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Carla Bertelli – 5° Período Visão e Seus Distúrbios Morfofisiologia do Olho Os olhos ficam nas órbitas oculares. São bolsas membranosas cheias de líquidos dentro Os olhos são compostos por: • Conjuntiva: membrana transparente que reveste a parte interna da pálpebra e parte da esclera; • Esclera/escleróide: parte branca do olho, formada por um tecido conjuntivo bem firme e é onde se ligam os músculos oculares e o nervo óptico; • Humor aquoso: líquido que fica abaixo da córnea e está relacionado a algumas alterações oculares; • Corioide: membrana abaixo da esclera, membrana pigmentada com melanina e com muitos vasos sanguíneos, ele que alimenta as células do olho; • Íris: parte colorida, ela que aumenta ou diminui dependendo da luminosidade. Composta de duas camadas de tecido liso pigmentado: Músculo esfíncter: camada circular interna. Forma 3 anéis concêntricos ao redor da pupila que se contraem para a constrição da pupila. Neurônios parassimpáticos a inervam para sua contração e são ativados com o aumento da luz; Músculo dilatador: camada radial externa. Quando os músculos radiais se contraem, causa a dilatação da pupila Neurônios simpáticos a inervam para a contração, como parte da “luta ou fuga” Pupila: bola preta que dilata e contrai dependendo da luminosidade, o Sistema Nervoso Autônomo que faz isso, ela regula o diâmetro da pupila. Se contrai até 2 mm de diâmetro. Se dilata até 8 mm de diâmetro; Cristalino/lente: fica atrás da íris e tem o formato de uma lente biconvexa, é responsável pela acomodação visual, para dar foco e nitidez ao o que estamos vendo; Córnea: dá foco as imagens e fica na parte externa dos olhos, membrana transparente espessa e arredondada, por ela que recebemos os raios luminosos. Ela é avascular, protege o olho e é a estrutura mais inervada do corpo; Humor vítreo: parte interna da bola branca dos olhos, é um líquido mais viscoso, uma substância gelatinosa, ele que mantém a estrutura esférica; Retina: é composta de tecido neural e é onde é formado a imagem, parte mais importante do olho. Atua na fototransdução que é conversão de energia luminosa em elétrica. É uma membrana que reveste internamente a câmara ocular e tem 3 camadas: • Camada interna: neurônios chamados células ganglionares • Camada média: neurônios chamados de células bipolares; • Camada média: neurônios chamados de células bipolares; Cones: não são tão sensíveis a luz, eles distinguem as cores e são ativos na claridade, ficando na fóvea; Bastonetes: são sensíveis a luz e não distingue os comprimentos de onda (cor), são usados em lugares escuros; Essas duas células tem pigmentos alterados por reações químicas, para levar o impulso nervoso até o córtex. No bastonete se chama rodopsina; No cone se chama fotopsina; → Fóvea: uma depressão central na retina, onde a luz incide; → Disco óptico: onde atravessam o nervo óptico e os vasos sanguíneos, é o ponto cego; Corpo ciliar: abriga os músculos ciliares que entram na lente pelas fibras zonulares (fibras de tecido conjuntivo); O olho pode ser dividido em 3 camadas concêntricas: • Externa: esclera e córnea; • Média: corioide, corpo ciliar e íris; • Interna: retina A lente e o corpo separam o olho em duas câmaras preenchidas por líquido: • Na frente da lente e do corpo tem o segmento anterior: → Câmara anterior: entre a córnea e íris; → Câmara posterior: entre a íris e a lente; → Nele fica o humor aquoso; Atrás da lente e do corpo tem o segmento posterior: → Tem o humor vítreo; O sistema de lentes do olho tem 4 interfaces refrativas: • Interface entre o ar e a superfície anterior da córnea; • Interface entre a superfície posterior da córnea e o humor aquoso; • Interface entre o humor aquoso e a superfície anterior do cristalino; • Interface entre a superfície posterior do cristalino e o humor vítreo; Visão e Seus distúrbios Carla Bertelli – 5° Período O poder refrativo (quanto mais a lente curva os raios de luz) é medido em termos de dioptrias; A emetropia é a visão normal, mas há erros de refração, como hiperopia (globo ocular curto, focaliza