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Patologias Oculares do Segmento Posterior Responsável pelo Conteúdo: Prof. Me. Wellington Sales Silva Revisão Textual: Prof.ª Esp. Adrielly Camila de Oliveira Rodrigues Vital Fundo de Olho Normal na Avaliação Clínica e Principais Sinais Patológicos Fundo de Olho Normal na Avaliação Clínica e Principais Sinais Patológicos • Demonstrar a importância de conhecer o segmento posterior do olho e suas estruturas, bem como um fundo de olho normal, tendo em vista identificar alterações patológicas na prática clínica optométrica; • Apresentar os principais sinais patológicos manifestos nas estruturas do segmento posterior. OBJETIVOS DE APRENDIZADO • O Segmento Posterior do Olho; • Fundo de Olho Normal; • Sinais Oculares de Patologias no Segmento Posterior. UNIDADE Fundo de Olho Normal na Avaliação Clínica e Principais Sinais Patológicos O Segmento Posterior do Olho Internamente, desde a córnea e a partir dela, o globo ocular pode ser dividido em dois segmentos: o segmento anterior e o segmento posterior. O segmento anterior, que constitui 1/3 do globo ocular, é formado pelo humor aquoso, íris e corpo ciliar. O segmento posterior, que constitui os outros 2/3 do olho, é formado pelo humor vítreo, nervo óptico, coroide e retina (Figura 1). Córnea Humor acuoso Esclerótica Coroides Retina Fovea Nervo Óptico Humor Vítreo Músculo ciliar Segmento Anterior Segmento Posterior Íris Cristalino Figura 1 – Segmento Anterior (esquerda) e Segmento Posterior (direita) Fonte: Adaptado de Getty Images Importante! O cristalino, a lente natural do olho, serve de marco anatômico para os dois segmentos, isto é, o segmento anterior ao cristalino e o segmento posterior ao cristalino, embora geralmente seja contato junto ao segmento anterior. É sabido que cada estrutura do segmento posterior pode ser acometida por uma infi- nidade de afecções, ou de patologias que são conhecidas como patologias do segmen- to posterior. Diante disso, faz-se necessário conhecer com propriedade a anatomia e a normalidade de cada uma das estruturas que compõem esse segmento, ou, em outras palavras, faz-se necessário conhecer a aparência de um fundo de olho normal. Considerando o conhecimento prévio sobre anatomia do segmento posterior que, certamente, você já deve possuir, apontaremos aqui apenas o essencial sobre cada uma das estruturas que o compõem para que possamos adentrar então ao estudo das patologias. 8 9 Humor Vítreo O humor vítreo, ou corpo vítreo, é um composto de água (99%), fibrilas de colágeno e ácido hialurônico, responsável por promover certa coesão e lhe dar uma consistência gelatinosa. O vítreo compreende 2/3 do peso do olho, e o seu volume varia entre 4 ml e 6,5 ml. O vítreo é uniforme, transparente, inerte, e ocupa toda a cavidade ocular posterior ao cristalino. É revestido por uma membrana chamada hialoide, a qual é firmemente aderida à retina em alguns pontos, particularmente nas extremidades do disco óptico, na mácula e na ora serrata (que é junção entre a retina e o corpo ciliar). O humor vítreo possui uma base, um córtex, um espaço próximo ao cristalino denominado espaço de Berger, e um outro espaço no formato de túnel denominado canal de Cloquet (Figura 2). O vítreo possui poucas células, chamadas hialócitos, as quais possuem função fagocitária e de síntese do material extracelular. O vítreo tem as seguintes funções: oxigenar tecidos intraoculares; servir de reser- va metabólica para a retina e tecidos próximos; armazenar nutrientes para a retina; armazenar desperdícios celulares; dar forma ao globo ocular; servir de meio refrativo (índice de refração de 1,336), tal como a córnea, o humor aquoso e o cristalino; sustentar o cristalino em seu lugar; manter a retina colada, isto é, manter a retina sensorial em justaposição ao Epitélio Pigmentário da Retina (EPR); e servir de amor- tecedor ao globo ocular. F igura 2 – Humor vítreo Fonte: Adaptado de SKALICKY, 2016 Retina A natomicamente, a retina possui 10 camadas, a saber: Epitélio Pigmentário da Re- tina (EPR); Fotorreceptores (cones e bastonetes); Membrana Limitante Externa (MLE); Camada Nuclear Externa; Camada Plexiforme Externa; Camada Nuclear Interna; 9 UNIDADE Fundo de Olho Normal na Avaliação Clínica e Principais Sinais Patológicos Camada Plexiforme Interna; Camada de Células Ganglionares; Camada de Fibras Nervosas; Membrana Limitante Interna (MLI). De outra forma, a retina pode ser di- vidida em duas partes: a retina pigmentada, formada pelo EPR, e a retina sensorial, formada pelas outras nove camadas. A retina é uma camada que reveste os 2/3 posteriores da porção interna do globo ocular, terminando ao nível do corpo ciliar, na ora serrata. Topograficamente, a reti- na divide-se em retina periférica e retina sensorial. A retina periférica é atrófica e sem interesse, por ser insensível à luz; ela vai desde a borda da pupila, internamente, até ora serrata, recobrindo a face posterior da íris e o corpo ciliar. Já a retina senso- rial recobre todo o restante das camadas internas até o nervo óptico, e se subdivide em polo anterior (porção periférica) e polo posterior (porção central). Na porção periférica predominam os bastonetes e na porção central predominam os cones. Na região central da retina, ou seja, no polo posterior, encontra-se a mácula, ten- do de 2 a 3 mm de diâmetro, correspondendo a, aproximadamente, 10° de abertura angular no campo visual. No centro da mácula encontra-se a fóvea, uma área de 1,5 mm de diâmetro, aproximadamente, que corresponde a 6° de abertura angular no campo visual. Já no centro da fóvea há uma pequena área denominada fovéola, onde se localizam apenas cones. A fovéola possui de 0,4 a 0,6 mm de diâmetro, aproximadamente, e corresponde a 6° de abertura angular no campo visual. A retina possui diferentes espessuras, sendo mais fina na fóvea (0,09 mm) e na ora serrata (0,10 mm) e mais espessa ao redor da mácula (0,35 mm) e do disco óptico (0,56 mm). A retina recebe seu fornecimento de sangue de 2 fontes: da ca- mada coriocapilar da coroide, que supre o terço externo da retina e a fóvea; e de ramificações da artéria central da retina que suprem os 2/3 internos. Na Figura 3, podemos perceber o aspecto e a coloração de uma retina normal. Figura 3 – A retina. Marcos anatômicos normais Fonte: Adaptado de KANSKI, 2012 10 11 P ara efeito de avaliação e de diagnóstico, tendo em vista uma melhor localização dos achados clínicos, podemos dividir a retina em quatro quadrantes, a partir da papila óptica ou nervo óptico: quadrante nasal superior, quadrante nasal inferior, quadrante temporal superior e quadrante temporal inferior (Figuras 4 e 5). Importante! Para distinguir olho direito e esquerdo, lembre-se de que a mácula se localiza sempre na parte temporal e inferior com relação ao nervo óptico, de tal forma que no olho direito a mácula estará sempre à esquerda de quem observa, e no olho esquerdo a mácula estará sempre do lado direito de quem observa. Figura 4 – Retina do olho direito dividida em quadrantes Fonte: Journal of Ophthalmology, 2016 Figura 5 – Quadrantes da retina apontando uma região de interesse Fonte: Adaptado de JEAN-LOUIS; LOVASIK; KERGOA, 2005 11 UNIDADE Fundo de Olho Normal na Avaliação Clínica e Principais Sinais Patológicos Nervo Óptico O olho humano é a única porta pela qual podemos ter acesso e ver parte do Sistema Nervoso Central, considerando a extensão do telencéfalo – o nervo óptico. O nervo óptico é parte do segundo par craniano que conecta a retina ao cérebro. O segundo par craniano é uma expansão do telencéfalo, sendo que as suas estrutu- ras mais importantes são: o globo ocular, a retina, o nervo ótico, o trato ótico, o cor- po geniculado lateral (CGL), as radiações óticas e a área 17 de Brodmann; estruturas estas que formam a chamada via óptica. O nervo óptico tem uma origem aparente no quiasma óptico, mas sua origem real é a partir do canal óptico. O seu comprimentoé de 50 mm e é subdividido em quatro porções: intraocular (disco óptico), intraorbitária, intracanalicular e intracra- niana (link a seguir). A porção mais importante e que nos interessa nesta disciplina é a porção intraocular – o disco óptico (Figura 6), porque é passível de ser observada num simples exame clínico. Partes do nervo óptico, disponível em: https://bit.ly/2OChRN7 Figura 6 – Perfil do nervo óptico Fonte: Reprodução O disco óptico, ou papila óptica, também conhecida como mancha cega, é a cabeça do nervo óptico e está localizada no polo posterior, sendo constituída por, aproximadamente, 1,2 milhão de fibras nervosas não mielinizadas: os axônios das células ganglionares da retina. O disco óptico pode se apresentar de várias formas: redonda, ovalar (elíptica), irregular (Figura 7); com um diâmetro de 1,5 mm, aproximadamente. Sua altura, geralmente, excede a sua largura. Sua coloração é rosa ou laranja e possui uma 12 13 depressão amarelo-esbranquiçada ao centro, a chamada escavação fisiológica. A sua metade temporal é sempre mais pálida do que a sua metade nasal. Figura 7 Fonte: Adaptado de mdpi.com Mais profundamente na cabeça do nervo óptico, na camada intraocular de fibras ner- vosas, encontra-se a lâmina crivosa. A lâmina crivosa é uma área altamente fenestrada (cerca de 200 a 300 buracos) que permite a passagem dos axônios do nervo óptico para o espaço extraocular. No exame clínico, em alguns pacientes, é possível visualizar a lâmina crivosa na forma de pontos cinzas localizados profundamente na escavação. Coroide A coroide é o revestimento intermediário do globo ocular que se estende entre a retina e a esclera. Juntamente com a íris e o corpo ciliar, forma-se a úvea. Suprida pelas artérias ciliares posteriores, a coroide