Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Lesão celular, morte celular e adaptações LARA CAMILA DA SILVA ALVES – MEDICINA – 3º SEMESTRE ➔ Quando as células encontram um estresse fisiológico ou um estímulo patológico, podem sofrer uma adaptação, alcançando um novo estado conservante, preservando sua viabilidade e função. ➔ Estresse e lesão afetam não apenas a morfologia, mas o estado funcional das células e tecidos. ADAPTAÇÕES CELULARES AO ESTRESSE - As adaptações são alterações reversíveis em número, tamanho, fenótipo, atividade metabólica ou das funções celulares em resposta às alterações no seu ambiente. Adaptações fisiológicas -> respostas celulares à estimulação normal pelos hormônios. Adaptações patológicas -> respostas celulares ao estresse que permitem à célula modularem sua estrutura e função escapando, assim, da lesão. Principais respostas adaptativas: Atrofia, hipertrofia, hiperplasia, metaplasia. Essas respostas adaptativas demandam tempo; nenhuma é aguda. Hipertrofia – AUMENTO DO TAMANHO DAS CÉLULAS QUE RESULTA EM AUMENTO DO TAMANHO DO ÓRGÃO. Ocorre quando as células possuem capacidade limitada de se dividir (o que a diferencia da hiperplasia – aumento do número de células). ➔ A hipertrofia e a hiperplasia também podem ocorrer juntas. Ambas resultam em órgão aumentado – hipertrófico. A hipertrofia pode ser fisiológica ou patológica e é causada pelo aumento da demanda funcional ou por fatores de crescimento ou estimulação hormonal específica. Os mecanismos que influenciam a hipertrofia cardíaca, podem ter dois tipos de sinais: desencadeantes mecânicos (estiramento) ou desencadeantes tróficos (fatores de crescimento e hormônios adrenérgicos). Esses estímulos acionam uma via de síntese proteica (mTOR), aumentando, assim a quantidade de miofilamentos por célula e, consequentemente a força gerada com contração, permitindo que a célula alcance melhor desempenho. Quando o aumento da carga muscular não consegue mais compensar a sobrecarga, ocorrem reações degenerativas nas fibras miocárdicas. ➔ Uma adaptação ao estresse pode progredir para lesão celular funcionalmente significativa, caso o estresse não seja atenuado. Um hipertenso (sobrecarga de pressão) faz hipertrofia concêntrica, pois o estímulo da hipertensão é constante. Já um atleta, faz hipertrofia excêntrica – pois não é um estímulo contínuo. Na hipertrofia excêntrica do coração, as fibras são trocadas de alfa para beta, e, por isso, a frequência cardíaca diminui (beta-bloqueadores). Por isso, atletas têm o batimento mais lento e mais forte. Na hipertrofia concêntrica, ocorre o contrário. O coração está sendo estimulado (aumento da FC), para regular reduz o volume sistólico. Entretanto, para manter o DC, aumenta ainda mais a FC, assim, o coração entra em uma autorregulação aprisionada, ou seja, a cada vez que ele tenta compensar, ele sai da homeostase. - Obs: hipertrofia de um epitélio glandular, a glândula irá produzir mais hormônios. Hiperplasia – AUMENTO DA QUANTIDADE DE CÉLULAS. Normalmente, em alguns tecidos, vem acompanhada de hiperfunção. Ex: hiperplasia na glândula da tireoide. Tecidos que fazem hiperplasia são aqueles que têm capacidade proliferativa, assim, o coração não faz hiperplasia. A célula tronco do tecido, ao receber estímulos hormonais, irá se replicar. Ocorre, na maioria das vezes, em tecidos epiteliais. Ex: o aumento das células mamárias durante a gravidez. Hiperplasia fisiológica -> hiperplasia hormonal; hiperplasia compensatória (na qual cresce tecido residual após a remoção ou perda da porção de um órgão). Hiperplasia patológica -> A maioria é causada por estimulação excessiva hormonal ou por fatores de crescimento. Por exemplo, após um período menstrual normal, há aumento da proliferação do epitélio uterino, que normalmente é estritamente regulada pela estimulação dos hormônios hipofisários, pelo estrogênio ovariano e pela inibição através da progesterona. Ou seja, se o equilíbrio entre estrogênio e progesterona é alterado, ocorre a hiperplasia do