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As células são participantes ativos em seu ambiente, ajustando constantemente sua estrutura e função para se adaptarem às demandas de alterações e de estresse extracelular. Quando encontram um estresse fisiológico ou um estímulo patológico, podem sofrer uma adaptação, alcançando um novo estado constante, preservando sua viabilidade e função. As principais respostas adaptativas são hipertrofia, hiperplasia, atrofia e metaplasia.. Se a capacidade adaptativa é excedida ou se o estresse externo é nocivo, desenvolve-se a lesão celular. Dentro de certos limites, a lesão é reversível e as células retornam a um estado basal estável; entretanto, um estresse grave e persistente resulta em lesão irreversível e morte das células afetadas. As adaptações são alterações reversíveis em número, tamanho, fenótipo, atividade metabólica ou das funções celulares em resposta às alterações no seu ambiente. As adaptações fisiológicas normalmente representam respostas celulares à estimulação normal pelos hormônios ou mediadores químicos endógenos (p. ex., o aumento da mama e do útero, induzido por hormônio, durante a gravidez). As adaptações patológicas são respostas ao estresse que permitem às células modularem sua estrutura e função escapando, assim, da lesão Hipertrofia A hipertrofia é um aumento do tamanho das células que resulta em aumento do tamanho do órgão, ou seja, não existem células novas, apenas células maiores, contendo quantidade aumentada de proteínas estruturais e de organelas. Esse processo ocorre quando as células possuem capacidade limitada de se dividir, diferentemente da hiperplasia. A hipertrofia pode ser fisiológica, como exemplo disso temos a adaptação do útero ao processo de gravidez onde ocorre uma hipertrofia e uma hiperplasia do músculo liso estimulado pelo estrogênio para receber o bebê e a células musculares estriadas do músculo esquelético as quais sofrem hipertrofia após sessões de levantamento de peso já que no adulto elas possuem uma capacidade limitada de divisão. Ou patológica, tendo como exemplo o aumento cardíaco que ocorre por hipertensão ou doença de valva aórtica. A hipertrofia é causada por um desses 3 motivos: 1. Pelo aumento da demanda funcional 2. Por fatores de crescimento 3. Estimulação hormonal específica. Hipertrofia cardíaca Os mecanismos que influenciam a hipertrofia cardíaca envolvem, pelo menos, dois tipos de sinais: os desencadeantes mecânicos, como o estiramento, e os desencadeantes tróficos, que tipicamente são mediadores solúveis que estimulam o crescimento celular, como fatores de crescimento e hormônios adrenérgicos. Esses estímulos acionam as vias de transdução de sinais que levam à indução de vários genes que estimulam a síntese de numerosas proteínas celulares, incluindo fatores de crescimento e proteínas estruturais. O resultado disso é mais miofilamentos por célula, o que aumenta a força gerada com cada contração, permitindo que a célula alcance melhor desempenho. Porém, existe um limite depois do qual o aumento da massa muscular não pode mais compensar a sobrecarga. E é aqui que tá o problema.. Quando isso acontece no coração ocorrem várias alterações “degenerativas” nas fibras miocárdicas como fragmentação e a perda dos elementos contráteis das miofibrilas. Isso ocorre pois existem limites finitos: 1. Da vascularização para suprir adequadamente as fibras aumentadas 2. Das mitocôndrias para suprir o trifosfato de adenosina (ATP) ou 3. Da maquinaria biossintética para produzir as proteínas contráteis ou outros elementos do citoesqueleto. O resultado dessas alterações é a dilatação ventricular e, posteriormente, a falência cardíaca. Acontece que se o aumento da demanda não for atenuado ou se o miocárdio for submetido a um fluxo sanguíneo reduzido (isquemia) devido a uma oclusão em artéria coronária, as células musculares sofrerão lesão. Esse miocárdio pode ser lesado de modo reversível se o estresse for leve ou se a oclusão arterial for incompleta ou breve, ou pode sofrer lesão irreversível e morte celular (infarto) após oclusão completa e prolongada Hiperplasia A hiperplasia ocorre se o tecido contém populações celulares capazes de se dividir. É um processo que ocorre simultaneamente com a hipertrofia e sempre em resposta ao mesmo estímulo. Essa hiperplasia é estimulada por fatores de crescimento e pode ser de dois tipos: fisiológica ou patológica A hiperplasia fisiológica é dividida ainda em 2 grupos: hiperplasia hormonal, exemplificada pela proliferação do epitélio glandular da mama feminina na puberdade e durante a gravidez e a hiperplasia compensatória, na qual têm-se o crescimento de tecido residual após a remoção ou perda da porção de um órgão. Por exemplo, quando o fígado é parcialmente removido, ocorre uma atividade mitótica das células restantes restaurando o fígado ao seu peso normal. Após a restauração da massa do fígado, a proliferação celular é “desligada” pelos vários inibidores de crescimento. Já a hiperplasia patológica é causada por estimulação excessiva hormonal ou por fatores do crescimento. Exemplo disso é uma desregulação na proliferação do epitélio uterino, resultando em um sangramento que ultrapassa o período menstrual normal. Essa desregulação se dá pela falha da progesterona em controlar o estrogênio ovariano durante o ciclo Em todos esses processos, a hiperplasia é controlada., ou seja, se os sinais que a iniciam cessam, a hiperplasia desaparece. É essa sensibilidade aos mecanismos de controle de regulação normal que diferencia as hiperplasias patológicas benignas do câncer. Lá os mecanismos de controle do crescimento tornam-se desregulados ou ineficazes Atrofia É a diminuição do tamanho da célula, pela perda de substância celular, resultando na diminuição de todo órgão envolvido. As causas da atrofia incluem a: 1. Diminuição da carga de trabalho 2. A perda da inervação 3. A diminuição do suprimento sanguíneo 4. A nutrição inadequada 5. A perda da estimulação endócrina e o envelhecimento (atrofia senil). Dentre as consequências dessa atrofia temos a: 1. Diminuição da síntese proteica por conta da redução da atividade metabólica 2. A degradação