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INFLAMAÇÃO CRÔNICA E REPARO ALUNA: BÁRBARA KISSEL ETAPA2-MED INFLAMAÇÃO CRÔNICA: • É a inflamação de duração prolongada, semana ou meses, em que inflamação, a lesão tecidual e as tentativas de reparo coexistem em várias combinações; • Causas da inflamação: ➢ Infecções persistentes: por microrganismos que são difíceis de eliminar, tais como micobactérias (hanseníase) e certos vírus, fungos e parasitas. Esses organismos causam a reação chamada hipersensibilidade do tipo tardia. ➢ Doenças de hipersensibilidade: as doenças autoimunes, os autoantígenos estimulam uma reação imunológicas autoperpetuante que resulta em dano tecidual crônico e inflamação, dentre tais estão a artrite reumatoide e esclerose múltipla. A inflamação crônica é o resultado da resposta imunológica não regulada contra microrganismos. As respostas imunológicas contra substâncias ambientais comuns são a causa das doenças alérgicas, tais como asma brônquica. Devido ao fato de as reações autoimunes e alérgicas serem inapropriadamente deflagradas contra os antígenos que normalmente são inofensivos, estas não atendem a propósitos úteis e causam somente doença. Tais doenças podem mostrar padrões morfológicos de inflamação aguda e crônica misturados porque são caracterizadas por episódios repetidos de inflamação. ➢ Exposição prolongada a agentes potencialmente tóxicos, tanto exógenos quanto endógenos. Um exemplo de agente exógeno é a partícula de sílica, um material inanimado não degradável que, quando inalado por períodos prolongados, resulta em uma doença inflamatória pulmonar chamada silicose. A aterosclerose é um processo inflamatório crônico da parede arterial induzido, pelo menos em parte, pela excessiva produção e deposição tecidual de colesterol endógeno e outros lipídios. • Características morfológicas: Ao contrário da inflamação aguda, que é marcada por alterações vasculares, edema e infiltração predominantemente neutrofilia, a inflamação crônica é caracterizada por: ➢ Infiltração com células mononucleares, que incluem macrófagos, linfócitos e plasmócitos. ➢ Destruição tecidual, induzida pelo agente agressor persistente ou pelas células inflamatórias. ➢ Tentativas de reparo pela substituição do tecido danificado por tecido conjuntivo, realizadas pela proliferação de pequenos vasos sanguíneos (angiogênese) e, em particular, fibrose. • Inflamação granulomatosa: ➢ É uma forma de inflamação crônica caracterizada por coleções de macrófagos ativos, frequentemente por linfócitos T e algumas vezes associada a necrose central. ➢ A formação de granulomas é uma tentativa celular de conter um agente agressor difícil de eliminar. ➢ Nessa tentativa, comumente existe intensa ativação dos linfócitos T levando à ativação dos macrófagos, que pode causar lesão aos tecidos normais. ➢ Granulomas de corpos estranhos são formados por corpos estranhos relativamente inertes, na ausência de respostas imunológicas mediadas por células T. Tipicamente, os granulomas de corpos estranhos se formam em torno de materiais como talco, suturas ou fibras grandes que impedem a fagocitose. ➢ Granulomas imunes são causados por uma variedade de agentes capazes de induzir a resposta imunológica mediada por célula T. Em geral, esse tipo de resposta imunológica produz granulomas quando é difícil eliminar o INFLAMAÇÃO CRÔNICA E REPARO ALUNA: BÁRBARA KISSEL ETAPA2-MED agente iniciador, como é o caso de um microrganismo persistente ou autoantígeno. Em tais respostas, os macrófagos ativam as células T para produzir citocinas, como a IL-2, a qual ativa outras células T, perpetuando a resposta, e a IFN-γ, que ativa os macrófagos. MEDIADORES E MECANISMOS DA INFLAMAÇÃO CRÔNICA: • Macrófagos: ➢ As células dominantes na maioria das reações inflamatórias crônicas; ➢ Contribuem com a reação ao secretar citocinas e fatores de crescimento que agem em várias células, destruindo invasores estranhos e tecidos, bem como ativando outras células, em especial os linfócitos T. ➢ São fagócitos profissionais que agem como filtros para partículas, microrganismos e células senescentes. ➢ Eles também funcionam como células efetoras que eliminam microrganismos nas respostas imunológicas e humorais celulares. ➢ São células teciduais derivadas de células-tronco hematopoiéticas na medula óssea, bem como de células progenitoras