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Profa. Dra. Fernanda Doretto UNIDADE I Lei de Liberdade Econômica e o Código Civil Que é liberdade econômica? Quais os principais objetivos da Lei de Liberdade Econômica? Quais os principais aspectos da Lei de Liberdade Econômica? Como surgiu a Lei de Liberdade Econômica? Principais objetivos da Lei de Liberdade Econômica Origem na Medida Provisória n. 881, de 30 de abril de 2019. Art. 20 – Modificações do Código Civil entrariam em vigor 90 dias após a publicação da lei. Demais dispositivos – vigência imediata. Veto presidencial – vigência imediata – sob a seguinte justificativa: “A propositura legislativa, ao estabelecer o prazo de noventa dias para a entrada em vigor dos arts. 6º ao 19 do projeto de lei, contraria o interesse público por prorrogar em demasia a vigência de normas que já estão surtindo efeitos práticos na modernização do registro público de empresas, simplificação dos procedimentos e adoção de soluções tecnológicas para a redução da complexidade, fragmentação e duplicidade de informações, entre outros. Nestes termos, deve prevalecer a norma do inciso II do art. 20, que estabelece a vigência imediata do projeto de lei, na data de sua publicação”. Lei de Liberdade Econômica (Lei 13.874/2019) – Vigência Erro de redação do artigo 20, inciso II, da Lei da Liberdade Econômica. Art. 1º LINDB: “Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de, oficialmente, publicada”. Vigência à partir da publicação ou conforme o artigo 1º, LINDB Analise as assertivas a seguir: I. A Exposição de Motivos da Medida Provisória n. 881, posteriormente, convertida na Lei de Liberdade Econômica, justifica a sua criação com o objetivo de limitar a atuação do Estado quanto ao controle do exercício das atividades econômicas, tentando afastar a situação de desmedida interferência estatal que coloca o empresário brasileiro, em contraposição ao resto do mundo desenvolvido e emergente, em situação de insegurança para investir, produzir, gerar empregos e renda; II. Tomando por base os princípios que nortearam a Lei de Liberdade Econômica e ensejaram diversas alterações na legislação infraconstitucional, há de se exaltar a vertente liberal para o exercício de atividades econômicas, buscando afastar o intervencionismo estatal, em especial nas atividades econômicas, nos investimentos e nas relações empresariais; Interatividade III. A boa-fé objetiva, conquanto já consagrada no Código Civil de 2002, foi alçada à categoria de princípio da Liberdade Econômica como a verdadeira regra filosófica inspiradora da nova legislação, de acordo com a diretriz básica do princípio da eticidade, visando regular a correção de conduta em âmbitos gerais; IV. A liberdade econômica é vista como um fator cientificamente necessário e preponderante, para o desenvolvimento e o crescimento econômico de um país, primordialmente, diante da crise sanitária mundial provocada pela COVID-19. Assinale a alternativa correta: a) Todas as assertivas estão corretas. b) Apenas as assertivas II e III estão incorretas. c) Apenas as assertivas I e II estão incorretas. d) Apenas a assertiva I está incorreta. e) As alternativas I, II e III estão incorretas. Interatividade III. A boa-fé objetiva, conquanto já consagrada no Código Civil de 2002, foi alçada à categoria de princípio da Liberdade Econômica como a verdadeira regra filosófica inspiradora da nova legislação, de acordo com a diretriz básica do princípio da eticidade, visando regular a correção de conduta em âmbitos gerais; IV. A liberdade econômica é vista como um fator cientificamente necessário e preponderante, para o desenvolvimento e o crescimento econômico de um país, primordialmente, diante da crise sanitária mundial provocada pela COVID-19. Assinale a alternativa correta: a) Todas as assertivas estão corretas. b) Apenas as assertivas II e III estão incorretas. c) Apenas as assertivas I e II estão incorretas. d) Apenas a assertiva I está incorreta. e) As alternativas I, II e III estão incorretas. Resposta Inclusão do artigo 49-A no Código Civil. A polêmica do artigo 20 do Código Civil de 1916 (“As pessoas jurídicas tem existência distinta da dos