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Dependências Químicas – Substâncias Psicoativas Mecanismos Fisiopatológicos da Dependência Química: Os principais neurotransmissores possivelmente envolvidos no desenvolvimento de abuso e dependência de substância são os sistemas opioides, de catecolamina (particularmente dopamina) e de ácido γ-aminobutírico (GABA). Os neurônios dopaminérgicos na área tegmentar ventral são particularmente importantes. Esses neurônios se projetam para as regiões cortical e límbica, especialmente para o nucleus accumbens. Essa via provavelmente está envolvida com a sensação de recompensa e pode ser o mediador principal dos efeitos de substâncias como anfetamina e cocaína. O locus ceruleus, o maior grupo de neurônios adrenérgicos, provavelmente medeia os efeitos dos opiatos e dos opioides. Essas vias foram chamadas coletivamente de circuito de recompensa do cérebro. As substâncias relacionadas com os transtornos produzem, de modo geral, sensações de prazer ou excitação, ao causar uma ativação direta e intensa do sistema de recompensa do cérebro, o qual está envolvido no reforço de comportamentos e na produção de memórias. As principais estruturas desses circuitos são o nucleus accumbens (NAc), a área tegmental ventral e a amígdala, e o principal neurotransmissor envolvido é a dopamina. No entanto, os mecanismos farmacológicos pelos quais cada classe de drogas produz recompensa são diferentes. Além disso, indivíduos com baixo nível de autocontrole, o que pode ser reflexo de deficiências nos mecanismos cerebrais de inibição, podem ser particularmente predispostos a desenvolver transtornos por uso de substância. Os transtornos relacionados a substâncias dividem-se em dois grupos: transtornos por uso de substância e transtornos induzidos por substância (intoxicação e abstinência). Maconha: Epidemiologia: A Cannabis é a droga ilícita mais utilizada no mundo. No Brasil, o atual índice de uso da droga foi de 2,1% para a população em geral, e ser do sexo masculino, ter melhor nível educacional, estar desempregado e morar nas Regiões Sul e Sudeste associaram-se aos maiores índices de consumo. O início precoce do uso dessa droga, particularmente antes dos 15 anos, é um forte preditor de desenvolvimento do transtorno por uso de Cannabis. Fatores de risco incluem também situação familiar instável ou violenta, fracasso escolar, tabagismo, uso de maconha por familiares próximos e facilidade de acesso à substância. O uso geralmente é intermitente e autolimitado: os jovens param por volta dos seus vinte anos e poucos entram em um consumo diário. Ação no Organismo: Cannabis é o nome abreviado da planta Cannabis sativa, conhecida popularmente como maconha. Todas as partes da planta contêm princípios ativos, cerca de 400, dentre os quais o ∆9 - Tetraidrocanabinol (∆9 -THC) é o mais abundante. A planta é processada e consumida mais frequentemente na forma de cigarros. Os efeitos euforizantes são conhecidos há milhares de anos. Os potenciais efeitos medicinais são analgésico, anticonvulsivante e hipnótico. Os canabinoides agem sobre os receptores CB1 e CB2, encontrados em todo o sistema nervoso central. O princípio ativo mais importante para os transtornos por uso de maconha é o delta-9- tetrahidrocanabinol (delta-9-THC). Seus efeitos são muito variáveis, mas os mais comuns são relaxamento, sensação de prazer, risos espontâneos sem motivos e fome. Pode haver também distorções da percepção do tempo e do espaço leves a moderadas, dificuldade na atenção e na concentração, sensação de que os sentidos estão aguçados, hiperemia da mucosa conjuntival e boca seca. Diagnóstico e Características Clínicas: Em fases mais avançadas do transtorno por uso de maconha, há prejuízo psicossocial e das funções cognitivas, com comprometimento das funções executivas frontais. Além disso, a fumaça do cigarro de maconha contém altos níveis de compostos carcinogênicos, o que produz risco semelhante ao do tabaco, no sentido de causarem doenças pulmonares e câncer. Uma parte das pessoas com consumo crônico da substância também pode desenvolver um quadro apático-depressivo semelhante a uma distimia, às vezes denominado “síndrome amotivacional da maconha”. Os critérios diagnósticos passam pelo mesmo padrão dos 4 grupos comportamentais nos quais se baseiam os transtornos por uso de substâncias. Exames biológicos para metabólitos de canabinoides são úteis para determinar se um indivíduo usou Cannabis recentemente. Esses