurar a confiança na econo- mia e na sociedade. Como faziam os políticos do mundo inteiro na época, fossem os social-democratas da Europa, os stalinistas da Rússia ou os populistas da América Latina, Roosevelt reconheceu que a intervenção estatal massiva era necessária para salvar o sistema econômico e aliviar o conflito social. Ao tomar posse em 1933, Roosevelt lançouo New Deal, um pacote de reformas – baseado nas ideias do economista in- CRISE CAPITALISTA DE 1929 94 glês John Maynard Keynes (keynesianismo) – para promover a recuperação industrial e agrícola, regular o sistema finan- ceiro e providenciar mais assistência social e obras públicas. Dentre as principais medidas implementadas com o New Deal, são consideráveis: § concessão de créditos aos bancos para frear as falên- cias no setor; § criação de um fundo para resguardar os depósitos po- pulares nos bancos; § criação de um banco para financiar as exportações; § concessão de crédito aos fazendeiros endividados; § lançamento de um programa de grandes obras públi- cas – estradas, casas, sistemas de irrigação, barragens hidroelétricas – para absorção dos desempregados; § criação do seguro-desemprego; § limitação da jornada de trabalho; § aumento dos salários dos operários; § fixação de um salário mínimo; § ampliação do sistema de previdência social; § proibição do trabalho infantil. Os resultados decorrentes da aplicação do New Deal não tardaram. O número de desempregados foi reduzido de 14 para 7,5 milhões, entre 1933 e 1937; os preços subiram 31%; a produção industrial, 64%; a renda nacional, 70%; e as exportações, 30%. A palavra Fascismo tem suas origens no termo latino fasci, feixe. Na Roma Antiga representava um símbolo e um prin- cípio de autoridade. O feixe de varas paralelas, entrecorta- das por um machado era um símbolo da autoridade dos magistrados romanos. O movimento fascista nascido na Itália, no período entre guerras valeu-se dessa simbologia e acrescentou-lhe novos significados. benito mussoLini Dentre os princípios da ideologia fascista, a despeito de suas vertentes nacionais, destacam-se: § nacionalismo exacerbado – para os fascistas, a na- ção é o bem supremo; em nome dela qualquer tipo de sacrifício deve ser exigido dos indivíduos; há de ser cul- tuada, mistificada, preservada suas origens e mantida a “pureza” do povo; § racismo – com vistas a “purificar” o elemento nacional de qualquer tipo de “contaminação”, há de se cultuar as O FASCISMO ITALIANO origens germânicas (Alemanha e Áustria), latinas (Itália), hispânicas (Espanha), lusitanas (Portugal) etc.; o racismo alimenta-se do nacionalismo e vice-versa; § expansionismo – necessidade básica para os “povos vigorosos e dotados de vontade”, plenamente justifi- cado como forma de restabelecer o poderio do Império Romano; § militarismo essencial à expansão e à afirmação do elemento nacional e racial. A vida militar é sinônimo de cooperação do grupo, inerente aos “povos vigorosos” na marcha para subjugar os “fracos e degenerados”; reforça os laços entre poder econômico e poder militar e desdobra-se necessariamente no expansionismo; § totalitarismo, submissão de todos aos interesses do Estado forte e inquestionável, catalisador da vontade nacional, elemento de preservação da identidade da nação; o que conta são os deveres do indivíduo para com o Estado; § culto à personalidade do líder, guia infalível, en- carnação da vontade nacional, zelador da preservação da vontade nacional, graças à pureza da raça, à inte- gridade do Estado e do partido-Estado; o fanatismo transforma o culto ao líder em uma apoteose mística, uma vez que o “Duce é infalível”; § unipartidarismo, uma vez que o pluripartidarismo, a democracia e o parlamentarismo são causadores de dissensão e conduzem à divisão da sociedade; o parti- do único encarna e preserva a vontade da nação, con- funde-se com o próprio Estado e, por extensão, com a própria vontade nacional; 95 § corporativismo à moda sindical baseavam em cor- porações, no interior das quais patrões, empregados e representantes do Estado encarregam-se de planejar a produção e decidir sobre os conflitos entre capital e tra- balho; típico da Itália, o corporativismo assumiu outras características na Alemanha; § anticomunismo, na medida em que se deve preco- nizar a união e a harmonia das classes em prol do de- senvolvimento da nação e não a luta de classes como defendiam os comunistas. Na Itália, diante da agitação social e política e da conse- quente ameaça de uma revolução socialista, o Fascismo fortaleceu-se com o apoio da classe média e o financia- mento de grandes banqueiros, industriais e latifundiários. Nas eleições de 1921, o Partido Fascista conseguiu eleger 35 deputados. Os camisas negras, como eram conhecidos os militantes fascistas, invadiam e destruíam sindicatos, assassinavam líderes socialistas, dissolviam manifestações espancando os participantes e arrasavam as instalações dos jornais que os criticassem. Aproveitando a total desorganização do regime parlamen- tar, o líder fascista Benito Mussolini ordenou aos camisas negras a Marcha sobre Roma, em outubro de 1922. Cerca de 30 mil fascistas desfilaram pela capital e exigiram a entrega do poder. O rei Vitor Emanuel III, pressionado por militares, pela alta burguesia e pelos latifundiários, convi- dou Mussolini para ocupar o cargo de primeiro-ministro. Em 1923, Duce, como era conhecido, criou o Grande Con- selho Fascista, composto pelos principais chefes do partido. Ao lado do exército regular, transformou a milícia fascista (camisas negras) em órgão de segurança nacional, sob o comando do chefe de governo. Um longo período de re- pressão e arbitrariedades se iniciou na Itália. marcha sobre roma No âmbito econômico, durante a década de 1930, cres- ceu a intervenção estatal na economia, que incrementou a indústria bélica italiana. O país militarizou-se, iniciando a escalada expansionista. Em 1935, a Etiópia foi ocupada pelas forças italianas e, em 1939, foi a vez da Albânia. O país aproximou-se da Alemanha nazista, assinando, em 1939, com Hitler, o Pacto de Aço, caminho traçado para a Segunda Guerra Mundial. NAZISMO Nos últimos dias da Primeira Guerra Mundial, uma revolu- ção derrubou o governo imperial alemão e levou à criação de uma república democrática. O novo governo, chefiado pelo chanceler Friedrich Ebert, um social-democrata, assi- nou em 11 de novembro de 1918 o armistício que pôs fim à guerra. Pouco depois, o humilhante Tratado de Ver- salhes impunha à Alemanha cláusulas que reduziram sua área territorial e arrasaram sua economia. Comparada com 1913, a produção industrial diminuíra 57% e a agrícola, 50%. Tal situação de crise propiciava a instauração do caos político e social. O setor mais radical do Partido Social-Democrata, a Liga Espartaquista, rompeu com o setor moderado e fundou o Partido Comunista. Em janeiro de 1919, ocorreu o primei- ro levante armado contra a recém-instaurada República Weimar (1918-1933). A repressão foi imediata e brutal. O Exército e setores voluntários monarquistas nacionalistas lideraram a repressão. Oficiais de direita assassinaram Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht, deixando seus corpos nos esgotos da cidade. Prova-se que Weimar nasceria sob o signo da instabilidade. Embora contivesse uma Constituição em moldes liberais, a qual organizava a República em duas câmaras – o Reichs- tag, formado por deputados eleitos, e o Reichsrat, formado pelos representantes dos estados federados –, a realidade econômica do país não permitia acordo político estável. rosa Luxemburgo 96 Terminada a Primeira Guerra Mundial, a economia alemã estava arruinada. Durante a guerra, sem poder aumentar os impostos sobre os ganhos de capital, as finanças fo- ram equilibradas através da emissão monetária. O grande volume de dinheiro em circulação provocou a desvaloriza- ção do marco (moeda alemã): em 1914, um dólar valia 4,2 marcos e, no início de 1922, 182 marcos. O número de desempregados chegou a cinco milhões de pessoas; a inflação desvalorizou ainda mais o marco a ponto de um dólar valer oito bilhões de marcos! A confusão instalou-se. O salário variava no decurso do mesmo dia, enquanto os camponeses recusavam-se a ceder a produção em troca de papel-moeda, fazendo ressurgiro sistema de escambo. Nessa situação de ruína econômica, foi fundado em uma cervejaria de Munique um partido semelhante ao fascista da Itália. Um ano depois, ele assumia o nome de Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães ou Partido Nazista. Em setembro de 1919, o ex-cabo do Exér- cito alemão, Adolf Hitler, aderiu ao então minúsculo Partido Nazista. Mostrando uma fantástica energia e uma extraordi- nária capacidade como orador demagógico, propagandista e organizador, tornou-se rapidamente o líder do partido. Lí- der, Hitler insistiu na autoridade absoluta e total fidelidade, exigência que coincidia com o anseio de pós-guerra de um líder forte que consertasse a nação em ruínas. Em 1923, aproveitando-se do clima geral de insegurança e crise que dominava a República de Weimar, Hitler liderou uma tentativa de golpe na Baviera, o Putsch de Munique, apoiado por Ludendorff. O golpe fracassou, Hitler foi preso e condenado a cinco anos de prisão. Mas foi libertado oito meses depois. Na prisão, aproveitou o tempo para escrever a primeira parte de seu livro Mein Kampf "Minha Luta", obra que contém os fundamentos da ideologia nazista: repúdio ao Tratado de Versalhes, antissemitismo, antico- munismo, nacionalismo exacerbado, Estado totalitário, unipartidarismo, superioridade da raça alemã (raça ariana), expansionismo (“espaço vital”) e militarismo. os primeiros anos do partido nazista A incapacidade de o governo parlamentar solucionar a crise econômica contribuiu para a polarização das forças políticas e para o fortalecimento dos partidos comunista e nazista – financiado por industriais e banqueiros, temero- sos com o crescimento do comunismo. Nas eleições de 1930, os nazistas elegeram 107 deputados para o Reichstag (Parlamento), com 6,5 milhões de votos. Em 1932, conquistaram 280 cadeiras, com 13,5 milhões de votos, seguidos do Partido Social-Democrata, com oito mi- lhões de votos. Assim fortalecido, o partido com um milhão de membros passou a atacar o adversário com as SA (tropas de choque) e as SS (tropas de elite), que somavam 400 mil homens e compunham um exército particular nazista. Hitler exigiu e recebeu o cargo de chanceler em 30 de janeiro de 1933. Consumava-se assim a ascensão do nazismo ao poder. adoLf hitLer Em 27 de fevereiro de 1933, em meio a eleições parla- mentares, os nazistas incendiaram o Parlamento alemão e culparam os comunistas, que foram presos junto com os socialistas e os liberais hostis ao nazismo. Restabeleceu-se a pena de morte e foram suspensas as garantias individu- ais e civis. A pretensa conspiração comunista tinha a fina- lidade de levar os eleitores a votar no Partido Nazista. Os nazistas tiveram 44% dos votos e os comunistas eleitos (81 deputados) foram excluídos do Parlamento, o que deu aos nazistas maioria absoluta. A 23 de março, Hitler con- seguiu do Parlamento o voto que lhe dava plenos poderes. Começou a aplicar alguns pontos do programa nazista: to- dos os partidos políticos foram suspensos (exceto o nazis- ta), os sindicatos foram extintos, os privilégios dos Estados foram diminuídos em favor do poder central, o direito de greve foi cassado, os jornais da oposição foram fechados, a censura à imprensa foi estabelecida e as primeiras medidas antissemitas foram postas em prática. suástica nazista 97 Com a morte do presidente Hindenburg, Hitler assumiu o tí- tulo de Führer (guia), acumulando as funções de chanceler e presidente. Nessas condições, anunciou ao mundo a funda- ção do Terceiro Reich (Terceiro Império) alemão. Os mem- bros do Partido Nazista ocuparam todos os cargos da ad- ministração pública e a política reduziu-se às manifestações anuais do partido, os congressos realizados em Nuremberg. O Parlamento, composto somente pelo partido nazista, reu- nia-se intermitentemente, dependendo da vontade de Hitler de convocá-lo. Foi a consolidação do totalitarismo alemão. Um fato colaborou com as tensas relações que antecede- ram a Segunda Guerra Mundial: a guerra civil deflagrada entre fascistas e republicanos na Espanha. Como toda a Península Ibérica, esse país era atrasado e predominan- temente agrário até o início do século XX, quando teve início seu processo de industrialização. Nos primeiro anos da década de 1930, a Espanha já possuía nas cidades uma parcela de sua população vinculada ao desenvolvimento industrial, que exigia mudanças no Antigo Regime. Em 1931, o rei Afonso XIII, pressionado pelas camadas urbanas que exigiam a República, abdicou. Estabeleceu- -se então um governo comandado pela burguesia