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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE BIOCIÊNCIAS CURSO DE BIOMEDICINA ISABELA MARIA FORTALEZA NEVES BOMFIM RESISTÊNCIA BACTERIANA EM COCOS GRAM-POSITIVOS: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA NATAL Novembro/2017 RESISTÊNCIA BACTERIANA EM COCOS GRAM-POSITIVOS: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA por: ISABELA MARIA FORTALEZA NEVES BOMFIM Orientador: Professor Drº Renato Motta Neto Natal Novembro/2017 Monografia Apresentada à Coordenação do Curso de Biomedicina da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como Requisito Parcial à Obtenção do Título de Bacharel em Biomedicina. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE BIOCIÊNCIAS CURSO DE BIOMEDICINA A Monografia RESISTÊNCIA BACTERIANA EM COCOS GRAM-POSITIVOS: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA elaborada por Isabela Maria Fortaleza Neves Bomfim e aprovada por todos os membros da Banca examinadora foi aceita pelo Curso de Biomedicina e homologada pelos membros da banca, como requisito parcial à obtenção do título de BACHAREL EM BIOMEDICINA Natal, 30 de novembro de 2017 BANCA EXAMINADORA _________________________________________ Prof. Dr. Renato Motta Neto (Departamento de Microbiologia e Parasitologia) _________________________________________ Profª. Drª. Cecília Maria de Carvalho Xavier Holanda (Departamento de Microbiologia e Parasitologia) _________________________________________ MSc. Lais Cristina Gusmão Ferreira Palhares (Departamento de Bioquímica) AGRADECIMENTOS Agradeço sempre e em primeiro lugar a Ele. Deus me deu forças para chegar até aqui e colocou as melhores pessoas no meu caminho. Obrigada Mammy, Papi e Leo por toda a força, apoio, incentivo e por serem a melhor família do mundo! Aos meus amores “cefetianos” Jaciara, Hallana, Rayane, Vanessa e Phelipe (a ordem não expressa quem eu amo mais!), obrigada por tornarem minha vida mais feliz desde (prefiro nem comentar para não entregar que estamos velhos!). Ao amor da minha vida, Elder, obrigada por ter tornado essa caminhada maravilhosa! Às minhas gatinhas nova-iorquinas Fernanda, Daiany e Pamella pelo apoio mais belo de todos. Aos meus Biomed amigos Adriane, Luiz, Marcelle, Mike, Alison, Brenna, Mayara e Sarah por serem uma fonte infinita de risadas, suporte e companheirismo nos melhores e piores momentos. Às pessoas mais lindas da ciência: Suely, Adriana, Lais, Rômulo, Barbara e Mirella obrigada pela generosidade e carinho comigo. À Drª Jane Cristina do Laboratório Central Drº. Almino Fernandes, por todas as lições que tanto ajudaram na formação deste trabalho, muito obrigada! Aos meus queridos professores da Biomedicina UFRN, muito obrigada pelo carinho e paciência. À todos que me ajudaram a chegar até aqui, meus sinceros agradecimentos! LISTA DE FIGURAS Figura 1. Macrodiluição em tubos.. ........................................................................... 32 Figura 2. Placa de microdiluição após incubação. .................................................... 33 Figura 3. Teste de sensibilidade por disco-difusão em ágar e ilustração mostrando a difusão do antibiótico no ágar. ................................................................................... 34 Figura 4. Teste da zona D. Resistência à clindamicina induzida pela eritromicina. .. 34 Figura 5. Determinação do MIC por Etest após incubação ...................................... 35 file:///C:/Users/ASUS/Desktop/TCC%2015_11.docx%23_Toc498611827 file:///C:/Users/ASUS/Desktop/TCC%2015_11.docx%23_Toc498611828 file:///C:/Users/ASUS/Desktop/TCC%2015_11.docx%23_Toc498611828 file:///C:/Users/ASUS/Desktop/TCC%2015_11.docx%23_Toc498611829 file:///C:/Users/ASUS/Desktop/TCC%2015_11.docx%23_Toc498611830 LISTA DE QUADROS Quadro 1. Data de introdução e primeira resistência reportada para os antibacterianos mais comuns .................................................................................... 23 Quadro 2. Toxinas presentes nas cepas de Staphylococcus aureus ....................... 15 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 11 1.1 COCOS GRAM-POSITIVOS .......................................................................................... 11 1.2 STAPHYLOCOCCUS SP. ......................................................................................... 13 1.2.1 STAPHYLOCOCCUS AUREUS ............................................................................. 13 1.2.2 STAPHYLOCOCCUS COAGULASE-NEGATIVOS (SCN).................................... 16 1.3. STREPTOCOCCUS SP. ........................................................................................... 18 1.3.1 ESTREPTOCOCOS β-HEMOLÍTICOS DO GRUPO A – STREPTOCOCCUS PYOGENES ...................................................................................................................... 18 1.3.2 ESTREPTOCOCOS β-HEMOLÍTICOS DO GRUPO B – STREPTOCOCCUS AGALACTIAE .................................................................................................................... 19 1.3.3 STREPTOCOCCUS PNEUMONIE ....................................................................... 20 1.4 ENTEROCOCCUS SP. ............................................................................................. 21 1.5 TIPOS DE RESISTÊNCIA: NATURAL OU ADQUIRIDA ........................................ 22 1.6 FÁRMACOS ANTIBACTERIANOS ............................................................................. 24 1.6.1 INIBIDORES DA SÍNTESE DE PROTEÍNAS ........................................................ 25 1.6.2 ATUAM SOBRE ESTRUTURA DO DNA BACTERIANO .................................. 26 1.6.3. ATUAM SOBRE O METABOLISMO BACTERIANO ........................................... 26 1.6.4 ATUAM SOBRE A MEMBRANA CELULAR BACTERIANA ............................. 26 1.6.5 ATUAM SOBRE A PAREDE BACTERIANA ..................................................... 27 1.7 MECANISMOS DE RESISTÊNCIA .......................................................................... 28 2. OBJETIVOS ....................................................................................................................... 30 2.1 OBJETIVOS GERAIS .................................................................................................... 30 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ........................................................................................ 30 3. METODOLOGIA ................................................................................................................ 31 3.1 IDENTIFICAÇÃO LABORATORIAL DE RESISTÊNCIA BACTERIANA ............... 31 3.2 TÉCNICAS PARA IDENTIFICAÇÃO LABORATORIAL DE RESISTÊNCIA BACTERIANA ...................................................................................................................... 31 3.2.1 TESTE DE SENSIBILIDADE POR MACRODILUIÇÃO EM TUBOS ..................... 31 3.2.2. TESTE DE SENSIBILIDADE POR MICRODILUIÇÃO EM PLACA ..................... 32 3.2.3. TESTE DE SENSIBILIDADE POR DISCO-DIFUSÃO .......................................... 33 3.2.4. TESTE DE SENSIBILIDADE POR DILUIÇÃO EM ÁGAR (SCREENING) .......... 34 3.2.5 ETEST® .................................................................................................................. 35 3.2.6. SISTEMAS AUTOMATIZADOS ...........................................................................35 4. DISCUSSÃO ........................................................................................................................ 36 4.1 COCOS GRAM-POSITIVOS RESISTENTES ............................................................... 36 4.1.1 STAPHYLOCOCCUS AUREUS RESISTENTES .................................................. 36 4.1.2 STREPTOCOCCUS RESISTENTES ..................................................................... 38 4.1.3. ENTEROCOCCUS RESISTENTES ...................................................................... 39 5. RESISTÊNCIA BACTERIANA – PERSPECTIVAS .......................................................... 39 6. CONCLUSÕES FINAIS ...................................................................................................... 42 REFERÊNCIAS ........................................................................................................................ 