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Aula de Português, Encontro e Interação Irandé Antunes Resumo Maria Fernanda Baracat Abreu Licenciatura em Letras: Língua Portuguesa UNITAU 10074443 Capítulo: Introdução Irandé Antunes afirma que o ensino de língua portuguesa não pode se distanciar dos propósitos cívicos dos indivíduos, uma vez que é pelo ensino que se tornam, tais indivíduos, seres críticos, participantes e atuantes política e socialmente no contexto em que estão inseridos; de acordo com Antunes, a participação efetiva do indivíduo na sociedade ocorre através da interação linguística. Irandé ainda aponta que é necessário o conhecimento sobre o que a autora denomina de regularidades do funcionamento interativo da língua, sendo que tal ocorre por meio de textos orais e escritos, nas práticas discursivas e conforme o contexto em que estão inseridas. Para a autora, não compreender tais regularidades tem como consequência a permanência na limitação em relação à produção e distribuição de conhecimento, ou seja, o conhecimento sobre as regularidades do funcionamento interativo da língua é imprescindível para a produção e distribuição de conhecimento, influenciando, até mesmo, no grau de possível acesso que possuem os grupos oprimidos. Capítulo: O Trabalho Com a Oralidade Para Irandé, a falta da utilização da fala como objeto de estudo e como ferramenta de estudo pode se dar pela ideia de que, uma vez que ela está presente na vida de todos, não há necessidade de ser trabalhada em sala de aula; há, inclusive, a visão de que a fala seria privilegiada em relação à escrita, já que nela seriam permitidos erros gramaticais. A ideia de que a fala permite desvios gramaticais não somente a coloca em posição de privilégio sobre a escrita, mas dá a entender que esta é palco dos erros ocorrentes na língua, não havendo distinção em relação aos contextos nos quais ocorrem as interações linguísticas que utilizam a fala, sendo que não há, de fato, como falar errado, há apenas como não concordar a linguagem em relação ao que o contexto mostra ser o esperado e aceito socialmente. Há, ainda sobre a oralidade no ensino, uma concentração em gêneros informais e, com isso, a ignorância em relação à análise sobre a conversação, consistindo, o foco, na realização de conversas e trocas na oralidade. Irandé conclui que em relação à oralidade, não há a oportunidade de trabalhar seus padrões gerais em sala de aula, assim como não há a oportunidade de abordar a linguagem, na oralidade, em relação ao contexto. Capítulo: Explorando a Oralidade De acordo com Irandé, a linguagem é prática discursiva inserida nas práticas sociais, envolvendo interlocutores em torno de um sentido ou intenção específicos. No entanto, parece-me fundamental chamar a atenção para a forma como, neste livro, se concebem a oralidade e suas relações com a escrita. Ou seja, interessa-me frisar que, embora cada uma tenha as suas especificidades, não existem diferenças essenciais entre a oralidade e a escrita nem, muito menos, grandes oposições. Uma e outra servem à interação verbal, sob a forma de diferentes gêneros textuais, na diversidade dialetal e de registro que qualquer uso da linguagem implica. Assim, não tem sentido a ideia de uma fala apenas como lugar de espontaneidade, do relaxamento, da falta de planejamento e até do descuido em relação às normas da língua padrão nem, por outro lado, a ideia de uma escrita uniforme, invariável, formal e correta, em qualquer circunstância. Tanto a fala quanto a escrita podem variar, podem estar mais planejadas ou menos planejadas, podem estar mais, ou menos, “cuidadas” em relação à norma-padrão, podem ser mais ou menos formais, pois ambas são igualmente dependentes de seus contextos de uso. (p.99. p.100.) De acordo com Antunes, a aceitação de que a fala é caracterizada por interação e de que esta possui diversos gêneros e registros textuais traz, como consequência, a intervenção do professor sobre o trabalho com a oralidade a partir de características enumeradas e consideradas importantes em relação à pedagogia. As características pedagógicas previamente comentadas por Irandé são a oralidade orientada para a coerência global, a oralidade orientada para a articulação entre os diversos tópicos ou subtópicos da interação, a oralidade orientada para suas especificidades, a oralidade orientada para a variedade de tipos e gêneros de discursos orais, a oralidade orientada para a facilitação do convívio social, a oralidade orientada para o reconhecimento do papel da entonação, das pausas e outros recursos suprassegmentais na construção do sentido do texto, a oralidade de inclusão de momentos de apreciação das realizações