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ResistAnciaBacterianaCocos-Bomfim-2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
CENTRO DE BIOCIÊNCIAS 
CURSO DE BIOMEDICINA 
 
 
 
ISABELA MARIA FORTALEZA NEVES BOMFIM 
 
 
 
 
 
 
RESISTÊNCIA BACTERIANA EM COCOS GRAM-POSITIVOS: REVISÃO 
BIBLIOGRÁFICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
NATAL 
Novembro/2017 
RESISTÊNCIA BACTERIANA EM COCOS GRAM-POSITIVOS: REVISÃO 
BIBLIOGRÁFICA 
 
por: 
 
 
 
ISABELA MARIA FORTALEZA NEVES BOMFIM 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Orientador: Professor Drº Renato Motta Neto 
 
 
 
 
 
 
 
 
Natal 
Novembro/2017 
Monografia Apresentada à 
Coordenação do Curso de 
Biomedicina da Universidade 
Federal do Rio Grande do Norte, 
como Requisito Parcial à 
Obtenção do Título de Bacharel 
em Biomedicina. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
CENTRO DE BIOCIÊNCIAS 
CURSO DE BIOMEDICINA 
 
A Monografia RESISTÊNCIA BACTERIANA EM COCOS GRAM-POSITIVOS: 
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA elaborada por Isabela Maria Fortaleza Neves Bomfim 
 
e aprovada por todos os membros da Banca examinadora foi aceita pelo Curso de 
Biomedicina e homologada pelos membros da banca, como requisito parcial à 
obtenção do título de 
 
BACHAREL EM BIOMEDICINA 
 
Natal, 30 de novembro de 2017 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
 _________________________________________ 
Prof. Dr. Renato Motta Neto 
(Departamento de Microbiologia e Parasitologia) 
 
 _________________________________________ 
 Profª. Drª. Cecília Maria de Carvalho Xavier Holanda 
(Departamento de Microbiologia e Parasitologia) 
 
 _________________________________________ 
 MSc. Lais Cristina Gusmão Ferreira Palhares 
 (Departamento de Bioquímica) 
 
 AGRADECIMENTOS 
 Agradeço sempre e em primeiro lugar a Ele. Deus me deu forças para chegar 
até aqui e colocou as melhores pessoas no meu caminho. 
 Obrigada Mammy, Papi e Leo por toda a força, apoio, incentivo e por serem a 
melhor família do mundo! 
 Aos meus amores “cefetianos” Jaciara, Hallana, Rayane, Vanessa e Phelipe (a 
ordem não expressa quem eu amo mais!), obrigada por tornarem minha vida mais feliz 
desde (prefiro nem comentar para não entregar que estamos velhos!). 
 Ao amor da minha vida, Elder, obrigada por ter tornado essa caminhada 
maravilhosa! 
 Às minhas gatinhas nova-iorquinas Fernanda, Daiany e Pamella pelo apoio 
mais belo de todos. 
 Aos meus Biomed amigos Adriane, Luiz, Marcelle, Mike, Alison, Brenna, 
Mayara e Sarah por serem uma fonte infinita de risadas, suporte e companheirismo 
nos melhores e piores momentos. 
Às pessoas mais lindas da ciência: Suely, Adriana, Lais, Rômulo, Barbara e 
Mirella obrigada pela generosidade e carinho comigo. 
À Drª Jane Cristina do Laboratório Central Drº. Almino Fernandes, por todas as 
lições que tanto ajudaram na formação deste trabalho, muito obrigada! 
Aos meus queridos professores da Biomedicina UFRN, muito obrigada pelo 
carinho e paciência. 
À todos que me ajudaram a chegar até aqui, meus sinceros agradecimentos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
Figura 1. Macrodiluição em tubos.. ........................................................................... 32 
Figura 2. Placa de microdiluição após incubação. .................................................... 33 
Figura 3. Teste de sensibilidade por disco-difusão em ágar e ilustração mostrando a 
difusão do antibiótico no ágar. ................................................................................... 34 
Figura 4. Teste da zona D. Resistência à clindamicina induzida pela eritromicina. .. 34 
Figura 5. Determinação do MIC por Etest após incubação ...................................... 35 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
file:///C:/Users/ASUS/Desktop/TCC%2015_11.docx%23_Toc498611827
file:///C:/Users/ASUS/Desktop/TCC%2015_11.docx%23_Toc498611828
file:///C:/Users/ASUS/Desktop/TCC%2015_11.docx%23_Toc498611828
file:///C:/Users/ASUS/Desktop/TCC%2015_11.docx%23_Toc498611829
file:///C:/Users/ASUS/Desktop/TCC%2015_11.docx%23_Toc498611830
LISTA DE QUADROS 
 
Quadro 1. Data de introdução e primeira resistência reportada para os 
antibacterianos mais comuns .................................................................................... 23 
Quadro 2. Toxinas presentes nas cepas de Staphylococcus aureus ....................... 15 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 11 
1.1 COCOS GRAM-POSITIVOS .......................................................................................... 11 
1.2 STAPHYLOCOCCUS SP. ......................................................................................... 13 
1.2.1 STAPHYLOCOCCUS AUREUS ............................................................................. 13 
1.2.2 STAPHYLOCOCCUS COAGULASE-NEGATIVOS (SCN).................................... 16 
1.3. STREPTOCOCCUS SP. ........................................................................................... 18 
1.3.1 ESTREPTOCOCOS β-HEMOLÍTICOS DO GRUPO A – STREPTOCOCCUS 
PYOGENES ...................................................................................................................... 18 
1.3.2 ESTREPTOCOCOS β-HEMOLÍTICOS DO GRUPO B – STREPTOCOCCUS 
AGALACTIAE .................................................................................................................... 19 
1.3.3 STREPTOCOCCUS PNEUMONIE ....................................................................... 20 
1.4 ENTEROCOCCUS SP. ............................................................................................. 21 
1.5 TIPOS DE RESISTÊNCIA: NATURAL OU ADQUIRIDA ........................................ 22 
1.6 FÁRMACOS ANTIBACTERIANOS ............................................................................. 24 
1.6.1 INIBIDORES DA SÍNTESE DE PROTEÍNAS ........................................................ 25 
1.6.2 ATUAM SOBRE ESTRUTURA DO DNA BACTERIANO .................................. 26 
1.6.3. ATUAM SOBRE O METABOLISMO BACTERIANO ........................................... 26 
1.6.4 ATUAM SOBRE A MEMBRANA CELULAR BACTERIANA ............................. 26 
1.6.5 ATUAM SOBRE A PAREDE BACTERIANA ..................................................... 27 
1.7 MECANISMOS DE RESISTÊNCIA .......................................................................... 28 
2. OBJETIVOS ....................................................................................................................... 30 
2.1 OBJETIVOS GERAIS .................................................................................................... 30 
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ........................................................................................ 30 
3. METODOLOGIA ................................................................................................................ 31 
3.1 IDENTIFICAÇÃO LABORATORIAL DE RESISTÊNCIA BACTERIANA ............... 31 
3.2 TÉCNICAS PARA IDENTIFICAÇÃO LABORATORIAL DE RESISTÊNCIA 
BACTERIANA ...................................................................................................................... 31 
3.2.1 TESTE DE SENSIBILIDADE POR MACRODILUIÇÃO EM TUBOS ..................... 31 
3.2.2. TESTE DE SENSIBILIDADE POR MICRODILUIÇÃO EM PLACA ..................... 32 
3.2.3. TESTE DE SENSIBILIDADE POR DISCO-DIFUSÃO .......................................... 33 
3.2.4. TESTE DE SENSIBILIDADE POR DILUIÇÃO EM ÁGAR (SCREENING) .......... 34 
3.2.5 ETEST® .................................................................................................................. 35 
3.2.6. SISTEMAS AUTOMATIZADOS ...........................................................................35 
4. DISCUSSÃO ........................................................................................................................ 36 
4.1 COCOS GRAM-POSITIVOS RESISTENTES ............................................................... 36 
4.1.1 STAPHYLOCOCCUS AUREUS RESISTENTES .................................................. 36 
4.1.2 STREPTOCOCCUS RESISTENTES ..................................................................... 38 
4.1.3. ENTEROCOCCUS RESISTENTES ...................................................................... 39 
5. RESISTÊNCIA BACTERIANA – PERSPECTIVAS .......................................................... 39 
6. CONCLUSÕES FINAIS ...................................................................................................... 42 
REFERÊNCIAS ........................................................................................................................ 43 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
Estudos demonstram um crescimento notável das infecções causadas por 
cocos Gram-positivos. Estes representam uma classe importante de bactérias 
causadoras de infecções graves, as quais frequentemente tornam-se resistentes aos 
antimicrobianos. Os cocos Gram-positivos, representados por Staphylococcus sp, 
Streptococcus sp. e Enterococcus sp., são importantes microrganismos patogênicos 
que causam infecções graves e potencialmente letais, como infecções de pele, 
pneumonia e meningite, que vêm demonstrando resistência aos fármacos 
antimicrobianos, inclusive aos de última geração. Este trabalho tem como objetivo 
trazer uma revisão bibliográfica sobre resistência cocos Gram-positivos de bases de 
dados científicos especializados. Bem como, conceituar as principais bactérias gram-
positivas de importância médica. Foram abordadas as cepas resistentes e os 
principais testes de identificação de resistência em cocos Gram-positivos 
preconizados por institutos internacionais e empregados no Brasil. A resistência 
bacteriana ao antimicrobianos é relatada desde os primeiros anos de comercialização 
destes fármacos e são uma importante preocupação atual. Portanto, esforços devem 
ser adotados, uma vez que as consequências caso esse cenário não mude são 
catastróficas. 
PALAVRAS-CHAVE: Cocos Gram-positivos, Staphylococcus sp., Streptococcus sp., 
Enterococcus sp., Resistência bacteriana. 
 