contém vasos com pequenas fenestrações em suas paredes, que formam a camada coriocapilar, responsável pela irrigação de parte da retina e do EPR, protegendo a retina, inclusive, de morte isquêmica. A membrana de Bruch, ou lâmina basalis, separa a coróide da retina (link a seguir). A vascularização da mácula se dá por difusão, por isso ela não apresenta vasos sanguíneos. Camadas da coroide e da retina, disponível em: https://bit.ly/2ZL6d98 Fenestração: pequenas aberturas ou orifícios. Fundo de Olho Normal U m fundo de olho normal, num exame clínico, possui um aspecto vermelho ala- ranjado, devido à pigmentação do EPR e ao sangue presente nos coriocapilares e na 13 UNIDADE Fundo de Olho Normal na Avaliação Clínica e Principais Sinais Patológicos vascularização da coroide (Figura 8). Possui um brilho característico e uma pigmen- tação uniforme que varia com relação à idade e à raça. Pacientes com pele escura tendem a ter um fundo de olho mais escuro devido à grande quantidade de melanina no EPR, mas também pode se apresentar num aspecto tigrado e com uma borda pigmentada à margem do disco óptico. Em pacientes de pele clara, o fundo do olho pode apresentar-se levemente pigmentado e os vasos da coroide podem se mostrar marcadamente salientes. Figura 8 – Aspecto de um fundo de olho normal Fonte: Reprodução Exame Clínico, a Oftalmoscopia Direta A oftalmoscopia direta é o principal exame clinico a ser realizado pelo optome- trista, tendo em vista a chamada avalição de fundo de olho. No caso da avaliação do segmento posterior do olho, o profissional inspeciona as estruturas que o compõem, neste caso, o humor vítreo, a retina e a cabeça do nervo óptico. É uma técnica uti- lizada não só por optometristas, mas principalmente por eles. Consiste em incidir luz no fundo do olho através da pupila do paciente, por meio da utilização de um oftalmoscópio direto. O oftalmoscópio direto é um instrumento que foi inventado em 1851 pelo mate- mático, físico e médico alemão Hermann Von Helmholtz (1821-1894), o primeiro homem a ver o interior do olho humano vivo. O princípio básico da técnica da oftal- moscopia consiste em raios luminosos que se refletem a partir da retina do paciente e focam-se sobre os olhos do examinador. Por meio da técnica da oftalmoscopia direta, utilizando uma magnificação de até 15 vezes em um campo de visão restrito a aproximadamente 15 graus, o opto- metrista pode avaliar cada estrutura ocular em particular, identificando anomalias e sinais clínicos, embora seja difícil perceber a profundidade ou gravidade de uma eventual anormalidade ou lesão no fundo. Na observação clínica, é possível analisar, por exemplo, a forma, a cor, o tamanho e a profundidade da escavação do nervo 14 15 óptico, a região peripapilar, a região macular e foveolar, as principais veias e artérias da retina, enfim, a transparência do vítreo. A seguir, serão demonstrados alguns dos aspectos mais importantes a serem ob- servados numa avaliação clínica de fundo de olho por meio da oftalmoscopia direta, considerando encontrar um fundo de olho normal. Reflexo de Bruckner O Reflexo de Bruckner é o reflexo vermelho pupilar de ambos os olhos que po- dem ser observados mediante a incidência da luz do oftalmoscópio. Esta observação recebe o nome de Teste de Bruckner ou Teste do Reflexo Vermelho (TRV), ou ainda “Teste do olhinho”. É um reflexo que pode ser observado em pacientes de todas as idades, desde a mais tenra idade, e, por meio de sua observação, podemos suspeitar de importantes afecções oculares que podem estar sendo manifestas, tais como a ca- tarata e o retinoblastoma (Figura 9), por exemplo, dentre outras alterações oculares do segmento posterior e também do segmento anterior. O Reflexo de Bruckner normal é aquele que se apresenta avermelhado e simétri- co (Figura 10). Qualquer alteração, como manchas escuras, leucocoria (Figura 1 1), ausência de reflexo em um dos olhos, assimetria entre os reflexos de ambos os olhos, são motivos para se suspeitar de patologias oculares, congênitas ou não. Em casos de alterações no Reflexo de Bruckner, o paciente deve ser encaminhado ao oftalmo- logista para realização de exames específicos e um diagnóstico conclusivo. Leucocoria: pupila branca. Figura 9 – Refl exo de Bruckner assimétrico indicando retinoblastoma no olho esquerdo Fonte: Sociedade Brasileira de Pediatria Figura 10 – Refl exo de Bruckner simétrico Fonte: Sociedade Brasileira de Pediatria 15 UNIDADE Fundo de Olho Normal na Avaliação Clínica e Principais Sinais Patológicos Figura 11 – Reflexo de Bruckner assimétrico indicando leucocoria (e consequente exotropia) no olho direito Fonte: Sociedade Brasileira de Pediatria Alterações patológicas, facilmente percebidas pela observação do Reflexo de Bruckner, podem comprometer a transparência dos meios refringentes e, em casos de crianças pequenas, por exemplo, podem impedir o desenvolvimento visual cortical, causar am- bliopia ou deficiência visual, baixa visão e até cegueira. Por meio de uma simples observação, utilizando o oftalmoscópio direto, a uma distância de aproximadamente 40 cm, é também possível, inclusive, perceber certos tipos de ametropias, como a hipermetropia e a miopia, ou ainda, perceber uma ani- sometropia (Figura 12). Figura 12 Fonte: Adaptado de semanticscholar.org (a) Reflexo de Bruckner simétrico indicando uma Emetropia; (b) Reflexo de Bruckner assimétrico com crescente superior indicando uma anisometropia hipermetrópica; (c) Reflexo de Bruckner assimétrico com crescente inferior indicando uma anisometropia miópica. 16 17 Relação copa/disco, lâmina crivosa e regra ISNT Para efeito de avaliação e de diagnóstico, a papila óptica pode ser dividida em 10 partes iguais. Assim, num olho normal, geralmente, o diâmetro da escavação va- ria de 30% a 40% do diâmetro da papila óptica. A essa proporção damos o nome de relação copa/disco (cup-to-disc ratio – C/D , ou relação escavação/disco), e ela é representada em números decimais. Por exemplo, numa proporção de 40% da copa ou escavação, em relação ao diâmetro total do disco ou papila óptica, dizemos que a proporção ou a relação copa/disco é de 0,4 (Figura1 3). Copo Margem do nervo óptico (disco) Figura 1 3 – Relação copa/disco (C/D) de 0,4 Outro aspecto muito importante é o surgimento ou a visibilidade da lâmina crivosa que pode indicar problemas glaucomatosos. Num olho normal, geralmente, não se vê a lâmina crivosa ao se avaliar a papila óptica. A aparição ou o surgimento de poros pequenos e redondos podem indicar uma discreta lesão nos axônios. Poros ovais e estriados, bem como hemorragias na lâmina crivosa podem indicar desde uma lesão moderada a um comprometimento muito maior. Falaremos mais sobre isso na unidade que trata das patologias do nervo óptico, especificamente do glaucoma. A localização da escavação também é algo importante a ser inspecionado, consi- derada uma avaliação preventiva do glaucoma por parte do optometrista. Em rela- ção à papila óptica, a escavação localiza-se de tal forma que o anel neuroretiniano (ou rima neurorretiniana), isto e, o tecido entre a borda da papila óptica e a borda externa da escavação, possui uma espessura fisiológica decrescente, sendo que a rima inferior é a maior, seguida pela superior, nasal e temporal. Daí a origem da regra e da sigla ISNT (Figura 1 4). 17 UNIDADE Fundo de Olho Normal na Avaliação Clínica e Principais Sinais Patológicos Figura 14 – Borda Inferior menor que a superior e a nasal, não obedecendo à regra ISNT Fonte: Reprodução Relação artéria/veia No fundo do olho, vamos encontrar muitas veias e artérias. No entanto, há 4 veias e 4 artérias principais que devem ser inspecionadas, indispensavelmente. Basta se- gui-las até a cabeça do nervo óptico, de onde se originam. As principais veias são: a veia temporal superior, a veia nasal superior, a veia temporal inferior e a veia nasal inferior. As principais artérias são: artéria temporal superior, artéria nasal superior, artéria temporal inferior e a artéria nasal inferior (link a seguir). Principais artérias e veias na retina, disponível em: https://bit.ly/2WBpRlY É importante avaliar a calibragem, coloração, sinuosidade, reflexos, depressões, ramificações e estreitamentos, dentre muitos outros sinais que podem caracterizar mudanças oculares e alterações vasculares. Dentre eles, um sinal muito importante a avaliar é a relação artéria/veia. As veias são mais calibrosas, enquanto que as artérias são mais delgadas. A relação artéria/veia mais comum que caracteriza um sistema vascular normal na retina é a relação de 2/1, em que uma veia está para duas arté- rias, ou de 3/2, em que duas veias estão para três artérias, ou em outras palavras, em duas veias cabem três artérias (Figura 15). 