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ESTUDO DO PACIENTE COM ICTERÍCIA LARA CAMILA DA SILVA ALVES – MEDICINA – 3º SEMESTRE Icterícia é a cor amarelada das conjuntivas, pele e mucosas, devido ao aumento dos níveis séricos de bilirrubina quando ultrapassa 2,5mg/dL. ANATOMIA DO FÍGADO O metabolismo da bilirrubina ocorre no fígado, é um subproduto da hemoglobina. Quando as hemácias envelhecidas são quebradas e será liberada a Hg, de onde irá sair a bilirrubina. O fígado é formado por hepatócitos, que irão se organizar formando placas, que irão formar o lóbulo hepático. Esses lóbulos hepáticos são a unidade funcional do fígado. No interior de cada lóbulo há uma veia – que irá trazer o sangue que será metabolizado no fígado. Nas laterais temos o espaço porta, constituído por uma veia porta hepática, ramo da artéria hepática e o canalículo biliar. O canalículo biliar é um vaso formado por várias células hepáticas que se dobram e se juntam. OBS: na parede da veia temos a célula de Kupffer, que são macrófagos que têm a função de pegar substâncias do sangue e fagocitar; ou seja, além do metabolismo, o sangue retira substâncias tóxicas do sangue. ➢ Muitas patologias que causam a icterícia, são por obstrução do fluxo da bile; ou seja, doenças que obstruem a saída da bile, produzida no fígado para as vias biliares, cursam com icterícia. Os canalículos biliares saem do fígado formando o ducto hepático comum, que irá se juntar com o ducto cístico formando o ducto biliar comum. O ducto biliar comum irá se unir com o ducto pancreático, formando a ampola de Vater, que irá encaminhar a bile para a papila duodenal, através do esfíncter de Oddi. Assim, a bile cai no duodeno, juntando-se com o alimento, para formar o bolo fecal. METABOLISMO DA BILIRRUBINA Hemácia → Hemoglobina → porção Heme contém o ferro e a biliverdina (que será transformada em bilirrubina pela biliverdina redutase). Normalmente, a bilirrubina é produzida, principalmente no baço (mas esse processo também pode ocorrer no fígado e na medula óssea); pois o baço é responsável por pegar as hemácias velhas e realizar a lise. Uma vez liberada no plasma, a Hb irá se juntar à albumina para ser transportada até o fígado; a bilirrubina ligada à albumina é chamada de bilirrubina indireta, pois ainda não passou pelo processo de conjugação, que irá acontecer dentro do fígado. Depois que a bilirrubina passa pelo processo de conjugação no hepatócito, chamamos de bilirrubina direta. No plasma, as veias do baço vão drenar o sangue que está com bilirrubina indireta para o fígado, onde a bilirrubina irá passar por três etapas: 1- Captação: a bilirrubina entra no hepatócito 2- Conjugação: dentro do hepatócito a bilirrubina indireta será transformada na bilirrubina direta, através da ligação com carboidrato. 3- Excreção ➢ A excreção é o processo mais importante, e a maioria das doenças estão relacionadas a essa fase. CLASSIFICAÇÃO DA ICTERÍCIA ➢ Hiperbilirrubinemia não conjugada: aumento da bilirrubina indireta. ➢ HIperbilirrubinemia conjugada: aumento da bilirrubina direta. TRANSPORTE E CAPTAÇÃO Como a bilirrubina é lipossolúvel, ela precisa ser transportada ligada a uma proteína. Assim, no plasma, é ligada à albumina; no fígado, é ligada à ligandina (proteína Y) para entrar no hepatócito; dentro do hepatócito, se liga à proteína Z. CONJUGAÇÃO UDP – Glicorunil Transferase é uma enzima de conjugação que irá transformar a bilirrubina indireta (não conjugada, lipossolúvel) em bilirrubina direta (conjugada, hidrossolúvel). Através dessa enzima, a bilirrubina indireta é conjugada ao ácido glicurônico Na ausência dessa enzima, haverá um acúmulo de bilirrubina indireta no organismo (níveis séricos acima de 2mg/dL). EXCREÇÃO A bilirrubina formada será drenada pelos canalículos hepáticos para a via biliar extra-hepática. A bilirrubina é excretada do nosso organismo através das fezes, mas a maior parte sofre o metabolismo pelas bactérias intestinais e irão se transformar em urobilirrubinogênio (dá a cor amarronzada às fezes). ➢ Quando há obstrução das vias biliares, haverá acolia fecal (fezes brancas); assim, além de ictérico o paciente irá apresentar acolia fecal. O urobilirrubinogênio pode ser reabsorvido