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Produção acadêmica em artes visuais: conceito e estrutura Prof.ª Andrea Alves de Abreu false Descrição A produção de artigos científicos e as possibilidades de efetivação de um projeto de curso não formal em Artes Visuais. Propósito A produção de artigos científicos é fundamental para a difusão dos conhecimentos técnico-científicos produzidos em Artes Visuais, especialmente para o profissional da área. A oferta de cursos livres em Artes Visuais também é uma forma de acesso ao mercado de trabalho e de difusão dos conhecimentos adquiridos. Objetivos Módulo 1 Artigo cientí�co em Artes Visuais Identificar os elementos necessários à produção de artigo científico em Artes Visuais. Módulo 2 Projeto de curso em Artes Visuais Identificar os elementos necessários à produção de curso livre na área de Artes Visuais. A qualificação do profissional em Artes Visuais está relacionada à capacidade de consumir informações técnicas e científicas. Para isso, o estudante poderá ler os artigos das revistas científicas e se atualizar nos temas de pesquisa em sua área. Esse futuro profissional deverá ainda contribuir para a produção científica, sendo também produtor de artigos científicos. O profissional de Artes Visuais também poderá compartilhar os seus conhecimentos com o público em geral por meio da oferta de cursos livres. Por isso, estudaremos como elaborar um artigo científico e um projeto de curso livre em Artes Visuais. Introdução 1 - Artigo cientí�co em Artes Visuais Ao �nal deste módulo, você deverá ser capaz de identi�car os elementos necessários à produção de artigo cientí�co em Artes Visuais. A importância da comunicação cientí�ca Os artigos científicos, publicados nas revistas científicas, formam um canal de comunicação efetivo no meio acadêmico. As revistas científicas são publicadas por universidades públicas e privadas e pelos centros de pesquisas das diferentes áreas de conhecimento. Hoje temos uma intensa produção acadêmica e diversas revistas especializadas requerendo artigos que registrem os resultados das pesquisas realizadas. E por que é assim? Por que os estudantes e pesquisadores devem publicar artigos científicos? Os conhecimentos produzidos (FORTIN; GOSSELIN, 2014) precisam ser comunicados, difundidos e aprofundados no meio acadêmico. As pesquisas realizadas, as metodologias empregadas, os resultados obtidos precisam ser compartilhados e conhecidos por toda a comunidade a fim de que possam ser criticados, aperfeiçoados e empregados por outros profissionais da área – e com as Artes Visuais não é diferente. A função dos órgãos públicos, como o Ministério da Educação, por exemplo, é promover a formação e produção do conhecimento científico no país, pois, a partir do uso e emprego das ciências, ocorre um desenvolvimento em todos os setores da vida social. As universidades cumprem, juridicamente, três funções específicas: Ensino Pesquisa Extensão As universidades cumprem a função de ensinar, pois, de acordo com as diretrizes curriculares, estabelecidas pelo Ministério da Educação, devem formar profissionais a partir dos aprendizados que realizam. Também cumprem a função de estender os conhecimentos produzidos em seu interior, ou seja, o que aprendemos, conhecemos e produzimos deve chegar à população e ser compartilhado socialmente. Assim, as universidades realizam a extensão de seus conhecimentos. Todos os cursos de graduação formam pesquisadores. Para realizar uma pesquisa, é necessário ter interesse por um tema, buscar informações para aprofundar os seus conhecimentos atuais, fazer experimentos usando a metodologia adequada e seguir os protocolos legais e locais adequados para isso, ou seja, estar amparado e orientado por um centro de pesquisa credenciado. Atenção! Os resultados das pesquisas realizadas não podem permanecer circunscritos ao ambiente em que foram produzidos, ao contrário, precisam ser compartilhados. E como fazemos isso? Publicando a nossa pesquisa em forma de artigos em revistas científicas! Essas revistas científicas (ou periódicos) não fazem publicidade e não geram lucro em suas vendas. Elas existem como canais de comunicação no interior da comunidade acadêmica. Os resultados das pesquisas realizadas nas diferentes universidades passam a circular graças a tais revistas. O público-alvo desse material, em geral, são os acadêmicos e os profissionais que possuem ensino superior, pois os conhecimentos ali divulgados são técnico- científicos. Isso implica a utilização da linguagem própria ao meio acadêmico e a partir de um formato já esperado por todos de tal maneira que a comunicação ocorre de forma ágil. São fundamentais na formação dos estudantes e dos profissionais duas atitudes em relação ao conhecimento científico: A condição de consumidores de pesquisa cientí�ca Consumimos pesquisa científica quando lemos os artigos científicos e os livros. A condição de produtores de pesquisa cientí�ca Produzimos pesquisa científica quando realizamos os nossos estudos e publicamos os seus resultados. Os trabalhos de conclusão de curso (TCC) podem ter diferentes formatos de acordo com a determinação das instituições de ensino superior, podendo ser, por exemplo: artigos, monografia ou relatórios de práticas profissionais. O importante é que esses trabalhos sistematizem o resultado da pesquisa que o estudante realizou em sua formação acadêmica. O TCC é um dos primeiros passos para que o aluno faça a comunicação e a circulação dos conhecimentos que obteve. Atenção! Não basta um pesquisador produzir conhecimento, a sua produção deve ser compartilhada. Por isso a importância de os estudantes produzirem trabalhos para as disciplinas já durante a graduação. Além disso, na maioria dos cursos, devem produzir artigos científicos ou mesmo uma monografia antes da conclusão da graduação. A importância da divulgação e do acesso ao conhecimento produzido Para que possamos produzir artigos científicos e, assim, contribuir para o desenvolvimento científico do país, precisamos nos familiarizar com a sua produção. Uma das formas de alcançarmos essa familiarização é por meio do consumo de artigos científicos: precisamos ler essas produções. Então, onde podemos encontrá-las? Muitas universidades e centros de pesquisas tornam as suas revistas científicas disponíveis on-line. Desse modo, é possível que os conhecimentos ali divulgados alcancem com mais facilidade e rapidez vários pesquisadores. Quando lemos artigos científicos, também passamos a conhecer os temas de