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PrisÃo em Flagrante

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AULA. PRISÃO EM FLAGRANTE 
1. Conceito de prisão cautelar: 
É a privação da liberdade, tolhendo-se o direito de ir e vir, através do recolhimento da pessoa 
humana ao cárcere, por absoluta necessidade da instrução processual. 
2. Fundamento constitucional da prisão. 
Preceitua o art. 5.º, LXI, que “ninguém será preso se não em flagrante delito ou por ordem 
escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão 
militar ou crime propriamente militar, definidos em lei”. A regra, pois, é que a prisão, no Brasil, 
deve basear-se em decisão de magistrado competente, devidamente motivada e reduzida a 
escrito, ou necessita decorrer de flagrante delito, neste caso cabendo a qualquer do povo a 
sua concretização. Os incisos LXII, LXIII, LXIV e LXV, do mesmo artigo, regulam a maneira pela 
qual a prisão deve ser formalizada. 
3. Controle da legalidade da prisão 
Estabelece a Constituição Federal que toda prisão seja fielmente fiscalizada por juiz de direito. 
Estipula o art. 5.º, LXV, que “a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade 
judiciária”. No mesmo sentido, dispõe o art. 310, I, do CPP. 
Art. 5º, LXVIII da CF/88 estabelece o cabimento de habeas corpus nos casos de ilegalidade ou 
abuso de poder. “conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar 
ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou 
abuso de poder” (art. 5.º, LXVIII, CF). 
4. DA PRISÃO EM FLAGRANTE 
Conceito: Flagrante significa tanto o que é manifesto ou evidente, quanto o ato que se pode 
observar no exato momento em que ocorre. A prisão em flagrante é a modalidade de prisão 
cautelar, de natureza administrativa, realizada no instante em que se desenvolve ou termina 
de se concluir a infração penal. 
 A Constituição Federal (art. 5.º, LXI), autoriza essa modalidade de prisão 
Caráter administrativo da prisão 
Natureza jurídica: medida cautelar de segregação provisória do autor da infração penal. É 
necessário apenas a aparência da tipicidade, não se exigindo nenhuma valoração sobre a 
ilicitude e a culpabilidade, outros dois requisitos para a configuração do crime. É a tipicidade 
o fumus boni juris (fumaça do bom direito). 
Quanto ao periculum in mora (perigo na demora), típico das medidas cautelares, é ele 
presumido quando se tratar de infração penal em pleno desenvolvimento, pois lesadas estão 
sendo a ordem pública e as leis. 
Prisão em flagrante x crimes de menor potencial ofensivo (lei 9.099/95) – 
o auto não precisa ser formalizado, como ocorre nas infrações de maior potencial ofensivo, 
desde que o detido se comprometa a comparecer ao Juizado Especial Criminal (art.69, 
parágrafo único, lei 9.099/95). 
4.1 Espécie de prisão flagrante 
a) Flagrante facultativo e flagrante obrigatório 
Qualquer pessoa do povo – inclusive a vítima do crime – prender aquele que for encontrado 
em flagrante delito, num autêntico exercício de cidadania, em nome do cumprimento das leis 
do país (art. 301, CPP). É o flagrante facultativo. 
Quanto às autoridades policiais e seus agentes (Polícia Militar ou Civil), impôs o dever de 
efetivá-la, sob pena de responder criminal e funcionalmente pelo seu descaso. E deve fazê-lo 
durante as 24 horas do dia, quando possível. Cuida-se do flagrante obrigatório. 
b) Prisão em flagrante nos crimes de ação penal privada ou pública condicionada 
Não ocorrerá a prisão, se o ofendido, presente e ciente, não autorizar a prisão, até porque não 
será possível, em seguida, lavrar o auto. E se a prisão ocorrer, é necessário a concordância da 
vítima para lavrar o auto de prisão. 
c) Flagrante próprio ou perfeito 
Descritas nos incisos I e II do art. 302 do Código de Processo Penal. Ocorre quando o agente 
está em pleno desenvolvimento dos atos executórios da infração penal (inciso I). 
Pode ainda dar-se quando o agente terminou de concluir a prática da infração penal, ficando 
evidente a materialidade do crime e da autoria (inciso II). 
d) Flagrante impróprio ou imperfeito 
O agente conclui a infração mas sem ser preso no local do delito, pois consegue fugir, 
fazendo com que haja perseguição por parte da polícia, da vítima ou de qualquer pessoa do 
povo. A lei faz uso da expressão “em situação que faça presumir ser autor da infração” (inciso 
III do art. 302). 
e) Flagrante presumido 
Verifica-se a situação do agente que, logo depois da prática do crime, embora não tenha sido 
perseguido, é encontrado portando instrumentos, armas, objetos ou papéis que demonstrem, 
por presunção, ser ele o autor da infração penal (inciso IV do art. 302 do CPP). 
 
