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LEGISLAÇÃO, LICIT. E CONT. NO PROJ. DE OBRAS 1 Legislação, Licit. E Cont. no Proj. de obras LEGISLAÇÃO, LICIT. E CONT. NO PROJ. DE OBRAS 2 Licitação e contratos CONCEITO: É o procedimento administrativo vinculado por meio do qual os entes da Administração Pública e aqueles por ela controlados selecionam a melhor proposta entre as oferecidas pelos vários interessados, com dois objetivos — a celebração de contrato, ou a obtenção do melhor trabalho técnico, artístico ou científico.1 Apesar de o artigo 37, XXI da CF/88 referir-se à licitação como um "processo", verifica- se, na verdade, que se trata de um procedimento, e como tal, é formado por uma sequência de atos preordenados. São eles: 1) Edital; 2) Habilitação; 3) Julgamento; 4) Homologação; 5) Adjudicação. COMPETÊNCIA PARA LEGISLAR A Constituição Federal estabelece: Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: XXVII — normas gerais de licitação e contratação, em todas as modalidades, para as administrações públicas diretas, autárquicas e fundacionais da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, 1 José dos Santos Carvalho Filho LEGISLAÇÃO, LICIT. E CONT. NO PROJ. DE OBRAS 3 obedecido o disposto no art. 37, XXI, e para as empresas públicas e sociedades de economia mista, nos termos do art. 173, § lº, III. Percebe-se que a competência da União é para normas gerais, e isto não significa esgotar o assunto. Então, os outros entes da federação poderão criar normas específicas sobre o tema. Segundo o art. 22, XXVII/CF, devemos fazer uma remissão ao art. 24, §2º/CF, que fala sobre a competência concorrente dos estados. O que compete privativamente à União é a criação de normas gerais, logo, normas específicas são de competência concorrente. Todos os entes da federação podem legislar sobre licitação, em relação às normas específicas — para ajustar a licitação às suas próprias realidades, em especial à orçamentária. Em relação aos municípios, nos remetemos ao art. 30,1 e II/CF: legislar sobre interesse local e suplementar à legislação federal e estadual, onde couber. É também o município criando suas normas específicas. Assim, todos os entes da federação podem legislar sobre licitações e contratos. No entanto, só a União poderá fazê-lo em relação às normas gerais, que serão obrigatórias a todos os demais entes. Tal entendimento é pacífico na doutrina. O legislador federal, entretanto, ao elaborar a Lei 8.666/93 (já alterada, em especial, pela Lei 8.883/94), fez uma confusão. Ele se refere, pelo artigo primeiro, a normas gerais. Ora, a lei tem 120 artigos, e pelo artigo primeiro, todos deveriam ser normas gerais. Só que trata de matérias específicas, o que gerou grande controvérsia. A doutrina entende, em razão dos artigos constitucionais acima estudados, que a lei não é nacional e sim federal. Seria uma lei feita apenas para as licitações da União. O legislador federal, então, teria extrapolado sua competência, ao tentar transformar uma lei federal em nacional.2 2 A título de esclarecimento, o Código Civil é uma lei nacional, porque teve origem no Congresso Nacional, e vale para todo o território brasileiro. Já uma lei federal, como por exemplo, a Lei 8.112/90 (que cria o regime jurídico dos servidores públicos federais), só vale para os servidores federais. LEGISLAÇÃO, LICIT. E CONT. NO PROJ. DE OBRAS 4 Resumindo, a doutrina considera que o artigo primeiro da Lei 8.666/93 é inconstitucional porque extrapola a competência dada pela CF. Em vez de se limitar a estabelecer as normas gerais, quer impor o procedimento licitatório a todos os entes da federação. Logo, a doutrina entende que esta lei é válida somente para a União. Sobre o tema, temos apenas uma decisão do STF, que em 1993 concedeu uma liminar, mas até hoje não teve seu mérito apreciado. O art. 17 da mesma Lei 8.666/93, que se refere à alienação de bens da Administração Pública, também gerou polêmica. A alínea b do inciso I fala que a doação de bem imóvel só poderá ser feita de um órgão ou ente da Administração Pública para outro. É sabido que estados e municípios não têm competência para desapropriar para fins de reforma agrária; apenas a União. A maneira que estes entes têm de fazer uma justa distribuição de terras para o assentamento de famílias pobres, sem teto, ou mesmo para pessoas jurídicas de direito privado com fins assistenciais, sem intuito lucrativo, é através da doação de bens públicos. Mesmo com a entrada em vigor da Lei 8.666/93, esta prática continuou. Mas os Tribunais de Contas começaram a sustar estas doações. Os chefes do Executivo, por sua vez, argumentaram que estados e municípios têm autonomia política e administrativa (art. 18/CF) e que a União não pode interferir nesses assuntos. Tal disposição seria, igualmente, inconstitucional. Os Tribunais de Contas contra-argumentaram que a inconstitucionalidade deve ser levada ao STF, e, até que este decida, deve ser aplicado o art. 17. Alceu Collares, quando governador do Rio Grande do Sul, ingressou com uma ADIN, e o STF decidiu que a doação de bens imóveis públicos a particulares deve ser regulada por lei específica de cada ente da federação. LEGISLAÇÃO, LICIT. E CONT. NO PROJ. DE OBRAS 5 O dispositivo, portanto, só tem validade para a União, já que é uma norma específica e não geral. Conclui-se, pelo mesmo raciocínio, que o artigo primeiro da mesma lei é inconstitucional (RDA — ADIN 937), bem como que lei é federal, e não nacional. O Tribunal de Contas de São Paulo começou a chamar a Lei 8.666/93 de “lei unional", porque, tanto a lei nacional quanto a lei federal, na verdade, são federais. O Congresso Nacional, que é um órgão federal, é que fez o Código Civil. Mas foi ele também que fez a Lei 8.112/90, que vale só para a União. Então, tudo o que sai do Congresso é federal, porque o Congresso, em si, é federal. Mas ora é uma lei com conteúdo nacional, ora é uma lei federal, que só se aplica à União. Falar em lei nacional ou federal, portanto, não é de boa técnica, já que todas são federais. Deveríamos nos referir, então, a leis federais nacionais e leis federais "unionais", estas somente válidas para a União. NORMA GERAL X NORMA ESPECÍFICA Não existe um parâmetro legal para diferenciar norma geral e norma específica. O tema fica entregue à doutrina. Toshio Mukai e Diógenes Gasparini, ambos de São Paulo, divergem sobre o tema. Para Gasparini, na Lei de Licitações só existem quatro normas gerais, o que é um exagero da parte dele. Para Toshio Mukai, há 44. Alice Gonzales Borges, professora da PUC de Salvador, realizou um belo trabalho sobre o assunto, talvez o melhor deles. Para saber se um artigo é norma geral ou específica, deve-se indagar se ele está materializando um princípio constitucional ou administrativo. Em caso afirmativo, trata-se de norma geral. LEGISLAÇÃO, LICIT. E CONT. NO PROJ. DE OBRAS 6 Exemplos: • Art. 3, § 3° — defende o princípio constitucional da Publicidade (licitação é ato público); • Art. 41 — defende o princípio da Vinculação ao Instrumento Convocatório (a Administração não pode fugir às normas constantes dos instrumentos convocatórios — editais e cartas convites); • Art. 24 — defende o princípio constitucional da obrigatoriedade da licitação (as exceções estão inseridas em rol taxativo — decretos, portarias). De maneira geral, a Lei 8.666/93 é boa porque contém mecanismos que visam acabar com o superfaturamento. Também obriga a Administração a cumprir os compromissos em dia, sob pena de embargar qualquer pagamento. Quando um contrato é celebrado, o pagamento só é feito ao final, mas a Administração expede uma nota de empenho, na qual garante que aquelaobrigação será satisfeita. Propicia que haja uma reserva orçamentaria, além do que estabelece uma ordem cronológica de pagamentos. Vimos, então, que a União pode legislar normas gerais, e os demais entes da Federação, normas específicas. Mas a própria Lei 8.666/93 reconhece, no seu artigo 119, a legitimidade de outros órgãos da administração indireta, para legislarem também. Poderão editar regulamentos próprios, atos normativos regulamentando a lei, sem, contudo, contrariá-la ou criar inovações; apenas ajustá-la à sua realidade. Na verdade, dizem respeito a quem vai fazer parte da comissão de licitação, a quem competirá assinar o edital etc., ou seja, regras internas para ajustar a lei à sua operacionalidade. É o caso, por exemplo, do regulamento de licitação do Banco do Brasil, ou da CEF. Mas é um procedimento legislativo, um ato administrativo normativo. Os órgãos públicos da administração direta, conforme especifica o art. 115 da referida lei, também poderão emitir procedimentos visando a operacionalização das licitações, mas nunca criando norma nova. Em resumo, quem pode legislar sobre licitação e contratos, no direito brasileiro, são: LEGISLAÇÃO, LICIT. E CONT. NO PROJ. DE OBRAS 7 • União: normas gerais — art. 22, XXVII/CF; • Estados, Distrito Federal e Municípios: normas específicas — art. 24, §2º/CF c/c 118 da Lei 8.666/93 e art. 30, I e U/CF; • Entidades da administração indireta: regulamentos próprios — art. 119 da Lei 8.666/93; • Órgãos públicos da administração direta: procedimentos operacionais — art. 115 da Lei 8.666/93. QUEM ESTÁ OBRIGADO A LICITAR? Art. 37, XXI/CF c/c art. 1º, da Lei 8.666/93 De acordo com o art. 37, XXI/CF, toda a estrutura administrativa brasileira é forçada a licitar obras, serviços, compras e alienações. Este inciso deve ser combinado com o art. 1º, parágrafo único, da Lei 8.666/93, que cita toda a estrutura administrativa brasileira. A novidade