a imagem atrás e enxerga bem longe) e a miopia (globo ocular comprido, focaliza a imagem antes e enxerga bem perto). Ambas são solucionadas com o uso de lentes convexa e côncava, respectivamente. Formação da Imagem no Olho Luz → córnea → humor aquoso → cristalino → humor vítreo → retina → disco óptico → nervo óptico → tálamo → córtex visual / lobo occipital A luz é uma forma de energia, são ondas eletromagnéticas de comprimentos de onda entre 350 nm e 750 nm, as cores variam dos diferentes comprimentos das ondas. • Reflexão: ondas luminosas atingem e deixam uma superfície. A maioria da luz que recebemos refletiu dos objetos observados; • Refração: desvio das ondas ao atravessar substâncias transparentes. No caminho da visão do campo visual até os fotorreceptores, ela atravessa várias substâncias; O sistema de lentes do olho focaliza a imagem na retina. A imagem é invertida e reversa comparada com o objeto, mas a mente entende ela em pé, porque o cérebro é treinado para entender ela invertida sendo como normal. Para acontecer o foco, a córnea e a lente têm que provocar a convergência das ondas luminosas na retina. Acomodação: capacidade da lente de aumentar o poder de refração para ver objetos próximos. Para visualizar objetos próximos, o músculo ciliar contrai, reduzindo o diâmetro do círculo e diminuindo a tensão sobre as fibras zonulares para a lente ter um formato mais arredondado. Isso é controlado pelo sistema nervoso parassimpático; Para visualizar objetos distantes, o músculo ciliar relaxa, aumentando o diâmetro do círculo e tencionando as fibras zonulares, para a lente tem um formato mais plano. Não tem estimulo parassimpático; A contração e o relaxamento dos músculos ciliares vai alterar o formato da lente, para as ondas luminosas serem focadas. Quando um feixe luminoso chega na nossa córnea, ele atravessa ela, passa pelo humor aquoso, pelo cristalino e vai até o humor vítreo, chegando na retina onde é formada a imagem. A imagem formada é levada até o cérebro pelo nervo óptico; Quando a luminosidade chega até os olhos, os cones e bastonetes vão sofrer reações químicas que vão excitar a membrana e transmitir o impulso nervoso; As fibras nervosas se reúnem em um ponto cego (disco óptico), nesse local não tem fotorreceptores e é dele que sai o nervo óptico; Nervo óptico é formado por um conjunto de axônios de neurônios que são agrupados, passam informação até o tálamo e após isso vai no córtex visual no lobo occipital, onde é processada. Os nervos ópticos saem pelos discos ópticos e se juntam na frente do tronco encefálico, formando o quiasma óptico, no qual metade dos axônios de cada olho vai para o hemisfério cerebral oposto; Carla Bertelli – 5° Período Glaucoma O glaucoma é uma degradação do nervo óptico, geralmente associada ao aumento da pressão intraocular (pressão dentro do olho). Isso ocorre devido a um bloqueio no canal que drena o líquido responsável por nutrir algumas estruturas do interior do olho. O termo glaucoma engloba um conjunto amplo de doenças, com inúmera causas, porém com características comuns, que formam um quadro clínico semelhante, na maioria dos casos. São elas: • Aumento da pressão intra-ocular; • Aumento da escavação e atrofia de nervo óptico; • Perdas campimétricas características. Associado à presença de molécula de adesão de leucócito endotelial-1 (ELAM-1) -> ativação de uma resposta de estresse nas célulasda malha trabecular; O glaucoma geralmente é precedido pela perda progressiva campo visual que ocorre devido à morte das células ganglionares da retina, cujos axônios formam o nervo óptico e conduzem o estímulo visual do olho para o cérebro; A pressão intra-ocular (PIO) é considerada o principal fator de risco conhecido para a lesão glaucomatosa -> mas uma simples elevação da PIO não equivale a glaucoma; Tipos de glaucoma: Glaucoma primário de ângulo aberto: pressão intraocular aumentada danifica o nervo óptico, exercendo força sobre ele e o empurrando para trás. Mais comum, assintomático crônico, progressivo, aumento da PIO, anomalia da malha trabecular que controla o fluxo do humor