18 19 Figura 15 – Relação artéria/veia de 3/2, aproximadamente Fonte: SILVA et al., 2015 Mácula, brilho foveal e fixação A mácula, uma depressão do polo posterior da retina, mede, aproximadamente, 6 mm de diâmetro, e é o lugar onde se tem a melhor visão, podendo-se obter uma acuidade visual de 20/20, 20/15, ou ainda melhor. Sua localização está a 2 diâme- tros de disco (D/D) a temporal. A mácula saudável deve estar livre de vasos e de qualquer outro sinal clínico (link a seguir). Uma vez observada a mácula, faz-se necessário observar o brilho foveal e o poder de fixação monocular do paciente. Essa fixação pode ser observada através do retí- culo circular do oftalmoscópio, por meio do qual se percebe um brilho intenso que pode caracterizar uma fixação central quando o brilho foveal permanecer dentro do círculo reticulado do aparelho, ou uma fixação excêntrica quando o brilho foveal permanecer fora do círculo reticulado, considerando que o paciente esteja olhando para a luz do oftalmoscópio. A fixação foveal pode também ser uma fixação estável quando o brilho foveal permanece parado no retículo, ou uma fixação instável, quando o brilho foveal apresenta algum movimento no momento em que o paciente olha para a luz do aparelho. Em pacientes jovens, é comum encontrarmos um brilho foveal amare- lado, minúsculo. Já em pacientes idosos, é comum encontrarmos um reflexo um pouco obscuro. Mácula normal (à esquerda) e mácula com degeneração (à direita): https://bit.ly/3jntzti 19 UNIDADE Fundo de Olho Normal na Avaliação Clínica e Principais Sinais Patológicos Sinais Oculares de Patologias no Segmento Posterior Reflexo Fio de Cobre e Reflexo Fio de Prata O reflexo fio de cobre é uma alteração na transparência das paredes de vasos e artérias, geralmente causada pela mistura de gordura que pode apresentar-se como um reflexo com tom avermelhado (Figura 16). Geralmente, é um sinal que ocorre em paciente com hipertensão arterial e arteriosclerose. O reflexo Fio de Prata é uma alteração que se apresenta com uma coloração es- branquiçada ou um acentuado reflexo de luz prateada, devido à ocultação da coluna de sangue, em decorrência do agravamento do espessamento da parede arteriolar (Figura 16). Frequentemente, este sinal ocorre na arteriosclerose marcada tardia e na hipertensão severa. Figura 16 – Seta preta: reflexo fio de prata. Seta amarela: reflexo fio de cobre Fonte: Adaptado de kellogg.umich.edu Sinal de Salus, Sinal de Gunn e Sinal de Bonnet O Sinal de Salus é o desvio de alguma veia no cruzamento com uma artéria, em que a veia vai se estreitando e diminuindo de tamanho. O Sinal de Gunn é o afila- mento de uma veia em ambos os lados de seu cruzamento arteriovenoso. O Sinal de Bonnet é o represamento e alargamento de uma veia distalmente a um cruzamento arteriovenoso. Frequentemente, estes são sinais que se manifestam em pacientes com hipertensão arterial (Figura 17). 20 21 Figura 1 7 – Sinal de Sales, Sinal de Gunn e Sinal de Bonnet Fonte: Reprodução Em Síntese Sinal de Salus: desvio da veia. Sinal de Gunn: estreitamento da veia. Sinal de Bonnet: alargamento da veia. Tortuosidade de vasos É uma mudança no curso e na dilatação de vasos retinianos, sendo desviados e irregularmente contornados, aumentados em extensão e em diâmetro (link a seguir), podendo ocasionar um aumento da pressão venosa ou uma diminuição da pressão intraocular. É também um sinal muito comum em pacientes com hipertensão arterial. Tortuosidade de vasos na retina, disponível em: https://bit.ly/2ZKFFVJ Exsudatos moles T ambém conhecidos como manchas algodonosas ou corpos cistóides, os exsuda- tos moles são microinfartos retinianos, causados por espasmos das arteríolas ou por necrose que produzem uma anormalidade endotelial podendo ocluir artérias peque- nas, resultando em infarto dos axônios das células ganglionares da retina. Aparecem como manchas pálidas, branco-acinzentadas, geralmente em volta do disco óptico. Geralmente, é um sinal que acomete paciente com diabetes, hipertensão, anemia, leucemia, oclusão da veia retiniana ou papiledema (Figura 1 8). 21 UNIDADE Fundo de Olho Normal na Avaliação Clínica e Principais Sinais Patológicos Figura 18 – Exsudatos algodonosos Fonte: Reprodução Exsudatos duros Também conhecidos como exsudatos graxos, os exsudatos duros são depósitos intrarretinianos causados por acúmulo de gordura ou macrófagos de lipídios e lipo- proteínas. Localizam-se na camada plexiforme externa e na camada nuclear interna da retina (Figura 19). Usualmente, é um sinal que ocorre na hipertensão, arterioscle- rose, diabetes, anemias, neuropatia óptica, oclusão da veia retiniana. Figura 19 – Exsudatos duros Fonte: Reprodução Estrela macular É um acúmulo de exsudatos duros intrarretiniano, causado pelo vazamento de plas- ma lipídio. Tem aparência semelhante à de uma estrela. Geralmente, localiza-se na 22 23 camada plexiforme externa e na camada nuclear interna da retina, próxima a vasos sanguíneos doentes ( Figura 20). Frequentemente, este sinal ocorre no diabetes, hiper- tensão, edema retiniano, neuropatia idiopática de Leber, ou no papiledema crônico. Figura 20 – Estrela macular Fonte: GAJULA et al., 2014 Hemorragia pré-retiniana Também chamada de hemorragia sub-hialóide, a hemorragia pré-retiniana se lo- caliza antes da retina e depois do vítreo (Figura 21). Geralmente,é uma hemorragia grande e apresenta um fluido horizontal e um fundo arredondado devido ao efeito da gravidade. Frequentemente, este sinal ocorre após trauma de cabeça, em manobras de Valsalva, na doença de célula falciforme, na hipertensão, doenças renais ou na gravidez após parto com fórceps. Figura 21 – Hemorragia pré-retiniana Fonte: MORGADO, et al., 2010 23 UNIDADE Fundo de Olho Normal na Avaliação Clínica e Principais Sinais Patológicos Hemorragia sub-retiniana É localizada entre a retina e a coroide, causada por uma membrana neovascular coroide ou pela passagem de vasos anormais da coroide para a retina (Figura 22). Geralmente, é um sinal que ocorre em casos de toxoplasmose, miopia, degeneração macular relacionada à idade, em distúrbios de sangramento pós-operatório, em ma- nobras de valsava. Figura 22 – Hemorragia subrretiniana Fonte: SERRACARBASSA, 2002 Hemorragia em chama-de-vela É a hemorragia que toma o formato de uma farpa ou de uma chama de vela, que ocorre quando o sangue se deposita no trajeto dos axônios das fibras nervosas, os quais se curvam em arcos superiores e inferiormente à fóvea, paralelos à membrana limitante interna da retina (Figura 23). Geralmente, ocorre em paciente com retinopatia diabética. Figura 23 – Hemorragia em chama-de-vela Fonte: ligadeoftalmo.ufc.br 24 25 Sínquise Cintilante Também conhecida como cholesterolosis bulbi, é um acúmulo de cristais de co- lesterol, policromáticos, branco-amarelados ou dourados, flutuando livremente no humor vítreo (Figura 2 4) ou, muito raramente, na câmara anterior. Geralmente, ocorre após um trauma, cirurgia ou hemorragia vítrea, catarata de longa duração, hifema, glaucoma secundário, descolamento de retina e, mais raramente, de uveítes. Hifema: acúmulo de sangue na câmara anterior. Figura 24 – Sínquise Cintilante Fonte: lume.ufrgs.br Drusas Também conhecidas como c orpos hialinos ou coloidais, as d rusas são depósitos amorfos congênitos ou adquiridos de colesterol ou cálcio, localizados entre a Membrana de Bruch e o EPR na mácula, na retina periférica ou no disco óptico. Aparecem como pequenas lesões amarelas, redondas e granulares, agrupadas no fundo (Figura 2 5). Figura 2 5 – Drusas Fonte: Reprodução 25 UNIDADE Fundo de Olho Normal na Avaliação Clínica e Principais Sinais Patológicos Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos Animation: Dilated Eye Exam Avaliação de Fundo de Olho. Obs: De 0:07 segundo até os 2:35 minutos. Desligue o áudio. https://youtu.be/M6IlOKXlCqs Leitura Exame Fundo de Olho https://bit.ly/32CrSC9 Teste do Reflexo Vermelho https://bit.ly/3jjMJAp Manifestações oculares de doenças sistêmicas https://bit.ly/2DUMk70 26 27 Referências BICAS, H. E. A. Morfologia do sistema visual. Medicina, Ribeirão Preto, Simpósio: Oftalmologia para o Clínico. 30:7-15, jan./mar. 1997. Capítulo I. CAMPOS, M. E. J. de; GARCIA, D. M.; RODRIGUES, M. de L. V. Assimetria na rela- ção escavação/disco óptico em adolescentes. Arq. Bras. Oftalmol. 73(3):231-4. 2010. D ORION, T. Manual de exame do fundo de olho. [Tradução e Revisão Científica de João Alberto Holanda de Freitas]. Barueri: Malone, 2002. p. 334-335. EJZENBAUM, F. (coord.). Teste do reflexo vermelho. Sociedade Brasileira de Pe- diatria. Documento Científico. Grupo de Trabalho em Oftalmologia Pediátrica, 1° de setembro de 2018. JEAN-LOUIS, S.; LOVASIK, J. V.; KERGOA, H. Systemic Hyperoxia and Retinal Vasomotor Responses. Investigative Ophthalmology & Visual Science 46 (5):1714- 20. June 2005. KANSKI, J. J.; BOWLING, B. Oftalmologia clínica: uma abordagem sistemática. 7.ed. [tradução de Alcir Costa Fernandes et al.]. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. 920p. MAROTO, A. M. C.; TABOADA, J. J. E.; CAMBRODÍ, R. J. P.; COSTA, D. M.; CERVIÑO, A. Pilot Study on Visual Function and Fundus Autofluorescence Assessment in Diabetic Patients. Journal of Ophthalmology, 2016. MARTINS, T. G. dos S. et al. Modelo para o ensino da oftalmoscopia direta. Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 36, n. 2, 2303, 2014. MORGADO, G. et al. Tratamento da hemorragia pré-macular com laser Nd: YAG: A propósito de dois casos clínicos. Oftalmologia. Vol. 34: abril-junho de 2010, p. 393-397. RAMALHO, A. Retina. v. I. Lisboa: Théa Portugal, 2013. RODRIGUES, A. C. L.; PRADO, R. B.; MIGUEL, L. Implantação do exame do reflexo vermelho em crianças da região do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu-SP – Brasil. Arq Bras Oftalmol. 2012;75(5):337-40. RODRIGUES, L. D. et al. Picos de pressão intraocular: comparação entre curva tensional diária, minicurva e medida da pressão intraocular às 6 horas. Arq Bras Oftalmol . 2004; 67:127-31. SERRACARBASSA, P. D. Uso do TPA e gás intravítreo no tratamento da he- morragia subiniana bilateral – Relato de Caso. Arq. Bras. Oftalmol. 2002; vol.65; n.3. SOUZA, N. V. de; RODRIGUES, M. de L. V. Manifestações oculares de doenças sistêmicas. Medicina, Ribeirão Preto, Simpósio: Oftalmologia para o clínico 30: 79- 83, jan./mar. 1997. Capítulo XII. 27 Patologias Oculares do Segmento Posterior Responsável pelo Conteúdo: Prof. Me. Wellington Sales Silva Revisão Textual: Prof.ª Dr.