exames ajudam a estabelecer um diagnóstico, especialmente em casos mais leves, se um indivíduo nega o uso enquanto outras pessoas manifestam preocupação quanto a um problema decorrente do uso da substância. Sintomas de Intoxicação: A característica essencial da intoxicação por Cannabis é a presença de alterações comportamentais ou psicológicas problemáticas e clinicamente significativas que se desenvolvem durante ou logo após o uso da substância. A intoxicação geralmente se inicia com uma sensação de prazer, seguido de sintomas que incluem euforia, com risos inadequados ou ideias de grandeza, sedação, letargia, comprometimento da memória de curto prazo, dificuldade na execução de processos mentais complexos, julgamento prejudicado, percepções sensoriais distorcidas, prejuízo no desempenho motor e sensação de lentidão do tempo. Às vezes ocorrem ansiedade, disforia ou retraimento social. Não parece haver risco de depressão respiratória, nem complicações cardiovasculares. Também pode haver depressão, aumento da percepção de cores, sons, textura e paladar, despersonalização, desrealização e até mesmo sintomas psicóticos, como delírios persecutórios e alucinações. Esses efeitos psicoativos são acompanhados por dois ou mais dos seguintes sinais, desenvolvidos no prazo de 2 horas após o uso de Cannabis: conjuntivas hiperemiadas, apetite aumentado, boca seca e taquicardia. A intoxicação desenvolve-se em minutos se a Cannabis for fumada, mas pode levar algumas horas se for ingerida por via oral. Os efeitos em geral duram de 3 a 4 horas, mas podem ser mais prolongados quando a substância é consumida por via oral. Sintomas de Abstinência: A característica essencial da abstinência de Cannabis é a presença de uma síndrome de abstinência típica que se desenvolve após a cessação ou redução substancial do uso pesado e prolongado da substância. Os principais sintomas são: irritabilidade, raiva ou agressividade, ansiedade, insônia, apetite reduzido ou perda de peso, inquietação, humor deprimido, dor abdominal, tremor, sudorese, febre, calafrios ou cefaleia. É possível observar também os seguintes sinais/ sintomas no período pós-abstinência: fadiga, bocejos, dificuldade de concentração, períodos de rebote de aumento no apetite e hipersonia que se seguem a períodos iniciais de perda de apetite e insônia. Muitos usuários de Cannabis relatam fumá-la ou consumir outras substâncias para aliviar os sintomas de abstinência, e muitos relatam que os sintomas de abstinência tornam difícil o abandono do hábito e contribuem para a recaída. Os sintomas em geral não são suficientemente graves a ponto de exigir atenção médica, mas estratégias medicamentosas ou comportamentais podem ajudar a aliviar os sintomas e melhorar o prognóstico dos indivíduos que estão tentando abandonar o hábito. Complicações: - Agudas: o consumo de maconha pode desencadear quadros temporários de ansiedade, tais como reações de pânico ou sintomas psicóticos. Esse último pode ter sido desencadeado pela droga em indivíduos predispostos. O surgimento dos efeitos psíquicos pode estar relacionado à potência da droga, à via de administração, à técnica de fumar, à dose, ao contexto, à experiência passada do usuário e à vulnerabilidade biológica aos efeitos. - Crônicas: a síndrome amotivacional tem sido associada ao uso pesado em longo prazo e tem sido caracterizadapela relutância de a pessoa persistir em uma tarefa, seja na escola, no emprego ou em qualquer contexto que exija atenção prolongada ou tenacidade. O indivíduo é descrito como apático e sem energia. Há risco respiratório semelhante ao causado pela nicotina. Tratamento: O tratamento para o uso abusivo de cannabis se baseia nos mesmos princípios relatados na abordagem do uso abusivo de cocaína: abstinência e apoio. Podem ser usados ansiolíticos em caso de ansiedade quando da abstinência. Os usuários devem ser informados sobre os riscos do uso: risco de acidentes, danos respiratórios, risco de dependência para usuários diários e deficits cognitivos para usuários crônicos. Pode ser necessário o uso de antidepressivos para a síndrome amotivacional. Cocaína/Crack: Introdução: A cocaína é um alcaloide derivado da planta Erythroxylum coca, nativa da América do Sul, cujas folhas são mascadas pelos habitantes locais com a finalidade de obter seus efeitos estimulantes. A substância ainda é usada como anestésico local, especialmente para cirurgias envolvendo olhos, nariz e/ou garganta, devido à utilidade de seus