liberal. O crescimento das reivindicações populares, o anticleri- calismo, a autonomia das regiões economicamente mais adiantadas (Catalunha e Províncias Bascas), a reação dos antigos setores dominantes na sociedade espanhola leva- ram o país a um impasse. Surgiu nessa época um pequeno partido de características fascistas, denominado Falange. Para as eleições gerais de 1936, anarquistas, comunistas, socialistas radicais, socialistas moderados, empresários liberais e minorias nacionais da Catalunha e Províncias Bascas formaram a Frente Popular. Vitoriosos nas eleições, os partidos da Frente procuraram efetivar várias reformas sociais prometidas em campanha. O presidente eleito, Ma- nuel Azaña, anistiou 30 mil presos políticos, retomou a re- forma agrária, deu autonomia à Catalunha e implementou a reforma da educação. Em 18 de julho de 1936, o general Francisco Franco deu início a um levante contra o governo republicano. Recebeu a adesão da Falange, de latifundiários, dos ban- queiros, dos industriais, da maior parte da classe média e de amplos setores da Igreja, à exceção do clero catalão e basco. Do lado do governo republicano legalista estavam operários, camponeses, catalães, bascos, pequenos indus- triais, enfim, todos que acreditavam na democracia. Como tentativa de se defender, em outubro de 1936 o governo republicano decretou a formação de um exército popular. Começava assim a Guerra Civil Espanhola. generaL franco, Já nos anos 1960 Os falangistas, por sua vez, comandados por Francisco Franco, contaram com amplo apoio da Alemanha e da Itá- lia. Fascistas e nazistas auxiliaram as forças nacionalistas – como ficaram conhecidos os comandados por Franco –, através de homens e de ajuda material e bélica. A partir de fevereiro de 1937, o avanço das tropas naciona- listas, auxiliadas pelos nazistas e fascistas, foi mais violento. Tropas italianas tomaram Málaga. Em março de 1937, a aviação alemã, a famosa Legião Condor, bombardeou a pequena cidade de Guernica, na região Basca. A interven- ção da Itália e da Alemanha foi decisiva, alterando a corre- lação de forças da luta e transformando a Espanha em um campo de testes dos novos armamentos. A guerra civil terminou em 1939, quando os rebeldes con- quistaram Madri, restabeleceram a Monarquia e impuseram um governo de tendências fascistas liderado por Franco. Em três anos de guerra civil, o saldo de morte chegou a um mi- lhão. Surgia assim mais um país totalitário na Europa. combatentes repubLicanas GUERRA CIVIL ESPANHOLA (1936-1939) 98 Como a ditadura de Franco era extremamente centraliza- dora, catalães e bascos passaram a utilizar o esporte como trincheira nacionalista – clube do Atlético de Bilbao, onde só jogam atletas bascos ou de ascendência basca; parte da torcida do Barcelona (Catalunha) considera seu clube um símbolo do ideal da autonomia catalã. Durante a Segunda Guerra Mundial, o governo fascista de Franco não aderiu oficialmente ao Eixo, nem às pretensões da Alemanha, mas apenas como simpatizante, bem como durante a Guerra Fria, associou-se aos Estados Unidos na luta contra o socialismo soviético. Esse governo manteve- -se no poder até a década de 1970. Entre os anos de 1939 e 1945, o mundo foi envolvido por um conflito de grandes proporções, que ultrapassou as fronteira da Europa, tendo como pano de fundo a con- corrência imperialista entre o capitalismo industrialmo- nopolista inglês e francês em contraposição ao alemão, japonês e italiano, acrescido da óbvia divergência entre o capitalismo e o socialismo da recém-criada URSS. O im- perialismo permite afirmar que a Segunda Guerra Mun- dial é uma continuação da Primeira, pois as disputas por mercado consumidor entre a burguesia da antiga Entente contra a burguesia do extinto II Reich alemão não foram solucionadas com o término do conflito militar em 1918. Em 1939, os blocos militares eram os Aliados, formados pela Inglaterra e a França, acrescidos pelos Estados Unidos e pela União Soviética, em 1941: e o outro bloco bélico era o Eixo, formado pela Alemanha, Itália e Japão. Na década de 1930, Hitler aproveitava-se das questões internacionais para ampliar seu sistema de alianças. Apro- ximou-se da Itália em 1935, prestando-lhe ajuda econômi- ca durante o embargo econômico aplicado pela Liga das Nações por causa da invasão da Etiópia. Juntamente com Mussolini, apoiou Francisco Franco na Guerra Civil Espa- nhola, de 1936 a 1939, aproveitando para testar a eficiên- cia de seus tanques e aviões. Assinou com o Japão o Pacto Anti-Komintern, em novembro de 1936, destinado a conter a União Soviética e a ação da Internacional Comunista. A Itália, a Hungria e a Espanha aderiram ao pacto. Ao mesmo tempo, Hitler aproximava-se da Itália e Mussolini procla- mava o Eixo Roma-Berlim. O III Reich germânico não aceitava as imposições do Tra- tado de Versalhes e passou a mostrar sinais de ambicionar um crescimento bélico e territorial, principalmente sobre o corredor polonês, embora o próprio Tratado de Versalhes proibisse o militarismo alemão. hitLer e mussoLini Foi nesse contexto que o parlamento britânico elaborou um plano diplomático chamado de Política de Apazigua- mento, que se caracterizava pela “permissão” de um re- lativo crescimento bélico alemão que teria o intuito de barrar um possível avanço do socialismo soviético, ou seja, o Estado inglês queria que o nazismo defendesse a civiliza- ção Ocidental da “barbárie” comunista. Como resultado, Hitler conseguiu fortalecer-se e passou a buscar o controle territorial de parte da Europa Central que ele chamava de “espaço vital”, apoiado veladamente pela Inglaterra e pela França na formação do III Reich. Antes da Segunda Guerra Mundial começar, a Alemanha já tinha anexado a Áustria (Anschluss) e a Tchecoslováquia, cuja invasão foi legalizada pela Conferência de Munique, em setembro de 1938. Para posterior desespero dos Aliados, Hitler e Stalin resol- veram criar o Pacto de não agressão Germano-Soviético. Esse acordo permitiria que, no futuro, a Alemanha pudesse invadir seus inimigos europeus Ocidentais (a Oeste) sem dividir seu exército, pois estaria em “harmonia” com sua inimiga URSS (a Leste). Também conhecido como Ribben- trop-Molotov, esse pacto ajudaria o governo de Stalin, pois a União Soviética não tinha estrutura militar que pudesse protegê-la de um ataque nazista. Na década de 30, já era nítido que outra guerra de grandes proporções se aproximava. As causas da Segunda Guerra podem ser resumidas em tais pontos: § O comportamento revanchista das nações vencedo- ras da Primeira Guerra Mundial, especialmente da França em relação à Alemanha, contou com vencidos desgastados pela guerra e sobrecarregados com seus A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL (1939-1945) 99 compromissos financeiros para com os vencedores (indenizações e reparações). Cresciam seus problemas econômicos e sociais. Na Itália e na Alemanha, o des- contentamento da população deu oportunidade ao surgimento de partidos totalitários – fascista e nazista –, culminando com a implantação de Estados militaris- tas e expansionistas, com forte apelo nacionalista. § A crise de 1929 e suas graves consequências políticas e sociais em quase todos os países da Europa: em ra- zão de sua amplitude internacional, reduziu o mercado consumidor de todas as nações capitalistas. Os países atingidos pela Grande Depressão procuraram defender seu mercado interno da concorrência estrangeira atra- vés da elevação das tarifas alfandegárias. Esse nacio- nalismo econômico intensificou as lutas pelo domínio dos mercados entre as várias potências imperialistas. § O surgimento de governos totalitários, militaristas e expansionistas: a partir de 1930, quando os efeitos da recessão econômica repercutiram em todo o mundo, iniciou-se o expansionismo de alguns países imperia- listas. A Itália ocupou a Etiópia, em 1935, situada no Nordeste da África. A Alemanha, desrespeitando o Tra- tado de Versalhes, remilitarizou a região da Renânia, em 1936, e anexou a Áustria e a Tchecoslováquia, em 1938. O Japão, no segundo semestre de 1931, partiu para a conquista da Manchúria – que pertencia à Chi- na –, começando assim a penetração naquele país do- minado pelo governo de Chiang Kai-shek. § O fracasso da Liga das Nações: ao longo da década de 1930, o mundo contava com a Liga das Nações, órgão internacional que tinha por objetivo manter a paz e a ordem entre os diversos países. No entanto, Inglaterra e França dominaram o organismo, direcionando as de- cisões em conformidade com seus interesses. Quando algum país menos importante era agredido, as decisões da Liga das Nações eram quase sempre brandas em re- lação aos agressores. França e Inglaterra temiam gerar conflitos com as potências expansionistas. Dessa forma, inúmeras vezes as pequenas nações foram sacrificadas. Nesse contexto, o cenário da guerra já estava criado e, em 1º de setembro de 1939, as forças bélicas de Hitler invadiram o corredor polonês da cidade de Dantzig, hoje Gdansk. Em resposta, o governo inglês, mais bem preparado, decretou guerra à Alemanha; em 1940, com a blitzkrieg (guerra re- lâmpago), a Alemanha invadiu a Dinamarca, a Noruega, a Holanda, a Bélgica e a França. Diante dessa inusitada reali- dade, os exércitos francês e inglês foram obrigados a retirar seus combatentes do território francês em direção à Inglater- ra, evento conhecido como Retirada de Dunquerque. pacto de não agressão germano-soviético A França foi dividida em duas áreas, o Sul continuou, su- postamente, independente com a República de Vichy li- derada pelo general francês Pétain, que não demonstrou resistência à ascensão de Hitler, por isso mesmo foi consi- derado seu colaborador; já o Norte foi completamente ocu- pado pelas tropas nazistas, que passaram a administrá-lo. As tropas francesas fixadas em solo inglês foram lideradas pelo general Charles de Gaulle. É importante salientar que De Gaulle também utilizava emissoras inglesas de rádio de ondas curtas para ser ouvido, reservadamente, por mem- bros da Resistência e, com isso, articular ações contra o domínio germânico. Paralelamente se agravavam as tensões entre os Estados Unidos e o Japão, na Ásia e no Pacífico. Em 1941, prosse- guia a Guerra Sino-Japonesa. Com a queda da França, o Japão promoveu a ocupação da Indochina Francesa. Em novembro, o governo norte-americano decretou o embar- go comercial ao Japão e exigiu a imediata evacuação da China e da Indochina. Em 7 de dezembro de 1941, en- quanto prosseguiam as negociações diplomáticas entre os dois países, o Japão atacou sem prévia declaração de guer- ra a base naval norte-americana de Pearl Harbor, no Havaí. Logo depois, a Alemanha e a Itália declaravam guerra aos Estados Unidos. pearL harbor 100 O ano de 1941 marcou a mudança do curso da guerra. O Eixo, até então imbatível, tomou duas decisões nefastas para a continuidade do seu domínio: invadir a União Sovi- ética e atacar a base norte-americana de Pearl Harbor, no Pacífico, pelo Japão. Após o fracasso na Batalha da Inglaterra, a Alemanha re- solveu ocupar a URSS em busca de reservas de matéria-pri- ma e de petróleo, no Cáucaso, e aniquilar o que os nazistas consideravam a suposta raça inferior dos eslavos. Em razão disso, a invasão foi chamada de Operação Barbarossa (Barba Ruiva). Pretendia também destruir o comunismo represen- tado pelogoverno de Stalin. Hitler acreditava que venceria a União Soviética em semanas ou meses, mas experientes generais alemães, como Rommel, sabiam que seu exército possivelmente seria derrotado. Hitler estava cometendo os mesmos erros de Napoleão Bonaparte. Foi o que realmente ocorreu, uma vez que, utilizando a tática da terra arrasada e o extremo frio, o Exército Vermelho aniquilou as forças alemãs em 1943 e passou a atacar a Alemanha. Por isso a Batalha de Stalingrado foi “o começo do fim da Alemanha”. Após a Batalha de Stalingrado, a Alemanha foi perdendo grande contingente de tropas no Leste em razão do incisi- vo avanço soviético, que fez diminuir o poder germânico no canal da Mancha. Consequência: o alto comando aliado europeu Ocidental, nas mãos do general norte-americano Eisenhower, reuniu tropas norte-americanas, inglesas e francesas e invadiu o território dominado pelos nazistas, libertando a França no episódio que se tornou conhecido como o Dia D, 6 de junho de 1944, quando as tropas alia- das desembarcaram na Normandia. a bataLha de staLingrado Enquanto isso, em janeiro de 1945, a Polônia fora liberta- da pelos russos, que logo depois realizaram a junção de suas tropas com as norte-americanas às margens do rio Elba. Com o suicídio de Hitler, a conquista de Berlim pelo Exército Vermelho e a queda do III Reich, em maio de 1945 terminava a guerra na Europa. o hoLocausto Quando já era iminente a derrota do III Reich, Inglaterra, EUA e URSS