43 RESUMO Estudos demonstram um crescimento notável das infecções causadas por cocos Gram-positivos. Estes representam uma classe importante de bactérias causadoras de infecções graves, as quais frequentemente tornam-se resistentes aos antimicrobianos. Os cocos Gram-positivos, representados por Staphylococcus sp, Streptococcus sp. e Enterococcus sp., são importantes microrganismos patogênicos que causam infecções graves e potencialmente letais, como infecções de pele, pneumonia e meningite, que vêm demonstrando resistência aos fármacos antimicrobianos, inclusive aos de última geração. Este trabalho tem como objetivo trazer uma revisão bibliográfica sobre resistência cocos Gram-positivos de bases de dados científicos especializados. Bem como, conceituar as principais bactérias gram- positivas de importância médica. Foram abordadas as cepas resistentes e os principais testes de identificação de resistência em cocos Gram-positivos preconizados por institutos internacionais e empregados no Brasil. A resistência bacteriana ao antimicrobianos é relatada desde os primeiros anos de comercialização destes fármacos e são uma importante preocupação atual. Portanto, esforços devem ser adotados, uma vez que as consequências caso esse cenário não mude são catastróficas. PALAVRAS-CHAVE: Cocos Gram-positivos, Staphylococcus sp., Streptococcus sp., Enterococcus sp., Resistência bacteriana. ABSTRACT Studies have shown remarkable growth of infections caused by Gram-positive cocci. These represent an important class of bacteria that causes serious infections, which often become resistant to antimicrobials. Gram-positive cocci, represented by Staphylococcus sp, Streptococcus sp. and Enterococcus sp., are important pathogenic microorganisms that cause serious and potentially lethal infections, such as skin infections, pneumonia and meningitis, which have demonstrated resistance to antimicrobial drugs, including the last generation. This work aims to bring a bibliographic review on Gram-positive cocci Resistance from specialized scientific databases. As well as, conceptualize the main gram-positive bacteria of medical importance. The resistant strains and the main tests of identification of resistance in Gram-positive cocci recommended by international institutes and employed in Brazil were approached. Bacterial resistance to antimicrobials has been reported since the early years of commercialization of these drugs and are an important current concern. Therefore, efforts should be taken, since the consequences if this scenario does not change are catastrophic. KEYWORDS: Gram-positive cocci, Staphylococcus sp., Streptococcus sp., Enterococcus sp., Bacterial resistance 11 1. INTRODUÇÃO As bactérias são microrganismos inerentes e primordiais à vida na Terra. São encontradas em todo o meio ambiente e compõem a microbiota humana, sendo fundamentais para a manutenção da homeostasia e saúde do homem. Entretanto, algumas bactérias podem ser nocivas, implicando, inclusive em risco de morte para os indivíduos. Na década de 1910, a Arsfenamina, conhecida como Salvarsan, foi sintetizada pelo bacteriologista alemão Paul Ehlrich e foi o primeiro medicamento a combater uma doença infecciosa, a Sífilis (Lloyd et al., 2004). Em 1928, Alexander Fleming descobriu, por um acaso, o potencial antibiótico do Penicillium notatum em inibir o crescimento de Staphyloccocus sp e assim foi descoberta a Penicilina. Fleming juntamente com os colegas Howard Florey, Ernest Chain e Norman Heatley conseguiram isolar, purificar e sintetizar a Penicilina, sendo esta utilizada nas tropas e civis machucados a partir de 1944, durante a Segunda Guerra Mundial e disponibilizada para comercialização em 1946, após a Guerra (LOBANOVSKA E PILLA, 2017). A descoberta da Penicilina mudou o curso da história do tratamento das doenças infecciosas. Entretanto, junto com o advento desse descobrimento e com o desenvolvimento de outros antibióticos, tanto beta-lactâmicos como de outras classes e os antibacterianos sintéticos, emerge também um inimigo: a resistência bacteriana (LOBANOVSKA E PILLA, 2017). 1.1 COCOS GRAM-POSITIVOS Os aspectos microscópicos, o formato e a capacidade de reter os corantes de Gram são umas das formas primárias de diferenciar as bactérias. Desenvolvida em 1884 pelo médico dinamarquês Hans Gram, é um método de coloração diferencial, e de fácil execução que permite aos microbiologistas a caracterização das bactérias entre duas classes, as Gram-positivas e as Gram-negativas. Permitindo assim, uma triagem e o diagnóstico inicial, a fim de iniciar uma terapêutica baseada nas diferenças entre estas classes de bactérias (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2014). Os diferentes graus de permeabilidade da parede celular microrganismos Gram-positivos e Gram-negativos são responsáveis pela diferenciação destas no processo coloração de Gram. As bactérias Gram-positivas, que têm sua parede 12 celular majoritariamente composta por peptídioglicano, durante o processo de descoloração com álcool etílico, retém o corante cristal-violeta, ou seja, ficam arroxeadas. Já para as bactérias Gram-negativas, cujo a parede celular é composta predominantemente por ácidos graxos (lipopolissacarídeos e lipoproteínas), sofrem descoloração pelo álcool, e coram-se no tom avermelhado da fucsina ou safranina, o corante final (BRASIL, 2001). As bactérias também possuem três formatos principais: espirilos, bastontes e cocos. Os espirilos possuem, como o nome diz, forma de espiral. Os bastões ou bacilos têm a forma alongada ou curvada, como uma vírgula, e suas extremidades podem ser estreitas ou arredondadas. Os cocos são redondos ou elípticos e se agrupam de variadas formas a partir do plano que sofrem divisão celular e assumem as configurações de (MOLINARO; CAPUTO; AMENDOEIRA, 2013): • Diplococos: Cocos agrupados aos pares, em um único plano. • Estreptococos: Vários cocos dispostos em cadeia, similar a um cordão de contas. • Tétrades: Grupos de 4 cocos. • Sarcinas: Grupos de 8 cocos unidos, em forma de cubo. • Estafilococos: Cocos agrupados de forma aleatória, semelhante ao formato de um cacho de uvas. Os cocos Gram-positivos são um grupo diversificado de bactérias. Apresentam características comuns como a forma esférica, a reação frente à coloração de Gram e a ausência de endósporo (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2014). Com exceção da família das Enterobacteriaceae, os cocos Gram-positivos são os isolados mais frequentes na prática clínica. Podem causar infecções tanto através da multiplicação local do microrganismo, quanto por efeitos sistêmicos através de exotoxinas e citocinas geradas devido a infecção. Por serem comensais da pele e mucosas humanas e ubíquos na natureza, o isolamento destas bactérias nas amostras clínicas deve estarrelacionado com a sintomatologia dos pacientes para garantir de fato o papel destes microrganismos na infecção investigada (WINN JUNIOR et al., 2008). 13 A ênfase deste trabalho está nos principais cocos gram-positivos de importância médica: Staphylococcus sp., Streptococcus sp. (Grupo A, B e Streptococcus pneumonie) e Enterococcus sp. 1.2 STAPHYLOCOCCUS SP. O gênero Staphylococcus é composto por várias espécies de importância clínica. O gênero tem esse nome devido ao fato de que as células destes cocos Gram- positivos crescem com um perfil que se assemelha a cachos de uvas, porém podem ser encontrados em tétrades, pares, cadeias curtas ou isolados (WINN JUNIOR et al., 2008; DIANA; LIMBERD, 2014). A maioria dos estafilococos mede de 0,5 a 1,5 μm de diâmetro, são imóveis, anaeróbios facultativos, não formadores de esporos, são capazes de crescer em meios contendo alta concentração de sal e a temperaturas que variam de 18°C a 40°C e são produtores da enzima catalase, ou seja, são catalase-positivos (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2014). Colonizam pele e mucosas humanas e são importantes patógenos para o homem, causam diversas doenças como infecções de pele, tecidos moles, ossos, trato urinário, além de infecções oportunistas. As espécies mais relacionadas às doenças humanas são Staphylococcus aureus (o mais virulento e o mais conhecido membro do gênero), Staphylococcus epidermidis, S. haemolyticus, Staphylococcus lugdunensis e Staphylococcus saprophyticus. O S. aureus é o único do gênero que produz a enzima coagulase e os demais microrganismos do gênero são conhecidos como Staphylococcus coagulase-negativa (SCN) (WINN JUNIOR et al., 2008). 1.2.1 STAPHYLOCOCCUS AUREUS O Staphylococcus aureus é o microrganismo patogênico mais importante dos estafilococos. É capaz de resistir ao frio e à dessecação devido à grossa camada de peptídeoglicano da parede celular e permanece muito tempo no ambiente em partículas de poeira, roupas de cama e vestuários. É a única espécie coagulase positiva encontrada em humanos. O S. aureus faz parte da microbiota normal da pele, principalmente em dobras da pele, axilas, vagina, narinas e intestino. Pessoas com lesões pós-operatórias, acidentadas, imunodeprimidas e com doenças crônicas e/ou em diálise estão mais predispostas às infecções graves por S. aureus. Este grupo de risco também agrega as crianças em idade escolar, mulheres em idade reprodutiva e 14 no período menstrual e usuários de cateteres e shunts (SANTOS et al., 2007; WINN JUNIOR et al., 2008). O S. aureus tanto pode causar doenças simples como impetigo, foliculite, carbúnculos e furúnculos (os dois últimos podendo ocasionar febre), quanto pode demonstrar manifestações graves e potencialmente fatais como endocardite, bacteremia, necrose epidérmica tóxica (síndrome da pele escaldada estafilocócica), meningite, osteomielite e a Síndrome do choque tóxico estafilocócico (TONG et al., 2015). A broncopneumonia causada por S. aureus é observada usualmente em idosos, e está associada a uma pneumonia viral como fator predisponente. A pneumonia hospitalar produzida por S. aureus ocorre em casos de doença pulmonar obstrutiva crônica, intubação e aspiração. Em hospitais, principalmente em unidades de terapia intensiva adultas e pediátricas (UTIs), é rotina o isolamento de pacientes colonizados (WINN JUNIOR et al., 2008). Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA) ou Staphylococcus aureus resistente à oxacilina (ORSA) é reconhecido por produzir infecções graves em pacientes hospitalizados e, mais recentemente, em crianças e adultos não hospitalizados e previamente saudáveis, os CA-MRSA, que são os Staphylococcus aureus resistente à meticilina adquiridos na comunidade. (SANTOS et al., 2007; GELATTI et al., 2009). A patogenicidade do Staphylococcus aureus é devida a um conjunto de fatores de virulência que estão relacionados com a aderência do S. aureus às células do hospedeiro ou à matriz extracelular, aos fatores de evasão do sistema imune do hospedeiro, como as enterotoxinas e exotoxinas estafilocócicas (SEPs A-E, G-J, K, L, M, O e P), a toxina da síndrome do choque tóxico (TSST), a proteína A, lipases e polissacarídeos capsulares e aos fatores relacionados com a invasão da célula do hospedeiro ou adesão de superfícies de cateteres e próteses, os quais incluem toxinas α, β, δ, γ e δ – hemolisinas. O S. aureus ainda apresenta na sua parede celular polissacarídeos, ácido teicóico e proteína A que ativam o sistema imunológico (SI) e cápsula e adesinas que contribuem na proteção da bactéria contra o SI e na adesão do patógeno às células do hospedeiro (SANTOS et al., 2007). Os S. aureus também são capazes de produzir moléculas como enzimas e toxinas (quadro 2) que elevam seu potencial patogênico. São exemplos as 15 betalactamases, coagulases, hialuronidases e catalases, DNAses, lipases, proteases, esterases, a leucocidina, estafiloquinase e a esfoliatina (SANTOS et al., 2007; TONG et al., 2015). Quadro 1. Toxinas presentes nas cepas de Staphylococcus aureus. Adaptado de Santos, 2007. Nome Classe Função Betalactamases Enzima Inativa os antibióticos betalactâmicos pela abertura do anel betalactâmico. Coagulase Enzima Converte o fibrinogênio em fibrina, independentemente da presença do íon Ca+2 e dos fatores V, VI e VII da coagulação sanguínea, provocando a deposição de fibrina em torno do microrganismo e dificultando a fagocitose celular Hialuronidase Enzima Despolimeriza o ácido hialurônico, agindo, assim, como fator de propagação do microrganismo Catalase Enzima Converte o peróxido de hidrogênio, que apresentaria uma ação toxica sobre a bactéria, em oxigênio e agua α-hemolisina (alfa-hemolisina) Toxina Pode apresentar quatro conformações diferentes, sendo capaz de lisar hemácias e causar danos as plaquetas em casos de intoxicações graves β-hemolisina (beta-hemolisina) Toxina Degrada a esfingomielina, provocando lesões na membrana dos eritrócitos e, consequentemente, conduzindo à hemólise δ-hemolisina (delta-hemolisina) Toxina Tem propriedades tensoativas, responsável pelos efeitos sobre as membranas de eritrócitos, macrófagos, linfócitos, neutrófilos e plaquetas. É capaz, ainda, de inibir a absorção de água pelo íleo, desencadeando uma diarreia aguda. 16 Toxina Apresenta atividade hemolítica, cujo mecanismo ainda não foi devidamente estabelecido PVL (leucocidina Panton-Valentine) Toxina Composta por dois componentes proteicos (S e F), que atuam sinergicamente. Essa proteína altera a permeabilidade da membrana e ataca os leucócitos polimorfonucleares e os macrófagos. Essa alteração permite a entrada de cátions, como o Ca+2 resultando na degranulação celular e induzindo a citólise. Esfoliatina Toxina Promove a clivagem do extrato granuloso da epiderme, síndrome da pele escaldada e impetigo bolhoso. TSST-1 (toxina da síndrome do choque tóxico) Toxina Provoca febre, choque e envolvimento de sistemas orgânicos múltiplos, incluindo erupção cutânea descamativa Enterotoxinas (A, B, C, D e E) Toxina Toxinas proteicas pirogênicas, termoestáveis, responsáveis pela intoxicação alimentar, podendo provocar vômitos e diarreias Para identificação das cepas de S. aureus, as colônias vão de acinzentadas a amarelas brilhantes, arredondadas e lisas. Crescem bem na presença de CO2. Seu meio de cultura é o ágar-sangue, podendo apresentar hemólise. O teste da catalase é positivo e o teste da coagulase positivo diferencia o Staphylococcus aureus dos outros estafilococos, comumente conhecidos como Staphylococcus coagulase- negativos (OPLUSTIL et al., 2010). 1.2.2 STAPHYLOCOCCUS COAGULASE-NEGATIVOS (SCN) Os Staphylococcus coagulase-negativos eram espécimessem muita importância clínica, entretanto, nos últimos cinquenta anos passaram a ser reconhecidos como importantes patógenos humanos, além de serem reconhecidos como importantes patógenos nas infecções nosocomiais (WINN JUNIOR et al., 2008). Staphylococcus epidermidis é o SCN mais isolado. Esse microrganismo causa endocardite de próteses valvares e outras próteses, infecções de feridas cirúrgicas, infecções do trato urinário, oftálmicas e relacionadas a diálise peritoneal e γ-hemolisina (gama-hemolisina) 17 bacteremia. É capaz de produzir macromoléculas que o fazem produzir biofilme e aumentam a aderência da bactéria a superfícies plásticas de corpos estranhos. A adesina capsular (PS/A) é quem promove a adesão inicial do S. epidermidis e contribui para a proteção deste contra a ação do sistema complemento. A adesina intercelular polissacarídica - PIA, lipases, proteínas transformadoras de ácidos graxos e a proteína de ligação ao fibrinogênio, compõem os fatores de virulência do S. epidermidis (WINN JUNIOR et al., 2008; BECKER; HEILMANN; PETERS, 2014). O S. epidermidis juntamente com o S. haemolyticus e S. lugdunensis (causadores de bacteremia, endocardite, infecções dos ossos e articulações, do trato urinário, de feridas e oportunistas) formam o grupo S. epidermidis que vêm chamando atenção dos microbiologistas devido os agravos aos pacientes em unidades de tratamento intensivo (UTI) (BECKER; HEILMANN; PETERS, 2014). Staphylococcus saprophyticus causam infecções do trato urinário em mulheres em idade reprodutiva sexualmente ativas e raramente é responsável por infecções em outros pacientes, embora já se tenha relatos de mulheres em outras faixas etárias e homens infectados por este microrganismo. O indivíduo colonizado por S. saprophyticus usualmente apresenta disúria, piúria e numerosos organismos na urina. As complicações incluem pielonefrite aguda e nefrolitíase e, no caso de pacientes do sexo masculino, uretrite, epididimite e prostatite, além de raros casos de bacteremia, endocardite e sepse (WINN JUNIOR et al., 2008; BECKER; HEILMANN; PETERS, 2014). O S. saprophyticus tem tropismo pelas células uroepiteliais e a urease produzida por este microrganismo contribui para a infecção do tecido vesical. A Ssp – proteína associada à superfície de S. saprophyticus – e a hemaglutinina estão envolvidas nas interações do patógeno com as células do hospedeiro (WINN JUNIOR et al., 2008) A identificação das cepas de Staphylococcus coagulase-negativos se dá pela prova da catalase, que é positiva para estafilococos, prova da coagulase negativa, para a diferenciar de S. aureus e o teste da enzima PYR (L-pirrolidonil arilamidase) tem que ser positivo. Além disso, o teste da urease é positivo tanto para S. epidermidis, quanto para S. saprophyticus e a diferenciação entre esses dois espécimes será a partir da prova de sensibilidade à Novobiocina, na qual S. saprophyticus é resistente (OPLUSTIL et al., 2010). 18 1.3. STREPTOCOCCUS SP. O gênero Streptococcus é formado por diversos cocos redondos ou ovais Gram-positivos, dispostos aos pares ou em cadeias, de aproximadamente 1 - 2µm e são comensais e importantes patógenos do trato respiratório superior. A maioria das espécies é anaeróbia facultativa e algumas têm apenas crescimento capnofílico (em atmosfera rica de dióxido de carbono). São fermentadores de carboidratos gerando produção de ácido lático, são imóveis, não-esporulados e em oposição às espécies de Staphylococcus, os estreptococos são catalase e oxidase negativos. Pela diversidade deste gênero foram criados métodos para classificá-lo: grupos de Lancefield (a partir de antígenos detectados na parede celular), padrões hemolíticos: β-hemólise (completa), α-hemólise (incompleta) e γ-hemólise (ausência de hemólise), e propriedades bioquímicas (KILLAN, 2012; MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2014). 