efeitos vasoconstritores e analgésicos. A cocaína pode ser consumida por meio de diversas preparações que diferem em potência devido a variados níveis de pureza e de rapidez de início dos efeitos. Contudo, em todas as formas da substância, a cocaína é o ingrediente ativo. O crack, uma forma de cocaína de base livre, é extremamente potente. Ele é vendido em quantidades pequenas e prontas para o fumo, frequentemente chamadas de “pedras”. É extremamente aditivo; mesmo 1 ou 2 experiências com a droga podem causar fissura intensa por consumir mais. Sabe-se que usuários apelam a comportamentos extremos para obter dinheiro para comprar mais crack. Relatos de setores de emergência em centros urbanos também associaram abuso de crack a casos extremos de violência. Epidemiologia: A cocaína é uma das drogas ilícitas mais aditivas e perigosas, atualmente consumida por 0,3% da população mundial. A prevalência entre os homens é duas vezes maior do que entre as mulheres, com variações relacionadas à idade, sendo mais comum nos adultos jovens. Ação no Organismo: O mecanismo de ação se dá principalmente pela inibição da recaptação de dopamina, mas há também bloqueio da recaptação da noradrenalina e da serotonina. A euforia desencadeada reforça e motiva, na maioria dos indivíduos, o desejo por um novo episódio de consumo. Quanto mais rápido o início da ação, quanto maior a sua intensidade e quanto menor a duração, maior a chance de o indivíduo evoluir para situações de uso nocivo e dependência. Desse modo, a via de administração é um importante fator de risco para este comportamento prejudicial; as vias endovenosas e pulmonar (crack) parecem ser as vias de maior risco. Metabólitos podem ser detectados na urina em até dez dias após o consumo. A principal ação farmacodinâmica da cocaína relacionada a seus efeitos comportamentais é o bloqueio competitivo da recaptação de dopamina pelo transportador dopaminérgico. Esse bloqueio aumenta a concentração de dopamina na fenda sináptica e resulta em aumento da ativação de ambos os receptores dopaminérgicos, tipo 1 (D1) e tipo 2 (D2). Embora os efeitos comportamentais sejam atribuídos principalmente ao bloqueio da recaptação de dopamina, a cocaína também bloqueia a recaptação de norepinefrina e de serotonina. Os efeitos comportamentais da cocaína são sentidos quase de imediato e duram um período de tempo relativamente curto (30 a 60 minutos); assim, os usuários necessitam de doses repetidas da droga para manter as sensações provocadas pela intoxicação. Apesar dos efeitos comportamentais de curta duração, metabólitos da cocaína podem estar presentes no sangue e na urina até 10 dias após o uso. A cocaína tem fortes qualidades aditivas. Devido a sua potência como reforçador positivo de comportamento, pode-se desenvolver dependência psicológica após um único uso. A administração repetida pode originar tanto tolerância como sensibilidade aos diversos efeitos da substância, o desenvolvimento de tolerância ou sensibilidade parece ser causado por diversos fatores, não podendo ser previsto. Dependência fisiológica ocorre, embora a abstinência de cocaína seja leve em comparação à abstinência de opiatos e opioides. Diagnóstico e Características Clínicas: Deve-se suspeitar de uso de cocaína em indivíduos que apresentem mudanças em seu comportamento habitual, tais como irritabilidade, capacidade comprometida para concentrar-se, comportamento compulsivo, insônia severa e perda de peso. Os colegas de trabalho e a família podem perceber uma incapacidade para executar tarefas esperadas associadas com o trabalho e a vida familiar. Os critérios para dependência de cocaína são semelhantes àqueles para as outras substâncias (desejo compulsivo de consumo, tolerância, abstinência, abandono progressivo de outras atividades, persistência do uso a despeito de prejuízo etc.). Seu uso está associado a complicações agudas e crônicas. A cocaína possui múltiplas ações periféricas e centrais, ligadas ao seu efeito estimulante. Os efeitos agudos produzem sinais e sintomas psíquicos e físicos. Geralmente ocorre euforia, aumento do estado de vigília, aumento da autoestima, melhor desempenho em atividades físicas e psíquicas. Pode haver delírios persecutórios e alucinações, os quais melhoram depois de cessado o efeito da droga. Os efeitos físicos estão ligados à hiperatividade autonômica: taquicardia, hipertensão arterial, taquipneia, hipertermia, sudorese, tremor leve de extremidades, tiques, midríase, espasmos