ª Luciene Oliveira da Costa Granadeiro Exames Complementares para Avaliação de Fundo de Olho Exames Complementares para Avaliação de Fundo de Olho • Demonstrar de forma sucinta a importância de conhecer alguns dos principais exames complementares para a avaliação das estruturas do segmento posterior do olho, tendo em vista identificação, diagnóstico e acompanhamento de alterações patológicas na prática clínica optométrica. OBJETIVO DE APRENDIZADO • Exames Complementares. UNIDADE Exames Complementares para Avaliação de Fundo de Olho Exames Complementares Diante da suspeita patológica ou diante de alguns sinais clínicos importantes, o(a) optometrista pode realizar ou solicitar exames complementares. Por serem, em geral, mais sofisticados tecnologicamente, eles são úteis tanto para ajudar na con- firmação de algum diagnóstico clínico quanto para aprofundar o conhecimento ou saber a gravidade de determinadas patologias oculares. Os principais exames com- plementares empregados para avaliação de patologias do segmento posterior são: tonometria, oftalmoscopia indireta, OCT, estéreo foto de papila, retinografia, angio- grafia e campimetria, dentre outros. Tonometria A tonometria é um exame clínico complementar muito útil para a prevenção e tratamento do glaucoma. Consiste tão somente na aferição da medida da pressão intraocular (PIO). Sua medida se dá em milímetros de mercúrio (mmHg) e os valores tidos como normais para PIO estão entre 10 a 20 mmHg, embora possa variar muito de acordo com a espessura da córnea do paciente. A tonometria é uma técnica que tem se aperfeiçoado no mundo ao longo dos anos, desde as primeiras tentativas de William Bowman, lá por volta do século XIX, que consistia na simples apalpação digital através da pálpebra superior dos pacien- tes, comparando a resistência e tensão exercida entre os globos oculares – uma téc- nica que exigia muita experiência e sensibilidade do examinador. Mácula normal (à esquerda) e mácula com degeneração (à direita): https://bit.ly/2ZAvqmy Com o passar dos anos, foram criados vários equipamentos e técnicas diferentes para se aferir a PIO, pois, afinal, a PIO é o fator de risco isolado mais importante para o desenvolvimento do glaucoma, principalmente o glaucoma primário de ângulo aberto (GPAA), e o controle da PIO é o objetivo principal da terapia de tratamento. Cabe lembrar que, para se utilizarem alguns equipamentos, faz-se necessário o emprego de anestesia local. Tonometria de Aplanação de Goldmann (TAG) Baseia-se no princípio de que a força ou a pressão dentro do globo ocular é igual à força necessária para aplanar sua superfície, considerando apenas a área de apla- nação (Figura 1). Consiste em aplicar um prisma de Goldmann numa áreade 3 mm sobre a córnea, aproximadamente, com um valor variável de força mensurável, a partir da qual a PIO pode ser deduzida. 8 9 Figura 1 – Princípios da Tonometria de Goldmann Fonte: KANSKI, 2012, p. 314 A técnica exige anestésico, pois o aparelho toca a córnea, e fluoresceína, para permitir a visualização das miras do aparelho e a leitura correta da PIO (Figura 2). O tonômetro de Goldmann é utilizado acoplado a uma lâmpada de fenda. A tonome- tria de aplanação de Goldman é considerada a medida padrão-ouro da PIO. Figura 2 – Tonômetro tocando a córnea Fonte: KANSKI, 2012, p. 314 9 UNIDADE Exames Complementares para Avaliação de Fundo de Olho Tonometria de sopro Essa técnica utiliza um tonômetro de sopro, também chamado de pneumotonô- metro. Uma técnica que também se baseia no princípio de aplanação, porém, ao invés um prisma tocar a córnea do paciente, o aparelho emite um jato de ar, sufi- ciente para aplanar a córnea e mensurar a PIO, não sendo necessária a utilização de anestésico. Geralmente, o paciente leva um susto ao receber o jato de ar (Figura 3). Figura 3 – Tonometria de sopro Fonte: Divulgação Essilor Solutions Tonometria de Contorno Dinâmico A tonometria de contorno dinâmico (TCD), também denominada tonometria de Pascal, utiliza o tonômetro de Pascal, que possui um sensor de pressão numa super- fície côncava que se encaixa no contorno da córnea para aferir a PIO sem deformar a córnea, tendo em vista anular a influência da sua espessura central. Tonometria de Contorno Dinâmico, disponível em: https://bit.ly/3eLjMKc Tonometria Palpebral A tonometria palpebral possui o mesmo princípio de aplanação, porém, o seu contato não é com a córnea do paciente. Para esta técnica, utiliza-se um tonômetro de pálpebra, o qual possui um pêndulo que, quando acionado, toca a pálpebra su- perior do paciente pressionando a esclera, e, por meio dessa força exercida, permite aferir a PIO (Figura 4). 10 11 Figura 4 – Tonometria de Contorno Dinâmico Fonte: Divulgação Diaton Tonometria de Rebote A tonometria de rebote ou tonometria dinâmica é uma técnica que se baseia num princípio de medição na qual uma pequena sonda, muito leve, faz um contato mo- mentâneo com a córnea, incidindo sobre ela uma força tão pequena que se torna dis- pensável o uso de qualquer anestésico tópico. O aparelho chama-se iCare (Figura 5). Figura 5 – Tonometria de Rebote. Tonômetro iCare Fonte: Divulgação Icare® 11 UNIDADE Exames Complementares para Avaliação de Fundo de Olho Curva Tensional Diária (CTD) A curva tensiona diária (CTD) nada mais é do que a medição da PIO ao longo de um dia, em horários diferentes, de forma que os valores encontrados possam formar uma curva de tensão. Ela serve para monitorar o glaucoma, principalmente o GPAA. A PIO sofre alterações ao longo do dia e da noite, e há estudos que apontam que a PIO sofre picos entre as 5 h e 6 h da manhã (Figura 6). Geralmente, são necessárias de 4 a 6 medidas da PIO para construir a CTD. A CTD é indicada em casos com história familiar com glaucoma, escavação do nervo óptico aumentada, alterações sugestivas em campo visual, PIO elevada ou limítrofe, acompanhamento do trata- mento de glaucoma já diagnosticado. PI O (m m Hg ) 20,00 19,00 18,00 17,00 16,00 15,00 14,00 12,00 11,00 10,00 9 12 15 18 21 Horário 24 6d 6s Olho Direito Olho Esquerdo Figura 6 – Curva Tensional Diária apontando oito medições em horários diferentes Fonte: Reprodução Oftalmoscopia Indireta A oftalmoscopia indireta tem o mesmo princípio da oftalmoscopia direta, porém, como o próprio nome já diz, a imagem percebida pelo observador se dá de forma indireta e invertida, exigindo maior perícia do examinador; e também se faz neces- sária a dilatação da pupila do paciente e a utilização de um oftalmoscópio indireto (Figura 7). Um feixe luminoso é emitido pelo oftalmoscópio indireto que passa por uma lente condensadora e pela pupila chegando até o fundo do olho do paciente. Então, ao retornar do fundo do olho e deixar o sistema refrativo ocular, os raios luminosos alcançam novamente a lente condensadora, formando uma imagem real e invertida, entre a lente e o observador. A oftalmoscopia indireta é um exame importante para uma avaliação abrangente de todo o fundo do olho. 12 13 Figura 7 – Oftalmoscopia Indireta Fonte: Divulgação Welch Tomografia de Coerência Óptica A tomografia de coerência óptica (OCT) é um exame que está se tornando muito comum diante da manifestação de muitas patologias maculares, principalmente do- enças da retina e do nervo óptico. Trata-se de um sistema de criação de imagens de alta resolução, em corte seccional ou transversal, de forma tridimensional, não inva- siva, sem contato. Por meio deste exame podemos avaliar o vítreo, a retina, a cabeça do nervo óptico, bem como qualquer camada, tecido ou estrutura do globo ocular. • Tomografia de Coerência Óptica, disponível em: https://bit.ly/32GXlDx • OCT da retina, mostrando suas camadas e a fóvea, disponível em: https://bit.ly/2OBhvqk A OCT baseia-se numa técnica chamada de interferometria, ou seja, a utilização ou emissão de ondas de luz infravermelha de baixa coerência que, como resultado, criam novas ondas com base na interferência da primeira luz refletida, de forma que o tecido que reflete mais luz cria uma interferência maior ou mais intensa e com isso as imagens vão sendo formadas de acordo com a densidade de cada tecido ou órgão. Estereofoto de Papila A estereofoto de papila é um exame que possibilita o registro fotográfico digital de forma, contornos, relevo, tamanho, coloração, alterações e escavação do disco óptico e papila (Figura 8). As fotografias são realizadas com luz branca intensa e com 13 UNIDADE Exames Complementares para Avaliação de Fundo de Olho filtro verde-aneritra e azul-cobalto, importantes para avaliação da camada de fibras do nervo óptico. O registro é feito digitalmente e em filme fotográfico, de duas fotos anexas, da região da papila com um grande aumento para evidenciar os detalhes do disco óptico e de suas possíveis alterações. Depois de reveladas, as fotos evidenciam o aspecto tridimensional da papila. Figura 8 – Estereofoto de Papila Fonte: cisamapi.mg.gov.br Retinografia Simples A retinografia simples é um exame de imagem de alta resolução realizado por meio de um retinógrafo. Em outras palavras, a retinografia simples é uma foto do fundo do olho (Figura 9). A retinografia simples é um exame indolor que exige a dila- tação da pupila do paciente. Serve para documentar imagens das estruturas oculares do segmento posterior para comparação futura e acompanhamento. Figura 9 – Retinografia de olho direito Fonte: GIACOMIN et al., 2018 (A) Retinografia inicial. (B) Retinografia apos 1 mês de tratamento. (C) Reti- nografia após 3 meses de tratamento de Neurite Óptica secundaria a infec- ção por Chikungunya Vírus. Angiografia Fluoresceínica A angiografia fluoresceínica consiste no exame por imagens da passagem de corante de fluoresceína pelos vasos da retina e da coroide, feita por meio de injeção venosa. Grande parte das moléculas da fluoresceína ligam-se a algumas proteínas e uma pequena parte permanece livre. As fenestrações dos capilares da coroide 14 15 