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LINGUAGEM E ORALIDADE Fabiana Claudia Viana Costa Dias Deseja ouvir este material? CONHECENDO A DISCIPLINA Caro aluno, seja bem-vindo à disciplina Linguagem e Oralidade! Vamos discutir como a oralidade se constitui nas nossas práticas sociais cotidianas a partir das diferentes situações de comunicação, nas variadas mídias, eletrônicas e impressas. As reflexões propostas perpassam os diferentes gêneros discursivos, quer sejam artístico-literários quer sejam textos para estudo e pesquisa ou, ainda, textos que circulam na vida pública. Assim, esta disciplina oferecerá subsídios para o seu trabalho na etapa inicial da educação básica, seja na atuação direta em sala de aula ou na gestão escolar. Na Unidade 1, intitulada Linguagem e oralidade, você terá acesso às diferentes concepções de linguagem e verá como a relação que estabelecemos com a linguagem não é mecânica, tampouco simples, mas acontece por identificação. Essas reflexões iniciais o ajudarão a entender as particularidades da oralidade e da escrita, assim como as influências de uma modalidade na outra, considerando que a oralidade é prática social que se apresenta a partir de diferentes gêneros textuais, inclusive os midiáticos. Nesta unidade, você também estudará as variedades linguísticas e como elas afetam o modo como falamos e escrevemos, bem como refletirá a respeito do preconceito linguístico que se instala a partir da identificação dos sujeitos com os diferentes modos de se produzir textos orais e escritos. Essas discussões serão estendidas até a Unidade 2, Oralidade, que tratará da definição de oralidade e apresentará os elementos fonéticos e fonológicos da língua e tudo o que constitui a oralidade: os marcadores conversacionais presentes na fala, as entonações, as repetições, as pausas e os truncamentos. Já na Unidade 3, Manifestação da oralidade, você terá acesso aos diferentes modos de comunicação, às diferentes mídias e, consequentemente, às diferentes linguagens presentes nos mais variados e múltiplos gêneros de discurso que circulam em nossa sociedade. A Unidade 4, Oralidade e ensino, será o canal para você relacionar todas as discussões propostas nas unidades anteriores às práticas de ensino, entendendo como a Base Nacional Comum Curricular e as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica consideram a oralidade para a formação da criança na prática social e na relação com o digital. CONCEPÇÕES DE LINGUAGEM Fabiana Claudia Viana Costa Dias IDENTIDADE Como a linguagem constrói nossa identidade? Fonte: Shutterstock. Deseja ouvir este material? CONVITE AO ESTUDO Nesta unidade, você entrará no universo da linguagem e terá um primeiro contato com algumas definições importantes; reconhecerá as diversas manifestações orais, enquanto práticas sociais, e refletirá a respeito de como a linguagem identifica o sujeito. O conhecimento da linguagem e da oralidade possibilitará a você uma reflexão a respeito das práticas de linguagem no cotidiano, nas interações face a face, por intermédio das diferentes mídias e nas práticas recorrentes na escola, seja pela relação professor/aluno, professor/instância de governança da educação ou professor/pais/família e comunidade. Assim, você conseguirá organizar práticas sociais de oralidade e reconhecer suas especificidades culturais e linguísticas por meio de diferentes mídias e suportes digitais. Na primeira seção, você conhecerá as concepções de linguagem que sustentam as discussões sobre linguagem oral e linguagem escrita na atualidade. Esse conhecimento o auxiliará, de forma coerente, no direcionamento do trabalho em sala de aula, pois, se você considera que a linguagem é, por exemplo, um processo de interação, uma prática que supervaloriza a norma gramatical passa a ser contraditória. Além disso, esse modo de considerar a linguagem também nos permite pensar a respeito dos processos de identificação, de como o modo como falamos e escrevemos diz sobre nós. As relações entre a oralidade e a escrita começarão a ser vistas na segunda seção desta unidade, tanto a “oposição” existente entre elas quanto a influência que a escrita sofre da oralidade. Uma das pretensões desta seção é desenvolver em você a capacidade de compreender a interface leitura/escrita a partir de momentos de expressão de sentimentos, ideias e criatividade para uma prática social interativa, bem como de construir caminhos teórico-práticos no processo de ensino e aprendizagem da oralidade, considerando diferentes mídias e suportes digitais para o desenvolvimento de habilidades orais de forma integral. Por isso, é aqui que você identificará como as chamadas novas mídias (redes sociais, blogs, podcasts, canais de vídeo e plataformas de EAD) utilizam os recursos orais, verbais e visuais a partir de diferentes gêneros discursivos em suas composições. Todas essas questões serão ainda mais importantes quando discutirmos os diferentes usos da linguagem a partir das variedades linguísticas. Na terceira seção você aprenderá sobre os tipos de variedades que temos na língua e ao que elas estão condicionadas – idade, gênero, guetos, regiões geográficas etc. POR DENTRO DA BNCC A BNCC apresenta dez competências gerais da educação básica e, entre elas, a competência quatro: “Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo” (BRASIL, 2017, p. 9). Para atingir essa competência, professores precisam ter acesso às diferentes concepções de linguagem e entender que a linguagem constrói a identidade. Os alunos, por sua vez, precisam entender que a linguagem é um ato que acontece no social, dentro de contextos específicos, a partir do uso dos mais variados gêneros textuais. O conhecimento das variedades linguísticas nos leva a entender que há diferentes modos de se falar e, com isso, combater o preconceito linguístico instalado em nossa sociedade. Desse modo, esta seção contribuirá para que você desenvolva a competência de identificar as variedades linguísticas e pensar em práticas educativas inclusivas, para as etapas da educação infantil e para os anos iniciais do ensino fundamental, que proporcionem o uso adequado dos diferentes gêneros orais sem preconceito linguístico. Vamos lá? PRATICAR PARA APRENDER Vamos dar início à primeira seção desta unidade. Você vai compreender o papel da linguagem e, sobretudo, da oralidade na comunicação humana. Atualmente, com o advento das novas mídias digitais, você já deve ter percebido que a linguagem toma as mais variadas formas: orais, escritas, imagéticas, em vídeos, mensagens de texto, áudios, memes, gifs. Diante dessa diversidade textual, o que é linguagem para você? Como podemos definir linguagem? Uma das definições para linguagem é entendê-la enquanto representação do pensamento, mas considerá-la assim é pressupor que conseguimos traduzir em palavras aquilo que pensamos e que conseguimos organizar, por meio da fala ou da escrita, o que está em nosso campo das ideias. E o que acontece, então, quando não conseguimos expressar o nosso pensamento? Você acha que é possível controlar isso pela linguagem? Veremos nesta seção. Outra definição, talvez a mais comum, é a linguagem como instrumento de comunicação. Pensar a linguagem enquanto instrumento é levar em conta que comunicar é a função primeira da linguagem, e se há comunicação, é porque há um emissor e um receptor que se revezam nesse processo. Como lidar, então, com os mal- entendidos causados pela linguagem em tantas situações de comunicação? Essa também é outra reflexão que desenvolveremos nesta seção. A outra concepção de linguagem que vamos apresentar nesta seção é a linguagem enquanto processode interação. Note que, nessa abordagem, a linguagem não se restringe a representar aquilo que pensamos e não é vista apenas como um instrumento do qual nos utilizamos para nos comunicar e passar uma mensagem com dada intenção. Considerar a linguagem enquanto interação é saber que a linguagem é ação, realiza coisas, produz efeitos sobre nós, sobre os outros e sobre o mundo. Todas essas concepções perpassam, de alguma maneira, a construção da identidade, que será um dos pontos aqui discutidos. A linguagem tem relação direta com a identidade, e aqui refletiremos sobre como essa relação acontece. Essas diferentes concepções de linguagem nos ajudam a entender o modo como a linguagem está em nós, como construímos o nosso dizer e como as “escolhas” linguísticas que fazemos em prol dos sentidos que desejamos atingir revelam muito sobre nós mesmos, identificando-nos. Volte à lembrança dos múltiplos textos que circulam atualmente em nossa sociedade; a familiaridade que você tem na produção de alguns deles e a dificuldade em relação a outros revelam uma identificação que vai além de simples escolhas e, muitas vezes, evidenciam toda uma relação sua com o aprendizado desses textos. Essa é uma das exemplificações de como conduziremos a discussão de identidade construída pela linguagem. Vamos pensar em uma situação-problema: você está participando de uma reunião pedagógica do segundo ano do Ensino Fundamental. Um professor relata uma prática pedagógica em que ele pede aos alunos que elaborem um registro oral de observação de um experimento científico realizado em sala para a troca de percepções e conhecimentos. Nesse relato, o professor afirma que os alunos não utilizam a linguagem oral de forma satisfatória, que se expressam mal e que precisam de mais atividades de reprodução de linguagem para melhorar o desempenho linguístico. O que você identifica como problema nesse relato? Que concepção de linguagem você acha que embasa esse professor? Quais questionamentos você pode fazer ao professor para instigá-lo a refletir sobre a linguagem que as crianças utilizam? Quais contribuições você pode trazer para o relato apresentado? Essas questões não precisam ser respondidas uma a uma necessariamente, mas são norteadoras, auxiliando-o na elaboração do seu percurso de reflexão sobre as concepções de linguagem. Venha reconhecer as diversas concepções de linguagem e manifestações orais que permeiam as práticas sociais no seu discurso, seja pelas atividades linguageiras cotidianas ou pelas atividades produzidas na escola, nas mais diferentes situações de aprendizagem, e entender como se dá a relação da linguagem com os processos de identificação. Bom estudo! CONCEITO-CHAVE Caro aluno, esta seção é o ponto de partida dos seus estudos sobre oralidade, já que conhecer e compreender um conceito tão importante para a sua prática pedagógica lhe dará acesso aos processos pelos quais os alunos usufruem da linguagem. Isso fará que você adote as estratégias e os recursos pedagógicos sustentados pelas ciências da educação que o auxiliarão no desenvolvimento dos saberes de forma coerente. Um dos resultados de aprendizagem esperados para esta unidade é o reconhecimento das diversas concepções de linguagem e manifestações orais que permeiam as práticas sociais no seu discurso e prática. É importante que você tenha clareza quanto à concepção de linguagem que vai embasar seu trabalho na escola, pois ela deve estar alinhada a suas perspectivas e práticas, evitando, assim, incoerências entre sua teoria e sua prática pedagógica. Vários autores contemporâneos apresentam concepções de linguagem, e três possibilidades de conceber a linguagem aparecem nos estudos da grande maioria deles: linguagem como forma de expressão do pensamento, linguagem como instrumento de comunicação e linguagem como forma de interação. Travaglia (2001), professor e pesquisador da Universidade Federal de Uberlândia, é um desses autores. Vamos, então, conhecer as concepções de linguagem. LINGUAGEM COMO EXPRESSÃO DO PENSAMENTO A primeira concepção que vamos apresentar é a que considera a linguagem como expressão do pensamento. Travaglia (2001) afirma que adotar essa concepção é adotar também a ideia de que as pessoas não se expressam bem porque não pensam bem. Se você considera que a expressão se constrói no interior da mente e sua exteriorização é apenas uma tradução, você se embasa na linguagem como representação do pensamento. Aceitar que a linguagem representa o pensamento, segundo o autor, é aceitar que a organização do pensamento de maneira lógica garante-nos a exteriorização desse pensamento de forma também organizada e adequada. Geraldi (2002a), outro pesquisador da linguagem e do ensino, segue com seus estudos na mesma direção e complementa que essa concepção é a que sustenta os estudos tradicionais, que reforçam a relação da impossibilidade de se expressar com o não pensar. ASSIMILE Na concepção de linguagem como forma de expressão do pensamento, o sujeito é o senhor absoluto do seu dizer e precisa seguir à risca as regras da gramática normativa. A escrita é o modelo para o bem falar, e exercícios de repetição ajudariam nesse processo. Perceba o quanto é arriscado você considerar a linguagem como expressão do pensamento. Partilhar dessa concepção é atribuir aos que “se expressam mal” um problema no seu próprio pensar, de modo que toda a responsabilidade sobre os dizeres recai naquele que diz, como se fosse um ato monológico, individual, que não é afetado pelo outro nem pela situação, explica-nos Travaglia (2001). Aqui, a produção do texto não tem relação alguma com o contexto em que ele é apresentado tampouco para quem ele é dirigido. Para esses autores, o ensino tradicional que se sustenta na chamada gramática normativa, que traz as normas do bem falar e do bem escrever atreladas às normas do bem pensar, constrói-se a partir dessa concepção de linguagem. LINGUAGEM COMO INSTRUMENTO DE COMUNICAÇÃO Outra maneira de se conceber a linguagem é pensá-la como instrumento de comunicação. Você já deve ter visto em etapas anteriores da sua educação – seja para estudar as chamadas funções de linguagem ou a teoria da comunicação – o esquema de comunicação desenvolvido pelo linguista russo Roman Jakobson, que trazia como partes constituintes da comunicação um receptor e um emissor, que transmite determinada mensagem por um canal específico, numa dada língua, sobre um referente qualquer. Esse esquema estrutural é o grande norteador dessa concepção que estamos apresentando. Geraldi (2002a) defende que essa concepção considera a língua como um código, organizado por regras, a fim de que o emissor transmita uma mensagem ao receptor tendo como objetivo a comunicação. Perceba que, se há uma transmissão de informações, as regras precisam ser preestabelecidas, seguidas à risca, para que a comunicação se efetive. Por isso, complementa Travaglia (2001), esse código, que é a língua, deve ser conhecido pelos falantes, deve ser utilizado de maneira semelhante, pois se trata de um ato social. Se para você a linguagem é instrumento de comunicação, então você considera a língua de forma isolada, sem levar em conta os interlocutores e a situação de uso, desconsiderando o falante no processo de produção da linguagem e separando o homem do contexto social (TRAVAGLIA, 2001). Consegue perceber como é a língua o ponto central nessa concepção? ASSIMILE A concepção de linguagem como instrumento de comunicação considera que a linguagem serve apenas para transmitir mensagens, sem levar em conta o contexto de sua produção, obedecendo a um esquema prévio de comunicação: alguém que fala algo, numa dada língua, para alguém que decodifica. Quem considera que a linguagem não apenas verbaliza as nossas ideias nem apenas exterioriza o pensamento, e que o falante faz mais que usar a língua na produção da linguagem, transmitindo informações, pode identificar-secom a terceira concepção. Você entenderá, na terceira concepção, como a prática de linguagem é complexa, é ação, é o lugar da interação humana. LINGUAGEM COMO INTERAÇÃO Nessa concepção, a linguagem é forma de interação, e nós praticamos ações que são possíveis somente pela linguagem: firmamos compromissos e vínculos que, sem a fala, não se concretizam, reforça Geraldi (2002a). A linguagem é, então, lugar de interação humana, complementa, ainda, Travaglia (2001), e produz efeitos de sentidos entre os locutores. Várias são as ciências da linguagem que sustentam seus estudos nessa concepção, entre elas, a linguística textual, a análise da conversação, a análise do discurso e a semântica argumentativa. ASSIMILE Na concepção de linguagem como forma de interação, a linguagem é interação humana no social. A linguagem é ação, e o contexto e a situação são levados em conta na produção de sentidos. O modo como a linguagem é articulada na fala ou na escrita produz sentidos sobre quem escreve, é fruto da identificação do sujeito com a língua. Não conseguimos desprender a linguagem de quem a utiliza. Outro autor que também compartilha desse posicionamento é Maurizio Gnerre (2009); ele reafirma que a linguagem não serve apenas para veicular informações, mas que essa é apenas uma função entre outras. REFLITA Você acha que práticas pedagógicas pautadas na concepção de linguagem como forma de interação, que não coloca a gramática normativa como ponto máximo de aprendizagem, conseguem promover um conhecimento da língua que dê conta das manifestações da linguagem no social? Há, nas reflexões postas por esse autor, um ponto bastante importante: o poder da linguagem! “A começar do nível mais elementar de relações com o poder, a linguagem constitui o arame farpado mais poderoso para bloquear o acesso ao poder” (GNERRE, 2009, p. 22). Essa afirmação clássica em seu livro Linguagem, escrita e poder, que será referência também em outras unidades deste livro, nos dá respaldo para dizer que a relação dos falantes com a linguagem não é mecânica, tampouco gratuita. As pessoas falam pelos mais variados propósitos, para serem ouvidas, exercer influência, e sempre haverá uma relação de “poder dizer” nos atos linguísticos. LINGUAGEM E RELAÇÃO DE PODER Vamos exemplificar a relação de poder com um texto literário bastante pertinente. Você já ouviu falar de Guimarães Rosa? Trata-se de um grande escritor brasileiro que escreveu vários contos, romances e novelas. Um de seus contos mais conhecidos é o Famigerado, que faz parte de uma coletânea de contos do livro Pequenas estórias. Esse conto narra a história de um jagunço que foi chamado de “famigerado” por um homem do governo. Sem entender o significado da palavra, o jagunço procurou uma pessoa instruída para ter certeza de que não se tratava de um xingamento. Ele mantinha o homem do governo preso e estava disposto a matá-lo, caso o sentido de famigerado fosse ofensivo. Percebendo a situação e o risco que corria o “refém”, o homem se utilizou de alguns dos sentidos possíveis para a palavra famigerado e revelou ser “célebre”, “notório”, “notável”. Essa revelação resultou na soltura do homem do governo, preservando-lhe a vida. Você reparou que os sentidos não estão colados às palavras, mas dependem de seus usos e são determinados socio, histórico e ideologicamente? Orlandi (2013) afirma que as palavras podem ter vários sentidos — a explicação sobre famigerado no texto nos mostra isso —, mas o sentido único e literal é uma ilusão até necessária para produzirmos o nosso dizer. Quando lemos o conto Famigerado de Guimarães Rosa, percebemos o poder da linguagem e reforçamos todas as reflexões propostas pelos autores citados (Gnerre, Geraldi, Travaglia) ao afirmarem o caráter interativo da linguagem. O conto ilustra bem o fato de a linguagem ser ação: com a linguagem, fazemos coisas, salvamos vidas, decretamos a morte de alguém, induzimos tomadas de decisões, algumas vezes irreversíveis. Com base nas três concepções, você já deve ter entendido que linguagem é interação e pressupõe uma relação de poder. Para suas práticas pedagógicas, não dá para considerar a linguagem de forma reduzida, como transmissão de pensamento ou informação nem mera comunicação. EXEMPLIFICANDO Em uma atividade de planejamento e produção de legendas para álbuns, fotos ou ilustrações digitais ou impressas, com colaboração dos colegas e apoio do professor, que considera a linguagem forma de expressão do pensamento, qualquer sugestão de texto feita pelo aluno que fuja à norma padrão é considerada errada e precisa ser reformulada, geralmente pelo professor. Com isso, a identidade da criança vai se ajustando ao que é desejado e esperado pelo professor. Quando a concepção de linguagem como instrumento de comunicação embasa a atividade de identificar e reproduzir textos de campanha de conscientização destinados ao público infantil, há um modelo a ser seguido, a fim de que a mensagem seja transmitida e toda a avaliação seja baseada no modelo predeterminado. A criança precisa identificar-se com o modelo imposto. Em uma prática pedagógica sustentada pela concepção de linguagem como forma de interação, no momento da produção de cartazes e folhetos para a divulgação de eventos da escola ou da comunidade, a avaliação acontece a partir de critérios de adequado e inadequado, e não de certo ou errado, considerando-se o gênero textual, o contexto de produção e a circulação do cartaz ou folheto. A identidade dos alunos não é anulada em prol de regras linguísticas. IDENTIDADE Desde a primeira etapa da Educação Básica, que é a Educação Infantil, a interação se faz presente; as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil, DCNEI (BRASIL, 2009), em seu Artigo 9°, apresenta as interações e as brincadeiras como eixos estruturantes da Educação Infantil. A interação, nessa etapa, proporciona a aprendizagem e é um sinalizador para a elaboração das práticas pedagógicas, por isso é importante que você se aproprie de novos conhecimentos e novas experiências para aperfeiçoar seu exercício profissional. Essa apropriação de conhecimento, assim como a apropriação da linguagem, acontece por meio da identidade. Como você pensa essa identidade? Por que nos identificamos com alguns sentidos e rejeitamos outros? Por que preferimos uns conteúdos curriculares a outros? Você acha que essas escolhas são da ordem da vontade? Que papel tem a escola na construção da identidade? Agora, vamos refletir sobre como a linguagem constrói a identidade sem deixarmos de fora a influência da escola nesse processo. Tagliani (2011), por exemplo, afirma que a escola é um importante espaço para o desenvolvimento de habilidades, mas que nem sempre as capacidades previstas são desenvolvidas: A busca por melhores condições de vida e cidadania leva os indivíduos a procurar, cada vez mais, qualificação e capacitação em diferentes aéreas do conhecimento. A principal forma de desenvolvimento de habilidades é o ingresso na escola. Porém, o que se percebe, principalmente com relação ao desenvolvimento de habilidades linguísticas, é que o indivíduo, após ingressar na escola, não desenvolve sua capacidade comunicativa e interacional de forma efetiva. (TAGLIANI, 2011, p. 47) Essa citação pode provocar em nós outras questões: por que uns falam de uma maneira e outros de outra? Por que uns aprendem as regras da língua e outros não, mesmo frequentando a escola? Com base em um livro indispensável para discutirmos linguagem, Portos de passagem, de João Wanderley Geraldi (2002b), convidamos você a pensar na linguagem a partir do processo interlocutivo e, por conseguinte, do processo educacional. Já é sabido por você que os sujeitos se constituem pela linguagem e de maneiras distintas, e considerar essa premissa é poder afirmar, a partir desse autor, que a língua não está pronta, como uma ferramenta que o sujeito se apropria para interagir. Ao contrário,a interação reconstrói a língua e também os sujeitos. Perceba que nem língua, nem sujeitos, nem sentidos estão prontos e acabados, mas são ressignificados pelos processos interlocutivos, em um contexto socio, histórico e ideológico, como vimos no conto de Guimarães Rosa ou como citado nas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil, que dão destaque para a interação como um dos eixos estruturantes para se pensar a criança na escola. FOCO NA BNCC Ao conhecer as diferentes concepções de linguagem, você desenvolve a habilidade de analisar, de forma crítica, essas concepções que norteiam textos científicos atuais e documentos educacionais, bem como, consequentemente, atinge o resultado de aprendizagem que desenvolve a competência de reconhecer as diversas concepções de linguagem e manifestações orais que permeiam as práticas sociais no seu discurso. O estudo da linguagem como construção da identidade desenvolve em nós a habilidade de selecionarmos e promovermos práticas pedagógicas que promovam a aprendizagem dos alunos de forma inclusiva, significativa e colaborativa. Chamamos sua atenção também para outro ponto que Geraldi (2002b) destaca: as interações são acontecimentos singulares, que ocorrem em contextos específicos e, por isso, sofrem os controles e as seleções impostas por esses contextos, ao mesmo tempo que produzem novos. Outra autora que traz uma importante afirmação acerca da linguagem que podemos relacionar com o ensino é Orlandi (2013). Para ela, “[...] a linguagem não pode ser pensada apenas como conteúdo, mas como matéria estruturante do saber, dos sujeitos, dos sentidos” (ORLANDI, 2013, p. 267). Você pode verificar, a partir disso, que a linguagem está em tudo e é por meio da linguagem que todo o saber, todos os sujeitos participantes dos atos linguísticos na escola — professores, alunos, gestão, comunidade — e todos os sentidos se estruturam. Para você compreender melhor o funcionamento da linguagem nessa perspectiva interacionista e perceber como a linguagem afeta a construção da identidade, relembre algumas situações em que “escolhemos” modos de falar, conteúdos e sentidos dentro de contextos específicos. Imagine alguns conflitos nas interações no contexto escolar. Para resolver esses conflitos, você se utiliza da linguagem, mas o modo como isso é feito depende de vários fatores que passam pela relação entre os sujeitos em situações específicas. Por exemplo: é um conflito gerado em uma reunião com a equipe gestora? É uma interação na brincadeira no parque da escola entre crianças de mesma faixa etária? É uma discordância na relação com pais ou a comunidade? Perceba que todas essas situações hipotéticas que elencamos acontecem na escola, e isso é levado em consideração quando produzimos linguagem, ou seja, a instituição onde o dizer é produzido direciona o nosso dizer, determina, em certa medida, o que dizemos e como dizemos; trata-se de uma relação de poder. Como bem coloca Geraldi (2002b, p. 10): “se falar fosse simplesmente apropriar-se de um sistema de expressões pronto, entendendo-se a língua como um código disponível, não haveria construção de sentidos [...], se a cada fala construíssemos um sistema de expressões, não haveria história”. Diante dessas colocações, não é possível pensar que a identidade linguística é uma mera questão de escolha do sujeito, tampouco algo fixo e estável. Assim, a construção da identidade linguística depende do que entendemos dos contextos em que os diálogos ocorrem, isto é, retomando o exemplo mostrado há pouco, o que criança, gestão, pais trazem de sentidos para nós determina o modo como produzimos o nosso dizer. Por exemplo, o que sabemos sobre escola, criança, limites e regras retorna na nossa fala quando buscamos solucionar conflitos no parque; o que sabemos sobre hierarquia, respeito, convívio social retorna no momento em que vamos esclarecer algo em uma reunião com a coordenação ou com os pais. Nós não controlamos totalmente essas escolhas, assim como elas não são neutras. Se não há neutralidade no dizer e não escolhemos livremente o que dizemos, como a linguagem constrói a nossa identidade? Como a linguagem nos constitui? Para tentar responder a essas questões, apresentamos a autora Coracini (2007), que discute a linguagem numa outra perspectiva, também relevante para nós. Ela reforça que a linguagem nos constitui e diz, ainda, que é a linguagem que nos dá um lugar na sociedade. Podemos concluir que a linguagem constrói a nossa identidade pela língua que falamos, a língua com a qual nos identificamos, logo, a relação da linguagem com a língua é indissolúvel. Se partimos do pressuposto de que a língua constrói identidade, é heterogênea e mutável, então o mesmo é válido para pensar a identidade: ela não é fixa, não é estável e é múltipla. Em relação a isso, Orlandi (1998) reforça que não há identidades fixas, pois a identidade se transforma; ela ainda acrescenta que identidade não se aprende, e a ação de corrigir o aluno em sala de aula intervém nos sentidos que esse aluno está produzindo e, consequentemente, na constituição de sua identidade. Diante disso, como você se identifica com algo? Por que determinados sentidos soam familiares para você e outros não? Essa mesma autora explica que a identificação acontece pela memória de sentidos que temos: Identificamo-nos com certas idéias, com certos assuntos, com certas afirmações porque temos a sensação de que elas “batem” com algo que temos em nós. Ora, este algo é o que chamamos de interdiscurso, o saber discursivo, a memória dos sentidos que foram-se constituindo em nossa relação com a linguagem. (ORLANDI, 1998, p. 206) Com base nas afirmações dessa autora, você pode começar a relacionar identidade com ensino, pensando a identidade linguística. O aluno que melhor se adapta à escola é aquele que se identifica com os conteúdos que a escola transmite, que se identifica com a língua formal, e essa visão ultrapassa os muros escolares. Você já deve ter ouvido vários julgamentos em relação ao modo de falar de alguém que está distante da chamada norma culta. Esses julgamentos vêm da ideia simplista de que quem não aprendeu, não se empenhou o suficiente para isso ou, absurdamente, não possui competência para aprender, como se a língua funcionasse sozinha, fora do sujeito que fala. Caminhando para a conclusão dessas reflexões, retomamos duas autoras, Orlandi (2013) e Coracini (2007), já citadas nesta seção, que nos fazem repensar a função da linguagem em nosso cotidiano e o quanto a escola afeta nossa relação de identidade com a língua. Coracini (2007) atesta que a escola ensina formas, ensina uma língua que pouco tem a ver com o aluno, mas quer que ele a domine, silenciando ou anulando outras identidades; Orlandi (2013) sustenta que aquilo que o aluno não aprende, não faz sentido na história dele, está fora de seu discurso, apagado, silenciado, bem como acrescenta que é preciso conhecer a história do sujeito e da língua na produção do conhecimento do sujeito sobre a língua. Nesta seção, você teve a oportunidade de conhecer as concepções de linguagem que permeiam os estudos linguísticos na atualidade. Teve acesso, também, ao modo como a linguagem se constitui e constitui os sujeitos falantes na relação com o social. Por fim, você pôde, ainda, refletir acerca da linguagem e de como a identidade linguística, por meio da língua, faz significar aqueles que a utilizam, dentro e fora da escola. FAÇA VALER A PENA Questão 1 As concepções de linguagem e de língua que os professores trazem precisam estar em consonância com a sua prática pedagógica; daí emerge toda a importância de se estudar as diferentes concepções de linguagem e de língua que temos na atualidade. Autores como Luiz Carlos Travaglia e João Wanderley Geraldi, entre outros, apresentam importantes discussões sobre o modo como a linguagem pode ser concebida e, consequentemente, trabalhada em sala de aula. Considerandoas concepções de linguagem discutidas por esses autores, associe as definições apresentadas na coluna A às respectivas concepções apresentadas na coluna B. COLUNA A I. Essa concepção de linguagem está contida na LDB n. 5692/71, que passa a nortear o ensino de LP a partir da década de 70. [...] Além disso, a linguagem é tomada como pronta e acabada, exterior ao indivíduo. A língua é estudada isolada do seu uso, sem considerar os interlocutores, a situação e o momento histórico. É uma visão de língua inseparável de sua forma. (DORETTO; BELOTI, 2011, p. 95) COLUNA A II. É na LDB n. 9394/96 que essa nova vertente se consolida e se oficializa. Esse documento não bane a gramática, o conhecimento das normas que regem a Língua Portuguesa, mas defende que haja condições para que todos os estudantes tenham oportunidade de aproximação e apropriação da norma culta da língua. (...). O indivíduo realiza ações, atua sobre o interlocutor. Considera-se os contextos social, histórico e ideológico. (DORETTO; BELOTI, 2011, p. 96) III. “[...] a linguagem está associada à constituição de um sujeito único, centro e controlador de todo o dizer [...]. Acreditamos que essa concepção não contemple todas as características da língua, pois está associada ao subjetivismo psicológico, que pressupõe um mundo criado a partir de uma consciência autônoma, de um único sujeito detentor de todo o conhecimento”. (DORETTO; BELOTI, 2011, p. 93) a. I–2; II–1; III–3. b. I–2; II–3; III–1. c. I–1; II–2; III–3. d. I–3; II–1; III–2. e. I–3; II–2: III–1. Questão 2 Ao descrever a área de linguagens, a Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2017, p. 63), afirma que: As atividades humanas realizam-se nas práticas sociais, mediadas por diferentes linguagens [...]. Por meio dessas práticas, as pessoas interagem consigo mesmas e com os outros, constituindo-se como sujeitos sociais. Nessas interações, estão imbricados conhecimentos, atitudes e valores culturais, morais e éticos. A afirmação trazida pela BNCC nos permite verificar que esse documento considera a linguagem como processo de interação. Partindo desse pressuposto e considerando as reflexões estudadas acerca da concepção de linguagem como processo de interação, avalie as afirmativas a seguir: I. A linguagem como interação humana pressupõe a transmissão de uma mensagem de um locutor a um receptor. II. Pela concepção interacionista a linguagem é ação e nos permite praticar coisas que só são possíveis por intermédio da própria linguagem. III. Para a concepção de linguagem como processo de interação, não somente quem fala é o responsável pelo sentido, mas também os interlocutores e o contexto da fala afetam os sentidos. IV. A língua, na concepção de linguagem como processo de interação, é um código, com regras preestabelecidas que norteiam a comunicação humana. Considerando o contexto apresentado, assinale a alternativa correta. a. Apenas as afirmativas I, II e III estão corretas. b. Apenas as afirmativas I, II e IV estão corretas. c. Apenas as afirmativas II e IV estão corretas. d. Apenas as afirmativas III e IV estão corretas. https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s1.html#accordion-1%20.item-1 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s1.html#accordion-1%20.item-2 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s1.html#accordion-1%20.item-3 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s1.html#accordion-1%20.item-4 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s1.html#accordion-1%20.item-5 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s1.html#accordion-2%20.item-1 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s1.html#accordion-2%20.item-2 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s1.html#accordion-2%20.item-3 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s1.html#accordion-2%20.item-4 e. Apenas as afirmativas II e III estão corretas. Questão 3 Os documentos oficiais de educação trazem em seu bojo concepção de linguagem para direcionar todo o trabalho em sala de aula. A BNCC também propõe que a prática pedagógica, a partir das habilidades e competências, seja coerente com a concepção adotada por esse documento. Com base nas concepções de linguagem, avalie as seguintes asserções e a relação proposta entre elas. I. Uma das habilidades propostas pela BNCC para o ensino de Língua Portuguesa do 1° ao 5° ano é o planejamento de um texto que será produzido levando-se em consideração a situação comunicativa, os interlocutores, a finalidade do texto, onde esse texto irá circular, por qual meio e sua linguagem. Essa habilidade está pautada na concepção de linguagem como instrumento de comunicação. PORQUE II. A concepção de linguagem como instrumento de comunicação pressupõe um emissor e receptor, a partir de regras da língua, com o objetivo de se comunicarem. Essa regra precisa ser de conhecimento de todos os envolvidos na comunicação para ser usada de forma semelhante, pois estamos falando de um ato social. A respeito dessas asserções, assinale a alternativa correta. a. A asserção I é uma proposição falsa e a II é uma proposição verdadeira. b. As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa da I. c. A asserção I é uma proposição verdadeira e a II é uma proposição falsa. d. As asserções I e II são proposições verdadeiras e a II é uma justificativa da I. e. As asserções I e II são proposições falsas. REFERÊNCIAS BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2017. Disponível em: https://bit.ly/2HCQtyn. Acesso em: 19 jun. 2020. BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Resolução nº 5, de 17 de dezembro de 2009. Fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Brasília, DF, 2009. Disponível em: https://bit.ly/3e0pWXQ. Acesso em: 20 jun. 2020. CORACINI, M. J. Nossa língua: materna ou madrasta? – Linguagem, discurso e identidade. In: CORACINI, M. J. A celebração do outro: arquivo, memória e identidade - https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s1.html#accordion-2%20.item-5 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s1.html#accordion-3%20.item-1 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s1.html#accordion-3%20.item-2 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s1.html#accordion-3%20.item-3 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s1.html#accordion-3%20.item-4 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s1.html#accordion-3%20.item-5 https://bit.ly/2HCQtyn https://bit.ly/3e0pWXQ línguas (materna e estrangeira), plurilinguismo e tradução. Campinas: Mercado de Letras, 2007. DORETTO, S. A.; BELOTI, A. Concepções de linguagem e conceitos correlatos: a influência no trato da língua e da linguagem. Revista Encontros de Vista, [S.l.], v. 8, p. 89-103, 2011. GERALDI, J. W. Concepções de linguagem e ensino de português. In: GERALDI, J. W. O texto na sala de aula. 3. ed. São Paulo: Ática, 2002a. GERALDI, J. W. Portos de passagem. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002b. GNERRE, M. Linguagem, escrita e poder. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2009. ORLANDI, E. Identidade linguística escolar. In: SIGNORINI, I. (Org.) Língua(gem) e identidade:elementos para discussão no campo aplicado. Campinas: Mercado de Letras; São Paulo: Fapesp, 1998. ORLANDI, E. Língua e conhecimento linguístico: para uma história das ideias no Brasil. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2013. TAGLIANI, D. C. Ensino de Língua Portuguesa, livro didático e gêneros discursivos. In: TAGLIANI, D. C. (Org.). Multiação: pensando o ensino de língua portuguesa. Jundiaí: Paco Editorial, 2011. TRAVAGLIA, L. C. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática no 1° e 2° graus. 6. ed. São Paulo: Cortez Editora, 2001. CONCEPÇÕES DE LINGUAGEM Fabiana Claudia Viana Costa Dias A INFLUÊNCIA DAS CONCEPÇÕES DE LINGUAGEM NA PRÁTICA PDAGÓGICA Qual é a concepção de linguagem do professor? Fonte: Shutterstock. Deseja ouvir este material? SEM MEDO DE ERRAR As reuniões pedagógicas são espaços de troca de experiências e de reflexão sobre as práticas docentes. Em um relato de prática pedagógica, um professor afirma que os alunos não utilizam a linguagem oral de forma satisfatória, que se expressam mal e que precisam de mais atividades de reprodução de linguagem para melhorar o desempenho linguístico. O que você identifica como problema nesse relato? A situação-problema descrita permite pensar como a concepção de linguagem que o professor adota em sala direciona todo o trabalho realizado. No relato apresentado, o professor considera a linguagem uma representação do pensamento, pauta-se em certo e errado e faz um julgamento acirrado em relação à fala dos alunos. Despertar nesse professor um olhar crítico em relação à linguagem pode levá-lo a repensar como as crianças se apropriam da linguagem oral e como a linguagem marca a identidade de quem fala. Você pode elaborar sua argumentação partindo da discussão de que a linguagem, conforme vimos nesta seção, não é mera representação do pensamento, e que elaborar atividades de repetição em nada auxilia na melhora da fala. Vale acrescentar a essa situação que a apropriação da linguagem “adequada” acontece por identificação, e a criança (ou o jovem ou o adulto) precisa se reconhecer naquele modo de falar para que o processo faça sentido a ela, de modo que a aprendizagem, de fato, aconteça. Ao traçar seu percurso argumentativo dessa maneira, você analisa de forma crítica as concepções sobre linguagem e oralidade presentes nos documentos educacionais e nos textos científicos, que podem até ser retomados na discussão. As práticas de sala de aula precisam ser inclusivas, e a inclusão também deve ser linguística. É obrigação da escola acolher os diferentes modos de falar que chegam à escola, erradicar qualquer preconceito linguístico que possa existir e entender que a linguagem é um processo interativo que não depende apenas do sujeito que fala. AVANÇANDO NA PRÁTICA AS CONCEPÇÕES DE LINGUAGEM E A PRÁTICA DA CORREÇÃO Em uma reunião pedagógica, um professor expõe que aceita todos os tipos de falares em sala de aula, que é preciso respeitar os modos de falar de cada um e que a fala representa a identidade dos alunos. Acrescenta, ainda, que, em uma atividade de recontagem de histórias, ele não corrige a criança, pois não há um único modo de falar, o importante é que haja comunicação. Nessa discussão, há professores que discordam e afirmam que corrigem os alunos durante a produção oral, no momento da aula, pois há normas linguísticas que precisam ser seguidas; outros professores apresentam dúvidas sobre o fato de não haver correção e questionam o aprendizado das crianças. Perceba que as dúvidas são recorrentes e que a concepção de linguagem é determinante para o direcionamento do trabalho em sala de aula. Como ensinar? Como avaliar? Deve-se corrigir? Essas são algumas dúvidas apresentadas pelos professores. Considerando os autores que vimos nesta seção e as reflexões propostas nesta etapa, quais argumentos você pode utilizar para evidenciar o seu ponto de vista sobre essa discussão linguística das práticas desenvolvidas em sala de aula? RESOLUÇÃO RELAÇÕES ENTRE ORALIDADE E ESCRITA Fabiana Costa Dias PRÁTICA SOCIAL DE LINGUAGEM Enquanto prática social interativa, a oralidade se apresenta sob várias formas de gêneros textuais. Fonte: Shutterstock. Deseja ouvir este material? https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/fmt_u1s1.html#resolucao%20.item-1 PRATICAR PARA APRENDER Caro aluno, nesta seção discutiremos questões relevantes sobre a oralidade e sua relação com a escrita. Você deve se lembrar das concepções de linguagem que estudamos anteriormente e como a linguagem constrói a nossa identidade. Uma das concepções que vimos foi a linguagem enquanto processo de interação. Você perceberá, nesta seção, que essa é a concepção que embasará nossas futuras discussões, pois a oralidade é vista aqui como prática social interativa. E como a oralidade se manifesta? Esse é um ponto nada trivial para pensarmos como os atos de linguagem oral acontecem no social. A oralidade se apresenta sob vários gêneros textuais, dentro e fora da escola, e é a partir deles que estudaremos a oralidade e a sua relação com a escrita. Se consideramos que a linguagem acontece por meio dos gêneros textuais, não podemos deixar de fora as novas mídias e o modo como nos relacionamos com elas na produção de textos orais. Computadores, celulares, tablets e afins nos acompanham, assim como os alunos do Ensino Fundamental, em muitos afazeres diários, seja nos estudos, no trabalho ou no lazer; então, precisa fazer parte do cotidiano escolar pensar em textos orais que circulam por esses dispositivos, permeados por mídias multimodais, que mesclam recursos orais, verbais e visuais. E quais textos orais são produzidos nessas e por essas novas mídias? Esta seção permitirá que você reflita sobre a produção de gêneros textuais também nos espaços midiáticos, observando que há fatores determinantes no modo como os textos são produzidos, por exemplo quem elabora, onde circula e quem é o ouvinte esperado. Você verá, também, que pensar a oposição oralidade/escrita é insuficiente para analisarmos como essas modalidades funcionam nas práticas de sala de aula e, também, sociais. Será que é possível – e suficiente – considerarmos que a linguagem é oral ou escrita? Como as diferentes manifestações de oralidade nos permitem pensar que lidamos com várias oralidades nos diferentes suportes, midiáticos ou não? Responderemos juntos a essas perguntas. Bom estudo! Sabemos que a oralidade na escola nem sempre ocupa um lugar de destaque e, muitas vezes, é considerada uma modalidade menor, que funciona como prévia para atividades escritas. Dadas essas informações, imagine que você esteja participando de uma reunião com a equipe gestora da escola, junto a outros professores, e a coordenação pedagógica expõe que um pai de aluno solicitou uma conversa para relatar que algumas das aulas eram apenas de bate-papo, sem o cumprimento do conteúdo, pois não encontrava registros escritos do que havia sido ministrado. Alguns professores, frente a essa colocação, posicionaram-se dizendo que priorizavam a escrita em detrimento das atividades de oralidade e que, mesmo após a leitura de uma obra literária na Educação Infantil, era pedido um desenho como registro da atividade oral. Outros disseram que a oralidade gerava indisciplina e era de difícil controle na troca de turnos da conversa, por isso quase não realizavam atividades de oralidade em sala de aula. Outros, ainda, do Ensino Fundamental, afirmaram que todas as semanas executavam atividades orais nas aulas: os alunos liam em voz alta algum texto ou cantavam uma música. A coordenadora solicitou que você se posicionasse frente a esse relato. Quais argumentos você utilizaria para defender o seu ponto de vista? Como a fala dos colegas pode servir de subsídio para o seu posicionamento? Sustente seus argumentos em evidências científicas atuais, estudadas nesta seção,advindas de áreas de conhecimento que favorecem o processo de ensino e aprendizagem da oralidade. Esta seção permitirá que você adquira subsídios para planejar práticas pedagógicas de oralidade e construa argumentos para discutir com colegas sobre as práticas da linguagem oral na escola e fora dela, a partir de estudiosos sobre oralidade na atualidade. Bons estudos! CONCEITO-CHAVE Caro aluno, após conhecermos as concepções de linguagem, refletiremos sobre as relações existentes entre a oralidade e a escrita e verificaremos como as novas mídias afetam a nossa produção linguageira social. Você já deve ter ouvido falar da influência da oralidade nos textos escritos, e