f) Flagrante preparado ou provocado 
Quando um agente provocador induz ou instiga alguém a cometer uma infração penal, 
somente para assim poder prendê-lo. Trata-se de crime impossível (art. 17, CP), pois inviável a 
sua consumação. (não é aceito) 
Súmula 145 do Supremo Tribunal Federal: “Não há crime quando a preparação do flagrante 
pela polícia torna impossível a sua consumação”. 
g) Flagrante forjado 
É fato atípico, tendo em vista que a pessoa presa jamais pensou ou agiu para compor qualquer 
trecho da infração penal. (não aceito) 
h) Flagrante esperado 
Essa é uma hipótese viável para autorizar a prisão em flagrante e a constituição válida do 
crime. Não há agente provocador, mas simplesmente chega à polícia a notícia de que um 
crime será, em breve, cometido. 
i) Flagrante diferido ou retardado 
É a possibilidade que a polícia possui de retardar a realização da prisão em flagrante, para 
obter maiores dados e informações a respeito do funcionamento, dos componentes e da 
atuação de uma organização criminosa. 
A lei traz a possibilidade: 
Artigos: 3.º e 8.º da Lei 12.850/2013: “Art. 3.º Em qualquer fase da persecução penal, 
serão permitidos, sem prejuízo de outros já previstos em lei, os seguintes meios de obtenção 
da prova: (...) III – ação controlada (...). Art. 8.º Consiste a ação controlada em retardar a 
intervenção policial ou administrativa relativa à ação praticada por organização criminosa ou a 
ela vinculada, desde que mantida sob observação e acompanhamento para que a medida legal 
se concretize no momento mais eficaz à formação de provas e obtenção de informações. (...)”. 
Outro exemplo encontra-se no art. 53, II, da Lei 11.343/2006: “a não atuação policial 
sobre os portadores de drogas, seus precursores químicos ou outros produtos utilizados em 
sua produção, que se encontrem no território brasileiro, com a finalidade de identificar e 
responsabilizar maior número de integrantes de operações de tráfico e distribuição, sem 
prejuízo da ação penal cabível”. 
 
4.2 Lavratura do Auto de Prisão em Flagrante 
O art. 304 do CPP diz que, apresentado o preso à autoridade competente (autoridade policial) 
ouvirá esta o condutor e as testemunhas que o acompanharem, bem como interrogará o 
indiciado a respeito da imputação, lavrando-se auto por todos assinado. 
4.3 Prisão em flagrante x Direito ao silêncio do preso 
A Constituição preceitua que “o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de 
permanecer calado (...)” (art. 5.º, LXIII, CF). Indiscutivelmente, no momento da formalização da 
prisão, na delegacia de polícia, lavrando-se o auto, deve a autoridade policial informar o 
indiciado de seu direito ao silêncio. 
4.4 O relaxamento da prisão em flagrante pela autoridade policial 
Excepcionalmente, no entanto, pode ocorrer que a autoridade policial evidencie que a pessoa 
presa não é culpada. Afastada a autoria, tendo sido constatado o erro, não recolhe o sujeito, 
determinando sua soltura. É a excepcional hipótese de se admitir que a autoridade policial 
relaxe a prisão. 
Note-se que isso se dá no tocante à avaliação da autoria, mas não quando a autoridade policial 
percebe ter havido alguma excludente de ilicitude ou de culpabilidade, pois cabe ao juiz 
proceder a essa análise. 
Prevalece, hoje, o entendimento doutrinário e jurisprudencial de ser admissível ouso do 
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA, como meio para afastar a tipicidade. O delegado é o 
primeiro juiz do fato típico, sendo bacharel em Direito, concursado, tem perfeita autonomia 
para deixar de lavrar a prisão em flagrante se constatar a insignificância do fato. Ou, se já deu 
início à lavratura do auto, pode deixar de recolher ao cárcere o detido. Lavra a ocorrência, 
enviando ao juiz e ao Ministério Público para a avaliação final, acerca da existência – ou não – 
da tipicidade. 
4.5. A apresentação espontânea do autor do delito à autoridade policial e a prisão em 
flagrante 
Pode-se evitar a prisão em flagrante, por ausência dos requisitos do art. 302 do CPP, 
bem como pelo fato do agente ter manifestado a nítida intenção de colaborar com a apuração 
do fato e sua autoria, o que afastaria o periculum in mora. 
4.6. Controle jurisdicional da prisão em flagrante 
Dentro de 24 horas, a contar da efetivação da prisão, deve-se dar nota de culpa ao preso e 
enviar os autos da prisão em flagrante ao juiz competente (arts. 306 e 307, CPP). 
 