pesquisa que estão sendo discutidos, inclusive os autores que estão sendo utilizados para a realização das discussões. Temos acesso às revistas científicas por meio dos sites das universidades e dos centros de pesquisa. Em geral, esses periódicos, atuais e passados, estão disponíveis em seus endereços virtuais. Também temos sites de busca específicos para artigos científicos. Na internet, é possível ter acesso a vários endereços de revistas científicas para que você possa fazer os seus estudos e leituras. evistas cientí�cas Você encontrará sugestão de algumas dessas revistas no final deste conteúdo, na seção Explore +. Além de nos familiarizarmos com os diferentes tratamentos que os temas de pesquisa vêm recebendo, quando lemos os artigos científicos atiçamos nossa curiosidade e nosso desejo de sistematizar os conhecimentos adquiridos ao longo de nossa formação e prática profissional. Para que possamos nos lançar à produção de artigos científicos, precisamos, antes, conhecer um pouco sobre o estado da arte da produção em nossa área de conhecimento. Mas o que é “estado da arte”? Usamos a expressão estado da arte para nos referirmos a um tipo de pesquisa que realiza o mapeamento dos temas pesquisados em determinada área de conhecimento. Além disso, são mapeadas as metodologias que estão sendo utilizadas nessas pesquisas. Uma pesquisa sobre o estado da arte, em geral, é bibliográfica e constitui por si só um trabalho ordenado e sistematizado.No entanto, o estado da arte, ainda que feito sem o rigor científico esperado, é muito útil para os pesquisadores em seus movimentos iniciais de trabalho. Atividade discursiva Por que o estado da arte é importante e como ele funciona? Digite sua resposta aqui Exibir solução Um breve mapeamento (ou um breve estado da arte) do que está sendo pesquisado em nossa área de conhecimento pode ser feito quando percorremos os vários sites das revistas científicas e fazemos uma leitura inicial do que está sendo pesquisado e como isso é feito. Esse mapeamento é importante para que saibamos quais são os temas de pesquisa que estão sendo discutidos, os referencias teóricos e as formas de abordagem (ou seja, a metodologia) em nossas áreas de formação. Portanto, fazer esse mapeamento é importante tanto para aprofundarmos os nossos conhecimentos específicos em nossa área quanto para construirmos a nossa própria pesquisa. Quando fazemos o nosso breve estado da arte de um tema que nos interessa, estamos entrando em contato com as referências bibliográficas utilizadas pelos demais pesquisadores. Essas mesmas referências poderão servir às nossas pesquisas e nos fornecerão um acervo teórico, ou seja, um quantitativo de referências bibliográficas. Esse acervo servirá de base para a construção do nosso próprio texto. Dica Lembre-se sempre de que, ao utilizar o material levantado, devem-se respeitar as regras de citações e referências bibliográficas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). BNT A ABNT é o Foro Nacional de Normalização desde a sua fundação, em 28 de setembro de 1940. A ABNT contribui para a implementação de políticas públicas, promove o desenvolvimento de mercados, a defesa dos consumidores e a segurança de todos os cidadãos. (Fonte: abnt.org.br) O estado da arte, portanto, nos permite conhecer e colecionar referências bibliográficas importantes na área de conhecimento na qual pretendemos realizar a nossa pesquisa. Além disso, o mapeamento do que está sendo pesquisado nos ajuda a compreender como abordar o tema de pesquisa de nosso interesse e como situá-lo em nossa pesquisa. As áreas de conhecimento para pesquisas em Artes Visuais As Artes Visuais possuem diversas formas de abordagem conceitual tanto quando pensamos o fazer artístico quanto acerca desse fazer. O fazer artístico remete às técnicas de produção e aos conceitos utilizados pelos artistas em suas produções. Quando pensamos acerca do fazer artístico, da produção de arte, podemos fazê-lo por diferentes abordagens e áreas de conhecimento. É o estabelecimento dessas áreas de conhecimento que permitirá ao pesquisador abordar a sua questão de pesquisa nas Artes Visuais, ou seja, caracterizar a pesquisa científica no interior das artes. Está em jogo eleger as ciências que auxiliarão na abordagem do assunto da pesquisa e, ainda, articular as disciplinas conceituais e as teórico-práticas. Exemplo Suponha que um estudante de Artes Visuais tenha interesse em fotografia e queira escrever um artigo científico sobre esse assunto. Por meio de quais áreas de conhecimento ele poderá fazer as suas abordagens? Bem, aqui se abre um leque de opções entre as diferentes ciências que se dedicam a compreender as artes. No caso, as abordagens podem ser quanto à história da constituição técnica e das transformações conceituais pelas quais passam a fotografia. Aqui, a História da Arte seria a ciência eleita para auxiliá-lo. Outro estudante poderá tentar compreender a ideia que um povo faz acerca da retratação do espaço físico ou de seus rituais. Dessa vez, as ciências eleitas seriam a Antropologia e a Sociologia. Assim como temos diferentes linguagens artísticas, temos, também, diferentes ciências fundamentando os conhecimentos produzidos em Artes Visuais. O estudante deverá saber articular as várias áreas de conhecimento à disposição das Artes Visuais para que possa realizar a composição técnica-científica do seu artigo. Em um artigo cientí�co, sempre é exigida uma re�exão teórica a respeito do assunto abordado. Exigir uma reflexão teórica implica dizer que o trabalho produzido não pode ser somente prático. Ele deverá ter um cunho prático, demonstrativo ou apresentar uma composição artística. A essa composição prática sempre deverá estar atrelada uma reflexão teórica – seja sobre a técnica artística empregada seja sobre o significado artístico conceitual da abordagem. Caso não haja tal reflexão teórica, o trabalho não terá o cunho de artigo científico e poderá ser considerado um trabalho técnico, mas não científico. É possível encontrar (ZAMBONI, 2012) ótima discussão metodológica acerca do processo do trabalho artístico, resultado de longas pesquisas científicas. Um dos aspectos mais importantes na produção do artigo científico em Artes Visuais é a articulação entre as diferentes áreas de conhecimento que compõem o curso. Há uma riqueza de áreas de conhecimento se articulando para entender as artes e o desafio do articulista é justamente colocá-las em diálogo a fim de se referir ao que é artístico. Vamos a mais alguns