das proteínas celulares pela via ubiquitina-proteassoma 3. Aumento da autofagia, que é o processo no qual a célula privada de nutrientes digere seus próprios componentes no intuito de encontrar nutrição necessária para sobreviver Ou seja, há um desequilíbrio entre o balanço energético: queda do anabolismo e aumento do catabolismo Metaplasia É uma alteração reversível onde um tipo celular adulto (epitelial ou mesenquimal) é substituído por outro tipo celular adulto substituída por outro tipo celular mais capaz de suportar o ambiente hostil. Exemplo disso é mudança escamosa que ocorre no epitélio respiratório em fumantes habituais de cigarros. As células epiteliais normais colunares e ciliadas da traqueia e dos brônquios são substituídas por células epiteliais escamosas estratificadas pois essas células tornam-se mais capaz de sobreviver às substâncias químicas do cigarro do que o epitélio anterior, mais frágil. Mesmo assim, importantes mecanismos de proteção são perdidos, como a secreção de muco e a remoção pelos cílios de materiais particulados. Além disso, as influências que induzem a transformação metaplásica, se persistirem, podem predispor à transformação maligna do epitélio. Acredita-se que, fumar cigarros cause a metaplasia escamosa e, mais tarde, os cânceres surjam em alguns desses focos alterados A lesão celular ocorre quando as células são estressadas tão excessivamente que não são mais capazes de se adaptar, quando são expostas a agentes lesivos ou são prejudicadas por anomalias intrínsecas. A lesão então pode progredir de um estágio reversível para morte celular. Todos os estresses e influências nocivas exercemseus efeitos, primeiro, em nível molecular ou bioquímico e a função celular pode ser perdida antes que ocorra a morte celular propriamente dita As causas da lesão celular variam de trauma físico grosseiro de um acidente de automóvel a defeito em um único gene que resulta em uma enzima defeituosa, caracterizando uma doença metabólica específica. Hipóxia A hipóxia seria a deficiência de oxigênio a qual interfere na respiração oxidativa aeróbica A causa mais comum da hipóxia é a isquemia, que seria a perda do suprimento sanguíneo em um tecido devido ao impedimento do fluxo arterial ou à redução da drenagem venosa. A deficiência de oxigênio pode resultar também da oxigenação inadequada do sangue, como na pneumonia, ou por redução da capacidade do sangue em transportar oxigênio, como na anemia ou envenenamento por monóxido de carbono (CO) já que esta substância forma um complexo estável com a hemoglobina que impede a ligação ao oxigênio. Agentes químicos Uma grande quantidade de substâncias químicas pode lesar as células, como glicose, o sal ou mesmo água, se absorvidas ou administradas em excesso podem perturbar o ambiente osmótico, resultando em lesão ou morte celular. Além disso, os venenos também causam severos danos em nível celular por alterarem a permeabilidade da membrana, a homeostasia osmótica ou a integridade de uma enzima ou cofator Agentes Infecciosos Agentes que podem variar desde vírus submicroscópicos a tênias grandes Reações Imunológicas Embora o sistema imune defenda o corpo contra micróbios patogênicos, as reações imunes podem também resultar em lesão à célula ou ao tecido. Os exemplos incluem as reações autoimunes contra os próprios tecidos e as reações alérgicas contra substâncias ambientais, em indivíduos geneticamente suscetíveis a isso Fatores Genéticos As variações genéticas (polimorfismos) podem influenciar também a suscetibilidade das células a lesão por substâncias químicas e outras lesões ambientais. Desequilíbrios nutricionais As deficiências nutricionais são caracterizadas como a principal causa de lesão célula. Em contrapartida, o excesso nutricional também aumenta consideravelmente o risco para diabetes melito tipo 2, está fortemente implicado no desenvolvimento da aterosclerose, além de aumentar a vulnerabilidade a muitas desordens, incluindo o câncer. Agentes Físicos O trauma, os extremos de temperatura, a radiação, o choque elétrico e as alterações bruscas na pressão atmosférica exercem profundos efeitos nas células Envelhecimento A senescência celular leva a alterações nas habilidades replicativas e de reparo das células e tecidos. Essas alterações levam à diminuição da capacidade de responder ao dano e, consequentemente, à morte das células e do organismo Lesão reversível Nos estágios iniciais ou nas formas leves de lesão, as alterações morfológicas e funcionais são reversíveis se o estímulo nocivo for removido. Nesse estágio, embora existam anomalias estruturais e funcionais significativas, a lesão ainda não progrediu para um dano severo à membrana e dissolução nuclear. As duas principais características morfológicas da lesão celular reversível são a tumefação celular e a degeneração gordurosa A tumefação celular é resultado da falência das bombas de íons dependentes de energia na membrana plasmática, levando a uma incapacidade de manter a homeostasia iônica e líquida. o. Quando afeta muitas células em um órgão, causa alguma palidez (resultante da compressão dos capilares), aumento do turgor e aumento do peso do órgão. A degeneração gordurosa ocorre na lesão hipóxica e em várias formas de lesão metabólica ou tóxica. Manifesta-se pelo surgimento de vacúolos lipídicos, grandes ou pequenos, no citoplasma.. Ela é encontrada principalmente em células que participam do metabolismo da gordura (p. ex., hepatócitos e células miocárdicas). As alterações intracelulares associadas a lesão reversível incluem: 1. Alterações na membrana plasmática, como bolhas, apagamento ou distorção das microvilosidades e perda das adesões intercelulares 2. Alterações mitocondriais, como tumefação e presença de densidades amorfas ricas em fosfolipídios; 3. Dilatação do RE 4. Alterações nucleares Algumas lesões nocivas induzem alterações específicas nas organelas celulares, como o retículo endoplasmático. O retículo endoplasmático agranular está envolvido no metabolismo de vários agentes químicos, e as células expostas a esses agentes exibem a hipertrofia do retículo endoplasmático como uma resposta adaptativa que pode ter consequências