é a inclusão dos fundos especiais — que não são pessoas jurídicas, mas são administrados por pessoas jurídicas que têm obrigação de licitar. E o caso, por exemplo: • Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) — administrado pela CEF, empresa pública obrigada a licitar; • Fundo de Emergência: administrado pelo Ministério da Fazenda, órgão público da administração direta, obrigado a licitar; • Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) — é o seguro desemprego, administrado pelo Ministério do Trabalho, órgão da administração direta, obrigada a licitar. Pode parecer redundância, mas o legislador houve por bem especificar esses fundos especiais. LEGISLAÇÃO, LICIT. E CONT. NO PROJ. DE OBRAS 8 As empresas estatais, por sua vez, só estarão obrigadas a licitar quando exercerem atividade meio, que não é aquela atividade para a qual foram criadas. A atividade fim é a venda do produto final, não precisa de licitação, porque tem que competir com entidades privadas — art. 17, II, da Lei 8.666/93. O QUE DEVE SER LICITADO? QUAL O OBJETO DA LICITAÇÃO? Art. 37, XXI/CF c/c art. 2º da Lei 8.666/93 Obras, serviços, compras e alienações — O rol é exemplificativo, pois todo e qualquer contrato deve ser precedido de licitação. Ex.: compra e venda; financiamento; seguro; concessão de direito real de uso (é contrato, logo, cabe licitação — é diferente de concessão de uso). Para o Professor Sérgio Andréa, a trilogia básica da licitação é formada, em regra, por obras, compras e serviços, pois representam 80% dos contratos celebrados pela Administração Pública. MODALIDADES DE LICITAÇÃO Art. 22 da Lei 8.666/93 Licitação é gênero, do qual temos as seguintes espécies: • Concorrência; • Tomada de preços; • Convite; • Concurso; • Leilão. LEGISLAÇÃO, LICIT. E CONT. NO PROJ. DE OBRAS 9 Não existe a expressão "concorrência pública", frequentemente utilizada pela mídia, pois esta não tem compromisso com a técnica. Na maioria das vezes, a expressão "concorrência pública" é utilizada como sinónimo de licitação (gênero). Outro alerta está em não confundir modalidades (ou espécies) de licitação, com tipos de licitação — estes estão no parágrafo primeiro do art. 45: • Menor preço; • Melhor técnica; • Técnica e preço; • Maior oferta. Em toda licitação existe a escolha de uma modalidade e de um tipo. Ex.: concorrência do tipo menor preço. CONCURSO E LEILÃO São modalidades pouco utilizadas pelo poder público porque não têm por objeto compras, obras ou serviços (trilogia básica). O próprio legislador as colocou de lado, pois no art. 23 refere-se, apenas, à concorrência, tomada de preços e convite. CONCURSO — art. 22, §4º c/c 52 Tem por objeto a escolha de trabalho técnico, científico e artístico. Como exemplo, podemos citar o projeto de reformulação da orla marítima, realizado por ocasião da Rio-92. O prefeito Marcelo Alencar poderia contratar Oscar Niemeyer, arquiteto renomado, para fazê-lo, mas preferiu abrir a modalidade de licitação por concurso, em que qualquer arquiteto pode apresentar seu trabalho arquitetônico livremente, submetido a uma comissão para analisar o melhor deles. LEGISLAÇÃO, LICIT. E CONT. NO PROJ. DE OBRAS 10 Ao escolher o melhor projeto, acaba o concurso. A realização desse projeto fará parte de outra licitação, pois aí já será obra. O logotipo da Rio-92 também foi escolhido através da modalidade de concurso. A execução de camisetas, papel timbrado, pastas etc. ficou a cargo de outra licitação. O concurso serviu apenas para a escolha do melhor trabalho artístico. Possui regulamento próprio, que acompanhará o edital de licitação. Não é muito utilizado. A comissão que realiza a modalidade de concurso é a única que pode ser formada sem a presença de servidores públicos. É uma exceção. A regra é que a comissão tenha, no mínimo, três membros, sendo dois deles servidores (art. 51). Mas, para o concurso, poderão ser os três de área estranha à Administração (art. 51, §59). É importante não confundir concurso como modalidade de licitação nem com concurso público. O primeiro diz respeito ao trabalho técnico, científico ou artístico, e não à pessoa que o realiza (o artista). Já o concurso público visa à admissão de pessoas para preencher os quadros da Administração. LEILÃO — art. 22, §5º c/c 53 da Lei 8.666/93 Apesar de ser mais utilizado do que o concurso, a lei também não lhe deu grande atenção. Tem por objeto a venda de bens móveis inservíveis, produtos legalmente apreendidos ou penhorados, ou para alienação de bens imóveis. Na verdade, o termo "penhorado" foi indevidamente utilizado. O certo é "empenhado", pois bens penhora- dos são aqueles leiloados pelo Poder Judiciário. A Administração Pública é Poder Executivo, e os bens empenhados são aqueles dados em garantia em contratos com ela celebrados. O leilão aqui referido não se confunde com o da desestatização (as ações da Vale do Rio Doce não são bens inservíveis), o qual está situado no art. 17, II, c, da Lei 8.666/93, regulado com base em lei específica — nº 8.031/90 — que criou o Programa Nacional de Desestatização. LEGISLAÇÃO, LICIT. E CONT. NO PROJ. DE OBRAS 11 É uma das raras modalidades de licitação que não têm comissão, podendo ser conduzida por um único servidor ou até mesmo por um leiloeiro oficial — a modalidade convite também pode ser conduzida por um único servidor. Além dessa, tem outra peculiaridade: é a única modalidade que aceita a substituição de uma proposta por outra. Por regra, a proposta é colocada em um envelope e lacrada, não podendo ser alterada. Mas no leilão, se um concorrente oferece determinado preço, que vem a ser posteriormente elevado por outro participante, o primeiro pode modificar e melhorar o preço ofertado, quantas vezes lhe for conveniente. CONCORRÊNCIA, TOMADA DE PREÇOS, CONVITEArt. 22; 23; 32; 34; 7º, §2º, II e III; 6º, IX, f; 40, §2°, II MODALIDADES DE LICITAÇÃO CONTRATO* PARTICIPANTES HABILITAÇÃO CONCORRÊNCIA GRANDE PORTE QUAISQUER INTERESSADOS DEPOIS DO EDITAL TOMADA DE PREÇOS MÉDIO PORTE CADASTRADOS ANTES DO EDITAL CONVITE PEQUENO PORTE CONVIDADOS PRESUMIDA Tabela 1. Os valores utilizados como parâmetro para o porte contratual estão definidos no art. 23 da Lei 8.666/93, que utiliza moeda corrente atualizada pelo IGPM, de acordo com o artigo 120 da mesma lei. LEGISLAÇÃO, LICIT. E CONT. NO PROJ. DE OBRAS 12 São as modalidades mais importantes: art. 22, I, II e III, todas se referindo à trilogia básica de compras, obras e serviços. Para saber qual delas usar, basta seguir o que dita o art. 23 da Lei de Licitações, que se baseia no porte ou valor do contrato. Antes de abrir a licitação, já existe um valor estimado, mesmo porque a verba orçamentária já tem que ter sido prevista. E feita uma pesquisa de mercado para fazer a estimativa do valor do objeto a contratar, bem ou serviço. A partir disso, consulta-se a tabela do art. 23 e chega-se à modalidade adequada. Para contratos de pequeno porte, tem-se a possibilidade de utilizar o convite; nos de médio porte, a tomada de preços; e, por fim, nos de grande porte, a concorrência. Pequeno, médio e grande portes são dados no art. 23 em moeda corrente. O legislador mencionou cruzeiros, e, como se trata de dotação orçamentária, não pode haver indicadores econômicos. Para respeitar as regras orçamentárias, os valores têm que ser fixados em moeda corrente. No art. 120 da lei, temos os índices atualizados, corrigidos pelo IGPM. Todo mês esse valor é atualizado através de uma portaria publicada pelo Ministério da Administração e Reforma do Estado. O parágrafo 4° do art. 23 diz que, nos casos em que couber convite, a Administração poderá utilizar a tomada de preços, e, em qualquer caso, a concorrência. A lei permite ao participante modificar, usando a maior em detrimento da menor. Deve-se ter cuidado, porque sendo um valor estimado, se o valor revelado pela pesquisa de mercado indica a modalidade convite, mas está muito próximo da tomada de preços, deve-se optar por esta última (superior). Com isto evita-se perda de tempo e dinheiro. Outra diferença diz respeito aos participantes. Na concorrência, tem-se o maior número possível de participantes. O parágrafo primeiro do art. 22 conceitua: "entre quaisquer interessados". Diz também que a habilitação vem depois do edital. Significa que a concorrência é uma modalidade de licitação que respeita o procedimento normal de toda e qualquer licitação, ou seja, primeiro vem o edital; em seguida, com base no preenchimento de seus requisitos, tem-se a habilitação. Posteriormente, vem o julgamento, a homologação e, finalmente, a adjudicação. LEGISLAÇÃO, LICIT. E CONT. NO PROJ. DE OBRAS 13 Vale frisar, no entanto, um absurdo que ocorreu no âmbito federal. Em 1996, o Ministro Bresser Pereira criou o SICAF — Sistema Único de Cadastramento Federal — , determinando que só pode contratar com o poder público aquele que efetuou sua inscrição. Trata-se de um ato administrativo inconstitucional, porque um ato normativo não pode criar nada, apenas regulamentar direitos e obrigações impostos por lei. Se não existe sequer decreto autônomo, quanto mais instrução normativa autônoma. Fere a Constituição Federal exigir que seja feito um cadastramento prévio no Ministério da Administração para poder participar de uma licitação. A tomada de preços, por sua vez, permite, em regra, cadastramento prévio. Isto porque esta modalidade de licitação foi criada para agilizar o procedimento. O edital exige uma série de documentos para que o licitante venha a ser habilitado. A habilita- ção consiste na verificação de como está a saúde da empresa, se tem ou não