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Geovana Sanches, TXXIV FOLICULOGÊNESE E CICLO MENSTRUAL INTRODUÇÃO O ciclo menstrual consiste nas variações rítmicas mensais na secreção de hormônios femininos, cuja finalidade é preparar o corpo da mulher para receber uma gravidez. Quando a fecundação ocorre, o ciclo é interrompido; caso contrário, a menstruarão finaliza o início de um novo ciclo. SISTEMA NEURO-ENDÓCRINO As mudanças ovarianas que ocorrem durante o ciclo menstrual dependem do eixo hipotálamo-hipófise-gônadas (ovário). O hipotálamo secreta o GnRh (hormônio liberador de gonadotrofinas) em pulsos, o qual atua sobre a adenohipófise, estimulando-a a secretar os hormônios gonadotróficos LH e FSH. A frequência e a amplitude do GnRh é, portanto, quem controla a liberação desses dois hormônios. Esse mecanismo se correlaciona com o sistema límbico, de forma que mudanças abruptas na vida da mulher, sejam físicas (exercício exagerado, fuso horário) ou psicológicas (tristeza extrema, euforia) são capazes de interferir no hipotálamo, alterando o ciclo menstrual. Na ausência das gonadotrofinas, como ocorre durante a infância, os ovários permanecem inativados. Entre os 8 e os 13 anos, pulsos de GnRh aumentam e a hipófise começa a secretar progressivamente maiores quantidades de FSH e LH, os quais atuam estimulando os ovários. Iniciam-se, assim, os ciclos menstruais. FISIOLOGIA OVARIANA O ovário tem responsabilidade fisiológica de ovulação e produção hormonal. Ele se encontra em um processo contínuo de maturação folicular, ovulação, formação e regressão do corpo lúteo. Estrutura do ovário As mulheres apresentam dois ovários, os quais têm formato de amêndoas. A camada externa é recoberta por epitélio cúbico simples, o qual é denominado epitélio germinativo. Sob esse epitélio, encontra-se a túnica albugínea, tecido conjuntivo denso responsável pela coloração esbranquiçada dos ovários. A região interna do ovário é dividida em córtex, local em que se localizam os folículos e, ainda mais internamente, está a região medular, que contém tecido conjuntivo frouxo com um rico leito vascular e comunica-se com mesovário e hilo. DESENVOLVIMENTO EMBRIONÁRIO GONADAL O desenvolvimento embrionário gonadal tem inicio por volta da 5ª semana de gestação, quando as células germinativas primordiais deixam a parede do saco vitelínico e se locomovem até a crista genital, permanecendo nesse local ainda indiferenciadas. Entre a 6ª e a 9ª semana, essas células germinativas sofrem diferenciação sexual, formando os cordões sexuais. Por volta da 10ª semana, as células germinativas primordiais já se diferenciaram em oogônias (ou ovogônias), as quais se multiplicam por mitose (diploides), formando os folículos primordiais. Nesse mesmo período, os cordões mais medulares originam a medula ovariana, enquanto os cordões mais corticais originam as células foliculares, as quais irão envolver as oogônias. Por volta da 11ª semana, as oogônias entram em meiose I, diferenciando-se em oócitos primários. As células foliculares impedem a conclusão dessa divisão até a puberdade, de forma que as ovogônias permanecem em dictióteno (prófase I). Na 20ª semana do desenvolvimento embrionário, há entre 6 e 8 milhões de ovogônias. No entanto, inicia-se a atresia desses gametas, de forma que ao nascimento, a menina contém entre 500 e 950 mil folículos primordiais com oócitos primários. O processo de atresia continua pelo restante da vida da mulher: na puberdade restam entre 40 e 250 mil oócitos primários por ovário e, aos 40 anos, temos aproximadamente 8.000 deles. Como geralmente apenas um oócito é liberado pelos ovários em cada ciclo menstrual, são liberados em torno de 450 oócitos ao longo da vida. Todos os demais sofrem degeneração por atresia. Geovana Sanches, TXXIV A partir disso vemos que o óvulo liberado na vida adulta está presente na mulher desde o período fetal, porém só volta a se dividir no período em que ocorrerá a menstruação. Sendo assim, ao longo da vida, esses óvulos podem sofrer alterações epigenéticas de acordo com os hábitos de vida que essa mulher adotar. Foliculogênese A foliculogênese é o processo que envolve o recrutamento, crescimento e desenvolvimento do folículo primordial, até que ele chegue ao seu estado de maturação. Ele ocorre no córtex do ovário, de forma que, em um corte histológico, é possível identificarmos folículos em diferentes estágios. Trata-se de um processo longo e contínuo, podendo demorar até um ano desde o folículo primordial até o estágio ovulatório. Durante esse período, o crescimento é alcançado por proliferação celular e formação do