funcionais. Por exemplo, o uso de certos fármacos, como barbitúricos, leva a um estado de tolerância, com diminuição do efeito dessa droga e necessidade de doses maiores. Mesmo que algumas enzimas dentro desse retículo tenham uma função de “detoxificação”, muitos compostos são convertidos em mais nocivos por esse processo. As células que foram adaptadas a uma droga, possuem capacidade aumentada de metabolizar outros compostos pelo mesmo sistema. Exemplo disso é a ingesta de álcool concomitantemente a alguns fármacos, os quais sofrem uma queda no nível de concentração sanguínea por conta da indução do retículo endoplasmático agranular em resposta ao álcool Morte celular Com a persistência do dano, a lesão torna-se irreversível e, com o tempo, a célula não pode se recuperar e morre. Se as alterações bioquímicas e moleculares que antecipam a morte celular puderem ser identificadas com precisão, é possível traçar estratégias para prevenir a transição de lesão celular reversível para irreversível. Dois fenômenos caracterizam consistentemente a irreversibilidade: a incapacidade de reverter a disfunção mitocondrial (perda da fosforilação oxidativa e geração de ATP) mesmo depois da resolução da lesão original e os profundos distúrbios na função da membrana. Existem dois tipos de morte celular — necrose e apoptose. Necrose Quando o dano às membranas é acentuado, as enzimas extravasam dos lisossomos, entram no citoplasma e digerem a célula, resultando em necrose. Os conteúdos celulares também extravasam através da membrana plasmática lesada e iniciam uma reação (inflamatória) no hospedeiro., no intuito de eliminar as células mortas e iniciar o processo de reparo subsequente Padrões de necrose tecidual A necrose de um conjunto de células em um tecido ou órgão, por exemplo, na isquemia miocárdica, resulta em morte de todo o tecido e, algumas vezes, do órgão inteiro. Existem vários padrões morfológicos distintos de necrose tecidual os quais podem fornecer pistas sobre a causa básica. A necrose de coagulação é a forma de necrose tecidual na qual a arquitetura básica dos tecidos mortos é preservada por alguns dias. Os tecidos afetados adquirem textura firme. A lesão desnatura não apenas as proteínas estruturais, como também as enzimas, bloqueando assim a proteólise das células mortas; as células persistem por dias ou semanas. Os leucócitos, então, são recrutados para o sítio da necrose e suas enzimas lisossômicas digerem as células mortas. Finalmente, os restos celulares são removidos por fagocitose. Essa necrose é característica de infartos (áreas de necrose isquêmica) em todos os órgãos sólidos, exceto o cérebro A necrose liquefativa é observada em infecções bacterianas ou em algumas infecções fúngicas porque os micróbios estimulam o acúmulo de células inflamatórias e as enzimas dos leucócitos a digerirem o tecido. Seja qual for a patogenia, a liquefação digere completamente as células mortas, resultando em transformação do tecido em uma massa viscosa líquida. Finalmente, o tecido digerido é removido por fagocitose. Se o processo foi iniciado por inflamação aguda, como na infecção bacteriana, o material é frequentemente amarelo cremoso e é chamado de pus. A necrose gangrenosa refere-se a um membro, comumentea perna, que tenha perdido seu suprimento sanguíneo e que sofreu necrose de coagulação, envolvendo várias camadas de tecido. Quando uma infecção bacteriana se superpõe, a necrose de coagulação é modificada pela ação liquefativa das bactérias e dos leucócitos atraídos (resultando na chamada gangrena úmida). A necrose caseosa é encontrada mais frequentemente em focos de infecção tuberculosa. A área de necrose caseosa é frequentemente encerrada dentro de uma borda inflamatória nítida; essa aparência é característica de um foco de inflamação conhecido como granuloma A necrose gordurosa refere-se a áreas de destruição gordurosa, tipicamente resultantes da liberação de lipases pancreáticas ativadas na substância do pâncreas e na cavidade peritoneal. Isso ocorre na pancreatite aguda. Nesse distúrbio, as enzimas pancreáticas que escapam das células acinares e dos ductos liquefazem as membranas dos adipócitos do peritônio, e as lipases dividem os ésteres de triglicerídeos contidos nessas células. Os ácidos graxos liberados combinam-se com o cálcio, produzindo áreas brancas macroscopicamente visíveis A necrose fibrinoide é uma forma especial de necrose, visível à microscopia óptica, geralmente observada nas reações imunes, nas quais complexos de antígenos e anticorpos são depositados nas paredes das artérias. Visível geralmente em doenças imunologicamente mediadas O extravasamento de proteínas intracelulares através da membrana celular rompida e, posteriormente, para a circulação fornece meios de detectar a necrose tecido-específica, usando-se amostras de sangue ou de soro. A lesão irreversível e a morte celular nos tecidos são caracterizadas por níveis séricos aumentados de proteínas que são específicas de determinados órgãos, e as medidas desses níveis séricos são usadas clinicamente para diagnosticar o dano a esses tecidos. Apoptose Quando a célula é privada de fatores de crescimento ou quando o DNA celular ou as proteínas são danificadas sem reparo, a célula se suicida por outro tipo de morte, chamado apoptose, que é caracterizada pela dissolução nuclear sem a perda da integridade da membrana, ou seja, não desencadeia uma resposta inflamatória. Enquanto a necrose constitui sempre um processo patológico, a apoptose auxilia muitas funções normais e não está necessariamente associada à lesão celular patológica. Entretanto, a necrose e a apoptose podem coexistir, e a apoptose induzida por alguns estímulos patológicos progride para a necrose. Apoptose em situações fisiológicas A morte por apoptose é um fenômeno normal que funciona para eliminar as células que não são mais necessárias e para manter, nos tecidos, um número constante das várias populações celulares. 1. Destruição programada de células durante a embriogênese. O desenvolvimento normal está associado à morte de algumas células e ao surgimento de novas células e tecidos. 