condições de contratar com a Administração. Analisa-se o Contrato Social, o CNPJ, exigem-se certidões negativas das Fazendas (para saber se está pagando os impostos em dia), do INSS (Certidão Negativa de Débitos) etc. É um trabalho demorado, que requer atenção. Na tomada de preços, esta documentação é exigida para o cadastramento da empresa e terá a validade de um ano (art. 34). A Petrobras, por exemplo, faz licitação quase todo dia, e as empresas são sempre as mesmas. Com o cadastramento, elimina-se a análise diária dos documentos, agilizando o procedimento todo. É emitido o CRC — Certificado de Registro Cadastral. Então a habilitação, em regra, na tomada de preços, é realizada antes do edital. O CRC é válido por um ano, mas há alguns documentos que têm validade menor. Existe, então, o entendimento de que, além do CRC, deverá ser apresentada a documentação que vale menos de um ano. Nesta hipótese, encontramos o CND, exigido junto ao INSS, e o CRS — Certificado de Regularidade Social —, que é exigido perante o FGTS, ambos com validade de seis meses. No momento da habilitação, portanto, entrega-se apenas o CRC, o CND e o CRS. LEGISLAÇÃO, LICIT. E CONT. NO PROJ. DE OBRAS 14 REGISTRO CADASTRAL HABILITAÇÃO CRC CND CRS INSS FGTS CEF A Lei 8.666/93, ao conceituar a tomada de preços, não foi precisa. O art. 22, §25, diz: "... ou que atenderem a todas as condições exigidas para cadastramento até o terceiro dia anterior à data do recebimento das propostas...". Tal dispositivo causou controvérsias, havendo, hoje, dois entendimentos a respeito. A primeira corrente, capitaneada por Diógenes Gasparini (SP) e Sidney Bittencourt (RJ), entende que o prazo de três dias é para a pessoa efetuar seu cadastro, ou seja, ela tem três dias antes da entrega das propostas. É posição interessante porque preserva a tomada de preços, que tem por objetivo agilizar o procedimento. Mas a lei não diz isso. Não menciona cadastramento; apenas que sejam atendidas as condições para cadastramento. Para o Professor Marcai Justen Filho (PR) e Carlos Ari Sundfeld (SP), este prazo não é para cadastramento, e sim para a habilitação. Logo, se o interessado não é cadastrado, mas quer participar da tomada de preços, tem três dias para se habilitar.3 A Lei 8.883/94 inseriu o parágrafo 9º no art. 22 da Lei 8.666/93, numa tentativa de resolver o problema, mas também não foi claro. Entretanto, deu força à segunda corrente, já que fala em "licitante não cadastrado". Se "licitante", é porque já está no procedimento, portanto, teremos licitantes cadastrados e não cadastrados. Refere-se, 3 Habilitação é o mesmo que qualificação. LEGISLAÇÃO, LICIT. E CONT. NO PROJ. DE OBRAS 15 também, à "habilitação" compatível e não a "cadastramento" compatível — os art. 27 a 31 falam em "habilitação". Com isto, entende-se que a tomada de preços, hoje, pode admitir tanto o cadastrado como o não cadastrado, sendo que este seria aquele meramente habilitado para participar apenas daquela tomada de preços, sem ficar inscrito no registro cadastral. É o que a lei diz, mas não é aquilo que seria o melhor, pois, se a habilitação ocorre depois do edital, não estamos mais diante de tomada de preços. Sunfeld diz, então, que a nova lei de licitações transformou a tomada de preços em concorrência de médio porte (a tomada de preços é para contratos de médio porte), e ele tem razão. A lei foi infeliz e descaracterizou a tomada de preços. Nas licitações, em regra, os dias são contados corridos e consecutivos. Só será contado em dias úteis quando a lei expressamente assim determinar. Ex.: às 16h30 de uma sexta-feira, 25 empresas entregam suas documentações para análise. Seria absurdo exigir que na segunda-feira, pela manhã, o funcionáriojá tenha examinado tudo. Além do que os documentos de habilitação só podem ser analisados em ato público. O convite, apesar de ser modalidade de licitação de pequeno porte aparentemente mais simples, é, na verdade, a mais complicada. Seria, teoricamente, para convidados. É a única em que o instrumento convocatório não é edital, e sim carta-convite. São enviadas cartas às empresas convidando-as a participar, mas, note-se que também as não convidadas poderão fazê-lo, desde que manifestem seu interesse até 24 horas antes da apresentação das propostas. Isso, por si só, fomenta a manutenção do registro cadastral, enfraquecido na tomada de preços. O convidado, por sua vez, pode ser cadastrado ou não. O mais comum é chamar o cadastrado, já que este tem sua documentação em dia. Havia um entendimento de que a habilitação, para o convite, era presumida, haja vista que, se a empresa era convidada, era porque havia sido escolhida e, como tal, teria condições de realizar o objeto do contrato. LEGISLAÇÃO, LICIT. E CONT. NO PROJ. DE OBRAS 16 A habilitação só aconteceria depois do julgamento, apenas para o vencedor. Mas isto é ilegal e inconstitucional. De acordo com o art. 29, IV da Lei 8.666/93 e art. 195, §3º/CF, o CND é obrigatório, bem como o CRS (Lei 9.021/95, art. 29). Com fulcro nestes dispositivos, não existe a habilitação presumida para o convite. Por conseguinte, o parágrafo primeiro do art. 32 da Lei de Licitações é inconstitucional (fazer remissão ao art. 195, §3º/CF). A lei exige, pelo art. 22, §3º, no mínimo três escolhidos ou convidados para o convite. Mas prevê que, desde que seja justificada a ocorrência, seja admitida a hipótese de participarem menos do que este número (art. 22, §7°). Exercício: Existe possibilidade de criação de outras modalidades de licitação, além das contidas no art. 22 da Lei 8.666/93, ou seja, o art. 22 é norma geral ou específica? Resposta: O §8º do art. 22 diz que não existe esta possibilidade. A norma é geral. A própria Constituição Federal, art. 22, inciso XXVII, quando entrega a competência das normas gerais à União, menciona "todas as modalidades". Logo, as modalidades são normas gerais. Os dois artigos devem ser combinados. LEGISLAÇÃO, LICIT. E CONT. NO PROJ. DE OBRAS 17 AFASTAMENTO DA LICITAÇÃO Tabela 2. A regra é que todo contrato exige prévia licitação. O afastamento é exceção e constitui- se em gênero que possui como espécies: • Licitação dispensada: art. 17; • Licitação dispensável: art. 24; • Licitação inexigível: art. 25; • Licitação vedada: art. 7º, §5º. A dispensável e a inexigível são as mais conhecidas. Não confundir licitação dispensada com dispensável (dispensa de licitação), cada uma prevista em dispositivo legal próprio.4 4 Obs.: O parágrafo 5º, do art. 7º, que se refere à licitação vedada, consitui, em real, uma modalidade de licitação inexigível, com previsão no art. 25, Lei 8666/93. DISPENSADA DISPENSÁVEL INEXIGÍVEL VEDADA BENS PÚBLICOS FACULTATIVA SUA UTILIZAÇÃO OBRIGATÓR IA SUA UTILIZAÇÃO INEXIGIBILIDA DE ROL DO ART. 24 É TAXATIVO ROL DO ART. 25 E EXEMPLIFIC ATIVO APROVAÇÃO DA AUTORIDADE SUPERIOR ART. 26 LEGISLAÇÃO, LICIT. E CONT. NO PROJ. DE OBRAS 18 Outro comentário necessário à licitação vedada diz respeito à escolha da marca. Apesar de o artigo mencionar "salvo nos casos em que for tecnicamente justificável", não há impedimento. Se for provado que a escolha de determinada marca (havendo outras similares) é justificável porque torna o projeto viável, não se estará ferindo a lei. É o caso, por exemplo, de um projeto de padronização, em que uma marca é escolhida para ser utilizada em todas as obras. Não é uma escolha arbitrária; foi feito um estudo que justificou esta decisão. Isto vale não somente para o art. T9, § 5º, mas também para qualquer outro dispositivo desta lei. É possível a escolha da marca, o que é vedado é a escolha arbitrária, sem motivação, sem fundamento técnico que o justifique. Dispensa e inexigibilidade têm duas diferenças básicas. A primeira quanto à utilização, e a segunda quanto ao rol dos dispositivos legais. Quanto à utilização porque, enquanto a dispensa tem uso facultativo, a inexigibilidade é obrigatória. A dispensa é uma faculdade do administrador. O fato de que a lei elenca situações de dispensa não significa que, em momento algum, esteja forçando o administrador a fazê-lo. O próprio caput do art. 24 nos leva a esse raciocínio porque não diz textualmente que seja obrigatória. O administrador goza de discricionariedade. Se, mesmo dispensado, achar que deve licitar, nada o impedirá. Na inexigibilidade, é diferente: existe uma obrigatoriedade expressa no caput do art. 25, quando dispõe sobre "inviabilidade de competição". Qual a alma da licitação, por que se faz a licitação? Para estimular uma competição, e diante desta competição, conseguir um preço mais favorável à Administração. Então, licitação significa competição. Se a licitação é inexigível quando houver inviabilidade de competição, então a licitação é inviável. O exemplo clássico está no inciso I do art. 25: produtor exclusivo. Se é exclusivo, é porque só existe um. Então, não é necessário licitar; contrata-se diretamente. LEGISLAÇÃO, LICIT. E CONT. NO PROJ. DE OBRAS 19 Outras situações existem que também justificam a inexigibilidade, mesmo em se tratando de várias pessoas. É o caso da inauguração de uma obra, na qual se deseja contratar um grande artista para fazer o show. Não há critério objetivo nessa escolha: pode ser Gil, Caetano, Chico Buarque, não há competição. Conclui-se que a inexigibilidade não está necessariamente ligada à presença de apenas uma pessoa que faça o serviço, mas sim à inviabilidade da competição. A segunda diferença entre dispensa e inexigibilidade está no elenco de situações. Há o entendimento pacífico de que o rol do art. 24 é taxativo, sendo até mesmo rotulado como norma geral, já