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Ciências Aeronáuticas w w w. u n i s u l . b r Segurança da aviação contra atos de interferência ilícita Segurança da aviação contra atos de interferência ilícita Universidade do Sul de Santa Catarina Segurança da aviação contra atos de interferência ilícita O livro faz uma ampla abordagem sobre a Segurança da Aviação Civil, considerando a sua evolução e os impactos resultantes dos Atos Ilícitos contra o Transporte Aéreo. Por meio de três unidades, estaremos estudando os aspectos Regulatórios estabelecidos pela Organização da Aviação Civil Internacional – ICAO, pelas suas Normas e Práticas Recomendadas (SARPS) e como isso está especificamente aplicado na aviação brasileira, focando em dois dos principais componentes, os Operadores Aeroportuários e Operadores Aéreos (Aviação Comercial e Aviação Geral). O principal objetivo é que você tenha um conhecimento amplo do Sistema da Segurança da Aviação Civil brasileiro, a sua estrutura e os principais requisitos aplicados para evitar e/ou reduzir a possibilidade de um Ato de Interferência Ilícita em nosso país, estabelecendo um nível aceitável perante aos padrões internacionais e criando uma cultura proativa em todas as pessoas que tenham atividades relacionadas à aviação civil. capa.pdf 1 07/05/2019 09:17 UnisulVirtual Palhoça, 2019 Segurança da aviação contra atos de interferência ilícita Universidade Sul de Santa Catarina Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul Reitor Mauri Luiz Heerdt Vice-Reitor Lester Marcantonio Camargo Pró-Reitor de Ensino, Pesquisa, Pós-graduação, Extensão e Inovação Hércules Nunes de Araújo Pró-Reitor de Administração e Operações Heitor Wensing Júnior Assessor de Marketing, Comunicação e Relacionamento Fabiano Ceretta Diretor do Campus Universitário de Tubarão Rafael Ávila Faraco Diretor do Campus Universitário da Grande Florianópolis Zacaria Alexandre Nassar Diretora do Campus Universitário UnisulVirtual Ana Paula Reusing Pacheco Campus Universitário UnisulVirtual Diretora Ana Paula Reusing Pacheco Gerente de Administração e Serviços Acadêmicos Renato André Luz Gerente de Ensino, Pesquisa, Pós-graduação, Extensão e Inovação Moacir Heerdt Gerente de Relacionamento e Mercado Guilherme Araujo Silva Gerente da Rede de Polos José Gabriel da Silva Livro Didático Professor conteudista Cleo Marcus Garcia Designer Instrucional Lis Airê Fogolari Projeto Gráfico e Capa Equipe UnisulVirtual Diagramação Noemia Mesquita Revisão Ortográfica Diane Dal Mago Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul G19 Garcia, Cleo Marcus Segurança da aviação contra atos de interferência ilícita: livro didático / Cleo Marcus Garcia. – Palhoça: UnisulVirtual, 2019. 96 p. : il. ; 28 cm. Inclui bibliografia. 1. Aeronáutica – medidas de segurança. I. Título. CDD (21. ed.) 363.124 Copyright © UnisulVirtual 2019 Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição. Livro didático UnisulVirtual Palhoça, 2019 Segurança da aviação contra atos de interferência ilícita Cleo Marcus Garcia Sumário Introdução | 7 Capítulo 1 Segurança da aviação civil contra atos ilícitos | 9 Capítulo 2 Segurança da aviação civil contra atos ilícitos para os operadores de aeródromo | 25 Capítulo 3 Segurança da aviação civil contra atos ilícitos para os operadores aéreos | 61 Considerações Finais | 89 Referências | 91 Sobre o Professor Conteudista | 95 Introdução Podemos dizer que a Segurança da Aviação Civil era um “Gigante Adormecido”. Desde a criação do transporte aéreo até a década de 60, pouco se falava ou até regulamentava sobre essa matéria, uma vez que jamais se imaginava que o homem poderia usar o avião como uma arma de destruição para alcançar objetivos específicos, os quais não são de interesse Global, mas, por meio de atos ilícitos na aviação, podem sensibilizar o mundo como um todo. Muitos historiadores dizem que Santos Dumont cometeu suicídio por ter ficado decepcionado ao ver aviões em combate durante a Revolução Constitucionalista de 32. Os aviões bombardearam o Campo de Marte, em São Paulo, de certa forma, ele sentiu-se culpado ao ver sua invenção sendo usada para matar seres humanos, bem diferente do seu principal propósito, que é a integração global por meio de um modal rápido e seguro. Assim sendo, é difícil imaginar qual seria a reação dele ao ver os atentados de 11 de setembro de 2001 e o de Lockerbie na Escócia, em 1988. Ao longo dos anos e ainda mais com a crescente globalização, a indústria da aviação civil tornou-se um dos eixos centrais do comércio, que também permite a interconexão de todos os países, a ponto de aeroportos, especialmente internacionais, tornarem-se portais de entrada e saída ou a própria fronteira de um país. A importância e, especialmente, o prestígio que essa indústria adquiriu, está atraindo cada vez mais criminosos e terroristas que procuram usar a aviação civil para pressionar nações e promover seus interesses. Portanto, os esforços para proteger a indústria da aviação não foram deixados para trás e os controles diários são reforçados, garantindo não apenas segurança, mas também confiabilidade na indústria. A segurança da aviação é a proteção da aviação civil contra atos de interferência ilícita. Esse objetivo é alcançado pela combinação de medidas e recursos humanos e materiais, visando à segurança dos passageiros, da tripulação, do pessoal em solo e do público em geral. Cada Estado membro da ICAO assegurará que as medidas destinadas a salvaguardar os atos de interferência ilícita sejam aplicadas, tanto quanto possível, com base numa avaliação dos riscos para a segurança efetuada pelas autoridades responsáveis. Este Livro Didático faz uma abordagem da Segurança da Aviação Civil em três unidades, considerando seus principais atores: órgãos reguladores, os operadores aeroportuários e os operadores aéreos. Esses, são os principais alvos daqueles que pretendem cometer um ato de interferência ilícita. Ele apresenta a evolução da segurança da aviação bem como as Normas e Práticas Recomendadas pela ICAO aos Estados Membros, em especial após o 11 de setembro. A sua abordagem é mais específica em relação ao cenário brasileiro apresentado, como está estabelecido no nosso sistema, as responsabilidades de cada Elo (organização, órgão, empresa etc.) que tenha relação direta com o assunto, as normas aplicadas, o Programa Nacional de Segurança da Aviação Civil – PNAVSEC, entre outros. Trata-se de uma visão geral para proporcionar ao aluno a compreensão do que são os atos de interferência ilícita e quais a medidas adotadas para reduzir a probabilidade de uma nova tragédia na aviação, como as que já ocorreram no passado. Muito se evoluiu em prevenção, porém, os terroristas também aperfeiçoaram seus métodos, por isso a importância de não deixar que a nossa percepção, em relação à segurança da aviação, diminua novamente, é importante entender que quando o assunto é segurança todos devem estar “voando” na mesma direção, com o mesmo objetivo, assim como na prevenção de acidentes aeronáuticos, aqui não temos bandeira, somos um só. Mesmo assim, a segurança da aviação é, em última instância, responsabilidade dos governos, pois eles detêm os recursos e as informações, assim como estabelecem as regras do setor. Na mesma forma que operadores aeroportuários e aéreos têm experiência operacional. 9 Capítulo 1 Segurança da aviação civil contra atos ilícitos 1 Introdução Para entender a magnitude das questões que envolvem o Transporte Aéreo e o impacto causado quando ocorre alguma fatalidade nessa área na atualidade, convido-o a recordar dois fatos mundiais de grande repercussão, que, certamente, pelas datas, a sua memória apresentará como conhecidos. A primeira é 11 de setembro de 2001 e a segunda é 26 de dezembro de 2004. Você recordou o que ocorreu nas duas datas? Conseguiu dimensionar o impacto doTransporte Aéreo, especialmente em situações de tragédia? Talvez não, justamente por não ter identificado ou recordado o que aconteceu na segunda data (veja no rodapé a indicação da resposta 2). 11 de setembro realmente marcou a aviação mundial e foi um divisor de águas nos aspectos relacionados à segurança da aviação. Essa data será sempre relembrada e facilmente associada quando citada em qualquer conversa, mesmo por pessoas que não sejam do meio aeronáutico. Agora quando falamos do desastre natural ocorrido na Indonésia, 3 (três) anos após os atentados a torres gêmeas e que vitimaram mais de 200 mil pessoas, pouco temos de recordação, lembrando que em Nova Iorque as vítimas chegaram a aproximadamente 3 mil pessoas, pouco mais de 2% da Indonésia, mesmo o desastre no país do sudeste asiático sendo mais recente. Mas, e agora, você consegue dimensionar o impacto da aviação civil no mundo, especialmente em situações de tragédia? 1 GARCIA, Cleo Marcus. Segurança da aviação contra atos de interferência ilícita : livro didático – Palhoça: UnisulVirtual, 2019. 2 Tsunami na Indonésia 10 Capítulo 1 Neste capítulo, buscaremos entender como está definido o Sistema de Segurança da Aviação Civil Contra Atos Ilícitos, ou seja, a mais conhecida Segurança da Aviação Civil (Aviation Security / AVSEC), seus componentes e a sua estrutura, conhecendo um pouco dos aspectos históricos até chegarmos aos dias atuais, e, claro, destacando a importância do fatídico 11 de setembro na mudança da percepção da população para os requisitos de AVSEC. Seção 1 A segurança da aviação contra atos ilícitos A segurança da aviação (AVSEC) tem literalmnete voado em alta velocidade nos últimos anos. Com sequentes atos de terrorismo tendo como alvo o modal aéreo, mais uma vez, a indústria AVSEC está tentando alcançar um inimigo globalizado, tecnologicamente inteligente e muito bem estruturado. Um dos principais aliados dos terroristas certamente é a tecnologia, a mesma que ajuda a desenvolver equipamentos capazes de identificar, por meio da face, uma pessoa procurada em meio a uma multidão, pode dar informações precisas àqueles que buscam na aviação a oportunidade de cometer um ato de interferência ilícita, A internet é, sem dúvida, a ferramenta mais poderosa que a humanidade tem à sua disposição, e nenhum outro grupo de pessoas sabe disso melhor do que os terroristas. Informações que antes eram mantidas em segredo por razões de segurança, agora são acessíveis em segundos - e isso inclui as complexidades de nossos sistemas de segurança, imagens de áreas restritas de segurança de aeroportos, detalhes de engenharia de aeronaves, procurar e encontrar materiais para fabricação de bombas e montá-las em um dispositivo explosivo improvisado (IED) e, infelizmente, também, até como contornar um ponto de inspeção de segurança. As ações de pessoas em atos ilícitos contra a aviação civil possuem uma gama de diferentes ações, que vão desde o batedor de carteira (como no caso do roubo de uma carteira de bolso ou carteira de um passageiro dentro de um terminal do aeroporto), para o inconveniente (como um passageiro bêbado ameaça um agente do portão), ao catastrófico (como aqueles que realizaram os atentados em 11 de setembro de 2001). Consequentemente, o maior objetivo da segurança da aviação é diminuir a quantidade de ilícitos perpetrados contra o sistema de aviação. Consequentemente, segurança da aviação pode ser definida como uma combinação de medidas e recursos, humanos e materiais, destinados a proteger a aviação civil contra atos de interferência ilícita. 11 Segurança da aviação contra atos de interferência ilícita A Segurança da Aviação Civil existe para impedir atividades criminosas em aeronaves e aeroportos. Tal atividade inclui atos como sequestro de aeronaves, ameaças de bomba, entre outros. Hoje, a segurança da aviação está no topo da lista de prioridades dos usuários do transporte aéreo, dos Governos e também da comunidade aérea internacional. Entretanto, no início, a segurança da aviação não era motivo de preocupação entre eles. O primeiro sequestro registrado ocorreu em maio de 1930, quando revolucionários peruanos apoderaram de um avião de correio pan-americano, com o objetivo de deixar folhetos de propaganda sobre Lima. Após o fato nenhum outro sequestro foi registrado até o ano de 1947. Porém, entre esse ano e 1958, 23 sequestros foram relatados, a maioria cometidos por europeus orientais buscando asilo político. A primeira vítima fatal durante esses eventos aconteceu em julho de 1947, quando três romenos mataram um membro da tripulação. É importante destacar que dificilmente os representantes dos países que participaram da Convenção de Chicago em 1944 poderiam prever que, um dia, sequestradores e terroristas pudessem transformar a vulnerabilidade operacional e as características relacionadas à aviação civil em uma grande arma para o alcance de seus objetivos. A Convenção sobre a Aviação Civil Internacional (também conhecida como Convenção de Chicago) foi assinada em 7 de dezembro de 1944 por 52 Estados. Enquanto se aguardava a ratificação da Convenção por 26 Estados, foi criada a Organização Provisória da Aviação Civil Internacional (PICAO). Funcionou de 6 de junho de 1945 até 4 de abril de 1947. Em 5 de março de 1947, a 26ª ratificação foi recebida. A ICAO surgiu em 4 de abril de 1947. Em outubro do mesmo ano, a ICAO tornou-se uma agência especializada das Nações Unidas ligada ao Conselho Econômico e Social (ICAO, 2019). A partir do final dos anos 1950, a segurança da aviação assumiu um novo significado com o surgimento de um terrorismo extremamente violento contra a aviação e o sequestro de aeronaves, a questão então se tornou um elemento chave para a ICAO. A organização trabalhou lado a lado com a Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA). Além de vários órgãos nacionais e regionais, outras organizações fizeram contribuições importantes para a segurança: a Federação Internacional de Pilotos de Linhas Aéreas (IFALPA) e o Conselho Internacional de Aeroportos (ACI); Além disso, algumas decisões tomadas por poderosas organizações nacionais ou regionais de aviação (como a Administração Federal de Aviação - FAA ou a Conferência Europeia de Aviação Civil - CEAC) são frequentemente seguidas por outras entidades, com foco na segurança da aviação. 12 Capítulo 1 Ao fim da década de 1960, o número de sequestros de aviões aumentou em grandes e graves proporções. Esse total foi ampliado ainda mais por atos de sabotagem com motivação política contra aeronaves e passageiros, tanto no ar como no solo. Alguns exemplos: • Em 24 de novembro de 1968, o voo 281 da Pan Am (Boeing 707), saindo do Aeroporto Internacional JFK para San Juan, Porto Rico, foi sequestrado por 4 homens no aeroporto JFK e levado para Havana, Cuba; • Em 6 de setembro de 1970, dois homens sequestraram o voo 93 da Pan Am, um Boeing 747–121com a rota de Amsterdã - Nova York foi desviado para o Aeroporto Internacional de Beirute, para embarcar outros sete membros de terroristas para uma próxima etapa, que seria o Aeroporto Internacional do Cairo, onde os sequestradores ordenaram, então, que a aeronave fosse evacuada e destruída com explosivos. A ideia dos sequestradores seria seguir para o Campo de Dawson (uma pista de deserto remoto na Jordânia, antiga base da Força Aérea Britânica), ao invés de ir para o Cairo, porém, sem êxito, porque o aeródromo da Jordânia não possuía condições operacionais para receber um B747. A seguir, imagem da aeronave utilizada e dados do voo. Figura 1.1 - B747-121 Matrícula N656PA Fonte: JETPHOTOS (2007). 13 Segurança da aviação contra atos de interferência ilícita Tabela 1- Quantidade de Pessoas a bordo por nacionalidade Nacionalidade Passageiros Tripulantes Total Vítimas Alemanha 81 3 84 0 Argélia 3 0 3 0 Bélgica 2 0 2 0 Canadá 30 0 30 0 Dinamarca 8 0 8 2 Estados Unidos 18 1 19 2 França 4 15 0 Índia 91 8 99 12 Irlanda 5 0 5 4 Itália 50 2 52 7 México 8 0 8 2 Paquistão 44 0 44 3 Reino Unido 15 4 19 11 Suécia 2 0 2 0 Total 360 19 379 43 Fonte: Elaborado pelo autor (2019). Muitos ainda se perguntam, mas por que o avião é usado por terroristas ou outros que pretendem cometer atos ilícitos? A resposta é simples, em qual outro sistema, método ou ação você conseguiria simultaneamente: • Ter um meio de transporte rápido, de longo alcance e que pode se deslocar para qualquer lugar no mundo (que possuas condições operacionais condizentes com a aeronave). • Ter um espaço em que, poucas pessoas podem controlar muitas, em uma área confinada e com pouquíssimas possibilidades de fuga. • Ou ainda, em sua grande maioria, transportar carga e/ou pessoas de várias nacionalidades, podendo, assim, mobilizar vários países de forma simultânea. 14 Capítulo 1 Essas são algumas das características que transformaram o avião em um grande mecanismo utilizado por terroristas, identificado, especialmente, após o aumento dramático dos crimes de violência que afetaram negativamente a segurança da aviação civil no final da década de 1960. Foi então que a segurança da aviação civil surgiu como um ponto fundamental dentro do sistema, identificou-se a partir desse momento a necessidade de adotar uma estrutura internacional para lidar com atos de interferência ilícita. Foi nesse momento que a ICAO assumiu seu papel de liderança no desenvolvimento de políticas e medidas de segurança da aviação em nível internacional, e hoje, o aprimoramento da segurança da aviação em nível mundial é um dos principais objetivos da Organização. A medida inicial foi por meio de uma Sessão Extraordinária da Assembleia da OACI, ocorrida em junho de 1970, onde, em uma das resoluções, havia exigências de especificações nos Anexos à Convenção de Chicago, existentes ou novos, para tratar exclusivamente do problema das interferências ilícitas e também relacionadas a apoderamento ilícito de aeronaves. Posteriormente, Normas e Práticas Recomendadas sobre Segurança da Aviação Civil foram adotadas pelo Conselho, em 22 de março de 1974, e designado como Anexo 17 – Segurança da Aviação Civil Contra Atos Ilícitos. (ICAO, 2018). Uma Norma é definida como qualquer especificação para características físicas, configuração, material, desempenho, pessoal ou procedimento, cuja aplicação uniforme é reconhecida como necessária à segurança ou regularidade da navegação aérea internacional e à qual os Estados Contratantes estarão em conformidade com o Convenção; em caso de impossibilidade de cumprimento, a notificação ao Conselho é obrigatória, de acordo com o artigo 38 da Convenção. Entende-se, dessa forma que tudo o que for definido como Norma, pela Organização da Aviação Civil Internacional, tem caráter obrigatório de aderência pelos Estados Contratantes. Enquanto uma Prática Recomendada é qualquer especificação para características físicas, configuração, material, desempenho, pessoal ou procedimento, cuja aplicação uniforme seja reconhecida como desejável no interesse da segurança, regularidade ou eficiência da navegação aérea internacional, e para a qual os Estados Contratantes se esforçarão para manter-se em conformidade com a Convenção. Os Estados são convidados a informar o Conselho sobre o não cumprimento. 15 Segurança da aviação contra atos de interferência ilícita Já as Práticas Recomendáveis são características esperadas dos Estados Contratantes e por isso não possuem obrigatoriedade no seu cumprimento. Em suma, o Anexo 17 define as bases do Programa de Segurança da Aviação Civil estabelecido pela ICAO e procura salvaguardar a aviação civil e suas instalações contra atos de interferência ilícita. De importância crítica para o futuro da aviação civil e para a comunidade internacional em geral, são as medidas tomadas pela ICAO para prevenir e reprimir todos os atos de interferência ilícita contra a aviação no mundo. Mas como são caracterizados os Atos de Interferência Ilícita? Conforme o Decreto nº 7.168, de 05 de maio de 2010, que dispõe sobre o Programa Nacional de Segurança da Aviação Civil Contra Atos de Interferência Ilícita (PNAVSEC 3), define ato de interferência ilícita contra a aviação civil: ato ou atentado que coloca em risco a segurança da aviação civil e o transporte aéreo, como sendo: a. Apoderamento ilícito de aeronave em voo; b. Apoderamento ilícito de aeronave no solo; c. Manutenção de refém a bordo de aeronaves ou nos aeródromos; d. Invasão de aeronave, de aeroporto ou das dependências de instalação aeronáutica; e. Introdução de arma, artefato ou material perigoso, com intenções criminosas, a bordo de aeronave ou em um aeroporto; f. Comunicação de informação falsa que coloque em risco a segurança de aeronave em voo ou no solo, dos passageiros, tripulação, pessoal de terra ou público em geral, no aeroporto ou nas dependências de instalação de navegação aérea; g. Ataque a aeronaves utilizando Sistema Antiaéreo Portátil; (BRASIL, 2010). 3 O PNAVSEC tem como objetivo disciplinar a aplicação de medidas de segurança destinadas a garantir a integridade de passageiros, tripulantes, pessoal de terra, público em geral, aeronaves e instalações de aeroportos brasileiros, a fim de proteger as operações da aviação civil contra atos de interferência ilícita cometidos no solo ou em voo. (BRASIL, 2010). Esse documento será melhor detalhado na Unidade 2 deste livro. 