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1 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita 000 2 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita Sumário AQUISIÇÃO DA LEITURA E ESCRITA ................................................................. 4 OS ALUNOS COM ESCRITA ALFABETICA ....................................................... 40 SEMÂNTICA GERAL E SINTAXE DISCURSIVA ................................................ 50 Predicado verbal................................................................................................. 52 Predicado nominal ............................................................................................. 53 Predicado verbo-nominal ................................................................................... 53 Adjunto adnominal ............................................................................................. 53 Predicativo .......................................................................................................... 53 Aposto ................................................................................................................. 53 Vocativo .............................................................................................................. 54 Adjunto adverbial ............................................................................................... 54 Agente da passiva 61 ....................................................................................... 54 Período composto por coordenação ................................................................ 54 Período composto subordinado ........................................................................ 55 CONCORDÂNCIA ................................................................................................ 56 TÉCNICA DE COMUNICAÇÃO E REDAÇÃO ..................................................... 60 Características do Texto Dissertativo ............................................................... 66 Estrutura do texto Dissertativo ......................................................................... 66 Recursos de Argumentação .............................................................................. 67 TÉCNICA DE ELABORAÇÃO DE TEXTOS TÉCNICOS ..................................... 68 Revisão e Edição ................................................................................................ 72 Tradução ............................................................................................................. 73 ESTUDOS LITERÁRIOS ...................................................................................... 80 ESTUDO DA COMUNICAÇÃO E MÍDIA .............................................................. 86 3 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita O PAPEL EDUCATIVO NA RECEPÇÃO ............................................................. 88 PROGRAMAÇÃO EDUCATIVA NA TV? ............................................................. 89 AMPLIAÇÃO DA CONCEPÇÃO DE EDUCATIVO E MEDIAÇÕES PEDAGÓGICAS .......................................................................................... 91 ATIVIDADE COMPLEMENTAR “DISCIPLINA E INDISCIPLINA EM SALA DE AULA ........................................................................................................... 94 DISCIPLINA NA ESCOLA – RELACIONAMENTO – ESCOLA X COMUNIDADE ..................................................................................................................... 97 A PRIMEIRA HIPÓTESE EXPLICATIVA: O ALUNO “DESRESPEITADOR” ..... 99 O ALUNO “SEM LIMITES” ................................................................................ 103 O ALUNO “DESINTERESSADO” ..................................................................... 107 UMA LEITURA DA INDISCIPLINA ESCOLAR .................................................. 111 REFERÊNCIAS .................................................................................................. 116 4 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita AQUISIÇÃO DA LEITURA E ESCRITA Para levar ao homem o fenômeno da Aquisição da Escrita e Leitura é preciso que se investigue o trabalho. Quando observamos o ponto de vista das relações/valores não mudamos nada no fenômeno, apenas procuramos ajustar a lente no foco para obter uma compreensão adequada, por isso mais vigorosa e ampla. As ações e reflexões que tem desenvolvido são experiências sucedidas das lições retiradas em situações e orientações apresentadas. Mostrando que as habilidades desenvolvidas dependem dos métodos utilizados em relação à 5criança desde pequena com a cultura escrita. A prática social individualista não ajuda na formação de um desenvolvimento satisfatório. A responsabilidade é de todo sistema. A escola acredita nas etapas dos processos que favorecem condições sobre o ensino da escrita. As metodologias vêm mudando a atuação e ao ver o que escreve no quadro negro diferencia da linguagem falada, selecionando as melhores palavras e expressões na organização da escrita em linhas, a separação dos vocábulos, uso de símbolos, e a criança vai vendo sua escrita se concretizando. Certamente, além dessas diferenças e semelhanças parecerem ter a ver com a distinção de como a linguagem é produzida e recebida, há muitas outras que se poderiam observar: o contexto de uso da linguagem, o sentido do que se diz ou se escreve, do objetivo do falante ou do escritor ao produzir seu texto e de outros fatores, a participação e acompanhamento da família ou responsável, que faz muita diferença, seja ela direta ou indireta, vem formar a produção da linguagem. Considerando tais fatores de produção de cada uma das modalidades da língua, podemos avaliar a influência de uma sobre a outra e constatar que inicialmente é a oralidade que inicia o ciclo de influências mútuas. O objetivo do presente trabalho é tentar mostrar a influência que a oralidade exerce sobre a escrita, o que faz com que os produtos orais e escritos sejam muito semelhantes, principalmente nesse primeiro momento. As transformações vêm avançando muito o objetivo da escola em responder às exigências da sociedade e, em segundo lugar, a transformar do perfil social e cultural do educando. A significativa ampliação da presença na escola vem superando o analfabetismo com novas tecnologias. 5 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita 6 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita Atualmente a educação alcançou um novo patamar em termos de pesquisa. Sabemos que o desenvolvimento humano não é apenas natural, mas histórico-social, e que algumas aprendizagens, principalmente 6as mais complexas, precisam de uma estrutura organizada. Especificamente em relação às linguagens escritas podemos pensar, portanto, que a criança – mesmo antes de ler e escrever as primeiras letras – já participa ativamente dos processos que analisa e formula uma escrita simbólica. Desse modo a escrita, que no sistema egípcio caracterizava totalmente a língua falada e refletia realidades abstratas e concretas, era formada por dois tipos de signos: pictograma (desenho/coisas) e fonograma (desenho/sons), explicando a disposição intuitiva do ser humano.Isso corresponde aos movimentos informativos que introduzem um aprendizado através dos símbolos, que aos poucos vem adquirindo conhecimento representativo. Quando se fala em ensinar e escrever nas perspectivas de gêneros surgem perguntas que levam à reflexão: se o que vai ser trabalhado pode ser desenvolvido por eles dentro de sua cultura social, como ensiná-los na escola de modo que eles não fujam de suas origens? Ou seja, como não escolarizar os gêneros que pertencem a outros domínios discursivos que não o da escola? Seria, então, até inadequado imaginar que uma criança não tenha competência e condições de aprender as diversas características da comunicação gráfica. A língua materna usa variedade de sons que aos poucos vai formando uma estrutura materna adquirida. Segundo Contine (1988), uma criança exposta a um ambiente propício, ou seja, material escrito e pessoas que manuseiam, incluindo ela própria, já estaria aprendendo seus usos e funções como forma de comunicação. O problema é que essas variedades são trabalhadas muitas vezes, são lidas e não são exploradas as escritas. Bem pequena a criança acredita que os desenhos representam as palavras. Assim, ela associa o objeto ao nome embora o mesmo não corresponda ao que é visto. Analise este fato, ocorrido em sala de aula, em que o professor levou um carrinho e na representação dos objetos no referido carro estava a letra G e no gato estava a letra C. A criança olhou-o e disse que a letra que correspondia à figura do carro era C – de carro. Leva a acreditar que a leitura do que se vê é tão importante quanto a prática escrita. A característica básica é compartilhada com a coletividade. Quando uma criança esta nos rabiscos ela está no nível pré-silábico e depois passa para o 7 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita silábico, quando já usa as letras empregando uma letra para cada sílaba e fundamentalmente chega ao entendimento da fala com a escrita. As etapas do conhecimento são o primeiro passo para produzir avanços na escola. 7 Para trabalhar a leitura da escrita em sua formação social, com conceitos estruturados, é essencial utilizar os sons das palavras (ler para escrever), ouvir músicas, ver TV, enfim, perceber desenhos, formular a palavra. Acredita-se efetivamente no que é decifrado e escrito. O significado real desse método ajuda o aprendiz a entender para que serve aquilo que está aprendendo. A fala constrói conhecimentos no processo da escrita, trabalhando a prática em função social. As histórias infantis são utilizadas geralmente pelos adultos interlocutores (sejam professores ou terapeutas) como forma de entretenimento ou distração, já que, pelo senso comum, frequentemente a criança sempre demonstra um interesse especial por elas, seja qual for a classe a que pertença. Quanto mais o aluno observa os desenhos narrados nas estórias lidas mais ele aprende a usar a escrita e alcançar a eficácia na atuação social e o alargamento da integração social na praxe social. Imbuída nessa ideia é mister refletir-mos – como educadores que somos – que a forma da linguagem escrita lança tentativas que descrevem as etapas do processo evolutivo gradativamente, sobre um processo de ensino-aprendizagem da escrita, na perspectiva de formar escritores no sistema educacional segmentando palavras alinhadas e escritas corretas, contribuindo no sistema cognitivo na estruturação do conceito de que a escrita é uma representação de fala. Na pré-história o homem passou a se comunicar através de desenhos feitos nas paredes das cavernas. Através deste tipo de representação (pintura rupestre) trocavam mensagens, passavam ideias e transmitiam desejos e necessidades. Porém, ainda não era um tipo de escrita, pois não havia organização nem mesmo padronização das representações gráficas. Foi somente na antiga Mesopotâmia que a escrita foi elaborada e criada. Por volta de 4.000 a.C., os Sumérios desenvolveram a escrita cuneiforme. Usavam placas de barro, onde cunhavam esta escrita. A maior parte dos documentos registrados encontrados na Mesopotâmia refere-se a registros contábeis: números de cabeça de gado, sacas de grãos, livros de registros receitas e despesas. Criaram-se, também, cartas de crédito, por meio das quais se tornou possível expandir o comércio 8 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita entre as diversas cidades. A escrita era fundamental, ainda, para registrar as terras, dificultando a acesso por parte daqueles que não as possuíam. Também os documentos de Estado eram armazenados por meio da escrita, a qual se tornou um instrumento importante na transmissão de mensagens oficiais de caráter local e mesmo internacional. No Egito Antigo, o sistema hieroglífico era uma das formas de escrita mais utilizadas. Para essa civilização, o ato de escrever tinha um sentido profundamente religioso, mágico e também artístico. 8 Escrever significava para os Egípcios fazer com que as coisas viessem para sempre, ou seja, tornavam-se eternas. Por ser um processo complexo e sofisticado, a escrita era dominada por estudiosos muito prestigiados, os escribas. Além de gravarem sua escrita em pedras e pedaços de cerâmica, os egípcios desenvolveram uma espécie de folha de papel, preparada a partir das fibras do papiro, planta típica da região. Existiam duas formas de escritas no antigo Egito: demótica (mais simplificada) e a hieroglífica (mais complexa e formada por desenhos e símbolos). As paredes internas das pirâmides eram repletas de textos que falavam sobre a vida do faraó, rezas e mensagens para espantar possíveis saqueadores. Nem todas as sociedades criaram um sistema de escrita. Exemplo disso são os incas, que viviam na América antes da chegada dos Europeus. Esse povo desenvolveu, entretanto, uma forma de registrar alguns dados por meio de nós em pequenas cordinhas – chamados quipus. Outros povos indígenas, tais como os Yanomamis, que vivem hoje no Norte do Brasil, também não têm um sistema de escrita. O mesmo ocorre em diversas civilizações africanas ou da Oceania. Nessas sociedades sem escrita a história é encontrada e os fatos são registrados de forma oral, ou seja, as ideias, as informações e os costumes são transmitidos pela fala, de geração para geração. Já na Roma Antiga, no alfabeto havia somente letras minúsculas. Contudo, na época em que estas começaram a ser escritas nos pergaminhos com auxílio de hastes de bambu ou penas de patos e outras aves ocorreu a modificação em sua forma original e, posteriormente, criou-se um novo estilo de escrita denominado inicial. O novo estilo resistiu até o século VIII e foi utilizado nas escrituras bíblicas lindamente escritas. Na Idade Média no século VIII Alcuino, um monge inglês, elaborou outro estilo 9 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita de alfabeto, atendendo ao pedido do Imperador Carlos Magno. Contudo, este novo estilo possuía letras maiúsculas e minúsculas. Com o passar do tempo, esta forma de escrita também passou por modificações, tornando-se complexa para a leitura. No século XV, alguns eruditos italianos – incomodados com este estilo complexo – criaram um novo. Em 1522, outro italiano chamado Ludovico Arrighi foi responsável pela publicação do primeiro caderno de caligrafia. Foi quem deu origem ao estilo que hoje denominamos itálico. Com o passar do tempo outros cadernos também foram impressos, tendo seu tipo gravado em chapas de cofres (calcografia). Foi deste processo que se originou a designação de escrita calcográfica. A língua portuguesa tem uma representação gráfica alfabética com memóriaetimológica. Dizem que a representação gráfica e alfabética significa dizer que as unidades gráficas (letras) representam basicamente unidades sonoras (consoantes e vogais) e não 9palavras como pode ocorrer na escrita chinesa ou sílabas (como na escrita japonesa). Além disso, a escrita alfabética tem como princípio geral a ideia de que cada unidade sonora será representada por uma determinada letra e de que cada letra representara uma unidade sonora. Dizer, por outro lado, que o sistema gráfico admite também o princípio da memória etimológica significa dizer que ele toma como critério para fixar a forma gráfica de certas palavras não apenas as unidades sonoras que a compõem mais também sua origem. Assim, escrevemos monge com G e não com J, por ser uma palavra de origem grega, e pajé com J e não com G por ser uma palavra de origem tupi. Redigimos homem com H não porque haja uma unidade sonora antes do O em português, mas porque em latim se grafava homo com H (resquício de um tempo na história do latim em que havia uma consoante antes do O). Ao operar também com a memória etimológica, o sistema gráfico relativiza o princípio geral da escrita (a relação da unidade sonora letra não será 100% regular), introduzindo para o usuário. A escrita não foi progredindo, os sinais gráficos desenhados foram aos poucos se simplificando e serviam para transcrever sílabas independentes do sentido vocabulário – os considerados grupos fônicos. A partir do século IX apareceu o alfabeto grego, com 24 letras, incluindo as vogais. Cada povo exerce sua capacidade de expressão por meio de códigos linguísticos e representativos, aos quais chamamos língua. 