2. Involução de tecidos hormônios-dependentes sob privação de hormônio, tal como a célula endometrial, que se desprende durante o ciclo menstrual, e a regressão da mama após o desmame. 3. Morte de células que já tenham cumprido seu papel, como os neutrófilos na resposta inflamatória aguda e os linfócitos, ao término da resposta imune. Nessas situações, as células sofrem apoptose porque estão privadas dos sinais de sobrevivência necessários, como os fatores de crescimento. 4. Eliminação de linfócitos autorreativos e nocivos, antes ou depois de eles terem completado sua maturação, para impedir reações contra os tecidos da própria pessoa 5. Morte celular induzida por linfócitos T citotóxicos que constitui mecanismo de defesa contra viroses e tumores que mata e elimina células neoplásicas e infectadas por vírus Apoptose em condições patológicas A apoptose elimina células que estão geneticamente alteradas ou lesadas de modo irreparável, sem iniciar uma reação severa no hospedeiro, mantendo mínima a lesão tecidual 1. Lesão de DNA: a radiação, as drogas citotóxicas anticâncer, os extremos de temperatura e mesmo a hipóxia podem lesar o DNA diretamente ou através da produção de radicais livres. Se os mecanismos de reparo não podem competir com a lesão, a célula dispara mecanismos intrínsecos que induzem a apoptose. Esses estímulos nocivos causam apoptose se a lesão é leve, mas doses maiores do mesmo estímulo resultam em morte celular por necrose. 2. Acúmulo de proteínas anormalmente dobradas. As proteínas impropriamente dobradas podem surgir de mutações nos genes que codificam essas proteínas ou devido a fatores extrínsecos, como a lesão causada por radicais livres. O acúmulo excessivo dessas proteínas no RE leva a uma condição conhecida como estresse do RE, que culmina em morte apoptótica das células. Mecanismos da apoptose A apoptose resulta da ativação de enzimas chamadas caspases. A ativação dessas caspases depende de um equilíbrio finamente sintonizado entre vias moleculares pró e antiapoptóticas. Duas vias distintas convergem para a ativação de caspase: via mitocondrial e via receptor de morte. Via Mitocondrial (Intrínseca) da Apoptose As mitocôndrias contêm uma série de proteínas que são capazes de induzir apoptose; essas proteínas incluem o citocromo ce outras proteínas que neutralizam inibidores endógenos da apoptose. Quando as células são privadas de fatores de crescimento e outros sinais de sobrevivência ou são expostas a agentes que lesam o DNA ou acumulam quantidades inaceitáveis de proteínas anormalmente dobradas, um grupo de sensores é ativado. Esses sensores são membros da família Bcl-2, as chamadas “proteínas BH3” Eles ativam dois membros pró-apoptóticos das famílias chamadas Bax e Bak, que se dimerizam e se inserem dentro da membrana mitocondrial, formando canais através dos quais o citocromo c e outras proteínas mitocondriais extravasam para o citosol. O citocromo c, em conjunto com alguns cofatores, ativa a caspase 9. O resultado final é a ativação da cascata de caspases, levando, finalmente, à fragmentação nuclear De modo contrário, se as células forem expostas a fatores de crescimento e outros sinais de sobrevivência, elas sintetizarão membros antiapoptóticos da família Bcl-2. Essas proteínas antagonizam Bax e Bak, limitando, portanto, o escape das proteínas mitocondriais pró- apoptóticas. Via receptor de morte da apoptose (Extrínseca) Muitas células expressam moléculas de superfície, chamadas receptores de morte, que disparam a apoptose. A maioria dessas moléculas são receptores membros da família do fator de necrose tumoral (TNF) que contêm em suas regiões citoplasmáticas um “domínio de morte”. Os receptores de morte prototípicos são do tipo TNF I e Fas (CD95). O ligante de Fas (Fas-L) é uma proteína de membrana expressa, principalmente, em linfócitos T ativados. Quando essas células T reconhecem os alvos que expressam Fas, as moléculas Fas são ligadas pelo Fas-L e proteínas de ligação adaptadoras via domínio de morte. Estas, por sua vez, recrutam e ativam a caspase 8. Em muitos tipos celulares, a caspase 8 pode clivar e ativar um membro pró--apoptótico da família Bcl-2, ou seja, dentro da via mitocondrial. A ativação combinada de ambas as vias caracteriza um golpe letal para a célula. As proteínas celulares funcionam como um antagonista de caspase chamado FLIP, bloqueia a cascata de ativação das caspases dos receptores de morte. De modo interessante, alguns vírus produzem homólogos de FLIP, e tem sido sugerido que isso seja um mecanismo usado pelos vírus para manter as células infectadas vivas. A via receptor de morte está envolvida na eliminação de linfócitos autorreativos e na eliminação de células-alvo por alguns linfócitos T citotóxicos. Ativação e Função das Caspases As vias mitocondrial e de receptor de morte levam à ativação de caspases desencadeantes, caspase 9 e 8, respectivamente. As formas ativas dessasenzimas são produzidas e clivam outra série de caspases chamadas de caspases executoras. Essas caspases ativadas clivam numerosos alvos, culminando na ativação das nucleases, que degradam as nucleoproteínas e o DNA. As caspases degradam também os componentes da matriz nuclear e do citoesqueleto, promovendo a fragmentação das células. Remoção das Células Apoptóticas As células apoptóticas atraem os fagócitos produzindo sinais. Em células saudáveis, a fosfatidilserina está presente no folheto interno da membrana plasmática, mas nas células apoptóticas esse fosfolipídio move-se para fora e é expresso no folheto externo da membrana, onde é reconhecido pelos macrófagos, levando à fagocitose das células apoptóticas. As células que estão morrendo por apoptose secretam também fatores solúveis que recrutam os fagócitos. Isso facilita a remoção imediata das células mortas, antes que sofram uma segunda lesão de membrana e liberem seus conteúdos celulares, resultando em uma inflamação Alguns corpos apoptóticos expressam glicoproteínas adesivas que são reconhecidas pelos fagócitos, e os próprios macrófagos podem produzir proteínas que se ligam às células apoptóticas (mas não às células vivas) e direcionam a morte das células por engolfamento Exemplos de apoptose Privação de Fator de Crescimento As