16 Capítulo 1 Seção 2 Annex 17 - Safeguarding International Civil Aviation Against Acts of Unlawful Interference (Segurança da Aviação Civil Contra Atos Ilícitos) O Anexo 17 diz respeito, principalmente, aos aspectos administrativos e de coordenação, bem como medidas técnicas de segurança para proteção do transporte aéreo internacional, exigindo que cada Estado Contratante estabeleça seu próprio Programa de Segurança da Aviação Civil com medidas adicionais de segurança que possam ser propostas por outros órgãos apropriados e relacionados à segurança da aviação, como Polícia Federal, ANAC, DECEA etc. O Anexo também procura coordenar as atividades dos envolvidos em programas de segurança. É reconhecido que os operadores aéreos têm a responsabilidade primária de proteger seus passageiros, bens e receitas, e, portanto, os Estados devem garantir que esses desenvolvam e implementem programas de segurança eficazes e compatíveis com os dos aeroportos, dos quais eles operam. Quanto à aplicação do Anexo, a ICAO estabelece que cada Estado Contratante aplicará as Normas e se esforçará para aplicar as Práticas Recomendadas constantes do anexo 17 nas operações da aviação civil internacionais. E também que cada Estado Contratante assegurará que as medidas destinadas à segurança contra atos de interferência ilícita aplicada às operações domésticas, na medida do possível, sejam feitas com base em uma avaliação de risco de segurança realizada por autoridades nacionais. A organização, neste ponto, entendendo a particularidade de cada Estado Contratante, considerou que cada um deve realizar a Avaliação de Risco das operações domésticas, e com base nela aplicar as medidas necessárias (ICAO, 2017). Assim como a ICAO, os Estados Contratantes ao Anexo 17 e dos outros Anexos reconhecem que não é possível obter segurança absoluta. Mas estes Estados devem assegurar que a segurança dos passageiros, da tripulação, do pessoal de terra e do público em geral é uma a ação de proteção inicial. Os Estados também são induzidos a adotar medidas para a segurança dos passageiros e das aeronaves desviadas de forma ilícita, até que sua operação normal possa ser retomada. Nesse contexto, ela estabelece que cada Estado Contratante terá como principal objetivo a segurança dos passageiros, da tripulação, do pessoal em solo e do público em geral, em todas as questões relacionadas com a segurança contra atos de interferência ilícita na aviação civil e ainda que cada Estado Contratante possaestabelecer uma organização que desenvolva e implemente regulamentos, práticas e procedimentos para proteger a aviação civil contra atos de interferência 17 Segurança da aviação contra atos de interferência ilícita ilícita, considerando a segurança, regularidade e eficiência dos voos. Isso se resume ao paradoxo de Facilitação 4 e Segurança, em que quanto mais segurança implementar, com procedimentos, regras, requisitos etc., mais afetada ficará a Facilitação, o inverso é igual, quanto mais Facilitação ao processo de despacho de passageiros, maior será o risco à segurança da aviação, por isso o importante é equilibrar por meio de uma avaliação de risco bem feita e com ações e regras específicas a cada realidade, evitando que o processo seja inviabilizado (ICAO, 2017). A responsabilidade da ANAC, a qual a ICAO define como uma organização, está estabelecida no PNAVSEC, em seu art. 7º diz que: Constituem responsabilidades da ANAC (BRASIL, 2010): I. regular e fiscalizar a segurança da aviação civil; II. garantir a aplicação dos padrões de AVSEC; III. garantir a aplicação, em âmbito nacional e dentro de suas competências, das normas e práticas recomendadas no Anexo 17 à Convenção de Chicago (1944), nas operações internacionais e nas domésticas, no que couber, em função da avaliação de risco; IV. ... Sendo uma das atribuições da ANAC a regulação e fiscalização, a ICAO estabelece ainda que o Estado Contratante assegurará que tal organização, nesse caso a ANAC, e tais regulamentos, práticas e procedimentos, devem a) proteger a segurança dos passageiros, da tripulação, do pessoal de terra e do público em geral em todas as questões relacionadas com a segurança contra atos de interferência ilícita na aviação civil; e, b) serem capazes de responder rapidamente para atender a qualquer aumento na ameaça da segurança. É fato que Aviação Civil, com o passar dos anos, em um processo evolutivo para atendimento as novas demandas, em especial AVSEC, tem se tornado cada vez mais regulada, sendo que essa regulação, especialmente voltada à segurança, tem seus efeitos, que muitas vezes são ambíguos. Por um lado, medidas de segurança mais rigorosas tornam as viagens menos convenientes. Desde 11 de setembro, o melhor exemplo de maior inconveniência é a necessidade de os passageiros em voos internacionais chegarem aos aeroportos até duas horas antes das partidas programadas. Da mesma forma, as buscas aleatórias dos passageiros e suas bagagens, as proibições relativas a vários itens, aparentemente não perigosos, como cortadores de unha, uma minuciosa inspeção reduz a conveniência da viagem aérea. Dados de pesquisas apoiam 4 Anexo 9 da ICAO que trata da Facilitação do Transporte Aéreo obriga cada Estado Contratante a adotar todas as medidas possíveis para facilitar e agilizar a operação de aeronaves entre territórios dos Estados Contratantes, a fim de evitar atrasos desnecessários de aeronaves, tripulações, passageiros e carga. 18 Capítulo 1 a defesa de que o aumento da segurança tornou menos viável o voo; 63% dos viajantes disseram que a segurança do aeroporto “está se tornando mais um aborrecimento”. Já as companhias aéreas alegam que o maior inconveniente é causado pela segurança. (BLALOCK, KADIYALI e SIMON, 2007). Por outro lado, os passageiros provavelmente valorizam o aumento da segurança. Várias pesquisas realizadas desde o 11 de setembro de 2001 descobriram que eles estão dispostos a aceitar algum inconveniente adicional e/ou preços mais altos para se sentirem mais seguros. Além disso, essas pesquisas apoiam as alegações da TSA de que as medidas de segurança implementadas desde 11 de setembro aumentam a confiança dos passageiros na segurança das viagens aéreas. Como resultado podemos ter aumento da confiança na segurança das companhias aéreas e resultar no aumento da demanda por viagens aéreas. O fato é que, com base em inúmeras pesquisas realizadas nos últimos anos, principalmente para avaliar os impactos das rígidas normas de segurança aplicadas na aviação civil, demonstraram que os passageiros se sentem mais seguros com as normas mais rígidas, mesmo sabendo que muitos não as conhecem e nem sabem o motivo o qual são aplicadas. (BLALOCK, KADIYALI e SIMON, 2007) 2.1 Estrutura internacional AVSEC Ao final da década de 1960, a segurança da aviação surgiu como tema preocupante em nível mundial, necessitando a criação de uma estrutura capaz de atender as novas demandas voltadas à segurança da aviação civil. A ICAO, em seu papel de agência especializada da ONU para o ordenamento da Aviação Civil, assumiu seu papel de liderança no desenvolvimento políticas e medidas de segurança da aviação em nível mundial, e hoje o aprimoramento da segurança da aviação é um objetivo-chave da Organização. As primeiras disposições voltadas à segurança da aviação internacional foram divulgadas como Anexo 17 da Convenção de Chicago no ano de 1974, e desde então são aprimoradas e atualizadas constantemente, até o ano de 2018 já foram 16 atualizações. Todas presentes na décima edição do anexo 17, que se tornou aplicável a todos os Estados Membros, em 16 de novembro de 2018. Um fato é relevante, a Segurança da Aviação tem alto custo, é cara e nem todos os estados têm os recursos adequados para pagar a conta. Os países em desenvolvimento enfrentam muitos desafios ao tentar implementar sistemas AVSEC eficientes e pragmáticos. Pragmático, porque eles precisam ser adaptados aos seus ambientes, serem econômicos e baseados em avaliações de risco. Eficiente porque eles precisam superar camadas endêmicas de corrupção e estar https://www.icao.int/Security/SFP/Pages/Annex17.aspx 19 Segurança da aviação contra atos de interferência ilícita prontos para detectar vários tipos de crimes, os quais raramente são vistos dentro de outros países “mais desenvolvidos”. Os obstáculos para esses reguladores são, portanto, às vezes proporcionais apenas às camadas de enigmas políticos que eles navegam diariamente. No entanto, mesmo entre eles, há histórias de sucesso. No outro lado da balança estão os Estados desenvolvidos, que geralmente estão na vanguarda AVSEC. Conduzindo mudanças, liderando iniciativas, investindo em novas tecnologias e oferecendo expertise, com isso esses países estão no comando das emendas do Anexo 17. Ocorre que, os países em desenvolvimento seguem a liderança e às vezes - muitas vezes - sentem-se como tartarugas mancando em uma maratona mundial. Entendendo que os órgãos do governo desses países em desenvolvimento demoram a responder às mudanças da ICAO, e considerando que cada novo Padrão estabelecido traz consigo um sério desafio, não é de admirar que as emendas aplicadas aos Anexos da Organização, incluindo o 17, demoram anos, ou décadas, para serem implantados, e quando são. o cenário já é outro. Com o advento do Anexo 17, e buscando diminuir as barreiras (operacionais, financeiras etc.) entre as Normas e sua Prática, a ICAO começou a fornecer aos Estados material de orientação para auxiliar na implementação de medidas de segurança em padrões internacionais, sendo o documento principal o Manual de Segurança para Proteção da Aviação Civil contra Atos de Interferência Ilegal (Doc 8973), considerado de acesso restrito pela organização. Ordenamento O que fazer (SARPs) Como Fazer ICAO Anexos 1 a 19 DOCs 8973 - Manual de Segurança para Proteção da Aviação Civil contra Atos de Interferência Ilícita (exemplo) No início, o trabalho relacionado à segurança da ICAO focou no desenvolvimento de Padrões e Práticas Recomendadas (SARPs) para inclusão no Anexo 17, não havia preocupação com a análise e verificação daquilo que era estabelecido pelo documento. É como se aplicarmos um ciclo PDCA (PLAN - DO - CHECK – ACT) e a OACI realizasse apenas o PLAN. 20 Capítulo 1 PLANACT CHECK DO Com o passar dos anos e identificando a necessidade de melhorias, especialmente no que diz respeito a ACT (Agir), seu trabalho no campo da segurançada aviação se ampliou e hoje é essencialmente realizado em três áreas inter-relacionadas: Iniciativas, auditorias focadas na capacidade dos Estados Membros de supervisionar suas atividades de segurança da aviação, e assistência aos Estados que são incapazes de tratar as graves deficiências de segurança destacadas pelas auditorias da ICAO. As auditorias de segurança são realizadas no âmbito do Programa de Auditoria de Segurança AVSEC. A assistência relacionada à segurança de curto prazo ou urgente aos Estados é facilitada. O Programa de Apoio e Desenvolvimento da Implementação (ISD), que é gerido pela Secção de Segurança da ISD, e a assistência do projeto, mais a longo prazo, estão disponíveis na Mesa de Cooperação Técnica da ICAO. Atualmente, o PDCA da Segurança da Aviação Civil está estruturado basicamente da seguinte forma: Plan Aqui são definidos os objetivos a serem alcançados e estão sob responsabilidade da ICAO, por meio das SARPs Do A execução fica a cargo dos Estados Contratantes, de acordo com suas características e capacidade de recursos. Check Realizado ainda pelos Estados Contratantes é a verificação das implementações propostas, cumpre-se aquilo que foi proposto. ACT Conforme os resultados obtidos na etapa de “cheque”, serão observadas as falhas nos processos e se os objetivos foram atingidos, caso contrário, esses devem ser melhorados e as etapas se reiniciam. https://www.icao.int/secretariat/TechnicalCooperation/Pages/default.aspx https://www.icao.int/secretariat/TechnicalCooperation/Pages/default.aspx 21 Segurança da aviação contra atos de interferência ilícita O trabalho de política é focado, principalmente, em manter o Anexo 17 e o material de orientação relacionado, como o Doc. 8973, atualizados, um desafio significativo, considerando a natureza em evolução da ameaça. A Política de Segurança é responsabilidade da Seção de Políticas de Segurança da Aviação (ASP), que promove a implementação do Anexo 17 por meio de seminários e workshops, com a participação de especialistas em aeroportos, companhias aéreas e agências reguladoras, bem como pela disseminação de material de orientação. Entendendo a crescente ameaça à aviação civil, a ICAO conta com o conselho de especialistas que fazem parte do Painel de Segurança da Aviação (AVSEC). Estabelecido no final dos anos 80, o Painel é, atualmente, composto por 31 membros indicados pelos Estados, além de cinco observadores da indústria. Juntamente com o Secretariado da ICAO, o Painel desenvolve ativamente a política de segurança da ICAO e respostas a ameaças emergentes, bem como estratégias destinadas a prevenir futuros atos de interferência ilícita. A Seção da Política de Segurança da Aviação (ASP) do Gabinete de Facilitação e Segurança da Aviação é responsável pelo desenvolvimento de novas, ou de alterações das existentes, Normas e Práticas Recomendadas (SARPs) para a segurança do transporte aéreo internacional. Isso é promulgado no anexo técnico da Convenção de Chicago, especificamente no Anexo 17 - Segurança. (ICAO, 2019). Entre outras atividades, a Seção ASP gerencia seus programas por: • Desenvolver e atualizar o Anexo 17 da Convenção sobre Aviação Civil Internacional (também conhecida como a Convenção de Chicago); • Gerir e supervisionar o programa de trabalho do Painel de Segurança da Aviação (AVSEC), bem como os seus grupos de trabalho; • Atualizar e manter o Manual de Segurança da ICAO para Proteção da Aviação Civil contra Atos de Interferência Ilegal (Doc 8973); • Manter o Anexo Técnico da Convenção sobre a Marcação de Explosivos Plásticos para Fins de Detecção; • Prestar apoio à Comissão Técnica Internacional de Explosivos (IETC); • Promover a implementação de SARPs relacionadas à segurança; • Prestar apoio a várias entidades governamentais na OACI, em particular a Assembleia, o Conselho e o Comitê de Interferência Ilegal (UIC). https://www.icao.int/Security/SFP/Pages/default.aspx 22 Capítulo 1 A Seção ASP também é responsável por promover a cooperação em questões de segurança com outras agências das Nações Unidas e organismos internacionais. Entre as muitas entidades com as quais a Seção ASP coordena seu trabalho, estão o Comitê de Contraterrorismo da ONU (UNCTC), Diretoria Executiva do Comitê de Combate ao Terrorismo (CTED), Associação Internacional de Transporte Aéreo ( IATA ) e Conselho Internacional de Aeroportos ( ACI ). Contudo, é fato que todas as iniciativas da ICAO no campo da segurança da aviação dependem, de forma mundial e regional, da cooperação entre os Estados e todas as outras partes interessadas. O objetivo principal é aumentar a segurança global, implementando medidas de segurança uniformes em todo o mundo, uma meta que não pode ser alcançada sem um compromisso inabalável de todos os envolvidos. (ICAO, 2019). Seção 3 Estrutura AVSEC Brasil O Brasil é Membro-Fundador da ICAO, e em 2017 detinha o 12º maior mercado mundial no setor da aviação e, segundo projeções, poderá tornar-se o 5º maior mercado em 20 anos, além de ser sede de importante empresa fabricante de aeronaves. Uma estimativa otimista feita pelo Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil, mostra que a demanda por transporte aéreo pode mais que triplicar em 20 anos, atingindo mais de 700 milhões de passageiros nos aeroportos brasileiros. Como reflexo de sua atuação no campo da aviação civil, o Brasil integra, como membro eleito ininterruptamente, desde o estabelecimento da OACI, em 1947, o Grupo I do Conselho da Organização (“Estados de importância maior para o transporte aéreo”). Em consonância com as Normas estabelecidas pela ICAO, neste caso, especialmente o Anexo 17 à Convenção, o qual determina que cada país membro deve estabelecer especificamente o seu Programa de Segurança da Aviação Civil contra Atos Ilícitos, o Brasil normatizou o seu ato pelo Decreto nº 7.168, de 05 de maio de 2010, que dispõe sobre o Programa Nacional de Segurança da Aviação Civil Contra Atos de Interferência Ilícita (PNAVSEC). Tendo como objetivo disciplinar a aplicação de medidas de segurança destinadas a garantir a integridade de passageiros, tripulantes, pessoal de terra, público em geral, aeronaves e instalações de aeroportos brasileiros, a fim de proteger as operações da aviação civil contra atos de interferência ilícita cometidos no solo ou em voo. (BRASIL, 2010). 23 Segurança da aviação contra atos de interferência ilícita Como documento principal dentro do sistema de Segurança da Aviação Civil, o PNAVSEC não tem somente seu objetivo estabelecido como também apresenta as definições, atribuições e responsabilidades de cada elo desse sistema, a coordenação e comunicação de eventos AVSEC; como se tratará a respeito da proteção de aeroportos, aeronaves e auxílios à navegação aérea; as competências relacionadas a controles de segurança de pessoas e de objetos embarcados; a gestão dos equipamentos de segurança; a capacitação do pessoal envolvido com AVSEC; as ações a serem adotadas, por meio de plano de contingência, em casos de eventos relacionados à segurança da aviação civil, e também, de como se fará o controle de qualidade, de modo a analisar a eficácia do PNAVSEC. É importante ressaltar que cabe à ANAC normatizar e fiscalizar sobre os aspectos de segurança da aviação civil, exceto no âmbito das atividades de tráfego aéreo, o qual, conforme o art. 14, item II, estão sob responsabilidade do Comando da Aeronáuticas. Estruturando graficamente a Segurança da Aviação Civil, podemos estabelecer que: Figura 1.1 - Segurança da Aviação Civil Normas Regulação e Fiscalização Ordenamento PNAVSEC ANAC RBAC Requisito IS Como Aplicar COMAER ICA Fonte: Elaborado pelo autor (2019). Legenda das siglas: RBAC – Regulamento Brasileiro de Aviação Civil IS – Instrução Suplementar ICA – Instrução do Comando da Aeronáutica 24 Capítulo 1 Normatizar Ao estabelecer as regras para o funcionamento da aviação civil no Brasil, a ANACrevisa, atualiza e normaliza regulamentos técnicos e relacionados a aspectos econômicos. A instituição dessas normas geralmente é precedida de consultas e audiências públicas, para ouvir a sociedade, e de estudo sobre o potencial impacto da decisão sobre o setor. As normas técnicas da ANAC consideram os preceitos das instituições e organizações internacionais de aviação das quais o Brasil é signatário. Fiscalizar Para fiscalizar o funcionamento da aviação civil no país e assegurar níveis aceitáveis de segurança e de qualidade na prestação dos serviços aos passageiros, a ANAC realiza atividades de vigilância continuada e ações fiscais. Na vigilância continuada, o acompanhamento sobre o desempenho de produtos, empresas, operações, processos e serviços e dos profissionais certificados ocorre de forma planejada e constante. Nas ações fiscais, o foco da Agência é identificar e prevenir infrações aos regulamentos do setor e, em parceria com outros órgãos, a prática de atos ilegais. Síntese Não seria exagero afirmar que a Segurança da Aviação foi a atividade mais impactada nas últimas décadas, com regras mais rígidas e procedimentos mais restritivos no embarque de passageiros, inspeção de aeronaves, acessos às áreas restritas etc. Mesmo com a evolução dos acontecimentos, a partir da década de 60, influenciaram mais diretamente na publicação do Anexo 17. O fatídico 11 de setembro de 2001 foi um grande divisor de águas para a segurança da aviação civil mundial. Não só para descobrir a fragilidade do sistema, mas também para demonstrar que ações globalizadas e normas mais objetivas precisavam ser implantadas, e a ICAO como elo central do sistema identificou esta necessidade e a partir de então estabeleceu normas e implantou práticas para garantir padrões de segurança compatíveis com o transporte aéreo, mesmo entendendo as inúmeras vulnerabilidades a qual um avião e seus ocupantes estão expostos. No Brasil, como membro da ICAO, estamos submetidos às Normas e Práticas recomendadas e estabelecidas pela organização, por meio de seus anexos e outros documentos, tendo como documento de referência e aderido aos padrões internacionais o PNAVSEC, ficando a regulação e fiscalização dos sistemas a cargo da Agência Nacional de Aviação Civil e Comando da Aeronáutica, ambos com seus respectivos regulados. 25 Capítulo 2 Segurança da aviação civil contra atos ilícitos para os operadores de aeródromo 1 Introdução Nos primórdios da aviação civil, as maiores preocupações estavam relacionadas à Safety (Segurança Operacional) e havia pouca preocupação com a Security (Segurança da Aviação Civil) do aeroporto ou da aviação como um todo. A segurança da aviação começou a se tornar uma questão relevante em 1930, quando os revolucionários peruanos tomaram o avião de correio pan-americano com o objetivo de deixar panfletos de propaganda sobre Lima, capital do país. Entre 1930 e 1958, vários sequestros foram relatados, a maioria cometidos por Europeus em busca de asilo político. O primeiro sequestro de avião com fatalidade no mundo ocorreu em julho de 1947, quando três romenos mataram um membro da tripulação. Com a criação de Normas e Práticas recomendas específicas para a segurança da aviação por meio do Anexo 17, a regras tornaram o sistema mais restritivo em relação às operações aéreas, porém, em contrapartida, proporcionaram um aumento visível na segurança da aviação civil, especialmente após os atentados de 11 de setembro nos Estados Unidos. Desde 2001, tem ocorrido uma série de medidas adicionais de segurança como forma de evitar atos terroristas. Como resultado, as políticas de segurança nos aeroportos pelo mundo afora estão em constante mudança, principalmente em relação a essas ameaças que estão em evolução, segurança é um processo contínuo e depende da integração de todos os Elos do Sistema de Aviação Civil, especialmente nos Aeroportos, onde todos os processos operacionais são realizados e existe a interface entre todos que possuem relação com o embarque ou desembarque de passageiro ou carga, que devem ser fortes e unidos como uma corrente nos cumprimentos dos requisitos e nos propósitos de segurança, pois se um dos elos dessa corrente se romper, irá colocar em risco todo o sistema. 1 GARCIA, Cleo Marcus. Segurança da aviação contra atos de interferência ilícita: livro didático – Palhoça: UnisulVirtual, 2019. 26 Capítulo 2 Seção 1 A evolução da segurança aeroportuária A indústria do transporte aéreo desempenha um papel significativo na economia global. Espera-se que o tráfego anual de passageiros alcance os 6 bilhões em 2030, ante aos 3,3 bilhões atuais, enquanto a carga aérea deverá aumentar de 50 milhões para 125 milhões de toneladas. Com o tráfego aéreo projetado para aumentar significativamente no futuro, existe a necessidade de uma estrutura de planejamento nos níveis internacional, regional e nacional para gerenciar o crescimento de maneira ordenada, segura e eficiente, conforme estabelecem os objetivos da ICAO. A aviação promove o crescimento econômico global e é um facilitador essencial para o progresso e desenvolvimento em muitos Estados. Os incidentes de segurança têm um impacto óbvio no público que viaja, especialmente quando os incidentes resultam em ferimentos e perda de vidas, mas também, por afetar a confiança no transporte aéreo. Ao garantir a segurança do sistema de aviação civil, os Estados membros da ICAO ajudam a estabelecer a confiança do público em seu sistema e fornecem uma base sólida para o comércio e o turismo mundial. O atual ambiente de ameaças e riscos exige que a segurança da aviação permaneça entre as maiores prioridades dos Estados e da comunidade internacional. Isso foi destacado pela Resolução 2309 (2016) do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) – que tratou sobre ameaças à paz e à segurança internacional por atos terroristas. Um dos problemas mais significativos enfrentados pelos aeroportos no início do século XXI é o da sua segurança. Por ser uma estrutura pública de acesso irrestrito, ou seja, qualquer pessoa pode ir a um aeroporto, seja como visitante, uma vez que, em muitos locais ele acaba se tornando um ponto turístico, ou para acompanhar um viajante, ou, ainda, com a intenção de cometer um ato ilícito. A maioria dos usuários dos aeroportos estão sujeitos aos procedimentos relacionados à infraestrutura, políticas e procedimentos de segurança dentro do sítio aeroportuário. É importante ressaltar que a segurança em um aeroporto não está limitada à área do terminal de passageiros. A segurança diz respeito a todas as áreas e a todos os usuários do aeroporto. Na história da aviação comercial, houve mais de 600 sequestros de aviões e mais de 100 atentados a aviões atribuídos ao terrorismo em todo o mundo. Embora muitas regras, políticas e procedimentos operacionais tenham sido implantados ao longo dos anos para mitigar as ameaças à segurança da aviação, o terrorismo e outras atividades ainda estarão presentes pelo mundo neste século. Vários desses eventos resultaram em importantes mudanças regulatórias e de políticas sobre como a aviação civil opera e como os gerentes e planejadores de aeroportos irão projetar e operar seus modernos aeroportos. 