aquoso Glaucoma agudo de ângulo fechado: íris fecha o canal de drenagem do líquido intraocular subitamente e a pressão se eleva a níveis muito altos. Caso a pessoa não procure um oftalmologista imediatamente, pode haver perda da visão no mesmo dia. Predisposição anatômica, fechamento do ângulo entre íris e córnea– aumento da PIC; por medicamentos- dor ocular intensa Glaucoma com a pressão intraocular normal: Hoje se sabe que, atrás do nervo óptico, há a pressão intracraniana que empurra o nervo para frente. Em um olho saudável, há um equilíbrio entre as pressões intraocular e intracraniana. Diante de um desequilíbrio dessas pressões pode ocorrer o glaucoma. Outra hipótese é que uma alteração da circulação do líquido cerebral levaria a um acúmulo de substâncias tóxicas o provocando degeneração do nervo óptico. Manifestações Clínicas – Na maioria das vezes, a pessoa não apresenta sintomas até que a visão esteja muito comprometida. O paciente perde a visão periférica ao longo do tempo e a sua visão fica tubular, como se ele enxergasse por meio de um telescópio. Na forma aguda, os sinais e sintomas são mais evidentes. Fazendo com quem o paciente procure um médico. Há dor ocular intensa, baixa da visão, observação de halos coloridos em torno da luz, náusea e vômito Causas Do Glaucoma • Na maioria das vezes: dano relacionado ao nível da pressão intra-ocular • Nível da pressão intra-ocular: determinado pelo equilíbrio entre produção e escoamento do humor aquoso • Glaucomas por Aumento do Fluxo de Humor Aquoso • Glaucomas por Aumento da Pressão Venosa Episcleral (ex: obstrução do fluxo venoso por fístula carótida cavernosa; obstrução da veia cava superior) • Glaucomas por por diminuição da facilidade de escoamento do humor aquoso (ex: pela obstrução das malhas trabeculares por acúmulo de células inflamatórias, sangue, fibrina, pigmentos...) Glaucoma congênito: mais raro; mantém a configuração fetar com a malha trabecular se estendendo até íris ou sendo coberta por uma membrana; assimetria do tamanho dos olhos, diminuição do brilho ocular Secundário: decorrente de outras doenças como diabetes e catarata ↑ pressão intra-ocular (não obrigatoriamente) -> compressão direta e ↓ fluxo sanguíneo -> lesão dos axônios -> morte de células ganglionares -> atrofia do nervo óptico -> perda irregular da visão (campo visual); Carla Bertelli – 5° Período Distúrbios da Refração Erros refracionais correspondem a patologias causadas por desajustes ópticos que resultam em dificuldade de enxergar certo campo visual. Essas desordens são representadas por: astigmatismo, hipermetropia e miopia Miopia A formação da imagem que buscamos visualizar decorre da presença de duas lentes presentes no olho humano, a córnea e o cristalino, responsáveis por refletir a imagem na retina e, através da ligação com o nervo óptico, possibilitar a formação dessa imagem no sistema nervoso central. Muitas patologias surgem devido a uma desordem desse sistema de reflexão da imagem na retina. A miopia é uma delas, em que a imagem formada se situa aquém da área retiniana (olho com maior diâmetro anteroposterior quando comparado a um olho hígido ou poder de refração da lente é maior do que o fisiológico). Simples ou Fisiológica – apresenta um limite de até 6 dioptrias de forma esférica (DE); Progressiva ou patológica – Relacionada a um grande diâmetro axial ocular, havendo alterações no fundo de olho e quantificação maior que 6 dioptrias de forma esférica (DE). Miopia axial – Em que há aumento do comprimento anteroposterior do olho e baixo poder de refração ocular associado, logo, baixa capacidade óptica do sistema, formando imagens desfocadas Miopia refrativa – Em que ocorre aumento do poder de refração ocular devido à alteração das lentes fisiológicas (córnea e cristalino, como em casos de ceratocone e subluxação, respectivamente, lembrando que algumas subluxações podem levar a altas hipermetropias), que alteram a imagem final que se busca obter. Grau de miopia: • Leve: até 2 DE; • Moderada/intermediária: valor maior que 2 DE e menor ou igual a 6 DE; • Grave/alta: acima de 6 