musculares (língua e mandíbula), vasoconstricção. Há também efeito anestésico. Sintomas de Intoxicação: Doses maiores estão associadas a irritabilidade, sintomas maníacos, agitação, comportamento sexual compulsivo. Estas doses também estão associadas a complicações clínicas, ligadas à ação simpaticomimética. A overdose pode ser definida como a falência de um ou mais órgãos decorrentes do uso agudo da substância e é uma emergência clínica que requer atenção imediata. Os principais sistemas afetados costumam ser o cardiovascular e o sistema nervoso central. Sintomas de Abstinência: Após a cessação do uso de cocaína ou após a intoxicação aguda, a depressão pós-intoxicação (“aterrisagem”) caracteriza-se por disforia, anedonia, ansiedade, irritabilidade, fadiga, hipersonolência e, ocasionalmente, agitação. Pode haver também ideação suicida. Com o uso de cocaína leve a moderado, esses sintomas de abstinência costumam melhorar em até vinte e quatro horas; porém, com o uso pesado, podem durar até uma semana. No estado de abstinência, a avidez por cocaína pode ser poderosa e intensa, pois o indivíduo sabe que o consumo de cocaína pode aliviar estes sintomas. Tratamento: O maior obstáculo a ser superado no tratamento dos transtornos relacionados à cocaína é a intensa avidez do paciente pela droga. No entanto, até o momento, nenhum medicamento mostrou-se eficaz para proporcionar alívio aos sintomas de abstinência. Desse modo, os reforçadores negativos, como problemas no trabalho e na família, se colocam como importantes na motivação do paciente pelo tratamento. Intervenções psicológicas em grupo, familiares ou individuais, e grupos de apoio, como os Narcóticos Anônimos (NA) podem ajudar. Anfetaminas: Introdução: A mais conhecida e utilizada de forma ilegal no Brasil é a 3,4- Metilenedioxi-Metanfetamina (MDMA), o ecstasy, uma anfetamina inicialmente identificada com os clubbers, e suas festas conhecidas por raves. Epidemiologia: Entre os estudantes, o uso de anfetamina é eminentemente feminino, provavelmente com o intuito de perder peso, mas há também o uso em pessoas que estão se preparando para provas, atletas em competições e motoristas de caminhão.Ação no Organismo: O uso se justifica pela melhora do desempenho, diminuição do sono, atuação como anorexígenos e indução de sensação de euforia, por serem estimulantes do SNC. Por esse motivo, há também aumento da atividade autonômica, com hipertensão, hipertermia, taquicardia e midríase. Todas as anfetaminas são rapidamente absorvidas por via oral e têm um rápido início de ação, em geral em 1 hora após o consumo oral. As anfetaminas clássicas também são administradas por via intravenosa e têm efeito quase imediato por essa rota. As anfetaminas clássicas (i.e., dextroanfetamina, metanfetamina e metilfenidato) produzem seus efeitos primários ao causar a liberação de catecolaminas, especialmente dopamina, a partir dos terminais pré- sinápticos. Os efeitos são particularmente potentes para os neurônios dopaminérgicos que se projetam da área tegmentar ventral para o córtex cerebral e áreas límbicas. Esse caminho foi chamado de via do circuito de recompensa, e sua ativação provavelmente seja o principal mecanismo de adição no caso de anfetaminas. As anfetaminas desenhadas causam a liberação de catecolaminas (dopamina e norepinefrina) e de serotonina, o neurotransmissor envolvido na principal via neuroquímica para alucinógenos. Portanto, os efeitos clínicos de anfetaminas desenhadas são um misto dos efeitos de anfetaminas clássicas e de alucinógenos. intomas de Intoxicação: Sintomas de Abstinência: A síndrome de abstinência chega a atingir 87% dos usuários de anfetamina. Sintomas depressivos e exaustão podem suceder períodos de uso ou abuso. Pode haver fissura intensa, ansiedade, agitação, pesadelos, redução da energia, lentificação e humor depressivo. O tratamento medicamentoso dos sintomas de abstinência não tem se mostrado promissor, devendo ser guiado pela clínica individual. Podem ser utilizados benzodiazepínicos de ação curta Complicações: As complicações crônicas incluem sintomas psicóticos em usuários crônicos, podendo ser indistinguível da fase aguda da esquizofrenia. A tentativa de abandonar ou diminuir o uso resulta em depressão, havendo o risco de suicídio nestes momentos. Além disso, pode haver IAM, vasoespasmos sistêmicos, edema agudo do pulmão. As complicações agudas incluem sintomas de inquietação, irritabilidade, tremor, ansiedade, cefaleia, calafrios, vômitos, sudorese. O