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Endodontia Biologia e Tecnica 3ED . Lopes e Siqueira - cap 15

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Materiais 
Obturadores
José Freitas Siqueira Jr.
Isabela das Neves Rôças
Hélio Pereira Lopes
Edson Jorge Lima Moreira
Capítulo 15
613
O tratamento endodôntico deve ser considerado 
um processo cujas fases são igualmente importantes e, 
como tal, necessita de uma avaliação a cada etapa re-
alizada. A prática comum de se avaliar os resultados 
imediatos do tratamento, aqueles relacionados com a 
habilidade mecânica do profissional, apenas pela radio-
grafia final do caso, impossibilita a correção de fatores 
que estão diretamente associados ao “resultado” final. 
Como em todo processo, a avaliação criteriosa 
fase a fase dá a oportunidade de construir o sucesso do 
tratamento. Dessa forma, iniciar a instrumentação do 
sistema de canais radiculares sem que uma inspeção 
cuidadosa da cavidade de acesso seja feita é colocar em 
risco o êxito da instrumentação, pelos motivos já es-
tudados. Todavia, um clínico perspicaz que prossegue 
com o preparo dos canais e detecta posteriormente um 
obstáculo ainda presente na câmara pulpar pode, nesse 
momento, voltar à fase anterior e corrigir o problema.
Por outro lado, iniciar a obturação do sistema de 
canais radiculares sem o completo preparo dos canais 
ou ainda com o preparo imperfeito pode deixar, algu-
mas vezes, consequências irreversíveis, uma vez que a 
obturação é a última etapa operacional do tratamento 
endodôntico convencional. Por exemplo, o dimensio-
namento impróprio do término apical pode acarretar 
sobreobturação ou extravasamento de material exces-
sivo, que nem sempre se consegue reverter.
Por essa razão, ainda que não se possa destacar 
uma fase como a mais importante do tratamento en-
dodôntico, uma atenção especial deve ser dada à ob-
turação do sistema de canais radiculares. Nessa fase, 
visa-se à eliminação de espaços vazios, originalmente 
ocupados pela polpa dental, que podem servir de ni-
chos para a proliferação de micro-organismos que re-
sistiram ao preparo do canal (infecção persistente) ou 
que em momento posterior possam ganhar acesso a 
esses espaços (infecção secundária)93. Portanto, obturar 
o sistema de canais radiculares é uma combinação de 
técnica e seleção de materiais obturadores.
Alguns materiais têm sido propostos para a ob-
turação do sistema de canais radiculares. No entanto, 
nenhum substituiu a guta-percha, que é universalmen-
te aceita como “padrão-ouro” para os materiais obtura-
dores. Até agora, todos os materiais resinosos testados 
têm apresentado problemas quanto às características 
de trabalho, à radiopacidade e à capacidade de permi-
tir o retratamento endodôntico. 
Nesse capítulo serão abordadas as principais ca-
racterísticas dos materiais empregados na obturação 
do sistema de canais radiculares com base no consenso 
universal de que a obturação deve consistir em uma 
massa formada pela guta-percha com um mínimo de 
cimento endodôntico, que preenche os espaços entre a 
guta-percha e as paredes do canal radicular.
Guta-percha
Em 1843, José D’Almeida, residente em Cinga-
pura, apresentou espécimes de guta-percha à Royal 
614 Capítulo 15  Materiais Obturadores
Asiatic Society, em Londres110. Alguns anos depois, 
mais precisamente em 1867, Bowman introduziu o uso 
dessa substância em Endodontia. Ela é um polímero do 
metilbutadieno ou isopreno (1,4 poli-isopreno), sendo 
assim um isômero da borracha, porém mais dura, mais 
quebradiça e menos elástica do que esta. Enquanto a 
borracha natural é um cis-poli-isopreno, possuindo 
grupamentos CH2 do mesmo lado da ligação dupla, a 
guta-percha é um transpoli-isopreno, o qual apresen-
ta seus grupamentos CH2 em lados opostos da ligação 
dupla (Fig. 15-1)36,65.
Na verdade, muitos produtos disponíveis comer-
cialmente podem não apresentar guta-percha pura. 
Alguns fabricantes admitem que têm utilizado a ba-
lata, extraída da árvore Manilkara bidentata, da família 
das sapotáceas, a qual é abundante no Brasil, particu-
larmente na Amazônia25. A verdadeira guta-percha é 
obtida a partir da coagulação do látex de árvores da 
Malásia, dos gêneros Payena ou Palaquium, também da 
família das sapotáceas. Tem sido relatado que, química 
e fisicamente, balata e guta-percha são essencialmen-
te idênticas50. Consequentemente, iremos nos referir a 
essa substância como guta‑percha.
Em 1942, C. W. Bunn relatou que, quimicamen-
te, a guta-percha pode ser encontrada em duas formas 
cristalinas distintas: alfa e beta. A forma alfa é a natu-
ralmente extraída da árvore. Entretanto, a maioria das 
guta-perchas disponíveis comercialmente se encontra 
na forma beta. Ambas as formas cristalinas são trans‑
poli-isoprenos, que diferem basicamente na configura-
ção da ligação dupla e na distância molecular repetida, 
a qual é de 8,8Å para a fase alfa e 4,7Å para a fase beta. 
A guta-percha na forma alfacristalina é quebradiça à 
temperatura ambiente, tornando-se, quando aquecida, 
pegajosa, aderente e com maior escoamento. Sua tem-
peratura de fusão é de 65°C. Já a forma betacristalina 
é estável e flexível à temperatura ambiente. Quando 
aquecida, não apresenta adesividade e tem menor es-
coamento do que a forma alfa. Sua temperatura de fu-
são é de 56°C. A pureza da substância pode alterar o 
ponto de fusão36 (Figs. 15-2 e 15-3).
A massa obturante é constituída principalmente 
pelo núcleo sólido, formado pela guta-percha e por 
uma quantidade mínima de cimento endodôntico. As 
técnicas de obturação mais difundidas entre os clínicos 
empregam a guta-percha sob a forma de cones. Tradi-
cionalmente, os cones de guta-percha são classificados 
em dois tipos: os padronizados (calibrados) e os auxi-
liares (Fig. 15-4).
Atualmente, tendo em vista o emprego crescente 
de técnicas que utilizam a guta-percha termoplastifica-
da, outros tipos de cones são encontrados, além de ou-
tras formas de apresentação para a guta-percha, como 
em bastões para plastificação nas técnicas de injeção no 
interior dos canais radiculares.
Os cones de guta-percha padronizados apresen-
tam diâmetros e conicidades determinados. O diâme-
tro da ponta de um cone de guta-percha é denomina-
do D 0. É um diâmetro virtual que consiste na projeção 
da conicidade do cone até a sua extremidade. Os di-
âmetros em D0, expressos em centésimos de milíme-
tros, correspondem aos números padronizados (ISO) 
e variam entre 15 e 140. O diâmetro dos cones de 
guta-percha aumenta de 0,05mm até o no 60; a partir 
desse número, até o 140, o aumento é de 0,10mm. De 
acordo com a norma ISO 6877, Dental root canal obtu‑
rating points, de 1995, a tolerância de fabricação dos 
cones para o diâmetro é de ± 0,05mm até os diâmetros 
0,25mm (no 25) e de ± 0,07 até os de diâmetro 1,4mm 
(no 140). O comprimento mínimo é de 28mm com uma 
tolerância de ± 2mm. 
Figura 15-1. Estrutura química da guta-percha nas formas alfa e 
beta.
Materiais Obturadores 615
Figura 15-2. Formas da guta-percha desde a extração até a forma utilizável. A. Balata bruta (seiva). B. Balata purificada com tolueno e álcool. 
C. Balata purificada e com óxido de zinco. D. Balata com óxido de zinco e corante, produto final. (Gentileza da Odous De Deus Ind. Com. Imp. 
Exp. Ltda, Belo Horizonte, Brasil.)
A B C D
A B C
Figura 15-3. Eletromicrografias de cones de guta-percha.
Figura 15-4. Diversas apresen-
tações da guta-percha na forma 
de cones.
616 Capítulo 15  Materiais Obturadores
Para os cones padronizados convencionais, a 
conicidade é de 0,02mm/mm. Esses cones estão dis-
poníveis com diâmetro D0 entre 15 e 140 (Dentsply/
Maillefer). São empregados como cones principais na 
técnica de compactação lateral. Também se encontram 
disponíveis cones com outras conicidades, como, por 
exemplo, os de conicidades 0,04 e 0,06mm/mm, que 
são apresentados entre os nos 15 e 40 (Dentsply/Mail-
lefer). 
Cones de guta-percha com as dimensões de ins-
trumentos endodônticos de sistemas mecanizados têm 
sido concebidos com a finalidade de se adaptarem ao 
espaço dos canais radiculares preparados por esses 
instrumentos. Como exemplos, citamos os cones de 
guta-perchacorrespondentes às dimensões dos instru-
mentos ProTaper Universal (Dentsply/Maillefer), K3 
(SybronEndo) e Mtwo (VDW) (Fig. 15-4). 
Os cones auxiliares possuem conicidades variá-
veis (não padronizadas) e pontas mais afiladas, quan-
do comparados aos padronizados. Eles estão disponí-
veis em tamanhos XF, FF, MF, F, FM, M, ML, L e XL 
(Quadro 15-1). Apresentam comprimento e tolerância 
de fabricação para diâmetros similares aos dos cones pa-
dronizados. Embora sejam mais utilizados como cones 
acessórios (secun dários ou laterais) durante a técnica 
da compactação lateral, os cones auxiliares podem ser 
usados como principais em diversas situações clínicas, 
principalmente quando da obturação de canais curvos.
A Odous De Deus (Belo Horizonte, MG) fornece 
cones auxiliares MF, F, FM, MX, M, MLX, ML, L e XL. 
Ainda apresentam os cones FM e M padronizados em 
D0, nos n
os 20, 25, 30 e 35, com comprimento de 28mm. 
Fornecem também cones auxiliares FM, M e MX extra-
longos, com 35mm de comprimento. A Dentsply for-
nece cones auxiliares em guta-percha TP (termoplas-
tificação) nos tamanhos XF, FF, MF, F, FM, M, espe-
cialmente fabricados para obturação com técnicas de 
termoplastificação da guta-percha (Fig. 15-4).
Os cones de guta-percha apresentam uma com-
posição básica de guta-percha (de 19 a 20%), óxido de 
zinco (60 a 75%), radiopacificadores, como o sulfato de 
bário (1,5 a 17%), e outras substâncias, como resinas, 
ceras e corantes (1 a 4%). A presença do óxido de zinco 
confere rigidez e atividade antibacteriana aos cones de 
guta-percha50,69.
Com 1mm de espessura, os cones de guta-percha 
apresentam radiopacidade equivalente a 6,44mm de 
alumínio.
