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Semiologia do sistema digestório: estômago LARA CAMILA DA SILVA ALVES – MEDICINA – 3º SEMESTRE Questão 01 Paciente feminina, 37 anos, com queixa de azia e dor epigástrica há 3 meses, intermitentes. Por vezes, a azia acorda a paciente à noite e, às vezes, só aparece depois que ingere algo. Nega dor epigástrica noturna. Faz uso de antiácidos e, de vez em quando, de buscopan, com melhora do quadro. Tem eructações frequentes e, às vezes, sensação de plenitude epigástrica. Relaciona seu sintoma com momentos de ansiedade. Qual a alternativa correta? A. A dor epigástrica apresentada pela paciente é típica de úlcera péptica. B. Dor epigástrica noturna indica dispepsia não ulcerosa. C. Dor epigástrica sem relação com alimentação é mais comum na úlcera duodenal. D. A ausência de ritmicidade reforça a possibilidade de dispepsia. ➢ Pirose é uma queixa de dor retroesternal específica do esôfago; azia se refere à ardência/queimor na região epigástrica. Assim, percebemos que a azia é uma queixa mais relacionada ao estômago. ➢ A paciente não apresenta um padrão, ou seja, ela tem a azia em jejum e no estado pós-prandial. A ausência de ritmicidade (relação com a alimentação) reforça a possibilidade de dispepsia “A dor aparece no jejum ou após ingerir um alimento?” – Pergunta importante para a anamnese. ➢ Na úlcera, há o clocking – o paciente acorda com a dor. Assim, a dor epigástrica noturna tem relação com dispepsia ulcerosa. ➢ Sensação de plenitude gástrica é sensação de que a comida permanece no estômago mesmo após alguns minutos depois da refeição. Independe da quantidade de comida ingerida. Sensação de plenitude gástrica = empachamento pós-prandial ANATOMIA DO ESTÔMAGO • É dividido em 5 partes: fundo, corpo, cárdia e piloro. • A cárdia e piloro são regiões esfinctorianas que controlam a chegada e a saída do alimento; • O fundo e o corpo são regiões glandulares compostas pelas células oxínticas – secretam HCl, pepsinogênio, fator intrínseco e muco; • Entre as células glandulares, há a mucosa que produz células de defesa contra a acidez estomacal – muco e secreção de bicarbonato; • Formado por um plexo mioentérico que auxilia no movimento muscular – assim como o esôfago; DISPEPSIA – Dificuldade de digestão Refere-se a um conjunto de sintomas, persistentes ou recorrentes localizados na região superior do abdome (epigástrio); Queixas comuns: azia, sensação de plenitude gástrica, saciedade precoce (sensação de que o estômago ficou cheio rapidamente, logo após o início da refeição; assim, é uma sensação desproporcional à quantidade de comida ingerida). • Pode estar associada a sintomas emocionais sem lesão orgânica: dispepsia funcional • Pode estar relacionada à presença de H.pylori: dispepsia associada ao H.pylori • Pode estar associada à doença digestiva específica: dispepsia específica Hende Realce Hende Realce DISPEPSIA FUNCIONAL Critérios diagnósticos: Consenso ROMA IV (2016) 1- Queixas dispépticas durante os últimos 3 meses que se iniciaram, no mínimo 6 meses antes do diagnóstico; 2- É fundamental a presença de um ou mais sintomas: empachamento pós-prandial, saciedade precoce, queimação em epigástrio; 3- Ausência de alteração estrutural que justifique os sintomas; SUPTIPOS 1- Síndrome do desconforto pós-prandial: pacientes que apresentam problemas nas fibras de contração do estômago. Queixas: empachamento pós-prandial e saciedade precoce Pode ocorrer distensão abdominal, náuseas pós-prandiais, eructações frequentes; 2- Síndrome da dor epigástrica: pacientes que apresentam aumento da sensibilidade visceral. Queixas: dor epigástrica ou queimação em epigástrio: pode ser induzida por refeições, aliviada com refeições, em jejum – não tem padrão de ritmicidade, periodicidade ou dor noturna. • Os sintomas ocorrem mais frequentemente em adultos