10 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita Quanto mais dominamos nossa própria língua e nos comunicamos corretamente maiores são as oportunidades de adquirir cultura trabalhando e interagindo no mundo em que vivemos. As atividades voltadas para a construção da escrita têm como objetivo formar escritores competentes, capazes de produzir com eficácia. Em uma cultura ágrafa essas preocupações não teriam tanto sentido, mas nossas crianças, especialmente as oriundas de classes mais baixas, estão inseridas em uma sociedade letrada que, além das desigualdades e injustiças a que são submetidas, descrimina quem não é alfabetizado, considerando-o inferior. Portanto, apropria-se da linguagem escrita, podendo oferecer futuramente a essas crianças maiores possibilidades de isenção social. Se considerarmos que os alunos não alfabetizados podem escrever de acordo com suas palavras hipóteses, isso significa que supostamente poderiam registrar qualquer tipo de texto, desde que não seja esperado que o faça convencionalmente. Tratando dessa dimensão, segundo Winnicott (apud Postic, 1993:18), todos nós necessitamos de uma área de ilusão paralela ao mundo real (ou das trocas sociais) – esse espaço interno e responsável pela transição entre o consciente e o inconsciente, movimento que garante o equilíbrio do indivíduo. Por suas atividades, a criança tem contato com o real com os outros. Ao mesmo tempo, sua imaginação se desenvolve, pois ela toma consciência de seus limites, vive conflitos, experimenta informações contraditórias e tem muitas dúvidas que não consegue esclarecer. Para tentar resolvê-las e dominar suas angústias, impulsionada por sua curiosidade, ela procura sonhar, imaginar. E se conseguir canalizar esse mundo imaginário em ações no mundo real ela desenvolve a capacidade de criação. Os desenhos, as narrativas, enfim, são maneiras de agir para dominar as emoções; as explosões de sonhos e imagens são dirigidas então para a criação. Portanto, a criança deve conseguir alimentar seu imaginário e expressá-lo. Desenvolver a função simbólica por meio de texto, imagens e sons é uma forma de sustentá-lo. De qualquer forma, não é apropriado, por exemplo, solicitar a escrita de um texto logo que ofereça grandes dificuldades, sendo que se obterá uma escrita convencional. São mais adequados trechos de histórias conhecidas, bilhetes, cartas curtas, regras de jogos, além dos demais textos; como frases, quadrinhas cantigas de roda conhecidas. 11 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita Assim, para que realmente uma história prenda a atenção da criança, deve entretê-la e despertar sua curiosidade. Mas, para enriquecer sua vida, deve estimular sua imaginação, ajudando em seu desenvolvimento intelectual, propiciando-lhe mais clareza em seu universo afetivo, auxiliando a reconhecer, mesmo de forma inconsciente, alguns de seus problemas e oferecendo-lhe perspectiva de soluções, mesmo provisórias. A prática pedagógica tem demonstrado que quando se pretende trabalhar com a diversidade textual nas classes de alfabetização, nas situações em que se ler para os alunos praticamente todo gênero é adequado, desde que o conteúdo possa interessar, o professor atua como mediador entre eles no texto. Mas se o texto se destinar a leitura pelos próprios alunos é preciso considerar suas reais possibilidades de realizar a tarefa, para que o desafio não seja muito difícil. Se a situação for produzir um texto oralmente há que se considerar que em princípio os alunos não alfabetizados podem criar quaisquer gêneros, desde que tenham bastante familiaridade com eles, seja por meio da leitura feita pelo professor ou por outros leitores. E quando se trata de produzir texto por escrito as possibilidades se restringem, pois a tarefa requer a coordenação de vários procedimentos complexos relacionados tanto com o planejamento do que se pretende expressar quanto com a própria escrita. É preciso, portanto, saber o que se pode propor aos alunos em cada caso; quando o professor lê para eles, quando eles próprios é que tem de ler, quando produzem o texto sem precisar escrever e quando precisam escrever eles próprios. As possibilidades relacionadas aos objetivos característicos das atividades indicam a metodologia aplicada, tornando útil e adequada aos alunos. Uma atividade se torna outra, feita com ajuda de rascunho, cadernos, lápis, papel especial para expor em um mural, letras móveis, cartões na lousa, no computador ou escrito a lápis. Esclarece as diferentes funções, certifica-se das atividades, garantindo a circulação de informação, promovendo a socialização de produzir e ver o texto pronto. Escrever não depende de dom, mas de empenho, dedicação, compromisso, seriedade, desejo e crença na possibilidade de ter algo a dizer que vale a pena escrever. Escrever é um procedimento e, como tal, depende de exercitação: o talento da escrita nasce da frequência com que ela é experimentada. A descoberta de que a escrita representa a fala leva a criança a formular hipóteses, ao mesmo tempo falsas e necessárias à hipótese silábica. 12 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita A hipótese silábica é um salto qualitativo, com reestruturações globais. Vejamos o caso da oralidade escrita. Os aspectos parecem relevantes em relação às manifestações da fala. Essa fala egocêntrica, tomada como objeto de lugar de investigação relacionada ao trabalho de escrever e observada na dinâmica, permite traçar diversas formas de linguagem em interação. Falar e escrever é organizar pensamentos pela fala, operar sobre a oralidade para redigir e aprender objetivos, ideias, reorganizando e transformando em um trabalho simbólico. Analisando os aspectos linguísticos podemos destacar os grafemas feitos pelas crianças, nos quais existe uma variação desordenada da representação da oralidade. A criança marca “umv” a primeira vez e “auv”; vemos que todasas palavras são marcadas no texto. Ao considerarmos o momento de produção da escrita e da fala como episódio interativo, podemos perceber indício da complexa situação que a criança experimenta ao escrever. A fala egocêntrica emerge diante de uma tarefa, de uma dificuldade de aprendizagem, da forma escrita de linguagem/produção na escola, com características particulares. As práticas pedagógicas convencionais, ao enfocarem o trabalho com a escrita, preconizam o bom desempenho em linguagem oral como um dos itens necessários para se escrever bem: habilidade fundamental para o desenvolvimento satisfatório na aprendizagem escrita. Analisando os fatos observamos que uma linguagem verbal adequada precisa de condições de comunicação e afixação de conceitos. Esses estímulos favorecem a oralidade da criança na aprendizagem da escrita. A noção de linguagem escrita é inicialmente um simbolismo de segunda ordem porque tende a representar o som da fala. Lentamente desaparece a linguagem oral e passa a ser representada a linguagem escrita como de primeira ordem. Esse método alcança na criança o processo psicológico que organiza as palavras, o raciocínio e a prática da linguagem escrita. Para Vygotsky, o desenvolvimento da linguagem escrita “é constituído tanto de involuções como evoluções” (1984, p.120). Muitas vezes observamos o desenvolvimento de uma criança que alcança novos conhecimentos e transforma as formas anteriores do processo de linguagem oral e escrita. O funcionamento da escrita pode ou não alcançar uma qualidade de experiência de uma produção de análise de textos criados pelas crianças, valorizando 13 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita sua oralidade. Esse processo requer do escritor a consideração de caráter dialógico do ato de escrever, tomando, ao mesmo tempo, o dizer do texto como objeto de atenção e o leitor como um sujeito que constrói sentidos a partir de pistas dos textos. Supomos que dentre outras condições para essa possibilidade esteja a interação com um interlocutor imediato, que aponte para o sujeito as exigências de compreensão, que conduza os escritores iniciantes a desenvolver ações reflexivas na escrita. De fato, há um movimento de diferenciação de perspectiva, mas que é derivado de uma capacidade dialógica tácita e pouco reflexiva, sendo que as perspectivas do eu (escritos) e do outro (leitor) se configuram em um processo de escritura – um processo que dependendo das condições sociais de sua realização pode trazer para a criança a demanda ou oportunidade de uma tomada do seu dizer como objeto de atenção e análise. Concluindo, quero sugerir que a direção produtiva para o estudo da constituição dos escritos está na busca de compreensão sobre os diversos planos de dialógica implicados na produção escrita, os quais abrangem a relação da criança com vários outros: para quem a criança diz seus leitores; de quem toma as palavras para dizer seus modelos; sobre quem diz suas personagens; o outro que é participante do processo de produção do texto (professores que atuam como comentadores, coautores ou correvisores, etc). A essas dialógicas articula-se a relação da criança consigo mesma, como escritora e leitora do seu texto. No âmbito da pesquisa parece que esses vários aspectos do processo de produção escrita não têm sido suficientemente tematizados, dada a tendência a se restringir a discussão à relação escrita e ao leitor. Muito se tem pesquisado e discutido em diversas áreas do conhecimento sobre o que acontece durante a aquisição e o desenvolvimento da linguagem no ser humano. Os processos envolvidos nesse percurso têm sido observados de diversos pontos de vista e as discussões a respeito. Como sabemos, as crianças constroem hipóteses sobre como se escreve e muitos professores já ouviram falar disso. No entanto, parte importante e pouco conhecida das investigações sobre a aquisição da escrita se refere ao que poderíamos chamar “hipótese de leitura”, isto é, são as ideias que as crianças constroem sobre o que está ou não grafado em um texto escrito e o que se pode ler ou não nele. 13 Vygotsky, entre outros estudiosos do assunto, buscando compreender a origem e o desenvolvimento dos processos psicológicos do indivíduo, postula um enfoque 14 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita sociointeracionista para a questão, no qual um organismo não se desenvolve plenamente sem o suporte de outros de sua espécie, o que afirma que todo conhecimento se constrói socialmente. Durante todo o percurso do desenvolvimento das funções psicológicas, culturalmente organizadas, é justamente esse aspecto cultural/social de interação com o outro que desperta processos internos desse desenvolvimento. É o contato ativo do indivíduo com o meio, intermediado sempre pelos que o cercam, que faz com que o conhecimento se construa. Especialmente em se tratando da linguagem e escrita, o indivíduo tem o papel constitutivo nesse processo (ele não é passivo: percebe, assimila, formula hipóteses, experimentado-as, e em seguida as reelabora, interagindo com o meio). O que lhe proporciona, portanto, modos de perceber e organizar o real é justamente o grupo social (a interação que ele faz com esse grupo). É este que determina um sistema simbólico-linguístico da representação real de escrita. O pensamento e a linguagem estão intimamente relacionados à medida que constrói significados que a criança vai desenvolvendo na fala socializada e na escrita praticada. As crianças, antes de aprenderem a ler e a escrever, constroem ideias e distinções que parecem estranhas aos nossos olhos alfabetizados. Em uma frase muito inicial, raramente observada em grupos, encontram-se crianças para quem as letras ainda não são objetos substitutos (isto é, objetos cuja função é representar outros objetos) Emília Ferreira comenta: “graças aos sujeitos menores podemos afirmar a realidade desse nível”. Depois que as letras se tornam objeto substituto, os alunos costumam pensar que qualquer coisa que esteja escrita perto de uma figura deve ser o nome da figura. Elas imaginam também que se em uma caixa de remédio há algo escrito, deve ser “remédio”, ou quem sabe “pílulas”. A hipótese de que o que está escrito junto de uma imagem deve ser seu nome fica evidente quando perguntamos às crianças que não sabem ler o que se vê em uma figura e elas respondem: “uma bola” (ou uma boneca...) e quando perguntamos o que está escrito junto da bola ela sabe dizer, omitindo o artigo indefinido. Essa distinção sutil e sistemática é que caracteriza o que Emília Ferreira chamou a “hipótese do nome”. Isto é, que no início as crianças pensam que o que se escrevem são apenas os nomes. Uma das primeiras ideias que os alunos elaboram em relação ao significado de uma sequência de letras é a seguinte: as letras 15 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita representam os nomes das pessoas e objetos. A criança é o elemento atuante do processo de ensino-aprendizagem, é o sujeito ativo que põe em jogo toda a sua capacidade intelectual nesse processo. A criança, quando entra para a escola, já possui conhecimentos sobre a leitura e escrita que precisam ser considerados como ponto de partida para a sistematização nos saberes embutidos no ato da leitura e escrita. A aprendizagem da língua oral e escrita se constitui em um dos principais espaços de ampliação das capacidades de se comunicar e de se expressar que a criança pode desenvolver. Esta ampliação não só está relacionada ao desenvolvimento gradativo das capacidades associadas às competências linguísticas básicas:falar, escutar, ler e escrever, mas também ao desenvolvimento de seu pensamento e de sua relação com o mundo. Segundo Lemos: “É através da linguagem enquanto ação sobre o outro (ou procedimento comunicativo) e sobre o mundo (procedimento cognitivo) que a criança constrói a linguagem enquanto objeto sobre o qual vai pode operar” (LEMOS, 1977, p. 120). Na construção da leitura e da escrita tem-se claro que a criança se alfabetiza: ninguém alfabetiza ninguém. Ela se alfabetiza quando decodifica símbolos, letras, sílabas e palavras que conhece, pois construindo significados próprios o aluno só aprende o que é significativo para ele e compreendido como capaz de satisfazer suas necessidades. A língua oral e escrita percorre por todas as situações escolares e também é a partir dela que os alunos podem ter acesso a diferentes campos de conhecimento, isso parece muito natural porque já faz parte do cotidiano escolar. Os professores devem trabalhar com vários tipos de leitura. É necessário que tenham consciência de seu caráter instrumental e que conheçam seu funcionamento. Foucambert (1994) traz uma grande contribuição para a compreensão do ensino da leitura: Na fase de aprendizado, o meio deve proporcionar à criança toda a ajuda para utilizar textos “verdadeiros” e simplificá-los para adaptá-los às possibilidades atuais do aprendiz. Não se aprende primeiro a ler palavras, depois frases, mais adiante textos e, finalmente, textos dos quais se precisa. (FOUCAMBERT, 1994, p. 12). Muitas são as possibilidades de leitura e escrita que se pode oferecer à criança, tendo como destaque a língua textual, preocupando-se com uma interação da criança com o mundo da leitura, proporcionando uma vivência muito rica, com multiplicidade 16 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita de textos a serem vivenciados: o oral, o escrito, informativos (jornais, revistas, histórias infantis, poesias, etc): Quanto mais diversificada a experiência de leitura dos alunos, quanto mais familiaridade eles tiverem com textos narrativos, expositivos, descritivos, mais conhecida será a estrutura desse texto e mais fácil a percepção das relações entre a informação veiculada no texto e a estrutura do mesmo. (KLEIMAN, 1993, p. 87). Trabalhar com jornal é muito importante, pois ele é uma espécie de janela para o mundo, integrando a sala de aula e o mundo real. O professor que compreende a utilidade desse tipo de leitura saberá encontrar formas agradáveis e produtivas de trabalhar com o texto em classe, sendo um instrumento para o desenvolvimento das habilidades de clareza e prontidão na escrita. Quanto às revistas, elas propiciam o trabalho com propagandas. Os alunos podem ler textos (escritos e visuais), perceber os mecanismos de persuasão e os recursos gráficos utilizados. Podem criar produtos e propagandas ou transformá-los nos que ele já conhecem. Criação de poesias é uma oportunidade para trabalhar com as características estruturais e temáticas desse tipo de texto. As atividades com poesias propiciam tarefa como elaborar rimas, aproximar o poema da música, observar seu ritmo e sua musicalidade, além de desenvolver o senso estético e a criatividade do aluno. O cordel também é muito importante para aprimorar a linguagem falada e rica, mas a escrita deve seguir a norma culta. Aprimorando a escrita – ao permitir reflexões sobre a diferença entre língua falada e escrita – aproxima-se os alunos da cultura popular, incentiva-se o gosto pela leitura e escrita. Os alunos vão se adaptando à leitura de cordel e, conhecendo as características do gênero, incluindo as rimas e métricas: os versos são escritos em forma de sextilha, estrofe de seis linhas, cada uma com sete sílabas poéticas, e rimas iguais nos versos pares. A criança passa então a conviver com estes tipos de correspondência entre a grafia e o som, adentrando assim no nível silábico alfabético. E começa também a experimentar um conflito, já que é capaz agora de perceber que existe uma representação gráfica correspondente a cada som (percebe a relação entre grafema e fonema). As dramatizações de textos são excelentes atividades para promover, além da leitura e produção escrita, a expressão plástica e corporal. Elas priorizam situações 17 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita que valorizam o jogo dramático, jogos que trabalham e sensibilização em encenações de pequenas peças baseadas no imaginário, no folclore e em fatos de personagem da vida real da criança. 