fluido folicular, envolvendo citodiferenciação de todas as células e tecidos foliculares. Tendo em vista a necessidade de uma série de modificações até que o folículo esteja pronto para ovular, poucos sobrevivem - cerca de 99,9% ficam inviáveis e morrem por mecanismo de apoptose, sofrendo atresia. Desenvolvimento folicular O desenvolvimento folicular pode ser dividido em duas fases, sendo que uma é dependente do eixo hipotálamo-hipófise-gônadas (desenvolvimento do folículo primordial até o folículo antral) e a outra não (desenvolvimento do folículo antral até a maturação completa). Cada folículo ovariano é composto por um oócito primário e as células foliculares que o envolvem. O primeiro folículo a se formar é o folículo primordial, ainda na fase fetal. Ele contém um oócito primário (25µm em diâmetro) estacionado no estágio de prófase da primeira fase da meiose, associado a uma única camada de células da granulosa achatadas, repousando sobre uma membrana basal. Alguns folículos primordiais já iniciam seu processo de crescimento no lactente, sendo que o restante pode iniciar em qualquer momento da vida da mulher, inclusive na menopausa. Isso pois, o desenvolvimento desses folículos não é dependente de gonadotrofinas, ocorrendo por um mecanismo autorregulatório ainda não bem conhecido. A partir do desenvolvimento do folículo primário, há aumento do volume do oócito e diferenciação das células foliculares, as quais se tornam cuboides. Quando isso ocorre, temos o folículo primário, o qual também não depende de gonadotrofinas. A partir do folículo primário, inicia-se a expressão de receptores para gonadotrofinas. Todavia, em níveis fisiológicos de FSH, ainda não há influência sob o crescimento dessas células. A proliferação continua e as células foliculares originam um epitélio estratificado pavimentoso, o qual é chamado de camada Geovana Sanches, TXXIV granulosa. As células da granulosa secretam uma espessa camada que irá envolver todo o oótico – trata-se da zona pelúcida, substância composta por diversas glicoproteínas (mucopolissacarídeos), cujo papel é proteger o oócito primário, impedir sua implantação antecipada e reconhecer o espermatozoide humano no momento da fecundação. Além disso, o estroma ovariano (tecido conjuntivo) em volta do folículo se modifica para formar a teca interna, camada por onde passam pequenos vasos sanguíneos que nutrem a camada granulosa. O folículo passa a se chamar, então, folículo secundário. À medida que o folículo cresce, um líquido (líquido folicular) rico em proteínas e esteroides começa a ser secretado pelas células foliculares. Os espaços que ficam preenchidos por esse líquido são denominados antros. Além disso, surge a teca externa, também formada de estroma ovariano; ela é separada da teca interna por uma lâmina basal. Nessa fase, temos o folículo terciário ou pré- antral, o qual está quase pronto para entrar no ciclo menstrual. Os estágios de desenvolvimento até o folículo pré-antral, correspondentes a primeira etapa da foliculogênese, são independentes dos níveis de FSH e LH, ocorrendo em todas as etapas da vida feminina. Todavia, a partir daí, as células foliculares já expressam muitos receptoresde FSH e LH, propiciando a segunda etapa da foliculogênese (antral ou ovulatória), a qual é gonadotrofinas- dependente. A cada ciclo menstrual, um folículo antral (ou folículo de Graaf) cresce mais do que os demais e se torna o folículo dominante, o qual alcança o estágio de maior desenvolvimento e prossegue para a ovulação. Conforme o folículo dominante continua a crescer, as células da granulosa se reorganizam e formam um único antro, o qual continua a ser preenchido por líquido folicular. Associadamente, há deslocamento do oócito para um dos polos, fixando-se à zona pelúcida através do cumulus oophurus. As células da granulosa se concentram em volta do oócito primário e formam a corona radiata, a qual se apoia no cumulus. Essa segunda fase da foliculogênese (gonadotrofina-dependente) é a mais rápida do processo (14 dias) e na qual ocorre a maior taxa de atresia devido ao aproveitamento das gonadotrofinas majoritariamente pelo folículo dominante. TEORIA DAS DUAS CÉLULAS Segundo a teoria das duas células, há diferentes receptores nas células foliculares. • Células da teca: possuem receptores de LH. A partir da ligação desse hormônio aos receptores, ativa-se um mecanismo Geovana Sanches, TXXIV intracelular cujo objetivo é converter o colesterol em androgênio. • Células da granulosa: possuem receptores de FSH. A parti da ligação desse hormônio aos receptores, promove-se a conversão de androgênios em