 
 
ABSTRACT 
Studies have shown remarkable growth of infections caused by Gram-positive 
cocci. These represent an important class of bacteria that causes serious infections, 
which often become resistant to antimicrobials. Gram-positive cocci, represented by 
Staphylococcus sp, Streptococcus sp. and Enterococcus sp., are important pathogenic 
microorganisms that cause serious and potentially lethal infections, such as skin 
infections, pneumonia and meningitis, which have demonstrated resistance to 
antimicrobial drugs, including the last generation. This work aims to bring a 
bibliographic review on Gram-positive cocci Resistance from specialized scientific 
databases. As well as, conceptualize the main gram-positive bacteria of medical 
importance. The resistant strains and the main tests of identification of resistance in 
Gram-positive cocci recommended by international institutes and employed in Brazil 
were approached. Bacterial resistance to antimicrobials has been reported since the 
early years of commercialization of these drugs and are an important current concern. 
Therefore, efforts should be taken, since the consequences if this scenario does not 
change are catastrophic. 
KEYWORDS: Gram-positive cocci, Staphylococcus sp., Streptococcus sp., 
Enterococcus sp., Bacterial resistance 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
1. INTRODUÇÃO 
As bactérias são microrganismos inerentes e primordiais à vida na Terra. São 
encontradas em todo o meio ambiente e compõem a microbiota humana, sendo 
fundamentais para a manutenção da homeostasia e saúde do homem. Entretanto, 
algumas bactérias podem ser nocivas, implicando, inclusive em risco de morte para 
os indivíduos. 
 Na década de 1910, a Arsfenamina, conhecida como Salvarsan, foi sintetizada 
pelo bacteriologista alemão Paul Ehlrich e foi o primeiro medicamento a combater uma 
doença infecciosa, a Sífilis (Lloyd et al., 2004). Em 1928, Alexander Fleming 
descobriu, por um acaso, o potencial antibiótico do Penicillium notatum em inibir o 
crescimento de Staphyloccocus sp e assim foi descoberta a Penicilina. Fleming 
juntamente com os colegas Howard Florey, Ernest Chain e Norman Heatley 
conseguiram isolar, purificar e sintetizar a Penicilina, sendo esta utilizada nas tropas 
e civis machucados a partir de 1944, durante a Segunda Guerra Mundial e 
disponibilizada para comercialização em 1946, após a Guerra (LOBANOVSKA E 
PILLA, 2017). 
 A descoberta da Penicilina mudou o curso da história do tratamento das 
doenças infecciosas. Entretanto, junto com o advento desse descobrimento e com o 
desenvolvimento de outros antibióticos, tanto beta-lactâmicos como de outras classes 
e os antibacterianos sintéticos, emerge também um inimigo: a resistência bacteriana 
(LOBANOVSKA E PILLA, 2017). 
1.1 COCOS GRAM-POSITIVOS 
Os aspectos microscópicos, o formato e a capacidade de reter os corantes de 
Gram são umas das formas primárias de diferenciar as bactérias. Desenvolvida em 
1884 pelo médico dinamarquês Hans Gram, é um método de coloração diferencial, e 
de fácil execução que permite aos microbiologistas a caracterização das bactérias 
entre duas classes, as Gram-positivas e as Gram-negativas. Permitindo assim, uma 
triagem e o diagnóstico inicial, a fim de iniciar uma terapêutica baseada nas diferenças 
entre estas classes de bactérias (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2014). 
Os diferentes graus de permeabilidade da parede celular microrganismos 
Gram-positivos e Gram-negativos são responsáveis pela diferenciação destas no 
processo coloração de Gram. As bactérias Gram-positivas, que têm sua parede 
 
12 
 
celular majoritariamente composta por peptídioglicano, durante o processo de 
descoloração com álcool etílico, retém o corante cristal-violeta, ou seja, ficam 
arroxeadas. Já para as bactérias Gram-negativas, cujo a parede celular é composta 
predominantemente por ácidos graxos (lipopolissacarídeos e lipoproteínas), sofrem 
descoloração pelo álcool, e coram-se no tom avermelhado da fucsina ou safranina, o 
corante final (BRASIL, 2001). 
As bactérias também possuem três formatos principais: espirilos, bastontes e 
cocos. Os espirilos possuem, como o nome diz, forma de espiral. Os bastões ou 
bacilos têm a forma alongada ou curvada, como uma vírgula, e suas extremidades 
podem ser estreitas ou arredondadas. Os cocos são redondos ou elípticos e se 
agrupam de variadas formas a partir do plano que sofrem divisão celular e assumem 
as configurações de (MOLINARO; CAPUTO; AMENDOEIRA, 2013): 
• Diplococos: Cocos agrupados aos pares, em um único plano. 
• Estreptococos: Vários cocos dispostos em cadeia, similar a um cordão de 
contas. 
• Tétrades: Grupos de 4 cocos. 
• Sarcinas: Grupos de 8 cocos unidos, em forma de cubo. 
• Estafilococos: Cocos agrupados de forma aleatória, semelhante ao formato de 
um cacho de uvas. 
 
Os cocos Gram-positivos são um grupo diversificado de bactérias. 
Apresentam características comuns como a forma esférica, a reação frente à 
coloração de Gram e a ausência de endósporo (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 
2014). Com exceção da família das Enterobacteriaceae, os cocos Gram-positivos são 
os isolados mais frequentes na prática clínica. Podem causar infecções tanto através 
da multiplicação local do microrganismo, quanto por efeitos sistêmicos através de 
exotoxinas e citocinas geradas devido a infecção. Por serem comensais da pele e 
mucosas humanas e ubíquos na natureza, o isolamento destas bactérias nas 
amostras clínicas deve estarrelacionado com a sintomatologia dos pacientes para 
garantir de fato o papel destes microrganismos na infecção investigada (WINN JUNIOR 
et al., 2008). 
 
13 
 
A ênfase deste trabalho está nos principais cocos gram-positivos de 
importância médica: Staphylococcus sp., Streptococcus sp. (Grupo A, B e 
Streptococcus pneumonie) e Enterococcus sp. 
 
1.2 STAPHYLOCOCCUS SP. 
 O gênero Staphylococcus é composto por várias espécies de importância 
clínica. O gênero tem esse nome devido ao fato de que as células destes cocos Gram-
positivos crescem com um perfil que se assemelha a cachos de uvas, porém podem 
ser encontrados em tétrades, pares, cadeias curtas ou isolados (WINN JUNIOR et al., 
2008; DIANA; LIMBERD, 2014). 
A maioria dos estafilococos mede de 0,5 a 1,5 μm de diâmetro, são imóveis, 
anaeróbios facultativos, não formadores de esporos, são capazes de crescer em 
meios contendo alta concentração de sal e a temperaturas que variam de 18°C a 40°C 
e são produtores da enzima catalase, ou seja, são catalase-positivos (MURRAY; 
ROSENTHAL; PFALLER, 2014). 
Colonizam pele e mucosas humanas e são importantes patógenos para o 
homem, causam diversas doenças como infecções de pele, tecidos moles, ossos, 
trato urinário, além de infecções oportunistas. As espécies mais relacionadas às 
doenças humanas são Staphylococcus aureus (o mais virulento e o mais conhecido 
membro do gênero), Staphylococcus epidermidis, S. haemolyticus, Staphylococcus 
lugdunensis e Staphylococcus saprophyticus. O S. aureus é o único do gênero que 
produz a enzima coagulase e os demais microrganismos do gênero são conhecidos 
como Staphylococcus coagulase-negativa (SCN) (WINN JUNIOR et al., 2008). 
1.2.1 STAPHYLOCOCCUS AUREUS 
 O Staphylococcus aureus é o microrganismo patogênico mais importante dos 
estafilococos. É capaz de resistir ao frio e à dessecação devido à grossa camada de 
peptídeoglicano da parede celular e permanece muito tempo no ambiente em 
partículas de poeira, roupas de cama e vestuários. É a única espécie coagulase 
positiva encontrada em humanos. O S. aureus faz parte da microbiota normal da pele, 
principalmente em dobras da pele, axilas, vagina, narinas e intestino. Pessoas com 
lesões pós-operatórias, acidentadas, imunodeprimidas e com doenças crônicas e/ou 
em diálise estão mais predispostas às infecções graves por S. aureus. Este grupo de 
risco também agrega as crianças em idade escolar, mulheres em idade reprodutiva e 
 
14 
 
no período menstrual e usuários de cateteres e shunts (SANTOS et al., 2007; WINN 
JUNIOR et al., 2008). 
O S. aureus tanto pode causar doenças simples como impetigo, foliculite, 
carbúnculos e furúnculos (os dois últimos podendo ocasionar febre), quanto pode 
demonstrar manifestações graves e potencialmente fatais como endocardite, 
bacteremia, necrose epidérmica tóxica (síndrome da pele escaldada estafilocócica), 
meningite, osteomielite e a Síndrome do choque tóxico estafilocócico (TONG et al., 
2015). 
A broncopneumonia causada por S. aureus é observada usualmente em 
idosos, e está associada a uma pneumonia viral como fator predisponente. A 
pneumonia hospitalar produzida por S. aureus ocorre em casos de doença pulmonar 
obstrutiva crônica, intubação e aspiração. Em hospitais, principalmente em unidades 
de terapia intensiva adultas e pediátricas (UTIs), é rotina o isolamento de pacientes 
colonizados (WINN JUNIOR et al., 2008). 
Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA) ou Staphylococcus 
aureus resistente à oxacilina (ORSA) é reconhecido por produzir infecções graves em 
pacientes hospitalizados e, mais recentemente, em crianças e adultos não 
hospitalizados e previamente saudáveis, os CA-MRSA, que são os Staphylococcus 
aureus resistente à meticilina adquiridos na comunidade. (SANTOS et al., 2007; GELATTI 
et al., 2009). 
 A patogenicidade do Staphylococcus aureus é devida a um conjunto de 
fatores de virulência que estão relacionados com a aderência do S. aureus às células 
do hospedeiro ou à matriz extracelular, aos fatores de evasão do sistema imune do 
hospedeiro, como as enterotoxinas e exotoxinas estafilocócicas (SEPs A-E, G-J, K, L, 
M, O e P), a toxina da síndrome do choque tóxico (TSST), a proteína A, lipases e 
polissacarídeos capsulares e aos fatores relacionados com a invasão da célula do 
hospedeiro ou adesão de superfícies de cateteres e próteses, os quais incluem toxinas 
α, β, δ, γ e δ – hemolisinas. O S. aureus ainda apresenta na sua parede celular 
polissacarídeos, ácido teicóico e proteína A que ativam o sistema imunológico (SI) e 
cápsula e adesinas que contribuem na proteção da bactéria contra o SI e na adesão 
do patógeno às células do hospedeiro (SANTOS et al., 2007). 
 Os S. aureus também são capazes de produzir moléculas como enzimas e 
toxinas (quadro 2) que elevam seu potencial patogênico. São exemplos as 
 
15 
 
betalactamases, coagulases, hialuronidases e catalases, DNAses, lipases, proteases, 
esterases, a leucocidina, estafiloquinase e a esfoliatina (SANTOS et al., 2007; TONG et 
al., 2015). 
 