exemplos? Ainda em fotografia, também é possível propor uma reflexão sobre tempo, espaço, imaginação e memória, por exemplo. A partir de quais áreas de conhecimento encontraremos referências para tais reflexões? Vejamos algumas possibilidades: É, então, a partir dessa articulação entre as práticas artísticas e a literatura científica presente nas diferentes áreas de conhecimento que conseguimos produzir ciência nas Artes Visuais. Poderemos fazê-lo a partir da Filosofia, explorando a relação entre memória e imaginação para a representação das imagens que se encontram nos registros fotográficos. Podemos olhar para o passado através da retratação das imagens e realizarmos leituras sobre a organização da vida social, pois nelas temos registros de formas de vestir, de pentear os cabelos, e mesmo de lugares considerados socialmente adequados para os registros fotográficos. É possível ainda supor os estratos sociais daqueles que possuíam acesso à fotografia. Essa leitura da vida pessoal por meio da fotografia, da construção da identidade social, deverá possuir fundamentos na literatura científica, pois não podemos nos referir a estratos e construções sociais, por exemplo, sem que tenhamos respaldo científico. Nesse caso (HEINICH, 2014), a Sociologia será a ciência fundamental para a realização dessa pesquisa. O estudante-pesquisador também poderá propor a desconstrução do passado produzindo fotografias e/ou colagens que desafiem as construções sociais apresentadas nas fotos analisadas. O olhar artístico na pesquisa Veja a seguir o conceito de Arte e a importância de se desenvolver o olhar artístico na pesquisa em Artes Visuais. Articulação com demais áreas de conhecimento Para que o estudante desenvolva habilidades de pesquisa em Artes Visuais, é necessário que considere as manifestações artísticas em suas dimensões interdisciplinares. Ao fazê-lo, conseguirá reunir arte e ciência. Alguns autores (READ, 2016) não distinguem a ciência de arte a não ser no que se refere aos métodos, pois compreendem a arte como representação e a ciência como explicação. No entanto, ambas estão interessadas em conhecer e em explicar a realidade. Para defender a relação necessária entre arte e ciência, devemos salientar que o que há de racional na pesquisa pode ser aliado ao que há de intuitivo na arte. Entenda: Como qualquer atividade humana, pesquisa enquanto processo não é somente fruto do racional: o que é racional é a consciência do desejo, a vontade e a predisposição para tal, não o processo da pesquisa em si, que intercala o racional e o intuitivo na busca comum de solucionar algo. Esses conceitos servem tanto para a ciência quanto para a arte, pois pesquisa é a vontade e a consciência de se encontrar soluções, para qualquer área do conhecimento humano. (ZAMBONI, 2012, p. 15) Assim como são amplas as áreas de estudos em Artes Visuais, também é vasto o seucampo de pesquisa. Considerando as grandes áreas das Artes Visuais, passaremos às sugestões de como abordar essas grandes áreas a fim de lhes fornecer tratamentos teóricos e prático-teóricos de pesquisa. Considerando as artes antiga e medieval, podemos, por exemplo, realizar investigações a respeito das manifestações de práticas simbólicas que correspondiam ao contexto político, econômico, cultural e religioso nos quais estavam inseridas. Quanto à arte antiga, é possível pesquisar a relação entre produção artística e imitação da natureza. Com relação à arte medieval, discute-se a formação das artes na Renascença. Em ambas, o caráter aurático da arte pode ser um ponto de partida para as análises. aráter aurático O termo “aura da arte” foi concebido por Walter Benjamin (1892-1940) e está relacionado à autenticidade da obra de arte e aos elementos únicos de uma obra de arte original. A Criação de Adão, Michelangelo, entre 1508 e 1512. Para discutir teoria da arte, o estudante poderá abordar as relações existentes entre as questões que envolvem a teoria, a crítica e a história da arte e da estética. Poderá descrever a teoria da arte a partir, por exemplo, das abordagens modernas e contemporâneas. Portanto, ao optar pelas abordagens modernas, poderá descrever e discutir as críticas social e política da arte, assim como as considerações que envolvem o conceito de sublime na experiência com o sensível. Ao optar pela abordagem contemporânea, poderá descrever e discutir a cibercultura e a arte do pós-humano. Vejamos os exemplos: Temos as pesquisas que se dedicam a compreender a noção de criação própria do Romantismo da arte como imitação e reprodução da natureza, como fizeram os antigos e medievais. Para tanto, Abordagens das artes modernas estudam-se a descrição das técnicas utilizadas, o processo criativo e o significado de genialidade do artista. Podemos citar as investigações de ruptura próprias das vanguardas artísticas: qual o dinamismo com relação às técnicas de produção e de concepção de arte e de belo que foram ressignificadas por esses movimentos históricos? As pesquisas em Artes Visuais (MARTINS, 2013) realizam o questionamento e a reconstrução do conhecimento ao colocarem em discussão o sentido das subjetividades contemporaneamente. Além disso, contribuem com a interpretação crítica da arte imagética como artefato cultural. Outro campo de pesquisa em Artes Visuais é dado pela descrição, análise e crítica dos processos que se encontram na passagem das mídias tradicionais para as contemporâneas. Em pesquisas como essas, podem estar em discussão e produção as relações entre os processos artísticos de criar, editar, montar e de pós-produzir imagens. Considerando os recursos digitais, também é possível produzir pesquisas e trabalhos artísticos entrecruzando meios analógicos e digitais gerando produções bidimensionais e/ou tridimensionais. Cabe ao estudante de Artes Visuais articular o fazer artístico e a literatura acadêmica que compreende e analisa essas produções. O artigo cientí�co em Artes Visuais e a Educação A pesquisa em Artes Visuais também pode ser realizada no campo da Educação. Tanto o uso dos materiais necessários às produções artísticas do estudante-pesquisador quanto a obra produzida podem ser objeto Pesquisas em arte contemporânea de um trabalho educativo realizado seja no ensino formal seja no ensino não formal. A partir desse trabalho, o estudante-pesquisador poderá elaborar o seu artigo científico. Quando as Artes Visuais são colocadas a serviço do processo educativo, cabe ao estudante-pesquisador determinar os objetivos que pretende alcançar ao produzir o seu