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Números reais Jaime Utria Atenção: Este é um material preparação, portanto erros podem aparecer. 1 Valor Absoluto (ou módulo) Seja x ∈R, definimos |x |= x se x > 0, |0|=0 e |x |=−x se x < 0. Note que |x |=max{x ,− x }, em que max{a ,b } denota o maior entre a e b . Daí, temos que −|x | ≤ x ≤ |x |, para qualquer x ∈R. Teorema 1.1. Se x ,y ∈R, então |x + y | ≤ |x |+ |y | e |x · y |= |x | · |y |. Teorema 1.2. Sejam a ,x ,δ ∈R. Tem-se que |x −a |<δ se, e somente se, a −δ < x < a +δ. Demonstração. Por definição, temos que |x −a |=max{x −a ,−(x −a )}. Logo, |x −a |< δ se, e somente se, x −a < δ e −(x −a )< δ(⇔ x −a >−δ), o que é equivalente a dizer que a −δ < x < a +δ. Existem conjuntos de números reais especiais, esses conjuntos são os chamados de interva- los: • [a ,b ] = {x ∈R : a ≤ x ≤ b } - intervalo fechado. • (a ,b ] = {x ∈R : a < x ≤ b } - intervalo semiaberto à esquerda (fechado à direita). • [a ,b ) = {x ∈R : a ≤ x < b } - intervalo semiaberto à direita (fechado à esquerda). • (a ,b ) = {x ∈R : a < x < b } - intervalo aberto. Observação. Com o auxilio de intervalos, dizer que |x − a | < δ é equivalente a dizer que x ∈ (a −δ, a +δ). Essa notação, será muito útil quando estudemos o conceito de ‹‹limite›› de uma sequência. 1 2 Axioma de completitude Antes de enunciar o axioma, precisamos de algumas definições: Um conjunto X ⊆ R diz-se limitado superiormente quando existe algum b ∈ R, tal que x ≤ b para todo x ∈ X . Neste caso diz-se que b é uma cota superior para X . Um conjunto X ⊆ R diz-se limitado inferiormente quando existe algum b ′ ∈ R, tal que x ≥ b ′ para todo x ∈ X . Neste caso diz-se que b é uma cota inferior para X . Se X ⊆ R é limitado inferior e superiormente, diz-se que X é um conjunto limitado, ou seja, se existe K > 0 tal que |x | ≤ K para todo x ∈ X . Todo conjunto não-vazio, limitado superiormente, X ⊂R possui supremo b = sup X . 3 Exemplos Exemplo 3.1. 10 é uma cota superior de S = {−3, 1/2, 4, 2}, também 5, ou 4 são cotas superiores. Note que 4 ∈ S, neste caso 4 chama-se máximo de S. Exemplo 3.2. 1 é uma cota superior de S = {1/2,2/3,3/4, . . .} = {n/(n + 1) : n ∈ N} pois 1> n/(n +1) para qualquer n ∈N. Note que 1 /∈ S. Exemplo 3.3. 2 é uma cota superior do conjunto T = {x ∈Q : x ≥ 0, x 2 < 2}. Com efeito, se 2 não fosse uma cota superior de T , então 2< x para todo x ∈ T , mas como x ∈ T , temos que x 2 < 2 absurdo! 4 Supremo e Ínfimo Seja X ⊆R limitado superiormente e não-vazio, b ∈R chama-se o supremo de X quando é a menor das cotas superiores de X . Notação: b = sup X . Seja X ⊆R limitado inferiormente e não-vazio, b ′ ∈R chama-se o ínfimo de X quando é a maior das cotas inferiores. Notação: b ′ = sup X . Atenção: O supremo e/ou ínfimo de um conjunto X ⊆R não precisam pertencer ao con- junto X . Caso eles pertençam ao conjunto X , são chamado de máximo e mínimo de X , respectivamente. Uma definição equivalente para o ínfimo e o supremo é dada a continuação Definição 4.1. M = supS se, e somente se, i. M é uma cota superior para S , isto é, x ≤M , para todo x ∈ S . 