na circulação entero- hepática, ou ser eliminado na urina. Quando os indivíduos produzem muita bilirrubina, haverá muita reabsorção e, assim, o paciente apresentará colúria, ou seja, a urina ficará escura. HISTOLOGIA Esteatose hepática: ocorre quando há acúmulo de gordura entre as células hepáticas. É uma característica do paciente alcoolista crônico, pacientes obesos com alteração do metabolismo lipídico. Cirrose: quando o fígado substituiu a sua histologia normal por células necróticas. Ou seja, perdeu a sua função. Ocorre em casos mais avançados de hepatite viral ou hepatite alcoólica. Colestase: consiste na diminuição ou interrupção do fluxo biliar para o duodeno, decorrente do déficit funcional no polo biliar do hepatócito ou impedimento mecânico da drenagem biliar, intra ou extra-hepática. Colúria: nas icterícias colestáticas a bilirrubina direta (BD) reflui dentro do hepatócito, cai na corrente sanguínea, é filtrada pelos rins, com consequente coloração mais escura da urina. Hipocolia ou acolia fecal: as fezes ficam claras quando há obstrução mecânica total ao fluxo biliar, pois a BD não chega até o intestino. ANAMNESE • Idade • Sexo (colelitíase – presença de cálculos na vesícula ou árvore biliar; é mais comum no sexo feminino). • Profissão (garçons – a taxa de alcoolismo em pessoas que trabalham com bebida alcoólica é maior, agricultores, polo petroquímico – contato com agrotóxicos e produtos tóxicos); • História familiar (colelitíase, formas hemolíticas); • Contatos prévios (hepatites, contatos sexuais); • Antecedentes cirúrgicos (cirurgias do aparelho digestivo são fatores de risco para modificar o curso da via biliar) • Perda de peso; • Modo de início; • Febre; • Prurido (colestase, obstruções); não se sabe a fisiopatologia, mas é muito comum o paciente ictérico cursar com prurido. Acredita-se que o acúmulo dessas substâncias que não estão conseguindo ser excretadas pelo fígado irá ativar os receptores de coceira/terminações nervosas. • Dor abdominal (colelitíase); • Colúria; • Acolia; EXAME FÍSICO Inspeção (postura do paciente, anemia, cicatrizes); Estado mental (hipertensão portal, hálito – pacientes com fígado comprometido não conseguem fazer a conversão da amônia em ureia, assim, haverá o acúmulo de amônia, desencadeando o hálito de terra molhada); Alterações da pele e mucosas (petéquias, equimoses, úlceras → o fígado não consegue produzir os fatores de coagulação); Abdome (visceromegalias, circulação colateral, ascite, tumores); Sinais periféricos de hepatopatia crônica (cirrose hepática); ERITEMA PALMAR TELEANGIECTASIA HEPATOESPLENOMEGALIA CLASSIFICAÇÃO ETIOLÓGICA ➢ Aumento da bilirrubina não-conjugada (indireta) Produção aumentada (está havendo muita hemólise, ex: pacientes com anemia falciforme); defeito na captação; defeito na conjugação. >> Exemplos Anemias hemolíticas; como, anemia falciforme (hemácias em forma de foice serão degradadas, aumentando a produção de bilirrubina indireta) Síndrome de Cliger-Najar: é uma doença genética, e o paciente não produz a enzima Glicuronil Transferase. Assim, o paciente cursa com icterícia devido ao aumento de bilirrubina indireta. Síndrome de Gilbert: é uma doença genética, e o paciente produz pouca enzima Glicuronil Transferase. Assim, o quadro é mais leve que na síndrome de Cliger-Najar. Icterícia fisiológica do RN: icterícia que cursa com aumento da bilirrubina indireta,contribuída por diversos motivos: os bebês são hipervolêmicos, assim, têm uma produção maior de bilirrubina; os bebês possuem uma imaturidade enzimática, assim, têm uma produção intra-hepática diminuída de bilirrubina; Hende Realce Hende Realce Hende Realce Icterícia do leite materno: a icterícia ocorre em bebês que recebem leite materno, caracteriza-se por uma persistência da icterícia fisiológica. Bebês alimentados pelo leite materno, às vezes, têm uma baixa ingesta e isso não favorece a circulação entero-hepática para que a conjugação seja realizada. ➢ Aumento da bilirrubina conjugada (direta) Defeito na excreção. >> Exemplos Síndrome de Dubin-Johnson: deficiência no gene MRP2, o paciente não consegue excretar a bilirrubina conjugada Presença de pigmento castanho escuro no citoplasma das células hepáticas. Colestase