permitem a passagem das moléculas de fluoresceína até atingirem o EPR, possibi- litando, assim, a obtenção das imagens da retina por meio de uma câmera especial (Figura 10). Por meio de um filtro de excitação azul-cobalto, as moléculas de fluoresceína são excitadas, as quais emitem uma luz de comprimento mais longo (amarelo-verde). E, por meio de um filtro de barreira amarelo-verde, a luz azul emitida pelo olho é bloqueada, permitindo a passagem apenas da luz amarelo-verde, que é fluorescente. É um exame utilizado apenas na condição em que os seus achados possam de fato ajudar na conduta clínica. Pacientes que sofrem de insuficiência renal, asma, alguns tipos de alergias e alguns problemas cardíacos têm restrições a este exame. Figura10 – Angiografi a Fluoresceínica Fonte: macula.org.br Campimetria Computadorizada A campimetria computadorizada é um exame indolor que consiste em incidir estí- mulos luminosos em diferentes regiões do campo visual para que sejam percebidos e sinalizados pelo paciente. O estudo topográfico da sensibilidade da retina visa anali- sar se há alterações no campo visual, escotomas, muitas vezes, não percebidos pelo paciente (Figura 11). Embora o aparelho utilizado, o campímetro, seja de grande pre- cisão, o resultado confiável do exame depende totalmente da atenção, compreensão e informação dadas pelo paciente, pois, enquanto o paciente fixa um ponto imóvel, um objeto desloca-se no espaço e requer sua sinalização. 15 UNIDADE Exames Complementares para Avaliação de Fundo de Olho Figura 11 – Campimetria computadorizada, indicando alterações em olho esquerdo Fonte: Divulgação Adachi Oftalmologia Campímetro, disponível em: https://bit.ly/32FTTJa Geralmente, a campimetria é apresentada em valores numéricos medidos em de- cibéis (dB) e em escalas de cinza, onde podem ser percebidos os pontos ou regiões de escotomas. As zonas mais escuras da escala de cinza correspondem com zonas de baixa sensibilidade. Os escotomas podem ser classificados em: • Absoluto: quando a sensibilidade à luz é perdida completamente; • Relativo: quando a sensibilidade à luz está diminuída em alguma zona do cam- po visual; • Positivo: quando o paciente percebe e refere uma diminuição de sensibilidade à luz ou ausência de visão; • Negativo: quando só se descobre diminuição de sensibilidade ao se realizar o exame, uma vez que o paciente não tem consciência de sua existência; • Central: quando ocorre na mácula e na área perimacular; • Cecal: quando se manifesta ao redor do ponto cego; • Centrocecal: quando se localiza entre o ponto cego e a zona macular; • Paracentral: quando ocorre no campo central, porém deixando livre a zona macular; • Anular: quando o segmento é circular entre o centro e a periferia; • Arciforme (escotoma de Bjerrum): quando vai desde o ponto cego até a peri- feria rodeando um ponto de fixação acima ou abaixo, formando um arco. Afeta a mácula; • Degrau nasal (escotoma de Roenne): quando manifesta uma deficiência brus- ca de sensibilidade no meridiano horizontal nasal; • Hemianopia: quando afeta um hemicampo, podendo ser temporal, nasal, infe- rior ou superior; 16 17 • Quadranopsia: quando afeta um quadrante completo do campo visual mono- cular, podendo ser temporal, nasal, inferior ou superior. Figura 12 – (A) Hemianopsia homônima esquerda. (B) Hemianopsia heterônima bitemporal Fonte: Adaptado de MARTIN; VECILLA, 2010, p. 46 F igura 13 Fonte: Adaptado de MARTIN; VECILLA, 2010, p. 44 (A) escotoma central; (B) escotoma cecal; (C) escotoma centrocecal (D) esco- toma paracentral (E) escotoma anular (F) escotoma arciforme (G) escotoma degrau nasal. 17 UNIDADE Exames Complementares para Avaliação de Fundo de Olho Você sabia que cada olho tem um ponto cego fisiológico? Saiba mais sobre o assunto assistindo ao vídeo “Ponto cego dos olhos: Demonstrando e entendendo” Disponível em: https://youtu.be/eYvDhoLdE8c Gonioscopia A gonioscopia é a avaliação da abertura do ângulo da câmara anterior (ACA) forma- do pela córnea e íris, também chamado ângulo camerular, ou ainda, câmara anterior do olho. A gonioscopia avalia a profundidade dessa câmara ou a abertura do ângulo e serve para ajudar no diagnóstico e classificação do glaucoma, se é de glaucoma aberto de ângulo aberto (GPAA) ou glaucoma primário de ângulo fechado (GPAF). Abertura do Ângulo da Câmara Anterior (ACA), disponível em: https://bit.ly/3j8NSdX Figura 14 – Ângulo da Câmara Anterior (ACA) Fonte: Reprodução Luiz Meira | Divulgação A amplitude da abertura do ângulo camerular é classificada de acordo com as estruturas que são observadas no exame gonioscópico (Figura 15): • Grau 4 e 3: quando o ângulo é muito aberto e todas as estruturas do seio ca- merular podem ser observadas, incluindo a faixa ciliar; • Grau 2: quando o ângulo tem uma abertura intermediária e as estruturas pos- teriores ao esporão escleral não podem ser observadas; 18 19 • Grau 1: quando o ângulo é estreito e somente a linha de Schwalbe pode ser observada ou, às vezes, nem ela; • Grau 0: quando o ângulo está totalmente fechado e não se observa nenhuma estrutura do seio camerular e as linhas de perfil posterior da córnea e da íris se tocam (toque iridocorneano). Figura 15 – Classifi cação da amplitude de abertura do ACA Fonte: sbglaucoma.org.br Gonioscopia, disponível em: https://bit.ly/3jgdTbi Paquimetria de Córnea A paquimetria de córnea é um exame que mede a espessura da córnea em di- ferentes pontos. Serve tanto para ajudar no diagnóstico de ceratocone e de outras distrofias de córnea como também de glaucoma e no pré-operatório de pacientes que desejam ser submetidos a uma cirurgia refrativa. A determinação da espessura da córnea, associada à dioptria do paciente, é cru- cial para saber se há possibilidade de cirurgia. Córneas com a região central muito fina podem indicar a possibilidade de glaucoma. Medidas muito diferentes do espe- rado em regiões distintas da córnea, associadas a altas curvaturas de córnea, podem indicar distrofias corneanas, como o ceratocone, por exemplo. 19 UNIDADE Exames Complementares para Avaliação de Fundo de Olho Figura 16 – Espessuras da córnea Fonte: Divulgação Ophthalmica Paquimetria Ultrassônica de Córnea, disponível em: https://bit.ly/2CpR1FF São avaliadas as regiões central, paracentral e periférica da córnea. O resultado do exame de paquimetria é apresentado em valores numéricos medidos em micro- metros e em escalas coloridas. Os valores normais da região central da córnea de- vem estar entre 470 e 550 micrometros. Valores abaixo de 470 indicam uma córnea fina e valores acima de 550 indicam uma córnea, espessa além do normal. Figura 17 – Paquimetria de córnea Fonte: Divulgação | saudebemestar.pt 20 21 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos Oftalmoscopia Indireta https://youtu.be/3PEsOyKW6Ww Campo Visual Computadorizado – Americas Oftalmocenter - Dr.ª Ana Paula Gonçalves https://youtu.be/ibz7tYAR_JU Retinografia https://youtu.be/tM8xadDNJL8 Leitura Gonioscopia: Proposta de Classificação (APIC) https://bit.ly/3jfgqm0 21 UNIDADE Exames Complementares para Avaliação de Fundo de Olho Referências COSTA, R. T. da; BARRETO, R. B. P.; LOPES, F. P.; LIRA, R. P. C. Análise da aferição dos tonômetros de aplanação de Goldmann em serviços oftalmológicos de Recife. Arq. Bras. Oftalmol. 2004; 67: 267-70. DORION, T. Manual de Exame do Fundo de Olho. Tradução e Revisão Cien- tífica de João Alberto Holanda de Freitas. Barueri: Malone, 2002. P. 334-335. KANSKI, J. J.; BOWLING, B. Oftalmologia clínica: uma abordagem sistemática. 7. ed. Tradução de Alcir Costa Fernandes et al. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. 920p. MARTINS, T. G. dos S.; COSTA, A. L. F. de A.; MARTINS, R. V.; MARTINS, E. N.; ALVES, M. R.; HELENE, O.; SCHOR, P. Modelo para o ensino da oftalmos- copia direta. Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 36, n. 2, 2303 (2014). MEIRELLES, S. H. S.; MATHIAS, C. R.; AZEVEDO, G. B. de; ÁLVARES, R. M.; MATTOSINHO, C. C. de S.; JARDIM, J. S.; BASTOS, C. C. X.; MENESES, L. Estudo comparativo entre o tonômetro de aplanação de Goldmann e o tonô- metro de contorno dinâmico de Pascal no glaucoma primário de ângulo aberto e olhos normais. Rev. Bras. Oftalmol. 2008; 67 (6): 273-80. MELLO, P. A. de A.; MANDIA JUNIOR, C.; GALVÃO, R. P. Glaucoma primá- rio de ângulo fechado. Consenso Brasileiro de Glaucoma Primário de Ângulo Fechado. Sociedade Brasileira de Glaucoma. São Paulo: PlanMark, 2006. RAMALHO, A. Retina. V. I. Lisboa: Théa Portugal, 2013. RODRIGUES, L. D.; SILVA, M. R. B. de M.; SCHELLINI, S. A.; JORGE, E. N. Picos de pressão intra-ocular: comparação entre curva tensional diária, minicurva e medida dapressão intra-ocular às 6 horas. Arq. Bras. Oftalmol. 2004; 67:127-31. 22 Patologias Oculares do Segmento Posterior Responsável pelo Conteúdo: Prof. Me. Wellington Sales Silva Revisão Textual: Prof.