1.3.1 ESTREPTOCOCOS β-HEMOLÍTICOS DO GRUPO A – STREPTOCOCCUS PYOGENES S. pyogenes causa uma variedade de doenças supurativas e não supurativas. O ser humano é reservatório natural de S. pyogenes e a infecção mais comum deste microrganismo é a faringite estreptocócica que acomete, principalmente, crianças em idade escolar. Entretanto, esta bactéria causa outras infecções como impetigo, celulite, erisipela, sepse puerperal e infecções pós-parto. As complicações não- supurativas mais importantes são a febre reumática aguda e a glomerulonefrite aguda, ambas surgem após um quadro de faringite estreptocócica. Agravos nas infecções por S. pyogenes como síndrome semelhante ao choque tóxico, pneumonia, osteomielite, meningite e necrose tissular, também podem ocorrer (WINN JUNIOR et al., 2008; DIANA; LIMBERD, 2014). Os fatores de virulência dos estreptococos do grupo A incluem a cápsula de ácido hialurônico, que permite ao microrganismo resistir às células fagocíticas e invadir os tecidos moles. A proteína M é o principal fator de virulência do grupo A, pois evita a opsonização das bactérias pelo sistema complemento, a morte intracelular pelas células polimorfonucleares e quando se liga às integrinas dos neutrófilos, pode desencadear respostas inflamatórias que levam ao choque estreptocócico (WINN JUNIOR et al., 2008). 19 O grupo A conta com duas hemolisinas: A estreptolisina O (SLO) e a estreptolisina S (SLS). A SLO é responsável pela β-hemólise observada nas culturas de S. pyogenes e também produz poros nas membranas das células, provoca degranulação e lise dos polimorfonucleares, inibe a fagocitose pelos macrófagos e compromete a resposta aos linfócitos e induz produção de citocinas. Já a SLS interage com fosfolipídeos de membrana dos eritrócitos, linfócitos e plaquetas que sofrem hemólise e causa os mesmos efeitos da SLO (DIANA; LIMBERD, 2014). Os estreptococos do grupo A possuem ainda exotoxinas como fator de virulência. As exotoxinas pirogênicas estreptocócicas - SPE – induzem exantema, algumas provocam febre, induzem a proliferação de linfócitos T que leva à liberação de citocinas importantes que ativam o sistema complemento e levam à gravidade do choque estreptocócico. O S. pyogenes ainda conta com outros fatores de virulência como: C5a peptidase, que inativa C5a do complemento impedindo sua atividade quimiotática; hialorunidases, que degradam o ácido hialurônico do tecido conjuntivo e facilitam a infecção; estreptoquinases, que hidrolisam os coágulos de fibrina, desfazendo-os e assim facilitam a disseminação da bactéria nas infecções (KILLAN, 2012; BARNETT et al., 2015). Para a caracterização do S. pyogenes e diferenciá-lo de outras espécies de estreptococos que apresentam o antígeno específico do grupo A pode ser realizado os testes de suscetibilidade à bacitracina e da presença da enzima L-pirrolidonil arilamidase (PYR) (WINN JUNIOR et al., 2008; OPLUSTIL et al., 2010). 1.3.2 ESTREPTOCOCOS β-HEMOLÍTICOS DO GRUPO B – STREPTOCOCCUS AGALACTIAE Streptococcus agalactiae é uma espécie pertencente ao grupo B de Lancefield. Esta bactéria foi inicialmente identificada como uma das causas da sepse puerperal. Entretanto, S. agalactiae tornou-se conhecido como um importante agente causador de septicemia, pneumonia e meningite em crianças recém-nascidas, bem como um agente causador de infecções graves em adultos, principalmente àqueles portadores de doenças crônicas graves (WINN JUNIOR et al., 2008; KILLAN, 2012). As doenças podem ser de início precoce, ou seja, quando o feto adquire a bactéria ainda no útero ou perinatal. Ou podem ser de início tardio que é quando as manifestações clínicas aparecem entre sete dias até três meses após o nascimento. 20 Em adultos, a doença pode se apresentar como infecções da pele e tecidos moles e infecções e feridas pós-cirúrgicas. Em casos graves pode haver meningite, endocardite e bacteremia,ou até mesmo aborto (WINN JUNIORet al., 2008; KILLAN, 2012; DIANA; LIMBERD, 2014). O S. agalactiae contém vários fatores de virulência como os nove antígenos polissacarídicos capsulares – Ia, Ib e II a VII – sendo o sorotipo III um dos principais associados às infecções neonatais. Também é capaz de produzir C5a peptidase, hialuronidase, proteínas de superfície celular, que se ligam à imunoglobulina G e servem de adesinas juntamente com o ácido lipoteicóico. A β-hemolisina ou citolisina tem efeitos pró-apoptóticos, pró-inflamatórios e citotóxicos e é necessária para a virulência do S. agalactie. A presença do fator CAMP (Christie, Atkins e Munch- Petersen) nas cepas de S. agalactie serve para a facilitar a identificação laboratorial deste grupo, entretanto, o verdadeiro papel deste fator ainda não foi bem estabelecido (KILLAN, 2012; BARNETT et al., 2015). A identificação do S. agalactie é realizada pelo teste negativo da catalase, teste de CAMP e hidrólise do hipurato positivos e presença do carboidrato grupo específico (antígeno de grupo B) através de teste de aglutinação (WINN JUNIOR et al,2008; OPLUSTIL et al., 2010). 1.3.3 STREPTOCOCCUS PNEUMONIE Os Streptococcus pneumonie são cocos Gram-positivos encapsulados, com ovais ou com ponta em forma de lança, em pares (diplococos) ou em cadeias curtas de até 1,2μm e são comumente chamados de pneumococo. São catalase negativa e fastidiosos. Fazem parte da microbiota orofaríngea e são mais isolados em crianças nos períodos frios. S. pneumonie causa principalmente doenças do ouvido médio, seios paranasais e pulmões (pneumonia estreptocócica), mas pode se espalhar para outros locais, como as articulações, peritônio, endocárdio, trato biliar e meninges, além de causar bacteremia e sepse. As infecções graves, como pneumonia e meningite, acometem principalmente crianças com menos de três anos e idosos com mais de sessenta e cinco anos. Adultos imunodeprimidos também podem ser acometidos por uma infecção por S. pneumonie (WINN JUNIOR et al., 2008; KILLAN, 2012; DIANA; LIMBERD, 2014). 21 Os fatores de virulência do S. pneumonie são os polissacarídeos capsulares, que contam com mais de 90 sorotipos, sendo 23 os mais virulentos, causando a maior parte dos casos de pneumonia e meningite estreptocócica. Estes polissacarídeos são capazes de escapar das células fagocíticas e do sistema complemento quando não há anticorpos presentes, visto que há vacinas pneumocócicas. As pneumolisinas são toxinas intracelulares que inibem a fagocitose e a motilidade celular, estimulam a produção de citocinas pelos macrófagos e ativam a via clássica do complemento. A autolisina lisa a parede da bactéria e, liberando pneumolisina e fragmentos da parede celular, leva a uma resposta inflamatória a esses fragmentos ocasionando agravamento dos casos de pneumonia e meningite. IgA1 protease é uma protease extracelular que cliva IgA1, a principal imunoglobulina do trato respiratório superior, permitindo que o S. pneumonie escape dos efeitos protetivos desta imunoglobulina (KILLAN, 2012; BARNETT et al., 2015). O teste de sensibilidade à optoquina e o teste de solubilidade em bile positivos, além de catalase-negativa e presença de α-hemólise no ágar-sangue são provas presuntivas de Streptococcus pneumonie. Testes sorológicos e moleculares também complementam a identificação de S. pneumonie (WINN JUNIOR et al., 2008; YAMANAKA, 2011). 1.4 ENTEROCOCCUS SP. O gênero Enterococcus sp. antigamente era conhecido como Streptococcus do grupo D. São habitantes naturais do trato intestinal e biliar e podem habitar a região vaginal e uretral masculina. São cocos Gram-positivos, catalase e oxidase-negativas, crescem em meio alcalino e na presença de cloreto de sódio (WINN JUNIOR et al., 2008 YAMANAKA, 2011). Os Enterococcus vêm ganhando atenção dos microbiologistas por estarem se tornando agentes cada vez mais importantes nas infecções humanas, sobretudo, devido ao fato dos enterococos possuírem resistência aos antimicrobianos que os estreptococos são sensíveis, como resistência à penicilina e às cefalosporinas, aos aminoglicosídeos e à vancomicina, o que resulta em superinfecções, especialmente, em pacientes de unidades de terapia intensiva (WINN JUNIOR et al., 2008; KILLAN, 2012). 22 Enterococcus faecalis e Enterococcus faecium são os enterococos mais isolados nas infecções causadas por esse patógeno. Estão envolvidos em infecções do trato urinário, endocardite infecciosa, bacteremia, infecções intra-abdominais e pélvicas, lesões abdominais supurativas, peritonite, infecções de feridas e tecidos moles, sepse neonatal, meningite e raras infecções pulmonares, muitas vezes comportando-se como agentes oportunistas em infecções hospitalares e em pacientes imunocomprometidos (WINN JUNIOR et al., 2008; YAMANAKA, 2011; KILLAN, 2012). Os fatores de virulência do Enterococcus faecalis, que é o mais isolado dos enterococos, incluem a citolisina, que atua sobre os eritrócitos; a substância de agregação, que facilita a adesão do microrganismo às epiteliais e intestinais; a proteína de superfície extracelular – Esp – que ajuda o enterococo a evadir-se dos anticorpos do hospedeiro; expressão de superóxido; e os ácidos lipoteicóicos que aumentam a virulência ao induzir a expressão de citocinas e interferon (WINN JUNIOR et al., 2008; YAMANAKA, 2011). A identificação de enterococos se dá pelos testes de catalase negativa, PYR positivo e o teste da bile-esculina positivo, além das cepas crescerem em meio alcalino e com alta concentração de cloreto de sódio (WINN JUNIOR et al., 2008). 