endométrio, causa comum de sangramento menstrual anormal. // Hiperplasia prostática benigna Obs: a hiperplasia pode ocorrer com ganho de função, ou não. ➔ O processos hiperplásico permanece controlado em todas as situações; se os sinais que a iniciam cessam, a hiperplasia desaparece. Atrofia – DIMINUIÇÃO DO TAMANHO DA CÉLULA, PELA PERDA DE SUBSTÂNCIA CELULAR. Obs: embora as células atróficas tenham a sua função diminuída, elas não estão mortas. As causas da atrofia incluem a diminuição da carga de trabalho, perda da inervação, diminuição do suprimento sanguíneo, nutrição inadequada, perda da estimulação endócrina e o envelhecimento (atrofia senil). Atrofia fisiológica -> estimulação hormonal na menopausa; redução do tamanho do útero após o parto. Atrofia patológica -> desnervação; escassez de estímulos de sobrevida (suprimento sanguíneo, nutrição, hormônios, envelhecimento). As alterações celulares fundamentais na atrofia fisiológica e patológica são idênticas. Elas representam uma retração da célula para um tamanho menor no qual a sobrevivência seja ainda possível. Assim, um novo equilíbrio é adquirido entre o tamanho da célula e diminuição do suprimento sanguíneo, da nutrição ou da estimulação trófica. ➔ Os mecanismos da atrofia consistem em uma combinação de síntese proteica diminuída e degradação proteica aumentada nas células. Redução da atividade metabólica → Redução da síntese proteica + degradação das proteínas celulares (via ubiquitina-proteossoma – a deficiência de nutrientes e o desuso ativam as ligases da ubiquitina, as quais direcionam essas proteínas para a degradação em proteossomas) ➔ Em muitas situações, a atrofia é acompanhada pelo aumento da autofagia, que resulta no aumento do número de vacúolos autofágicos. Metaplasia – ALTERAÇÃO REVERSÍVEL NA QUAL UM TIPO CELULAR ADULTO (EPITELIAL OU MESENQUIMAL) É SUBSTITUÍDO POR OUTRO TIPO CELULAR ADULTO. Uma célula sensível a determinado estresse é substituída por outro tipo celular mais capaz de suportar o ambiente hostil. Ocorre quando a hiperplasia não funciona. Ex1: metaplasia escamosa pulmonar devido à irritação por cigarro; As células epiteliais normais, colunares e ciliadas da traqueia e dos brônquios são focais ou difusamente substituídas por células epiteliais escamosas estratificadas. O epitélio pavimentoso estratificado, mais resistente, torna-se mais capaz de sobreviver às substâncias químicas do cigarro. Entretanto, importantes mecanismos de proteção são perdidos, como a secreção do muco e a remoção pelos cílios de materiais particulados. ➔ As influências que induzem a metaplasia, se persistirem, podem predispor à transformação maligna do epitélio. Ex2: esôfago de Barret; é uma complicação da doença do refluxo gastroesofágico, na qual o epitélio pavimentoso estratificado normal da porção inferior do esôfago pode sofrer transformação metaplásica para epitélio colunar do tipo gástrico ou intestinal. Ex3: metaplasia escamosa do colo uterino; substituição do epitélio glandular endocervical por células de reserva subcolunares, que se diferenciam em epitélio escamoso. Obs: hepatócitos não fazem metaplasia; quando há muito estresse a essa célula, os hepatócitos deixam de secretar ptn, retendo gorduras dentro dele (gorduras no fígado). Normalmente, antes de um tecido fazer metaplasia, ele fez hiperplasia. ➔ Ao retirar o estímulo, os mecanismos adaptativos devem ser cessados e o tecido deve voltar ao normal. Caso não volte, pode ter ocorrido uma displasia – mutações. Lesão pré-maligna é uma que precede o câncer. Apenas a displasia é uma lesão pré-maligna. A hiperplasia e a metaplasia aumentam o risco de displasia. A hiperplasia devido ao aumento do ciclo celular – cada mitose pode ocasionar uma mutação. Normal → hiperplasia → displasia → carcinoma in situ → carcinoma invasivo (câncer) Displasia com acúmulo de mutações, já é uma neoplasia. Hipotrofia – Redução quantitativados componentes estruturais e das funções celulares com diminuição do volume das células e dos órgãos atingidos. Ex: hipotrofia cerebral que vem com a idade – alzhemeir. Antes de ficar com atrofia, fica com hipotrofia. Como tentamos regular o mecanismo oxidativo? – mitocôndria Consequências do acúmulo de radicais livres Hipoplasia – Redução da população celular de um tecido, órgão ou parte do corpo. Ex: redução de glândulas, involução do timo (fisiológica), hipoplasia da medula óssea por agentes tóxicos ou infecções (patológica), hipoplasia pulmonar (causa embriológica). LESÃO CELULAR E MORTE CELULAR Lesão Celular Reversível → Nos estágios iniciais, as alterações morfológicas e funcionais são reversíveis se o estímulo nocivo for removido. Morte Celular → Com a persistência do estímulo nocivo, a lesão torna-se irreversível, e com o tempo a célula não pode se recuperar e morre – seja por necrose (quando as enzimas dos lisossomos são liberadas, entram no citoplasma e digerem a célula), ou apoptose (quando a célula é privada de fatores de crescimento ou quando o DNA celular e as ptn foram danificadas sem reparo). Enquanto a necrose está associada a processos patológicos, a apoptose não está necessariamente associada à lesão celular patológica. CAUSAS DA LESÃO CELULAR 1- Privação de O2 (hipóxia): pois interfere com a respiração oxidativa aeróbica. OBS: hipóxia é diferente de isquemia. A isquemia é a perda do suprimento sanguíneo em um tecido devido ao impedimento do fluxo arterial ou à redução da drenagem venosa. Assim, a isquemia é a causa mais comum da hipóxia. 2- Agentes químicos: substâncias químicas e inócuas, como a glicose, sal e água, se absorvidas em excesso podem perturbar o ambiente osmótico, resultando em lesão ou morte celular. 3- Agentes infecciosos: vírus, bactérias, fungos e protozoários. 4- Reações imunológicas: reações autoimunes contra os próprios tecidos e reações alérgicas contra substâncias ambientais, em indivíduos geneticamente suscetíveis. 5- Fatores genéticos: os defeitos genéticos causam lesão celular por causa da deficiência de ptn funcionais, como os defeitos enzimáticos nos erros inatos do metabolismo ou a acumulação de DNA danificado ou ptn mal dobradas, ambos disparando a morte celular quando são irreparáveis. 6- Desequilíbrios nutricionais: deficiências e excessos proteico-calóricas 7- Agentes físicos: trauma, extremos de temperatura, radiação, choque elétrico e alterações bruscas na pressão atmosférica. 8- Envelhecimento: o envelhecimento celular leva a alterações nas habilidades replicativas e de reparo das células e tecidos. MORFOLOGIA DA LESÃO CELULAR E TECIDUAL ➔ A função celular pode ser perdida antes que ocorra a morte celular, e as alterações morfológicas na lesão celular surgem mais tarde. Ex: células miocárdicas tornam-se não contráteis após 1-2 minutos de isquemia, embora não morram até que 20-30 minutos de isquemia tenham ocorrido. Dois fenômenos caracterizam a irreversibilidade: incapacidade de reverter a disfunção mitocondrial (perda da fosforilação oxidativa e geração de ATP) mesmo depois da lesão original ter sido solucionada, e os profundos distúrbios na função da membrana. LESÃO REVERSÍVEL As duas principais características são: tumefação celular e a degeneração gordurosa. A tumefação celular é resultado da falência das bombas de íons dependentes de energia da membrana plasmática, levando a incapacidade de manter a homeostasia iônica e liquida. A degeneração gordurosa ocorre na lesão hipóxica e manifesta-se pelo surgimento de vacúolos lipídicos no citoplasma. ➔ Em algumas situações, lesões potencialmente nocivas induzem alterações específicas nas organelas celulares, como o retículo endoplasmático. O retículo endoplasmático granular está envolvido no metabolismo de vários agentes químicos, e as células expostas a esses agentes exibem a hipertrofia do retículo endoplasmático como uma resposta adaptativa que pode ter consequências funcionais importantes. Os produtos formados por esse metabolismo oxidativo incluem as espécies reativas de oxigênio (ERO), que podem lesar a célula. NECROSE É um tipo de morte celular