DE. Manifestações clínicas: a queixa clínica mais comum é a baixa acuidade visual (BAV) para objetos mais distantes do observador, devido à mudança do eixo visual, ocorrendo diminuição do ponto próximo refratométrico. Como consequência, a pessoa busca aproximar o campo visual que deseja enxergar a fim de compensar a alteração do globo ocular e, assim, melhorar a acuidade visual. Além desse fator de melhora, alguns pacientes utilizam a chamada fenda estenopéica, ou seja, realiza-se uma diminuição da abertura da fenda palpebral, buscando adequar a acuidade para aquela imagem que se deseja enxergar. Diagnóstico: utiliza-se um aparelho chamado Retinoscópio, que consiste em analisar erros refracionais a partir de um feixe de luz. Nesse caso, quando se realiza um movimento meridional em um sentido, o feixe de luz projetado sobre o globo ocular assume um sentido oposto. Porém, o feixe pode se estabelecer no mesmo sentido em casos em que a dioptria possui um valor menor que dois (em casos em que o examinador está a cerca de 50 centímetros). Para um diagnóstico completo e exato, devem-se excluir outras condições patológicas (diagnóstico diferencial), como uso de medicamentos, hiperglicemia severa e espasmo durante o processo de acomodação ocular A miopia ocorre quando o globo ocular possui o diâmetro anteroposterior maior, ou o mecanismo de focalização do olho (córnea e cristalino) é poderoso demais, e os raios de luz são focalizados na frente da retina. A imagem retiniana não será um ponto, mas um círculo proporcional ao grau de miopia Na miopia, há redução da visão a distância. Tal redução costuma ser proporcional ao grau da miopia. Fotofobia e baixa visão ao entardecer também fazem parte do quadro clínico. Classificação de acordo com o defeito da anomalia de refração: Carla Bertelli – 5° Período • Miopia simples: não se associa a lesões degenerativas e não supera 5 ou 6D; • Miopia degenerativa: as lesões degenerativas se iniciam a partir dos 50 anos. Mais comum em mulheres, é frequentemente hereditária. A miopia apresenta causas multifatoriais. Estudos comprovam a relação genética em casos de altas miopias. Contudo, para miopia simples/fisiológica/escolar, há maior influência ambiental que genética miopia e anos de escolaridade. Isso ocorre pelo aumento do uso da acomodação para atividades como ler e escrever. Vale ressaltar que recentes pesquisas mostram que atividades ao ar livre são fatores protetores contra o desenvolvimento de miopia, mesmo considerando os fatores de risco, atividades próximas e história familiar. Miopia patológica: definida como miopia muito elevada (>- 8,00 dioptrias, comprimento axial > 32.5 mm) associada a características degenerativas e progressivas doglobo ocular. Estima-se que dois a três por cento da população têm miopia patológica, e sua prevalência aumenta com a idade e com a gravidade da miopia. Nessa patologia, é frequente ocorrer, além de um alongamento do globo ocular, sua deformação (Figura 5 A). Com isso, tornam- se mais comuns alterações patológicas de retina, coroide e esclera, ocasionando maior prejuízo à visão. O paciente pode apresentar comprometimento da visão central e também alteração na visão de cores. Condição em que a imagem dos objetos se forma anteriormente à retina, sem interferência da acomodação. Dentre as suas causas estão: o poder de refração excessivo do olho ou o diâmetro ântero- posterior aumentado em relação ao poder de refração. O míope não relaxa o músculo ciliar para retificar o cristalino por estar sempre aumentando o poder dióptrico da lente, ou seja, sua capacidade de acomodação para corrigir seu erro é comprometida. Clínica: a queixa do paciente é de dificuldade de enxergar nitidamente os objetos que se encontram distantes. Pode apresentar cegueira noturna Hipermetropia Condição em que a imagem dos objetos se forma posteriormente à retina, sem interferência da acomodação. Entre as causas estão poder de refração reduzido ou diâmetro AP pequeno. Diferente do míope, o hipermétrope consegue acomodar o cristalino e melhora visão. Clínica: paciente queixa-se de não ver nitidamente