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Filipe Libano – Universidade Nove de Julho 1 Pâncreas: é uma glândula acessória do sistema digestório e seus produtos produzidos pela porção exócrina são importante na digestão. É um órgão alongado (20cm), lobulado e retroperitoneal. • Constituído pela cabeça (processo ucinado), colo, corpo e causa. Ducto pancreático principal: é a porção condutora do suco pancreático. Funções: tem duas porções, e cada porção tem uma função. I. PORÇÃO EXÓCRINA (90-95%): é importante para produção do suco pancreático, que é constituído por proenzimas (zimogênios), bicarbonato (regula acidez), sódio, água e muco (nas vias de condução). II. PORÇÃO ENDÓCRINA (5-10%): essa porção está envolvida com a produção de alguns hormônios, como a insulina, glucagon, somatostatina, grelina e peptídeo pancreático. • As células produtoras desses hormônios estão localizadas nas ilhotas de Langerhans (ilhotas pancreáticas). Suco pancreático: é liberado na porção descendente do duodeno e ao entrar em contato com a mucosa, ativa as enzimas para digestão intraluminal (eteropeptidases que ativam – presentes na célula em escova do duodeno). • Quando o quimo chega no duodeno, alguns hormônios são produzidos com a presença dele (SECRETINA e CCK – regulam a produção e liberação do suco pancreático). CCK: induz a secreção de proenzimas pancreáticas, ou seja, estimula as células acinares a produzirem. SECRETINA: induz as células centroacinares a produzirem bicarbonato principalmente. Tripsinogênio: inativa quando entra em contato com a enteropeptidase e se torna tripsina ativa, a qual ativam proenzimas. • Outras proenzimas ativadas é a quimiotripsinogênio, proelastase, profosfolipase, procolipase e procarboxipeptidase. • Oque leva a pancreatite é essas proenzimas ativas no pâncreas. PANCREATITES É caracterizada pela inflamação do parênquima pancreático. • Acomete 1,5% da população geral e 80% dos casos estão associados ao etilismo e a colelitíase (causa mais comum no Brasil). • Maior incidência em mulheres (colelitíase) e etilismo (homens) na faixa dos 30-50 anos. • Pode ser aguda (95% dos casos) ou crônica (5% dos casos). Ambas as formas são iniciadas por lesões que levam a digestão do parênquima pelas suas próprias enzimas. • Dependendo da intensidade, a inflamação pode evoluir como um evento leve e autolimitado (que em 1-2 semanas já é resolvido) ou pode ser fatal. Quadro fatal: ocorre uma inflamação tão intensa que leva a uma necrose e hemorragia do pâncreas. Etiopatogênese: apresenta 5 principais fatores da etiologia da doença. I. FATORES METABÓLICOS: etilismo, hipercalcemia (principal motivo é que ele aumenta o cálcio intracelular e cria um ambiente propicio a ativação das enzimas), hiperpolipoproteína (associado ao comprometimento de vesículas intracelulares – grânulos de zimogênio) e fármacos (metabolização no pâncreas – estatinas, furosemida, asatioprina e semaglutida). II. FATORES GENÉTICOS: gene PRSS1 (gene do tripsinogênio, quando mutado ocorre uma ganho de função e o tripsinogênio fica mais resistente a autoinibiçao – ativado mais fácil – aumenta 40% a chance câncer pancreático), SPINK 1 (codifica o inibidor de tripsina e gera perda de função) e CFTR (canal regulador de transmembrana da fibrose cística – canal importante na liberação de bicarbonato e cloreto para o lúmen (-) obrigando a entrada de sódio e agua no lúmen, a redução no bicarbonato, sódio e agua no lúmen deixa a secreção pancreática mais espessa e ao longo dos anos isso causa um obstrução), CASR (regula o metabolismo de cálcio intracelular, essa mutação leva ao aumento IL de cálcio, como se houvesse perda de sensibilidade, ou seja, aumenta o nível de cálcio da célula e isso ativa as enzimas). Pâncreas - Pancreatites Filipe Libano – Universidade Nove de Julho 2 III. FATORES MECÂNICOS: principal fator mecânico é o cálculo biliar (provoca obstrução da ampola hepatopancreatica e obstrução ductal), trauma abdominal, lesões cirúrgicas e CPRE (usado para avaliar as vias biliares – Colangiopancreatográfia retrógrada endoscópica, algumas vezes a sonda do exame pode lesionar o ducto pancreático e isso levar a uma pancreatite). IV. FATORES VASCULARES: choque hemodinâmico (hiperperfusão gera isquemia, levando necrose de células acinares – Essas células extravasam enzimas pancreáticas), ateroembolia (placa de ateroma que sofre lesão aguda e forma o trombo quando um fragmento desse trombo é liberado é chamado de ateroembolia) e vasculites. V. FATORES DE INFECÇÕES: os principais vírus que causam a pancreatite é o vírus da caxumba, coxsackie, HBV e os parasitas Ascaris lumbricoides, C. sinensis. • Os vírus causam lesões diretas de células acinares e os parasitas levam a uma obstrução dos ductos. Patogênese: a pancreatite é caracteriza por uma liberação inadequada de enzimas pancreáticas, oque causa uma digestão do parênquima pancreático e isso causa uma reação inflamatória. • Existem três eventos que desencadeiam esse processo -> Obstrução do ducto pancreático, lesão direta as células acinares e transporte defeituoso de proenzimas por dentro das células acinares. OBSTRUÇÃO DO DUCTO: as principais causas são cálculos biliares, etilismo crônico, infecção por parasitas e câncer pancreático (cabeça). • Causa uma obstrução intestinal e aumento pressão intraductal e edema intersticial, ou seja, esse processo comprime os vasos e reduz o fluxo sanguíneo, gerando isquemia local