jovens, são recorrentes e não são acompanhados de sinais de alarme: anemia, sangramento, perda de peso; • Pacientes podem apresentar os subtipos isoladamente ou podem ter todos os sintomas relatados acima; • Pacientes podem apresentar associado ao quadro sintomas de DRGE (pirose e regurgitação) ou síndrome do intestino irritável (diarreia, constipação); FISIOPATOLOGIA A causa da dispepsia funcional é desconhecida; Hipóteses: hipersecreção ácida, dismotilidade gastroduodenal, hipersensibilidade visceral, alteração da acomodação gástrica, associada ao H.Pylori. Pode ser desencadeada por: eventos psicossomáticos, infecções gastrointestinais, predisposição genética, disfunção de mastócitos e serotonina (ligados à hipersensibilidade visceral), alteração da microbiota intestinal. DIAGNÓSTICO CLÍNICO OBS: o diagnóstico é clínico, não necessita de exames complementares. Os exames normalmente são para afastar doença orgânica. Anamnese detalhada baseada nos critérios de Roma IV Investigar sinais e sintomas de alarme – para afastar doença orgânica ➢ Perda de peso ➢ Vômitos recorrentes ➢ Disfagia progressiva ➢ Presença de sangramento ➢ Icterícia: pedra na vesícula pode ser uma causa de dispepsia orgânica, e pode cursar com icterícia. A presença de sinais e sintomas de alarde indicam necessidade de continuar a investigação com exames específicos; Realização de exame físico detalhado: deverá ser normal. O encontro de visceromegalias ou massas abdominais exclui a possibilidade de dispepsia funcional. DISPEPSIA ASSOCIADA AO H.PYLORI • Bactéria GRAM negativa; • Coloniza muco gástrico; Hende Realce Hende Realce Hende Realce Hende Realce • Adquire na infância; • Transmissão fecal oral; • A maioria das pessoas são portadores assintomáticos; • Pode causar úlcera, neoplasia gástrica e dispepsia; • Chama-se dispepsia associada ao H.pylori quando os sintomas desaparecem após tratamento específico para a bactéria; Nem todos os pacientes que têm doença orgânica tem H.pylori, mas a maioria dos que possuem H.pylori têm alguma doença orgânica – principalmente úlcera. FISIOPATOLOGIA DA INFECÇÃO POR HELITOBACTER PYLORI • O H.pylori é resistente ao suco gástrico, invade e destrói a camada produtora de muco – só infecta a mucosa gástrica; • Os ácidos gástricos rompem a camada protetora de muco e provocam uma úlcera; • Aumenta a produção de suco gástrico porque bloqueia o inibidor da somastotatina G (que produz gastrina); o inibidor é a somatostatina D. • Principal causa de úlcera duodenal – a secreção ácida do estômago lesa o duodeno, fazendo com que ele sofra uma metaplasia – as células do duodeno começam a ter um padrão de células do estômago. A partir disso, o H pylori consegue infectar o duodeno, causando a úlcera duodenal. DISPEPSIA ORGÂNICA • Existe lesão na mucosa • Sinais e sintomas característicos de cada patologia • Exemplo: câncer gástrico, úlcera gástrica, úlcera duodenal. Questão 02 Paciente feminina, 65 anos, com queixa de desconforto abdominal associado à sensação de saciedade precoce há 6 meses. Há 3 meses, vem observando perda progressiva de peso (cerca de 6kg) e astenia. Ao exame físico, apresenta mucosas descoradas ++/4+. Demais segmentos sem alterações. Qual a alternativa correta? A. A história é compatível com dispepsia funcional devido à ansiedade. B. A saciedade precoce é típica de úlcera duodenal. C. A perda de peso e anemia sugerem processo neoplásico. D. O exame físico normal afasta a possibilidade de neoplasia. ➢ A paciente apresenta queixas orgânicas: perda de peso, astenia e anemia. Nesse caso, não devemos pensar em dispepsia funcional. ➢ A saciedade precoce não é típica de úlcera duodenal, é uma manifestação de dispepsia. ➢ A paciente não apresenta exame físico normal – mucosas descoradas. >> CÂNCER GÁSTRICO O diagnóstico, normalmente, já é feito em estado avançado, pois é assintomático. Por isso, na maioria das vezes, é um câncer maligno. Tem relações com os hábitos de vida; fatores de risco: etilismo e tabagismo, infecção pelo H.pylori, ingestãode alimentos com H.pylori 90% das causas de úlceras duodenais; 60-70% das causas de úlceras gástricas; Apenas 10 a 20% dos indivíduos portadores de infecção por H.pylori desenvolvem úlcera péptica. 