27 Segurança da aviação contra atos de interferência ilícita Os resultados dessas mudanças podem ser visualizados no Gráfico 1, o qual apresenta o número de sequestros de aeronaves e as fatalidades a eles relacionadas, como já referenciado, no final da década de 1970, quando os grupos terroristas vislumbraram na aviação um meio para alcançar seus objetivos, os ataques à aviação foram expressivos e com uma quantidade de fatalidades considerável. Com a implementação do Anexo 17 à mesma época, os seus reflexos já começaram a ser percebidos no final da própria década, uma vez que procedimentos foram implantados, normas estabelecidas e a aviação ganhou um forte aliado contra o terrorismo. Porém, é importante ressaltar que naaviação não existe segurança absoluta, pois os perigos são inerentes à atividade, especialmente quando praticados intencionalmente. Outro ponto importante a ser analisado no gráfico é a relação de atos terroristas com a quantidade de fatalidades, mesmo diminuindo a quantidade de ocorrências, as perdas humanas se mantiveram, isso pode ser associado ao tamanho das aeronaves que atualmente possuem capacidades maiores que as da década de 70, e também, os atos estão mais violentos que em outros tempos, como em 11 de setembro de 2001. Gráfico 1 - Número de Sequestro de Aeronaves e Fatalidades Fonte: ROSER e RITCHIE (2018). Desde o surgimento da aviação comercial, os terroristas usam o transporte aéreo tanto para cometer seus ataques quanto para atacar o sistema, utilizam como um alvo em busca de seus ideais. Os aeroportos, em particular, têm se destacado como alvos relativamente “tranquilos” de ataques terroristas. Mas enquanto as aeronaves vêm se fortalecendo nas últimas décadas, com a aplicação gradual de medidas de segurança, os aeroportos, por natureza, permanecem em áreas públicas, pelo menos em parte, com áreas acessíveis a qualquer pessoa, tornando-os alvos preferenciais. 28 Capítulo 2 Os criminosos usam toda a gama de possibilidades para atacar aeroportos, desde assassinatos em massa, usando granadas e armas automáticas, até pequenas bombas caseiras, explodindo-as em lixeiras no estacionamento, sem ferir ninguém. Atacar um aeroporto é geralmente visto como um “substituto” para ataques a aviões comerciais - um ataque ao “primo pobre”, seria uma maneira mais simples de fazer uma manifestação política sem correr tantos riscos. Ataques contra balcões de check-in e escritórios operacionais podem ser considerados ataques simbólicos, indicando apenas quais aviões ou países específicos os terroristas atacariam se as medidas de segurança que protegem os aviões fossem menos rigorosas. Nos dados estatísticos relacionados a Ataques Terroristas contra a Aviação Civil Internacional, quando destacamos apenas os aeroportos, excluindo ataques a aeronaves, foram identificados 232 ataques terroristas aos aeroportos entre 1931 e 2016, ou seja, 37% de todos os ataques terroristas a aviação como um todo, causando um total de 468 mortes, ou 7% de todas as mortes por ataques terroristas. Essa disposição é consistente com a tendência “mais utilizada, mas menos letal”. (DUCHESNEAU e LENGLOIS, 2017). Quantidade em Aeroportos % do Total de Ataques Terroristas à Aviação Ataques 232 37% Mortos 468 7% Fonte: DUCHESNEAU e LENGLOIS (2017). Ao contrário de que se acredita atualmente, ataques a aeroportos não são uma nova tendência. Esse tipo de ataque remonta ao início dos anos 1970 e foi usado pela primeira vez por grupos palestinos. O primeiro ataque terrorista a aeroporto, registrado, ocorreu em 10 de fevereiro de 1970, em Munique, na Alemanha. Um egípcio e dois jordanianos filiados à Frente Popular de Libertação da Palestina (FPLP) atacaram um ônibus que levava passageiros da El Al (empresa aérea de Israel) a seus aviões com armas e granadas, matando um e ferindo 11. Por meio de seu cluster de ‘comando geral’, a FPLP era extremamente ativa no terrorismo da aviação desde o final da década de 1960 até o final da década de 1970. Muitos autores atribuem o surgimento do terrorismo internacional na aviação à FPLP, cujo seus agentes provaram ser, particularmente, capazes de sequestrar aviões comerciais que transportavam israelenses. Seus objetivos eram chantagear o governo de Israel, ou seja, pela libertação de prisioneiros palestinos e internacionalizar a causa palestina. 29 Segurança da aviação contra atos de interferência ilícita Com a evolução da aviação, as medidas de segurança AVSEC implantadas nos aeroportos estão mais visíveis e tangíveis. O Anexo 17 da OACI lista as atribuições e responsabilidades dos operadores dos aeroportos em relação às operações de inspeção de segurança, identificação, controle de acesso, atividades preventivas e ações em resposta rápida aos ataques. Os operadores aeroportuários são responsáveis pela coordenação dos órgãos envolvidos na segurança da aviação. A equipe de segurança do aeroporto também coordena o Programa de Segurança Aeroportuária (PSA), a Comissão de Segurança Aeroportuária (CSA) e realiza campanhas de Conscientização AVSEC (BLALOCK, KADIYALI e SIMON, 2007). É também responsável pelo desenvolvimento e implementação do Plano de Contingência em AVSEC do Aeródromo (PCA). O Anexo 17 também exige que as administrações aeroportuárias garantam medidas adicionais de segurança para voos específicos, mediante solicitação de outros Estados. Cabe ressaltar também que o design e o projeto de infraestrutura do aeroporto são componentes-chave na eficiência dos sistemas de segurança. Os procedimentos de segurança do aeroporto são projetados para impedir, prevenir e responder a atos que possam afetar a segurança dos seus usuários. A atividade criminosa inclui o sequestro de aeronaves, conhecida como “pirataria aérea”, danificar ou destruir aeronaves com explosivos e outros atos, definido também como o uso sistemático do terror ou violência imprevisível contra governos, público ou indivíduos para atingir um objetivo político (geralmente é esta a principal utilização da aviação nos atos de interferência ilícita). A atividade criminosa também inclui ações de assalto, roubo e vandalismo contra passageiros e seus pertences, aeronaves e todas as instalações aeroportuárias. (YOUNG e WELLS, 2011). Os aeroportos são obrigados a implementar um Programa de Segurança Aeroportuária (PSA), com base no Programa Nacional de Segurança da Aviação Civil (PNAVSEC), esse, por sua vez, atende às Normas estabelecidas pela ICAO. O preceito básico da segurança da aviação é ter todas as pessoas, equipamentos e veículos permitidos nas áreas operacionais devidamente identificados, controlados e supervisionados. Os funcionários dos aeroportos autorizados a acessarem as áreas operacionais estão sujeitos a verificações de antecedentes criminais e sociais antes de receber a devida credencial e permissão para entrar nas áreas operacionais de um aeroporto. Essas medidas, mesmo que restritivas, compensaram e o número de sequestros diminuiu significativamente. O objetivo de qualquer sistema de segurança é retardar ou impedir a entrada forçada de intrusos em uma área protegida, a tempo de permitir que as ações estabelecidas no Plano de Contingência sejam adotadas. No caso específico dos aeroportos, o sistema de múltiplas camadas do Anexo 17 visa a identificar e tratar das armas ou dispositivos perigosos no aeroporto, precisamente antes que representem quaisquer riscos às aeronaves e seus passageiros. 30 Capítulo 2 Esse enrijecimento dos acessos à aeronave cria considerável segurança e estresse processual para o próprio aeroporto, daí a complexidade das principais tarefas de segurança aeroportuária. Como as medidas de segurança para proteção de passageiros e aeronaves se tornaram mais rígidas, os terminais e instalações aeroportuárias tornaram-se alvos mais fáceis para os terroristas. De fato, os ataques nos aeroportos são altamente valorizados pelos terroristas porque, em grande parte, eles precisam de menos preparo e sofisticação do que os ataques a aeronaves, podem causar grandes perdas e danos e oferecem maiores opções de fuga. As estatísticas apresentadas anteriormente tendem a demonstrar que o uso de aeroportos como “filtros” para proteção da aviação pode, de fato, ter contribuído para uma diminuição no número de ataques terroristas contra aeronaves. Mas não é de se surpreender que os aeroportos, como “filtros”, não tenham testemunhado a mesma tendência de queda nos ataques a ele mesmo. Seção 2 Legislação AVSEC aplicada ao operador do aeródromo É importante que os padrões de segurança e proteção estabelecidos para a aviação civil recebam a devida atenção para garantir a proteção e segurança de todosos envolvidos e interessados contra os atos de interferência ilícita ou outras ameaças. No entanto, a segurança da aviação é repleta de desafios e isso trouxe deliberações recentes entre os Estados, reguladores, da indústria da aviação e também a um dos principais interessados, os usuários. Para alcançar padrões efetivos de segurança e proteção da aviação, os Estados, suas autoridades reguladoras, agências, pessoal de segurança e outros órgãos de segurança devem trabalhar, juntos, para garantir a implementação efetiva das normas e práticas recomendadas (SARPs) para a segurança da aviação internacional. A formulação e adoção das SARPs para a aviação civil internacional é a função legislativa mais importante desempenhada pela Organização da Aviação Civil Internacional (ICAO). As SARPs estão incorporadas nos 19 anexos técnicos da Convenção sobre Aviação Civil Internacional (a Convenção de Chicago). As medidas tomadas pela ICAO para impedir todos os atos de interferência ilícita contra a aviação civil em todo o mundo são cruciais para o futuro da aviação civil e internacional buscando atingir os Objetivos Estratégicos definidos pela Organização. 31 Segurança da aviação contra atos de interferência ilícita Em sua missão contínua de apoiar e permitir um sistema de transporte aéreo global que atenda ou supere o desenvolvimento social e econômico e as necessidades de conectividade mais amplas de empresas e passageiros pelo mundo, e reconhecendo a clara necessidade de antecipar e gerenciar o aumento da capacidade projetada para o transporte aéreo global até 2030, sem impactos adversos desnecessários relacionados à segurança, eficiência, conveniência ou impacto ambiental no sistema, a ICAO estabeleceu cinco Objetivos Estratégicos abrangentes voltados à (1) Segurança Operacional, (2) Eficiência e Capacidade da Navegação Aérea; (3) Segurança da Aviação Civil e Facilitação; (4) Desenvolvimento Econômico do Transporte Aéreo e (5) Proteção ao Meio Ambiente. Buscando alcançar os objetivos de segurança em padrões aceitáveis, a ICAO entendeu a necessidade de desenvolver um Plano Global voltado à Segurança da Aviação Civil, coordenando então o GASeP - Global Aviation Security Plan. O GASeP fornece orientação aos Estados para a definição de prioridades nos níveis internacional, regional e estadual, cria uma estrutura dentro da qual ICAO, Estados e partes interessadas podem trabalhar juntos para atingir objetivos comuns e orienta em esforços conjuntos para reforçar ainda mais a segurança da aviação. O objetivo do estabelecimento do GASep é ajudar a ICAO, os Estados e as partes interessadas a melhorar a eficácia da segurança da aviação mundial. O GASep busca unir a comunidade internacional de segurança da aviação e inspirar ações nesse sentido, levando em conta que as ameaças e riscos enfrentados pela comunidade da aviação civil continuam a evoluir. Pretende-se também alcançar o objetivo comum e partilhado de reforçar a segurança da aviação em todo o mundo e ajudar os Estados a reunir-se para cumprir os compromissos estabelecidos nos documentos da ICAO. A melhoria contínua na implementação efetiva dos Estados do Anexo 17 é fundamental para garantir a segurança e a regularidade do transporte aéreo. O GASeP aplica-se à ICAO, seus Estados Membros e partes interessadas para orientar os esforços efetivos de implementação e conformidade, promover a responsabilidade para essas atividades de segurança e aumentar a eficácia da segurança mundial da aviação. A Autoridade da Aviação Civil do Brasil, conforme o PNAVSEC, é a ANAC, com as competências e prerrogativas previstas em sua lei de criação de 2005, é responsável por manter a segurança da aviação e garantir que a indústria da aviação seja protegida contra atos de interferências ilícitas nos aeroportos brasileiros. Dentro desse propósito, a ANAC aprovou os Regulamentos Brasileiros de Aviação Civil para fornecer requisitos nacionais em conformidade com as disposições do Decreto nº 7.168/2010 e para garantir a gestão da segurança da aviação civil, em conformidade com os SARPs. 32 Capítulo 2 O Regulamento Brasileiro de Aviação Civil 107 trata a sobre requisitos de Segurança da Aviação Civil contra Atos de Interferência Ilícita aplicados ao Operador de Aeródromo. Esse regulamento prevê programas, medidas, processos, procedimentos e práticas de segurança da aviação, com vistas a garantir a integridade de passageiros, tripulantes, pessoal de terra, público em geral, aeronaves e instalações aeroportuárias, de forma a proteger as operações da aviação civil contra atos de interferência ilícita. (ANAC, 2016). O RBAC 107 “se aplica ao operador de aeródromo civil público, compartilhado ou não, cujas responsabilidades relacionadas à segurança da aviação civil contra atos de interferência ilícita (AVSEC) estão previstas no artigo 8º do Programa Nacional de Segurança da Aviação Civil Contra Atos de Interferência Ilícita (PNAVSEC) ” (ANAC, 2016). Esse artigo trata dos requisitos que constituem responsabilidades da administração aeroportuária, tais como: aplicar os atos normativos referentes à AVSEC, estabelecidos pelo órgão regulador; nomear, no aeroporto, profissional capacitado responsável pela coordenação da aplicação dos procedimentos do PSA, entre outros. Não estão abrangidos ao cumprimento dos requisitos estabelecidos no regulamento as seguintes instalações: (1) os aeródromos civis destinados exclusivamente a helicópteros (helipontos ou heliportos); (2) áreas militares dos aeródromos civis compartilhados; e (3) instalações e serviços de controle do espaço aéreo e de proteção ao voo, sob responsabilidade de organizações das Forças Armadas. Aeródromo significa uma área delimitada em terra ou na água destinada para uso, no todo ou em parte, para pouso, decolagem e movimentação em superfície de aeronaves; inclui quaisquer edificações, instalações e e quipamentos de apoio e de controle das operações aéreas, se existirem. Quando destinado exclusivamente a helicópteros, recebe denominação de heliponto. Aeródromo Compartilhado é caracterizado como sede de unidade aérea militar, que compartilha sua infraestrutura com aeródromo civil, sediando tanto operações aéreas militares como operações civis de transporte aéreo de passageiros e carga. Considerando o estabelecido pela ICAO pelo GASeP, para responsabilidade sobre as atividades de segurança, estabeleceu-se, por meio do PNAVSEC, que são responsabilidades do Operador do Aeródromo (BRASIL, 2010): 1. Aplicar os atos normativos referentes à AVSEC, estabelecidos pelo órgão regulador; 2. Elaborar, aplicar e manter o Programa de Segurança Aeroportuária - PSA do respectivo aeroporto, em coordenação com os órgãos públicos que, por disposição legal, devam atuar na AVSEC, em conformidade com os requisitos estipulados no PNAVSEC e os atos normativos da ANAC; 33 Segurança da aviação contra atos de interferência ilícita 3. Nomear, no aeroporto, profissional capacitado responsável pela coordenação da aplicação dos procedimentos do PSA; 4. Constituir e manter Comissão de Segurança Aeroportuária, em conformidade com os requisitos estipulados no PNAVSEC e nos atos normativos da ANAC; 5. Propor à ANAC a inclusão de requisitos de segurança da aviação civil em projetos e construção de novas instalações aeroportuárias, bem como na reforma ou ampliação das instalações existentes; 6. Controlar e, quando aplicável, aprovar os planos específicos de segurança contra atos de interferência ilícita das entidades que operem ou tenham instalações em áreas sob sua concessão; 7. Incluir no PSA as responsabilidades de suas contratadas, das empresas de serviços auxiliares e dos seus concessionários, no que se refere à AVSEC; 8. Supervisionar a aplicação das medidas de segurança estabelecidas no PSA para seus concessionários, as empresas de serviços auxiliares de transporte aéreo e as empresas por ela contratadas; 9. Fiscalizar a aplicação das medidasde segurança estabelecidas no PSA para as empresas por ela contratadas; 10. Elaborar o PCQAVSEC-AA - Programa de Qualidade de Segurança da Aviação Civil contra Atos de Interferência Ilícita da Administração Aeroportuária; 11. Fornecer cópia das partes relevantes do PSA, ressaltando o plano de contingência, aos operadores aéreos e demais órgãos envolvidos, para conhecimento e cumprimento; 12. Realizar controles gerais de acesso nos aeroportos, envolvendo passageiros, tripulantes, empregados da administração aeroportuária, servidores de órgãos públicos, veículos, equipamentos, bagagens, carga, correio e outras mercadorias; 13. XIII - Adquirir, instalar e manter equipamentos de controle de segurança a serem utilizados nas atividades de AVSEC que são de sua competência, de acordo com atos normativos da ANAC; 14. Prover recursos humanos treinados na atividade de proteção da aviação civil, de acordo com atos normativos da ANAC, para a realização de inspeções de segurança nos passageiros e suas bagagens de mão, bem como nas pessoas que necessitem ingressar nas ARS; 34 Capítulo 2 15. Adquirir, instalar e manter equipamentos para a realização de inspeções de bagagem despachada e carga aérea em suas instalações, conforme orientação da Polícia Federal e de acordo com atos normativos da ANAC; 16. Impedir o acesso às ARS de passageiros que não satisfaçam aos requisitos de segurança da aviação civil estabelecidos no PNAVSEC e nos atos normativos da ANAC e comunicar eventuais ocorrências à empresa aérea; 17. Designar e manter instalações físicas de Centro de Operações de Emergência - COE que contemplem os requisitos mínimos para atendimento das emergências previstas no plano de contingência do aeroporto; 18. Garantir a segurança dos auxílios à navegação aérea localizados no interior do sítio aeroportuário e, quando por ela operados, daqueles situados fora; 19. Atender aos parâmetros de detecção, calibração, manutenção e operação dos equipamentos de controle de segurança a serem utilizados nas atividades de AVSEC; 20. Participar da AAR – Assessoria de Avaliação de Risco; 21. Prover instalações adequadas às atividades operacionais específicas dos órgãos fiscalizadores, compatível com o fluxo de voos e passageiros; 22. Coordenar com a Polícia Federal a realização de ESAIA- Exercício Simulado de Apoderamento Ilícito de Aeronaves; e de ESAB - Exercício Simulado de Ameaça de Bomba; 23. Realizar testes e estudos em coordenação com os demais órgãos e entidades envolvidos com a AVSEC. 2.1 - Classificações dos Aeródromos para efeitos AVSEC Cada aeroporto possui características próprias, ou seja, um DNA exclusivo. Aeroportos podem ter movimentos operacionais e estruturas administrativas similares, mesma categoria tarifária, mesma direção de pista, mesma classificação contra incêndio, entre outras semelhanças, mas nenhum aeroporto será igual ao outro, e isso pode ser constatado em diversas formas. Resultados financeiros, características operacionais, infraestrutura instalada, recursos existentes etc. A Segurança da Aviação Civil também entende essas diferenças e por isso estabelece uma classificação dos aeródromos específica para aplicação dos requisitos AVSEC, e, além desta classificação, outro fator relevante é a 35 Segurança da aviação contra atos de interferência ilícita Avaliação de Risco, a qual é realizada para cada aeródromo, e o resultado dessa avaliação pode gerar a necessidade de Medidas Adicionais de Segurança devido à determinação específica da ANAC, por meio de uma Diretriz de Segurança da Aviação Civil contra Atos de Interferência Ilícita (DAVSEC), ou seja, ações que vão além dos requisitos gerais estabelecidos de acordo com a classificação do aeródromo. Avaliação de risco significa o processo aplicado na gestão da Segurança da Aviação Civil contra Atos de Interferência Ilícita de uma organização, abrangendo ao menos as etapas de identificação de ameaças, de vulnerabilidades e do nível de exposição das operações ao risco de atos de interferência ilícita (ANAC, 2016). Segundo o RBAC 107 (ANAC, 2016), as classes definidas para os aeródromos, segundo a infraestrutura disponível, são duas: Classe AD: Aeródromo civil público não categorizado como arrecadador de tarifas aeroportuárias; Classe AP: Aeródromo civil público categorizado como arrecadador de tarifas aeroportuárias (também denominado simplesmente de aeroporto). Já as classes definidas para os aeroportos, segundo o tipo de serviço aéreo em operação e o número de passageiros processados, são: Quadro 1 - Classes e suas características Classe Característica AP-0 Aeroporto com operação exclusiva de aviação geral, de serviço de táxi aéreo e/ ou de aviação comercial na modalidade de operação de fretamento; AP-1 Aeroporto com operação da aviação comercial regular ou na modalidade de operação charter e com média aritmética anual de passageiros, processados nessas operações nos últimos 3 (três) anos, inferior a 600.000 (seiscentos mil); AP-2 Aeroporto com operação da aviação comercial regular ou na modalidade de operação charter e com média aritmética anual de passageiros, processados nessas operações nos últimos 3 (três) anos, superior ou igual a 600.000 (seiscentos mil) e inferior a 5.000.000 (cinco milhões) AP-3 Aeroporto com operação da aviação comercial regular ou na modalidade de operação charter e com média aritmética anual de passageiros, processados nessas operações nos últimos 3 (três) anos, superior ou igual a 5.000.000 (cinco milhões). Fonte: ANAC (2016). 36 Capítulo 2 Exemplo: O Aeroporto Hipotético (SBHC) é um Aeroporto Internacional de Categoria Tarifária 1, com operação apenas de aviação regular e que processou, nos anos de 2016 (580.300 passageiros); 2017 (656.300 passageiros) e 2018, 602.900 passageiros. Ressaltando que passageiros processados é a soma de passageiros embarcados e desembarcados no aeródromo. Considerando o número de processamento de passageiros teremos: 580.300 + 656.300 + 602.900 3 Nesse caso teríamos uma média aritmética deste aeroporto seria 613.167 passageiros processados, o que levaria a ser classificado como AP-2 para aplicação dos requisitos de Segurança da Aviação Civil pelo Operador do Aeródromo. Cabe ressaltar que, em casos de aeródromos que possuam menos de três anos e por isso não consigam estabelecer, ainda, a sua média aritmética, ele, operador do aeródromo, deve declarar à ANAC a classe em que pretende operar. Nesse caso, nos dois primeiros anos seguintes será avaliada a classe atribuída, podendo ser mantida ou alterada, caso identifique-se a necessidade. O Operador do Aeródromo também pode solicitar o reenquadramento da classificação, quando o aeródromo deixar de atender operações que o classifiquem como AP-1, AP-2 ou AP-3, cabendo ao operador do aeródromo realizar a solicitação à ANAC. Quando entender necessário, a ANAC também pode enquadrar qualquer aeródromo em classe diferente da qual lhe seria aplicável, desde que previamente justificado, com base em avaliação de risco efetuada pela ANAC, ou seja, além do movimento de passageiros processados poderá haver características específicas, relacionadas à AVSEC, que possam requerer a necessidade de um enquadramento diferente daquele em conformidade com o tipo de serviço aéreo em operação e o número de passageiros processados. A ANAC também pode entender que, com base na avaliação de risco, não seja necessária uma mudança de classe, mas estabelecer a obrigatoriedade de atendimento a requisitos específicos para qualquer operador de aeródromo, desde que previamente justificado, independentemente da classe atribuída. 