 
Art. 301. Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e seus agentes deverão prender 
quem quer que seja encontrado em flagrante delito. 
Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem: 
I - está cometendo a infração penal; 
II - acaba de cometê-la; 
III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em 
situação que faça presumir ser autor da infração; 
IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam 
presumir ser ele autor da infração. 
Art. 303. Nas infrações permanentes, entende-se o agente em flagrante delito enquanto não 
cessar a permanência. 
Art. 304. Apresentado o preso à autoridade competente, ouvirá esta o condutor e colherá, 
desde logo, sua assinatura, entregando a este cópia do termo e recibo de entrega do preso. 
Em seguida, procederá à oitiva das testemunhas que o acompanharem e ao interrogatório do 
acusado sobre a imputação que lhe é feita, colhendo, após cada oitiva suas respectivas 
assinaturas, lavrando, a autoridade, afinal, o auto. (Redação dada pela Lei nº 11.113, de 
2005) 
§ 1o Resultando das respostas fundada a suspeita contra o conduzido, a autoridade mandará 
recolhê-lo à prisão, exceto no caso de livrar-se solto ou de prestar fiança, e prosseguirá nos 
atos do inquérito ou processo, se para isso for competente; se não o for, enviará os autos à 
autoridade que o seja. 
§ 2o A falta de testemunhas da infração não impedirá o auto de prisão em flagrante; mas, 
nesse caso, com o condutor, deverão assiná-lo pelo menos duas pessoas que hajam 
testemunhado a apresentação do preso à autoridade. 
§ 3o Quando o acusado se recusar a assinar, não souber ou não puder fazê-lo, o auto de prisão 
em flagrante será assinado por duas testemunhas, que tenham ouvido sua leitura na presença 
deste. (Redação dada pela Lei nº 11.113, de 2005) 
§ 4o Da lavratura do auto de prisão em flagrante deverá constar a informação sobre a 
existência de filhos, respectivas idades e se possuem alguma deficiência e o nome e o contato 
de eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa. (Incluído pela 
Lei nº 13.257, de 2016) 
Art. 305. Na falta ou no impedimento do escrivão, qualquer pessoa designada pela autoridade 
lavrará o auto, depois de prestado o compromisso legal. 
Art. 306. A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados 
imediatamente ao juiz competente, ao Ministério Público e à família do preso ou à pessoa por 
ele indicada. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). 
§ 1o Em até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da prisão, será encaminhado ao juiz 
competente o auto de prisão em flagrante e, caso o autuado não informe o nome de seu 
advogado, cópia integral para a Defensoria Pública. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 
2011). 
§ 2o No mesmo prazo, será entregue ao preso, mediante recibo, a nota de culpa, assinada 
pela autoridade, com o motivo da prisão, o nome do condutor e os das 
testemunhas. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). 
Art. 307. Quando o fato for praticado em presença da autoridade, ou contra esta, no exercício 
de suas funções, constarão do auto a narração deste fato, a voz de prisão, as declarações que 
fizer o preso e os depoimentos das testemunhas, sendo tudo assinado pela autoridade, pelo 
preso e pelas testemunhas e remetido imediatamente ao juiz a quem couber tomar 
conhecimento do fato delituoso, se não o for a autoridade que houver presidido o auto. 
Art. 308. Não havendo autoridade no lugar em que se tiver efetuado a prisão, o preso será 
logo apresentado à do lugar mais próximo. 
Art. 309. Se o réu se livrar solto, deverá ser posto em liberdade, depois de lavrado o auto de 
prisão em flagrante.

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