2 ii. Dado " > 0, existe x ∈ S , tal que x >M − ". m = infS se, e somente se, i. m é uma cota inferior para S , isto é, x ≥m , para todo x ∈ S . ii. Dado " > 0, existe x ∈ S , tal que x <m + ". Agora, estamos prontos para enunciar o último axioma (o Axioma de Completitude) que caracteriza aos números reais: Todo subconjunto não-vazio, limitado superiormente, X ⊆R possui supremo M = sup X . Observação. Também, todo subconjunto não-vazio, limitado inferiormente, X ⊆R possui ínfimo m = inf X . 4.1 Q não é completo Vamos mostrar que existe um subconjunto não-vazio dos racionais limitado superiormente que não possui supremo emQ. Voltemos ao conjunto T do Exemplo 3.3. Já vimos que esse conjunto é limitado superiormente, por exemplo, por 2. Procedemos por redução ao absurdo: suponha que existe r = sup T ∈Q. Note que 1 ∈ T , logo 1< r < 2. Como r ∈Q então r 2 6= 2. Sem perda de generalidade podemos supor que r 2 < 2, logo, 2+ r 2 < 4⇒ 4r 2+ r 2 > r, seja t = 4r2+r 2 ∈Q, afirmamos que t ∈ T . Com efeito, t 2 = 16r 2 4+4r 2+ r 4 < 2 (verifique!). Essa é uma contradição, pois sendo r = sup T , então t < r . 4.2 Propriedade Arquimediana Teorema 4.1. O conjunto dos números naturais N não é limitado superiormente. Demonstração. Vamos provar por contradição. Suponha que N é limitado superiormente. ComoN 6= ;, pelo axioma de completitude existe b = supN. Por outro lado, b −1 não pode ser cota superior deN (por quê?), portanto existe n ∈N tal que n > b −1, ou seja, n +1> b . Mas n +1 ∈N, contrariando a hipótese de que b = supN. 3 Corolário 4.1. Dado x ∈R+, existe n ∈N tal que n > x . Corolário 4.2. Dados x ∈R+ e y ∈R qualquer, existe um n ∈N tal que n x > y . Um importante fato sobre o conjunto dos números reais é a não enumerabilidade. Isso significa que o o conjunto dos irracionais (R\Q) é não enumerável, pois se fosse enumerável então oR seria enumerável (já que união de conjuntos enumeráveis é enumerável). De fato, temos os seguinte resultado. Teorema 4.2. O conjunto R é não enumerável. Antes de provar o Teorema anterior, vamos mostrar o seguinte lema: Lema 4.1. O intervalo da reta (0,1) tem a mesma cardinalidade de R. Demonstração. Note que é suficiente exibir uma bijeção entre (0,1) e R= (−∞,∞). Com efeito, considere f (x ) = 2− 1x se x ∈ (0,1/2) −2+ 1x−1 se x ∈ [1/2,1) Observação. Também, pode-se mostrar que [0,1] e (0,1) tem a mesma cardinalidade, para ver isso, considere g (x ) = x para todo x ∈ (0,1), claramente, essa é uma função injetiva, então |(0,1)| ≤ |[0,1]|. Além disso, se definimos h (x ) = 1/2+1/4x , x ∈ [0,1], de novo temos uma função injetiva (na verdade, bijetiva!), logo |[0,1]| ≤ |(0,1)|. Portanto, |0,1|= |[0,1]|. ? Veja Definição 3.2 (c), do material complementar sobre conjuntos finitos e infinitos. Exercício 4.1. Mostre que dado um intervalo fechado [a ,b ] e um ponto x ∈ [a ,b ] existe um subintervalo [c ,d ]⊆ [a ,b ], tal que x /∈ [c ,d ]. Prova do Teorema 4.2. Pelo Lema 4.1 e a observação anterior (4.2), basta mostrar que [0,1] é não enumerável. Vamos proceder por redução ao absurdo: suponha que [0,1] é enumerável, então podemos colocar em uma correspondência um a um os elementos de [0,1] comN, isto é, pondo f (n ) = xn , n ∈N, temos [0,1] = {x1, x2, x3, . . .