2.2 Avaliação de risco O anexo 17 estabelece como norma que, “Cada Estado contratante avaliará constantemente o nível de ameaça para a aviação civil em seu território. Além disso, deve estabelecer políticas e procedimentos para ajustar os aspectos relevantes de seu programa nacional para segurança da aviaçãocivil, com base em uma avaliação de risco para a aviação realizada pelas autoridades nacionais competentes.” (ICAO, 2017). 37 Segurança da aviação contra atos de interferência ilícita Se consideramos que uma das tarefas dos especialistas em segurança da aviação é projetar um sistema de segurança eficiente e eficaz que responda às ameaças contra a aviação civil, certamente o primeiro passo neste processo deve ser uma avaliação precisa das ameaças. Ao avaliar as ameaças, sugere-se que seja utilizada uma abordagem sistemática e quantificável para avaliar uma ou mais ameaças reais contra um aeroporto, operador aéreo ou país. Portanto, três princípios de segurança devem ser considerados nesta metodologia: • Identificando a ameaça; • Aplicar um processo de análise e divulgação; • Manutenção de um sistema de acompanhamento e progresso. Para avaliar as ameaças contra a aviação civil, os processos de previsibilidade devem ser usados na aplicação de um sistema inteligente de gerenciamento de riscos para a segurança da aviação civil nos aeroportos. Por isso a avaliação de risco também deve ser aplicada na elaboração de estudos e projetos com fins de reforma, modernização ou ampliação da infraestrutura e instalações aeroportuárias, neste caso, o operador de aeródromo também deve garantir que os aspectos de AVSEC sejam observados e contemplados. 2.3 Equipamentos de segurança Todo dispositivo de natureza especializada, de uso individual ou integrante de um sistema, utilizado para auxílio na detecção de intrusos, armas, substâncias, objetos ou dispositivos proibidos ou perigosos é considerado pelo Operador do Aeródromo como um Equipamento de Segurança. Com base nesse conceito, são considerados equipamentos de segurança aqueles que podem ser empregados nas instalações do aeródromo, entre outros, os seguintes tipos de dispositivos: a. Câmera de vigilância; b. Detector automático de presença; c. Detector manual de metais; d. Pórtico detector de metais; e. Escâner Corporal (Body Scanner); f. Equipamento de raios-x convencional; g. Equipamentos de detecção automática de explosivos (EDS): · Equipamento de raios-x baseado em algoritmos; · Equipamento do tipo CT (Computed Tomography); h. Equipamento detector de traços explosivos (ETD). 38 Capítulo 2 Quadro 2 -Funcionalidade Equipamentos de Segurança Equipamento pórtico detector de metais: equipamento utilizado para inspeção não invasiva de pessoas, capaz de detectar a presença de objetos metálicos escondidos junto ao corpo dos inspecionados. Equipamento detector manual de metais: também conhecido como “raquete”, é um equipamento portátil utilizado para inspeção não invasiva de pessoas, capaz de detectar a presença de objetos metálicos escondidos junto ao corpo dos inspecionados. Equipamento de raios-x convencional: equipamento utilizado para inspeção não invasiva de objetos, por meio da emissão de raios-x. Pode ser do tipo single view, capaz de gerar uma imagem de cada objeto contido num volume de bagagem, carga ou correio, ou multi-view, capaz de gerar duas ou mais imagens de cada objeto. Equipamento de raios-x baseado em algoritmos: também conhecido como equipamento de raios-x com EDS (explosive detection system), é utilizado para inspeção não invasiva de objetos. É capaz de determinar o coeficiente de absorção de massa de um material pela interação da energia dos raios-x com o material, identificando substâncias com alta possibilidade de serem explosivas. 39 Segurança da aviação contra atos de interferência ilícita Equipamento detector de traços explosivos: equipamento utilizado para a inspeção de pessoas ou objetos com tecnologia capaz de detectar a presença de pequenas quantidades de materiais explosivos. Escâner corporal: também conhecido como Body Scanner, é um equipamento utilizado para inspeção não invasiva de pessoas, capaz de detectar a presença de objetos metálicos e não metálicos escondidos junto ao corpo dos inspecionados. Fonte: Elaborado pelo autor, 2019. A maioria dos aeroportos, atualmente, possuem várias fases de verificação/ inspeção para garantia da segurança da aviação civil. Isso já começa quando o passageiro chega à área de check-in, momento em que é necessária sua identificação. Em seguida, eles respondem a algumas perguntas de segurança ainda no processo de check-in, como o conteúdo de suas malas e se outra pessoa teve acesso a elas. Com o advento da tecnologia, esse processo importante das etapas da segurança acabou sendo “pulado” por conta do “Web Check-in” e “Totem de Check-in” que, ainda, não possuem ferramentas de segurança capazes de identificar um passageiro suspeito, mas, para um futuro próximo, já estão sendo realizados testes de equipamentos que podem cobrir esse “gap”, veremos isso mais a frente. 40 Capítulo 2 Uma vez que o passageiro despache sua bagagem na área de check-in, ele também poderá optar por levar uma bagagem de mão, com certas restrições de peso e conteúdo, incluindo líquidos com mais que 100 ml para voos internacionais e outros considerados proibidos para embarque. As restrições são variáveis, seja as estabelecidas pelo operador aéreo, devido à classe de voo, se doméstico ou internacional ou ainda por aquilo que está estabelecido em norma. Itens Proibidos para embarque são artigos que não devem ser transportados na cabine de aeronaves ou serem conduzidos em Área Restrita de Segurança. Dessa forma, por medidas de segurança, não podem estar na bagagem de mão, entre eles, objetos cortantes e produtos inflamáveis, explosíveis e outros itens classificados como artigos perigosos (salvo exceções). Nos voos internacionais, frascos de líquidos com capacidade superior a 100 ml também não são admitidos. Existe exceção a esses itens para pessoas autorizadas e quando necessários para realizar tarefas essenciais. Tais tarefas essenciais se referem às operações do aeroporto ou aeronave, manutenção, abastecimento de aeronaves, provisões de bordo e serviços de bordo ou ainda operações de órgãos de segurança. Conforme a ANAC (2011), sem prejuízo das normas de segurança aplicáveis, os passageiros NÃO poderão transportar para as áreas restritas de segurança nem para a cabine de uma aeronave os seguintes artigos: Quadro 3 - Itens Proibidos para Embarque Descrição Inclui Pistolas, armas de fogo e outros dispositivos que disparem projéteis: dispositivos que podem ou aparentam ser utilizados para causar ferimentos graves por meio do disparo de um projétil. 1) armas de fogo de qualquer tipo, tais como pistolas, revólveres, carabinas, espingardas; 2) armas de brinquedo, réplicas ou imitações de armas de fogo que podem ser confundidas com armas verdadeiras; 3) componentes de armas de fogo, excluindo miras telescópicas; 4) armas de pressão por ação de ar e gás comprimido ou por ação de mola, tais como armas de paintball, airsoft, pistolas e espingardas de tiro a chumbo ou outros materiais; 5) pistolas de sinalização e pistolas de partida esportiva; 6) bestas, arcos e flechas; 7) armas de caça submarina, tais como arpões e lanças; e 8) fundas e estilingues; Dispositivos neutralizantes — dispositivos destinados especificamente a atordoar ou a imobilizar. 1) dispositivos de choque elétrico, tais como armas de choque elétrico e bastões de choque elétrico; 2) dispositivos para atordoar e abater animais; e 3) químicos, gases e aerossóis neutralizantes ou incapacitantes, tais como spray de pimenta, gás lacrimogêneo, sprays de ácidos e aerossóis repelentes de animais; 41 Segurança da aviação contra atos de interferência ilícita Objetos pontiagudos ou cortantes — objetos que, devido à sua ponta afiada ou às suas arestas cortantes, podem ser utilizados para causar ferimentos graves, 1) objetos concebidos para cortar, tais como machados, machadinhas e cutelos; 2) piolets e picadores de gelo; 3) estiletes, navalhas e lâminas de barbear, excluindo aparelho de barbear em cartucho;4) facas e canivetes com lâminas de comprimento superior a 6 cm; 5) tesouras com lâminas de comprimento superior a 6 cm medidos a partir do eixo; 6) equipamentos de artes marciais pontiagudos ou cortantes; 7) espadas e sabres; e 8) instrumentos multifuncionais com lâminas de comprimento superior a 6 cm; Ferramentas de trabalho — ferramentas que podem ser utilizadas para causar ferimentos graves ou para ameaçar a segurança da aeronave 1) pés-de-cabra e alavancas similares; 2) furadeiras e brocas, incluindo furadeiras elétricas portáteis sem fios; 3) ferramentas com lâmina ou haste de comprimento superior a 6 cm que podem ser utilizadas como arma, tais como chaves de fendas e cinzéis; 4) serras, incluindo serras elétricas portáteis sem fios; 5) maçaricos; 6) pistolas de cavilhas, pistolas de pregos e pistolas industriais; e 7) martelos e marretas; Instrumentos contundentes — objetos que podem causar ferimentos graves se utilizados para agredir alguém fisicamente, 1) tacos de beisebol, polo, golfe, hockey, sinuca e bilhar; 2) cassetetes, porretes e bastões retráteis; 3) equipamentos de artes marciais contundentes; e 4) soco-inglês; Substâncias e dispositivos explosivos ou incendiários — materiais e dispositivos explosivos ou incendiários que podem ou aparentam poder ser utilizados para causar ferimentos graves ou para ameaçar a segurança da aeronave. 1) munições; 2) espoletas e fusíveis; 3) detonadores e estopins; 4) réplicas ou imitações de dispositivos explosivos; 5) minas, granadas e outros explosivos militares; 6) fogos de artifício e outros artigos pirotécnicos; 7) botijões ou cartuchos geradores de fumaça; 8) dinamite, pólvora e explosivos plásticos; 9) substâncias sujeitas a combustão espontânea; 10) sólidos inflamáveis, considerados aqueles facilmente combustíveis e aqueles que, por atrito, podem causar fogo ou contribuir para ele, tais como pós metálicos e pós de ligas metálicas; 11) líquidos inflamáveis, tais como gasolina, etanol, metanol, óleo diesel e fluido de isqueiro; 12) aerossóis e atomizadores, exceto os de uso médico ou de asseio pessoal, sem que exceda a quantidade de quatro frascos por pessoa e que o conteúdo, em cada frasco, seja inferior a 300 ml ou 300 g; 13) gases inflamáveis, tais como metano, butano, propano e GLP; 14) substâncias que, em contato com a água, emitem gases inflamáveis; 15) cilindros de gás comprimido, inflamável ou não, tais como cilindros de oxigênio e extintores de incêndio; e 16) isqueiros do tipo maçarico, independentemente do tamanho; 42 Capítulo 2 Substâncias químicas, tóxicas e outros itens perigosos — substâncias capazes de ameaçar a saúde das pessoas a bordo da aeronave ou a segurança da própria aeronave 1) cloro para piscinas e banheiras; 2) alvejantes líquidos; 3) baterias com líquidos corrosivos derramáveis; 4) mercúrio, exceto em pequena quantidade presentes no interior de instrumentos de medição térmica (termômetro); 5) substâncias oxidantes, tais como pó de cal, descorante químico e peróxidos; 6) substâncias corrosivas, tais como ácidos e alcaloides; 7) substâncias venenosas (tóxicas) e infecciosas, tais como arsênio, cianetos, inseticidas e desfolhantes; 8) materiais infecciosos, ou biologicamente perigosos, tais como amostras de sangue infectado, bactérias ou vírus; e 9) materiais radioativos (isótopos medicinais e comerciais); Outros — itens proibidos que não se enquadram nas categorias anteriores: 1) dispositivos de alarme (excluindo dispositivo de relógio de pulso e de equipamentos eletrônicos permitidos a bordo); e 2) materiais que possam interferir nos equipamentos das aeronaves e que não estejam relacionados entre os dispositivos eletrônicos permitidos, tais como telefone celular, laptop, palmtop, jogos eletrônicos, pager, que são de uso controlado a bordo de aeronaves; Itens tolerados — itens que são tolerados, respeitadas as especificações que se seguem. 1) saca-rolhas; 2) canetas, lápis e lapiseiras, com comprimento inferior a 15 cm; 3) isqueiros com gás ou fluido com comprimento inferior a 8 cm, na quantidade máxima de um por pessoa; 4) fósforos, em embalagem com capacidade não superior a 40 palitos, na quantidade máxima de uma caixa por pessoa; 5) bengalas; 6) raquetes de tênis; 7) guarda chuvas; e 8) martelo pequeno para uso em exames médicos; Fonte: ANAC (2011). Depois do check-in, em próxima etapa, o passageiro passa por um Canal de Inspeção, o qual é caracterizado como um ponto de controle de acesso à Área Restrita de Segurança (ARS), constituído de um ou mais Módulos de Inspeção de Segurança. Em alguns aeroportos domésticos europeus, como o Reino Unido e a Irlanda, uma foto é tirada do passageiro antes de chegar à área onde será realizada a Inspeção de Segurança da Aviação Civil. Aqui os passageiros serão submetidos a procedimentos padronizados, com uso de recursos humanos e tecnológicos para visualizar a bagagem de mão dos passageiros e inspecioná- los. Neste local, líquidos e laptops são retirados da bagagem de mão e colocados separadamente para melhor visualização pelos Scanners de Raios X. Esses equipamentos exibem uma imagem 2D e, se o agente responsável pela inspeção tiver suspeitas sobre a bagagem de mão, com a identificação de um objeto suspeito, essa bagagem será verificada manualmente por outro agente. O objetivo da inspeção dos passageiros e suas bagagens de mão é prevenir que armas, 43 Segurança da aviação contra atos de interferência ilícita explosivos, artefatos ou agentes químicos, biológicos, radioativos, nucleares ou substâncias e materiais proibidos, assim considerados os constantes do Anexo desta Resolução, sejam introduzidos, sem autorização, às áreas restritas de segurança - ARS, ou a bordo de aeronave. O passageiro também passa por um detector de metais e se houver um alarme sonoro, o processo será repetido quantas vezes forem necessárias, até que o alarme não soe mais, podendo, se necessário, realizar até uma inspeção de busca pessoal. O passageiro somente poderá ter acesso às ARS, caso tenha passado por todos os procedimentos de segurança previstos, garantindo a sua esterilidade, ou seja, garantir a inexistência de qualquer dispositivo ou objeto que possa ser utilizado para a prática de ato de interferência ilícita, caso não, ele deverá ter seu acesso negado. Área do Lado Ar de um aeroporto, identificada como área prioritária de risco, onde, além do controle de acesso, outros controles de segurança são aplicados. Tal área normalmente inclui as áreas da aviação comercial, de embarque de passageiros entre o ponto de inspeção e a aeronave, rampa, áreas de bagagens, inclusive as áreas nas quais as aeronaves são trazidas para operação e é realizada a inspeção de bagagem e carga, depósitos de carga, centros de tratamento dos Correios, instalações para os serviços de comissaria e instalações de limpeza das aeronaves, entre outras, é denominada Área Restrita de Segurança. (ANAC, 2019). Inspeção de segurança da aviação civil significa a atividade de aplicação de meios técnicos ou de outro tipo, com a finalidade de identificar e detectar armas, explosivos ou outros artigos perigosos que possam ser utilizados para cometer ato de interferência ilícita. Nesse regulamento, aplicam-se os termos “inspeção de segurança” ou “inspeção” com o mesmo significado; Quando aplicado (considerando o requisito do aeródromo) os Canais de Inspeção dispõem também de detectores de traços de explosivos - ETD, onde aleatoriamente e sempre que julgado necessário, os passageiros devem passar por medidas adicionais de segurança, que podem incluir busca pessoal, inspeção manual da bagagem de mão (aleatória) e a utilização destes ETDs e outros equipamentos de segurança. Em suma, o Operador Aeroportuário, após definir suas Áreas Restritas de Segurança, deve implantar os Canais de Inspeção de Segurança compatíveis com os requisitos estabelecidos pelo regulamento aplicado e realizar a Inspeçãode Segurança da Aviação Civil, por meio de Módulo de inspeção de segurança, que são caracterizados por um conjunto mínimo de recursos humanos e materiais habilitados a realizar os procedimentos de inspeção de pessoas e pertences de mão em um ponto de controle de acesso de pessoas à ARS. 44 Capítulo 2 A Figura 1 apresenta todos os elementos de um Módulo de Segurança padrão da TSA – Transport Security Administration, uma agência de segurança dos Estados Unidos, criada como resposta aos ataques de 11 de Setembro de 2001, atua como autoridade de segurança aeroportuária no país americano. Estes módulos por mais simples que sejam, requerem uma alocação adequada de espaço. A Figura também apresenta os componentes típicos que podem fazer parte do processo de Inspeção de Segurança da Aviação Civil, quando um indivíduo passa de Áreas Públicas ou Controladas para uma ARS. Esses módulos devem ser operados, no mínimo, com os recursos humanos e materiais estabelecidos na legislação, respeitando a classe e as características de operação do aeródromo. Figura 1 - Composição de Modulo de Segurança TSA A = Área de Verificação e Orientação Pré Inspeção B = Espaço para realização de Fila de Inspeção C = Passagem pelo Detector de Metais D = Barreiras não metálicas E = Barreira / Portão de Acesso não metálico F = Raio-X de Bagagem de Mão G = Colocação e Retirada dos Pertences H = Barreiras ou Paredes adjacentes que delimitam a área de inspeção I = Área de Inspeção Manual J = Supervisão de Procedimentos K = Detector de Traços Explosivos ETD L = Saída para ARS Fonte: TSA (2006). 45 Segurança da aviação contra atos de interferência ilícita Na Figura 2 há a representação gráfica dos processos de segurança, descritos anteriormente, a qual um passageiro e sua bagagem são submetidos e as respectivas responsabilidades em cada etapa. Figura 2 - Etapas do passageiro no processo de segurança no aeroporto Fonte: Elaborado pelo autor (2019). A inspeção e busca em passageiros e suas bagagens é uma parte fundamental e ao mesmo tempo básica para a segurança da aviação. Os Estados, Operadores Aeroportuários e Operadores Aéreos têm a responsabilidade de garantir que as pessoas e as bagagens embarcadas nas aeronaves não coloquem em risco a proteção e a segurança de um voo. A inspeção dos passageiros e da bagagem de mão pode ser realizada por meio da utilização de detectores de metais, Raios X, detectores de traços explosivos ou outros dispositivos, por uma inspeção manual ou por uma combinação de ambos. No interesse da facilitação e redução do número de passageiros e quantidade de bagagem de mão sujeita a uma inspeção manual, estudos demonstram que os equipamentos de segurança devem ser utilizados por meio de procedimentos padronizados, os quais devem ser estabelecidos no Programa de Segurança do Aeroporto – PSA e em conformidade com os regulamentos estabelecidos pela agência reguladora (ICAO, 2006). Além de uma quantidade adequada de Profissionais de Segurança da Aviação, qualquer sistema de inspeção também deve utilizar equipamentos técnicos adequados em termos de recursos, Calibração e Manutenção. A busca manual de pessoas e bagagem de mão pode ser eficaz, desde que haja tempo suficiente e os procedimentos sejam conduzidos por pessoal treinado e qualificado. O uso de detectores de metais, Raios-X e equipamentos de detecção de traços explosivos certamente aumentará significativamente a eficácia do processamento e facilitará o fluxo de passageiros. 46 Capítulo 2 O operador de aeródromo deve manter os equipamentos calibrados de forma a atender aos requisitos desse regulamento, em função do nível de ameaça. Com o objetivo de garantir a calibração e a eficácia adequada dos equipamentos de segurança e sistemas de suporte, o operador de aeródromo deve elaborar e implementar um programa de testes e ensaios de aferição. O operador de aeródromo deve, também, manter os equipamentos em condições normais de operação, observando os requisitos regulamentares e as recomendações dos fabricantes dos equipamentos, onde a garantia das condições normais de operação deve ser buscada, por um programa de Manutenção preventiva que inclua procedimentos alternativos em caso de falhas. (ANAC, 2016). Porém, quando os procedimentos de inspeção forem completamente manuais ou apoiados pelo uso de equipamentos e seus operadores não forem devidamente treinados, ou ainda, haja falta de calibração e/ou manutenção dos equipamentos de segurança, certamente os níveis aceitáveis de segurança não serão atingidos, e a segurança da aeronave, bem como do terminal de passageiros, tudo isso pode ser colocado em risco. (ICAO, 2006). Os equipamentos de inspeção de segurança, embora essenciais para garantir a segurança e a proteção da aviação civil internacional, devem sempre ser considerados como suporte ao pessoal de segurança. Portanto, é fundamental que o Treinamento dos Recursos Humanos voltados à Segurança da Aviação Civil seja altamente qualificado, pois o resultado do processo terá uma correlação direta na qualidade da inspeção realizada. 2.4 Recursos humanos Os recursos humanos são considerados aspectos críticos para a segurança da aviação. A equipe de inspeção de passageiros e bagagem, vigilantes, policiais, bem como funcionários dos aeroportos e dos operadores aéreos em geral são elementos importantes de um sistema que previne e impede atos de interferência ilícita contra a aviação civil. A tecnologia pode melhorar, mas não pode substituir as capacidades dessas pessoas e os muitos serviços que elas fornecem. Além disso, práticas de gestão baseadas em resultados de pesquisas comportamentais podem melhorar ainda mais o desempenho humano. Para isso o operador de aeródromo deve designar profissionais capacitados, que atendam critérios de seleção, de acordo com requisitos estabelecidos em regulamento específico, no caso de Profissionais AVSEC os requisitos aplicados estão no RBAC 110 - Programa Nacional de Instrução em Segurança da Aviação Civil Contra Atos de Interferência Ilícita – PNIAVSEC. Nesse caso, a seleção é um processo fundamental na garantia do desempenho dos recursos humanos aplicados à segurança da aviação civil, identificação de antecedentes, análise de perfil para a atividades, capacitação adequada são fatores essenciais. 