uso de MDMA pode causar crises hipertensivas, precordialgias, arritmias cardíacas, hepatites tóxicas, hipertermia, convulsões, rabdomiólise e morte. Sintomas ansiosos e psicóticos agudos e crônicos podem aparecer. Opióides: Introdução: O termo opioide é aplicado a qualquer substância, seja endógena ou sintética, que tenha similaridade à morfina. Opiáceos são geralmente substâncias sintéticas. A heroína é a substância mais frequentemente usada de forma abusiva dentre os opiáceos. Outras substâncias são: ópio, morfina, codeína, metadona, meperidina, fentanil. Os opiáceos constituem drogas de primeira escolha na clínica médica, quando se deseja a analgesia em quadros dolorosos de grande intensidade. Entretanto, este uso deve ser controlado e bem indicado. Podem ser consumidos por via oral, inalados ou injetados intravenosamente ou no subcutâneo. Ação no Organismo: Os opioides atuam no SNC e em órgãos periféricos, como o intestino. Há, pelo menos, cinco tipos de receptores específicos: Mu (µ), Kappa (κ), Delta (δ), Epsilon (ε) e Sigma (σ). Os efeitos primários dos fármacos opioides são mediados pelos receptores de opioides. Os receptores µ de opioides estão envolvidos na regulação e mediação de analgesia, depressão respiratória, constipação e dependência química; os receptores κ de opioides, com analgesia, diurese e sedação; e os receptores δ de opioides, com analgesia. - Endorfinas: estão envolvidas na transmissão neuronal e na supressão da dor. São liberadas de forma natural no corpo quando alguém sofre um ferimento físico ou se encontra extremamente estressado, e acredita-se que sejam responsáveis pela ausência de dor em ferimentos agudos. - Dinorfinas - Encefalinas Os opioides endógenos também apresentam interações significativas com outros sistemas neuronais, como o dos neurotransmissores dopaminérgicos e dos noradrenérgicos. Vários tipos de dados indicam que as propriedades de recompensa aditivas dos opioides são mediadas por meio da ativação dos neurônios dopaminérgicos da área tegmentar ventral que se projetam para o córtex cerebral e para o sistema límbico. Quadro Clínico e Diagnóstico: Abuso de opioides é a expressão utilizada para designar um padrão de uso desadaptativo de um fármaco opioide que leva a prejuízo ou sofrimento clinicamente significativo em um período de 12 meses, mas cujos sintomas nunca satisfizeram os critérios para dependência de opioides. Os transtornos induzidos por opioides incluem fenômenos comuns, como transtornos por uso de opioides, intoxicação por opioides, abstinência de opioides, transtorno do sono induzido por opioides e disfunção sexual induzida por opioides. Delirium por intoxicação por opioides eventualmente é observado em pacientes hospitalizados. Transtorno psicótico induzido por opioides, transtorno do humor induzido por opioides, e transtorno de ansiedade induzido por opioides, em contrapartida, são bastante raros com opioides mi (µ), mas foram observados com determinados agonistas opioides mistos agonistas-antagonistas que atuam em outros receptores. O diagnóstico de transtorno relacionado a opioides não especificado é usado para situações que não satisfazem os critérios para nenhum dos outros transtornos relacionados a opioides. Sintomas de Intoxicação: A intoxicação aguda inclui graus progressivos de miose, sedação/inconsciência, depressão respiratória, bradicardia acentuada, convulsões, coma. Constitui quadro de emergência médica, devendo ser abordada em sala de emergência clínica, com manobras básicas de suporte à vida e naloxone, uma antagonista opioide. A tríade clássica de intoxicação inclui: coma, pupilas em ponta de alfinete e depressão respiratória. Presença de alterações comportamentais ou psicológicas clinicamente significativas e problemáticas, que se desenvolvem durante ou logo após o uso de opioides. A intoxicação é acompanhada por miose e um ou mais dos seguintes sinais: torpor, fala arrastada e prejuízo na atenção ou na memória, sendo que o torpor pode progredir para coma. Indivíduos com intoxicação por opioides podem demonstrar desatenção quanto ao ambiente a ponto de ignorarem eventos potencialmente perigosos. Os sinais ou sintomas não podem ser atribuíveis a outra condição médica nem serem mais bem explicados por outro transtorno mental. Sintomas de Abstinência: A regra para definir o início e a duração dos sintomas de abstinência é que substâncias com ação de curta duração tendem a produzir síndromes de