reuniram-se em Ialta, na Crimeia, às margens do mar Negro. Nesse encontro foi fixada oficialmente a Linha Cur- zon como fronteira entre a União Soviética e a Polônia, e foram cedidas aos soviéticos as regiões ocupadas quando da partilha, em 1939; em compensação, a Polônia receberia a Leste os territórios alemães até as margens do rio Oder. De- cidiu-se também que Estados Unidos, a União Soviética e a Inglaterra manteriam controle sobre os países libertados da Europa Oriental e que a Alemanha seria dividida em zonas de ocupação sob a direção de um Conselho Aliado. Outra decisão importante, com a anuência do presidente Roosevelt, foi transformar os países da Europa Oriental em área de influência da União Soviética. Finalmente se estabe- leceu a intervenção da União Soviética na guerra contra o Japão em troca de Port Arthur, ao Sul de Sacalina e das ilhas Kurilas. Pela relevância de suas decisões e pelas consequên- cias que produziu no pós-guerra, a Conferência de Alta foi considerada a mais importante da Segunda Guerra Mundial. stáLin 101 A Guerra não havia acabado. No Pacífico, apesar do inequí- voco recuo, o Japão relutava em se render, pois acreditava que a derrota seria um martírio religioso, já que o Imperador Hirohito era considerado Deus. Em razão disso, muitos pi- lotos japoneses transformaram-se em kamikazes e pratica- ram o suicídio bélico, utilizando seus aviões como mísseis para melhor se chocar contra os navios norte-americanos. Foi nesse contexto que o presidente norte-americano Harry Truman autorizou o bombardeio atômico em Hiroshima (6 de agosto de 1945), cuja bomba foi intitulada de Little boy, e em Nagazaki (9 de agosto de 1945). À época, argumenta- va-se que o lançamento das bombas seria a única maneira de findar com as esperanças japonesas. Contudo, muitos historiadores acreditam que a real causa das detonações es- teja relacionada à antecipação da Guerra Fria, já que os EUA queriam anular a ascensão das forças socialistas soviéticas. Com a rendição japonesa, em 2 de setembro de 1945, a Segunda Guerra Mundial terminava e com ela a hegemonia europeia sobre o mundo, que assistiu ao surgimento de uma nova ordem mundial dominada pela Guerra Fria. Com o término da Segunda Guerra Mundial, a Europa Oci- dental perdeu o poder hegemônico sobre as relações inter- nacionais. Sua política imperialista entrou em decadência e o mundo foi submetido a uma nova ordem mundial base- ada na expansão e na disputa pela hegemonia econômica, militar e política das novas superpotências: Estados Unidos e União Soviética, chamada Guerra Fria. Contudo, esse novo modelo de relacionamento internacional se diferen- ciava dos anteriores, pois o embate não se dava somente por controle de territórios e riqueza, mas também pela con- firmação ideológica entre capitalismo e socialismo, acresci- da por uma monstruosa construção de arsenais nucleares que colocaria em risco a existência da humanidade. onu em 1948 Já no início dessa nova era, a ONU (Organização das Nações Unidas) foi criada em 1945 com o objetivo de reorganizar as relações internacionais de modo a superar os acordos mi- litares secretos entre os países para instaurar reuniões que abrangessem os interesses das nações e fossem discutidos livremente entre todos os Estados membros. Com isso, as soluções de caráter pacífico nasceriam democraticamente e com mais viabilidade. Em abril de 1945, vários representan- tes de países reuniram-se na cidade norte-americana de São Francisco e, evitando os erros da antiga Liga das Nações, resolveram criar uma instituição que viabilizasse a paz mun- dial e ao mesmo tempo se preocupasse com os problemas sociais e de cidadania. A partir dessa Conferência, a ONU passou a contar com 192 países membros, da qual o Vatica- no participaria apenas como observador, que se reúnem em Assembleia Geral. Apesar do suposto aspecto democrático da ONU, uma vez que ela representa quase todos os países do mundo, trans- mitindo a impressão de que é comandada segundo os inte- resses dessas nações, na realidade o poder de decisão está concentrado nas mãos dos cinco Estados fixos do Conselho de Segurança. Esse conselho constitui-se de fato na autori- dade máxima, pois, ao ter o poder de veto, possibilita que a decisão de um único país tenha o poder de anular as deci- sões da Assembleia Geral. Os cinco países fixos do Conselho são EUA, Rússia (antiga URSS), Inglaterra, França e China. ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU) GUERRA FRIA Guerra Fria é a designação atribuída ao período históri- co de disputas políticas, econômicas, ideológicas, tecnoló- gicas, estratégicas e conflitos indiretos entre os Estados Unidos e a União Soviética, compreendido entre o final da Segunda Guerra Mundial (1945) e a extinção da União Soviética (1991). Temendo a presença soviética no Mediterrâneo Oriental e ciente da fragilidade da Inglaterra nessa região, em março de 1947 o presidente Harry Truman promulgou a Doutri- na Truman: “Os Estados Unidos devem ter como política apoiar os povos livres que estejam resistindo às tentativas de subjugação por parte de minorias armadas ou de pressões 102 externas”. Essa doutrina foi a peça central da nova política de contenção – de manter o poder soviético dentro de suas fronteiras. Os Estados Unidos logo forneceram apoio militar e econômico à Grécia e à Turquia, e a política externa nor- te-americana sofreu uma profunda inversão: o isolamento anterior à Grande Guerra deu lugar a uma vigilância mundial contra qualquer esforço soviético de expansão. A Doutrina Truman tornou-se real quando, em junho de 1950, eclodiu uma guerra entre as duas Coreias. O Norte, socialista e governada por Kim II Sung, apoiado pela URSS e pela China maoísta, não aceitou a divisão da Península e atacou a Coreia do Sul, que foi defendida pelas tropas norte-americanas lideradas pelo general McArthur. truman e seu gabinete Para evitar que o conflito desembocasse numa Terceira Guerra Mundial, em 1953 foi declarado o cessar-fogo de Panmunjon, mantendo o paralelo 38 como linha divisória dos dois países. Seul tornou-se capital de um Tigre Asiático, e Pyongyang tornou-se uma ditadura de economia pobre, governada por Kim Jong un, colocando em risco a frágil paz da região através de um belicismo atômico. No âmbito econômico, os Estados Unidos deram um impor- tante passo rumo ao fortalecimento e poder sobre o Oci- dente. O secretário de Estado George Marshall anunciou um formidável programa de auxílioeconômico à Europa, cujo nome formal era Programa de Recuperação Europeia, mundialmente conhecido como Plano Marshall. O Plano Marshall surgiu para proteger os interesses do ca- pitalismo, principalmente na Europa Ocidental e no Japão, pois essas áreas estavam com seus parques produtivos destruídos devido à Segunda Guerra Mundial; consequen- temente, o desemprego era muito grande ao lado de todos os problemas gerados por essa situação, criando, assim, condições para que movimentos dissidentes surgissem, particularmente para a difusão dos de esquerda. Para revitalizar os países socialistas, a URSS criou o CO- MECON – Conselho de Assistência Econômica Mútua, que se estruturou através de planos estatais quinquenais, foi integrado à economia dos Estados socialistas e serviu como máquina política para perseguir oposicionistas den- tro do Leste europeu; entretanto, como a Segunda Guerra Mundial destruiu a infraestrutura soviética, o Comecon não suplantou o dinamismo do Plano Marshall. stáLin e mao tsé-tung Nos aspectos relacionados à inteligência, à espionagem, os Estados Unidos e a União Soviética dinamizaram respecti- vamente a CIA (Agência de Inteligência dos EUA) e a KGB (Comitê de Segurança do Estado Soviético) a ponto de se criar um clima de “caça às bruxas” tanto nos assuntos ex- ternos como internos. Nos Estados Unidos, essa caça às bruxas deu ori- gem ao macarthismo, cujo autor, o senador Joseph McCarthy, disseminou perseguições sem provas de su- postos inimigos internos dos EUA. Inúmeros cidadãos passaram a ser considerados espiões, principalmente artistas de Hollywood, como Charles Chaplin, entre ou- tros. Na União Soviética, a “caça às bruxas” consolidou o stalinismo, a estrutura estatal burocrática e policialesca através dos gulags, campos de trabalho forçados, criados após a Revolução Bolchevique de 1917 para abrigar cri- minosos e “inimigos” do Estado. Durante a Guerra Fria, a corrida espacial foi um campo fértil de disputa entre os dois países. Os projetos de viagem ao cosmo representavam a real disputa ideológica de que a tecnologia de uma superpotência era superior à da outra, além do fato de que o foguete que se desloca ao espaço aperfeiçoa a tecnologia usada nos mísseis balísticos que transportam ogivas nucleares de um continente a outro. 103 yuri gagarin e neiL armstrong No primeiro momento, a corrida espacial foi vencida pela URSS, pioneira ao lançar com sucesso o primeiro satélite artificial chamado Sputnik, em 1957, enviar a cadela Lai- ka como primeiro ser vivo a viajar pelo espaço e, princi- palmente, por promover a primeira viagem sideral de um cosmonauta, Yuri Gagarin, em 1961, na nave Vostok I. Em 1963 levou ao espaço a primeira mulher, a cosmonauta Valentina Tereshkova. Os Estados Unidos somente conseguiram melhorar sua performance quando a NASA passou a ser assessorada por Wernher Von Braun, ex-chefe do órgão militar alemão criador de bombas V-2 que destruíram grande parte de Londres na Segunda Guerra Mundial. Von Braun liderou a criação dos foguetes Saturno e, em 1969, à frente da Apollo 11, o astronauta norte-americano Neil Armstrong foi o primeiro homem a pisar na Lua. OS ESTadOS UnIdOS dUranTE a gUErra FrIa Após a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos tive- ram um surto de desenvolvimento em várias áreas, como o baby boom populacional; entretanto, vários problemas afloraram e foram exaustivamente discutidos, principal- mente na década de 1960. Os presidentes continuavam a ser livremente eleitos, sejam do partido Democrata ou do Republicano, mas todos sempre administravam numa óti- ca imperialista de confirmação do poderio estadunidense como grande nação capitalista do mundo. Ainda no final da Guerra e após a morte de Roosevelt, o vice-presidente Harry Truman (1945-1953) assumiu a faixa presidencial e esboçou a Guerra Fria, ao autorizar o bom- bardeio de bombas atômicas sobre o Japão e ao aumentar o militarismo ao formular a Doutrina Truman. O próximo pre- sidente eleito foi o republicano general Dwight Eisenhower (1953-1961), que manteve o conservadorismo de Truman, a Guerra Fria; entretanto, iniciou timidamente o questiona- mento acerca da severa segregação racial nos estados do Sul, se bem existisse em todos os EUA, ao autorizar o estudo de negros ao lado dos brancos em algumas escolas, o que revoltou agremiações racistas como a Ku Klux Klan. O próximo presidente eleito foi o democrata John Kenne- dy (1961-1963), que derrotou o republicano Nixon e iniciou um governo marcado pela exploração do imaginário popular. Aperfeiçoou o marketing político, promoveu um personalis- mo festivo em torno do casal presidencial, particularmente em torno da primeira-dama, Jacqueline Kennedy, incentivou a corrida espacial, enfim, investiu no nacionalismo norte-a- mericano. Entretanto, foi figura central de fatos que mostram prepotência e autoritarismo, como a tentativa fracassada de invadir a baía dos Porcos, em Cuba, em 1961, provocando um dos momentos mais tensos da Guerra Fria: a crise dos mísseis atômicos. O mundo ficou muito próximo de uma guerra nu- clear. Também pesa sobre os ombros desse governo o início do acirramento dos atritos que geraram a Guerra do Vietnã. Krushchev e Kennedy O vice-presidente Lyndon Johnson (1963-1969) assumiu o governo em 1963 após o assassinato de Kennedy. Duran- te seu governo, o envolvimento norte-americano na Guerra do Vietnã atingiu o ponto culminante: dos 55 mil soldados em 1965 passou a 550 mil em 1968. Mesmo assim se tor- nou evidente a impossibilidade de uma vitória militar deci- siva dos norte-americanos no conflito do Sudeste Asiático. O próximo Presidente da República foi o republicano Ri- chard Nixon (1969-1974), que manteve a inimizade política com a URSS. Entretanto, iniciou uma série de con- versações, promovendo a détente, uma distensão militar que foi amenizando as relações da Guerra Fria e gerou um tímido sinal verde à busca pela paz. Em seu governo teve início a retirada gradual das tropas norte-americanas do Vietnã, houve o reconhecimento diplomático da China e a busca de um entendimento global com a União Soviética. Contudo, a trajetória do presidente Nixon ficou irremedia- velmente manchada devido ao escândalo Watergate, que provocou sua renúncia em 1974. O escândalo, investigado por jornalistas do jornal Washigton Post consistiu