16 As histórias infantis são essenciais no trabalho de linguagem oral, que servirá de base para que as crianças evoluam e lhes facilitará a entrada no mundo da língua escrita, já que o fato de poder antecipar o texto lhes dará mais fluência na hora de escrever. A riqueza de experiências vivenciadas pelo conhecimento do meio físico e social tem consequência prática no processo da leitura e da escrita. Caberá ao professor aproveitar a oportunidade para as crianças escreverem frases, ordenarem ideias, fazerem diálogos e criarem histórias sobre os temas que surgirem. A leitura igualmente será implementada de forma espontânea e interessante. O trabalho das professoras atinge as práticas de escrita de modo a chamar atenção dos alunos e colocá-los em constante processo de aperfeiçoamento dessa atividade que depende da criatividade e abertura de diálogo com a criança. Toma-se como base o seguinte: quais as práticas mais adotadas visando à aquisição e desenvolvimento da escrita em sua sala de aula? A execução de treinos ortográficos, produção e reescrita de pequenos textos, ditado de palavras e análise de erros. Ao citar essas práticas como as mais vivenciadas na sala, nos faz lembrar sobre a importância do próprio aluno fazer a correção de sua escrita, assimilando melhor o correto e memorizando melhor a palavra já com grafia correta. Direcionamos a mesma questão a realidades diferentes e como resultado chegou-se à seguinte conclusão: “Uma prática constante é a reescrita de estórias orais e músicas conhecidas ou até mesmo complementação de pequenos textos lacunados”. Essas práticas simples, além de dar abertura à leitura de estórias e contos da literatura infantil, servem também como incentivo à atenção dos alunos para que depois eles escrevam com coesão as partes que compõem a estória e com isso adquiram noção do que seja introdução, desenvolvimento e conclusão de um texto. As propriedades quantitativas dos alunos antes de serem capazes de ler convencionalmente podem começar a considerar também as propriedades qualitativas do texto, tanto para ajudar a antecipar o significado do que está escrito, quanto para verificar a adequação de suas antecipações. Se o professor não reconhece as hipóteses sobre o sistema de escrita não tem como interpretar. Compreender a evolução das ideias dos alunos sobre a escrita é 18 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita muito importante. São essas informações que só a investigação propícia permite ultrapassar as limitações do nosso olhar alfabetizado e considerar o ponto de vista do aluno. Uma das ideias surpreendentes construídas pelos alunos no início do seu contato com o mundo da escrita é a distinção entre “o que está sendo escrito” e o “que se pode ler”. A ideia do que se escreve e tudo o que se fala não 17é prévio à alfabetização, pelo contrário, descobrir que é necessário escrever tudo, sem omitir nada, requer bastante experiência com a língua escrita. LINGUAGEM QUE SE APRENDE Quando nos referimos à situação de aprendizagem, ao conteúdo e à linguagem que se escreve, estamos falandoem situações nos quais os alunos possam não só perceber que o texto escrito tem características particulares, que o diferenciam do texto oral, como também produzir textos usando a linguagem escrita. Mesmo os alunos que ainda não sabem ler nem escrever. Portanto, o nosso desafio é pensar em quais seriam as melhores situações para que isso ocorra, favorecer o conhecimento dentro da realidade da criança, permitindo a ela consultar, interrogar, aprimorar seus próprios conhecimentos. LEITURA, DESENVOLVIMENTO E CAPACIDADE DE PRODUZIR TEXTOS A leitura tem um papel fundamental no desenvolvimento da capacidade de produzir textos escritos, pois por meio dela os alunos entram em contato com toda a riqueza e a complexidade da linguagem escrita. É também a leitura que contribui para a visão do mundo, estimula o desejo de outras leituras, exercita a fantasia e a imaginação, compreende o funcionamento comunicativo da escrita, a relação entre a fala e a escrita, desenvolve estratégias de leitura, amplia a familiaridade com os textos, o repertório textual e de conteúdo para a produção dos próprios textos, conhece as especialidades dos diferentes tipos de textos e favorece a aprendizagem das convenções da escrita. É ouvindo contos que os alunos desde muito cedo apropriam a estrutura da narrativa, as regras que organizam esse tipo particular de discurso. E é esse conhecimento que lhes possibilita compreender outras narrativas, recontá-las e 19 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita reescrevê-las. A reescrita é uma atividade de produção textual com apoio, é a escrita de uma estória cujo enredo é conhecido e cuja referência é um texto escrito. Quando os alunos aprendem o enredo, junto vem também a forma, a linguagem que se usa para escrever diferente do que se usa para falar. A outra questão a ser tratada diz respeito à frequência das atividades. A leitura de história tem maior eficácia conforme sua recorrência em escrever. A criança nessa faixa etária costuma até mesmo solicitar a repetição, a proposta é que ela se incorpore à rotina diária da escola, o que necessariamente implica textos sempre diferentes. As crianças que executam a escrita de acordo como interpretam os contos desenvolvem naturalmente um interesse em aprender, reproduzem oralmente como se estivessem lendo. Para o desenvolvimento de atividades que propiciem à criança incentivo à escrita, um estudo sobre similares de sons, contos que estimulem a percepção e descriminação auditiva, e que no decorrer do tempo se transforme em associação com a escrita. Esse incentivo prepara a criança para um mundo de contos e recontos imaginários e reais, que criam a prática do exercício pela escrita diante do que ela está ouvindo e observando textos e gravuras associadas. As inquietações voltadas ao estudo da escrita não foram poucas e aparecem dúvidas que levam à reflexão. Se tomarmos isoladamente a grafia de cada palavra, não faz muito sentido falar em grafias fáceis ou difíceis. Podemos, nessa perspectiva, concordar e estudar o grau apesar de apresentada como língua e escrita. É necessário que se faça compreender que leitura e escrita são práticas complementares, fortemente relacionadas, que se modificam mutuamente no processo do letramento. A escrita transforma a fala e a fala influencia a escrita. São práticas que permitem ao aluno construir conhecimento de diversos gêneros e procedimentos adequados para tê-los e escrevê-los e sobre as circunstâncias de uso da escrita. A relação que se estabelece entre a leitura e a escrita, entre o papel do leitor e do escritor, no entanto, não é mecânica: alguém que lê muito não é, automaticamente, alguém que escreve bem. Nesse contexto, considerando que o ensino deve ter como meta formar leitores que sejam também capazes de produzir textos coerentes, coesos, adequados e ortograficamente escritos é que a relação entre duas atividades deve ser compreendida. Espera-se que o aluno, tanto quando produz textos quando termina sua escrita, 20 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita volte a ela procurando aprimorá-la e dar-lhe uma melhor qualidade. A expectativa é que o aluno desenvolva procedimentos que levem em conta as restrições que se colocam para os escritos pelo fato de o leitor de seu texto não estar presente fisicamente no momento de sua produção, que seja esse leitor determinado ou não. O aluno pode escrever ou aprender a escrever qualquer palavra, desde que queira fazer isto, uma vez que não faz sentido dizer que há letras mais difíceis do que outras para se aprender a escrever. Contudo, aprender a grafar palavra por palavra, embora possa ser visto como estratégia didática plausível, seria uma tarefa excessivamente onerosa, considerando que podemos simplificar o processo aproveitando as muitas regularidades do sistema gráfico em suas relações com o sistema fonológico da língua. Assim, o aluno deverá relativizar essa hipótese, percebendo aos poucos que o domínio deve ser memorizado. Em qualquer situação, o que o professor não deve esquecer é que ele é um construtor de andaimes que criam condições para que os alunos internalizem o novo saber. Entre as variáveis existentes, que garantem as condições ideais para a produção escrita, uma delas é fazer o aluno entender realmente as inúmeras possibilidades expressas no seu conhecimento. Deve-se notar: ✓ Se os alunos escrevem para leitores reais (colegas, professor ou mural da escola) e não apenas fazem atividades para obtenção de notas; ✓ Se o aluno trabalha a exploração escrita; ✓ Se esta produção apresenta aprendizagem; 21 ✓ Se o aluno projeta seu mundo imaginário; ✓ Se o aluno escreve não corretamente, mas expressivamente; ✓ Se a formação das palavras são coerentes para a formação do texto coeso; ✓ Se as ideias são agradáveis ao leitor; ✓ Se o aluno transfere para seus leitores o conhecimento adquirido. Aconselha-se que para as atividades não se tornarem apenas um preenchimento de tempo ou uma avaliação o professor deva dar um bom destino às produções escritas, de forma que o aluno saiba seu destino, como por exemplo, expor o material no mural; organizá-los para confeccionar um livro, etc. Há, por sua vez, a 21 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita criatividade do professor. Quando o aluno sabe que está sendo valorizado ele mesmo procura se integrar cada vez mais na perfeição em tudo que faz. Sabemos que o processo de ensinar e escrever formula estranhas hipóteses, muito curiosas e muito lógicas. Progridem de ideias bastante primitivas que desvendam o mistério do funcionamento que a escrita representa. Vejamos outras situações em que as representações interferem nas relações educativas. Uma escola orientada para trabalhar a resolução do problema do aluno deve realizar atividades propostas, errar, justificar, interagir, circular pelo espaço e expressar suas opiniões. Isso, no entanto, não significa que não deva esforçar-se para dar o melhor de si, tratar por igual, impor suas vontades e trazer o aluno para encarar a necessidade com esforço. Acredita-se firmemente que o professor devolve sua metodologia centrado na qualidade do aprender a ensinar. Agindo dessa forma o aluno tornar-se- á mais capaz. A compreensão da natureza da relação que se conquista, que pode levar o professor a desenvolver sensibilidade e capacidade de analisar a própria conduta, identificar quando ela incida na dos alunos, assim como quando as atividades dos alunos são determinantes da sua. É preciso, portanto, trabalhar com elementos verbais plenos de significado parao aluno na concepção da leitura e da escrita. A ideia subjacente a esse modo de relacionar é ainda muito defendido. O processo de aprendizagem controla e cria expectativas que despertam interesse no aluno. A instituição social criada para controlar o processo de aprendizagem é a escola. Logo, a aprendizagem deve realizar-se na escola. A construção de um objeto de conhecimento e as maneiras pelas quais fragmentos de informações fornecidas ao sujeito são 2incorporados ou não como conhecimentos, embora estreitamente relacionados, trata-se de processos diferentes. A construção de um objeto de conhecimento implica muito mais que mera coleção de informações. Provoca a construção de um esquema conceitual que permite interpretar dados prévios e novos (isto é, que possa receber informações e transformá-las em conhecimento): um esquema conceitual que permita processos de interferência acerca de propriedades não observadas de um determinado objeto e a construção de novos observáveis, na base do que se antecipar e do que foi verificado. Frequentemente se aceita que o desenvolvimento da lectoescritura comece antes da escola. Todavia, considera-se apenas como a aprendizagem de diferentes 22 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita informações não relacionadas entre si, que logo serão reunidas por algum tipo de mecanismo não especificado. Porém, a aprendizagem de leitura e escrita é muito mais que aprender a conduzir-se de modo apropriado com este tipo de objeto cultural. E, muito mais do que isto, exatamente porque envolve a construção de um novo conhecimento que, como tal, não pode ser diretamente observado de fora. No caso do desenvolvimento da escrita, a dificuldade para adotar o ponto de vista do aluno foi tão grande que ignoramos completamente as manifestações mais evidentes das tentativas de compreender o sistema de produção escrita do aluno. Analisando todas as dificuldades e falta de interesse do aluno, percebi que precisa ser resgatado seu interesse em se tornar escritor e isso me fez trabalhar mais o interesse centrado nesses estudantes que sempre tiveram possibilidades limitadas, filhos de pais analfabetos ou semianalfabetos, já que suas oportunidades são mínimas. O professor deverá oportunizar situações de ensino-aprendizagem que envolvam a escrita como objeto social do conhecimento. Deverá ser aproveitada toda rica bagagem que a criança já tenha adquirido anteriormente como: experiências folclóricas, conceitos matemáticos, a linguagem e vivências do seu cotidiano. A criança, desde que entra na escola, deverá participar de atos de ler e escrever na produção de textos coletivos e individuais, vivenciar momentos de leitura realizados pelo professor, poder perguntar, explorar e confrontar suas hipóteses com os outros, tendo oportunidade de registrar sua própria escrita. O professor deverá sempre colocar na sala de aula 23 tudo que possa motivar a criança a ler e escrever: os nomes dos alunos, o nome do professor, atividades do primeiro nome, nome dos colegas, nomes significativos para a criança (mamãe, papai, vovó, vovô, titio, casa, carro), painéis, cartazes, murais com mensagens, aniversariantes, horário das atividades, calendário, comemorações de acontecimentos reais, desenhar ou pintar cenas e escrever sobre elas. Enfim, aumentar na criança sua autoestima, valorizando tudo o que faz de sua vida. Seus gostos, suas brincadeiras, suas características, sua família, etc. PRÁTICA DA ESCRITA Nesse sentido, indagamos as professoras com relação aos objetivos que desejam alcançar com a prática da escrita em sala de aula. De início nos referimos à 23 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita professora da 4ª série, que assim revelou: “Trabalho a leitura que incentiva meus alunos a produzirem textos e escreverem a interpretação do que foi lido”. Sabemos que a produção de textos é uma atividade que envolve o aluno em uma série de desafios, como o conhecimento sobre o que vai produzir, organização de ideias, senso crítico individual, uso da coerência e, ainda, a leitura convencional, considerada um saber indispensável para essa realização. Por outro lado, a leitura citada empobrece a vasta dimensão que ela abrange dentro da aprendizagem escrita do aluno. Nesse caso, a professora em resumo deixou transparecer a preocupação com o fator teórico da leitura, muito mais do que com sua importância para a vida cotidiana do aluno, já que a mesma pode e deve ser considerada uma busca de informação para o indivíduo se tornar escritor. A leitura em sala faz com que os alunos conheçam um mundo diferente, que expressa através da escrita os significativos que favorecem o aprendizado. A necessidade que o aluno tem em saber ler e escrever atua de diversas formas, todas elas representam a relação de deficiência na educação. Contudo, as professoras procuram superá-la utilizando várias metodologias que despertem o interesse e facilitem a aprendizagem da clientela. A seleção de materiais acessíveis aos alunos, para que os mesmos não se intimidem a fazer uso deles ou, ainda, possam produzir com a ajuda do professor o seu próprio material. Isso favorece o trabalho da autoestima, colocando-os mais próximos da escrita, já que esse é o maior desafio. Saber como os textos se organizam, as características do desenvolvimento que admitem compreender uma mensagem escrita, importante para a leitura como conteúdo tratado e entendido. É ter como subsídio uma existência ideal na flexibilidade que favoreceu a criança ou o adulto a aprender a ler e compreender o texto exposto. A ESCOLA: COMUNICAÇÃO, EXPRESSÃO E LÍNGUA PORTUGUESA A escola é o fruto do meio, assim como o meio é consequência dela. A relação entre a Escola e Sociedade é alvo de uma transformação contínua, que influencia os modelos vigentes de educação. Trabalhar a escola é inserir a comunicação da expressão aos seus alunos. O professor deve começar por uma avaliação para levar seus alunos a conhecerem os diversos tipos de textos. 