no saco vitelino embrionário e no fígado do feto durante o desenvolvimento inicial. ➢ As células circulantes dessa linhagem são conhecidas como monócitos. ➢ Estão normalmente espalhados de maneira difusa na maioria dos tecidos conjuntivos. Além disso, são encontrados em locais específicos, em órgãos como fígado (onde são chamados de células de Kupffer), baço e linfonodos (chamados de histiócitos sinusais), sistema nervoso central (micróglias) e pulmões (macrófagos alveolares). ➢ Há duas vias principais de ativação dos macrófagos, chamadas clássica e alternativa; ➢ Via clássica: pode ser induzida por produtos microbianos como endotoxina, que liga aos TLRs e outros sensores, pelos sinais derivados de células T, com destaque para a citocina IFN- γ, nas reações imunológicas. Os macrófagos classicamente ativados (também chamados de M1) produzem NO e ERO, além de regular enzimas lisossômicas. ➢ Via alternativa: é induzida por outras citocinas além do IFN-γ, tais como IL-4 e a IL-13, produzidas pelos linfócitos T e outras células. Esses macrófagos não são ativamente microbicidas e as citocinas podem inibir a via clássica. A principal função dos macrófagos M2 é atuar em reparo tecidual. Eles secretam fatores de crescimento que promovem angiogênese, ativam fibroblastos e estimulam síntese de colágeno. ➢ Os produtos dos macrófagos ativados eliminam os agentes lesivos da mesma forma que fazem os microrganismos e o início do processo de reparo, mas também são responsáveis por grande parte da lesão tecidual na inflamação crônica. ➢ Funções dos macrófagos: o Ingerir e eliminar os microrganismos e os tecidos mortos; o Iniciar o processo de reparo tecidual e estão envolvidos na formação de cicatrizes e fibrose; o Secretar mediadores da inflamação, tais como as citocinas; INFLAMAÇÃO CRÔNICA E REPARO ALUNA: BÁRBARA KISSEL ETAPA2-MED o Apresentar antígenos para os linfócitos T e respondem a sinais das células T, configurando, dessa forma, uma cadeia de retroalimentação que é essencial para a defesa contra muitos microrganismos • Linfócitos: ➢ Embora a função principal desses linfócitos seja a de mediadores da imunidade adaptativa, que fornece defesa contra patógenos infecciosos, essas células estão frequentemente presentes na inflamação crônica. ➢ Os linfócitos podem ser a população dominante na inflamação crônica vista em doenças autoimunes e em outras doenças de hipersensibilidade. ➢ Os linfócitos T e B (efetor e memória) estimulados pelos antígenos usam vários pares de moléculas de adesão (selectinas, integrinas e seus ligantes) e quimiocinas para migrar para os locais de inflamação. ➢ As citocinas dos macrófagos ativados, principalmente TNF, IL-1 e quimiocinas, promovem o recrutamento de leucócitos, preparando o campo para a persistência da resposta inflamatória. ➢ Em virtude de sua habilidade de secretar citocinas, os linfócitos T CD4+ promovem inflamação e influenciam a natureza da reação inflamatória. Essas células T aumentam de modo acentuado a reação inflamatória inicial que é induzida pelo reconhecimento de microrganismos e células mortas como parte da imunidade inata. ➢ Há 3 subtipos de células T CD4+: o TH1: produzem a citocina IFN- γ, que ativam os macrófagos através da via clássica. oTH2: secretam IL-4, IL-5 e a IL- 13, que recrutam e ativam os eosinófilos e são responsáveis pela via alternativa da ativação dos macrófagos; o TH17: secretam IL-17 e outras citocinas, que induzem a secreção de quimiocinas responsáveis pelo recrutamento dos neutrófilos (e monócitos) para reação. ➢ Tanto as células TH1 quanto as TH17 são envolvidas na defesa contra muitos tipos de bactérias e vírus, bem como nas doenças autoimunes. As células TH2 são importantes na defesa contra parasitas helmínticos e nas reações alérgicas. ➢ Os linfócitos e macrófagos interagem de forma bidirecional, os macrófagos apresentam antígenos a células T, expressam moléculas de membrana (chamadas coestimuladores) e produzem citocinas (IL-12 e outras) que estimulam as respostas de células T. Os linfócitos T ativados, por sua vez, produzem citocinas, descritas anteriormente, as quais recrutam e ativam macrófagos, promovendo mais apresentação antigênica e seleção de citocinas. O resultado é um ciclo de reações celulares. INFLAMAÇÃO CRÔNICA E REPARO ALUNA: BÁRBARA KISSEL ETAPA2-MED ➢ Os linfócitos B ativados e os plasmócitos