trabalho artístico e, mais tarde, delimitar quais objetivos pretende alcançar junto ao público que pretende educar por meio da arte. De acordo com Zamboni (2012), as pesquisas em arte para educação podem utilizar os métodos que já estão descritos e consagrados por outras áreas de conhecimento, como Pedagogia, Filosofia, História, Psicologia e Publicidade, por exemplo. Quando as pesquisas em Artes Visuais são direcionadas para o campo da Educação, o estudante- pesquisador deve estar ciente de que, durante a produção de seu artigo científico, estará conjugando as disciplinas acadêmicas que se ocupam com o processo educativo com aquelas que se ocupam com a produção artística. Isso implica dizer que, nesse caso, a arte está posta a serviço do trabalho educativo, que a potência da criação artística foi colocada a serviço do trabalho educativo. Como, então, produzir um artigo científico a partir dessa articulação entre Artes Visuais e Educação? Para a produção da pesquisa em Artes Visuais e Educação, é necessário estabelecer o público-alvo que será o receptor do trabalho educativo. Também é necessário estabelecer os objetivos que o pesquisador pretende alcançar. O trabalho educativo pode ser voltado tanto para o desenvolvimento de uma técnica artística quanto para o aprofundamento da capacidade de expor e expressar sentimentos, ideias e relações com o mundo. O trabalho educativo com as Artes Visuais é capaz de aprofundar os processos de cognição e de percepção da realidade. Ter essas potencialidades em consideração é importante, pois o estudante-pesquisador deverá listá-las entre os objetivos a serem alcançados junto ao público-alvo no decorrer da pesquisa. Os artigos científicos reunindo Artes Visuais e Educação são diferentes daqueles que pretendem descrever técnicas de produção artísticas e suas críticas, ou daqueles que analisam significados sociológicos, antropológicos ou filosóficos de uma produção dentro da História da Arte. Atenção! Quando reunimos Artes Visuais e Educação, devemos privilegiar o aprofundamento do conhecimento sensível por meio da capacidade de sensibilizarmos o outro fazendo uso dos apelos visuais estéticos. Aqui, os objetivos a serem alcançados não se referem, diretamente, à formação de artistas, mas, sim, à formação de profissionais que capacitarão seus alunos para que desenvolvam tanto a linguagem artística quanto aprendam a utilizar os instrumentos necessários à produção de artefatos de arte. Devemos esperar também de um artigo científico envolvendo Educação e Artes Visuais a descrição dos resultados obtidos e da metodologia das ações educativas. Uma vez bem-sucedida, essa metodologia do trabalho educativo poderá ser empregada por outros educadores. É importante ressaltar alguns pontos sobre as pesquisas quando envolvem Artes Visuais e Educação dirigidas ao ensino formal e à educação não formal, veja: Se as pesquisas envolvendo Artes Visuais e Educação se dirigem ao ensino formal, não apenas a qualidade do trabalho produzido pelos estudantes deverá ser analisada, mas também os ganhos cognitivos que podem ter sido obtidos pelos educandos. Quando o artigo científico a ser elaborado for produto de um trabalho destinado à educação não formal, é preciso delimitar claramente os objetivos a serem alcançados. O educador pretende educar para a capacitação do domínio de uma técnica artística ou aprofundar as habilidades cognitivas próprias à educação como um todo? Mesmo em espaços não formais de Ensino formal Educação não formal educação (como em projetos sociais, por exemplo), pode ser objetivo do educador desenvolver habilidades cognitivas, reconhecimento de emoções e sentimentos de pertencimento, por exemplo. O objetivo prático do trabalho educativo que o pesquisador pretende alcançar deverá estar claro para que não seja confundido com o objetivo teórico de seu artigo científico, o qual deverá descrever o trabalho prático e educativo realizado. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Leia atentamente o texto a seguir: “A Revista VIS, vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais (PPG-AV) da Universidade de Brasília, é uma publicação semestral, dedicada a divulgar e debater pesquisas acadêmico-artísticas e científicas, com enfoques que enriqueçama produção do conhecimento devotado às artes visuais. Para isso, a publicação busca dialogar com diferentes áreas de conhecimento, com o objetivo de colaborar com os pesquisadores, educadores e estudantes na divulgação das suas ações. A revista aceita artigos para dossiês temáticos organizados por professores convidados pelo PPG-AV e a convite da Equipe Editorial, bem como, artigos, traduções, entrevistas e resenhas que abordem temas articulados com área de Artes. Mestrandos e doutorandos podem submeter artigos em coautoria com professores-doutores. Publicamos exclusivamente textos em português, inglês ou espanhol.” (Fonte: VIS. Revista do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais. Universidade de Brasília. Editorial Online) Considerando o texto de apresentação e a função de uma revista científica, assinale a alternativa correta: A Revistas científicas cumprem a função de estender os conhecimentos científicos produzidos nas universidades para o público em geral, por isso recebem artigos de todo o público. Parabéns! A alternativa D está correta. As revistas científicas cumprem a função de divulgar os conhecimentos acadêmicos produzidos por pesquisadores. A partir dessas publicações, tais conhecimentos podem ser aplicados e aprofundados. Os artigos das revistas científicas são produzidos por pessoas ligadas ao meio acadêmico e essas revistas não publicam matérias publicitárias. Questão 2 É recomendável que os pesquisadores avaliem o estado da arte do tema em que estão realizando as suas pesquisas. Ainda que o estado da arte seja feito de forma acessória à pesquisa principal, ou seja, ainda que não seja a pesquisa em si, será fundamental para o trabalho do pesquisador. Considerando isso, assinale a alternativa correta: B Revistas científicas cumprem a função de divulgar novos achados acadêmicos e comerciais, por isso também aceitam matérias publicitárias pagas. C Revistas científicas cumprem a função de compartilhar os conhecimentos acadêmicos produzidos, por isso são vendidas em bancas de jornais. D Revistas científicas cumprem a função de divulgar os conhecimentos acadêmicos produzidos e seus articulistas estão ligados ao meio acadêmico. E Revistas científicas são responsáveis pela divulgação da produção de