1.5 TIPOS DE RESISTÊNCIA: NATURAL OU ADQUIRIDA Há dois tipos de resistência a antibióticos em bactérias, denominadas natural ou intrínseca e resistência adquirida ou extrínseca. Resistência intrínseca significa que cada membro de uma espécie determinada será resistente a um composto sem que haja qualquer alteração genética adicional, sendo transmitido verticalmente. Muitas espécies bacterianas entéricas, incluindo P. aeruginosa, apresentam uma sensibilidade muito baixa aos antibióticos hidrofóbicos, como os macrolídeos, pois os mesmos apresentam dificuldade para penetrar a membrana externa desses organismos (NORMARK, 2002). Já a resistência extrínseca ou adquirida ocorre por meio de mutações (mutações de ponto, deleções, inversões, inserções, entre outras alterações genômicas) ou por mecanismos de transferência horizontal. Os plasmídeos transferíveis podem ser muito grandes (> 150 kb) e contêm uma variedade de genes de resistência. Podem formar co-integrados com transposons que incorporam um ou mais genes de resistência. Os elementos cromossômicos também podem se transferir por conta própria ou serem mobilizados por plasmídeos transferíveis (RICE, 2012). 23 Além disso, a forma como a bactéria sofre uma mutação, por exemplo em bombas de efluxo, pode levar a uma multirresistência a diversos fármacos (RICE, 2006). Sendo assim, praticamente qualquer parte do genoma pode ser mobilizada, enfatizando a fluidez de muitos genomas bacterianos. E, devido ao curto tempo de geração e grande tamanho das populações bacterianas, essas mutações são uma fonte contínua de variação genética, o que lhes confere grande adaptabilidade ao meio. Dessa forma, as populações com maior capacidade de sobreviverem a certo antibacteriano adquirem uma vantagem reprodutiva e se multiplicam, resultando em resistência e maior frequência desse patógeno na população (RICE, 2012). Uma bactéria é considerada multirresistente quando esta não é sensível a três ou mais classes de antibacterianos, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Ainda nos anos 1940, estudos reportaram os primeiros casos de resistência bacteriana à penicilina. No decorrer dos anos seguintes, as bactérias foram se tornando resistentes também aos novos antibacterianosque surgiam. Estes eram cada vez mais fortes, entretanto o mecanismo de resistência das bactérias mostrava- se mais eficiente. Um panorama histórico da resistência bacteriana pode ser observado, a seguir, no quadro 1. Quadro 2. Data de introdução e primeira resistência reportada para os antibacterianos mais comuns. Quadro adaptado de Lewis, 2013. Classe de antibacteriano e exemplo Ano de introdução no mercado Agente etiológico Ano da primeira resistência reportada β-lactâmicos (penicilina) 1938 Staphylococcus auerus 1945 Aminoglicosídeos (estreptomicina) 1946 Mycobacterium tuberculosis 1946 Cloramfenicol (clorafenicol) 1948 1950 Macrolídeos (eritromicina) 1951 1955 24 Tetraciclinas (cloratetraciclina) 1950 1952 Rifamicinas (rifampicina) 1958 Mycobacterium tuberculosis 1962 Glicopeptídeos (vancomicina) 1958 Enterococcus spp. 1960 Quinolonas (ciprofloxacina) 1968 1968 Oxazolidinonas (linezolida) 2000 Enterococcus spp. 2001 Inibidores de β- lactamases ESBL Klebsiella pneumoniae 1980 Carbapenêmicos Klebsiella pneumoniae 1991 1.6 FÁRMACOS ANTIBACTERIANOS Os antimicrobianos, ou antibióticos, são moléculas químicas capazes de se ligarem aos receptores proteicos dos microrganismos, que são essenciais à homeostasia do micróbio. A interação dos fármacos antimicrobianos com estas estruturas leva à um abalo na sobrevida do microrganismo, seja por sua destruição ou incapacidade de reprodução. Os antibióticos são classificados de acordo com o microrganismo que atuam, logo os que combatem as bactérias são os antibacterianos e estes podem ser bacteriostáticos ou bactericidas. Os bacteriostáticos são aqueles que impedem o crescimento e a reprodução bacteriana e os bactericidas são aqueles que matam as bactérias. 25 Os agentes bacterianos podem ser classificados de acordo com o seu local de ação sobre a bactéria, assim, temos: 1) Inibidores da síntese de proteínas; 2) Atuam sobre estrutura do DNA bacteriano; 3) Atuam sobre o metabolismo bacteriano; 4) Atuam sobre a membrana celular bacteriana, e 5) Atuam sobre a parede bacteriana (BRUNTON; CHEBNER; KNOLLMANN, 2012). 1.6.1 INIBIDORES DA SÍNTESE DE PROTEÍNAS Os antibacterianos que inibem a síntese de proteínas atuam diretamente sobre a maquinaria genética de produção de proteínas. Estes fármacos agem sobre as unidades ribossomais, 30S ou 50S, causando erros de leitura, paradas antecipadas ou inibição da síntese de cadeias peptídicas (BRUNTON; CHEBNER; KNOLLMANN, 2012). As tetraciclinas e os aminoglicosídeos atuam sobre a unidade 30S do ribossomo. As tetraciclinas são antibióticos bacteriostáticos com atividade sobre uma ampla gama de bactérias aeróbias e anaeróbias, Gram-positivas e Gram-negativas. Quando se ligam à subunidade 30S impedem a ligação do RNA transportador (RNAt) carreando um aminoácido ao local aceptor no complexo subunidade 30S – RNA mensageiro (RNAm) do ribossomo. Já os aminoglicosídeos possuem atividade contra bacilos Gram-negativos (BGN) aeróbicos ligando-se ao complexo 30S - 50S levando a erros de leitura do RNAm e incorporação errônea de aminoácidos (BRUNTON; CHEBNER; KNOLLMANN, 2012). Os macrolídeos e cetolídeos, lincosamidas, clindamicina, estreptograminas, bacitracina, mupirocina, clindomicinas, estreptograminas e oxazolidinonas são fármacos que atuam na subunidade 50S impedindo a síntese proteica por inibição da transferência de aminoácidos do local aceptor para o local onde se forma a cadeia peptídica, o que impede o alongamento da cadeia ou impedindo a formação do complexo iniciador da síntese proteica na subunidade 50S. A bacitracina e a mupirocina são fármacos de uso tópico e que atuam sobre cocos e bacilos Gram- positivos, Neisseria, Haemophilus influenzae, Treponema pallidum e bactérias Gram- positivas e algumas Gram-negativas, respectivamente. Os macrolídeos e cetolídeos atuam sobre cocos e bacilos Gram-positivos, as lincosamidas sobre bactérias Gram- positivas aeróbias e anaeróbias, o cloranfenicol sobre bactérias Gram-positivas e 26 Gram-negativas, as estreptograminas sobre cocos Gram-positivos e as oxalidinonas sobre bactérias Gram-positivas aeróbias e anaeróbias (BECKER, 2013; BRUNTON; CHEBNER; KNOLLMANN, 2012). 1.6.2 ATUAM SOBRE ESTRUTURA DO DNA BACTERIANO Os fármacos que atuam sobre a estrutura do DNA bacteriano, são os que têm a capacidade de agir diretamente sobre a molécula de DNA. São representantes desta classe a rifampicina e as quinolonas. A rifampicina atua sobre a enzima RNA polimerase, que impede a síntese do RNA, assim, a transcrição do material genético será afetada. As rifampicinas têm atividade sobre bactérias Gram-positivas e algumas Gram-negativas, como Escherichia coli, Proteus sp., Pseudomonas sp. e Klebsiella sp. Também é droga de escolha no tratamento da tuberculose (Mycobacterium tuberculosis) (BRUNTON; CHEBNER; KNOLLMANN, 2012). Já as quinolonas atuam sobre a DNA-girase e a topoisomerase IV das bactérias. Estes fármacos inibem a atividade de corte e selamento da fita de DNA da DNA-girase e a capacidade de separar as fitas de DNA da topoisomerase IV. Para Gram-positivas, sua ação é na topoisomerase IV, para as Gram-negativas sua atividade é sobre a DNA-girase (BRUNTON; CHEBNER; KNOLLMANN, 2012). 1.6.3. ATUAM SOBRE O METABOLISMO BACTERIANO Os fármacos que atuam sobre o metabolismo bacteriano são as sulfonamidas e trimetoprima. Estes são antibacterianos que agem sobre a síntese de folato, que é essencial para as bactérias que não possuem capacidade de absorvê-lo do meio e é fundamental para a síntese de purinas. As sulfonamidas impedem que o PABA (ácido p-aminobenzico) seja incorporado à via de síntese do folato. Já a trimetoprima atua inibindo a diihidrofolatoredutase, que age reduzindo o folato a tetraidrofoato e essa forma reduzida é utilizada para reações que envolvam transferência de carbono. Na prática clínica são utilizados estes compostos em associação pois são mais eficazes e atuam sobre bactérias Gram-positivas e Gram-negativas (BECKER, 2013; BRUNTON; CHEBNER; KNOLLMANN, 2012). 1.6.4 ATUAM SOBRE A MEMBRANA CELULAR BACTERIANA 27 As polimixinas são produzidas pelo Bacillus polymyxa e a colistina ou polimixina E é produzida pelo Bacillus colistinus. As polimixinas são detergentes catiônicos que interagem com os fosfolipídeos da membrana celular das bactérias, desestabilizando- a. Seu espectro de ação é sobre bactérias Gram-negativas, como Escherichia coli, Enterobacter, Klebsiella e Salmonella. Entretanto, Proteus e Serratia são naturalmente resistentes (BECKER, 2013; BRUNTON; CHEBNER; KNOLLMANN, 2012). 