Quadro 1. Toxinas presentes nas cepas de Staphylococcus aureus. Adaptado de 
Santos, 2007. 
Nome 
 
Classe 
 
Função 
 
Betalactamases 
 
Enzima Inativa os antibióticos betalactâmicos 
pela abertura do anel betalactâmico. 
Coagulase 
 
Enzima Converte o fibrinogênio em fibrina, 
independentemente da presença do 
íon 
Ca+2 e dos fatores V, VI e VII da 
coagulação sanguínea, provocando a 
deposição de fibrina em torno do 
microrganismo e dificultando a 
fagocitose celular 
Hialuronidase 
 
Enzima Despolimeriza o ácido hialurônico, 
agindo, assim, como fator de 
propagação do microrganismo 
Catalase 
 
Enzima Converte o peróxido de hidrogênio, que 
apresentaria uma ação toxica sobre a 
bactéria, em oxigênio e agua 
α-hemolisina 
(alfa-hemolisina) 
 
Toxina Pode apresentar quatro conformações 
diferentes, sendo capaz de lisar 
hemácias e causar danos as plaquetas 
em casos de intoxicações graves 
β-hemolisina 
(beta-hemolisina) 
 
Toxina Degrada a esfingomielina, provocando 
lesões na membrana dos eritrócitos e, 
consequentemente, conduzindo à 
hemólise 
δ-hemolisina 
(delta-hemolisina) 
 
 
Toxina 
 
 
 
 
Tem propriedades tensoativas, 
responsável pelos efeitos sobre as 
membranas de eritrócitos, macrófagos, 
linfócitos, neutrófilos e plaquetas. É 
capaz, ainda, de inibir a absorção de 
água pelo íleo, desencadeando uma 
diarreia aguda. 
 
16 
 
 Toxina 
 
Apresenta atividade hemolítica, cujo 
mecanismo ainda não foi devidamente 
estabelecido 
 
 
PVL 
(leucocidina 
Panton-Valentine) 
 
Toxina Composta por dois componentes 
proteicos (S e F), que atuam 
sinergicamente. Essa proteína altera a 
permeabilidade da membrana e ataca 
os leucócitos polimorfonucleares e os 
macrófagos. Essa alteração permite a 
entrada de cátions, como o Ca+2 
resultando na degranulação celular e 
induzindo a citólise. 
Esfoliatina 
 
Toxina Promove a clivagem do extrato 
granuloso da epiderme, síndrome da 
pele escaldada e impetigo bolhoso. 
TSST-1 
(toxina da síndrome 
do choque tóxico) 
 
Toxina Provoca febre, choque e envolvimento 
de sistemas orgânicos múltiplos, 
incluindo erupção cutânea descamativa 
Enterotoxinas (A, 
B, C, D e E) 
 
Toxina Toxinas proteicas pirogênicas, 
termoestáveis, responsáveis pela 
intoxicação alimentar, podendo 
provocar vômitos e diarreias 
 
Para identificação das cepas de S. aureus, as colônias vão de acinzentadas 
a amarelas brilhantes, arredondadas e lisas. Crescem bem na presença de CO2. Seu 
meio de cultura é o ágar-sangue, podendo apresentar hemólise. O teste da catalase 
é positivo e o teste da coagulase positivo diferencia o Staphylococcus aureus dos 
outros estafilococos, comumente conhecidos como Staphylococcus coagulase-
negativos (OPLUSTIL et al., 2010). 
1.2.2 STAPHYLOCOCCUS COAGULASE-NEGATIVOS (SCN) 
Os Staphylococcus coagulase-negativos eram espécimessem muita 
importância clínica, entretanto, nos últimos cinquenta anos passaram a ser 
reconhecidos como importantes patógenos humanos, além de serem reconhecidos 
como importantes patógenos nas infecções nosocomiais (WINN JUNIOR et al., 2008). 
 Staphylococcus epidermidis é o SCN mais isolado. Esse microrganismo 
causa endocardite de próteses valvares e outras próteses, infecções de feridas 
cirúrgicas, infecções do trato urinário, oftálmicas e relacionadas a diálise peritoneal e 
γ-hemolisina 
(gama-hemolisina) 
 
17 
 
bacteremia. É capaz de produzir macromoléculas que o fazem produzir biofilme e 
aumentam a aderência da bactéria a superfícies plásticas de corpos estranhos. A 
adesina capsular (PS/A) é quem promove a adesão inicial do S. epidermidis e contribui 
para a proteção deste contra a ação do sistema complemento. A adesina intercelular 
polissacarídica - PIA, lipases, proteínas transformadoras de ácidos graxos e a proteína 
de ligação ao fibrinogênio, compõem os fatores de virulência do S. epidermidis (WINN 
JUNIOR et al., 2008; BECKER; HEILMANN; PETERS, 2014). 
O S. epidermidis juntamente com o S. haemolyticus e S. lugdunensis 
(causadores de bacteremia, endocardite, infecções dos ossos e articulações, do trato 
urinário, de feridas e oportunistas) formam o grupo S. epidermidis que vêm chamando 
atenção dos microbiologistas devido os agravos aos pacientes em unidades de 
tratamento intensivo (UTI) (BECKER; HEILMANN; PETERS, 2014). 
Staphylococcus saprophyticus causam infecções do trato urinário em 
mulheres em idade reprodutiva sexualmente ativas e raramente é responsável por 
infecções em outros pacientes, embora já se tenha relatos de mulheres em outras 
faixas etárias e homens infectados por este microrganismo. O indivíduo colonizado 
por S. saprophyticus usualmente apresenta disúria, piúria e numerosos organismos 
na urina. As complicações incluem pielonefrite aguda e nefrolitíase e, no caso de 
pacientes do sexo masculino, uretrite, epididimite e prostatite, além de raros casos de 
bacteremia, endocardite e sepse (WINN JUNIOR et al., 2008; BECKER; HEILMANN; 
PETERS, 2014). 
O S. saprophyticus tem tropismo pelas células uroepiteliais e a urease 
produzida por este microrganismo contribui para a infecção do tecido vesical. A Ssp – 
proteína associada à superfície de S. saprophyticus – e a hemaglutinina estão 
envolvidas nas interações do patógeno com as células do hospedeiro (WINN JUNIOR 
et al., 2008) 
 A identificação das cepas de Staphylococcus coagulase-negativos se dá pela 
prova da catalase, que é positiva para estafilococos, prova da coagulase negativa, 
para a diferenciar de S. aureus e o teste da enzima PYR (L-pirrolidonil arilamidase) 
tem que ser positivo. Além disso, o teste da urease é positivo tanto para S. 
epidermidis, quanto para S. saprophyticus e a diferenciação entre esses dois 
espécimes será a partir da prova de sensibilidade à Novobiocina, na qual S. 
saprophyticus é resistente (OPLUSTIL et al., 2010). 
 
18 
 
1.3. STREPTOCOCCUS SP. 
O gênero Streptococcus é formado por diversos cocos redondos ou ovais 
Gram-positivos, dispostos aos pares ou em cadeias, de aproximadamente 1 - 2µm e 
são comensais e importantes patógenos do trato respiratório superior. A maioria das 
espécies é anaeróbia facultativa e algumas têm apenas crescimento capnofílico (em 
atmosfera rica de dióxido de carbono). São fermentadores de carboidratos gerando 
produção de ácido lático, são imóveis, não-esporulados e em oposição às espécies 
de Staphylococcus, os estreptococos são catalase e oxidase negativos. Pela 
diversidade deste gênero foram criados métodos para classificá-lo: grupos de 
Lancefield (a partir de antígenos detectados na parede celular), padrões hemolíticos: 
β-hemólise (completa), α-hemólise (incompleta) e γ-hemólise (ausência de hemólise), 
e propriedades bioquímicas (KILLAN, 2012; MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 
2014). 
1.3.1 ESTREPTOCOCOS β-HEMOLÍTICOS DO GRUPO A – STREPTOCOCCUS 
PYOGENES 
 S. pyogenes causa uma variedade de doenças supurativas e não supurativas. 
O ser humano é reservatório natural de S. pyogenes e a infecção mais comum deste 
microrganismo é a faringite estreptocócica que acomete, principalmente, crianças em 
idade escolar. Entretanto, esta bactéria causa outras infecções como impetigo, 
celulite, erisipela, sepse puerperal e infecções pós-parto. As complicações não-
supurativas mais importantes são a febre reumática aguda e a glomerulonefrite aguda, 
ambas surgem após um quadro de faringite estreptocócica. Agravos nas infecções 
por S. pyogenes como síndrome semelhante ao choque tóxico, pneumonia, 
osteomielite, meningite e necrose tissular, também podem ocorrer (WINN JUNIOR et 
al., 2008; DIANA; LIMBERD, 2014). 
 Os fatores de virulência dos estreptococos do grupo A incluem a cápsula de 
ácido hialurônico, que permite ao microrganismo resistir às células fagocíticas e 
invadir os tecidos moles. A proteína M é o principal fator de virulência do grupo A, pois 
evita a opsonização das bactérias pelo sistema complemento, a morte intracelular 
pelas células polimorfonucleares e quando se liga às integrinas dos neutrófilos, pode 
desencadear respostas inflamatórias que levam ao choque estreptocócico (WINN 
JUNIOR et al., 2008). 
 