47 Segurança da aviação contra atos de interferência ilícita A inspeção de segurança nos aeroportos é uma tarefa desafiadora, isso é fato. De acordo com vários especialistas, o fator humano é frequentemente o elo mais fraco do sistema de segurança. Estudos voltados ao fator humano realizados no início dos anos 2000, envolvendo vários aeroportos internacionais, em quatro países europeus, demonstraram como os operadores humanos podem, de fato, tornar-se o elo mais forte, se forem selecionados e treinados de forma eficaz. Não se pode ter equipamentos de segurança de última geração se o operador não souber operar ou extrair as informações adequadas do equipamento para uma análise. A cognição visual e os estudos de reconhecimento de objetos mostraram que você só pode reconhecer um objeto se ele é semelhante a algo que você já viu. As consequências para a inspeção, por meio dos Raios-x, estão ilustradas na Figura 3. Cada bolsa contém um objeto de ameaça e cada uma delas parece bem diferente na imagem de Raios X do que na realidade. Essa é uma razão pela qual muitos itens de ameaça são difíceis de reconhecer sem treinamento. (SCHWANINGER, 2006). Um segundo ponto é que vários objetos não são comuns ou conhecidos da experiência cotidiana dos operadores dos equipamentos, o que explica pelo menos o spray de gás para autodefesa no quadro “C” e o Dispositivo Explosivo Improvisado (IED) descrito no quadro “D”. Além disso, alguns objetos de ameaça parecem bastante semelhantes a objetos inofensivos. Por exemplo, a faca de lâmina de corte representada no quadro “B” se assemelha a uma caneta ou um apontador laser. Outro problemaé a imagem difícil resultante de mudanças no ponto de vista, o ângulo que a imagem é projetada também pode gerar dificuldade na identificação dos objetos proibidos para embarque. Figura 3 - Objetos identificados em Equipamentos Raios X Fonte: SCHWANINGER (2006). 48 Capítulo 2 Nesse contexto, a certificação dos profissionais que realizam operações de inspeção não significa que apenas o treinamento inicial é essencial, mas também a reciclagem, seguido de testes para assegurar que o pessoal de inspeção mantém o nível de competência necessário para realizar as inspeções de segurança. Para que qualquer treinamento seja reconhecido, quem participa deve ser avaliado em todos os treinamentos que recebe. O objetivo é avaliar o conhecimento (o quê), as habilidades (como) e atitudes (por que) do pessoal nas metas e objetivos do treinamento. O conhecimento deve ser testado em provas escritas e as habilidades por testes práticos. (ICAO, 2006). 2.5 Zoneamento e barreiras de segurança Vários elementos ou componentes de uma operação aeroportuária devem ser considerados ao planejar a proteção das instalações de um aeroporto. A Figura 4 é uma representação visual das diferentes áreas em um aeroporto padrão, como um terminal, pátio de aeronaves, pistas de taxiamento, torre de controle e muitos outros componentes que são tipicamente mostrados de forma mais abrangente em um layout de aeroporto. Dessa forma, é fundamental que o Operador do Aeródromo defina as áreas e instalações que precisam ser protegidas, sejam elas, Áreas Controladas (AC) ou Áreas Restritas de Segurança (ARS). Para definir o Zoneamento de Segurança é fundamental definir quais são os Pontos Sensíveis. Figura 4 - Áreas do Aeroporto Fonte: MYKD , (2019). Zoneamento de segurança significa a demarcação de áreas ou instalações aeroportuárias por meio da identificação e delimitação, de forma que estejam devidamente classificadas como área pública, área controlada ou área restrita de segurança. 49 Segurança da aviação contra atos de interferência ilícita Ponto Sensível é área, instalação ou outra facilidade aeroportuária que, se avariada ou destruída, prejudicará o funcionamento normal do aeroporto, ressaltando que, a identificação dos pontos sensíveis deve incluir, ao menos, as instalações de auxílio à navegação aérea, instalações de fornecimento de água, energia elétrica e combustível para aviação civil e, ainda, pistas de pouso e decolagem ou pistas de táxi que passem sobre via pública. O operador de aeródromo deve identificar os pontos sensíveis, situados dentro e fora do perímetro patrimonial do aeródromo, e suas áreas adjacentes, demarcando-os em plantas do sítio aeroportuário e entorno, de forma que permita a interpretação clara dos pontos. Quando o ponto sensível estiver localizado dentro do perímetro patrimonial do aeródromo, o operador de aeródromo deve implantar barreiras de segurança que sejam capazes de dissuadir e dificultar o acesso indevido (não autorizado) de pessoas às áreas dos pontos sensíveis; e manter vigilância permanente dos pontos sensíveis, de forma a garantir a proteção adequada das áreas e medidas de pronta resposta nas situações necessárias, tais como identificação de acesso indevido e de outras ameaças ao funcionamento normal do ponto sensível (ANAC, 2016). Qualquer área definida como local que seja necessário a existência de controle e/ ou garantia de segurança deve ter limites identificáveis para que essa área seja devidamente reconhecida e gerenciada implantando barreiras de segurança que sejam capazes de dissuadir e dificultar o acesso indevido (não autorizado) de pessoas às áreas dos pontos sensíveis. Tais barreiras são caracterizadas por meios físicos constituídos de obstáculos, cercas, muros, instalações ou quaisquer outros recursos artificiais ou naturais que possam impedir o ingresso de pessoas à área restrita de segurança, canalizando o acesso a pontos de controle estabelecidos. Em resumo, a barreira de segurança serve para delimitar um perímetro, dissuadir o acesso não autorizado, atrasar ou dificultar o acesso de intrusos e facilitar a detecção de intrusos, podendo ser classificada como barreira física (artificial) ou natural (BRASIL, 2010). Em alguns casos, os limites devem atender a um requisito regulamentar para evitar ou impedir o acesso a uma área, mas, em muitos casos, os limites podem não ser barreiras físicas, como cercas ou muros; em vez disso, podem ser linhas pintadas, placas de sinalização com monitoramento eletrônico, áreas pavimentadas ou ainda barreiras naturais, como rios ou vegetação, ou ainda, simplesmente, coordenadas geográficas. Por exemplo, a segregação de um Pátio de Estacionamento de Aeronaves que pode ser definido como uma Área Restrita de Segurança e a Pista de Táxi que, pode ser colocada como uma área Controlada, nesse caso, não há como inserir barreiras físicas delimitando tais áreas, mas pode definir algumas ações que possam identificar cada uma dessas áreas, conforme o Zoneamento de Segurança. Isso pode ser feito pela Sinalização Vertical e/ou Horizontal, Monitoramento Eletrônico ou outra que seja eficaz para manutenção da esterilidade das ARS. 50 Capítulo 2 A Figura 5 apresenta um Zoneamento de Segurança bem simplificado, demonstrando algumas áreas. A área circulada pela linha (- - -), seria a Área Operacional do Aeroporto (Lado AR), que, somada à área circulada pela linha (--------) (Lado Terra), resultaria na área patrimonial do aeroporto. Na área operacional temos: (2) Área Controlada e (1) Área Restrita de Segurança, e temos ainda uma instalação que pode ser considerada como Ponto Sensível, a Torre de Controle (TWR). Para essas áreas, o operador deve implementar medidas de controle de acesso e barreiras de segurança, para que o seu acesso seja exclusivo a pessoas autorizadas. Já na Área Pública (3), não são necessários aplicação de medidas de controle de acesso, porém o monitoramento é necessário. Figura 5 – Zoneamento de Segurança do aeroporto TWR Fonte: https://www.cgtrader.com/3d-models/exterior/cityscape/airport-animated-05. Assim como as áreas externas do aeroporto devem ter um Zoneamento de Segurança, o operador de aeródromo também deve estabelecer e implantar o mesmo requisito no terminal de passageiros, demarcando as áreas restritas, controladas e públicas em plantas da edificação do terminal, de forma que permita a interpretação clara das áreas, devendo apresentar, no mínimo: as delimitações de áreas públicas, áreas controladas e áreas restritas de segurança; e o fluxo de entrada, saída e circulação de passageiros e funcionários nas áreas restritas de segurança (ANAC, 2016). https://www.cgtrader.com/3d-models/exterior/cityscape/airport-animated-05 51 Segurança da aviação contra atos de interferência ilícita A Figura 6 representa um fluxo de embarque de passageiro e a definição de suas áreas. As áreas (1) via de acesso ao terminal de passageiros e (2) entrada do terminal de passageiros geralmente são caracterizadas como áreas públicas, ou seja, não possuem controle de acesso, mas são devidamente monitoradas. Há países ou aeroportos específicos em que essas áreas já são consideradas controladas, isso depende da Avaliação de Risco realizada pelas autoridades responsáveis com base no nível de ameaça. A área de check-in (3) é outra que pode variar entre pública e controladas, isso dependerá das especificidades de cada complexo aeroportuário. As áreas de Inspeção de Passageiros (4), Estacionamento de Aeronaves (6) e (5) Inspeção de Bagagem Despachada (somente a área de processamento de bagagem despachada), são definidas como Áreas Restritas de Segurança. Figura 6 - Zoneamento de Segurança Terminal de Passageiros Fonte: (?) 52 Capítulo 2 Sempre que identificado acesso ou tentativa de acesso por pessoa não autorizada à área operacional ou à aeronave, o operador de aeródromo deve aplicar medidas de pronta resposta que sejam suficientes para impedira continuidade do acesso e mitigar os possíveis efeitos negativos, incluindo, quando necessário, a comunicação ao órgão de segurança pública responsável pelas atividades de polícia no aeródromo, especialmente no sentido de proteger a ARS. 2.6 Credencial e autorizações aeroportuária Qualquer pessoa que trabalhe em um aeroporto e que tenha uma necessidade operacional de acesso às Áreas Controladas ou Áreas Restritas de Segurança deve ter uma Credencial Aeroportuária, enquanto para veículos a necessidade é de uma Autorização. Esse é um requisito da legislação brasileira. Os portadores da credencial aeroportuária passam por uma extensa verificação de antecedentes e requisitos para garantir sua regularidade para operar em áreas de segurança do aeroporto. Credencial Aeroportuária é um crachá ou cartão de identificação de pessoas, expedido pela administração aeroportuária, de uso ostensivo e obrigatório nos aeroportos, para o controle de segurança da aviação civil. Sem dúvida, a Credencial Aeroportuária é uma das principais ferramentas para a segurança da aviação civil no aeroporto, considerando a obrigatoriedade de seu uso ostensivo nas áreas operacionais. Quando identificado qualquer pessoa sem isso, há necessidade de averiguação e/ou acionamento das medidas previstas no Programa de Segurança do Aeroporto. Possui caráter local, individual e intransferível. É o operador de aeródromo quem define os modelos de credencial aeroportuária e autorização de veículos, observando características e informações mínimas (Figura 7) adequadas para as atividades de identificação e vigilância e que previnam contra falsificações ou reproduções não autorizadas. Dessa forma, cada credencial é específica a cada aeroporto, ou seja, a credencial e a autorização terão validade apenas no ambiente do aeródromo que as emitiu e devem ser classificadas em duas categorias: permanente ou temporária. 53 Segurança da aviação contra atos de interferência ilícita Figura 7 - Credencial Aeroportuária - Pessoas Fonte: Elaborado pelo autor (2019). Já os modelos de autorizações de veículos e equipamentos devem possuir, no mínimo, as seguintes características e informações: a. Identificação do aeródromo; b. Marca, modelo e cor do veículo ou equipamento; c. Número de registro da autorização no sistema de credenciamento; d. Nome da entidade responsável pelo veículo ou equipamento; e. Áreas em que o acesso é permitido, conforme códigos e níveis de acesso utilizados no aeródromo; f. Registro ou número de série do veículo ou equipamento; g. Ponto de controle de acesso por onde é permitido o trânsito do veículo ou equipamento; h. Tipo de serviço que realiza (transporte de pessoas, transporte de carga, reboque, entre outros); i. Data de expedição e validade. A credencial ou autorização permanente é concedida às pessoas ou veículos que possuírem autorização para adentrar, sem acompanhamento, às áreas operacionais do aeródromo e são direcionadas aos funcionários, veículos e equipamentos de organizações públicas ou privadas atuantes no aeródromo, enquanto a credencial ou autorização temporária é concedida às pessoas ou veículos que possuírem autorização para adentrar, sob acompanhamento, às áreas operacionais do aeródromo e são direcionadas ao pessoal de serviço e visitantes em geral (ANAC, 2016). 54 Capítulo 2 Além de possuir responsabilidade sobre a emissão das credenciais aeroportuárias, cabe ao operador do aeródromo também estabelecer as ferramentas de Controle das Credenciais e Autorizações por meios administrativos ou tecnológicos, buscando garantir a credibilidade do sistema de credenciamento e autorização o qual deve incluir os procedimentos de renovação periódica e instrumentos para prevenir falsificações, desvios e o uso indevido de credenciais ou autorizações não devolvidas, extraviadas, furtadas ou roubadas. Para a ICAO, a formação de profissionais da aviação desempenha um papel fundamental no alcance dos objetivos de segurança. Pessoal capacitado é essencial para estabelecer, gerenciar e operar o sistema de transporte aéreo de forma segura. Uma vez que a Credencial Aeroportuária é a “Chave de Acesso” às áreas operacionais dos aeroportos, os operadores de aeródromo devem garantir que todas as pessoas com credencial permanente, considerando que com ela o usuário não precisa de acompanhamento, e, ainda, a credencial tenha permissão de acesso às áreas operacionais do aeródromo, tenham participado de atividade de conscientização com AVSEC, ou outras que julgar necessário para garantir um sistema de transporte aéreo atual e futuro, com padrões internacionais de Segurança Operacional, Capacidade e Eficiência da Navegação Aérea, Segurança da Aviação Civil e Facilitação da Aviação, Desenvolvimento Econômico do Transporte Aéreo e Proteção ao Meio Ambiente. 2.7 Programa de segurança aeroportuária Com o objetivo de proteger passageiros, funcionários, operadores aéreos, aeronaves e as instalações, os operadores de aeródromo devem elaborar, implementar e manter um Programa de Segurança Aeroportuária (PSA). O aumento do nível de segurança deve ser alcançado pelo uso de uma abordagem proativa e de aplicação dos regulamentos claramente delineados nele. No Programa devem constar informações gerais do aeródromo e de seu operador, a descrição detalhada da infraestrutura e dos equipamentos de segurança utilizados na AVSEC (tipo, quantidade e localização), as medidas e os procedimentos de segurança empregados no aeródromo, de forma a assegurar que os requisitos regulamentares voltados à AVSEC sejam cumpridos; e na leitura dos procedimentos seja possível esclarecer, no mínimo, os seguintes questionamentos: quem realiza o procedimento; quando é realizado o procedimento; onde é realizado o procedimento; como é realizado o procedimento; Uma espécie de 3W1H (Who, When, Where e How). 55 Segurança da aviação contra atos de interferência ilícita O PSA do aeroporto é um documento reservado, elaborado pela administração aeroportuária, aprovado pela ANAC, que define responsabilidades, bem como a coordenação entre os órgãos e entidades envolvidos e as ações e medidas de segurança a serem adotadas no aeroporto, relacionadas à proteção da aviação civil contra atos de interferência ilícita. Os programas de segurança não devem ser vistos como um conjunto de procedimentos teóricos a ser seguido, mas sim definir os objetivos do programa e dar flexibilidade suficiente para lidar com eventos específicos. Atos de interferência ilícita não aparecem no calendário de atividades de um aeroporto, com data e hora para acontecer, eles são imprevisíveis, por isso é necessário deixar a sequência detalhada das ações para os responsáveis pela segurança do aeroporto. O principal objetivo é garantir que as ações tomadas para salvaguardar a instalação sejam coordenadas com base em um programa único. Por isso a necessidade de incorporar outros Planos e Programas a ele, tais como: • Plano de Segurança de Transporte Aéreo de Valores (PSTAV); documento elaborado pelo operador de aeródromo, com a participação do(s) órgão(s) de segurança pública competente(s), dos operadores aéreos e de empresas de segurança privada de transporte de valores, no qual serão estabelecidas as medidas preventivas e as repressivas contra qualquer tentativa delituosa de obstar as operações de embarque e desembarque de valores no aeródromo; • Plano de Contingência de AVSEC do Aeródromo (PCA); documento também de responsabilidade do Operador de aeródromo quanto á elaboração, implementação e manutenção, em coordenação com os operadores aéreos, exploradores de área e demais órgãos públicos e entidades envolvidos com a segurança da aviação civil, a fim de responder ameaças ou atos de interferência ilícita que possam afetar a segurança, com o menor impacto possível às operações do aeródromo; • Programa de Instrução de AVSEC do operador de aeródromo, nos termos do PNIAVSEC, tem por objetivo apresentartodo o processo de seleção e capacitação dos empregados contratados e aqueles que acessam as áreas operacionais dos aeroportos, nos aspectos voltados à segurança da aviação civil; • Programa de Controle de Qualidade AVSEC do operador de aeródromo, nos termos do PNCQ/AVSEC, o qual estabelece a política e as diretrizes aplicáveis ao controle de qualidade da segurança da aviação civil contra atos de interferência ilícita da ANAC, orientando o planejamento e a execução das atribuições da Agência na temática do controle de qualidade AVSEC, conforme definido na legislação vigente. 56 Capítulo 2 Um sistema é composto de pessoas, propriedade, ambiente e procedimentos que são integrados para executar uma função operacional específica em um ambiente específico. Os elementos de um sistema são diversos e interativos. Um plano de segurança do aeroporto bem-sucedido deve integrar e coordenar as funções de cada elemento no sistema. Seção 3 Futuro da segurança da aviação civil Uma fila aparentemente interminável, o “frenético” tapinha de bolsos, sapatos e cintos enfiados em bandejas, o monótono refrão de “por favor, remova quaisquer líquidos, iPads ou laptops”: bem-vindo à segurança do aeroporto. Os operadores aeroportuários enfrentam desafios cada vez maiores relacionados a tráfego e congestionamento, além de lidar com as ameaças a sua segurança, que estão em evolução. O mundo está mudando rapidamente por meio de inovações em tecnologia da informação, Sistemas Aéreos Pilotados Remotamente (RPAS), robótica e inteligência artificial. Nesse ambiente, os aeroportos precisam ser flexíveis e inovadores para resistir a essas mudanças, que são rápidas como um dos seus principais usuários, o avião. O mercado global de segurança nos aeroportos deverá ultrapassar US $ 12,8 bilhões até 2023, contra US $ 8,82 bilhões em 2015. No entanto, de acordo com a pesquisa de 2016 da International Air Transport Association (IATA), é um dos maiores pontos de sofrimento para os viajantes. Em um mundo ideal, só queremos passar pela segurança e pelo controle de fronteiras uma vez, sem perder nossas vestes ou posses. A partir da inspeção de segurança iniciada em 1973, os 100 ml de restrições a líquidos em 2006 e aumento do uso de scanners corporais em 2009, é evidente que a segurança dos aeroportos evoluiu nas últimas décadas. No entanto, esses desenvolvimentos vêm frequentemente em reação a incidentes voltados à segurança da aviação civil: entre 1968 e 1972, uma aeronave comercial foi sequestrada a cada duas semanas e, em 2009, uma ameaça de bomba foi frustrada quando explosivos escondidos em roupas íntimas falharam e não detonaram. À medida que os terroristas se tornam mais inovadores em esconder armas e identificar pontos fracos, a segurança dos aeroportos deve se adaptar. Os trágicos ataques aos aeroportos de Atatürk e Bruxelas, no ano de 2016, levantaram novos debates se a segurança dos aeroportos deveria ser ampliada para além do perímetro do terminal. 57 Segurança da aviação contra atos de interferência ilícita Para satisfazer as exigências do viajante moderno, mantendo-os seguros, os aeroportos exigem sistemas de segurança que não interfiram no trânsito do passageiro pelo aeroporto, mas detectam ameaças em potencial. Uma solução potencial é o uso de Scanners de Tomografia Computadorizada (TC), mais comumente usados para escancear o cérebro para avaliar lesões na cabeça, para verificar a bagagem de mão. Essa tecnologia 3D de alta definição tem a capacidade de verificar se há líquidos e componentes elétricos armazenados em bagagens de mão. Isso pode revolucionar a desajeitada bagunça de bagagem antes e depois do scanner, para criar um processo rápido. De fato, os scanners de TC há muito tempo são usados para verificar as bagagens que são alocadas no porão da aeronave. Mas, até recentemente, a tecnologia era muito grande e barulhenta para ser usada em áreas lotadas como os canais de inspeção. Figura 8 - Scanners de Tomografia Computadorizada Fonte: LOS ANGELES TIMES (2018). A Transportation Security Administration – TSA planeja expandir o uso de Scanners de Tomografia Computadorizada nos pontos de verificação de segurança dos aeroportos. Ela tem divulgado o uso dos chamados scanners de TC para identificar mais facilmente explosivos e armas escondidos em bagagens de mão e acelerar o processo de inspeção (LOS ANGELES TIMES, 2018). Além dos Scanners de Tomografia Computadorizada, outra área que vem sendo ampliada é a de análise comportamental, na qual especialistas levantaram o papel da análise comportamental na detecção de ameaças. Embora o perfil seja considerado uma técnica controversa, argumenta-se que a ferramenta poderia apoiar uma abordagem direta à inspeção. 58 Capítulo 2 Em aeroportos como o Ben Gurion, de Israel, o perfil comportamental é altamente confiável e a restrição dos 100 ml de líquido não está em vigor. No entanto, a detecção de anormalidades comportamentais permanece relevante para a segurança do aeroporto. O Agente Virtual Automatizado para Avaliações da Verdade em Tempo Real (AVATAR) é uma tecnologia de triagem interativa que pode identificar passageiros que exibem comportamento suspeito. O robô interage com os viajantes e pode detectar alterações nos olhos, voz, gestos e postura para determinar os fatores de risco. Ele ainda entende quando você enrola os dedos dos pés em desconforto. O AVATAR está atualmente sendo testado pela Agência Canadense de Serviços de Fronteira e pelo Departamento de Segurança Interna dos EUA, e pode ser o futuro mais aceitável do perfil comportamental. Figura 9 - Totem AVATAR Fonte: PHYS (2016). No AVATAR, os passageiros se aproximariam do Totem de Check-in e recebem uma série de perguntas como: “Você tem frutas ou legumes na sua bagagem?”; ou “Você está carregando alguma arma com você?”