1.6.5 ATUAM SOBRE A PAREDE BACTERIANA A parede celular bacteriana é composta por peptideoglicano, que são cadeias de aminoaçúcares unidos por ligações cruzadas de cadeias laterais de aminoácidos. Os antibacterianos que atuam sobre a parede celular bacteriana são os β-lactâmicos e os glicopeptídeos (BRUNTON; CHEBNER; KNOLLMANN, 2012). Os β-lactâmicos são os antibacterianos mais comumente prescritos e são representados pelas penicilinas, cefalosporinas e os carbapenêmicos. São fármacos que possuem a presença do anel β-lactâmico em comum em suas estruturas. Os β- lactâmicos atuam ligando-se às PBP, que são proteínas de ligação à penicilina (do inglês Penicilin binding protein), nas transpeptidases, o que inibe a reação de transpeptidação. Deste modo, não ocorre a ligação dos tetrapeptídeos do proteoglicano à cadeia de glicinas, assim, não há formação de ligações peptídicas cruzadas e, consequentemente, da parede celular bacteriana. Em suma, agem impedindo que ocorram as ligações cruzadas que unem os glicopeptídeos (BRUNTON; CHEBNER; KNOLLMANN, 2012). As penicilinas atuambem contra bactérias Gram-positivas. Em associação com inibidores de β-lactamase, têm seu espectro de ação estendido. As cefalosporinas são classificadas por geração, de 1ª a 4ª, e no decorrer das gerações a atividade das cefalosporinas vão sendo melhoradas. As de 1ª geração atuam muito bem contra bactérias Gram-positivas e fracamente contra Gram-negativas. As de 2ª geração atuam sobre bactérias Gram-positivas e Gram-negativas. As de 3ª geração têm uma menor atividade sobre bactérias Gram-positivas quando comparadas com as de 1ª geração, entretanto seu espectro de ação sobre bactérias Gram-negativas é muito maior, inclusive atuando sobre Enterobacteriaceae e cepas produtoras de β- lactamase. Já as de 4ª geração atuam sobre cocos Gram-positivos, 28 Enterobacteriaceae, Pseudomonas aeruginosa, e, também, são mais resistentes às de β-lactamases. Os carbapenêmicos são β-lactâmicos que possuem espectro de ação muito maior do que as penicilinas e cefalosporinas. São mais resistentes às de β-lactamases e atuam sobre bactérias Gram-positivas e Gram-negativas aeróbias e anaeróbias (BECKER, 2013; BRUNTON; CHEBNER; KNOLLMANN, 2012). Os glicopeptídeos são representados pela vancomicina e teicoplanina. Estes fármacos possuem atividade de amplo espectro contra bactérias Gram-positivas. Atuam inibindo a síntese de parede celular por se ligar à subunidade estrutural D- alanil-D-alanina, o que impede a polimerização do peptideoglicano, quando ocorre o bloqueio da ligação ao polímero glicopeptídico. Recentemente, uma modificação na estrutura da vancomicina a tornou, após testes in vitro, mil vezes mais eficaz do que a vancomicina não modificada, inclusive contra cepas antes resistentes (CASTLE, 2017). 1.7 MECANISMOS DE RESISTÊNCIA Para terem o efeito farmacológico desejado, os antibacterianos necessitam alcançar diferentes locais da célula bacteriana, para interagirem com seus alvos e são estes que sofrem alguma mutação e os fármacos acabam perdendo sua função e a bactéria torna-se resistente. Os principais mecanismos de resistência são: • Produção de enzimas que inibem a ação do antibacteriano – As beta- lactamases e carbapenemases, são algumas destas enzimas. A estrutura do fármaco sofre uma ação enzimática, impedindo que este se ligue ao seu sítio- alvo, como por exemplo, as beta-lactamases destroem a porção amida do anel beta-lactâmico e este não se liga às PBP, assim não exerce sua função de impedir a síntese da parede celular bacteriana. As bactérias Gram-negativas são o grupo que mais apresenta esse tipo de mecanismo, visto que se trata de uma resistência intrínseca, a enterobactéria Escherichia coli é um exemplo (BRUNTON; CHEBNER; KNOLLMANN, 2012). • Expressão de bombas de efluxo – Os transportadores ativos residem na membrana interna e, em bactérias Gram-negativas, eles formam complexos trans-envelope, juntamente com proteínas de fusão de membrana periplasmática (MFPs) e fatores de membrana externa (OMFs). Como 29 entidades tripartidas, esses complexos macromoleculares são máquinas poderosas que expulsam múltiplos antibióticos através da membrana externa. Um exemplo de bactéria que apresenta esse mecanismo é a Pseudomonas aeruginosa (VARGIU, 2016). • Alteração da permeabidade da membrana celular – Essa alteração está relacionada a bactérias Gram-negativas devido a permeabilidade limitada da membrana celular externa de lipopolissacarídeo, devido a presença de porinas. Assim, alterações nas porinas impedem o acesso de fármacos ao interior da célula bacteriana. Esse tipo de mecanismo concede resistência a polimixinas e a colistina. Um exemplo de bactéria resistente a polimixinas é Acinetobacter baumanii. Um exemplo de bactéria resistente a colistina é Klebsiella pneumoniae (CASPAR, 2017). • Alteração dos sítios de ação dos fármacos – Genes que levarão a mutações nos locais onde ocorre a ação dos fármacos, impedindo esta atividade, ou irão tornar tais sítios menos suscetíveis a ação dos fármacos, inativando-o. Esse mecanismo é comum na resistência a quinolonas, estando presente, por exemplo, na Salmonella spp (PRIBUL, 2017). • Alterações nas vias metabólicas que podem compensar a ação dos antibacterianos – Essa alteração, como por exemplo a redução de afinidade de di-hidrofolato redutase, leva à inativação da atividade de antibacterianos antimetabólicos, como as sulfonamidas. Microrganismos como Mycobacterium tuberculosis e Pseudomonas aeruginosa podem apresentar esse tipo de mecanismo (GUZZO, 2016). As causas do aumento de resistência bacteriana aos antimicrobianos são inúmeras e incluem, principalmente, o uso inadequado de antibacterianos, doses erradas, tratamentos incompletos, utilização do antibacteriano errado para microrganismo patogênico e até mesmo a falsificação e má manipulação destes fármacos. E as consequências são um grave problema de saúde pública, que custa milhares de vidas por ano e demandam esforços mundiais para saná-los. 30 2. OBJETIVOS 2.1 OBJETIVOS GERAIS Realizar uma revisão bibliográfica através de bases de dados científicas sobre a resistência em cocos Gram-positivos de maior importância clínica, incluindo cepas resistentes aos antimicrobianos e testes de identificação de resistência em cocos Gram-positivos. 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS • Conceituar cocos Gram-positivos • Revisar sobre o gênero Staphylococcus sp, biologia e identificação etiológica; • Revisar sobre o gênero Streptococcus sp, biologia e identificação etiológica; • Revisar sobre o gênero Enterococcus sp, biologia e identificação etiológica; • Revisar as espécies mais frequentes de cocos Gram-positivos com perfil de resistência • Relatar sobre os principais testes fenotípicos de identificação de resistência em cocos Gram-positivos 31 3. METODOLOGIA O trabalho consiste em uma pesquisa de revisão bibliográfica sobre o tema “Cocos Gram-positivos e resistência bacteriana” realizada nas bases de dados científicas PUBMED, Scientific Electronic Library Online (Scielo) e Science Direct. As palavras-chave para a pesquisa em inglês foram: Gram-positive cocci, Staphylococcus sp., Streptococcus sp., Enterococcus sp., Gram-positive cocci resistence e antimicrobial resistence. Para a pesquisa em português foram utilizadas as palavras-chave: Cocos Gram-positivos, Staphylococcus sp., Streptococcus sp., Enterococcus sp., resistência em cocos Gram-positivos e resistência antimicrobiana. Foi dada prioridade a artigos, dissertações e livros do ano 2000 ao ano de 2017. No total foram utilizados 38 artigos científicos, 1 dissertação de mestrado, 1 trabalho de conclusão de curso, 5 livros acadêmicos, 3 sites e 3 normas técnicas. 3.1 IDENTIFICAÇÃO LABORATORIAL DE RESISTÊNCIA BACTERIANA A identificação da resistência bacteriana é fundamental para o direcionamento da terapêutica antibacteriana. Duas organizações internacionais anualmente emitem diretrizes para os testes de identificação de resistência bacteriana e controle de qualidade. São elas: O European Comitee on Anitmicrobial Susceptibily Testing - EUCAST – e o Clinical and Laboratory Standards Institute – CLSI – sendo o primeiro europeu e o segundo americano. No Brasil, o CLSI é o mais utilizado. Inclusive a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a ANVISA, compra os direitos de tradução e distribuição do CLSI para laboratórios nacionais. As técnicas mais utilizadas e preconizadas por estas organizações são teste de disco-difusão em ágar (Bauer-Kirby), determinação da concentração inibitória mínima (MIC) e teste de triagem em ágar (ágar diluição). 3.2 TÉCNICAS PARA IDENTIFICAÇÃO LABORATORIAL DE RESISTÊNCIA BACTERIANA 3.2.1 TESTE DE SENSIBILIDADE POR MACRODILUIÇÃO EM TUBOS O teste consiste na preparação de diluições seriadas (de 100 µg/ml até 0,4 µg/ml) de antimicrobianos em um meiode caldo Müller-Hinton semeado com a bactéria teste. Dos tubos do teste, 1 devem conter o antimicrobiano, porém sem a 32 bactéria, pois será o controle negativo, e o outro deve conter a bactéria, mas não deve conter o antimicrobiano, será o controle positivo. Após inoculação com a suspensão bacteriana padronizada, os tubos deverão ser incubados por 18 horas a 35ºC. Decorrido este tempo, os tubos serão analisados e deve-se observar se há presença de turbidez (que indica crescimento bacteriano). O primeiro tubo que demonstrar a inibição do crescimento bacteriano, será o tubo que denota a concentração inibitória mínima (MIC) daquele antibacteriano para uma determinada bactéria (figura1) (WINN JUNIOR et al., 2008; MOLINARO; CAPUTO; AMENDOEIRA.2013). Figura 1. Macrodiluição em tubos. Fonte: Anvisa (2008). 