numa operação secreta e ilegal promovida pelo presidente, que usou a máquina de inteligência governamental para espio- nar as reuniões do partido democrata durante a campanha 104 para a Presidência da República. Após a renúncia de Ni- xon, a presidência foi entregue ao parlamentar republica- no Gerald Ford (1974-1977) numa espécie de mandato tampão, pois Ford foi derrotado na eleição presidencial se- guinte pelo democrata Jimmy Carter (1977-1981), que praticou uma política externa voltada para o não financia- mento de algumas ditaduras na América Latina. O ex-ator de Hollywood Ronald Reagan foi eleito para o mandato de 1981 a 1989. Anticomunista feroz, Reagan ocupou a Casa Branca com intenção de acelerar a con- tenção do comunismo mundial e posicionou-se contrário à política de desarmamento nuclear que governos norte- -americanos haviam negociado nos anos 1970. Propôs um ambicioso programa chamado “Guerra nas Estrelas” – uso de lasers e satélites para proteger os Estados Unidos de mísseis soviéticos. A oposição massiva de europeus e nor- te-americanos ao acirramento das relações entre os dois superpoderes resultou na retomada de negociações em 1983. Reagan administrou os Estados Unidos no momento em que a Guerra Fria chegava ao fim com a desagregação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Na política interna, Reagan introduziu uma política neo- liberal. Impostos foram cortados em 25% e regulamen- tações da economia, do meio ambiente e do direito do consumidor foram desmanteladas. Cortes sucessivos nos programas sociais voltados apara a população carente ca- minharamao lado de acordos de livre comércio negociados em nível internacional para abolir restrições à expansão de mercados internacionais. a UnIãO SOvIéTICa dUranTE a gUErra FrIa Stalin morreu em 1953, depois de uma sangrenta ditadura de 25 anos. Após um período de incerteza política, o poder foi assumido por Nikita Krushchev, que, em 1956, no XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética, fez uma estarrecedora denúncia dos crimes de Stalin e do culto à personalidade praticado pelo ditador falecido. Krushchev deu então início a um processo de “desesta- linização” que pôs fim ao terror de Stalin: as execuções sumárias e os campos de trabalho forçado foram suprimi- dos e a ação da polícia política tornou-se menos opressiva. Não obstante, a estrutura totalitária do poder foi mantida, assim como o controle sobre os países satélites da URSS. Nesse contexto, uma tentativa dos húngaros em se libertar do jugo soviético foi afogada em sangue, em 1956. No go- verno de Kurshchev, a Guerra Fria foi levada ao seu limite crítico com a Crise dos Mísseis de Cuba, em 1962. Apesar de incentivar a coexistência pacífica, Kruschev teve papel marcante na crise dos mísseis atômicos em Cuba em que colocou o governo norte-americano de Kennedy em dificuldades. É interessante notar que essa crise foi solucio- nada com a retirada dos mísseis soviéticos da ilha cubana e, em contrapartida, com a retirada, pelos Estados Unidos, de seus mísseis nucleares da Turquia. Essa solução foi vista pelo Politburo soviético como um fracasso, que, somado à oposição da nomenklatura e dos militares, provocou a queda de Kruschev num golpe branco em 1964. O secretário-geral escolhido Leonid Brejnev (1964-1982), que revitalizou muitos aspectos do stalinismo, manteve a coexistência pacífica implantando a détente, que abriu caminho para a salutar negociação sobre armas nuclea- res com a criação do Plano Salt (Tratado de Limitação de Armas Estratégicas) junto aos EUA. breJnev e nixon Em 1982, Brejnev faleceu e foi sucedido por Yuri Andropov (1982-1984), dirigente da KGB. Naquele momento, a eco- nomia soviética estava em declínio devido à burocratização dos planos quinquenais, aos privilégios da nomenklatura e ao militarismo exagerado da Guerra Fria, à defasagem na criação de novas tecnologias do parque industrial e do cam- po. Nem Andropov resolveu esses problemas estruturais nem seu sucessor Konstantin Chernenko (1984-1985). Mikhail Gorbachev (1985-1991) governou a União Soviética tentan- do revitalizar sua estrutura econômica através da Perestroika (reconstrução), utilizando-se de elementos de caráter liberal com a gradativa diminuição do poder estatal sobre a econo- mia, permitindo a implantação de empresas privadas, e da Glasnost (transparência), aceitando uma relativa liberdade de imprensa e partidária. Gorbachev passou a sofrer a opo- sição da nomenklatura e dos altos oficiais das Forças Arma- das, que tentaram promover um golpe branco, mantendo-o numa prisão domiciliar; entretanto, a população russa reagiu a essa tentativa de golpe. gorbachev 105 Bóris Yeltsin não apoiou a queda de Gorbachev, pois tinha interesses pessoais de poder, usando a solidariedade à par- cela da população que era contrária à queda de Gorbachev em seu próprio benefício. Com sucesso isolou politicamente a nomenklatura e os generais. Yeltsin considerava a Perestroi- ka e a Glasnost muito lentas e não aceitou a autoridade do secretário-geral Gorbachev, passando a tomar decisões go- vernamentais na Rússia, tornando-a independente da URSS e aproximando-se do ideal de separação das Repúblicas Bál- ticas da Letônia, Estônia e Lituânia. Quando Gorbachev per- cebeu que não possuía mais nenhum poder, restou somente a tarefa de assinar o documento que selou o fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, em dezembro de 1991. yeLtsin durante a tentativa de goLpe Que aceLerou o fim da urss 106 U.T.I. - Sala 1. (FUVEST) Franklin D. Roosevelt assumiu a presidência dos Estados Unidos, no ano de 1933, em meio a uma grave crise econômica, iniciada em 1929; também Barack Obama se deparou com um problema similar ao se tornar presi- dente do mesmo país, em 2009. a) Com relação ao governo Roosevelt, indique as medidas adotadas por ele para fazer frente à crise de 1929. b) Com relação à crise de 2008, enfrentada pelo presidente Obama, indique os principais fatores que a desencadearam e como ela se manifestou. 2. (UNESP) Quando da criação do Estado de Israel pela ONU, estava prevista a criação de dois estados, um judeu e outro árabe, no território do antigo mandato britânico. Apenas o primeiro viabilizou-se. Explique o contexto em que se deu a criação do Estado de Israel. 3. (UNICAMP) O painel pintado por Pablo Picasso em 1937, Guernica, é uma referência ao bombardeio da área de mesmo nome, durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939). a) Apresente os principais aspectos visuais dessa obra de Picasso. b) De que forma a imagem pode ser compreendida como uma crítica ao franquismo? horrores não mecanizados, é o destino daqueles que aumentam seus números sem passar por uma revo- lução industrial. (ashton, t. s. the inDustrial revolution, 1760-1830. London: oxford university press, 1948. p.161.) Com base nos textos e nos conhecimentos sobre o tema, responda aos itens a seguir. a) Explique o contexto histórico da Revolução In- dustrial. b) Situe o posicionamento dos autores desses textos quanto a esse evento histórico. 5. (UNESP) A Revolução Russa é o acontecimento mais importante da Guerra Mundial. (Luxemburgo, rosa. a revolução russa. Lisboa: uLmeiro, 1975.) A frase de Rosa Luxemburgo, polonesa então radicada na Alemanha, associa diretamente a ocorrência da Re- volução Russa com a Primeira Guerra Mundial. Indique e analise possíveis vínculos entre os dois pro- cessos, destacando os efeitos da Guerra na vida interna da Rússia. 4. (UEL) Leia os textos a seguir. O reino recém-unido da Grã-Bretanha estava emergin- do como uma potência europeia, intelectual, militar e comercial. Newton era reconhecido como o gênio su- premo da época, enquanto a Royal Society de Londres era vista como seu árbitro científico supremo. Locke estava fundando a Filosofia empírica e promulgando as ideias políticas liberais que, na altura do fim do sé- culo, seriam corporificadas na constituição americana. Enquanto isso, Robinson Crusoé, de Defoe, e As Via- gens de Gúliver, de Swift, satisfaziam, cada um à sua maneira, a fome de aventuras estrangeiras do público. Essa era uma nação autoconfiante, experimentando os primeiros rebuliços do que viria a ser a Revolução Industrial – a máquina a vapor já estava sendo usada nas minas da Cornualha. (strathern, p. uma breve história Da economia. rio de Janeiro: zahar, 2003. p.62.) Há hoje, nas planícies da Índia e da China, homens e mulheres, infestados por pragas e famintos, vivendo pouco melhor, aparentemente, do que o gado que trabalha com eles de dia e que compartilha seu lo- cal de dormir à noite. Esse padrão asiático, e esses 107 6. (FGV) Observe atentamente as imagens abaixo: a) Por quais motivos a Revista Time elegeu o manifestante (protestador) como o homem do ano de 2011? b) Aponte as semelhanças ideológicas entre a imagem reproduzida pela Time e a imagem elaborada pelo artista Banksy. c) Diversos protestos desde 2011 vêm sendo denominados como “primaveras”, numa alusão à Primavera de Praga de 1968. Apresente as principais características desse movimento ocorrido na antiga Tchecoslováquia. ção de guerras. Dê dois exemplos de conflitos ocorri- dos no século XX, que cada um desses organismos não conseguiu evitar. Justifique a relativa fragilidade desses organismos internacionais. 9. (UNICAMP) Observe o gráfico e responda. a) Qual a relação existente entre as duas linhas apre- sentadas no gráfico? b) Apresente dois motivos para a crise financeira de 1929. 10. (UFRJ) “Corações e Mentes [documentário reali- zado pelo cineasta norte-americanoPeter Davies, nos anos 70, sobre a guerra do Vietnã] tem esse nome de- vido ao slogan do governo norte-americano na época, de que nós tínhamos que ganhar os corações e mentes do povo vietnamita. Pois estive no Iraque e os ameri- canos estão utilizando a mesma frase. E lá vi as mes- mas atitudes, a mesma arrogância. Achei que o Vietnã 7. (UFSCAR) Se vendemos nossa terra a vós, deveis con- servá-la à parte, como sagrada, como um lugar onde mesmo um homem branco possa ir sorver a brisa aro- matizada pelas flores dos bosques. Assim consideraremos vossa proposta de comprar nos- sa terra. Se nos decidirmos a aceitá-la, farei uma condi- ção: o homem branco terá que tratar os animais desta terra como se fossem seus irmãos. Sou um selvagem e não compreendo outro modo. Te- nho visto milhares de búfalos apodrecerem nas prada- rias, deixados pelo homem branco que neles atira de um trem em movimento. Sou um selvagem e não com- preendo como o fumegante cavalo de ferro possa ser mais importante que o búfalo, que nós caçamos apenas para nos mantermos vivos. (carta Do cheFe ínDio seattle ao presiDente Dos estaDos uniDos, que pretenDia comprar as terras De sua tribo em 1855.) a) Identifique uma diferença na maneira do chefe ín- dio e dos brancos entenderem a relação entre o ho- mem e a natureza. b) Explique as consequências, para a população indí- gena dos Estados Unidos, do contato com os brancos. 8. (UNESP) Violências e guerras entre povos caracte- rizam a história da humanidade, assim como projetos e tentativas de evitá-las. No século XX, foram criados organismos internacionais com a finalidade de pacificar as relações entre nações e países: a Liga das Nações em 1919 e a Organização das Nações Unidas (ONU) em 1945. Apesar de suas declarações favoráveis à solução negociada dos conflitos, nem a Liga das Nações nem a ONU conseguiram impedir, completamente, a deflagra- 108 tinha nos ensinado a lição: não ir para a guerra com países que não estão nos ameaçando. É assustador ver o quão rápido a lição foi esquecida.” fonte: adaptado de entrevista de peter davies ao JornaL “o gLobo” de 01 de outubro de 2004, segundo caderno, p.2. Apesar das diferenças no tempo e no espaço, as guerras do Vietnã e do Iraque – a última iniciada em 2003 e ain- da em curso – têm em comum resultarem de interven- ções militares norte-americanas ao redor do planeta. a) Identifique um elemento da conjuntura internacional que contribuiu para a eclosão da Guerra do Vietnã. b) Explique um dos princípios da chamada Doutrina Bush, adotada pelo governo norte-americano após os atentados de 11 de setembro de 2001, que tenha ser- vido como justificativa para a invasão do Iraque. U.T.I. - E.O. 1. (UNICAMP) A Primeira Guerra Mundial abalou pro- fundamente todos os povos envolvidos, e as revoluções de 1917-1918 foram, acima de tudo, revoltas contra aquele holocausto sem precedentes, principalmente nos países do lado que estava perdendo. Mas em cer- tas áreas da Europa, e em nenhuma outra mais que na Rússia, foram mais que isso: foram revoluções sociais, rejeições populares do Estado, das classes dominantes e do status quo. (adaptado de eric hobsbawm, sobre história. são pauLo: companhia das Letras, 1998, p. 262-263.) a) Relacione a Primeira Guerra Mundial e a situação da Rússia na época. b) Cite e explique um princípio da Revolução Russa de 1917. 