produtores de anticorpos estão presentes com frequência nos locais de inflamação crônica. ➢ Em algumas reações inflamatórias crônicas, os linfócitos acumulados, as células apresentadoras de antígenos e os plasmócitos se agrupam para formar tecidos linfoides que lembram linfonodos. Eles são chamados de órgãos linfoides terciários. • Outras células na inflamação crônica: ➢ Eosinófilos: são abundantes nas reações imunológicas mediadas por IgE e em infecções parasitarias. Seu recrutamento é acionado pelas moléculas de adesão, de modo similar as dos neutrófilos por quimiocinas especificas. Os eosinófilos têm grânulos contendo a proteína básica principal, uma proteína altamente catiônica que é tóxica para parasitas, mas também causa lise das células epiteliais dos mamíferos ➢ . Por isso os eosinófilos são benéficos ao controle das infecções parasitárias, mas também contribuem para o dano tecidual nas reações imunológicas, como, por exemplo, alergias. ➢ Mastócitos: são amplamente distribuídos nos tecidos conjuntivos e participam de ambas as reações inflamatórias, aguda e crônica. Expressam em sua superfície um receptor que liga a porção Fc do anticorpo IgE. Nas reações de hipersensibilidade imediata, os anticorpos IgE ligados aos receptores Fc das células reconhecem especificamente o antígeno, desencadeando, assim, a desgranulação e a liberação de mediadores como histamina e prostaglandinas. Esse tipo de resposta ocorre durante as reações alérgicas aos alimentos, veneno de insetos ou fármacos. ➢ Neutrófilos: embora sejam característicos da inflamação aguda, muitas formas de inflamação crônica que duram por meses continuam a mostrar grandes números de neutrófilos, induzidos tanto por microrganismos persistentes quanto por mediadores produzidos pelos macrófagos ativados e linfócitos T. T. Na infecção bacteriana crônica do osso (osteomielite), um exsudato neutrofílico pode persistir por muitos meses. Os neutrófilos também são importantes no caso da lesão crônica induzida nos pulmões por tabagismo e outros estímulos irritantes. REPARO TECIDUAL: • O reparo, algumas vezes chamado de cura, refere-se à restauração da arquitetura e da função dos tecidos após a lesão. • O reparo de tecidos lesados ocorre por meio de dois tipos de reação: regeneração através da proliferação de células residuais (não lesadas) e da maturação das células-tronco teciduais, e deposição de tecido conjuntivo para formar uma cicatriz. • Regeneração: ➢ Capacidade dos tecidos danificados substituir e retornar ao estado normal. ➢ Ocorre por meio da proliferação de células que sobrevivem à lesão e conservam a capacidade de se INFLAMAÇÃO CRÔNICA E REPARO ALUNA: BÁRBARA KISSEL ETAPA2-MED proliferar. Por exemplo o epitélio do intestino e o fígado. • Cicatrização: ➢ Se os tecidos lesados não conseguirem se restituir por completo, ou se as estruturas de suporte tecidual estivem lesadas, o reparo ocorre por deposição de tecido conjuntivo fibroso, processo que forma as cicatrizes. MECANISMOS DE REPARO TECIDUAL: REGENERAÇÃO DE CELULAS E TECIDOS: • Proliferação celular: ➢ Vários tipos de células proliferam durante o reparo tecidual. Elas incluem o tecido lesado remanescente, células endoteliais vasculares e os fibroblastos. ➢ A forma de reparo dos tecidos é determinada, em parte, por sua capacidade de proliferação intrínseca. Com base nesse critério, os tecidos do corpo são divididos em três grupos: o Tecidos lábeis ou instáveis: as células desse tecido são perdidas continuamente e substituídas pela maturação de células-tronco e pela proliferação de células maduras. As células lábeis incluem as hematopoiéticas na medula óssea e a maioria dos epitélios de superfície, como os escamosos da pele, cavidade oral, transicional do trato urinário e ductos gastrointestinal. Esses tecidos podem regenerar-se prontamente após a lesão, contanto que a reserva de células-tronco esteja preservada o Tecidos estáveis: as células desses tecidos são quiescentes e tem apenas atividade proliferativa mínima em seu estado normal. Entretanto, essas células são capazes de dividir em resposta à lesão ou perda de massa tecidual. Essas células constituem o parênquima do fígado, rim, pâncreas. E também incluem células epiteliais, fibroblastos e da musculatura lisa, que são importantes na cura de feridas. o Tecidos permanentes: considera- se as células