3.2.2. TESTE DE SENSIBILIDADE POR MICRODILUIÇÃO EM PLACA Esta técnica é semelhante à macrodiluição em tubos, entretanto o teste é feito em uma placa de microdiluição (“placa de Elisa”) de 96 poços. Neste teste há a vantagem de que até 12 antimicrobianos podem ser testados de uma só vez, em diluições logarítmicas de 4 a 8. As placas são fabricadas e já vêm contendo o antimicrobiano liofilizado ou congelado. Os antimicrobianos e as bactérias a serem testadas são inoculadas com uma pipeta para obter-se uma concentração bacteriana de aproximadamente 5 x 104 - 105 unidades formadoras de colônia por ml (UFC/ml) em cada poço. Os painéis de microdiluição devem ser incubados a mais ou menos 35ºC por 18 horas. Transcorrido esse tempo, a leitura visual da placa deverá ser realizada (figura 2) (MOLINARO; CAPUTO; AMENDOEIRA.2013). 33 Figura 2. Placa de microdiluição após incubação. Fonte: (ANVISA, 2008). 3.2.3. TESTE DE SENSIBILIDADE POR DISCO-DIFUSÃO Primeiramente, com uma alça microbiológica estéril, deve-se tocar a superfície de 3 a 5 colônias da bactéria a ser analisada e transferir este inóculo para 5 mL de solução salina para obter uma turvação de 0,5 MacFarland, que corresponde a aproximadamente 108 UFC/mm. Feito isto, deve-se inocular o caldo com swab estéril em uma placa ágar Müller-Hinton em semeadura contínua em três direções. Após 5 minutos, colocar os discos contendo antibióticos (MOLINARO; CAPUTO; AMENDOEIRA.2013). Os discos de antibióticos e quantidade destes que devem ser colocados para avaliação de sensibilidade por uma determinada bactéria está padronizado pelo CLSI (CLSI, 2017). Após 24 horas de incubação a 37ºC, observar a formação dos halos de inibição. Estes devem ser mensurados em milímetros e interpretados de acordo com o que está preconizado no CLSI para a bactéria em análise e esta deve ser classificada em resistente, intermediária ou sensível para o antimicrobiano utilizado (figura 3) (MOLINARO; CAPUTO; AMENDOEIRA.2013). Por este método, também é feito o teste de zona D, que mostra a resistência a um fármaco induzida por outro. Um caso nos cocos gram-positivos, a eritromicina induz a resistência a clindamicina, formando um halo de inibição no formato da letra “D” (figura 4) (SOUZA et al, 2011). 34 Figura 3. Teste de sensibilidade por disco-difusão em ágar e ilustração mostrando a difusão do antibiótico no ágar. Fonte: (ANVISA, 2008). Figura 4. Teste da zona D. Resistência à clindamicina induzida pela eritromicina. Fonte: (SOUZA et al., 2011). 3.2.4. TESTE DE SENSIBILIDADE POR DILUIÇÃO EM ÁGAR (SCREENING) Este teste consiste em semear um inóculo de suspensão padronizada da bactéria em análise em placas de ágar suplementado com concentrações diferentes e no alcance terapêutico do agente antimicrobiano de interesse. Na primeira placa que não houver crescimento microbiano, a MIC será igual a concentração de antimicrobiano da placa. Para facilitar o trabalho em grandes volumes, um multi- inoculador pode ser usado. Com o auxílio deste mecanismo, até 32 inóculos podem ser semeados de uma só vez. Este teste também é conhecido por teste de screening ou triagem e é utilizado pelo CLSI para verificar resistência de cepas de S. aureus à 35 Figura 5. Determinação do MIC por Etest após incubação. Fonte: (ANVISA, 2008). oxacilina e à vancomicina e também para verificar cepas de Enterococcus sp. resistentes à vancomicina (WINN JUNIOR et al., 2008; CLSI, 2017). 3.2.5 ETEST® O Etest® é um teste comercializado que consiste em uma fita plástica que na parte traseira é impregnada com diferentes concentrações de antibiótico e na parte frontal possui uma escala das concentrações do antibótico que contém no verso da fita e a sua utilidade é para determinar o MIC do antimicrobiano da fita. A base desta técnica é a expansão da difusão do método em disco e o preparo do inóculo é o mesmo: semeio de um inóculo 0,5 MacFarland em ágar Müller-Hinton. Sobre este inóculo coloca-se a fita do Etest e incuba-se por 24 horas a, mais ou menos, 35ºC. A MIC do microrganismo testado é determinada no local onde a linha de inibição intersecta a fita. A zona de inibição assume uma forma elíptica, por isso esse teste também é conhecido como teste com Episilômetro (figura 5) (WINN JUNIOR et al., 2008; MOLINARO; CAPUTO; AMENDOEIRA.2013). 3.2.6. SISTEMAS AUTOMATIZADOS Nos sistemas automatizados, como no Vitek®, é possível que se faça a incubação do inóculo bacteriano, a diferenciação entre Gram-positivas ou Gram- negativas e executar testes de sensibilidade com precisão e bem mais rápidos, visto que a aparelhagem óptica desses equipamentos detecta qualquer crescimento, mesmo que mínimo. Esses aparelhos também determinam as concentrações 36 inibitórias mínimas e/ou a resistência a determinados fármacos (WINN JUNIOR et al., 2008). 4. DISCUSSÃO 4.1 COCOS GRAM-POSITIVOS RESISTENTES 4.1.1 STAPHYLOCOCCUS AUREUS RESISTENTES Resistência bacteriana significa que um microrganismo não possui mais sensibilidade a um antibiótico que antes possuía ou possui uma resistência intrínseca, determinada por componentes genéticos natos da bactéria. Mas a resistência bacteriana pode ser também adquirida através da transferência de genes ou plasmídeos de resistência disseminados no meio ambiente (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2014). Desde o momento em que a penicilina passou a ser comercializada, as infecções causadas por cocos Gram-positivos sofreram grandes mudanças em seus tratamentos, especialmente as infecções causadas por Staphylococcus e Streptococcus. Infelizmente, estes microrganismos juntamente com os Enterococcus vêm demonstrando um crescimento exponencial de suas resistências aos antibióticos, inclusive aos de última linha, representando uma preocupação global (WOODFORD; LIVERMORE, 2009). Os Staphylococcus aureus no final dos anos 1940 eram susceptíveis às penicilinas, porém logo já demonstravam ser resistentes. Nos anos 1960 foram introduzidas na terapia das infecções por S. aureus as penicilinas semi-sintéticas (meticilinas ou oxacilinas) que resistiam às ações das β- lactamases produzidas pelas cepas de S. aureus. Entretanto, nos anos 1980 surgiram as cepas meticilina/oxacilina resistentes, as comumente conhecidas MRSA (S. aureus meticilina resistente) ou ORSA (S. aureus oxacilina resistente). Essa resistência é causada pelo gene mecA, que altera a proteína de ligação à penicilina (PBP) - que é o sítio de ação das penicilinas sintéticas ou não – para uma proteína alterada PBP 2a, que tem baixa afinidade pela penicilina e, assim, esta não exerce sua função e a parede celular bacteriana mantém-se íntegra (WOODFORD; LIVERMORE, 2009; MEDINA; PIEPER, 2016). Outro tipo de resistência que não está relacionada ao gene mecA, encontrado 37 nas cepas de S. aureus é a resistência borderline, na qual as concentrações de inibição mínima estão próximasao limite e ocorre hiperprodução de β-lactamases (BORSA - S. aureus boderline oxacilina resistente) e modificações na estrutura do sítio de ligação das PBPs (MODSA- S. aureus com proteína de ligação à penicilina modificada) (ALMEIDA, 2016). Para as cepas MRSA ainda havia uma saída: a vancomicina, um glicopeptídeo que se liga às terminações D-Ala-D-Ala e impede a continuidade da síntese da parede celular bacteriana. A vancomicina funcionou bem até o final dos anos 1990, precisamente em 1997, quando houve o relato da primeira cepa com resistência intermediária à vancomicina, ou VISA (S. aureus com resistência intermediária à vancomicina) ou GISA (S. aureus com resistência intermediária aos glicopeptídeos). No início dos anos 2000, foram relatados os primeiros casos de S. aureus resistentes à vancomicina, sendo esta adquirida e causada pelo opéron cromossômico VanA proveniente do Enterococcus faecalis (MEDINA; PIEPER, 2016). O CLSI, que é o Instituto de Padronização dos Laboratórios Clínicos (do inglês Clinical Laboratories Standards Institute), todos anos emite um manual que oferece diretrizes para a identificação de resistência bacteriana a partir de testes de diluição e disco-difusão em ágar (estes testes serão abordados mais a frente). O CLSI preconiza que para uma cepa de S. aureus ser sensível à vancomicina a concentração inibitória mínima (MIC) deve ser de ≤ 2µg/ml, os intermediários devem ter um MIC de 4 a 8µg/ml e os resistentes necessitam de mais de 16µg/ml (CLSI, 2017). As cepas resistentes de S. aureus eram limitadas ao ambiente hospitalar, contudo, nos últimos anos os casos de MRSA adquiridos na comunidade têm aumentado e preocupado a classe médica (GELATTI, 2009). A virulência do Staphylococcus aureus não é alterada se este é MRSA ou VISA, entretanto o tratamento torna-se mais difícil o que eleva a morbidade do paciente e a infecção pode se agravar à ponto de leva-lo ao óbito. Atualmente, a daptomicina e linezolida são escolhas para o tratamento de S. aureus resistente à vancomicina. E o controle da disseminação das cepas MRSA e VISA ocorre através de medidas universais de controle de infecção (luvas, lavagem das mãos, cuidado com secreções e não compartilhamento de itens pessoais), vigilância epidemiológica, isolamento e 38 tratamento do paciente e uso cauteloso e criterioso dos glicopeptídeos (GELATTI, 2009; MEDINA; PIEPER, 2016). Outro mecanismo de resistência à oxacilina por S. aureus, é um homólogo ao gene mecA, o gene mecC e causa a mesma resistência ao produzir proteínas ligadoras de penicilina modificadas (PBP 2a). A resistência ao mecC não pode ser detectada pelos testes tradicionais voltados ao gene mecA ou às PBPs modificadas. As cepas ORSA que possuem o gene mecC são raras e foram relatadas somente na Europa, e apresentam um problema diagnóstico, visto que as duas cepas são muito parecidas (ALMEIDA, 2016). 