24 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita A formação da consciência será determinada pelas seleções textuais informativas entendidas como: • A construção do conhecimento ao aluno; • Mudança de comportamento e organização de estímulos; • A importância da realidade produzida com criatividade. A instituição escolar deixou de ser apenas um espaço onde se ensina para assumir um papel de agência educadora. A mudança conceitual das tarefas não está mais centrada apenas em de aula, mas na informação além do que o livro didático procura transmitir. Hoje trabalhamos a comunicação em sala de aula como meio de se resgatar o interesse do aluno, para um desenvolvimento da aprendizagem centrada. O aluno enfrenta atualmente uma mudança muito grande. Os meios de comunicação buscam favorecer informações centradas no cotidiano, porém se a base da estrutura educacional não estiver acompanhando, toda essa comunicação fugirá das perspectivas do interesse na sala de aula. O professor busca inovar, trazer temas interessantes que despertem no aluno a vontade de se integrar com a disciplina trabalhada. Vygotsky, pensador russo, contemporâneo de Piaget, se dedicou, entre outros temas, ao estudo da origem cultural das funções do ser humano. Sua teoria não é pedagógica, mas traz um estudo de uma nova pedagogia. A função psicológica especificamente humana se origina nas relações do indivíduo e no seu contexto cultural e social, que internaliza os modos historicamente destinados e culturalmente organizados de operar com a informação por meio de mediaçãosimbólica, isto é, sistema de representação da realidade, destacando em especial a linguagem. O pensador considera, portanto, a cultura como parte constituída da natureza humana e propõe que se estudem as mudanças que ocorrem no desenvolvimento mental a partir da inserção do sujeito em um determinado contexto cultural, na sua interação com os membros de seu grupo e suas práticas sociais. Analisando a teoria supracitada leva-se a entender que as situações opostas comportamentais em alunos dispersos são fatos próprios de cultura de cada um. As análises de mundo simbólico e o eixo básico dos estudos começam a deslocar-se dos indivíduos para os grupos sociais nas quais estão integrados. A 25 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita escola – ao pretender ensinar – deve levar em conta o que o aluno traz consigo, a sua experiência pessoal adquirida no seu grupo social. A experiência do saber procura retratar objetos trabalhados dentro dos textos comunicativos para uma expressão de ideias claras e inovadoras. A conversa, no entanto, não basta para o educador determinar a relação entre a leitura e a escrita, mas para informar. Os textos específicos precisam seguir alguns critérios como: • Trabalhar dentro da realidade dos seus alunos, com as perspectivas de informação do mundo em que ele está inserido; • Despertar no aluno o interesse pelo raciocínio lógico a partir do que se lê; • Criar hábitos de comunicar-se e expressar-se; • Formar a criticidade e confiança; • Conhecer as possibilidades do grupo; • Buscar para o meio dos letrados a qualificação pelo conhecimento compreendido pela leitura dos textos escritos. O professor precisa analisar com sinceridade as causas pelas quais seus alunos não aprendem. Efetivamente, cada um de nós sempre busca conhecer com maior ou menor profundidade o mundo que nos cerca e normalmente de forma oral os nossos conhecimentos e experiências; contudo, muitas vezes, o fazemos por escrito ou por meio dos mais variados sinais e códigos que temos a nossa disposição. De uma maneira ou de outra o conhecimento e a riqueza histórica constroem fundamental comunicação e expressão da língua portuguesa. Assim, surge uma questão fundamental que devemos considerar: se escola é transmissora do saber sistematizado e cumulado historicamente e ela deve ser fonte de apropriação da herança social por àqueles que estão em seu interior. Entretanto, o que constatamos na escola é que de um lado grande parte da população está excluída do processo educativo formal e, de outro, que a maioria que frequenta a escola não tem oferecido condições para aquela apropriação. A relação escola- sociedade deve ser analisada com cuidado, pois está se falando de experiências vividas. Constata-se que existe uma distância infinita entre a comunicação e a expressão. Encontramos uma clientela muita alheia ao compromisso vinculado nas 26 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita obrigações estudantis. O educador muitas vezes sente-se desestimulado por deparar- se com várias situações por falta de interesse e compromisso do ouvinte. Diante disso, é preciso reativar a postura da comunicação e expressão da Língua Portuguesa, quando o aluno é trabalhado de fora para dentro, como já se tinha falado anteriormente. De um lado acredita-se que a escola seja alavancada de maneira social. Deem- nos uma boa escola e teremos a sociedade desejada: Então não é apenas a concepção dominante em um momento particular da história da educação, mas permanece entre nós e pode ser identificada no discurso dos que julgam que a escola seria o melhor dos remédios contra os males da sociedade. (CASALI, 1994, p. 2). A tendência expressa uma visão da intuição escolar que chamaríamos de otimistas ingênuas. Ela a vê como algo fora da dinâmica social, como impulsionadora desta dinâmica e acredita que, sendo espaço privilegiado de transmissão de cultura, a escola “dá o tom”, a sociedade. Encontramos limitações da escola diante da sociedade, que vivencia muitas mudanças, sendo que uma parte dela tem uma relação dialética. Além disso, verifica-se que a escola tem uma função contraditória ao mesmo tempo em que é fator de manutenção; ela transforma a cultura. A observação precisa encarar que tais mudanças favorecem a informação conjunta em uma sociedade de princípios básicos e conscientes de suas verdades e características quando se trata de educação. Segundo Vygotsky o desenvolvimento do aprendizado e as relações humanas entre o desenvolvimento e aprendizado são temas centrais dos trabalhos comunicativos próprios do ser humano. Sua preocupação com o desenvolvimento do homem está presente em sua obra. Vygotsky busca compreender a origem e o desenvolvimento dos processos psicológicos ao longo da historia da espécie humana. As teorias de Piaget e Henri Wallon são as mais completas e articuladas; são teorias genéticas dos desenvolvimentos psicológicos de que dispomos. Quanto à “expressão e comunicação”, eles referem-se às transmissões hereditárias e o processo de formação do desenvolvimento humano social. A escola está inserida na comunicabilidade de seus alunos. Existe uma preocupação a mais a ser cuidada, refletindo na capacidade psicológica dos seus ouvintes, trabalhando o conhecimento humano e social. Fornece subsídios de superação das barreiras 27 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita encontradas, visto que hoje nossa realidade precisa ser trabalhada de fora para dentro. Conhecendo suas histórias, seus limites e seus critérios cria-se um trabalho mais sólido, com perspectivas de engrandecer a formação dos seus alunos. Pensando em uma suposição mais extrema, uma criança normal que cresce num ambiente formado por surdos- mudos não desenvolveria a linguagem oral, mesmo que tivesse todos os requisitos inatos necessários para isso. Fenômenos semelhantes ocorrem com vários casos em que crianças isoladas, sem contato com outro grupo, normalmente têm sua comunicação e seu desenvolvimento impedido de ocorrer em situações propícias ao aprendizado. A escola tem uma responsabilidade a mais diante do quadro apresentado, em trabalhar a comunicação e expressão fazendo a socialização desses alunos. Quando em contato com a comunidade escolar, esses são inseridos para uma convivência que busque superar sua timidez, trabalhando a inclusão, trazendo-os para conviver e fazendo-os crescer diante das perspectivas que o grupo oferece. O quadro apresenta comportamentos que dificultam a comunicação e a aprendizagem. A preferência nesses casos é trabalhar a conduta em comunicação de fora para dentro, para depois do conhecimento do quadro se repensar no andamento dos processos intencionais e situações particulares. Geralmente esse quadro, nos primeiros estudos da função da escola, pode ser resumido nos seguintes termos: espera-se que o aluno aprenda e que o professor oriente a aprendizagem na comunicação da expressão da Língua Portuguesa. A comunicação e expressão é uma central na atividade do professor. Pode-se dizer que todo trabalho do professor se resume na questão da comunicação. Segundo Dewey: “se o aluno não aprendeu o professor não ensinou; se o aluno não aprendeu o esforço do professor foi uma tentativa de ensinar, mas não ensinou”. Não é que qualquer mudança comportamental será considerada uma aprendizagem. É importante observar os seguintes casos: 1- A comunicação entre as crianças seja de troca objetos ou de brincadeiras; 2- O stress impossibilita a concentração da comunicação e expressão; 3- Dificuldade de se adaptarem aos grupos(timidez e isolamento); 4- Dificuldade em comunicar-se com o grupo e isolamento, preferindo ficar 28 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita sozinhos. A caracterização da comunicação e expressão da Língua Portuguesa é definida em termos. Digamos que a senhora Fátima é especialista em insetos. Estudou e aprendeu muita coisa sobre animais. Nem por isso sua filha Ana vai nascer sabendo identificar. Tudo vai depender da comunicação com o mundo, do repasse de informações. Às vezes a clareza dos fatos impossibilita a qualidade que se espera atingir. A clareza das informações forma conhecimento, a dificuldade de comunicação deixa-o confuso e não se encontra dentro do trabalho realizado. A comunicação com crianças ou adultos é um primeiro contato da observação do texto. A expressão da fala leva a criança a aprender o texto entendendo. Essa vida passada com a comunicação da expressão lida com as formas e cores que atingem a atenção para aprender. A infância é, sem dúvida, a idade em que mais se aprende. Mas aprendizagem pode dar-se em qualquer idade. Quantos inventores surgiram em idades bastante avançadas? É, portanto, um processo contínuo da comunicação. Comunicar-se é expressar-se diante da vida! Portanto, assume uma atitude séria e curiosa diante de vários fatores. Quando encontramos problemas procuramos refletir e decidir quais as melhores alternativas de ação possíveis para alcançar determinados objetivos a partir do contato com a realidade. No início do ano letivo os alunos apresentam dificuldade de conhecimento do meio, contato com os colegas, regras da escola e o livro didático trabalhado pelo professor, o emprego do G ou Gu, o que leva a professora a investir na comunicação da expressão lida e escrita para superar as dificuldades dos alunos. Como estratégia, o trabalho sistemático é realizado a princípio com um ditado interativo com base em um texto que havia sido previamente trabalhado na área de estudos sociais. A0comunicação com o texto deve ser por inteiro, já que o interesse era desencadear uma reflexão com a turma sobre a disputa entre G e GU. O parágrafo ditado e discutido apresenta os seguintes conteúdos: “Os portugueses trouxeram os negros para o Brasil. / Os escravos trabalhavam nos canaviais / e guardavam os engenhos. / Os capatazes guiavam os negros às plantações / e os vigiavam / fazendo o trabalho. / Quem não obedecesse era castigado”. As barras (/) que coloquei ao longo do 29 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita parágrafo indicam as frases ditadas e marcam os momentos em que se fizeram interrupções para discutir com os alunos o que eles tinham acabado de escrever. A observação seria nas palavras “portugueses, negros, guardavam, guiavam, castigado”. Como na maioria das situações didáticas surgiram novidades e foi preciso fazer ajustes, ampliar o universo de experiências iniciais. A percepção do trabalho desenvolvido leva a criança à observação da grafia e leitura do texto. Quando ela ouve o som das palavras automaticamente será associado à escrita, mesmo que escute e escreva diferente. Com essa comunicação com o ditado de palavras a criança tem seu primeiro contato com um mundo favorecido à comunicação visual e sonora. Na prática da escrita ela começa a interpretar o que viu e ouviu. Durante esse momento de debate as crianças escrevem GUE, de portugueses, mas, mesmo assim, não houve resistência para discutir o que está aprendendo a escrever. Poderia se enganar na notação dessa palavra. Verbalizaram que som era “gue”, que o novato poderia usar um só, mas que ficava com som de Ge. Já no caso de guiavam, uma palavra menos familiar que “português”, alguns alunos vão achar difícil. Os possíveis erros não são a substituição do GU pelo G, mas a substituição pelo QU e, novamente, justificam que a palavra não podia ser escrita de forma diferente porque “senão o som ficava diferente”. Em outros momentos as crianças puderam indicar o que, no trecho escrito, lhe parecia difícil e surgiram então discussões sobre outras questões ortográficas com o emprego de G ou GU. Por exemplo, a palavra “engenho” era uma palavra difícil, onde o G e J são confundidos, “porque ficava com o mesmo som”. A comunicação, nesse instante, passa a ser mais intensa, visto que desperta a dúvida quanto da colocação das letras pelos mesmos sons. A diferença é apresentada nas letras G ou J e leva o interesse do aluno de propor consultar o dicionário e descobrir que para escrever corretamente precisa conhecer as regras básicas de cada uma. Caso os alunos ainda não possuam uma escrita ortograficamente correta, o trabalho do professor deve ser mais intenso e exigente com a comunicação para que as suas atividades possam ser favoráveis ao seu aprendizado. A prática pedagógica mais vivenciada e o desenvolvimento da comunicação e expressão trabalhada com ditado de palavras, frases, músicas conhecidas ou textos curtos procuram identificar no aluno a busca pelas palavras do ditado dentro do texto 30 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita desenvolvido. Outro método utilizado para facilitar a comunicação e expressão é a formação de palavras ou textos com as letras móveis, em seguida a comparação do que foi escrito por eles e a escrita correta das palavras. O aluno produz tudo o que lhe é repassado e as atividades retiradas do quadro despertam a atenção do professor, especialmente nas atividades que exigem respostas individuais, pois são nelas que as crianças se envolvem mais. Ensinar de acordo com as condições dos alunos, dentro do processo da comunicação e expressão da aquisição da escrita, procura desenvolver textos com possibilidades de descobertas especialmente se trabalhadas em duplas. As práticas analíticas, feitas na sala de aula, deixam em segundo plano os métodos globais quando cita o ditado de palavras como uma de suas práticas. Elas deixam subentendido que esse ditado não é vinculado a um texto mais completo, com sentido mais amplo. Desta forma, o ditado fica solto, sem que haja um referencial para aquelas palavras e para a compreensão e aprendizagem dos alunos. Voltando a observar o que já foi falado, da importância que se tem em trabalhar a grafia corretamente das palavras trabalhadas. Por outro lado, a segunda prática de recorte de sílabas e formação de textos é um ato progressor para o aluno, pois ele deve buscar sílabas para formar palavras, ao mesmo tempo em que vai escrevendo- as no caderno. Essa atividade exige dele também o desenvolvimento das ideias para a produção de pequenos textos. E o entrosamento com o grupo, visto que a socialização do aluno favorecerá muito para uma boa aprendizagem. Para se trabalhar a linguagem precisamos observar os traços ilustrados, o cenário, as cores, as falas, os tipos de letras, a transmissão e o ritmo. Após esse trabalho fica fácil descobrir a narração, fruto da imaginação privilegiada. As histórias em quadrinhos, a expressão, o rosto dos personagens também são lidos. EUFORIA OU ADMIRAÇÃO? ESPANTO OU MEDO? TRISTEZA OU DESÂNIMO? SURPRESA OU ESPANTO? Nas histórias em quadrinhos podemos registrar a fala dos personagens, reproduzido, muitas vezes, o modo como as pessoas normalmente falam: reduzindo, comprimindo alguns sons da palavra, usando frases curtas, inacabadas, empregando repetições, hesitações, 31 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita exclamações, etc. Essas histórias nos transportam ao mundo da fantasia e do encantamento. As 33narrações elaboradas a partir de imagem e textos curtos fazem a receita que nos leva a provar o delicioso sabor da magia do faz de conta. A expressão musical trabalhada em sala é muito importante, porque o aluno é trabalhado de forma prazerosa. Ele se sente à vontade para aprender dentro da melodia trabalhada. Meu Lanchinho Meu Lanchinho Meu Lanchinho, Meu Lanchinho Vou comer, vou comer Prá ficar fortinho, prá ficar fortinho E crescer! E crescer! Papagaio loiro do bico dourado, Mande essa cartinha para o meu namorado. Se estiver dormindo bata na porta, Se estiver acordado deixa recado. Se estiver dormindo bata na porta, Se estiver acordado deixa recado. Trabalhar melodias com palavras repetidas e que incentivem a disciplinar o aluno. Observando a melodia e escrita pode-se analisar que o aluno tem uma infinidade de ideias para serem trabalhadas, desde a grafia / a rima / e o encanto pelos sonhos que despertam tanto na aprendizagem. Essa comunicação cresce formando conceitos não decorados, mas aprendidos. Aprender com uma comunicação que expresse entusiasmo, prazer, vontade para saber sempre o que tem por trás das próximas frases. O aluno precisa sentir-se conquistado pela didática todos os dias para superar as deficiências surgidas no seu dia a dia. TOPICOS PARA DISCUSÃO 1) Até que ponto é válido o trabalho do professor na comunicação de fora para dentro? 