terminantemente diferenciadas e não proliferativas. A maioria dos neurônios e o musculo cardíaco pertence a essa categoria. Assim as lesões nesses locais são irreversíveis e gera cicatriz. O musculo esquelético é considerado como um tecido permanente, mas as células satélites atraídas para a bainha têm certa capacidade regenerativa. ➢ A proliferação celular é controlada por sinais promovidos pelos fatores de crescimento e pela matriz extracelular. ➢ No processo de regeneração, a proliferação das células residuais é complementada pelo desenvolvimento de células maduras a partir de células-tronco. • Mecanismos da regeneração de tecidos: ➢ A regeneração na restituição dos tecidos lesados varia de acordo com os diferentes tipos de tecidos e com a gravidade da lesão. ➢ Nos tecidos lábeis as células lesadas são rapidamente substituídas por meio da proliferação de células residuais e pela diferenciação de células-tronco, contanto que a membrana basal esteja intacta. ➢ A regeneração dos tecidos pode ocorrer em órgãos parenquimatosos com populações de células estáveis, mas, à exceção do fígado, esse, em geral, é um processo limitado. ➢ A restauração da arquitetura normal dos tecidos pode ocorrer apenas se o tecido residual estiver estruturalmente intacto, e o tecido inteiro estiver lesado por uma infecção ou inflamação, a regeneração é incompleta, e se faz acompanhar de cicatriz. Regeneração hepática: INFLAMAÇÃO CRÔNICA E REPARO ALUNA: BÁRBARA KISSEL ETAPA2-MED • O fígado tem capacidade notável de se regenerar. • A regeneração do fígado ocorre por meio de dois mecanismos importantes: proliferação dos hepatócitos remanescentes e repovoamento a partir das células progenitoras. ➢ Proliferação: a proliferação dos hepatócitos no fígado é desencadeada por ações combinadas de citocinas e fatores de crescimento polipeptídios. O processo ocorre em estágios distintos. Na primeira fase (Priming), citocinas como a IL-6 são produzidas principalmente pelas células de Kupffer, e agem nos hepatócitos de modo a fazer com que as célulasparenquimatosas sejam capazes de receber e responder sinais de crescimento. Na segunda fase, fatores de crescimento como HGF e o TGF-α, agem nos hepatócitos de modo a estimular o metabolismo celular e a entrada de células no ciclo celular. Como os hepatócitos são células quiescentes, levam várias horas para entrar no ciclo celular, progredir de G0 para G1 e alcançar a fase S de replicação do DNA. Praticamente todos os hepatócitos replicam-se durante a regeneração hepática após hepatectomia parcial. A onda de replicação dos hepatócitos é sincronizada e se faz acompanhar pela replicação de células não parenquimatosas. No final, na fase terminal. A natureza dos sinais de parada não é bem compreendida e provavelmente as citocinas antiproliferativas da família TGF-β estejam envolvidas. ➢ Regeneração a partir de células progenitoras: nas situações que a capacidade proliferativa dos hepatócitos é prejudicada, as células progenitoras contribuem para o repovoamento. Algumas dessas células progenitoras residem em nichos especializados chamados canais de Hering, onde os canalículos biliares se conectam aos ductos biliares maiores. Os sinais que acionam a proliferação das células progenitoras e sua diferenciação em hepatócitos maduros são temas de uma investigação ativa. REPARO POR DEPOSIÇÃO DE TECIDO CONJUNTIVO: • Se o reparo não puder ser alcançado somente pela regeneração, ocorre através da substituição das células lesadas por tecido conjuntivo, levando à formação de uma cicatriz, ou por meio de uma combinação da regeneração de algumas células residuais e formação de cicatriz. • Formação de cicatriz: ➢ A cicatrização consiste em processos sequenciais que seguem à lesão dos tecidos e à resposta inflamatória. ➢ Angiogênese: é a formação de novos vasos sanguíneos, que fornecem os nutrientes e o oxigênio necessário para o processo de reparo. ➢ Formação do tecido de granulação: a migração e a proliferação de fibroblastos bem como a deposição de tecido conjuntivo frouxo, junto com os vasos e leucócitos entremeados, formam o tecido de granulação. Esse termo deriva da sua aparência INFLAMAÇÃO CRÔNICA E REPARO ALUNA: BÁRBARA KISSEL ETAPA2-MED macroscópica rósea, macia e granular, conforme visto sob uma ferida cutânea. Sua aparência histológica é caracterizada pela proliferação de fibroblastos