19 
 
 O grupo A conta com duas hemolisinas: A estreptolisina O (SLO) e a 
estreptolisina S (SLS). A SLO é responsável pela β-hemólise observada nas culturas 
de S. pyogenes e também produz poros nas membranas das células, provoca 
degranulação e lise dos polimorfonucleares, inibe a fagocitose pelos macrófagos e 
compromete a resposta aos linfócitos e induz produção de citocinas. Já a SLS interage 
com fosfolipídeos de membrana dos eritrócitos, linfócitos e plaquetas que sofrem 
hemólise e causa os mesmos efeitos da SLO (DIANA; LIMBERD, 2014). 
 Os estreptococos do grupo A possuem ainda exotoxinas como fator de 
virulência. As exotoxinas pirogênicas estreptocócicas - SPE – induzem exantema, 
algumas provocam febre, induzem a proliferação de linfócitos T que leva à liberação 
de citocinas importantes que ativam o sistema complemento e levam à gravidade do 
choque estreptocócico. O S. pyogenes ainda conta com outros fatores de virulência 
como: C5a peptidase, que inativa C5a do complemento impedindo sua atividade 
quimiotática; hialorunidases, que degradam o ácido hialurônico do tecido conjuntivo e 
facilitam a infecção; estreptoquinases, que hidrolisam os coágulos de fibrina, 
desfazendo-os e assim facilitam a disseminação da bactéria nas infecções (KILLAN, 
2012; BARNETT et al., 2015). 
 Para a caracterização do S. pyogenes e diferenciá-lo de outras espécies de 
estreptococos que apresentam o antígeno específico do grupo A pode ser realizado 
os testes de suscetibilidade à bacitracina e da presença da enzima L-pirrolidonil 
arilamidase (PYR) (WINN JUNIOR et al., 2008; OPLUSTIL et al., 2010). 
1.3.2 ESTREPTOCOCOS β-HEMOLÍTICOS DO GRUPO B – STREPTOCOCCUS 
AGALACTIAE 
Streptococcus agalactiae é uma espécie pertencente ao grupo B de 
Lancefield. Esta bactéria foi inicialmente identificada como uma das causas da sepse 
puerperal. Entretanto, S. agalactiae tornou-se conhecido como um importante agente 
causador de septicemia, pneumonia e meningite em crianças recém-nascidas, bem 
como um agente causador de infecções graves em adultos, principalmente àqueles 
portadores de doenças crônicas graves (WINN JUNIOR et al., 2008; KILLAN, 2012). 
As doenças podem ser de início precoce, ou seja, quando o feto adquire a bactéria 
ainda no útero ou perinatal. Ou podem ser de início tardio que é quando as 
manifestações clínicas aparecem entre sete dias até três meses após o nascimento. 
 
20 
 
Em adultos, a doença pode se apresentar como infecções da pele e tecidos moles e 
infecções e feridas pós-cirúrgicas. Em casos graves pode haver meningite, 
endocardite e bacteremia,ou até mesmo aborto (WINN JUNIORet al., 2008; KILLAN, 
2012; DIANA; LIMBERD, 2014). 
O S. agalactiae contém vários fatores de virulência como os nove antígenos 
polissacarídicos capsulares – Ia, Ib e II a VII – sendo o sorotipo III um dos principais 
associados às infecções neonatais. Também é capaz de produzir C5a peptidase, 
hialuronidase, proteínas de superfície celular, que se ligam à imunoglobulina G e 
servem de adesinas juntamente com o ácido lipoteicóico. A β-hemolisina ou citolisina 
tem efeitos pró-apoptóticos, pró-inflamatórios e citotóxicos e é necessária para a 
virulência do S. agalactie. A presença do fator CAMP (Christie, Atkins e Munch-
Petersen) nas cepas de S. agalactie serve para a facilitar a identificação laboratorial 
deste grupo, entretanto, o verdadeiro papel deste fator ainda não foi bem estabelecido 
(KILLAN, 2012; BARNETT et al., 2015). 
A identificação do S. agalactie é realizada pelo teste negativo da catalase, 
teste de CAMP e hidrólise do hipurato positivos e presença do carboidrato grupo 
específico (antígeno de grupo B) através de teste de aglutinação (WINN JUNIOR et 
al,2008; OPLUSTIL et al., 2010). 
1.3.3 STREPTOCOCCUS PNEUMONIE 
Os Streptococcus pneumonie são cocos Gram-positivos encapsulados, com 
ovais ou com ponta em forma de lança, em pares (diplococos) ou em cadeias curtas 
de até 1,2μm e são comumente chamados de pneumococo. São catalase negativa e 
fastidiosos. Fazem parte da microbiota orofaríngea e são mais isolados em crianças 
nos períodos frios. S. pneumonie causa principalmente doenças do ouvido médio, 
seios paranasais e pulmões (pneumonia estreptocócica), mas pode se espalhar para 
outros locais, como as articulações, peritônio, endocárdio, trato biliar e meninges, 
além de causar bacteremia e sepse. As infecções graves, como pneumonia e 
meningite, acometem principalmente crianças com menos de três anos e idosos com 
mais de sessenta e cinco anos. Adultos imunodeprimidos também podem ser 
acometidos por uma infecção por S. pneumonie (WINN JUNIOR et al., 2008; KILLAN, 
2012; DIANA; LIMBERD, 2014). 
 
21 
 
Os fatores de virulência do S. pneumonie são os polissacarídeos capsulares, 
que contam com mais de 90 sorotipos, sendo 23 os mais virulentos, causando a maior 
parte dos casos de pneumonia e meningite estreptocócica. Estes polissacarídeos são 
capazes de escapar das células fagocíticas e do sistema complemento quando não 
há anticorpos presentes, visto que há vacinas pneumocócicas. As pneumolisinas são 
toxinas intracelulares que inibem a fagocitose e a motilidade celular, estimulam a 
produção de citocinas pelos macrófagos e ativam a via clássica do complemento. A 
autolisina lisa a parede da bactéria e, liberando pneumolisina e fragmentos da parede 
celular, leva a uma resposta inflamatória a esses fragmentos ocasionando 
agravamento dos casos de pneumonia e meningite. IgA1 protease é uma protease 
extracelular que cliva IgA1, a principal imunoglobulina do trato respiratório superior, 
permitindo que o S. pneumonie escape dos efeitos protetivos desta imunoglobulina 
(KILLAN, 2012; BARNETT et al., 2015). 
 O teste de sensibilidade à optoquina e o teste de solubilidade em bile positivos, 
além de catalase-negativa e presença de α-hemólise no ágar-sangue são provas 
presuntivas de Streptococcus pneumonie. Testes sorológicos e moleculares também 
complementam a identificação de S. pneumonie (WINN JUNIOR et al., 2008; 
YAMANAKA, 2011). 
1.4 ENTEROCOCCUS SP. 
 O gênero Enterococcus sp. antigamente era conhecido como Streptococcus do 
grupo D. São habitantes naturais do trato intestinal e biliar e podem habitar a região 
vaginal e uretral masculina. São cocos Gram-positivos, catalase e oxidase-negativas, 
crescem em meio alcalino e na presença de cloreto de sódio (WINN JUNIOR et al., 
2008 YAMANAKA, 2011). 
 Os Enterococcus vêm ganhando atenção dos microbiologistas por estarem se 
tornando agentes cada vez mais importantes nas infecções humanas, sobretudo, 
devido ao fato dos enterococos possuírem resistência aos antimicrobianos que os 
estreptococos são sensíveis, como resistência à penicilina e às cefalosporinas, aos 
aminoglicosídeos e à vancomicina, o que resulta em superinfecções, especialmente, 
em pacientes de unidades de terapia intensiva (WINN JUNIOR et al., 2008; KILLAN, 
2012). 
 
22 
 
Enterococcus faecalis e Enterococcus faecium são os enterococos mais 
isolados nas infecções causadas por esse patógeno. Estão envolvidos em infecções 
do trato urinário, endocardite infecciosa, bacteremia, infecções intra-abdominais e 
pélvicas, lesões abdominais supurativas, peritonite, infecções de feridas e tecidos 
moles, sepse neonatal, meningite e raras infecções pulmonares, muitas vezes 
comportando-se como agentes oportunistas em infecções hospitalares e em pacientes 
imunocomprometidos (WINN JUNIOR et al., 2008; YAMANAKA, 2011; KILLAN, 2012). 
Os fatores de virulência do Enterococcus faecalis, que é o mais isolado dos 
enterococos, incluem a citolisina, que atua sobre os eritrócitos; a substância de 
agregação, que facilita a adesão do microrganismo às epiteliais e intestinais; a 
proteína de superfície extracelular – Esp – que ajuda o enterococo a evadir-se dos 
anticorpos do hospedeiro; expressão de superóxido; e os ácidos lipoteicóicos que 
aumentam a virulência ao induzir a expressão de citocinas e interferon (WINN JUNIOR 
et al., 2008; YAMANAKA, 2011). 
A identificação de enterococos se dá pelos testes de catalase negativa, PYR 
positivo e o teste da bile-esculina positivo, além das cepas crescerem em meio alcalino 
e com alta concentração de cloreto de sódio (WINN JUNIOR et al., 2008). 
1.5 TIPOS DE RESISTÊNCIA: NATURAL OU ADQUIRIDA 
 Há dois tipos de resistência a antibióticos em bactérias, denominadas natural 
ou intrínseca e resistência adquirida ou extrínseca. Resistência intrínseca significa que 
cada membro de uma espécie determinada será resistente a um composto sem que 
haja qualquer alteração genética adicional, sendo transmitido verticalmente. Muitas 
espécies bacterianas entéricas, incluindo P. aeruginosa, apresentam uma 
sensibilidade muito baixa aos antibióticos hidrofóbicos, como os macrolídeos, pois os 
mesmos apresentam dificuldade para penetrar a membrana externa desses 
organismos (NORMARK, 2002). Já a resistência extrínseca ou adquirida ocorre por 
meio de mutações (mutações de ponto, deleções, inversões, inserções, entre outras 
alterações genômicas) ou por mecanismos de transferência horizontal. Os plasmídeos 
transferíveis podem ser muito grandes (> 150 kb) e contêm uma variedade de genes 
de resistência. Podem formar co-integrados com transposons que incorporam um ou 
mais genes de resistência. Os elementos cromossômicos também podem se transferir 
por conta própria ou serem mobilizados por plasmídeos transferíveis (RICE, 2012). 
 