intra-hepática: acúmulo de bile à nível de lesão de hepatócito ou canalículos biliares. Colestase extra-hepática: obstrução do fluxo da bile por um problema que acontece fora do fígado. TIPOS DE COLESTASE COLESTASE: ICTERÍCIA, COLÚRIA, ACOLIA OU HIPOCOLIA FECAL (+ PRURIDO). ➢ Colestase intra-hepática ou hepatocelular: lesão do hepatócito. ➢ Colestase extra-hepática ou icterícia obstrutiva: obstrução de vias biliares intra ou extra-hepáticas. COLESTASE INTRA-HEPÁTICA Causas: hepatites virais (principalmente B e C), hepatite alcoólica, NASH (pacientes com esteatose, mas não por bebida alcoólica), colangite biliar primária (doença genética, mais comum em mulheres, cursa com inflamação da árvore biliar intra-hepática), drogas e toxinas (medicamentos podem fazer quadros de hepatite: anti- inflamatórios, como paracetamol, antibióticos, antifúngicos e anticonvulsivantes), sepse, malignidade, infiltração hepática (linfoma, amiloidose, sarcoidose, tuberculose). Causas mais raras: colestase progressiva familiar (PFIC), colestase intra-hepática recorrente benigna (BRIC), NPT (nutrição parenteral total), colestase no pós-operatório, pós-transplante, colestase intra-hepática da gravidez. COLESTASE DA GRAVIDEZ • 2º trimestre; etiologia heterogênea (acredita-se que é devido à mudança hormonal), fatores genéticos e hormonais são importantes. • Paciente cursa com prurido generalizado (após 30 semanas); • Desaparece após o parto. • Tratamento – ursodeoxicólico (alivia o sintoma de prurido, que é a principal queixa). NO ADULTO: hepatites agudas virais, hepatites tóxicas (drogas), cirrose hepática, colangite esclerosante primária, colangite biliar primária. COLESTASE EXTRA-HEPÁTICA Causas: coledocolitíase (mais comum em mulheres; formação de cálculos na árvore biliar), tumores periampulares (que acometem a região próxima à ampola de Vater; pensar em tumor de cabeça do pâncreas), colangite esclerosante primária (CEP), colangiopatia da AIDS (tanto o HIV quanto algumas infecções oportunistas), pancreatite aguda e crônica, estenose das vias biliares pós procedimento, infecções parasitárias (A. Lumbricoides) ➢ Pacientes com coledocolitíase podem apresentar episódios flutuantes, devido à movimentação dos cálculos. O quadro de coledocolitíase pode evoluir para uma colangite, ou seja, o paciente pode ter um processo infeccioso na árvore biliar. COLEDOCOLITÍASE COLANGITE NEOPLASIA DE PÂNCREAS AVALIAÇÃO LABORATORIAL DA COLESTASE ➢ Avaliar perfil hepático é dosar as enzimas hepáticas, o que é diferente de dosar a função hepática. Temos as enzimas transaminases – TGO E TGP, chamado também de AST e ALT – e as canaliculares (enzimas que se acumulam nos canalículos quando o fígado está afetado) – FA E GGT. 1- Lesão dos hepatócitos: haverá grande aumento das aminotransferases (AST e ALT que é o mesmo que TGO e TGP) e pouco aumento de fosfatase alcalina e Gama GT. 2- Obstrução de vias biliares: pouco ou nenhum aumento de AST e ALT e grande aumento de fosfatase alcalina (FA) e Gama GT (GGT); 3- Nos casos de colestase intra-hepática: ocorre predomínio de bilirrubina direta (BD), com elevação de AST e ALT e pouca elevação de FA e GGT. 4- Alteração de função hepática: tempo de protrombina e RNI – estão alterados na intra-hepática (falência hepatocelular) e na extra-hepática (deficiência de absorção de vit k); albumina – está baixa por deficiência de síntese hepática (na cirrose). AVALIAÇÃO POR MÉTODOS DE IMAGEM: USG, TC, RM E CPRM, CPRE, USG ENDOSCÓPICA. MARCADORES DIAGNÓSTICOS DA COLESTASE: Icterícia, colúria, acolia fecal, prurido, astenia, xantomas (micro tumores gordurosos palpáveis em algumas partes do corpo, principalmente articulares), xantelasmas, pele seca. CLASSIFICAÇÃO DE CHILD-PUGH ALGORITMO PARA INVESTIGAÇÃO DO PACIENTE ICTÉRICO OBS: nem todos os pacientes amarelos tem ictéricia = pseudoicterícia. Ex: pacientes que têm muito caroteno. CASO CLÍNICO 1 >> Hepatite C com quadro de colestase (coluria, hipocolia e icterícia) intra-hepática – pois houve lesão do hepatócito. CASO CLÍNICO 2 >> Câncer de cabeça de pâncreas com quadro de colestase extra-hepática. O tabagismo é um fator de risco para câncer de pâncreas.
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