2) Analisando as questões socioculturais que bloqueiam a comunicação e a expressão da Língua Portuguesa, o que você, professor, aprendeu na prática dos problemas discutidos? 3) O isolamento do aluno significa que a comunicação foi deficiente? 32 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita 4) Um professor que goste muito de matemática vê a matéria com tanta facilidade que acha difícil compreender como Pedro bom aluno em outras matérias, tem dificuldade em matemática. Que característica esta sendo esquecida, nesse momento pelo professor? PESQUISA 1) Faça uma pesquisa entre três (ou mais) professores, com o objetivo de saber os problemas de comunicação e expressão dos alunos. Eles: • Valem-se dos estudos trabalhados em grupo? • Preferem adaptar-se no que der certo? • Procuram educar como foram educados? 35 • Observam as mudanças dos alunos e não comentam? • O que valorizam mais: seus estudos ou sua prática? LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS Os pressupostos teóricos e metodológicos deste curso são uma proposta de trabalho e de contribuição para efetiva renovação das práticas educacionais na sala de aula. Isso é de grande importância coletiva, seja na oralidade, com objeto de ensino aprendizagem, quanto no trabalho da Leitura e Escrita, considerando os novos estudos sobre letramento e gêneros textuais. 36 As dificuldades e deficiências dos alunos na escrita se dão devido à falta de interesse de saber ouvir. O fascínio que a linguagem sempre exerceu sobre o homem vem desse poder que permite não só nomear/criar/transformar o universo real, mas também possibilita a troca de experiências, falar sobre o que a linguagem verbal é. Então, o pensamento é o vínculo da comunicação social. O texto produzido pelos alunos e as atividades retiradas do quadro despertam a atenção do professor, especialmente nas atividades que exigem respostas individuais, pois são nelas que as crianças escrevem da maneira como acham que as palavras são ou até mesmo através de pequenas produções realizadas por elas. Ensinar de acordo com as condições dos alunos, dentro do processo de 33 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita Aquisição da Leitura e Escrita, procura desenvolver formas amplas através de textos, com possibilidade de grandes descobertas, especialmente se trabalhadas em duplas. As práticas analíticas, feitas na sala de aula pela professora, deixam em segundo plano os métodos globais quando citam o ditado de palavras como uma de suas práticas. Desta forma, o ditado fica solto, sem que haja um referencial para àquelas palavras e para a compreensão e aprendizagem dos alunos. Por outro lado, a segunda prática de recorte de sílabas e formação de textos é um ato que o aluno deve buscar para formar palavras, ao mesmo tempo em que vai escrevendo-as no caderno. Como tema de Leitura e Interpretação de Textos iniciamos o nosso trabalho com as questões relativas à leitura e sua pratica efetiva. Por isso, aqui manifestamos uma passagem entre as questões do conhecimento da leitura. Ensinar a ler vai muito além de ensinar a decodificar palavras em um texto. Ensinar a ler significa ensinar os alunos a usar estratégias de leitura, como diz Isabel Solé, “na busca da construção e re(construção) dos significados de um texto, que são naturalmente empregados pelos educandos ao fazer a leitura do mundo, observando, antecipando, interpretando os que o rodeiam”. O processo de leitura deve garantir que leitor compreenda o texto e que possa ir construindo ideias sobre o conteúdo, extraindo dele o que lhe interessa, em função dos seus objetivos. Isso só pode ser feito mediante uma leitura individual, precisa, que permita o avanço e o retrocesso, que permita parar, pensar, recapitular, relacionar a informação com o conhecimento prévio, formular perguntas, decidir o que é importante e o que é secundário. É um processo interno, mas deve ser ensinado. O texto a seguir mostra a importância de uma boa leitura para se obter uma interpretação desejada. 37 QUANDO EU COMECEI A CRESCER Ruth Rocha “Então eu escutei um barulhinho que eu conhecia muito bem. Era uma campainha! De minha bicicleta! Minha bicicleta! Mas como é que podia? Se meu pai e minha mãe ainda estavam acordados! 34 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita Como é que Papai Noel podia estar chegando? E naquele momento a verdade me apareceu inteira, com força! O que tantas vezes as crianças cochichavam umas para as outras era verdade! Eram nossos pais que nos davam presentes! Agora estava tudo claro para mim. Tive vontade de acordar minha mãe e contar para ela. Mas eu sabia que ela ia caçoar de mim, ia dizer: ‘agora que você descobriu?’ Então eu fiquei sozinha, pensando naquela coisa incrível que tinha acontecido. E chorei baixinho, no escuro, pensando em todas as coisas em que acreditava e que, vai ver, era tudo mentira! São Jorge na Lua... O Coelhinho da Páscoa... Até a cegonha, meu Deus, está claro que não existe cegonha nenhuma voando por aí, trazendo bebezinhos. Bem que a Juju me falou uma vez. Mas depois minha mãe chegou e perguntou o que é que a gente estava conversando e a Juju ficou sem jeito e saiu correndo e nunca mais me contou aquelas histórias... E daí a pouco, sem tomar café, sem escovar os dentes, sem pentear os cabelos, nem nada, daí a pouco eu já estava na rua, montando minha bicicleta nova, louca para que os outros meninos aparecessem para me ver”. Analisando o trabalho realizado com textos que fazem a criança pensar em contos de fada, idealização de seus sonhos, e a participação dos pais, cria-se uma interpretação inovada, participativa. Seja ela no estudo do vocabulário, na interpretação ou estudando a gramática. A criança viaja por um mundo de uma leitura construtiva, de idealizações favorecidas no desenvolvimento do seu aprendizado. A Leitura e Interpretação precisa ser trabalhada com o objetivo de despertar a curiosidade pelo que vem depois. É como se tivesse uma página sempre a ser virada e é esse objetivo que desperta o interesse. A função do professor é encorpá-las à prática da cultura e a valorização em sala de aula, por meio de um trabalhosistemático de ensino de variadas estratégias. Despertar no aluno o gosto pela leitura é um trabalho contínuo. Além das possibilidades de leitura silenciosa e em voz alta, bastante praticadas em sala de aula, sugerimos: 35 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita • Dramatizar a leitura - a expressão verbal e não-verbal na construção de texto; • Leitura dirigida - destacar o que não gostou do trecho lido pelo educador, a emoção e determinação de ideias; • Leitura interrompida - quando se faz o questionamento a respeito das ideias e das características do que se está lendo. Além disso, os alunos precisam de bons modelos de leitores. Ao contrário, a leitura é um ato simples, inteligente, reflexivo e característico do ser humano, porque ela nada mais é que um ato de compreensão do mundo. Leitura é o exercício constante, reflexivo e crítico da capacidade que nos é inerente de ouvir e entender o que nos diz a realidade. Encontramos na prática da leitura uma forma coerente de entender os caminhos do conhecimento em viver a narrativa das histórias escritas. Ler é integrar- se com o mundo, conhecer suas origens viver seus personagens, idealizar e dar asas aos seus sonhos. Como quando se lê uma fábula, por exemplo. NEM CIGARRA NEM FORMIGA 39 Marta, eu vou contar-te Uma história muito antiga, Que se fala em toda parte, Da Cigarra e da Formiga. Vivia uma vidinha tranquila 36 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita No seu cantarejo eterno, Viu-se um dia apertada Quando chegou a chuvarada. Diante da fome e do frio Corre a casa da Formiga Mendigando uma comida Implorando um socorro: - Vizinha veja meu estado! Tenha piedade de mim Pago o que me pedir Assim que a safra vier. Riu a Formiga brilhante De trabalhadeira e honesta, Mas tem consigo um defeito Não dá nada nem empresta. Na porta a pedinte esbarra E lhe diz, já no terreiro: 40 - Mas que fez você, Cigarra, Durante todo o verão? - Eu? Cantei noite e dia. Folgo em saber. Sim, senhora... Todo o verão em cantoria? Muito bem! Agora no inverno dance. Ai! Cigarra cantadeira! Essa Formiga inclemente Falou-te de tal maneira, Que até deu ares de gente... Marta, quem isso narra É preciso que te diga: 37 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita - Nunca imites a Cigarra E nem também a Formiga. Ama o labor, sê ativa. Mas, filha, por mais que o fores, Na tua alma compassiva Acolhes as alheias dores. Com todo mal te contrista. E, sem indagarem nome, Não permitas que um artista Passe vexame ou fome. Se ao artista a dor humilha, Sofre o que na alma lhe vai: Nunca esqueças, minha filha, Este conselho de pai. Essa nova adaptação da fábula da Cigarra e da Formiga traz para ser trabalhada na1 Leitura e Interpretação os valores que precisam ser discutidos desde cedo na sala de aula, sendo essa a continuação da formação dos seres humanos (alunos). Quando se está desenvolvendo a didática, precisa-se também se preocupar com o que repassar e que mensagem deixar. É evidente que a leitura escrita tem um lugar e um papel imprescindível na história e na vida dos seres humanos. Isso não significa dizer, contudo, que essa seja a leitura primeira e mais fundamental. A importância da leitura é que cada um faz a leitura de sua realidade através de sua experiência refletida. Pode-se perceber que o processo através do qual o leitor é sujeito ativo da construção do significado do texto, a partir dos seus objetivos, do conhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo sobre a língua: características do gênero do portador do sistema da escrita. O objetivo maior do ensino de Língua Portuguesa é a formação de leitores e produtores de textos para o desenvolvimento de diversas habilidades: • Identificar informações; 38 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita • Relacionar dados; • Interferir, identificando a partir do que está sendo escrito; • Estabelecer relações entre o texto de seu conhecimento; • Avaliar um texto. O aluno tem a chance de entrar em contato com uma diversidade de textos interessantes, de variados gêneros. As estratégias de leitura variam constantemente: • Preparação para a leitura (levantamento das hipóteses); • Leitura oral compartilhada; • Atividade a ser desenvolvida durante a leitura; • Leitura silenciosa; • Interpretação oral e escrita. A análise textual é a primeira forma de aproximação do estudante com o texto e tem por objetivo básico a preparação temática e que permite a compreensão integral do pensamento do autor. Analiticamente o aluno segue as orientações estabelecidas à unidade de leitura, conhecendo o conteúdo, fazendo uma leitura do começo ao fim. A forma como ele vai desenvolvendo sua leitura e encontrando suas respostas para suas indagações referentes ao texto vai dando corpo à leitura programada e interpretação planejada. A leitura precisa despertar no leitor o interesse pela busca. Saciados com as letras o leitor procura contatar os vocábulos que lhes são desconhecidos, os pontos que requerem posterior esclarecimento e todas as dúvidas que por ventura interfiram na captação do pensamento do autor. Essas dúvidas são importantes porque vão além de uma interpretação. Os vocábulos encontrados vão sendo trabalhados e os textos de estudos que levam o aluno a consultar o dicionário, verificando o significado no contexto. A LEITURA COMO PRAZER Procure, portanto, textos que chamem a atenção dos alunos. Frases que eles possam interrogar e criticar. Quando o aluno passa a criar e refletir diante do que viu, 39 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita o aprendizado atinge uma meta satisfatória. A leitura precisa conquistar a percepção do aluno para que o mesmo possa interpretá-la. A interpretação é feita se a leitura foi trabalhada de forma clara e objetiva. Com essas sugestões é possível viver novas experiências de leitura que ampliam o universo cultural dos alunos e desenvolvem o gosto pela literatura. Selecionar textos, partindo para uma leitura de modo privilegiado, desenvolvendo a competência linguística. A leitura deve começar o mais cedo possível na vida da criança. A família tem como primeira responsabilidade despertar na criança a curiosidade em buscar nos livros adaptados à sua idade o conhecimento pela história. As histórias contadas têm o efeito da conquista por quem conta e a história lida desperta o interesse em folhear o livro. Essas duas formas de comunicação do leitor e ouvinte precisam de um cuidado no texto repassado: em relação à maneira como foi lido e de que jeito a história será interpretada. A leitura se reflete de forma significativa na escrita da criança (e dos adultos também). Na medida em que a leitura vai sendo feita memorizam-se as correspondências, ortografias. Enquanto as regras da escrita também estão sendo repassadas, essas observações refletem em uma escrita melhor. A ortografia trabalhada nos textos com diferentes sons procura respeitar o processo gradual quando se lê bem para uma criança, formando nelas a interpretação do que foi lido. TEXTOS QUE DESPERTAM O INTERESSE DO ALUNO • Bula de remédio - a bula é um texto impresso que acompanha um medicamento. Muitas informações estão dirigidas à composição química. Os subtítulos, em geral,estão marcados por recursos gráficos para facilitar a leitura e para que o leitor localize rapidamente a informação que necessita. 