23 
 
Além disso, a forma como a bactéria sofre uma mutação, por exemplo em bombas de 
efluxo, pode levar a uma multirresistência a diversos fármacos (RICE, 2006). Sendo 
assim, praticamente qualquer parte do genoma pode ser mobilizada, enfatizando a 
fluidez de muitos genomas bacterianos. E, devido ao curto tempo de geração e grande 
tamanho das populações bacterianas, essas mutações são uma fonte contínua de 
variação genética, o que lhes confere grande adaptabilidade ao meio. Dessa forma, 
as populações com maior capacidade de sobreviverem a certo antibacteriano 
adquirem uma vantagem reprodutiva e se multiplicam, resultando em resistência e 
maior frequência desse patógeno na população (RICE, 2012). 
Uma bactéria é considerada multirresistente quando esta não é sensível a três 
ou mais classes de antibacterianos, segundo a Organização Mundial de Saúde 
(OMS). Ainda nos anos 1940, estudos reportaram os primeiros casos de resistência 
bacteriana à penicilina. No decorrer dos anos seguintes, as bactérias foram se 
tornando resistentes também aos novos antibacterianosque surgiam. Estes eram 
cada vez mais fortes, entretanto o mecanismo de resistência das bactérias mostrava-
se mais eficiente. Um panorama histórico da resistência bacteriana pode ser 
observado, a seguir, no quadro 1. 
Quadro 2. Data de introdução e primeira resistência reportada para os 
antibacterianos mais comuns. Quadro adaptado de Lewis, 2013. 
Classe de 
antibacteriano e 
exemplo 
Ano de 
introdução no 
mercado 
Agente etiológico Ano da 
primeira 
resistência 
reportada 
β-lactâmicos (penicilina) 1938 Staphylococcus 
auerus 
1945 
Aminoglicosídeos 
(estreptomicina) 
1946 Mycobacterium 
tuberculosis 
1946 
Cloramfenicol 
(clorafenicol) 
1948 1950 
Macrolídeos 
(eritromicina) 
1951 1955 
 
24 
 
Tetraciclinas 
(cloratetraciclina) 
1950 1952 
Rifamicinas (rifampicina) 1958 Mycobacterium 
tuberculosis 
1962 
Glicopeptídeos 
(vancomicina) 
1958 Enterococcus spp. 1960 
Quinolonas 
(ciprofloxacina) 
1968 1968 
Oxazolidinonas 
(linezolida) 
 
2000 
 
 
Enterococcus spp. 
 
 
2001 
 
 
Inibidores de β-
lactamases 
ESBL 
 
 
 
 
Klebsiella 
pneumoniae 
 
 
1980 
 
 
Carbapenêmicos 
 
 Klebsiella 
pneumoniae 
1991 
 
1.6 FÁRMACOS ANTIBACTERIANOS 
Os antimicrobianos, ou antibióticos, são moléculas químicas capazes de se 
ligarem aos receptores proteicos dos microrganismos, que são essenciais à 
homeostasia do micróbio. A interação dos fármacos antimicrobianos com estas 
estruturas leva à um abalo na sobrevida do microrganismo, seja por sua destruição 
ou incapacidade de reprodução. 
Os antibióticos são classificados de acordo com o microrganismo que atuam, 
logo os que combatem as bactérias são os antibacterianos e estes podem ser 
bacteriostáticos ou bactericidas. Os bacteriostáticos são aqueles que impedem o 
crescimento e a reprodução bacteriana e os bactericidas são aqueles que matam as 
bactérias. 
 
25 
 
Os agentes bacterianos podem ser classificados de acordo com o seu local 
de ação sobre a bactéria, assim, temos: 1) Inibidores da síntese de proteínas; 2) 
Atuam sobre estrutura do DNA bacteriano; 3) Atuam sobre o metabolismo bacteriano; 
4) Atuam sobre a membrana celular bacteriana, e 5) Atuam sobre a parede bacteriana 
(BRUNTON; CHEBNER; KNOLLMANN, 2012). 
1.6.1 INIBIDORES DA SÍNTESE DE PROTEÍNAS 
Os antibacterianos que inibem a síntese de proteínas atuam diretamente 
sobre a maquinaria genética de produção de proteínas. Estes fármacos agem sobre 
as unidades ribossomais, 30S ou 50S, causando erros de leitura, paradas antecipadas 
ou inibição da síntese de cadeias peptídicas (BRUNTON; CHEBNER; KNOLLMANN, 
2012). 
As tetraciclinas e os aminoglicosídeos atuam sobre a unidade 30S do 
ribossomo. As tetraciclinas são antibióticos bacteriostáticos com atividade sobre uma 
ampla gama de bactérias aeróbias e anaeróbias, Gram-positivas e Gram-negativas. 
Quando se ligam à subunidade 30S impedem a ligação do RNA transportador (RNAt) 
carreando um aminoácido ao local aceptor no complexo subunidade 30S – RNA 
mensageiro (RNAm) do ribossomo. Já os aminoglicosídeos possuem atividade contra 
bacilos Gram-negativos (BGN) aeróbicos ligando-se ao complexo 30S - 50S levando 
a erros de leitura do RNAm e incorporação errônea de aminoácidos (BRUNTON; 
CHEBNER; KNOLLMANN, 2012). 
Os macrolídeos e cetolídeos, lincosamidas, clindamicina, estreptograminas, 
bacitracina, mupirocina, clindomicinas, estreptograminas e oxazolidinonas são 
fármacos que atuam na subunidade 50S impedindo a síntese proteica por inibição da 
transferência de aminoácidos do local aceptor para o local onde se forma a cadeia 
peptídica, o que impede o alongamento da cadeia ou impedindo a formação do 
complexo iniciador da síntese proteica na subunidade 50S. A bacitracina e a 
mupirocina são fármacos de uso tópico e que atuam sobre cocos e bacilos Gram-
positivos, Neisseria, Haemophilus influenzae, Treponema pallidum e bactérias Gram-
positivas e algumas Gram-negativas, respectivamente. Os macrolídeos e cetolídeos 
atuam sobre cocos e bacilos Gram-positivos, as lincosamidas sobre bactérias Gram-
positivas aeróbias e anaeróbias, o cloranfenicol sobre bactérias Gram-positivas e 
 
26 
 
Gram-negativas, as estreptograminas sobre cocos Gram-positivos e as oxalidinonas 
sobre bactérias Gram-positivas aeróbias e anaeróbias (BECKER, 2013; BRUNTON; 
CHEBNER; KNOLLMANN, 2012). 
1.6.2 ATUAM SOBRE ESTRUTURA DO DNA BACTERIANO 
 Os fármacos que atuam sobre a estrutura do DNA bacteriano, são os que têm 
a capacidade de agir diretamente sobre a molécula de DNA. São representantes desta 
classe a rifampicina e as quinolonas. A rifampicina atua sobre a enzima RNA 
polimerase, que impede a síntese do RNA, assim, a transcrição do material genético 
será afetada. As rifampicinas têm atividade sobre bactérias Gram-positivas e algumas 
Gram-negativas, como Escherichia coli, Proteus sp., Pseudomonas sp. e Klebsiella 
sp. Também é droga de escolha no tratamento da tuberculose (Mycobacterium 
tuberculosis) (BRUNTON; CHEBNER; KNOLLMANN, 2012). 
Já as quinolonas atuam sobre a DNA-girase e a topoisomerase IV das 
bactérias. Estes fármacos inibem a atividade de corte e selamento da fita de DNA da 
DNA-girase e a capacidade de separar as fitas de DNA da topoisomerase IV. Para 
Gram-positivas, sua ação é na topoisomerase IV, para as Gram-negativas sua 
atividade é sobre a DNA-girase (BRUNTON; CHEBNER; KNOLLMANN, 2012). 
1.6.3. ATUAM SOBRE O METABOLISMO BACTERIANO 
 Os fármacos que atuam sobre o metabolismo bacteriano são as sulfonamidas 
e trimetoprima. Estes são antibacterianos que agem sobre a síntese de folato, que é 
essencial para as bactérias que não possuem capacidade de absorvê-lo do meio e é 
fundamental para a síntese de purinas. As sulfonamidas impedem que o PABA (ácido 
p-aminobenzico) seja incorporado à via de síntese do folato. Já a trimetoprima atua 
inibindo a diihidrofolatoredutase, que age reduzindo o folato a tetraidrofoato e essa 
forma reduzida é utilizada para reações que envolvam transferência de carbono. Na 
prática clínica são utilizados estes compostos em associação pois são mais eficazes 
e atuam sobre bactérias Gram-positivas e Gram-negativas (BECKER, 2013; 
BRUNTON; CHEBNER; KNOLLMANN, 2012). 
1.6.4 ATUAM SOBRE A MEMBRANA CELULAR BACTERIANA 
 