objetos próximos. Pode estar associado a cefaleia, principalmente ao final do dia, borramento da visão e irritação ocular. Situação é oposta à miopia. Ou seja, a imagem é formada além da área retiniana, ou o diâmetro anteroposterior é menor que o habitual, ou o poder refrativo do sistema ocular é menor que o considerado fisiológico Etiologia: Do tipo axial: há a redução do diâmetro do globo ocular, podendo ser do tipo relativa (como no caso de uma compressão mecânica posterior do globo ocular, em casos de tumores, por exemplo) ou absoluta (em casos de microftalmia, ou seja, redução considerável de um ou dos dois globos oculares). Do tipo refrativa: o sistema ocular possui baixo poder refracional no processo de formação da imagem. Isso pode ser consequência da redução da capacidade de refração do cristalino, ou da alteração a nível corneano, que pode estar com sua curvatura reduzida (processo congênito), ou por fatores secundários, como em pós- trauma e o processo cicatricial que é desencadeado logo em seguida Carla Bertelli – 5° Período Do grau: • Leve: até 2 DE; • Moderado/intermediário: o valor da DE deve ser maior que 2 e menor ou igual a 6; • Alto/intenso: o valor da DE é superior a 6. Manifestações clínicas: são dependentes de algumas condições clínicas dos pacientes, como a capacidade que se tem de tentar acomodar o sistema óptico, a idade do paciente e a amplitude em que essa patologia se instala. Mas a maioria dos pacientes se queixa de diminuição da acuidade visual para longe e/ou perto, uma vez que há sobrecarga visual devido à tentativa de melhorar a imagem do objeto em questão, o que resulta em sintomas que variam desde cefaleia até dor ocular e epífora. Diagnóstico: através do uso do retinoscópio em meridianos, em que se observa o sentido do movimento do aparelho sendo o mesmo do feixe de luz que incide sobre o globo ocular Os raios luminosos, ao penetrarem no olho hipermétrope, formam a imagem atrás da retina. Associam-se a olhos pequenos; não somente o diâmetro, mas também a córnea pode ser de menor tamanho A visão do hipermétrope varia de acordo com a idade e o grau. Na idade abaixo de 6 anos, quando não há distúrbios da musculatura extraocular, geralmente não é necessário corrigir a hipermetropia, devido à grande amplitude de acomodação e à pequena solicitação da visão de perto. A hipermetropia geralmente diminui na idade pré-puberal, pois o olho vai crescendo com a idade, assim como o seu poder dióptrico. Após os 20 anos, mesmo os hipermétropes leves podem tornar-se sintomáticos, e a necessidade de correção óptica para a sua hipermetropia aumenta gradativamente com a idade e piora com a chegada da presbiopia, por volta dos 40 anos Astigmatismo O astigmatismo é uma patologia que decorre da formação de linhas focais meridionais que se apresentam separadas por espaços interfocais. Ou seja, ocorre uma irregularidade na superfície do aparelho óptico (podemos observar tal evento na córnea, no aparelho ocular como um todo e, de forma mais rara, pode haver irregularidade do cristalino). Diferente dos outros erros, no astigmatismo a dificuldade visual é decorrente de poder dióptricos diferentes nos eixos vertical e horizontal, dessa forma, os feixes de luz não se encontram num mesmo ponto da retina, impedindo a formação adequada da imagem. Pode levar a ambliopia, que é a baixa capacidade visual mesmo se a origem do problema for corrigida. Existem diversas classificações, quanto a regularidade da córnea, quanto a posição do meridiano mais curvo simétrico ou não e quanto à refração de cada olho. Clínica: visão não nítida tanto para objetos longe quanto perto. Para a classificação: Qual estrutura está irregular e resulta na formação de várias imagens que se confundem (vários contornos): Retina: irregularidade da retina, principalmente da fóvea; Córnea: irregularidade corneana, podendo ser na região anterior ou posterior (mais frequente); Cristalino: irregularidade do cristalino, podendo ser em sua região anterior ou posterior; Mista: mais de uma estrutura ocular encontra-se irregular Grau: • Leve: quando a dioptria