que está associado à perda da integridade da membrana e extravasamento dos conteúdos celulares, o que leva à morte celular devido à ação degradativa de enzimas nas células lesadas letalmente. A necrose sempre vem associada à inflamação, iniciada pelos conteúdos celulares que escapam que realizam uma reação local do hospedeiro para eliminar as células mortas e iniciar o processo de reparo. ➔ As enzimas responsáveis pela digestão da célula são derivadas dos lisossomos das próprias células que estão morrendo ou dos lisossomos dos leucócitos que são recrutados como parte da reação inflamatória às células mortas. PADRÕES DE NECROSE TECIDUAL Sob condições diferentes, a necrose tecidual assume padrões específicos: Necrose de coagulação → a arquitetura básica dos tecidos é preservada por alguns dias. É a característica de infartos em todos os órgãos sólidos, exceto o cérebro. Necrose liquefativa → é observada em infecções bacterianas focais, ou nas infecções fúngicas porque os micróbios estimulam o acúmulo de células inflamatórias e as enzimas dos leucócitos a digerirem (“liquefazer”) o tecido. Por motivos desconhecidos, a morte por hipóxia de células dentro do sistema nervoso central, com frequência leva à necrose liquefativa. A liquefação digere completamente as células mortas, resultando em transformação do tecido em uma massa viscosa liquida. Necrose gangrenosa → é aplicado a um membro, normalmente a perna, que tenha perdido seu suprimento sanguíneo e sofreu necrose de coagulação, envolvendo várias camadas de tecido. Necrose caseosa → é encontrada mais frequentemente em focos de infecção tuberculosa. Caseoso (semelhante a queijo) é devido à aparência friável branco-amarelada da área de necrose. A área de necrose caseosa é encerrada dentro de uma borda inflamatória nítida; essa aparência é característica de um foco de inflamação conhecido como granuloma. Necrose gordurosa → refere-se a áreas focais de destruição gordurosa, tipicamente resultantes da liberação de lipases pancreáticas ativadas na substância do pâncreas e na cavidade peritoneal. Ex: pancreatite aguda. Necrose fibrinoide → observada nas reações imunes, nas quais os complexos antígeno e anticorpos são depositados nas paredes das artérias. ➔ O extravasamento de proteínas intracelulares através da membrana celular rompida e, por fim, para a circulação fornece meios de detectar a necrose tecido-específica, usando-se amostras de sangue ou de soro. MECANISMOS DA LESÃO CELULAR ➔ A resposta celular ao estímulo nocivo depende do tipo de lesão, sua duração e sua gravidade. ➔ As consequências de um estímulo nocivo dependem do tipo, status, adaptabilidade e fenótipo genético da célula lesada – a mesma lesão gera diferentes resultados dependendo do tipo celular. Ex: o músculo est esquelético da perna se acomoda à isquemia completa por 2-3 horas sem lesão irreversível, enquanto o músculo cardíaco morre depois de apenas 20-30 minutos. ➔ A lesão celular resulta de alterações bioquímicas e funcionais em um ou mais dos vários componentes celulares essenciais. Os alvos mais importantes dos estímulos nocivos são: as mitocôndrias e sua habilidade de gerar ATP e ERO em condições patológicas; desequilíbrio na homeostasia do cálcio; danos às membranas celulares (plasmática e lisossômica) e danos ao DNA e ao dobramento das ptn. ➔ As múltiplas alterações bioquímicas podem ser disparadas por qualquer lesão nociva. DEPLEÇÃO DE ATP - O ATP é produzido principalmente por fosforilação oxidativa do ADP durante a redução do oxigênio no sistema de transporte de elétrons das mitocôndrias. As principais causas de depleção de ATP são: redução do suprimento de oxigênio e nutrientes; dano mitocondrial; ação de toxinas (ex: cianeto).OBS: tecidos com maior capacidade glicolítica (como o fígado) são capazes de sobreviver melhor à perda de oxigênio e ao decréscimo de fosforilação oxidativa do que os tecidos com capacidade limitada para a glicólise (ex: cérebro). Efeitos da depleção significativa de ATP: 1- Atividade da bomba de sódio na membrana plasmática dependente de ATP reduzida → acúmulo de sódio intracelular e efluxo de potássio → ganho isso-osmótico de água → tumefação celular e dilatação do RE. 2- Aumento compensatório na glicólise anaeróbica. Como consequência, as reservas de glicogênio intracelular são exauridas e o ácido lático se acumula, reduzindo o PH intracelular e diminuindo a atividade de enzimas celulares. 