44 Indicação Contraindicação Posologia Advertência Composição Farmacêutico responsável Laboratório Responsável: nome e endereço Efeitos colaterais Data da fabricação Data de validade 40 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita • Literatura de Cordel: O nome vem de Portugal e do fato de serem folhetos presos por um barbante em exposições nas casas em que eram vendidos ou feiras livres. O Cordel retrata a história tradicional, memórias populares. Segundo Paulo Freire: “A leitura é um processo de referência realizável. Ler é encontrar a realidade, as circunstâncias do mundo em que se vive, as suas solicitações, provações e valores em uma linha de reflexão e crítica. Posteriormente, a decodificação da palavra escrita, que nada mais é que a comunicação e transmissão da leitura com a realidade do mundo”. OS ALUNOS COM ESCRITA ALFABETICA Quando se trabalha com bens culturais de qualidade é necessário ampliar um repertório musical dos alunos (sejam crianças ou adultos) com produções de compositores e cantores que são considerados expoentes da Música Popular Brasileira (Tom Jobim, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, Dorival Caymmi, entre outros). A demonstração disso no processo da escrita – seja com músicas da MPB ou na narração onde o autor assume um interlocutor – pode ser encontrada no poeta maior da Literatura Portuguesa: Fernando Pessoa. O poeta é um fingido Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sentir A criação de um narrador, distinto do autor, não está presente só na poesia, mas também e principalmente na narrativa. É fundamental que os alunos com escrita pré-silábica não sejam agrupados entre si para realizar esse tipo de atividade: para eles é importante a interação com alunos que já escrevem, correspondendo partes da escrita à fala. Quando se trata do aluno com escrita alfabética podem ser organizados em dupla para realizar a atividade da mesma forma, tendo que pensar em questões ortográficas. Outra possibilidade é escrever o texto usando desenhos móveis. O professor deve selecionar e entregar somente os desenhos que compõem a escrita da história contada, tendo o aluno que se concentrar na escrita das palavras. 41 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita A partir desses conhecimentos são propostas atividades de produção em que se retrata o que, para quem, como e para que produziu. Reestruturação é, portanto, fruto da análise linguística do texto do aluno e propõe adequações para que o seu escrito possa ser compreendido por quem lê e cumpra a função determinada na proposta de produção. É também a melhor oportunidade para entender e aplicar as regras gramáticas que irão garantir a legibilidade do texto. Para cada tema a leitura dos textos é analisada. Na apresentação gráfica dos desenhos dos textos deve-se ter cuidado com a largura do desenho, a numeração de linhas, que objetivam facilitar a leitura e a localização dos elementos na interpretação do texto. As análises desenvolvidas nas atividades são as seguintes: • Compreender: visando conduzir o leitor a captar aquilo que efetivamente diz o texto. É importante identificar as palavras significativas do texto, a ideia central e as diferentes relações (causalidade, temporalidade, oposição, etc); • Discutir: o objetivo é desenvolver o espírito crítico do aluno: ele é 42 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita solicitado a julgar o que o texto diz; • Criar: são propostas as atividades de produção de texto; • Expressar e Grafar: nesses dois itens são trabalhadas, de forma assistemática e predominantemente sem qualquer nomenclatura, as ocorrências gramáticas no nível da frase (Expressar) e no nível da palavra (Grafar). Para realizar essas tarefas o aluno poderá consultar a gramática.7 PRODUÇÃO TEXTUAL Ler é produzir sentido; ensinar a ler e contextualizar textos. O leitor atribui ao texto que tem diante de si o sentido que lhe é acessível. Geraldi propõe o texto como específico da aula de português: “Se quisermos traçar uma especificidade para o ensino da língua portuguesa, é no trabalho com textos que encontraremos, ou seja, o conteúdo da aula de português e o trabalhocom texto.” (GERALDI, 1991, p. 105). Para romper com a tradição formalista da aula de português é preciso acrescentar, até mesmo por coerência com o que foi proposto acima para toda a escola, que também na aula de português o texto precisa ser tratado como diálogo e não apenas como escultura, para não repetir os mesmos velhos procedimentos, antes de questionar a criatividade, a coerência, a coesão, a sequência dos episódios, a introdução do desenvolvimento, conclusão e estrutura dos parágrafos. No que se refere à produção textual, no entanto, não se trata de ensinar a escrever uma notícia de jornal apenas para ver se o texto do aluno ficou com cara de tema de jornal. Não se trata de escrever uma crônica, um conto, um relatório. Não importa qual é o veículo em que tal texto vai ser publicado depois de ter sido escrita a primeira versão do texto, depois do discurso de seu conteúdo e de seu mérito. Ensinar a escrever na aula de português é, portanto, apresentar os contextos de diálogo em língua escrita e propicia aos alunos a participação nesses contextos. O mais amplo deles é o da língua escrita, que organiza nossa vida na sociedade em que vivemos e que é, na definição de Tiberosky: (...) uma atividade em busca de certa eficácia e perfeição, que se realiza por meio de um artefato gráfico-manual, impresso ou eletrônico para registrar, comunicar, controlar ou influir sobre a conduta dos outros, que possibilita a produção e não só a reprodução, e que supõe tanto um efeito de distanciamento como uma intenção 43 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita estética. (TIBEROSKY, 1996, p. 2): Os alunos têm uma função importante a assumir, que é corrigir seus próprios textos dando-lhe autonomia. Essa prática reescreve o texto, substituindo por letras e palavras adequadas à norma padrão exigida. O texto é incentivado pelo professor de diversas formas: • Pela leitura oral uma produção do aluno; • Pela troca de material entre duplas de estudantes para que possam ser feito comentários. Esta prática permite que estudantes mais tímidos se manifestem e deem sua preciosa compreensão. Quando o texto é trabalhado no quadro pelo professor ele chama a atenção dos alunos para os aspectos positivos da produção. É preciso, pois, deixar claro para o aluno que o texto produzido por ele não termina na primeira versão. Ele precisa ser refeito, precisa entender que reescrever é aprender a escrever. As correções devem ser feitas no final na elaboração do texto definitivo. Quando o aluno começa a escrever seu texto a primeira contribuição preciosa se manifesta no tema. Este precisa chamar a atenção, mesmo porque ele vai descrever e essa descrição só será trabalhada por ele com conhecimento e interesse em dar vida a fatos contados e escritos. É interessante que ao trabalhar a produção de textos observe-se a realidade do aluno, o que eles têm mais facilidade para narrar. Quando se tem um propósito procura-se trabalhar as possibilidades do aluno, levá-lo para sua correção e, posteriormente, determinar que eles criem a partir do tema exigido pelo professor.Os procedimentos dos trabalhos são: • Eleger foco e conteúdo a ser revisado na produção; • Revisar diferentes tipos de problemas e orientar sobre a eficácia do problema; • Contextualizar a produção do texto a ser reescrito, com diferentes características do gênero textual; • Propiciar a troca de informação; • Propor a prática individual da reescrita. O aluno chega a apresentar habilidades que elegem símbolos compartilhados 44 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita por ele e professores nas ocorrências como: • Verificar a concordância; • Organizar parágrafos; • Conferir pontuação; • Verificar a repetição desnecessária de palavras ou expressões; • Conferir a ortografia. O professor poderá adaptar novos símbolos conforme a necessidade. A motivação do aluno em produzir textos vem do empenho trabalhado em sala de aula. Os limites da aprendizagem, habilidades e criatividade são dados por cada indivíduo. A determinação em descrever é deixar o aluno sentir entusiasmo para produzir, visto que a prática da produção textual trabalha a timidez do aluno, socializa o grupo, interage o conhecimento. Sabemos, entretanto, que as atividades descritas não são suficientes para habilitar o aluno ao uso do gênero oral que a vida em sociedade exige. Por isso, as competências orais dos alunos são estimuladas para perceber o quanto é importante considerar cada um dos elementos que compõem a situação de comunicação em que está inserido. Quando nos propusemos a realizar esta tarefa levamos em consideração aqueles textos escritos que, sendo de uso frequente na comunidade, já ingressaram nas salas, melhorando a competência comunicativa dos alunos. Os textos têm características comuns que justificam incluí-las nas seguintes divisões: Textos Literários, Instrucionais, Epistolares, Humorísticos, Publicitários, Jornalísticos, Informações Científicas, etc. Esses conjuntos, assim formados, sem dúvida respondem a princípios heterogêneos de classificação: por exemplo, ao formar a classe científica de textos privilegia-se a área de conhecimento das ciências na qual se encontram seus conteúdos; ao estabelecer a categoria de textos jornalísticos levou-se em conta o portador (diários, revistas, etc); para os textos literários privilegia-se a intencionalidade estética; para as instruções considera-se predominante a intenção de manifestar e organizar tarefas, atividades; no caso dos epistolares (cartas) aparecem em primeiro plano o portador e a identificação precisa do receptor; para os humorísticos é verificado se atenderam ao efeito que buscam (provocar risos); para 45 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita os publicitários coloca-se primordialmente em cena a função apelativa da linguagem. O objetivo do trabalho de criação é expor sua mensagem de forma precisa. Para eles é importante saber que seus textos serão lidos por outras pessoas diferentes do corpo docente. A observação da coerência quanto aos textos reescritos deve transparecer condições concretas de interação verbal e escrita. Deve-se também ressaltar o aspecto positivo do texto (clareza e riqueza), as ideias, o emprego adequado dos adjetivos, da pontuação. Para se compreender melhor o fenômeno da produção de textos escritos importa entender previamente o que caracteriza o texto, escrito ou oral, unidade linguística comunicativa básica, já que o que as pessoas têm a dizer umas às outras não são palavras nem frases isoladas, são textos. Ante de mais nada, um texto é uma unidade da linguagem em uso, cumprindo uma atuação identificável em um dado jogo de atuação sociocomunicativa. A LEITURA NAS AULAS DE PORTUGUÊS Na aula de português se aprende a ler em português, ensinar a ler e contextualizar textos. O contexto que a língua portuguesa tem para nós no país é o produto do trabalho histórico de escritores brasileiros (poetas, historiadores, cronistas, ficcionistas, jornalistas, oradores, críticos, educadores, etc). As condições que dominam a língua escrita regem a grafia das palavras, conjunto de regras sintáticas que vem produzindo interpretações de textos conhecidas na história cultural expressa na língua escrita. Ensinar a ortografia não é criar problema, mas resolver e detectar a formação como leitor. A Morfologia é ensinada não somente para cobrar na hora da prova, mas para identificar a raiz, o radical, o prefixo, o sufixo ou o processo de formação da palavra, ensinar que as diferenças de significado entre “inquieto” e “inquietante” ou entre “interessante” e “interessada” podem ser tratadas sistematicamente pelo significado do sufixo e diferentes sentidos do prefixo. Ensinar a escrever é uma tarefa disposta a olhar para frente e não para as repetições do passado que nos trouxe a escola que temos hoje: é trabalhar com a certeza e com os erros, e não com a resposta certa. Analisando teoricamente chega- se a entender que o erro é o que leva à direção do novo. 46 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita AS IMPLICAÇÕES PEDAGÓGICAS Deve intervir para que o trabalho da escola tenha características. A produção de textos escritos na escola pelos alunos dá a eles a oportunidade de se sentirem sujeitos. A escrita do texto é um vínculo da comunicação. Textos socialmente relevantes são os diferentes usos sociais da escrita (a famosa redação), que aparecem sempre como documentos de caráter dissertativo. A escrita funcionalmente diversificada (diferentes textos) decorre das diferentes funções que estes textos têm a cumprir. Os textos que possuem leitores são àqueles trabalhados pelos alunos, porque são atos de linguagem, devem dirigir-se a alguém concreto. ELEMENTO DO DISCURSO ORAL E ESCRITO O texto (oral ou escrito) é precisamente o luar das correlações, construindo lugar com a palavra (que porta significado). Para que o aluno consiga criar um narrador e produzir um texto com fala desse narrador é preciso que use algumas técnicas com o objetivo de sensibilizar e envolver o personagem. Vejamos quando se reproduz um trecho de um texto que foi produzido por outro aluno, no qual o objetivo é envolvê-lo no processo da criação do personagem.53 Fator importante é quando se aplica a técnica dos contos e fábulas. A leitura trabalhada é uma idealização dos fatos, enquanto que quando o aluno vai produzir ele vai criar os personagens, descrever cada processo da criação do que leu e ouviu. Quando essa imaginação do personagem vai sendo desenvolvida ele pode ser caracterizado como um personagem humano ou não – uma árvore, um giz, uma flor, uma gota de água E agora, sendo personagem do que criou, vamos descrever oralmente: Onde você mora? O que mais o(a) preocupa? O que é ser feliz? Do que tem medo? Essa sensibilização é a forma imaginada do aluno. Quando a oralidade do texto passa a ser um texto escrito, o aluno passa a ser o autor de sua criação ou até mesmo um personagem, vai depender da maneira como foi trabalhada e a postura da colocação do aluno diante da oralidade. O professor se integra com praticidade quando trabalha com fichas. Alguns alunos têm a capacidade de se soltar e logo 47 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita descrevem, outros, porém, nada dizem. Já quando se trabalha a escrita com esses mesmos temas o aluno se solta para escrever com mais desenvoltura. O texto elimina as perguntas e distribui as respostas em parágrafos. A oralidade é um trabalho mais específico e, ao mesmo tempo, mais amplo a respeito de como seestabelecem as relações entre o oral e escrito, além do conhecimento das características estruturais e linguísticas do texto falado, sendo exercício principal do procedimento de retextualização. É necessário lembrar que a leitura oral do texto escrito não constitui uma expressão da modalidade oral. Essa forma de comunicação tem as suas especificidades que as diferenciam do texto escrito. A análise da expressão é diferente da que se faz da escrita, que permite a rescrita utilizando outros recursos linguísticos. A oportunidade de realizar o estudo da língua oral por meio de diferentes gêneros de textos e conhecimento das modalidades e suas características. A construção dos conceitos se dá na interação professor-aluno, por meio de atividades e procedimentos que priorizam a reflexão da língua e pretendem levar o aluno a: Analisar as condições sociais de produção e recepção de textos orais em diferentes contextos; • Apropriar-se dos elementos da leitura e da produção de textos, levando em conta as características dos diferentes gêneros orais e escritos; • Reconhecer a distinção e conjugação de aspectos da oralidade e da escrita sem concebê-los em oposição; • Identificar textos escritos que acomodam e os que não acomodam marcas de oralidade; 54 • Evitar a concepção da inerência entre oralidade-discurso informal e escrita-discurso formal; • Identificar, analisar e produzir textos orais que têm elaboração próxima à da modalidade escrita e textos escritos que apresentam marcas de oralidade; • Identificar marcas dialetais nas falas dos personagens, compreendendo- as como representação parcial do falar de um dado local. As sequências didáticas exigem que o aluno produza textos orais. Caberá à 48 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita subseção na trilha da oralidade, ou mesmo outra seção convenientemente adequada a este propósito, o desenvolvimento de um trabalho com orientação passo a passo para o planejamento e elaboração do gênero oral em questão. A análise da oralidade consiste em gravar diálogos espontâneos para serem posteriormente ouvidos e transformados em objetos de reflexão. Em meados dos anos 80 a língua do discurso atuou em nosso meio com uma proposta. O texto (em sua íntegra) constitui substancialmente a unidade significativa da língua: a) A língua inclui um plano de igualdade * linguagem oral e escrita * gêneros discursivos b) Considera a língua como meio prioritário de inserção social do sujeito. O interlocutor produz sentidos para a leitura, mas no momento da produção, pois a consciência do outro é condição