é por essa reflexão que começaremos. Como essa influência acontece? A oralidade oferece recursos para o texto escrito? A oralidade aparece por meio de marcas indevidas na escrita? Para começarmos a responder a essas questões e elaborarmos outras, vamos nos embasar nos estudos de Bernard Schneuwly e Joaquim Dolz. Esses autores são professores e pesquisadores da Universidade de Genebra, na Suíça, e grandes estudiosos do ensino da linguagem oral e escrita; além deles, citaremos duas pesquisadoras brasileiras, Roxane Rojo e Glaís Sales Cordeiro, que traduziram para o português alguns textos de bastante importância para essa área, os quais foram reunidos em um livro referência para a formação de professores e concursos: Gêneros orais e escritos na escola, de 2004. Esse livro constitui uma das bases desta seção. PRÁTICA SOCIAL DE LINGUAGEM Schneuwly (2004) afirma que a relação entre a oralidade e a escrita acontece de maneiras muito diversas. Um texto oral, para ele, pode estar bem próximo da escrita, como acontece com as exposições orais e os teatros, ou pode estar distante, como os debates e as conversas cotidianas. Assim, você pode perceber que não há uma única forma de pensar a oralidade. Inclusive, esse autor afirma que não existe o “oral”, mas os “orais”. REFLITA As atividades de oralidade ocupam qual lugar na escola nos anos iniciais? Há atividades que são exclusivamente orais na escola ou elas servem como pano de fundo para as atividades escritas? Se Schneuwly (2004) afirma que não há “oral”, mas “orais”, como opor oralidade e escrita? Dadas essas colocações, você já deve ter observado que falar de oralidade é falar de prática social de linguagem, que se constrói no momento dessas práticas e se reorganiza também por elas. Enquanto prática social interativa, a oralidade se apresenta sob várias formas de gêneros textuais. Na escola, por exemplo, escutar a fala de professores e de colegas, respeitando o turno de fala e observando os elementos não linguísticos presentes nesse ato de linguagem, como gestos, movimentos, expressão corporal e tom de voz; escutar apresentações de trabalhos realizados pelos colegas, elaborando perguntas; expor trabalhos ou pesquisas em sala de aula. No cotidiano social, temos a conversação espontânea, a conversação telefônica, as entrevistas pessoais, as entrevistas no rádio ou na TV, os debates, os noticiários de rádio ou TV e a narração de jogos esportivos, que são exemplos da prática da linguagem oral, entre outros. EXEMPLIFICANDO Um exemplo de funcionamento distinto de textos orais, concordando com o deslocamento de “oral” para “orais” apontado por Schneuwly (2004), é considerar uma aula gravada para uma unidade deste livro ou uma aula presencial sobre o mesmo conteúdo aqui trabalhado. Perceba que são “o mesmo gênero” – aula – e que, mesmo sendo nomeados da mesma maneira, movimentam formas diferentes de oralidade. Um sermão religioso proferido oralmente por um padre tem características distintas de uma conversa de vídeo por plataformas de videochamadas on-line, por exemplo. São gêneros orais e, assim como os gêneros de escrita, possuem particularidades diferentes. A oralidade é anterior à escrita e à gramática, que surgiu a fim de que se investigassem as regras da escrita. Bagno (2002, p. 54-55) defende que a língua falada é a língua aprendida nos primeiros anos de vida, a partir do contato com a família e com a comunidade, “é o instrumento básico de sobrevivência”; já a língua escrita é artificial, obedece a regras rígidas, exige treinamento e memorização. Marcuschi (2010) tem opinião semelhante à apresentada, pois, para ele, a fala é adquirida em contextos informais no dia a dia pelas relações sociais, inicialmente com os que lhe são próximos; em contrapartida, a escrita é adquirida no contexto formal da escola, por isso é considerada um bem cultural. Acrescentamos que estudar oralidade e trabalhar com ela em sala de aula vai além da definição do que é oralidade ou, ainda, pensar a polarização texto oral e texto escrito é lidar com gêneros textuais. Trabalhar com oralidade é trabalhar com os mais variados gêneros textuais orais que permeiam nossa relação com os atos de linguagem; é pensar que cada gênero oral tem sua particularidade, funciona de maneira distinta e circula em espaços diversos. O QUE É GÊNERO TEXTUAL? Há uma definição clássica, elaborada por Bakhtin (2003, p. 262, grifos do autor), que afirma que “cada enunciado particular é individual, mas cada campo de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, os quais denominamos gêneros do discurso”, ou seja, “gêneros são tipos relativamente estáveis de enunciados”. É a partir da noção de gênero que trataremos a oralidade e sua relação com a escrita. ASSIMILE Você sabe a diferença entre tipos textuais e gêneros textuais? Abreu (2008) apresenta uma distinção que pode ajudar você a entender melhor. Para ele, os tipos textuais são apenas quatro: • Narração: relato de um acontecimento, de um evento. • Argumentação: relacionada à defesa de ideias. • Descrição: impressões sobre um cenário, uma paisagem, uma pessoa etc. • Injunção: ordenação, pedido, condições, como os avisos de proibições, as sentenças jurídicas, as ordens de pagamento, os cumprimentos etc. Quanto aos gêneros textuais, Abreu (2008) explica que são infinitos e possuem regras próprias. Alguns exemplos de gêneros textuais que circulam na sociedade: pronunciamentos políticos, aulas, mensagens digitais, monografias, teses, sentenças, reportagens, anúncios, horóscopo, vídeos, filmes, áudios de redes sociais, postagens, receitas etc. Bazerman (1994 apud MARCUSCHI, 2011, p. 18) diz que “gêneros são o que as pessoas reconhecem como gênero a cada momento do tempo, seja pela denominação, institucionalização ou regularização. Os gêneros são rotinas sociais do nosso dia a dia”. Os gêneros mudam de acordo com a sociedade em que eles funcionam. Telex e telegramas, por exemplo, são gêneros extintos na nossa sociedade. Vale relembrar que a língua é um fato social que permeia todas as nossas ações linguageiras. Usamos a língua para a produção da linguagem oral e escrita, porém mais importante do que pensarmos na oposição oralidade e escrita é considerarmos que os atos de linguagem oral são distintos: • Falar em uma live é diferente de falar para um público presencial. • Gravar um áudio no WhatsApp é diferente de falar ao telefone. • Participar de uma reunião com a equipe gestora da escola é diferente de participar de uma reunião com os pais dos alunos. Com isso, estamos exemplificando que a oralidade (e a escrita) só existe enquanto gênero textual e o mesmo gênero funciona de maneira distinta: gênero aula presencial e on-line, gênero reunião equipe gestora e pais, e mesmo aula presencial (ou qualquer outro gênero) possui as suas particularidades. Lembra-se da definição de gêneros textuais por Bakhtin? São “tipos relativamente estáveis de enunciados”, ou seja, são relativos. Marcuschi (2011) traz uma importante reflexão sobre isso. Ele destaca que muitos se fixam na estabilidade dos gêneros, naquilo que se repete, que possibilita a classificação dos textos, mas se esquecem de que “o gênero é essencialmente flexível e variável,tal qual seu componente crucial, a linguagem” (MARCUSCHI, 2011, p. 19). TRABALHO COM GÊNEROS TEXTUAIS NO CONTEXTO ESCOLAR Os gêneros textuais constituem um objeto bastante usado nas escolas. A pesquisadora Adriana Silva (2013) faz uma importante crítica sobre a difusão do trabalho com gêneros textuais na escola a partir da definição de gênero proposta por Bakhtin, inclusive dos materiais oficiais que, nas suas indicações para o professor, ressaltam a importância de levar para a escola os mais variados gêneros. O que incomoda essa autora é que não se discute, de fato, o que é um gênero, tal qual propõe Bakhtin, pois, se gêneros são “tipos relativamente estáveis de enunciado”, falta explicar o que é um enunciado. Para você entender essa crítica, retomaremos a explicação sobre enunciado concreto que Silva (2013) apresenta. Ela diz, a partir de Bakhtin, que o enunciado concreto “é um todo formado pela parte material (verbal e visual) e pelos contextos de produção, circulação e recepção” (SILVA, 2013, p. 49). A produção nos permite refletir sobre quem é o escritor ou o falante do texto, quais outros textos ele já produziu, de que lugar ele fala, etc.; a circulação é a responsável pelos questionamentos sobre onde esse texto circulará, o que se sabe a respeito desse lugar de circulação; já a recepção nos permite pensar sobre quem receberá o texto, a quem se destina, o que é sabido sobre esse leitor/ouvinte. VOCÊ REPAROU COMO A NOÇÃO DE ENUNCIADO CONCRETO FAZ TODA A DIFERENÇA PARA PENSARMOS O GÊNERO TEXTUAL NA ESCOLA? Mais do que trabalhar a estabilidade dos gêneros, é importante mostrar para os alunos que aquele que produz o texto, as circunstâncias em que esse texto é produzido, quem vai ler ou ouvir e de que lugar são elementos cruciais para a criação de determinado gênero. Conforme aponta Marcuschi (2011, p. 25), “a teoria dos gêneros não serve tanto para a identificação de um gênero como tal e sim para a percepção de como o funcionamento da língua é dinâmico e, embora sempre manifesto em textos, nunca deixa de se renovar nesse processo”. Explicada a questão dos gêneros, retomaremos a relação da oralidade com a escrita, modalidades essas pensadas enquanto gêneros. ATIVIDADES DE ORALIDADE Você já deve ter se deparado com o modo como as atividades de oralidade são tratadas por algumas escolas, como inferiores à escrita, como práticas dispensáveis, difíceis de organizar ou até mesmo geradoras de indisciplina. Tizioto (2013, p. 50) critica essa postura e diz que “essa discussão oral constrói um espaço de significações que poderá sustentar a escrita de sujeitos-escolares, e é um diferencial nas condições de produção discursiva”. Perceba que a autora está falando sobre as discussões orais, e não apenas de leituras de livros em voz alta ou outras atividades que oralizam textos escritos. Essa é uma distinção importante, pois o que você considera como práticas de oralidade é determinante para o modo como se ensina essa modalidade. Há autores bastante enfáticos nessa questão da oralização, como Dolz e Schneuwly (2004). Para eles, recitações de poemas, performances teatrais e leitura para os outros não são gêneros orais em si, mas oralização da escrita. Na prática, então, o que seria uma atividade de oralidade em contraponto a uma atividade de oralização da escrita? Você conhece a autora de livros e peças infantis Sylvia Orthof? Dentre a vasta publicação dessa escritora, há um livro intitulado Manual de boas maneiras das fadas. Esse livro conta a história inusitada de uma fada, a Fofa, que foge de todos os padrões preestabelecidos. De maneira poética, Sylvia Orthof (2004) narra as peripécias da fada: Eu sou uma fada deseducada, um pouco feiticeira, minha varinha de condão tem cabo de vassoura! Sou ruiva de tão loura, gorducha e debochada. Não sei de etiquetas, dou minhas piruetas, e minha escrita é feita de risadas! ABRACADABRA! (ORTHOF, 2004, [s.p.]) Se a atividade em sala de aula se restringisse à leitura desse texto, teríamos o que Dolz e Schneuwly (2004) chamam de oralização da escrita. Para alcançarmos a oralidade, podemos organizar uma discussão sobre o texto lido que vá além, inclusive, de recontar a história. Essa é uma produção de gênero oral. Como nos apresentam as pesquisadoras Lucília Romão e Soraya Pacífico, a discussão poderia propor uma reflexão sobre a figura da fada Fofa, que é diferente da figura clássica. Elas dizem que, atualmente, a exposição à mídia faz com que as crianças tenham acesso a personagens que não falam dentro de padrões linguísticos, que estão fora de padrões de beleza ditados pela sociedade de consumo e que em nada se parecem com os personagens do “era uma vez”. E é dessa forma que Sylvia Orthof apresenta sua fada, muito diferente daquelas fadas lindas, arrumadas, cujo chapéu tinha no alto o brilho e a magia da estrela, enfim, dos seres mágicos que organizavam a casa, a roupa, a carruagem, tudo em um minuto, bastava balançar a varinha de condão. A fada de que estamos falando é muito travessa e engraçada, justamente porque desarruma os sentidos óbvios e esperados. (ROMÃO; PACÍFICO, 2010, p. 71) Perceba quantos sentidos possíveis podem ser discutidos pela leitura desse texto, instigando nos alunos questões relevantes para se pensar o cotidiano, a partir do contexto social, cultural, econômico e político em que a escola se encontra. A pluralidade de leituras deve ser uma prática recorrente na escola, no sentido que nos apresenta Orlandi (2008), isto é, não apenas a leitura de vários textos, mas ler o mesmo texto de várias maneiras, pois é assim que a leitura estabelece o processo de significação. Levar para a discussão imagens de fadas clássicas, vídeos do YouTube com contos de fadas ou até mesmo podcasts que narrem histórias infantis são recursos midiáticos que permitem uma pluralidade de leitura e alimentam a discussão proposta. O gênero discussão oral basta, por si só, sem a necessidade de finalizar com atividades de escrita, pois coloca o aluno no centro da aprendizagem, de forma ativa, e possibilita o desenvolvimento da argumentação, de forma a respeitar e promover os direitos humanos, por exemplo. Se há a necessidade de se produzir um texto escrito tendo como suporte o texto oral, saiba que são manifestações de linguagem diferentes e que uma não está em oposição à outra, que a escrita não é transcrição da fala, tampouco é formal em detrimento de uma informalidade na fala. Muito se diz sobre as influências da oralidade na escrita, sobretudo em relação às marcas de oralidade no texto escrito: daí, né, tá, além de expressões “informais”, que são consideradas da oralidade. A escola é o espaço em que as características da escrita e da oralidade são aprendidas, pelos mais diferentes gêneros, nas mais diferentes linguagens. Podemos afirmar, ainda, que a oralidade pode influenciar a escrita também de forma positiva, pois discussões e debates travados na oralidade podem servir de argumentos para um texto bem escrito. Utilizar diferentes linguagens, incluindo orais, “para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo” (BRASIL, 2017, p. 9), é uma das competências gerais descritas pela BNCC para a Educação Básica, assim como utilizar diferentes linguagens para defender pontos de vista nos diferentes campos, como direitos humanos, consumo consciente e consciência socioambiental, atentando para questões do mundo contemporâneo, é uma das competências que o documento apresenta para a área de Linguagens no Ensino Fundamental. FOCO NA BNCC O eixo da oralidade é descrito pela BNCC como aquele que contempla as práticas de linguagem que se dão em situação oral, que podem ser face a face ou não: Aula dialogada, webconferência, mensagem gravada, spot de campanha, jingle, seminário, debate, programa de rádio, entrevista, declamação de poemas (com ou semefeitos sonoros), peça teatral, apresentação de cantigas e canções, playlist comentada de músicas, vlog de games, contação de histórias, diferentes tipos de podcasts e vídeos, dentre outras. (BRASIL, 2017, p. 78-79) Rádio, TV, jornais e revistas, como você bem lembra, foram mídias muito usadas na sala de aula em tempos anteriores. Hoje, as novas mídias, que mesclam recursos orais, verbais e visuais, estão ocupando espaços que ultrapassam o uso apenas cotidiano. Por isso, você deve pensar em práticas que tenham essas mídias como suporte, seja assistir a um canal digital com programa de literatura infantil, programas com instruções de jogos e brincadeiras ou vlog infantil de críticas de livros de literatura infantil e produzir sinopses de livros, tutoriais de jogos e resenhas digitais em áudio e vídeo. Todas essas práticas precisam sustentar que a escola é o lugar em que o preconceito linguístico precisa ser combatido, tanto na oralidade quanto na escrita. Discutir com as crianças em sala de aula textos falados e ouvir canções das mais variadas regiões do país são práticas que permitem desenvolver o respeito às variedades linguísticas, por meio das novas mídias. Esses modos de compreender a linguagem oral oferecem a você subsídios para considerar a oralidade uma prática social interativa. Para você, qual é a função da escola no ensino da oralidade? Dolz e Schneuwly (2004) afirmam que os alunos dominam bem as formas cotidianas da produção oral e que caberia à escola ensinar para além das produções cotidianas, mas oferecer formas mais institucionais, mediadas e parcialmente reguladas, como os gêneros formais públicos. Toda essa possibilidade de trabalho com a linguagem oral na escola e todo esse suporte teórico-científico permitem que seus argumentos sejam sustentados por evidências científicas atuais advindas das diferentes áreas de conhecimento, que favorecem o processo de ensino e aprendizagem. Neste momento, você já deve ter reforçado a ideia de que a oralidade é imprescindível para o trabalho com a linguagem em sala de aula e, se bem planejada, constitui um objeto de aprendizagem riquíssimo para as práticas pedagógicas na escola, e a própria BNCC prevê isso. A BNCC E O TRABALHO COM AS LINGUAGENS A BNCC (BRASIL, 2017), como você já deve ter estudado, é um documento oficial, de caráter normativo, que direciona toda a formulação de currículos escolares, ou seja, não podemos estudar oralidade e suas relações com a escrita sem passar por este documento. Dentro do componente curricular de Língua Portuguesa, na área de Linguagens, no Ensino Fundamental, há os chamados eixos de integração, que correspondem às práticas de linguagem: oralidade, leitura/escuta, produção e análise linguística. É pelo eixo da oralidade que você planejará suas práticas pedagógicas com gêneros textuais orais, pressupondo atividades que visem ao desenvolvimento das competências previstas para a oralidade, sem perder de vista a relação que o sujeito estabelece com a língua, pois a linguagem constrói a identidade. Você já verificou, também, que recursos midiáticos e tecnologias digitais, com todos os conteúdos virtuais e outros recursos tecnológicos, são ferramentas importantes para que os estudantes se sintam estimulados a ter uma atitude investigativa. Esses são requisitos importantes para todo o desenvolvimento do trabalho com oralidade na sala de aula. Nesta seção, refletimos sobre as relações entre oralidade e escrita, considerando a oralidade como uma prática social interativa. E, como você viu, as práticas da linguagem oral acontecem via gêneros textuais, que circulam também pelas novas mídias, as quais mesclam recursos orais, verbais e visuais. Essa variedade de recursos, sobretudo quando tratamos de linguagem oral, pressupõe variedades linguísticas. FAÇA VALER A PENA Questão 1 A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) pressupõe a contextualização das atividades para que a aprendizagem se dê, considerando as práticas de linguagem como práticas sociais: Como já ressaltado, na perspectiva da BNCC, as habilidades não são desenvolvidas de forma genérica e descontextualizada, mas por meio da leitura de textos pertencentes a gêneros que circulam nos diversos campos de atividade humana. Daí que, em cada campo que será apresentado adiante, serão destacadas as habilidades de leitura, oralidade e escrita, de forma contextualizada pelas práticas, gêneros e diferentes objetos do conhecimento em questão. (BRASIL, 2017, p. 75). (BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF: MEC, 2017. Disponível em: https://bit.ly/3jCL6MT. Acesso em: 1º maio 2020.) Tomando como referência os preceitos da BNCC e o autores trabalhados na seção, julgue as afirmativas a seguir em (V) verdadeiras ou (F) falsas: ( ) As atividades de oralidade na escola precisam ser pautadas em produção de textos orais, e não na reprodução de textos escritos, a chamada “oralização da escrita”. ( ) As produções de textos escritos merecem maior destaque na escola, pois é o espaço onde os alunos podem exercer a argumentação. ( ) A prática de linguagem escrita permite o conhecimento da língua formal, um maior rigor textual, o que não acontece na fala. ( ) A oralidade é uma prática social e, como tal, se apresenta nas mais variadas formas, a partir de gêneros textuais. Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta: a. V – F – V – F. b. F – F – V – F. c. V – F – F – V. https://bit.ly/3jCL6MT https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s2.html#accordion-1%20.item-1 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s2.html#accordion-1%20.item-2 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s2.html#accordion-1%20.item-3 d. F – V – F – V. e. V – V – F – V. Questão 2 Entrevista com Ana Maria Machado, no site da Nova Escola: Nova Escola: Como usar o livro na sala de aula? Ana Maria: Com muita paixão. Quando o trabalho é feito com gosto, fica fácil descobrir a melhor forma de envolver a turma. É possível analisar o contexto da história, fazer um júri simulado, uma dramatização, um debate... Tudo vai depender da realidade de cada turma. Na Inglaterra existe um programa muito interessante. Num determinado horário, toda a comunidade escolar do porteiro à diretora pára o que está fazendo para ler. Cada um escolhe o assunto que quiser, ficção ou não-ficção. Quando acaba esse tempo, tudo volta ao normal. Nova Escola: E não há nenhuma atividade depois? Ana Maria: Não precisa. Ninguém lê para fazer prova. O resultado é que, espontaneamente, surgem inúmeras discussões sobre as histórias. Os níveis de leitura sobem e as pessoas passam a se expressar melhor. (MACHADO, A. M. Entrevista concedida a Priscila Ramalho. Associação Nova Escola, 1º set. 2001. Disponível em: https://bit.ly/34BWIvy. Acesso em: 1º maio 2020.) A escritora Ana Maria Machado apresenta um ponto de vista importante para pensarmos as práticas de oralidade na escola. Considerando o trecho da entrevista, avalie as afirmativas a seguir: I. A oralidade se apresenta sob forma de gêneros textuais, e o júri simulado e o debate são exemplos de gêneros. II. As discussões após a leitura de um texto na escola não fazem parte de atividades de oralidade. III. As atividades de oralidade na escola somente são válidas quando finalizam com textos escritos, validando o que foi produzido oralmente. IV. Os debates orais gerados a partir da leitura de um texto na sala de aula possibilitam o desenvolvimento da argumentação. Considerando o contexto apresentado, assinale a alternativa correta: a. Apenas as afirmativas I e II estão corretas. b. Apenas as afirmativas I e IV estão corretas. c. Apenas as afirmativas II e III estão corretas. d. Apenas as afirmativas III e IV estão corretas. e. As afirmativas I, II, IIIe IV estão corretas. Questão 3 Inúmeras produções circulam diariamente nas mídias. Essas produções são orais, verbais e visuais, contemplam diversos assuntos e são originadas dos mais variados gêneros textuais. Autores diversos discutem a importância de colocar os alunos em contato com os mais variados gêneros textuais, considerados tal qual a definição proposta por Bakhtin: “tipos relativamente estáveis de enunciados”. https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s2.html#accordion-1%20.item-4 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s2.html#accordion-1%20.item-5 https://bit.ly/34BWIvy https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s2.html#accordion-2%20.item-1 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s2.html#accordion-2%20.item-2 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s2.html#accordion-2%20.item-3 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s2.html#accordion-2%20.item-4 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s2.html#accordion-2%20.item-5 A BNCC (BRASIL, 2017, p. 127) apresenta com uma das habilidades para o 4º ano do Ensino Fundamental, para o componente curricular Língua Portuguesa, o ato de “produzir jornais radiofônicos ou televisivos e entrevistas veiculadas em rádio, TV e na internet, orientando-se por roteiro ou texto e demonstrando conhecimento dos gêneros jornal falado/televisivo e entrevista”. (BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF: MEC, 2017. Disponível em: https://bit.ly/2TEyEBD. Acesso em: 1º maio 2020.) Com base nas discussões sobre o ensino da oralidade atrelado às novas mídias, avalie as seguintes asserções e a relação proposta entre elas: I. Considerar que os gêneros são “tipos relativamente estáveis de enunciados” é saber que os gêneros orais, que apresentam uma certa estabilidade na sua composição, podem ser ensinados na escola. PORQUE II. Os enunciados que compõem o gênero são formulados a partir de eixos que se sustentam na produção, circulação e recepção dos gêneros, daí a importância de se saber quem produzirá o jornal ou a entrevista, em que rádio ou canal ou site será veiculado e quem será o expectador da produção. A respeito dessas asserções, assinale a alternativa correta: a. As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa da I. b. As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa da I. c. A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. d. A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. e. As asserções I e II são proposições falsas REFERÊNCIAS ABREU, A. S. O design da escrita: redigindo com criatividade e beleza, inclusive ficção. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2008. BAGNO, M. Preconceito linguístico: o que é e como se faz. 11. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2002. BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF: MEC, 2017. Disponível em: https://bit.ly/34vTU30. Acesso em: 24 abr. 2020. DELLA MÉA, C. H. de P.; PEREIRA, C. A. L. O gênero oral entrevista radiofônica em situações de ensino e aprendizagem: práticas de avaliação: Práticas de https://bit.ly/2TEyEBD https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s2.html#accordion-3%20.item-1 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s2.html#accordion-3%20.item-2 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s2.html#accordion-3%20.item-3 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s2.html#accordion-3%20.item-4 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s2.html#accordion-3%20.item-5 https://bit.ly/34vTU30 Avaliação. Revista de Ensino, Educação e Ciências Humanas, v. 20, n. 2, p. 196-200, 27 jun. 2019. Disponível em: https://bit.ly/2HD4H2f. Acesso em: 1º maio 2020. DOLZ, J.; SCHNEUWLY, B. O oral como texto: como construir um objeto de ensino. In: DOLZ, J.; SCHNEUWLY, B. Gêneros orais e escritos na escola. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2004. MARCUSCHI, L. A. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. São Paulo: Cortez, 2010. MARCUSCHI, L. Gêneros textuais: configuração, dinamicidade e circulação. In: KARWOSKI, A. M.; GAYDECZKA, B.; BRITO, K. S. (Orgs.). Gêneros textuais: reflexões e ensino. 4. ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2011. p. 17-32. ORLANDI, E. Discurso e leitura. 8. ed. São Paulo: Cortez, 2008. ORTHOF, S. Manual de boas maneiras das fadas. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004. ROMÃO, L. M. S.; PACÍFICO, S. M. R. As fadas de ontem, hoje e de nossa imaginação: outra leitura do condão mágico. In: ROMÃO, L. M. S.; PACÍFICO, S. M. R. Leituras em discurso: a literatura infantil na sala de aula. Ribeirão Preto, SP: Alphabeto Editora, 2010. p. 69-77. SCHNEUWLY, B. Palavra e ficcionalização: um caminho para o ensino da linguagem oral. In: DOLZ, J.; SCHNEUWLY, B. Gêneros orais e escritos na escola. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2004. p. 109-124. SILVA, A. P. P. de F. e. Bakhtin. In: OLIVEIRA, L. A. Estudos do discurso: perspectivas teóricas. São Paulo: Parábola Editorial, 2013. p. 45-79. TFOUNI, L. V. A dispersão e a deriva na constituição da autoria e suas implicações para uma teoria do letramento. In: SIGNORINI, I. (Org.). Investigando a relação oral/escrito e as teorias do letramento. Campinas, SP: Mercado das Letras, 2001. p. 77-94. TIZIOTO, P. A. Escrita, subjetividade e 'hiperatividade': a autoria na produção de alunos do ensino fundamental. 2013. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2013. Bons estudos! https://bit.ly/2HD4H2f RELAÇÕES ENTRE ORALIDADE E ESCRITA Fabiana Costa Dias COMO TRABALHAR ORALIDADE NO AMBIENTE ESCOLAR? Reflita sobre sua prática pedagógica e estude maneiras de trabalhar a oralidade no ambiente escolar. Fonte: Shutterstock. Deseja ouvir este material? SEM MEDO DE ERRAR Nesta situação-problema, imagine que você esteja participando de uma reunião com a equipe gestora da escola, junto a outros professores, e a coordenação pedagógica expõe que um pai de aluno solicitou uma conversa para relatar que algumas das aulas eram apenas de bate-papo, sem o cumprimento do conteúdo, pois não encontrava registros escritos do que havia sido ministrado. A coordenadora solicitou que você se posicionasse frente a esse relato. Quais argumentos você utilizaria para defender o seu ponto de vista? Sustente os seus argumentos em fatos, dados e informações científicas para formular, negociar e defender suas ideias. Inicie ressaltando que o estudante é o centro da aprendizagem e atua de maneira ativa na construção do conhecimento. Você pode falar da importância das práticas da oralidade na escola para que a aprendizagem se dê. Isso é importante para explicar a distinção entre bate-papo, ou seja, atividades sem objetivos predeterminados, e atividades de oralidade propriamente ditas. No que tange à relação oralidade e escrita, ressalte a importância das atividades orais pela oralidade, e não como pré-requisito para atividades de escrita, texto ou desenho. Outro ponto que você não pode deixar de mencionar é a importância do planejamento das atividades de oralidade, para que a disputa de dizeres e de sentidos são seja considerada pela via da indisciplina: atividadesorais são para falar! É pela organização e pelo planejamento que a argumentação é desenvolvida nas crianças na oralidade, verificando o objetivo da atividade e seu percurso de desenvolvimento, visando à habilidade, que é própria dos textos orais. Para o professor que mencionou realizar como atividades de oralidade a leitura em voz alta ou o uso da música, você pode retomar as discussões de Dolz e Schneuwly (2004), quando distinguem atividades de oralidade de fato com as de oralização, que são a reprodução de textos escritos, e não a produção de textos orais. AVANÇANDO NA PRÁTICA A ORALIDADE E AS NOVAS MÍDIAS As novas tecnologias e mídias, como celulares, streaming (transmissão de dados), redes sociais, Snapchat, WhatsApp, etc., podem constituir ferramentas de aprendizagem de gêneros orais na escola. Para isso, as tecnologias digitais de informação e comunicação nos auxiliam no desenvolvimento de práticas que se utilizam dessas mídias para o trabalho em sala de aula. Há certa resistência por parte de alguns em relação às tecnologias, porque ainda se tem uma ideia de ensino – e escola – de forma fechada, previsível. Em discussões sobre o uso das tecnologias na sala de aula, uma professora se mostra descontente e diz que não vê importância nem relevância nas práticas em que se usam celulares, seja para produzir vídeos ou áudios, ou computadores/tablets. Segundo ela, o que pode ser feito pelas novas tecnologias também pode ser feito pelas anteriores, como o caderno. Após estudar os conteúdos desta seção, como você argumentaria com essa professora em relação às práticas pedagógicas que se pautam nas novas tecnologias? RESOLUÇÃO https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/fmt_u1s2.html#resolucao%20.item-1 Bons estudos! PRINCÍPIOS DA VARIAÇÃO LINGUÍSTICA Fabiana Costa Dias TIPOS DE VARIEDADES LINGUÍSTICAS Conheça alguns fatores importantes na definição de tipos de variedades linguísticas. Fonte: Shutterstock. Deseja ouvir este material? PRATICAR PARA APRENDER Caro aluno, nesta seção, você conhecerá as variedades linguísticas da nossa língua e entenderá os elementos condicionadores de uma variedade. Conhecer as variedades é um modo de entender como a língua funciona e, assim, entender e combater o preconceito linguístico para repensar o que é “falar certo” e o que é “falar errado”. Você terá acesso a pesquisas atuais sobre as variedades por meio de uma área chamada Sociolinguística, que estuda a relação da língua com a sociedade. Os estudiosos dessa área são enfáticos em dizer que há vários modos de falar em uma língua, e a que a mais se aproxima da chamada norma-padrão ou culta é apenas um desses modos. Em quais situações você usa um modo de falar mais elaborado, mais sofisticado? Em quais situações a linguagem mais despojada é aceita? Essas são questões que nos permitem refletir e entender que a língua é mais do que um código com regras a serem aprendidas, mas que há convenções sociais de usos, e isso muda de sociedade para sociedade. ASSIMILE Gnerre (2009, p. 6) diz que: Todo ser humano tem que agir verbalmente de acordo com tais regras, isto é, tem que ‘saber’: a) quando pode falar e quando não pode, b) quais tipos de conteúdos referenciais lhe são consentidos, c) que tipo de variedade linguística é oportuno que seja usada. A Sociolinguística é uma área da Linguística que estuda a relação entre linguagem e sociedade, considerando a diversidade linguística. Essa ciência trabalha para o conhecimento da língua que caminha para a democratização das variedades. As pesquisas e investigações que você verá nesta seção farão você refletir e realizar uma análise crítica da língua e do trabalho com a linguagem oral e escrita, o que contribuirá para o planejamento de práticas pedagógicas desafiadoras, coerentes e significativas, sobretudo no combate ao preconceito linguístico. Os gêneros textuais estão aí para nos auxiliar nessa tarefa, pois, para cada um deles, são exigidos modos distintos de lidar com a linguagem. Que tal você aproveitar essa pluralidade de gêneros textuais para elaborar práticas de sala de aula na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental que envolvam manifestação popular e cultural da oralidade, considerando as variedades linguísticas e combatendo o preconceito linguístico? Para contextualizar a sua aprendizagem, imagine que você seja uma professora do segundo ano do Ensino Fundamental e esteja em uma reunião pedagógica com professores da Educação Infantil e do Ensino Fundamental. As reuniões pedagógicas são espaços de planejamento, discussões e formação docente que permitem que você, professor, exponha suas práticas pedagógicas e ouça a dos colegas, promovendo trocas de saberes. Torres (2007) reforça essas afirmações quando diz que as reuniões pedagógicas são espaços privilegiados nas ações partilhadas do coordenador pedagógico com os professores, pois discutem e refletem questões que partem da prática, buscando respostas e novos saberes. Nessa reunião, surge uma nova discussão entre os professores e a coordenadora do Ensino Fundamental. Uma professora relata que os seus alunos do segundo ano se expressam muito mal, não realizam as concordâncias de maneira adequada e usam frases como “devolve minhas canetinha” e “os menino não deixam eu brincar”, ou não usam “r” em final de verbo no infinitivo, como “posso sai?”, “vou desenhá uma pirâmide” e “a Marina não qué me dá o lápis”. Frente a essa discussão, a coordenadora solicitou um reencontro para que os professores apresentem para os colegas seu posicionamento sobre o exposto, embasados em reflexões científicas e com sugestões de trabalho para a sala de aula que promovesse a melhoria na linguagem oral das crianças. Como você apresentaria as variedades linguísticas? Qual prática você elaboraria, levando em conta a diversidade linguística e cultural? Lembre-se de que esta prática precisa estar pautada na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), no que tange à oralidade no segundo ano. FOCO NA BNCC A BNCC insiste na valorização da diversidade durante toda a Educação Básica. Essa diversidade, descrita nas competências e nas habilidades apresentadas pelo documento, perpassa as manifestações de práticas sociais: culturais, artísticas e, também, linguísticas. Daí a importância de se estudar as variedades na formação do professor. Frente a todos os desafios profissionais como professor, reflita, nesta seção, sobre a relação entre a variedade que os alunos trazem e a variedade que a escola precisa ensinar. Aproveite as tecnologias digitais de informação e comunicação para produzir conhecimentos, resolver problemas e potencializar suas aprendizagens. Bons estudos! CONCEITO-CHAVE Caro aluno, nesta unidade, já estudamos as concepções de linguagem. Vimos que a concepção de linguagem que adotamos é o ponto de partida para todas as nossas práticas em sala de aula. Também refletimos sobre como a linguagem representa e forma identidades e o quanto o modo como falamos diz muito sobre nós. Entendemos as relações existentes entre a oralidade e a escrita, além de suas particularidades enquanto práticas sociais. Agora, entenderemos o que são variedades linguísticas, quais os tipos e a que estão condicionadas. Você entenderá o que é preconceito linguístico. Em nosso dia a dia, nos deparamos com pessoas que falam das mais variadas formas, de maneira mais formal, mais coloquial, com frases mais longas ou mais curtas, com pronúncias diferentes e até mesmo com entonações diferentes. Esses são alguns exemplos de como as variedades se manifestam na oralidade em nosso cotidiano. Já adiantamos que as variedades não acontecem apenas na oralidade nem, muito menos, funcionam em dois polos distintos, como formal/coloquial e oral/escrito; trata- se de algo mais complexo, e é isso que veremos nesta seção. Então, o que são variedades linguísticas? O que condicionauma variedade? Quais são os tipos de variedade linguística que temos em nossa língua? VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS Gnerre (2009) inicia o seu livro Linguagem, escrita e poder discorrendo sobre o valor que as produções linguísticas têm se realizadas no contexto social e cultural apropriado. Imagine um professor elaborando um decreto de suspensão de aulas. Você acha que esse decreto teria validade? Ou imagine, ainda, o Ministro da Educação apresentando uma portaria escrita numa variedade bastante informal, com expressões próprias de textos escritos coloquiais. Isso não soaria estranho? Aí entra a questão da adequação dos dizeres, sustentada por regras que não são apenas gramaticais, como se a língua fosse uma só, fechada, finalizada e pronta para ser usada. O autor fala da importância de o falante ter em mente as regras que sustentam a linguagem, regras da língua e regras extralinguísticas, pois saber as regras da língua não é suficiente para usar bem essa língua, é preciso entender as convenções sociais onde essa língua é posta em prática: quem pode dizer o quê, em que situação, de que modo e para quem. Na mesma direção de Gnerre, Alkmim (2001), da Sociolinguística, afirma que as variedades linguísticas utilizadas pelos falantes devem estar de acordo com as expectativas sociais convencionais. Essa observação é importante para você perceber que os usos sociais da linguagem vão além das regras estruturais da língua. É a partir da Sociolinguística que as variedades linguísticas são estudadas. Segundo a autora, “toda comunidade se caracteriza pelo emprego de diferentes modos de falar. A essas diferentes maneiras de falar, a Sociolingüística reserva o nome de variedades linguísticas” (ALKMIM, 2001, p. 32). Perceba o quanto é importante sabermos o que são as variedades linguísticas (em alguns lugares, você pode encontrar também o nome “dialeto” para as variedades). Sem essa noção, como o trabalho em sala de aula pode acontecer sem que o preconceito linguístico apareça? Se desconsideramos as variedades, corremos o risco de compactuar com um ensino segregador, que privilegia apenas alguns que conhecem a chamada norma culta. Quando entendemos que há diferentes modos de falar, entendemos que a chamada norma culta ou padrão é apenas um ideal de língua portuguesa, e não a língua em si. Lembre-se de que toda língua apresenta variedades, não somente a nossa. Santos (2004) mostra quão arriscado é o ensino pautado na supervalorização da norma culta e afirma que práticas escolares que favorecem o domínio da língua culta sem respeitar as variedades linguísticas que os alunos trazem, em vez de contribuírem para o domínio do nível formal, podem trazer consequências bastante negativas, como o bloqueio da expressividade do aluno, na oralidade e na escrita, dentro e fora da escola, ou apenas o domínio superficial da língua. Você pode associar essas discussões aqui apresentadas com outras questões já levantadas nesta disciplina. Lembra-se da importância da concepção de linguagem para que as práticas de ensino sejam coerentes? Se você considera a linguagem como representação do pensamento, não tem como considerar as variedades linguísticas que os alunos já trazem, apenas instituirá a norma-padrão; se, para você, a linguagem é instrumento de comunicação, as relações intercomunicativas ficam de fora, e a linguagem é a mesma para todos. Mas, se para você a linguagem é processo de interação, em que, além de expressarmos o que pensamos e de comunicarmos algo, fazemos coisas com a linguagem, nas mais diferentes situações e nos mais variados contextos, é preciso ter em todo o planejamento escolar as variedades como quesito básico e indispensável para as práticas dentro e fora da escola. Qual é sua concepção de linguagem? Outro ponto importante que estudamos foi a linguagem como construção da identidade. Você já refletiu sobre como pode ser doloroso para o aluno aprender que o modo de falar que ele traz, que é o mesmo dos integrantes da família, dos amigos e de outras pessoas com as quais ele convive em sua comunidade, não é “correto”, não é aceito ou, ainda, é motivo de deboche por muitos? Retomando as discussões propostas por Coracini (2007), para muitos essa língua que é imposta pela escola nada mais é do que estranha, estrangeira, desconhecida para ele e com a qual ele pouco se identifica. Antes de nos aprofundarmos em como ensinar Português na escola levando em consideração as variedades, vamos conhecer alguns tipos de variedades linguísticas que há na Língua Portuguesa. TIPOS DE VARIEDADES LINGUÍSTICAS Basicamente, há dois modos de se pensar as variedades: pelo viés geográfico e pelo viés social. Já começamos a entender que os modos como falamos têm relação direta com as pessoas com as quais convivemos, com o lugar onde moramos, classe social, idade, etc. Preti (2000) nos diz que as variedades linguísticas estão condicionadas a variações extralinguísticas e nomeia essas variedades. Vejamos: • Geográficas (ou diatópicas): diversidade regional; urbano versus rural; centro versus periferia. • Socioculturais (ou diastráticas): classe social, profissão, sexo, idade. Alkmim (2001) complementa que a variação geográfica ou diatópica está relacionada ao espaço físico e é observada entre falantes de origens geográficas distintas. Já a variação social ou diastrática tem relação com a organização sociocultural da comunidade de fala. Alkmim (2001) elenca vários fatores para pensarmos sobre as variedades, então vamos conhecer alguns deles: • Classe social, ou status socioeconômico, como coloca Pessoa (2010): grupos que se encontram abaixo da escala social falam de forma distinta daqueles de situação social/econômica privilegiada. • Idade: diferença entre a fala de adolescentes e adultos, por exemplo. • Sexo: homens e mulheres se apropriam de maneira diferente da linguagem. • Situação ou contexto social: dependendo do nosso interlocutor, falamos de uma maneira e não de outra, adequamos nosso modo de falar à situação na qual estamos inseridos. Pessoa (2010) inclui, ainda, outros fatores: • Grau de escolarização: o acesso à educação formal, à cultura letrada, à prática da leitura e aos usos da escrita determina os modos de falar. • Mercado de trabalho: as profissões e os ofícios afetam a prática linguística. • Redes sociais: adotamos comportamentos linguísticos semelhantes aos das pessoas que são próximas a nós, que fazem parte do nosso convívio. Quando as variações acontecem pelas situações ou contextos sociais, como Alkmim apresentou, alguns autores as chamam de “variação estilística ou de registro”, como Camacho (2001). Essa variação é o resultado da adequação da linguagem às finalidades específicas na interação verbal; se a situação é mais coloquial, a tendência é que utilizemos poucas frases formais. Se a competência do falante inclui duas formas de expressão, como ‘Por favor, poderia me passar o açúcar’, em contraste com ‘O meu chapa, vai ficar alugando o açucareiro até quando? Dá pra passar ou não?’, o óbvio é que o primeiro enunciado seja selecionado, por exemplo, num jantar com pessoas estranhas e pouco familiares, enquanto o segundo seja selecionado, por exemplo, numa mesa de bar, que se compartilha com pessoas do círculo íntimo. (CAMACHO, 2001, p. 60) Você percebeu quantos fatores são determinantes das variedades linguísticas? E que diferentes autores elencam os elementos condicionadores da variação linguística de maneira distinta? Isso acontece porque tudo o que envolve sociedade não é fixo. Apesar de alguns fatores se manterem por décadas, outros vão sendo incorporados, dadas as necessidades da linguagem. Hoje, com as novas mídias funcionando em velocidade crescente, outros modos variáveis da língua vão se formando. Poderíamos até pensar em outra classificação: variedades midiáticas, que incluiriam modos diferentes de falar e escrever nas diferentes mídias: rádios, TVs, podcast, redes sociais(como Facebook ou Instagram), WhatsApp, etc. REFLITA Atualmente, com as novas mídias, você acha que as variedades linguísticas que circulam nos meios eletrônicos são recebidas pelas diferentes pessoas da mesma maneira? Você já desconfiou de algum texto que recebeu pela linguagem em que ele foi escrito? Perceba que todas essas variedades também mudam ao longo da história, e aí teríamos as chamadas variações históricas. A língua muda com o tempo, e algumas palavras são incorporadas enquanto outras caem em desuso, como “chumbrega, supimpa e vosmecê”, as quais, certamente, você não ouve sempre; ao contrário de “acessar, printar, hashtag e stalkear”, que são exemplos recorrentes de estrangeirismos. Além disso, variedades que hoje são prestigiosas podem ter sido consideradas inferiores em outras épocas; ou, ao contrário, palavras sofisticadas de hoje podem ter sido consideradas desprestigiosas no passado. Todas essas descrições são importantes para sua formação, pois, se há uma diversidade de indivíduos e de grupos sociais, de seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, por que não haveria uma diversidade linguística? Mas nada disso vale se você não promover práticas pedagógicas sem preconceitos de qualquer natureza, inclusive linguístico, que sejam pautadas nos direitos humanos. Essa é uma das funções da escola. A outra seria colocar os alunos frente a discussões pertinentes sobre quais variedades são aceitas e quais não costumam ser no social e o que determina a valorização linguística. [...] uma das tarefas do ensino de língua na escola seria, portanto, discutir criticamente os valores sociais atribuídos a cada variante linguística, chamando a atenção para a carga de discriminação que pesa sobre determinados usos da língua, de modo a conscientizar o aluno de que sua produção linguística, oral ou escrita, estará sempre sujeita a uma avaliação social, positiva ou negativa. (BAGNO, 2006, p. 8) VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS E RELAÇÕES DE PODER A linguagem, enquanto prática social, estabelece relações de poder. Dizer isso é afirmar que os usos de linguagem não se restringem à adequação das variedades aos diferentes contextos, mas é colocar em jogo que os diferentes modos de falar não chegam a todos da mesma maneira, ou seja, há uma relação desigual de acesso às variedades, sobretudo às variedades que mais se aproximam da norma-padrão. Gnerre (2009) fala que o padrão é um sistema associado a um patrimônio cultural e segue discutindo que a igualdade declarada na Constituição não se aplica à maneira como as pessoas falam. Inclusive, ele afirma que os valores dados às variedades em nada têm relação com questões da língua, mas com relações de poder: “Uma variedade linguística ‘vale’ o que ‘valem’ na sociedade os seus falantes” (GNERRE, 2009, p. 6). As variedades prestigiosas, segundo o mesmo autor, estão associadas à escrita e à tradição gramatical. Percebe como Gnerre (2009) nos faz pensar que há um distanciamento na igualdade linguística? Escrever nunca foi e nunca será a mesma coisa que falar, pois ambas as práticas demandam formulações diferentes, exigem habilidades distintas, como já estudamos. Se as variedades de prestígio são portadoras de uma identidade nacional, quem tem acesso a ela? Com quais variedades os nossos alunos se identificam? E nós? Questionando de outra forma, quais são as variedades que constituem a identidade de nossos alunos e a nossa? Para contribuir com essa reflexão, Santos (2004) acrescenta que o aluno tanto pode sentir vergonha de usar no meio “culto” sua própria variedade linguística como pode não ficar à vontade de usar em seu meio social um nível de língua que não lhe seja próprio e que ele sequer incorporou. E opiniões como essa são compartilhadas por diferentes autores que estudam a linguagem e sua relação com a sociedade. Mollica (2004, p. 13) discute o preconceito linguístico e acrescenta que ainda encontramos a predominância de “práticas pedagógicas assentadas em diretrizes maniqueístas do tipo certo/errado”, que tomam como referência o padrão. Para ela, os estudos sociolinguísticos “oferecem valiosa contribuição no sentido de destruir preconceitos linguísticos e de relativizar a noção de erro, ao buscar descrever o padrão real que a escola, por exemplo, procura desqualificar e banir como expressão linguística natural e legítima” (MOLLICA, 2004, p. 13). Esta é, para a escola, uma das grandes contribuições da Sociolinguística para o combate ao preconceito linguístico, repensar a polarização certo/errado e ressignificar para adequação linguística, considerando os interlocutores, a situação, o contexto, o conteúdo da fala, o objetivo pretendido, etc. É por isso que você deve privilegiar atividades que permitam aos alunos ouvir textos em diferentes variedades, para identificar as características regionais, urbanas e rurais da fala, promovendo o respeito às diversas variedades linguísticas e o combate ao preconceito linguístico, como nos propõe a BNCC (BRASIL, 2017), para todos os campos de atuação do Ensino Fundamental. Combater o preconceito linguístico e valorizar as variedades linguísticas que os alunos trazem não eximem a escola de seu papel crucial, o qual, para Travaglia (2001), é desenvolver a competência comunicativa dos alunos e contribuir para que eles usem adequadamente a língua nas diferentes situações de comunicação. A isso está associado o aprendizado da norma culta ou padrão ou, pelo menos, como diz Possenti (2002), criar condições para que seja aprendida. EXEMPLIFICANDO Exemplos que você pode, inclusive, encontrar entre seus alunos: as pronúncias abertas e fechadas do “e” da região Sudeste em relação a alguns estados do Nordeste; os diferentes “r” que temos na fala: paulistanos, paulistas, cariocas, etc.; as diferentes construções de frases: dia de domingo, aos domingos; sossega o facho, fique quieto; palavras ou expressões: oxe, uai, nossa. E várias outras que encontramos em nosso cotidiano. Perceba que a escola é fundamental para colocar o aluno em acesso ao poder por meio da linguagem, diz Geraldi (2002), a partir da afirmação clássica de Gnerre (2009, p. 22): “a começar do nível mais elementar das relações com o poder, a linguagem constitui o arame farpado mais poderoso para bloquear o acesso ao poder”. PESQUISE MAIS Há um site desenvolvido por pesquisadores da UFMG que, entre outras coisas, apresenta amostras sonoras de dialetos falados em diferentes regiões do Brasil. Vale a pena ouvir para você conhecer e usar como ferramenta para a sala de aula: • DIALETOS do Português. Fonética & Fonologia: sonoridade em artes, saúde e tecnologia. O livro de Silvia Segato, Variação Linguística, disponível na Biblioteca Virtual da Kroton, traz contribuições para as questões aqui apresentadas sobre as variedades linguísticas. Uma dessas questões são os mitos em relação ao Português, que o autor Marcos Bagno, apresentado por ela, vai desfazendo. Leia da página 9 a página 13 para conhecer esses mitos. • SEGATO, S. R. Variação Linguística. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2017. Você está preparado para respeitar as variedades linguísticas com as quais os alunos se identificam e, ao mesmo tempo, dar acesso às variedades mais próximas da norma- padrão, considerando que, em muitos casos, a escola é o único meio para isso? Quando você elaborar as práticas pedagógicas, tenha em mente os contextos linguísticos, sociais, culturais, econômicos e políticos das escolas em que atua, atentando para as vivências dessas crianças. É possível criar práticas que auxiliem no combate ao preconceito linguístico sobre o modo como os alunos falam e, ao mesmo tempo, ser uma prática significativa em que eles são o centro da aprendizagem. Por isso, um repertório diversificado de estratégias didático-pedagógicas é importante, pois os estudantes são heterogêneos. Vamos retomar alguns pontos e conhecer outros? Marcos Bagno (2007) é um autorda Sociolinguística que faz importantes críticas ao modo de considerar a língua homogênea, como se ela fosse uma só. Ele, como você já vimos nesta seção, rebate a ideia de língua única e homogênea. Confira um resumo das variações linguísticas: O diagrama apresenta 6 tipos de variações linguísticas: Variação fonético-fonológica: Tem relação com o “som” de fonemas. Relembre quantas pronúncias você conhece para o "R" da palavra "porta" no português brasileiro. Variação morfológica: Tem relação com a formação das palavras. As formas PEGAJOSO e PEGUENTO, que exibem sufixos diferentes para expressar a mesma ideia, são exemplos dessa variação. Variação sintática: Tem relação com as frases. Nas frases a seguir, o sentido geral é o mesmo, mas os elementos estão organizados de maneiras diferentes: Uma história que ninguém prevê o final. Uma história que ninguém prevê o final dela. Uma história cujo final ninguém prevê. Variação semântica: Tem relação com o sentido das palavras. VEXAME, por exemplo, pode significar “vergonha” ou “pressa”, dependendo da origem regional do falante. Variação lexical: Tem relação com a palavra em si. Palavras MOLEQUE, PIVETE e GAROTO são consideradas sinônimas. Variação estilístico-pragmática: Tem relação com o estilo da escrita. Os enunciados "QUEIRAM SE SENTAR, POR FAVOR" e "VAMO SENTANO AÍ, GALERA" são usados em situações diferentes de interação social, mais ou menos formais, entre os interlocutores. Perceba que esses enunciados podem ser pronunciados pelo mesmo indivíduo em situações de interação diferentes. Essas questões propostas por Bagno nos permitem estender a discussão para a distinção de competência e desempenho, do linguista Chomsky, que Margarida Petter (2002) nos traz: Competência linguística: A competência linguística é a porção do conhecimento do sistema linguístico do falante que lhe permite produzir o conjunto do conhecimento de sentenças de sua língua; é o conjunto de regras que o falante construiu em sua mente pela aplicação de sua capacidade inata para a aquisição da linguagem aos dados linguísticos que ouviu durante a infância. (PETTER, 2002, p. 15) Desempenho linguístico: Corresponde ao comportamento linguístico, que resulta não somente da competência linguística do falante, mas também dos fatores não linguísticos de ordem variada, como: convenções sociais, crenças, atitudes emocionais do falante em relação ao que diz, pressupostos sobre as atitudes do interlocutor, etc, de um lado; e, de outro, o funcionamento dos mecanismos psicológicos e fisiológicos envolvidos na produção dos enunciados. (PETTER, 2002, p. 15) Em cima dessas afirmativas recaem as discussões sobre a adequação de linguagem nas diferentes situações. Há muitos fatores que afetam o modo como falamos, e ter desempenho linguístico, segundo Chomsky, contribui para isso. Não basta saber as regras da língua, mas é preciso conhecer as convenções sociais presentes na comunidade de fala. Chegamos ao final desta seção que pretende discutir o preconceito com a língua. Considerar as variedades linguísticas de forma “democrática” fará com que você colabore para a construção de uma sociedade livre, justa, democrática e inclusiva. FAÇA VALER A PENA Questão 1 De domingo — Outrossim? — O quê? — O que o quê? [...] — Nada. Só achei engraçado. — Não vejo a graça. — Você vai concordar que não é uma palavra de todos os dias. — Ah, não é. Aliás, eu só uso domingo. [...] (Excerto extraído de: VERÍSSIMO, L. F. Comédias da vida privada. Porto Alegre, RS: LP&M, 1996.) O diálogo do texto de Veríssimo nos permite discutir o uso de palavras que fazem parte de grupo de variedades linguísticas consideradas de prestígio, apresentando uma possibilidade de adequação dessas palavras. Em relação à adequação linguística, é correto afirmar que: a. As variedades linguísticas são diferentes modos de falar e de escrever que se classificam em formais ou informais. https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s3.html#accordion-1%20.item-1 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s3.html#accordion-1%20.item-1 b. Os diferentes modos de falar de uma língua, suas variedades, possuem o mesmo valor na sociedade. c. Há variedades que, por mais sofisticadas que sejam, se usadas em contextos cotidianos, podem causar incompreensão. d. As línguas mudam e, por isso, é importante que não deixemos as palavras mais antigas desaparecerem. e. Palavras, como óbice, desiderato e resquício, representam o conhecimento linguístico do falante e podem ser usadas em todos os contextos. Questão 2 ANTIGAMENTE, as moças chamavam-se mademoiselles e eram todas mimosas e muito prendadas. Não faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo não sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio. E se levavam tábua, o remédio era tirar o cavalo da chuva e ir pregar em outra freguesia. As pessoas, quando corriam, antigamente, era para tirar o pai da forca e não caíam de cavalo magro. Algumas jogavam verde para colher maduro, e sabiam com quantos paus se faz uma canoa. O que não impedia que, nesse entrementes, esse ou aquele embarcasse em canoa furada. Encontravam alguém que lhes passasse a manta e azulava, dando às de vila-diogo. Os mais idosos, depois da janta, faziam o quilo, saindo para tomar fresca; e também tomavam cautela de não apanhar sereno. (Excerto extraído de: ANDRADE, C. D. Caminhos de João Brandão. Rio de Janeiro: Record, 2002. p. 256) Com base nas variedades linguísticas estudadas, avalie as seguintes asserções e a relação proposta entre elas: I. As variedades linguísticas consistem nos diferentes modos de falar de uma sociedade, e o texto de Drummond retrata um modo de variedade bastante específico: a variação histórica. As variações pelas quais a língua passa são inevitáveis. PORQUE II. Com o passar nos anos, servindo aos anseios de uma sociedade, novas palavras começaram a fazer parte do repertório linguístico, enquanto outras apenas seguiram em textos literários ou em outros textos de época. A respeito dessas asserções, assinale a alternativa correta: a. As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa da I. b. As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa da I. c. A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. d. A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. e. As asserções I e II são proposições falsas. Questão 3 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s3.html#accordion-1%20.item-2 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s3.html#accordion-1%20.item-2 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s3.html#accordion-1%20.item-3 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s3.html#accordion-1%20.item-3 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s3.html#accordion-1%20.item-4 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s3.html#accordion-1%20.item-4 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s3.html#accordion-1%20.item-5 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s3.html#accordion-1%20.item-5 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s3.html#accordion-2%20.item-1 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s3.html#accordion-2%20.item-2https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s3.html#accordion-2%20.item-3 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s3.html#accordion-2%20.item-4 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s3.html#accordion-2%20.item-5 Saber português não é só aprender regras que só existem numa língua artificial usada pela escola. As variações não são fáceis ou bonitas, erradas ou certas, deselegantes ou elegantes, são simplesmente diferentes. Como as línguas são variáveis, elas mudam. (FIORIN, J. L. Os Aldrovandos Cantagalos e o preconceito linguístico. In: SILVA, F. L. da; MOURA, H. M. de M. (Orgs.). O direito à fala: a questão do preconceito linguístico. Florianópolis: Insular, 2000. p. 28) Fiorin explica que as variações de uma língua não são passíveis de julgamentos, elas simplesmente existem, porque qualquer língua muda. Considerando o contexto, avalie as afirmativas a seguir: I. Variedades linguísticas de menos prestígio são consideradas inferiores frente a outras variedades. Daí a importância de se discutir variedades na escola. II. A variedade linguística é típica de pessoas com baixa escolaridade, não ocorrendo em outros grupos. III. Abolir essa variedade é papel da escola, considerando que esta precisa ensinar a norma-padrão. IV. Tratar a variedade linguística como inferior é um modo de praticar preconceito linguístico. Assinale a alternativa correta: a. Apenas as afirmativas I e II estão corretas. b. Apenas as afirmativas I e IV estão corretas. c. Apenas as afirmativas II, III e IV estão corretas. d. Apenas as afirmativas I, II e IV estão corretas e. As afirmativas I, II, III e IV estão corretas. REFERÊNCIAS ALKMIM, T. M. Sociolinguística. Parte I. In: MUSSALIN, F.; BENTES, A. C. Introdução à Linguística I: domínios e fronteiras. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2001. p. 21-47. BAGNO, M. Nada na língua é por acaso: ciência e senso comum na educação em língua materna. Ciência Pedagógica, Belo Horizonte, ano 12, n. 71, set. 2006. CAMACHO, R. G. Sociolinguística. Parte II. In: MUSSALIM, F.; BENTES, A. C. (Orgs.). Introdução à linguística I: domínios e fronteiras. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2001. p. 49-75. CORACINI, M. J. Nossa língua: materna ou madrasta? – Linguagem, discurso e identidade. In: CORACINI, M. J. 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Linguagem, escrita e poder. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2009. MOLLICA, M. C. Fundamentação teórica: conceituação e delimitação. In: MOLLICA, M. C.; BRAGA, M. L. (Orgs.). Introdução à Sociolinguística: o tratamento da variação. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2004. p. 9-14. PESSOA, M. do S. Marcas sócio-linguísticos culturais para transformar práticas didático- pedagógicas na Educação Linguística. In: SIMPÓSIO LINGUAGENS E IDENTIDADES DA/NA AMAZÔNIA SUL-OCIDENTAL, 4., 2010, Rio Branco. Anais [...]. Rio Branco, AC: Edufac, 2010. p. 326-332. PETTER, M. Linguagem, língua e linguística. In: FORIN, J. L. (Org.). Introdução à Linguística I. Objetos Teóricos. São Paulo: Contexto, 2002. p. 11-24. POSSENTI, S. Sobre o ensino de português na escola. In: GERALDI, J. W. O texto na sala de aula. 3. ed. São Paulo: Ática, 2002. p. 32-38. PRETI, D. Sociolinguística: os níveis da fala – um estudo sociolinguístico do diálogo na literatura brasileira. 9. ed. 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Responder a essa questão é seu grande desafio nesta seção. Fonte: Shutterstock. Deseja ouvir este material? SEM MEDO DE ERRAR Depois do relato de uma professora durante a reunião pedagógica, a coordenadora solicitou um reencontro para que os professores apresentem para os colegas seu posicionamento sobre a dificuldade de expressão oral dos alunos, embasados em reflexões científicas e com sugestões de trabalho para a sala de aula que promovesse a melhoria na linguagem oral das crianças. Tendo isso em mente, como você apresentaria as variedades linguísticas? Qual prática você elaboraria, levando em conta a diversidade linguística e cultural? Para resolver essa situação-problema, você deve fazer uso da exposição oral de forma clara e argumentativa, expor seu ponto de vista com segurança e atuar no sentido de resolver o problema apresentado pela colega. Elabore uma apresentação que seja pautada nos autores que trabalhamos nesta seção, explicando aos colegas o que é uma variedade linguística e quais são os seus tipos. Aqui, é importante dizer que não temos apenas uma única forma correta de falar e que há várias formas de dizer no Português, mas que nem tudo é aceito em qualquer situação comunicativa, é preciso adequação linguística. Reforce que o papel da escola é ensinar a norma-padrão e jamais estigmatizar a fala que o aluno já traz. Se achar pertinente para a situação, retome a concepção de linguagem, para que os outros colegas entendam o que você considera ser linguagem; isso pode ser um excelente argumento para a prática que você vai propor, pois mostra que compreende o papel da linguagem e da oralidade na comunicação humana. Mostre que você tem originalidade, criatividade, que está antenado com as novas mídias e que seu trabalho está ancorado na BNCC. Como prática, proponha: Proposta: entrevista investigativa – linguagem e migração • Comece questionando as crianças sobre os diferentes modos de falar que temos. Peça para elas observarem se os colegas da sala falam diferente e quais são essas diferenças: são as palavras? São os “sotaques”? Qualquer observação que as crianças registrarem é pertinente para o trabalho com a oralidade, até mesmo a entonação de voz, pois esse também é um recurso importante para a organização de práticas sociais da oralidade. • A partir das percepções dos alunos, apresente alguns modos de falar que temos atualmente em nossa sociedade. Você pode apresentar, como gêneros textuais orais, vídeos de repentistas nordestinos, podcast com podcasters cariocas oubrasilienses, por exemplo, ou algum trecho de filme que mostre um modo particular de fala. Esses suportes midiáticos permitem um trabalho em sala de aula em que os alunos percebam quão vasto é o nosso país e como falamos diferente nos diversos lugares. Isso pode começar a criar uma atitude respeitosa diante das variedades linguísticas e uma rejeição a preconceitos linguísticos. • Questione-os sobre onde nasceram, se os pais sempre residiram na cidade/estado em que moram atualmente, de onde vieram. Procure instigá-los a refletir se há diferença no modo de falar dos pais em relação aos vídeos, podcasts ou filmes apresentados. • Planeje com os alunos a produção de uma entrevista investigativa sobre migrações com um adulto da casa na qual a criança mora: de estados, regiões, cidades, bairros e linguagem. I. O entrevistado pode ser pai, mãe, avó, tio, irmão, etc. II. Algumas perguntas que podem ser feitas: o Sobre a migração: onde nasceram, qual ou quais lugares já moraram, por que mudaram, etc. o Sobre linguagem: quais diferenças nos modos de linguagem o entrevistado percebeu nos diferentes lugares em que já morou, se sempre morou no mesmo lugar, se percebe diferenças no modo de falar de pessoas que vieram de outras regiões, quais são essas diferenças; se o entrevistado poderia apresentar palavras que nomeiam objetos ou alimentos de forma diferente, de acordo com a região, por exemplo, pão, o qual, dependendo do lugar, recebe nomes bem diferentes (em algumas cidades da região Sudeste, pão francês; no Rio de Janeiro, pão de sal; no Ceará, carioquinha; em algumas cidades da região Nordeste, pão aguado; na região Norte, carequinha; no Rio Grande do Sul, cacetinho). III. Realização das entrevistas: serão gravadas e enviadas por áudio (ou vídeo) para um grupo específico. IV. Postura do entrevistador: leitura das perguntas, tom de voz, tempo de resposta, etc. Aqui também é um espaço em que a linguagem formal pode ser acionada, mas não se esqueça de que, mesmo sendo uma entrevista, será realizada por pessoas com bastante intimidade, em um contexto informal: casa. Tudo isso precisa ser levado em consideração, pois entrevistas podem ser espaços de usos da linguagem oral formal, mas também podem não ser, e os programas infantis ou dominicais estão aí para nos mostrar que esse funcionamento diverso de um gênero (lembre-se do “relativamente estável” que Bakhtin afirma na definição de gênero). V. Curadoria das entrevistas coletadas: as entrevistas serão organizadas de acordo com a migração, os que migraram e os que não migraram; de acordo com as respostas, os que perceberam diferença, os que não perceberam; de acordo com os exemplos das palavras que apresentaram, etc. VI. Divulgação/circulação midiática da entrevista: a entrevista será apresentada a outras turmas, em uma feira de ciências da escola, ou em uma rádio da cidade. Atente para que todos os alunos participem, com diferentes necessidades e deficiências, levando em conta seus diversos contextos culturais, socioeconômicos e linguísticos. Observe o processo da atividade, para que a aprendizagem seja colaborativa, partindo da premissa de que todos são capazes de aprender, visando à equidade. Repare que esta prática auxilia você na compreensão do contexto sociocultural dos estudantes e cria uma aproximação com as famílias e com a comunidade, conhecendo a identidade das crianças. Essa proposta prática permitirá que você mostre aos colegas, na reunião pedagógica, os diferentes modos de falar, ressaltando a importância da adequação linguística em diferentes contextos comunicativos, o que promove o conhecimento da linguagem formal pela criança, sem dispensar outras variedades recorrentes na fala de todos nós. AVANÇANDO NA PRÁTICA VARIEDADES LINGUÍSTICAS: A LITERATURA ROMPENDO PADRÕES Agora, você se depara com uma nova situação que permite repensar práticas pedagógicas de ensino da língua que vislumbram o cuidado com o trato linguístico no que diz respeito às variedades. Outra discussão surge entre os professores na escola: a literatura como modelo para o bem falar e o bem escrever. Alguns dizem que usam a literatura como modelo para exemplificar o que é a língua e como ela funciona; para esses professores, a literatura, além da possibilidade de trabalhar a interpretação, também permite trabalhar a estrutura linguística. Diante dessa situação, como você se posiciona para defender as variedades linguísticas? RESOLUÇÃO CONCEITO DE ORALIDADE Fabiana Claudia Viana Costa Dias O QUE É ORALIDADE? A oralidade é uma prática discursiva que se realiza pela fala. Fonte: Shutterstock. Deseja ouvir este material? CONVITE AO ESTUDO Caro aluno, seja bem-vindo a esta unidade. Nela, você aprofundará seus conhecimentos acerca da oralidade e entenderá o que constitui essa prática social que, muitas vezes, é deixada à margem das práticas pedagógicas. https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/fmt_u1s3.html#resolucao%20.item-1 No contexto atual, a oralidade é bastante exigida. As aulas remotas em tempos de pandemia, a participação dos alunos por meio de vídeos, as lives com discussão de temas diversos e a formação complementar chegam a nós diariamente, e gêneros textuais orais, que antes eram restritos a certos contextos, hoje são gerados pelas novas mídias, fazendo parte do nosso dia a dia pelas mais variadas tecnologias digitais e de comunicação. Daí a importância de você estudar a oralidade, de aproveitar as tecnologias digitais de informação e comunicação como ferramentas para a sua formação e de você conhecer evidências científicas atuais advindas das diferentes áreas de conhecimento, as quais favorecem o processo de ensino e aprendizagem. Nas seções desta unidade, você terá acesso ao conceito de oralidade enquanto prática social e também a seus aspectos fonéticos e fonológicos; refletirá sobre como ela é transposta para a escrita; e conhecerá os elementos que a constituem, como as repetições, as pausas e os truncamentos, os marcadores conversacionais e as entonações enfáticas. Além desses itens, você também verá como a língua é socialmente construída e entenderá que tanto a oralidade quanto a leitura e a escrita são práticas sociais. Isso estará relacionado às situações comunicativas em que as práticas de oralidade acontecem, nos mais variados contextos. Todo o conteúdo apresentado nesta unidade permitirá que você compreenda o papel da linguagem e da oralidade na comunicação humana, enquanto prática social, com suas especificidades culturais e linguísticas. Entenda como a BNCC concebe a oralidade e leve para a sua prática, tanto na educação infantil quanto no ensino fundamental, propostas pedagógicas inclusivas que possibilitem diferentes expressões orais. Bom estudo! PRATICAR PARA APRENDER Caro aluno, a oralidade nos acompanha na maioria das nossas práticas linguageiras. Falar é a atividade de linguagem que mais exercemos, do momento em que acordamos até quando nos deitamos, isso é quase inquestionável. Na escola, não é diferente, pois as crianças falam o tempo todo de si, entre si e com o professor. Diante disso, como você pode usar essa prática para subsidiar a aprendizagem da oralidade na escola? O que é ensinar (e aprender) oralidade na escola, considerando que as crianças já falam? Essa questão, nada banal, é o ponto de partida para a elaboração de práticas pedagógicas que englobem as diferentes situações de comunicação em que a oralidade é o formato exigido. Diante desses pressupostos, retomaremos o conceito de oralidade e insistiremos na importância de pensar essa prática para além de bate-papos, de práticas informais, sem planejamento. Para isso, a relevância de se pensar o uso da oralidade em práticas sociais será levantada nesta seção. Ao longo desta seção, reflita: em quais contextos a oralidade é exigida? Além de pensarmos na oralidade em contextossociais, neste momento, você conhecerá alguns aspectos fonéticos e fonológicos que sustentam as práticas orais, os quais marcam, de uma determinada maneira, os modos como falamos, os diferentes “r”, “s” e outras particularidades das variedades (você se lembra das variedades linguísticas? Elas são um importante suporte para pensar fonética e fonologia). Permeados por conhecimento sobre a oralidade, vamos entendendo como a transposição da oralidade para a escrita acontece e percebendo quais elementos da oralidade permanecem na escrita e de que modo a escola pode contribuir para que esses elementos deixem de estar na escrita. FOCO NA BNCC A BNCC, para a área de Linguagens, no ensino fundamental, apresenta algumas habilidades que são previstas nas práticas de oralidade e, dentre elas, a habilidade de identificar gêneros do discurso oral, presentes em diferentes situações e contextos comunicativos, bem como suas características linguístico-expressivas e composicionais: conversação espontânea, entrevistas no rádio ou na TV, debate, noticiário de rádio e TV, narração de jogos esportivos, aula, debate e vários outros. Essa habilidade condiz com o que estamos propondo nesta seção, pois esses gêneros permitem mostrar que a oralidade é uma prática social com regras e particularidades que precisam ser ensinadas. Vamos contextualizar a sua aprendizagem. Imagine que você leciona para uma turma de terceiro ano do ensino fundamental, em uma escola que se constitui, também, por turmas da educação infantil e dos anos finais do ensino fundamental. Essa informação é relevante, dada a continuidade da formação dos alunos no mesmo espaço escolar; se bem explorada, essa passagem de anos escolares pode acontecer permeada por diálogos entre professores e equipe gestora, sustentada pelo trabalho coletivo, com responsabilidades e contribuições compartilhadas. Ainda nesse contexto, essa escola embasa seus trabalhos na elaboração e execução de projetos pedagógicos que priorizam os eixos de integração considerados na BNCC de Língua Portuguesa do Ensino Fundamental: oralidade, leitura/escuta, produção escrita e multissemiótica e análise linguística/semiótica. Para nossa disciplina, a oralidade será a prioridade para a elaboração do projeto enquanto espaço de discussão e resolução de problemas. Essa contextualização sustentará todas as situações-problema desta unidade. A escolha de projetos não foi selecionada de forma banal, mas considerando o que a BNCC (BRASIL, 2017, p. 30) discorre acerca de projetos pedagógicos, os quais, de modo geral, “devem ser adequados à realidade de cada sistema ou rede de ensino e a cada instituição escolar, considerando o contexto e as características dos seus alunos”. Isso é importante, inclusive, para a construção curricular, que precisa responder aos diferentes contextos e atender à comunidade. Dadas essas condições, você, na posição de professor do terceiro ano do ensino fundamental, depara-se com uma situação em que as crianças não se sentem seguras para a apresentação de seminários. Qual projeto de trabalho você poderia propor para resolver esse problema? Embase a sua proposta nos autores que trabalhamos, nos conceitos apresentados e considerando a oralidade como objeto de ensino. Aproveite esta seção para aprofundar seus conhecimentos sobre a oralidade, enquanto objeto de conhecimento, e compreender como as práticas de linguagem orais funcionam nos espaços sociais e escolares. Construa o seu planejamento profissional a partir de diferentes recursos, utilize a tecnologia de informação e comunicação a seu favor e aprimore sua formação. Bom estudo! CONCEITO-CHAVE ORALIDADE Caro aluno, nesta seção, você conhecerá o que pesquisadores sobre linguagem, sobretudo da linguagem oral, dizem sobre a oralidade e, assim, você refletirá sobre os usos sociais da linguagem oral nas diferentes manifestações discursivas. A oralidade é um dos eixos de integração da BNCC, na área de Linguagens, no componente curricular Língua Portuguesa, ao lado da leitura/escuta, produção e análise linguística e semiótica. Por constituir um desses eixos, ela deverá fazer parte de todo o seu trabalho no ensino fundamental. Percebe o quão importante é estudar sobre a oralidade? Daí a importância desta disciplina e dos conteúdos que trataremos nesta unidade e, agora, nesta seção. Nesta disciplina, você conheceu os estudos de Marcuschi (2001), um pesquisador da oralidade e de práticas na sala de aula. Vamos retomá-lo aqui, a fim de reforçar o que é oralidade, quais são seus elementos e usos em práticas sociais e discursivas. Para o autor, no livro Da fala para a escrita: atividades de retextualização, a oralidade é uma prática social interativa que se apresenta sob os vários gêneros textuais que se dão na realidade sonora, e ele diz que há uma realização que vai da mais informal para a mais formal, nos variados contextos de uso. É importante entendermos que a oralidade não é o espaço somente da informalidade, como muitos pensam, pois há práticas sociais orais que exigem uma formalidade. A aula é um bom exemplo para ilustrar a formalidade, assim como uma palestra e alguns debates jornalísticos. Em contrapartida, bate-papos, algumas entrevistas de programas de auditório e alguns vídeos de youtubers (que também podem ser espaços de formalidade) são exemplos de atividades orais informais. Pensar essas e outras diversas manifestações orais nos permite recorrer a Elias (2014, p, 34) para dizer que “estudar o texto oral de maneira contextualizada, observando sua organização e complexidade leva o aluno a ter consciência dos traços da oralidade”. Você percebe como a questão da oralidade vai além da oposição oralidade e escrita? É muito simples pensar que a oralidade é diferente da escrita, mas isso é insuficiente para discutir oralidade enquanto prática social. ORALIDADE ENQUANTO PRÁTICA SOCIAL Como a escola lida com a oralidade? Há atividades de oralidade no espaço escolar? Você já deve ter reparado o quanto a oralidade está presente em sala de aula, considerando que as crianças falam – e muito –, mas pouco em atividades sistemáticas nas propostas pedagógicas. É aí que o seu planejamento precisa estar bem engajado, colocando a oralidade no lugar de objeto didático a ser apreendido, acessando os diferentes modos de falar que as práticas sociais exigem. A linguagem oral, enquanto prática social, permite que a escola e você, enquanto professor na educação infantil e no ensino fundamental, provoquem na criança o olhar para “como” a oralidade é desenvolvida: • Onde podemos falar? • De que modo podemos falar? • Com quem podemos interagir na oralidade? • Quais recursos podem ser explorados nas manifestações orais? • Quais variedades são aceitas na fala? Entenda que essas questões podem levar a reflexões mais pertinentes sobre a linguagem, as quais ultrapassam a limitada questão de oposição entre oralidade e escrita. Trabalhar com essas indagações na escola é levar o aluno a pensar sobre como as produções orais acontecem no social, em que medida falamos da maneira como falamos e que isso não é fruto apenas da nossa vontade. A criança, o jovem ou o adulto já sabe falar com propriedade e eficiência comunicativa sua língua materna quando entra na escola, e sua fala influencia a escrita, sobretudo no período inicial da alfabetização, já que a fala tem modos próprios de organizar, desenvolver e manter as atividades discursivas. Esse aspecto é importante e permite entender um pouco mais as relações sistemáticas entre oralidade e escrita e suas inegáveis influências mútuas. (MARCUSCHI; DIONISIO, 2007, p. 15) Se as crianças aprendem a escrever escrevendo, elas aprendem a falar falando. As práticas de oralidade na escola permitem o aprimoramento dessa modalidade linguística, assim como permitem que os alunos entendam que há elementos que sustentam as práticas de linguagem também na oralidade, que a fala serve à oralidadee que há regras que direcionam a nossa produção oral. Assim, você pode retomar as discussões que travamos sobre as variedades linguísticas, pensando em mostrar para os seus alunos que, na oralidade (e na escrita), precisamos adequar a nossa fala ao contexto comunicativo que colocará a linguagem em prática. REFLITA 1. Focalizemos nas práticas de linguagem oral que acontecem no social: quais situações você percebe que a fala é privilégio de alguns em detrimento de outros? Como a escola pode contribuir para estreitar esse abismo de desigualdade de dizeres? 2. Quando você se depara com o ensino e a aprendizagem da oralidade na escola, quais são as referências que você encontra dessa prática em livros didáticos e apostilas? Há o ensino sistemático e planejado da oralidade? Estudar a oralidade nos permite entender o funcionamento da escrita, pois compreendemos que esta pode transformar a fala e vice-versa. Falamos bem mais do que escrevemos, apesar de a escola valorizar a escrita em detrimento da fala. A escrita é o lugar legitimado da linguagem, é onde podem ser comprovadas as atividades linguageiras, aquilo que é “palpável”, comprovável, é a “prova” do que foi feito. Essas afirmações podem ser algumas das justificativas da supervalorização da escrita na escola. ASSIMILE A oralidade é diferente da escrita, isso é sabido por todos nós. A questão que se faz importante é pensar que estudar oralidade é estudar a linguagem oral nas mais variadas situações de comunicação, das mais informais e cotidianas até as mais formais e restritas a ambientes e eventos demarcados. FONÉTICA E FONOLOGIA Agora, abordaremos uma questão bastante importante para discutir a oralidade: a pronúncia das palavras que falamos. Você já deve ter atentado às diferentes pronúncias que encontramos para uma mesma palavra. É na oralidade que as marcações fonéticas da língua são perceptíveis. Dito de forma bem simplista, a fonética é uma ciência que estuda os sons de uma língua, a produção da fala e tudo o que a envolve, desde as articulações, ou seja, o que (e como) articulamos para que os sons sejam produzidos da maneira como são: os lábios, os dentes, o palato, etc. A BNCC (BRASIL, 2017), para discorrer acerca dos processos de alfabetização no espaço de “Práticas de linguagem, objetos de conhecimento e habilidades” em Língua Portuguesa, no ensino fundamental, nos mostra as relações fono-ortográficas do português, evidenciando que há bem pouca regularidade de representação entre fonemas e grafemas. Isso faz com que você reflita sobre a transposição da oralidade na escrita e perceba como a criança se depara com a relação letra e som na fase de aquisição da linguagem. PESQUISE MAIS Para você conhecer mais sobre fonética e fonologia, o texto de Magnun Madruga pode ser um bom suporte. Entenda a diferença entre fonética e fonologia lendo a sequência de páginas 23 a 35. Boa leitura! • MADRUGA, M. R. Fonética e fonologia da língua portuguesa. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2018. 176p. No português do Brasil, em apenas alguns poucos casos, há uma letra para um som. Na maioria das vezes, há várias letras para representar um único som. Quadro 2.1 | Relações fono-ortográficas do português do Brasil SONS E SUAS REPRESENTAÇÕES NA ESCRITA Sons Representações som de /s/ Pode ser representado na escrita por s, c, ç, x, ss, sc, z ou xc. som de /j/ Pode ser representado na escrita por g ou j. som de /z/ Pode ser representado na escrita por x, s ou z. LETRAS QUE REPRESENTAM VÁRIOS SONS Letras Sons Letra s Pode ter som de /s/ ou /z/. Letra z Pode ter som de /s/ ou /z/. Letra x Pode ter som de /s/, /z/, /∫/ ou /ks/. RELAÇÃO REGULAR DIRETA ENTRE FONEMA E GRAFEMA Grafemas Fonemas p, b Bilabiais: articulamos lábio inferior e lábio superior para produzirmos os sons. Exemplos: pipa, boca. • Surdas: quando não há vibração das cordas vocais, também chamadas de desvozeadas, como o fonema /p/. • Sonoras: quando há a vibração das cordas vocais, também chamadas de vozeadas, como o fonema /b/. t, d Linguodentais: articulamos língua e dentes para produzirmos os sons. Exemplos: data, Tatá. • Surdas: /t/. • Sonoras: /d/. c Labiodentais: articulamos lábio inferior e dentes superiores. Exemplo: faca, vaca. Fonte: adaptado de BNCC (BRASIL, 2017, p. 91-92). A BNCC apresenta, ainda, letra que não representa som algum, como a letra -h. Esses são apenas alguns exemplos da relação fonética da língua. Essas descrições apresentadas nos permitem refletir sobre as marcas da oralidade na escrita, em que o modo de falar afeta diretamente a escrita da criança, como se, para ela, a escrita representasse a fala de forma exata. Outro ponto que podemos observar em algumas situações é a troca de p por b, tanto na fala quanto na escrita; é só lembrarmos que ambos requerem o mesmo ponto de articulação: lábios inferiores e superiores. Percebe o quanto são “justificáveis” as trocas na escrita quando a criança ainda não tem “consciência fonológica”? Vale lembrar que a consciência fonológica é a apropriação, pela criança, dos fonemas do português e de sua organização em segmentos sonoros maiores, como sílabas e palavras, bem como o conhecimento do alfabeto em seus vários formatos (letras de imprensa e cursiva, maiúsculas e minúsculas), além do estabelecimento de relações grafofônicas entre esses dois sistemas de materialização da língua (BRASIL, 2017). PESQUISE MAIS Se você se interessar por essa questão, leia os textos escritos pela pesquisadora Thaís Cristófaro Silva, como o livro Fonética e fonologia do português: roteiro de estudos e guia de exercícios (SILVA, 2013); além deste livro, a autora, junto a outra pesquisadora, Hani Camille Yehia, mantém um site, Fonologia, em que apresenta conceitos, imagens, sons e articulações que valem a pena serem vistos, pois ali você tem o funcionamento (também por vídeos) das articulações no momento da produção dos fonemas, todas as descrições de todos os fonemas, com exemplificações e exercícios. Vale a leitura! ORALIDADE E ESCRITA NA ESCOLA Marcuschi e Dionísio (2007) nos ajudam a entender a transposição oral para a escrita e dizem que as línguas se desenvolvem primeiro na forma oral, que é o modo pelo qual os falantes a conhecem, e somente depois a escrita se desenvolve, mas esta não representa a fala nem é dela derivada de maneira direta. As marcas da oralidade na escrita, resultantes da transposição, são um efeito da não familiaridade do aluno com a escrita. Nessa fase, a criança entende que a escrita representa a fala e é traçada tal qual é falada. Aqui, é importante você perceber que a transposição do que falamos não é uma “transcrição” da oralidade para a escrita, mas são escritas que se dão independentemente da fala, em situações outras; tampouco é o que Marcuschi (2001) chama de retextualização, isto é, a passagem do texto oral para o escrito, por exemplo uma entrevista realizada oralmente e transcrita para uma revista ou uma aula proferida oralmente e publicada de forma escrita em uma revista científica. Entenda que não há características linguísticas que sejam exclusivas da oralidade ou da escrita (relembre o exemplo do “p” e “b” apresentados anteriormente, no caso da fonética, ou construções de frases que sejam permitidas apenas na oralidade ou na escrita); as duas modalidades têm semelhanças e diferenças, mas sem regras exclusivas. Marcuschi (2007) menciona as chamadas marcas de oralidade, as quais que aparecem na escrita informal, como os bate-papos de internet. Percebe como é tênue a linha que separa as marcas linguísticas da oralidade e da escrita? Assim, podemos dizer que as diferenças são da ordem do funcionamento, e não da ordem do sistema. É totalmente irrelevante para a definição de fala o fato de haver reduções morfológicas do tipo ‘pra, pro, prum’, pois esses são fenômenos comuns também na escrita. Basta entrar num bate-papo na internet ouler bilhetes e cartas pessoais. (MARCUSCHI, 2007, p. 70) O autor traz, ainda, uma questão que é bastante importante para você pensar a relação oralidade e escrita: os textos híbridos, aqueles que nascem originalmente em uma modalidade e “migram” para outra, como as notícias em rádios e telejornais, que são escritas oralizadas, ou as entrevistas impressas, que nascem da oralidade. Assim, concluímos que as realizações da linguagem, seja oral ou escrita, não são meramente classificadas em quadros com características predeterminadas; ensinar a linguagem oral na escola requer mais do que regras e aplicações, mas reflexões sobre o funcionamento dessas modalidades e sua circulação pelas práticas sociais. Ainda seguindo nas reflexões de Marcuschi (2007), já é sabido por nós que, em nosso cotidiano, falamos muito, a maior parte do tempo, e escrevemos bem pouco. Daí, entendemos que a oralidade é de extrema importância, mesmo em tempos em que a escrita tem maior valor linguístico. O autor diz, ainda, que a oralidade jamais desaparecerá e, enquanto prática social, é inerente ao ser humano e não será substituída por nenhuma outra tecnologia: “Ela será sempre a porta de nossa iniciação à racionalidade e fator de identidade social, regional, grupal de indivíduos” (MARCUSCHI, 2007, p. 36). Todas essas reflexões, as quais evidenciam a importância da oralidade, servem como subsídios para você pensar na relevância do ensino de oralidade na escola, para se certificar de que ela se ensina. Podemos considerar a oralidade pelos mais variados lugares de reflexão. Vamos exemplificar um deles: a argumentação, que é uma competência básica que perpassa toda a educação básica, em todas as áreas do conhecimento, conforme nos traz a BNCC. A oralidade é uma prática em que a argumentação pode – e deve – ser desenvolvida, sobretudo se levarmos em conta que as crianças falam, e muito, sobre diversos assuntos quase o tempo todo; assim, por que não explorarmos essa prática e trabalharmos a argumentação? Quer seja para explicitar aos colegas as razões da avaliação positiva de um livro, para apresentar as regras de um jogo e explicar o seu funcionamento ou para reforçar o ponto de vista diante de uma discussão. Pensar as atividades de oralidade como práticas que se bastam por si dá à oralidade o lugar de destaque que ela merece, sem precisar se pautar em atividades que buscam a escrita como resultado, o que é fundamental para o planejamento escolar. Santos (2004) afirma que, ao mesmo tempo em que se peca por a escrita pretender ser um registro regular, natural e inequívoco da fala, também se peca por priorizarmos a primeira em detrimento da segunda como lugar legitimado de saber. As diversas linguagens que circulam na atualidade – verbal, corporal, visual, sonora e digital – permitem que os alunos se expressem de várias formas e partilhem informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos. Aí entra o papel da escola: oferecer uma gama de atividades que possibilitem ao aluno desenvolver o domínio da expressão oral e escrita para seu uso efetivo nas diferentes situações de uso público da linguagem, além de fazer a curadoria do que é válido no meio digital como informação para a construção do conhecimento. Você deve ter em mente que ensinar a oralidade na escola requer planejamento para que os alunos tenham contato com textos orais mais formais que circulam no social e que possam ser classificados como objeto didático. Como objeto didático, a oralidade pode desenvolver habilidades, tal qual nos coloca a BNCC, pois permite ao aluno expor trabalhos ou pesquisas escolares, por meio de seminários, com apoio de recursos multissemióticos, orientando-se por roteiro escrito, planejando o tempo de fala e adequando a linguagem à situação comunicativa. Um seminário em sala de aula bem planejado faz que o aluno escute, com atenção, as apresentações realizadas por colegas, formule perguntas e solicite esclarecimentos sempre que necessário. Perceba quantas habilidades podem ser desenvolvidas por essa atividade bastante presente na escola. POR DENTRO DA BNCC A BNCC propõe a leitura, escuta e produção de textos orais, escritos e multissemióticos em circulação dos diferentes meios. Esse documento discute a importância do acesso a textos orais como subsídio para a aquisição da linguagem escrita. Para isso, apresenta várias habilidades que sustentam as práticas de oralidade na escola. Daí a importância de “refletir sobre diferentes contextos e situações sociais em que se produzem textos orais e sobre as diferenças em termos formais, estilísticos e linguísticos que esses contextos determinam, incluindo-se aí a multimodalidade e a multissemiose” (BRASIL, 2017, p. 79). Essas determinações sustentam as discussões propostas nesta seção, sobretudo quando pensamos sobre as práticas sociais de oralidade, o ensino da oralidade na escola, com todas as determinações trazidas para sustentar a elaboração de propostas pedagógicas. O seminário, enquanto gênero textual da oralidade, apesar de pautado em pesquisas e na escrita, permite o desenvolvimento oral dos alunos nas diferentes etapas da educação básica, uma habilidade bastante requisitada no mundo contemporâneo. Dolz e Scheuwly (2004) falam do seminário como um procedimento metodológico importante para que técnicas de estudo, pesquisa e reflexão sobre os mais variados assuntos, em grupo ou individualmente, sejam desenvolvidas em sala de aula. Essa atividade prepara para outras atividades exigidas nas práticas sociais, para além da escola; trabalha o planejamento da oralidade, o ajuste de variedades linguísticas, a postura de fala e permite correções que são distintas do texto escrito. Hoffnagel (2007) acrescenta que a correção é uma estratégia de formulação textual. O falante pode mudar de ideia sobre o que está dizendo, confundir-se na pronúncia de uma palavra, usar uma ou outra concordância verbal ou nominal inadequada e recorrer à correção para aprimorar o seu texto oral. Esperamos que você tenha observado que trabalhar a oralidade em sala de aula de maneira planejada e engajada contribui para que os alunos exercitem a curiosidade intelectual, utilizem as tecnologias digitais, as diferentes linguagens e construam argumentos para defender seus pontos de vista, posicionando-se de forma ética. Vamos repensar a oralidade na sala de aula? EXEMPLIFICANDO 1. Você já deve ter se deparado com situações em que as atividades de oralidade na escola são consideradas desorganizadas, informais e que não constituem práticas pedagógicas e, muito menos, textos. Os autores aqui apresentados são bastante enfáticos em defender a oralidade como produção textual, que evidencia uma identidade e permite o exercício da argumentação. 