4.1.2 STREPTOCOCCUS RESISTENTES Os Streptococcus, comumente, tendem a não se tornar resistentes, como por exemplo, o Streptococcus pyogenes e Streptococcus agalactiae, que não tiveram resistência à penicilina reportada na literatura científica, embora tenham demonstrado resistência à eritromicina e outros macrolídeos, tetraciclina e clindamicina. Porém, os Streptococcus pneumonie vêm mostrando capacidade de desenvolverem resistência. (AMYES, 2007; WINN JUNIOR et al., 2008). S. pneumonie resistente à penicilina foi relatado pela primeira vez nos anos 1980 e só foi aumentando no passar dos anos o que causa muita preocupação, visto que este microrganismo é responsável por centenas de milhares de mortes por ano. A resistência de S. pneumonie à penicilina é decorrente de mudanças nas PBP e não pela expressão de β- lactamases, o que confere resistência não somente à penicilina, mas a outros β-lactâmicos. É importante salientar que a maioria dos microrganismos resistentes, demonstra uma resistência intermediária, ou seja, exibe concentrações inibitórias mínimas (MIC) mais elevadas que as cepas sensíveis e ainda não são totalmente resistentes. A resistência à eritromicina também é uma preocupação e é expressa pelo gene erm leva a uma mudança no sítio de ligação deste fármaco no RNA ribossômico e o gene mef causa resistência a outros macrolídeos pela expressão de bombas de efluxo (AMYES, 2007; HAKENBECK et al., 2012). O CLSI determina que as cepas de S. pneumonie serão sensíveis à penicilina quando a MIC for ≤ 2µg/ml, terão resistência intermediária quando a MIC for 4µg/ml e serão resistentes quando a MIC for ≥ 8µg/ml (CLSI, 2017). 39 4.1.3. ENTEROCOCCUS RESISTENTES Os Enterococcus sp. possuem uma alta capacidade de adaptação devido a plasticidade do seu genoma. A resistência intrínseca a vários antibióticos e a grande capacidade de adquirir e disseminar genes de resistência, como o gene VanA que confere resistência à glicopeptídeos aos Staphylococcus aureus (AMYES, 2007). Todos os Enterococcus são resistentes às cefalosporinas, tolerantes aos aminoglicosídeos e, quando expostos, resistentes às penicilinas (WOODFORD; LIVERMORE, 2009). A Agência Nacional de Vigilância Sanitária preconiza que o tratamento de infecções enterocócicas se dê, inicialmente, através do uso de ampicilina associada à gentamicina (um aminoglicosídeo) por 4 semanas. No caso de resistência à associação de aminoglicosídeos com ampicilina, recomenda-se o uso de vancomicina. No caso de cepas de Enterococcus sp. resistentes à vancomicina, a ANVISA recomenda o tratamento com linezolida ou daptomicina (ANVISA, 2008). No final dos anos 1980, foram detectadas cepas resistentes à vancomicina, os Enterococcus vancomicina resistentes – VRE – que acontece devido a aquisição de 6 tipos de genes: VanA, VanB, VanD, VanE, VanG e VanL. Os principais são VanA e VanB, sendo VanA prevalente no mundo todo e conferindo resistência à vancomicina e à teicoplamina (WOODFORD; LIVERMORE, 2009). Os VRE se espalharam rapidamente em infecções causando surtos hospitalares e colonizando inúmeros pacientes. Sua alta prevalência, mais o fato que são multirresistentes, tornaram a terapia para estes microrganismos muito difícil (RINCÓN et al. 2014). Para o CLSI, Enterococcus com MIC ≤ 4µg/ml, são considerados sensíveis à vancomicina, os que apresentam MIC entre 8 e 16µg/ml a resistência é considerada intermediária e para a MIC ≥ 32µg/ml denota Enterococcus resistentes à vancomicina (CLSI, 2017). 5. RESISTÊNCIA BACTERIANA – PERSPECTIVAS Nos tempos anteriores à descoberta dos antibióticos, infecções simples eram capazes de levar uma pessoa a morte. Com o advento da penicilina, o primeiro antibiótico a ser comercializado, esse quadro mudou. Infecções antes complicadas e letais, tornaram-se de fácil tratamento e entramos na era antibiótica. Uma era cheia 40 de esperança de que todas as infecções estariam resolvidas (HAMILTON; WENLOCK, 2016). Na mesma velocidade que a penicilina salvou milhares de vida durante a Segunda Guerra Mundial, houveram os primeiros relatos de resistência antimicrobiana, embora a resistência seja datada de antes da descoberta da penicilina. Visto que as bactérias foram expostas a antibióticos produzidos por outros microrganismos por milhares de anos e muitos genes de resistência têm uma longa história evolutiva que se originou antes da era antibiótica (HAMILTON; WENLOCK, 2016). As principais causas de resistência bacteriana aos antimicrobianos são: o uso excessivo de antimicrobianos, estima-se que um terço das prescrições médicas de antimicrobianos são desnecessárias, como por exemplo prescrição de antibacteriano, quando era uma doença viral; falha na continuidade do tratamento e da dose utilizada; terapias inapropriadas, como monoterapia quando era necessária uma terapia combinada; e uso de drogas erradas para a bactéria causadora da doença (GAUDE, 2015; HAMILTON;WENLOCK, 2016). Além destes fatos, uma contribuição importante para a prevalência e o aumento da resistência bacteriana é o uso de antimicrobianos na agricultura pelo fato da transferência de genes de resistência e seleção de cepas resistentes (HAMILTON; WENLOCK, 2016). A resistência bacteriana aumenta a morbidade, a mortalidade e o custo dos serviços de saúde. E a cada ano torna-se mais preocupante, pois à medida que novos antibióticos são desenvolvidos, mais resistentes se tornam as bactérias. Num estudo comandado em 2014 pelo governo britânico, em 2050, se o cenário da resistência continuar como está, mais de 10 milhões de pessoas morreriam em decorrência de infecções causadas por microrganismos resistentes, causando um impacto de mais de 2% no produto interno bruto mundial. Além do fato que procedimentos hoje comuns como cirurgias e quimioterapias se tornariam extremamente preocupantes e delicados (O’NEILL, 2014). Entretanto, por mais negativas que sejam as previsões, ainda temos uma luz de esperança. O desenvolvimento de novos fármacos, de métodos diagnósticos mais rápidos, de vacinas e terapias com utilização de bacteriófagos para modular o material 41 genético bacteriano, e terapias antivirulência (que atenuam os sintomas da doença, porém sem diminuir o crescimento bacteriano) são algumas alternativas para a nova era antibiótica e continuação da batalha contra a resistência bacteriana (BASSETTI et al., 2017). Um esforço conjunto global, educação dos profissionais de atenção básica e da população, investimento em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias para a identificação eficaz e combate da resistência microbiana, conscientização sobre uso racional de antimicrobianos e medidas de higiene das mãos e superfícies e saneamento básico adequado são medidas que devem ser tomadas e já contribuem para a minimização dos efeitos da resistência antimicrobiana (HAMILTON; WENLOCK, 2016). 42 6. CONCLUSÕES FINAIS Os cocos Gram-positivos são um grupo que incluem patógenos humanos importantes, como os Staphylococcus sp., Streptococcus sp. e os Enterococcus sp., que infectam milhares de pessoas por ano causando meningites, pneumonia, infecções de garganta, infecções de pele, dentre outros. Uma preocupação importante é a resistência ao antibacterianos deste grupo, onde se destacam os Staphylococcus aureus meticilina resistentes (MRSA) e os Staphylococcus aureus vancomicina resistentes (VISA), os Streptococcus pneumonie resistentes e os Enterococcus vancomicina resistentes (VRE) que aumentam a morbidade dos pacientes infectados com estas cepas pelo fato da difícil terapia. A resistência antimicrobiana é um mal da atualidade e preocupa os cientistas. Esforços para combatê-la incluem desenvolvimento de novos fármacos antimicrobianos, novas terapias e tecnologia de diagnóstico microbiológico. A educação continuada de profissionais da atenção básica de saúde, conscientização sobre o uso racional de antimicrobianos e medidas de higiene ajudam a diminuir a incidência de cepas resistentes. . 43 REFERÊNCIAS ALMEIDA, Marília Virgo Silva. PERFIL ETIOLÓGICO DE COCOS GRAM POSITIVOS ISOLADOS DE CULTURA DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DE RESISTÊNCIA. 2016. 57 f. 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