. O Totem também pode fazer uma série de perguntas inócuas para estabelecer medidas de referência, já o software de detecção de olhos e os sensores de movimento e pressão monitoram os passageiros enquanto respondem às perguntas, procurando sinais fisiológicos reveladores de mentiras ou desconforto. Uma vez que o quiosque detectasse alguma anormalidade, eles sinalizariam os passageiros para um exame mais detalhado dos agentes de aeroporto e inspeção. https://www.dhs.gov/sites/default/files/publications/Rapid Screening Tool-NCBSI-AVATAR-Jan2014.pdf https://www.dhs.gov/sites/default/files/publications/Rapid Screening Tool-NCBSI-AVATAR-Jan2014.pdf 59 Segurança da aviação contra atos de interferência ilícita Esses novos modelos de segurança apresentam várias oportunidades para os aeroportos. Os agentes, encarregados de monitorar as imagens de segurança dos scanners de tomografia computadorizada, poderiam fazê-lo remotamente, e o espaço poderia ser melhor usado para o varejo, gerando oportunidades de receita. Segurança é essencialmente, mas com 40% dos passageiros escolhendo sua rota com base na experiência de inspeção do aeroporto, otimizar o processo é imprescindível para os aeroportos e operadores aéreos. No entanto, para cada oportunidade apresentada pela implacável evolução da tecnologia, existem vários riscos. Considerando o Índice de Risco do Transporte, os executivos de aeroportos classificam tanto uma “falha de sistemas críticos de TI” quanto “maior ameaça à segurança devido a violações de privacidade de dados cibernéticos”, entre os cinco principais riscos que enfrentarão na próxima década. Então, o que o futuro reserva para a segurança dos aeroportos? O objetivo final é conseguir um sistema de segurança contínuo e robusto; capaz de escanear eficientemente as bagagens e os passageiros, enquanto melhora a experiência de viagem. À medida que a tecnologia se desenvolve e a regulação se adapta, isso se tornará uma realidade. Certamente, lembraremos disso na próxima vez que soar o alarme do detector de metais ou solicitarem que retiremos nossos sapatos durante a inspeção desegurança. http://www.iata.org/pressroom/pr/Pages/2016-10-18-03.aspx https://www.willistowerswatson.com/en-PH/insights/2016/09/transportation-risk-index-2016 61 Capítulo 3 Segurança da aviação civil contra atos ilícitos para os operadores aéreos 1 Introdução A responsabilidade básica pela segurança da aeronave é atribuída ao operador da aeronave, cujo objetivo principal é impedir o acesso não autorizado ao equipamento. Uma vez que a primeira linha de defesa contra esse acesso é garantir a segurança das barreiras limítrofes que dividem lado terra e lado ar, uma das responsabilidades atribuídas ao operador do aeródromo, os programas de segurança dos operadores de aeronaves devem levar em consideração as Políticas de Segurança da Aviação (ASP), assegurando um esforço e resposta contra atos ilícitos de forma coordenada. Essa interação entre Operador Aeroportuário e Operador Aéreo é fundamental para garantia da segurança das aeronaves, dos passageiros e também da tripulação. Entende-se que muitas vezes os propósitos sejam diferentes, uma vez que para operadores aéreos, a inspeção de segurança da aviação de passageiros e bagagem de mão rápida pode reduzir custos operacionais e problemas com passageiros que, em alguns casos, tornam-se inconvenientes por não se submeterem ao rígido processo de inspeção, do outro lado há a responsabilidade do operador aeroportuário de impedir o acesso às ARS de passageiros que não satisfaçam aos requisitos de segurança da aviação civil estabelecidos no PNAVSEC e nos atos normativos da ANAC. Equilíbrio é fundamental nesse processo que envolve esses dois atores principais do processo. 1 GARCIA, Cleo Marcus. Segurança da aviação contra atos de interferência ilícita: livro didático – Palhoça: UnisulVirtual, 2019. 62 Capítulo 3 Seção 1 Legislação AVSEC aplicada ao operador aéreo Embora cerca de 40% de todo o transporte aéreo hoje ocorra nos Estados Unidos, a tendência a longo prazo é para aumentos impactantes no Transporte Aéreo mundial, impulsionados por mercados emergentes de alto crescimento, como China, Índia, Rússia e Brasil. É amplamente estimado que o volume total de passageiros e carga movimentados pelo sistema de transporte aéreo internacional quase triplicará nos próximos 25 anos. Embora a América continue sendo o maior mercado individual, o maior crescimento virá dos mercados emergentes. Essa realidade de crescimento exige que a gestão da segurança da aviação seja vista não apenas de Estado a Estado, mas como um empreendimento global, em que as melhores práticas - independentemente de onde se originam - sejam integradas a um novo paradigma verdadeiramente internacional em escopo e escala. Não se pode entregar o mérito a uma única pessoa, deve-se reconhecer que voar é resultado de um conjunto de pesquisas e experimentos que fizeram do sonho de sair do chão fosse possível. Certamente a grande invenção do século, o avião, trouxe benefícios inquestionáveis, mas também, por outro lado, provou ser uma arma terrível. Hoje, por conta do seu principal CEO, o avião, a aviação é uma das empresas mais importantes do mundo. O crescimento da indústria nas últimas décadas fez dela um dos motores para a expansão da economia mundial. A indústria da aviação conduziu uma parte substancial da integração econômica e social que aproximou grande parte do mundo. Movendo bilhões de passageiros e bilhões de toneladas de carga a cada ano, a indústria mudou o modo de vida da maioria dos seres humanos neste planeta. A distância é agora medida em horas, em vez de semanas ou meses. Nova York a Hong Kong leva 13 horas por via aérea e 35 dias por via marítima. Os bens manufaturados produzidos em Taiwan podem ser transportados para distribuidores em Ouagadougou, Burkina Faso, em 48 horas. Empresas de Carga Aérea e Correio podem enviar um envelope de Santa Catarina ao Rio de Janeiro em menos de 4h. A indústria da aviação mudou para sempre a maneira como muitos seres humanos olham para o mundo ao seu redor. Uma ênfase na segurança das empresas aéreas continua sendo fundamental para um sistema de aviação civil saudável. O crescimento das viagens aéreas de passageiros e cargas depende de uma infraestrutura adequada e eficiente para apoiar as operações aeroportuárias sem causar um impacto que prejudique o meio ambiente; fluxos rápidos e eficientes de passageiros e bagagens, seja nos pontos de partida, conexão ou destino, e, tudo isso dentro de um ambiente seguro e protegido. (THOMAS, 2008), por isso é responsabilidade de qualquer pessoa associada à aviação contribuir para a segurança das operações e não atribuir toda essa função somente aos profissionais designados especificamente para essa atividade. 63 Segurança da aviação contra atos de interferência ilícita Os sequestros foram a tática mais popular para muitos indivíduos. Entre 1967 e 2004, houve quase 1.000 sequestros de aviões. Estima-se que aproximadamente 85% foram realizados para fins políticos. O sistema internacional de aviação civil, por meio de seu órgão central, a ICAO, começou a responder a essa ameaça, implantando algumas ferramentas, entre elas os conhecidos Equipamentos de Raios X, por exemplo. Essa medida foi parcialmente eficaz, já que frustrou apenas uma média de 19% dos sequestros terroristas na época. Entretanto, causou nos terroristas a necessidade de mudança em suas táticas. Os terroristas então mudaram dos sequestros para a sabotagem de aeronaves com artefatos explosivos em bagagens despachadas, justamente como resposta pelo aumento da segurança em relação à inspeção dos passageiros. Tais táticas ainda são frequentemente usadas para transmitir uma mensagem, geralmente retaliatória. A explosão do voo 103 da Pan Am, em 1988, foi um desses exemplos, a ação foi uma resposta aos ataques dos EUA à infraestrutura militar e terrorista da Líbia. A intenção inicial seria uma explosão sobre o oceano, entretanto, ela explodiu sobre a cidade de Lockerbie, na Escócia, resultando em imagens chocantes que enfureceram a população como um todo. A imagem do nariz do Boeing 747 destruída em um campo Escocês tornou-se o símbolo do terrorismo internacional até 11 de setembro de 2001. É importante lembrar que os números de vítimas fatais não são relevantes para os terroristas; na verdade, quanto menos, melhor. O valor de propaganda de um ataque é, sem dúvidas, mais importante que as vidas perdidas (THOMAS, 2008). Figura 1- Boeing 747 Pan Am Fonte: SMITH-SPARK e RAVITZ (2013). 64 Capítulo 3 Além da publicidade e das dimensões econômicas, os aviões são alvos atraentes devido à relação custo-benefício (baixo custo de ataque e alta publicidade) que eles oferecem aos terroristas. Tal como acontece com os ônibus (um alvo comum de homens-bomba palestinos em Israel), ferrovias de transporte público (alvo de ataques em Madri, Espanha) e sistemas de metrô (com ataques em Londres, Moscou e Mumbai), aviões comerciais oferecem dúzias, quando não, centenas de pessoas desarmadas, espremidas em um espaço fechado e relativamente pequeno. Proporcionar segurança para qualquer tipo de transporte público em massa é altamente desafiador, especialmente devido à demanda competitiva de garantir conveniência aos passageiros. Em outras palavras, aviões (assim como aeroportos) são alvos inerentemente flexíveis. Nenhuma companhia aérea no mundo está imune a tais atos. Em resposta a essa ameaça, o Conselho da Organização da Aviação Civil Internacional (OACI) respondeu patrocinando convenções internacionais que tratavam de questões de segurança da aviação e adotando padrões internacionais e práticas recomendadas para prevenir atos de interferência ilícita na aviação civil internacional. A regulação desempenha um papel fundamental em Safety e Security, tornando-se um aspecto necessário às operações comerciais em uma economia de mercado em desenvolvimento. A indústria da aviação reconhece que a regulamentação beneficia tanto os consumidores quanto a indústria,proporcionando confiança e tranquilidade a todos (IATA, 2019). Atualmente, os Estados Membros da ICAO são obrigados a exigir que os operadores aéreos submetam e tenham aprovados seus Programas de Segurança de Operador de Aéreo (PSOA), de acordo com as regras nacionais para garantir que os requisitos aplicáveis previstos em seu Programa Nacional de Segurança da Aviação Civil (PNAVSEC) sejam cumpridos. Ao mesmo tempo, os Estados devem assegurar que as informações relevantes estejam disponíveis para os operadores aéreos, conforme previsto no o Anexo 17. A estrutura e o conteúdo dos Programas Nacionais de Segurança da Aviação Civil podem variar de Estado para Estado Membro, pois a interpretação do Anexo 17 e seu material de orientação (Documento de Segurança da ICAO Doc. 8793) podem resultar em diferenças na tradução e interpretação por cada um. Com isso, os operadores aéreos enfrentam, frequentemente, a necessidade de satisfazer pedidos diferentes de vários Estados, para os quais podem fornecer serviços de transporte aéreo regulares ou fretados. Os desafios específicos para os operadores aéreos surgem quando os reguladores do estado estrangeiro exigem: a) Que o Programa de Segurança de Operadores Aéreo seja traduzido para o idioma oficial do Estado de operação e / ou; b) o PSOA deva ser desenvolvido em um formato específico para um determinado Estado a ser operado pela empresa (IATA, 2019). 65 Segurança da aviação contra atos de interferência ilícita Assim como aplicado aos Operadores de Aeródromo, os Operadores Aéreos também possuem um Regulamento específico para Segurança da Aviação Civil contra Atos Ilícitos, nesse caso, o RBAC 108, ele se aplica ao operador aéreo cujas responsabilidades relacionadas à segurança da aviação civil contra atos de interferência ilícita estão atribuídas nos artigos 10 e 11 do Programa Nacional de Segurança da Aviação Civil, aprovado pelo Decreto nº 7.168, de 05 de maio de 2010 (BRASIL, 2010), sendo elas: 1. Cumprir as leis e as normas vigentes no País, como integrantes do Sistema de Aviação Civil brasileiro e participantes da segurança e proteção da aviação civil contra atos de interferência ilícita; 2. Garantir a aplicação dos atos normativos referentes à AVSEC, estabelecidos pela ANAC; 3. Designar profissional capacitado, a ela legalmente vinculado, responsável pela AVSEC e pelo gerenciamento da aplicação dos procedimentos estabelecidos no respectivo PSOA, em conformidade com os atos normativos da ANAC; 4. Designar profissionais capacitados, responsáveis por executar nos aeroportos, durante sua operação, os procedimentos de AVSEC; 5. Designar profissionais capacitados, a ela legalmente vinculados, para participar das reuniões da Comissão de Segurança Aeroportuária e da Assessoria de Avaliação de Risco, quando for o caso; 6. Estabelecer e aplicar seus PSOA, programas de instrução, programas de qualidade e planos de contingência, objetivando a proteção de suas instalações, aeronaves e pessoal; 7. Realizar controle de segurança e inspeção das bagagens despachadas, das cargas e dos outros itens a serem embarcados, bem como prover recursos humanos treinados na atividade de proteção da aviação civil, de acordo com os atos normativos da ANAC; 8. Adquirir e manter os equipamentos destinados à inspeção de cargas em instalações próprias; 9. Cumprir os procedimentos específicos de segurança para cada aeroporto no qual operam, de acordo com seu PSOA, atendendo ao previsto no PNAVSEC e nos atos normativos da ANAC; 10. Elaborar e apresentar à ANAC o PSOA, de acordo com os documentos pertinentes à AVSEC, segundo o modelo contido nos atos normativos da ANAC; 66 Capítulo 3 11. Descrever, nos seus PSOA, as responsabilidades de suas contratadas, das empresas de serviços auxiliares de transporte aéreo e requisitar seus respectivos planos específicos de segurança contra atos de interferência ilícita; 12. Supervisionar a aplicação das medidas de segurança estabelecidas nos seus PSOA pelas empresas de serviços auxiliares de transporte aéreo por ela contratadas; 13. Impedir o embarque, em suas aeronaves, de passageiros, bagagens, carga e outros itens que não atendam aos requisitos previstos no PNAVSEC e nos atos normativos da ANAC; 14. Comunicar aos seus passageiros, no momento da celebração do contrato de transporte aéreo e no ato do despacho de passageiro (check-in), os procedimentos de segurança a serem observados quando do embarque, especialmente em relação ao porte de materiais considerados proibidos, perigosos ou controlados; 15. Disponibilizar representantes nas áreas de embarque e desembarque, quando solicitado pela Polícia Federal, para orientar e prestar assistência aos seus passageiros, de forma a evitar atos que possam afetar a segurança da aviação civil; 16. Prestar informações necessárias à prevenção e à repressão aos atos de interferência ilícita e disponibilizar os dados de reservas, passagens, cargas, bagagens, identificação, procedência e destino de passageiros e tripulantes, conforme atos normativos da ANAC. O operador aéreo submetido ao RBAC 108 deve cumprir os requisitos de acordo com a sua classificação e deve, também, conhecer e cumprir as medidas de AVSEC estabelecidas pelo operador do aeródromo onde opera, uma vez que os objetivos são comuns e as interfaces interdependentes. 67 Segurança da aviação contra atos de interferência ilícita 1.1 Classificação dos operadores aéreos Podemos definir de forma geral que Operador Aéreo é toda pessoa, organização ou empresa que se dedica à operação de aeronave. Considerando a abrangência desse conceito, uma vez que pode incluir desde uma pessoa física que possui uma aeronave, até uma grande empresa de transporte de passageiros e carga que realiza voos intercontinentais, foram estabelecidas classes de operadores aéreos, que atendem as especificidades de cada operação e seu nível de ameaça, semelhante ao operador de aeródromo. Dessa forma, a ANAC estabeleceu as seguintes Classes para Operadores Aéreos (ANAC, 2017): Classe Subclasse Descrição Classe I abrangendo aqueles que realizam serviço aéreo privado, incluídas as operações aéreas de segurança pública e/ou de defesa civil Classe II abrangendo aqueles que exploram serviço aéreo especializado público ou serviço de táxi aéreo. Classe II A aqueles que exploram serviço aéreo especializado público Classe II B aqueles que exploram serviço de táxi aéreo Classe III abrangendo os operadores nacionais que exploram serviço de transporte aéreo público, exclusivamente de carga ou mala postal (excluindo a modalidade de táxi aéreo) Classe IV abrangendo os operadores nacionais que exploram serviço de transporte aéreo público de passageiros (excluindo a modalidade de táxi aéreo), Classe IV A aqueles que operam aeronave com capacidade inferior a 30 passageiros Classe IV B aqueles que operam aeronave com capacidade igual ou superior a 30 passageiros Classe V abrangendo os operadores estrangeiros que exploram serviço de transporte aéreo público internacional de carga, exclusivamente; Classe VI abrangendo os operadores estrangeiros que exploram serviço de transporte aéreo público internacional de passageiros. Fonte: ANAC (2017). 68 Capítulo 3 Acompanhe um exemplo fictício: a UniVirtual Brasil é um Operador Aéreo brasileiro que faz voos internacionais e nacionais com aeronaves ATR 72-600 e Embraer 110, exclusivamente com serviços de transporte aéreo público de passageiros, seria classificada, segundo o RBAC 108, em que classe? Inicialmente, temos que identificar o Tipo de Serviço, nesse caso, a UniVirtual Brasil faz “exclusivamente serviço de transporte aéreo público de passageiros”, conforme a tabela acima, teríamos que esse operador aéreo pertenceria a Classe IV, a qual, conforme descrição, abrange “os operadores nacionais que exploram serviço de transporte aéreo público de passageiros (excluindo a modalidade de táxi aéreo)”. Entretanto, a Classe IVpossui Subclasses IV-A e IV-B que estão diretamente relacionadas à capacidade da aeronave: Para se enquadrar na Classe IV-A, o operador aéreo deve ser nacional, explorando o serviço de transporte aéreo público de passageiros (excluindo a modalidade de táxi aéreo) e que opere aeronave com capacidade inferior a 30 passageiros. Já para ser enquadrado na Classe IV-B, o operador aéreo deve ser nacional, explorando serviço de transporte aéreo público de passageiros (excluindo a modalidade de táxi aéreo) e operando uma aeronave com capacidade igual ou superior a 30 passageiros. Vamos às Aeronaves: Figura 2 - Embraer 110 Fonte: Jaka Fotografia. 69 Segurança da aviação contra atos de interferência ilícita Quadro 1 - Especificações da aeronave Tripulação 2 Passageiros 18-21 Propulsão 2 Turboprop Engines Modelo Motores Pratt & Whitney Canada PT6A-34 Potência 559 kW 750 shp Velocidade 459 km/h 248 kts 285 mph Fonte: Elaborado pelo autor (2019) Figura 3 - ATR 72-600 Fonte:http://www.jakafotografia.com.br/ http://www.jakafotografia.com.br/ 70 Capítulo 3 Quadro 1 - Especificações da aeronave Tripulação 2 Passageiros 66 - 74 Propulsão 2 Turboprop Engines Modelo Motores Pratt & Whitney Canada PW124B Potência 1611 kW 2160 shp Veloc. Max 515 km/h 278 kts 320 mph Fonte: Elaborado pelo autor (2019). Tomando como base as características das aeronaves, esse operador aéreo seria Classe IV-B, pois vale a maior aeronave, correto? Não, na verdade o requisito estabelece que, caso o operador aéreo explore mais de um tipo de serviço aéreo e esteja enquadrado em duas ou mais classes, deve cumprir, separadamente, os requisitos aplicáveis a cada classe, de acordo com o tipo de operação realizada, ou seja, para as operações com o ATR-72 ela deve atender aos requisitos para Classe IV-B e para as operações com Embraer 110 ela deve atender aos requisitos da Classe IV-A. Nessa situação, o operador aéreo pode manter apenas um programa de segurança, desde que nesse programa estejam descritos os recursos e procedimentos de segurança aplicados em cada uma das operações. 1.2 Atividades e profissionais AVSEC dos operadores aéreos Certamente um dos mais interessados na realização dos procedimentos de Segurança da Aviação Civil em todo o Sistema de Transporte Aéreo, além do passageiro, é operador aéreo, uma vez que, uma falha no processo pode trazer resultados catastróficos para a empresa, os custos associados a um desastre aéreo são incalculáveis. Podemos mensurar os custos diretos, como danos materiais da aeronave, edificações e outros, mas há custos indiretos que podem impactar diretamente em uma empresa aérea, o principal deles é a imagem da empresa em relação à segurança, seja voltado a Safety ou Secirity. Um exemplo prático é o caso da Pan Am, a empresa aéreas passou por diversas crises financeiras entre as décadas de 70 e 80, porém, ocorrências aeronáuticas, 71 Segurança da aviação contra atos de interferência ilícita entre acidentes e sequestros, nesse período, foram 8 (oito), causaram grande repercussão e acabaram por contribuir para a falência da empresa em 1991, entre eles está o maior acidente da aviação civil mundial ocorrido em Tenerife, em 27 de março de 1977, onde houve a colisão de 2 (dois) Boeings 747 em solo (KLM e Pan Am), vitimando mais de 580 pessoas. Após este, o acidente de Lockerbie, com a explosão de uma bomba a bordo de outro Boeing 747, sobre a cidade escocesa, agravou ainda mais a situação da empresa. De fato, os Fatores Humanos são os maiores contribuintes para os acidentes aeronáuticos, no qual estatisticamente eles estão presentes em mais de 80% das ocorrências, divididos em dois tipos, os Erros e as Violações. O primeiro é cometido por meio de atos comissivos ou omissivos, é fruto de um comportamento não intencional e está normalmente vinculado ao processo cognitivo do indivíduo, ou seja, não há uma intenção. Já o segundo implica uma conduta que normalmente predispõe uma vontade deliberada, uma consciência em relação ao desvio de uma regra (explícita ou não), caracterizando a intenção de cometer algo. Em Segurança da Aviação Civil, o Fator Humano está presente em uma escala de grande importância e certamente a capacitação dos profissionais envolvidos nos processos AVSEC se torna uma das principais barreiras para evitar um ato ilícito, um profissional bem selecionado e treinado reduz a probabilidade de erros, ele também é capaz de identificar pessoas que possuem intenção de cometer alguma violação em AVSEC. Um equipamento de segurança de última geração, se não for usado corretamente e suas informações não forem interpretadas adequadamente, certamente será apenas mais um equipamento, e o processo para garantia da segurança será falho. Para o êxito do processo, é fundamental ainda que esses profissionais de segurança da aviação civil estejam integrados, sejam eles do operador aeroportuário ou dos operadores aéreos, uma vez que o propósito é único, ou seja, impedir que sejam introduzidas armas, explosivos, artefatos QBRN (Químico, Biológico, Radiológico e Nuclear) ou substâncias e materiais proibidos em Áreas Restritas de Segurança ou a bordo de aeronave que possam colocar em risco a segurança do sistema. Para isso, o operador aéreo deve estabelecer procedimentos, em coordenação com o operador do aeródromo, para garantir a aplicação de controles de segurança, previstos tanto no Programa de Segurança do Operador de Aeródromo (PSA) quanto no Programa de Segurança do Operador Aéreo (PSOE) (ANAC, 2017). Além da integração desses profissionais, é requerido que eles sejam devidamente habilitados, ou seja, o operador aéreo e operador aeroportuário, devem designar profissionais capacitados, de acordo com requisitos estabelecidos em normatização específica sobre a matéria, responsáveis por executar nos aeródromos os procedimentos dos controles de segurança estabelecidos na regulamentação aplicada para ambos. 