necessária é menor que 1 (nesse caso, são dioptrias cilíndricas – DC). • Moderado/intermediário: o grau encontrado é maior que 1 e menor ou igual a 2 DC. • Grave/Alto: as DC superam o valor 2 Manifestações clínicas: dependem intimamente do tipo de astigmatismo e da amplitude da acomodação. Pode ser um astigmatismo miópico: nesse caso, o paciente tem déficit na visão para longe, havendo sinais semelhantes aos da miopia; Pode ser um astigmatismo hipermetrópico: nesse caso, o paciente possui dificuldade principalmente na visão para perto. Carla Bertelli – 5° Período Pode estar associada à astenopia, efeitos que incluem cefaleia, dor ocular e epífora. Os sinais são semelhantes aos da hipermetropia; Pode ser um astigmatismo misto: nesse caso, há associação dos sintomas descritos anteriormente O astigmatismo existe quando a superfície corneana é desigualmente curva ou devido às irregularidades do cristalino, de modo que os raios luminosos de diferentes meridianos não podem ser focados no mesmo ponto da retina, formando linhas de conoide ou círculos de menor confusão Classificação: Astigmatismo regular: São produzidos 2 pontos focais em vez de 1 ponto. Pode se corrigir com lentes cilíndricas, e sua origem geralmente se dá na córnea. Uma forma adquirida é o astigmatismo pós-cirúrgico, especialmente devido à cirurgia de catarata e à ceratoplastia. O astigmatismo regular divide-se em: → Simples: um dos focos está na retina; corrige-se com um cilindro; → Composto: associado a defeito esférico; → Misto: um dos focos é hipermétrope e o outro é míope. Astigmatismo irregular: Não existem focos definidos. Acontece em patologias da córnea, como ceratocone, cicatrizes e ceratoplastias. Para o seu tratamento, as lentes devem ter o grau mais próximo do valor tolerado pelo paciente. Isso depende das dioptrias, do eixo, da relação binocular e do defeito esférico associado. Ao corrigir astigmatismos altos, pode-se provocar uma astenopia acomodativa. Podem-se usar LC tóricasou rígidas. As técnicas cirúrgicas consistem em incisões relaxantes para aplainar o eixo e aumentar a curvatura (sutura), ou excimer laser (LASIK ou PRK). Presbiopia É uma patologia conhecida por sua associação ao envelhecimento e decorre da diminuição da amplitude visual e da capacidade de acomodação do cristalino. Sinais e sintomas: redução da acuidade visual para pontos próximos, ou seja, a visão de perto é dificultada. Nesses casos, o indivíduo tende a afastar cada vez mais os braços para visualizar imagens que estão próximas, chegando a um ponto em que essa distância torna-se insuficiente (“sinal do braço curto”, ou seja, a distância dos braços já não é suficiente para que o paciente adapte sua visão). É a perda da capacidade de acomodação do cristalino progressiva com a idade. Geralmente inicia aos 40 anos pela perda da elasticidade cristalino. O comprometimento da acomodação se comporta como hipermetropia, com formação da imagem posterior a retina. Clínica: dificuldade de visão para perto, iniciada após 40 anos. Pode ser associada a fadiga visual, cefaleia e dificuldade de leitura em ambientes menos iluminados. A palavra “presbiopia” significa olho velho e se refere a um distúrbio visual observado na velhice. Corresponde à redução fisiológica da amplitude de acomodação, de modo que o ponto próximo se afasta do olho, lenta e gradativamente. Em condições normais, a acomodação permite focar o objeto entre o infinito e a distância de leitura (33cm). Quando existe uma acomodação inferior a 3D, há uma dificuldade para a visão próxima. Isso ocorre geralmente a partir dos 40 anos, aumentando até os 60, quando a acomodação se perde definitivamente. Ambliopia É a perda visual definitiva em 1 ou ambos os olhos por falta de estímulo da área cortical responsável pela visão, o qual ocorre até por volta dos 7 anos de idade. As causas mais frequentes são, em ordem: estrabismo, erros refracionais, catarata congênita, entre outros. O tratamento com oclusores oculares deverá ser imediatamente realizado, além da prescrição óptica adequada. A oclusão visa penalizar o olho sadio para que o