3- Falência da bomba de cálcio → influxo de cálcio 4- Rompimento estrutural do aparelho de síntese proteica – os ribossomos se desprendem do RER e os polissomos se dissociam em monossomos → redução da síntese proteica. DANOS E DISFUNÇÕES MITOCONDRIAIS - As mitocôndrias são sensíveis a vários tipos de estímulos nocivos, incluindo hipóxia, toxinas químicas e radiação. Anormalidades bioquímicas resultantes de danos mitocondriais: 1- Falha na fosforilação oxidativa → depleção progressiva de ATP + formação de espécies reativas de oxigênio (ERO) 2- Formação de um canal de alta condutância pela membrana mitocondrial, chamado de poro de transição de permeabilidade mitocondrial → a abertura desse canal leva à perda do potencial de membrana da mitocôndria e à alteração do pH → compromete a fosforilação oxidativa. 3- Liberação de proteínas que, quando liberadas para o citoplasma, informam à célula que há uma lesão interna e ativam a via de apoptose. INFLUXO DE CÁLCIO - O cálcio extracelular depletado retarda a morte celular após hipóxia e exposição a algumas toxinas. Lembre-se: o cálcio livre no citosol é mantido por transportadores de cálcio dependentes de ATP. A isquemia e certas toxinas causam aumento da concentração de cálcio citosólico, inicialmente por causa da liberação de cálcio armazenado intracelularmente (mitocôndria e RE) e, mais tarde, do cálcio que resultado do influxo aumentado através da membrana plasmática. 1- Ativa várias enzimas com efeitos celulares prejudiciais. Ex: fosfolipases (causam danos à membrana), proteases (que clivam as ptn de membrana e do citoesqueleto), endonucleases (responsáveis pela fragmentação da cromatina e do DNA) e as trifosfatases de adenosina (ATPases), acelerando a depleção de ATP. 2- Indução da apoptose através da ativação direta das caspases e pelo aumento da permeabilidade mitocondrial. ACÚMULO DE RADICAIS LIVRES DERIVADOS DO OXIGÊNIO (ESTRESSE OXIDATIVO) - Os radicais livres são espécies químicas que possuem um único elétron não pareado em órbita externa. Tais estados químicos são extremamente instáveis e reagem prontamente com químicos orgânicos e inorgânicos; quando gerados nas células, atacam os ácidos nucleicos e uma variedade de ptn e lipídios celulares. - Radicais livres iniciam reações autocatalíticas → as moléculas que reagem com eles são convertidas em radicais livres, propagando, assim, a cadeia de danos. ERO são um tipo de radical livre derivado do O2 e são capazes de lesar as células de diferentes maneiras: lesão de isquemia-reperfusão, lesão química e por radiação, toxicidade do oxigênio e outros gases, envelhecimento celular, destruição dos micróbios pelas células fagocíticas e lesão tecidual causada por células inflamatórias. ➔ Normalmente as ERO são produzidas em pequenas quantidades, em todas as células, durante as reações de oxidação e redução que ocorrem durante a respiração e a geração de energia mitocondrial. ➔ As ERO são produzidas pelos leucócitos, principalmente neutrófilos e macrófagos, como uma arma para destruição de micróbios e outras substâncias durante a inflamação e defesa do hospedeiros. ➔ O NO é outro radical livre reativo produzido pelos leucócitos e outras células. OBS: o dano causado pelos radicais livres é determinado por suas taxas de produção e remoção. O excesso de radicais livres leva a uma condição chamada de estresse oxidativo. O que aumenta a geração de radicais livres? 1- Absorção de energia radiante 2- Metabolismo enzimático de substâncias químicas exógenas (ex: tetracloreto de carbono) 3- Inflamação (produzidos pelos leucócitos) As ERO causam lesão celular através de três principais reações: 1- Peroxidação lipídica das membranas – rompe ligações duplas de lipídios na membrana. 