27 
 
 As polimixinas são produzidas pelo Bacillus polymyxa e a colistina ou polimixina 
E é produzida pelo Bacillus colistinus. As polimixinas são detergentes catiônicos que 
interagem com os fosfolipídeos da membrana celular das bactérias, desestabilizando-
a. Seu espectro de ação é sobre bactérias Gram-negativas, como Escherichia coli, 
Enterobacter, Klebsiella e Salmonella. Entretanto, Proteus e Serratia são naturalmente 
resistentes (BECKER, 2013; BRUNTON; CHEBNER; KNOLLMANN, 2012). 
1.6.5 ATUAM SOBRE A PAREDE BACTERIANA 
 A parede celular bacteriana é composta por peptideoglicano, que são cadeias 
de aminoaçúcares unidos por ligações cruzadas de cadeias laterais de aminoácidos. 
Os antibacterianos que atuam sobre a parede celular bacteriana são os β-lactâmicos 
e os glicopeptídeos (BRUNTON; CHEBNER; KNOLLMANN, 2012). 
 Os β-lactâmicos são os antibacterianos mais comumente prescritos e são 
representados pelas penicilinas, cefalosporinas e os carbapenêmicos. São fármacos 
que possuem a presença do anel β-lactâmico em comum em suas estruturas. Os β-
lactâmicos atuam ligando-se às PBP, que são proteínas de ligação à penicilina (do 
inglês Penicilin binding protein), nas transpeptidases, o que inibe a reação de 
transpeptidação. Deste modo, não ocorre a ligação dos tetrapeptídeos do 
proteoglicano à cadeia de glicinas, assim, não há formação de ligações peptídicas 
cruzadas e, consequentemente, da parede celular bacteriana. Em suma, agem 
impedindo que ocorram as ligações cruzadas que unem os glicopeptídeos (BRUNTON; 
CHEBNER; KNOLLMANN, 2012). 
 As penicilinas atuambem contra bactérias Gram-positivas. Em associação com 
inibidores de β-lactamase, têm seu espectro de ação estendido. As cefalosporinas são 
classificadas por geração, de 1ª a 4ª, e no decorrer das gerações a atividade das 
cefalosporinas vão sendo melhoradas. As de 1ª geração atuam muito bem contra 
bactérias Gram-positivas e fracamente contra Gram-negativas. As de 2ª geração 
atuam sobre bactérias Gram-positivas e Gram-negativas. As de 3ª geração têm uma 
menor atividade sobre bactérias Gram-positivas quando comparadas com as de 1ª 
geração, entretanto seu espectro de ação sobre bactérias Gram-negativas é muito 
maior, inclusive atuando sobre Enterobacteriaceae e cepas produtoras de β-
lactamase. Já as de 4ª geração atuam sobre cocos Gram-positivos, 
 
28 
 
Enterobacteriaceae, Pseudomonas aeruginosa, e, também, são mais resistentes às 
de β-lactamases. Os carbapenêmicos são β-lactâmicos que possuem espectro de 
ação muito maior do que as penicilinas e cefalosporinas. São mais resistentes às de 
β-lactamases e atuam sobre bactérias Gram-positivas e Gram-negativas aeróbias e 
anaeróbias (BECKER, 2013; BRUNTON; CHEBNER; KNOLLMANN, 2012). 
 Os glicopeptídeos são representados pela vancomicina e teicoplanina. Estes 
fármacos possuem atividade de amplo espectro contra bactérias Gram-positivas. 
Atuam inibindo a síntese de parede celular por se ligar à subunidade estrutural D-
alanil-D-alanina, o que impede a polimerização do peptideoglicano, quando ocorre o 
bloqueio da ligação ao polímero glicopeptídico. Recentemente, uma modificação na 
estrutura da vancomicina a tornou, após testes in vitro, mil vezes mais eficaz do que 
a vancomicina não modificada, inclusive contra cepas antes resistentes (CASTLE, 
2017). 
1.7 MECANISMOS DE RESISTÊNCIA 
 Para terem o efeito farmacológico desejado, os antibacterianos necessitam 
alcançar diferentes locais da célula bacteriana, para interagirem com seus alvos e são 
estes que sofrem alguma mutação e os fármacos acabam perdendo sua função e a 
bactéria torna-se resistente. Os principais mecanismos de resistência são: 
• Produção de enzimas que inibem a ação do antibacteriano – As beta-
lactamases e carbapenemases, são algumas destas enzimas. A estrutura do 
fármaco sofre uma ação enzimática, impedindo que este se ligue ao seu sítio-
alvo, como por exemplo, as beta-lactamases destroem a porção amida do anel 
beta-lactâmico e este não se liga às PBP, assim não exerce sua função de 
impedir a síntese da parede celular bacteriana. As bactérias Gram-negativas 
são o grupo que mais apresenta esse tipo de mecanismo, visto que se trata de 
uma resistência intrínseca, a enterobactéria Escherichia coli é um exemplo 
(BRUNTON; CHEBNER; KNOLLMANN, 2012). 
• Expressão de bombas de efluxo – Os transportadores ativos residem na 
membrana interna e, em bactérias Gram-negativas, eles formam complexos 
trans-envelope, juntamente com proteínas de fusão de membrana 
periplasmática (MFPs) e fatores de membrana externa (OMFs). Como 
 
29 
 
entidades tripartidas, esses complexos macromoleculares são máquinas 
poderosas que expulsam múltiplos antibióticos através da membrana externa. 
Um exemplo de bactéria que apresenta esse mecanismo é a Pseudomonas 
aeruginosa (VARGIU, 2016). 
• Alteração da permeabidade da membrana celular – Essa alteração está 
relacionada a bactérias Gram-negativas devido a permeabilidade limitada da 
membrana celular externa de lipopolissacarídeo, devido a presença de 
porinas. Assim, alterações nas porinas impedem o acesso de fármacos ao 
interior da célula bacteriana. Esse tipo de mecanismo concede resistência a 
polimixinas e a colistina. Um exemplo de bactéria resistente a polimixinas é 
Acinetobacter baumanii. Um exemplo de bactéria resistente a colistina é 
Klebsiella pneumoniae (CASPAR, 2017). 
• Alteração dos sítios de ação dos fármacos – Genes que levarão a mutações 
nos locais onde ocorre a ação dos fármacos, impedindo esta atividade, ou irão 
tornar tais sítios menos suscetíveis a ação dos fármacos, inativando-o. Esse 
mecanismo é comum na resistência a quinolonas, estando presente, por 
exemplo, na Salmonella spp (PRIBUL, 2017). 
• Alterações nas vias metabólicas que podem compensar a ação dos 
antibacterianos – Essa alteração, como por exemplo a redução de afinidade 
de di-hidrofolato redutase, leva à inativação da atividade de antibacterianos 
antimetabólicos, como as sulfonamidas. Microrganismos como Mycobacterium 
tuberculosis e Pseudomonas aeruginosa podem apresentar esse tipo de 
mecanismo (GUZZO, 2016). 
As causas do aumento de resistência bacteriana aos antimicrobianos são 
inúmeras e incluem, principalmente, o uso inadequado de antibacterianos, doses 
erradas, tratamentos incompletos, utilização do antibacteriano errado para 
microrganismo patogênico e até mesmo a falsificação e má manipulação destes 
fármacos. E as consequências são um grave problema de saúde pública, que custa 
milhares de vidas por ano e demandam esforços mundiais para saná-los. 
 
30 
 
2. OBJETIVOS 
2.1 OBJETIVOS GERAIS 
 Realizar uma revisão bibliográfica através de bases de dados científicas sobre 
a resistência em cocos Gram-positivos de maior importância clínica, incluindo cepas 
resistentes aos antimicrobianos e testes de identificação de resistência em cocos 
Gram-positivos. 
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 
• Conceituar cocos Gram-positivos 
• Revisar sobre o gênero Staphylococcus sp, biologia e identificação etiológica; 
• Revisar sobre o gênero Streptococcus sp, biologia e identificação etiológica; 
• Revisar sobre o gênero Enterococcus sp, biologia e identificação etiológica; 
• Revisar as espécies mais frequentes de cocos Gram-positivos com perfil de 
resistência 
• Relatar sobre os principais testes fenotípicos de identificação de resistência em 
cocos Gram-positivos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
31 
 
3. METODOLOGIA 
O trabalho consiste em uma pesquisa de revisão bibliográfica sobre o tema 
“Cocos Gram-positivos e resistência bacteriana” realizada nas bases de dados 
científicas PUBMED, Scientific Electronic Library Online (Scielo) e Science Direct. As 
palavras-chave para a pesquisa em inglês foram: Gram-positive cocci, 
Staphylococcus sp., Streptococcus sp., Enterococcus sp., Gram-positive cocci 
resistence e antimicrobial resistence. Para a pesquisa em português foram utilizadas 
as palavras-chave: Cocos Gram-positivos, Staphylococcus sp., Streptococcus sp., 
Enterococcus sp., resistência em cocos Gram-positivos e resistência antimicrobiana. 
Foi dada prioridade a artigos, dissertações e livros do ano 2000 ao ano de 2017. No 
total foram utilizados 38 artigos científicos, 1 dissertação de mestrado, 1 trabalho de 
conclusão de curso, 5 livros acadêmicos, 3 sites e 3 normas técnicas. 
3.1 IDENTIFICAÇÃO LABORATORIAL DE RESISTÊNCIA BACTERIANA 
 A identificação da resistência bacteriana é fundamental para o direcionamento 
da terapêutica antibacteriana. Duas organizações internacionais anualmente emitem 
diretrizes para os testes de identificação de resistência bacteriana e controle de 
qualidade. São elas: O European Comitee on Anitmicrobial Susceptibily Testing - 
EUCAST – e o Clinical and Laboratory Standards Institute – CLSI – sendo o primeiro 
europeu e o segundo americano. No Brasil, o CLSI é o mais utilizado. Inclusive a 
Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a ANVISA, compra os direitos de tradução 
e distribuição do CLSI para laboratórios nacionais. 
 As técnicas mais utilizadas e preconizadas por estas organizações são teste 
de disco-difusão em ágar (Bauer-Kirby), determinação da concentração inibitória 
mínima (MIC) e teste de triagem em ágar (ágar diluição). 
3.2 TÉCNICAS PARA IDENTIFICAÇÃO LABORATORIAL DE RESISTÊNCIA 
BACTERIANA 
 
3.2.1 TESTE DE SENSIBILIDADE POR MACRODILUIÇÃO EM TUBOS 
O teste consiste na preparação de diluições seriadas (de 100 µg/ml até 0,4 
µg/ml) de antimicrobianos em um meiode caldo Müller-Hinton semeado com a 
bactéria teste. Dos tubos do teste, 1 devem conter o antimicrobiano, porém sem a 
 
32 
 
bactéria, pois será o controle negativo, e o outro deve conter a bactéria, mas não deve 
conter o antimicrobiano, será o controle positivo. Após inoculação com a suspensão 
bacteriana padronizada, os tubos deverão ser incubados por 18 horas a 35ºC. 
Decorrido este tempo, os tubos serão analisados e deve-se observar se há presença 
de turbidez (que indica crescimento bacteriano). O primeiro tubo que demonstrar a 
inibição do crescimento bacteriano, será o tubo que denota a concentração inibitória 
mínima (MIC) daquele antibacteriano para uma determinada bactéria (figura1) (WINN 
JUNIOR et al., 2008; MOLINARO; CAPUTO; AMENDOEIRA.2013). 
 