ª Esp. Adrielly Camila de Oliveira Rodrigues Vital Uveíte e Patologias do Vitreo Uveíte e Patologias do Vitreo • Demonstrar a importância de conhecer processos inflamatórios da úvea, bem como sua classificação, sinais e sintomas, diagnóstico, tratamentos e encaminhamentos; • Demonstrar a necessidade de examinar o humor vítreo na prática clínica optométrica; • Conceituar e diferenciar as principais afecções do vítreo; • Apresentar os principais sinais oculares e sintomas clínicos relacionados, diagnóstico, trata- mentos e encaminhamentos. OBJETIVOS DE APRENDIZADO • Uveíte e Patologias do Vitreo; • Afecções do Vítreo. UNIDADE Uveíte e Patologias do Vitreo Uveíte e Patologias do Vitreo Uveíte Definição Como você já viu anteriormente, o globo ocular pode ser dividido em cama- das: uma camada mais externa ou túnica fibrosa; uma camada intermediária ou túnica vascular, também chamada de úvea, e; uma camada mais interna chamada de túnica nervosa. A camada intermediária, ou a úvea, é composta pelas seguintes estruturas ocu- lares: íris, corpo ciliar e coroide. A íris e o corpo ciliar pertencem ao segmento anterior do olho. Já a coroide, a túnica vascular do olho, pertencente ao seu seg- mento posterior, localizando-se entre a esclera e a retina, e estendendo-se desde a ora serrata até o disco óptico. A coroide tem a função de nutrir o Epitélio Pigmen- tário da Retina (EPR) e a metade externa da retina sensorial. Tanto a íris, como o corpo ciliar e a coroide, possuem a mesma origem embrionária, sendo formadas por tecido mesodérmico. A uveíte nada mais é do que a inflamação da úvea, isto é, a inflamação da camada intermediária do olho, composta pela íris, pelo corpo ciliar e pela coroide. Trata-se, porém, de um termo muito genérico para designar muitas formas diferentes e com- plexas de inflamações intraoculares, as quais, secundariamente, poderão acometer outras estruturas como córnea, esclera, vítreo, retina e nervo óptico, o que nos re- meteria a tratar caso a caso. Por conta disso, nesta unidade, vamos abordar a uveíte de uma forma genérica. Classificação das Uveítes As inflamações da úvea podem ser classificadas quanto a sua localização, quanto ao seu aparecimento, quanto à duração, quanto à evolução patológica e quanto à causa (Tabela 1). Quanto à localização, as uveítes podem ser classificadas em: uveíte anterior, uveíte intermediária, uveíte posterior e panuveíte (Figura 1): • A uveíte anterior é subdividida em irite e iridociclite. » A irite é a inflamação da íris, e; » A iridociclite é a inflamação da íris e do corpo ciliar, especificamente da pars plicata. • A uveíte intermediária é subdividida em: » Pars Planite, a inflamação do corpo ciliar, especificamente da pars plana; » Vitreíte, a inflamação do vítreo; » Retinite, a inflamação da retina periférica. 8 9 • A uveíte posterior é subdividida em: » Retinite, a inflamação da retina; » Vasculite, a inflamação de vasos da retina; » Coroidite, a inflamação da coroide; » Coriorretinite, a inflamação da retina e coroide juntamente. • A panuveíte é a inflamação de todo o trato uveal (íris, vítreo e coroide, incluindo a retina), sem uma identificação clara do sítio primário da inflamação. Quanto ao tempo de aparecimento, as uveítes podem ser classificadas em: • Uveíte súbita, quando ocorre repentinamente, geralmente com baixa da acui- dade visual (AV); • Uveíte insidiosa, quando o paciente nem percebe nem reporta qualquer sinto- ma aparente. Um exemplo: a ciclite heterocrômica de Fucks. Ciclite heterocrômica de Fucks. Disponível em: https://bit.ly/2CE21z9 Quanto à duração, as uveítes podem ser classificadas em: • Uveíte limitada, com duração de até três meses, ou; • Uveíte persistente, com duração maior de três meses. Quanto à evolução, as uveítes podem ser: • Uveíte aguda, quando há um aparecimento súbito e uma duração limitada; • Uveíte crônica, quando é persistente com recaídas em até três meses após a interrupção do tratamento, e; • Uveíte recorrente, quando ocorre episódios repetidos, separados por períodos de inatividade sem tratamento por um período maior de três meses. Quanto à causa, as uveítes podem ser classificadas em: • Uveíte inflamatória, quando ocorre apenas inflamação da úvea ou parte dela; • Uveíte infecciosa, quando há a interferência de algum agente viral, bacteriano ou fúngico; • Uveíte traumática, como consequência de algum trauma ocular; • Uveíte etiológica, sem causa aparente. Figura 1 – (1) uveíte anterior, (2) uveíte intermediária, (3) uveíte posterior e (4) panuveíte Fonte: BIANCARDI, 2018 9 UNIDADE Uveíte e Patologias do Vitreo Tabela 1 – Classificação das uveítes Quanto à localização Quanto ao aparecimento Quanto à duração Uveíte anterior Irite Uveíte súbita Uveíte limitada Iridociclite Uveíte insidiosa Uveíte persistente Uveíte intermediária Pars Planite Quanto à causa Quanto à evolução Vitreíte Uveíte inflamatória Uveíte aguda Retinite (periférica) Uveíte infecciosa Uveíte crônica Uveíte posterior Retinite Uveíte traumática Uveíte recorrente Vasculite Uveíte etiológica Coroidite Coriorretinite Panuveíte Prevalência As uveítes afetam cerca de 1,5 % da população. A uveíte anterior é a forma mais comum da doença e a Uveíte Anterior Aguda (UAA) representa 75% dos casos de Uveíte Anterior em relação à Uveíte Anterior Crônica (UAC). A Uveíte Intermediária responde por 15% de todos os casos de Uveítes. Nos Estados Unidos, representa cerca de 10% dos casos de cegueira legal. Geralmente, as uveítes se manifestam de forma unilateral, mas podem ser bilaterais. Causas As uveítes podem ser causadas por fatores inflamatórios, infecciosos, traumáti- cos e até medicamentosos. As uveítes anteriores podem estar associadas a doenças sistêmicas como herpes, sífilis e hanseníase, por exemplo. As uveítes intermediárias podem ser causadas por esclerose múltipla, sarcoidose, Doença de Lyme. E as uveítes posteriores podem ser causadas por toxoplasmose, HIV, sífilis, herpes, sarcoidose, dentre outras. Sinais Clínicos/Características De modo geral, os principais sinais clínicos mais comuns encontrados em uveítes anteriores são: celularidade no humor aquoso e no vítreo, precipitados ceráticos (PK) granulomatosos ou não granulomatosos (Figura 2), sinéquia (na córnea ou no cristalino), nódulos e áreas de atrofia na íris, alterações na pressão intraocular (PIO), hiperemia conjuntival episcleral ou escleral, opacificação do cristalino. Sinéquia: aderência da íris ao cristalino (uveíte posterior) ou à córnea (uveíte anterior). 10 11 Figura 2 – (1) PK granulomatosos. (2) PK não granulomatosos Fonte: Adaptado de NASCIMENTO, 2016 Os principais sinais clínicos encontrados nas uveítes intermediárias, as quais envolvem o vítreo como sítio primário de inflamação, são: células no vítreo, conden- sações vítreas e bolas de neve (snowballs) ou bancos de neve (snowbanking) no vítreo periférico inferior (Figura 3). Figura 3 – Sinais de Uveíte Intermediária Fonte: Adaptado de KANSKI, 2012, p. 414 (A) Periflebite periférica e algumas snowballs; (B) snowbanking e snowballs inferiormente; (C) snowbanking grave, neovascularização e descolamento inferior da retina. Nas uveítes posteriores, as quais englobam as retinites, vasculites e coroidites (Figura 4), podem ser encontrados os seguintes sinais clínicos: lesão focal ou difusa de retina ou na coroide, edema retiniano, embainhamento vascular, isquemia retiniana e trombose retiniana. Isquemia: diminuição ou interrupção da irrigação sanguínea, geralmente ocasionada por trombose; Periflebite: inflamação em torno de uma veia (vasculite); Snowballs: bolas de neve; Snowbanking: bancos de neve; placas fibrovasculares cinza-esbranquiçadas que se obser-vam no vítreo inferior; Trombose: trombo em vaso sanguíneo, artéria ou veia, formado por placas de gordura ou pela coagulação do sangue. 11 UNIDADE Uveíte e Patologias do Vitreo As retinites podem se manifestar de forma isolada (focal), multifocal, geográfica ou difusa. Os principais sinais clínicos das retinites são: opacidades retinianas esbran- quiçadas com margens pouco nítidas. As coroidites também podem se manifestar de forma isolada ou focal, multifocal, geográfica e difusa. O principal sintoma deste tipo de uveíte é um nódulo redondo e amarelo no fundo do olho. Já as vasculites podem ser primárias ou secundárias a um foco de retinite. Podem afetar tanto as veias (periflebite) quanto as artérias (periarterite). Os principais sinto- mas são manguitos perivasculares irregulares, amarelados ou branco-acinzentados que podem estar associados a hemorragias. Figura 4 – Sinais de uveíte posterior. (A) Retinite; (B) Coroidite; (C) Vasculite Fonte: Adaptado de KANSKI, 2012 Sintomas Miodesopsias, diminuição da visão central, dor ocular intensa, fotofobia, cefaleia, hiperemia, miose, discoria. Periarterite: inflamação em torno de uma artéria (vasculite); Manguito perivascular: ou infiltrado que aparece aos lados dos vasos sanguíneos; Discoria: irregularidade do anel pupilar, produzido por sinéquias às estruturas vizinhas ou por ruptura traumática da raiz da íris ou do esfíncter pupilar; Fotofobia: sensibilidade à luz causada por afecções oculares. Diagnóstico O diagnóstico das uveítes se dá a partir da oftalmoscopia direta e indireta, com a medida da acuidade visual, a avaliação dos reflexos pupilares, a biomicroscopia de segmento anterior e também a tonometria, tendo em vista identificar alterações oculares compatíveis com os quadros e a classificação das uveítes. Devido ao grande número de doenças que pode ocasionar uveítes, exames complementares devem ser realizados a partir da suspeita clínica, visando à identificação das causas. É importante descartar causas virais, bacterianas, parasitárias, protozoárias e fún- gicas por meio de sorologias, exame clínico sistêmico, exames culturais, reação in- tradérmica e também biópsia. Os principais exames complementares de auxílio ao diagnóstico das uveítes são: a angiografia fluoresceínica, a ultrassonografia ocular e OCT. 12 13 Tratamentos/Encaminhamento O tratamento das uveítes posteriores envolve o uso de agentes anti-inflamatórios, corticosteroides (intraoculares e sistêmicos), antimetabólitos e imunossupressores. O tratamento é baseado na busca da integridade do sistema de defesa do hospedeiro pelo maior tempo possível. Quando necessário, pode-se optar por alguma interven- ção cirúrgica: vitrectomia, fotocoagulação a laser. Vitrectomia: remoção cirúrgica do humor vítreo, substituindo-o por gás ou líquido. Diante de qualquer manifestação clínica de uveíte, considerando os seus principais sintomas, sinais