2. No português do Brasil, alguns sons são representados, na escrita, por diferentes grafemas, e isso pode gerar alguma confusão em crianças em fase de aquisição da linguagem escrita. É bastante comum, nos anos iniciais, nós nos depararmos com escritas do tipo: telia, masa, caza, etc. O uso de diferentes gêneros textuais na escola ou a discussão entre pares para se refletir sobre a escrita podem ser exemplos para sanar esses registros. 3. A escola, muitas vezes, reproduz atividades de oralização da escrita. Lembre-se da diferença entre atividades de oralidade e atividades de oralização da escrita. Nesta seção, pudemos retomar conceitos de oralidade sem colocá-la em oposição à escrita, e entender que a transposição da oralidade para a escrita constitui o processo de aquisição da linguagem escrita e, algumas vezes, tem relação com a fonética e a fonologia que sustentam a língua que falamos. Essas discussões são importantes para pensarmos o planejamento das atividades pedagógicas sobre oralidade e para conhecermos os elementos constituintes da oralidade. FAÇA VALER A PENA Questão 1 Leia a afirmação de Magda Soares: A natureza do processo de alfabetização decrianças das classes favorecidas, que convivem com falantes de um dialeto oral mais próximo da língua escrita (a chamada ‘norma padrão culta’) e que têm oportunidade de contato com material escrito (por intermédio, por exemplo, de leituras que lhes são feitas por adultos), é muito diferente da natureza do processo de alfabetização de crianças das classes populares, que dominam um dialeto geral distante da língua escrita e têm pouco ou nenhum acesso a material escrito. (SOARES, 2008, p. 20) Assinale a alternativa que apresenta corretamente considerações sobre a relação oralidade/escrita: a. A oralidade é a prática de linguagem que requer a informalidade, e a escrita é a transposição formal dessa prática. b. Os gêneros orais precisam ser trabalhados na escola de forma contextualizada, refletindo os seus usos no campo social. c. Oralidade e escrita são práticas opostas, que trazem características distintas, as quais precisam ser observadas na escola. https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u2s1.html#accordion-1%20.item-1 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u2s1.html#accordion-1%20.item-1 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u2s1.html#accordion-1%20.item-2 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u2s1.html#accordion-1%20.item-2 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u2s1.html#accordion-1%20.item-3 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u2s1.html#accordion-1%20.item-3 d. O modo de falar que a criança apresenta em fase de aquisição da linguagem escrita e as variações fonéticas em nada afetam na sua escrita. e. Argumentar é uma prática que não é possível na oralidade, pois os textos orais são livres, desprovidos de regras. Questão 2 Para a BNCC, No Ensino Fundamental – Anos Iniciais, aprofundam-se as experiências com a língua oral e escrita já iniciadas na família e na Educação Infantil. Assim, no Ensino Fundamental – Anos Iniciais, no eixo Oralidade, aprofundam-se o conhecimento e o uso da língua oral, as características de interações discursivas e as estratégias de fala e escuta em intercâmbios orais. (BRASIL, 2017, p. 89) Considerando a compreensão e produção de textos orais, avalie as afirmativas a seguir: I. As tradições orais precisam ser conhecidas na escola, bem como serem objetos de reflexões sobre os sentidos que geram e a sua circulação no social. II. Trabalhar a oralidade em sala de aula pressupõe, também, ensinar uma escuta ativa, que considere o contexto de produção dos textos. III. Produzir textos orais na escola deve considerar as situações de comunicação em que aparecem textos informais, característica inerente aos textos orais. IV. As atividades com textos orais devem prever a análise de estratégias discursivas e de recursos linguísticos utilizados nas produções orais. A partir do exposto, assinale a alternativa correta: a. Apenas as afirmativas II, III e IV estão corretas. b. Apenas as afirmativas I, III e IV estão corretas. c. Apenas as afirmativas I, II e III estão corretas. d. Apenas as afirmativas I, II e IV estão corretas. e. As afirmativas I, II, III e IV estão corretas. Questão 3 Partindo-se do princípio que são os usos que fundam a língua e não o contrário, defende-se a tese de que falar ou escrever bem não é ser capaz de adequar-se às regras da língua, mas é usar adequadamente a língua para produzir um efeito de sentido pretendido numa dada situação. Portanto, é a intenção comunicativa que funda o uso da língua e não a morfologia ou a gramática. Não se trata de saber como se chega a um texto ideal pelo emprego de formas, mas como se chega a um discursivo significativo pelo uso adequado às práticas e à situação a que se destina. (MARCUSCHI, 2010, p. 9) Com base nas colocações de Marcuschi sobre o uso da língua no processo de aprendizado, avalie as seguintes asserções e a relação proposta entre elas: https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u2s1.html#accordion-1%20.item-4 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u2s1.html#accordion-1%20.item-4 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u2s1.html#accordion-1%20.item-5 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u2s1.html#accordion-1%20.item-5 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u2s1.html#accordion-2%20.item-1 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u2s1.html#accordion-2%20.item-2 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u2s1.html#accordion-2%20.item-3 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u2s1.html#accordion-2%20.item-4 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u2s1.html#accordion-2%20.item-5 I. No que tange ao ensino da oralidade, os diversos gêneros orais precisam ser apresentados aos alunos na escola, colocando-os mais próximo das práticas sociais, levando em conta as intenções comunicativas. PORQUE II. O efetivo conhecimento da língua só acontece a partir de seus usos, nas diferentes situações de comunicação que se dão em espaços sociais, e é a escola o lugar de aprendizagem dos mais variados gêneros da oralidade. A respeito dessas asserções, assinale a alternativa correta: a. As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa da I. b. As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa da I. c. A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. d. A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. e. As asserções I e II são proposições falsas. REFERÊNCIAS BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF: MEC. 2017. Disponível em: https://bit.ly/2LsYtUp. Acesso em: 24 abr. 2020. DOLZ, J.; SCHNEUWLY, B. O oral como texto: como construir um objeto de ensino. In: DOLZ, J.; SCHNEUWLY, B. Gêneros orais e escritos na escola. Trad. e org. Roxane Rojo e Glaís Sales Cordeiro. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2004. p. 125-155. (Coleção As faces da Linguística Aplicada) ELIAS, V. M. (Org.) Ensino de língua portuguesa: oralidade, escrita e leitura. São Paulo: Contexto, 2014. HOFFNAGEL, J. C. Entrevista: uma conversa controlada. In: DIONISIO, A. P.; MACHADO, A. R.; BEZERRA, M. A. Gêneros textuais e ensino. 5. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2007. MADRUGA, M. R. Fonética e fonologia da língua portuguesa. Londrina, PR: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2018. 176p. Disponível em: https://bit.ly/3hP1Wsx. Acesso em: 23 maio 2020. MARCUSCHI, L. A. Letramento e oralidade no contexto das práticas sociais e eventos comunicativos. In: SIGNORINI, I. (Org.). Investigando a relação oral/escrito e as teorias do letramento. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2001. p. 23-50. MARCUSCHI, L. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. 8. ed. São Paulo: Cortez, 2007. MARCUSCHI, L. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. São Paulo: Cortez, 2010. https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u2s1.html#accordion-3%20.item-1 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u2s1.html#accordion-3%20.item-2 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u2s1.html#accordion-3%20.item-3https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u2s1.html#accordion-3%20.item-4 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u2s1.html#accordion-3%20.item-5 http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_20dez_site.pdf https://biblioteca-virtual.com/detalhes/livro/508 MARCUSCHI, L.; DIONISIO, A. P. Fala e escrita. Belo Horizonte, MG: Autêntica, 2007. SANTOS, J. S. dos. Letramento, variação linguística e ensino de português. Linguagem em (dis)curso – LemD, Tubarão, v. 5, n. 1, p. 119-134, jul./dez. 2004. Disponível em: https://bit.ly/2XgmCAA. Acesso em: 1º maio 2020. SILVA, T. C. Fonética e fonologia: roteiro de estudos e guia de exercícios. 10. ed. São Paulo: Contexto, 2013. SOARES, M. Alfabetização e letramento. São Paulo: Contexto, 2006. CONCEITO DE ORALIDADE ELEMENTOS CONSTITUINTES DA ORALIDADE Fabiana Claudia Viana Costa Dias PRÁTICAS ORAIS DE USO DA LINGUAGEM A BNCC prevê práticas orais de uso da linguagem que envolvem tanto a compreensão da escuta quanto a produção da fala, negociando os significados entre os interlocutores, com ou sem contato face a face. Fonte: Shutterstock. http://www.portaldeperiodicos.unisul.br/index.php/Linguagem_Discurso/article/view/304/320 Deseja ouvir este material? PRATICAR PARA APRENDER Caro aluno, nesta seção conheceremos um funcionamento da linguagem oral que, para alguns, é considerado “técnico”: os elementos constituintes da oralidade. Os elementos que trataremos aqui são as repetições, as pausas, os truncamentos, os operadores conversacionais e as entonações enfáticas. Você verá que eles não são meras marcas de oralidade, ao contrário, são constituintes da oralidade e afetam a produção dos sentidos do texto oral. As repetições, por exemplo, podem ser um recurso utilizado para reforçar um dizer que se quer destacar ou para retomar o que foi dito pelo interlocutor; as pausas que damos durante a fala, que não acontecem da mesma maneira para todos (isso pode ser observado por um simples exercício: se todos os alunos lerem um mesmo texto, sem pontuação, por exemplo, darão pausas em lugares distintos, e isso diz muito em relação aos sentidos); os marcadores conversacionais, que são recursos que nos auxiliam na produção oral, seja para nos manter no turno da conversa – “acho que”, “veja bem”, “então” – ou para passar o turno para o outro – “né?”, “não é?”, “entendeu?”; e as entonações enfáticas, as quais nos mostram o quanto o tom que usamos para falar determinadas palavras ou frases é determinante do sentido daquilo que falamos. Agora, vamos conhecer o funcionamento desses constituintes? Vamos contextualizar a sua aprendizagem. Imagine que você é professor em uma escola que atende a Educação Básica: educação infantil e ensino fundamental. Nela, você é responsável por uma turma de quarto ano, bastante heterogênea, com alunos que estudam nesta instituição desde os primeiros anos escolares. Ter alunos que já eram acompanhados por outros professores da escola, que você tenha conhecimento da trajetória educacional e conheça um pouco da história de vida, ajuda bastante para a elaboração de práticas pedagógicas contextualizadas. Diante desse contexto, está sendo planejado um evento artístico-literário na escola, e você ficou responsável por elaborar uma atividade para ser apresentada neste evento com sua turma de quarto ano. Você é livre para criar uma atividade em que os alunos façam uma participação oral. Toda a escola participará, além de famílias, comunidade e até mesmo algumas autoridades locais. Utilize de todo o conhecimento que você construiu até aqui nesta disciplina, as discussões acerca das variedades linguísticas, o uso de gêneros textuais contextualizados e explore os elementos constituintes da oralidade: a repetição, as pausas e os truncamentos, os operadores conversacionais e as entonações enfáticas. Para esta atividade, elabore uma proposta pedagógica que contenha: • Tema. • Descrição. • Objetivos. • Competências e habilidades. • Gênero textual utilizado. • Recursos utilizados. • Breve descrição da etapa do trabalho. Sabemos que, apesar de planejarmos a atividade, o andamento também direciona suas etapas. Vamos elaborar? Este é o momento para você conhecer os estudos científicos advindos da área da oralidade, sobretudo dos elementos constituintes, o que favorecerá o seu processo de aprendizagem. Aproprie-se desses novos conhecimentos para aperfeiçoar o seu exercício profissional. Bons estudos! CONCEITO-CHAVE Com toda razão, a oralidade exige o reconhecimento de seus direitos, pois começamos a descobrir mais nitidamente o papel fundador do oral na relação com o outro. O desejo de falar vem à criança pela música das vozes, que a envolve, nomeia e chama a existir por sua conta. Toda uma arqueologia de vozes codifica e torna possível a interpretação das relações, a partir do reconhecimento das vozes familiares, tão próximas. Músicas de sons e de sentidos, polifonias de locutores que se buscam, se ouvem, se interrompem, se entrecruzam e se respondem. (CERTEAU; GIARD, 2013, p. 336) A escolha da epígrafe que abre esta seção, escrita por Michel de Certeau e Luce Giard, pretende provocar em você um olhar para a importância da oralidade, enquanto um direito, e para o desejo da fala pelas crianças, que pode ser materialmente verificado na escola pela “tagarelice” delas, que interagem entre si, por meio das palavras, como um arranjo musical. Conforme já apresentamos, nesta seção, você conhecerá os elementos constituintes da oralidade, essa prática social cotidiana que nos acompanha desde o despertar do dia até quando vamos nos deitar. Muitos autores que sustentam nossas discussões até aqui seguem nos acompanhando nesta etapa, para que você entenda, por meio desses estudiosos da oralidade, alguns desses elementos que se alocam na nossa prática da linguagem oral, as repetições que fazemos quando falamos, as pausas e os truncamentos que constituem toda manifestação oral, os marcadores conversacionais que sustentam a nossa fala e as entonações enfáticas que colocamos nas palavras para produzirmos os mais variados sentidos. Vamos conhecer um pouco desse funcionamento? Você já reparou como é diferente o modo como as pessoas falam (e escrevem)? Já percebeu que cada um tem um estilo de elaboração para seus textos? Já observou que algumas palavras ou frases, às vezes, são recorrentes na fala de uma pessoa? Você já se pegou “copiando” o estilo de fala de alguém? Isso é linguagem em prática social, na presença cotidiana de estar no mundo. Essa é apenas uma introdução para apresentarmos os elementos que constituem a oralidade e para você se familiarizar com o funcionamento da linguagem, que, aparentemente, acontece pela escolha de quem fala. REPETIÇÃO Vamos começar pelo elemento chamado “repetição”. A repetição é um recurso que utilizamos na fala, o qual é resultante de vários fatores, desde um domínio ainda imaturo dos elementos linguísticos (“então, a professora falou pra ele sentar e ele falou para a professora que não ia sentar; daí a professora chamou a diretora”), até a elaboração sofisticada da linguagem, que marca a ênfase que queremos dar a determinado item (“ele me entregou na saída o texto na saída, na saída”), ou mesmo para chamar a atenção do interlocutor (“você entendeu agora? Entendeu?”). Perceba que a repetição, ou qualquer outro elemento constitutivo da oralidade, não é de simples análise, ou seja, um recurso resultante de uma falha no uso da língua ou sofisticado apenas. Precisamos, enquanto professores, analisar como essas ocorrências aparecem nos textos orais em cada contexto, pois somente assim teremos uma análise reflexiva sobre a repetição. A pesquisadora de oralidade da Universidade Federal Fluminense, Lúcia Teixeira, diz que: [...] a transcrição de uma conversa livre pode oferecer aoportunidade de observar a hesitação, a reformulação e a repetição como procedimentos-padrão, perfeitamente comuns e aceitáveis nessa situação típica da esfera de comunicação cotidiana, em que predomina o registro informal da língua, mas embaraçosos numa situação de formalidade, em que as conversas devem ocorrer num registro cuidado e com temática voltada para assuntos de interesse mais geral e diversificado. (TEIXEIRA, 2012, p. 243) Essa colocação da autora nos faz perceber que a adequação da linguagem é necessária também na oralidade e que, se analisarmos minuciosamente determinado texto oral, perceberemos que as hesitações e a repetição – elemento que estamos dando destaque nesta parte da seção – fazem parte da produção oral em contextos cotidianos, de informalidade. Outro pesquisador que concorda com a ideia de que a repetição está na maioria das práticas de oralidade é Marcuschi (2006, p. 219), o qual afirma que a repetição serve para “contribuir para a organização discursiva e para a monitoração da coerência textual, favorecer a coesão e a geração de sequências mais compreensíveis, dar continuidade à organização tópica e auxiliar nas atividades interativas”. Koch (2005) acrescenta que a repetição está presente no discurso conversacional, e os parceiros, durante a construção do texto, criam, preservam e negociam as identidades, e o texto reflete essa atividade conjunta de produção. Isso permite refletir sobre as repetições que acontecem na nossa fala e na troca de turnos, quando repetimos o que o outro diz para darmos encadeamento na conversa. E qual seria a definição de repetição? Para Silva (2001), a repetição é o retorno de elementos linguísticos após a sua primeira ocorrência em um texto; para Marcuschi (2006, p. 220), a “repetição é produzir o mesmo segmento linguístico duas ou mais vezes. Contudo, a repetição não é um simples tautológico, pois ela expressa algo novo”. E ele complementa afirmando que repetir os elementos linguísticos não é o mesmo que repetir conteúdo, assim como Oliveira (1998) diz que repetir não é dizer o mesmo. Outra autora selecionada para você conhecer o conceito de repetição é Kerbrat-Orecchioni (2006), a qual diz que a repetição revela um domínio de construção de enunciados, oriundo de natureza diversa daquela que se observa na escrita, pois as condições de produção e recepção do texto são diferentes. Com essas definições, você deve ter percebido que a repetição na oralidade não é fruto de mau uso da língua, mas, sim, trata-se de um recurso que sustenta a nossa fala, assim como as pausas e os truncamentos. PAUSAS E TRUNCAMENTOS As pausas marcam uma “parada” na fala, que pode ou não ser preenchida pelo interlocutor ou pelo próprio locutor. Galembeck e Carvalho (1997) acrescentam que o silêncio deixado pela pausa não preenchida pode resultar em problema, pois o locutor se torna vulnerável, abrindo espaço para que o turno seja preenchido pelo interlocutor; daí a necessidade de se preencher as pausas com marcadores, como ahn, uhn, eh e ah, e com alongamentos, como certo::, ahn::. Já o truncamento é a redução de uma palavra sem a perda de seu sentido: professora para “prô” ou “prófi”. Para melhor explicarmos, trazemos Araújo (2002), ao dizer que a redução na palavra pelo fenômeno de truncamento não traz prejuízo ao valor semântico da palavra, como “refri” para refrigerante ou “ceva” para cerveja. O autor acrescenta que, para que o truncamento aconteça, é preciso que a palavra matriz seja, no mínimo, trissílaba, ou seja, tenha, no mínimo, três sílabas: bijuteria – “biju”. A forma truncada e a palavra-matriz devem ser semântica e pragmaticamente intercambiáveis, ou seja, uma forma pode ser substituída pela outra sem que haja perda de sentido. Além disso, a palavra truncada geralmente possui duas sílabas, como em cerva, embora haja casos de truncamentos com três sílabas (respónsa). (ARAÚJO, 2002, p. 65) DIFERENÇAS DIALETAIS Araújo (2002) traz uma reflexão bastante importante quando diz que as diferenças dialetais (as variedades) têm um papel importante na formação dos truncamentos. Eis aqui alguns exemplos que Araújo (2002) apresenta em seu texto: “refrí” (paulista) e “réfri” (paraense), em refrigerante; “prófi” (paulista), para professor, “profí” (gaúcho), para profissional. Esses exemplos nos permitem verificar que os truncamentos, ou abreviações, ou encurtamentos, não são meras reduções de palavras, mas a variedade na qual o dizer é produzido ou, ainda, o contexto em que a palavra é determinada é fundamental na formação do truncamento. MARCADORES CONVERSACIONAIS Na oralidade, encontramos também os marcadores conversacionais, elementos que constituem as produções orais e organizam o texto. Santos (2006) diz que os marcadores conversacionais estabelecem relações entre as unidades de um texto e os interlocutores. Urbano (1999) também apresenta os marcadores conversacionais nessa mesma linha. Para ele, os marcadores conversacionais acontecem na fala com bastante frequência e contribuem para a coesão e a coerência do texto oral. Por que você acha que utilizamos marcadores conversacionais em nossas falas? Santos (2006, p. 28) responde que os marcadores conversacionais “são utilizados pelos interlocutores para dar tempo à organização do pensamento, sustentar o turno, monitorar o ouvinte quanto à recepção, interromper ou finalizar o turno conversacional etc.”, e isso resulta em marcas do envolvimento dos interlocutores na interação. Mais uma vez, você pode perceber que a utilização dos marcadores conversacionais vai além de serem apenas marcas de oralidade. ASSIMILE • Você se lembra das discussões sobre adequação linguística? Repare que recorremos a Teixeira (2012) para retomar esta questão, pois, se consideramos a linguagem enquanto interação e que nossa língua possui muitas variedades, tudo o que sustenta a oralidade precisa ser pautado em adequação, e não em certo ou errado. • Para Dubois et al. (1973), “o estilo constitui a marca da individualidade do sujeito no discurso”. • Basicamente, temos três modos de entonação quando pronunciamos uma frase: o Ascendente: quando o tom da voz vai aumentando e finaliza mais alto que o tom utilizado no início; resulta em algo mais alegre. o Descendente: quando o tom da voz vai diminuindo e finaliza mais baixo que o tom utilizado no início; produz um efeito de tristeza. o Linear: quando o tom que inicia é o mesmo que finaliza; geralmente, utilizado quando o lado emocional fica em segundo plano, sendo mais objetivo. E quais seriam os marcadores conversacionais? A seguir, você verá um quadro elaborado a partir das pesquisas de Galembeck e Carvalho (1997, p. 4-19), que serve de base para muitos estudos de oralidade. Quadro 2.2 | Marcadores conversacionais Posicionados no início do turno não; mas; acho que; não é assim. Esses marcadores caracterizam o início ou a tomada de turno. Interacional ou interpessoal: construção e gestão do ato conversacional. Tomada de turno éh; oh; ah; bom; pois é. Envolvimento do ouvinte olha; veja; você vê; você acha; então você quer dizer o quê? Marcadores de opinião eu acho (que); creio (que); eu gostaria de saber; eu sei; me parece que; eu tenho a impressão; acredito que. Ideacional: elementos de coesão entre as partes. e; mas; então; além disso; agora; aliás. Posicionados no meio do turno né? sabe? entende? digamos; advérbios; conjunções; alongamentos que são responsáveis pelo desenvolvimento do turno. Interacional Envolvimento do ouvinte veja; veja você; olha; você sabe; você repara; você imagina; você pode ver. Sustentação do turno marcadores não lexicalizados: ahn; uhn; eh; ah; marcadores de alongamentos: certo::; ahn:: Manifestação de opiniões creio que; acredito que; tenho certeza que. Ideacional ou coesiva Algumas conjunções e advérbios: e; mas; agora; porque; então; depois; além disso.Posicionados no final do turno né? não é? entendeu? perguntas diretas e pausa conclusa que assinalam a passagem implícita ou explícita do turno. Interacional Passagem requerida né? não é? certo? entende? Passagem consentida É assinalada, na maioria das vezes, pelo final de uma frase declarativa (entonação descendente). Fonte: adaptado de Galembeck e Carvalho (1997, p. 4-19). Todos esses elementos que constituem a oralidade têm a mesma importância que o último elemento que estudaremos: entonação enfática. A entonação enfática diz respeito ao “tom” que damos aos nossos textos orais, ao modo como pronunciamos determinadas palavras. Você já percebeu que, dependendo da entonação que colocamos em algumas palavras ou frases, interpretamos que o interlocutor está irritado, ordenando algo ou sendo irônico, por exemplo? Esses elementos característicos da língua oral – as entonações, a altura de voz, o tom etc. –, para Travaglia et al. (2013), aparecem em todos os gêneros orais. Há gêneros orais, discursos políticos ou discursos orais em canais de youtubers, por exemplo, em que a entonação e a altura de voz são recorrentes, constituindo, assim, características desses gêneros. O tom também marca características de determinados gêneros orais: solene, em uma cerimônia de formatura; tristeza, em anúncios de falecimento transmitidos em carros de som; alegria, em comandos dados por animadores de festas infantis; deboche, em apresentações de standup. SAIBA MAIS Ainda sobre as entonações enfáticas, Ribeiro et al. ([s.d.]), pelo Programa de Formação Continuada em Mídias na Educação, da Secretaria de Educação a Distância do MEC, produziram um módulo sobre rádio. É bastante válido você visitar o site desse programa, pois há indicações e sugestões bastante pertinentes para o trabalho com diferentes mídias na escola. Para esta seção, priorizamos o rádio, pois, nas diretrizes para a construção dele, o módulo apresenta explicações relevantes que nos permitem associar ao conteúdo “entonações enfáticas”, que estamos discutindo agora. Para os autores, a ênfase “é a energia da fala, a vitalidade da palavra falada” ([s.p.]), e em uma frase existem uma ou mais palavras que pedem maior ênfase ao serem enunciadas. Podemos acrescentar que a ênfase que damos a uma palavra, e não em outra, em uma frase revela sentidos que estão funcionando naquele dizer. Já a entonação “é a música da linguagem” ([s.p.]), assim, cada palavra tem a sua variedade melódica, de acordo com o sentido. Você se lembra da epígrafe de Certeau e Giard (2013) que abriu esta seção, quando falamos da “tagarelice” das crianças como um arranjo musical? Falamos isso a partir dessa definição poética que Ribeiro et al. ([s.d.]) fazem da entonação, e bem sabemos o quanto as crianças, na escola e fora dela, fazem uso da entonação para expor suas ideias, defender seu ponto de vista e reivindicar sentidos. REFLITA Releia a epígrafe que introduz a seção e reflita: quem tem direito à fala? Quem pode produzir oralidade em nossa sociedade? Em relação aos truncamentos, você acha que eles são meras reduções de palavras ou há algo que determine ou autorize a redução em determinados contextos? Confira o exemplo de entonação enfática descrito por Ribeiro et al. ([s.d.], [s.p.]): Você viu aquele sujeito sair daqui? Você viu aquele sujeito sair daqui? Você viu aquele sujeito sair daqui? Você viu aquele sujeito sair daqui? Você viu aquele sujeito sair daqui? Você viu aquele sujeito sair daqui? Perceba que, se você pronunciar essas frases dando ênfase às palavras destacadas, a relevância do sentido muda bastante. Esse exemplo permite refletir sobre a entonação enfática enquanto elemento constituinte da oralidade e que afeta na produção dos sentidos daquilo que falamos. EXEMPLIFICANDO Como exemplo de repetição, você pode observar na própria fala das crianças na escola ou em reuniões escolares as repetições que fazemos por meio de encadeamento: F1: Só faltam dois preenchimentos para eu finalizar o relatório da disciplina. F2: Relatório de disciplina? F1: Sim, relatório de disciplina, deste bimestre, com entrega para a coordenação. F2: Ah, sim, esse relatório de disciplina eu já entreguei. Uma ocorrência de pausas muito comum acontece durante as aulas, quando um professor inicia uma palavra ou frase e, pela pausa, espera que os alunos “preencham” essa lacuna deixada de forma proposital. Perceba que essa pausa possui o caráter de analisar se os alunos sabem o conteúdo ou se estão atentos à explicação. É a partir de exemplos e pensando em situações contextualizadas que esses elementos constituintes da oralidade podem ser ensinados – tanto a entonação quanto a repetição, as pausas, os truncamentos e os marcadores conversacionais – e, de forma reflexiva, colocando a criança frente a situações em que os usos na oralidade não são mero fruto do desejo de quem fala, mas determinados por fatores (elementos) próprios da língua. FOCO NA BNCC O eixo Oralidade, na BNCC (2017), prevê práticas de linguagem de uso oral que envolvem tanto a compreensão da escuta quanto a produção da fala, negociando os significados entre os interlocutores, com ou sem contato face a face. Ensinar oralidade é ensinar que cada gênero possui características específicas e, atrelado a isso, há as particularidades da fala dos interlocutores, que são uma das marcas de sua identidade. Dentre isso, temos as escolhas lexicais e frasais, a pronúncia, a entonação e o ritmo. Perceba que estudar a entonação e os marcadores conversacionais enquanto lugares de identidade do falante contribui para que você utilize as diferentes linguagens para se expressar e para que seu aluno amplie os modos de expressão. Nesta seção, você conheceu um pouco mais sobre as repetições, as pausas e os truncamentos, entendendo que esses são elementos constituintes da oralidade bastante importantes e que mostram certo domínio de língua nas produções orais. Os marcadores conversacionais foram mostrados com o intuito de evidenciar o quanto afetam na organização textual e na relação entre os interlocutores, assim como a entonação que damos a algumas palavras ou frases em um texto oral. FAÇA VALER A PENA Questão 1 Os embrulhos – Maria Clara Machado [...] Velho - E aí? Velha - Aí eu apareci e perguntei a ela por que estava dando nosso pão-de-ló para ele, e ela disse...disse assim mesmo: “É meu amigo, dona Nenguinha, dei um pedacinho de pão-de-ló a ele... Velho - E o que é que você disse? Velha - Não disse nada, eu não sabia o que dizer. O que é que eu tinha que dizer, hein, Neguinho? Velho - Você tinha que dizer que o pão-de-ló não era dela para estar distribuindo assim a torto e a direito para os que aparecem. (O Velho sai) [...] (MACHADO, 1970, [s.p.]) Tomando como referência o diálogo entre o velho e a velha na peça infantil de Maria Clara Machado, classifique as afirmativas a seguir em verdadeiras (V) ou falsas (F): ( ) As repetições, mesmo na oralidade, marcam uma falta de planejamento textual. ( ) As pausas aparecem quando o falante não sabe ao certo o que dizer. ( ) O modo das trocas de turnos no diálogo mostra que os falantes possuem certa intimidade. ( ) Os marcadores conversacionais foram utilizados de forma inadequada no diálogo. Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta: a. V – V – F – F. b. F – F – V – V. c. F – F – V – F. d. V – F – V – V. e. V – V – V – F. Questão 2 Os marcadores de introdução de tópico não funcionam apenas para indicar que se está passando para algo novo, mas que esta passagem tem alguma razão de ser e deve ser notada (caso contrário, pode surgir a clássica pergunta: ‘por que isso agora?’). Entre esses marcadores, temos alguns típicos, como: ‘isto me lembra aquela do’ (e se conta o caso), ou ‘sim, mas mudando de assunto’, ou então ‘mas voltando ao assunto’. (MARCUSCHI, 2007, p. 77-78) Considerando o contexto dos marcadoresconversacionais, avalie as afirmativas a seguir: I. Os marcadores conversacionais servem também para preencher lacunas deixadas na oralidade. https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u2s2.html#accordion-4%20.item-1 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u2s2.html#accordion-4%20.item-2 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u2s2.html#accordion-4%20.item-3 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u2s2.html#accordion-4%20.item-4 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u2s2.html#accordion-4%20.item-5 II. Os marcadores conversacionais estabelecem relações coesivas no texto e contribuem para a coerência. III. Os marcadores conversacionais são marcas informais que usamos na oralidade e que comprometem o entendimento do texto. Considerando o contexto apresentado, assinale a alternativa correta: a. Apenas a afirmativa II está correta. b. Apenas as afirmativas I e II estão corretas. c. Apenas as afirmativas I e III estão corretas. d. Apenas as afirmativas II e III estão corretas. e. As afirmativas I, II e III estão corretas. Questão 3 Marcuschi (2008, p. 25) diz que a fala “caracteriza-se pelo uso da língua na sua forma de sons sistematicamente articulados e significativos”. A isso ele acrescenta os aspectos prosódicos, que envolvem a entonação e o ritmo da fala, e outros recursos que usamos para nos expressar: os gestos, os movimentos do corpo e a mímica. Na relação entre a fala e o ensino dos elementos constitutivos da oralidade, podemos afirmar que: a. A escola deve ser o espaço de ensino da fala, com todos os seus constituintes. b. Os marcadores conversacionais na oralidade são utilizados por falantes com pouco conhecimento da língua. c. O sistema linguístico na oralidade é o mesmo da escrita, o que muda são os modos de uso, resultando em produtos textuais diferentes. d. Os sons da língua produzidos na oralidade em nada afetam o sentido das frases. e. Na oralidade, os marcadores conversacionais, por serem informais, comprometem o entendimento do texto. REFERÊNCIAS ARAÚJO, G. Truncamento e reduplicação no português brasileiro. Revista de Estudos Linguísticos, Belo Horizonte, v. 10, n. 1, p. 61-90, jan./jun. 2002. Disponível em: https://bit.ly/3nlfZHJ. Acesso em: 2 jun. 2020. BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF: MEC. 2017. Disponível em: https://bit.ly/35hUq4v. Acesso em: 24 abr. 2020. CAGLIARI, L. C. Elementos de fonética do Português brasileiro. São Paulo: Paulistana, 2007. CERTEAU, M. de; GIARD, L. Uma ciência prática do singular. In: CERTEAU, M. de; GIARD, L.; MAYOL, P. A invenção do cotidiano: 2. Morar, cozinhar. 12. ed. 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SEM MEDO DE ERRAR O contexto de aprendizagem apresentado mostra que você conhece um pouco da realidade dos alunos, e isso pode ser um ponto a favor quando pensamos em propostas pedagógicas contextualizadas. Conhecer o contextoda comunidade em que a escola está inserida permite que temas pertinentes aos interesses pessoais dos alunos sejam levados para a sala de aula e, assim, perpassar várias atividades pedagógicas. Para esta situação-problema, foi delimitada a elaboração de uma proposta pedagógica para ser apresentada em um evento artístico-literário na escola, com a presença de todos os alunos, da comunidade e de autoridades. Essas informações vão direcionando o que se pode esperar dessa atividade. Além disso, a conversa com outros professores sobre o evento, para troca de ideias e, juntos, identificar os recursos pedagógicos, o material didático e as ferramentas que melhor se encaixam para o desenvolvimento dos objetivos previstos, de modo que atendam às necessidades e respeitem os ritmos de aprendizagem e a identidade dos estudantes. O campo de atuação artístico-literário se sustenta na participação em situações de leitura, fruição e produção de textos literários e artísticos, que representem diversidade cultural e linguística. Perceba que este é um campo vasto, o qual permite trabalhar com diferentes gêneros textuais que circulam no meio literário, nos mais variados temas. Você pode selecionar alguns temas e levar para a sala de aula para que os alunos escolham em conjunto. Verifique que, em uma atividade de seleção de tema pelos alunos, você trabalhará a oralidade, a troca de turnos na conversa, o respeito pela fala do outro e a argumentação na defesa do ponto de vista. Dentre os temas, podem ser oferecidos, por exemplo, convivência, raça, gênero e meio ambiente, os quais incentivam o pensar pessoal e coletivo, com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários. A atividade pode ter como objetivos: estimular a leitura de textos literários de diferentes formatos; estimular a escrita de textos literários; conhecer as variedades linguísticas; saber adequar as variedades às diferentes situações de comunicação; expressar-se pela dramatização de textos. As competências específicas de Língua Portuguesa para o ensino fundamental, na BNCC (BRASIL, 2017), serão selecionadas considerando os objetivos propostos para a atividade. Se você descreveu que os objetos estão relacionados a conhecer e discutir textos literários diversos e desenvolver a oralidade dos alunos, você pode selecionar a Competência 2, a qual prevê a apropriação da linguagem escrita para ampliar a participação na cultura letrada; a Competência 4, que trata das variedades linguísticas; a Competência 5, que reforça a questão da adequação linguística; e as Competências 8 e 9, que trazem a seleção de textos e leitura literária. Repare quantas competências são desenvolvidas em uma atividade de apresentação artística-literária, e outras também poderiam ser acionadas. Para as habilidades, você deve selecioná-las, mais uma vez, considerando os objetivos da sua atividade, o ano escolar e o eixo oralidade dentro do campo de atuação artístico-literário. Vamos exemplificar: a Habilidade 25, prevista para o quarto ano do ensino fundamental, no componente curricular de Língua Portuguesa (EF04LP25), descreve a representação de cenas de textos dramáticos, reproduzindo as falas dos personagens, e essa habilidade pode ser desenvolvida por meio da atividade que você proporá. Lembre-se de salientar aos alunos a variedade que eles precisam usar durante a apresentação, falar da importância da adequação linguística nesse contexto; para isso, vale mencionar que os marcadores conversacionais que se aproximam de situações informais da prática oral não cabem neste gênero textual, com o público que estará presente. PESQUISE MAIS Leia mais sobre oralidade e os elementos que a constituem a partir do texto da pesquisadora Lucia Teixeira, da Universidade Federal Fluminense. A autora discute a oralidade pela noção de gênero, ressaltando a importância de se colocar a oralidade enquanto objeto de ensino. Boa leitura! • TEIXEIRA, L. Gêneros orais na escola. Bakhtiniana, v. 7, n. 1, p. 240-252, 2012. AVANÇANDO NA PRÁTICA MARCADORES CONVERSACIONAIS: COMO TRABALHAR Durante o desenvolvimento da atividade a ser apresentada na feira artístico-literária da escola, você percebeu que os alunos insistiam em utilizar marcadores conversacionais comuns em textos orais informais. A apresentação deles é um evento motivador para a prática da oralidade na escola, e o fato de os colegas, a família e a comunidade assistirem coloca, nesta prática, uma importância para a criança. A insegurança em relação à linguagem se instala, pois é um evento bem distinto das conversas informais que eles realizam entre si na sala de aula. Diante desse exposto, quais caminhos você trilharia para que os alunos adequassem a variedade linguística ao pedido pelo contexto de comunicação? RESOLUÇÃO A ORALIDADE COMO PRÁTICA SOCIAL A ORALIDADE COMO PRÁTICA SOCIAL Fabiana Claudia Viana Costa Dias https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/fmt_u2s2.html#resolucao%20.item-1 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS QUE ENVOLVAM DISCUSSÕES DE PROBLEMAS COTIDIANOS Sua missão nesta seção é selecionar gêneros textuais, impressos ou digitais, que circulem na vida pública, tanto para a leitura quanto para a produção de texto escrito, e sejam capazes de resolver problemas sociais. Fonte: Shutterstock. Deseja ouvir este material? SEM MEDO DE ERRAR A vida pública oferece discussões diversas sobre o nosso cotidiano. As crianças chegam à escola afetadas pelos espaços públicos nos quais transitam, então a escola deve se apropriar desse cotidiano das comunidades e contribuir para o pleno desenvolvimento de todos, a partir do diálogo com vários integrantes da sociedade, buscando a resolução de conflitos e a cooperação. O contexto de aprendizagem apresentado para esta situação-problema é bastante profícuo para você pensar em práticas pedagógicas que promovam o olhar crítico frente aos problemas cotidianos e, principalmente, busque a solução de problemas, com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários. O exemplo trazido pela aluna sobre o descontentamento pelos buracos na rua permite refletir sobre as obrigações do poder público no cuidado com a cidade e o papel da comunidade no cuidado e nas cobranças de melhorias para o bairro, provocando a interação, a compreensão e a ação no seu entorno. Além dessas questões, pode-se também discutir fenômenos naturais, como a chuva, uma das “causadoras” de buracos em asfalto feito com material inadequado. Percebe que esses são alguns caminhos possíveis para dar início a leituras e discussões orais para se pensar na escrita de um texto? O campo da vida pública oferece uma gama de gêneros textuais para o trabalho com textos em sala de aula. Elencaremos alguns como sugestão para a resolução da situação-problema, mas você pode selecionar outros, tanto para esta situação quanto para uma situação real na escola. Você pode começar selecionando notícias e reportagens de diversos jornais – impressos e digitais, rádios e podcasts ou TV – com notícias locais ou nacionais sobre as condições das ruas e dos bairros e analisar como esses problemas foram resolvidos – ou não. Veja como essa atividade é enriquecedora, pois, além de apontar os problemas, faz com que as crianças pensem na solução, trilhando caminhos para melhorar a condição de vida dos moradores da comunidade. Essas notícias e reportagens podem ser discutidas na sala de aula, em atividades de oralidade. Você pode ler algumas, projetar outras, provocar a interpretação a partir do questionamento prévio, ou, ainda, distribuir esses textos em grupos na sala e deixar que os alunos falem sobre eles, apresentem os pontos de vista e se posicionem frente ao que está escrito, relacionando com o problema apresentado pela colega. Certamente, outros alunos apontarão problemas em sua rua ou conhecem problemas das ruas de outros, eisso enriquece a discussão e contribui para a elaboração da argumentação no texto final também. Além das notícias e reportagens, você pode apresentar cartas do leitor presentes nesses jornais ou comentários nos sites e, assim, expandir o contato dos alunos com os variados gêneros textuais que circulam na esfera pública. A partir dessas discussões e já pensando na resolução do problema apresentado pela aluna, você pode sugerir a criação de um abaixo-assinado para que os moradores assinem e seja entregue a órgãos competentes, ou uma carta de reclamação, também entregue ao segmento da cidade responsável pela conservação da via pública. Reserve uma aula para que aos alunos pesquisem na internet o que é um abaixo- assinado e o que é uma carta de reclamação, em quais circunstâncias utilizamos esses gêneros textuais, quem pode escrevê-los, a quem se destinam e qual é a sua estrutura. Em posse dessas informações, a produção do texto se inicia. Vale ressaltar que a escrita é um processo de seleção de variedades e conteúdos, e as discussões prévias e ao longo da escrita são indispensáveis. Nesse texto, podem ser incluídas imagens dos buracos coletadas pelos próprios alunos, assim como depoimentos de moradores da rua, a partir de entrevistas realizadas também pelos alunos. A produção desse texto pode provocar a discussão a respeito das fake news, desde a seleção de notícias para serem debatidas no início desse processo até a elaboração do texto pelos alunos, ressaltando a importância de