seus membros”.) e a sua não inclusão no Código Civil de 2002. Redação do novo artigo: “A pessoa jurídica não se confunde com os seus sócios, associados, instituidores ou administradores; Parágrafo único. A autonomia patrimonial das pessoas jurídicas é um instrumento lícito de alocação e segregação de riscos, estabelecido pela lei com a finalidade de estimular os empreendimentos, para a geração de empregos, tributo, renda e inovação em benefício de todos”. AFINAL, O QUE MUDA COM A INCLUSÃO DESTE DISPOSITIVO? Pessoa Jurídica – Artigo 49-A, CC “Considera-se pessoa jurídica a entidade à qual a lei confere aptidão para a titularidade de direitos e obrigações na ordem civil. Trata-se de ente dotado de personalidade jurídica própria e independente daquela de seus membros. A pessoa jurídica, também chamada de pessoa moral, não se confunde com a pessoa física ou natural (pessoa humana), embora seja dotada, assim como esta, de subjetividade. Ao lado das pessoas humanas, o ordenamento atribui subjetividade às pessoas jurídicas, de modo a possibilitar que sejam sujeitos de direito, contraindo, em próprio nome, direitos e obrigações”. (TEPEDINO & OLIVA, 2021, p. 123) Conceito de Pessoa Jurídica “[...] foi com o capitalismo mercantil que as pessoas jurídicas se proliferaram, delineando-se instrumento decisivo para o desenvolvimento econômico e social. Com efeito, a autonomia patrimonial, característica inerente à personalidade jurídica (CC, art. 49-A), permitiu formidável mobilização de recursos para o atendimento de interesses privados e públicos – já que, também, o Estado contemporâneo se apresenta sob forma eminentemente organizacional”. (TEPEDINO & OLIVA, 2021, p. 123) Pessoa Jurídica e Livre Iniciativa Assinale a alternativa correta: a) A Lei da Liberdade Econômica apresenta uma redação legislativa técnica sem qualquer tipo de viés ideológico. b) O artigo 49-A repete a redação do artigo 20 do Código Civil de 1916. c) O Código Civil de 2002, antes da promulgação da Lei da Liberdade Econômica, promovia a segregação da pessoa jurídica da pessoa de seus sócios, por meio de um artigo indicando, expressamente, a diferenciação das personalidades jurídicas. d) Muito embora não repetisse a redação do artigo 20 do Código Civil de 1916, o Código Civil de 2002 trazia, em seu bojo, antes mesmo da promulgação da Lei da Liberdade Econômica, dispositivos que permitiam concluir pela segregação das personalidades jurídicas da pessoa jurídica e de seus sócios. e) O conceito de pessoa jurídica, com personalidade jurídica diversa da personalidade dos sócios, só foi implantado em um nosso sistema por meio do Código Civil de 2002. Interatividade Assinale a alternativa correta: a) A Lei da Liberdade Econômica apresenta uma redação legislativa técnica sem qualquer tipo de viés ideológico. b) O artigo 49-A repete a redação do artigo 20 do Código Civil de 1916. c) O Código Civil de 2002, antes da promulgação da Lei da Liberdade Econômica, promovia a segregação da pessoa jurídica da pessoa de seus sócios, por meio de um artigo indicando, expressamente, a diferenciação das personalidades jurídicas. d) Muito embora não repetisse a redação do artigo 20 do Código Civil de 1916, o Código Civil de 2002 trazia, em seu bojo, antes mesmo da promulgação da Lei da Liberdade Econômica, dispositivos que permitiam concluir pela segregação das personalidades jurídicas da pessoa jurídica e de seus sócios. e) O conceito de pessoa jurídica, com personalidade jurídica diversa da personalidade dos sócios, só foi implantado em um nosso sistema por meio do Código Civil de 2002. Resposta Redação antiga“caput”: “Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares de administradores ou de sócios da pessoa jurídica”. Nova redação “caput”: “Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, desconsiderá-la para que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares de administradores, ou de sócios da pessoa jurídica beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso”. Desconsideração da Personalidade Jurídica – Artigo 50, CC O que diz o CDC: “Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito, ou violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração. § 