2. (UNICAMP) Existem épocas em que os acontecimen- tos concentrados num curto período de tempo são imediatamente vistos como históricos. A Revolução Francesa e 1917 foram ocasiões desse tipo, e também 1989. Aqueles que acreditavam que a Revolução Rus- sa havia sido a porta para o futuro da história mundial estavam errados. E quando sua hora chegou, todos se deram conta disso. Nem mesmo os mais frios ideólogos da Guerra Fria esperavam a desintegração quase sem resistência verificada em 1989. (adaptado de eric hobsbawm, “1989 – o Que sobrou para os vitoriosos”. Folha De são paulo, 12/11/1990, p. a-2.) a) No contexto entre as duas guerras mundiais, quais seriam as razões para a Revolução Russa ter simboli- zado uma porta para o futuro? b) Identifique dois fatores que levaram à derrocada dos regimes socialistas da Europa após 1989. 3. (UNESP) A Segunda Guerra Mundial mal terminara quando a humanidade mergulhou no que se pode en- carar, razoavelmente, como uma Terceira Guerra Mun- dial, embora uma guerra muito peculiar. [...] Gerações inteiras se criaram à sombra de batalhas nucleares glo- bais que, acreditava-se firmemente, podiam estourar a qualquer momento, e devastar a humanidade. [...] Não aconteceu, mas por cerca de quarenta anos pareceu uma possibilidade diária. (eric hobsbawm. era Dos extremos, 1995.) Identifique o conflito a que o texto se refere e caracte- rize as forças em confronto. 4. (FUVEST) “De puramente defensiva, tal qual era, em sua origem, a doutrina Monroe, graças à extensão do poder norte-americano e às transformações sucessivas do espírito nacional, converteu-se em verdadeira arma de combate sob a liderança de Theodore Roosevelt” barraL-montferrat, 1909. a) Qual a proposta da doutrina Monroe? b) Explique a razão pela qual a doutrina se “conver- teu em arma de combate sob a liderança de Theodore Roosevelt”. Exemplifique. 5. (UNESP) Nunca houve um ano como 1968 e é impro- vável que volte a haver. Numa ocasião em que nações e culturas ainda eram separadas e muito diferentes — e, em 1968, Polônia, França, Estados Unidos e México eram muito mais diferentes um do outro do que são hoje — ocorreu uma combustão espontânea de espíri- tos rebeldes no mundo inteiro. (marK KurLansKy. 1968 – o ano que abalou o munDo, 2005.) Indique dois movimentos de “espíritos rebeldes” ocor- ridos em 1968 e identifique, em cada um deles, o cará- ter “espontâneo” mencionado no texto. 6. (UNESP) Discorra sobre a experiência socialista inicia- da na Europa no período entre as duas Guerras Mundiais. 7. (FGV) A Primeira Guerra Mundial envolveu todas as grandes potências, e na verdade todos os Estados euro- peus, com exceção da Espanha, os Países Baixos, os três países da Escandinávia e a Suíça. E mais: tropas do ul- tramar foram, muitas vezes pela primeira vez, enviadas para lutar e operar fora das suas regiões (...). hobsbawm, e. era Dos extremos. o breve século xx (1914- 1991). trad., são pauLo: companhia das Letras, 1995, p. 31. a) Quais foram as motivações econômicas do conflito citado no texto? b) Como a guerra influenciou e dividiu os movimentos e partidos socialistas do período? c) Apresente duas transformações decorrentes direta- mente do conflito. 8. (UFF) “É intolerável e estranho ao espírito do mar- xismo-leninismo exaltar uma pessoa e dela fazer um super-homem dotado de qualidades sobrenaturais, se- melhantes às de um deus. Esse sentimento a respeito de Stalin existiu durante muitos anos (...). Tudo ele deci- dia, sozinho, sem consideração por qualquer um ou por quem quer que fosse”. (“discurso de Kruschev, no xx congresso do partido comunista em 1956”. in: vvaa, l’époque contemporaine, paris, bordas, 1971, p. 244.) 109 Em janeiro de 1953 morreu Josef Stalin. Logo depois, com a subida ao poder de Kruschev, a União Soviética deu início a um período conhecido como a época do degelo, baseada em um intenso processo de desesta- linização. a) Destaque duas características políticas do mencio- nado processo. b) Analise a política externa da Era Kruschev, no con- texto da Guerra Fria. 9. (UFSCAR) Se nem todas as grandes crises econômicas, como a atual, que, periodicamente acometem o capi- talismo, levam a uma transformação no seu funciona- mento, todas as grandes transformações pelas quais ele passou foram desencadeadas por uma grande crise. Situe historicamente e explique as crises que levaram ao chamado capitalismo. a) com participação estatal (keynesiano). b) desregulado (neoliberal). 110 111 HISTÓRIA DO BRASIL 112 O Golpe de 1937 gestou a quarta Constituição brasileira, redigidapelo jurista Francisco Campos, ficou conhecida como “Polaca”; baseava-se em modelos fascistas euro- peus, destacadamente a Constituição polonesa. Outorgada por Getúlio Vargas em novembro de 1937, a Constituição trazia como principais dispositivos: § ampliação dos poderes do presidente da República graças a uma rígida centralização governamental; § governo do presidente da República mediante decre- tos-leis, suspensão de imunidades e Estado de Sítio; § mandato presidencial ampliado para seis anos; § perda da autonomia dos estados que passaram a ser governados por interventores nomeados pelo presi- dente da República; § dissolução dos partidos políticos; § censura da imprensa e dos meios de comunicação em geral; § instituição do estado de emergência e permissão ao presidente de suspender imunidades parlamentares, prender, exilar e invadir domicílios; § proibição das greves; § pena de morte para os crimes contra a segurança na- cional. Essa deveria ter sido submetida a um plebiscito, como de- terminava seu próprio texto, mas o ditador fez com que essa determinação não fosse cumprida. A repressão recrudesceu. Por meio do Departamento de Imprensa e Propaganda, DIP, o governo controlava os meios de comunicação sob rígida censura, bem como servia-se de jornais, cartilhas e, principalmente, rádio para enaltecer a figura de Vargas e suas realizações. Com esse objetivo, já em 1934, foi criado o programa radiofônico “Hora do Brasil”. A polícia política, principal organismo de repressão do Estado e comandada por Filinto Müller, encarregava-se de perseguir, prender e torturar opositores. O Departamento Administrativo do Serviço Públi- co, Dasp, foi criado em 1938 com a finalidade de dar ao Estado um aparato burocrático racional e modernizador da administração pública. Com ele, generalizou-se o sistema de mérito: o recrutamento de candidatos passou a ser feito mediante a avaliação da capacidade em concursos públi- cos e provas de habilitação. Outra marca importante do Estado Novo foi a intensifi- cação da legislação trabalhista, que publicou a Conso- lidação das Leis do Trabalho, CLT, inspirada na Car- ta del Lavoro (Carta do Trabalho), implantada na Itália pelo ditador Benito Mussolini. Foram incorporadas à CLT as leis trabalhistas que vinham sendo promulgadas no Brasil ao longo da década de 1930, como a jornada de oito horas diárias, o descanso semanal obrigatório e as férias remuneradas. Foram regulamentados também os contratos entre patrões e empregados, que deveriam ser registrados na Carteira de Trabalho. O funcionamento dos sindicatos foi permitido, desde que subordinados ao Esta- do, que os utilizava como instrumento de manipulação da classe trabalhadora. Em julho de 1940 foi criado o imposto sindical – instru- mento básico de financiamento do sindicato e de sua su- bordinação ao Estado. Consistia de uma contribuição anu- al obrigatória, correspondente a um dia de trabalho, paga por todo empregado sindicalizado ou não. Antes apoiadores do Estado Novo, os integralistas passa- ram a promover duras críticas a Vargas. Para dar o Golpe de 1937, Getúlio contou com o apoio dos integralistas. Plínio Salgado e seus adeptos mostravam-se eufóricos, uma vez que também no Brasil o fascismo era o destino do mundo. No entanto, consolidado no poder, Vargas tra- tou de descartar os integralistas. Em 2 de dezembro de 1937, foram surpreendidos pela lei que punha fim aos partidos políticos, sem excluir a AIB (Ação Integralista Brasileira), bem como pela falta de oferta de algum cargo a eles pelo novo governo. Ignorados, passaram a conspi- rar contra o governo. Em março de 1938 fizeram uma primeira tentativa de golpe, duramente reprimida. Logo depois, unidos a ou- tros oposicionistas, tentaram a queda de Vargas me- diante um ataque ao Palácio da Guanabara, residência do presidente. Assim fizeram na manhã do dia 10 de maio, obrigando Vargas e seus familiares a defenderem- -se de armas na mão. A ajuda militar ao presidente só chegou depois de quatro horas de tiroteio. Mas essa tentativa de golpe, conhecida por intentona integra- lista, também falhou, com inúmeros golpistas presos e fuzilados no próprio palácio. Plínio Salgado, líder do movimento, foi exilado em Portugal. A DITADURA DO ESTADO NOVO (1937-1945) 113 propaganda varguista direcionada ao trabaLhador Economicamente, o Estado Novo foi marcado ainda pelo nacionalismo econômico, que visava limitar a atua- ção do capital estrangeiro na economia nacional, ao mes- mo tempo em que incentivava a industrialização do Brasil por meio da implantação de uma indústria de base, que o levou à criação da Companhia Vale do Rio Doce, em Minas Gerais, e da Companhia Siderúrgica Nacional, CSN, no Rio de Janeiro. Em 1938 foi criado o Conselho Nacional do Petróleo, CNP, que se encarregou de prospectar poços petrolíferos e dar início ao desenvolvimento desse setor no Brasil. No ano seguinte foram encontrados indícios de petróleo na Bahia, onde foi perfurado o primeiro poço do Brasil, na cidade de Lobato. Quando eclodiu a Segunda Guerra Mundial, em 1939, o Brasil manteve-se neutro, embora Getúlio simpatizasse com o Eixo. Paralelamente, no entanto, pressões externas e internas pela entrada do país na guerra do lado Aliado fizeram-se valer. A aproximação ideológica entre o Estado Novo e o fascismo europeu era evidente. Ministros de Var- gas, como Francisco Campos, da Educação e Saúde, e Eu- rico Gaspar Dutra, da Guerra, defendiam a entrada do país na guerra ao lado do Eixo. Oswaldo Aranha, das Relações Exteriores, defendia o apoio brasileiro aos Aliados. Getúlio Vargas manteve-se neutro enquanto procurava ob- ter vantagens econômicas de ambos os lados em troca do apoio do Brasil. Em meados de 1940, chegou a anunciar a intenção do governo alemão investir na siderurgia bra- sileira com a fundação de uma indústria siderúrgica. Em 1941, para evitar esse acordo e exigir o compromisso do governo brasileiro, o governo norte-americano ofereceu ao Brasil recursos para a construção da Companhia Siderúrgi- ca Nacional, CSN. Em contrapartida, o governo brasileiro cedeu bases milita- res na região Nordeste para norte-americanos e ingleses, e enviou tropas aos campos de batalha europeus. A Força Expedicionária Brasileira, FEB, continha 25 mil homens e foram comandados pelo general Mascarenhas de Mora- es. A FEB foi incorporada ao IV Exército norte-americano e lutou nos campos italianos contra o fascismo, de forma surpreendentemente bem-sucedida. vargas e rooseveLt A participação brasileira na Segunda Guerra Mundial ao lado das democracias liberais e contra os regimes totali- tários de extrema direta revelaram a contradição do país governado por uma ditadura. A partir de então cresceu a pressão interna pela redemocratização do Brasil. Em janei- ro de 1945, antes do final da guerra, foi realizado em São Paulo o Primeiro Congresso Brasileiro de Escritores, com a participação de Graciliano Ramos, Caio Prado Júnior, Monteiro Lobato e Carlos Drummond de Andrade. Eram escritores e intelectuais que defendiam a realização de elei- ções diretas para os diversos cargos públicos, a reabertura democrática, o fim da censura aos meios de comunicação. Vargas aparentemente cedeu às pressões e surpreendeu o país: iniciou um processo de abertura política anunciando a convocação de eleições presidenciais para o final de 1945; reduziu a censura à imprensa e concedeu anistia política, que beneficiou Luís Carlos Prestes, preso desde 1936, e permitiu-lhe voltar à cena política nacional. Com a concessão da liberdade partidária, foram fundados vários partidos políticos: União Democrática Nacional, UDN, composta por conservadores, burgueses e latifundiários, re- presentantes dos interesses das elites nacionais em oposição a Vargas; Partido Social Progressista, PSP, em São Paulo, com grande poder local e liderado por Adhemar de Barros; Parti- do Comunista Brasileiro, PCB, devidamente legalizadoe atu- ante; Partido Social Democrático, PSD, que congregava uma facção das elites nacionalistas ligadas ao setor industrial que apoiavam Vargas; e Partido Trabalhista Brasileiro, PTB, ligado 114 aos sindicatos, trabalhadores e camadas médias