72 Capítulo 3 Os requisitos aplicados à habilitação dos profissionais AVSEC estão previstos no Regulamento Brasileiro de Aviação Civil nº 110, que trata do Programa Nacional de Instrução em Segurança da Aviação Civil Contra Atos de Interferência Ilícita – PNIAVSEC e tem aplicabilidade a: (1) Operadores de Aeródromos que executam atividade AVSEC; (2) Operadores Aéreos que executam atividade AVSEC; (3) agentes de carga aérea acreditados que executam atividade AVSEC ; (4) centros de instrução; e (5) profissionais AVSEC. A organização com responsabilidade AVSEC, ou seja, um grupo de entidades com responsabilidades definidas em regulamentos de segurança da aviação específicos da ANAC, incluindo operadores de aeródromos, operadores aéreos e agentes de carga aérea acreditados, devem garantir que o profissional que desempenhe atividade AVSEC, em seu benefício, possua a proficiência na execução das atividades AVSEC. A proficiência compreende a certificação válida, que habilita o profissional para o desempenho das atividades AVSEC, em conformidade com o Regulamento, e a execução de procedimentos conforme regulamentos da ANAC e programas de segurança específicos. A organização com responsabilidade AVSEC também deve implementar controle para garantir a certificação dos profissionais que desempenhem atividade em seu benefício. Certificação AVSEC significa a avaliação dos critérios definidos em regulamento que resultam em uma confirmação, concedida pela ANAC ou em nome da Agência, de que uma pessoa possui as competências necessárias para desempenhar as atividades AVSEC em um nível aceitável, conforme definido em regulamento específico da ANAC. O profissional AVSEC que comprova sua aprovação na certificação AVSEC, receberá o Certificado AVSEC que o habilita para o desempenho de atividade AVSEC. As certificações em cursos AVSEC habilitam o profissional a realizar atividades especificas que tenham a interface com Segurança da Aviação Civil. Para desempenhá-las em território brasileiro ou em espaçoaéreo sobre este território, o profissional deve possuir tais certificações correspondentes à atividade que pretende exercer. São certificações AVSEC: (ANAC, 2015): a. AVSEC para Atendimento ao Passageiro; b. AVSEC para Carga Aérea; c. AVSEC para Operações de Solo; d. AVSEC para Tripulantes; e. AVSEC para Vigilantes; 73 Segurança da aviação contra atos de interferência ilícita f. Básico AVSEC; g. Inspeção de Segurança da Aviação Civil; h. AVSEC para Operador Aéreo; i. AVSEC para Operador de Aeródromo; j. Instrutor AVSEC. É importante destacar que os serviços terceirizados são considerados como uma extensão da empresa perante seus clientes. Nesse sentido, eles devem também atender aos requisitos de segurança, uma vez que fazem parte de processos importantes para garantia da segurança da aviação civil, seja nos serviços de Handling, transporte de carga, entre outros. Para isso, o operador aéreo deve garantir que essas empresas de serviços auxiliares de transporte aéreo e outros exploradores de áreas aeroportuárias contratados por ela possuam Plano de Segurança de Empresa de Serviços Auxiliares ou Concessionários - PSESCA aprovados pelo operador de aeródromo, quando esse for obrigatório por regulamentação específica, mantendo cópia, controle e verificação do documento de cada contratada sua. Plano de Segurança de Empresa de Serviços Auxiliares ou Explorador de Área Aeroportuária (PSESCA) é o plano desenvolvido pelas empresas de serviços auxiliares ou exploradores de área aeroportuária, em coordenação com as administrações aeroportuárias, no qual são consolidadas as medidas e práticas de segurança, visando a proteger a aviação civil contra os atos de interferência ilícita. Dessa forma, considerando a quantidade de atribuições relativas à operação de uma aeronave em um determinado aeroporto é fundamental que a empresa designe pessoal capacitado em segurança da aviação civil com responsabilidades para supervisionar a execução dos controles de segurança aplicados ao operador aéreo, garantir a implementação das atribuições do operador aéreo nas ações de contingência e participar das atividades pertinentes a AVSEC, quando for necessário, a critério do operador de aeródromo. Essas atividades incluem Exercícios, Testes, Campanhas entre outras. Destaca-se que o profissional AVSEC designado, no mínimo um, deve estar atuando nos horários em que o operador aéreo estiver operando no aeródromo e que esse participe das Reuniões da Comissão de Segurança Aeroportuária, devendo ser apresentado formalmente ao operador do aeródromo. 74 Capítulo 3 1.3 Medidas de segurança relativas ao passageiro e à bagagem de mão Quando o assunto é segurança da aviação civil, é importante ter como objetivo a incorporação de medidas para situações imprevisíveis, visíveis e invisíveis buscando atender aos padrões estabelecidos. Por isso as medidas de segurança começam muito antes do passageiro chegar ao aeroporto. As equipes de Segurança trabalham em estreita colaboração com setores de inteligência e segurança pública para compartilhar informações. Procedimentos de segurança são adotados desde o momento em que o passageiro chega ao aeroporto e vão com ele até chegar em seu destino, mesmo que ele não perceba qualquer anormalidade. Quando o assunto é segurança e em prol dela, são aplicadas algumas restrições, é fator primordial na relação entre operador aéreo e passageiro o detalhamento de informações relativas à AVSEC. Os Operadores Aéreos estabelecem as regras para quantas malas ele pode despachar e para possíveis cobranças relacionadas. Essas regras podem variar de acordo com o status do passageiro, seja frequente ou não. Quando nos remetemos à segurança, é exigido que o operador aéreo informe ao passageiro, no ato da venda do bilhete aéreo, independente do meio utilizado, internet, agente de viagem etc. a documentação que poderá ser aceita como válida para o seu processo de embarque, e havendo bagagem deverá informar ainda sobre os materiais considerados proibidos na bagagem de mão e na bagagem despachada para embarque na aeronave. Tais informações e outras devem estar previstas no Contrato de Transporte Aéreo. Ao adquirir uma passagem aérea, o passageiro estabelece com o operador um contrato de transporte e passa a ser um consumidor do serviço oferecido pela empresa, o transporte aéreo. Nessa condição, o passageiro possui direitos e deveres, assim como a empresa aérea. Essas informações estão contidas no contrato de transporte que a empresa deverá disponibilizar ao passageiro a qualquer momento. O contrato de transporte é padronizado e geralmente está disponível na página da empresa aérea na internet. Entre as informações importantes, destaque-se a importância de informar ao passageiro que ele terá seu acesso a ARS negado, bem como o embarque na aeronave, no caso de recusa, em submeter-se à inspeção de segurança da aviação civil, sob responsabilidade do operador de aeródromo, ou caso esteja em posse de material considerado proibido para embarque. 75 Segurança da aviação contra atos de interferência ilícita Após o check-in, o operador aéreo passa a ter responsabilidades mais amplas com o passageiro, especialmente quanto aos seus pertences (Bagagem de Mão) que serão embarcados na aeronave. Considerando que a identificação inicial já foi realizada no momento do check-in, agora é preciso certificar que ele está isento de itens proibidos. Nesse sentido, é fundamental a integração com o operador aeroportuário, o qual detém a responsabilidade pelos procedimentos de segurança no Terminal de Passageiros, incluindo a inspeção de segurança do Passageiro e de todos seus pertences. Fica sob responsabilidade também do operador aeroportuário o monitoramento do local de circulação dos passageiros até o momento em que embarca na aeronave. Tal responsabilidade será ampliada após o processo de inspeção de segurança da aviação civil, nesse momento deve ser mantida a esterilidade do inspecionado e dos demais passageiros durante todo o percurso entre a sala de embarque até a aeronave, não podendo, em qualquer hipótese, ter contato com pessoas não inspecionadas, devendo também obedecer ao percurso estabelecido pelo operador do aeródromo em seu Programa de Segurança. Porém, caso ocorra, o operador aéreo, em coordenação com o operador do aeródromo, deve garantir que seja realizada outra inspeção antes do embarque na aeronave. Em alguns casos poderá ser solicitado o desembarque de todos os passageiros e realização de nova inspeção de segurança nos passageiros e também na aeronave, buscando garantir que nenhum objeto proibido esteja a bordo da cabine ou de posse de algum passageiro. Esses procedimentos também devem ser garantidos quando o passageiro realizar conexão ou estiver em trânsito. Quando o assunto é passageiro, o transporte aéreo, atualmente, atende uma infinidade de situações e características operacionais específicas que, muitas vezes, impactam nos aspectos de segurança da aviação civil e por isso requerem procedimentos diferenciados para embarque e desembarque, entre eles podemos destacar o Passageiro Armado, Passageiro sob Custódia e o Passageiro Indisciplinado. 76 Capítulo 3 1.4 Embarque de passageiro armado Para início do assunto, é importante destacar dois documentos relevantes e relacionados a essa questão, primeiro vamos remeter ao Código Brasileiro de Aeronáutica, a Lei nº 7.565/86 que em seu Artigo 21º diz que “Salvo com autorização especial de órgão competente, nenhuma aeronave poderá transportar explosivos, munições, arma de fogo, material bélico, equipamento destinado a levantamento aerofotogramétrico ou de prospecção, ou ainda quaisquer outros objetos ou substâncias consideradas perigosas para a segurança pública, da própria aeronave ou de seus ocupantes.”. Já o segundo, o PNAVSEC especifica mais o tema e considera como um Ato de Interferência Ilícita, a introdução de arma, artefato ou materialperigoso, com intenções criminosas, a bordo de aeronave ou em um aeroporto, mas entende que casos específicos devem ser permitidos, por isso aborda que o embarque de passageiro com arma de fogo deve se restringir aos servidores governamentais autorizados, levando-se em conta os aspectos relativos à necessidade, à segurança de voo e à segurança da aviação civil, atendendo aos atos normativos da ANAC, em coordenação com a Polícia Federal, cabendo a ela, ainda, o controle de embarque de passageiro armado ou, na sua ausência, por órgão de segurança pública responsável pelas atividades de polícia no aeroporto (BRASIL, 2010). Atualmente, a normatização específica sobre o tema estabelece que o embarque de passageiro portando arma de fogo a bordo de aeronaves deve se restringir aos agentes públicos que, cumulativamente, possuam porte de arma por razão de ofício e necessitem comprovadamente ter acesso a arma no período compreendido entre o momento do ingresso na sala de embarque no aeródromo de origem e a chegada à área de desembarque no aeródromo de destino. Mas essa regra não vale aos agentes públicos aposentados, reformados ou da reserva (ANAC, 2018). Há uma diferença que precisa ser abordada, entre a Posse de Arma e o Porte de Arma, são situações completamente distintas, a Posse de Arma é quando uma pessoa mantém sob sua guarda uma arma de fogo. Pode ser na casa em que vive, numa casa de campo ou na empresa em que trabalha, por exemplo. Isso se aplica também a acessórios ou munições. Se a posse for ilegal (sem permissão), o responsável pode ser preso e condenado à prisão, podendo cumprir de 1 e 3 anos. Também está previsto o pagamento de multa. Já o Porte de Arma é proibido desde 2003, salvo em poucas exceções explicitadas na Lei nº 10.826/03 hoje em vigor. O termo diz respeito à permissão para levar a arma de fogo consigo, pronta para uso, em locais que não são de sua propriedade. O ato de portar inclui, segundo Art.14, “Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido [...]”. 77 Segurança da aviação contra atos de interferência ilícita Esse procedimento de embarque de Passageiro Armado obrigatoriamente deve estar previsto tanto no Programa de Segurança do Operador do Aeródromo quanto no Operador Aéreo, e o seu embarque somente poderá ser autorizado por unidade da Polícia Federal - PF presente no aeródromo ou responsável pela circunscrição do aeródromo, caso não haja Policia Federal instalada no aeroporto, caberá ao órgão de segurança pública responsável pela segurança do aeroporto devidamente designada pela Polícia Federal, podendo ser Polícia Militar, Civil, Guarda Municipal ou outra que se enquadre no requisito estabelecido. A execução dos procedimentos, conforme previsto nos Programas de Segurança, é fundamental para o êxito da operação e envolve ações tanto do órgão de segurança, como do operador aeroportuário e também do operador aéreo, que atuarão de forma integrada para o êxito da operação. 1.5 Passageiro sob custódia A custódia é uma condição de quem se encontra sob a proteção de outra pessoa ou instituição, por exemplo, no caso de um preso que está sob custódia do Estado. Para realizar o transporte de um passageiro sob custódia, a equipe de escolta deverá se identificar aos funcionários da unidade da Polícia Federal ou órgão responsável pela segurança do aeroporto e aos funcionários da empresa aérea, os quais verificarão a autorização para o embarque do custodiado. Para realizar a viagem aérea, é importante observar alguns procedimentos importantes para garantir a segurança do custodiado, dos agentes de segurança e do principal, os demais passageiros embarcados na aeronave, os quais destacam-se: a) aguardar o embarque, mantendo o custodiado em local seguro e discreto; b) embarcar e desembarcar de maneira discreta, evitando alarde e transtornos aos outros passageiros; c) embarcar antes e desembarcar depois dos demais passageiros, evitando transtornos; d) ocupar assento no final da cabine de passageiros, afastado das saídas de emergência, em fileiras com dois ou mais assentos e, no mínimo, com um profissional da equipe de escolta sentado entre ele e o corredor; e) estar sempre acompanhado e mantido sob vigilância, inclusive durante o uso dos banheiros da aeronave. Com a prerrogativa prevista no Código Brasileiro de Aeronáutica – CBA em seu artigo 166, o qual estabelece que o Comandante é responsável pela operação e segurança da aeronave, o mesmo poderá negar o embarque da pessoa sob custódia ao considerar que ela representa potencial ameaça à segurança do voo e dos demais passageiros. 78 Capítulo 3 1.6 - Passageiro indisciplinado Dados da IATA apontam que entre 2007 e 2016, mais de 58.000 incidentes de passageiros indisciplinados foram relatados em voo. Esses incidentes incluem violência contra a tripulação e outros passageiros, assédio e falha em seguir as instruções de segurança. A indisciplina de uma pessoa a bordo de uma aeronave em voo ameaça a segurança de si próprio, dos outros passageiros e da tripulação, causando atrasos e desvios na rota para retirada dele e, consequentemente, prejuízos ao operador aéreo. O mais impactante é que devido a lacunas nas leis existentes, tais atitudes muitas vezes permanecem impunes. Casos como o de um passageiro Figura 4, o qual foi retirado de um voo da Southwest Airlines, que viajava de Chicago para Houston, depois de gritar e ofender um comissário de voo, tornaram-se parte da rotina dos tripulantes. Figura 4 - Passageiro Indisciplinado Fonte: https://www.today.com/video/today/54949245 Nesse sentido, a IATA desenvolveu e promulgou uma lista “não exaustiva” de exemplos do que considera comportamento indisciplinado ou perturbador a bordo de uma aeronave. Essa lista inclui: a. Consumo ilegal de narcóticos b. Recusa em cumprir as instruções de segurança (não seguir as orientações da tripulação, como orientação para apertar o cinto de segurança, não fumar, desligar um dispositivo eletrônico portátil ou interromper os avisos de segurança) https://www.today.com/video/today/54949245 79 Segurança da aviação contra atos de interferência ilícita c. Confronto verbal com membros da tripulação ou outros passageiros d. Confronto físico com tripulantes ou outros passageiros e. Passageiro não cooperativo (exemplos incluem interferir com os deveres da tripulação, recusando-se a seguir as instruções para embarcar ou deixar a aeronave) f. Fazer ameaças de qualquer tipo para a tripulação, outros passageiros ou a aeronave g. Abuso / assédio sexual h. Outro tipo de comportamento desenfreado (exemplos incluem: comportamento irritante, gritando, chutando e batendo cabeças em encostos ou mesas bandeja) Buscando estabelecer um código de comunicação e acionamento para esse tipo de situação, a ICAO definiu uma hierarquia de nível de ameaça de quatro níveis. Embora todas as Agências Reguladoras de Aviação Civil dos Estados integrantes da organização não sigam essas definições específicas, por não se tratar de Norma, elas fornecem orientações valiosas aos envolvidos, no ar e em solo, para determinar a gravidade de um incidente com passageiros indisciplinados e para desenvolver suas políticas em nível adequado de resposta. O aspectos específicos de ameaças da ICAO são abordados nos seguintes níveis: • Nível 1: comportamento disruptivo (verbal); • Nível 2: comportamento fisicamente abusivo; • Nível 3: risco de vida (ou exibição de uma arma); • Nível 4: violação, tentativa ou real, do compartimento da tripulação de voo. A regulamentação brasileira estabelece alguns procedimentos básicos para o operador aéreo, buscando garantir o controle de passageiro indisciplinado, sendo eles: • Fazer constar no contrato de transporte aéreo a informação das medidas que serão tomadas pelo operadoraéreo para coibir condutas típicas de passageiros indisciplinados; • Impedir o embarque de passageiro indisciplinado; e • Desembarcar o passageiro indisciplinado no aeródromo mais apropriado, em função da avaliação realizada pelo comandante, levando-se em consideração o risco à segurança do voo. https://www.skybrary.aero/index.php/ICAO 80 Capítulo 3 Como forma preventiva, não somente para passageiros indisciplinados, mas para evitar ato de interferência ilícita, prevê-se também que o operador aéreo o qual opere aeronave com cabine segregada garanta que apenas pessoas autorizadas, conforme regulamento de operação específico, acessem a cabine dos pilotos das suas aeronaves em voo e mantenha a porta da cabine trancada durante o voo, abrindo-a somente para entrada e saída de pessoal autorizado. O Protocolo de Montreal, firmado durante a Conferência da ICAO em 2014, dá aos países ferramentas legais para lidar com esses passageiros. Mas, para que possa ser adotado pelos signatários, deve ser ratificado por 22 países. Até agora, dois o ratificaram: Gabão e República do Congo. O relatório da IATA diz que 29 nações já manifestaram intenção de ratificá-lo (CNT, 2017). 1.7 Medidas de segurança com aeronave voo e em solo A maneira mais fácil de salvaguardar e proteger uma aeronave durante sua operação é colocá-la em um hangar fechado e vigiado 24h por dia. No entanto, isso nem sempre é uma opção ou possibilidade, por isso é importante ter outros meios ou recursos que possam proporcionar a efetiva garantia da segurança da aeronave, seja em voo ou solo. Figura 5 - Equipe de Segurança de Aeronaves em Solo FONTE??? Praticamente 100% de segurança é garantida se vigilantes armados cercarem uma aeronave em todos os momentos quando ela estiver em solo. Esse método é empregado pela maioria dos líderes do mundo quando a aeronave de um Chefe de Estado está em missão. Porém, a maior parte das aeronaves, de aviação geral ou comercial, não possuem esse recurso, por isso medidas alternativas e procedimentos padronizados são fundamentais para garantir a segurança de uma aeronave. 