indispensável para que se produza e se interprete o texto: • Reportagens • Telenovelas • Notícias • Cartas Anúncios publicitários, exposições oras, entrevistas, roteiros, relatórios, capas e contracapas de revistas ou livros gráficos são textos constituídos de uma imensa rede de inter- relação. A seleção textual (as modalidades oral e escrita) apresentada compreende diversos materiais textuais que circulam em diferentes instâncias de nossa sociedade, que apresenta diversas funções da linguagem e que aborda as diversas relações estabelecidas entre os interlocutores. A atividade necessária a uma compreensão começa a ser construída antes da leitura propriamente dita. Da análise da própria leitura constará que a decodificação é apenas um processo que se utiliza quando se lê; a leitura fluente envolve uma série de outras estratégias, como seleção, antecipação, inferência e verificação, sem as quais não é possível rapidez e proficiência. E o uso desses procedimentos permite controlar o que vai sendo lido, tomar decisões diante das dificuldades de compreensão, arriscar-se perante o desconhecimento, buscar no texto a 49 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita comprovação das suposições feitas, etc. Entendemos que a prática da leitura organizada em torno da diversidade de gêneros textuais que circulam socialmente leva a analisar que o leitor atribui diferentes significados a um mesmo texto, se o mesmo for lido em diferentes momentos de sua vida. A compreensão do texto é uma atividade interpretativa de um sujeito sobre o objeto. Um autor escreve a teoria de análise dele, mais é o leitor quem vai interpretá- lo de forma diferente, codificando sua compreensão em diversas etapas de sua vida. A relação do texto com seu contexto situacional ou linguístico é um conhecimento realizado, interpretativo, vinculado às leituras textuais implícitas ou explícitas. O conhecimento prévio sobre o texto que se lê é que favorece a transparência, o entendimento e afirmação para que os dados sejam possíveis. Compreender que é da responsabilidade da Língua Portuguesa desenvolver no aluno a competência linguística oral e escrita. A oralidade é a construção do estudo de situações efetivas de produção discursiva, ou seja, situações em que o aluno é produtor e interlocutor. Para a questão de adequação, a redação da oralidade às circunstâncias do estudo pretende: • Variedades linguísticas; • Característica / língua / fala relação / escrita, gêneros textuais (diversos) orais; • Fala (organização). O trabalho da oralidade depende muito da cultura; sua formação direciona as tradições escritas. Produzir texto oral ou escrito depende do planejamento, envolve um processo de construção da escrita com a leitura e, simultaneamente, um momento de reescrita. A expressão oral procura levar o leitor a fazer uma leitura visual, abordando o que se pode ler ao seu redor, expondo suas características, diferenças e formas apresentadas. Observe: “O Cartum é um tipo de desenho que procura levar as pessoas a refletirem sobre algumas situações ou problemas. Geralmente trata-se de um desenho humorístico. Há Cartum com legenda e Cartum sem legenda. 1- Que objeto está desenhado no centro do Cartum? 2- Veja o filamento de uma lâmpada comum”. 56 50 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita São reflexões que procuram levar o aluno a fazer sua leitura oral, trabalhar a escrita e envolver o planejamento de pesquisa nas orientações que questionam, sugerindo o caminho que possibilite o aluno a refletir sobre o texto. Para analisar um texto produzido em sala, é importante conhecer acima de tudo as condições de sua produção. A oralidade não é a escrita, ou seja, o som falado difere da escrita das palavras. No entanto, ouvir uma narrativa oral e produzir um texto escrito a parir dela não é uma tarefa fácil. Precisa dedicar-se a intensos e longos trabalhos de revisão para conseguir que o texto chegue à forma da linguagem correta. Revisar um texto é uma análise cuidadosa dos seus problemas, utilizando estratégias, deixando-o claro e de forma coerente. É isso que as organizações textuais devem conectar para encandear e dar coesão a ele. A adequação dos textos vem mostrar um indicador do avanço da capacidade narrativa e escrita. SEMÂNTICA GERAL E SINTAXE DISCURSIVA A semântica preocupa-se com o significado. É ela que dirá, por exemplo, que a palavra manga é ambígua quando tomada isoladamente, mas que, inserida em uma frase real, em um contexto linguístico verdadeiro, tem chances mínimas de ser interpretada como ambígua, ficando claro que se trata da fruta ou estuário. A semântica mostra, por exemplo, que o modo como se dizem certas coisas faz pressupor outras, a partir do conhecimento possuído de antemão pelo interlocutor. Assim, quando digo “Marcos saiu do hotel bêbado”, eu entendo que meu interlocutor saiba ou aceite que Marcos estava no hotel. Posso subentender mais, que Marcos entrou no hotel sóbrio.A linguagem é constituída de sons e significados. A semântica é a parte da linguística que se interessa pela natureza, função só desse significado. A semântica não estuda os significados como um dicionário, mas da maneira como os significados ocorrem integrados nos textos falados e escritos. A SINTAXE Estuda tudo o que se relaciona com a combinação linear de morfemas. É a sintaxe que explica porque o português vai usar um tipo de construção de frases composto de sujeito + verbo 51 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita + objeto + advérbio ou outro tipo de construção com o tópico + comentário (este último, com seu sujeito, verbo, objeto e advérbio). Compare os dois exemplos a seguir: “Eu achei a bola ali.” “A bola, eu achei ali.” O primeiro exemplo que é falado sem pausa entre as palavras e representa uma estrutura sintática do tipo sujeito + predicado. O segundo exemplo diz o mesmo que a frase anterior, porém com uma estrutura sintática diferente. Nesse caso, o falante isola a palavra “bola”, que na frase anterior era objeto direto, e a coloca no início da frase. Isso confere ênfase especial a esse item lexical. Após a pausa, a frase continua, aparecendo pronome invés de uma ocorrência repetida da palavra bola. Essa segunda estrutura sintática consiste em salientar um ideia primeiro e depois dizer o que se pretende a respeito dela. Os linguistas chamam esse tipo de estrutura de tópico de comentário. Repare que o mesmo não pode dizer da segunda frase: “Quanta bobagem se dizem os namorados.” (Erico Veríssimo e Clarice). 58 A frase é a menor unidade do discurso, suficiente para expressar um pensamento e estabelecer comunicação. - Eugenia desativou-se nesse dia por minha causa. (Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas). • Uma só palavra Ex: “Socorro!” “Venha!” “Fora!” • Várias palavras, com ou sem verbo. Ex: “Vou telefonar para a polícia.” “Acordei com a campainha da porta da rua.” “Que frio!” “Que sono!” 52 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita A frase pode conter uma ou mais orações: contém uma oração quando apresenta uma só forma verbal, clara ou oculta. Ex: “O senhor é um lunático!” (clara) ou “Na casa, só choro e gritaria” (oculta). Duas ou mais formas verbais, que compõem uma locução verbal. Ex: “A menina vinha chorando”. “A chuva começava a cair”. Contém mais de uma oração quando apresenta mais de um verbo ou locução verbal clara ou oculta. Ex: “A menina vinha chorando porque a chuva começava a cair”. “Os trovões eram assustadores e o céu ficou escuro como a noite”. Período é a frase organizada em uma ou mais orações. O período termina sempre com pausa bem definida, marcada por ponto, ponto de exclamação, ponto de interrogação, reticência e, às vezes, dois pontos. Pode ser: por ela”. Simples - quando é formada por uma só oração, chamada absoluta. Ex: “Eu era louco Composto - quando é formado por duas ou mais orações. Ex: “Mestre Januário Gereba prometera vir buscá-la para lhe mostrar o porto, a barcaça Ventania e o começo do mar mais além da cidade.” TERMOS ESSENCIAIS DA ORAÇÃO 59 Sujeitos e Predicados Sujeito simples, sujeito composto, sujeito oculto (determinado), sujeito indeterminado e oração sem sujeito. Predicado pode ser: Nominal, Verbal, e Verbo-nominal. Predicado verbal Ex: O cavalo relinchou (intransitivo). Mantenha a ordem (transitivo direto). Assisti a uma bela peça de teatro (transitivo indireto). O Juiz deu-lhe a sentença (transitivo direto e indireto). 53 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita Predicado nominal Aquele cujo núcleo é um nome (predicativo). Nesse tipo de predicado o verbo não é significativo e sim de ligação. Serve de elo entre o sujeito e o predicativo. Ex.: O amor é um sentimento nobre (verbo de ligação). Predicativo: um sentimento nobre. Predicado verbo-nominal Aquele que possui dois núcleos: um verbo significativo e um predicativo do sujeito ou do objeto. Ex.: Mário ligou a TV, ansioso (verbo ligou, predicativo ansioso). Termos Integrantes da Oração Adjunto adnominal É o termo que se liga a um nome ou palavra substantivada para qualificá-lo ou determiná-lo. É expresso geralmente por um adjetivo, locução adjetiva, artigo, pronome ou numeral. Ex.: Neste domingo, estimule a criatividade de seus filhos. 60 Complemento nominal É o termo da oração exigido como complementação de alguns nomes (substantivos, adjetivos ou advérbios). Geralmente é regido de preposição. Ex: Os alunos tinham disposição para a caminhada. Predicativo É o termo da oração que qualifica, classifica ou expressa um estado do núcleo do sujeito ou do núcleo do objeto. Ex.: Os jogadores saíram alegres. (predicativo do sujeito) Os jogadores consideraram o jogo fraco. (predicativo do objeto) Aposto 54 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita Em geral o oposto vem separado por vírgula, dois pontos, travessão e parênteses Ex: Aquele momento, foi instintivo: saí gritando! Vocativo É o termo de entoação exclamativa que serve apenas para invocar, chamar ou nomear uma pessoa objeto. Termos Ligados ao Verbo Existem alguns termos que se ligam aos verbos. São eles: • Adjunto adverbial • Agente da passiva • Objeto direto • Objeto indireto Adjunto adverbial É o termo da oração que se liga ao verbo, adjetivo ou advérbio para indicar uma circunstância (tempo, lugar, modo, intensidade, negação, finalidade...). Agente da passiva 61 É o termo da oração que se liga ao verbo para indicar o agente da ação verbal. Sempre vem precedido de preposição. Ex.: O presidente foi saudado pelos quarenta presentes. Período Composto Conjunto de orações constituído por mais de uma oração O período composto pode ser: Período composto por coordenação No período composto por coordenação, as orações se ligam pelo sentido, mas não existe dependência sintática entre elas. 55 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita As orações coordenadas de subdividem em: • Assindéticas - Não são introduzidas por conjunção. Ex.: Estudou, sempre irá estudar. • Sindéticas - São introduzidas por conjunção. Esse tipo de oração se subdivide em: 1 - Aditiva: ideia de adição, acréscimo. Principais conjunções usadas: e, nem, (não somente), como também. Ex.: Ele não era homem de fugir da raia. 2 - Adversativa: ideia de contraste, oposição. Principais conjunções usadas: mas, contudo, entretanto, porém... Ex.: Comprou o livro, mas não leu. 3 - Alternativa: ideia de alternativa, exclusão. Principais conjunções usadas: quer...quer, ora...ora, ou...ou. Ex.: Estude ou perderá o ano. 4 - Conclusiva: ideia de dedução, conclusão. Principais conjunções usadas: portanto,2pois, logo... Ex.: Vivia mentindo, logo, não merecia fé. 5 - Explicativa: ideia de explicação, motivo. Principais conjunções usadas: pois, porque. Ex.: Não minta, porque será pior. Período composto subordinado No período subordinado, existe pelo menos uma oração principal e uma subordinada. Ex.: O Papai gostava / de que todos olhassem para ele. Oração principal: O papai gostava Oração subordinada: de que todos olhassem para ele. A oração principal está incompleta, falta objeto indireto para o verbo gostar. A 56www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita oração subordinada desempenha a função de objeto indireto da principal. As orações subordinadas se subdividem em: Substantivas, Adjetivas, Adverbais. CONCORDÂNCIA A concordância pode ser feita de três formas: 1 - Lógica ou gramatical: é a mais comum no português e consiste em adequar o determinante (acompanhante) à forma gramatical do determinado (acompanhado) a que se refere. Ex.: A maioria dos alunos faltou. O verbo (faltou) concordou com o núcleo do sujeito (maioria). 2 - Atrativa: é a adequação do determinante: a) apenas um dos vários elementos determinados, escolhendo-se aquele que está mais próximo: Ex: Escolheram a hora e o local adequado. O adjetivo (adequado) está concordando com o substantivo mais próximo (local). 3 - Ideológica ou silepse: consiste em adequar o vocábulo determinante ao sentido do vocábulo determinado e não à forma como se apresenta: Ex: Vou agora te contar como entrei inexpressivo, que sempre foi minha busca cega e secreta (Clarice Lispector, A paixão segundo GH). Como é fácil de verificar, os organismos vivos preferem, é claro, as temperaturas brandas e estão mais adaptados às reações dedicadas. É por isso que bem compreendemos a importância da atmosfera primitiva, pesada dos planetesiamais; ela como que acobertou a terra (Segundo Chamberlin) contra a intensidade de radiação vinda do exterior e as desigualdades da radiação do interior. (ERICO VERÍSSIMO, Viagem à aurora do mundo). Chequei de volta à escola e deparei com inúmeras novidades: paredes pintadas de novo, as carteiras novas em folha, os professores rejuvenescidos, os alunos mais alegres e inteligentes. (CLARICE LISPECTOR, A paixão segundo GH, 1998, 55). Ex: Quem comeu o bolo que deixei aqui? Ex: Ai, que dor de dente! “É melhor pagar um pouco mais do que correr o risco de ficar sem estoque no futuro”, disse Attilio Sottie, diretor de compra da Pirelle, em Milão. (O Estado de São 57 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita Paulo, 31/03/1998). “Não era pecado... devia ficar alegre, sempre alegre e esse era um gosto inocente, que ajudava a gente a se alegrar”. (João Guimarães Rosa). 64 Os alunos, extasiados com sua fala, aplaudiram. O verbo (aplaudiram) concorda com a ideia da palavra alunos (plural) e não com sua forma (singular). Existem dois tipos de concordância: verbal / nominal. REGÊNCIA É a parte da Gramática Normativa que estuda a relação entre dois termos, verificando se um termo serve de complemento a outro. A palavra ou oração que governa ou rege as outras se chama regente ou subordinante; os termos ou oração que dela dependem são os regidos ou subordinados.65 Ex.: Aspiro o perfume da flor (cheirar). / Aspiro a uma vida melhor (desejar). Regência Verbal Regência Nominal CRASE É o fenômeno sintático, consistindo na fusão de duas vogais iguais, a saber: da preposição a com o artigo a(s) ou com os pronomes demonstrativos aquela(s), aquele(s) ou aquilo. 66Uso da Crase - antes de numerais, locuções adverbiais, palavras da moda. Não se usa: Passeio a cavalo, Ficou a ver navios, Retirou-se a cronista da moda, Saíram uma a uma. De hoje a 5 de maio. Crase Facultativa - diante de nomes próprios, depois da preposição, antes de pronomes possessivos femininos. Casos Especiais - Casa: indeterminada; Terra: Não craseamos quando estiver em oposição a “estar a bordo”; Distância: Se indeterminada, não craseamos (contemplar a distancia), se determinada, craseamos (Vejo o navio à distancia de 3 km). COLOCAÇÃO PRONOMINAL Colocação de pronomes oblíquos átomos harmonizam a frase. Segundo sua posição junto ao verbo, chama-se: 58 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita a) Próclise 67 b) Mesóclise c) Ênclise Próclise: É a colocação pronominal antes do verbo. A próclise é usada: 1) Quando o verbo estiver precedido de palavras que atraem o pronome para antes do verbo. São elas: a) Palavra de sentido negativo: não, nunca, ninguém, jamais, etc. Ex.: Jamais lhe pedirei um favor. b) Advérbios. Ex.: Sempre me lembro dela. c) Conjunções subordinativas. Ex.: Disse que me pediria perdão. d) Pronomes relativos. Ex.: Há pessoas que nos querem bem. e) Pronomes indefinidos. Ex.: Tudo se acaba. f) Pronomes demonstrativos. Ex.: Disso me acusaram, mas sem provas. 2) Orações iniciadas por palavras interrogativas. Ex.: Quem te fez a reclamação? 