95% são adenocarcinomas; 3% são linfomas; 65% dos pacientes têm mais de 50 anos; Maior incidência no sexo masculino 2:1 Hende Realce Hende Realce Hende Realce conservantes, fatores genéticos, gastrectomias prévias, anemia perniciosa, obesidade e pólipos gástricos hiperplásicos. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: ANAMNESE • Manifestações precoces: inespecíficas; • No momento do diagnóstico, cerca de 50% dos pacientes já têm a doença avançada; • Pacientes com câncer gástrico precoce: assintomáticos; • Tumores da cardia: disfagia; • Tumores distais do antro: podem obstruir o piloro e cursam com vômitos com alimentos não digeridos; • Podem cursar com sangramento gastrointestinal: hematêmese e melena; • Sinais clínicos se desenvolvem na fase tardia da doença: sensação de plenitude gástrica, saciedade precoce, perda de peso, anemia, dor epigástrica. EXAME FÍSICO As alterações são observadas na doença avançada: massa palpável em epigástrio; hepatomegalia endurecida: o principal foco de metástases de câncer gástrico é o fígado; linfonodos palpáveis: em fossa supra-clavicular esquerda (nódulo de Virchow-Troisier), na região supra-umbilical (nódulo irmã Maria José). DIAGNÓSTICO • Baseado na história clínica e exame físico; • Endoscopia digestiva alta com biópsia da lesão (padrão-ouro); • O encontro de lesão ulcerada gástrica tem que ser biopsiada; aparência inicial é semelhante à úlcera benigna. • Acompanhar cicatrização da lesão após o tratamento; • TC de abdome e TC de tórax para estadiamento do tumor; os principais focos de metástase: fígado e pulmão. Questão 03 Paciente masculino, 42 anos, com história de que há 3 meses vem com episódios de dor em queimação em epigástrio (azia), piorando no final da manhã e no final da tarde, com o jejum, e melhorando após ingesta alimentar. Há 2 semanas, teve dois episódios de dor noturna. Acordou 1h da manhã com azia, tomou 1 copo de leite e melhorou. Os sintomas são diários, até 7 dias/semana, passando períodos assintomáticos de até 10 dias quando, então, retornam os sintomas com as mesmas características. Relaciona a queixa com a alimentação no trabalho, que é muito gordurosa (sic). Não perdeu peso. O exame físico não apresenta alterações. Qual a alternativa correta? A. O acordar à noite (clocking) é devido ao ritmo circardiano da secreção ácida gástrica. B. A alimentação irregular causa úlcera péptica. C. A periodicidade é caracterizada pela dor que piora no final da manhã e no final da tarde. RITMICIDADE D. A ritmicidade indica que a dor ocorre intermitente e desaparece espontaneamente. PERIODICIDADE ➢ Dispepsia associa-se à presença do alimento. Úlcera não – piora com o jejum. Durante a madrugada há um pico de secreção ácida do estômago, assim esses pacientes acordam com dor, o que justifica os episódios de dor noturna. >> ÚLCERA PEPTICA É a perda limitada de tecido no trato gastrointestinal até à submucosa, em áreas banhadas pela secreção cloridropéptica; Causas: H.pylori, responsável por mais de 95% das úlceras duodenais e 80% das úlceras gástricas; AINEs bloqueiam a liberação da prostaglandina (que aumenta o fluxo sanguíneo na mucosa gástrica que auxilia na cicatrização e secreção de mecanismos protetores), além de lesar a mucosa. DIAGNÓSTICO Dor epigástrica: tipo queimação; duas à três horas após a refeição (ritmicidade), dor noturna (clocking), alívio com alimentos ou antiácidos (alcalinos); crises de epigastralgia intercaladas por períodos sem dor (periodicidade). COMPLICAÇÕES (30% dos casos não tratatos) ➢ Hemorragia digestiva alta (HDA) em 20% dos casos; ➢ Perfuração em 6% dos casos; ➢ Obstrução do piloro-duodenal em 4% dos casos; Investigar sinais e sintomas de alarme para afastar doença orgânica; cabe uma endoscopia digestiva alta (EDA) para a pesquisa de HP. Questão 04 Paciente masculino, 38 anos, comparece ao ambulatório com história de que há 1 ano teve diagnóstico de úlcera gástrica, tratada com omeprazol e, desde então, vem evoluindo sem sintomas. Na época, teve um episódio de hematêmese e melena. Retorna com as mesmas queixas. Ao exame: mucosas coradas, anictéricas. Demais segmentos sem alterações. Qual a alternativa correta? A. Deverá ser realizada nova endoscopia com pesquisa de H. Pylori B. A hematêmese é indicativo de processo neoplásico. C. A úlcera gástrica é considerada lesão pré -maligna. D. A melena indica hemorragia digestiva baixa. ➢ Apesar de o diagnóstico de úlcera gástrica, o paciente não relata ter feito o tratamento para H.pylori. ➢ Hematêmese + melena (sangue digerido eliminado nas fezes) – sintomas relacionados à hemorragia digestiva alta. TRATAMENTO Associação de um antissecretor + 2 antibióticos para erradicar o HP. Tratamento durante 14 dias? Omeprazol 20mg (inibidor de bomba de prótons) + claritomicina 500mg + amoxacilina 1g 2x/dia por 14 dias. Três meses após o tratamento: repetir EDA e pesquisa de HP – avaliar erradicação. Questão 05 Paciente masculino, 78 anos, cardiopata e hipertenso, vinha em uso de aas e dabigatrana (anticoagulante), após episódio de trombose venosa profunda. Foi atendido na emergência, com quadro de tontura, extremidades frias e melena. Nega dor epigástrica prévia. Ao exame: palidez em face e hipoatividade. TA: 100 x 60mmhg PR: 100 bpm, filiforme. Mucosas descoradas +++/4+. Acv: ictus no 5º/6º eie, 2cm para fora da LMC. SS grau II/VI em FA. Demais segmentos sem alterações. Qual a alternativa correta? A. O paciente apresentou hemorragia digestiva baixa. B. A causa mais provável do sangramento é úlcera duodenal. C. O paciente pode descompensar as doenças de base devido à hemorragia. D. Há evidências de choque hipovolêmico. >> HEMORRAGIA DIGESTIVA ALTA /HDA São hemorragias decorrentes de lesões proximais ao ângulo de Trietz. Quadro clínico: hematêmese – vômito sanguinolento, vermelho vivo ou escuro (sangue digerido); melena – fezes pretas, odor fétido, pastosas. Em 90% dos casos indica HDA, mas podemos ter melena em lesões do cólon proximal. ETIOLOGIAS HDA não varicosa: úlcera péptica; síndrome de Mallory Weiss (quando há uma laceração da mucosa do esôfago após vômitos repetidos); tumor de estômago. HDA varicosa: varizes de esôfago; varizes gástricas. HDA POR RUPTURA DE VARIZES ESOFÁGICAS ETIOLOGIAS MAIS FREQUENTES Hipertensão portal secundária; Hepatopatia crônica por álcool, vírus etc (70% dos casos). Hepatoesplenomegalia esquistossomótica. ESTIMATIVA DE PERDA VOLÊMICA FATORES DIAGNÓSTICOS 1- Identificar o alto risco de morte e alto risco de ressangramento – esses pacientes deverão ficar internados em UTI. 2- Identificar baixo risco que podem ficar hospitalizados em leito comum – alta após EDA. FATORES PROGNÓSTICOS • Causa da hemorragia: sangramento por varizes de esôfago tem alta taxa de mortalidade. • Estigmas de sangramento recente: EDA identifica lesão ulcerada com vaso visível – risco de ressangramento. • Idade e doenças associadas – morbidade aumenta 3 a 4x em pacientes > 60 anos. • Hematêmese com sangue vermelho vivo: indica sangramento ativo. • Sinais vitais alterados na admissão: indica perda sanguínea importante ou choque hipovolêmico. • Volume e precocidade de transfusões: pacientes que necessitam de mais de 5 concentrados nas primeiras 24h tem maior risco. Hende Realce Hende Realce Hende Realce Hende Realce Hende Realce Hende Realce
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