olho mais fraco se desenvolva, pois, na maioria das vezes, com os 2 olhos abertos, o olho mais fraco fica suprimido. Anisometria É a diferença refracional entre os dois olhos, levando a transtornos binoculares. As anisometrias miópicas costumam ser assintomáticas, mas podem causar astenopia, mais relacionada a leitura, e ambliopia no olho hipermétrope. Carla Bertelli – 5° Período Retinoblastoma Retinoblastoma é um câncer raro, geralmente iniciado por mutação bialélica do gene do retinoblastoma (RB1) em uma única célula retiniana em desenvolvimento, provavelmente um fotorreceptor do cone. A herança de um alelo mutante RB1 predispõe fortemente indivíduos a desenvolver esse tumor, que se formam após o segundo alelo RB1 sofrer mutação Na grande maioria dos retinoblastomas, uma célula retiniana RB1 - / - sofre uma proliferação limitada e forma uma retinoma benigno, entretanto apenas 5% dos pacientes têm retinoma sem retinoblastoma. A neoplasia maligna vai se desenvolver após alterações genéticas ou epigenéticas que levam à proliferação descontrolada, pela ausência da função de supressão tumoral da proteína do retinoblastoma A idade média do diagnóstico do retinoblastoma situa-se entre 18 e 20 meses de vida, sendo geralmente mais precoce nos casos de doença bilateral. O retinoblastoma é geralmente detectado pela primeira vez quando o tumor branco é visível através da pupila (leucocoria) ou bloqueia a visão. Quando diagnosticado cedo, o tratamento rápido pode curar o câncer e salvar o(s) olho(s) e a visão. No entanto, o diagnóstico tardio pode levar à invasão de tecidos adjacentes, como o nervo óptico, a úvea ou a esclera, levando a um pior prognóstico. Eventualmente, a neoplasia pode metastatizar, especialmente para a medula óssea, ou para o cérebro (diretamente ou através do líquido cefalorraquidiano), sendo o prognóstico bem reservado Epidemiologia: O retinoblastoma corresponde de 10 a 15% de todos os cânceres que ocorrem no 1° ano de vida e é o tumor intraocular primário maligno mais comum da infância. Apresenta incidência similar em ambos os sexos e não há diferença significativa entre raças Manifestações clinicas: leucocoria, manifestações menos comuns: estrabismo, redução da acuidade visual, hifema, proptose, celulite orbitária, anisocoria, hemorragia vítrea, glaucoma e inflamação ocular O tumor é altamente proliferativo e se apresenta como um tumor maligno do globo ocular que se desenvolve por mutações de ambos os alelos do gene RB1; Ocorre uma mutação bialélica do gene do retinoblastoma (RB1) em uma única célula retiniana em desenvolvimento, provavelmente um fotorreceptor do cone; A herança de um alelo mutante RB1 predispõe fortemente indivíduos a desenvolver esse tumor, que se formam após o segundo alelo RB1 sofrer mutação; HERDADO: uma mutação no gene RB1 na linhagem germinativa é associada com múltiplos tumores em ambos os olhos; ESPORÁDICO: ambos os alelos RB1 mutam em uma célula, que leva a um único tumor unilateral e a mutação ocorre somente nas células retinianas; Manifestações clínicas Os primeiros indícios da doença são reconhecidos pelos pais quando ainda lactentes, em que começam a perceber um brilho anormal nos olhos dos filhos, chamado de leucocoria, seguido de estrabismo; Diagnostico: O diagnóstico de retinoblastoma não requer confirmação por exame histopatológico, sendo a oftalmoscopia indireta com pupila farmacologicamente dilatada geralmente suficiente para estabelecê-lo. Observa-se uma massa branco-acinzentada, de aspecto friável no fundo do olho. É importante ressaltar que a biópsia apresenta risco de disseminação tumoral. A ultrassonografia ocular pode identificar calcificação, uma característica do tumor, auxiliando na definição diagnóstica. A ressonância magnética costuma ser solicitada afim de avaliar a invasão do nervo óptico e a presença de retinoblastoma trilateral (pinealoblastoma e outros tumores intracranianos associados a mutação RB1). Não é aconselhável realizar Tomografia Computadorizada nestes pacientes, pois a radiação pode induzir o desenvolvimento de outros cânceres primários nos portadores