2- Ligação cruzada e outras alterações das ptn – resultando no aumento da degradação ou perda da atividade enzimática 3- Lesões do DNA – ao se associarem com a timina no DNA mitocondrial e nuclear produzem quebra do filamento único no DNA. DEFEITOS NA PERMEABILIDADE DA MEMBRANA Vários mecanismos bioquímicos podem contribuir para os danos à membrana: 1- Diminuição da síntese de fosfolipídios – devido à queda dos níveis de ATP OBS: reduz também a síntese dos fosfolipídios mitocondriais o que exacerba ainda mais a perda de ATP. 2- Aumento da degradação dos fosfolipídios – devido à ativação das fosfolipases endógenas por elevação dos níveis de cálcio citosólico. 3- ERO – através da peroxidação lipídica. 4- Alterações do citoesqueleto – devido à ação das proteases pelo cálcio citosólico aumentado. 5- Produtos de degradação de lipídios – Produzem efeito detergente sobre as membranas. Além disso, podem se inserir na bicamada lipídica ou trocar de posição com os fosfolipídios da membrana, causando alterações na permeabilidade e alterações eletrofisiológicas. ➔ Os sítios mais importantes da membrana durante a lesão celular são as membranas mitocondriais, plasmática e lisossômicas. DANOS AO DNA E ÀS PROTEÍNAS - Lesões de DNA ou ptn impropriamente dobradas, se não forem reparados levam à morte celular por apoptose. CORRELAÇÕES CLINICOPATOLÓGICAS: EXEMPLOS DE LESÃO CELULAR E NECROSE ➔ Lesão isquêmica e hipóxica: a isquemia lesa os tecidos mais rapidamente que a hipóxia, pois a isquemia também compromete a distribuição de substratos para a glicólise, comprometendo, assim, a geração de energia anaeróbica. As principais alterações celulares em células privadas de oxigênio são a diminuição de geração de ATP, lesão mitocondrial e acumulação de ERO, com suas consequências. A lesão irreversível está associada à intensa tumefação das mitocôndrias, lesão intensa das membranas plasmáticas e tumefação dos lisossomos. ➔ Lesão de Isquemia-Reperfusão: sob certas circunstâncias, a restauração do fluxo sanguíneo para tecidos isquêmicos, mas não mortos, resulta, paradoxalmente em morte das células que não estavam irreversivelmente lesadas. Por que isso ocorre? 1- Uma nova lesão pode ocorrer devido à reoxigenação, pois haverá um aumento da produção de ERRO pelas células endoteliais, do parênquima e dos leucócitos infiltrantes. 2- A inflamação – induzida pela lesão isquêmica – pode aumentar com a reperfusão devido ao influxo aumentado de leucócitos e ptn plasmáticas. ➔ Lesão química (tóxica) 1- Algumas substâncias atuam diretamente pela combinação com um componente molecular crítico ou com uma organela celular. Ex: envenenamento por mercúrio – o mercúrio se liga aos grupamentos sulfidrila das várias ptn de membrana celular, causando inibição do transporte dependente de ATP e aumento da permeabilidade da membrana. 2- Algumas substâncias não são biologicamente ativas, mas devem ser primeiro convertidas a metabólitos tóxicos reativos, que então agem sobre as células-alvo → Essa modificação é geralmente realizada pelo citocromo P-450 no REL do fígado e outros órgãos. APOTOSE É uma via de morte celular, induzida por um programa de suicídio estritamente regulado no qual as células destinadas a morrer ativam enzimas que degradam seu próprio DNA e as ptn nucleares e citoplasmáticas. As células mortas e seus fragmentos são removidos antes que seus conteúdos extravasem,por isso, a morte celular por essa via não induz uma reação inflamatória. OBS: a apoptose e a necrose algumas vezes coexistem, e a apoptose induzida por alguns estímulos patológicos progride para a necrose. CAUSAS DA APOPTOSE: eliminar células prejudiciais e células que tenham sobrevivido mais que sua utilidade. É um evento patológico quando as células são lesadas de modo irreparável – quando a lesão afeta o DNA ou as ptn da célula. É importante nas seguintes situações fisiológicas: 1- Destruição programada de células durante a embriogênese. 