81 Segurança da aviação contra atos de interferência ilícita O principal objetivo da segurança da aviação civil internacional é garantir a proteção e a segurança dos passageiros, tripulação, pessoal de terra, público em geral, aeronaves e instalações de um aeroporto contra atos de interferência ilícita, seja no solo ou em voo. Isso é feito por meio de uma combinação de medidas e da mobilização de vários recursos humanos e materiais nos níveis de aeroportos internacionais e nacionais. A implementação de uma política de segurança da aviação baseia-se nos requisitos dos programas de segurança da aviação em cada um desses níveis, tanto para as administrações como para os operadores na área do transporte aéreo. A segurança da aviação deve estar em conformidade com o princípio de que o nível de medidas de segurança é proporcional à ameaça avaliada. Vale lembrar que o controle de acesso de um aeródromo é responsabilidade do seu operador, porém, o controle de acesso a uma aeronave é de total responsabilidade do operador aéreo, devendo garantir, quando estacionadas e em operação, a vigilância constante da aeronave pelo controle de acesso, por meio da identificação de cada pessoa que se aproxime ou embarque na aeronave e a verificação da necessidade de sua presença, como também a verificação e inspeção manual de qualquer material de serviço levado a bordo ou suprimentos de aviação que serão transportados pela aeronave. Supervisionando inclusive, sob a ótica da AVSEC, as atividades de limpeza, abastecimento, manutenção e carregamento da aeronave. Outro aspecto importante é sempre que houver dúvida ou suspeita na identificação de pessoas que se aproximem ou embarquem na aeronave, o operador aéreo deve acionar o setor de segurança do aeródromo e a PF ou, na sua ausência, o órgão de segurança pública responsável pelas atividades de polícia no aeródromo. Quando a aeronave estiver estacionada e fora de operação, o operador aéreo deve manter a aeronave desacoplada de escadas e/ou pontes de embarque e, ainda, trancada e lacrada ou sob constante vigilância. A responsabilidade da segurança deve ser distribuída com as diversas áreas do operador aéreo, em especial com a equipe de manutenção, uma vez que quando a aeronave está em solo, é uma das atividades com maior acesso e controle da aeronave, seja realizando manutenções preventivas ou corretivas, as medidas têm por objetivo evitar o acesso de pessoa não autorizada na aeronave, que possam colocar em risco a sua segurança. Buscando manter a integridade da aeronave e seus ocupantes, cabe ao operador aéreo a realização de duas atividades básicas AVSEC, com foco na identificação de objetos proibidos na aeronave, sendo elas: a a) Verificação de Segurança da Aeronave ou Varredura, que se caracteriza por uma inspeção na aeronave para busca e detecção de armas, artefatos explosivos, substâncias nocivas ou outros dispositivos que possam ser utilizados para cometer atos de interferência ilícita contra a aviação civil, e a b) Inspeção de Segurança da Aeronave que se trata de uma inspeção completa do interior e exterior da aeronave com o objetivo de 82 Capítulo 3 encontrar objetos suspeitos, armas, explosivos, ou outros dispositivos, artigos ou substâncias perigosas. A primeira atividade, varredura, deverá ser realizada previamente em todos os voos nos quais não se realize a inspeção de segurança da aeronave, devendo ser estabelecido um checklist com os itens a serem verificados para cada tipo de aeronave da frota do operador aéreo, caracterizando ainda como uma norma a ser observada pela tripulação responsável pelo voo; já a inspeção de segurança de uma aeronave é aplicada em casos específicos, os quais demandem a necessidade de medidas adicionais de segurança, tais como: a aeronave passe por atividade de manutenção fora do pátio de aeronaves situado em ARS; a aeronave fique fora de operação por um período superior a 6 (seis) horas, considerando o horário de calço e descalço da aeronave; houver suspeita da ocorrência de acesso indevido à aeronave; ou ainda seja constatada a violação de lacres da aeronave. O fato é que o principal objetivo da segurança da aviação civil internacional é garantir a proteção de passageiros, tripulação, pessoal de terra, público em geral, aeronaves e instalações aeroportuárias que atendam à aviação civil contra os atos de interferência ilícita perpetrados, seja no solo ou em voo. Isso somente é feito por meio de uma combinação de medidas e da mobilização de vários recursos, humanos e materiais, que inclui os tecnológicos, independente se o aeroporto é internacional, nacional ou regional. A implementação de uma política de segurança da aviação baseia-se nos requisitos dos programas de segurança da aviação em cada um desses níveis, tanto para as administrações aeroportuárias quanto para os operadores que atuam no transporte aéreo (aeronave, carga, mala postal etc.). A segurança da aviação deve estar em conformidade com o princípio de que o nível de medidas de segurança é proporcional à ameaça avaliada: avaliar os riscos é fundamental para se manter o equilíbrio entre receitas e despesas. Não se pode ter uma empresa aérea com o maior nível, uma empresa 100% de segurança, isso pode comprometer os resultados operacionais, uma vez que investimentos em segurança têm alto custo, não são bem aceitos pelos usuários, pois, muitas vezes, eles são invasivos e desnecessários, além de requerem tempo demasiado para processar. Tais questões associadas, certamente levariam uma empresa à falência, assim como o inverso também é verdadeiro, não se pode economizar em segurança ao ponto de colocar em risco as operações, fazendo com que o operador perca a credibilidade junto aos seus clientes e, consequentemente, não tenha um resultado operacional satisfatório, que também poderia levar à falência.83 Segurança da aviação contra atos de interferência ilícita Seção 2 Segurança da aviação civil na aviação geral A aviação geral compreende todos os serviços aéreos não operados por companhias aéreas, empresas de voos charter ou pelos militares. Essas operações consistem em: negócios, turismo, agronegócio, serviços de busca e salvamento, instrução, serviço aéreo ambulatorial e uma variedade de outros usos que completam o sistema mundial de transporte. Dados de 2019, apontam o registro de 16.554 aeronaves civis (excluindo as aeronaves experimentais), sendo distribuídas da seguinte forma: Gráfico 1 - Distribuição Aeronaves Brasil 1358 10360 1812 2384 640 Aviação Comercial Táxi Aéreo (TPX) Privado (TPP) Instrução privada Outras Fonte: ANAC (2019). O Gráfico 1 demonstra o impacto da Aviação Geral brasileira em termos de quantidade de aeronaves, se consideramos somente Táxi Aéreo e Privado, são mais de 70% do Total de Aeronaves registradas no país. Considera-se que no Brasil apenas 120 localidades sejam atendidas pela aviação comercial (transporte aéreo regular). Entretanto, a aviação geral atende a cerca de 3,5 mil localidades. Daí sua importância para a integração nacional, considerando-se a dimensão territorial do Brasil e sua carência de infraestrutura de transportes. É meio difícil acreditar, mas há localidades em que a única forma de chegada ou saída é pelo ar (FILHO, VAZ, et al., 2015). 84 Capítulo 3 Até os atentados terroristas de 11 de setembro, a segurança da aviação concentrou- se, principalmente, na aviação comercial e, particularmente, nas linhas aéreas regulares. Porém, diariamente há nos céus brasileiros milhares de aeronaves voando de norte a sul, leste a oeste da Aviação Geral, e em sua grande maioria de propriedade privada, mas que poucos sabem (CARAFANO, 2007). Por isso, superar obstáculos existentes atualmente é fundamental para que se alcance o nível adequado de segurança a esse setor tão importante à economia nacional e mundial. Garantir a segurança de setor dinâmico, descentralizado e diversificado do sistema de transportes de uma forma que proporcione um nível de segurança aceitável e não reduza as enormes vantagens de um setor da aviação em crescimento, não é uma tarefa fácil. E para isso existem vários obstáculos que precisam ser superados. Apesar do fato de a indústria da aviação geral ser responsável pela maior parte das viagens aéreas no Brasil, são poucos que conhecem acerca disso. Podemos dizer que a Aviação Geral sobrevive em um setor que os olhos estão voltados em maior escala à aviação comercial, o “primo rico”, e esquecem que tudo, um dia, começou pelas asas da AVG, pois nenhum piloto começa sua carreira pilotando um B737-800 ou um E-195, e certamente suas horas iniciais de instrução foram em uma aeronave de pequeno porte. A Aviação Geral é um setor grandioso que abrange inúmeras atividades, desde aviação agrícola, experimental, taxi aéreo e até os “jatinhos” particulares fazem parte desse mercado, uma vez que, segundo a ANAC (2019), a AVG se caracteriza como todas as operações de aviação civil que não configurem transporte aéreo público de passageiros ou carga. Nesse sentido, há necessidade de conscientizar a população sobre os aspectos relacionados à indústria da Aviação Geral, seu valor para a economia e os reais riscos e preocupações associados a ela, esse seria o primeiro obstáculo a ser superado. Outra questão, relacionada ao seu tamanho e diversidade, é a dificuldade de elaboração de uma política de segurança abrangente e única para o setor. Muitas aeronaves têm capacidade e peso comparados a um carro de passeio, outras possuem curto alcance, porém, há aquelas que possuem um PMD de mais de 41ton (Gulfstream G550) e alcance intercontinental. Assim também se enquadram os mais de 2.400 aeroportos públicos e privados no Brasil: há os que possuem apenas uma pista de terra e um indicador e outros que possuem uma gama de facilidades voltadas à operação de aeronaves. Algumas dessas aeronaves operam em pistas de grama ou terra que estão localizadas em regiões totalmente desabitadas, enquanto outras operam em aeroportos internacionais em grandes cidades com toda a infraestrutura disponível. Além disso, os aeroportos estão espalhados por todo país, do Oiapoque ao Chuí e da Ponta do Seixas a nascente do Rio Moa, incluindo ainda Fernando de Noronha. Como não há tamanho, forma ou função padronizada para um aeroporto da aviação geral, é difícil conceber padrões de segurança uniformes a eles. 85 Segurança da aviação contra atos de interferência ilícita Algo a ser considerado também é quanto aos padrões operacionais que são bastante diversificados na Aviação Geral, eles variam desde voos de instrução, transporte de valores, particulares, pulverização, táxi aéreo, entre outros, em que, dependendo do tipo, altitude e destino da aeronave, os pilotos apresentam planos de voo formais ou simplesmente transmitem a torre de controle quando chegarem ao seu destino final. Essa distinção torna praticamente impossível rastrear a maioria das aeronaves quando elas estão em voo. A única característica que todos os voos da aviação geral compartilham é que, ao contrário dos voos comerciais, eles operam sob demanda e não são programados por horários pré-aprovados, podemos considerar essa diversidade operacional como outro obstáculo que precisa ser superado para implantar procedimentos que garantam efetivamente a segurança do setor (CARAFANO, 2007). Uma terceira preocupação seria não compreender totalmente a dimensão da ameaça da Aviação Geral. É muito improvável que um incidente com a aviação geral se compare a um ataque suicida do tipo 11 de setembro. A maioria das aeronaves da aviação geral são muito leves e lentas para causar danos significativos a pessoas ou infraestrutura. Por exemplo, um Cessna 172 totalmente carregado pesa 1.100kg e carrega 56 galões de combustível. Um Boeing 767, como uma das aeronaves usadas nos ataques de 11 de setembro, pode pesar mais de 181ton e transportar 25.000 galões de combustível. A maioria das aeronaves da AVG podem fazer apenas uma pequena fração dos danos que uma aeronave da aviação comercial poderia causar. Em novembro de 2018, a queda de um avião monomotor Cessna C-210, prefixo PR-JEE no Aeroporto de Campo de Marte, resultou na morte de seus dois tripulantes e poucos danos materiais, isso demonstra que aeronaves de pequeno porte não causam danos significativos às estruturas e há poucas fatalidades dentro ou fora da aeronave. Nesse caso específico, as únicas fatalidades no acidente foram dos tripulantes a bordo da aeronave. Bem diferente do que ocorreu em 1996, com um Fokker 100 da TAM, quando ocorreram 99 fatalidades, sendo 96 a bordo e 3 em solo. Até mesmo um avião de pequeno porte repleto de explosivos teria um potencial restrito se fosse usado como arma em um ato ilícito. Ressalta-se que infraestruturas mais críticas são resilientes o suficiente para suportar tais ataques. Por exemplo, usinas nucleares nos EUA, que são projetadas para sustentar uma colisão com um avião comercial. Outra ameaça superestimada relacionada à aviação geral são os aviões agrícolas, os quais poderiam ser utilizados para disseminação de armas químicas ou biológicas. Os pulverizadores agrícolas ou tanques usados para combater incêndios florestais provavelmente não seriam muito eficazes na disseminação desses agentes biológicos, o sistema mecânico dessas aeronaves poderia destruir ou deixar inativa um grande percentual de partículas, cientistas apontam uma estimativa de até 99% delas. Outra questão está relacionada à capacidade, uma vez que o porte dessas aeronaves não seria capaz de transportar quantidades suficientes para realizar um ataque químico significativo. https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2018/11/30/aviao-que-caiu-no-campo-de-marte-e-um-cessna-c210-fabricado-em-1980.ghtml 86 Capítulo 3 Quanto à Segurança da Aviação Civil na AviaçãoGeral, o importante é entender necessariamente qual o seu foco, que certamente é muito diferente da aviação comercial, ou seja, é preciso entender e se concentrar de forma correta no problema. A ameaça mais preocupante da AVG está no uso das aeronaves como meio de transporte para “coisas” e “pessoas” de certa forma ilegais. A aviação geral é um meio razoavelmente discreto de movimentar cargas em um curto espaço de tempo, a uma grande distância em que os padrões de segurança para os usuários, em especial passageiros, são muito mais flexíveis do que as regras atribuídas para a aviação comercial. Enquanto muitos tripulantes da aviação provada e/ou táxi aéreo têm suas licenças verificadas constantemente em postos de inspeção, seus passageiros não passam pelos mesmos requisitos, pois cabe ao comandante da aeronave identifica-los, e isso não significa que eles precisam apresentar qualquer tipo de documentação, dessa forma, rastrear um passageiro na Aviação Geral torna-se uma tarefa quase impossível. Quando falamos de tráfico de armas e drogas aí sim podemos demonstrar o potencial de explorar a aviação geral para atividades ilícitas. Durante anos, pequenos aviões particulares foram usados para transportar drogas da Colômbia e da Bolívia para o Brasil, e ainda para México e Estados Unidos. O número de apreensões e o material interceptado em investigações mostram uma opção preferencial dos traficantes pelo transporte aéreo. Apenas em Mato Grosso, 70% da cocaína apreendida no ano de 2010 veio da Bolívia pelo ar, com o uso de aeronaves ilegais, geralmente clonadas, ou em voos irregulares. Os criminosos passaram a utilizar aviões clonados para trazer drogas ao Brasil, nesse esquema, as aeronaves decolam na região produtora de coca em Chapare, na Bolívia, e ingressam cerca de 50 quilômetros para dentro do Brasil, em baixa altitude, aproveitando-se das dificuldades de fiscalização do espaço aéreo. Pousam no meio de canaviais, pistas de terra clandestinas ou até mesmo regulares, sob propriedade de fazendeiros e empresários do estado, que atuam no financiamento e na lavagem dos lucros do narcotráfico (G1, 2011). Com base neste contexto, quais seriam os princípios básicos AVSEC na Aviação Geral? Incialmente, é preciso reconhecer a grande diversidade da aviação geral e seus inúmeros segmentos, e soluções “generalistas” devem ser evitadas, considerando que tais medidas podem não ser satisfatórias na resolução dos problemas de segurança. 87 Segurança da aviação contra atos de interferência ilícita De fato, a melhor abordagem será aquela que incorpora camadas de segurança. A segurança da aviação requer diferentes níveis de proteção em diferentes estágios. Por exemplo, medidas de segurança em escolas de voo, hangares e aeroportos devem ser organizadas para localizar e identificar os possíveis causadores de atos ilícitos antes mesmo de eles terem acesso às aeronaves. A melhor forma de impedir um ato ilícito na aviação é manter os suspeitos / autores longe da cabine das aeronaves. Implantar medidas variadas de segurança é um excelente caminho, um programa de segurança que funcione para aeronaves corporativas não necessariamente será eficaz para pequenos aviões utilizados em treinamento ou aeronaves de particulares. Os programas de segurança devem ser adaptados a diferentes tipos de aeronaves, aeródromos e serviços de aviação. Conhecer as vulnerabilidades e adotar ações, que podem não acabar com o problema, mas certamente poderão reduzir a probabilidade de ocorrência de ilícito, também é uma proposta para reduzir atos ilícitos na Aviação Geral. Estabelecer dentro do Programa Nacional de Segurança da Aviação Civil as atribuições de cada elo de forma razoável, não destinando toda a responsabilidade pela segurança da aeronave ao operador aéreo, é necessário. A aviação geral faz parte do sistema de aviação civil do Estado brasileiro, o qual, quando se trata de segurança, possui objetivos únicos, assim as atividades de segurança devem ser ditadas por uma avaliação abrangente dos riscos. O ESTADO, e não os operadores, é o principal responsável pela prevenção de atos de interferência ilícita, isso por meio de ferramentas de coleta de informações, pelas agências de inteligência, divulgação de alertas antecipados e esforços ordenados e objetivos contra o terrorismo. A melhoria da segurança da aviação, de forma geral, deve fazer parte do esforço nacional para tornar os céus cada vez mais seguros, e não somente a adoção de medidas reativas, após a ocorrências de algum ato de interferência ilícita, temos que ser preditivos. Muito tem sido feito desde o 11 de setembro para estabelecer medidas de segurança apropriadas para essa ameaça. Porém, muito ainda precisa ser feito, para garantir que a aviação geral continue sendo uma indústria vibrante e segura com seus altos índices de crescimento e a sua importância dentro do sistema de transporte aéreo brasileiro. 89 Considerações Finais Quando uma ameaça terrorista tem como alvo a aviação, conseguimos, de certa forma, identificar a fragilidade e ao mesmo tempo o impacto que estão associados a ela, caso os objetivos ilícitos sejam alcançados. A ICAO e seu Conselho continuam tratando o tema da segurança da aviação como uma questão de alta prioridade, entre as principais da organização. Contudo, os atos de interferência ilícita continuam representando uma séria ameaça à segurança e à regularidade da aviação civil. A Organização desenvolveu e continua atualizando constantemente os regulamentos e os procedimentos legais e técnicos para prevenir e reprimir atos de interferência ilícita. Como o Anexo 17 é o principal documento que orienta o estabelecimento de medidas de segurança, sua aplicação uniforme e consistente é primordial para que o sistema de segurança da aviação seja bem-sucedido. Segurança da aviação possui um alto custo, estima-se que a TSA gasta US $ 5,3 bilhões anualmente para garantir a aplicação dos padrões de segurança nos Estados Unidos, ou seja, cerca de 70% de seu orçamento. Mas tenha certeza de que ela se torna muito mais cara quando não funcionar. Para não transformá-la no grande vilão dos custos operacionais, é fundamental o planejamento, a Análise de Risco. Conhecer as ameaças e vulnerabilidades, os recursos existentes, sejam eles materiais ou humanos, e fazer a aplicação deles de forma objetiva, com foco nos resultados, por isso verificar constantemente como estão aplicados os seus recursos em segurança, dentro dos requisitos estabelecidos para sua classe de operação, seja operador aeroportuário ou aéreo, é a melhor forma de minimizar os impactos, sejam eles por um ato de interferência ilícita ou pelo custo associado a sua operação. Planejar, Executar, Verificar e Agir (PDCA) podem não evitar uma ocorrência associada a um ato ilícito, uma vez que seria utopia afirmar que há segurança 100%, mas certamente reduzirão muito a probabilidade de uma ocorrência, e, consequentemente, gastos em nível adequado, proporcionando sustentabilidade e confiança ao negócio. Lembre-se de que um Terrorista precisa ter a sorte de furar um bloqueio apenas uma vez, enquanto você tem que ter sorte o tempo todo." Para o futuro, é fundamental construir mais relações colaborativas com governos e reguladores. Hoje, para os passageiros, a segurança da aviação se resume a um único ponto, conhecido como módulo de inspeção da segurança da aviação civil. Até 2030, espera-se que o melhor uso dos dados e das novas tecnologias e processos estejam focados na mitigação de grande parte do estresse encontrado 90 Universidade do Sul de Santa Catarina nesse local atualmente. A indústria precisará facilitar a movimentação de cerca de 7 bilhões de passageiros até 2030. Para lidar com essa demanda, e dado o limitado desenvolvimento da infraestrutura, a tendência é mover os processos de segurança nos aeroportos para fora da área de inspeção. As tecnologias precisarão se adaptar a novos ambientese dados compartilhados ao longo de toda a jornada do passageiro. As avaliações de risco serão realizadas com antecedência e as tecnologias de inspeção serão mais discretas e possivelmente descentralizadas, acontecendo em portões ou ao longo de corredores, ao invés de processo centralizado. Por fim, é importante entender que mesmo havendo recursos disponíveis, envolvendo banco de dados, informações, equipamentos e pessoal treinado, é fundamental que todos os envolvidos têm um papel a desempenhar na proteção de operadores aéreos, aeroportos e passageiros. Identificar e analisar o risco é o principal deles, bem como colaborar nas ações preventivas, incluindo, principalmente o passageiro, por isso conscientizar ainda será um árduo trabalho a todos envolvidos. 91 Referências ANAC. RESOLUÇÃO Nº 207, DE 22 DE NOVEMBRO DE 2011. Legislação, Novembro 2011. Disponível em: <http://www.anac.gov.br/assuntos/legislacao/ legislacao-1/resolucoes/resolucoes-2011/resolucao-no-207-de-22-11-2011/@@ display-file/arquivo_norma/RA2011-0207.pdf>. Acesso em: 07 mar. 2019. 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Notícias. Tumultos causados por passageiros indisciplinados em voos crescem, 2017. Disponível em: <http://www.cnt.org.br/imprensa/noticia/tumultos- causados-por-passageiros-indisciplinados-em-voos-crescem>. Acesso em: 22 fev. 2019. DUCHESNEAU, J.; LENGLOIS, M. Airport attacks: The critical role, 7 Abril 2017. Disponível em: <https://www.henrystewartpublications.com/sites/default/files/ JAMLanglois.pdf>. Acesso em: 10 fev. 2019. FILHO, L. S. C. et al. Panorama do mercado e da produção nacional de aeronaves leves. BNDES Setorial, Brasilia, p. 46, 2015. Disponível em: <https://web.bndes. gov.br/bib/jspui/bitstream/1408/9582/2/BS%2043%20Panorama%20do%20 mercado%20e%20da%20produ%C3%A7%C3%A3o%20nacional%20de%20 aeronaves%20leves_P_BD.pdf>. Acesso em: 26 fev. 2019. G1. Brasil. Tráfico usa ‘aviões clonados’ para cruzar fronteira do Brasil com drogas, 2011. Disponivel em: <http://g1.globo.com/brasil/noticia/2011/09/trafico- usa-avioes-clonados-para-cruzar-fronteira-do-brasil-com-drogas.html>. 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Certificado pela ANAC em Sistema de Gerenciamento da Segurança Operacional e AVSEC - Operador de Aeródromo e pelo CENIPA é Elemento Credenciado - Aeroportos, também é diplomado pela Airport Cuncil Internacional – ACI em Gestão de Aeroportos. Atualmente, é professor da Unisul e Vice Coordenador do Curso de Ciências Aeronáuticas. Possui experiência da gestão de aeroportos por aproximados 20 anos. Atuou como instrutor em diversos cursos específicos na área de gestão de aeroportos, entre eles: Gestor de Aeroportos Regionais nos níveis básico e intermediário; Curso de Operações Aeroportuárias, Sistema de Gerenciamento da Segurança Operacional - SGSO, Certificação Operacional de Aeroportos; Gestão Operacional; entre outros. Como tutor EAD corporativo, participou dos Cursos de Formação e Atualização de Fiscais de Pátios e Pistas e Gestão Operacional Níveis 1 e 2. Em sua formação profissional realizou diversos cursos na área de gestão e operações aeroportuárias, destacando: Gerenciamento da Segurança da Aviação Civil (AVSEC); Gestão de Serviços de Prevenção Salvamento e Combate a Incêndio – SESCINC; Gestão Operacional; Gestão Avifauna; Prevenção de Acidentes Aeronáuticos; Gestão de Projetos na Aviação Civil; Certificação Operacional; Sistema de Gerenciamento da Segurança Operacional, entre outros. Ciências Aeronáuticas w w w. u n i s u l . b r Segurança da aviação contra atos de interferência ilícita Segurança da aviação contra atos de interferência ilícita Universidade do Sul de Santa Catarina Segurança da aviação contra atos de interferência ilícita O livro faz uma ampla abordagem sobre a Segurança da Aviação Civil, considerando a sua evolução e os impactos resultantes dos Atos Ilícitos contra o Transporte Aéreo. Por meio de três unidades, estaremos estudando os aspectos Regulatórios estabelecidos pela Organização da Aviação Civil Internacional – ICAO, pelas suas Normas e Práticas Recomendadas (SARPS) e como isso está especificamente aplicado na aviação brasileira, focando em dois dos principais componentes, os Operadores Aeroportuários e Operadores Aéreos (Aviação Comercial e Aviação Geral). O principal objetivo é que você tenha um conhecimento amplo do Sistema da Segurança da Aviação Civil brasileiro, a sua estrutura e os principais requisitos aplicados para evitar e/ou reduzir a possibilidade de um Ato de Interferência Ilícita em nosso país, estabelecendo um nível aceitável perante aos padrões internacionais e criando uma cultura proativa em todas as pessoas que tenham atividades relacionadas à aviação civil. capa.pdf 1 07/05/2019 09:17 Introdução Capítulo 1 Segurança da aviação civil contra atos ilícitos Capítulo 2 Segurança da aviação civil contra atos ilícitos para os operadores de aeródromo Capítulo 3 Segurança da aviação civil contra atos ilícitos para os operadores aéreos Considerações Finais Referências Sobre o Professor Conteudista _Ref2796560 _Ref2089715 _Ref2070931 _Ref2284873 _Ref2807247 _Ref2841020 _Ref4012406 _Ref4358358