abstinência curtas e intensas, e substâncias com ação de longa duração produzem síndromes de abstinência prolongadas, porém leves. Uma exceção à regra é a abstinência precipitada por antagonista narcótico após dependência de opioides de duração prolongada, que pode ser grave. Uma síndrome de abstinência pode ser precipitada pela administração de um antagonista de opioides. Os sintomas podem ter início segundos após a injeção intravenosa de um desses agentes e chegam ao pico em cerca de 1 hora. A fissura por opioide raramente ocorre no contexto de administração de analgésicos para dor devido a distúrbios de natureza física ou cirurgia. A síndrome de abstinência completa, incluindo fissura intensa por opioides, normalmente se dá apenas em decorrência de cessação abrupta do uso em indivíduos com dependência de opioides. - Morfina e Heroína: tem início em 6 a 8 horas após a última dose, normalmente depois de um período de 1 a 2 semanas de uso contínuo ouapós a administração de um antagonista narcótico. A síndrome de abstinência alcança sua intensidade máxima durante o segundo ou terceiro dia e se abranda durante os 7 a 10 dias seguintes, mas alguns sintomas podem persistir por seis meses ou mais. - Meperidina: tem início rápido, alcança o ápice em 8 a 12 horas e termina em 4 a 5 dias. - Metadona: se inicia de 1 a 3 dias após a última dose e termina em 10 a 14 dias. - Sintomas: cãibras musculares graves e dores ósseas, diarreia intensa, cólicas abdominais, rinorreia, lacrimejamento, piloereção ou pele arrepiada, bocejo, febre, dilatação das pupilas, hipertensão, taquicardia e desregulação da temperatura, incluindo hipotermia e hipertermia. Sintomas residuais – como insônia, bradicardia, desregulação da temperatura e fissura por opioides – podem persistir por meses após a abstinência. Características associadas à abstinência de opioides incluem inquietação, irritabilidade, depressão, tremor, fraqueza, náusea e vômito. Tratamento: - Tratamento da Intoxicação: deve ser feito em unidades de emergência médica, a fim de proporcionar suporte ventilatório adequado, correção da hipotensão e tratamento do edema pulmonar. Medicamento → NALOXONA. - Tratamento da Síndrome de Abstinência: • METADONA - droga mais administrada nos casos de síndrome de abstinência a opiáceos. • IPq-HCFMUSP, o tratamento consiste em desintoxicação a curto- prazo, EM REGIME DE INTERNAÇÃO HOSPITALAR, com metadona. - Tratamento da Dependência: • NALTREXONA (antagonista opióide) – pacientes abstinentes de opióide por 10 dias. • METADONA (opiáceo) - tratamento ainda controverso - principais modelos de tratamento utilizado e estudado. Solventes-Inalantes: Introdução: Drogas inalantes (também chamadas de substâncias voláteis ou solventes) são hidrocarbonetos voláteis que se tornam vapores gasosos em temperatura ambiente e são inalados pelo nariz ou pela boca para entrar no fluxo sanguíneo por via pulmonar. Esses compostos normalmente são encontrados em vários produtos de uso doméstico e se dividem em quatro classes comerciais: (1) solventes para colas e adesivos; (2) propelentes (p. ex., latas de tinta em aerossol, laquê para cabelos e creme de barbear); (3) diluentes (p. ex., para tintas e fluidos corretivos); e (4) combustíveis (p. ex., gasolina, propano). Acredita-se que esses fármacos compartilhem algumas propriedades farmacológicas apesar de suas diferenças químicas. Epidemiologia: No Brasil, estão entre as drogas mais consumidas entre adolescentes de baixa renda. As pessoas, especialmente adolescentes, gostam de inalar esses produtos devido a seu efeito intoxicante. Inalantes estão associados a uma série de problemas, incluindo transtorno da conduta, transtornos do humor, suicidalidade e abuso ou negligência de natureza física e sexual. Aproximadamente 6% dos norte-americanos usaram inalantes pelo menos uma vez, e cerca de 1% faz uso atualmente. Entre jovens adultos dos 18 aos 25 anos de idade, 11% usaram inalantes pelo menos uma vez, e 2% eram usuários atuais. Entre adolescentes na faixa dos 12 aos 17 anos de idade, 7% haviam usado inalantes ao menos uma vez, e 1,2% era usuário atual. Ação no Organismo: Os inalantes em geral agem como depressores do SNC. A tolerância a eles pode se desenvolver, embora os sintomas de abstinência costumem ser razoavelmente leves. Inalantes são absorvidos rapidamente pelos pulmões e, em seguida, conduzidos ao cérebro. Os efeitos surgem em 5 minutos e podem durar de 30 minutos até várias horas, dependendo da