 
 
 
 
Figura 1. Macrodiluição em tubos. Fonte: Anvisa (2008). 
 
3.2.2. TESTE DE SENSIBILIDADE POR MICRODILUIÇÃO EM PLACA 
 Esta técnica é semelhante à macrodiluição em tubos, entretanto o teste é feito 
em uma placa de microdiluição (“placa de Elisa”) de 96 poços. Neste teste há a 
vantagem de que até 12 antimicrobianos podem ser testados de uma só vez, em 
diluições logarítmicas de 4 a 8. As placas são fabricadas e já vêm contendo o 
antimicrobiano liofilizado ou congelado. Os antimicrobianos e as bactérias a serem 
testadas são inoculadas com uma pipeta para obter-se uma concentração bacteriana 
de aproximadamente 5 x 104 - 105 unidades formadoras de colônia por ml (UFC/ml) 
em cada poço. Os painéis de microdiluição devem ser incubados a mais ou menos 
35ºC por 18 horas. Transcorrido esse tempo, a leitura visual da placa deverá ser 
realizada (figura 2) (MOLINARO; CAPUTO; AMENDOEIRA.2013). 
 
 
 
33 
 
Figura 2. Placa de microdiluição após incubação. Fonte: (ANVISA, 2008). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3.2.3. TESTE DE SENSIBILIDADE POR DISCO-DIFUSÃO 
Primeiramente, com uma alça microbiológica estéril, deve-se tocar a superfície 
de 3 a 5 colônias da bactéria a ser analisada e transferir este inóculo para 5 mL de 
solução salina para obter uma turvação de 0,5 MacFarland, que corresponde a 
aproximadamente 108 UFC/mm. Feito isto, deve-se inocular o caldo com swab estéril 
em uma placa ágar Müller-Hinton em semeadura contínua em três direções. Após 5 
minutos, colocar os discos contendo antibióticos (MOLINARO; CAPUTO; 
AMENDOEIRA.2013). Os discos de antibióticos e quantidade destes que devem ser 
colocados para avaliação de sensibilidade por uma determinada bactéria está 
padronizado pelo CLSI (CLSI, 2017). Após 24 horas de incubação a 37ºC, observar a 
formação dos halos de inibição. Estes devem ser mensurados em milímetros e 
interpretados de acordo com o que está preconizado no CLSI para a bactéria em 
análise e esta deve ser classificada em resistente, intermediária ou sensível para o 
antimicrobiano utilizado (figura 3) (MOLINARO; CAPUTO; AMENDOEIRA.2013). Por 
este método, também é feito o teste de zona D, que mostra a resistência a um fármaco 
induzida por outro. Um caso nos cocos gram-positivos, a eritromicina induz a 
resistência a clindamicina, formando um halo de inibição no formato da letra “D” (figura 
4) (SOUZA et al, 2011). 
 
 
 
34 
 
Figura 3. Teste de sensibilidade por disco-difusão em ágar e ilustração mostrando a 
difusão do antibiótico no ágar. Fonte: (ANVISA, 2008). 
Figura 4. Teste da zona D. Resistência à clindamicina induzida pela eritromicina. 
Fonte: (SOUZA et al., 2011). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3.2.4. TESTE DE SENSIBILIDADE POR DILUIÇÃO EM ÁGAR (SCREENING) 
 Este teste consiste em semear um inóculo de suspensão padronizada da 
bactéria em análise em placas de ágar suplementado com concentrações diferentes 
e no alcance terapêutico do agente antimicrobiano de interesse. Na primeira placa que 
não houver crescimento microbiano, a MIC será igual a concentração de 
antimicrobiano da placa. Para facilitar o trabalho em grandes volumes, um multi-
inoculador pode ser usado. Com o auxílio deste mecanismo, até 32 inóculos podem 
ser semeados de uma só vez. Este teste também é conhecido por teste de screening 
ou triagem e é utilizado pelo CLSI para verificar resistência de cepas de S. aureus à 
 
35 
 
Figura 5. Determinação do MIC por Etest após incubação. Fonte: (ANVISA, 2008). 
oxacilina e à vancomicina e também para verificar cepas de Enterococcus sp. 
resistentes à vancomicina (WINN JUNIOR et al., 2008; CLSI, 2017). 
3.2.5 ETEST® 
 O Etest® é um teste comercializado que consiste em uma fita plástica que na 
parte traseira é impregnada com diferentes concentrações de antibiótico e na parte 
frontal possui uma escala das concentrações do antibótico que contém no verso da 
fita e a sua utilidade é para determinar o MIC do antimicrobiano da fita. A base desta 
técnica é a expansão da difusão do método em disco e o preparo do inóculo é o 
mesmo: semeio de um inóculo 0,5 MacFarland em ágar Müller-Hinton. Sobre este 
inóculo coloca-se a fita do Etest e incuba-se por 24 horas a, mais ou menos, 35ºC. A 
MIC do microrganismo testado é determinada no local onde a linha de inibição 
intersecta a fita. A zona de inibição assume uma forma elíptica, por isso esse teste 
também é conhecido como teste com Episilômetro (figura 5) (WINN JUNIOR et al., 2008; 
MOLINARO; CAPUTO; AMENDOEIRA.2013). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3.2.6. SISTEMAS AUTOMATIZADOS 
 Nos sistemas automatizados, como no Vitek®, é possível que se faça a 
incubação do inóculo bacteriano, a diferenciação entre Gram-positivas ou Gram-
negativas e executar testes de sensibilidade com precisão e bem mais rápidos, visto 
que a aparelhagem óptica desses equipamentos detecta qualquer crescimento, 
mesmo que mínimo. Esses aparelhos também determinam as concentrações 
 
36 
 
inibitórias mínimas e/ou a resistência a determinados fármacos (WINN JUNIOR et al., 
2008). 
4. DISCUSSÃO 
4.1 COCOS GRAM-POSITIVOS RESISTENTES 
4.1.1 STAPHYLOCOCCUS AUREUS RESISTENTES 
Resistência bacteriana significa que um microrganismo não possui mais 
sensibilidade a um antibiótico que antes possuía ou possui uma resistência intrínseca, 
determinada por componentes genéticos natos da bactéria. Mas a resistência 
bacteriana pode ser também adquirida através da transferência de genes ou 
plasmídeos de resistência disseminados no meio ambiente (MURRAY; ROSENTHAL; 
PFALLER, 2014). 
Desde o momento em que a penicilina passou a ser comercializada, as 
infecções causadas por cocos Gram-positivos sofreram grandes mudanças em seus 
tratamentos, especialmente as infecções causadas por Staphylococcus e 
Streptococcus. Infelizmente, estes microrganismos juntamente com os Enterococcus 
vêm demonstrando um crescimento exponencial de suas resistências aos antibióticos, 
inclusive aos de última linha, representando uma preocupação global (WOODFORD; 
LIVERMORE, 2009). 
Os Staphylococcus aureus no final dos anos 1940 eram susceptíveis às 
penicilinas, porém logo já demonstravam ser resistentes. Nos anos 1960 foram 
introduzidas na terapia das infecções por S. aureus as penicilinas semi-sintéticas 
(meticilinas ou oxacilinas) que resistiam às ações das β- lactamases produzidas pelas 
cepas de S. aureus. Entretanto, nos anos 1980 surgiram as cepas meticilina/oxacilina 
resistentes, as comumente conhecidas MRSA (S. aureus meticilina resistente) ou 
ORSA (S. aureus oxacilina resistente). Essa resistência é causada pelo gene mecA, 
que altera a proteína de ligação à penicilina (PBP) - que é o sítio de ação das 
penicilinas sintéticas ou não – para uma proteína alterada PBP 2a, que tem baixa 
afinidade pela penicilina e, assim, esta não exerce sua função e a parede celular 
bacteriana mantém-se íntegra (WOODFORD; LIVERMORE, 2009; MEDINA; PIEPER, 
2016). Outro tipo de resistência que não está relacionada ao gene mecA, encontrado 
 
37 
 
nas cepas de S. aureus é a resistência borderline, na qual as concentrações de 
inibição mínima estão próximasao limite e ocorre hiperprodução de β-lactamases 
(BORSA - S. aureus boderline oxacilina resistente) e modificações na estrutura do 
sítio de ligação das PBPs (MODSA- S. aureus com proteína de ligação à penicilina 
modificada) (ALMEIDA, 2016). 
Para as cepas MRSA ainda havia uma saída: a vancomicina, um 
glicopeptídeo que se liga às terminações D-Ala-D-Ala e impede a continuidade da 
síntese da parede celular bacteriana. A vancomicina funcionou bem até o final dos 
anos 1990, precisamente em 1997, quando houve o relato da primeira cepa com 
resistência intermediária à vancomicina, ou VISA (S. aureus com resistência 
intermediária à vancomicina) ou GISA (S. aureus com resistência intermediária aos 
glicopeptídeos). No início dos anos 2000, foram relatados os primeiros casos de S. 
aureus resistentes à vancomicina, sendo esta adquirida e causada pelo opéron 
cromossômico VanA proveniente do Enterococcus faecalis (MEDINA; PIEPER, 2016). 
O CLSI, que é o Instituto de Padronização dos Laboratórios Clínicos (do inglês 
Clinical Laboratories Standards Institute), todos anos emite um manual que oferece 
diretrizes para a identificação de resistência bacteriana a partir de testes de diluição e 
disco-difusão em ágar (estes testes serão abordados mais a frente). O CLSI preconiza 
que para uma cepa de S. aureus ser sensível à vancomicina a concentração inibitória 
mínima (MIC) deve ser de ≤ 2µg/ml, os intermediários devem ter um MIC de 4 a 8µg/ml 
e os resistentes necessitam de mais de 16µg/ml (CLSI, 2017). 
As cepas resistentes de S. aureus eram limitadas ao ambiente hospitalar, 
contudo, nos últimos anos os casos de MRSA adquiridos na comunidade têm 
aumentado e preocupado a classe médica (GELATTI, 2009). A virulência do 
Staphylococcus aureus não é alterada se este é MRSA ou VISA, entretanto o 
tratamento torna-se mais difícil o que eleva a morbidade do paciente e a infecção pode 
se agravar à ponto de leva-lo ao óbito. Atualmente, a daptomicina e linezolida são 
escolhas para o tratamento de S. aureus resistente à vancomicina. E o controle da 
disseminação das cepas MRSA e VISA ocorre através de medidas universais de 
controle de infecção (luvas, lavagem das mãos, cuidado com secreções e não 
compartilhamento de itens pessoais), vigilância epidemiológica, isolamento e 
 