O escoamento dos cones de guta-percha é inver-
samente proporcional ao seu conteúdo de óxido de 
zinco, componente que altera o ponto de fusão da gu-
ta-percha. A guta-percha apresenta um comportamen-
to viscoelástico, o que significa que em temperaturas 
mais altas ela apresenta o comportamento viscoso ou 
tal qual o de um líquido. Por outro lado, em tempera-
turas intermediárias, encontra-se como um sólido com 
as características de uma borracha, o qual exibe com-
portamentos mecânicos que são a combinação desses 
dois extremos.
O comportamento viscoelástico da guta-percha 
depende tanto do tempo em que se mantém a carga so-
bre o material, como da temperatura em que a carga é 
aplicada. Quando submetida a uma força de compac-
tação mantida por alguns poucos segundos, o material 
se deforma plasticamente. Quanto maior a deformação 
plástica, maior o escoamento do material.
As vantagens e desvantagens dos cones de gu-
ta-percha como material obturador dos canais radicu-
lares são:
Vantagens
• Adaptam-se facilmente às irregularidades do canal 
quando utilizados em várias técnicas de obturação.
• São bem tolerados pelos tecidos perirradiculares.
• São radiopacos.
• Podem ser facilmente plastificados por meios físicos 
e químicos, de acordo com variações de técnicas. 
• Possuem estabilidade dimensional nas condições 
de uso.
Quadro 15-1 Calibre e conicidade dos cones de 
guta-percha auxiliares
Tamanho D3 
(calibre a 
3mm da ponta)
Conicidade 
(mm/mm)
XF (extra-fine) 0,2 0,019
FF (fine-fine) 0,24 0,025
MF (medium-fine) 0,27 0,032
F (fine) 0,31 0,038
FM (fine-medium) 0,35 0,041
M (medium) 0,40 0,054
ML (medium-large) 0,43 0,063
L (large) 0,49 0,082
XL (extra-large) 0,52 0,083
Materiais Obturadores 617
• Não alteram a cor da coroa do dente quando usa-
dos no limite coronário adequado da obturação do 
canal.
• Podem ser facilmente removidos do canal radicular.
Desvantagens
• Têm pequena resistência mecânica à flexocompres-
são (rigidez), o que dificulta o seu uso em canais cur-
vos e atresiados.
• Têm pouca adesividade, o que exige a complemen-
tação da obturação com cimentos endodônticos.
• Podem ser deslocados pela pressão, provocando so-
breobturação durante os processos de compactação.
Tem sido relatado um número crescente de ca-
sos de hipersensibilidade ao látex da borracha natural, 
oriundo da árvore Hevea brasiliensis20. Isso pode ser 
devido em parte ao aumento do emprego de produ-
tos médicos à base de borracha. Uma vez que o único 
método prático de se controlar os indivíduos alérgicos 
ao látex é evitar a exposição ao alérgeno, tem sido re-
comendado que os ambientes médico e odontológico 
abandonem os produtos que contenham o látex da He‑
vea brasiliensis.
Foi estudada a possibilidade de reação cruzada 
entre a guta-percha, a guta-balata e o látex da borra-
cha natural20. Verificou-se que o uso da guta-percha em 
pacientes sensibilizados ao látex representa um risco 
mínimo de indução de sintomas alérgicos. Quanto à 
guta-balata, os fabricantes de guta-percha devem ser 
encorajados a abandonar o seu uso na composição dos 
cones, tendo em vista que a guta-balata na forma bru-
ta pode fazer a reação cruzada com o látex da Hevea 
brasiliensis, o que representa risco de induzir resposta 
alérgica em pacientes sensibilizados.
Os cones de guta-percha devem ser conservados 
em local fresco e protegidos da luz, o que possibilitará 
sua longevidade. Caso contrário, ficarão quebradiços 
e não deverão ser utilizados na obturação dos canais 
radiculares. Esse estado quebradiço corresponde ao 
fenômeno conhecido como fendilhamento, que é a for-
mação de pequenas trincas e que antecede à fratura do 
polímero18.
A desinfecção dos cones de guta-percha antes do 
uso pode ser feita pela imersão do cone em hipoclo-
rito de sódio na concentração de 2,5% até 5,25% por 
um minuto86,89,94, tomando-se o cuidado de lavá-lo em 
seguida em solução salina estéril. 
Foi sugerida ainda a desinfecção por meio da clo-
rexidina a 2%, por não apresentar essa substância o po-
tencial para alterar a estrutura superficial dos cones de 
guta-percha, porém o tempo necessário para alcançar 
desinfecção ainda não foi estabelecido35.
 THERMAFIL
Muitas das modernas técnicas de obturação em-
pregam a guta-percha termoplastificada com a finali-
dade de adaptar melhor o material às paredes do canal 
e preencher de forma mais eficiente todos os espaços 
no sistema de canais radiculares, inclusive os istmos. 
Um desses métodos de obturação é o sistema Therma-
fil (Dentsply/Maillefer). Os obturadores Thermafil são 
constituídos de um núcleo plástico revestido com guta-
percha na fase alfa (Fig. 15-5). A guta-percha na fase 
alfa quando aquecida apresenta maior capacidade de 
escoamento do que na fase beta. Após o aquecimento 
dos obturadores em um forno especial, a guta-percha se 
torna amolecida e o obturador é introduzido no canal 
preparado. O núcleo plástico do obturador permanece 
no canal como parte integrante da massa obturadora 
(ver Capítulo 16, Obturação dos canais radiculares).
O núcleo dos obturadores é de plástico biocompa-
tível e radiográfico. Apresentam-se em comprimento de 
25mm com conicidade de 0,04mm/mm, e o diâmetro D0 
varia de 45 a 100 para os dentes anteriores e de 20 a 40 
para os dentes posteriores. Da mesma forma que os co-
nes de guta-percha, foram lançados no mercado os obtu-
radores com conicidade variável (ProTaper Obturação, 
Dentsply/Maillefer), que também foram concebidos 
com a finalidade de se adaptarem ao espaço do sistema 
de canais radiculares preparado pelos instrumentos de 
NiTi do sistema de mesmo nome. Embora apresentem 
conicidade variável, são padronizados no diâmetro D0 
com os nos 20, 25, 30, 40 e 50, correspondendo aos instru-
mentos F1, F2, F3, F4 e F5, respectivamente. 
Figura 15-5. Obturadores do sistema Thermafil.
618 Capítulo 15  Materiais Obturadores
Resilon 
Resilon (RealSeal; SybronEndo) é um material 
obturador à base de polímero sintético termoplásti-
co (Fig. 15-6). Baseado nos polímeros do poliéster, o 
Resilon contém carga radiopaca e partículas de vidro 
bioativo. É semelhante à guta-percha no que diz res-
peito às características de manipulação e de trabalho, 
e nos casos de retratamento pode ser amolecido pelo 
calor ou com o uso de solventes, como o clorofórmio. 
Domesmo modo que a guta-percha, apresenta-se sob 
a forma de cones principais em todos os diâmetros 
ISO e também como cones auxiliares em diversos ta-
manhos. Além disso, também está disponível sob a 
forma de bastões para o emprego das técnicas de in-
jeção do material termoplastificado. O cimento reco-
mendado para o Resilon é o Epiphany (Pentron Cli-
nical Technologies), que é um cimento de compósito 
resinoso de cura dual88. 
O sistema consiste de três partes: Resilon, o material 
obturador à base de polímero sintético (poliéster), como 
componente principal; Epiphany, um cimento resinoso 
ativado quimicamente e por luz halógena, que se pro-
põe a formar uma ligação entre a dentina e o material 
obturador; e o primer, que prepara as paredes dentiná-
rias para o contato com o Resilon e o cimento88.
Um estudo clínico retrospectivo comparou os re-
sultados do tratamento endodôntico usando na obtura-
ção dos canais guta-percha + cimento Kerr Pulp Canal 
Sealer ou Resilon + cimento Epiphany21. Os resultados 
não mostraram diferenças estatisticamente significan-
tes entre as duas combinações de materiais obturado-
res quanto ao status dos tecidos perirradiculares verifi-
cado na prosservação. 
O escoamento do Resilon, assim como o da guta-
percha, depende da sua viscoelasticidade e não das 
propriedades mecânicas dos sistemas de aplicação de 
ambos53. O Resilon se mostrou capaz de penetrar em 
canais laterais simulados quando empregada a técnica 
de injeção do material plastificado53,54.
No entanto, do ponto de vista do selamento 
promovido, Baumgartner et al.9 compararam a infil-
tração de Enterococcus faecalis em canais radiculares 
de pré-molares humanos extraídos obturados com 
guta-percha + AH Plus e Resilon + Epiphany pela 
técnica da onda contínua de compactação. Os auto-
res concluíram que aparentemente não existe vanta-
gem em se substituir a guta-percha/AH Plus pelo 
Resilon/Epiphany.
Raina et al.82 compararam a infiltração apical em 
canais obturados com guta-percha + AH Plus e Resi-
lon + Epiphany pela técnica da compactação vertical. 
O modelo de filtração de fluidos foi utilizado. Após 7 
dias da obturação, as medidas do fluxo de fluido foram 
obtidas. Os resultados não evidenciaram diferença es-
tatisticamente significativa entre os dois grupos de ma-
teriais testados. Além disso, em nenhum dos grupos 
foi observada a formação do monobloco.
Figura 15-6. Sistema RealSeal (Resilon & Epiphany). A. Apresenta-
ção comercial. B e C. Eletromicrografias da ponta dos cones.
A
B
C
Materiais Obturadores 619
Cimentos endodônticos
A guta-percha é considerada um material imper-
meável, mas ela não se adere às paredes dentinárias. 
Por essa razão, torna-se imperioso o emprego do ci-
mento juntamente com a guta-percha para a obturação 
do sistema de canais radiculares. 
Embora a guta-percha deva ser em volume o prin-
cipal constituinte da massa obturadora, cimentos en-
dodônticos são usualmente empregados para reduzir a 
interface existente entre a guta-percha e as paredes do 
canal. Além disso, quando do emprego da técnica de 
compactação lateral, o cimento também atua reduzin-
do a interface entre os cones de guta-percha, tornando 
a obturação mais homogênea.
O cimento endodôntico ideal deveria apresentar 
as seguintes propriedades:
• Ser de fácil inserção e remoção no canal radicular.
• Ter bom tempo de trabalho.
• Promover o selamento tridimensional do sistema de 
canais radiculares.
• Apresentar estabilidade dimensional nas condições 
de uso.
• Ter bom escoamento.
• Ser radiopaco.
• Não manchar a estrutura dentária.
• Apresentar adesividade às paredes do canal.
• Apresentar força coesiva.
• Ser insolúvel nos fluidos teciduais e na saliva.
• Ser solúvel ou reabsorvível nos tecidos perirradi-
culares.
• Ser impermeável no canal.
• Apresentar biocompatibilidade.
• Ter atividade antimicrobiana.
Encontram-se disponíveis no mercado diversos 
tipos de cimento endodôntico. São classificados em 
cimentos à base de óxido de zinco-eugenol (OZE); ci-
mentos contendo hidróxido de cálcio; cimentos resino-
sos; cimentos de ionômero de vidro e cimentos à base 
de silicone.