}, pelo Exercício 4.1, podemos concluir que existe um intervalo fechado I1 ⊆ [0,1] tal que x1 /∈ I1. Aplicando de novo o Exercício 4.1, temos que existe um intervalo fechado I2 ⊆ I1 ⊆ [0,1] tal que x2 /∈ I2, aplicando sucessivamente o Exercício 4.1, temos que existe um intervalo fechado In+1 ⊆ In tal que xn /∈ In para todo n ∈N. Desde que ⋂ In 6= ;, temos que existe y ∈ [0,1], y 6= xn para todo n ∈N (Contradição!). 4 http://www.professores.uff.br/jutriavaldes/wp-content/uploads/sites/196/2019/09/conj_finitos_infinitos.pdf Definição 4.2. Um número diz-se irracional se ele não é racional. Uma pergunta natural seria a seguinte se existem mais números irracionais que números racionais, será que é possível achar um número racional sempre entre dois reais? Antes de respondermos a essa pergunta, vamos a provar o seguinte resultado. Lema 4.2. Dado x ∈R, existe n0 ∈N tal que n0−1≤ x < n0. Demonstração. Seja x ∈R e considere o conjunto X = {m ∈N : x <m} ⊂N. Pela proprie- dade Arquimediana, temos que X 6= ;, logo pelo princípio da boa ordenação, temos que existe n0 ∈ X menor elemento em X , isto é, n0 é o menor natural tal que x < n0. Portanto n0−1≤ x < n0. Teorema 4.3 (Densidade dos racionais). Dados x ,y ∈R com x < y , então existe um número racional r ∈Q tal que x < r < y . Demonstração. Assuma que x > 0. Como y − x > 0, temos pela propriedade Arquimediana que existe n ∈N tal que 1/n < y − x , logo n x +1< n y . Por outro lado, pelo Lema 4.2 temos que existe m ∈N tal que m −1≤ n x <m . Portanto, m ≤ n x +1< n y , assim n x <m < n y . Finalmente r =m/n ∈Q é o racional pelo qual estávamos procurando. 5 ExemplosExemplo 5.1. Temos que sup n n n +1 : n ∈N o = 1. Com efeito, i. Note que 1 é uma cota superior para � n n+1 : n ∈N , desde que 1> nn+1 para todo n ∈N. ii. Dado " > 0, pela propriedade Arquimediana temos que existe n ∈N, tal que n > 1/", ou seja, " > 1/n > 1/(n +1). Logo, 1− " < 1−1/(n +1) = n n +1 . Exemplo 5.2. Temos que inf{1/n : n ∈N}= 0. Com efeito, i. Note que 0 é uma cota inferior para {1/n : n ∈N}, desde que 1/n > 0 para todo n ∈N. 5 ii. Dado " > 0, pela propriedade Arquimediana temos que existe n ∈N, tal que n > 1/", então 0+ " > 1/n. Exemplo 5.3. Seja S um conjunto de números positivos, se infS > 0 demonstrar que: sup{1/x : x ∈ S}= 1/m , onde m = infS > 0. i Seja x ∈ S, então m ≤ x , logo 1/x ≤ 1/m. Ou seja, 1/m é uma cota superior para {1/x : x ∈ S}. ii. Dado " > 0, existe x ∈ S tal que x <m + "m 2 (por quê?), assim 1 m − 1 x < "m 2 x m = " m x ≤ ". 6 Valor Absoluto (ou módulo) Axioma de completitude Exemplos Supremo e Ínfimo Q não é completo Propriedade Arquimediana Exemplos
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