substância inalada e da dose. As concentrações de várias substâncias inalantes no sangue aumentam quando usadas em combinação com álcool, talvez devido à competição por enzimas hepáticas. Embora cerca de um quinto de uma substância inalante seja excretado sem alterações pelos pulmões, o restante é metabolizado pelo fígado. Consegue-se detectar inalantes no sangue de 4 a 10 horas após o uso, e amostras de sangue devem ser obtidas no setor de emergência quando houver suspeita de seu uso. De forma muito semelhante ao álcool, inalantes apresentam efeitos farmacodinâmicos que não são bem compreendidos. Como seus efeitos geralmente são semelhantes e aditivos aos efeitos de outros depressores do SNC (p. ex., etanol, barbitúricos e benzodiazepínicos), alguns pesquisadores sugeriram que eles funcionam por meio de fluidificação das membranas, mesmo mecanismo que se supõe ser um efeito farmacodinâmico do etanol. Sintomas de Intoxicação: Os critérios diagnósticos para intoxicação por inalantes especificam a presença de alterações comportamentais desadaptativas e pelo menos dois sintomas físicos. O estado de intoxicação costuma ser caracterizado por apatia, redução do funcionamento social e ocupacional, julgamento prejudicado e comportamento impulsivo ou agressivo e pode estar acompanhado de náusea, anorexia, nistagmo, reflexos diminuídos e diplopia. No caso de doses elevadas e exposições prolongadas, o estado neurológico do usuário pode progredir para estupor e perda dos sentidos, e, posteriormente, o indivíduo pode desenvolver amnésia do período de intoxicação. Às vezes, pode-se identificar um usuário recente de inalantes pelas erupções ao redor do nariz e da boca do paciente, odores incomuns em seu hálito, resíduo de substâncias inalantes em seu rosto, suas mãos ou roupas, e irritação de olhos, garganta, pulmões e nariz. O transtorno pode ser crônico. Quadro Clínico: Em pequenas doses iniciais, os inalantes podem ser desinibidores e causar sensações de euforia e excitação, bem como sensações agradáveis de flutuar, efeitos pelos quais as pessoas supostamente usam essas substâncias. Doses elevadas de inalantes podem causar sintomas psicológicos de medo, ilusões sensoriais, alucinações auditivas e visuais, bem como distorções do tamanho do corpo. Os sintomas neurológicos podem incluir fala arrastada, redução na velocidade da fala e ataxia. O uso prolongado pode estar associado a irritabilidade, labilidade emocional e prejuízo da memória. Alguns usuários chegam a desenvolver tolerância, e síndrome de abstinência pode acompanhar a interrupção do uso de inalantes. A síndrome de abstinência não ocorre com frequência, mas, quando acontece, pode ser caracterizada por perturbações do sono, irritabilidade, nervosismo, sudorese, náusea, vômito, taquicardia e (às vezes) delírios e alucinações. Complicações: Tratamento: A intoxicação por inalantes, assim como ocorre com a intoxicação por álcool, normalmente não exige atenção médica e se resolve espontaneamente. Contudo, os efeitos da intoxicação, como coma, broncoespasmo, laringospasmo, arritmias cardíacas, trauma ou queimaduras, precisam de tratamento. Caso contrário, os cuidados primários envolvem tranquilização, apoio discreto e atenção aos sinais vitais e ao nível de consciência. Fármacos sedativos, incluindo benzodiazepínicos, são contraindicados porque agravam a intoxicação por inalantes. Programas abrangentes de apoio e serviços sociais são oferecidos para adultos sem-teto dependentes de inalantes em condições deterioradas. Os pacientes podem precisar de amplo apoio familiar ou das pessoas responsáveis por elas. O curso e o tratamento do transtorno psicótico induzido por inalantes são semelhantes aos de intoxicação por inalantes. O transtorno é breve e dura de algumas horas (no mínimo) até poucas semanas após a intoxicação. Indica-se um tratamento diligente de complicações possivelmente letais como parada respiratória ou cardíaca, juntamente com manejo conservador da intoxicação em si. Confusão, pânico e psicose requerem atenção especial à segurança do paciente. Agitação grave pode exigir controle cauteloso com haloperidol (5 mg IM por 70 kg de peso corporal). Fármacos sedativos devem ser evitados porque podem agravar a psicose. Ansiedadee transtornos do humor induzidos por inalantes podem precipitar ideação suicida, possibilidade que deve ser avaliada cuidadosamente. Ansiolíticos e antidepressivos não ajudam na fase aguda do transtorno, mas podem ser úteis em casos