conhecimento acadêmico, artístico e de produtos voltados ao consumo em geral. A Uma das funções do estado da arte da pesquisa em um tema é colecionar as referências bibliográficas mais recentes quanto ao tema que está pesquisado. B Uma das funções do estado da arte da pesquisa em um tema é avaliar se os objetivos estão adequados ao tema. Parabéns! A alternativa A está correta. O estado da arte de um tema nos permite conhecer e colecionar referências bibliográficas sobre o tema, assim como compreender quais pesquisas estão sendo realizadas sobre o assunto. Questões de método como definição de objetivos, autenticidade da escrita ou adequação do tema ao meio acadêmico não são definidas pelo estado da arte de um tema. 2 - Projeto de curso em Artes Visuais C Uma das funções do estado da arte da pesquisa em um tema é avaliar se a metodologia é adequada ao tema. D Uma das funções do estado da arte da pesquisa em um tema é avaliar se o tema pertence ou não ao meio acadêmico. E Uma das funções do estado da arte da pesquisa em um tema é avaliar a autenticidade da produção escrita. Ao �nal deste módulo, você deverá ser capaz de identi�car os elementos necessários à produção de curso livre na área de Artes Visuais. A contextualização do tema do projeto Entre as várias atividades profissionais de um bacharel e de um licenciado em Artes Visuais está a Educação, seja no âmbito formal (com exercício restrito aos licenciados) seja no âmbito não formal – sendo essa uma possibilidade aberta a ambos os formados. Para exercer a seu papel como educador, o profissional pode realizar trabalhos em centros regulares de ensino ou propor projetos de cursos em educação não formal. Saiba mais Para elaborar um projeto de curso, o proponente precisa ter conhecimentos técnicos, pedagógicos e de gestão de empreendimentos, pois estará implementando um negócio no ramo da Educação. Assim, a criação da marca publicitária de um curso, sua manutenção, os custos de implantação, a previsão orçamentária definindo todos os investimentos necessários e possíveis retornos também deverão ser considerados pelo proponente do projeto de curso. Aqui nos ocuparemos com os elementos estruturais acadêmicos de um projeto de curso visando à implementação técnica. Não nos ocuparemos com a sua implantação como negócio, mas alertamos que essa preocupação é importante e deve ser incorporada ao projeto. A proposição e execução de projetos de cursos em educação não formal também se encontra entre as atribuições dos profissionais de Artes Visuais. Esses cursos tanto são capazes de desenvolver a linguagem artística e as suas formas de produção quanto de empregar os conhecimentos adquiridos em suas formações acadêmicas e desenvolver projetos em artes para diferentes setores. Em um projeto de curso nas Artes Visuais, o proponente deve contextualizar o tema em que sua proposta se insere. Tal contextualização é feita destacando o que há de instigante, interessante e que emerge da área de conhecimento na qual o tema do curso se encontra. Exemplo Os aspectos teóricos, práticos e estéticos presentes na pintura, no desenho, na gravura, na fotografia, no cinema, na dança, na escultura, na arquitetura, no web design, na moda, na decoração e no paisagismo... Tudo isso fornece os campos de temáticas e discussões para os projetos de cursos. Por meio da proposição de um curso a ser ministrado pelo profissional de Artes Visuais, é possível discutir e operar sobre os aspectos técnicos, convencionais e estilísticos presentes na área. Vejamos: Quando a temática é a técnica, é possível propor projetos que se ocupem com as diferentes combinações quando o artista utiliza os elementos materiais e imateriais na realização das obras; Os elementos simbólicos e culturais presentes nas obras de arte também podem ser temas de cursos; Do mesmo modo, podem se tornar objeto de estudo os aspectos estilísticos das obras que se referem às relações sociais travadas por um povo em determinado tempo histórico e que se refletem no fazer artístico. Assim como a área de conhecimento em Artes Visuais é vasta, também é ampla a cartela de possibilidades de oferta de cursos, seja para um público profissional, seja para iniciantes que se interessam por aspectos conceituais e históricos das artes. Caberá ao educador planejar e coordenar as diferentes fases que um projeto educativo deve percorrer para cumprir o seu propósito. Assim, a definição dos elementos integrantes de um projeto, sua delimitação quanto ao público-alvo, objetivos e local de oferta são tão importantes para o seu sucesso quanto os conhecimentos técnicos do proponente. Atenção! É preciso lembrar que o proponente de um curso deve possuir conhecimentos didáticos para conduzir o conteúdo de sua proposta. Transpor a teoria conceitual e técnica para uma linguagem que efetive a comunicação com o público-alvo é um elemento essencial para o sucesso do trabalho e deve estar sob os cuidados de quem se lança nessa empreitada. A seguir, discutiremos os elementos que compõem um projeto de curso e como compô-los. A contextualização do projeto em Artes Visuais Veja a seguir os elementos teóricos, práticos e estéticos que constituem a contextualização do projeto em Artes Visuais. Local de oferta do curso: virtual ou físico Os objetivos a serem alcançados pelo proponente de um curso devem ser adequados ao ambiente de oferta. É possível planejar a oferta de cursos em Artes Visuais tanto em ambiente físico quanto virtual. Ministrar cursos de forma presencial e em ambiente físico tem sido comum para as diferentes áreas de conhecimento. A novidade tem sido a realização de cursos de forma on-line. Vamos analisar como isso funciona para as ArtesVisuais? A possibilidade de ministrar aulas on-line e ao vivo permite que o aprendizado seja síncrono. Nessa modalidade, o professor e seus alunos se encontram virtualmente e, a depender da didática utilizada, do número de inscritos, dos presentes em sala de aula e do objeto de aprendizado, podemos postular os mais diferentes objetivos a serem alcançados. Inclusive o de capacitar! Comentário A experiência que passamos ao enfrentarmos as restrições de convívio social para o controle da pandemia da covid-19 revelou um aumento da frequência de experiências bem-sucedidas de ensino a distância em áreas de conhecimento não usuais dessa prática, especialmente no que se refere ao objetivo de capacitar. A capacitação é uma atividade que implica o ensino de uma técnica e o consequente domínio de sua prática. Quando pretendemos que o aluno