e capilares novos e delicados de paredes finas (angiogênese), em uma matriz extracelular frouxa, geralmente com a mistura de células inflamatórias, principalmente macrófagos. ➢ Remodelação do tecido conjuntivo: a maturação e a reorganização de tecido conjuntivo produzem cicatriz fibrosa estável. A quantidade de tecido conjuntivo aumenta no tecido de granulação, resultando na formação de cicatriz que pode remodelar-se ao longo do tempo. • Os macrófagos desempenham papel crucial no reparo, ao eliminar os agentes agressores e o tecido morto, ao fornecer fatores de crescimento para a proliferação de várias células e ao secretar citocinas que estimulam a proliferação de fibroblastos e a síntese e deposição de tecido conjuntivo. Os macrófagos envolvidos no reparo são predominantemente do tipo M2. • Angiogênese: ➢ É o processo de desenvolvimento de novos vasos sanguíneos a partir dos vasos sanguíneos existentes. ➢ É fundamental no reparo em locais de lesão e no desenvolvimento de circulações colaterais nos locais de isquemia. ➢ A angiogênese possui as seguintes etapas: • Vasodilatação, em resposta ao óxido nítrico, e aumento de permeabilidade induzida pelo fator de crescimento endotelial vascular (VEGF). • Separação de pericitos da superfície abluminal e quebra da membrana basal, de modo a permitir a formação de um broto vascular. • Migração de células endoteliais em direção à área de lesão tecidual. • Proliferação de células endoteliais logo atrás das células migratórias orientadoras. • Remodelamento em tubos capilares. • Recrutamento de células periendoteliais (pericitos para pequenos capilares e células musculares lisas para vasos maiores) para formar o vaso maduro. • Supressão da proliferação, com migração endotelial e deposição da membrana basal. ➢ O processo de angiogênese envolve várias vias de sinalização, interações celulares, proteínas e enzimas: • Fatores de crescimento: fatores de crescimento endotelial vascular (VEGFs), principalmente o VGF-A, estimulam tanto a migração quanto a proliferação de células endoteliais, iniciando o brotamento capilar. Os fatores de crescimento de fibroblastos FGFs, principalmente FGF-2, estimula a proliferação de células endoteliais e também promovem a migração de macrófagos e fibroblastos, estimulando a migração de células endoteliais para recobrir a ferida. As angiopoietinas 1 e 2 são fatores de crescimento que desempenham papel na maturação de vasos novos. 2. Os fatores de crescimento PDGF e TGF-β também participam do processo de estabilização: o PDGF recruta as células musculares lisas, enquanto o TGF-β inibe a proliferação e a migração endotelial, além de melhorar a produção de proteínas da MEC. • Sinalização Notch: a via de sinalização Notch regula o brotamento e a formação de ramos de vasos novos e, dessa maneira, garante que os vasos neoformados tenham o espaçamento adequado para fornecer sangue, de forma efetiva, para o tecido que está sendo reparado. • Proteínas da MEC: participam do processo de brotamento de vasos na angiogênese, principalmente por meio das interações com os receptores de integrina nas células endoteliais, ao proporcionar suporte para o crescimento dos vasos. • Enzimas na MEC: com destaque para as metaloproteinases de matriz (MMPs), degradam a MEC para permitir o INFLAMAÇÃO CRÔNICA E REPARO ALUNA: BÁRBARA KISSEL ETAPA2-MED remodelamento e a extensão do tubo vascular. • Deposição de tecido conjuntivo: ➢ A deposição de tecido conjuntivo ocorre em duas etapas: (1) migração e proliferação de fibroblastos para o local da lesão e (2) deposição das proteínas da MEC produzidas por essas células. ➢ Esses processos são orquestrados por citocinas e fatores de crescimento localmente produzidos. ➢ As principais fontes desses fatores são as células inflamatórias, em especial os macrófagos ativados alternativamente (M2), que estão presentes nos locais de lesão no tecido de granulação. ➢ O fator de crescimento transformante-β (TGF-β) é a citocina mais importante para a síntese e a deposição de proteínas do tecido conjuntivo. É produzido pela maioria das células no tecido de granulação, incluindo os macrófagos ativados alternativamente. ➢ A atividade do TGF-β estimula a migração e a proliferação de fibroblastos, o aumento na síntese de colágeno e fibronectina, bem como a redução na degradação da MEC devido à inibição das