urbanas. Getúlio atuou diretamente na fundação desses dois partidos políticos, PSD e PTB, que lhe serviam de base de apoio. Enquanto o processo eleitoral desenvolvia-se, Vargas apoiava e estimulava discretamente um movimento em prol de sua continuidade na presidência da República: o Queremismo. Sob o slogan “Queremos Getúlio”, os que- remistas defendiam a continuidade de Vargas na presidên- cia até que fossem realizadas eleições para a formação de uma Assembleia Nacional Constituinte, que elaboraria uma nova Constituição e convocaria eleições para a esco- lha de um novo presidente. O apoio maciço ao Queremismo suscitou desconfian- ça geral de que Getúlio preparava um golpe, visando à permanência no poder. Para evitar que isso ocorresse, os generais Góes Monteiro, Eurico Gaspar Dutra e Otávio Cordeiro de Farias lideraram as Forças Armadas na depo- sição de Getúlio Vargas da presidência da República, no dia 29 de outubro de 1945, pondo fim ao Estado Novo e à Era Vargas. O período democrático situado entre as ditaduras do Es- tado Novo (1937-1945) e o Regime Militar (1964-1985) é chamado, por alguns historiadores de República Liberal Populista. Nesse período, o país viveu uma relativa liberda- de democrática, com grande atuação de partidos políticos, imprensa e movimentos sociais. Eleito pela coligação PSD/PTB, Partido Social Democrático e Partido Trabalhista Brasileiro, com o apoio de políticos varguistas, logo que assumiu a presidência da República em janeiro de 1946, Dutra iniciou um processo de apro- ximação política com as elites nacionais, particularmente, representadas pela UDN, União Democrática Nacional. No cenário internacional marcado pela Guerra Fria, o novo presidente definiu o posicionamento brasileiro pró- -EUA, o que provocou uma série de problemas internos. No governo Dutra foi promulgada a nova Constituição brasileira, em 1946. A Constituição de 1946 previa a intervenção nos sin- dicatos e a censura a algumas manifestações artísticas e culturais notadamente de caráter comunista. Foi mantido o voto secreto para maiores de 18 anos, exceto para anal- fabetos, cabos e soldados, e eleições diretas em todos os níveis. O mandato presidencial foi fixado em cinco anos sem possibilidade de reeleição e o cargo de vice-presidente foi recriado. Além disso, os direitos trabalhistas do período getulista foram incorporados ao texto constitucional. As consequências do alinhamento do governo brasileiro com os EUA no contexto da Guerra Fria podem ser cons- tatadas na política interna. Houve restrição ao direito de greve pelo decreto-lei 9.070, de março de 1946. Baseada em justificativas fúteis, a maioria governista da Câmara vo- tou pelo fechamento do Partido Comunista Brasileiro, PCB, em maio de 1947 e, no ano seguinte, todos os mandatos legislativos – senadores, deputados e vereadores – dos co- munistas foram cassados. Em 1947 o presidente norte-americano Harry Truman visitou o Brasil, quando foi realizada na cidade fluminense de Petrópolis a Conferência Interamericana de Manuten- ção da Paz e Segurança. Encerrando a Conferência, foi as- sinado o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca, Tiar, mediante o qual os países das Américas estabeleciam um pacto para defesa mútua, permitindo a intervenção dos EUA em qualquer área do continente para preservar a paz e a segurança, o que deve ser entendido como combate ao comunismo no continente. dutra e truman Em virtude do alinhamento do governo brasileiro à política norte-americana, Eurico Gaspar Dutra adotou uma política econômica liberal, caracterizada pela abertura ao capital estrangeiro e pela importação de vários produtos, princi- palmente os supérfluos. Em 1948 foi lançado o Plano SALTE, que previa investi- mentos nas áreas de Saúde, Alimentação, Transportes e GOVERNO EURICO GASPAR DUTRA (1946-1951) 115 Energia. “Em linhas gerais, o Plano SALTE visava estimular e suprir a iniciativa privada através da ação do Estado na economia. O Estado, sem substituir as empresas particu- lares, deveria investir para sanar as deficiências daqueles setores identificados como ’pontos de estrangulamento do desenvolvimento nacional’”. (caceres, fLorivaL. história do brasiL. são pauLo: moderna, 1993, p. 303). A sucessão presidencial ocorreria no final de 1950 e Getú- lio Vargas decidiu disputar a presidência pelo PTB, apoiado por Adhemar de Barros e seu PSP, que indicaram o candi- dato a vice-presidente, Café Filho. O acordo previa ainda que Vargas apoiaria Adhemar nas próximas eleições pre- sidenciais. O PSD lançou o candidato Cristiano Machado, mas grande parte dos filiados do partido deu apoio a Var- gas, especialmente nos estados. A UDN lançou novamente o brigadeiro Eduardo Gomes. Getúlio Vargas venceu a eleição com 49% dos votos váli- dos e pôde voltar ao Palácio do Catete, sede da presidên- cia, “nos braços do povo”. A candidatura de Vargas à presidência da República pro- vocou a oposição sistemática e ruidosa da UDN, deter- minada a evitar sua volta ao Catete a todo custo, como podemos constatar na afirmação de Carlos Lacerda: “O senhor Getúlio Vargas, senador, não deve ser candidato à presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolu- ção para impedi-lo de governar”. A afirmação de Lacerda é uma síntese da atitude dos udenistas durante a campanha presidencial e o governo Vargas até o seu trágico fim. A polarização do sistema político deu-se em torno de Na- cionalistas e Entreguistas. O grupo dos nacionalistas era composto por intelectuais, militares, burguesia nacional, estudantes e membros das ca- madas urbanas, que defendiam mais autonomia do Brasil em relação ao capital estrangeiro, bem como a exploração das riquezas nacionais por empresas brasileiras e a industria- lização baseada em capitais nacionais. Já os setores liberais eram compostos por políticos conser- vadores, elites agrárias e membros da burguesia, militares e parte da classe média na sua maioria congregados na UDN. Eram chamados de “entreguistas”, por defende- rem o desenvolvimento econômico nacional baseado na abertura da economia brasileira ao capital estrangeiro, particularmente norte-americano, através da montagem de empresas multinacionais no Brasil, para utilizarem sua tecnologia na exploração das riquezas nacionais. Em seu mandato democrático, Vargas criou o BNDE (Ban- co Nacional de Desenvolvimento Econômico) para inves- timentos de longo prazo. Em 1952 foi aprovada a Lei de Remessa de Lucros ao Exterior, que obrigava as empresas estrangeiras a reinvestir no Brasil pelo menos 10% dos lucros obtidos em território nacional. Apesar das dificul- dades, Vargas ainda fundou a Eletrobrás e iniciou a cons- trução da Usina Hidrelétrica de Paulo Afonso. Todavia, a maior obra do segundo governo de Vargas foi a criação da Petrobras, em 1953. Para proteger as riquezas petrolíferas nacionais de inte- resses estrangeiros, em 1953, um projeto de lei foi apro- vado, garantindo com que a recém criada Petrobras, em- presa de capital misto controlada pelo governo brasileiro, teria o monopólio de pesquisa, exploração e refino do pe- tróleo brasileiro, frustrando os interesses internacionais. O monopólio não se estendia à distribuição de derivados do petróleo no Brasil, que poderia ser feita por grupos privados e estrangeiros. Em termos trabalhistas, Vargas, mesmo sob imensa pressão, aprovou, em 1º de maio de 1954, um reajuste de 100% no salário mínimo, o que lhe rendeu profun- das críticas das elites econômicas e de sua porta-voz a imprensa. vargas com a mão suJa de petróLeo O principal veículo de crítica a Getúlio era o jornal Tribuna da Imprensa, do jornalista Carlos Lacerda,correligionário da SEGUNDO GOVERNO VARGAS (1951-1954) 116 UDN, que diariamente lançava ataques e graves acusações ao presidente. No dia 5 de agosto de 1954, Carlos Lacerda sofreu um atentado próximo à sua residência, na rua Tonelero, no bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro. O jornalista foi atingido no pé e o major da Aeronáutica, Rubens Florentino Vaz, que o acompanhava, foi morto com um tiro no peito. carLos Lacerda Logo após sofrer um atentado No mesmo dia, Lacerda acusou o presidente pelo atentado. Vargas declarou-se inocente, mas as investigações aponta- ram como mandante do atentado o chefe da guarda pes- soal do presidente, Gregório Fortunato, o “Anjo Negro”, que foi acusado pelo pistoleiro que efetuou os disparos, Alcino do Nascimento. Mesmo declarando-se inocente e como a grande vítima do atentado, Vargas perdeu o apoio da Aeronáutica, influenciada pelo Brigadeiro Eduardo Go- mes. Oficiais do Exército e da Marinha solidarizaram-se com a Aeronáutica e parte das Forças Armadas passou a exigir a renúncia do presidente. Os militares enviaram ultimatum a Vargas exigindo sua renúncia, o que deixava claro que um golpe de Estado estava sendo preparado. Na noite do dia 23 de agosto realizou-se uma reunião ministerial no Palácio do Cate- te. Nela, foi cogitada uma licença do presidente, mas as negociações não avançaram. Já de madrugada, Getúlio retirou-se para seus aposentos. Na manhã do dia 24 de agosto de 1954, o presidente Ge- túlio Vargas foi encontrado morto sobre sua cama, com um tiro no coração. Na cabeceira da cama havia uma carta-tes- tamento, cuja divulgação comoveu a população. “Não querem que o povo seja independente. Assumi o Governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores do trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançaram até 500% ao ano. Nas declarações de valo- res do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tenta- mos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia, a ponto de sermos obrigados a ceder. Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resis- tindo a uma pressão constante, incessante, tudo su- portando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo, que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar, a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de al- guém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida. Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chamada imortal na vossa cons- ciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão. E aos que pensam que me derrotam respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escra- vo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho luta- do de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História” (carta-testamento DeixaDa pelo presiDente Getúlio varGas. 24 ago. 1954). vargas em seu caixão 117 Em virtude do suicídio do presidente Getúlio Vargas (1954), a Presidência da República foi assumida pelo vice-presi- dente João Café Filho, que pertencia ao PSP (Partido Social Progressista) e havia sido indicado à chapa por Adhemar de Barros. No exercício da presidência, Café Filho aproximou-se de políticos conservadores, especialmente da UDN (União Democrática Nacional) e de militares contrários a Getúlio, nomeando-os para as principais pastas ministeriais. No ano de 1955 tiveram início as movimentações de can- didatos a presidente e vice, sendo lançados, respectiva- mente, Juscelino Kubitschek (JK) e João Goulart (Jango). Aliada a partidos de menor expressão, a UDN lançou a candidatura de Juarez Távora, um dos militares que ha- viam conspirado contra Vargas. Plínio Salgado candida- tou-se pelo PRP (Partido da Representação Popular) e Adhemar de Barros pelo PSP. Na área econômica, uma importante medida foi a Instru- ção 113 (17 jan. 1955) da Superintendência da Moeda e do Crédito (Sumoc), pela qual empresas estrangeiras po- diam importar máquinas e equipamentos do exterior sem cobertura cambial, contanto que se associassem a empre- sas nacionais. Para os empresários nacionais independen- tes persistiam as restrições cambiais nas importações, de modo a forçá-los a uma associação com os capitais estran- geiros. Iniciava-se um rápido processo de desnacionaliza- ção econômica que tenderia a se intensificar. O presidente Café Filho afastou-se do cargo em novembro de 1955, alegando problemas de saúde e foi substituído pelo presidente do Congresso Nacional, Carlos Luz, que era filiado ao PSD, mas mantinha estreitas relações com a UDN. carLos Lacerda, da udn Realizadas as eleições, Juscelino Kubitschek obteve 36% dos votos e Juarez Távora, 30%, enquanto João Goulart foi eleito vice-presidente. Inconformados com a vitória de JK e Jango, Carlos Lacerda e políticos da UDN tentaram tumul- tuar ainda mais o ambiente político nacional, inicialmente justificando que os vitoriosos não poderiam assumir por não terem obtido mais da metade dos votos, mesmo que isso não estivesse presente na Constituição de 1946. O presidente Carlos Luz também não era favorável à pos- se de JK e Jango, demonstrando simpatia pelo golpe que se processava junto a políticos da UDN para impedir suas posses. Para