Cimentos à base de óxido de zinco-eugenol
A reação da mistura do pó ao líquido é essencial-
mente uma reação de interação ácido-base, com o eu-
genol cedendo hidrogênio para a estrutura do óxido 
de zinco. A reação é complexa e não está bem definida, 
mas admite-se, porém, que o zinco desloca os íons de 
hidrogênio de duas moléculas do eugenol para formar 
um composto quelato cristalino, denominado eugeno-
lato de zinco.
O endurecimento ou presa do cimento se dá por 
reação ácido-base, onde o óxido de zinco age como 
base e o eugenol como ácido, formando um sal quelato 
de eugenolato de zinco e água. A água é essencial e 
funciona como um acelerador da reação de presa. O 
controle da quantidade de água no líquido é por isso 
um problema bastante crítico para o fabricante. Após a 
presa do material, 5% da quantidade original de euge-
nol permanecem livres68.
O eugenol possui atividade antibacteriana, efei-
to anestésico e anti-inflamatório. Ele é bactericida em 
concentrações relativamente altas (10–2 a 10–3 mol/L). 
A dentina adjacente ao cimento de OZE pode ser 
exposta a níveis bactericidas de eugenol. Além do 
eugenol, íons Zn2+ também podem estar envolvidos 
na inibição do crescimento bacteriano, uma vez que 
em concentrações elevadas esses íons são inibidores 
enzimáticos e interferem no metabolismo bacteria-
no. Meryon e Jakeman67 demonstraram que o cimen-
to de óxido de zinco e eugenol após 14 dias libera 
26,88ppm de zinco (a concentração plasmática nor-
mal é de 1ppm), e que essa quantidade apresentou 
grande efeito citotóxico.
O eugenol também apresenta citotoxicidade. Cé-
lulas eucarióticas podem morrer após uma breve ex-
posição a uma concentração de eugenol de 10–2 mol/L. 
Mesmo menores concentrações podem inibir a respi-
ração e a divisão celular. O efeito sobre a respiração 
pode se dar pela inativação da fosforilação oxidativa 
ao nível de mitocôndrias64. Essa substância tem alta 
afinidade pela membrana citoplasmática, graças à sua 
solubilidade em lipídios, o que pode colaborar para o 
dano celular.
Em baixa concentração, o eugenol inibe a ativi-
dade nervosa de forma reversível, da mesma forma 
que os anestésicos. Entretanto, a exposição a uma alta 
concentração bloqueia a condução nervosa irreversi-
velmente, indicando um efeito neurotóxico. A redução 
na atividade nervosa também pode ajudar a explicar 
os efeitos anti-inflamatórios do eugenol, uma vez que 
a liberação de neuropeptídeos, envolvidos em vasodi-
latação e aumento da permeabilidade vascular, é redu-
zida ou inibida. Além disso, essa substância, em baixa 
concentração, inibe a ação da cicloxigenase, enzima 
envolvida na síntese de prostaglandinas43; inibe a qui-
miotaxia para neutrófilos e a geração de radicais oxige-
nados por meio dessas células. Essas propriedades do 
eugenol podem modular a resposta tecidual à injúria, 
reduzindo a intensidade do processo inflamatório.
620 Capítulo 15  Materiais Obturadores
Por outro lado, em elevadas concentrações, o eu-
genol pode induzir vasodilatação e aumento do fluxo 
sanguíneo, o que pode ser deletério para uma polpa já 
lesada, acarretando necrose tecidual.
Depreende-se, então, que altas doses de eugenol 
inibem o crescimento e a respiração celular, podendo 
levar à morte, promovem alterações vasculares, como 
vasodilatação, e são neurotóxicas. Tais propriedades 
são consideradas indesejáveis. Contrariamente, baixas 
concentrações dessa substância apresentam proprieda-
des farmacológicas desejáveis, como ações anti-infla-
matória e analgésica64.
No caso da obturação do canal com cimento à base 
de OZE, uma pequena quantidade pode contatar os te-
cidos perirradiculares ao nível do forame apical. Essa 
quantidade pode conter uma concentração de eugenol 
suficientemente tóxica, tanto para as bactérias quan-
to para as células do hospedeiro. Ao redor dessa área 
de morte celular, ostecidos perirradiculares contatam 
uma menor dosagem de eugenol, a qual pode exercer 
efeitos anti-inflamatórios e analgésicos. O extravasa-
mento de uma grande quantidade de cimento para os 
tecidos perirradiculares permite uma maior difusão de 
eugenol, o qual tende a exercer suas propriedades de-
letérias, podendo interferir negativamente no processo 
de reparo tecidual.
Efeito das matérias-primas nas propriedades do 
cimento endodôntico à base de OZE
Matérias-primas 
Óxido de zinco. É a base para a reação iônica com 
o eugenol. A sua substituição por outros óxidos (MgO 
ou BaO) forma cimentos bastante solúveis em água, o 
que não é o desejado. Substituindo o óxido de zinco 
por CdO ou HgO, produzem-se cimentos com proprie-
dades biológicas indesejáveis (muito tóxicos – o CdO 
possui propriedades carcinogênicas).
Eugenol. É a base para a reação iônica com o óxido 
de zinco. 
Sulfato de bário. Confere radiopacidade ao cimen-
to. Pode ser substituído por subcarbonato de bismuto, 
sulfeto de zinco ou tungstato de cálcio.
Subcarbonato de bismuto. Plastificante que também 
confere radiopacidade ao cimento. Como plastificante, 
pode ser substituído por: N-etil orto e paratoluenos-
sulfonamida (Santicizer tipo 8 especial – Monsanto); 
sendo líquido, deve ser acrescentado ao componente 
líquido do cimento (caso a composição do líquido seja 
eugenol e óleo vegetal, deve ser feita uma compensa-
ção percentual nele).
Outro plastificante é o Abitol, que é mistura de 
álcool tetra, di e de-hidroabetílico. Existem inúmeros 
plastificantes disponíveis no mercado; para qualquer 
modificação na formulação do pó ou do líquido são ne-
cessários os ensaios laboratoriais para que o produto 
resultante se enquadre nas especificações da ADA.
Tetraborato de sódio. Retarda o tempo de endureci-
mento do cimento. Dependendo do tipo de derivado da 
colofônia e a presença ou não de óleos vegetais na com-
posição do produto, pode ser excluído da formulação.
Breu (colofônia) e derivados do breu. O principal ingre-
diente ativo do breu é o ácido abiético (C19H29COOH). 
A adição desse confere maior adesividade ao cimento 
e concomitantemente diminui a sua solubilidade. Exis-
tem vários tipos de colofônia e derivados da mesma. 
Quanto mais ácido o pH, mais rápido será o tempo de 
endurecimento do cimento. Cimentos contendo resi-
nas de colofônia esterificadas ou hidrogenadas têm o 
tempo de endurecimento aumentado quando compa-
rado com aqueles que contêm resinas não modificadas 
quimicamente.
Óleo de amêndoas doces. Retarda o tempo de endu-
recimento do cimento. Cimentos contendo no pó o te-
traborato de sódio anidro não requerem o óleo adicio-
nado no eugenol. São necessários ensaios laboratoriais 
para se adequar o tempo de endurecimento. Pode ser 
substituído por outros óleos vegetais desde que não se-
jam tóxicos. Adicionando o óleo de soja no eugenol, o 
cimento apresenta tempo de endurecimento diminuído 
devido à maior acidez da mistura quando comparado 
com o óleo de amêndoas doces.
Além disso, é importante ressaltar que as proprie-
dades físico-químicas e biológicas dos cimentos à base 
de OZE dependem fortemente do tamanho de partícu-
la do pó, da pureza das matérias-primas, das condições 
do ambiente clínico (temperatura e umidade relativa 
do ar) e do tempo e modo de espatulação. Aumentan-
do-se a temperatura ou a umidade relativa do ar no 
ambiente da espatulação, o cimento tem seu tempo de 
endurecimento diminuído.
De igual importância são as condições do sistema 
de canais radiculares (umidade) e os fundamentos da 
técnica de obturação (aplicação ou não de calor). Quan-
do o canal apresenta umidade, o cimento nele inserido 
tem seu tempo de endurecimento e sua capacidade de 
escoamento diminuídos. Efeito semelhante é observa-
do quando do aumento da temperatura nas técnicas 
que empregam a guta-percha termoplastificada.
Silva et al.90 realizaram um estudo para determi-
nar a influência de cada componente do cimento de 
Grossman sobre estabilidade dimensional, solubili-
Materiais Obturadores 621
dade/desintegração e radiopacidade. De acordo com 
esse estudo, a resina natural (breu) confere acentuada 
expansão, o tetraborato de sódio anidro aumenta sig-
nificativamente a solubilidade e desintegração, a resi-
na natural diminui a solubilidade do cimento de óxido 
de zinco, e o subcarbonato de bismuto é um excelente 
agente radiopaco.
Universalmente, os cimentos à base de óxido de 
zinco-eugenol têm sido os mais usados pelos profissio-
nais para a obturação dos canais radiculares. A seguir, 
apresentam-se os cimentos à base de óxido de zinco-
eugenol mais comumente utilizados.
Cimento de óxido de zinco-eugenol (OZE) 
O cimento de OZE em sua forma mais pura (óxido 
de zinco no pó e eugenol no líquido) é comercializado 
por vários laboratórios e encontra inúmeras aplicações 
em Odontologia, sendo preferido por alguns poucos 
profissionais para a obturação do sistema de canais 
radiculares. Seu tempo de trabalho é de aproximada-
mente 3 horas, e o de endurecimento é de 20 horas. A 
radiopacidade de 1mm desse cimento é corresponden-
te a 4-5mm de alumínio.
Quando comparado a outros cimentos, o cimento 
de OZE sem aditivos apresenta uma baixa capacidade 
de adesão40 e baixo escoamento136.
Além de alterar as propriedades físico-quími-
cas do cimento, variações na proporção pó/líquido 
também exercem influência sobre a propriedade de 
biocompatibilidade. Holland et al.48 observaram que 
misturas fluidas acarretam uma resposta inflamatória 
tecidual mais intensa do que aquela produzida por 
misturas mais espessas (Fig. 15-7).
Suas deficiências fizeram com que esse cimento 
fosse preterido pela grande maioria dos profissionais 
no que tange à obturação do sistema de canais radi-
culares.
Cimento de Grossman
Pó: Óxido de zinco, resina hidrogenada, colofô-
nia, subcarbonato de bismuto, sulfato de bário, borato 
de sódio (anidro).
Líquido: Eugenol.
Nos EUA, o cimento de Grossman é comerciali-
zado sob o nome de Procosol. No Brasil, temos apre-
sentações com os nomes Endofill (Dentsply, Maillefer), 
Intrafill (SSWhite), Pulp Fill (Biodinâmica) e Fill Canal 
(Technew).
Estudos têm demonstrado que o cimento de Gros-
sman possui propriedades físico-químicas satisfatórias. 