que, indiretamente, protege o princípio da licitação obrigatória. Visa evitar que a licitação venha a ser agredida com frequência por portarias, resoluções etc. Já o rol do art. 25 é exemplificativo, como se percebe pela utilização da expressão "em especial", que consta no seu caput. Menciona as três situações mais comuns, mas não fecha o leque. Assim, em qualquer situação em que se comprove ser inviável a competição, mesmo que não prevista em nenhuma delas, é caso de inexigibilidade, podendo-se contratar diretamente. Vale frisar que tanto a dispensa quanto a inexigibilidade necessitam de autorização da autoridade superior (art. 26 e parágrafo único), como também de processos administrativos que as justifiquem. O artigo refere-se a "processo", mas, na verdade, é um ato administrativo composto. Uma comissão analisará esse processo e, após sua aprovação, remeterá para ser ratificado pela autoridade superior. Ambos abrem mão da competitividade, mas não significa que a habilitação seja liberada. Toda documentação há de ser exigida, em especial, CND (perante o INSS) e CRS (perante o FGTS). LEGISLAÇÃO, LICIT. E CONT. NO PROJ. DE OBRAS 20 A Professora Di Pietro escreveu um livro composto de pareceres da USP sobre temas polêmicos em licitações. Um deles diz respeito à consequência que terá um ato administrativo que autoriza a não realização do certame licitatório, caracterizado como dispensa, quando, de fato, trata-se de inexigibilidade. Ou seja, o servidor conduziu o processo de afastamento como se fosse dispensa (ou vice-versa), foi publicado como tal, e o interessado contratado diretamente. Mas, ao final, conclui-se que era caso de inexigibilidade. Como resolver? Para ela, o ato deve ser anulado, poisnão é sanável. Tudo será desfeito, e o processo começará novamente do início. Não é esse, entretanto, nosso entendimento. O objetivo fim de ambos é a contratação direta, e esta acontecerá. Como o equívoco foi na denominação, basta que se faça a conversão de um em outro, publicando-se no Diário Oficial: "onde se lê dispensa, entenda-se inexigibilidade". Desta forma, atende-se ao princípio da economia dos atos administrativos, e o conteúdo não será em nada alterado. Não se trata de sanatória, já que não há vício de competência (a autoridade superior ratificou), nem de forma (houve o procedimento administrativo). A medida cabível é a conversão, pois se trata de conteúdo, de objeto. O servidor público errou. Mas o próprio legislador errou ao incluir no art. 24 três incisos de inexigibilidade, no lugar de dispensa. Dois deles são pacíficos na doutrina: inciso XV e inciso XVII. Ambos deveriam constar do elenco do art. 25. No inciso XV do art. 24 está claro que, ao usar a expressão "autenticidade certificada", é porque só existe uma obra de arte ou objeto histórico, então não há escolha. Por exemplo, para a aquisição da farda de Napoleão, a contratação é direta, pois somente aquela farda é autêntica. Trata-se de inexigibilidade. O inciso XVII do art. 24 refere-se a "exclusividade". Significa que, por exemplo, ao fechar contrato de aquisição de uma máquina especial, se constar numa de suas cláusulas que existe garantia na troca de determinadas peças, não existe a faculdade de escolha de outra firma para a realização do serviço. Se o fizer, o conserto terá que ser pago. Então o serviço terá que ser realizado com o próprio fornecedor principal. LEGISLAÇÃO, LICIT. E CONT. NO PROJ. DE OBRAS 21 Não é caso de dispensa, e sim de inexigibilidade. Não existe a faculdade de se abrir mão de determinada garantia, se dela decorrer um prejuízo para o poder público. Já em relação ao terceiro equívoco a ser analisado, inciso X do art. 24, há controvérsias. O Prof. Jessé o considera como dispensa, e os que com ele concordam argumentam que o fato de o imóvel ser escolhido não significa que o proprietário queira vender ou alugar. Seria mais um problema de busca de mercado, de discricionariedade do poder público ao fazer ou não uso do imóvel. Mas nele é utilizada a expressão "condicionem a sua escolha". Ora, se a escolha é condicionada, não há margem de escolha. Trata- se de inexigibilidade. Um concurso para o Ministério Público estadual colocou a seguinte questão: A Administração Pública desejava adquirir um imóvel para instalar uma repartição pública e encontrava-se diante de três situações: 1) Na cidade só existe um imóvel que atenda às condições da Administração; 2) na cidade existem de dois a cinco imóveis que atendem às condições da Administração; e 3) a Administração não tem nenhum requisito específico para o tipo de imóvel. E pedia para comentar a solução para cada uma das três situações. Parece óbvio que seriam casos de, respectivamente, inexigibilidade, dispensa e licitação. É o que a questão pretendia. Mas poderia ser inexigibilidade, licitação e licitação, pois ao se apresentar um grupo de dois a cinco imóveis, tem-se que licitar. Não seria caso, então, de dispensa. Mas o tema é controvertido. COMENTÁRIOS SOBRE DISPENSA O inciso IV do art. 24 nos chama a atenção para o que se denomina "situação de emergência". Para o Tribunal de Contas, é aquela relacionada com imprevisibilidade. LEGISLAÇÃO, LICIT. E CONT. NO PROJ. DE OBRAS 22 Somente teria legitimidade e legalidade a contratação emergencial quando tivesse caráter de situação imprevisível. Mas, em regra, o que se constatava na prática era que o servidor prolongava indefinidamente determinada situação até que, às vésperas da licitação, não houvesse outra saída a não ser afastar o processo licitatório sob o argumento de emergência. Acabava, então, contratando com determinada pessoa com a qual existisse um interesse particular. Ou seja, o que ocorria, na maioria das vezes, era uma total falta de planejamento ou situações de emergência produzidas e fictícias. Em qualquer dos casos, o servidor devia ser processado administrativamente para ressarcir os cofres públicos do prejuízo que sofrera em decorrência da falta de competitividade. Para driblar o Tribunal de Contas, publicavam-se editais pessimamente formulados que davam margem a impugnações, mandados de segurança com liminares que paralisavam todo o procedimento, fazendo com que a licitação não fosse concluída em tempo hábil e forçando uma contratação direta. Como solução, Estado e Município do Rio de Janeiro adotaram, através de suas procuradorias, editais padronizados, que apenas deixam em branco lacunas que serão preenchidas com os dados do órgão, o objeto do contrato, a modalidade de licitação, o prazo para entrega das propostas etc. Com isto, a contratação emergencial reduziu-se apenas aos casos realmente ligados à imprevisibilidade. Fora isso, caracteriza-se a emergência produzida, e o servidor deve ser severamente punido. Outro inciso que merece ser comentado é o V do art. 24: licitação deserta. A licitação é aberta, marca-se o prazo para apresentação das propostas, e não aparece nenhum interessado. A lei faculta, neste caso, a contratação direta com o primeiro que apare- cer. Mas todas as condições preestabelecidas pelo edital devem ser fielmente mantidas, sob pena de se refazer toda a licitação. LEGISLAÇÃO, LICIT. E CONT. NO PROJ. DE OBRAS 23 A licitação deserta não se confunde com licitação fracassada (ou frustrada). Nesta última, aparecem interessados, só que ou são todos inabilitados, ou são todos desclassificados. Ex.: todos os participantes estão em débito com o INSS (inabilitados) — art. 24, VII — ou, ao se abrirem os envelopes, todos os preços estão superfaturados, acima do valor de mercado (desclassificados) — art. 48. O parágrafo terceiro deste último indica como poderá ser salva a licitação nestes dois casos: apresentando, dentro de oito dias, os documentos faltantes ou os preços ajustados. Caso isto não ocorra, poderá ser contratada diretamente a primeira empresa que oferecer o valor de mercado. A última situação de dispensa a ser analisada é a contratação de empresas estatais. Ou seja, é o Estado contratando empresas também do Estado. Não há necessidade de licitação — art. 24, incisos VIII e XVI, desde que a contratada tenha sido criada com esta finalidade. O inciso VIII elenca quem pode contratar uma estatal diretamente: pessoas jurídicas de direito público interno, ou seja, entes da Federação, autarquias e fundações autárquicas. Estatal não pode contratar diretamente outra estatal. O inciso XVI também se refere a pessoas jurídicas de direito público interno, como a Imprensa Oficial, o SERPRO etc. A lei, entretanto, não faz distinção entre estatal prestadora de atividade econômica e estatal prestadora de serviços públicos, o que fere o art. 173, §19, III/CF. A estatal prestadora de atividade econóômica é obrigada a se sujeitar à licitação. Ex.: o governo do estado do Rio de Janeiro, se desejar contratar seguros para os veículos do Estado, não pode ir direto ao BANERJ e fazê-lo. Seguro é atividade económica. BANERJ Seguradora é subsidiária do BANERJ, que é uma sociedade de economia mista, prestadora de atividade econômica. Conforme determina a Constituição, deve ter o mesmo tratamento dispensado às empresas da iniciativa privada, ou seja, deve se LEGISLAÇÃO, LICIT. E CONT. NO PROJ. DE OBRAS 24 submeter à licitação. Apesar de a lei não dizer isto expressamente, este é o entendimento predominante, inclusive do Tribunal de Contas. COMENTÁRIOS SOBRE INEXIGIBILIDADE Como já foi dito, o rol do art. 25 é apenas exemplificativo. Sobre o inciso I, Hely Lopes Meirelles tem um entendimentodoutrinário que é bastante considerado, apesar de não possuir nenhum fundamento legal. Segundo ele, quando o objeto