favorecer o golpe que estava sendo prepara- do, Luz precisava afastar do cargo de ministro da Guerra, general Henrique Teixeira Lott, que era legalista e a favor do respeito à Constituição e ao resultado das eleições, à posse de JK e Jango, portanto. Incentivado por outros militares legalistas, Lott resistiu e de- pôs o presidente Carlos Luz, cercando o Rio de Janeiro com aproximadamente 2,5 mil homens. Com isso, a posse de Jus- celino e Goulart foi garantida no dia 31 de janeiro de 1956. Logo que assumiu a presidência da República, o mineiro Juscelino Kubitschek começou a pôr em prática seu plano de governo, chamado Plano de Metas. Utilizando o slo- gan “50 anos em 5”, o presidente pretendia estimular o desenvolvimento nacional através de uma aliança entre o Estado e a iniciativa privada, promovendo grande abertura ao capital estrangeiro e estimulando a industrialização e o crescimento econômico nacional. O termo “Plano de Metas” foi usado como referência ao Plano Nacional de Desenvolvimento, composto por 31 metas, das quais a última sintetizava as demais: construir GOVERNO CAFÉ FILHO (1954-1955) GOVERNO JUSCELINO KUBITSCHEK (1956-1961) 118 a nova capital na região do Planalto Central, que deveria ser inaugurada no dia 21 de abril de 1960. O plano con- templava ainda os setores de transporte, energia, saúde, educação, indústria e agricultura. Quanto à industrialização, houve grande desenvolvimento, destacando-se o setor de bens de consumo duráveis, que recebeu volumosos investimentos externos atraídos por facilidades concedidas pelo governo ao capital estrangei- ro. As diretrizes para uma efetiva implantação da indústria automobilística partiram do Grupo Executivo da Indústria Automobilística (Geia), criado pelo decreto 39.412 e assi- nado por Juscelino em 16 de junho de 1956. Conforme o previsto, a capitalfoi transferida para Bra- sília inaugurada em 21 de abril de 1960 –, bem como ministérios, tribunais, órgãos administradores e repartições públicas. Ainda em 1960, Juscelino indicou Darcy Ribeiro para planejar a Universidade de Brasília, com auxílio de Niemeyer, Ciro dos Anjos e Anísio Teixeira. A construção de Brasília criou na região Centro-Oeste um polo de desenvol- vimento demográfico e econômico. Porém, a transferência da capital federal para o Planalto Central brasileiro gerou certo distanciamento entre o centro das decisões do gover- no e eventuais pressões políticas e sociais regionais. Além disso, considera-se que esse isolamento proporcionou às autoridades mais segurança institucional. JusceLino KubitscheK e o paLácio do pLanaLto A necessidade de grandes volumes de capital para a execu- ção do Plano de Metas forçava o governo a recorrer intensa- mente a empréstimos externos. JK tentou obter um emprésti- mo de 300 milhões de dólares junto ao Fundo Monetário Internacional, que impôs condições severas ao Brasil para liberar os recursos, como corte de gastos públicos, contenção de salários e redução de subsídios agrícolas. O governo bra- sileiro não aceitou as condições impostas, mas também não conseguiu o empréstimo, o que o levou ao rompimento de relações do Brasil com o FMI. Os resultados do Plano de Metas foram impressionantes, sobretudo no setor industrial. Entre 1955 e 1961, o valor da produção industrial cresceu em 80%, com altas porcen- tagens nas indústrias do aço (100%), mecânicas (125%), de eletricidade, de comunicações (380%) e de material de transporte (600%). De 1957 a 1961, o PIB, Produto Interno Bruto, cresceu a uma taxa anual de 7%, correspondendo a uma taxa per capita de quase 4%. Se considerarmos toda a década de 1950, o crescimento do PIB brasileiro per capita foi aproximadamente três vezes maior que o do resto da América Latina. No entanto, os gastos governamentais para sustentar o programa de industrialização, a construção de Brasília e um forte saldo negativo na balança comercial resultaram em crescentes deficit do orçamento federal. O governo gastava mais do que arrecadava. Esse déficit passou de menos de 1% do PIB em 1954 e 1955 para 2% em 1956 e 4% em 1957. Esse quadro foi acompanhado do avanço da inflação. Em 1956, a inflação estava em 19%; ao final do governo JK, a inflação atingiu 30% ao ano. Houve também aumento espetacular da dependência em relação ao capital exter- no. Em setores como a indústria automobilística, cigarros, eletricidade, material elétrico, produtos químicos e farma- cêuticos, o domínio do capital estrangeiro passou a ser de 80% a 90%. Some-se a todos esses problemas um aumento significa- tivo da dívida externa. Quando da posse de JK, a dívida externa brasileira era de 1,5 bilhão de dólares; no final de seu governo, saltara para 3,8 bilhões de dólares. Quando da sucessão de Juscelino, nas eleições de 1960, PSP, Partido Social Progressista, indicou Adhemar de Bar- ros e o minúsculo PTN, Partido Trabalhista Nacional, com o apoio da UDN, União Democrático Nacional, lançou a candidatura de Jânio Quadros, ex-vereador, ex-deputado, ex-prefeito e ex-governador sempre por São Paulo. Dotado de uma oratória envolvente e utilizando discur- sos fortes e uma imagem que o aproximava das cama- das populares, Jânio Quadros venceu as eleições com a maior votação já obtida até então por um candidato à presidência. 119 Carismático, excêntrico, conservador, grande orador e aci- ma de tudo populista, Jânio Quadros baseava suas cam- panhas na sua imagem e na sua personalidade, não se ligando a partidos ou a correntes políticas. Isso fica claro nas constantes trocas de partido que fazia a cada eleição e na vitória na campanha presidencial pela coligação de pequenos partidos, apesar do apoio da UDN, União Demo- crática Nacional, encabeçada pelo PTN, Partido Trabalhista Nacional, partido de pouca expressão política. Jânio Quadros e a “vassourinha” Desde o início de seu curto governo, Jânio Quadros definiu que a política externa brasileira seria independente, não alinhada automaticamente pelos interesses estrangeiros, especialmente os norte-americanos. O ponto crítico de sua política ocorreu quando recusou-se a apoiar a inva- são norte-americana à Baía dos Porcos, em represália à Revolução Cubana, e condecorou o ex-guerrilheiro e um dos líderes da Revolução ao lado de Fidel Castro, Ernesto “Che” Guevara. Tais medidas não satisfizeram os setores conservadores ligados ao capital estrangeiro, perdendo sua base parlamentar com o afastamento da UDN do governo. Para enfrentar a crise econômica, a moeda foi desvalori- zada, foram cortados gastos públicos e reduzidos os sub- sídios para a importação de trigo e petróleo, medidas que geraram oposição ao presidente da República, pois provo- caram recessão e inflação. Tentando desviar a atenção da imprensa e da população dos reais problemas brasileiros e das medidas impopulares do governo, Jânio Quadros ado- tou medidas polêmicas que o mantinham constantemente na mídia, como proibições do uso de biquínis em desfiles, brigas de galo, corridas de cavalo em dias úteis e de lança- -perfumes em bailes de carnaval. Mais uma vez, o ambiente político nacional foi agitado por Carlos Lacerda da UDN. Revoltado com as condecorações de Che Guevara, o então governador do estado da Gua- nabara denunciou em 24 de agosto de 1961, aniversário de morte de Getúlio Vargas, que Jânio Quadros preparava um golpe de Estado. Contrariado, o presidente reuniu seus ministros militares e exigiu que fosse mantida a ordem no país. No dia seguinte, 25 de agosto, Jânio Quadros parti- cipou pela manhã, em Brasília, de uma solenidade em ho- menagem ao dia do soldado. No início da tarde enviou um bilhete ao Congresso Nacional comunicando sua renúncia à presidência da República. A situação era tensa e o vice-presidente João Goulart es- tava fora do país em visita oficial à China. Com medo da ascensão política do trabalhista Jango, o Congresso e os militares aceitaram prontamente a renúncia do presiden- te e a presidência da República foi ocupada por Ranieri Mazzilli, presidente do Congresso Nacional. O Brasil viveria uma crise política sem precedentes. João gouLart e mao tsé-tung A renúncia de Jânio Quadros mergulhou o país em uma séria crise política, pois militares e setores conservadores opunham-se à posse do vice-presidente João Goulart, con- siderado herdeiro político de Getúlio Vargas e comunista. Logo que soube da renúncia, Jango voltou ao Brasil, mas foi impedido de entrar no país pelos ministros militares bri- gadeiro Gabriel Grün Moss (Aeronáutica), almirantes Síl- vio Heck (Marinha) e general Odílio Denys (Exército). Eles GOVERNO JÂNIO QUADROS (1961) GOVERNO JOÃO GOULART (1961-1964) 120 contavam com o apoio da UDN e de Carlos Lacerda, que defendiam o impedimento de Jango, uma reforma consti- tucional e a realização de novas eleições presidenciais. João Goulart seguiu para o Uruguai e entrou no Brasil pelo Rio Grande do Sul, de onde o governador Leonel Brizola organizava um movimento em prol do respeito à Consti- tuição e da posse de Jango. O movimento foi batizado de “Campanha da Legalidade”. gouLart e brizoLa O governador Leonel Brizola ameaçava distribuir armas à população e o país estava à beira de uma guerra civil, quando foi selado um acordo para resolver o impasse: o Congresso Nacional aprovou uma emenda à Constituição de 1946, que estava em vigor, instituindo o parlamenta- rismo no Brasil durante um período, quando, através de um plebiscito a ser realizado em 1965, coincidiria com o término do mandato de Jango. A população decidiria se mantinha o sistema ou se o Brasil deveria retornar ao pre- sidencialismo. Ciente das dificuldades do país e da oposição dos meios elitistas, conservadores e militares, João Goulart iniciou a primeira fase de seu governo procurando alternativas para restaurar o presidencialismo, o que lhe garantiriapoderes para tentar realizar as reformas necessárias ao Brasil. Para tanto deveria conquistar o apoio ou quebrar a resistência dos militares e acalmar a oposição conservadora sem per- der o apoio popular e de setores progressistas de esquerda. Nessa fase, o país era governado de fato por um primei- ro-ministro, cargo ocupado respectivamente por Tancredo Neves (PSD), Brochado da Rocha (PSD) e Hermes Lima (PSB). Durante esses governos, não houve melhoria na situação do país, o que fazia aumentar a crença de que somente Jango poderia resolver os problemas nacionais. O resultado do plebiscito provocou a restauração do presi- dencialismo no Brasil. No dia 24 de janeiro de 1963 foi em- possado o novo ministério montado pelo presidente João Goulart, com destaque para Almino Afonso (Trabalho), Celso Furtado (Planejamento e Coordenação Econômica) e San Tiago Dantas (Fazenda). Diante da crise, o governo elaborou um plano para ser aplicado entre os anos de 1963 e 1965, chamado Plano Trienal, que contemplava prioridades como combate à inflação, retomada do crescimento econômico e renego- ciação da dívida externa, bem como Reformas de Base, consideradas fundamentais para solucionar os problemas sociais do país. As Reformas de Base compreendiam reformas político- -eleitorais – direito de voto aos analfabetos – e partidárias; tributária – limitação da remessa de lucros ao exterior e regulamentação de impostos de acordo com a renda; uni- versitária – de acordo com exigências estudantis; constitu- cional e agrária – baseadas na desapropriação de terras às margens de rodovias e ferrovias federais. O presidente recebia apoio de segmentos nacionalistas e progressistas, como sindicatos, trabalhadores em geral, Comando Geral dos Trabalhadores, CGT; União Nacional dos Estudantes, UNE; Ligas Camponesas, Ação Popular – católicos de esquerda –, Pacto de Unidade, Frente de Mo- bilização Popular, FMP, liderada por Leonel Brizola, políticos do PTB e PSB; comunistas e intelectuais ligados ao Instituto Superior de Estudos Brasileiros, ISEB; e segmentos popu- lares. A oposição a Jango e às Reformas de Base congregava po- líticos conservadores, especialmente da UDN, empresários, militares, imprensa – com destaque para Carlos Lacerda e o jornal O Globo –, parte da Igreja Católica, Instituto de Pes- quisas e Estudos Sociais, Ipes – composto por empresários –, Campanha da Mulher pela Democracia, Cade – financiada pelos Ipes –, Movimento Anticomunista, MAC, Frente da Ju- ventude Democrática – formada por estudantes de classe média e alta –, e setores de classe média assustados com a amplitude das Reformas de Base, que poderiam, segundo a imprensa conservadora, atingir seus bens. Diante da crise, João Goulart tentou implantar o Estado de Sítio, mas o Congresso não aprovou tal medida. Jango decidiu então aproximar-se das massas e implantar as Re- formas de Base. No dia 13 de março de 1964 aconteceu um comício no Rio de Janeiro, em frente à estação Central do Brasil, organizado por sindicatos e entidades estudan- tis, com o