metaloproteinases. ➢ O TGF-β está envolvido não somente na formação de cicatrizes pós-lesões, mas também no desenvolvimento de fibrose pulmonar, hepática e renal após inflamação crônica. ➢ O TGF-β também é uma citocina anti- inflamatória que serve para limitar e encerrar as respostas inflamatórias. Ele faz isso ao inibir a proliferação de linfócitos e a atividade de outros leucócitos. ➢ À medida que o reparo prossegue, o número de fibroblastos e novos vasos proliferativos diminui; entretanto, progressivamente, os fibroblastos assumem um fenótipo mais sintético e, em consequência, há aumento na deposição de MEC. ➢ A síntese do colágeno, em particular, é primordial para o desenvolvimento de resistência no local de reparo da ferida. A síntese de colágeno pelos fibroblastos tem início logo no começo do reparo das feridas (dias 3 a 5) e prossegue por várias semanas, dependendo do tamanho daferida. No entanto, o acúmulo da rede de colágeno depende não apenas do aumento de síntese, mas também da diminuição da degradação. ➢ À medida que a cicatriz vai amadurecendo, ocorre diminuição vascular progressiva, que, por fim, transforma o tecido de granulação altamente vascularizado em uma cicatriz pálida, principalmente avascular. • Remodelamento de tecido conjuntivo: ➢ O resultado do processo de reparo é influenciado pelo equilíbrio entre a síntese e a degradação de proteínas da MEC. ➢ A degradação dos colágenos e de outros componentes da MEC é realizada por uma família de metaloproteinases de matriz (MMPs), assim chamadas porque dependem de íons de metal. ➢ As MMPs incluem colagenases intersticiais, que clivam o colágeno fibrilar (MMP-1, -2 e -3); gelatinases (MMP-2 e 9), que degradam o colágeno amorfo e a fibronectina; e estromelisinas (MMP-3, - 10, e -11), que degradam uma variedade de constituintes da MEC, incluindo proteoglicanos, laminina, fibronectina e colágeno amorfo. ➢ As MMPs são produzidas por uma variedade de tipos celulares (fibroblastos, macrófagos, neutrófilos, células sinoviais e algumas células epiteliais), e sua síntese e secreção são reguladas por fatores de crescimento, citocinas e outros agentes. A atividade das MMPs é controlada de maneira rígida. Elas são produzidas como precursores inativos e ativadas por proteases. ➢ Durante a formação de cicatriz, as MMPs são ativadas para remodelar a MEC depositada, e sua atividade é inibida pelas TIMPs. • Cura de feridas cutâneas: ➢ Trata-se de um processo que envolve tanto a regeneração epitelial quanto a INFLAMAÇÃO CRÔNICA E REPARO ALUNA: BÁRBARA KISSEL ETAPA2-MED formação de cicatriz de tecido conjuntivo. ➢ Cura por primeira intenção: quando a lesão envolve apenas a camada epitelial, o principal mecanismo de regeneração é a regeneração epitelial. O reparo consiste em três processos conectados: inflamação, proliferação de células epiteliais e outras células, e maturação da cicatriz do tecido conjuntivo. 1. A ferida provoca rápida ativação das vias de coagulação, resultando na formação de um coágulo sanguíneo na superfície da ferida. Além das hemácias capturadas, o coágulo contém fibrina, fibronectina e componentes do complemento. O coágulo serve para deter o sangramento, funcionando como arcabouço para as células em migração. 2. No prazo de 24 horas, os neutrófilos podem ser vistos na margem da incisão, migrando rumo ao coágulo de fibrina. Eles liberam enzimas proteolíticas que começam a limpar os resíduos. As células basais na borda do corte da epiderme começam a mostrar atividade mitótica acelerada. Dentro de 24 a 48 horas, as células epiteliais de ambos os lados já começaram a migrar e proliferar ao longo da derme. 3. No terceiro dia, os neutrófilos já foram amplamente substituídos pelos macrófagos e, progressivamente, o tecido de granulação invade o espaço da incisão. Os macrófagos vão remover os tecidos extracelulares. 4. Por volta do quinto dia, a neovascularização alcança seu pico, à medida que o tecido de granulação vai preenchendo o espaço incisional. Esses vasos neoformados são permeáveis, permitindo a passagem de líquido e proteínas plasmáticas para o espaço extravascular. Portanto, o novo tecido de granulação está constantemente edemaciado. A migração de fibroblastos para o local da lesão é orientada por quimiocinas, TNF, PDGF, TGF-β e FGF. Sua subsequente proliferação é desencadeada por múltiplos fatores de crescimento, incluindo PDGF, EGF, TGF-β e FGF, e pelas citocinas IL-1 e TN. 5. Durante a segunda semana, há acúmulo contínuo de colágeno e de proliferação de fibroblastos. O infiltrado de leucócitos, o edema e o aumento de vascularidade estão substancialmente diminuídos. O processo de “empalidecimento” tem início, alcançado pelo aumento de deposição de colágeno dentro da cicatriz da incisão e da regressão dos canais vasculares. 