clínicos, bem como a gravidade da condição, o optometrista deve pron- tamente encaminhar o paciente ao oftalmologista, tendo em vista a possibilidade de um diagnóstico diferencial e o adequado tratamento farmacológico, localizado ou sistêmico. Afecções do Vítreo Não raras vezes, as patologias do vítreo podem passar despercebidas por um profissional de saúde ocular desavisado ou descuidado. Mas, da mesma forma que a retina ou nervo ótico, por exemplo, considerando o segmento posterior do olho, o humor vítreo é uma estrutura que carece de toda atenção primária por parte do optometrista, tendo em vista prevenir e encaminhar casos suspeitos antes que se tornem problemas graves de saúde ocular e con- duzam o paciente a uma cegueira irreversível. Primário Hiperplásico Persistente Definição O Vítreo Primário Hiperplásico Persistente (VPHP) é um acúmulo transitório de células que abrange o humor vítreo nos estágios iniciais de desenvolvimento ocular. Composto por células originárias da crista neural e do mesoderma (tecidos embrio- nários), o VPHP é uma anomalia congênita do desenvolvimento do olho, que em geral se apresenta em um recém-nascido saudável, cujas manifestações clínicas ocu- lares podem incluir microftalmia, catarata progressiva, tecido fibrovascular retrolen- tal, restos persistentes de vasos hialoides e restos da túnica vasculosa lentis. Microftalmia: globo ocular pequeno, mal formado, de origem congênita. Classificação O VPHP pode ser anterior e posterior. O VPHP Anterior é o tipo mais comum, e apresenta-se como uma massa de cor rosa, cinza-amarelada, retrocristaliniana, for- 13 UNIDADE Uveíte e Patologias do Vitreo mada por tecido conjuntivo fibrovascular. Já o VPHP Posterior apresenta-se como membranas vítreas que se estendem do disco ótico até o equador, com dobras de tração retiniana peripapilar e, também, descolamento de retina. Prevalência Cerca de 90% dos casos de VPHP são unilaterais, podendo se manifestar na forma an- terior ou posterior. E é a causa mais comum de catarata adquirida no primeiro ano de vida. Causas As principais causas do VPHP são: deficiência do vítreo primário, em que pode ocorrer ramos da artéria hialoide com sangue; hiperplasia do sistema vascular do cristalino embrionário (túnica vascular cristaliniana); metabolismo anormal que pode sintetizar as fibrilas de colágeno no vítreo. Sinais Clínicos/Características Os principais sinais clínicos que caracterizam o VPHP são: leucocoria; câmara ante- rior rasa; um desenho alongado e para dentro dos processos ciliares; grande massa de tecido fibrovascular (Figura 5); vasos da íris dilatados; intumescência do cristalino; catara- ta; glaucoma de ângulo fechado por bloqueio pupilar; hemorragia espontânea profunda dentro do vítreo; artéria hialoide persistente; buftalmo; microftalmia; hipoplasia do nervo óptico; hipoplasia macular; cistos perolados, cinzas, enrugados e translúcidos. Figura 5 – Imagem de um olho esquerdo mostrando grande massa de tecido fibrovascular envolvendo todo o polo posterior Fonte: SOUZA; SOUZA, 2007 Buftalmo: aumento do volume do globo ocular, que pode ser causado por hidropisia ou ceratoglobo; Hiperplasia: aumento benigno de um tecido devido à multiplicação das células que o compõem; Hipoplasia: desenvolvimento defeituoso ou incompleto de tecido ou órgão; Intumescência: aumento de volume; inchaço; tumefação; Leucocoria: pupila branca. 14 15 Sintomas Os principais sintomas num caso de VPHP são: diminuição da acuidade visual; estrabismo (em geral, endotropias), e; ambliopia (por privação). Diagnóstico A suspeita diagnóstica é feita pelo optometrista por meio da oftalmoscopia direta e também da biomicroscopia. Já o diagnóstico, feito por um oftalmologista, pode ocorrer por meio de tonometria, medida do diâmetro da córnea, de uma oftalmos- copia indireta e de ultrassonografia. Para um diagnóstico diferencial, é importante considerar e relacionar com catarata congênita unilateral, retinoblastoma, retinopatia da prematuridade e displasia retiniana. Tratamentos/Encaminhamento Diante de uma suspeita de VPHP, o optometrista deve fazer o encaminhamento do paciente ao oftalmologista para avaliar a possibilidade de retirada precoce do cris- talino e de membranas retrocristalinianas. Em alguns casos, a vitrectomia pars plana ou iridectomia antiglaucomatosa pode se fazer necessária, conforme o caso. Quanto ao prognóstico, em geral, é melhor no VPHP anterior do que no VPHP posterior. Importante! A oftalmoscopia direta, realizada com o oftalmoscópio direto, não obstante a bio- microscopia, realizada com a lâmpada de fenda, constitui-se uma das técnicas mais importantes pela qual o optometrista pode exercer o seu papel de profissional de aten- ção primaria à saúde visual, identificando e/ou suspeitando de casos de patologias do segmento posterior do olho. Vitreorretinopatia proliferativa Definição O termo Vitreorretinopatia Proliferativa (VRP) foi cunhado em 1983 pelo Comitê de Terminologia da Sociedade da Retina, nos Estados Unidos, para descrever um pro-cesso patológico que envolve o corpo vítreo e a retina. É um processo degenerativo, geralmente bilateral, que segue um descolamento regmatogênico da retina, gerando de forma secundária a proliferação de células ectópicas no corpo vítreo e/ou na área perirretiniana, causando formação de uma membrana e tração vitreorretiniana. Displasia: alterações genéticas e agressão continuada em um tecido ou órgão; Iridectomia: resseção ou perfuração na periferia da íris para permitir a passagem de humor aquoso da câmara posterior para a câmara anterior; Regmatogênico: um tipo de descolamento de retina com ruptura ou descolamento de di- ferentes camadas da retina e da barreira hematorretiniana. 15 UNIDADE Uveíte e Patologias do Vitreo Classificação A classificação da VRP e a identificação dos fatores de risco são cruciais para uma melhor notificação e tratamento da doença. A Sociedade da Retina, nos Estados Unidos, concebeu uma primeira classificação para a VRP que a subdividiu nos estágios A, B, C e D que aumentaram em gravidade. Mas, essa classificação foi modificada mais recentemente para distinguir entre a localização anterior e posterior da proliferação e oferecer uma descrição mais detalhada dos tipos de contração (deslocamento focal, difuso, subrretiniano, circunferencial e anterior). Foi então dividida em três graus: grau A: limitado à presença de células vítreas ou neblina; grau B: definida por bordas irregulares ou enroladas de uma lágrima ou enrugamento da superfície interna da retina, e; grau C: denotado pela presença de membranas pré-retinianas ou subrretinianas, sendo subdividido com base no número de horas envolvidas e na localização: Grau C1, sendo anterior ao equador e Grau C2, sendo posterior ao equador. Prevalência Está presente em cerca de 5-10% de todos os descolamentos de retina e em 75% dos casos pós-cirúrgicos, constituindo-se num grande obstáculo ao reparo nos descola- mentos de retina. São mais comuns em pacientes diabéticos, na retinopatia diabética. Causas A VRP pode ser causada pela fibrose de exsudatos inflamatórios no vítreo que pode resultar num crescimento de células de colágeno que formam uma membrana na superfície retiniana, na cavidade vítrea e na base do vítreo, além de poder pro- duzir uma tração retiniana tangencial e pregas retinianas fixas (Figura 6), além de um proliferação epirretiniana. Geralmente ocorre após cirurgia para descolamento de retina regmatogênico ou lesão penetrante, mas pode se manifestar como uma degeneração congênita. Figura 6 – Fotografia do fundo mostrando uma dobra em estrela de uma VRP em um paciente com histórico de descolamento de retina Fonte: SADAKA; GIULIARI, 2012 16 17 Sinais Clínicos/Características Na VRP a mácula apresenta-se espessa e com edema cistóide, com fluido seroso e exsudados de lipídio. Os vasos capilares retinianos podem se mostrar distorcidos e salientes, com dobras regulares e irregulares. Uma membrana epirretiniana se apre- senta com uma proliferação fibrovascular e hemorragias pré-retinianas. Diagnóstico A suspeita patológica da VRP pode ser feita pelo optometrista por meio da obser- vação dos sinais clínicos na oftalmoscopia direta. Tratamentos/Encaminhamento O encaminhamento deve ser feito ao oftalmologista para proceder com uma angiografia de fluoresceína ou uma ultrassonografia para confirmar o diagnóstico. Em geral, para o tratamento da VRP utiliza-se a fotocoagulação retiniana a laser e intervenções cirúrgicas como a esclerotomia, a retirada do cristalino e a vitrectomia. Descolamento do Vítreo Posterior Definição O Descolamento do Vítreo Posterior (DVP) refere-se à separação da região corti- cal do vítreo posterior da Membrana Limitante Interna da Retina (MLI), que ocorre no polo posterior e no disco ótico. É resultado da sínquise vítrea que geralmente ocorre com o avanço da idade. Movimentos de cabeça e dos olhos fazem com que o vítreo liquefeito disseque vagarosamente o espaço retrocortical, aumentando a área de descolamento do córtex vítreo da MLI, fazendo a adesão ser rompida. Ocorre então um colapso do corpo vítreo totalmente separado da retina, o que também se denomina sinérese vítrea. Sinérese: retração natural do humor vítreo que induz a criação de miodesopsias e provoca sínquise; Sínquise: liquefação do humor vítreo; colapso da estrutura gelatinosa do vítreo; Importante! A sinérese vítrea provoca miodesopsias. O aparecimento de muitas miodesopsias podem provocar a sínquise vítrea. A sínquise vítrea, por sua vez, pode induzir a um descolamen- to do vítreo posterior. Classificação O DVP pode ser classificado de acordo com sua extensão (completo ou incompleto), ou com relação à forma como se inicia (aguda ou crônica): 17 UNIDADE Uveíte e Patologias do Vitreo • DVP completo: quando todo vítreo se descola, desde a borda posterior até a ora serrata; • DVP incompleto: quando o descolamento é parcial, persistindo algumas ade- rências residuais. (Ver item 5 Tração Vitreorretiniana); • DVP agudo ou regmatogênico: quando ocorre subitamente, em que o vítreo liquefeito passa para dentro do espaço retiniano; • DVP crônico ou não regmatogênico: quando ocorre de modo progressivo ao longo de semanas ou meses, provocando uma lenta separação da membrana hialoide da superfície retiniana, fazendo aparecer uma área bem delineada se- melhante a um anel escuro, denominado Anel de Weiss (fragmento de conden- sação vítrea, resultante da separação do nervo óptico) (Figura 7). Figura 7 – Anel de Weiss (Descolamento Posterior do Vítreo) Fonte: RAMALHO, 2013 Prevalência O DVP afeta, em geral, pessoas com mais de 50 anos na afacia. Pesquisas apon- tam uma incidência de DVP em 63% na oitava década de vida. Em sua maioria, afeta mais as mulheres, sendo muito comum em pacientes com diabetes, miopia (maior risco), vitreíte e pós-cirurgia ou trauma. Geralmente, o DVP é unilateral, embora depois de muito tempo possa afetar o olho contralateral. Afacia: ausência, congênita ou não, do cristalino do olho; Causas O DVP pode ser causado pela contração do tecido fibrovascular e encolhimento do humor vítreo. A cirurgia de catarata pode abreviar o aparecimento de DVP, prin- cipalmente em pacientes míopes. As causas mais comuns de DVP são: sinérese vítrea e sínquise, o que consequentemente provoca o colapso do vítreo em direção anterior e posterior devido à gravidade, sendo acompanhado por um adelgaçamento da hialoidea posterior. Sinais Clínicos/Características As principais características e sinais clínicos do DVP são: diminuição do volume do gel e aumento do líquido no vítreo, com subsequente colapso e agregação das fibras 18 19 de colágeno; o surgimento de Anel de Weiss próximo do eixo visual; miodesopsias provocadas por sinérese vítrea, a existência de um espaço opticamente vazio atrás da hialoidea posterior; hemorragias intrarretinianas; pigmentos no vítreo anterior. Sintomas Embora em alguns casos apareça assintomático, os principais sintomas num caso de DVP são: miodesopsias (floaters) provocadas pelo encolhimento do vítreo, as quais lançam uma sombra na retina; fosfenos (fotopsia); visão fora de foco; metamorfopsia. Fosfenos: ou fotopsia; presença de percepção/sensação de flashes de luz ou manchas lumi- nosas, acompanhado ou não de enxaqueca, muito comum em DVP. Causada pela estimu- lação mecânica, elétrica ou magnética da retina ou do córtex visual. Ex. padrões luminosos que aparecem quando a pálpebra é esfregada com bastante pressão; Miodesopsias: floaters; moscas volantes; corpos flutuantes ou pequenos pedaços de subs- tância gelatinosa ou células que navegam dentro humor vítreo, que aparecem como pontos escuros, filamentos ou teias; sensação desconfortável provocada por moscas volantes; Metamorfopsia: visão distorcida dos objetos ou daquilo que se vê. Diagnóstico A suspeita diagnóstica pode ser feita pelo optometrista por meio de biomicroscopia com lentes de 60 ou 90 Dioptrias (D). A tomografia de coerência óptica (OCT)e a ecografia ocular podem ser úteis para avaliar e diagnosticar a DVP. O descolamento da retina pode estar associado a um DVP. Para o diagnóstico diferencial deve-se levar em conta hemorragia vítrea, descolamento de retina e vitreorretinopatias inflamatórias. O exame da OCT , disponível em: https://bit.ly/3jtJhTJ Tratamentos/Encaminhamento Infelizmente, não existe tratamento para o DVP. Em pacientes com DVP associado à hemorragia vítrea e tração vitreorretiniana periférica aconselha-se a vigilância. Síndrome de Terson Definição A Síndrome de Terson (ST) possui esse nome porque em 1900, Terson descreveu casos de hemorragia vítrea em consequência de hemorragia subaracnoidea devido à ruptura espontânea de aneurisma cerebral. A ST consiste, portanto, numa associa- ção entre hemorragias retinianas e vítreas com hemorragias subaracnoide. Prevalência Geralmente, a ST manifesta-se de forma bilateral. Incidência da Síndrome de Terson foi de 29,4% e sua presença indicou alto risco de mortalidade (80% dos 19 UNIDADE Uveíte e Patologias do Vitreo casos com a síndrome de Terson). Estudos retrospectivos mostraram uma incidên- cia de 3-5% de pacientes com hemorragia vítrea e 20 – 40% de outros tipos de hemorragia intraocular. Causas Pode ocorrer após trauma, ou em casos de leucemia, sendo causado por um aumento súbito da pressão intracraniana, que consequentemente aumenta a pressão venosa que rompe os capilares peripapilares ou causa compressão da veia central da retina, o que resulta em diminuição da drenagem venosa retiniana, provocando a hemorragia. Sinais Clínicos/Características Os principais sinais clínicos são hemorragias pré-retinianas localizadas dentro das arcadas vasculares temporais ou na região peripapilar; hemorragias intrarretinianas ou subrretinianas espalhadas no fundo, frequentemente densas. Sintomas A ST manifesta-se com diminuição indolor da acuidade visual, fosfenos, manchas pretas, dores de cabeça, possível defeito pupilar aferente. Diagnóstico Pode ser realizado por tomografia computadorizada, a qual pode revelar hemor- ragia subaracnoidea (Figuras 8 e 9). Figura 8 – TC demonstrando sinais de hemorragia subaracnoide e hemorragia intraocular direita, como foco na porção posterior do globo ocular direito Fonte: FONSECA; ROSA JUNIOR, 2017 Figura 9 – TC mostrando hemorragia intraocular à esquerda Fonte: FONSECA; ROSA JUNIOR, 2017 20 21 Tratamentos/Encaminhamento Ao perceber sinais e sintomas da ST, o optometrista deve remeter o paciente ao oftalmologista para um possível tratamento com a realização de uma vitrectomia. A ob- servação de hemorragias intraoculares tem grande importância no prognóstico de vida. Tração Vitreorretiniana Trata-se de uma síndrome, também chamada de Síndrome de Dragagem Retiniana ou Síndrome de Adesão Vítrea, a qual se constitui num Descolamento Posterior do Vítreo (DVP) parcial, uma vez que apresenta adesões residuais do vítreo à mácula e ao lado do nervo ótico. A Síndrome da Tração Vitreorretiniana (STR) é uma força exercida sobre a retina por estruturas originadas no corpo vítreo, classificada em estática e dinâmica. A tra- ção dinâmica é provocada por movimentos oculares, os quais exercem uma força centrípeta no vítreo. Já a tração estática ocorre independentemente de qualquer movimento ocular. A STR pode ser vitreomacular, vítreo-ótica ou periférica. Vitreomacular, quando possui aparência de um anel elevado na área perifoveolar ou uma fixação do vítreo perimacular, causando um DVP parcial, podendo provocar estrias retinianas ou uma elevação macular. Vítreo-ótica, quando aparece um pseudoedema do disco ótico com uma área opacificada a margem do disco. Periférica, quando apresenta rasgos no formato de ferradura entre o equador e a margem posterior da base do vítreo e buracos periféricos na ora serrata. Na STR, o principal sintoma que o paciente reporta é perda gradativa de acuidade visual e metamorfopsia. O diagnóstico pode ser feito por meio de uma angiografia, que pode revelar efeitos da tração do vítreo. Figura 10 – Sinal da corcova de camelo Fonte: MARTINS et al., 2015 A imagem de tomografia de coerência óptica do olho direito mostra áreas de tração centrípeta na região macular, sugerindo o aparecimento de desco- lamento tracional de retina . 21 UNIDADE Uveíte e Patologias do Vitreo Hemorragia Vítrea A Hemorragia Vítrea (HV) é uma hemorragia dentro do vítreo (Figura 11). Ela pode ser definida como a presença de sangue extravasado no espaço delineado pela Membrana Limitante Interna (MLI) da retina posterior, o epitélio não pigmenta- do do corpo ciliar e as fibras zonulares do cristalino e a sua cápsula posterior. A HV pode ser unilateral ou bilateral. É rara em crianças e adolescentes. A Hemorragia Vítrea (HV) é uma das causas mais comuns de perda repentina de visão em adultos. As causas mais comuns de HV são traumas (cerca de 70%), certos tumores em casos pediátricos e condições congênitas. A causa mais comum de HV não traumática está relacionada com o Descolamento do Vítreo Posterior, com reti- nopatia diabética, retinopatia regressiva da prematuridade e trombose venosa. A suspeita patológica da HV pode ser feita pelo optometrista por meio da oftal- moscopia direta e da observação dos sinais intraoculares, devendo encaminhar o pa- ciente ao oftalmologista. O tratamento da HV não tem um bom prognóstico visual. A HV traumática em crianças pode levar à tração e ao descolamento de retina e à ambliopia por oclusão. Figura 11 - Hemorragia Vítrea Fonte: Reprodução Quais as causas da hemorragia vítrea? Disponível em: https://youtu.be/TJSvozesOdE 22 23 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos Uveíte – Inflamação Ocular https://youtu.be/fgTBHmi1-lU Hemorragia vítrea e vitrectomia https://youtu.be/_io6rk-vCTA Miodesopsias (Moscas Volantes) https://youtu.be/-YaEQo7E2AI Phosphene Hallucination Patterns https://youtu.be/GdMJSnBkdqU Leitura Descolamento do vitreo posterior https://bit.ly/2ZNKuNV 23 UNIDADE Uveíte e Patologias do Vitreo Referências ALHARKAN, D. H. et al. Vitreous hemorrhage in pediatric age group. Journal of Ophthalmology, 2014. DIMANTAS, M. A. P.; LOWDER, C.; MUCCIOLI, C.. Uveítes anteriores associadas a doenças sistêmicas. Arq Bras Oftalmol 2003; 66:235-8. DORION, T. Manual de exame do fundo de olho [tradução e revisão científica de João Alberto Holanda de Freitas]. Barueri: Malone, 2002. FONSECA, A. P. A.; ROSA JÚNIOR, M. 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