objetivo de pressionar o Congresso Nacional a aprovar as Reformas de Base. O comício reuniu cerca de 200 mil pessoas e contou com a participação do presidente João Goulart, que assinou dois importantes decretos: a de- sapropriação e a nacionalização das refinarias de petróleo particulares e estrangeiras; a criação da Superintendência da Reforma Agrária, Supra, que desapropriaria latifúndios situados às margens de ferrovias e rodovias federais. As medidas provocaram reações nos meios oposicionistas, assustados com a amplitude das reformas. As críticas avolu- mavam-se na imprensa e, em São Paulo, foi organizado um 121 protesto por entidades femininas ligadas à Igreja Católica, que ocupou as ruas do centro da cidade, no dia 19 de março: a Marcha da Família com Deus pela Liberdade. marcha da famíLia com deus peLa Liberdade No Rio de Janeiro ocorreu um motim de marinheiros lide- rados pelo Cabo José Anselmo dos Santos, presidente da Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais, exigindo a demissão do ministro da Marinha, Silvio Mota. Fuzileiros navais designados para reprimir os amotinados aderiram ao movimento e o Ministro da Marinha demitiu-se do car- go. Tentando contornar a situação, o presidente interveio anunciando que os revoltosos não seriam punidos, o que foi visto pelos oficiais como quebra de hierarquia, pois o presidente posicionava-se ao lado de marinheiros que ha- viam desrespeitado o comando. No dia 31 de março de 1964, os generais Olympio Mourão Filho e Carlos Guedes iniciaram o movimento militar em Minas Gerais, sob a chefia do general Castelo Branco, che- fe do Estado-Maior das Forças Armadas, com o apoio dos governadores Adhemar de Barros, Carlos Lacerda e Maga- lhães Pinto, respectivamente de São Paulo, Guanabara e Minas Gerais. Já no dia 1º de abril de 1964, o cargo de Presidente da República foi declarado vago e ocupado por Ranieri Maz- zilli, presidente da Câmara dos Deputados. Consumava-se o Golpe Civil-Militar de 1964. Após a deposição do presidente João Goulart, a presidên- cia da República foi assumida por Ranieri Mazzili, presiden- te da Câmara dos Deputados. Imediatamente foi formado o Comando Supremo da “revolução”, como se denomi- nava o Golpe de Estado, formado pelos ministros militares almirante Augusto Rademaker, da Marinha; general Arthur da Costa e Silva, da Guerra; e brigadeiro Corrêa de Melo, da Aeronáutica. O comando foi responsável pela publicação do Ato Insti- tucional nº 1 (Al-1, de 9 de abril de 1964), que suspen- deu as garantias constitucionais por sessenta dias, durante os quais poderiam ser cassados mandatos e suspensos os direitos políticos de qualquer cidadão. Além disso, o pre- sidente, que seria eleito indiretamente, poderia propor emendas à Constituição e decretar Estado de Sítio. O AI-1 atingiu, ainda, segundo Meira, “cerca de 122 oficiais que passaram para a reserva e mais de 1.000 pessoas que fo- ram afastadas de seus cargos; 50 parlamentares tiveram seu mandato cassado; e 49 juízes foram atingidos pela medida de exceção” (meira, antônio carLos. brasil: recuperanDo a nossa história. são pauLo: ftd, 1998, p.241). No dia 15 de março de 1964, a junta militar indicou o marechal Humberto de Alencar Castello Branco para ocupar o cargo de presidente da República, devendo concluir o mandato do presidente deposto, João Goulart, que se estenderia até janeiro de 1966. tanQues nas ruas do rio de Janeiro durante o goLpe de 1964 Controlando o Congresso Nacional, composto basicamen- te por parlamentares que apoiavam o Regime Militar, já que seus principais opositores tiveram os mandatos cas- sados e os direitos políticos suspensos em virtude do AI- 1, Castello Branco conseguiu a aprovação de importantes medidas para o Regime. Entre elas destaquem-se a aprova- ção da Lei de Greve, que tornava ilegais as greves, e da Lei Suplicy, proposta pelo Ministro da Educação Flávio Suplicy de Lacerda, que extinguia a UNE e todas as entidades estu- dantis, bem como determinava o fechamento dos centros acadêmicos das universidades. DITADURA MILITAR: GOVERNO CASTELLO BRANCO 122 Também foi criado o Serviço Nacional de Informação, SNI, principal órgão de informação do governo, que teve importante atuação na repressão aos opositores do Regi- me. Idealizado pelo general Golbery do Couto e Silva, o SNI coletava, processava e fornecia informações úteis ao combate à subversão interna, transformando-se em um dos principais órgãos do Regime Militar no Brasil. A primeira grande preocupação do novo governo foi ado- tar uma rígida intervenção na economia, com o objetivo de controlar a inflação. Foi criado o Plano de Ação Eco- nômica do Governo, Paeg, que estabeleceu o corte nos gastos públicos (menos verbas para saúde, educação, salá- rios de funcionários) e o aumento de impostos. No mesmo período foi criado o Banco Central (Lei 4.595, de 31 de dezembro de 1964), tendo como principalfunção controlar a emissão monetária e o sistema bancário e foi introduzida uma nova moeda, o Cruzeiro Novo (NCr$). Castelo Branco limitou os reajustes salariais e facilitou as demissões e a rotatividade de mão de obra, ao substituir as garantias de estabilidade no emprego pelo FGTS, Fundo de Garantia por Tempo de Serviço. Foi criado o Ban- co Nacional da Habitação, BNH, que deveria utilizar o dinheiro dos depósitos do FGTS para financiar a construção de casas populares. Em 1965, houve eleições para governadores de onze esta- dos. Contudo, a importante vitória eleitoral de políticos do PSD e PTB contrariou a cúpula militar e demonstrou que o populismo ainda tinha força no país. A reação estimulada especialmente pela “linha dura” foi a promulgação do Ato Institucional nº 2, de 27 de outubro de 1965, afirmando em seu preâmbulo que “não se disse que a Revolução foi, mas que é e continuará”. O AI-2 determinava que o presidente pudesse intervir nos estados e municípios “para prevenir ou reprimir a subver- são”; permitia ainda a decretação de recesso no Legislati- vo, podendo o presidente legislar através de decretos-lei; foram estabelecidas eleições indiretas para presiden- te da República e vice; e o presidente poderia determi- nar a suspensão de direitos políticos por dez anos. O Al-2 determinava ainda a extinção de todos os partidos políticos no Brasil. No entanto, um decreto complemen- tar estabeleceu o bipartidarismo e os políticos foram obrigados a se vincular a duas novas legendas criadas: a Aliança Renovadora Nacional, Arena, e o Movimen- to Democrático Brasileiro, MDB. Em outubro de 1966, o candidato imposto pela “linha dura”, Arthur da Costa e Silva, foi eleito presidente, tendo como vice o civil Pedro Aleixo, ex-ministro da Educação do governo Castello Branco. Antes de concluir seu mandato, Castello Branco publicou os atos institucionais 3, de 5 fevereiro de 1966, e o 4, de 7 de dezembro de 1966. O primeiro determinou a realização de eleições indiretas para a escolha de governantes estaduais, prefeitos das capitais e de áreas consideradas de Segurança Nacional. O AI-4 estabelecia um conjunto de normas a serem segui- das pelo Congresso, para a elaboração de uma nova Constituição, que seria o último ato de Castello Bran- co na Presidência, a Constituição de 1967. Foi incluída na Carta Magna a Lei de Segurança Nacional, que proibia manifestações ofensivas ao governo na mídia e oficializava censura prévia à imprensa. A posse de Costa e Silva representou a ascensão da chamada “linha dura” ao comando político do país. O novo governo não manteve membros do governo an- terior nos cargos comissionados e nos ministérios, que passaram a ser ocupados por oficiais e políticos ligados à “linha dura”, com destaque para o civil Delfim Netto, responsável pelo comando da economia nacional. Logo no início do mandato, o novo governo elaborou o Pro- grama Estratégico de Desenvolvimento, PED, que tinha como metas prioritárias combater a inflação e estimular o crescimento econômico. O governo passou a controlar preços e salários e incentivou os investimentos estran- geiros no Brasil. poLícia perseguindo manifestante em 1968 Políticos descontentes com a marginalização a que estavam submetidos, especialmente Carlos Lacerda, que sonhava ser DITADURA MILITAR: GOVERNO COSTA E SILVA 123 presidente, organizaram uma Frente Ampla de oposição ao Regime Militar. O principal objetivo dessa Frente era restau- rar a democracia e as eleições diretas para Presidente da República e elaborar uma nova Constituição. A Frente Ampla contou com o apoio dos ex-presidentes Juscelino Kubitschek e João Goulart, o que demonstrava seu caráter eclético ao reunir antigos adversários. O ano de 1968 foi marcado por grandes manifestações estudantis de protesto contra a política educacional que o governo desejava implantar através do acordo Mec-Usaid e contra o próprio governo. Em março desse ano, o estudante secundarista Edson Luis de Lima Souto foi morto a tiros em um confronto entre ma- nifestantes e policiais militares. Revoltados, os estudantes realizaram o velório de Edson no prédio da Assembleia Le- gislativa do Estado, onde vários discursos foram proferidos contra a Ditadura. O enterro foi acompanhado por cerca de 50 mil pessoas, assim como a missa de sétimo dia, na igre- ja da Candelária, que reuniu milhares de pessoas, apesar da rígida vigilância policial. O resultado foi a realização de uma grande passeata con- tra o Regime Militar, organizada por estudantes, intelec- tuais, artistas e membros da Igreja católica, realizada no dia 26 de junho de 1968. Conhecida como a Passeata dos Cem Mil, a manifestação foi um marco e serviu de estímulo à manifestação em todo o país. Diante das pressões, o governo editou o Ato Institucional Nº5, que suspendeu direitos e garantias constitucionais dos cidadãos e o habeas corpus; ampliou os poderes do presi- dente – demitir, remover ou pôr em disponibilidade funcio- nários públicos federais, estaduais e municipais, fechar casas legislativas, decretar estado de sítio e confiscar bens como forma de punição por corrupção e cassar mandatos eletivos federais, estaduais e municipais; demitir ou reformar oficiais e membros das Forças Armadas e das polícias militares. protesto contra a ditadura Em 1969, o presidente Costa e Silva sofreu um derrame e foi afastado do cargo, que deveria ser assumido pelo vice, o civil Pedro Aleixo, que se opusera ao AI-5. Os militares não admitiram a posse do vice e o governo foi assumido por uma Junta Militar composta dos ministros do Exército, Marinha e Aeronáutica, respectivamente, general Aurélio Lyra Tavares, almirante Augusto Rademaker e brigadeiro Márcio de Sousa Melo. Em outubro, o Congresso Nacional foi reaberto para escolher o novo presidente. O Comando Supremo da Revolução indicou como candidato o general Emílio Garrastazu Médici, que foi confirmado para o cargo. O presidente general Emílio Garrastazu Médici era um fiel re- presentante da “linha dura”. No seu governo empenhou-se em combater toda e qualquer oposição ao Regime Militar. Aquele período – conhecido como os “anos de chumbo” – foi o mais cruel e de mais repressão do Estado sobre a so- ciedade civil e os meios de comunicação. Em nome da segu- rança nacional, o governo promoveu perseguições, torturas e assassinatos contra seus opositores e contra os meios de comunicação, que foram bastante censurados. A base política e econômica do governo Costa e Silva foi mantida por Médici, bem como o ministro da Fazenda, An- tonio Delfim Netto, o que lhe permitiu colher os frutos da política econômica implantada no governo anterior pelo Programa Estratégico de Desenvolvimento, PED. Com o intuito de elevar o Brasil às grandes potências econômicas mundiais, foi criado o Plano Nacional de Desenvolvi- mento, PND, cujas principais metas eram manter os bai- xos índices inflacionários e promover o desenvolvimento da economia nacional. Houve grande estímulo às expor- tações, principal fonte de recursos da economia brasileira, bem como à importação de máquinas e equipamentos industriais, fundamentais para o desenvolvimento do país. Durante o período do chamado “milagre econômico” (1969-1973), o PIB cresceu na média anual 11,2% e alcan- çou o pico em 1973, com uma variação de 13%. A inflação média anual não passou de 18%. Médici realizou grandes investimentos no setor de infraestrutura e na construção de grandes e portentosas obras, chamadas “faraônicas”, em DITADURA MILITAR: GOVERNO MÉDICI (1969-1974) 124 virtude do tamanho, como a Ponte Rio-Niterói e a rodovia Transamazônica, símbolos de um “Brasil grande”. Apesar desses indicadores positivos, no entanto, o “mila- gre brasileiro” também apresentou pontos negativos. Um dos seus pontos vulneráveis estava em sua excessiva depen- dência do sistema financeiro e do comércio internacional, responsáveis pela facilidade dos empréstimos externos, pela inversão