Elas incluem: boa capacidade seladora, baixa permea-
bilidade, estabilidade dimensional, adesividade ade-
quada, baixa solubilidade e baixa desintegração11,39,40. 
A adesividade é ditada pela presença da resina hidro-
genada, a plasticidade pelo subcarbonato de bismuto, 
a radiopacidade pelo sulfato de bário, e o borato de só-
dio retarda o tempo de endurecimento do material.
Grossman40 recomenda que o cimento seja prepa-
rado da seguinte forma:
• deve-se sentir uma leve resistência quando da espa-
tulação, no momento em que se aproxima da correta 
consistência;
• levantando-se o cimento com o auxílio da espátula, 
ele não deverá cair antes de 16 segundos; 
• colocando-se a espátula sobre o cimento preparado, 
ao se levantar, o cimento deverá formar um fio de 
cerca de 2,5mm antes de se romper.
O tempo de trabalho do cimento de Grossman in 
vitro é de 24 horas e o de endurecimento é de 40 ho-
ras. Pequenas variações podem advir em decorrência 
de algumas modificações na formulação do cimento, 
dependendo do produto comercial.
Inúmeros estudos avaliaram a biocompatibilida-
de desse produto. Barbosa et al.7 relataram que o Fill 
Canal (cimento de Grossman) apresentou toxicidade 
superior àquela verificada para os cimentos N-Rickert 
e Sealer 26. Brodin et al.16 relataram que o Procosol 
causou inibição completa da condução nervosa, a qual 
foi, contudo, reversível. Esse cimento possui ativida-
de antibacteriana pronunciada, graças à presença do 
eugenol3,97.
Vassiliadis et al.126 avaliaram a penetração do ci-
mento de Grossman em túbulos dentinários por meio 
Figura 15-7. Inflamação perirradicular associada à obturação do 
canal com cimento OZE. (Gentileza do Dr. Roberto Holland.)
622 Capítulo 15  Materiais Obturadores
demicroscopia eletrônica. A smear layer, não removi-
da antes da obturação, não impediu a penetração do 
cimento nos túbulos dentinários. Diferentes profundi-
dades de penetração do cimento foram observadas, as 
quais poderiam ser decorrentes de diferenças na mis-
tura e na consistência do cimento, assim como na força 
empregada na compactação lateral. O selamento apical 
promovido pelo cimento de Grossman é satisfatório96.
Pulp Canal Sealer (cimento de Rickert)
O Pulp Canal Sealer (ou Kerr Pulp Canal Sealer, Sy-
bronEndo, EUA), apresenta a seguinte formulação: 
Pó: Óxido de zinco, prata precipitada, subcarbo-
nato de bismuto, sulfato de bário.
Líquido: Óleo de cravo, bálsamo-do-canadá.
O cimento de Rickert foi introduzido na Endo-
dontia em 1931. Esse produto possui boa estabilida-
de dimensional e capacidade seladora, adesão sa-
tisfatória, excelente escoamento, baixa solubilidade, 
radiopacidade elevada e baixa desintegração7,40,95,100. 
Após a preparação, o Pulp Canal Sealer apresenta um 
tempo de trabalho de aproximadamente 30 minutos e 
de endurecimento de 1 hora. Estudos demonstraram 
que esse cimento apresenta atividade antibacteriana 
satisfatória73,95.
Devido à presença de prata em sua formulação, 
é altamente recomendada uma limpeza adequada da 
câmara pulpar, inclusive com solventes como álcool, 
clorofórmio, xilol ou óleo essencial de laranja (d-limo-
neno), de forma a eliminar os riscos de escurecimento 
da coroa dentária após a obturação. O Pulp Canal Sealer 
EWT (extended working time) apresenta tempos de tra-
balho e de endurecimento maiores do que o cimento 
convencional.
Endométhasone
O Endométhasone (Specialités-Septodont, Fran-
ça) possui os seguintes componentes:
Pó: Óxido de zinco, dexametasona, acetato de hi-
drocortisona, diiodotimol, paraformaldeído, óxido de 
chumbo, sulfato de bário, estearato de magnésio, sub-
nitrato de bismuto.
Líquido: Eugenol.
O paraformaldeído foi adicionado com o intui-
to de melhorar os efeitos antibacterianos do cimento, 
enquanto os corticosteroides (dexametasona e acetato 
de hidrocortisona) visam a propiciar uma ação anti-
inflamatória.
Suas propriedades físico-químicas são bas tante 
similares às dos demais produtos à base de óxido de 
zinco-eugenol. Possui um tempo de presa de apro-
ximadamente 115 minutos, o que favorece seu em-
prego na obturação de canais de dentes multirradi-
culares.
Ørstavik e Mjor74 avaliaram a biocompatibilidade 
do Endométhasone em tecido conjuntivo subcutâneo 
de ratos após os períodos de 14 e 90 dias. Foi verificado 
que esse cimento apresentou efeitos tóxicos sobre os te-
cidos similares aos de outros cimentos à base de óxido 
de zinco-eugenol testados (Procosol, Kerr Pulp Canal 
Sealer e N2), os quais foram pronunciados.
Avaliando os efeitos de cimentos endodônticos 
sobre células imunocompetentes in vitro e in vivo, Bra-
tel et al.15 relataram que o Endométhasone e o AH 26 
inibiram a proliferação de linfócitos T. Isso caracteriza 
uma ação imunossupressora. Após o endurecimento, 
esse efeito foi consideravelmente reduzido.
Ørstavik73 estudou as propriedades antibacte-
rianas de vários materiais sobre Enterococcus faecium, 
Pseudomonas aeruginosa e Staphylococcus aureus. Alguns 
dos cimentos usados foram o AH 26, Endométhasone, 
Kerr Pulp Canal Sealer, Procosol e Tubli-Seal. Todos os 
materiais apresentaram algum efeito antibacteriano, 
principalmente quando recém-preparados. O Endomé-
thasone, devido à presença do paraformaldeído, apre-
sentou atividade antibacteriana pronunciada mesmo 
após o endurecimento. A ação inibitória do Endomé-
thasone sobre bactérias foi também demonstrada por 
Pumarola et al.81.
A adição do paraformaldeído é indesejável, uma 
vez que exacerba os efeitos tóxicos do eugenol. Isso 
pode retardar os mecanismos de reparação nos tecidos 
perirradiculares, em razão da coagulação e impregna-
ção dos tecidos por essa substância. Com o tempo, o 
formaldeído é removido do tecido necrosado, o qual 
pode então ser infectado ou, dependendo do supri-
mento sanguíneo da região, ser reparado. Causa real-
mente surpresa o fato de que alguns ainda acreditam 
que o tratamento de uma ferida com uma substância 
tóxica e coagulante tecidual possa favorecer a cura dos 
tecidos perirradiculares.
Tubli-Seal
O Tubli-Seal (SybronEndo, EUA) apresenta basi-
camente os seguintes elementos: óxido de zinco, sulfa-
to de bário, resinas oleosas, iodeto de timol, trióxido de 
bismuto, óleos e eugenol.
Esse produto se apresenta sob a forma pasta/
pasta, base e catalisador. Deve ser preparado espa-
tulando-se porções iguais até se obter uma mistura 
bem homogênea e com uma consistência que, do pon-
Materiais Obturadores 623
to de vista clínico, seja considerada ideal. Apresenta 
um tempo de trabalho de 30 minutos e de endureci-
mento de 1 hora. Possui propriedades físico-químicas 
bastante similares às dos demais materiais à base de 
óxido de zinco-eugenol.
Cimentos resinosos
São representados pelos seguintes cimentos: AH 
26, Sealer 26 (a ser discutido adiante, como cimento 
contendo hidróxido de cálcio) e AH Plus.
AH 26
O AH 26 (Dentsply/Maillefer, Ballaigues, Suíça) é 
um cimento à base de resina epóxica constituído pelos 
seguintes elementos:
Pó: Óxido de bismuto; pó de prata; óxido de titâ-
nio; hexametilenotetramina.
Resina: Éter de bisfenol A diglicidil.
Também está disponível o cimento sem a prata e 
o óxido de titânio, AH 26 Silverfree.
Sua radiopacidade é similar à da guta-percha, isto 
é, 1mm do cimento corresponde a 6,66mm de alumínio.
Esse produto apresenta excelentes propriedades 
físico-químicas, tais como: boa estabilidade dimensio-
nal, adesividade, radiopacidade, baixa solubilidade, 
boa capacidade seladora e alto escoamento2,40,55. Seu 
tempo de trabalho é de 7 horas e o de endurecimento é 
de cerca de 32 horas.
O AH 26 apresenta partículas finas, o que pode 
ajudar a explicar seu elevado escoamento e a grande 
força adesiva.
Wennberg e Ørstavik130 avaliaram a propriedade 
de adesão de vários cimentos endodônticos. Eles rela-
taram que o cimento que apresentou a maior força de 
adesão foi o AH 26. Dos materiais testados, o que apre-
sentou a menor força adesiva foi o Sealapex.
Limkangwalmongkol et al.62, pelo método de infil-
tração de corante, avaliaram in vitro o selamento apical 
produzido por quatro cimentos endodônticos. O AH 
26 apresentou os melhores resultados, seguido do Ape-
xit, Tubli-Seal e Sealapex. Avaliando a infiltração coro-
nária por Fusobacterium nucleatum de canais obturados 
com guta-percha e dois cimentos, Chailertvanitkul et 
al.19 verificaram que a completa recontaminação foi ob-
servada, em média, em 8,4 e 8,2 semanas para o AH 
26 e o Tubli-Seal EWT, respectivamente. Esses dados 
revelam que o AH 26 apresenta uma capacidade de se-
lamento apical e coronário bastante satisfatória.
Pascon et al.78 avaliaram a biocompatibilidade do 
AH 26 e de outros cimentos, utilizando dentes de maca-
cos. Eles observaram reações inflamatórias ao AH 26 clas-
sificadas como graves para os períodos curtos (1 a 7 dias) 
e leves para os períodos longos (1 a 3 anos) de avaliação.
Em relação à atividade antibacteriana, esse ma-
terial apresenta bons resultados. Por meio do teste de 
difusão em ágar, Stevens e Grossman112 estudaram os 
efeitos antibacterianos de diversos cimentos sobre uma 
bactéria anaeróbia estrita, o Bacteroides fragilis. O AH 
26, o Procosol e o OZE promoveram efeitos inibitórios 
significantes. O Kerr Pulp Canal Sealer e o Tubli-Seal 
provocaram pequenos halos de inibição do crescimen-
to microbiano.
AH Plus
O AH Plus (Dentsply/De Trey, Konstanz, Ale-
manha) é um cimento à base de resina do tipo epoxia-
minas, cuja composição fornecida pelo fabricante é a 
seguinte:
Pasta A: Éter de bisfenol A diglicidil; tungsteanato 
de cálcio; óxido de zircônio; aerosil; óxido de ferro.
Pasta B: Amina adamantana; n,n-dibenzil-5-oxa-
nonano-diamina-1,9; tcd-diamina; tungsteanato de cál-
cio; óxido de zircônio; aerosil; óleo de silicone.