células sensíveis a hormônios, privadas de um hormônio relevante, os linfócitos que não são estimulados por antígenos e citocinas, e os neurônios privados de fator de crescimento nervoso morrem por apoptose. Em todas essas situações, a apoptose é iniciada pela via mitocondrial e é atribuível à ativação de membros pró-apoptóticos da família Bcl-2 Lesão de DNA A exposição das células à radiação ou a agentes quimioterápicos induz lesão de DNA e, se a lesão for muito grave para ser reparada, dispara a morte por apoptose. Quando o DNA é lesado, a proteína p53 se acumula nas células. Primeiro, ela interrompe o ciclo celular (na fase G1) para conceder tempo para o reparo do DNA, antes de sua replicação. Entretanto, se o dano for grande para ser reparado com sucesso, a p53 desencadeia a apoptose, principalmente por estimulação dos sensores que ativam Bax e Bak, e por aumento da síntese de membros pró-apoptóticos da família Bcl-2. Quando a p53 está mutada ou ausente (como em certos cânceres), é incapaz de induzir apoptose, de modo que as células com o DNA lesado sobrevivem. Nessas células, a lesão de DNA pode resultar em mutações ou rearranjos (p. ex., translocações) que levam à transformação neoplásica Acúmulo de Proteínas Anormalmente Dobradas: Estresse do RE Durante a síntese normal de proteínas, as chaperonas, no RE, controlam o dobramento de proteínas recentemente sintetizadas, sendo que os polipeptídios mal dobrados são ubiquitinados e direcionados para a proteólise e. Entretanto, se proteínas não dobradas ou anormalmente dobradas se acumulam no RE uma resposta celular protetora é induzida, chamada de resposta de proteína não dobrada. Essa resposta ativa as vias de sinalização que aumentam a produção de chaperonas e retardam a translação da proteína, reduzindo, os níveis de proteínas mal dobradas na célula. Em circunstâncias nas quais o acúmulo de proteínas mal dobradas ultrapassa essas adaptações, o resultado é o estresse do RE, que ativa caspases que levam à apoptose. pode causar doenças pela redução da disponibilidade da proteína normal ou por induzir a lesão celular A morte celular causada por uma proteína anormalmente dobrada é atualmente reconhecida como característica de uma gama de doenças neurodegenerativas, incluindo as doenças de Alzheimer e Parkinson, e provavelmente diabetes tipo II Apoptose de Linfócitos Autorreativos Linfócitos capazes de reconhecer antígenos próprios são produzidos normalmente em todos os indivíduos. Se esses linfócitos encontram antígenos próprios, as células morrem por apoptose. A via mitocondrial e a via receptor de morte Fas têm sido implicadas nesse processo.. A deficiência de apoptose dos linfócitos autorreativos é uma das causas de doenças autoimunes. Apoptose Mediada por Linfócito T Citotóxico Sob ativação, os grânulos dos LTC contendo proteases chamadas de granzimas penetram nas células-alvo. As granzimas clivam as proteínas nos resíduos de aspartato ativando uma série de caspases celulares. Desse modo, o LTC elimina as células-alvo induzindo diretamente a fase efetora da apoptose, sem a participação das mitocôndrias ou dos receptores de morte. Os LTCs também expressam Fas-L em sua superfície e podem eliminar células-alvo pela ligação dos receptores de Fas. Existem alguns princípios gerais para a maioria das formas de lesão celular: 1. A resposta celular ao estímulo nocivo depende do tipo de lesão, sua duração e sua gravidade. 2. As consequências de um estímulo nocivo dependem do tipo e fenótipo genético da célula lesada pois a mesma lesão gera diferentes resultados dependendo do tipo celular. Ex: o músculo estriado esquelético da perna se acomoda à isquemia completa por 2-3 horas sem lesão irreversível, já o músculo cardíaco morre depois de apenas 20-30 minutos Assim como a diversidade geneticamente programada nas vias metabólicas também contribui para as diferentes respostas aos estímulos. Exemplo disso é que quando expostos à mesma dose de um determinado fármaco, os indivíduos que herdam variantes nos genes capazes de codificá-los podem catabolizar a toxina em diferentes taxas, levando a diferentes resultados. Depleção de ATP O fosfato de alta energia, na forma de ATP, é necessário para todos os processos de síntese e degradação dentro da célula As principais causas de depleção de ATP são a redução do suprimento de oxigênio e nutrientes, o dano mitocondrial e as ações de algumas toxinas (p. ex., cianeto). A depleção significativa de ATP tem amplos efeitos em muitos sistemas celulares críticos: 1. A atividade da bomba de sódio na membrana plasmática dependente de ATP é reduzida, resultando em acúmulo intracelular de sódio e efluxo de potássio. Isso causa também a tumefação celular e dilatação do RE. 2. Ocorre aumento compensatório na glicólise anaeróbica, na tentativa de manter as fontes de energia celular. Como consequência, as reservas de glicogênio intracelular são rapidamente exauridas e o ácido lático se acumula, levando à diminuição do pH intracelular e à diminuição da atividade de muitas enzimas celulares. 3. A falência na bomba de Ca2+ leva ao influxo de Ca2+, com efeitos danosos em vários componentes celulares 4. A depleção prolongada ou crescente de ATP causa o rompimento estrutural do aparelho de síntese proteica. Ocorre o desprendimento dos ribossomos do retículo endoplasmático granular (REG) com causando redução da síntese proteica. Finalmente, ocorre dano irreversível às membranas mitocondriais e lisossômicas, e a célula sofre necrose. Danos e disfunções mitocondriais As mitocôndrias são sensíveis a vários tipos de estímulos nocivos, incluindo hipóxia, toxinas químicas e radiação e seus danos resultam em graves anormalidades bioquímicas como: 1. Falha na fosforilação oxidativa levando a depleção progressiva de ATP e posteriormente, na necrose da célula 2. Fosforilação oxidativa anormal leva também à formação de espécies reativas de oxigênio, com muitos efeitos deletérios 3. A lesão mitocondrial resulta na formação de um canal de alta condutância na membrana da mitocôndria chamado de poro de transição de permeabilidade mitocondrial. A abertura desse canal leva à perda do potencial de membrana da mitocôndria e à alteração do pH, comprometendo a fosforilação oxidativa. 