que resulta em lesão de células acinares e ativação das enzimas (tripsina principalmente). LESÃO DIRETA AS CÉLULAS ACINARES: as principais causas são o etilismo (mais comum), hipercalcemia, infecção viral e trauma. • Causa lesão as células acinares e isso leva ao extravasamento de enzimas pancreáticas e hidrolases lisossômicas. • A ruptura da célula acinar libera enzimas pancreáticas e lisossômicas e elas ativam as enzimas pancreáticas intra e extracelular, ou seja, a lesão nessa células leva uma inflamação, ativação das enzimas e destruição do parênquima. TRANSPORTE INTRACELULAR DEFEITUOSO: causa pelo etilismo, obstrução ductal e lesão metabólica. • Os grânulos de zimogênio presente na célula acinar possui proenzimas e lisossomos. Esses grânulos são exocitados para o lúmen e formam a secreção pancreática. • Em alguns casos os grânulos de zimogênio e o lisossomo ocupa o mesmo lugar e o granulo não consegue sair da célula e então começa a ter fusão desses grânulos com o lisossomo e as enzimas lisossômicas ativam as enzimas pancreáticas (intracelulares). Catepsina B (hidrolase) ativa o tripsinogênio, que ativa o resto. Resumo: os 3 eventos causas uma ativação enzimática que gera inflamação e edema intersticial, proteólise, destruição dos vasos, hemorragia e estetonecrose. • A combinação dos 3 fatores levam a uma autodigestão. Tripsinogênio -> Tripsina (principal enzima envolvida na pancreatite) realiza proteólise (quebra estruturas proteicas do pâncreas e gera dando no parênquima. Ela ativa outras pró- enzimas, como a pró-elastase que destrói a parede do vaso sanguíneo, causando hemorragia, pró- fosfolipase é ativada pela tripsina e degrada a membrana celular e em associação com outras enzimas causa estetonecrose). • Tripsina também faz a conversão de pré- calicreina em calicreina (produzida pelo fígado e pâncreas), essa enzima promove a produção de bradicinina, que causa vasodilatação, aumento da permeabilidade, edema e dor. • Bradicinina induz a inflamação - Calicreina ativa a cascata de coagulação (via intrínseca), causando a formação de trombose, ativação do Filipe Libano – Universidade Nove de Julho 3 sistema complemento é feito pela calicreina contribuindo para inflamação. Etilismo: relacionado com os 3 eventos pois uma parte do álcool é metabolizada no pâncreas e leva a 3 eventos. I. AUMENTO DE EROS: leva a uma oxidação lipídica de membrana,ativa os fatores de transcrição (HP- 1 e NF-KB) que liberam citocina pró-inflamatórias que levam a fusão dos grânulos com o lisossomo devido a peroxidação das proteínas de microfilamento, causando uma disfunção no transporte de grânulos de zimogênio e aumento intracelular de cálcio. II. ÁLCOOL AUMENTA SECREÇÃO DE PROTEÍNAS: ele aumenta a secreção de proteínas e diminui a secreção de bicarbonato, água e sódio, deixando o suco mais espesso. III. AUMENTA CONTRAÇÃO: o álcool aumenta transitoriamente a contração do esfíncter de Oddi, que causa uma obstrução ductal transitória. PANCREATITE AGUDA Morfologia macroscópica: é variável pois depende da intensidade da inflamação. • Inflamação e edemas limitados (mais leve) – Pancreatite intersticial aguda. • Necrose extensa e hemorragia – Pode ter duas lesões – Pancreatite necro-hemorrágica (mais grave) – Pancreatite necrosante (não tem hemorragia). Pancreatite intersticial aguda: é a apresentação mais leve. • Infiltrado neutrofilico leve, edema intersticial, estetonecrose focal e esteatonecrose da gordura peripancreática. • Calcificação distrófica – Sempre que tem esteatonecrose tem deposição de calcificação distrófica associada. • Perda de células acinares. Pancreatite necro-hemorrágica: possui hemorragia e é a condição mais fatal. • Necrose extensa e hemorragia intraparaquimentosa. O problema desse processo é que as enzimas ativadas contidas no pâncreas começam a cair na cavidade abdominal e associado a isso pode ter esteatonecrose de omento maior e mesentério (aspecto pingo de vela) Morfologia macroscópica: áreas preto- avermelhada circundadas por áreas calcarias branco-amareladas. • Começa a ver a glândula aumentada e focos esbranquiçados devido a calcificação, ou seja, são locais que teve esteatonecrose. Morfologia microscópica: leucocitose, coagulação intravascular disseminada, edema e necrose gordurosa difusa. Achados laboratoriais: aumento do nível sérico de amilase e lipase (3-4x maior) – LIPASE é mais específica. Casos graves: associação com hemorragia, paciente com abdômen agudo e achados sistêmicos (complicações generalizadas – leucocitose, febre alta, CID e síndrome da angústia respiratória), choque séptico, IRA, 10% dos pacientes com glicosuria (devido comprometimento das ilhotas pancreáticas) e hipocalcemia (pouco cálcio pois está saindo da circulação para formar as calcificações). Principais sequelas: abcesso pancreático (parênquima destruído e colonizado por bactérias piogênicas) e pseudocisto pancreático (tecido auto digerido + suco pancreático circundado pelo tecido de granulação). Filipe Libano – Universidade Nove de Julho 4 Sinais clínicos: existem dois mais importantes e com alta relevância. SINAL DE CULLEN (esquimose periumbilical – Pancreatite com hemorragia): o sangue chega no umbigo do paciente pelo ligamento falciforme e ligamento hepatogástrico. SINAL DE GRAY TURNER (equimose nos flancos): o sangue chega nos flancos pelo pâncreas, devido ele ser um órgãos retroperitoneal.
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