de doença depressiva ou ansiedade coexistente. Programas residenciais e de tratamento-dia vêm sendo usados com sucesso, especialmente no caso de adolescentes que abusam de inalantes (dependência de substância) em combinação com outros transtornos psiquiátricos. Usa-se terapia tanto em grupo como individual com ênfase comportamental, com recompensas imediatas para o progresso de objetivos definidos no tratamento e punições no caso de regressão a comportamentos anteriores. Os pacientes frequentam escolas no local com professores de educação especial, em conjunto com atividades recreativas planejadas, e os programas proporcionam orientação sobre controle de natalidade. A família do paciente, com frequência caótica, é envolvida em terapia familiar de modificação estrutural ou terapia multissistêmica, sendo que ambas gozam de bom respaldo empírico. Exige-se a participação em programas de 12 passos. As intervenções de tratamento são coordenadas de perto com intervenções realizadas por assistentes sociais da comunidade e supervisores de liberdade condicional. O progresso é monitorado por meio de amostras de urina e de respiração analisadas para a presença de álcool e outras drogas no início do programa terapêutico e, frequentemente, durante o tratamento. O tratamento em geral dura de 3 a 12 meses. O término é considerado bem-sucedido se o jovem colocou em prática um plano para manter a abstinência; se demonstra menos comportamentos antissociais; se tem um plano para dar continuidade a qualquer tipo necessário de tratamento psiquiátrico (p. ex., tratamento para depressão comórbida), um plano para viver em um ambiente que lhe oferece apoio e é livre de drogas; interage com a família de forma mais produtiva; trabalha ou frequenta a escola; está associado a pares que não usam drogas e não são delinquentes. Tratamento para Transtornos por Uso de Substâncias (TUS): Vale distinguir entre procedimentos ou técnicas específicas (p. ex., terapia individual, terapia familiar, terapia em grupo, prevenção de recaída e farmacoterapia) e programas de tratamento. A maioria dos programas utiliza uma quantidade específica de procedimentos e envolve várias especialidades profissionais, bem como indivíduos não profissionais que têm habilidades especiais ou experiência pessoal com o problema com substância que está sendo tratado. Os melhores programas de tratamento combinam procedimentos e disciplinas específicos que satisfazem as necessidades de cada paciente após uma avaliação criteriosa. Os programas costumam ser agrupados de forma ampla com base em uma ou mais de suas características mais evidentes: se o programa se destina apenas a controlar abstinência aguda e as consequências de uso recente de drogas (desintoxicação) ou se está voltado para uma alteração comportamental de longo prazo; se o programa faz amplo uso de intervenções farmacológicas ou não; e se o programa se baseia em psicoterapia individual, Alcoólicos Anônimos (AA) ou outros programas de 12 passos, ou princípios de comunidade terapêutica. Por exemplo, órgãos governamentais de financiamento público recentemente categorizaram programas de tratamento para dependência de drogas como (1) manutenção com metadona (principalmente ambulatorial); (2) programas ambulatoriais sem fármacos; (3) comunidades terapêuticas; ou (4) programas de internação de curta duração. Nem todas as intervenções são aplicáveis a todos os tipos de uso ou dependência de substâncias, e algumas das intervenções mais coercitivas usadas para drogas ilícitas não podem ser aplicadas a substâncias disponíveis legalmente, como o tabaco. Propuseram-se cinco estágios nesse processo gradual: pré- contemplação, contemplação, preparação, ação e manutenção. Para alguns tipos de adições, a aliança terapêutica é intensificada quando a abordagem de tratamento é feita sob medida para o estágio de propensão para mudança em que o paciente se encontra. Intervenções para alguns transtornos por uso de drogas podem ter como componente importante um agente farmacológico específico. Nem todas as intervenções podem ser úteis para profissionais de assistência médica. Referências Bibliográficas: 1. Compêndio de psiquiatria: ciência do comportamento e psiquiatria clínica. 11ª.ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. Capítulo 20 (pg 639- 680). 2. MedCurso 2019 – Psiquiatria 3. SuperMaterial SanarFlix – Transtornos por Uso de Substâncias 4. Resumos da Med
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