Apresenta-sesob a forma de pasta/pasta. A pro-
porção indicada para se preparar a mistura é de 1:1, em 
volume. O tempo de trabalho é de aproximadamente 4 
horas a 23°C, e o tempo de endurecimento é de cerca 
de 8 horas a 37°C.
Esse cimento apresenta boa capacidade seladora 
apical e excelente comportamento histológico, permi-
tindo o selamento biológico pela deposição de um te-
cido cementoide60. Ele possui atividade antibacteriana 
satisfatória e excelente escoamento, segundo achados 
de Siqueira et al.95. Saleh et al.84 compararam a adesão 
de vários cimentos endodônticos à dentina e à guta-
percha e revelaram que o AH Plus apresentou a maior 
capacidade adesiva dos materiais investigados. Ørsta-
vik et al.75 observaram que esse cimento apresentou 
ex pansão volumétrica de 0,4% depois de 4 semanas a 
até 0,9%. O bom selamento apical promovido por esse 
cimento é semelhante ao produzido pelo Sealer 26100.
Epiphany (Real-Seal)
O cimento Epiphany (Pentron Clinical Techno-
logies) ou Real-Seal (Sybron Endo) contém as resinas 
uretano dimetacrilato (UDMA), poli (etilenoglicol) di-
metacrilatos (PEGDMA), bisfenol A dimetacrilato eto-
xilado (EBPADMA), bisfenol-A-glicidildimetacrilato 
(BisGMA), designadas para uso com materiais sólidos 
à base de policaprolactona. Esse cimento ainda contém 
624 Capítulo 15  Materiais Obturadores
vidro borosilicato de bário tratado com silano, sulfa-
to de bário, sílica, hidróxido de cálcio, oxicloreto de 
bismuto com aminas, um fotoinibidor e pigmentos. O 
cimento Epiphany é um compósito de cura dual que 
autopolimeriza em cerca de 25 minutos. É acompanha-
do por um primer autocondicionante com ácido sulfô-
nico, hidroxietilmetacrilato (HEMA), água e iniciador 
de polimerização. Uma vez que o hipoclorito de sódio 
pode afetar negativamente a força de adesão do primer, 
depois da irrigação com essa substância deve-se irrigar 
com EDTA e água destilada ou solução salina. Clore-
xidina não afeta a força de adesão. Quando a obtura-
ção está completa, deve-se fotopolimerizar a superfície 
coronária do material por 40 segundos para promover 
um selamento coronário.
EndoRez
O EndoRez (Ultradent, EUA) é um cimento re-
sinoso hidrofílico de UDMA que apresenta bom mo-
lhamento das paredes do canal e escoamento para o 
interior de túbulos dentinários131. A propriedade hi-
drofílica melhora a capacidade seladora, mesmo se 
alguma umidade está presente no canal no momento 
da obturação76. EndoRez é introduzido no canal com 
agulhas Navitip gauge 30 (Ultradent) e o canal é obtu-
rado com a técnica do cone único ou pela compactação 
lateral. Cones de guta-percha recobertos com Endo-
Rez são também disponíveis comercialmente para uso 
com o cimento, favorecendo a união química de cone-
cimento. Os cones EndoRez encontram-se disponíveis 
em calibres conforme a padronização ISO.
Cimentos à base de ionômero de vidro
Em razão das várias propriedades benéficas que 
possui, tais como atividade antibacteriana, efeito ca-
riostático, adesão química à estrutura dentária e bio-
compatibilidade, os cimentos de ionômero de vidro 
têm sido amplamente utilizados em Odontologia como 
material forrador de cavidades, restaurador, selante 
de cicatrículas e fissuras e na cimentação de próteses 
fixas32,33,66,72,113,132. Devido a tais propriedades, seu uso 
como cimento endodôntico foi preconizado. O Ketac-
Endo (3M-ESPE, Alemanha) é o representante mais 
estudado desse grupo de cimentos. Atualmente, pare-
ce não haver qualquer cimento endodôntico à base de 
ionômero de vidro disponível comercialmente.
Cimentos à base de silicone
O RoekoSeal Automix (Dental Products, Lange-
nau, Alemanha) é um ci mento à base de silicone. Sua 
composição é a seguinte: polidimetilsiloxano, fluido 
de silicone, óleo à base de parafina, ácido hexacloro-
platínico e dióxido de zircônio. O cimento é colocado 
por meio de um aplicador de câmara dupla, o qual já 
mistura o cimento na dosagem apropriada. O aplica-
dor possui pontas misturadoras especiais e flexíveis, 
de emprego único, que permitem a aplicação do ci-
mento no canal. O material polimeriza por comple-
to, independentemente de umidade e temperatura. O 
tempo de trabalho é de 15-30 minutos e o de endure-
cimento é de 45-50 minutos. Há poucos estudos ava-
liando suas propriedades. Ørstavik et al.75 relataram 
que esse cimento expandiu até 0,2% em 4 semanas de 
avaliação, mas depois apresentou comportamento es-
tável. 
Foram avaliados histologicamente os tecidos pe-
rirradiculares de dentes de cães após a obturação com 
os cimentos RoekoSeal e AH Plus61. Não foram encon-
tradas diferenças estatisticamente significativas entre 
os dois cimentos quanto ao infiltrado inflamatório, à 
espessura do ligamento periodontal e à quantidade de 
reabsorção dentinária, cementária ou óssea.
Özok et al.77 testaram a capacidade de selamento 
da GuttaFlow, do RoekoSeal e do AH26 em canais ra-
diculares de dentes humanos extraídos. Os canais ob- 
turados com AH26 receberam a técnica da compacta-
ção lateral, ao passo que os canais obturados com Ro-
ekoSeal e GuttaFlow foram submetidos à técnica do 
cone único modificada. O modelo de penetração de 
glicose foi empregado no experimento. Os resultados 
mostraram diferenças estatisticamente significantes, 
evidenciando que a GuttaFlow apresentou os maiores 
valores de infiltração em todas as semanas. No entan-
to, a comparação entre RoekoSeal e AH26 não mostrou 
diferença significativa.
GuttaFlow
Em 2004, a Coltène/Whaledent Inc (EUA) intro-
duziu um material obturador que a frio apresenta bom 
escoamento e capacidade de autopolimerização. Esse 
material consiste na combinação da guta-percha com 
um cimento endodôntico em cápsulas que se acoplam 
a um sistema que permite a injeção direta do material 
no interior do canal radicular. GuttaFlow contém gu-
ta-percha finamente moída em partículas com menos 
de 30µm de diâmetro combinada com um cimento à 
base de polidimetilsiloxano (Fig. 15-8). Também con-
tém óleo de silicone, óleo de parafina, agente catalíti-
co de platina, dióxido de zircônio, nanopartículas de 
prata (conservante) e corante. Não contém eugenol. 
Materiais Obturadores 625
Esse material deve ser triturado em sua cânula e inje-
tado no canal para uso com um ou mais cones de guta-
percha. O fabricante relata que o material pode escoar 
para os canais laterais e preencher completamente os 
espaços entre o cone de guta-percha e as paredes do 
canal radicular. Além disso, como a técnica não envol-
ve a aplicação de calor, não é esperada a contração do 
material após o endurecimento. Ao contrário, afirma o 
fabricante que o material sofre expansão de 0,2% após 
o endurecimento. 
Uma vez que GuttaFlow é um novo material, exis-
tem relativamente poucos estudos que avaliam as suas 
propriedades. Embora GuttaFlow seja uma modifica-
ção do cimento RoekoSeal, os resultados dos estudos 
podem não ser os mesmos já encontrados, tendo em 
vista as diferentes composições dos dois materiais.
Mesmo apresentando um escoamento melhor do 
que a guta-percha na porção apical, foi recomendada a 
aplicação de uma barreira de MTA para uso quando do 
emprego da técnica de compactação vertical aquecida 
com GuttaFlow, para que não ocorra a extrusão apical 
do material26,134. 
Cimentos contendo hidróxido de cálcio
Devido aos vários efeitos biológicos benéficos 
atribuídos ao hidróxido de cálcio, seu emprego na 
obturação definitiva do sistema de canais radiculares 
passou a ser preconizado. Contudo, um material para 
ser usado com essa finalidade deve obedecer a certos 
requisitos físico-químicos e não apenas aos biológi-
cos. Nesse sentido, o hidróxido de cálcio apresenta 
alguns inconvenientes, uma vez que não é radiopaco, 
tem pouco escoamento, não tem boa viscosidade, é 
permeável e é solubilizado com o tempo. Daí a neces-
sidade de associá-lo a veículos e outras substâncias, 
visando a contornar tais deficiências. Todavia, o ideal 
seria melhorar as propriedades físico-químicas dessa 
substância sem contudo interferir em suas proprieda-des biológicas. Os materiais desse grupo, comumente 
pesquisados e conhecidos, são Sealapex, CRCS, Sealer 
26 e Apexit.
Sealapex
O cimento Sealapex (SybronEndo/Kerr, EUA) foi 
um dos primeiros cimentos endodônticos à base de hi-
dróxido de cálcio a ser comercializado. Ele se apresenta 
na forma pasta/pasta, contendo as seguintes substân-
cias em sua formulação:
Base: Óxido de cálcio; óxido de zinco; composto à 
base de sulfonamida; sílica.
Catalisador: Sulfato de bário; resina polimetileno 
metilsalicilato; dióxido de titânio; sílica; salicilato de 
isobutila; pigmentos.
Partes iguais da base e do catalisador devem ser 
dispensadas sobre uma placa de vidro e manipula-
das com uma espátula até que se obtenha uma mas-
sa homogênea. Recentemente, o fabricante lançou o 
Sealapex Xpress, com o cimento disponível em serin-
ga automix. Seu tempo de presa pode ser de no mí-
nimo 2 horas a 23°C. No canal radicular, a 37°C, com 
umidade relativa de 100%, a presa pode se dar em 1 
hora, segundo as informações do fabricante. Clinica-
mente, tem sido observado que resíduos de umidade 
no canal aceleram significativamente o endurecimen-
to do material, reforçando a necessidade imperiosa de 
se secar bem o canal antes de qualquer procedimento 
obturador.
O óxido de cálcio reage com a água e forma o hi-
dróxido de cálcio. A reação de presa do Sealapex ocor-
re por meio da ação quelante do componente salicilato 
Figura 15-8. Sistema Gut-
taFlow. (Gentileza da Coltè-
ne/Whaledent Inc.)
626 Capítulo 15  Materiais Obturadores
(no catalisador) sobre o óxido de cálcio/hidróxido de 
cálcio (na base), em uma base aquo sa, formando sali-
cilato de cálcio. As outras substâncias associadas à for-
mulação são responsáveis por radiopacidade, viscosi-
dade, fluidez, adesividade e escoamento da pasta. 