de mutação Prognostico: O retinoblastoma, sem terapia, tende a metastatizar em 6 meses, invadindo a órbita, estruturas do globo ocular, o nervo óptico e o sistema nervoso central, levando à morte em poucos anos. Com a terapia, entretanto, o prognóstico melhora muito e a sobrevida em 5 anos é superior a 90%, com recuperação da visão em muitos casos Carla Bertelli – 5° Período Ceratocone Definição: ectasia corneana não inflamatória, degenerativa, caracterizada por uma protusão da córnea central e paracentral que acaba por assumir uma forma cônica, produzindo astigmatismo irregulares. Essa afecção pode ser congênita, mas geralmente inicia-se na segunda década de vida. Caracteriza-se por acometimento bilateral, frequentemente de forma assimétrica A apoptose celular, ou seja, uma espécie de morte celular programada onde, sob mediação de vários fatores, as células danificadas ou sem função são eliminadas, parece ter forte associação com o ceratocone. Em córneas com ceratocone, o índice de apoptose dos ceratócitos estromais é bem maior que em córneas normais Um dos maiores fatores etiológicos sugeridos e mais importante na gênese do ceratocone é a frequente fricção contínua dos olhos (ato de coçar os olhos) promovendo traumas repetitivos resultando em alterações expressivas na córnea. Postula-se quepequenos traumas externos, como o hábito de coçar os olhos, assim como lentes de contato mal adaptadas e alergias oculares podem liberar citocinas do epitélio que estimulam a apoptose dos ceratócitos, a primeira resposta estromal observável a uma dano epitelial Sinais e sintomas: Nos estágios precoces, os sintomas do KC podem ser os mesmos de qualquer outro erro refrativo do olho. Com a progressão da doença a visão deteriora, muitas vezes rapidamente. Geralmente pacientes com KC relatam necessidades de frequentes mudanças na correção óculos ou uma diminuta tolerância ao uso de lentes de contato. Com a progressão, a doença torna-se clinicamente evidente, caracterizando- se por sinais bem conhecidos, como a diminuição da acuidade visual tanto para perto quanto para longe, associado à miopia e/ ou astigmatismo progressivos, fotofobia, astenopia (fadiga visual) por forçar os olhos durante a leitura, prurido, irritação e desconforto ocular. Alguns podem relatar diplopia, poliopia monocular (percepção de várias imagens de um mesmo objeto), além de rastros de luz e distorção de reflexos em volta das fontes de luz (glare) Ceratocone é uma condição patológica na qual a córnea assume uma forma cônica e protrusa em consequência de um afinamento não inflamatório progressivo de seu estroma, conhecido como ectasia. Este processo fisiopatológico classifica-o no grupo de doenças ectásicas da córnea, juntamente com outras doenças como a degeneração marginal pelúcida, ceratoglobo e a ectasia progressiva pós cirurgia refrativa.O resultado clínico é a diminuição da acuidade visual devido ao desenvolvimento de astigmatismo irregular, alta miopia, aberrações visuais de alta ordem e, por vezes, cicatrizes corneanas. Geralmente é bilateral, porém assimétrico. Apesar de o padrão de herança genética não ser bem definido, é mais provável que seja autossômico dominante com penetrância incompleta. A história familiar de ceratocone está presente em 6 a 8% dos casos. Os sintomas relacionados ao ceratocone variam dependendo da gravidade e/ou estágio da doença, podendo inclusive ser assintomático e imperceptível ao exame clínico, a menos que testes específicos sejam realizados (por exemplo, topografia corneana). Não obstante, a progressão da doença acarreta uma invariável diminuição da acuidade visual, mesmo após o uso de correção óptica. Além disso, os achados biomicroscópicos tornam-se cada vez mais prevalentes com a progressão, tais como: protrusão e afinamento corneano descentrados inferiormente, sinal de Munson, estrias de Vogt no estroma posterior, cicatrizes ao plano da camada de Bowman, anel de Fleischer. Assim, o manejo e o tratamento dos pacientes com ceratocone dependerá do estágio e severidade da doença.
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