1° (Vetado). § 2° As sociedades integrantes dos grupos societários e as sociedades controladas são subsidiariamente responsáveis pelas obrigações decorrentes deste código. § 3° As sociedades consorciadas são solidariamente responsáveis pelas obrigações decorrentes deste código. § 4° As sociedades coligadas só responderão por culpa. § 5° Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que a sua personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores. Código Civil X Código de Defesa do Consumidor Teoria Maior – Código Civil – prova da fraude ou do abuso de direito. Teoria Menor – Mais ampla e benéfica ao consumidor, não exigindo a prova de fraude ou o abuso de direito. Também não é necessária a prova da confusão patrimonial, bastando que o consumidor demonstre o estado de insolvência do fornecedor ou o fato de a personalidade jurídica representar um obstáculo ao ressarcimento dos prejuízos causados. Teoria Maior e Teoria Menor Agravo de Instrumento – Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo: Processo n. 2174032-18.2021.8.26.0000; Relator(a): Alcides Leopoldo; Órgão Julgador: 4ª Câmara de Direito Privado. Ementa: Agravo de Instrumento. Cumprimento de sentença – Desconsideração da personalidade jurídica – Teoria Maior – Inteligência do art. 50 do CC – Não comprovação de desvio de personalidade jurídica caracterizada pelo abuso ou desvio da personalidade – Não basta para a desconsideração a ausência de patrimônio da empresa aliada ao seu encerramento irregular – Julgados do STJ – Recurso desprovido. Atenção para a jurisprudência: “No caso, não restou demonstrado o abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de personalidade ou confusão patrimonial, não bastando, para tanto, o fato de não possuir bens ou de não mais funcionar no endereço informado no contrato social, mesmo porque ‘a jurisprudência do STJ firmou o entendimento no sentido de que a existência de indícios de encerramento irregular da sociedade, aliada à falta de bens capazes de satisfazer o crédito exequendo não constituem motivos suficientes para a desconsideração da personalidade jurídica; eis que se trata de medida excepcional e está subordinada à efetiva comprovação do abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial’”. (AgInt. no REsp. 1859165/AM, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em 29/06/2020, DJe 03/08/2020) Trecho importante do Acórdão A desconsideração da personalidade da pessoa jurídica foi consagrada, definitivamente, no Brasil, pelo Código de Defesa do Consumidor, para, depois, ser encartada no art. 50 do Código Civil. Sobre o tema em questão, é correto afirmar que: a) A teoria menor, acolhida em nosso ordenamento jurídico no Direito do Consumidor, incide com a prova de insolvência da pessoa jurídica para o pagamento de suas obrigações, diante da existência de desvio de finalidade ou de confusão patrimonial. b) A teoria maior da desconsideração, excepcional no sistema jurídico brasileiro, pode ser aplicada com a mera demonstração de estar a pessoa jurídica insolvente para o cumprimento de suas obrigações. c) Para a teoria menor, o risco empresarial normal às atividades econômicas não pode ser suportado pelo terceiro que contratou com a pessoa jurídica, mas pelos sócios e/ou administradores desta, ainda que estes demonstrem uma conduta administrativa proba. Interatividade d) Para a teoria maior, a aplicação da desconsideração da personalidade jurídica restringe-se à hipótese da prática de ato irregular, atingindo todos os sócios e administradores da pessoa jurídica em questão. e) A desconsideração da personalidade jurídica, contida no Código Civil, não tem qualquer distinção da desconsideração da personalidade jurídica prevista no Código de Defesa do Consumidor. Ambas se utilizam da teoria maior. Interatividade c) Para a teoria menor, o risco empresarial normal às atividades econômicas não pode ser suportado pelo terceiro que contratou com a pessoa jurídica, mas pelos sócios e/ou administradores desta, ainda que estes demonstrem uma conduta administrativa proba. Resposta Caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial: Desvio de Finalidade – Pessoa Jurídica que atua em desacordo com o que prevê o seu Contrato Social; Objetivo de lesar os credores – conforme previsto no parágrafo primeiro do artigo 50, CC; Parágrafo primeiro: “Para os fins do disposto neste artigo, desvio de finalidade é a utilização da pessoa jurídica com o propósito de lesar credores e para a prática de atos ilícitos de qualquer natureza”. Abuso de personalidade Confusão Patrimonial – bens da pessoa física do sócio se confundem com o patrimônio societário ou empresarial. Ausência de separação de fato entre os patrimônios – conforme previsto no parágrafo segundo do artigo 50, CC. § 2º Entende-se por confusão patrimonial a ausência de separação de fato entre os patrimônios, caracterizada por: I. Cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do sócio ou do administrador, ou vice-versa; II. Transferência de ativos ou de passivos sem efetivas contraprestações, exceto os de valor, proporcionalmente, insignificante; e III. Outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial. § 3º O disposto no caput e nos §§ 1º e 2º deste artigo também se aplica à extensão das obrigações de sócios ou de administradores à pessoa jurídica. Desconsideração da Personalidade Jurídica – Artigo 50, CC § 4º A mera existência de grupo econômico sem a presença dos requisitos de que trata o caput deste artigo não autoriza a desconsideração da personalidade da pessoa jurídica. § 5º Não constitui desvio de finalidade a mera expansão ou a alteração da finalidade original da atividade econômica específica da pessoa jurídica. Desconsideração da Personalidade Jurídica – Artigo 50, CC A respeito da desconsideração da personalidade jurídica, a melhor doutrina aponta à existência de duas grandes doutrinas. A respeito dessas teorias é correto afirmar que: a) A teoria maior é aquela adotada pelo Código de Defesa do Consumidor. b) A teoria menor foi a adotada pelo Código Civil brasileiro e, para ser deferida, exige a presença de dois requisitos: o abuso da personalidade jurídica somado ao prejuízo ao credor. c) A teoria maior é a adotada pelo Código de Defesa do Consumidor e exige, como único elemento, o prejuízo do credor. d) A teoria maior foi a adotada pelo CódigoCivil brasileiro e, para ser deferida, exige a presença de dois requisitos: o abuso da personalidade jurídica somado ao prejuízo ao credor. e) O direito brasileiro admite, apenas, a existência da teoria menor, que foi a adotada pelo Código Civil brasileiro. Interatividade A respeito da desconsideração da personalidade jurídica, a melhor doutrina aponta à existência de duas grandes doutrinas. A respeito dessas teorias é correto afirmar que: a) A teoria maior é aquela adotada pelo Código de Defesa do Consumidor. b) A teoria menor foi a adotada pelo Código Civil brasileiro e, para ser deferida, exige a presença de dois requisitos: o abuso da personalidade jurídica somado ao prejuízo ao credor. c) A teoria maior é a adotada pelo Código de Defesa do Consumidor e exige, como único elemento, o prejuízo do credor. d) A teoria maior foi a adotada pelo Código Civil brasileiro e, para ser deferida, exige a presença de dois requisitos: o abuso da personalidade jurídica somado ao prejuízo ao credor. e) O direito brasileiro admite, apenas, a existência da teoria menor, que foi a adotada pelo Código Civil brasileiro. Resposta https://diariodocomercio.com.br/opiniao/um-ano-de-vigencia-da-lei-de-liberdade-economica https://flaviotartuce.jusbrasil.com.br/artigos/760633426/a-lei-da-liberdade-economica-lei- 13874-2019-e-os-seus-principais-impactos-para-o-direito-civil-parte-i https://www.migalhas.com.br/depeso/313017/a--lei-da-liberdade-economica---lei-13-874-19-- e-os-seus-principais-impactos-para-o-direito-civil--segunda-parte https://www.conjur.com.br/2019-dez-30/direito-civil-atual-lei-liberdade-economica-bem-vinda https://www.migalhas.com.br/depeso/304368/contrato--funcao-social-e-reforma-legislativa-- notas-sobre-o-art--421-do-codigo-civil-apos-a-mp-da-liberdade-economica TEPEDINO, G.; OLIVA, M. D. Fundamentos do Direito Civil – v. 1: Teoria Geral do Direito Civil. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021. Referências ATÉ A PRÓXIMA!