38 
 
tratamento do paciente e uso cauteloso e criterioso dos glicopeptídeos (GELATTI, 
2009; MEDINA; PIEPER, 2016). 
Outro mecanismo de resistência à oxacilina por S. aureus, é um homólogo ao 
gene mecA, o gene mecC e causa a mesma resistência ao produzir proteínas 
ligadoras de penicilina modificadas (PBP 2a). A resistência ao mecC não pode ser 
detectada pelos testes tradicionais voltados ao gene mecA ou às PBPs modificadas. 
As cepas ORSA que possuem o gene mecC são raras e foram relatadas somente na 
Europa, e apresentam um problema diagnóstico, visto que as duas cepas são muito 
parecidas (ALMEIDA, 2016). 
4.1.2 STREPTOCOCCUS RESISTENTES 
 Os Streptococcus, comumente, tendem a não se tornar resistentes, como por 
exemplo, o Streptococcus pyogenes e Streptococcus agalactiae, que não tiveram 
resistência à penicilina reportada na literatura científica, embora tenham demonstrado 
resistência à eritromicina e outros macrolídeos, tetraciclina e clindamicina. Porém, os 
Streptococcus pneumonie vêm mostrando capacidade de desenvolverem resistência. 
(AMYES, 2007; WINN JUNIOR et al., 2008). 
 S. pneumonie resistente à penicilina foi relatado pela primeira vez nos anos 
1980 e só foi aumentando no passar dos anos o que causa muita preocupação, visto 
que este microrganismo é responsável por centenas de milhares de mortes por ano. 
A resistência de S. pneumonie à penicilina é decorrente de mudanças nas PBP e não 
pela expressão de β- lactamases, o que confere resistência não somente à penicilina, 
mas a outros β-lactâmicos. É importante salientar que a maioria dos microrganismos 
resistentes, demonstra uma resistência intermediária, ou seja, exibe concentrações 
inibitórias mínimas (MIC) mais elevadas que as cepas sensíveis e ainda não são 
totalmente resistentes. A resistência à eritromicina também é uma preocupação e é 
expressa pelo gene erm leva a uma mudança no sítio de ligação deste fármaco no 
RNA ribossômico e o gene mef causa resistência a outros macrolídeos pela expressão 
de bombas de efluxo (AMYES, 2007; HAKENBECK et al., 2012). 
 O CLSI determina que as cepas de S. pneumonie serão sensíveis à penicilina 
quando a MIC for ≤ 2µg/ml, terão resistência intermediária quando a MIC for 4µg/ml e 
serão resistentes quando a MIC for ≥ 8µg/ml (CLSI, 2017). 
 
39 
 
4.1.3. ENTEROCOCCUS RESISTENTES 
 Os Enterococcus sp. possuem uma alta capacidade de adaptação 
devido a plasticidade do seu genoma. A resistência intrínseca a vários antibióticos e 
a grande capacidade de adquirir e disseminar genes de resistência, como o gene 
VanA que confere resistência à glicopeptídeos aos Staphylococcus aureus (AMYES, 
2007). Todos os Enterococcus são resistentes às cefalosporinas, tolerantes aos 
aminoglicosídeos e, quando expostos, resistentes às penicilinas (WOODFORD; 
LIVERMORE, 2009). 
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária preconiza que o tratamento de 
infecções enterocócicas se dê, inicialmente, através do uso de ampicilina associada à 
gentamicina (um aminoglicosídeo) por 4 semanas. No caso de resistência à 
associação de aminoglicosídeos com ampicilina, recomenda-se o uso de 
vancomicina. No caso de cepas de Enterococcus sp. resistentes à vancomicina, a 
ANVISA recomenda o tratamento com linezolida ou daptomicina (ANVISA, 2008). 
 No final dos anos 1980, foram detectadas cepas resistentes à vancomicina, os 
Enterococcus vancomicina resistentes – VRE – que acontece devido a aquisição de 6 
tipos de genes: VanA, VanB, VanD, VanE, VanG e VanL. Os principais são VanA e 
VanB, sendo VanA prevalente no mundo todo e conferindo resistência à vancomicina 
e à teicoplamina (WOODFORD; LIVERMORE, 2009). Os VRE se espalharam 
rapidamente em infecções causando surtos hospitalares e colonizando inúmeros 
pacientes. Sua alta prevalência, mais o fato que são multirresistentes, tornaram a 
terapia para estes microrganismos muito difícil (RINCÓN et al. 2014). 
 Para o CLSI, Enterococcus com MIC ≤ 4µg/ml, são considerados sensíveis à 
vancomicina, os que apresentam MIC entre 8 e 16µg/ml a resistência é considerada 
intermediária e para a MIC ≥ 32µg/ml denota Enterococcus resistentes à vancomicina 
(CLSI, 2017). 
5. RESISTÊNCIA BACTERIANA – PERSPECTIVAS 
Nos tempos anteriores à descoberta dos antibióticos, infecções simples eram 
capazes de levar uma pessoa a morte. Com o advento da penicilina, o primeiro 
antibiótico a ser comercializado, esse quadro mudou. Infecções antes complicadas e 
letais, tornaram-se de fácil tratamento e entramos na era antibiótica. Uma era cheia 
 
40 
 
de esperança de que todas as infecções estariam resolvidas (HAMILTON; 
WENLOCK, 2016). 
Na mesma velocidade que a penicilina salvou milhares de vida durante a 
Segunda Guerra Mundial, houveram os primeiros relatos de resistência 
antimicrobiana, embora a resistência seja datada de antes da descoberta da 
penicilina. Visto que as bactérias foram expostas a antibióticos produzidos por outros 
microrganismos por milhares de anos e muitos genes de resistência têm uma longa 
história evolutiva que se originou antes da era antibiótica (HAMILTON; WENLOCK, 
2016). 
As principais causas de resistência bacteriana aos antimicrobianos são: o uso 
excessivo de antimicrobianos, estima-se que um terço das prescrições médicas de 
antimicrobianos são desnecessárias, como por exemplo prescrição de antibacteriano, 
quando era uma doença viral; falha na continuidade do tratamento e da dose utilizada; 
terapias inapropriadas, como monoterapia quando era necessária uma terapia 
combinada; e uso de drogas erradas para a bactéria causadora da doença (GAUDE, 
2015; HAMILTON;WENLOCK, 2016). Além destes fatos, uma contribuição importante 
para a prevalência e o aumento da resistência bacteriana é o uso de antimicrobianos 
na agricultura pelo fato da transferência de genes de resistência e seleção de cepas 
resistentes (HAMILTON; WENLOCK, 2016). 
A resistência bacteriana aumenta a morbidade, a mortalidade e o custo dos 
serviços de saúde. E a cada ano torna-se mais preocupante, pois à medida que novos 
antibióticos são desenvolvidos, mais resistentes se tornam as bactérias. Num estudo 
comandado em 2014 pelo governo britânico, em 2050, se o cenário da resistência 
continuar como está, mais de 10 milhões de pessoas morreriam em decorrência de 
infecções causadas por microrganismos resistentes, causando um impacto de mais 
de 2% no produto interno bruto mundial. Além do fato que procedimentos hoje comuns 
como cirurgias e quimioterapias se tornariam extremamente preocupantes e delicados 
(O’NEILL, 2014). 
Entretanto, por mais negativas que sejam as previsões, ainda temos uma luz 
de esperança. O desenvolvimento de novos fármacos, de métodos diagnósticos mais 
rápidos, de vacinas e terapias com utilização de bacteriófagos para modular o material 
 
41 
 
genético bacteriano, e terapias antivirulência (que atenuam os sintomas da doença, 
porém sem diminuir o crescimento bacteriano) são algumas alternativas para a nova 
era antibiótica e continuação da batalha contra a resistência bacteriana (BASSETTI et 
al., 2017). 
Um esforço conjunto global, educação dos profissionais de atenção básica e 
da população, investimento em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias 
para a identificação eficaz e combate da resistência microbiana, conscientização 
sobre uso racional de antimicrobianos e medidas de higiene das mãos e superfícies e 
saneamento básico adequado são medidas que devem ser tomadas e já contribuem 
para a minimização dos efeitos da resistência antimicrobiana (HAMILTON; WENLOCK, 
2016). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
42 
 
6. CONCLUSÕES FINAIS 
Os cocos Gram-positivos são um grupo que incluem patógenos humanos 
importantes, como os Staphylococcus sp., Streptococcus sp. e os Enterococcus sp., 
que infectam milhares de pessoas por ano causando meningites, pneumonia, 
infecções de garganta, infecções de pele, dentre outros. 
Uma preocupação importante é a resistência ao antibacterianos deste grupo, 
onde se destacam os Staphylococcus aureus meticilina resistentes (MRSA) e os 
Staphylococcus aureus vancomicina resistentes (VISA), os Streptococcus pneumonie 
resistentes e os Enterococcus vancomicina resistentes (VRE) que aumentam a 
morbidade dos pacientes infectados com estas cepas pelo fato da difícil terapia. 
A resistência antimicrobiana é um mal da atualidade e preocupa os cientistas. 
Esforços para combatê-la incluem desenvolvimento de novos fármacos 
antimicrobianos, novas terapias e tecnologia de diagnóstico microbiológico. A 
educação continuada de profissionais da atenção básica de saúde, conscientização 
sobre o uso racional de antimicrobianos e medidas de higiene ajudam a diminuir a 
incidência de cepas resistentes. 
 
. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
43 
 
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