estrogênios através do processo de aromatização. Os estrogênios formados caem no líquido folicular e, posteriormente, são transportados via corrente sanguínea. CICLO MENSTRUAL O ciclo menstrual pode ser dividido em duas fases: fase folicular (ou proliferativa) e fase lútea (ou secretora). Os nomes das fases se referem ao desenvolvimento do folículo ou do endométrio (os quais ocorrem simultaneamente). Fase folicular ou proliferativa A fase folicular ou proliferativa dura 14 dias e tem início no 1º dia da menstruação. É nela em que ocorre o crescimento do folículo dominante, com a transformação do folículo antral no óvulo. Concomitantemente, há proliferação do endométrio para que ele esteja pronto para receber o embrião. O principal hormônio dessa fase é o FSH (hormônio folículo-estimulante), liberado pela hipófise. Ele é responsável por selecionar, recrutar e estimular o desenvolvimento dos folículos antrais disponíveis. Em condições normais, apenas um deles chegará a fase ovulatória, enquanto os demais irão sofrer atresia. Esteroidogênese O FSH liberado pela hipófise age nos folículos antrais, dentro dos quais há produção de estrógeno (esteroidogênese), hormônio que estimula o crescimento e a proliferação do endométrio. Vale lembrar que esse processo é dependente das células da teca e da granulosa – o LH se liga aos receptores nas células da teca, promovendo a transformação de colesterol em androgênios. O FSH, por sua vez, liga-se aos receptores da célula da granulosa, promovendo a aromatização dos androgênios em estrogênio. à Funções do estrogênio • Feedback negativo sobre a hipófise: a partir do recrutamento dos folículos, a primeira ação do estrogênio é promover um feedback negativo sobre a hipófise, a fim de cessar o estímulo a secreção de FSH; • Feedback positivo sobre a hipófise para liberação de FSH e LH, formando o pico ovulatório, responsável por promover a ruptura do folículo e liberação do óvulo; • Proliferação endometrial, preparando o endométrio para receber o embrião. Ovulação A ovulação consiste na ruptura do folículo e liberação do oócito secundário. É um processo totalmente gonadotrofinas-dependente. A maioria dos folículos não possuem receptores suficientes ou não produzem estrógeno suficiente para se desenvolver, de forma que apenas um deles é selecionado para a ovulação. A partir da seleção, o folículo pré ovulatório também expressara receptores de LH na granulosa. Tal expressão é fundamental para que o folículo tenha capacidade de responder ao pico de LH que ocorre no período pré-ovulatório. O LH promove a formação do estigmo, área de fragilidade em que ocorrerá a abertura para saíde do óvulo. Além disso, promove a liberação de prostaglandinas e a retomada da meiose (a fertilização só ocorre em metáfase II). O FSH, por sua vez, ativa o plasminogênio em plasmina, auxiliando a formação do estigma. Após a ovulação, o óvulo é captado e a porção remanescente formará o corpo lúteo. Geovana Sanches, TXXIV Luteinização As células da granulosa acumulam um pigmento amarelo (luteína), formando as células lúteas grandes, produtoras de progesterona, relaxina, inibina e fatores de crescimento. As células da teca, por sua vez, se diferenciam e compõem o corpo lúteo, formando as células lúteas pequenas, responsáveis por promover a liberação da progesterona. Fase lútea ou secretora O corpo lúteo (células da granulosa luterinizadas) é o protagonista da 2ª fase do ciclo, assim como a progesterona, hormônio produzido por ele; há também uma produção menos importante de estrógeno e inibina – tanto o estrógeno, quanto a progesterona, são importantes para o desenvolvimento do endométrio e para manter o bloqueio do eixo. Há transformação do endométrio para nidação – o endométrio secretor apresenta grande quantidade de nutrientes para produzir condições adequadas para a implantação. A elevação dos níveis de progesterona e fatores locais impedem nova ovulação ou desenvolvimento de novos folículos nesse período. Habitualmente, o corpo lúteo tem “validade” de 14 dias, de forma que essa fase do ciclo é fixa. Em caso de gravidez, o trofoblasto produz HCG que permite que o corpo lúteo permaneça ativo por uma quantidade maior de tempo para o endométrio seguir irrigado e pronto para o desenvolvimento da gestação. Menstruação • Degeneração do corpo lúteo, com queda acentuada dos níveis de estrogênio e progesterona • Involução do endométrio, vasoespasmo e perda do estímulo hormonal – necrose • Massa de tecido descamado + sangue • Feedback positivo para liberação de FSH para início de novo ciclo.
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