4. As mitocôndrias contêm também várias proteínas que, quando liberadas para o citoplasma, informam à célula que há uma lesão interna e ativam a via de apoptose Influxo de cálcio O cálcio livre no citosol é mantido por transportadoresde cálcio dependentes de ATP, em concentrações menores do que a concentração do cálcio extracelular ou do cálcio intracelular presente nas mitocôndrias e no retículo endoplasmático. A isquemia e certas toxinas causam aumento da concentração do cálcio citosólico, inicialmente pela liberação de Ca2+ armazenado intracelularmente e do cálcio que resulta do influxo aumentado através da membrana plasmática. O aumento desse cálcio citosólico ativa várias enzimas, com efeitos celulares prejudiciais como: 1. Fosfolipases (que causam danos à membrana) 2. Proteases (que clivam as proteínas de membrana e do citoesqueleto) 3. Endonucleases (que são responsáveis pela fragmentação da cromatina e do DNA) 4. Trifosfatases de adenosina (ATPases), acelerando a depleção de ATP. Esse aumento dos níveis de Ca2+ intracelular resultam, também, na indução da apoptose, através da ativação direta das caspases e pelo aumento da permeabilidade mitocondrial. Acúmulo de radicais livres derivados do oxigênio (estresse oxidativo) Os radicais livres são espécies químicas que possuem um elétron não pareado em órbita externa. São extremamente instáveis e reagem prontamente com químicos orgânicos e inorgânicos; quando gerados nas células, atacam os ácidos nucleicos, várias proteínas e lipídios. As espécies reativas do oxigênio (ERO) são um tipo de radical livre derivado do oxigênio. ERO estão envolvidas em numerosas vias de sinalização celular e em muitas reações fisiológicas. Portanto, essas moléculas são produzidas normalmente, mas, para evitar seus efeitos lesivos, suas concentrações intracelulares são rigorosamente reguladas nas células saudáveis A lesão celular, em muitas situações, envolve danos causados pelos radicais livres; essas situações incluem: 1. a lesão de isquemia-reperfusão 2. a lesão química e por radiação 3. a toxicidade do oxigênio e outros gases 4. o envelhecimento celular 5. a destruição dos micróbios pelas células fagocíticas 6. a lesão tecidual causada por células inflamatórias. Existem diferentes tipos de ERO produzidos por duas vias principais 1. Normalmente as ERO são produzidas em pequenas quantidades, em todas as células, durante as reações de oxidação e redução que ocorrem durante a respiração e a geração de energia mitocondrial. Nesse processo, o oxigênio molecular é sequencialmente reduzido nas mitocôndrias através da adição de quatro elétrons para gerar água. Entretanto, essa reação é imperfeita, e pequenas quantidades de intermediários tóxicos altamente reativos são geradas quando o oxigênio é apenas parcialmente reduzido. Esses intermediários incluem: o superóxido (O2), que é convertido em peróxido de hidrogênio (H2O2) espontaneamente ou pela ação da superóxido dismutase, sendo esse H2O2 mais estável que o O2 e pode atravessar membranas biológicas. Na presença de metais, como Fe2+, o H2O2 é convertido ao radical hidroxila altamente reativo (OH) 2. As ERO são produzidas pelos leucócitos, principalmente neutrófilos e macrófagos, como uma arma para destruição de micróbios e outras substâncias durante a inflamação e defesa do hospedeiro. As ERO são geradas nos fagossomas e fagolisossomas dos leucócitos por um processo similar à respiração mitocondrial chamado como surto respiratório (ou surto oxidativo). Nesse processo, uma enzima da membrana do fagossoma catalisa a geração de superóxido, que é convertido a H2O2. O H2O2 é, por sua vez, convertido a um composto hipoclorito altamente reativo pela enzima mieloperoxidase, presente nos leucócitos. O óxido nítrico (NO) é outro radical livre reativo produzido pelos leucócitos e outras células. Ele pode reagir com o O2 e formar um composto altamente reativo, o peroxinitrito, que também participa da lesão celular. O dano causado pelos radicais livres é determinado por suas taxas de produção e remoção. Quando a produção de ERO aumenta ou quando os sistemas de remoção são ineficientes, o resultado é um excesso desses radicais livres que leva a uma condição chamada de estresse oxidativo Portanto, a geração de radicais livres aumenta sob várias circunstâncias: 1. Na absorção de energia radiante (luz ultravioleta, raios- x). pois essa radiação ionizante pode hidrolisar a água em radicais livres hidroxila (•OH) e hidrogênio (H•). 2. Na inflamação, onde os radicais livres são produzidos pelos leucócitos Sendo assim, as células desenvolveram múltiplos mecanismos para a remoção de radicais livres e, desse modo, minimizar a lesão. Existem vários sistemas enzimáticos e não enzimáticos que contribuem para a inativação das reações de radicais livres 1. A taxa de decomposição espontânea do superóxido é aumentada significativamente pela ação das superóxido dismutases (SODs) encontradas em muitos tipos celulares. 2. As glutationa peroxidases (GSH) constituem uma família de enzimas cuja principal função é proteger as células da lesão oxidativa. O membro mais abundante dessa família, a glutationa peroxidase 1, é encontrada no citoplasma de todas as células a qual é responsável pela degradação do H2O2 3. A catalase, presente nos peroxisomas, direciona a decomposição do peróxido de hidrogênio, caracterizada como uma das mais importantes enzimas conhecidas, capaz de degradar milhões de moléculas de H2O2 por segundo. 4. Os antioxidantes endógenos ou exógenos (p. ex., as vitaminas E, A, C e o b-caroteno) também podem bloquear a formação de radicais livres ou removê-los, uma vez que tenham sido formados As espécies reativas do oxigênio causam lesão celular através de três principais reações 1. Peroxidação lipídica das membranas: Ligações duplas de lipídios polinsaturados na membrana são vulneráveis ao ataque por EROs. As interações lipídio-radical geram peróxidos, que são instáveis e reativos, e culminam em uma reação em cadeia autocatalítica. 