adquira essa técnica e alcance a devida destreza, devemos avaliar o seu processo de aprendizado fazendo, a tempo, as devidas correções. Tais avaliações e correções, necessariamente, não precisam ocorrer presencialmente. A exigência da presença simultânea e física de estudantes e professores em um mesmo local de aprendizado pode ser minimizada ou eliminada de acordo com o planejamento, objeto e objetivos a serem alcançados durante o trabalho de capacitação. Vamos a um exemplo! Quando, em um curso de fotografia, pretende-se capacitar um aluno para reconhecer a adequação entre eleição dos ângulos e incidência de luz natural e/ou artificial em fotografia, é possível pensar o ensino dessa prática em um ambiente presencial e, também, virtual. A ação de “apontar” para uma direção, indicando o melhor posicionamento da câmera e o melhor posicionamento do corpo do fotógrafo em relação ao sol, ensinada em ambiente físico, deverá ser substituída quando o curso for ministrado virtualmente. Ao invés de “apontar”, o professor deverá solicitar que os alunos descrevam os ambientes em que se encontram, o posicionamento do sol, a qualidade da incidência da luz, por exemplo. A partir das respostas obtidas e das técnicas de utilização da luz de acordo com as características das lentes, o educador deverá instrumentalizá-los com informações suficientes para que possam alcançar, por conta própria, os conhecimentos necessários para que escolham o melhor posicionamento e ângulos para realizarem as suas fotografias. Após realizadas, serão objeto de discussão considerando as informações anteriormente dadas pelo professor. O ato de “apontar” para um local que estaria sendo, fisicamente, compartilhado por professor e alunos de fotografia deverá ser substituído pela descrição verbal sobre para onde e por que olhar em determinada direção, por exemplo, quando o aprendizado se dá em meio virtual. Atenção! Veja, não se trata somente de uma formação teórica, mas também de uma formação prática e com o objetivo de capacitar os alunos. Os ambientes de aprendizagem são distintos e o método de ensino se adequa a essa distinção. Um curso de ballet também pode ser pensado on-line quando respeitamos os mesmos níveis de aprendizado. Quando os alunos estão no mesmo nível de formação, um professor de ballet poderá, de forma on-line e síncrona, descrever e demonstrar determinadas posturas e passos e, em seguida, observar e corrigir os seus alunos. Desse modo, eles aprenderão as técnicas e se capacitarão para a prática da dança. Em aulas on-line de ballet, o espelho passa a ser a tela pela qual o estudante observa os seus movimentos, podendo, ainda, gravar as suas aulas e continuar se observando para se autocorrigir em um momento seguinte. Em um ambiente físico ou virtual, o método e as técnicas de ensino eleitos pelo professor serão fundamentais para o sucesso do curso. É preciso considerar que nenhum método de ensino é fixo, devendo sempre ser flexibilizado de acordo com os objetivos a serem alcançados, com o público a ser atingido e com o ambiente em que é ministrado. Público-alvo Quando o licenciado ou bacharel em Artes Visuais propuser um curso, deverá considerar no projeto as características do seu público-alvo. O ofertante do curso deverá se perguntar: “quem pretendo alcançar com este curso? A quem ele se destina?” Essas respostas serão essenciais para nortear os objetivos a serem alcançados e a metodologia a ser utilizada no curso. Se for um curso educativo, é preciso estabelecer, a partir dos objetivos a serem alcançados, quem receberá a formação. Os cursos educativos podem ter cunho social (e a educação será não formal) e cunho formativo. Nesse caso, a educação pode ser tanto formal e desenvolvida nas escolas de acordo com o nível de aprendizagem quanto não formal. Vejamos: Educação formal Para o fornecimento da educação formal, temos as legislações e diretrizes fornecidas pelos governos federal, estadual e municipal. Nas diretrizes educacionais encontramos os conteúdos dos cursos, os objetivos, as habilidades e as competências, elementos já estabelecidos. De acordo com a metodologia adotada, o professor deverá se desempenhar para atender ao que se espera dele. Cursos livres Se os cursos regulares da educação formal já possuem as suas diretrizes, nos cursos livres oferecidos pelos profissionais de Artes Visuais isso não acontece. Em outras palavras, todo o curso está sob a responsabilidade de quem vai ofertá-lo, consequentemente, o sucesso do curso depende do seu idealizador, do projeto de seu proponente. Outro ponto é que os cursos da educação formal possuem legislação pública para que sejam oferecidos e certificados. Nos cursos livres, é diferente. Saiba mais Mas, afinal, o que entendemos por cursos livres? São aqueles ministrados por um profissional que se encontra em condições técnicas e pedagógicas de ofertá-lo. Lembrando que a certificação não terá o valor nem o poder de uma certificação formal, ou seja, atestada por instituição de ensino regularizada e autorizada pelo governo. No entanto, isso não significa dizer que cursos livres sejam ilegais. A função desses cursos também é educativa, mas em moldes distintos daqueles oferecidos pelo Estado. O que aproxima os cursos livres dos cursos formais é o fato de ambos não poderem renunciar uma metodologia competente. Isso inclui a atenção ao público-alvo. De acordo com os objetivos propostos, o profissional de Artes Visuais poderá estabelecer alguns pré- requisitos para a inscrição no curso. Esses pré-requisitos podem ser restritivos ou possuir apenas o caráter de aconselhamento. Quando os pré-requisitos forem restritivos, devem estar claramente anunciados. Por exemplo, em um curso livre de fotografia, o ofertante poderá estabelecer que somente devem se inscrever as pessoas que saibam operar a câmera em modo manual e que saibam realizar o controle do diafragma e do obturador. Isso restringirá o público, mas servirá como nivelador dos conhecimentos para o início dos novos aprendizados. Além das expectativas quanto à aquisição e ao domínio de técnicas, os cursos não formais em Artes Visuais poderão desempenhar funções educativas tendo em vista o desempenho social. Devemos entender por desempenho social o aprofundamento de habilidades que possibilitem o sujeito a perceber a si mesmo e a vida social. A percepção e a sensibilização estética são canais para a abertura de aquisição desses conhecimentos. Nesses cursos, pode-se constar como um dos objetivos a aquisição de tais habilidades a