da licitação for orçado para a modalidade convite (pequeno valor), a exclusividade refere-se ao Município; quando a contratação tiver valor da tomada de preços, a exclusividade é do Estado; e, quando tiver valor da concorrência, a exclusividade seria de âmbito nacional. Assim, o Município poderia alegar exclusividade e contratar com uma única empresa do seu território, quando a licitação for de pequeno valor, dentro da modalidade convite. Como já foi dito, não existe nenhum amparo legal. Ao contrário, a lei nem mesmo a defende, pois diz que a licitação não é exclusiva para as empresas sediadas no local. O art. 20 e seu parágrafo único põem por terra definitivamente este posicionamento de Hely Lopes. Mas, apesar disso, costuma ser bem aceito pela doutrina. Ex.: o Município desejava comprar quatro Vectras, e só havia uma concessionária Chevrolet em seu território. A prefeitura contratou diretamente. Segundo o art. 20, parágrafo único, este procedimento foi ilegal porque a licitação não se limita ao local de sua sede. Além disso, pelo entendimento do Hely, o valor da compra extrapola o limite do convite, cabendo tomada de preços, e, neste caso, a exclusividade seria regional, não impedindo a participação da concessionária do município vizinho. Neste exemplo, não é possível a contratação direta; tem que haver competição. Não vale a alegação, contrária à lei e ao entendimento do Tribunal de Contas, de que municípios e estados podem dar preferência a empresas sediadas em seus territórios para fins de LEGISLAÇÃO, LICIT. E CONT. NO PROJ. DE OBRAS 25 futura arrecadação de tributos, pois fere os princípios da Isonomia ou da Impessoalidade. O inciso II do art. 25 é o mais questionado, pois se refere à contratação de profissional de notória especialidade. Primeiramente, deve se ressaltar que o que é exclusivo não é o profissional, e sim o serviço, que tem natureza singular. Caso contrário, cairíamos de novo no inciso I. Como exemplo, pode-se citar a feitura do Aterro do Flamengo, o maior parque florestal do mundo. É um serviço de natureza singular, que não pode ser dado a qualquer um dos muitos jardineiros da Fundação Parques e Jardins (que pertence ao Município). Tem-se que procurar um profissional especializado para uma obra de tal porte: Burle Marx. Como se chega a este profissional de natureza especializada? O conceito está no parágrafo primeiro do art. 25: "que permita inferir que o seu trabalho é essencial e indiscutivelmente o mais adequado à plena satisfação do objeto do contrato". O mais adequado, e não o único. Depreende-se, com isto, que se pode escolher entre diversos profissionais de natureza especializada, desde que se prove, em razão de sua experiência anterior, sua técnica, estudo, aparelhamento etc., que o trabalho dele é o mais adequado para satisfazer o objetivo almejado. Muitos alegam que não se faz licitação quando se trata de notória especialidade porque os concorrentes são muito vaidosos e não vão oferecer o menor preço. Pode ser verdade, mas este não é um argumento jurídico. Logo, tem-se que comprovar, no procedimento de inexigibilidade, que houve análise de diversos profissionais de natureza especializada, mas que o escolhido é o melhor devido aos argumentos elencados. Há, necessariamente, um juízo de valor. Mas este está amarrado a uma motivação que prove a escolha adequada de um entre vários. Finalmente, o inciso III do referido artigo menciona a contratação de profissionais artísticos, consagrados pela crítica especializada ou pela opinião pública. Aqui, mais do LEGISLAÇÃO, LICIT. E CONT. NO PROJ. DE OBRAS 26 que nunca, existe um juízo de valor, uma discricionariedade. Não há critérios objetivos. Escolher Chitãozinho e Xororó ou Zezé de Camargo e Luciano? Qual é o critério? Qual das duas duplas causa mais comoção entre as mulheres? Se o critério for o menor preço, vai ser contratado um desconhecido, e o objetivo não é oferecer um cachê baixo, e sim escolher um profissional que atraia muita gente para a inauguração da obra. Note-se que a inexigibilidade de licitação tem natureza singular, não vale para empresas de eventos. Estas têm que se submeter à competição. PROCEDIMENTO LICITATÓRIO - Instrumento Convocatório Toda licitação tem início através de um instrumento convocatório: edital ou carta- convite. O edital é para concorrência, tomada de preços, concurso e leilão. A carta- convite é somente para a modalidade convite, ou seja, das cinco modalidades, quatro começam com edital. Há que se observar, entretanto, que em determinados casos o primeiro ato do procedimento licitatório pode não ser o edital nem a carta-convite. Trata-se da situação em que os contratos envolvem valores extremamente elevados. Nestes casos, a legislação exige, no seu artigo 39, que antes da licitação seja feita uma audiência pública. (AUDIÊNCIA PÚBLICA: ART. 39) EDITAL CARTA CONVITE AUTORIDADE SUPERIOR ART. 51 DA LEI 8.666/93 HABILITAÇÃO JULGAMENTO COMISSÃO DE LICITAÇÃO* HOMOLOGAÇÃO ADJUDICAÇÃO AUTORIDADE SUPERIOR *delegação Tabela 3. LEGISLAÇÃO, LICIT. E CONT. NO PROJ. DE OBRAS 27 EDITAL Teoricamente, o edital é um ato que cabe à autoridade superior, ao chefe do órgão. Na prática, entretanto, através do instituto da delegação de competência, quem o executa e coloca no mercado é o presidente da comissão de licitação. É comum, igualmente, que as fases da licitação sejam presididas por pessoas diferentes. A comissão de licitação, legalmente falando, realizaria apenas as fases de habilitação e julgamento (art. 51), não fazendo parte nem do instrumento convocatório nem da homologação ou da adjudicação, que caberiam à autoridade superior. Mas, no dia a dia, a autoridade superior também delega a função de realizar o edital para a comis- são, sendo assinado pelo seu presidente, com aprovação prévia da assessoria jurídica do órgão público envolvido (art. 38). Esta assessoria não se refere à procuradoria do Município ou do Estado. Pertence ao próprio órgão ligado à licitação e torna-se solidária com aquele que assina o edital. Tal exigência, por sua vez, faz com que o procedimento interno da licitação, que ocorre antes da colocação do edital no mercado, se arraste por mais tempo, pois envolve a participação de vários assessores jurídicos de conhecimentos técnicos duvidosos, nomeados para esse cargo de confiança. Publicado o edital, ele poderá ser impugnado dentro de cinco dias úteis antes da abertura dos envelopes da habilitação (art. 41), tanto pelo cidadão (parágrafo primeiro) quanto pelo licitante (parágrafo segundo). O parágrafo primeiro nos remete ao art. 113, §1°, o que significa que, feito o edital, qualquer cidadão pode, concomitantemente, entrar com impugnação e encaminhar ao Tribunal de Contas, na mesma representação. Recebida a impugnação, a autoridade superior terá três dias para resolver sobre ela. A lei está preocupada com que, havendo impugnação, esta seja impetrada e julgada antes da habilitação, para que se dê início à segunda fase LEGISLAÇÃO, LICIT. E CONT. NO PROJ. DE OBRAS 28 depois que a primeira estiver completamente sanada. No caso do parágrafo segundo do art. 41, entretanto, isto poderá não ocorrer, pois não faz referência ao prazo para resolver-se a impugnação feita pelo licitante. Desta forma, é possível que se chegue à habilitação na pendência de questões referentes ao edital. Ex.: o licitante, ao ler o edital, entende que a exigência de determinado documento é desnecessária, pois foi dirigida apenas a uma empresa, pois só ela poderá cumpri-la. Entra na licitação sem o referido documento e faz impugnação depois, alegando que istofere o princípio da impessoalidade, que diminui a competitividade etc. Inicia-se a fase da habilitação sem que isto esteja resolvido. Quando os envelopes forem abertos, a proposta deste licitante — que não forneceu aquele documento — será habilitada? Sim, com base no art. 41, §35. 5 Isso poderá criar um problema seríssimo, pois o licitante será habilitado sem cumprir com uma exigência do edital. Se vier a ganhar a licitação, terá que aguardar a decisão da impugnação. E se perder? Será desclassificado. Neste caso, o segundo licitante não será mais obrigado a aceitar. Vê-se, então, que se não se resolver uma impugnação antes da habilitação, isto poderá comprometer todo o procedimento licitatório. Não é, portanto, aconselhável adotar tal prática. O art. 21 refere-se à publicação do edital, e isto merece alguns comentários. Observa- se que o convite é a única modalidade de licitação em que não há obrigatoriedade de publicação no Diário Oficial. O convite é publicado no quadro de avisos da repartição, apenas. Mas já vimos que mesmo o não convidado cadastrado poderá participar. Como, então, ele poderá tomar conhecimento da licitação, se não houve publicação no D.O.? 5 Obs.: Não existe trânsito em julgado de decisão administrativa, pelo conceito adotado no país de jurisdição una. Pelo menos no aspecto material, poderá ir a juízo a qualquer momento. Sob o ângulo formal, poder-se-ia até "engolir", argumentando-se que a fase administrativa se exauriu, pois que ocorreu coisa julgada. LEGISLAÇÃO, LICIT. E CONT. NO PROJ. DE OBRAS 29 A Procuradoria do Município, atenta a este detalhe, baixou um decreto em 1994 obrigando a publicação também da carta-convite, além de exigir a participação, no mínimo, de seis empresas, e não apenas três. É uma norma específica, válida somente para o município do Rio de Janeiro, e que não fere a lei. A publicação não se refere à totalidade do edital — pois os editais geralmente são muito grandes —, mas apenas a um resumo (art. 40). A pasta