se selecionar dados e informações verdadeiras para que o problema seja solucionado. Esses textos produzidos, após enviados aos órgãos competentes e o retorno (ou não), podem ser enviados para jornais locais, como uma forma de denunciar o problema ou apresentar um caminho para a resolução de um problema comunitário. AVANÇANDO NA PRÁTICA IMPORTÂNCIA DA REESCRITA Os alunos escreveram o abaixo-assinado ou a carta de reclamação, porém algumas inadequações apareceram na escrita. O texto foi entregue a você, o professor da sala, para ser enviado ao órgão responsável, mas você percebeu alguns problemas de escrita e agora se vê diante da necessidade de rediscutir o texto com os alunos autores. Quais caminhos e soluções você apresenta para essa situação? De que maneira os alunos podem atentar para a escrita mais cuidadosa? RESOLUÇÃO Bons estudos! MANIFESTAÇÕES SOCIAIS POR MEIO DAS MULTIMODALIDADES DE LINGUAGEM Fabiana Costa Dias Fonte: Shutterstock. Deseja ouvir este material? CONVITE AO ESTUDO Caro aluno, chegamos à Unidade 3 deste livro. Nesta unidade, você reconhecerá as diversas particularidades das manifestações orais e observará as variações linguísticas que permeiam as produções orais. É neste momento que você terá a oportunidade de https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/fmt_u2s3.html#resolucao%20.item-1 discutir pontos importantes e indispensáveis para pensarmos a linguagem oral; iniciaremos refletindo sobre os modos como a oralidade se manifesta, considerando as diferentes formas de comunicação que utilizamos em nossa sociedade, pelas mais variadas tecnologias, inclusive digitais, da informação e da comunicação. É a partir da reflexão acerca das manifestações da oralidade que você estudará a relação da oralidade com a cultura popular e com as diversas formas de arte, sobretudo nas canções e músicas populares. Além disso, terá a oportunidade de estudar os diferentes gêneros multissemióticos e multimodais circulantes em nossa sociedade, atentando para as diferentes formas e interações. Compreender o papel da linguagem e da oralidade na comunicação humana é subsídio para você planejar propostas pedagógicas pautadas na oralidade enquanto prática social, sem preconceito linguístico, e que reconheçam a manifestação cultural e popular, por meio de diferentes mídias e suportes digitais. Vamos começar? PRTICAR PARA APRENDER Estamos iniciando a Seção 3.1 desta unidade. Todo o conhecimento que você construiu até aqui será a base para as discussões propostas nesta parte. Saber sobre as concepções de linguagem e sobre as variações linguísticas, entender a relação da oralidade com a escrita e refletir sobre tudo o que constitui um texto oral é fundamental para estudar as manifestações sociais por meio das multimodalidades de linguagem. Textos multimodais são textos elaborados a partir da diversidade de linguagem – oral, visual, gestual, imagética... –, que produz efeitos diversos em um texto, como uma live musical transmitida por uma plataforma on-line. Nesse gênero, nos deparamos com artistas cantando, dançando, temos legendas, intérpretes de Libras, propagandas – com rótulos, luminosos e degustação de produtos –, além de comentários nos chats, que também fazem parte desse gênero. As manifestações de linguagem nas práticas linguageiras sociais acontecem por meio das multimodalidades de linguagem e é isso que abordaremos nesta seção. As multimodalidades estão presentes nos mais variados modos de comunicação existentes; elas sustentam a nossa fala, a nossa escrita e fazem parte do nosso cotidiano. Esses diversos modos de comunicação podem ser linguísticos, quando utilizamos de recursos da língua para produzir nossos textos, ou podem ser visuais e gestuais, quando outros elementos entram na produção textual, como os gestos, a entonação, as várias expressões faciais, etc. À medida que discutirmos esses modos de comunicação, você passará a entender como o conhecimento é construído e posto em circulação nas diferentes mídias. Quando falamos em mídias, estamos nos referindo tanto às digitais quanto às não digitais: jornais impressos e on-line, livros impressos e digitais, materiais didáticos impressos e em plataformas, artigos científicos, etc. Convidamos você, então, a explorar o universo múltiplo da comunicação humana, constituída pela pluralidade de linguagem e materializada pelas multimodalidades. Você já sabe que a transição da educação infantil para o ensino fundamental exige um olhar atento dos professores e de toda a equipe gestora, não é? Isso se deve ao fato de que as mudanças pelas quais a criança passa podem ser definitivas para o processo de aprendizagem, o qual precisa ser contínuo em relação à etapa anterior. Neste momento, o respeito aos diferentes modos de acesso ao conhecimento que os estudantes apresentam precisa ser levado em conta quando planejamos as práticas pedagógicas. Para contextualizar sua aprendizagem durante as três seções desta unidade, imagine que você leciona para uma turma de 1° ano do ensino fundamental, etapa crucial para a formação do aluno. Nessa turma, muitas atividades estão previstas: atividades que envolvam as diferentes linguagens orais multimodais que contemplam as multimídias, como redes sociais, aplicativos diversos de mensagens com áudio e vídeo, e diversos sites na internet; acesso à cultura popular brasileira, por meio da arte, da literatura e de canções e músicas populares; e contato com diferentes gêneros textuais, compostos por variados elementos multissemióticos, ou seja, que englobam tanto elementos linguísticos quanto não linguísticos, seja na escrita ou na oralidade. Essa descrição permite que você adote um repertório diversificado de estratégias didático-pedagógicas. Considerando o contexto apresentado, suponha, nesta primeira seção, que você tenha de desenvolver com os alunos da sua sala uma atividade que englobe diferentes multimodalidades de linguagens: quais gêneros textuais você priorizará? Quais elementos serão discutidos e observados nessa atividade? Quais conhecimentos e habilidades serão construídos pelos alunos a partir da sua proposta? Para auxiliá-lo na produção dessa atividade, você pode se pautar na habilidade 23 da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), prevista para o 1° ano do ensino fundamental, a qual propõe: Planejar e produzir, em colaboração com os colegas e com a ajudado professor, entrevistas, curiosidades, dentre outros gêneros do campo investigativo, que possam ser repassados oralmente por meio de ferramentas digitais, em áudio ou vídeo, considerando a situação comunicativa e o tema/assunto/finalidade do texto. (BRASIL, 2017, p. 109) Não se esqueça de que você deverá planejar e organizar uma prática pedagógica que proporcione o uso adequado de algum gênero oral e que promova, também, a aprendizagem de forma inclusiva, significativa e colaborativa, por meio de diferentes mídias e suportes digitais. Você já cursou metade da disciplina e construiu um conhecimento valioso sobre oralidade até aqui. Agora, é o momento de se apropriar desse conhecimento para entender novos conceitos advindos da área das Linguagens, os quais favorecem o processo de ensino, bem como o seu desenvolvimento e o de seus alunos. Vamos lá? CONCEITO-CHAVE Seja bem-vindo à primeira seção desta terceira unidade. Você deve se lembrar de que estudamos as diferentes concepções de linguagem e de que priorizamos a perspectiva que considera a linguagem como processo de interação, a partir da qual a linguagem é prática social e vai além de representar o pensamento e comunicar algo a outrem, não é mesmo? A linguagem, considerada de forma interativa, é um lugar profícuo para pensarmos a adequação de linguagem a partir das variedades linguísticas, combatendo o preconceito linguístico e entendendo que a linguagem marca uma identificação, ou seja, o modo como falamos diz muito sobre nós, daí a importância de se discutir as várias manifestações da linguagem. Para isso, esta seção foi construída de modo a levá-lo a uma reflexão sobre as mais variadas manifestações da linguagem e para convidá-los a pensar, principalmente, sobre aquelas que serão o foco de discussão deste material, afinal, estudar linguagem é um campo complexo, quase infindável. Discutir linguagem é refletir sobre aquilo que nos constitui enquanto sujeitos nas mais variadas práticas sociais. Assim, para dar conta de tão variadas práticas, contamos com diferentes modos de comunicação, os quais você estudará aqui. Temos as comunicações verbais – nas quais utilizamos palavras, pela oralidade ou pela escrita –, e as não verbais – que contemplam as comunicações visuais e gestuais. Tratar a respeito desses diferentes modos de comunicação permitirá que você construa um conhecimento sobre as multimodalidades de linguagem nas suas diferentes manifestações. As multimodalidades abarcam a multiplicidade de linguagens que formam os textos, e isso você já deve ter percebido em diferentes contextos: muitos textos apresentam escrita, imagens, outros trazem emojis, gifs, enfim, essa mescla de elementos em um texto é o que o faz ser multimodal. Vamos começar apresentando uma citação de Dionísio (2011, p. 139), em que a autora afirma que falar ou escrever um texto requer, no mínimo, “dois modos de representação: palavras e gestos, palavras e entonações, palavras e imagens, palavras e tipográficas, palavras e sorrisos, palavras e animações”, e assim por diante. Essa afirmação é bastante relevante para que você pense sobre a multimodalidade de forma ampla, e para que entenda que não se trata apenas de um ou de outro elemento que forma um texto, mas de múltiplos recursos que sustentam um texto aqui, outro ali, que funcionam bem em um texto, mas não em outro e cuja adequação e escolha não são aleatórias, mas dependem do contexto em que o texto será inserido. Dionísio (2007), no livro que organizou em parceria com Marcuschi, grande estudioso da oralidade e bastante citado neste livro, diz que estamos envolvidos em uma comunicação multimodal, seja no texto manuscrito, no texto impresso numa página de revista, ou na tela de um computador, e complementa: “referimo-nos à multimodalidade discursiva como um traço constitutivo a todos os gêneros textuais escritos e orais” (DIONÍSIO, 2007, p. 178). Algumas placas informativas, nas mais variadas repartições de grande circulação, apresentam elementos que exemplificam de forma satisfatória a multimodalidade da qual tratamos aqui. Vejamos um exemplo: Figura 3.1 | Placa informativa Fonte: Shutterstock. Nessa imagem, temos uma enfermeira, caracterizada pelo gorro e pela vestimenta branca; o dedo indicador na boca e a expressão séria simbolizam a ordenação do silêncio, motivo pelo qual podemos classificar esse tipo de cartaz como “ordenativo”. Essa imagem é um exemplo de comunicação visual e gestual; ao nos depararmos com ela, logo interpretamos que o lugar exige uma postura silenciosa (em alguns cartazes do gênero, você já deve ter se deparado com a palavra “silêncio” abaixo da imagem; apresentada dessa maneira, teríamos na placa informativa um outro elemento da multimodalidade: o linguístico). Podemos, ainda, a partir desse gênero textual, saber em quais espaços ele circula. Você se lembra das reflexões de Bakhtin (2003) sobre gênero textual e o que ele implica? O autor falava sobre a produção, a circulação e a recepção, nos mostrando, assim, que o modo como os textos são produzidos tem relação com o local onde circularão e com quem os receberá; por isso, um cartaz com essa imagem na parede de uma casa pode causar estranhamento. Essas reflexões, e várias outras, você pode desenvolver em sala de aula, levando o aluno a identificar a função social dos textos que circulam na vida cotidiana, e analisando a linguagem, a organização e a forma do texto. Certamente, muitas interpretações podem emergir das reflexões dos alunos, que trarão para a discussão outros textos, de outras práticas sociais cotidianas, assim como você pode ter se lembrado de outros cartazes ou textos ordenativos com os quais você tenha se deparado nos mais variados locais de circulação. Quando pensamos sobre os locais de circulação dos textos, o meio digital, atualmente, recebe destaque para as produções e as leituras de textos dos mais variados gêneros. É inegável a importância que as mídias digitais ocupam em nossas vidas, e a escola precisa estar atenta às mudanças tecnológicas, para além de laboratórios de informáticas ou da implantação de plataformas educacionais: é preciso, na realidade, olhar para o digital como um espaço que possibilita refletir sobre o modo como significamos nas e pelas telas, sobre como podemos escrever e falar no digital, e sobre o que nos é permitido acessar pelo e no digital. A pesquisadora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Cristiane Dias, dedica seus estudos a pensar sobre o digital, e, em uma de suas últimas publicações, nos traz importantes considerações acerca do funcionamento do digital. Ela afirma que: Ora, se refletirmos um momento sobre o sujeito-leitor da nossa atualidade, pensaremos imediatamente em um sujeito cujo olhar está “inclinado” para a tela. Mais que submetido a essa textualidade, ele está submerso nela, absorto. Pensaremos num sujeito-leitor que encontra seus materiais de leitura através de uma pesquisa automatizada: uma pesquisa no google, por exemplo, e o que ele tem como resultado é uma textualização seriada de links. Pensaremos num leitor que desliza o dedo sobre a tela do smartphone, clicando em pontos diversos da tela para pausar, copiar, ampliar, digitar, passar a tela, abrir uma outra. O olhar submerso a essa textualidade desliza rápido, como o dígito. Eu diria que esse modo de leitura passa por um processo de automatização que traz em si gestos de interpretação, de quem desenvolveu um algoritmo de busca, da memória de quem busca, de uma injunção à interpretação que leva o sujeito a clicar nos resultados x ou y. (DIAS, 2020, p. 170-171) Ao ler essa citação, você deve ter percebido que o trabalho com o digital em sala de aula deve permitir que os alunos olhem para as Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC) de forma crítica e significativa, e que analisem os modos de acesso a informações pelos resultados de pesquisa, compreendendo quenão aparecem de forma aleatória, mas são determinados pela leitura que “as máquinas” fazem de todo o nosso percurso enquanto estamos conectados: os sites que visitamos, as notícias que lemos, os produtos que compramos; todas essas informações permitem um mapeamento sobre nós, que resultará nas indicações de links que surgem quando fazemos uma busca, por exemplo. Dias (2020) acrescenta, ainda, que a produção e a interpretação de um texto funcionam de maneira distinta no digital e a autora não nega os desafios que esse modo de funcionamento da linguagem – o digital – impõe ao ensino. Para ela, não dá para trabalharmos textos da mesma maneira quando nos deparamos com o digital, pois os objetos de conhecimento – o texto, por exemplo – são outros. E, assim, lançamos o questionamento: como trabalhar as variedades dos modos de comunicação existentes – linguísticos, visuais e gestuais – na escola? Como o conhecimento se produz e funciona pelas mídias? Você pode começar a responder a essas questões refletindo sobre as interpretações que fazemos para selecionar um link e não outro dentre os vários apresentados pelos resultados da busca do Google, como bem coloca a autora. Sobre essa questão da sala de aula, Reinaldo e Bezerra (2012, p. 78) afirmam que “a escola é um lugar de ensino/aprendizagem (formal), a simulação tem nela seu espaço, no entanto essa simulação não dispensa a observação e análise do gênero em seus contextos”. Perceba a importância da escola ao colocar os alunos em contato com os mais variados gêneros, mesmo que simulando práticas sociais, que acontecem no digital e fora dele, pois as simulações podem permitir aos estudantes se projetar em situações de comunicação nas quais as diferentes linguagens são requisitadas. Esse é o trabalho do professor, como nos acrescenta Bazerman (2006): o de definir gêneros e atividades para que a aprendizagem aconteça. A simulação traz para dentro da sala de aula o funcionamento da linguagem e daquilo que a extrapola. Por exemplo, você pode elaborar práticas que simulem uma ida ao supermercado, passando pelo pedido de produtos, pelo pagamento... Quando exercemos essa prática, a multimodalidade textual fica em evidência: usamos palavras, gestos, objetos diversos para o pagamento, notas, cartões, moedas, cheques, meios de representação monetária. Perceba que uma simples atividade de simulação é capaz de colocar os alunos em contato com uma prática de linguagem bastante comum em nosso cotidiano, que engloba construção linguística nos diálogos, conhecimentos matemáticos, e que explora espaços, tempo, além da relação do corpo, dos gestos e dos movimentos consigo e com o outro. Além de práticas linguageiras cotidianas no espaço da cidade, práticas digitais também podem ser simuladas, utilizando exemplos que os próprios alunos podem apontar em relação aos usos que fazem dos eletrônicos: pelos youtubers que seguem, pelos vídeos de TikTok a que assistem, pelos seus jogos preferidos... Todas essas práticas de linguagem permitem um trabalho que explore a multimodalidade desses textos e a mescla de recursos utilizados na interação com o interlocutor. Esses textos digitais provocam, inclusive, uma leitura que não é linear, linha a linha, da esquerda para a direita, mas que acontece em direções diversas, podendo começar pela busca de um tema nos vídeos, ou pela indicação de link em uma página, ou por um texto encaminhado pelo Whatsapp, por exemplo. Todos eles podem, também, ser trabalhados a partir de reflexões que não se fecham na estrutura ou no modo como são produzidos – escritos ou falados –, mas que consideram, sobretudo, como funcionam, buscando responder a questionamentos diversos, como: quem pode criar canais da internet? O que leva um canal a ter uma infinidade de seguidores? Quais são os jogos mais jogados? Quais perfis de TikTok se destacam, dentre tantos usuários? Qual(is) linguagem(ns) pode(m) ser utilizada(s)? Essas questões estimulam um olhar crítico sobre a linguagem e permitem analisar que o acesso aos diferentes modos de dizer é diferente pelos diferentes sujeitos. Esses exemplos mostram que a multimodalidade é característica presente à maioria dos textos, de modo que, atualmente, textos que se constituem apenas pela estrutura linguística atraem poucos leitores da faixa etária que predomina na educação básica. Diante dos textos multimodais, outras habilidades são requeridas, e os alunos se deparam com várias manifestações de linguagem, mesmo em textos escritos, mas que trazem recursos linguísticos, imagéticos, ou diferentes letras, cores, formatos, que contribuem para a fluidez da leitura. É isso que a escola precisa acompanhar, e é sob essa perspectiva que você precisa pensar seus planejamentos pedagógicos, a fim de contribuir para a construção do conhecimento dos alunos e para a aquisição de saberes. A contemporaneidade exige textos multimodais; estamos inseridos no mundo e nos ressignificamos na mesma velocidade da produção da informação, que circula diariamente e se transforma com a mesma rapidez com que aparece: pela manhã, recebemos uma informação e, à tarde, ela já é outra. O mesmo acontece com os textos, que precisam estar em consonância com a contemporaneidade, explorando os diferentes elementos que podem contribuir para a produção de sentidos pela leitura. A isso servem os textos multimodais na escola: inserir o leitor do texto nas práticas atuais de leitura e o produtor do texto nas práticas atuais de escrita. Dionísio (2007) acrescenta que os gêneros textuais que se apresentam como multimodais não são apenas os compostos por fotografias, telas de pintura, desenhos, etc., mas que o modo como o texto se apresenta graficamente, no papel ou na tela do computador, também marca essa multimodalidade. Pense nos textos com vários tamanhos e cores de letras, com movimento dos textos escritos, gifs... Esses recursos dão ao texto o caráter multimodal. A multiplicidade de elementos em um texto provoca no aluno o desenvolvimento de habilidades que vão além da decodificação de palavras; é preciso interpretar tudo o que constitui o texto e que, assim, afeta o seu sentido. Pesquisadores participantes do Grupo de Estudos e Pesquisa em “Educação a Distância: Formação docente para o Ensino de Ciência e Tecnologia”, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, reuniram textos que versam sobre a EAD e os efeitos da tecnologia nesse processo. Uma dessas pesquisadora é Knuppel, para ela (2016, p. 66), as “novas maneiras de relacionamento com as informações e com a tecnologia podem transformar a relação pedagógica, pois por essa formação digital, alunos conseguem interagir com muitas informações ao mesmo tempo” e essa ação, diz a autora, provoca a necessidade de práticas pedagógicas que estejam diretamente relacionadas com as TDIC. Dessa forma, reforçamos o que dissemos há pouco: a escola precisa acompanhar as mudanças tecnológicas, o que inclui levar o digital para ser discutido em sala de aula e não apenas como meio de leitura e escrita, mas enquanto objeto de saber, que permite olhar para a linguagem de uma maneira diferente do funcionamento dos textos impressos. Estamos em consonância com Marcuschi (2010, p. 16) quando ele diz que o sucesso das novas tecnologias tem relação com “o fato de reunir em um só meio várias formas de expressão, tais como texto, som e imagem, o que lhe dá maleabilidade para a incorporação simultânea de múltiplas semioses, interferindo na natureza dos recursos linguísticos utilizados”; reforçamos a importância da interpretação de todos os elementos que constitui um texto, as semioses, pois afetam diretamente a construção do sentido do texto no qual estão atuando. ASSIMILE As interpretações implicam em modos diferentes de “entendermos” o funcionamento da linguagem, no digital e fora dele. Esse “entendimento” faz com que escolhamos um link para clicarmos em detrimento de outros vários que aparecem como sugestão. Percebaque essa escolha é diferente de acordo com os diferentes objetivos que temos quando estamos na internet. REFLITA Você já atentou para os diferentes resultados de buscas gerados a partir da mesma palavra ou expressão, por diferentes computadores ou smartphones? Já tentou retomar uma busca feita de um outro lugar e não conseguiu chegar aos resultados apresentados antes? A que você atribui esse funcionamento do digital? EXEMPLIFICANDO 1. A oralidade é o lugar da multimodalidade por excelência. As crianças, quando falam em sala de aula, ou seja, quando estão disputando sentidos por meio da oralidade, exploram a entonação das palavras e a expressão facial como recursos argumentativos na sua fala. 2. A multimodalidade está presente em vários gêneros textuais formais. Analise a sua certidão de nascimento ou casamento, por exemplo; você encontrará textos escritos, seu nome, nome dos pais, do cônjuge, etc., encontrará, também, o brasão da república, carimbo com identificação do cartório em que o registro foi lavrado, assinatura do escrivão, etc. Perceba quantos elementos constituem um documento oficial, formal e obrigatório em nosso país. FOCO NA BNCC 1. A BNCC (BRASIL, 2017), para o componente curricular de Língua Portuguesa, evidencia a importância de se conhecer as diferentes linguagens para mobilizá- las a favor do desenvolvimento das capacidades de leitura, de produção e de tratamento das linguagens. Com isso, a Base está propondo que as diferentes linguagens – orais, visuais, verbais, gestuais – devem estar a serviço das várias formas de participação nas práticas de atividades humanas. 2. Conhecer sobre os gêneros, sobre os textos, sobre a língua, sobre a norma- padrão, a partir das multimodalidades, serve para a ampliação das possibilidades de participação em práticas sociais de diferentes esferas/ campos de atividades humanas (BRASIL, 2017). Chegamos ao final da seção! Nela, você pôde ter acesso aos mais variados modos de comunicação, tanto linguísticos quanto visuais e gestuais, refletindo sobre os diferentes lugares de manifestação da oralidade que circulam pelas mídias, sobretudo eletrônicas, ou pela escola. Na próxima seção, você verificará esses modos de comunicação da oralidade na relação com a cultura popular, tão importante para a sua formação e para a formação de seus alunos. Até lá. FAÇA VALER A PENA Questão 1 Segundo a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), As atividades humanas realizam-se nas práticas sociais, mediadas por diferentes linguagens: verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e, contemporaneamente, digital. Por meio dessas práticas, as pessoas interagem consigo mesmas e com os outros, constituindo-se como sujeitos sociais. (BRASIL, 2017, p. 63) As imagens são exemplos de textos que reúnem diferentes linguagens: verbal, visual e digital, como os exemplos a seguir: Figura | Exemplo 1 Fonte: Shutterstock.Figura | Exemplo 2 Fonte: Shutterstock. Sabendo que as diferentes linguagens podem constituir um texto modal e considerando a afirmação da BNCC apresentada no início desta questão, além das duas imagens elencadas anteriormente, avalie as afirmativas a seguir: I. O excesso de informações visuais dificulta o entendimento das imagens. II. A imagem I é multimodal, pois apresenta estrutura linguística e imagética. III. A imagem II não é multimodal, pois não apresenta estrutura linguística. IV. As inovações tecnológicas contribuem para a produção de textos multimodais. Considerando o contexto apresentado, assinale a alternativa correta: a. Apenas as afirmativas I e III estão corretas. b. Apenas as afirmativas I e IV estão corretas. c. Apenas as afirmativas II e III estão corretas. d. Apenas as afirmativas II e IV estão corretas. e. Apenas as afirmativas III e IV estão corretas. Questão 2 Vejamos o trecho a seguir a respeito do trabalho com gêneros orais: Ao invés de aulas que tematizem “o falar” ou “a oralidade” de uma forma geral, pode- se e deve-se tomar os gêneros orais públicos como objetos de ensino, o que permitiria um maior desenvolvimento das capacidades comunicativas dos alunos e uma melhor condição de exercício da cidadania. (BARBOSA , 2001, p. 74) Com base na relação entre gênero textual multimodal e ensino, avalie as seguintes asserções e a relação proposta entre elas: I. Conhecer os mais variados gêneros na escola permite o desenvolvimento da capacidade de leitura, escuta e produção de textos, sobretudo com as práticas contemporâneas de linguagem. PORQUE II. O texto, quando ocupa um lugar central nas práticas com linguagem em sala de aula, permite a discussão acerca dos contextos de produção e o desenvolvimento de habilidades por meio do trabalho com linguagem a partir das diferentes mídias. A respeito dessas asserções, assinale a alternativa correta: a. As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa da I. b. As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa da I. c. A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. d. A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. e. As asserções I e II são proposições falsas. Questão 3 Atualmente, as diferentes mídias digitais são o grande meio de comunicação da maioria das pessoas. Há tempos, o e-mail era um dos meios digitais mais utilizados, https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s1.html#accordion-1%20.item-1 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s1.html#accordion-1%20.item-2 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s1.html#accordion-1%20.item-3 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s1.html#accordion-1%20.item-4 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s1.html#accordion-1%20.item-5 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s1.html#accordion-2%20.item-1 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s1.html#accordion-2%20.item-2 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s1.html#accordion-2%20.item-3 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s1.html#accordion-2%20.item-4 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s1.html#accordion-2%20.item-5 sendo um representante da rapidez na comunicação. Leia um recorte do diálogo construído por e-mail entre Lis (Liliana) e Eduardo (Filipe), ambos de 11 anos: - (Lis): “Filipe, Filipe, Filipe!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Você viu que eu coloquei essas !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! até dar o fim da linha, só para você entender como eu fiquei indignada. (E se você vai procurar no dicionário, não é indiguinada que escreve, tá? Olha direitinho, tá?). Bom, precisava mandar este e-mail, num deu para esperar até amanhã e falar cara a cara.” (KUPSTAS, 2001, p. 6) - (Eduardo): “Pô, Liliana, acho que você passou o seu fim-de-semana inteiro, copiando todas as coisas que escrevi errado nos e-mails que eu te mandei. Não tinha mais o que fazer, no domingo? Hem? Não podia ir comer porpeta na casa da avó? (...) Contar quantos fios tem na cortina da sala, não tinha NAAAAAAAAAAAAAADA que fosse assim mais interessante para você fazer do que bolar uma lista com todos os meus erros de Português?” (KUPSTAS, 2001, p. 39) Tomando como referência as discussões sobre gêneros textuais e multimodalidade, julgue as afirmativas a seguir em Verdadeiras (V) ou Falsas (F): ( ) O e-mail é um gênero textualque, apesar de pouco utilizado atualmente, pode ser um bom objeto para se discutir o caráter relativamente estável dos gêneros e as variedades linguísticas na escrita. ( ) Tanto o e-mail enviado por Lis quanto o e-mail enviado pelo Eduardo podem ser utilizados em sala de aula para evidenciar um texto escrito em que a multimodalidade aparece, apesar de produzidos apenas com palavras. ( ) Atualmente, outros recursos na escrita alimentam a multimodalidade de textos na internet, como os emojis e os emoticons que, ao aparecerem em um texto escrito, afetam a interpretação e a produção dos sentidos. ( ) A cultura digital proposta pela BNCC pressupõe diferentes linguagens na sala de aula, mas exclui os basicamente lineares, com baixo nível de hipertextualidade, e priorizam os que são originados pela hipermídia. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a. V-V-F-F. b. F-F-V-V. c. V-F-V-F. d. V-F-V-V. e. V-V-V-F. https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s1.html#accordion-3%20.item-1 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s1.html#accordion-3%20.item-2 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s1.html#accordion-3%20.item-3 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s1.html#accordion-3%20.item-4 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s1.html#accordion-3%20.item-5 REFERÊNCIAS BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p. 261-306. Coleções biblioteca virtual. BARBOSA, J. P. Trabalhando com os Gêneros do Discurso: uma perspectiva enunciativa para o ensino de Língua Portuguesa. 2001. 241 f. Tese (Doutorado em Linguística) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2001. BARROS, C. G. P.; COSTA, E. P. M. Os gêneros multimodais em livros didáticos: formação para o letramento visual? Bakhtiniana: Revista de Estudos do Discurso, São Paulo, v. 7, n. 2, p. 38-56, jul./dez. 2012. Disponível em: https://bit.ly/2P1jA2k. Acesso em: 23 jun. 2020. BAZERMAN, C. Gêneros textuais, tipificação e interação. Tradução de Judith Chambliss Hoffnagel. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2006. BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Brasília: MEC/CONSED/UNDIME, 2017. Disponível em: https://bit.ly/3vUmbvG. Acesso em: 24 abr. 2020. DIAS, C. P. Ensino e Tecnologia: O Texto pelo Digital. Revista Ecos, [s.l.], v. 28, n. 1, p. 157- 175, 2020. Disponível em: https://bit.ly/3tR9W1b. Acesso em: 13 jun. 2020. DIONÍSIO, A. P. Multimodalidade discursiva na atividade oral e escrita. In: MARCUSCHI, L. A.; DIONÍSIO, A. P. Fala e Escrita. Belo Horizonte: Autêntica, 2007. p. 177-196. DIONÍSIO, A. P. Gêneros multimodais e multiletramento. In: BRITO, K. S.; GAYDECZKA, B.; KARWOSKI, A. M. (Orgs.). Gêneros textuais: reflexões e ensino. 4 ed. São Paulo: Parábola editorial, 2011. p. 137-152. KNUPPEL, M. A. C. Material Educacional Digital: multi/hipermodalidade e autoria. In: FRASSON, A. C. et al. (Orgs.). Formação de professores a distância: fundamentos e práticas. Curitiba: Editora CRV, 2016. KUPSTAS, M. 9 cois@s e-mail que eu odeio em você. São Paulo: FTD. 2001. REINALDO, M. A.; BEZERRA, M. A. Gêneros textuais como prática social e seu ensino. In: REINALDO, M. A.; MARCUSCHI, E.; DIONÍSIO, A. (Orgs.). Gêneros textuais: práticas de pesquisa e práticas de ensino. Recife: Programa de pós-graduação em Letras, 2012. p. 73-96. Bons estudos! MANIFESTAÇÕES SOCIAIS POR MEIO DAS MULTIMODALIDADES DE LINGUAGEM Fabiana Costa Dias https://bit.ly/2P1jA2k https://bit.ly/3vUmbvG https://bit.ly/3tR9W1b Fonte: Shutterstock. Deseja ouvir este material? SEM MEDO DE ERRAR Para resolver esse desafio, você precisa levar em consideração a aprendizagem inclusiva, ou seja, aquela em que todos os alunos possam participar e se desenvolver, considerando as singularidades e a pluralidade de relações que eles estabelecem com os conhecimentos. Além disso, a proposta elaborada por você deve ser significativa para o estudante, pois isso faz com que o interesse na realização seja ainda maior. Todo esse processo se faz ainda mais relevante se a aprendizagem for colaborativa, de modo que os alunos, os protagonistas, colaborem uns com os outros nas trocas de informações, nas ideias e nas opiniões, que culminam na troca de conhecimento. Para isso, ter acesso a relatórios, portfólios ou outros registros dos alunos durante a educação infantil pode contribuir para a compreensão da história de vida escolar dessas crianças e, consequentemente, do modo como aprendem. Daí a importância de manter um diálogo profícuo com professores, pois assim você pode reconhecer as identidades desses alunos e elaborar estratégias para contextualizar o processo de aprendizagem. Uma das várias possibilidades de atividade que temos para o primeiro ano é a produção de um vídeo para ser transmito em um canal da escola, ou na página da escola, atividade que pode proporcionar o conhecimento do funcionamento da linguagem oral, sobretudo pelos gêneros recado, aviso, convite ou receita. Aqui, foram selecionados esses quatro gêneros da vida cotidiana, que podem entrar para a prática escolar de forma significativa; para isso, a sala poderá ser dividida em quatro grupos, ou mais, dependendo da quantidade de alunos, de modo que cada grupo fique responsável pela elaboração de um gênero (ou o mesmo gênero para dois grupos distintos). Esses gêneros constituem terreno fértil para você trabalhar a multimodalidade. Agora, vamos elencar algumas possibilidades, mas você, provavelmente, também pensou em outras: • Gênero recado: é um gênero impositivo, que objetiva comunicar algo, informar ou, ainda, alertar. Esse gênero permite o uso de cartazes, de imagens e da construção linguística por meio da fala. Pode ser um recado alertando para o cumprimento do horário de entrada e saída da escola, um recado elencando as tarefas do dia ou da semana. Nesse recado em vídeo, quadros com os horários ou as tarefas, escritos de forma colaborativa em sala de aula, podem ser projetados. • Gênero aviso: permite informar algo. Para esta atividade, comunicar alguma mudança na rotina da escola pode constituir esse gênero e, novamente, imagens com as informações podem ilustrar o aviso. • Gênero convite: na atividade, os alunos podem convidar determinado público a participar de um evento na escola, uma feira de ciências, uma apresentação cultural, etc. Este gênero, para a produção do vídeo, pode ter desenhos produzidos pelos alunos, imagens da escola ou ícones que ilustrem o evento, etc. • Gênero receita: os alunos poderão produzir receitas diversas, que podem ser selecionadas a partir de um tema discutido em sala de aula: regionalismo, personalidades, culturas e outros desencadeadores da receita. Perceba que os gêneros, e aí precisamos retomar o conceito de gênero trazido por Bakhtin (2003), são relativamente estáveis e, em um aviso, pode conter um recado (chegar no horário, por exemplo), assim como na receita (não substituir por outro ingrediente ou apresentar uma lista de substituições), ou também no (trazer um quilo de alimento, etc.). Além disso, os quatro gêneros sugeridos podem “conversar” entre si; o convite pode apresentar um evento da escola, o aviso comunicar uma mudança no evento, o recado chamar a atenção para uma exigência do evento e a receita apresentar uma receita que se relacione com a temática do evento. Vale ressaltar que toda a produção linguística e não linguística será feita em colaboração com os colegas e com a ajuda do professor, assim como a edição e a versão final do vídeo. Todas as etapas da atividade devem acontecer de forma colaborativa: o que produzir, como produzir, quaiselementos farão parte do vídeo, como o texto será organizado, quem falará o que, quem realizará uma ou outra performance, qual suporte digital será utilizado para a produção e a circulação do vídeo, bem como os meios de divulgação dessa produção. AVANÇANDO NA PRÁTICA ANALISANDO O GÊNERO ORAL Você escolheu um gênero que se origina na escrita para ser produzido oralmente na atividade proposta na situação-problema anterior. Agora, o seu desafio é pensar em modos de análise das características presentes nos gêneros selecionados, pois você verificou que alguns problemas na produção dos vídeos ainda ficaram, mesmo após a edição; essa análise pressupõe também a observação crítica do comportamento dos próprios alunos em relação à atividade e à postura frente à produção oral: estavam atentos ao planejamento da atividade? Contribuíram de forma satisfatória com as ideias para a atividade? Esperaram a troca de turnos? Elaboraram questionamentos para os colegas e para o professor durante a elaboração? Utilizaram a entonação adequada, com ênfase quando necessário? Priorizaram a variedade linguística exigida pelo gênero textual selecionado? RESOLUÇÃO Bons estudos! MANIFESTAÇÃO CULTURAL E POPULAR DA ORALIDADE Fabiana Claudia Viana Costa Dias Fonte: Shutterstock. Deseja ouvir este material? https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/fmt_u3s1.html#resolucao%20.item-1 PRATICAR PARA APRENDER Caro estudante, seja bem-vindo à segunda seção desta unidade. Como você já deve ter percebido pelos estudos da Seção 3.1, esta é uma unidade em que as diferentes manifestações da oralidade são a prioridade e, nesta seção, não será diferente. Você teve acesso aos diferentes modos de comunicação existentes, que também se formam pelas mídias digitais em suas diferentes modalidades. Após estudar sobre os vários modos de comunicação, considerando as multimodalidades, seguiremos, nesta seção, discutindo a complexidade da linguagem, mas agora por meio da manifestação cultural e popular da oralidade. Quantas riquezas temos na nossa cultura popular, não? Sobretudo na oralidade! Vamos explorar isso e pensar em práticas educativas inclusivas? Para isso, discutiremos a oralidade e a cultura popular, considerando as diferentes manifestações artísticas orais que temos em nosso país, nas diversas regiões, e considerando, também, os mais variados modos, desde as canções e músicas populares tradicionais, como aquelas que ouvíamos quando crianças, até manifestações da cultura popular brasileira contemporânea, como as “Rodas de verso”. Todas essas manifestações exigem a presença do corpo como elemento crucial para a sua propagação, pois as multimodalidades na oralidade, conforme vimos, perpassa o corpo, as expressões faciais, o movimento corporal e a entonação da voz. Conhecer essa vasta produção de linguagem contribui para que você vá construindo seu repertório de formação e para que possa planejar propostas pedagógicas que envolvam a manifestação cultural e popular da oralidade a partir das diferentes expressões orais. Desde a primeira seção desta unidade, o contexto de aprendizagem para a resolução da situação-problema coloca você na situação hipotética da sala de aula, como se lecionasse para uma turma de 1° ano do ensino fundamental, etapa crucial para a formação do aluno. Vale retomar que a transição da educação infantil para o ensino fundamental exige um olhar cuidadoso dos professores e de toda a equipe gestora, pois as mudanças pelas quais a criança passa são definitivas para o processo de aprendizagem. É neste momento que o respeito aos diferentes modos de acesso ao conhecimento dos estudantes precisa ser o ponto de partida para o planejamento das práticas pedagógicas. Neste contexto de aprendizagem, muitas atividades estão previstas: atividades que envolvam as diferentes linguagens orais multimodais que contemplam as multimídias, como redes sociais, aplicativos diversos de mensagens com áudio e vídeo, e variados sites na internet; acesso à cultura popular brasileira por meio da arte, da literatura e de canções e músicas populares; e contato com diferentes gêneros textuais compostos por variados elementos multissemióticos, ou seja, que englobam tanto elementos linguísticos quanto não linguísticos, seja na escrita ou na oralidade. Uma das formas de propagar a cultura e a arte são os saraus. Sarau é um encontro artístico-cultural em que as pessoas se reúnem para se expressar das mais variadas formas: por meio da música, cantando ou dançando; por meio de textos, declamando poesias de autores conhecidos, ou de autoria própria, e fazendo a leitura de textos diversos; ou por meio de performances, como cenas de teatro, entre outras. Um sarau pode, também, apresentar exposições artísticas visuais e imagéticas, como quadros, pinturas, desenhos... E pode ter, ainda, comidas típicas dos mais variados locais. A partir desse contexto, imagine que a sua turma participará de um sarau organizado pelos professores da educação infantil, juntamente com o ensino fundamental; cada turma participante apresentará números artísticos que sejam embasados pela cultura popular brasileira em sua manifestação oral. Assim, você terá de elaborar uma apresentação artística-cultural que pressuponha o contato com as diferentes culturas populares que temos em nosso país. Aproveite para explorar os seus conhecimentos e para expandir os dos alunos em relação à cultura oral, pelas diferentes manifestações. Lembre-se de se embasar nas competências e habilidades previstas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para o 1° ano do ensino fundamental, sobretudo no que tange ao eixo da oralidade. Nas competências específicas de Língua Portuguesa para o ensino fundamental, a BNCC (2017) ressalta, na competência 9, a importância da prática da leitura literária, e, nesse contexto, ouvir músicas, ler versos e assistir a vídeos de slams são consideradas práticas de leitura, porque pressupõem interpretações. É nessa competência que é prevista a valorização da literatura e das outras manifestações artístico-culturais. Por essa via, você tem muitas possibilidades de elaborar a sua atividade e de resolver esta situação-problema, visando ao desenvolvimento das competências e habilidades previstas pela BNCC. Utilize-se dos conhecimentos já adquiridos nesta disciplina, e em outras que você já tenha cursado, e adote um repertório diversificado de estratégias didático- pedagógicas para que possa criar uma apresentação artística-cultural que tenha multimodalidades. Não se esqueça de valorizar a heterogeneidade dos alunos e as suas diferentes identidades. Venha transitar pela vasta cultura popular brasileira que se manifesta na oralidade. Entenda como a arte pode nos nutrir de conhecimento e de emoções, oferecendo a nós um vislumbre a respeito da diversidade humana. Vamos lá? CONCEITO-CHAVE [...] meu corpo é um campo de batalha. minha respiração, transgressão. de minha existência fiz moinho, pulsei sem permissão. de mim mesmo fiz destino. para todos, rejeição. do querer fiz passarinho, os que não me querem passarão. [...] (CAETANO, 2013, [s.p.]) Caro aluno, ao ler a epígrafe desta seção, escrita pelo poeta Marcelo Caetano, convidamos você, já de início, a refletir sobre o corpo enquanto manifestação artística e cultural, e enquanto meio de revolução e de resistência. Nesta seção, ao tratarmos da manifestação cultural e popular da oralidade, vamos perceber o quanto o corpo é fio condutor da cultura e da arte nos mais diferentes gêneros orais, pelas diversas mídias e suportes digitais. A BNCC já sinaliza a importância de se considerar o corpo para pensar a educação desde a educação infantil, quando descreve os campos de experiências que devem organizar o currículo desta etapa e definir os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento. Os cinco campos de experiências descritos pela BNCC (BRASIL,2018, p. 25) – “o eu, o outro e o nós”, “corpo, gestos e movimentos”, “traços, sons, cores e formas”, “escuta, fala, pensamento e imaginação” e “espaços, tempos, quantidades, relações e transformações” – são baseados nas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil e pressupõem os conhecimentos básicos nesta etapa. Vale ressaltar que, apesar de a BNCC descrever os cinco campos de experiências, eles não devem ser pensados de forma separada, estanque, mas devem ser considerados a partir das situações e experiências concretas da vida cotidiana das crianças. Isto pressupõe que não são descritos para serem trabalhados em sala de aula divididos (por dias da semana ou por semanas dos meses), mas devem estruturar todo o planejamento curricular da educação infantil. Ao analisarmos os campos de experiências, percebemos que eles, na realidade, se complementam. Na descrição do campo de experiências “corpo, gestos e movimentos”, a BNCC (BRASIL, 2017) aponta que as crianças, desde cedo, exploram o mundo, o espaço e os objetos com os quais interagem pelo corpo, assim, vão descobrindo sensações e funções do seu corpo. Perceba que a relação com o corpo se dá desde sempre e, por isso, precisa ser tratada na escola em todas as etapas de ensino, desde a educação infantil, conforme mostramos aqui, passando pelo ensino fundamental e chegando ao ensino médio, seja pelas recitações ou pelo teatro e pela dança. É pelo corpo que você precisa pensar a cultura popular que vamos apresentar nesta seção: trata-se de uma expressão de arte pela oralidade, pela voz e pelo corpo. Vale ressaltar que discutiremos aqui apenas um recorte da cultura popular brasileira, que é muito vasta, assim, é provável que você tenha outras referências e que as utilize em suas práticas na escola; isso é consequência da riqueza cultural e do processo de construção do conhecimento, que parte de alguns pontos e se expande também pelo conhecimento cultural que você já traz. Usufrua desse seu conhecimento! Vamos começar a pensar a cultura popular pelas