CRCS
O CRCS (Calciobiotic Root Canal Sealer), fabri-
cado pela Coltène/Whaledent Hygenic, apresenta-se 
na forma de pó (acondicionado em unidades con tendo 
0,4g em cada) e líquido, sendo que seus componentes 
básicos são:
Pó: Hidróxido de cálcio; óxido de zinco; resina hi-
drogenada; sulfato de bário; subcarbonato de bismuto.
Líquido: Eugenol; eucaliptol.
Esse material deve ser espatulado sobre uma pla-
ca de vidro, à temperatura ambiente, na proporção de 
duas a três gotas de líquido para cada dose de pó. A 
consistência desejada é densa e cremosa. A presa sobre 
a placa de vidro, em tempe ratura ambiente, se dá em 
cerca de 2 horas, enquanto no canal geralmente ocorre 
em 20 minutos. Calor e umidade aceleram a presa do 
material, que ocorre após a reação do eugenol com o 
óxido de zinco, formando eugenolato de zinco, e, pos-
sivelmente, com o hidróxido de cálcio, formando eu-
genolato de cálcio. A presença do eucaliptol no líquido 
visa a reduzir o excesso de eugenol livre após a reação 
de presa e permitir uma união química com a guta-per-
cha, uma vez que o eucaliptol é solvente desta.
Sealer 26
O Sealer 26 (Dentsply, Brasil) possui composição si-
milar à do AH 26, cimento à base de resina epóxica, utili-
zado por muitos anos em Endodontia. A diferença básica 
entre os dois cimentos é que o Sealer 26 possui hidróxido 
de cálcio em sua composição e não prata. Sua apresenta-
ção é na forma de pó e resina, essa última acondicionada 
em uma bisnaga. A composição básica é a seguinte:
Pó: Hidróxido de cálcio; óxido de bismuto; hexa-
metilenotetramina; dióxido de titânio.
Resina: Éter de bisfenol A diglicidil.
O material deve ser espatulado sobre uma placa 
de vidro, agregando-se o pó gradativamente à resina, 
até que se obtenha uma mistura lisa e homogênea que, 
quando levantada com o auxílio de uma espátula, se par-
te a uma altura de 1,5 a 2,5cm acima da placa de vidro. A 
proporção ideal é de aproximadamente duas a três partes 
de pó para uma de resina, por volume. Quanto maior a 
proporção de pó, maior a radiopacidade do produto.
A presa do material se dá em cerca de 48 a 60 horas 
em temperatura ambiente, enquanto no interior do ca-
nal radicular o Sealer 26 endurece em aproximadamen-
te 12 horas. Para que o cimento adquira maior fluidez, 
facilitando sua inserção no canal radicular, pode-se 
espalhá-lo na placa de vidro e aquecê-lo levemente a 
uma distância de 10 a 15cm de uma chama. Evidente-
mente, o aquecimento excessivo deve ser evitado.
O endurecimento se deve à reação entre a resina e 
a hexametilenotetramina, o agente ativador. É interes-
sante notar que o hidróxido de cálcio não participa da 
reação de presa do material.
Apexit
O Apexit (Ivoclar/Vivadent, EUA) apresenta-se 
no sistema pasta/pasta e o princípio de presa é similar 
ao do Sealapex, isto é, por meio da formação do que-
lato salicilato de cálcio. Sua composição básica é a se-
guinte:
Base: Hidróxido de cálcio; colofônia hidrogenada; 
dióxido de silício; óxido de cálcio; óxido de zinco; fos-
fato tricálcico; polimetilsiloxano; estearato de zinco.
Catalisador: Salicilato de trimetil-hexanodiol; car-
bonato de bismuto; óxido de bismuto; dióxido de silí-
cio; salicilato de 1-3 butanodiol; colofônia hidrogenada; 
fosfato tricálcico; estearato de zinco.
O material deve ser espatulado empregando-se 
volumes iguais de base e de catalisador, por 10 a 20 
segundos, até que se obtenha uma massa homogênea. 
O endurecimento no interior de um canal radicular de-
vidamente seco ocorre entre 10 e 30 horas. A presença 
de umidade acelera a presa.
Acroseal
O Acroseal (Septodont, França), cimento conten-
do hidróxido de cálcio e recentemente lançado no co-
mércio na forma pasta/pasta, é um cimento resinoso 
que contém hexametilenotetramina e éter de bisfenol 
A diglicidil, componente epóxico também presente no 
AH26 e Sealer 26. Assim como esses últimos, também 
libera formaldeído durante o endurecimento27,28. O fa-
bricante anuncia a incorporação de enoxolona (ácido 
glicirretínico) na composição, com o intuito de exercer 
efeitos antisséptico e anti-inflamatório. O tempo de en-
durecimento varia entre 16 e 24 horas.
 OUTROS MATERIAIS EMPREGADOS NA 
OBTURAÇÃO DOS CANAIS RADICULARES
Pasta L&C
A pasta L&C (Dentsply, Brasil) apresenta a se-
guinte composição:
Materiais Obturadores 627
Pó: Hidróxido de cálcio (65,6%); carbonato de bis-
muto (32,8%); colofônia (1,6%).
Veículo: Óleo de oliva purificado.
Graças à sua composição, a pasta apresenta boa 
radiopacidade, fluidez, adesividade e escoamento, o 
que permite sua fácil introdução no canal radicular. 
O veículo oleoso lhe confere pouca solubilidade, com 
liberação lenta e contínua de hidróxido de cálcio do 
interior das micelas formadas. Possui bom comporta-
mento biológico. É indicada para fechamento de perfu-
rações radiculares, obturação nos casos de rizogênese 
incompleta e na técnica do tampão apical63. Esse mate-
rial deve ser espatulado utilizando-se placa de vidro e 
espátula estéreis, agregando-se o pó ao veículo, até se 
obter uma massa pastosa, homogênea, e com consis-
tência de trabalho (massa de vidraceiro). É levada ao 
interior do canal com espirais de Lentulo.
Avaliações clínicas e radiográficas de tratamentos 
endodônticos de dentes com canais radiculares obtura-
dos com pasta L&C como cimento obturador ou como 
tampão apical têm revelado resultados positivos6,12,63.
Do ponto de vista biológico, Soares et al.104, em 
tratamento de dentes com rizogênese incompleta, ob-
servou a formação de uma barreira de tecido minera-
lizado.
Sonada e Okamoto107, avaliando a influência da 
pasta de hidróxido de cálcio com um veículo oleoso ou 
aquoso como curativo de canal em reimplante dental 
imediato em ratos, concluíram que:
• a falta de obturação do canal radicular no grupo-
controle resultou em maior incidência de reabsorção 
radicular e neoformação óssea menos pronunciada 
na região de fundo de alvéolo;
• o grupo tratado com pasta de hidróxido de cálcio e 
veículo oleoso (pasta L&C) apresentou neoformação 
óssea mais pronunciada na região de fundo de al- 
véolo do que o grupo tratado com veículo aquoso;
• o grupo tratado com pasta de hidróxido de cálcio e 
veículo oleoso(pasta L&C) apresentou menor inci-
dência de reabsorção radicular que o grupo tratado 
com pasta de hidróxido de cálcio e veículo aquoso.
Em outro estudo semelhante, porém com reim-
plante dental mediato (após 60 minutos), Sonada106 
concluiu que, no grupo em que foi utilizada pasta de 
hidróxido de cálcio com veículo oleoso (pasta L&C), 
áreas de reabsorção radicular foram encontradas no 
período de 10 dias; mantiveram-se constantes no perío- 
do de 60 dias; o grupo que recebeu pasta de hidróxido 
de cálcio com veículo oleoso (pasta L&C) apresentou 
melhor reparo na região de fundo de alvéolo.
Bittencourt et al.13, por meio de resultados histo-
lógicos, evidenciaram a viabilidade do uso de pastas 
de hidróxido de cálcio – com veículos hidrossolúveis e 
oleosos (pasta L&C) – para o recobrimento pulpar, per-
mitindo a manutenção da polpa em plenas condições 
funcionais, apta ao reparo, inclusive com a formação 
de barreira de tecido duro, na maioria dos casos.
Sulfato de cálcio
O sulfato de cálcio (Class Implant & R.L., Roma, 
Itália), comercialmente denominado Surgiplaster, apre- 
senta a seguinte composição:
Pó: sulfato de cálcio hemi-hidratado.
Líquido regular: solução aquosa de cloreto de sódio 
a 0,9%.
Líquido endurecedor: solução aquosa de sulfato de 
potássio a 4%.
É utilizado na forma de pasta obtida a partir do pó, 
tendo como veículo o líquido regulador. O líquido en-
durecedor é para acelerar o endurecimento da pasta.
Após a aplicação da pasta de sulfato de cálcio, 
nos casos em que se deseja um endurecimento rápido, 
pincela-se a sua superfície com a solução de sulfato de 
potássio.
É indicado para funcionar como uma barreira, evi-
tando o extravasamento do material utilizado como ob-
turador nas perfurações, reabsorções interna e externa, 
em dentes com rizogênese incompleta e como tampão 
apical. É facilmente reabsorvido e possui bom compor-
tamento biológico79,108. Esse material deve ser espatulado 
utilizando-se placa de vidro e espátulas estéreis, agre-
gando-se o pó ao veículo, até se obter uma massa pasto-
sa, homogênea e com consistência de trabalho (massa de 
vidraceiro). É levado ao sítio com espátulas e calcadores 
para cimento ou com espirais de Lentulo.
Agregado de trióxido mineral
O agregado de trióxido mineral (MTA) é um pó 
cinza ou branco composto de trióxidos combinados 
com outras partículas minerais hidrofílicas e que se 
cristaliza na presença de umidade. Seus principais 
componentes são o silicato tricálcio, silicato dicálcio, 
aluminato tricálcio, ferroaluminato tetracálcio, sulfa-
to de cálcio diidratado (gesso) e o óxido de bismuto, 
como radiopacificador. Pode ainda conter até 0,6% de 
resíduos insolúveis livres, como a sílica cristalina, e 
outros componentes, como óxido de cálcio, óxido de 
magnésio e sulfatos de sódio e de potássio.
628 Capítulo 15  Materiais Obturadores
O agregado de trióxido mineral está disponível no 
mercado odontológico com as denominações ProRoot‑
MTA (Dentsply, Tulsa Dental, EUA) e MTA – Angelus 
(Ângelus Odonto, Logika Ind. de Prod. Odontológica 
Ltda., Londrina, PR). O MTA é um material cuja com-
posição química é similar à do cimento Portland (ci-
mento empregado em construções) agregado a outras 
substâncias30,133.
O ProRoot‑MTA é composto aproximadamente 
de 75% de cimento Portland, 20% de óxido de bismuto 
(radiopacificador) e 5% de gesso. A embalagem pode 
conter um ou dois envelopes de 1g do produto, além 
de uma seringa aplicadora e três pequenas bisnagas 
contendo água destilada. É produzido na coloração 
cinza e branco.
O MTA-Angelus é composto de 80% de cimento 
Portland e 20% de óxido de bismuto. Não possui em 
sua fórmula o sulfato de cálcio (gesso), com o propósito 
de reduzir o tempo de presa, que se dá em 10 minutos. 