completa poderá ser comprada na repartição (art. 32, §5º) e conterá todas as informações necessárias. O art. 21 nos diz que o edital deve ser publicado, no mínimo, uma vez. Se tratar-se de dinheiro da União, a publicação será no D.O. da União. O inciso II do mesmo artigo, por sua vez, exige que as licitações dos municípios sejam efetuadas no D.O. do Estado, o que é absolutamente inconstitucional. O art. 18 da CF/88 prega a autonomia político- administrativa dos municípios, em especial, aqueles que possuem imprensa oficial — que é o caso do Rio de Janeiro. Deve-se fazer uma remissão ao art. 6º, inciso XIII. E, portanto, o município que deverá dizer qual é sua imprensa oficial, e não uma lei federal. Os que defendiam o inciso II tinham como argumento o fato de que a licitação não se limita apenas ao local de sua sede, mas estende-se a todo o estado. Tal alegação não procede, pois o inciso III obriga que se publique também em jornal diário de grande circulação no estado, e, se não houver, no município. O Diário Oficial será utilizado quando o município o instituir como veículo oficial de informação. Em respeito à autonomia dos entes da Federação, é entendimento majoritário da doutrina, portanto, que o inciso II é inconstitucional. HABILITAÇÃO Inicia-se, aqui, a fase que é de competência da comissão de licitação. O interessado em participar da licitação, em regra, terá que entregar dois envelopes lacrados à Administração: o primeiro conterá a documentação relativa à habilitação da LEGISLAÇÃO, LICIT. E CONT. NO PROJ. DE OBRAS 30 empresa (CND, CRS, Contrato Social da empresa, Balanço) e o segundo, os documentos relativos à proposta (preço). A concorrência é a modalidade com a qual o legislador mais se preocupou, e cujo procedimento segue a sequência de edital, habilitação, julgamento, homologação e adjudicação. É também a mais democrática, pois permite a participação do maior número possível de interessados. Por isso o art. 43, §4º, diz que se aplica à concorrência, podendo, no que couber, ser aplicado às outras modalidades. A fase da habilitação está regulada a partir do art. 27, o qual utiliza o termo "exclusivamente", e, portanto, é rol taxativo. Não se pode exigir mais do que estes quatro grupos. Para os demais artigos, o rol não é mais taxativo. Há quatro documentações básicas: habilitação jurídica, qualificação técnica, qualificação econômico-financeira e regularidade fiscal, as quais são esclarecidas nos artigos subsequentes. Além desses, pode ser exigido outro documento não previsto, mas necessário àquela licitação específica. A legislação anterior referia-se à quitação, no lugar de regularidade fiscal, que são coisas bem diferentes. Na quitação, tem que estar tudo pago; na regularidade, não. Por exemplo, a empresa deve 30 anos de INSS e quer participar da licitação. Não possui CND, mas vai ao INSS e solicita um parcelamento do débito. Pagando a primeira parcela, já há regularidade fiscal, em função do acordo realizado. O art. 45, §º diz que os envelopes devem ser abertos em ato público. O licitante entregará os dois envelopes, mas apenas o da habilitação será aberto naquela fase (o da proposta somente será aberto na fase de julgamento). Os participantes devem, então, rubricar todos os documentos, para que não seja anexado outro posteriormente, já que isso não é permitido (art. 43, §3º). Um licitante, por exemplo, LEGISLAÇÃO, LICIT. E CONT. NO PROJ. DE OBRAS 31 não poderá argumentar que um documento exigido está no segundo envelope, porque a lei diz que este só será aberto no julgamento das propostas, após a habilitação. A comissão poderá analisar as habilitações a portas fechadas, pois é exigido ato público apenas na abertura dos envelopes (43, §º). O resultado será publicado no Diário Oficial. O aspecto mais interessante da habilitação refere-se ao art. 43, §6º: uma vez habilitado, o licitante estará realizando uma promessa de contrato, ou seja, caso seja o vencedor, não poderá mais desistir — salvo exceções, a cargo da Administração. Até quando a Administração pode impor ao habilitado a obrigação de aceitar o contrato? Até 60 dias da data da entrega da proposta (anterior à habilitação), e não do resultado da habilitação (art. 63, §3º). Em regra, os editais reduzem este prazo para 30 dias. E se o licitante for chamado dentro do prazo e não assinar o contrato? Sofrerá sanções administrativas: advertência, multa, suspensão temporária de participação em licitação (impedindo-o de contratar com a Administração por dois anos) e, a mais grave, declaração de inidoneidade para contratar com o poder público (que é por prazo indeterminado). O art. 81 diz que tal fato caracteriza o descrumprimento total da obrigação assumida, e as penalidades constam do art. 87. A fase da habilitação poderá terminar em três momentos (43, III): transcorrido o prazo sem interposição de recurso; desistência expressa do direito de recorrer, e após o julgamento do recurso. A desistência expressa é o chamado "termo de renúncia", ou seja, estando todos os licitantes presentes (não há obrigação de fazê-lo), o presidente da comissão resolve fazer a habilitação no ato público. Todos concordam com o resultado e assinam o LEGISLAÇÃO, LICIT. E CONT. NO PROJ. DE OBRAS 32 termo de renúncia, não havendo necessidade de aguardar os cinco dias para ir à fase do julgamento. Caso alguém recorra (Art. 107, I, “a”), tem-se que esperar o julgamento do recurso para encerrar a fase da habilitação. Assim, somente os licitantes habilitados irão à fase do julgamento. Os não habilitados recebem de volta seus envelopes contendo as propostas lacrados e vão embora. A comissão de licitação tem juízo de retratação, ou seja, o recurso será encaminhadopara a própria comissão que poderá retratar-se. Caso a retratação não ocorra, aí então o recurso será levado à autoridade superior (art. 109, §4º).6 JULGAMENTO Fases: É presidido pela comissão de licitação e se divide em duas fases: análise formal e análise material. Análise formal Analisam-se as propostas individualmente, segundo as exigências do edital. Caso alguma delas não preencha os requisitos necessários, será imediatamente desclassificada (art. 48, I). Atualmente, a fase formal está muito simplificada. As propostas nada mais são do que planilhas elaboradas pela própria Administração. Basta que se preencham os espaços em branco. 6 Obs.: A grande vantagem de a autoridade superior delegar ao presidente da comissão a realização do edital é ter para quem recorrer caso haja recurso, que, no caso, seria apreciado pela autoridade superior. É difícil, na prática, encontrar edital assinado por Ministro ou Secretário. É sempre o presidente da comissão quem o faz, cabendo, então, recurso para o Ministro ou Secretário. Mesmo que a autoridade superior tenha assinado o edital, ainda assim existe o recurso hierárquico impróprio, que é aquele fora do órgão. Ex.: o Ministro assinou o edital, logo o recurso será encaminhado ao Presidente da República, que é outro órgão. O recurso hierárquico próprio é aquele a ser apreciado dentro do mesmo órgão, como por exemplo, quando sai do presidente de uma autarquia e vai para o Ministério ao qual ela está ligada. LEGISLAÇÃO, LICIT. E CONT. NO PROJ. DE OBRAS 33 Análise material É o que se considera, na realidade, o julgamento. Comparam-se as propostas, a fim de que se chegue a que melhor satisfaz a Administração. O art. 45 menciona o julgamento objetivo. Para que ele ocorra, o edital apresentará critérios, fatores e tipos. Mas a lei só define o que são tipos de licitação (art. 45, §1°), não se referindo nem a critérios nem a fatores. Talvez a justificativa para isto seja porque o tipo eleito para licitação é o de menor preço, ou seja, será vencedor aquele que apresentar a proposta dentro das especificações do edital ou convite e ofertar o menor preço. Deve-se ressaltar que, com esta redação, não se eliminou a qualidade porque o legislador diz que se deve descrever o objeto no edital. A proposta deve seguir aquela qualidade nele exigida. Depois, no julgamento, será analisado o melhor preço. A Administração, desta forma, adquire um produto com o padrão de qualidade necessário, mas pagando o preço mais barato. Como, através da lei, se chega à conclusão de que a regra é a do menor preço? O parágrafo primeiro do art. 45 relaciona os quatro tipos. O inciso IV é usado apenas para alienação de bens ou concessão de direito real de uso. Restam, portanto, os três primeiros incisos. Mas o caput do art. 46 menciona que os tipos "melhor técnica" ou "técnica e preço" são utilizados exclusivamente para serviços de natureza prodominantemente intelectual. Deduz-se, por eliminação, que o tipo de eleição em vigor, atualmente, é o de menor preço. Quando o art. 46 diz que os tipos "melhor técnica" ou "técnica e preço" são exclusivamente para serviços, pode-se concluir que para obras e compras valerá sempre o tipo menor preço? Não, pois também existem obras que exigem profissionais altamente especializados, podendo ser incluídos em serviços de natureza intelectual. LEGISLAÇÃO, LICIT. E CONT. NO PROJ. DE OBRAS 34 Outro aspecto a ser analisado é que se, de regra, o tipo é o de menor preço, não há por que estipular fatores e critérios. O que vai definir, realmente, é o menor preço. Então falar em critérios e fatores tornou-se desnecessário. No caso do art. 46, sim, critérios e fatores tornam-se importantes, pois a qualidade técnica tem que ser estabelecida. (Art. 46, §1°, I, parte final: "e que considerem a capacitação..."). Serão então definidos os critérios de julgamento, como por exemplo, a qualidade, o