2- Involução de tecidos hormônios-dependentes sob privação de hormônio. Ex: regressão da mama após o desmame. 3- Perda celular em populações celulares proliferativas 4- Morte de células que já tenham cumprido seu papel. Ex: neutrófilos na resposta inflamatória aguda e os linfócitos ao término da resposta imune. 5- Eliminação de linfócitos autorreativos potencialmente nocivos – para impedir reações contra os tecidos da própria pessoa. 6- Morte celular induzida por linfócitos T citotóxicos – mecanismo que mata e elimina células neoplásicas e infectadas por vírus. MECANISMOS DA APOPTOSE ➔ A apoptose resulta da ativação de enzimas chamadas caspases. Duas vias distintas convergem para a ativação de caspase: a via mitocondrial e via receptor de morte. Via mitocondrial (Intrínseca) da apoptose ➔ As mitocôndrias contêm uma série de ptn que são capazes de induzir a apoptose – citocromo c e outras ptn que neutralizam inibidores endógenos da apoptose. Quando as células são privadas de fatores de crescimento e outros sinais de sobrevivência ou são expostas a agentes que lesam o DNA ou acumulam quantidades inaceitáveis de ptn anormalmente dobradas, um grupo de sensores – da família Bcl-2 – é ativado. Esses sensores ativam membros pró-apoptóticos – das famílias Bax e Bak – que formam canais na membrana mitocondrial, permitindo o extravasamento do citocromo c para o citosol da célula. Além disso, esses sensores inibem moléculas antiapoptóticas. O citocromo c, em conjunto com alguns cofatores, ativa a caspase 9. Assim, haverá a ativação da cascata de caspases, o que leva à fragmentação nuclear. De modo contrário, se as células forem expostas a fatores de crescimento e outros sinais de sobrevivência, eles sintetizarão membros antiapoptóticos da família Bcl-2. Essas ptn antagonizam Bax e Bak, limitando o espace das ptn mitocondriais pró-apoptóticas. Via receptor de morte da apoptose (Extrínseca) ➔ Muitas células expressam moléculas de superfície, chamadas receptores de morte (da família do fator de necrose tumoral TNF), que disparam a apoptose. Os receptores de morte prototípicos são do tipo TNF I e Faz. O ligante de Faz (Fas-L) é uma ptn de membrana expressa em linfócitos T ativados. Quando essas células T reconhecem os alvos que expressam Fas, as moléculas Fas são ligadas em relação cruzada pelo Fas-L e ptn de ligação adaptadoras via domínio de morte. Essas ptn ativam a caspase 8 – pode clivar e ativar um membro pró-apoptótico da família Bcl-2, chamado de Bid, portanto dentro da vida mitocondrial. A ativação combinada de ambas as vias lança um golpe letal para a célula. OBS → FLIP – antagonista de caspase chamado FLIP bloqueia a cascata de ativação das caspases dos receptores de morte. Alguns vírus produzem homólogos de FLIP (mecanismo usado pelos vírus para manter as células infectadas vivas). Ativação e função das caspases ➔ As vias mitocondrial e de receptor de morte levam à ativação de caspases desencadeantes, caspase 9 e 8, respectivamente. Essas enzimas, quando ativadas, são produzidas e clivam outras caspases chamadas de caspases executoras. Essas caspases clivam numerosos alvos, ativando as nucleases que degradam nucleoproteínas e o DNA. Remoção das células apoptóticas ➔ As células apoptóticas atraem os fagócitos ao soltar fatores solúveis. A fosfatidilserina, nas células apoptóticas, move-se para fora e é expresso no folheto externo da membrana, onde é reconhecido pelos macrófagos, levando à fagocitose das células apoptóticas. Isso facilita a remoção imediata das células mortas, antes que sofram uma segunda lesão de membrana e liberem seus conteúdos celulares – e gere inflamação. Exemplos de apoptose: privação de fator de crescimento, lesão de DNA, acúmulo de proteínas anormalmente dobradas, apoptose de linfócitos autorreativos, apoptose mediada por linfócito T citotóxico (Linfócitos T citotóxicos reconhecem antígenos estranhos, apresentados na superfície de células hospedeiras infectadas e de tumorais).
Compartilhar