A embalagem contém um frasco com 2g e uma bisnaga 
contendo água destilada, além de um dosador plástico 
para dispensar o pó.
Experimentos em culturas de células1, subcutâneo 
de ratos47 e em pulpotomia e pulpectomia46 em dentes 
de cães mostraram comportamento biológico seme-
lhante entre o MTA e o cimento de Portland.
A hidratação do pó com água destilada, solução 
anestésica ou fisiológica resulta em um gel coloidal, o 
qual se solidifica em menos de três horas, o ProRoot‑
MTA, e ao redor de 10 minutos, o MTA-Angelus. Apre-
senta pH alcalino (em torno de 12,5) depois de ser ma-
nipulado. Após o endurecimento, o material se expan-
de, expansão essa responsável pelo selamento margi-
nal das cavidades. Com relação à adaptação marginal, 
tem melhor adaptação do que outros materiais usados 
com as mesmas finalidades. É pouco solúvel, e a mas-
sa obtida não se dilui quando em presença de líquidos 
teciduais, sendo uma vantagem sobre as pastas e os ci-
mentos à base de hidróxido de cálcio122-124.
A natureza hidrofílica das partículas do pó do 
MTA confere uma característica especial a esse mate-
rial, podendo ser empregado em presença de umidade, 
tal como ocorre durante os procedimentos clínicos em 
casos de perfurações, reabsorções e cirurgia perirradi-
cular, não necessitando de um campo seco. A umidade 
presente nos tecidos atua como um ativador da reação 
química de hidratação desse material. Outro aspecto é 
que a capacidade exibida pelo MTA provavelmente se 
deve à sua natureza seladora hidrofílica, uma vez que 
ocorre uma ligeira expansão quando ele é utilizado em 
ambiente úmido116,118.
Além de estimular a neoformação dentinária, 
o MTA apresenta atividade antibacteriana satisfató-
ria119, promove um selamento adequado, prevenindo 
a microinfiltração116,122,124, é biocompatível120 e não tem 
potencial carcinogênico56.
A atividade indutora de calcificação do MTA, 
provavelmente, se deve à capacidade que esse material 
tem para atrair os cementoblastos e produzir uma ma-
triz para a formação de cemento, o que seria determi-
nado pela sua propriedade seladora, seu elevado pH 
ou pela liberação de substâncias que ativariam os ce-
mentoblastos a formarem uma matriz para a formação 
de uma barreira de tecido duro117,121.
Outra teoria é que o MTA teria uma ação seme-
lhante à do hidróxido de cálcio. O óxido de cálcio do 
pó do MTA, ao se realizar a preparação da pasta com 
água, seria convertido em hidróxido de cálcio. Esse, 
por sua vez, em contato com os fluidos tissulares, se 
dissociaria em íons cálcio e hidroxila. Os íons cálcio, 
reagindo com o gás carbônico dos tecidos, dariam ori-
gem às granulações de calcita; junto a essas granula-
ções haveria acúmulo de fibronectina que permitiria 
adesão e diferenciação celular. Na sequência teríamos 
formação de uma ponte de tecido duro47.
O MTA deve ser preparado imediatamente antes 
de sua utilização. O pó deve ser misturado com água 
destilada estéril na proporção de 3:1 sobre uma placa 
de vidro, durante 30 segundos, com a ajuda de uma es-
pátula de metal ou plástico, exibindo na sequência uma 
consistência pastosa58. Se a área de aplicação do MTA 
for muito úmida, a umidade poderá ser reduzida com 
uma gaze seca ou cone de papel absorvente. A umidade 
excessiva torna difícil a manipulação do material. Quan-
do a mistura é muito seca, mais água deverá ser adicio-
nada. Em função de o MTA necessitar de umidade para 
endurecer, deixando-se o material sobre a placa de vi-
dro, ocorrerá a sua desidratação, dando-lhe um aspecto 
arenoso. Para evitar isso, recomenda-se a colocação de 
uma gaze umedecida em água sobre a pasta de MTA116.
Vários estudos têm demonstrado os excelentes 
resultados do MTA como material selador em perfu-
rações radiculares e de furca; como material selador de 
perfurações resultantes de reabsorções internas e exter-
nas comunicantes; como material retro-obturador em 
cirurgias perirradiculares; como material de apicifica-
ção e como tampão apical115.
Nos casos clínicos em que o MTA é levado à loja 
via cavidade pulpar, é recomendada, após a acomoda-
ção do material, a colocação de uma bolinha de algodão 
umedecida em água destilada por pelo menos 3 a 4 ho-
ras para manter a hidratação e permitir a solidificaçãoMateriais Obturadores 629
do material. Após esse período, remove-se a bolinha 
de algodão, procedendo-se à restauração definitiva do 
dente. Em algumas situações clínicas (perfuração de 
furca e tampão apical) é recomendado deixar a bolinha 
de algodão umedecida com água destilada em contato 
com o MTA durante 1 a 3 dias para continuar a solidi-
ficação do material115.
 NOVOS MATERIAIS
Recentemente foram desenvolvidos estudos so-
bre um novo material obturador à base de óxido de 
zinco e poliuretano e um novo cimento endodôntico 
fotoativado à base de uretano-acrilato/diacrilato tri-
propileno glicol49,57. Os estudos têm mostrado que esse 
material apresenta boas propriedades mecânicas e tér-
micas quando comparado à guta-percha e ao Resilon49. 
A resistência à tração e o módulo de elasticidade desse 
material foram acentuadamente mais altos do que da 
guta-percha e do Resilon. O ponto de fusão dos três 
materiais foi similar, já a variação de entalpia e o calor 
específico do novo material ficaram próximos aos da 
guta-percha, porém foram inferiores aos do Resilon. 
Esses resultados indicam que o novo material apre-
senta boas propriedades mecânicas e térmicas como 
material obturador. No entanto, mais estudos acerca 
de suas propriedades mecânicas devem ser realizados. 
Além disso, obviamente as suas propriedades biológi-
cas também devem ser testadas e comparadas aos ma-
teriais já consagrados pelo uso.
 PROPRIEDADES DOS MATERIAIS 
OBTURADORES
Propriedades biológicas
Biocompatibilidade
Qualquer material destinado ao uso biológico não 
deve apresentar citotoxicidade. Dessa forma, ele não 
irá interferir negativamente no processo de reparo dos 
tecidos com os quais está em contato. A guta-percha é 
bem tolerada pelos tecidos perirradiculares e a maioria 
dos cimentos endodônticos, embora apresente níveis 
variados de citotoxicidade antes da presa, usualmente 
perde esta propriedade após o endurecimento7,109. Uma 
vez que a agressão química causada pelos cimentos é 
transitória, deve-se reconhecer então que é incapaz de 
induzir e manter uma lesão perirradicular. Na obtu-
ração de um canal radicular, quando extravasados, os 
cimentos podem ter três destinos, dependendo de suas 
propriedades físico-químicas. Se solúveis, podem ser 
fagocitados ou se dissolver e ser eliminados na forma de 
pequenas moléculas ou íons. Se insolúveis, podem ser 
encapsulados por tecido conjuntivo fibroso, caracteriza-
do pelo predomínio de colágeno.
A biocompatibilidade de um cimento endodônti-
co depende diretamente de seus componentes, de seu 
tempo de presa e de sua solubilidade. Estudos têm de-
monstrado que a maioria dos cimentos endodônticos 
utilizados na obturação dos canais radiculares não ofe-
rece diferenças quanto ao índice de sucesso do trata-
mento. Isso é muito provavelmente devido ao fato de 
que a maioria desses materiais apresenta boas proprie-
dades seladoras e de biocompatibilidade. Embora exis-
tam alguns raros casos de fracassos associados à reação 
de corpo estranho ao material obturador70, na maioria 
da vezes a presença de micro-organismos é o principal 
elemento determinante do insucesso83,91,92,98 e não a to-
xicidade do material empregado. Esse dado ressalta o 
papel exercido por micro-organismos no processo de 
terapia endodôntica.
Eriksen et al.29 avaliaram os resultados do trata-
mento endodôntico utilizando três cimentos obtura-
dores: Procosol (à base de OZE), AH 26 (cimento resi-
noso) e Kloroperka NO (que consiste em guta-percha 
branca e clorofórmio). A avaliação se estendeu por 3 
anos. Os autores relataram que, embora a resposta à 
Kloroperka NO tenha sido ligeiramente inferior à dos 
outros dois cimentos, não houve diferença significante 
entre os grupos. Waltimo et al.128 também compararam 
os resultados clínico-radiográficos após tratamento 
utilizando os cimentos Sealapex, CRCS e Procosol, os 
dois primeiros contendo hidróxido de cálcio e o últi-
mo à base de OZE. Seus resultados demonstraram que 
no geral a influência do cimento no resultado do trata-
mento foi mínima. Após 3 a 4 anos de avaliação, não 
houve diferença significante entre os grupos quanto ao 
índice de sucesso do tratamento.
Com os cimentos à base de óxido de zinco-euge-
nol, quando na intimidade do tecido perirradicular, à 
medida que ocorre o decréscimo de sua citotoxicida-
de aparece uma cápsula fibrosa cuja espessura tende 
a ser proporcional ao potencial irritante do material. 
Essa cápsula tende a isolar o material do tecido perir-
radicular. Nesse caso, diz-se que a reparação é feita por 
cicatrização.
Os cimentos à base de hidróxido de cálcio provo-
cam necrose por coagulação dos tecidos submetidos a 
seu contato íntimo, sendo que o tecido imediatamente 
subjacente reage pela deposição de tecido calcificado, 
desde que seja dotado dessa capacidade (exemplo: li-
gamento periodontal).
630 Capítulo 15  Materiais Obturadores
Os inúmeros efeitos biológicos do hidróxido de 
cálcio estão relacionados com a sua dissociação em 
meio aquoso, liberando íons cálcio e hidroxila. Apesar 
de haver na literatura controvérsias quanto ao verda-
deiro papel dos íons cálcio, parece existir um consenso 
quanto ao fato de os íons hidroxila exercerem um pa-
pel importante na resposta tecidual a essa substância.
A simples presença do hidróxido de cálcio em um 
produto não é garantia de suas propriedades terapêu-
ticas. Torna-se evidente então que, para um material 
contendo hidróxido de cálcio em sua formulação indu-
zir efeitos similares aos da substância pura, ela deve ser 
liberada da massa obturadora. Para isso, o hidróxido 
de cálcio deve ser utilizado na composição do cimento, 
em excesso ao necessário para a reação de presa, de for-
ma que assim possa ser liberado e ter ação terapêutica 
ou, então, que o hidróxido de cálcio não participe da 
reação química de endurecimento, estando assim livre 
para exercer seus efeitos. Além disso, se a matriz do 
cimento possuir grupos polares que permitam a entra-
da de água, haverá uma difusão reversa de soluções 
aquosas de hidróxido de cálcio, que alcalinizarão o 
meio circunjacente. Uma matriz hidrofóbica ou a adi-
ção de outras substâncias ao produto podem interferir 
em sua atividade.