partir de um conhecimento teórico ou prático. Entre os conhecimentos teóricos, podemos pensar os trazidos pela História da Arte. Já as técnicas da escultura estão entre os conhecimentos práticos. Comentário Repare que, nesses casos, é o público-alvo que está direcionando o curso. A elaboração desses cursos deve atender à demanda de um público já existente, e não de um público que precisará ser estimulado e atraído para a aquisição de um conhecimento. É importante considerar que as expectativas do público-alvo são fundamentais para o sucesso do curso. A partir dos pré-requisitosexigidos ao público, estará selada uma relação de confiança entre o que se esperar de quem oferta o curso e o que esperar do desempenho dos alunos. Por isso, essa relação deve ser claramente posta a partir dessa classificação a fim de que as expectativas, de ambos os lados, não sejam frustradas ao longo e ao final do curso. Objetivos Todas as fases de um curso estão intimamente interligadas e são igualmente importantes. A fase que diz respeito aos objetivos a serem alcançados merece uma atenção especial por parte do ofertante. Um primeiro passo para que possamos delimitar corretamente os objetivos de um curso é termos clareza sobre nossos “objetivos”. Tem sido uma confusão habitual entre os proponentes a indiferenciação entre objetivos do objeto que será alvo dos ensinamentos e os objetivos que se pretende alcançar ao final do curso. Vamos aos exemplos? Todo curso tem um objeto, ou seja, algo que será manipulado, descrito e ensinado. Os produtos da escultura e modelagem, como objetos de arte, possuem objetivos neles mesmos, por exemplo, sensibilizar, levar à reflexão de algo, cultuar determinada personagem. Esses objetivos podem pertencer ao objeto escultura e são distintos daqueles propostos em um curso sobre esculturas. O educador deverá formular os seus objetivos em relação ao seu público-alvo, e não em relação ao seu objeto. Então, quais são os objetivos possíveis a serem postulados pelo educador em relação aos seus alunos, ou seja, pelo proponente do curso em relação ao seu público-alvo? Vamos a mais exemplos! Vamos supor a criação de um curso em “Ilustração para livros infantis”. Entre os objetivos possíveis na oferta desse curso, podemos indicar em ordem crescente: 1. Apresentar ao aluno referências e composições específicas ao público infantil. 2. Desenvolver no aluno a habilidade de criar textos dialógicos com o público infantil. 3. Desenvolver no aluno a habilidade de adequar o texto escrito ao imagético. 4. Capacitar o aluno ao uso de materiais como o guache, aquarela e lápis de cor. Repare que os objetivos listados dizem respeito ao que se pretende alcançar junto ao aluno, e não junto ao objeto “ilustração”. Se consideramos a “ilustração” um objeto das Artes Visuais, poderemos dizer que ela possui objetivos nela mesma. Assim, o objetivo da ilustração é dialogar com o texto escrito. Esse objetivo pode ser percebido por aquele que se vê diante do texto ilustrado. No entanto, não pode ser o objetivo daquele que idealiza o curso de ilustração para livros infantis, pois os seus objetivos devem ser direcionados ao seu público-alvo, ou seja, aos alunos que realizarão o curso. Em geral, os objetivos dos cursos livres são de ordem prática, mesmo aqueles voltados à História da Arte que possuem caráter acentuadamente teórico. Em um curso de proposta prática, é possível, por exemplo, propor objetivos como identificar a qual movimento artístico determinado quadro pertence ou distinguir a arte sacra da pagã. Os tratamentos teóricos que as Artes Visuais recebem podem ainda ser objetos dos cursos livres não formais. Nesse caso, também podem ser postulados objetivos teóricos. Em cursos como esses, os alunos recebem uma bagagem de informações e compete a eles como irão administrar e instrumentalizar tal conhecimento em sua carreira, pois isso não se encontra entre os objetivos do proponente do curso. Exemplo Em um curso sobre História da Arte, o professor poderá possuir como objetivo junto aos seus alunos descrever as correntes teóricas que norteiam a produção artística ao longo do tempo histórico, ou somente, descrever a arte barroca e romântica. Por fim, devemos pensar nos objetivos a serem alcançados quando o público-alvo é composto por integrantes de um projeto social ou estudantes do ensino formal. Entenda: O fato de que, para eles, os cursos em Artes Visuais, em geral, possuem entre seus objetivos proporcionar a expressão de estados de espírito e promover o desenvolvimento da capacidade criativa, o senso estético entre outros. Note que esses são objetivos de cunho educacional voltados para a formação humanística dos atores sociais. Não se trata, portanto, de uma formação de ordem prática-operativa. Descrição do conteúdo O que há de comum entre tais públicos? Na oferta de cursos, tanto em educação formal quanto em educação não formal, por vezes, encontramos a expressão “descrição do conteúdo” expressa como “conteúdo programático”. A função desse componente do projeto é fornecer ao público-alvo uma noção �dedigna sobre o que será estudado no curso. Quando o conteúdo do curso é expresso, é possível estabelecer tanto o que será estudado quanto a forma pela qual tal conteúdo será conduzido. Esse modo de condução revela o método que o proponente está utilizando em seu curso. Para demonstrar ao público-alvo a condução do curso, o proponente poderá elaborar uma contextualização do tema informando a questão específica que será tratada. A partir disso, poderá dividir o conteúdo por aula. Isso dará ao cursista uma noção de todo o programa e de sua evolução a cada aula. Mais uma vez, os objetivos a serem alcançados serão fundamentais, pois irão guiar o proponente do curso sobre quais conteúdos e quais materiais teóricos e práticos deverão ser abordados para que os estudantes recebam a formação que lhes está sendo proposta. Vamos a um exemplo? Suponha que um profissional das Artes Visuais deseje oferecer um curso de fotografia documental da vida social. Para tanto, deverão ser estabelecidos o local em que o curso será ministrado, o público-alvo e seus pré-requisitos, assim como os objetivos que o proponente pretende alcançar junto aos seus alunos. Estabelecido isso, o educador passará à contextualização do tema, aos conteúdos a serem trabalhados por cada uma das aulas. Vamos a mais um exemplo? Em um curso de fotografia documental da vida social, poderíamos estabelecer a seguinte redação contextualizando o tema: “A vida social é marcada por vários acontecimentos que, em geral, são acompanhados por rituais. Nascimentos, batizados, formaturas, casamentos, partos são eventos sociais que podem receber registros fotográficos tanto de momentos isolados quanto da sequência de momentos de tal forma que construa uma narrativa. Como então encadear e produzir registros de imagens de tal forma que elas sejam narrativas desses eventos?”