canções e músicas populares. Canções populares nada mais são do que músicas de grande alcance social, que circulam de uma forma mais “livre” nos diferentes meios sociais e pelas diferentes tecnologias, desde as mais antigas, como rádio e TV, até as mais atuais, como os serviços de streaming de música. Essas canções “caem na boca do povo” e muitos sabem cantá-las, nas mais variadas versões. Uma das canções populares mais tradicionais é o famoso “Parabéns para você”, cantado nas diferentes comemorações, sobretudo em aniversários de nascimento. Esse é um simples exemplo de como a cultura popular se propaga e de como a sua origem e autoria se perdem frente ao ritual e à importância da sua manifestação. Você deve se lembrar de várias canções e músicas populares, vamos retomar algumas? “O cravo brigou com a rosa”, “Hoje é domingo”, “Ciranda cirandinha”, “Capelinha de melão”, “Alecrim”, “Meu galinho”, “Se essa rua fosse minha” e tantas outras que povoaram nossa infância e eram próprias da oralidade. As canções populares fazem parte da cultura de um povo, por isso devem fazer parte da sala de aula; além disso, retratam, como toda arte, o comportamento de uma sociedade. Daí a importância de se ter um olhar crítico também para o que é popular. Algumas letras de canções e músicas populares, quando cantadas hoje em dia, nos causam estranhamento e precisam ser refletidas juntamente com as crianças, é o caso da canção “O cravo brigou com a rosa”; essa letra (“O cravo brigou com a rosa/ Debaixo de uma sacada/ O cravo saiu ferido/ E a rosa, despedaçada”) narra uma briga entre um casal que resulta em consequências “físicas” e, mesmo com essas consequências, a rosa visita o cravo e chora quando ele desmaia. A escola não pode se colocar ausente a essas questões. Se você optar por trabalhar com canções como essa, precisa levar em consideração o respeito ao outro e aos direitos humanos, como preconiza a BNCC na competência 9 das Competências Gerais da Educação Básica: Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza. (BRASIL, 2018, p. 10) Isso se aplica a outras músicas, como “Cai, cai, balão”, cujo conteúdo pode servir para discutir com as crianças sobre os riscos de acidentes e mortes ao se soltar balões, e sobre o caráter criminoso dessa prática, conforme a Lei nº 9.605, de 12 de Fevereiro de 1998, Art. 42, que considera Crime contra a Flora “Fabricar, vender, transportar ou soltar balões que possam provocar incêndios nas florestas e demais formas de vegetação, em áreas urbanas ou qualquer tipo de assentamento humano” (BRASIL, 1998, [s.p.]), com pena de detenção ou multa. Outro exemplo é a canção “Atirei o pau no gato”, que traz a narrativa de violência contra animal doméstico, o que também é uma infração, de acordo com a mesma lei mencionada anteriormente (Lei nº 9.605/1998), no Art. 32, que considera Crime contra a Fauna: “Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos” (BRASIL, 1998, [s.p.]), também passível de multa e detenção. Essas canções, e outras, podem ser importantes recursos para a discussão do respeito consigo, com os outros e com o meio ambiente, questões cruciais previstas em toda a educação básica. Há outras músicas populares com autoria declarada, e também muito tocadas, como a música “A casa” de Vinicius de Moraes: A Casa Era uma casa Muito engraçada Não tinha teto Não tinha nada Ninguém podia Entrar nela, não Porque na casa Não tinha chão [...] (MORAES, 1991, p. 28) Vinicius de Moraes foi um grande poeta e, juntamente com Toquinho, escreveu várias músicas voltadas para o público infantil, que são cantadas até hoje. Muitas delas estão reunidas no CD “A arca de Noé”, como a música “A casa”, que é pura poesia. A impossibilidade de se habitar esta casa pode ser um grande atrativo para as crianças, despertando a imaginação, o que pode gerar muitas outras questões e atividades a serem desenvolvidas, como atividades sobre moradia, que utilizem recursos como pintura, modelagem, fotografia, música, teatro, dança, artes visuais, ou atividades sobre espaços da casa, da rua, do bairro, da cidade, trabalhando noções matemáticas, como medidas, dimensões, formas, e trabalhando ciências, também, ao tratar de materiais, de misturas... É possível, ainda, trabalhar história para discutir as mudanças na estrutura das moradias ao longo dos tempos, ou mesmo geografia, apontando as diferenças entre as moradias nas diferentes regiões do país. Você reparou em como é vasta possibilidade de discussões a partir de uma música? Todos esses exemplos trazidos são apontados na BNCC, nos diferentes componentes curriculares. Outros textos orais bastante comuns na nossa cultura são o repente e a embolada, textos criados por nordestinos e que trabalham com a improvisação dos versos, que podem ser espontâneos ou por desafios. Veja quão diversa é nossa cultura oral! O Brasil nos oferta muitas produções artísticas que podemos levar para o conhecimento de nossos alunos na escola e, assim, propagar a cultura popular. Esses movimentos artísticos são típicos da oralidade, mas sabemos do quanto a escrita é responsável para a preservação das culturas. A poeta e professora universitária rio- grandense-do-norte, da etnia potiguara, Graça Graúna (2017, [s.p.]), no poema Escrevivência indígena, diz que: Ao escrever dou conta da ancestralidade, do caminho de volta do meu lugar no mundo Esse poema reflete a importância da escrita para manter viva a memória indígena. Sabemos que a escrita é um medidor da valoração de uma sociedade; isso pode ser percebido tambémpelo modo como alguns julgam como inferiores as sociedades ágrafas, ou seja, as sociedades sem sistema de escrita próprio. Essa desvalorização da oralidade enquanto sistema único para comunicação pode ser observada, também, em pessoas adultas que ainda não foram alfabetizadas; essas pessoas sentem na pele o quanto o preconceito é latente em sociedades de escrita. Essas reflexões permitem a você entender o porquê de a oralidade não ser tão valorizada, nem na escola. E, a cada seção que estudamos nesta disciplina, percebemos que praticar e, principalmente, ensinar oralidade na escola é emergencial. Nos comunicamos também – e principalmente – pela oralidade, utilizamos de multimodalidades na oralidade, intercalando linguagem verbal e não verbal, manifestações corporais, tecnologias digitais, tudo para enriquecer a nossa fala. Aí entra a importância da escola: garantir o processo de ensino e aprendizagem da oralidade enquanto prática social pelos diferentes modos de comunicação existentes. Sabemos da importância dos povos indígenas, os nativos deste país, para nossa cultura e para nossa história. Os indígenas têm a tradição oral como uma marca; a oralidade era o principal meio de manter viva a história dos seus povos, que passava de geração em geração. Sendo assim, não podemos deixar de mencionar a oralidade desses povos como parte da cultura popular brasileira. Uma das formas de conhecer e propagar essa cultura é a Rádio Yandê: A rádio de todos, que pode ser ouvida on-line, em sua página da web. Essa rádio é uma importante ferramenta para trabalharmos a cultura indígena na escola, pois traz músicas, entrevistas, poesias, dentre outros conteúdos diversificados: Além de músicas indígenas, a grade possui programas informativos e educativos, que trazem para o público um pouco da realidade indígena do mundo. Desfazendo antigos esteriótipos e preconceitos ocasionados pela falta de informação especializada, em veículos de comunicação não indígenas. (YANDÊ, 2013, [s.p.]) Essa rádio traz um conhecimento sobre a cultura indígena que vai além das rezas e cantos tradicionais, mostrando os mais variados estilos musicais produzidos por indígenas, tanto em língua portuguesa quanto em outras línguas. É possível, também, acessar vídeos diversos das músicas, além de entrevistas que mostram o cotidiano indígena bem além daquele aprendido em livros didáticos de outrora, nos apresentando o indígena integrante da sociedade em que vivemos. A escola é a grande responsável por viabilizar aos alunos o acesso a culturas que eles não conheceriam de outra maneira. E isso é um direito. Como nos diz Candido (2004), a arte é um direito humano que deve atender aos anseios de uma sociedade em todas as modalidades e em todos os níveis. O autor fala do efeito formador de identidade que a arte e a literatura têm, indo muito além das convenções; as manifestações artísticas são o lugar do conflito, da resistência, do deslocamento. Esse crítico defende a arte de um modo bastante peculiar, não priorizando apenas as artes consagradas, as do grande cânone, mas todos os tipos de arte, pois alguma vai suprir a necessidade de alguém. Diante dessa questão dos direitos humanos, Candido (2004, p. 14) diz que “pensar em direitos humanos tem um pressuposto: reconhecer que aquilo que consideramos indispensável para nós é também indispensável para o próximo” e essa afirmação dele nos provoca a desenvolver um trabalho coletivo na escola, e fora dela, para que o conhecimento que temos e para que a arte que conhecemos cheguem até nossos alunos e aos que nos são próximos. Isso é um exercício para praticarmos o direito humano. Ele ainda pensa a arte pelo viés da humanização, tão emergencial nesse nosso tempo; e o que é humanização, para ele? Entendo aqui por humanização (já que tenho falado tanto nela) o processo que confirma no homem aqueles traços que reputamos essenciais, como o exercício da reflexão, a aquisição do saber, a boa disposição para com o próximo, o afinamento das emoções, a capacidade de penetrar nos problemas da vida, o senso da beleza, a percepção da complexidade do mundo e dos seres, o cultivo do humor. A literatura desenvolve em nós a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza, a sociedade, o semelhante. (CANDIDO, 2004, p. 22) Você deve ter percebido que considerar a arte como humanizadora é conceber a literatura, a poesia, a música em sua essência e não como utilitária, o que é muito corriqueiro. A arte forma, transforma e o principal: humaniza! Isso se dá ao ouvirmos uma música, ao admirarmos um quadro ou uma escultura, ao escrevermos ou recitarmos uma poesia, ao lermos um texto literário e, em um movimento de alteridade, nos colocarmos no lugar do outro, analisando de forma crítica a situação apresentada pela trama do enredo do texto. Aí entra, também, o papel do professor, que precisa provocar olhares para a opacidade do texto e ir além do utilitarismo no texto literário. Desde a educação infantil e dos anos iniciais do ensino fundamental, as mais variadas culturas orais podem, e devem, ser trabalhadas na sala de aula. Aqui, trouxemos alguns desses gêneros, mas poderíamos ter falado das batalhas de MCs, dos jongos – que além de poesia incluem dança e música, sendo tradicionais dos quilombos –, dos podcasts de poesia que circulam apenas no digital, por áudio... A arte oral é terreno fértil para o trabalho em sala de aula. Nos anos iniciais, quando os alunos ainda não dominam a linguagem oral com suas particularidades, ou quando ainda não escrevem convencionalmente, os repentes, as emboladas, as músicas, as canções e a poesia podem estar em sala de aula, produzindo uma familiaridade com as rimas, o ritmo e a melodia desses gêneros para que, em anos posteriores, possam produzir esses textos. ASSIMILE 1. A presença do corpo no planejamento educacional está presente em todas as etapas da educação básica e em todos os componentes curriculares, como nos mostra a BNCC: arte, educação física, matemática, ciências, geografia e história. 2. Os repentes e as emboladas constituem a arte nordestina. São produzidos pelo improviso, mas possuem características bastante específicas: os repentes vêm acompanhados da viola, enquanto as emboladas, pelo pandeiro; os repentes seguem uma rigorosidade de rimas que não é exigida pelas emboladas. REFLITA Alguns gêneros textuais da oralidade circulam com mais frequência em nosso meio, estando bastante presentes em materiais didáticos, mas outros não. A que você atribui essa prevalecência de uns gêneros orais da cultura popular em detrimento de outros? EXEMPLIFICANDO 1. Perceba que as canções populares não têm limites geográficos e que atravessam gerações; você pode propor às crianças que entrevistem seus familiares, amigos ou vizinhos para descobrirem quais canções populares eles conhecem. Elas se surpreenderão ao perceber como pessoas tão diferente acabam apresentando tantas referências comuns de músicas populares. 2. A arte, enquanto utilitária, é usada na sala de aula como pretexto para se discutir determinado assunto ou para trazer um ensinamento. Para isso a arte e a literatura não servem! Não escolha um texto literário para trabalhar em sala de aula com a finalidade de ensinar algo, escolha pelo texto literário em si, pela vasta possibilidade de discussões que ele permite; a partir disso, as (trans)formações acontecem. FOCO NA BNCC Para o ensino fundamental, a BNCC apresenta como uma das habilidades “recitar cordel e cantar repentes e emboladas, observando as rimas e obedecendo ao ritmo e à melodia” (BRASIL, 2018, p. 133). Daí a importância de se estudar as canções e músicas populares desde os anos iniciais. Chegamos ao final desta seção. Conhecemos um pouco as manifestações orais da cultura popular brasileira e entendemos que a arte é um direito humano que contribui para a formação de um ser mais humanizado. Na próxima seção,vamos estudar os gêneros textuais em diferentes formas de interação, esperamos por você. FAÇA VALER A PENA Questão 1 Leia o trecho a seguir a respeito da cultura popular: A cultura popular, portanto, concebida como um sistema outro de conhecimentos, sentidos e significados, seria capaz de resgatar para a escola no processo educacional, toda a riqueza da experiência de diferentes formas de compreender e interpretar o real, a vida e a condição humana. (SILVA, 2008, p. 17) De acordo com a afirmação de Silva, assinale a alternativa que apresenta corretamente a importância da cultura popular para a escola: a. As atividades de oralidade das quais os alunos participam precisam possibilitar a ampliação do repertório cultural presente nos textos, com enfoque, sobretudo, nos clássicos. b. A cultura popular e a cultura erudita constituem a dualidade que sustenta as práticas escolares: para a oralidade, prevalece a cultura popular; para a escrita, a erudita. c. Nas práticas pedagógicas, os diferentes modos de ser e de pertencer culturalmente devem ser respeitados, seja na oralidade ou na escrita, por isso a necessidade de se dar destaque à cultura popular. d. As manifestações populares podem se originar das múltiplas formas de existência, e as culturas tradicionais, modernas e contemporâneas devem estar presentes na escola. e. A sala de aula precisa ser o espaço de valorização da cultura clássica, pois é no espaço escolar que a formação cultural do ser se solidifica. Questão 2 Leia o trecho a seguir, retirado da BNCC: Sem aderir a um raciocínio classificatório reducionista, que desconsidera as hibridizações, apropriações e mesclas, é importante contemplar o cânone, o marginal, o culto, o popular, a cultura de massa, a cultura das mídias, a cultura digital, as culturas infantis e juvenis, de forma a garantir uma ampliação de repertório e uma interação e trato com o diferente. (BRASIL, 2018, p. 70) A citação destacada enfatiza a importância de se considerar as mais variadas culturas na escola. Tomando como referência as reflexões propostas, julgue as afirmativas a seguir em Verdadeiras (V) ou Falsas (F): ( ) A escola deve promover o contato com diferentes culturas e saberes, possibilitando aos estudantes o acesso e a interação com as várias manifestações culturais populares presentes na sua comunidade. ( ) As manifestações originadas dos centros culturais e museus deve promover a crítica, a apreciação e a fruição de exposições e dos mais variados eventos culturais e literários. https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s2.html#accordion-1%20.item-1 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s2.html#accordion-1%20.item-1 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s2.html#accordion-1%20.item-1 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s2.html#accordion-1%20.item-2 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s2.html#accordion-1%20.item-2 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s2.html#accordion-1%20.item-2 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s2.html#accordion-1%20.item-3 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s2.html#accordion-1%20.item-3 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s2.html#accordion-1%20.item-3 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s2.html#accordion-1%20.item-4 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s2.html#accordion-1%20.item-4 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s2.html#accordion-1%20.item-4 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s2.html#accordion-1%20.item-5 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s2.html#accordion-1%20.item-5 ( ) Na escola, as diferentes culturas precisam ser objeto de estudo e de reflexão, garantindo o respeito e a valorização, sobretudo das culturas brasileiras, em detrimento às de matrizes europeias, africanas, indígenas, etc. ( ) A tradição popular, manifestada por versos, cordéis, cirandas, deve circular na escola para aproximar os estudantes das diferentes culturas que marcam a identidade dos grupos das várias regiões. Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta: a. V – V – F – F. b. V – F – V – F. c. F – V – V – F. d. F – F – V – F. e. V – V – F – V. Questão 3 Leia o trecho a seguir: O percurso consistia em tomar um canto ou conto como objeto e dissecá-lo. A partir daí, o texto abria possibilidades de explicar o sincretismo cultural, os comportamentos, e a “demopsicologia” brasileira, tal busca, no entanto, não dependia apenas da fonte oral, do ouvido e do anotado, do que havia sido modificado pela verve romântica da tradição de cantos indígenas. Era preciso também recorrer a explicações sobre o meio, o momento e a raça, bem como o registro de fenômenos anteriores e que se repetiam através dos tempos, formando as tradições populares no Brasil. (FERNANDES, 2007, p. 38) Com base nas reflexões sobre oralidade e cultura popular, avalie as seguintes asserções e a relação proposta entre elas: I. A oralidade, apesar de importante, não oferecia elementos suficientes para se registrar a cultura de um povo, era necessário o registro escrito para que a cultura popular fosse validada. PORQUE II. Quando a cultura é transmitida pela oralidade, por uma sociedade, de geração em geração, as informações se contradizem e a cultura se perde. A respeito dessas asserções, assinale a alternativa correta: a. As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa da I. b. As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa da I. c. A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. d. A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. e. As asserções I e II são proposições falsas. https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s2.html#accordion-2%20.item-1 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s2.html#accordion-2%20.item-2 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s2.html#accordion-2%20.item-3 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s2.html#accordion-2%20.item-4 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s2.html#accordion-2%20.item-5 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s2.html#accordion-3%20.item-1 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s2.html#accordion-3%20.item-2 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s2.html#accordion-3%20.item-3 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s2.html#accordion-3%20.item-4 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s2.html#accordion-3%20.item-5 REFERÊNCIAS BRASIL. 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E esse é um argumento bastante válido para que as diferentes manifestações artísticas circulem na sala de aula, desde as mais consagradas até as mais simples, cotidianas. Músicas e canções populares marcaram a nossa infância e estão bem presentes no cotidiano da escola, podendo ser um importante gênero para a apresentação do sarau, principalmente por ser, provavelmente, uma das primeiras apresentações artísticas que a criança irá desenvolver. Mesmo com a presença de músicas e canções popularmente conhecidas, você pode pensar, também, na produção de versos pelos próprios alunos, seja em continuidade de textos já existentes, seja originados a partir da própria autoria dos alunos. As rodas de versos podem despertar nas crianças o anseio para a produção da poesia falada, pois um verso por ela elaborado provocará o colega a criar outro, e assim a roda vai se formando. Essa atividade com versos coloca a criança frente a diferentes formatos de poesia, que podem ter uma métrica predefinida ou não, podem ser maiores ou menores, com uma temática já definida ou não... É possível traçar todos esses detalhes a partir de conversas com as próprias crianças, após o contato com diferentes poesias. Apresente poesias que também provocam em você a fruição da leitura, os alunos sentem quando o texto que lemos é significativo para nós. Acrescente outras tecnologias para a apresentação da sua turma, as tecnologias contribuem tanto para garantir a inclusão e o desenvolvimento das competências e habilidades quanto para favorecer o aprendizado e apoiar a apresentação artística- cultural da qual eles participarão. Dessa forma, você contribuirá para a produção da linguagem multimodal, incluindo imagens, vídeos, músicas e poesia no mesmo evento. Não se esqueça de que a apresentação oral exige alguns elementos que lhes são próprios, como a expressão corporal, a entonação da voz, os gestos, movimentos da cabeça, a troca de turnos entre os versos, tudo isso precisa ser passado para a criança, pois faz parte do aprendizado dos gêneros orais. AVANÇANDO NA PRÁTICA SARAU: OUTRAS PARTICIPAÇÕES Durante a produção da roda de versos para a apresentação do sarau, alguns alunos não se identificaram com o gênero poesia e suas características: a elaboração do verso, a escolha do colega para jogar o verso, a apresentação pública “ao vivo” do poema... E se manifestaram argumentando que queriam produzir outro gênero. Sabemos que muitos textos são trabalhados em sala de aula, nos mais variados gêneros; no primeiro ano do ensino fundamental, a literatura está sempre presente, seja pelos contos clássicos ou pelos contos contemporâneos, assim como muitas canções e músicas populares, que são de bastante agrado das crianças. Diante disso, você, um professor comprometido com a aprendizagem dos alunos e certo de que a participação de todos é importante e necessária, dialoga com seus alunos sobre outras possiblidades de participação, respeitando as diferentes identidades e desejos da turma. Nessa discussão, você propõe a eles que, juntos, elaborem outras formas de participação no sarau. De que maneira você conduziria isso? Quais os direcionamentos você daria para ser um início de resolução desta situação-problema, objetivando a participação e a inclusão de todos os alunos na apresentação do sarau? RESOLUÇÃO GÊNEROS DISCURSIVOS ORAIS Fabiana Claudia Viana Costa Dias https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/fmt_u3s2.html#resolucao%20.item-1 Fonte: Shutterstock. Deseja ouvir este material? PRATICAR PARA APRENDER Caro aluno! Chegamos ao final da terceira unidade. Nesta unidade, traçamos um percurso que se iniciou nas manifestações sociais por meio das multimodalidades de linguagem, com os diferentes modos de comunicação existentes, sejam linguísticos, visuais ou gestuais. Nesse início, entendemos também como o conhecimento funciona nas diferentes mídias. Logo após a parte introdutória, que nos permitiu passear pelas várias formas de comunicação, focalizamos a manifestação cultural e popular da oralidade, refletindo sobre a arte, a cultura, as canções, as músicas e a relação da oralidade e do corpo com as manifestações populares. Nesta seção, vamos estudar alguns gêneros discursivos que funcionam na oralidade pelas mais diferentes linguagens. É por esses gêneros que você perceberá as marcas linguístico-enunciativas da oralidade e, para isso, vamos acessar alguns gêneros multissemióticos e multimidiáticos; perceba, de antemão, que a multimodalidade, que já estudamos, é retomada aqui com uma nova roupagem, pelos textos multissemióticos, que abarcam os mais variados elementos de linguagem – imagéticos, linguísticos, verbais e não verbais –, e pelos textos multimidiáticos, que são constituídos pelos mais variados elementos da linguagem da mídia, por exemplo, aulas on-line com vídeos do Youtube ou reportagens de jornais on-line, vídeos do TikTok que circulam em redes sociais como Facebook, áudio de podcasts compartilhados no Whatsapp... Esta seção mostra a importância de se levar para a sala de aula os textos que fazem parte do cotidiano midiático dos alunos, destacando os textos orais. Perceba que não é simplesmente levar esses textos para a sala de aula, eles devem ser empregados como objeto de ensino, para serem estudados e para serem, também, objetos de análise e reflexão. E aí entra o papel e a responsabilidade da escola: mostrar a opacidade dos textos, seu funcionamento e, assim, analisar a linguagem e a interação que é estabelecida entre os sujeitos envolvidos nesse processo, em todas as etapas da educação básica. Desde a primeira seção desta unidade, o contexto de aprendizagem que embasa as situações-problema está pautado no 1° ano do ensino fundamental. A escolha por este ano escolar se deu devido à delicada transição pela qual a criança passa da educação infantil ao ensino fundamental. O olhar atento dos professores e de toda a equipe gestora nesta fase é primordial, pois as mudanças pelas quais a criança passa podem ser definitivas para o processo de aprendizagem, o qual precisa sercontínuo em relação à etapa anterior. Neste momento, o respeito aos diferentes modos de acesso ao conhecimento dos estudantes precisa ser levado em conta quando planejamos as práticas pedagógicas. Para contextualizar sua aprendizagem, imagine que você leciona para uma turma de 1° ano do ensino fundamental e, nessa turma, muitas atividades estão previstas: atividades que envolvam as diferentes linguagens orais multimodais que contemplam as multimídias, como redes sociais, aplicativos diversos de mensagens com áudio e vídeo, e variados sites na internet; acesso à cultura popular brasileira por meio da arte, da literatura e de canções e músicas populares; e contato com diferentes gêneros textuais compostos por variados elementos multissemióticos, ou seja, que englobam tanto elementos linguísticos quanto não linguísticos, seja na escrita ou na oralidade. Assim, você terá de elaborar uma atividade que englobe a produção oral de textos multissemióticos e multimidiáticos para os alunos desse ano escolar, de modo que a mudança das práticas linguageiras aprendidas na educação infantil não seja tão brusca e, ao mesmo tempo, coloque as crianças em contato com novos gêneros textuais. Você chegou até aqui! Venha finalizar mais uma unidade, refletindo sobre a linguagem, a partir de textos diversos, produzidos na oralidade, sobretudo os que circulam na mídia eletrônica, e (re)pensando suas práticas em sala de aula. Bom estudo! CONCEITO-CHAVE A escolha de um emoji como palavra do ano reverbera justamente a discursividade do eletrônico, pois realça, pela linguagem, um modo de estar na sociedade contemporânea e suas implicações político-ideológicas. (COSTA, 2016, p. 93) Figura 3.2 | Emoji Fonte: Shutterstock. A pesquisadora Greciely Cristina da Costa, do Labeurb – Laboratório de Estudos Urbanos – da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), escreveu um artigo intitulado A palavra do ano é uma imagem, a partir da eleição de um emoji como a palavra do ano de 2015 para o dicionário de língua inglesa Oxford, que elege, todos os anos, alguma palavra de relevância, com grande circulação. Nesse artigo, Costa (2016) destaca o fato de a palavra eleita não ser uma palavra, mas uma imagem. A importância de iniciarmos esta seção refletindo sobre esse estudo é chamar a atenção para o fato de que as palavras e as imagens se entrecruzam nas produções textuais, sejam elas impressas ou digitais; a multissemiose se faz presente e a multiplicidade de elementos em um texto contribui para a produção de sentidos, ressignifica a estrutura textual e mostra que o texto, na contemporaneidade, precisa ser pensado para além da sua estrutura linguística. Se vamos estudar, nesta última seção, os gêneros multissemióticos e multimidiáticos, ou seja, os textos com elementos variados em suas produções, e vamos focalizar as produções orais, é pertinente levantar o seguinte questionamento: como podemos pensar a oralidade pelos gêneros multissemióticos e multimidiáticos? Atente para a diversidade das produções orais que temos em nossa sociedade, desde os seminários realizados na própria escola, até as práticas fora da escola, das mais formais, como as apresentações culturais, científicas, religiosas e aulas on-line, às mais informais, como os bate-papos virtuais ou presenciais e diálogos em estabelecimentos comerciais. Esses diferentes gêneros podem ser constituídos por elementos linguísticos, gestuais, imagéticos, visuais, sonoros e, assim, contribuir para a produção dos sentidos. Você já deve ter percebido que somos rodeados por gêneros textuais multimodais, que trazem em si várias formas de expressão, enriquecendo a produção e contribuindo para que os sentidos se formem. Na oralidade, o funcionamento é semelhante; enquanto falamos, utilizamos da entonação de voz para dar ênfase a algo que julgamos relevante, além disso, a nossa expressão facial é um recurso extra para nossos textos, assim como outros elementos que podemos incluir em uma conversa falada, como uma imagem que apresentamos, um vídeo que usamos para ilustrar nossos argumentos, uma música no celular, enfim, dificilmente produzimos um texto que tenha apenas um recurso modal, seja ele oral ou escrito. A multimodalidade textual, que vimos já na primeira seção desta unidade, é retomada agora sob os modos de texto multissemiótico e de texto multimidiático. O texto multissemiótico é formado por diferentes modalidades; na escrita, por exemplo, pode trazer elementos linguísticos, além de imagens, gráficos, tabelas, emojis, gifs e os mais variados símbolos; na oralidade, além da linguagem verbal que utilizamos, entram gestos, entonações e expressões faciais. Já os textos multimidáticos, além de apresentarem os elementos que compõem o texto multissemiótico, contemplam as diferentes mídias que hoje circulam, sobretudo no digital, vamos aos exemplos: se você faz uma postagem escrita em um grupo do Whatsapp da escola e, além do texto escrito, acrescenta um print de uma imagem ou de outra conversa, ou compartilha um link, ou envia um áudio/vídeo, você está produzindo um texto multimidiático, pois mesclou diferentes mídias. Perceba que o multimidático pressupõe o uso de recursos multissemióticos e também de multimídias, como as redes sociais, sites de internet para compartilhamento de links, gravador de áudio ou câmera para printar, uma plataforma de vídeos... Veja só quantos recursos utilizamos em nosso dia a dia para compormos nossos textos e o quanto somos afetados pelas mídias que circulam no espaço digital. Figura 3.3 | Mídias digitais Fonte: Shutterstock. Vários autores estudam textos multimidáticos e sua relação com a escola – nossa questão de interesse nesta disciplina –, e Chinaglia (2015) é um deles. Para a autora, precisamos entender as novas tecnologias e as novas mídias que invadem a sala de aula para, então, pensarmos em práticas da cultura digital. Segundo essa autora, os objetos educacionais digitais vão além dos usos das novas tecnologias, como os tablets, e precisam ser pensados a partir das novas mídias, que podem constituir materiais didáticos digitais. Rojo e Barbosa (2015) nos dizem que o texto multimodal ou multissemiótico é formado por mais de uma modalidade de linguagem, com signos ou símbolos. Na contemporaneidade, afirmam elas, os textos, tanto impressos quanto midiáticos, são compostos pela modalidade verbal (oral ou escrita), pela linguagem corporal, por gestos, danças, performances, áudios, imagens estáticas e em movimento, como as fotos, ilustrações, grafismos, vídeos e animações. Perceba a importância de se estudar sobre textos multissemióticos e multimidiáticos: essa é uma das formas de selecionar, organizar e planejar práticas pedagógicas desafiadoras, coerentes e significativas. A própria Base Nacional Comum Curricular (BNCC) nos diz que: Os jovens têm se engajado cada vez mais como protagonistas da cultura digital, envolvendo-se diretamente em novas formas de interação multimidiática e multimodal e de atuação social em rede, que se realizam de modo cada vez mais ágil. Por sua vez, essa cultura também apresenta forte apelo emocional e induz ao imediatismo de respostas e à efemeridade das informações, privilegiando análises superficiais e o uso de imagens e formas de expressão mais sintéticas, diferentes dos modos de dizer e argumentar característicos da vida escolar. (BRASIL, 2018, p. 61) Essa citação da BNCC nos alerta para o uso sem planejamentos dos recursos digitais, que pode resultar em uma superficialidade das informações. Perceba que a Base tem como um de seus pilares o protagonismo dos alunos, e hoje, mais do que nunca, percebemos o quanto as crianças e os jovens são protagonistas da cultura digital, produzindo vídeos e sendo responsáveis por canais e perfis nas redes sociais dos mais variados assuntos, com boa visibilidade. O protagonismo dos alunos é um grande trunfo para nós, professores, pois podemos consideraresses acessos à cultura digital para elaborarmos práticas que permitam o uso das tecnologias de uma maneira crítica e significativa, que provoque a criatividade, sem desconsiderar a ética. É aí que o papel do professor é primordial, no trabalho de curadoria, na seleção de informações, na produção de conhecimento. Você precisa estar atento aos diferentes sites e estimular a pesquisa nos diferentes suportes de informação, para que a notícia seja confirmada, além disso, você deve analisar as mais variadas fontes de disseminação das informações para que, a partir do que os alunos apontam, seja possível analisar de forma crítica o que pode ou não ser considerado. Uma das formas de se analisar criticamente os textos multimodais que circulam na internet é conhecer o funcionamento dos gêneros que circulam no digital, assim, produzir esses textos coloca o estudante diante das particularidades de sua produção, de sua circulação e de sua recepção. Nesse contexto, podemos retomar Bakhtin (2003, p. 272) para resgatar e relação do produtor com o texto que ele produz: Todo falante é por si mesmo um respondente em maior ou menor grau: porque ele não é o primeiro falante, o primeiro a ter violado o silêncio do universo, e pressupõe não só a existência do sistema da língua que usa mas também de alguns enunciados antecedentes – dos seus e alheios – com os quais o seu enunciado entra nessas ou naquelas relações (baseia-se neles, polemiza com eles, simplesmente os pressupõe já conhecidos do ouvinte). Cada enunciado é um elo na corrente complexamente organizada de outros enunciados. (BAKHTIN, 2003, p. 272) Percebe o quanto as reflexões trazidas por esse autor podem sustentar o que pensamos sobre textos multimodais na escola (e fora dela)? Os textos que produzimos só funcionam da maneira como funcionam porque retomam enunciados já proferidos e também porque podem ser retomados por outros que os seguem: essa é a corrente de enunciados mencionada pelo autor. Para você pensar os textos multissemióticos e multimidiáticos na escola, essa corrente é até bastante explícita, porque não são apenas nos elos dos sentidos que os textos se interligam, mas nos elos da estrutura também, como um vídeo que utilizamos para produzir nosso texto, um áudio que usamos para ilustrar nossos argumentos, ou um emoji que escolhemos para materializar um sentimento. São textos que são retomados por aqueles que produzimos e que, depois de sua produção, também serão utilizados por outros. Atualmente, a ascensão das novas tecnologias facilitou tanto a produção de novas imagens, dando-lhes novas roupagens e efeitos, quanto a circulação e a recepção das imagens e dos textos multimodais; seja por computador, por celular ou por tablet, as produções textuais transitam em uma velocidade que alcança as mais variadas pessoas, nos mais vastos espaços geográficos. Você já deve ter notado o quanto as relações mudaram com o advento das novas tecnologias. A esse respeito, Capurro (2013) acrescenta que a tecnologia digital, por meio de telefonia móvel, tablets eletrônicos, aplicativos como os de redes sociais ou blogs, altera os modos de interação em nossa sociedade em todos os campos – político, econômico, cultural... –, e em todo o cotidiano. Novamente, a necessidade de se trabalhar na escola os gêneros textuais que circulam no meio digital é imprescindível. Sabemos que o ideal seria se esses textos fossem produzidos no próprio ambiente virtual, como nas redes sociais criadas especificamente para esse fim, com a análise crítica de postagens e de comentários e com a produção de vídeos e áudios diretamente de seus apps, como TikTok, Youtube ou Podcasts, pois o meio onde o texto circula afeta diretamente a produção dos sentidos. No Eixo da Produção de textos, a BNCC ressalta que a produção do texto escrito, oral e multissemiótico deve constituir as práticas de linguagem na escola. Para isso, apresenta algumas sugestões (BRASIL, 2018, p. 76): • construir um álbum de personagens famosas, de heróis/heroínas ou de vilões/vilãs; • produzir um almanaque que retrate as práticas culturais da comunidade; • narrar fatos cotidianos, de forma crítica, lírica ou bem-humorada em uma crônica; • comentar e indicar diferentes produções culturais por meio de resenhas ou de playlists comentadas; • descrever, avaliar e recomendar (ou não) um game em uma resenha, gameplay ou vlog; • escrever verbetes de curiosidades científicas; • sistematizar dados de um estudo em um relatório ou relato multimidiático de campo; • divulgar conhecimentos específicos por meio de um verbete de enciclopédia digital colaborativa; • relatar fatos relevantes para a comunidade em notícias; • cobrir acontecimentos ou levantar dados relevantes para a comunidade em uma reportagem; • expressar posição em uma carta de leitor ou artigo de opinião; • denunciar situações de desrespeito aos direitos por meio de fotorreportagem, fotodenúncia, poema, lambe-lambe, microrroteiro, dentre outros. Todas essas sugestões podem originar trabalhos multissemióticos e multimidiáticos na escola e para além dela: é possível trabalhar a produção de um álbum de personagens famosos, seja de contos, de séries ou de jogos da internet, que pode ser impresso, desenhado ou distribuído em um blog ou redes sociais da escola; pode-se, também, comentar produções culturais variadas e games em diferentes canais do Youtube; outra opção é analisar práticas culturais e os mais variados fatos cotidianos na comunidade e organizar, por meio de mídias de escrita, áudio e vídeo uma visita de campo da turma. Atividades como as que trouxemos de exemplo revelam a presença das diferentes linguagens – verbal, corporal, visual, sonora e digital – nas produções textuais, exercitando a curiosidade intelectual, compreendendo, utilizando e criando “tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais” (BRASIL, 2018, p. 9), como nos aponta a Base nas competências gerais da educação básica. É possível desenvolver, também, a competência que é sustentada pela argumentação, pois o ambiente midiático é um terreno fértil para analisarmos criticamente os argumentos utilizados e para praticarmos a argumentação. Esses recursos dados pelo digital, no caso de textos multimodais – textos compostos por vários elementos que não são apenas verbais, mas também imagéticos –, contribuem para o entendimento do texto. Sobre esta questão, Dionísio (2008) acrescenta que a imagem e a palavra estão cada vez mais próximas, e a ascensão das novas tecnologias facilita a criação de novas imagens, novos layouts. Para ela, os elementos utilizados na construção dos gêneros textuais afetam a construção de sentidos dos textos; a autora acrescenta, ainda, que as imagens não estão apenas a serviço da informação, mas são “textos especialmente construídos que revelam as nossas relações com a sociedade e com o que a sociedade representa” (DIONÍSIO, 2008, p. 132). Você vive, cotidianamente, as mudanças no modo como nos relacionamos pelo digital, seja na escola ou fora dela, e já percebeu que a velocidade com a qual as informações circulam, por meio do compartilhar ou do like, que fazem a postagem ganhar destaque, também afeta diretamente em nosso cotidiano. Encerremos, então, com um poema que “brinca” com o funcionamento das mídias eletrônicas: @Conect-arte! #minhakeyword #login #estaron-line #seroff-line #tiktok #whatsApp? #chat-ar-me #gif-me #vamoshiperlinkar? #acessa-me #linkados #qr-code:converta-me #upload #viralizemos #logout (DIAS, 2020, no prelo) ASSIMILE Você se lembra da discussão proposta por Bakhtin (2003) acerca da produção, circulação e recepção dos textos, no que tange aos gêneros textuais? Os textos multissemióticos e os textos multimidiáticos mesclam vários gêneros textuais e são produzidos a partir de outros para circularem nos mais variados espaços, físicose midiáticos, sendo recepcionados por diferentes interlocutores. REFLITA 1. Você não tem a sensação de que quando dominamos um determinado aplicativo em nosso celular ou computador, novos recursos são lançados ou, ainda, novos aplicativos são criados e, então, precisamos reaprender comandos já dominados? 2. Quais modificações você percebe que as novas tecnologias provocaram na sua vida cotidiana? EXEMPLIFICANDO Quando for a sua vez de atuar na escola, e de arriscar-se na criação de textos multimodais, lembre-se de que: 1. São vastos os exemplos de novas mídias que fazem parte de nosso cotidiano, vamos relembrar alguns: TikTok, Whatsapp, Youtube, Facebook, Instagram; 2. Se não houver a possibilidade de produção textual em seus ambientes virtuais de origem, que a simulação seja um recurso. Quando bem planejada, mesmo que distante das condições reais, pode permitir a reflexão acerca da produção, circulação e recepção dos textos; 3. Ler um texto produzido na escola para ser circulado apenas na escola produz um efeito; ler um texto produzido na escola para circular em outros espaços, como na rede social, produz outro efeito de sentido. FOCO NA BNCC Para as práticas de oralidade, no Eixo da oralidade, a BNCC pressupõe a compreensão dos sentidos que se originam pelos recursos linguísticos e multissemióticos nos textos de diferentes gêneros (BRASIL, 2018). A BNCC ressalta a importância da reflexão sobre a produção de textos orais nos diferentes contextos e situações sociais, considerando a multimodalidade e a multissemiótica (BRASIL, 2018). Encerramos mais uma unidade. Você pôde refletir sobre as diversas manifestações de linguagem que temos nas práticas sociais (formais, informais, artísticas e culturais), pautadas na multimodalidade, sejam multissemióticas e/ou multimidiáticas. Aproveite essas reflexões para sustentar o seu planejamento pedagógico e sua relação com a sala de aula. A próxima unidade, a última deste livro, vai englobar todos os conteúdos que vimos até agora, com o objetivo de relacioná-los ao ensino. Esperamos por você. Até lá! FAÇA VALER A PENA Questão 1 A presença dos textos multimodais perpassa todas as áreas da Base Nacional Comum Curricular: está prevista nas Competências Gerais da Educação Básica, e passa pelas habilidades referentes ao uso das diferentes linguagens, das tecnologias da informação e comunicação e dos recursos digitais, na produção de animações, jogos, áudios e vídeos, fotografias, etc. As novas modalidades de uso do computador na educação apontam para uma nova direção: o uso dessa tecnologia não como “máquina de ensinar”, mas como uma nova mídia educacional. O computador passa a ser uma ferramenta educacional, uma ferramenta de complementação, de aperfeiçoamento e de possível mudança na qualidade do ensino. (AMARAL; AMARAL, 2008, p. 15) A afirmação de Amaral e Amaral (2008, p. 15) traz à baila a discussão sobre a entrada das tecnologias, por meio do computador, nas escolas enquanto uma ferramenta. Tomando essas reflexões como referência, julgue as alternativas a seguir em Verdadeiras (V) ou Falsas (F): ( ) O uso do digital pressupõe o olhar crítico, estético, ético e político, e a escola tem o papel curador. ( ) A necessidade de novos gêneros textuais é um movimento natural da língua, independente das demandas da sociedade. ( ) As práticas de sala de aula precisam envolver gêneros escritos e multimodais variados, de importância para a vida escolar, social e cultural dos estudantes. ( ) É preciso reconhecer a função social, o modo como os gêneros se organizam, tanto na estrutura linguística quanto nos elementos multimodais. Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta: a. V – V – F – F. b. V – F – V – F. c. F – V – V – F. d. V – V – F – V. e. V – F – V – V. Questão 2 Leia o trecho a seguir: É impossível não imaginar o impacto que as diversas tecnologias de comunicação têm em nossos arranjos discursivos. Nossa produção textual é condicionada não apenas pelos valores sociais que possuímos, mas pelos diferentes meios e suas possibilidades de encapsular outros meios. (LIMA-LOPES, 2018, p. 21) A partir da citação de Lima-Lopes (2018, p. 21), avalie as afirmativas a seguir: I. Atualmente, as práticas de linguagem exigem novos gêneros e textos multissemióticos e multimidiáticos. II. Sem as novas ferramentas, as produções de textos multissemióticos com fotos, vídeos e infográficos ficaria comprometida. III. O digital permite o acesso de muitos, sejam crianças, adolescentes, jovens e adultos, basta o acesso à internet. IV. A escola precisa fazer do digital um de seus objetos de ensino e inseri-lo no cotidiano escolar. Considerando o contexto apresentado, assinale a alternativa correta: a. Apenas as afirmativas I e IV estão corretas. b. Apenas as afirmativas II e IV estão corretas. c. Apenas as afirmativas I, III e IV estão corretas. d. Apenas as afirmativas II e III estão corretas. e. As afirmativas I, II, III e IV estão corretas. Questão 3 Leia o trecho a seguir: Com o advento da tecnologia, surgiu o que chamamos de gêneros digitais. Entre eles, os mais conhecidos são os e-mails, os blogs, os websites etc. Toda essa nova produção, para atender as necessidades sociais de comunicação, proporcionou novos espaços de https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s3.html#accordion-1%20.item-1 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s3.html#accordion-1%20.item-2 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s3.html#accordion-1%20.item-3 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s3.html#accordion-1%20.item-4 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s3.html#accordion-1%20.item-5 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s3.html#accordion-2%20.item-1 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s3.html#accordion-2%20.item-2 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s3.html#accordion-2%20.item-3 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s3.html#accordion-2%20.item-4 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s3.html#accordion-2%20.item-5 veiculação de conhecimentos e informações. A Internet, a grande revolução desse contexto, por meio do chamado ciberespaço, gerou infinitas possibilidades comunicativas. (ANDRADE, 2008, p. 121) A partir de discussões sobre os gêneros digitais, avalie as seguintes asserções e a relação propostas entre elas: I. As mídias que circulam na contemporaneidade coexistem e se convergem, transformando os usos que fazemos delas e potencializando novas possibilidades de construção de sentidos. Não são meras substituições de uma mídia por outra. PORQUE II. Os gêneros textuais são moventes, saem e entram em circulação conforme as mudanças sociais. Com a ascensão da internet, novos gêneros surgem ou se transformam, como posts, memes, reportagens multimidiáticas, vídeos, assim como surgem as novas ações, como curtir, comentar, compartilhar, seguir e ser seguido, etc. a. As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa da I. b. As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa da I. c. A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. d. A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. e. As asserções I e II são proposições falsas. REFERÊNCIAS AMARAL, L. H.; AMARAL, C. L. C. Tecnologias de comunicaçãoaplicadas à educação. In: MARQUESI, S. C.; ELIAS, V. M. S.; CABRAL, A. L. Interações virtuais: perspectivas para o ensino de Língua Portuguesa a distância. São Carlos: Editora Claraluz, 2008. p. 11-20. ANDRADE, C. A. B. Produção de conteúdo para ambientes virtuais de aprendizagem: os espaços do texto e de uma nova paralinguagem. In: MARQUESI, S. C.; ELIAS, V. M. S.; CABRAL, A. L. Interações virtuais: perspectivas para o ensino de Língua Portuguesa a distância. São Carlos: Editora Claraluz, 2008. p. 119-135. BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p. 261-306. Coleções biblioteca virtual. BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Versão entregue ao CNE em 3 de abril de 2018. Brasília: MEC/CONSED/UNDIME, 2018. Disponível em: https://bit.ly/3tQIj8l. Acesso em: 27 jul. 2020. https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s3.html#accordion-3%20.item-1 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s3.html#accordion-3%20.item-2 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s3.html#accordion-3%20.item-3 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s3.html#accordion-3%20.item-4 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u3s3.html#accordion-3%20.item-5 https://bit.ly/3tQIj8l CAPURRO, R. Dores e delícias da era digital. Entrevista concedida à Revista Cult. Revista Cult, [s.l.], ano VII, n. 93, abr. 2013. CHINAGLIA, J. V. Materiais didáticos digitais e as remidiações do livro didático impresso: uma análise dos objetos educacionais digitais. Educação & Tecnologia, [s.l.], v. 19, n. 2, fev. 2015. Disponível em: https://bit.ly/39dvfSB. Acesso em: 24 jul. 2020. COSTA, G. C. A palavra do ano é uma imagem. Fragmentum, Santa Maria, n. 48, jul-dez. 2016. p. 89-103. Disponível em: https://bit.ly/3sk4Zh0. Acesso em: 8 jul. 2020. DIAS, F. C. V. C. @Conect-arte! No prelo, 2020. DIONISIO, A. P. Gêneros multimodais e multiletramento. In: KARWOSKI, A. M. et al. (Orgs.). Gêneros textuais: reflexão e ensino. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008. p. 5-13. FERREIRA, I. B. Textos multissemióticos e novas habilidades de leitura: contribuições para a formação docente. 2019. 91 f. Dissertação (Mestrado Profissional em Formação de Professores) – Universidade Federal de Lavras, Lavras, 2019. Disponível em: https://bit.ly/2QvFSJX. Acesso em: 23 jul. 2020. LIMA-LOPES, R. E. 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SEM MEDO DE ERRAR Todo o conhecimento adquirido nesta seção deve embasar a proposta que resolverá esta situação-problema. A própria BNCC nos traz que, na produção de textos orais, é preciso ter o cuidado de “produzir textos pertencentes a gêneros orais diversos, considerando-se aspectos relativos ao planejamento, à produção, ao redesign, à avaliação das práticas realizadas em situações de interação social específicas” (BRASIL, 2018, p. 79). Assim, precisamos ter o cuidado de planejar, juntamente com os alunos, práticas que envolvam gêneros que circulem nas mídias digitais, que sejam multimodais, tanto multissemióticos, quanto multimidiáticos. Você tem a opção de escolher entre as competências específicas de Língua Portuguesa para o ensino fundamental. É possível selecionar, por exemplo, a competência 2, em que a linguagem amplia a possibilidade de participação em uma comunidade letrada, ou a competência 3, que prioriza a produção de textos orais, escritos e multissemióticos que circulam nas diferentes mídias; vale ressaltar que outras competências poderiam embasar sua atividade, isso dependerá do objetivo que você pretende alcançar (ajuste o seu planejamento, se necessário). A partir dessas competências, você pode elencar algumas habilidades, como as habilidades 9, 10, 11, 12 e 13 de Língua Portuguesa no ensino fundamental, que vai do 1° ao 5° ano. Tais habilidades envolvem a expressão oral com clareza, com tom de voz audível e ritmo adequado; a escuta de professores e colegas, a fim de elaborar questões e de buscar esclarecimento, se for o caso; o respeito aos turnos de fala, buscando tratamento de acordo com o interlocutor; a observação dos recursos não verbais que enriquecem a produção oral, como o olhar, o riso, os gestos e outros movimentos corporais; e a compreensão da finalidade da produção oral, informando, opinando e relatando experiências. Perceba que todas essas habilidades podem começar a serem desenvolvidas desde o 1° ano, mediante interações orais de negociação da atividade, ou durante a elaboração das atividades, na definição da ordem de apresentações e nos questionamentos. Práticas, muitas vezes simples – mas pautadas no protagonismo dos alunos em seu aprendizado –, podem desenvolver habilidades que sustentarão o desenvolvimento de competências por todos os anos escolares e para além da escola. Em acordo com os alunos, você pode propor a recontagem de histórias, a recitação de poesias, a cantiga, atentando para a melodia, o ritmo e a entonação. Em consonância com essa prática, os alunos podem ilustrar os poemas, as histórias e as cantigas, podem, também, gravar vídeos para serem projetados na escola ou divulgados em grupos de estudantes e famílias, ou, ainda, gravar podcasts para circular em plataformas, opinando sobre os textos lidos, além da recontagem. AVANÇANDO NA PRÁTICA EDIÇÃO DE VÍDEOS E ÁUDIOS Considerando o mesmo contexto de aprendizagem, após a produção de áudio e de vídeo dos alunos, você se depara com um conteúdo bastante extenso, que, por esse motivo, não pode ser colocado na página da escola, nem pode ser projetado ou colocado nas plataformas. Diante desse problema, você precisa, juntamente com os alunos, editar esses textos. Como você conduziria isso? Como utilizaria das tecnologias digitais e de outros recursos tecnológicos para potencializar a aprendizagem dos alunos e estimular uma atitude investigativa e crítica sobre o conteúdo que eles produzem? RESOLUÇÃO Bons estudos! O EIXO ORALIDADE NOS DOCUMENTOS OFICIAIS Fabiana Claudia Viana Costa Dias https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/fmt_u3s3.html#resolucao%20.item-1 Fonte: Shutterstock. Deseja ouvir este material? CONVITE AO ESTUDO Olá, aluno. Chegamos à última unidade desta disciplina. Durante este percurso, você estudou as concepções de linguagem, assunto inicial de extrema importância para se considerar toda e qualquer prática de linguagem, pois o modo como concebemos a linguagem vai direcionar o nosso trabalho em sala de aula, e até mesmo nossas relações sociais fora da escola. O que é linguagem para você? É representação do pensamento? É instrumento de comunicação? É interação? Essa questão é muito determinante, pois dela parte, também, a maneira como a língua funciona por meio da linguagem e, a depender do posicionamento adotadoem relação à linguagem, teremos uma perspectiva que leva em conta, ou não, a existência de variedades linguísticas. As práticas de oralidade perpassaram vários gêneros textuais multissemióticos, desde os mais tradicionais, como as cantigas e os repentes, até os mais atuais, como os podcasts e outros gêneros que são próprios das mídias digitais, conhecidos como gêneros multimodais. Para isso, você estudou desde os elementos constituintes da oralidade até os modos de produção de um texto oral. Mesmo sendo uma disciplina que contempla a oralidade e a linguagem, discutimos também sobre a escrita e sobre a leitura na relação com a manifestação oral da linguagem. Em sala de aula, a escrita e a leitura afetam a produção oral, assim como o contrário também é possível; por exemplo, argumentamos quando escrevemos, e os argumentos na oralidade, bem como a leitura, são caminhos para levantarmos argumentos em defesa dos nossos pontos de vista. Nesta unidade, as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica e a Base Nacional Comum Curricular sustentarão as nossas discussões. Esses dois documentos oficiais do país direcionam práticas de sala de aula e orientam a produção de currículos; perceba, então, a importância de se estudar esses documentos e relacioná- los com a oralidade e com o ensino. É neste momento que refletiremos sobre a oralidade enquanto objeto de ensino e nos dedicaremos a traçar um saber que permita, em sala de aula, o trabalho com os diversos usos da língua, sobretudo os orais, a partir das diferentes e novas tecnologias. Assim, todo o conhecimento construído ao longo desta disciplina é retomado nesta última unidade a partir das discussões sobre o ensino. Acesse esse conhecimento e venha encerrar a disciplina, refletindo sobre a oralidade pelo viés dos documentos oficiais do ensino brasileiro, enquanto um componente curricular que se faz presente em sala de aula e precisa ser ensinado, sobretudo por ser uma prática social. Bom estudo! E bom encerramento de disciplina! PRATICAR PARA APRENDER Caro aluno, vamos dar início à Seção 1 da última unidade deste livro. Nesta seção, você vai estudar a oralidade nos documentos oficiais da educação no Brasil, seja nas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica (DCN), que orientam o planejamento curricular das escolas, seja na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento também normativo, pautado em competências e habilidades que sustentam e direcionam toda a educação básica brasileira. Esses dois documentos, que serão o ponto de partida desta seção e, de uma certa forma, desta unidade, são complementares, pois as DCN tratam da organização das etapas da educação e a BNCC vai detalhar essa organização, a partir dos objetos de conhecimento e dos conteúdos previstos para o desenvolvimento de competências e habilidades para cada ano escolar. É nesta seção que você estudará como a oralidade é tratada nos DCN e na BCNN; entenderá que a oralidade é objeto de conhecimento tanto para pensar comunidades em que as práticas orais de linguagem prevalecem quanto para pensar sobre a oralidade em comunidades em que a escrita é a prática de linguagem mais valorizada. Dessas reflexões, você poderá compreender o quanto a oralidade afeta diretamente a formação da criança e do jovem e o quanto a escola pode contribuir significativamente para isso. Entendendo essas questões iniciais, você vai construindo o seu conhecimento acerca da oralidade enquanto processo de interação (você se lembra da concepção de linguagem como processo de interação, estudada na primeira unidade? Ela também sustenta o modo como entendemos a oralidade enquanto prática social), que permite a construção das relações que as crianças estabelecem entre elas e com os adultos. São essas relações que sustentam o trabalho colaborativo e a estruturação de valores que ultrapassam os muros escolares. Por fim, nesta unidade, as discussões sobre o digital são retomadas e você vai entender como a BNCC, enquanto um documento de normas, define quais são as aprendizagens essenciais para cada ano escolar, seja por vias impressas ou por suportes digitais, considerando sempre as chamadas novas mídias, que estudamos na segunda unidade. A escola precisa andar lado a lado com os avanços tecnológicos, e deve entender, também, que estamos inseridos em um universo digital, pelo qual estudamos, nos formamos, trabalhamos, nos relacionamos e interagimos a partir dos mais diferentes e multissemióticos textos. Você se lembra de que, na unidade anterior, todas as situações-problema que você resolveu permitiam pensar na transição da educação infantil para o ensino fundamental? Nesta unidade, a última que compõe a disciplina Linguagem e Oralidade, você vai se deparar com situações-problema em outra fase de transição, o encerramento dos anos iniciais do ensino fundamental: o 5° ano. Há diversas mudanças pelas quais a criança passa até chegar neste ano escolar e outras tantas pelas quais continuará passando: mudanças físicas, cognitivas, afetivas, sociais, emocionais, dentre outras. Isso também precisa ser levado em conta quando elaboramos propostas pedagógicas, sobretudo nessas etapas de transição entre a infância e a adolescência, em que “é importante fortalecer a autonomia desses adolescentes, oferecendo-lhes condições e ferramentas para acessar e interagir criticamente com diferentes conhecimentos e fontes de informação” (BRASIL, 2017, p. 60). Considerando esses pressupostos, imagine que você leciona para uma turma de 5° ano do ensino fundamental, tendo de refletir e resolver situações-problema que direcionem o seu olhar para este ano. As situações-problema das três seções desta unidade partirão desse ano escolar e vão exigir resoluções que transitem pelos campos de experiência descritos pela BNCC para os anos iniciais: campo da vida cotidiana, campo artístico-literário, campo das práticas de estudo e pesquisa e campo da vida pública. Perceba que este direcionamento tem uma função didática e, quando bem trabalhado, permite compreender os textos que circulam na prática escolar e na vida social e, também, elaborar propostas pedagógicas que coloquem os alunos em contato com diversos gêneros textuais, promovendo a aquisição de habilidades e de competências que sejam previstas para o ano determinado. Vamos refletir sobre a primeira situação-problema? Você está trabalhando oralidade com seus alunos do 5° ano e priorizou, como campo de experiência, o campo da vida cotidiana. Segundo a BNCC (BRASIL, 2017, p. 118), o campo da vida cotidiana é o: Campo de atuação relativo à participação em situações de leitura, próprias de atividades vivenciadas cotidianamente por crianças, adolescentes, jovens e adultos, no espaço doméstico e familiar, escolar, cultural e profissional. Alguns gêneros textuais deste campo: agendas, listas, bilhetes, recados, avisos, convites, cartas, cardápios, diários, receitas, regras de jogos e brincadeiras. Diante dessa definição apresentada pela BNCC, a escola em que você trabalha está criando meios midiáticos de divulgação dos trabalhos dos alunos e você precisa elaborar uma proposta pedagógica com atividades de oralidade para serem realizadas em grupo e circuladas em mídias digitais da própria escola, que podem ser redes sociais, sites, blogs, canais, etc. A habilidade 13, EF05LP13 (BRASIL, 2017, p. 121), oferece sugestões que podem subsidiar o seu trabalho, como assistir a postagens de vlogs infantis com críticas a brinquedos ou a livros infantis. Escolha o gênero que melhor se adeque à sua turma, mesmo que hipoteticamente, e aproveite as sugestões oferecidas pela BNCC, transpondo-as para a oralidade. Descreva os passos que você espera para a organização do trabalho, desde a divisão dos grupos e das tarefas entre os seus participantes e pense na integração com outros componentes curriculares, que podem ser da área de Linguagens ou de outras áreas, intercalando conteúdos e conhecimentosque permitam transitar por diferentes campos do saber. Boa solução! Até aqui, você estudou sobre as manifestações da linguagem oral. Agora, aproveite os conhecimentos adquiridos e venha expandir as suas reflexões sobre a oralidade nos documentos oficiais, sobretudo nas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica e na Base Nacional Comum Curricular. Bom estudo! CONCEITO-CHAVE Vamos dar início à última unidade deste livro! Nesta unidade, o conhecimento construído durante toda a disciplina Linguagem e Oralidade será o alicerce para pensarmos práticas pedagógicas de oralidade pautadas nos documentos oficiais do país, que direcionam toda a estrutura da educação brasileira. Para traçarmos este caminho, comecemos com a leitura do trecho a seguir, retirado de um conto escrito pela autora Marina Colasanti, intitulado “Uma ideia toda azul”, que integra o livro com o mesmo nome, vamos à leitura: Um dia o Rei teve uma ideia. Era a primeira da vida toda, e tão maravilhado ficou com aquela ideia azul, que não quis saber de contar aos ministros. Desceu com ela para o jardim, correu com ela nos gramados, brincou com ela de esconder entre outros pensamentos, encontrando-a sempre com igual alegria, linda ideia dele toda azul. (...) O Rei deitou a ideia adormecida na cama de marfim, baixou o cortinado, saiu e trancou a porta. A chave prendeu no pescoço em grossa corrente. E nunca mais mexeu nela. (COLASANTI, 2006, p. 30-32) O conto escrito pela Marina Colasanti mostra a descoberta de uma grande ideia por um Rei que guardou-a para si e não compartilhou com os demais de seu reino. Nesse ato, ele escondeu sua ideia, primeiro sob seu manto, e depois em uma sala escolhida criteriosamente, sobre cama de marfim, trancando-a e mantendo a chave sob o seu poder, pendurada em seu pescoço por uma corrente. Com o tempo passando, a ideia ficou esquecida e, quando ele se deu conta, sentindo a corrente em seu pescoço, voltou para ela. Quando ele se depara com a ideia guardada, não tem mais o encantamento do início; cai em tristeza e a ideia segue lá, adormecida. Esse conto, como você deve ter percebido, nos mostra que uma ideia só é válida quando compartilhada, quando permite a troca com outros, quando damos movimento à ideia, que nunca está totalmente pronta; ao começarmos a colocá-la em prática, vai-se modificando, e vamos ajustando-a às demandas que ela própria solicita. E como nascem as ideias? Quais os efeitos da criatividade em tudo o que produzimos? Vamos responder a essas perguntas pelo viés da escola: as ideias se relacionam diretamente com a criatividade, não sendo apenas fruto da inspiração, elas nascem das nossas vivências na escola e fora dela, nascem das nossas reflexões pelas leituras, pelas nossas formações sempre contínuas, pelas discussões com os colegas professores e com a equipe gestora, nascem das necessidades que percebemos na sala de aula, com nossos alunos, pelas metodologias que adotamos, com acertos e erros do dia a dia. Pensar em ideias no campo educacional pressupõe alguns pontos indispensáveis: estar aberto a novas ideias e estar inclinado ao diálogo, e isso precisa estar atrelado a leituras: de mundo, de si, do outro, de estudiosos sobre o assunto e de documentos oficiais que respaldam a execução dessas ideias na escola. É aí que esta seção e toda a Unidade 4 se justificam, pois vamos recorrer às DCN e à BNCC. Tanto uma quanto a outra são documentos oficiais e normatizam a educação brasileira. As DCN dão o suporte para se pensar o ensino e a BNCC é norteadora dos conteúdos, apresentando as competências e as habilidades previstas para cada ano escolar; ambas direcionam a construção curricular em todas as redes. Vamos entender um pouco mais sobre esses dois importantes documentos para, então, refletirmos sobre a oralidade a partir deles? Você já ouviu falar de pegboard? Pegboard são quadros com furos utilizados para os mais variados fins, como quadro para organizar ferramentas, como decoração em vários ambientes domésticos ou, ainda, em estabelecimentos comercias, seja para exposição de mercadorias ou como letreiros para aviso, tal qual exemplifica a Figura 4.1. Figura 4.1 | Exemplo de pegboard Fonte: Shutterstock. Vamos usar o pegboard como uma metáfora para relacionarmos as DCN à BNCC. As DCN seriam o quadro com os furos; seu formato é comum a todos. São as DCN que orientam “a organização, articulação, o desenvolvimento e a avaliação das propostas pedagógicas de todas as redes de ensino brasileiras” (BRASIL, 2013, p. 4). Para entender essa metáfora que estamos propondo, imagine que todas as redes de ensino no Brasil recebam esse pegboard, com os furos para serem organizados, esse quadro com os furos são as diretrizes, obrigatórias a todos. Para o preenchimento deste quadro, ou seja, para a construção curricular, além do quadro com furos, precisamos da BNCC. Esse documento é o que fornecerá as “ferramentas”, ou as letras, se for um quadro de avisos, para serem colocadas no pegboard; nesse contexto, as ferramentas seriam as competências e habilidades previstas. Entenda que as competências e as habilidades (as ferramentas) direcionarão os conteúdos e não o contrário; é com elas e a partir delas que todo o ensino será pensado, organizado e construído, sem nos esquecermos das diretrizes, do pegboard, pois é dele que resultará o “produto final”, o objeto do saber. Percebeu como as ideias não são meras inspirações, mas estão pautadas também em diretrizes e normas já estabelecidas? Todos esses elementos, desde a estrutura do pegboard – as diretrizes –, passando pelas ferramentas que o compõem – as competências e as habilidades –, e chegando à construção do currículo, pensando no objeto final, precisam estar pautados nas múltiplas infâncias e adolescências que as DCN explicitam, ou nas chamadas diferentes infâncias e juventudes, na BNCC. Essa questão da diversidade curricular é de extrema importância dadas as diversidades sociais que temos e nas quais a escola está inserida. E é por esse viés, do múltiplo, que podemos pensar a oralidade na escola. Tanto as DCN quanto a BNCC apontam para a importância de se conceber a oralidade como objeto de saber desde a educação infantil, seja para valorizar a cultura e a tradição de povos que têm a oralidade como supremacia, como os indígenas e as comunidades quilombolas, ou para trabalhar a aquisição da linguagem oral pelas crianças. A oralidade é fundamental na formação da criança e do jovem, pois é parte integrante do processo de interação. São as DCN que apontam como eixos norteadores da educação infantil a interação e a brincadeira e, assim, mostram a importância de promovermos, na escola, experiências que “possibilitem às crianças experiências de narrativas, de apreciação e interação com a linguagem oral e escrita, e convívio com diferentes suportes e gêneros textuais orais e escritos” (BRASIL, 2013, p. 99). Pela BNCC, temos, ainda na educação infantil, os direitos de aprendizagem e de desenvolvimento, que colocam a oralidade, dentre outras manifestações de linguagem, como fio condutor do exercício desses direitos. A criança convive e brinca com outros, participa de diversas atividades, dentro e fora da escola, explorando o meio e expressando-se e, assim, conhecendo-se; todos esses direitos podem ser exercidos por meio da oralidade, seja qual for o campo de experiência da educação infantil ou campo de atuação no ensino fundamental. As crianças falam – e como falam! –, e é na escola que elas passam a maior parte de seu tempo diário. Essa afirmação já é sabida por nós, e devemos nos apossar disso para ter um olhar atento às atividades de oralidade, esse objeto de saber tão caro em nosso cotidiano escolar. A linguagem, seja ela oral ou escrita, se estrutura pela interação entre falantes e ouvintes, escritores e leitores, e todas as circunstâncias envolvidas na produção de linguagem: de quem para quem, com qual finalidade, em qualcontexto, etc. Assim, os documentos oficiais, tanto as Diretrizes quanto a Base, centralizam suas discussões, dando à oralidade um lugar relevante, desde a educação infantil até o ensino médio. Na educação infantil, vimos que a BNCC abre espaços para tratarmos da oralidade desde a apresentação dos direitos de aprendizagem e de desenvolvimento e, também, pelos cinco campos de experiências, que estruturam toda essa primeira etapa da educação básica. Quando chegamos no ensino fundamental, anos iniciais, a oralidade ganha ainda mais destaque, sobretudo nas áreas do conhecimento das Linguagens, em todos os componentes curriculares: Língua Portuguesa, Arte e Educação Física. O componente curricular Língua Portuguesa é o responsável por expandir “a participação significativa e crítica nas diversas práticas sociais permeadas/constituídas pela oralidade, pela escrita e por outras linguagens” (BRASIL, 2017, p. 67-68). Em todas as etapas da educação básica, a BNCC coloca o trabalho com o texto em destaque: o texto é o ponto central das práticas pedagógicas, sejam eles verbais, não verbais, impressos ou digitais, orais, escritos, imagéticos, oriundos dos mais variados meios, desde os mais consagrados aos mais periféricos, escritos em variedades diversas. Enfim, a gama de gêneros textuais que circulam em nossa sociedade, nas diferentes épocas da história, é o ponto de partida e de chegada do trabalho com linguagem em sala de aula. O que você precisa pensar é sobre o que se espera de cada uma das etapas e como ajustá-las aos diferentes contextos escolares. É, ainda, pelo componente curricular de Língua Portuguesa que a BNCC apresenta os eixos de integração que permitem organizar o ensino a partir de quatro pilares de práticas de linguagem: o “eixo leitura”, o “eixo da produção de textos”, o “eixo da oralidade” e o “eixo da análise linguística/semiótica”. Esses eixos não se estruturam de forma independente, não são descritos pela Base para serem pensados e trabalhados separadamente, mas de forma articulada e complementar. A separação se dá apenas de forma didática, para melhor explicar o funcionamento da linguagem, mas as práticas pedagógicas precisam se sustentar pelos quatro eixos. Vamos entender o eixo da oralidade nesse material? Para o eixo oralidade, a BNCC nos mostra que a oralidade é prática de linguagem própria das situações orais, sejam elas face a face ou não (BRASIL, 2017). A oralização de textos escritos também é chamada de oralidade pela Base; a declamação de poemas e a apresentação de cantigas e canções, que são originalmente textos escritos, quando vão para a oralização constituem uma prática de oralidade. Você deve se lembrar de que, na primeira unidade deste livro, apresentamos uma reflexão proposta por Dolz e Schneuwly (2004) sobre a oralização. Para esses autores, práticas como recitações de poemas, performances teatrais e leitura para os outros não são gêneros orais, mas oralização da escrita. Perceba que são posicionamentos distintos; de um lado, temos a ideia de que todos os textos produzidos ou proferidos no oral são oralidade; do outro lado, temos que textos orais são aqueles produzidos em situação de oralidade, mas não os que foram originados na escrita, mesmo que proferidos oralmente. Para a produção de textos orais, a BNCC aponta que os contextos e as situações sociais em que um determinado gênero oral aparece precisam ser alvo de reflexão; os alunos precisam saber quais diferenças estruturais os textos orais apresentam, por quem podem ser produzidos e onde podem ser circulados para, então, planejarem sua produção, dadas as situações comunicativas específicas. Além de pensar na produção de textos orais, a Base aponta também para a compreensão desses textos. Para a BNCC, a compreensão de textos orais deve dar conta de “produzir textos pertencentes a gêneros orais diversos, considerando-se aspectos relativos ao planejamento, à produção, ao redesign, à avaliação das práticas realizadas em situações de interação social específicas” (BRASIL, 2017, p. 79). Dessas reflexões partem nossas práticas pedagógicas sobre a oralidade, e daí surgem ideias para o planejamento de trabalhos com a oralidade. Essas ideias abarcam tanto os textos orais produzidos em situações em que o contato entre os interlocutores é direto quanto textos orais produzidos no e para o suporte digital. Há uma vastidão de gêneros textuais orais para serem trabalhados na escola e você pode estar se perguntando: quais gêneros utilizar, então? Em quais circunstâncias? Para responder a essas perguntas e contribuir para suas ideias, a BNCC descreve, para os anos iniciais do ensino fundamental, quatro campos de atuação para pensarmos a contextualização do conhecimento escolar: campo da vida cotidiana, campo artístico-literário, campo das práticas de estudo e pesquisa e campo da vida pública (BRASIL, 2017). Para cada campo, há indicações de textos que podem ser utilizados, dados os diferentes objetivos, seguindo um movimento de progressão: parte-se de práticas mais cotidianas, com gêneros orais menos institucionalizados, e chega-se a práticas em que são exigidos gêneros mais institucionalizados, em que predominam produções de uso público. Vamos conhecer um pouco desses campos? O campo da vida cotidiana relaciona-se às práticas linguajeiras do espaço doméstico e familiar, escolar, cultural e profissional e é composto por gêneros do cotidiano, como “agendas, listas, bilhetes, recados, avisos, convites, cartas, cardápios, diários, receitas, regras de jogos e brincadeiras” (BRASIL, 2017, p. 96). No campo artístico-literário, a Base coloca como o lugar de leitura, fruição e produção de textos literários e artísticos para se discutir as experiências estéticas. De gêneros, as sugestões são os mais variados textos literários: fábulas, contos, crônicas, quadrinhos, tirinhas, lendas, etc. No campo das práticas de estudo, o que prevalece são as situações de leitura/escrita que priorizem as práticas de estudo, pesquisa e divulgação científica e os gêneros podem ser gráficos, relatos de experimentos, verbetes, entrevistas e outros de caráter científico. O outro campo indicado é o campo da vida pública, que se relaciona com as práticas que contemplam as esferas jornalísticas, políticas, jurídicas, publicitárias, etc. Para esse campo, a BNCC (BRASIL, 2017) aponta os gêneros carta ao leitor, regras e regulamentos, notícias, reportagens, comentários em sites, etc. Todos os gêneros elencados podem ser originados de meios impressos ou digitais. Entenda que esses campos não se separam de forma estanque e limitante, pois há vários textos que servem a um e a outro campo, e a cultura digital e os direitos humanos perpassam todos eles, o que muda é o contexto em que eles aparecem e, é claro, o trabalho com os gêneros se modifica a partir de uma determinada situação comunicativa. Assim, encerramos as nossas reflexões acerca dos materiais oficiais do ensino brasileiro, pelo menos o início delas, considerando que um dos alicerces para o planejamento pedagógico de nossas práticas está nas diretrizes que determinam a estrutura da educação no Brasil e as competências e habilidades que direcionam os objetos de conhecimento previstos para cada ano escolar, em cada área de conhecimento e em cada componente curricular. ASSIMILE 1. As diretrizes são comuns, os currículos não. Os currículos devem atender às necessidades da escola, da comunidade. 2. São as competências e as diretrizes que norteiam os currículos. REFLITA Para você, práticas de oralização da escrita podem ser consideradas oralidade? EXEMPLIFICANDO Um diálogo oral, um atendimento em um estabelecimento comercial, uma aula dialogada, uma webconferência, uma negociação com o gerente do banco são alguns exemplos de práticas de linguagem oral com o contato face a face. Um programa de rádio, uma mensagem gravada no whatsapp, um vídeo no Youtube são exemplos de oralidade sem o facea face. FOCO NA BNCC Campos de experiências na educação infantil (BRASIL, 2017, p. 40-43): - “o eu, o outro e o nós”; - “corpo, gestos e movimentos”; - “traços, sons, cores e formas”; - “escuta, fala, pensamento e imaginação”; - “espaços, tempos, quantidades, relações e transformações”. Considerando os documentos oficiais do ensino brasileiro, como as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica e a Base Nacional Comum Curricular, e levando em conta outras reflexões sobre práticas orais, seja pela leitura de estudiosos no assunto, seja pelas observações cotidianas de sala de aula ou pelo diálogo com colegas, aproveite para pensar em outras ideias sobre planejamento de trabalho com a oralidade, ideias para serem reformuladas e para serem compartilhadas. Na próxima seção, vamos refletir sobre as ideias como modo de expressão oral pelas crianças, sobre o papel de jogos e brincadeiras no desenvolvimento da oralidade e pensar a autoria como um ponto nodal para o protagonismo das crianças na escola e fora dela. Até lá! FAÇA VALER A PENA Questão 1 Para garantir as aprendizagens aos estudantes do ensino fundamental, conforme as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica (BRASIL, 2010), a escola organiza o currículo em torno de uma base curricular comum a ser complementada em cada sistema de ensino e por uma base diversificada, observando- se as características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da comunidade escolar. Isso só é possível com um currículo flexível, contextualizado e concretizado pelas práticas pedagógicas dos professores e dos estudantes, fundamentadas no projeto político-pedagógico da escola. (VEIGA; SILVA, 2017, p. 61) As autoras apontam para a importância de se intercalar as Diretrizes Curriculares e uma Base Nacional Comum Curricular na construção de um currículo que seja coerente com a prática pedagógica da comunidade escolar. Essa relação só é possível porque: Alternativa incorreta Alternativa correta Alternativa incorreta Alternativa incorreta Alternativa incorreta Questão 2 As linguagens, antes articuladas, passam a ter status próprios de objetos de conhecimento escolar. O importante, assim, é que os estudantes se apropriem das especificidades de cada linguagem, sem perder a visão do todo no qual elas estão inseridas. Mais do que isso, é relevante que compreendam que as linguagens são dinâmicas, e que todos participam desse processo de constante transformação. (BRASIL, 2017, p. 63) A partir das afirmações trazidas pela BNCC, avalie as seguintes asserções e a relação proposta entre elas: I. Dar às linguagens o status de objeto de conhecimento escolar permite colocar o texto na posição de destaque no trabalho em sala de aula, permitindo o desenvolvimento de habilidades e o uso significativo da linguagem. PORQUE II. As práticas de linguagem variadas permitem desenvolver a capacidade expressiva em suas diversas manifestações: corporais, linguísticas, artísticas e, assim, os alunos percebem que os textos não são neutros e produzidos de forma isoladas, mas funcionam no social, pelo processo de interação. A respeito dessas asserções, assinale a alternativa correta: a. As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é justificativa da I. b. As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é justificativa da I. c. A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. d. A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. As asserções I e II são proposições falsas. Questão 3 As práticas de linguagem contemporânea não só envolvem novos gêneros e textos cada vez mais multissemióticos e multimidiáticos, como também novas formas de produzir, de configurar, de disponibilizar, de replicar e de interagir. As novas ferramentas de edição de textos, áudios, fotos, vídeos tornam acessíveis a qualquer um a produção e disponibilização de textos multissemióticos nas redes sociais e outros ambientes da Web. Não só é possível acessar conteúdos variados em diferentes https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u4s1.html#accordion-1%20.item-1 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u4s1.html#accordion-1%20.item-2 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u4s1.html#accordion-1%20.item-3 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u4s1.html#accordion-1%20.item-4 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u4s1.html#accordion-1%20.item-5 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u4s1.html#accordion-2%20.item-1 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u4s1.html#accordion-2%20.item-2 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u4s1.html#accordion-2%20.item-3 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u4s1.html#accordion-2%20.item-4 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u4s1.html#accordion-2%20.item-5 mídias, como também produzir e publicar fotos, vídeos diversos, podcasts, infográficos, enciclopédias colaborativas, revistas e livros digitais etc. (BRASIL, 2017, p. 68) Considerando o contexto, avalie as afirmativas a seguir: I. As novas mídias constituem práticas contemporâneas de linguagem e fazem parte da vida pública. II. Os textos que se formam na web devem ser objetos de conhecimento na escola para se corrigir a informalidade que os constitui. III. Os alunos já dominam as novas mídias, acessam a internet, navegam nos mais variados sites, portanto a escola não precisa trabalhar com esses textos. IV. A escola precisa comtemplar as novas práticas de linguagem, desenvolvendo o olhar crítico para os textos múltiplos que circulam nas diversas mídias. Assinale a alternativa que avalia corretamente as afirmativas: a. Apenas as afirmativas I e III estão corretas. b. Apenas as afirmativas II e III estão corretas. c. Apenas as afirmativas III e IV estão corretas. d. Apenas as afirmativas I e IV estão corretas. e. As afirmativas I, II, III e IV estão corretas. REFERÊNCIAS BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica (DCN). Brasília: MEC/SEB/DICEI, 2013. Disponível em: https://bit.ly/3rQu7e5. Acesso em: 13 dez. 2020. BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Brasília, DF: MEC/CONSED/UNDIME, 2017. Disponível em: https://bit.ly/3dIC5Ru. Acesso em: 24 abr. 2020. COLASANTI, M. Uma ideia toda azul. In: COLASANTI, M. Uma ideia toda azul. 23. ed. São Paulo: Global, 2006. p. 29-33. DOLZ, J.; SCHNEUWLY, B. O oral como texto: como construir um objeto de ensino. In: DOLZ, J,; SCHNEUWLY, B. Gêneros orais e escritos na escola. Tradução e organização Roxane Rojo e Glaís Sales Cordeiro. Campinas: Mercado de Letras, 2004. p. 125-155. Coleção As faces da Linguística Aplicada. JURACH, I.; POSSANI, T. N. Análise discursiva da BNCC: construção ou (des)construção da educação escolar pública brasileira?. Fólio - Revista de Letras, [s.l.], v. 11, n. 1, ago. 2019. Disponível em: https://bit.ly/3cUnh35 . Acesso em: 19 ago. 2020. pedagógico e currículo em busca de qualidade. In: VEIGA; I. P. A.; SILVA, E. F. (Orgs.). Ensino Fundamental: Da LDB à BNCC. Campinas: Papirus, 2008. p. 43-67. https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u4s1.html#accordion-3%20.item-1 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u4s1.html#accordion-3%20.item-2 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u4s1.html#accordion-3%20.item-3https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u4s1.html#accordion-3%20.item-4 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u4s1.html#accordion-3%20.item-5 http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=13448-diretrizes-curiculares-nacionais-2013-pdf&Itemid=30192 http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_20dez_site.pdf http://periodicos2.uesb.br/index.php/folio/article/view/5147 Bons estudos! O EIXO ORALIDADE NOS DOCUMENTOS OFICIAIS Fabiana Claudia Viana Costa Dias Fonte: Shutterstock. Deseja ouvir este material? SEM MEDO DE ERRAR Entendemos, nesta seção, o quão importante é ter bem traçadas as diretrizes de trabalho e, a partir da Base, desenvolver as práticas de sala de aula que priorizem a produção de saberes e de conhecimento. Assim, você pode pensar em práticas pautadas nas competências e habilidades previstas na BNCC, no que diz respeito ao 5° ano do ensino fundamental. Sugerimos a habilidade EF05LP13, que traz relação direta entre oralidade e mídias digitais. Essa habilidade permite que você discuta arte, pela literatura, ou consumo, pelos brinquedos das crianças. Dividir a sala em pequenos grupos, de três ou quatro alunos, e solicitar que eles levem brinquedos de seu cotidiano e expliquem a funcionalidade desses brinquedos, durabilidade, se foi difícil a aquisição, é um meio de trabalhar a argumentação e todos os elementos constituintes da oralidade: troca de turnos, entonação, ritmo, postura física para falarem, adequação das variedades, etc. Com essa atividade, você estará proporcionando o desenvolvimento da competência 7 das Competências Gerais da Educação Básica, que trata da argumentação e, dentre outras coisas, do consumo responsável. Com que frequência as crianças ganham presentes? De quem? O que desperta nelas o desejo de comprar algum brinquedo? O que fazem com os brinquedos quando não usam mais? Perceba que essa atividade pode ser trabalhada com outras áreas de conhecimento, como a Matemática, para cálculos de porcentagens e representação fracionária, por exemplo, analisando a variação de preços entre os mesmos brinquedos de um ano para outro ou a diferença de preço entre um brinquedo e outro (uma rápida busca em sites de compras revela dados valiosos para serem discutidos em sala de aula), ou a área de Ciências da Natureza, construindo propostas coletivas para um consumo mais consciente e criando soluções tecnológicas para o descarte adequado e a reutilização ou reciclagem de materiais consumidos na escola e/ou na vida cotidiana. A partir de todas essas discussões, e do diálogo com outros professores de áreas distintas, é chegada a hora de produzir vídeos, definir o papel de cada integrante do grupo nessa produção, ajustar local de gravação, som, câmera, que pode ser do celular, e como será desenvolvida a exposição. Perceba que os alunos são os protagonistas desta atividade, mas que o seu papel, enquanto professor da turma, é fundamental para os ajustes necessários de todas as ordens: operacional, tecnológico, linguístico, pedagógico. Pedir o auxílio de colegas neste momento é bem-vindo. Ajustadas essas questões, é o momento de fazer circular essas produções dos alunos. Crianças falando para crianças produz um efeito diferente das propagandas e críticas feitas por adultos (isso pode ser comprovado pelo vasto número de youtubers que temos atualmente e que cresce em uma velocidade a perder de vista). Você pode postar na própria página da escola, criar um canal no Youtube para esta atividade; lembre-se de que a divulgação é fundamental para que os vídeos sejam vistos e os alunos se sintam motivados. AVANÇANDO NA PRÁTICA A ARTE E A LITERATURA NAS MÍDIAS SOCIAIS Após a realização do trabalho proposto para a publicação nas mídias da escola, foi lançada a proposta de um novo trabalho com tema bastante específico: “a arte e a literatura”. Para essa atividade, há a solicitação de que se apresente apenas uma proposta por turma. Neste momento, você precisa direcionar a proposta já realizada pelos alunos para o campo artístico-literário; esse é o campo que contempla a participação dos alunos em situações de “leitura, fruição e produção de textos literários e artísticos, representativos da diversidade cultural e linguística” (BRASIL, 2017, p. 132). Como sugestões de textos para este campo, a BNCC traz as lendas, os mitos, as fábulas, os contos, as crônicas, a canção, os poemas – que podem ser visuais –, os cordéis, os quadrinhos, as tirinhas, a charge/cartum, dentre outros. Selecione o gênero que permita desenvolver uma atividade de oralidade em que toda a turma participe, que os alunos desenvolvam as competências necessárias, de forma produtiva e segura. RESOLUÇÃO Bons estudos! A ORALIDADE COMO EIXO DE ENSINO PARA AS ETAPAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL E ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL Fabiana Claudia Viana Costa Dias Fonte: Shutterstock. Deseja ouvir este material? PRATICAR PARA APRENDER Caro aluno, vamos dar início a mais uma seção desta unidade. Como você pode perceber, esta unidade, que encerra o livro, é construída a partir dos documentos oficiais do ensino brasileiro, que direcionam todo o nosso trabalho docente. Nesta seção, você vai transitar pela Base Nacional Comum Curricular, a BNCC, no eixo de ensino em que a oralidade é o ponto de destaque. Entenderá como esse objeto de conhecimento, que é a oralidade, é desenvolvido pela Base para a educação infantil e os anos iniciais do ensino fundamental. A oralidade é uma das práticas de linguagem em que podemos expressar nossas ideias, nossos sentimentos, e desenvolver a criatividade e a imaginação; dessa forma, ensinar https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/fmt_u4s1.html#resolucao%20.item-1 oralidade na escola é fundamental e indispensável. E como a oralidade pode ser ensinada? Ensinar a oralidade é expandir os conhecimentos que os alunos têm sobre as práticas de oralidade cotidianas, é ir além do que é previsível e conhecido por eles, é colocá-los em contato com gêneros que circulam no social, mas são pouco praticados. Essas práticas orais se dão das mais variadas formas, sejam disputas em jogos e brincadeiras, reivindicações para serem ouvidas e entendidas, trocas de turnos entre crianças ou entre elas e adultos, situações cotidianas na escola ou em estabelecimentos comerciais, dentre outros acontecimentos, como consultas com médicos e dentistas. As práticas orais também são responsáveis por estimular que os alunos sejam autores e, nesta seção, discutiremos sobre o que é ser autor, o que é exercer autoria na escola. Pensar a autoria como um dos pilares de se trabalhar com linguagem é considerar que cada criança tem um ritmo na produção textual e que os textos orais e escritos produzidos na escola devem explicitar os interesses e gostos dos alunos. É aí que o professor exerce um papel crucial para que os alunos assumam esse lugar de autoria em seus textos, tornando-se, assim, protagonistas, e produzindo textos com autonomia. Na primeira seção desta unidade, você conheceu o contexto que constitui o pano de fundo de todas as situações-problema desta unidade. Esse contexto pedia que você se imaginasse