2. Ligação cruzada e outras alterações das proteínas: os radicais livres promovem ligação cruzada das proteínas mediadas por sulfidrila, resultando no aumento da degradação ou perda da atividade enzimática. As reações radicais livres também podem causar a fragmentação dos polipeptídios. 3. Lesões do DNA: As reações radicais livres com a timina no DNA mitocondrial e nuclear produzem quebra do filamento único no DNA. Essa lesão no DNA foi implicada na morte celular, envelhecimento celular e transformação maligna das células. Defeitos na permeabilidade da membrana O aumento da permeabilidade da membrana, levando posteriormente a lesão dessa membrana, é uma característica presente na maioria das formas de lesão celular que culmina em necrose. A membrana plasmática pode ser danificada por isquemia, várias toxinas microbianas, componentes líticos do complemento e por uma variedade de agentes químicos e físicos. Vários mecanismos bioquímicos podem contribuir para os danos à membrana 1. Diminuição da síntese de fosfolipídios.: nas células, a produção de fosfolipídios pode ser reduzida sempre que houver queda dos níveis de ATP, levando ao decréscimo das atividades enzimáticas dependentes de energia. A redução de síntese de fosfolipídios afeta todas as membranas celulares, incluindo as membranas mitocondriais 2. Aumento da degradação dos fosfolipídios.: uma lesão celular acentuada está associada ao aumento da degradação dos fosfolipídios da membrana, provavelmente devido à ativação de fosfolipases endógenas por elevação dos níveis de Ca2+ citosólico. 3. ER: os radicais livres do oxigênio causam lesão às membranas celulares através da peroxidação lipídica 4. Alterações do citoesqueleto: A ativação de proteases pelo Ca2+ citosólico aumentado pode danificar os elementos do citoesqueleto, levando a lesão da membrana. 5. Produtos de degradação de lipídios: são produtos que se acumulam nas células lesadas, em consequência da degradação fosfolipídica.. Possuem efeitodetergente sobre as membranas e se inserem na bicamada lipídica da membrana ou trocam de posição com os fosfolipídios da membrana, causando alterações na permeabilidade e alterações eletrofisiológicas. 6. Danos na membrana mitocondrial: como já discutido, os danos às membranas mitocondriais resultam em decréscimo da produção de ATP, culminando em necrose. 7. Danos à membrana plasmática: os danos à membrana plasmática levam à perda do equilíbrio osmótico e influxo de fluidos e íons, bem como à perda dos conteúdos celulares. As células podem, também, perder metabólitos que são vitais para a reconstituição do ATP 8. Danos às membranas lisossômicas resultam em extravasamento de suas enzimas para o citoplasma e ativação das hidrolases ácidas no pH intracelular ácido da célula lesada (p. ex., célula isquêmica). Os lisossomos contêm ribonucleares (RNases), DNases, proteases, glicosidases e outras enzimas. A ativação dessas enzimas leva à digestão enzimática dos componentes celulares, e a célula morre por necrose. Danos ao DNA e às Proteínas As células possuem mecanismos que reparam as lesões de DNA, porém se o dano é muito grave para ser corrigido (p. ex., após lesão por radiação ou estresse oxidativo) a célula inicia seu programa de suicídio e morre por apoptose Isquemia A isquemia, que seria a redução do fluxo sanguíneo para um tecido é a causa mais comum de lesão celular aguda na doença humana. Por conta dessa redução, a distribuição de substratos para a glicólise também fica comprometida. Consequentemente, a geração de energia anaeróbica também cessa nos tecidos isquêmicos depois que os substratos são exauridos ou quando a glicólise é inibida pela acumulação de metabólitos que normalmente poderiam ser removidos pelo fluxo sanguíneo. Por essa razão, a isquemia lesa os tecidos mais rapidamente que a hipóxia.. As principais alterações celulares em células privadas de oxigênio são a diminuição de geração de ATP, a lesão mitocondrial e a acumulação de ERO, sendo a diminuição da geração de ATP a mais importante na lesão hipóxica. A perda do ATP a perda de ATP ocasiona a falha de muitos sistemas celulares dependentes de energia, que incluem 1. Bombas de íons (levando à tumefação celular e ao influxo de Ca2+, com suas consequências deletérias); 2. Depleção dos estoques de glicogênio e acúmulo de ácido lático, diminuindo o pH intracelular; 3. Redução da síntese de proteínas Nesse estágio, as consequências funcionais podem ser graves. Por exemplo, o músculo cardíaco cessa a contração dentro de 60 segundos de oclusão coronária. Se a hipóxia continuar, a piora da depleção de ATP causará degeneração adicional, com perda das microvilosidades e a formação de “bolhas” Nesse ponto, toda a célula e suas organelas (mitocôndrias, RE) estão notavelmente tumefatas, com concentrações aumentadas de água, sódio e cloreto, e concentração reduzida de potássio. Se o oxigênio for restaurado, todas essas perturbações serão reversíveis e, no caso do miocárdio, a contratilidade retornará. Se a isquemia persistir, sobrevirá lesão irreversível e necrose. A lesão irreversível está associada à intensa tumefação das mitocôndrias, lesão intensa das membranas plasmáticas e tumefação dos lisossomos. Pode ocorrer influxo maciço de cálcio para dentro da célula e acumulação de ERO. A morte é principalmente por necrose, mas a apoptose também contribui; a via apoptótica é ativada pela liberação de moléculas pró- apoptóticas das mitocôndrias. Os componentes celulares são progressivamente degradados e há um extravasamento difuso das enzimas celulares para o espaço extracelular. Finalmente, as células mortas podem ser substituídas por grandes massas compostas de fosfolipídios na forma de figuras de mielina. Estas, então, são fagocitadas por leucócitos ou degradadas em ácidos graxos que podem se tornar calcificados. Isquemia-reperfusão A restauração do fluxo sanguíneo pode resultar em restauração das células se elas foram lesadas de modo reversível. No entanto, sob certas circunstâncias, a restauração do fluxo sanguíneo para tecidos isquêmicos, mas não mortos, resulta, paradoxalmente, em morte das células que não estavam irreversivelmente lesadas. Essa tão conhecida lesão de isquemia-reperfusão é um processo clinicamente importante que pode contribuir significativamente para danos no tecido, em infartos do miocárdio e isquemia cerebral. Vários mecanismos podem ser responsáveis pela exacerbação da lesão celular resultante da reperfusão dentro dos tecidos isquêmicos: 1. Uma nova lesão pode ser iniciada durante a reoxigenação. Quando o suprimento de oxigênio é aumentado, ocorre aumento correspondente na produção de ERO, especialmente porque a lesão mitocondrial leva a uma redução incompleta de oxigênio e devido à ação das oxidases dos leucócitos, das células endoteliais ou das células do parênquima. Os mecanismos de defesa antioxidantes celulares também podem ser comprometidos pela isquemia, favorecendo a acumulação de radicais livres. 