Tem sido demonstrado que o Sealapex apresenta 
liberação iônica extensa e gradual, capaz de alcalinizar 
o meio37,96,101,114. Em estudo de Siqueira et al.101, foi veri-
ficado que quatro cimentos à base de hidróxido de cál-
cio foram capazes de alcalinizar o meio de forma cons-
tante, tanto recém-preparados quanto já endurecidos, 
mas em diferentes magnitudes. O Sealapex apresentou 
os valores mais elevados, o que está relacionado com 
sua alta solubilidade. O CRCS, apesar de alcalinizar o 
meio, sempre apresentou uma tendência a diminuir 
seus valores de pH com o decorrer do tempo. Isso pro-
vavelmente ocorreu pelo fato de no líquido do produto 
estarem presentes dois componentes ácidos (eugenol 
e eucaliptol) que podem ser liberados lentamente. O 
Sealer 26, um cimento resinoso, foi capaz de alcalinizar 
o meio, mesmo endurecido. Esses dados discordam da 
afirmativa de que a trama resinosa impede a difusão 
do medicamento. Pelo menos para o Sealer 26 isso não 
ocorreu. Acreditamos que, por não participar da reação 
de presa, o hidróxido de cálcio fica embebido na malha 
resinosa e a sua liberação dependerá do grau de con-
densação e compactação dessa malha, e possivelmente 
da natureza hidrofílica da matriz. O Apexit também foi 
capaz de alcalinizar o meio em todos os períodos de 
tempo avaliados. Resultados similares entre Apexit e 
Acroseal foram observados por Eldeniz et al.27.
Um estudo avaliando a alcalinização dentinária 
por alguns compostos contendo hidróxido de cálcio 
demonstrou que o Sealapex promove elevação de pH 
moderada na dentina em contato direto com ele, desde 
que a smear layer tenha sido removida111. Nenhum efei-
to significativo foi observado na dentina mais distante 
do material. O Apexit não promoveu alcalinização da 
dentina em contato direto comele.
Além de ser biocompatível, tem sido demons-
trada a formação de selamento biológico do forame 
apical por cemento neoformado em canais obturados 
com Sealapex45 (Fig. 15-9). Soares et al.105, testando os 
efeitos dos cimentos Sealapex, CRCS e OZE sobre os 
tecidos perirradiculares de cães após a obturação, en-
contraram resultados diferentes daqueles de Holland 
e Souza45 para o Sealapex. Verificaram que não hou-
ve evidência de que os cimentos contendo hidróxido 
de cálcio estimulem o reparo tecidual. A resposta dos 
tecidos perirradiculares ao Sealapex e ao CRCS foi si-
milar àquela do cimento de OZE. Embora a deposição 
de cimento neoformado tivesse causado um estreita-
mento da abertura foraminal em muitos casos, inde-
pendentemente do cimento empregado, em nenhum 
dos espécimes foi observado o selamento completo do 
forame. Em todos os casos de sobreobturação houve o 
Figura 15-9. Corte histológico de dente de cão após obturação do 
canal radicular com guta-percha e cimento Sealapex (180 dias). Se-
lamento biológico do forame apical por neoformação cementária. 
(Gentileza do Dr. Roberto Holland.)
Materiais Obturadores 631
desenvolvimento de uma reação inflamatória crônica 
nos tecidos perirradiculares.
Beltes et al.10 avaliaram a citotoxicidade de três 
cimentos contendo hidróxido de cálcio em suas formu-
lações, mediante um modelo de cultura de células. A 
partir dos resultados obtidos, esses autores concluíram 
que o cimento mais citotóxico foi o Sealapex, seguido 
do CRCS e do Apexit.
Na verdade, todos esses cimentos contendo hi-
dróxido de cálcio contêm substâncias citotóxicas em 
suas formulações. Sealapex, CRCS e Apexit possuem 
compostos à base de zinco em suas composições. O 
CRCS possui eugenol e eucaliptol, substâncias de re-
conhecida atividade citotóxica. O Sealapex possui dió-
xido de titânio, que pode se difundir para os tecidos e 
induzir uma reação de corpo estranho135. A hexametile-
notetramina presente nos cimentos Sealer 26 e Acrose-
al se decompõe em meio aquoso, gerando formaldeído 
e amônia, substâncias reconhecidamente citotóxicas. 
Todavia, cumpre relembrar que a maior parte dos es-
tudos tem demonstrado que a citotoxicidade desses 
materiais é reduzida com o decorrer do tempo. Isso 
provavelmente se dá devido ao endurecimento do ma-
terial, o que permite uma redução da solubilidade e, 
consequentemente, da liberação de componentes cito-
tóxicos. Por exemplo, a liberação de formaldeído pelo 
AH 26, similar ao Sealer 26, é máxima nas primeiras 
48 horas, tendendo a reduzir-se significativamente de-
pois, justificando assim a citotoxicidade transitória do 
material109.
Pinna et al.80 compararam a citotoxidade do Me-
taSEAL (Parkell Inc), um cimento à base de resina me-
tacrilato, com um cimento resinoso (AH Plus Jet) e um 
cimento à base de óxido de zinco e eugenol (Pulp Ca‑
nal Sealer). Todos os cimentos apresentaram toxicidade 
grave até 72 horas. Após esse período ela foi diminuin-
do durante o experimento, exceto o Pulp Canal Sealer, 
que permaneceu muito tóxico. O MetaSEAL foi mais 
tóxico que o AH Plus Jet na primeira semana.
Heitman et al.44 estudaram a citotoxicidade do 
cimento Epiphany em várias concentrações sobre fi-
broblastos do ligamento periodontal humano. O efeito 
da concentração, de 25 a 800g/mL, do cimento sobre 
a viabilidade celular foi avaliado em 1, 3 e 7 dias. Os 
resultados mostraram significativa citotoxicidade do 
Epiphany contra os fibroblastos, que aumentou com 
o maior tempo de exposição e maior concentração do 
cimento.
A citotoxicidade dos cimentos endodônticos pode 
ser alterada pela aplicação de calor nas técnicas de ob-
turação. Quando se emprega o Sealapex, o aumento da 
temperatura não afeta a sua toxicidade, ao passo que 
usando o AH Plus a sua citotoxicidade diminui. Por 
outro lado, alguns cimentos apresentam maior citoto-
xicidade quando aquecidos, como é o caso do Pulp Ca‑
nal Sealer e Roth 80171.
Os cones de guta-percha, quando em contato com 
os tecidos perirradiculares, estimulam a formação de 
uma cápsula fibrosa, envolvendo-os. Entretanto, po-
dem existir situações em que o cone extravasado é de 
pequeno diâmetro e, com o passar do tempo, pode ser 
reabsorvido por meio de um fenômeno físico-químico 
de solubilidade e desintegração e, também, mediante 
ação macrofágica59.
Atividade antimicrobiana
Além de ser biocompatível, o cimento endodônti-
co deve possuir atividade antimicrobiana para destruir 
micro-organismos que tenham sobrevivido ao preparo 
químico-mecânico. Outrossim, materiais seladores com 
essa propriedade podem eliminar micro-organismos 
presentes em canais de microinfiltração, prevenindo 
assim a entrada ou saída destes do sistema de canais 
radiculares.
Pumarola et al.81 testaram a atividade antimi-
crobiana de vários cimentos usados em Endodontia 
contra 120 cepas de Staphylococcus aureus. Eles relata-
ram que os cimentos à base de óxido de zinco e euge-
nol, paraformaldeído ou resinas apresentaram maior 
atividade inibitória do que o Sealapex, o de menor efei-
to antimicrobiano.
Al-Khatib et al.3 avaliaram os efeitos antibacteria-
nos de vários cimentos endodônticos sobre Streptococ‑
cus mutans, S. aureus e Porphyromonas endodontalis. Eles 
verificaram que o cimento de Grossman foi o de maior 
atividade. Contudo, o AH 26 foi mais eficaz contra a P. 
endodontalis. No geral, os cimentos à base de óxido de 
zinco-eugenol, como o de Grossman, o Tubli-Seal e o 
CRCS (embora também contenha hidróxido de cálcio), 
foram mais eficazes que a eucapercha (guta-percha + 
eucaliptol) e o cimento (Sealapex) e pastas contendo 
hidróxido de cálcio.
Siqueira e Gonçalves97 avaliaram a atividade an-
tibacteriana dos cimentos Sealapex, Sealer 26 e Ape-
xit, à base de hidróxido de cálcio, comparando-os ao 
Fill Canal, cimento à base de óxido de zinco-eugenol, 
contra bactérias anaeróbias estritas comumente asso-
ciadas às infecções endodônticas. Os resultados reve-
laram que o Fill Canal apresentou a maior atividade 
inibitória de crescimento. Isso ocorreu por causa do 
seu conteúdo de zinco e, principalmente, de eugenol. 
O Sealer 26 foi o segundo de maior atividade, apenas 
632 Capítulo 15  Materiais Obturadores
não sendo eficaz contra P. endodontalis e Porphyromo‑
nas gingivalis (Fig. 15-10). Embora contenha hidróxido 
de cálcio em sua formulação, essa substância não pa-
rece ser a principal responsável por essa propriedade 
do cimento. A hexametilenotetramina, elemento ati-
vador da presa da resina do cimento, presente no Sea-
ler 26, se decompõe, em meio aquoso, em formaldeído 
e amônia. O formaldeído possui excelente atividade 
antibacteriana. O Sealapex apenas apresentou eficácia 
contra duas espécies bacterianas, enquanto o Apexit 
foi inerte.
A atividade antibacteriana dos cimentos conten-
do hidróxido de cálcio depende dos seguintes fatores:
•	 pH	e	solubilização	do	material.	Para liberar substâncias 
ativas contra micro-organismos o material deve se 
solubilizar. Essa propriedade pode interferir negati-
vamente no selamento produzido pela obturação.
•	 Presença	de	hidróxido	de	 cálcio	 livre	no material, que 
não tenha participado da reação de presa.
•	 Difusibilidade	do	material.	O hidróxido de cálcio apre-
senta baixa solubilidade e se difunde pouco. Para 
exercer efeito antibacteriano, ele deve alcalinizar o 
pH do meio circundante em magnitude suficiente 
para ser letal às bactérias. A alcalinização do meio 
de cultura e da dentina radicular pela ação do hidró-
xido de cálcio não é na maioria das vezes suficiente 
para esse intento. 
•	 Presença	de	outras	substâncias	com	atividade	antibacteria‑
na, como eugenol no CRCS e formaldeído (pela de-
composição da hexametilenotetramina) no Sealer 26.
Slutzky-Goldberg et al.103 avaliaram as proprie-
dades antibacterianas de quatro cimentos endodônti-
cos – AH Plus, Apexit Plus, Epiphany SE e RoekoSeal 
– quando em contato com E. faecalis. Os materiais fo-
ram utilizados logo após o tempo de presa e 1, 2, 7 
e 14 dias após. Os resultados

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