lecionando para uma turma de 5° ano do ensino fundamental, de modo que teria de refletir e resolver situações-problema que direcionassem o seu olhar para este ano ao longo de toda esta unidade, pensando em resoluções que transitem pelos campos de experiência descritos pela BNCC para os anos iniciais: campo da vida cotidiana, campo artístico-literário, campo das práticas de estudo e pesquisa e campo da vida pública. Você deve ter percebido que este direcionamento tem uma função didática e, quando bem trabalhado, permite compreender os textos que circulam na prática escolar e na vida social e, também, elaborarpropostas pedagógicas que coloquem os alunos em contato com diversos gêneros textuais, promovendo a aquisição de habilidades e de competências que sejam previstas para o ano determinado. Se na seção anterior você apresentou soluções para problemas que priorizaram o campo da vida cotidiana e o campo artístico-literário, nesta seção você vai se debruçar em questões que tenham em seu bojo ainda o campo artístico-literário e o campo das práticas de estudo e pesquisa, vamos lá? Imagine que você é professor no 5° ano, esse ano de transição entre a infância e a adolescência, que marca o encerramento dos anos iniciais do ensino fundamental, com mudanças pelas quais a criança passa, sejam de ordem física, cognitiva, afetiva, social ou emocional, dentre outras, e isso também precisa ser levado em conta quando elaboramos propostas pedagógicas, sobretudo pensando sobre a continuidade da trajetória escolar. Dadas essas circunstâncias, você é desafiado a criar uma proposta de trabalho em que seus alunos exerçam o protagonismo e sejam autores de seus textos, expressando ideias, sentimentos e usando da criatividade. Para isso, você vai pensar em atividades que contemplem o campo artístico-literário o qual, segundo a BNCC, é o: Campo de atuação relativo à participação em situações de leitura, fruição e produção de textos literários e artísticos, representativos da diversidade cultural e linguística, que favoreçam experiências estéticas. Alguns gêneros deste campo: lendas, mitos, fábulas, contos, crônicas, canção, poemas, poemas visuais, cordéis, quadrinhos, tirinhas, charge/ cartum, dentre outros. (BRASIL, 2017, p. 132) Lembre-se de que os textos produzidos pelos alunos precisam ser orais, multissemióticos, e serão apresentados em sala, para os colegas. Apresente os processos que você prevê para esta atividade e utilize das competências e habilidades para justificar a proposta elaborada e os objetivos de aprendizagem dos alunos. Bom trabalho! Vamos para mais uma seção, na qual você vai conhecer como a oralidade pode ser desenvolvida para que a autoria se estabeleça na escola. Siga com seus estudos, caminhando para o final desta disciplina. CONCEITO-CHAVE Estamos iniciando a segunda seção da última unidade e, neste momento, você aprenderá como a oralidade é descrita enquanto eixo de ensino em toda a educação básica. A oralidade, vista por esse prisma, é entendida como instrumento para expressar ideias e sentimentos, como forma de ressaltar a imaginação e de exercer a criatividade. Você já dever ter observado o quanto os jogos e as brincadeiras, por exemplo, desenvolvem a oralidade nas crianças; é por meio dela que os convites às brincadeiras e aos jogos acontecem, as regras são repassadas, as disputas são negociadas, os argumentos são apresentados e o vencedor, quando há, é declarado. A linguagem oral exerce um papel fundamental na formação da identidade da criança, conforme vimos na primeira unidade deste livro, e é com ela que as primeiras interações acontecem. Desse modo, a oralidade deve ser vista como um objeto de conhecimento a ser aprendido na escola que se estrutura nas relações sociais, no funcionamento dialógico da linguagem, em todos os campos em que os sujeitos estão inseridos. E, como objeto de conhecimento, entramos em uma questão bastante importante para o ensino da oralidade: a autoria. O que é ser autor? Autoria se ensina na escola? A autoria é um modo de as crianças exercerem seu protagonismo, assim como os jovens, em anos mais avançados da educação básica, e até mesmo os estudantes de graduação ou de pós-graduação, como você. Ser protagonista é “se colocar” no texto, se deixar mostrar pelo conteúdo que descreve no texto. E, assim, a autoria também se ensina na escola. Lembre-se de que considerar a autoria e o protagonismo nos textos dos alunos, tanto orais quanto escritos, é valorizar o modo de escrita eleito pelo aluno, respeitar a produção das crianças, seu ritmo de escrita e seus interesses. É preciso refletir sobre os modos de olhar a escrita da criança, o papel do professor ao ler o texto do aluno, como um exercício de higienização daquilo que ele escreve. Mais uma vez, retomamos o ponto de considerar a relação linguagem e identidade. As crianças escrevem da maneira como escrevem porque a linguagem as representa, de alguma forma; a variedade presente na escrita das crianças é a variedade que elas reconhecem como sendo a própria língua. A autonomia e o protagonismo na produção de textos, orais e escritos, constituem pilares para o trabalho com linguagem na escola. É aí que entra a autoria. E, nesta seção, vamos tratar da autoria pela oralidade, pois a autoria também acontece, ou deveria acontecer, em atividades orais da linguagem. E o que é ser autor? Como desenvolvemos a autoria? Ser autor é uma função de ser sujeito, de modo que produzimos nossos textos pelas regras institucionais. Escrever em uma prova de concurso para professores é bem diferente de escrevermos no grupo de Whatsapp da escola. É a função-autor que direciona a forma e a organização dos nossos textos; assim, ocupar esse lugar de autor na escola (e fora dela) é se submeter às regras, é escrever ou falar com efeito de unidade – começo, meio e fim –, sendo que é do autor que se cobra clareza e coerência no dizer, como nos diz Orlandi (2007). Para Orlandi (2007), o autor é aquele que produz um lugar de interpretação, isto é, o que ele fala ou escreve é interpretável. Pensar autoria dessa maneira permite considerar que os nossos alunos, na escola, são autores de seus textos, ou podem ser, desde que haja um trabalho com o texto que leve a produções interpretáveis, e isso independe do gosto do professor em relação ao texto produzido pelo aluno. Até mesmo nos textos da internet podemos ser autores. Nos espaços digitais, ser autor é o ato de organizar as diversas vozes que circulam pelo seu dizer, unindo-as como se fossem uma só, sustentando-se pela linearidade, pela coesão, pela coerência, pelo fechamento de sentido e unidade ao texto, conforme afirma Barriquelo (2009). Compartilhar algo, escrever textos na internet, gravar áudios e vídeos também são modos de exercer a autoria, ou seja, os mais variados textos que circulam na internet também são objetos de conhecimento na escola. A BNCC coloca a autoria na sustentação do trabalho com linguagem por toda a educação básica, a começar pelas Competências Gerais da Educação Básica, que trazem a autoria na mesma esteira do protagonismo dos alunos, como é o caso da competência 5 (BRASIL, 2017, p. 9). Das competências previstas para todas as etapas, passamos para a educação infantil que, nos campos de experiência, já sinaliza a importância de se exercitar a autoria: Com base nessas experiências, elas se expressam por várias linguagens, criando suas próprias produções artísticas ou culturais, exercitando a autoria (coletiva e individual) com sons, traços, gestos, danças, mímicas, encenações, canções, desenhos, modelagens, manipulação de diversos materiais e de recursos tecnológicos. Essas experiências contribuem para que, desde muito pequenas, as crianças desenvolvam senso estético e crítico, o conhecimento de si mesmas, dos outros e da realidade que as cerca. (BRASIL, 2017, p. 41) Assim se segue também pelo ensino fundamental, quando a Base descreve o Eixo da Produção de Textos e diz que esse eixo “compreende as práticas de linguagem relacionadas à interação e à autoria (individual ou coletiva) do texto escrito, oral e multissemiótico, com diferentes finalidades e projetos enunciativos” (BRASIL, 2017, p. 76). Podemos constatar que a autoria está presente em vários outros componentes curriculares, como a Arte, por exemplo. Vale ressaltar que o próprio ensino médio aponta para a ampliação da autonomia, do protagonismo e da autoria nas práticas de diferentes linguagens. A educação básica segue de forma coerente para que os objetos de conhecimento adquiridos emanos anteriores deem suporte para a aprendizagem em anos posteriores, como a autoria no ensino fundamental, que afeta o aluno no ensino médio: “Na BNCC, o protagonismo e a autoria estimulados no Ensino Fundamental traduzem-se, no Ensino Médio, como suporte para a construção e viabilização do projeto de vida dos estudantes, eixo central em torno do qual a escola pode organizar suas práticas” (BRASIL, 2017, p. 472). A autoria deve sustentar as nossas práticas pedagógicas na escola, para que ecoem fora dela e coloquem nossos alunos como protagonistas de seus discursos, que se posicionem de forma crítica e bem sustentada, seja para defender um ponto de vista em sala de aula, para argumentar no resultado injusto de uma brincadeira do pátio da escola, ou para reivindicar um direito no cotidiano escolar. E isso é bastante praticado pela oralidade, essa prática de linguagem que estamos discutindo largamente neste material, essa prática que é um importante objeto de conhecimento na escola. Vimos, ao longo deste livro, que ensinar oralidade na escola pressupõe, dentre outras coisas, ampliar o desenvolvimento das experiências de oralidade; falar, a criança já fala, o que a escola precisa, em termos de oralidade, é ensinar os gêneros textuais orais próprios das práticas linguageiras. Isso reforça a importância que a oralidade tem no desenvolvimento de uma série de comportamentos e atitudes, como quando a criança se arrisca para ser compreendida, se fazer ouvir e ouvir o outro, esclarecer mal-entendidos, lidar com a insegurança... E elas fazem isso a todo o momento, seja na relação criança-criança ou criança-adulto, em jogos, brincadeiras, etc. Na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental, a oralidade é o meio de comunicação mais utilizado entre as crianças. O componente curricular Língua Portuguesa, por exemplo, tem como um de seus eixos a oralidade. Em todos os níveis da educação básica, a oralidade é objeto de conhecimento, algo a ser ensinado na escola e aprendido pela criança. Nesta disciplina, atentamos para o ensino da oralidade pelo viés desse componente curricular, mas a oralidade precisa estar presente em todas as áreas de conhecimento, pelos componentes que as sustentam; é preciso pensar nas diversas práticas sociais de linguagem permeadas pela oralidade. Os eixos de integração considerados na BNCC de Língua Portuguesa são aqueles já consagrados nos documentos curriculares da Área, correspondentes às práticas de linguagem: oralidade, leitura/escuta, produção (escrita e multissemiótica) e análise linguística/semiótica (que envolve conhecimentos linguísticos – sobre o sistema de escrita, o sistema da língua e a norma-padrão –, textuais, discursivos e sobre os modos de organização e os elementos de outras semioses). (BRASIL, 2017, p. 71) Os estudos sobre a linguagem nesta etapa precisam estar envoltos em reflexões e críticas, e não como conceituação e classificações. Você deve se lembrar do quanto estudou sobre classificações gramaticais: análises morfológicas (substantivo, verbo, advérbios, etc.), análises sintáticas (orações coordenadas, orações subordinadas, etc.) e outras tantas classificações linguísticas durante os anos escolares. Agora, reflita: em que medida esse estudo contribuiu diretamente para o seu aprendizado sobre o funcionamento da língua? Mário Perini, um importante linguista, aponta para uma discussão bastante importante sobre os estudos gramaticais; ele diz que saber a gramática não é garantia de escrever bem e reforça isso exemplificando com o caso do escritor Luís Fernando Veríssimo, que escreve muito bem, mas não sabe sobre gramática (PERINI, 2000). Estamos, com isso, dizendo que estudar Língua Portuguesa vai muito além das regras; o estudo do português precisa estar pautado nos usos que fazemos da língua nas diversas práticas sociais, e a oralidade deve ser trabalhada de forma contextualizada por essas práticas sociais, com gêneros diversos e diferentes objetos do conhecimento, conforme nos mostra a BNCC. E, então, quais textos você pode trabalhar na escola quando se trata de oralidade? Ao descrever o “Eixo da oralidade” para o componente curricular de Língua Portuguesa, na área de Linguagens, a Base apresenta uma gama de possibilidades: compreende as práticas de linguagem que ocorrem em situação oral com ou sem contato face a face, como aula dialogada, webconferência, mensagem gravada, spot de campanha, jingle, seminário, debate, programa de rádio, entrevista, declamação de poemas (com ou sem efeitos sonoros), peça teatral, apresentação de cantigas e canções, playlist comentada de músicas, vlog de game, contação de histórias, diferentes tipos de podcasts e vídeos, dentre outras. Envolve também a oralização de textos em situações socialmente significativas e interações e discussões envolvendo temáticas e outras dimensões linguísticas do trabalho nos diferentes campos de atuação. (BRASIL, 2017, p. 78-79) Vale ressaltar que os eixos propostos pela BNCC não são separados de forma estanque, muito pelo contrário. Quando consideramos a oralidade, ela deve ser pensada também pelo eixo da leitura, da produção de textos e da análise linguística. Lemos os textos orais, lemos as conversas alheias, interpretamos a fala do outro, do mesmo modo que a oralidade acontece fortemente enquanto produção de textos orais, e suas análises também são realizadas (estrutura das frases, variedades linguísticas, etc.). Você percebe que, para o aluno ser autor de seus textos orais e escritos, a escola precisa ir muito além de ensinar as regras da língua? Que deve ir além de exercícios de cópia, ou de preenchimento de lacunas, entre outras atividades mecânicas que em nada, ou quase nada, permitem as reflexões sobre a língua, seu funcionamento e seus usos sociais? É aí que o nosso papel de professores precisa ser sempre questionado por nós: que postura eu, enquanto professor, quero ter diante do texto escrito ou falado pelo meu aluno? Serei um leitor que questiona o texto, analisa os indícios nele presentes, provoca o aluno a produzir outros sentidos, estimulando a autoria, ou serei um professor corretor, que compactua com a reprodução, dentro de formas, desconsiderando a variedade do meu aluno, sua identidade e suas vivências? ASSIMILE - O que é ensinar oralidade para as crianças em anos escolares iniciais? É aprofundar o conhecimento e o uso da língua oral, apresentar e discutir as características de interações discursivas e as estratégias de fala e escuta em práticas orais. - Além do eixo da oralidade para o componente curricular de Língua Portuguesa, a BNCC traz os eixos da produção de textos, da análise linguística/semiótica e da leitura. REFLITA - Então, o que é ser autor? Você se considera autor? Quais autores você conhece? - Você acha que as práticas de linguagem ensinadas na escola contribuem para que os alunos sejam autores? EXEMPLIFICANDO - Ser autor não é o ato de dar nome ao texto. Não são apenas os nomes que ilustram as capas de livros ou assinam grandes escritos que são autores. FOCO NA BNCC Despertar para a autoria na escola é despertar para um protagonismo da vida e, assim, a Base traz como competência 5: Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.” (BRASIL, 2017, p. 9) Encerramos mais uma seção. Você pôde estudar sobre a oralidade enquanto instrumento para a manifestação de sentimentos e de ideias. Além disso, pôde verificar como a autoria também acontece na oralidade e entender o papel da escola na prática da função-autor. Adiante, na próxima seção, você vai se deparar com a oralidade na dimensão da prática social e, por conseguinte, na oralidadecomo objeto de conhecimento da escola. Vamos para a próxima e última seção deste livro? Esperamos por você! FAÇA VALER A PENA Questão 1 A autoria é considerada por muitos como um produto da escrita. Com relação à oralidade e à autoria, no que tange ao ensino, complete as lacunas da sentença a seguir: A __________ também é o lugar de desenvolvimento da __________ na escola. Só é possível desenvolver a __________ se o protagonismo e a autonomia forem levados em consideração, e se a __________ for levada em conta e o professor não se colocar apenas como __________ do texto do aluno Assinale a alternativa que completa as lacunas corretamente. a. autoria / oralidade / autoria / oralidade / leitor. b. autoria / oralidade / oralidade / criatividade / corretor. c. oralidade / autoria / oralidade / criatividade / corretor. d. oralidade / autoria / criatividade / autoria / leitor. e. oralidade / autoria / autoria / criatividade / corretor. Questão 2 A Base Nacional Comum Curricular apresenta, no componente curricular de Língua Portuguesa, quatro eixos: oralidade, leitura/escuta, produção de textos e análise linguística/semiótica. Uma das explicações para o ensino da oralidade aponta: “Assim, no Ensino Fundamental – Anos Iniciais, no eixo Oralidade, aprofundam-se o conhecimento e o uso da língua oral, as características de interações discursivas e as estratégias de fala e escuta em intercâmbios orais.” (BRASIL, 2017, p. 89) Tomando como referência a Base Nacional Comum Curricular e os estudos desenvolvidos na disciplina Linguagem e Oralidade, desenvolvida neste livro, reflita sobre a relação oralidade e autoria e julgue as afirmativas a seguir em Verdadeiras (V) ou Falsas (F): ( ) Na oralidade, não é possível o aluno ser autor, porque, para ser autor, é preciso assinar o texto que se produz, dar um nome e ter registros escritos. ( ) A autoria é resultado de trabalho com a escrita ou com a oralidade, em que o aluno se coloca no texto, mostra seu ponto de vista e o defende. ( ) A Base Nacional Comum Curricular considera a autoria em todos os níveis da educação básica, desde a educação infantil até o ensino médio. https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u4s2.html#accordion-1%20.item-1 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u4s2.html#accordion-1%20.item-2 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u4s2.html#accordion-1%20.item-3 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u4s2.html#accordion-1%20.item-4 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u4s2.html#accordion-1%20.item-5 ( ) A autoria é um modo de escrita que deve ser desenvolvido nos anos finais do ensino fundamental e por todo o ensino médio. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a. F – V – V – F. b. F – V – V – V. c. V – V – F – V. d. V – F – F – F. e. V – F – V – F. Questão 3 Função sujeito-autor é a função em que o sujeito falante está mais afetado pelo contato social (submetido às regras das instituições); é a função que o eu assume enquanto produtor de linguagem. Para que o sujeito se coloque como autor, precisa estabelecer uma relação com a exterioridade, ao mesmo tempo em que ele se remete à sua própria interioridade (ele aprende a assumir o papel de autor e aquilo que ele implica). Para ser autor, o sujeito precisa estar inserido em uma cultura, uma posição no contexto histórico-social. (ORLANDI, 2007, p. 61) Com base na citação apresentada, avalie as seguintes asserções e a relação proposta entre elas: I. As experiências para o desenvolvimento da oralidade, com todos os seus elementos constituintes – o texto, sua produção, sua circulação e recepção, as entonações, os ritmos, etc. –, contribuem para o desenvolvimento da autoria, para que o aluno se coloque como produtor de linguagem, em um determinado contexto sócio-histórico. PORQUE II. Na oralidade, os alunos se deparam com uma variedade de gêneros textuais que circulam no social, que já estão em funcionamento e, enquanto objeto de conhecimento, a oralidade possui habilidades que precisam ser desenvolvidas pelas práticas desses diferentes gêneros para que o conhecimento e o uso da língua oral se aprofundem. A respeito dessas asserções, assinale a alternativa correta: a. As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa da I. b. As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa da I. Correto! Nesta seção, discutimos a relação da oralidade com a autoria e, diante disso, as experiências para o desenvolvimento da oralidade, com todos os seus elementos constituintes – o texto, sua produção, sua circulação e recepção, as entonações, os ritmos, etc. – contribuem para o desenvolvimento da autoria, para que o aluno se https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u4s2.html#accordion-2%20.item-1 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u4s2.html#accordion-2%20.item-2 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u4s2.html#accordion-2%20.item-3 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u4s2.html#accordion-2%20.item-4 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u4s2.html#accordion-2%20.item-5 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u4s2.html#accordion-3%20.item-1 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u4s2.html#accordion-3%20.item-2 coloque como produtor de linguagem, em um determinado contexto sócio-histórico. O aluno só pode ser produtor de linguagem no caso de se sentir autor de seus textos e de produzir sentidos vários naquilo que elabora. Tanto a asserção I quanto a asserção II são verdadeiras, mas uma não é consequência da outra. Assim, a asserção II traz afirmações importantes sobre a oralidade. Há uma quantidade gigantesca de gêneros textuais circulando no social e é preciso desenvolver habilidades que são próprias desses gêneros. c. A asserção I é uma proposição verdadeira e a II é uma proposição falsa. d. A asserção I é uma proposição falsa e a II é uma proposição verdadeira. e. As asserções I e II são proposições falsas. REFERÊNCIAS BARRIQUELO, V. Autoria e leitura: nas telas do discurso. In: INDURSKY, F.; FERREIRA, M. C. L.; MITTMANN, S. (Orgs.). O discurso na contemporaneidade: materialidades e fronteiras. São Carlos: Claraluz, 2009. p. 439-450. BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Brasília: MEC/CONSED/UNDIME, 2017. Disponível em: https://bit.ly/3dD2zE0. Acesso em: 24 abr. 2020. CASTRO, L. M. F. R. F. Autoria e oralidade na educação infantil: o papel do arquivo. 2019. 132 f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2019. Disponível em: https://bit.ly/3cWrx1S. Acesso em: 13 dez. 2020. ORLANDI, E. Interpretação; autoria, leitura e efeitos do trabalho simbólico. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 2007. PACÍFICO, S. M. R. Argumentação e autoria: o silenciamento do dizer. 2002. 190 f. Tese (Doutorado em Ciências) – Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2002. PERINI, M. Sofrendo a gramática. 3. ed. São Paulo: Ática, 2000. Bons estudos! A ORALIDADE COMO EIXO DE ENSINO PARA AS ETAPAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL E ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL Fabiana Claudia Viana Costa Dias https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u4s2.html#accordion-3%20.item-3https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u4s2.html#accordion-3%20.item-4 https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/npf_u4s2.html#accordion-3%20.item-5 http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_20dez_site.pdf https://teses.usp.br/teses/disponiveis/59/59140/tde-17062019-210027/publico/Loliaversaocorrigida.pdf Fonte: Shutterstock. Deseja ouvir este material? SEM MEDO DE ERRAR Os estudos propostos por esta seção colocam a autoria em um lugar de bastante relevância. É por aí que você precisa pensar a resolução desta situação-problema: como podemos elaborar uma proposta em que o aluno seja protagonista, autor, no 5° ano, a partir do campo artístico-literário, a fim de que produza texto oral multissemiótico para ser apresentado em sala aos demais colegas? Para a resolução desta situação-problema, vamos nos embasar em duas das Competências Específicas de Língua Portuguesa para o Ensino Fundamental, a competência 3, Ler, escutar e produzir textos orais, escritos e multissemióticos que circulam em diferentes campos de atuação e mídias, com compreensão, autonomia, fluência e criticidade, de modo a se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos, e continuar aprendendo. (BRASIL, 2017, p. 87) E a competência 9, Envolver-se em práticas de leitura literária que possibilitem o desenvolvimento do senso estético para fruição, valorizando a literatura e outras manifestações artístico- culturais como formas de acesso às dimensões lúdicas, de imaginário e encantamento, reconhecendo o potencial transformador e humanizador da experiência com a literatura. (BRASIL, 2017, p. 87) Essas competências podem ser atingidas, por exemplo, com o desenvolvimento da habilidade 28, de Língua Portuguesa, para os anos 3°, 4° e 5° do ensino fundamental, que pressupõe a declamação de poemas “com entonação, postura e interpretação adequadas” (BRASIL, 2017, p. 133). E como promover a autoria e o protagonismo na declamação de poemas? Inicialmente, você pode realizar leituras de textos em versos e poesia de autores diversos da literatura brasileira: Tom Jobim, Cecília Meireles, Bartolomeu Campos de Queirós, Manuel Bandeira, Mário Quintana e tantos outros. Alguns deles devem integrar a sua leitura, estar em sua preferência, selecione os seus favoritos e leve para a sala de aula para serem lidos por você, pelos alunos para a sala, pelos alunos para grupos. A leitura literária é libertadora e é um processo, um exercício que exige uma certa disciplina, precisamos nos “acostumar” a ler para que passemos a gostar e, então, termos o hábito de leitura. Poemas costumam ser curtos, de leitura rápida, leitura rápida enquanto ato, vale dizer, pois no que diz respeito à interpretação, não é rápida e pode produzir inúmeros sentidos. Realizadas leituras diversas, os alunos podem escolher qual/quais poema(s) eles querem declamar; perceba que o protagonismo já se inicia aí, na escolha – pelos alunos – do poema que querem declamar. Diante da escolha deles, incentive-os as criarem performances para a declamação, com a presença de outros elementos que enriqueçam a apresentação: cartazes, música, imagens no cenário, desenhos, etc., pois isso contribui para a produção de texto multissemiótico. Eles podem escrever versos do poema em cartazes e ir apresentando enquanto declamam ou deixá-los fixos no cenário; além disso, os próprios alunos podem ilustrar os poemas que declamarão, a partir da interpretação que realizaram do poema, e podem colocar esses desenhos como elemento da produção do cenário. Imagens fotográficas são outro recurso que pode enriquecer o cenário dessas declamações. Todos esses elementos e recursos visuais, escolhidos ou produzidos pelos alunos, materializam a sua autoria e o protagonismo que tanto almejamos. O professor entra nestas atividades como um mediador, alguém que “ajusta” possíveis pontos, visando aos objetivos que pretende, às competências que deseja alcançar. Prontos todos os quesitos, chegou o momento da apresentação. Por que não pensarmos em um modo de apresentação diferente de colocar os alunos frente à sala, como comumente fazemos com seminários? Uma prática bastante contemporânea para as manifestações artísticas são as instalações; nesse caso, as instalações poderiam ser montadas na própria sala de aula ou em uma área externa à sala, nos espaços da escola, para que outros alunos, de anos distintos, visitassem as instalações. As apresentações podem ser realizadas para pequenos grupos, sendo repetidas para vários grupos, é possível, também, reservar pequenos espaços para cada grupo, com uma distância que seja adequada para que cada um se apresente sem atrapalhar a apresentação dos demais. Pedir ajuda ao professor de Arte ou a algum colega que você saiba que é profissional de Arte, mesmo que fora da escola, pode trazer contribuições relevantes para o desenvolvimento desta prática. AVANÇANDO NA PRÁTICA ESTUDO E PESQUISA LITERÁRIA O trabalho que você realizou com seus alunos na situação-problema do campo artístico-literário teve uma repercussão bastante positiva na escola e a coordenadora pediu a sua colaboração para divulgar o trabalho dos alunos em outras turmas, tanto do 5° ano quanto de anos anteriores, e ela gostaria que a sua turma, juntamente com você, mostrasse aos alunos como foi o processo de estudo e pesquisa para a realização da atividade, pois essa é uma questão que causa bastante dúvida e insegurança nas crianças. Para colaborar com a escola, você vai se utilizar da descrição que a BNCC apresenta sobre o campo das práticas de estudo e pesquisa, que possibilita o contato com textos expositivos e argumentativos, com linguagem e práticas próprios da pesquisa e da divulgação científica, dentro e fora da escola. Como sugestões de textos, a Base aponta para aqueles produzidos de forma impressa ou digital, como os “enunciados de tarefas escolares; relatos de experimentos; quadros; gráficos; tabelas; infográficos; diagramas; entrevistas; notas de divulgação científica; verbetes de enciclopédia” (BRASIL, 2017, p. 128). RESOLUÇÃO Bons estudos! AVALIE ESTE MATERIAL Este conteúdo contribuiu para seu aprendizado? A INSERÇÃO DA ORALIDADE NA PRÁTICA SOCIAL E DOCENTE Fabiana Claudia Viana Costa Dias https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/LINGUAGEM_E_ORALIDADE/LIVRO_DIGITAL/fmt_u4s2.html#resolucao%20.item-1 Fonte: Shutterstock. Deseja ouvir este material? PRATICAR PARA APRENDER Caro aluno, chegamos ao final da disciplina Linguagem e Oralidade e estamos encerrando este livro! Você seguiu firme até aqui: refletiu sobre as concepções de linguagem, elegeu a que melhor se relaciona aos seus propósitos docentes; entendeu a relação da oralidade com a escrita e as influências que uma exerce sobre a outra. Foi nesta disciplina, também, que você conheceu que a linguagem marca uma identidade e que precisamos ensinar a chamada “norma culta” na escola, mas sem praticar preconceito linguístico com o modo de falar que o aluno traz e que é próprio do seu convívio social. Neste livro, você conheceu, também, os elementos que compõem a oralidade, como os aspectos fonéticos e fonológicos; estudou os marcadores conversacionais, que marcam, principalmente, trocas de turno em uma conversa, e entendeu a importância das repetições, das pausas e dos truncamentos, assim como das entonações para destacar um elemento da fala. Estudar a oralidade, nesta disciplina, permitiu que você relacionasse a oralidade às diferentes manifestações orais de nossa cultura, como as músicas e canções, além de outros tipos de arte e cultura popular. E, para complementar, você pôde verificar que, na oralidade, também temos textos multissemióticos, com elementos variados, que complementam as nossas produções orais nas mais diversas situações de comunicação, sem deixar dese atualizar a respeito das novas mídias e de conhecer os textos multimidiáticos que tanto nos acompanham pelos nossos computadores ou smartphones nas inúmeras redes sociais das quais participamos. Considerando as situações comunicativas orais, você pôde comprovar que a língua é socialmente construída; a partir disso, pensou em práticas de linguagens que possibilitassem aos alunos o emprego da linguagem oral em situações variadas de uso e nos diferentes contextos. Após ter aprendido que a oralidade é uma prática de linguagem que se constitui no social e depois de todas as reflexões propostas até aqui, vamos direcionar os estudos para a elaboração de práticas pedagógicas em que a oralidade seja o grande destaque no protagonismo dos alunos. Assim, a oralidade será vista enquanto um objeto a ser ensinado na escola e você vai identificar e refletir sobre a imensa riqueza e variedade de usos da língua. Vamos finalizar mais esta jornada? Bom estudo! Chegamos à última situação-problema desta unidade. Desde a primeira seção, o 5° ano do ensino fundamental é o ano eleito para as reflexões propostas nesta unidade. Você resolveu situações-problema do campo da vida cotidiana, do campo artístico-literário e, neste momento, vamos focalizar as reflexões nos campos da vida pública. Imagine que você está com uma turma de 5° ano, esse ano de transição entre a infância e a adolescência, que marca o encerramento dos anos iniciais do ensino fundamental, com mudanças pelas quais a criança passa, sejam de ordem física, cognitiva, afetiva, social ou emocional, o que também precisa ser levado em conta quando elaboramos propostas pedagógicas. Justamente por isso, o direcionamento proposto nesta situação-problema tem uma função didática e, quando bem trabalhado, permite compreender os textos que circulam na prática escolar e na vida social, bem como elaborar propostas pedagógicas que coloquem os alunos em contato com diversos gêneros textuais, promovendo a aquisição de habilidades e competências que sejam previstas para o ano determinado. Nesta situação-problema, você deverá criar uma proposta pedagógica para ser realizada com sua turma que contemple a discussão acerca das fakenews. Essa atividade precisa integrar a leitura de diferentes suportes e proporcionar a produção de textos orais para circularem fora da escola e para servirem de fonte de discussão acerca da produção, circulação e recepção de notícias e reportagens. Esta atividade, que permite pensar práticas de linguagem para além da escola, pode ser embasada por propostas que se originam do campo da vida pública, que é o: Campo de atuação relativo à participação em situações de leitura e escrita, especialmente de textos das esferas jornalística, publicitária, política, jurídica e reivindicatória, contemplando temas que impactam a cidadania e o exercício de direitos. Alguns gêneros textuais deste campo: notas; álbuns noticiosos; notícias; reportagens; cartas do leitor (revista infantil); comentários em sites para criança; textos de campanhas de conscientização; Estatuto da Criança e do Adolescente; abaixo-assinados; cartas de reclamação, regras e regulamentos. (BRASIL, 2017, p. 122) Não se esqueça de elencar as habilidades e competências previstas para essa proposta pedagógica e de descrever os passos de realização e os modos de divulgação dos textos orais dos seus alunos. Bom trabalho. Vamos colocar em prática todo o conhecimento construído ao longo deste livro nesta última etapa? Este é o momento de você retomar conceitos, atualizar suas reflexões propostas na disciplina e estabelecer novos olhares sobre os conteúdos apresentados. Bom estudo! CONCEITO-CHAVE Caro aluno! Chegamos à última seção deste livro! O percurso foi longo até aqui e a oralidade foi o grande destaque de todas as discussões propostas. Nesta última parte, vamos retomar discussões que já travamos para pensarmos a oralidade enquanto prática de linguagem, enquanto objeto de conhecimento. Você se lembra de uma autora chamada Ruth Rocha? Ruth Rocha é paulistana, membro da Academia Brasileira de Letras, e escreve textos para crianças; dentre outros livros, escreveu os conhecidos “Marcelo, Marmelo, Martelo”, o “Reizinho mandão” e “O menino que aprendeu a ver”. Ela é uma autora de leitura indispensável para quem trabalha com educação de crianças e vamos, nesta seção, embasar nossas discussões sobre educação – sobretudo o conhecimento pedagógico do professor para o trabalho com leitura e oralidade, pensadas na dimensão social – com um texto escrito por ela, intitulado Quando a escola é de vidro, que integra o famoso livro Este admirável mundo louco. Na história Quando a escola é de vidro, os alunos se alojam em vidros de tamanho padrão (parecem as roupas “tamanho único” que encontramos quando vamos comprar roupas e nos questionamos para quem são feitas...) para se enquadrarem ao modelo da escola. Você já se questionou se a escola tem um padrão de aluno? Um padrão de leitura e um padrão de escrita? Como podemos lidar com tamanha diversidade de alunos que temos, com a heterogeneidade na sala de aula? Vamos pensar sobre isso enquanto relembramos o que estudamos nesta disciplina de oralidade? Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004, p. 80) reforçam que “toda introdução de um gênero na escola é o resultado de uma decisão didática que visa a objetivos precisos de aprendizagem”, por isso, um ensino pautado em fôrmas, comum a todos, é bastante questionável. O professor, a equipe gestora e todos os envolvidos com a escola precisam ter um olhar clínico para os alunos que atendem, conhecendo a comunidade em que a escola está inserida, e procurando saber sobre a realidade do cotidiano da escola e daqueles que a integram. Se considerarmos a variedade de crianças que temos na escola, é impossível pensarmos que todas “cabem” no mesmo vidro, isto é, que todas aprenderão da mesma maneira, que interpretarão textos de forma homogênea, que conceberão a escrita de maneira igual. Assim, surge o nosso maior desafio: como elaborar práticas que contemplem todos os alunos, com toda a sua heterogeneidade? Precisamos conhecer os contextos de vida das crianças e jovens, reconhecer suas identidades para, então, pensarmos em estratégias de contextualização do processo de aprendizagem. Como nos diz Coracini (1999, p. 43): Nenhuma instituição melhor do que a escola poderia colaborar para isso, questionando o que parece inquestionável, discutindo o que parece natural, problematizando o que parece óbvio, exibindo a heterogeneidade e a complexidade do que parece homogêneo, simples, unívoco. Quando isso acontecer (e se acontecer), isto é, quando a ética do capitalismo for substituída pela ética revolucionária, então, com certeza, mudanças profundas ocorrerão na sala de aula e, consequentemente, nos livros didáticos, no modo de considerar e de conceber o processo de ensino- aprendizagem. Então, com certeza, o material didático não será mais visto como um produto de consumo que merece o mesmo tratamento ético que a merenda escolar, professores e alunos não serão mais vistos como meros consumidores, empacotados e rotulados para servirem de parâmetro para a concepção de “novos” (embora sempre velhos) materiais de consumo. (CORACINI, 1999, p. 43) E, assim, planejamos nossas práticas em sala de aula, pensando na importância da produção daquilo que é o nosso material de trabalho, que condiz com a realidade com a qual vivemos: nossos alunos, a escola e o seu entorno. Entenda que considerar o cotidiano escolar dessa forma é saber que vidros pré-moldados não servem para todos os alunos nem para todas as realidades; é claro que, quando Ruth Rocha usa vidros para explicar o encaixe forçado de crianças a estruturas já determinadas pela escola, está usando da metáfora para mostrar que não podemos mais, como professores, impor sentidos a leituras feitas na escola, impor pontos de vista na escrita das crianças, forçar a entradanos vidros da história de Ruth Rocha: Se você estava no primeiro ano ganhava um vidro de um tamanho. Se fosse do segundo ano seu vidro era um pouquinho maior. E assim, os vidros iam crescendo à medida que você ia passando de ano. Se não passasse de ano, era um horror. Você tinha que usar o mesmo vidro do ano passado. Coubesse ou não coubesse. Aliás, nunca ninguém se preocupou em saber se a gente cabia nos vidros. E, para falar a verdade, ninguém cabia direito. (ROCHA, 2003, [s.p.]) Os estudantes chegam à escola com suas histórias, trazem seu conhecimento de mundo pela perspectiva daqueles que lhes são próximos, e a escola será o espaço de expandir os conhecimentos que já trazem, organizando os saberes por meio da ciência, apresentando o percurso dos conceitos, das fórmulas, explicando os acontecimentos históricos que desencadearam situações políticas atuais, mostrando, por exemplo, que há outros modos de ser “princesa” na contemporaneidade, e desfazendo, assim, sentidos consolidados da princesa já estereotipada (perceba o estereótipo: descreva a primeira princesa que lhe vem à mente. Quais características você elencaria?). Esses outros modos de produzir sentidos são originados em práticas de leituras planejadas na escola. A leitura deve ser pensada como um gesto muito mais complexo do que comumente se vê; é preciso considerar o sentido, na leitura e na escrita, como efeito, movente, determinado por questões sociais, históricas e ideológicas, e não apenas como uma “retirada” de sentidos das entrelinhas, por trás dos textos, focado, ilusoriamente, naquilo que o autor “quis dizer”. Podemos até afirmar que a leitura é um ato que não se esgota, é uma construção inacabada dos sentidos, o que permite considerar impossível que distintos sujeitos cheguem, a partir da leitura de um texto, a um único e verdadeiro sentido, é sair dos moldes de vidro que a autora Ruth Rocha descreve. Ezequiel Theodoro da Silva, pesquisador de leitura, escrita e alfabetização da Universidade Estadual de Campinas, diz que a leitura envolve conhecimento: conhecer as relações existentes no mundo da natureza, dos homens...; o conhecimento possibilita construir elementos de combate à alienação e à ignorância, é um ato que cria tensões no leitor, suscitando intuições sobre a vida humana. Segundo esse autor, as concepções de leitura que temos estão relacionadas com as práticas que realizamos, “essa concepção ou definição surge de nossa convivência social com outros homens e, mais especificamente, de situações vividas dentro daquelas instituições onde o livro e a leitura se fazem mais diretamente presentes (escola, biblioteca e família)” (SILVA, 2010, p. 51-52). Do mesmo modo que estudamos as concepções de linguagem na primeira unidade, quando você pôde perceber que a concepção de linguagem deve ser coerente com as práticas de sala de aula, também o modo como entendemos a leitura e como pensamos a produção de sentidos é determinante para os rumos do trabalho com a leitura em sala de aula. Essa breve reflexão sobre a leitura nos permite estabelecer uma profícua relação com a oralidade, pois da leitura podemos estabelecer diálogos orais, defesas de ponto de vista, indicações de leituras e outros tantos gêneros orais que requerem posicionamentos argumentativos para serem produzidos, como debates, seminários, vídeos para divulgações em canais, podcasts, etc. Vamos pensar em algumas atividades que trazem a leitura como pano de fundo? Já no primeiro ano do ensino fundamental, temos a habilidade 16 (BRASIL, 2017, p. 103), que destaca a importância da leitura e da compreensão, com a colaboração dos colegas e ajuda do professor, a partir de textos próprios da vida cotidiana, como parlendas e quadrinhas, discutindo sobre o tema/assunto dos textos e destacando a situação comunicativa em que são produzidos. Atividades que desenvolvem essa habilidade podem ser um importante desencadeador para a produção de um vídeo ou áudio em que os alunos argumentem sobre os textos lidos; essa atividade pode ser o caminho para a habilidade 23, também relacionada ao primeiro ano (BRASIL, 2017, p. 109), que pressupõe o planejamento e a produção de textos orais. Outra possibilidade, agora no segundo ano do ensino fundamental, é a leitura e a compreensão de textos literários de gêneros variados – habilidade 26 – (BRASIL, 2017, p. 111), e também a recontagem oral de textos literários lidos em sala – habilidade 19 – (BRASIL, 2017, p. 97). E, assim, muitas atividades são realizadas, na relação da leitura com a oralidade. Na segunda unidade, você teve acesso aos estudos das professoras pesquisadoras Lucília Romão e Soraya Pacífico, com o livro Era uma vez uma outra história: leitura e interpretação na sala de aula, para estudarmos sobre leitura. Agora, vamos nos ocupar desses estudos para pensarmos estratégias de trabalho com a oralidade em sala de aula. Essas autoras não tratam da oralidade em si, mas nos apresentam o modo como os textos produzem sentidos, como podem ser lidos e interpretados e, a partir disso, podemos pensar a produção de textos orais. Você já deve ter percebido que essas possibilidades, e tantas outras, de trabalho com a leitura e a oralidade na escola, impossibilitam que a criança se mantenha na “fôrma” de vidro, como se a leitura e as discussões fossem as mesmas para todos os leitores. Pacífico (2002) reflete que, muitas vezes, a escola privilegia atividades que mantêm o aluno no que ela chama de fôrma-leitor, determinada pela ideologia dominante em cada formação social, que tem como objetivo limitar o processo de significação do sujeito, sua possibilidade de interpretação. O sujeito-leitor que assume a fôrma-leitor realiza uma leitura parafrástica, isto é, leitura que se repete, previsível e prevista/aceita pela escola. A autora diz que a escola deveria possibilitar ao aluno o acesso à função-leitor (PACÍFICO, 2002), que não repete os sentidos instituídos como dominantes, mas que procura compreender como são criados alguns efeitos de sentidos e não outros, que procura investigar, num dado momento sócio-histórico, o funcionamento discursivo, novo e único em cada texto, realizando, assim, uma leitura polissêmica, ou seja, aquela leitura que permite a vastidão de sentidos que um texto pode proporcionar. Essas discussões sobre a polissemia na interpretação dos textos servem também para a produção oral e escrita dos textos, e para a argumentação; precisamos, enquanto professores, estimular nos alunos outros olhares para os textos que leem, provocando outros modos de escrita, abrindo espaço para a ousadia com as palavras. É preciso se desacostumar de alguns sentidos, de algumas palavras, como nos diz Manoel de Barros: “Não gosto de palavra acostumada” (BARROS, 2003, p. 322). Quando pensamos a prática de escrita na escola, consideramos a questão da intervenção do professor, mas não o consideramos apenas como um mediador no processo de ensino/aprendizagem, entendemos, assim como Kleiman (2006, p. 81), que “todos os participantes da interação são potencialmente mediadores, ao mobilizarem recursos de outros eventos, outras situações, outras práticas sociais”. Para ela, ensinar a ler e a escrever envolve processos identitários e vai além da aprendizagem de práticas discursivas às quais o aprendiz pertence. Em contrapartida, a autora considera como uma das representações possíveis do professor, a de agente de letramento, agente, aqui, remetendo à ação, à atividade. O professor, nessa concepção, proporciona ao aluno a participação nas práticas sociais de letramento, nas práticas de escrita das diversas instituições. Um professor agente de letramento, de acordo com Kleiman (2006), mobiliza recursos, estratégias e conhecimentos, se apropriando das tecnologias, visando à realização de uma atividade social, sem restringi-la à elaboração de um texto oral ou escrito, ou seja, o motivador da atividade é a própria atividade e não a produção textual