2. A inflamação, que é induzida pela lesão isquêmica, pode aumentar com a reperfusão devido ao influxo aumentado de leucócitos e proteínas plasmáticas. Os produtos dos leucócitos ativados podem causar lesão adicional ao tecido. A ativação do sistema complemento também contribui para a lesão de isquemia-reperfusão. As proteínas do complemento ligam-se aos tecidos lesados ou a anticorpos depositados nos tecidos isquêmicos, e a ativação do complemento acentua a inflamação e a lesão celular. Lesão química (tóxica) Algumas substâncias químicas atuam diretamente pela combinação com um componente molecular crítico ou com uma organela celular. Por exemplo, no envenenamento por cloreto de mercúrio, o mercúrio se liga aos grupamentos sulfidrila das várias proteínas de membrana celular, causando inibição do transporte dependente de ATP e aumento da permeabilidade da membrana.. O maior dano é mantido pelas células que usam, absorvem, excretam ou concentram os compostos. Acúmulos intracelulares Em algumas circunstâncias, as células podem acumular quantidades anormais de várias substâncias. A substância pode estar localizada no citoplasma, no interior de organelas (tipicamente nos lisossomos) ou no núcleo, podendo ser sintetizadas pelas próprias células ou produzidas em qualquer outro lugar. Existem 4 vias principais de acúmulo intracelular: 1. Remoção inadequada de uma substância normal, secundária a defeitos no mecanismo de empacotamento e transporte 2. Acúmulo de uma substância endógena anormal resultante de defeitos adquiridos ou genéticos no seu dobramento, empacotamento, transporte e secreção 3. Deficiência em degradar um metabólito devido a defeito herdado em uma enzima. 4. Depósito e acúmulo de uma substância exógena anormal quando a célula não possui maquinaria enzimática para degradar a substância nem a habilidade de transportá-la para outros locais Degeneração Gordurosa (Esteatose) A degeneração gordurosa refere-se a qualquer acúmulo anormal de triglicerídeos dentro das células do parênquima.. Pode ser causada por toxinas, diabetes melito, obesidade e anóxia. Colesterol e Ésteres de Colesterol Entretanto, as células fagocíticas podem tornar-se sobrecarregadas com lipídios (triglicerídeos, colesterol e ésteres de colesterol) em vários processos patológicos diferentes. Deles, a aterosclerose é o mais importante. Proteínas Podem ocorrer porque os excessos são apresentados às células ou porque as células sintetizam quantidades excessivas. No rim, por exemplo, quantidades mínimas de albumina filtradas pelo glomérulo são normalmente reabsorvidas por pinocitose nos túbulos contorcidos proximais. Entretanto, em distúrbios com extravasamento maciço de proteína através do filtro glomerular ocorre reabsorção muito maior de proteína, e as vesículas contendo essa proteína seacumulam.. O processo é reversível Glicogênio Depósitos intracelulares excessivos de glicogênio estão associados a anormalidades no metabolismo da glicose ou do glicogênio. No exemplo clássico de metabolismo anormal da glicose, o diabetes melito, o glicogênio se acumula no epitélio dos túbulos renais, nos miócitos cardíacos e nas células b das ilhotas de Langerhans. O glicogênio também se acumula dentro de células em um grupo de distúrbios genéticos intimamente relacionados, coletivamente conhecidos como doenças de armazenamento de glicogênio ou glicogenoses Pigmentos Os pigmentos são substâncias coloridas exógenas, se originados fora do corpo, como o carbono, ou endógenas, sintetizadas dentro do próprio corpo, como lipofuscina, melanina certos derivados da hemoglobina 1. O pigmento exógeno mais comum é o carbono (um exemplo é a poeira de carvão), um poluente do ar que quando inalado, é fagocitado pelos macrófagos alveolares e transportado através de canais linfáticos para os linfonodos regionais na região traqueobrônquica. Os agregados desse pigmento escurecem os linfonodos e o parênquima pulmonar (antracose) 2. A lipofuscina, ou “pigmento do desgaste”, é um material intracelular granular, castanho-amarelado, que se acumula em vários tecidos (particularmente no coração, fígado e cérebro) como consequência do envelhecimento ou da atrofia. A lipofuscina é constituída por complexos de lipídios e proteínas que derivam da peroxidação catalisada por radicais livres, dos lipídios polinsaturados de membranas subcelulares. Não é nociva à célula, mas é importante como marcador de lesão antiga por radical livre. 3. A melanina é um pigmento endógeno, preto- acastanhado, produzido pelos melanócitos localizados na epiderme, e atua como protetor contra a radiação ultravioleta prejudicial. Embora os melanócitos sejam a única fonte de melanina, os queratinócitos basais adjacentes da pele podem acumular o pigmento (p. ex., nas sardas), assim como os macrófagos da derme. 4. A hemossiderina é um pigmento granular derivado da hemoglobina, amarelo a castanho-dourado, que se acumula em tecidos onde há excesso de ferro, local ou sistêmico. Normalmente, o ferro é armazenado no interior das células em associação com a proteína apoferritina, formando as micelas de ferritina. Embora o acúmulo de hemossiderina seja geralmente patológico, pequenas quantidades desse pigmento são normais nos fagócitos mononucleares da medula óssea e do fígado, onde eritrócitos velhos são normalmente degradados. O depósito excessivo de hemossiderina, conhecido como hemossiderose, e acúmulos mais extensos de ferro vistos na hemocromatose hereditária
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