6. Pelo fim do primeiro mês, a cicatriz compreende um tecido conjuntivo celular em grande parte desprovido de células inflamatórias, coberto por uma epiderme essencialmente normal. Entretanto, os apêndices cutâneos destruídos na linha da incisão desaparecem de forma permanente. A força de tensão da ferida aumenta com o tempo, conforme descrito adiante. ➢ Cura por segunda intenção: quando a perda de tecidos é mais extensa, como ocorre em abcessos, ulcerações e necrose, o processo de reparo envolve uma cominação de regeneração e cicatrização. Aqui a reação inflamatória é mais intensa e há desenvolvimento de abundante tecido de granulação, acumulo de MEC e formação de uma grande cicatriz. 1. o coágulo de fibrina é maior e há mais exsudato e restos necróticos no local. A inflamação é mais INFLAMAÇÃO CRÔNICA E REPARO ALUNA: BÁRBARA KISSEL ETAPA2-MED intensa porque os grandes defeitos no tecido têm um volume maior de resíduos necróticos, exsudato e fibrina, os quais devem ser removidos. 2. Quantidades muito maiores de tecido de granulação são formadas. Defeitos maiores exigem um volume maior de tecido de granulação para preencher os espaços e proporcionar uma estrutura-base para a reepitelização tecidual. 3. é formada uma matriz provisória contendo fibrina, fibronectina plasmática e colágeno tipo III que, em aproximadamente 2 semanas, é substituída por uma matriz composta principalmente de colágeno tipo I. Finalmente, o arcabouço do tecido de granulação original é convertido em uma cicatriz avascular e pálida, composta de fibroblastos fusiformes, colágeno denso, fragmentos de tecido elástico e outros componentes da MEC. 4. A contração da ferida ocorre geralmente em feridas de grande superfície. A contração ajuda a fechar a ferida ao diminuir o espaço entre suas margens dérmicas e reduzir a área de superfície. O passo inicial da contração da ferida envolve a formação, na borda da ferida, de uma rede de miofibroblastos, que são fibroblastos modificados exibindo muitas das características ultraestruturais e funcionais das células musculares contráteis. ➢ Resistência da ferida: A recuperação da resistência tênsil resulta do excesso da síntese de colágeno, que ultrapassa sua degradação durante os primeiros 2 meses e, posteriormente, de modificações estruturais nas fibras colágenas (ligação cruzada e aumento do tamanho das fibras), depois de a síntese de colágeno ter cessado. A resistência da ferida alcança aproximadamente 70% a 80% de sua normalidade dentro de três meses, mas, em geral, não melhora de forma significativa além desse ponto. FATORES QUE INFLUENCIAM NO REPARO TECIDUAL: • Infecção: uma das causas mais importantes de demora no processo de reparo, prolongando a inflamação e, potencialmente, aumentando a lesão tecidual local. • Diabetes: doença metabólica que compromete o reparo tecidual por muitas razões, e é uma das causas sistêmicas mais importantes de reparo anormal das feridas. • Estado nutricional: tem efeitos profundos no reparo; a deficiência de proteínas, por exemplo, e, particularmente, a carência de vitamina C inibem a síntese de colágeno e retardam o reparo. • Glicocorticoides (esteroides): têm efeitos anti-inflamatórios bem documentados, e sua administração pode resultar na fraqueza da cicatriz devido à inibição da produção de TGF- β e à diminuição de fibrose. Em alguns casos, entretanto, os efeitos anti-inflamatórios dos glicocorticoides são desejáveis. Por exemplo, em infecções da córnea, algumas vezes os glicocorticoides são receitados (junto com antibióticos) para reduzir a probabilidade de opacidade, que pode ocorrer por causa da deposição de colágeno. • Fatores mecânicos: como aumento depressão local ou torsão, que podem provocar separação ou deiscência das feridas. • Perfusão deficiente: decorrente de arteriosclerose e diabetes, ou ainda de drenagem venosa obstruída (p. ex., veias varicosas), também prejudica o reparo. • Corpos estranhos: como