. Note que, essa construção de descrição já contribui para contextualizar o tema do curso ressaltando a importância técnica de encadear cada uma das aulas. Um curso como esse deverá trabalhar dois aspectos essenciais: Um curso como esse deve incluir, também, a curadoria do material e o tratamento das imagens. Assim, a competência técnica do profissional de Artes Visuais deve se somar à capacidade de elaborar a sequência didática do conteúdo e de exercer o didatismo necessário para que esse conteúdo seja compreendido pelos seus alunos. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? O primeiro diz respeito aos aspectos técnicos da fotografia relacionados aos equipamentos, às máquinas, às lentes e ao uso das luzes natural e artificial. O segundo aspecto é relacionado ao processo de construção da narrativa imagética. Esse processo passa pelas definições sobre a fotografia documental e o significado afetivo que possui na vida dos fotografados. Além disso, aí se inclui trabalhar a capacidade do fotógrafo de dirigir as cenas da narrativa fotográfica que pretende construir – o que inclui a construção de empatia entre fotógrafo e fotografados. Questão 1 O bacharel ou licenciado poderá ofertar cursos não formais em alguma área de conhecimento específico das Artes Visuais em que possua domínio técnico. Um dos aspectos que esse profissional deverá considerar em sua oferta é a formação técnica do seu público-alvo. Sendo assim, analise as afirmações a seguir: I. O público-alvo de um curso não formal em Artes Visuais deverá, necessariamente, ser formado por pessoas que possuamhabilidades artísticas. II. O público-alvo de um curso não formal em Artes Visuais não precisa, necessariamente, ter formação específica na área. III. O público-alvo de um curso não formal em Artes Visuais poderá ser submetido a pré-requisitos para que se inscrevam no curso ofertado. Considerando as afirmações apresentadas, assinale a alternativa correta: Parabéns! A alternativa E está correta. Os cursos não formais em Artes Visuais se destinam ao público em geral. Não existem regras quanto à exigência de qualificação do público-alvo. O proponente do curso poderá eleger pré-requisitos quanto A Somente I é correta. B Somente II é correta. C Somente III é correta. D Somente I e II são corretas. E Somente II e III são corretas. ao seu público a fim de nivelar os ensinamentos, mas cursos não formais são livres de regulamentação específica. Questão 2 Quando um curso não formal em Artes Visuais é ofertado, recomenda-se que o projeto de curso contenha uma contextualização do tema. Essa recomendação é importante, pois Parabéns! A alternativa C está correta. A contextualização do tema do curso a ser ofertado contribui para que o futuro cursista compreenda a inserção da questão específica que irá estudar. Informações a respeito dos objetivos, da metodologia e do valor do investimento devem ser dispostas em outros itens de oferta do curso, pois não pertencem à contextualização do tema. A fornece ao futuro cursista uma noção da forma pela qual os estudos serão conduzidos. B fornece ao futuro cursista uma noção dos objetivos que o professor pretende que os seus alunos alcancem. C fornece ao futuro cursista uma noção da abrangência do tema e da questão específica que será trabalhada no curso. D fornece ao futuro cursista uma noção da abrangência do tema e do local em que o curso será oferecido. E fornece ao futuro cursista uma noção da abrangência do tema e do investimento financeiro que deverá realizar durante o curso. Considerações �nais Como vimos, é por meio da leitura e da produção de artigos científicos que bacharelandos, licenciandos e profissionais em Artes Visuais podem ampliar e comunicar os seus conhecimentos técnico-científicos. A produção de artigos científicos cumpre a importante função de comunicar os conhecimentos produzidos para que as produções técnico-científicas contribuam para o desenvolvimento do pensamento sobre as Artes Visuais, seja conceitualmente seja tecnicamente considerando o fazer artístico. Assim, o conhecimento dos processos de produção dos artigos científicos é fundamental para a formação dos pesquisadores. Outra atividade importante para o profissional de Artes Visuais é dada pela oferta de cursos não formais ao público em geral. A oferta desses cursos contribui para que a linguagem e o fazer artísticos alcancem os amantes das artes e os capacite à produção artística. Podcast Para encerrar, ouça e relembre os principais tópicos abordados em nosso estudo. Referências FORTIN, S.; GOSSELIN, P. Considerações metodológicas para a pesquisa em arte no meio acadêmico. Art Research Journal ARJ. Un. Federal do Rio Grande do Norte, v. 1, n.1, p. 1-17, 2014. HEINICH, N. Práticas da arte contemporânea: uma abordagem pragmática a um novo paradigma artístico. Sociologia & Antropologia, Rio de Janeiro, v. 4, n. 2, p. 373-390, 2014. MARTINS, R. Das Belas Artes à Cultura Visual: enfoques e deslocamentos. In: MARTINS, Raimundo e TOURINHO, Irene (org.). Processos e práticas de pesquisa em Cultura Visual e educação. Santa Maria: Ed. da UFSM, 2013. READ, H. A educação pela arte. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2016. ZAMBONI, S. A Pesquisa em arte: um paralelo entre arte e ciência. Campinas: Autores Associados, 2012. Explore + Confira agora o que separamos especialmente para você! Ingresse nas páginas das revistas científicas indicadas abaixo e leia artigos científicos da área de Artes Visuais. Aproveite para avaliar o que está sendo pesquisado atualmente. Você também poderá buscar mais revistas científicas on-line nas páginas de outras universidades e centros de pesquisa. Boa leitura! Revista de Pós-graduação em Arte da Universidade de Brasília; Revista do Programa de Pós-graduação em artes da Universidade Federal de Uberlândia; Revista do Programa de Pós-Graduação em Estudos Contemporâneos das Artes da Universidade Federal Fluminense (PPGCA-UFF). Assista ao vídeo Palestra de Cláudio Pastro sobre arte sacra, no canal YouTube ÉRealizações, no qual esse artista autodidata apresenta a origem e o sentido da arte, de forma ampla e inspiradora.