rendimento, a metodologia e o prazo. À qualidade, serão atribuídos de 20 a 30 pontos. Ao rendimento, de 15 a 20 pontos. À metodologia, de 10 a 15. E ao prazo, de 5 a 10. As propostas serão analisadas atribuindo-se pontos conforme estes critérios. Ao final, somam-se os pontos atribuídos a cada um dos fatores e chega-se ao que diz o inciso II do art. 46, §lº. É estabelecido um valor mínimo de pontos. Por exemplo, 50. Uma empresa faz 50, outra 54, e uma terceira 57. Numa licitação de melhor técnica, podem existir até três envelopes: um da habilitação, outro da proposta técnica e, por último, o do preço. A esta altura, o envelope da habilitação já foi aberto. O da técnica também. Restará apenas o do preço. O mesmo inciso, entretanto, diz que "... e a negociação das condições propostas com a proponente... ". Ora, se o julgamento é objetivo, não há que se falar em negociação, pois esta seria subjetiva. O legislador se defende sob o argumento de que se três propostas atingem a pontuação mínima exigida, tem-se que escolher uma delas, já que todas estão em condições de cumprir o que a Administração deseja. O certo seria chamar a empresa com o maior número de pontos, abrir o envelope de preço apenas dela, e verificar se é razoável, se está dentro do preço de mercado etc. Satisfeito isso, contratar esta empresa. Mas o que se observa com a negociação é que se abrem os envelopes de preços dos três licitantes, e, mesmo tendo pontuação técnica menor, a empresa poderá ser contratada se oferecer um preço mais barato. Ou seja, a licitação foi feita com o intuito de obter qualidade técnica, mas será contratada uma proposta que não ofereceu a melhor técnica. O dispositivo, portanto, é incoerente. A LEGISLAÇÃO, LICIT. E CONT. NO PROJ. DE OBRAS 35 Administração acaba impondo à empresa que ofereceu a melhor técnica, que a execute com o menor preço, que foi dado por outra de qualidade inferior. No caso de todos os preços estarem superfaturados, a Administração concede novo prazo de oito dias para apresentação de novas propostas (art. 48, parágrafo único). Repetindo-se o superfaturamento, a licitação pode ser cancelada, e o procedimento parte novamente do início. Ou dispensa-se a licitação e é contratada a primeira empresa que aparecer, pois há situações urgentes em que não existe tempo hábil para tanto. No tipo de licitação técnica e preço, só existem dois envelopes e, portanto, não acontece o mesmo problema do tipo melhor técnica. É feita uma média ponderada nos termos do art. 46, §2º, II, em que o preço entra como mais um fator. Vimos, então, a diferença entre critérios e fatores, que só existem nesses dois tipos de licitação, ou seja, melhor técnica e técnica e preço. É importante frisar que no julgamento não se resolve nada; chega-se apenas a uma ordem de classificação. Como diz o Professor Justen Filho, do Paraná, o julgamento coloca as propostas em ordem de "vantajosidade". Ninguém é desclassificado; apenas há uma comparação de propostas e é estabelecida uma ordem de classificação, partindo-se da melhor para a pior. Se ocorrer empate no julgamento, deve haver um sorteio. Foi a maneira mais fácil de o legislador resolver o conflito. É o que estabelece o parágrafo segundo do art. 45. Note-se, entretanto, que este dispositivo primeiro nos remete ao art. 3º, §2º, e só depois autoriza o sorteio.7 7 Obs.: Nesta altura, é importante ressaltar que a Emenda Constitucional nº 6 revogou o art. 171 da CF/88, e com isso foi eliminado o inciso I deste parágrafo segundo do art. 3º da Lei 8.666/93. Estão em vigor ainda os incisos II e III. LEGISLAÇÃO, LICIT. E CONT. NO PROJ. DE OBRAS 36 Analisando-se estes dois incisos restantes, muitas vezes não se chegava a uma solução, por isso adotou-se a medida do sorteio. Ao sortear, é estabelecida uma ordemde "vantajosidade". Não se trata apenas de sortear uma empresa dentre, por exemplo, três empatadas. Sorteia-se uma, depois outra, e assim por diante, até que se obtenha uma ordenação integral. Esta ordem é importante porque se a primeira colocada se recusar a assinar o contrato, será chamada a que estiver em segundo lugar, e assim sucessivamente. O julgamento é o último ato da comissão de licitação e se encerra da mesma forma que a habilitação: decorrido o prazo sem que haja recurso, passado o termo da renúncia e todos assinando, ou, havendo recurso, com a decisão sobre ele. Após esses três momentos, a comissão envia o processo licitatório à autoridade superior para que seja homologado e adjudicado. Encerra-se, assim, o trabalho da comissão de licitação. HOMOLOGAÇÃO E ADJUDICAÇÃO Esta sequência de atos do procedimento licitatório é proposta com base no inciso VI do art. 43 da Lei 8.666/93. Na antiga legislação, a adjudicação vinha antes da homologação, e a comissão realizava a habilitação, o julgamento e também a adjudicação. Há controvérsia na doutrina sobre esta inversão de atos, já que a nova lei nos dá uma determinada ordem neste artigo, e outra no art. 38, VII. Muitos autores não admitem esta alteração, como os professores Gasparini e Carlos Ari Sundfeld (SP). Mas a posição dominante da doutrina é a de que a inversão realmente ocorreu, ou seja, a de que a adjudicação é realmente o último ato da licitação e que não é mais da competência da comissão. É, em verdade, mais lógico, pois, sendo o ato final que vincula o órgão público ao vencedor, só pode ser feito pela autoridade hierárquica LEGISLAÇÃO, LICIT. E CONT. NO PROJ. DE OBRAS 37 máxima. A adjudicação é o ato mais importante, já que compromete este órgão público. Outro argumento que justifica o fato de a adjudicação não ser mais da competência da comissão é o caput do art. 51. Nele está dito o que faz a comissão, e a adjudicação não está incluída. TÉRMINO DO PROCEDIMENTO (Art. 43, VI e 49) DEVOLVER A COMISSÃO PARA CUMPRIR DILIGÊNCIAS REVOGAÇÃO ANULAÇÃO HOMOLOGAÇÃO E ADJUDICAÇÃO MOTIVAÇÃO OBRIGATÓRIA ILEGALIDADE HOMOLOGAÇÃO ADJUDICAÇÃO FATO SUPERVENIENTE ANÁLISE DE TODAS AS PROPOSTAS CLASSIFICADAS ANÁLISE APENAS DA MELHOR PROPOSTA AMPLA DEFESA E CONTRADITÓRIO DEVERA SER : MELHOR PROPOSTA E PROPOSTA MAIS CONVENIENTE Tabela 4. Segundo o Professor Jessé Torres, existem quatro atos que a autoridade superior poderá realizar ao receber os autos do processo para julgamento: LEGISLAÇÃO, LICIT. E CONT. NO PROJ. DE OBRAS 38 1) Devolver à comissão pedindo diligências; 2) Revogar a licitação; 3) Anular a licitação; 4) Homologar e adjudicar. A homologação se assemelha muito ao despacho saneador em um processo. A autoridade superior analisa todas as propostas, vê tudo o que foi feito para trás, a fim de verificar se houve algum problema, alguma irregularidade, algum ilícito. Caso encontre um ilícito, anula. Se tiver havido problema, devolve à comissão solicitando o cumprimento de diligências. Todas as propostas são analisadas, porque a autoridade competente deve verificar se a vencedora foi realmente a melhor. Então este estudo, na realidade, vem desde o edital e a habilitação. Ficando satisfeito com tudo o que foi feito, ocorre a homologação. Então parte-se para a adjudicação, que nada mais é do que a análise para verificar se aquela proposta vencedora realmente é conveniente e adequada para a Administração. O fato de ser a melhor proposta não significa, necessariamente, que ela é boa para a Administração. Por isso, diz-se que no julgamento não se resolve nada. É na adjudicação que isto vai ocorrer. Na adjudicação, olha-se para a frente. Exemplo: A Administração deseja comprar um imóvel para nele instalar uma repartição. Há a habilitação, o julgamento, não há superfaturamento e chega-se à melhor proposta. A autoridade superior recebe a ordem de classificação e faz a homologação. Tudo está correto e pronto para a adjudicação. Na hora de assiná-la, chega uma carta informando que a Administração ganhou, através de herança jacente, um imóvel que é adequado para a instalação da repartição. A licitação, então, será revogada, pois LEGISLAÇÃO, LICIT. E CONT. NO PROJ. DE OBRAS 39 não se justifica mais. Não é questão de legalidade, mas sim de conveniência. Não se anula; revoga-se. Repetindo mais uma vez, o que decide realmente uma licitação é a adjudicação, e não o julgamento. Em função disso, o Professor Hely Lopes Meireles não foi feliz ao defender o princípio da adjudicação compulsória, entendendo que o primeiro classificado teria direito à adjudicação. Conforme o exemplo acima, não havendo mais conveniência, por que adjudicar? Como fica a discricionariedade administrativa? Para Dalmo de Abreu Dallari, a adjudicação tem dois momentos: um discricionário e outro vinculado. O momento discricionário seria quanto à feitura, porque se pode adjudicar ou não, dependendo da conveniência. É permitido haver um juízo de valor para decidir se vale a pena ou não. O momento vinculado seria quanto ao conteúdo, ou seja, decidindo-se pela adjudicação, esta terá que ocorrer em relação ao primeiro classificado, não existe mais o poder de escolha. Tem-se que respeitar a ordem estabelecida na classificação. No concurso público, por exemplo, após a habilitação e aprovação dos candidatos, a Administração não é obrigada a nomear ninguém. É ato discricionário, e só se fará se for conveniente. Mas se for conveniente, a ordem de classificação terá que ser respeitada pelo poder público, pois é ato vinculado. Diante disto, observa-se que o princípio da adjudicação compulsória cai por terra. Haverá vinculação quanto ao conteúdo, apenas, e isto pode ser deduzido pela leitura do art. 50. Mesmo havendo a adjudicação, não há obrigatoriedade de contratar. É o caso do exemplo