fragmentos de aço, vidro ou até mesmo osso, impedem o reparo. • Tipo e a extensão da lesão tecidual: afetam o reparo subsequente. A completa restauração pode ocorrer apenas em tecidos compostos por células estáveis e lábeis; ainda assim, uma extensa lesão provavelmente resultará em regeneração tecidual incompleta e, pelo menos, em perda parcial de função. A lesão INFLAMAÇÃO CRÔNICA E REPARO ALUNA: BÁRBARA KISSEL ETAPA2-MED dos tecidos compostos por células permanentes deve, inevitavelmente, resultar em cicatrização com, no máximo, tentativas de compensação funcional pelos elementos viáveis remanescentes. Assim é o caso do reparo no infarto do miocárdio. • Local da lesão e a caraterística do tecido no qual a lesão ocorre: a inflamação que surge em espaços teciduais (p. ex., pleural, peritoneal, nas cavidades sinoviais) desenvolve exsudatos extensos. O reparo subsequente pode ocorrer por meio da digestão do exsudato, iniciada pelas enzimas proteolíticas de leucócitos e pela reabsorção do exsudato liquefeito. A isso, chama-se resolução e, na ausência de necrose celular, a arquitetura normal dos tecidos é geralmente restaurada. Entretanto, nas situações de maior acúmulo, o exsudato evolui para organização: o tecido de granulação cresce dentro do exsudato e, por fim, forma-se uma cicatriz fibrosa. ANORMALIDADES NO REPARO DE TECIDOS: • A formação inadequada do tecido de granulação ou a formação de uma cicatriz podem levar a dois tipos de complicações: deiscência da ferida e ulceração. • A deiscência, ou ruptura de uma ferida, embora não seja comum, ocorre com mais frequência após cirurgia de abdome, por causa do aumento de pressão intra-abdominal. Vômitos, tosse ou íleo adinâmico (paralítico) podem produzir estresse mecânico sobre a ferida abdominal. • As feridas podem ulcerar em consequência de uma vascularização inadequada durante a cura. Por exemplo, feridas nos membros inferiores de indivíduos com doença vascular periférica aterosclerótica costumam ulcerar. Feridas que não cicatrizam também se formam em áreas com perda de sensibilidade. Essas úlceras neuropáticas são ocasionalmente observadas em pacientes com neuropatia periférica diabética. • A formação excessiva dos componentes do processo de reparo pode dar origem a cicatrizes hipertróficas e queloides. • O acúmulo excessivo de colágeno pode produzir uma cicatriz saliente conhecida como cicatriz hipertrófica; se a cicatriz cresce além das margens da ferida original, sem regredir, é chamada de queloide. • A formação de queloide parece ser uma predisposição individual e, por motivos desconhecidos, essa anormalidade é um pouco mais comum em negros. Em geral, as cicatrizes hipertróficas se desenvolvem após lesões traumáticas ou térmicas que envolvem as camadas mais profundas da derme. • Granulação exuberante é outra anormalidade na cura de feridas, consistente na formação de quantidades excessivas de tecido de granulação, fazendo protrusão acima do nível da pele no entorno e bloqueando a reepitelização. • A granulação excessiva deve ser removida por cauterização ou por excisão cirúrgica, a fim de permitir a restauração da continuidade do epitélio. • A contração no tamanho de uma ferida constitui parte importante do processo normal de cicatrização. Um exagero desse processo origina a contratura e resulta em deformidades da ferida e dos tecidos circundantes. As contraturas são particularmente propensas a se desenvolver nas palmas das mãos, plantas dos pés e face anterior do tórax. As contraturas são comumente observadas após queimaduras graves e podem comprometer o movimento das articulações. TERMOS DESCONHECIDOS: • Desbridamento mecânico: consiste na aplicação de força mecânica diretamente sobre o tecido necrótico a fim de facilitar sua remoção, promovendo um meio ideal para a ação de coberturas primárias e está em desuso. • Tecido de granulação: tecido úmido granulado vermelho ou rosa composto de vasos sanguíneos novos, tecido conjuntivo, fibroblastos e células inflamatórias. Preenche o leito de uma ferida aberta quando ela começa a cicatrizar. Fonte bibliográfica: INFLAMAÇÃO CRÔNICA E REPARO ALUNA: BÁRBARA KISSEL ETAPA2-MED Kumar V; Abbas AK; Aster JC. Robbins: patologia básica [tradução de Claudia Coana et al.]. 9 ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2013
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