estéticas próprias da literatura improvisada, dos cantadores e repentistas e a oralidade orientada para o desenvolvimento de habilidades de escuta com atenção e respeito dos diversos tipos de interlocutores. A oralidade orientada para a coerência global consiste em trabalhar a habilidade de perceber e compreender, principalmente, a unidade temática do texto, assim como o objetivo por trás da interação e outros aspectos globais do texto, passando a enxergar como tais aspectos se comportam na oralidade. A oralidade orientada para a articulação entre diversos tópicos ou subtópicos da interação consiste na percepção de recursos de encadeamento e como eles se comportam na textualidade oral. A oralidade orientada para as especificidades consiste na diferenciação entre textos orais e escritos. Entretanto, é de extrema importância que não haja uma confusão que faça parecer que um possui mais valor do que o outro, deixando claro que ambos são meios de expressão linguística diferentes e não competidores entre si, mas sim complementares. A oralidade orientada para a variedade de tipos e gêneros do discurso oral consiste no desenvolvimento, a partir do conhecimento sobre os gêneros e tipos textuais do discurso, de habilidades que serão utilizadas conforme a situação de interação em que o sujeito está inserido; para que o sujeito possa adquirir as habilidades necessárias para o discurso apropriado, é preciso que ele possua conhecimento sobre os tipos e gêneros do texto oral e que exercite tais habilidades, eventualmente sendo capaz de adaptar-se já na situação de interação. A oralidade orientada facilitadora do convívio social diz respeito ao contexto em relação ao que é dito e o que pode ser dito e por quem; é socialmente esperado certo comportamento, até mesmo no discurso, dos sujeitos, sendo que as falas podem sofrer alteração de significado a partir da situação de interação na qual estão inseridas; o local do interlocutor na sociedade interfere diretamente na liberdade de seu discurso. Irandé afirma que Esse ponto, como outros expostos na presente seção, diz respeito também à questão dos interlocutores e de seus papéis na interação. O falante e o ouvinte são atores do drama da comunicação e, nesse drama, cada um tem seu papel específico, que delimita suas possibilidades de atuação. Quem fala primeiro, quem pode falar, quem pode interromper e tantas outras restrições estão ligadas, intimamente, aos papéis sociais vividos por todo interlocutor em cada situação comunicativa. (p.103. p.104.) A oralidade orientada pelo reconhecimento do papel da entonação, da pausa e de recursos suprassegmentais na construção do sentido do texto consiste no estudo e na compreensão dos recursos suprassegmentais, ou seja, das características, na oralidade, que marcam o texto e suas intenções, como a entonação, as pausas e até mesmo gestos e recursos de representação cênica. A oralidade que inclui momentos de apreciação de realizações estéticas próprias da literatura improvisada, dos cantadores e repentistas consiste no estudo a partir de uma visão cultural e artística de produções literárias que não obedecem a norma padrão da língua. A oralidade orientada para o desenvolvimento da habilidade de escuta atenciosa e respeitosa em relação aos mais diversos interlocutores consiste no desenvolvimento da habilidade de escutar, literalmente como diz a denominaçãoda ideia, com atenção e respeito, uma vez que não há interação linguística pela oralidade se não houver ouvinte. Capítulo: Conquistando Autonomia O professor de português precisa conquistar sua autonomia didática, assumir-se como especialista da área, comprometer-se com a causa da educação linguística de seus alunos. Não pode ficar, repito, à deriva, ao sabor das opiniões de todo mundo, como se não tivesse condições de estabelecer seus rumos. (p.169.) Irandé defende que os mais comuns obstáculos colocados no caminho, como provas de admissão e o protesto dos responsáveis pelos alunos e dos próprios alunos em relação ao ensino da linguística na escola não é motivo para que tal ensino permaneça desatualizado; para que haja, de fato, um ensino efetivo da língua, fazendo com que, consequentemente, os alunos tenham sucesso em suas interações linguísticas, cabe ao professor obter autonomia através de pesquisa e educação continuada e, ainda ao professor, cabe a proposta de soluções e remediação dos problemas apresentados. Entretanto, vale frisar que, apesar de assumir autonomia, consequentemente assumindo sua posição em sala de aula, não é característica necessária ou bem vinda o autoritarismo, mas sim a posição de ponte entre aluno e conhecimento.
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