da herança jacente. A adjudicação foi assinada, marca-se a data para assinar o contrato. Antes disto vem a notícia da herança jacente. Não haverá mais necessidade de contratar. O ato de adjudicar não obriga a contratar. O art. 50 permite, LEGISLAÇÃO, LICIT. E CONT. NO PROJ. DE OBRAS 40 pois diz apenas que a ordem de classificação deve ser respeitada. Realizar o contrato é também ato discricionário da Administração. Só o fará se for conveniente. A partir do momento em que é feita a adjudicação, as demais empresas estão liberadas, não serão mais obrigadas a contratar com a Administração. Se a primeira colocada desistir, o órgão público pode chamar a que ficou em segundo lugar. Esta poderá aceitar, ou não, mas se o fizer terá que ser com base na proposta da primeira. Se nenhuma das posteriores quiser estas condições da vencedora, terá que ser feita uma nova licitação. O art. 64, §2° diz que "é facultado...", logo, trata-se de ato discricionário. A proposta vencedora não muda; só pode mudar a empresa que vai executá-la. A parte final deste parágrafo tem péssima redação quando fala "ou revogar a licitação [...]". Não se pode revogar o que já acabou. É uma falha técnica grosseira, pois se houve adjudicação, a licitação já se encerrou, a próxima etapa é o contrato. Então seria mais acertado dizer-se "ou desistir do contrato [...]". Pode o segundo colocado exigir ser chamado pela Administração, se o primeiro desistir? Não, porque se trata de ato discricionário; é uma faculdade. Poderá chamá- lo ou realizar outra licitação. A empresa que ficou em segundo lugar não tem direito nenhum de exigir esse chamamento. Para Toshio Mukai, a partir da Lei 8.666/93, a revogação tornou-se um ato vinculado, provavelmente porque o art. 49 menciona o termo "somente...". Mas nenhum dosrequisitos elencados para revogação retira dela a discricionariedade. Ora, qualquer ato administrativo tem por finalidade atender ao interesse público, quer seja ato ou bens constitutivos, que é o caso da revogação. Revogação é ato superveniente, é uma situação nova que aparece depois da feitura do ato, senão a licitação nem teria sido feita. Na época do ato, ele era conveniente, como era conveniente abrir licitação para LEGISLAÇÃO, LICIT. E CONT. NO PROJ. DE OBRAS 41 a compra do imóvel. A herança jacente foi um fato superveniente, e com ele a compra deixou de ser conveniente. Então, revoga-se. É evidente que este fato superveniente deverá ser "devidamente comprovado, pertinente e suficiente para justificar sua conduta...". Revogação é ato discricionário, de decisão, e, depois da CF/88, qualquer ato de decisão tem motivação obrigatória, com direito a ampla defesa e contraditório. Significa que nenhum desses três requisitos — por razão de interesse público, por fato superveniente e por motivação obrigatória — retira a característica da discricionariedade da revogação. Para finalizar a licitação, deve-se ressaltar que, feita a adjudicação, os demais estão liberados, apenas o primeiro colocado fica compromissado até a data da entrega da proposta em até 60 dias (64, §3º). O início do prazo não é contado da data do término da habilitação, mas sim da entrega da proposta. A promessa do contrato é que tem início com o final da habilitação. Então dentro deste prazo — que os editais costumam reduzir para 30 dias — o adjudicado (ou adjudicário) está obrigado a contratar, senão será punido com base no art. 81. As penalidades estão no art. 87. Extrapolado este prazo, ele estará liberado. Ao ser chamado, poderá aceitar ou não. PREGÃO O Diário Oficial da União, na mesma data em que publicou a Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar n.- 101, de 4 de maio de 2000) noticiou também, em simultaneidade, a alteração da Lei nº 8.666/93, pela Medida Provisória nº 2.026 de 4/5/00, que "institui, no âmbito da União, nos termos do art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, modalidade de licitação denominada pregão, para aquisição de bens e serviços comuns". LEGISLAÇÃO, LICIT. E CONT. NO PROJ. DE OBRAS 42 A MP tem sido sucessivamente reeditada, com algumas modificações, até a presente data. Ainda em forma de MP, a nova norma teve seu Regulamento aprovado pelo Decreto n° 3.555, de 8/8/00. A palavra pregão pode ser entendida como a definem Plácido e Silva: "Do latim praeconium, de praeconare (apregoar, proclamar) entende-se a notícia ou a proclamação feita publicamente por oficial de justiça ou pelo porteiro dos auditórios forenses. Propriamente, designa as palavras ditas em alta voz, para que se anuncie ou se proclame alguma notícia ou se faça algum aviso". Assim, na linguagem forense, diz-se pregão: a) O aviso dado pelo oficial de justiça, às partes, por ordem do juiz no início ou no correr das audiências públicas, em virtude do que se anuncia o começo da mesma audiência ou qualquer deliberação tomada pelo juiz para conhecimento dos interessados; b) A proclamação, nas hastas públicas, em altas vozes, dos lanços oferecidos para aquisição ou para arrematação das coisas postas em licitação, ou venda por almoeda, isto é, a quem mais der. Atendendo reivindicações reiteradas, o Governo Federal instituiu nova modalidade de licitação, através da MP 2.026. A reforma à Lei nº 8.666 não representa, em si mesma, alguma inovação reprovável. Mas a insistência em valer-se do instrumento da Medida Provisória é conduta altamente criticável. A Lei nº 8.666 não foi revogada pela edição da Medida Provisória. Verificou-se, tão LEGISLAÇÃO, LICIT. E CONT. NO PROJ. DE OBRAS 43 somente, a redução do âmbito de vigência da Lei n.5 8.666, na medida em que inúmeros supostos de fato foram subordinados à disciplina da nova Medida. Ainda em forma de MP, a nova norma teve seu Regulamento aprovado pelo Decreto n° 3.555, de 8/8/00. A opção de circunscrever a aplicação do pregão a contratações promovidas no âmbito federal é extremamente questionável. Ë inviável a União valer-se da competência privativa para editar normas gerais acerca de licitação cuja aplicação seja restrita à própria órbita federal. Isso importa uma espécie de discriminação entre os diversos entes federais. Essa alternativa é incompatível com o princípio da Federação, do qual deriva o postulado do tratamento uniforme interfederativo. Essa determinação consta do art. 19, inc. III, da CF/88. Por isso, deve reputar-se inconstitucional a ressalva contida no art. lº, admitindo-se a adoção da sistemática do pregão também por outros entes federativos. Continuam a existir as modalidades licitatórias previstas na Lei nº 8.666. Não foram suprimidas nem elas nem seus pressupostos de sua aplicação. Quando muito, poderá reconhecer-se uma faculdade de utilização da nova modalidade para hipóteses que, no sistema anterior, seriam objeto de licitação na modalidade de convite, tomada de preços ou concorrência. Configurar o pregão como uma modalidade licitatória significa adotar um novo procedimento para seleção da proposta mais vantajosa, com observância do princípio da isonomia. Uma modalidade de licitação consiste em um procedimento ordenado segundo certos princípios e finalidades. O que diferencia uma modalidade de outra é a estruturação procedimental, a forma de elaboração de propostas e o universo de possíveis participantes. LEGISLAÇÃO, LICIT. E CONT. NO PROJ. DE OBRAS 44 O art. 2º da MP 2.026 identifica o pregão através de uma dentre suas muitas peculiaridades. Ali se refere que a característica do leilão é fazer-se a seleção do vencedor através de "propostas e lances em sessão pública". Sobre o tema, voltar-se- á adiante, mas é relevante destacar que este é um dos pontos peculiares do pregão, mas não é o único. Além da conjugação de propostas e lances em sessão pública, outros ângulos merecem destaque. Em primeiro lugar, a estrutura procedimental do pregão é absolutamente peculiar, com duas características fundamentais. Uma consiste na inversão das fases de habilitação e julgamento. Outra é a possibilidade de renovação de lances por todos ou alguns dos licitantes, até chegar-se à proposta mais vantajosa. Em segundo lugar, o pregão comporta propostas por escrito, mas o desenvolvimento do certame envolve a formulação de novas proposições ("lances"), sob forma verbal (ou, mesmo, por via eletrônica). Em terceiro lugar, podem participar quaisquer pessoas, inclusive aqueles não inscritos em cadastro. Sob certo ângulo, o pregão é uma modalidade muito similar ao leilão, apenas que não se destina à alienação de bens públicos e à obtenção da maior oferta possível. O pregão visa à aquisição de bens ou contratação de serviços, pelo menor preço. O pregão poderá ser utilizado nas hipóteses em que seria cabível concorrência, tomada de preços ou convite. A opção pelo pregão é facultativa, o que evidencia que não há um campo específico, próprio e inconfundível para ele. Não se trata de uma modalidade cuja existência se exclua a possibilidade de adotar-se convite, tomada ou concorrência, mas se destina a substituir a escolha de tais modalidades, nos casos em que assim seja reputado adequado e conveniente pela Administração. O cabimento do pregão não se relaciona com o valor da contratação, porque se configura outro modelo. Cabe o pregão para contratações que versam sobre objetos destituídos de maior complexidade. Ou seja, o critério de cabimento do pregão é qualitativo, e não quantitativo. Admite-se que podem existir objetos complexos de LEGISLAÇÃO, LICIT. E CONT. NO PROJ. DE OBRAS 45 pequeno valor e contratos de grande valor que envolvam objetos comuns. O pregão é adequado
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