3) Orações iniciadas por palavras exclamativas. Ex.: Quanto se agridem é nada! 4) Orações que exprimem desejo (orações optativas). Ex.: Que Deus o proteja. Mesóclise: É a colocação pronominal no meio do verbo. A mesóclise é usada: 1) Quando o verbo estiver no futuro do presente ou futuro do pretérito, contanto que esses verbos não estejam precedidos de palavras que exijam a próclise. Ex.: Pedir-lhe-ei o livro emprestado. Pedir-lhe-ia o livro emprestado. Ênclise: É a colocação pronominal depois do verbo. A ênclise é usada quando a próclise e a mesóclise não forem possíveis: 1) Quando o verbo estiver no imperativo afirmativo. Ex.: Quando eu avisar, silenciem-se todos. 59 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita 2) Quando o verbo estiver no infinitivo impessoal. Ex.: Não era minha intenção machucar-te.68 3) Quando o verbo iniciar a oração. Ex.: Vou-me embora agora mesmo. 4) Quando houver pausa antes do verbo. Ex.: Se eu ganho na loteria, mudo- me hoje mesmo. 5) Quando o verbo estiver no gerúndio. Ex.: Recusou a proposta fazendo- se de desentendida. Todas essas palavras representam a mesma ideia: lugar onde se mora. Logo, trata-se de uma família de ideias. • Casa, moradia, lar, abrigo / residência, sobrado, apartamento, cabana Observe outros exemplos: • Revista, jornal, biblioteca, livro • Casaco, paletó, roupa, blusa, camisa, jaqueta • Serra, rio, montanha, lago, ilha, riacho, planalto • Telefonista, motorista, costureira, escriturário, professor SINONÍMIA – (SINÔNIMOS). Ex.: Desramar - mondar / Despertar - acordar ANTONÍMIA (ANTÔNIMOS). Ex.: Limpar - sujar HOMONÍMIA - É a relação entre duas ou mais palavras que, apesar de possuírem significados diferentes, possuem a mesma estrutura fonológica - HOMÔNIMOS. As homônimas podem ser: • Homógrafas heterofônicas (ou homógrafas) - são as palavras iguais na escrita e diferentes na pronúncia. Ex.: gosto (substantivo) - gosto (1.ª pess.sing. pres. ind. - verbo gostar). Conserto (substantivo) - conserto (1.ª pess.sing. pres. ind. - verbo consertar). • Homófonas heterográficas (ou homófonas) - são as palavras iguais na pronúncia e diferentes na escrita. Ex.: cela (substantivo) - sela (verbo) / Cessão (substantivo) - sessão (substantivo). Cerrar (verbo) - serrar (verbo). • Homófonas homográficas (ou homônimos perfeitos) - são as palavras iguais na pronúncia e na escrita. Ex.: cura (verbo) - cura (substantivo) / Verão (verbo) - verão (substantivo), Cedo (verbo) - cedo (advérbio) / Cesta = utensílio de vime, etc. Sexta = ordinal referente a seis. Cheque = papel com ordem de pagamento 60 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita / Xeque = lance no jogo de xadrez. • Paronímia - É a relação que se estabelece entre duas ou mais palavras que possuem significados diferentes, mas são muito parecidas na pronúncia e na escrita – PARÔNIMOS - Ex.: cavaleiro – cavalheiro. Absolver – absorver. Comprimento – cumprimento TÉCNICA DE COMUNICAÇÃO E REDAÇÃO A observação importanteacerca do que podemos fazer em relação às metodologias usadas se refere às práticas, que diferem um pouco. Assim, podemos perceber que apesar de terem uma visão na formação de aprendizagem das crianças os professores acreditam que a sequência ainda é a melhor solução para aprender a ler e escrever, talvez por não concordar com as teorias globais ou talvez pelos resultados que supõem ter com essas práticas. 70 Apesar de estarem separados como dois blocos no momento da realização da pesquisa, é indispensável atentar que a escrita e a leitura são práticas mutuamente complementares que se transformam quando trabalhadas individualmente, ou seja, a fala ajuda na construção dos traços da oralidade, enquanto que a escrita modifica a fala em linguagem culta. O domínio da cultura, por sua vez é denso e as mudanças linguísticas certamente são um ponto mais complicado a ser enfrentado em qualquer debate. Sabe-se que o insucesso desse desempenho já vem de forma incontestável, que não se consegue sucesso no ensino sem se alterar a produção da gramática. Os desmandos, preconceitos e os efeitos perniciosos de tudo isso só se resolvem quando se puser o texto no centro de todas as focalizações, com normas gramaticais nos limites do funcionamento da língua, funcionamento que não se dá abstraído dos contextos sociais e das funções interativas. Que o aluno, ao chegar à escola, possa presenciar o estudo da língua que não se reduza a um conteúdo insípido e inócuo, destituído de sentido social e de relevância comunicativa. Que o estudo possa significar a expressão da compreensão e da explicitação de como as pessoas se comportam. Esse encontro com a realidade é que nos reserva o desenvolvimento e objetivo que se almeja alcançar. A maioria das vezes o aluno tem contato direto com os meios de comunicação 61 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita que estimulam a escrita, mas falta o acompanhamento dos pais, que por falta de conhecimento e instrução não favorecem essa relação. Esse desencontro familiar influencia a vida da criança, que leva para sala de aula um problema bem maior e que precisa ser resolvido. A escola nos últimos tempos vem com uma responsabilidade bem maior em formar pessoas para serem inseridas em uma sociedade letrada de concorrência, onde o mais preparado assume o melhor lugar. Para a escola alcançar seus objetivos ela caminha em direção à escrita com conhecimento letrado, um mundo escrito que circula socialmente. Na comunidade que usa esses inscritos circulam ideias que contém seus próprios sucessos. Os momentos diferenciados dentro do ensino exigem um trabalho em dois significativos capítulos. No primeiro, a importância da escrita apresenta como redigir em linhas gerais uma proposta do ensino e como produzir. No segundo capítulo trabalha as propostas possíveis para formação dos letrados. Por isso, trabalhar Aquisição da Leitura e Escrita é saber que a sua importância leva a uma compreensão crítica da aceitação, seja em que seguimento for, relatando experiências de políticas educacionais, pensando e repensando sua própria prática e sua vivência. Entretanto, a leitura da palavra é sempre precedida da leitura do mundo. Aprender a ler e escrever, antes de tudo, é compreender o seu contexto em uma relação dinâmica vinculada à linguagem de sua realidade. Outros aspectos importantes na organização da Aquisição da Leitura e Escrita são a maneira como ela está sendo trabalhada. Os seguimentos consonantais e vocálicos afetam também o seguimento que precedem ou que os seguem. Portanto, o estímulo vem cada vez mais criar interesse na criança para que seu aprendizado não se perca no tempo. A criança aprende se desenvolvendo e se desenvolve aprendendo. A proposta de redação constitui, provavelmente, o aspecto mais importante do desenvolvimento da escrita, dado que pode refletir a presença ou a ausência de uma metodologia redacional. Pode-se falar em presença de uma metodologia redacional quando, em uma proposta de redação, os objetivos a serem alcançados são claros e ao mesmo tempo estão relacionados a outros objetivos de etapas anteriores e posteriores. Existem três modos básicos de redação: descrever, narrar, dissertar. A descrição é uma caracterização: o redator apresenta características de alguma coisa 62 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita - de uma pessoa, de um objeto, de uma paisagem, de um bicho, de uma planta, de um ser imaginário, etc. Características que você percebeu e que, com o seu texto, levam o leitor a perceber. A redação descritiva trabalha com a nossa capacidade de percepção, enquanto sujeitos que estamos em contato com o mundo. A descrição deve, pois, ir além do simples retrato: deve transmitir ao leitor uma visão pessoal ou uma interpretação do autor acerca daquilo que descreve, de modo a nos transmitir uma imagem singular, original e criativa por meio dos sentidos. Mesmo que toda descrição revele, em maior ou menor grau, a impressão do autor sobre aquilo que descreve. Tradicionalmente, as descrições são classificadas pelo assunto que abordam. Nessa classificação, dois tipos se destacam: a descrição geográfica e o retrato. A descrição geográfica trata da aparência das coisas não humanas, tal qual se dá a percepção. O retrato trata das aparências do ser humano, enquanto indivíduo ou tipo, tanto físicas como de caráter e ideologia. Descrição objetiva: quando o objeto, o ser, a cena, a passagem são apresentadas como realmente são, concretamente. Descrição subjetiva: quando há maior participação da emoção, ou seja, quando o objeto, o ser, a cena, a paisagem são transfigurados pela emoção de quem escreve. Enquanto na descrição predominam os substantivos e adjetivos, a narração enfatiza o verbo, pois sua função é contar, relatar um fato ocorrido, presente ou por acontecer. A narrativa é uma descrição abstrata e complexa que substitui o objeto estático pela dinâmica do acontecimento ou transformação das coisas: uma partida de futebol, a construção de uma catedral, a queda de um ditador. Na narrativa o objeto deixa de ser concreto e único para se transformar na relação factual entre sujeito e predicado. A dissertação, por sua vez, atinge uma complexidade lógica ainda maior, pois seu foco abandona o mundo concreto para se concentrar no plano dos significados. A dissertação expressa uma opinião, um ponto de vista, um julgamento sobre o objeto descrito ou sobre o fato narrado. Não se passa a dissertação no mundo extenso, mas no foro íntimo do sujeito. A dissertação interpreta a realidade, além de expressar uma metodologia redacional; a proposta de redação deve envolver o aluno no processo da escrita, despertando nele o prazer e a necessidade de produzir um texto. ETAPAS DE UMA REDAÇAO 63 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita Proposta de Redação História em quadrinhos, filmes, slides, fotos, jornal, poesia Professor propõe, sugere, explica, discute Preparação coletiva e individual Dramatização Debate Desenho Sensibilização Aluno pensa, sente, imagina, fala, discute, organiza Produção de texto Escrita individual Escrita livre Escrita espontânea Escrita sem censura Aluno escreve e cria RASCUNHO Intercâmbio de textos Professor lê Aluno lê para os colegas Alunos trocam os textos O aluno ouve, analisa e critica Reescritura do texto Aluno consulta Roteiro de releitura Leitura crítica Aluno avalia, apaga, acrescenta, altera, reescreve Texto passado a limpo Leitura crítica Avaliação Orientação Professor lê e comenta, corrige,orienta Correção Muitas são as dificuldades que surgem para se redigir alguma coisa, mormente quando constitui tarefa escolar. Há vários caminhos que o professor pode utilizar para preparar adequadamente o aluno para um processo de produção de texto: dramatização, debate, desenho, sensibilização. A escolha de uma dessas estratégias depende em princípio da proposta de redação. Além da capacidade de expressão escrita, a prova de redação pretende identificar aquele aluno que sabe ler criticamente, que é capaz de interpretar dados e fatos e de construir, a partir deles, um texto claro, coeso e coerente. Desse modo, é essencial o manuseio do conteúdo dos textos constantes das coletâneas, desprezá-los significa anulação de sua redação. Os critérios de avaliação não apresentam novidade, mas nem por isso devem 64 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita ser desprezados. Parta do princípio de que seu texto é resposta a uma questão específica, essa questão é a proposta temática apresentada. Assim, na produção de seu trabalho, para que ele atinja o máximo de correção possível, escreva à luz dos critérios pelos quais a avaliação será encaminhada. A dramatização permite ao aluno vivenciar aquilo que está sendo relatado no texto e despertar a observação: início, desenvolvimento e conclusão. A Redação contém: invenção (meditar o assunto, procurar a ideia central, descobrir ideias acessórias, descobrir imagens). Plano (seleção das imagens, unidade do trabalho, fazer um esquema, orientação lógica ou cronológica, escolha das frases e palavras). Redação (naturalidade e espontaneidade, clareza, forma literária, harmonia, originalidade, simplicidade). Escrever sem dúvida é uma arte. Mas ainda que não pretenda ser um Camões pode (e deve!) exercitar sua redação. Basicamente existem três estilos de redação que são trabalhadas: • Narração • Descrição • Dissertação Cada um desses tipos de redação possui suas próprias características de construção. Narrar significa contar, relatar. É o ato de contar uma história. A literatura, em geral, utiliza a narração para descrever suas histórias, mais não é o único gênero que se serve desse estilo de escrita. As reportagens jornalísticas contêm muitos elementos de narração. Ex: Fulano da Silva, engenheiro, 54 anos, estava andando na rua quando uma bala perdida o atingiu... A estruturação da notícia nos apresenta um ato que é transformado, ou, em outras palavras, o sujeito estava primeiramente em uma situação que depois passou a ser outra. O texto narrativo apresenta uma progressão de ações representada pelos verbos de ação. Ex: Maria subiu até a casa, tocou a campainha, chamou por Claudia e esperou. TIPOS DE DISCURSO 65 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita Quando aparece a fala direta de um personagem, é o diálogo. Ex:Ana escutara com o rosto em fogo. O pai ficou de cabeça baixa, calado. Ela se lembrara bem do que o velho Terra Antonio, o filho mais velho, tinha dito depois. - Pai, eu acho que devia ter ido com ele Murmurou o rapaz, olhando os soldados que se afastava na direção do poente. O velho respondeu: - Não criei filho para andar dando tiro por aí. O melhor é vosmicê ficar aqui agarrado ao cabo duma enxada. Isso é que é trabalho de homem. - O major é um patriota, meu pai, ele precisa de soldados para botar para fora os castelhanos. O velho ergue a cabeça e encarou o filho: - Patriota? Ele está mais é defendendo as estâncias que têm. O que quer é retomar suas terras que os castelhanos invadiram. Pátria é casa da gente. (Ana Terra, Érico Veríssimo, 1999, 70). Descrição Apesar de ser pouco mais de duas horas, o crepúsculo reinava nas profundas e sóbrias abóbadas de verdura: a luz, coando entre a espessa folhagem, se decompunha inteiramente; nem uma réstia de sol penetrava nesse templo da criação, ao qual servia de colunas os troncos seculares dos acaris araribás. O silêncio da noite, com os seus rumores vagos e indecisos e os ecos amortecidos, dormia no fundo dessa solidão e era apenas interrompido um momento pelo passo dos animais que faziam estalar as folhas secas. Parecia que eram seis horas da tarde e que o dia caindo envolvia a terra nas sombras pardacentas do caso. (O Guarani, José de Alencar, 1977, p. 35). Dissertação Quando se pede a alguém que disserte sobre um determinado tema, espera- se um texto em que sejam expostos e analisados, de forma coerente, alguns dos aspectos e argumentos envolvidos na questão tematizada. Não há escrita sem leitura, sem reflexão, sem a adoção de um ponto de vista e, pode-se mesmo dizer, sem um desejo, por parte de quem escreve, de se manifestar a respeito de um determinado tema. Assim, é especialmente importante que, em uma dissertação, sejam 66 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita apresentados e discutidos fatos, dados e pontos de vista acerca da questão proposta. Ora, para que você consiga desincumbir-se dessa tarefa de forma adequada (especialmente em uma situação como a de um exame vestibular, em que há certa tensão, o tempo é controlado...), a Unicamp coloca à sua disposição, sob a forma de uma coletânea, diversos elementos que devem ser levados em conta para a discussão do tema proposto. Garantimos, assim, que você não tenha de “partir da estaca zero”, para construir sua redação. Essa é uma função importante da coletânea de textos que acompanha o tema para dissertação. (Essa coletânea, como vimos no capítulo anterior, tem também o objetivo de avaliar a sua capacidade de leitura, interpretação e seleção de informações). Do que foi dito acima, você deveria concluir imediatamente que escrever um texto dissertativo não é apenas tecer comentários impessoais sobre determinado assunto, tampouco limitar-se a apresentar aspectos favoráveis e contrários e/ou positivos e negativos da questão. 77 Mas vamos tentar ajudá-lo um pouco mais, uma vez que tal conclusão pode não ser tão imediata assim. Consideremos duas instruções que muito frequentemente acompanham “definições” de dissertação: (1) que nela não se deve “falar” em 1ª pessoa; (2) que devem, em um texto dissertativo, ser apresentados argumentos favoráveis e contrários à(s) ideia(s) sobre a(s) qual(is) se está escrevendo. Significa discorrer sobre ideias, expondo e argumentando sobre o seu ponto de vista. Características do Texto Dissertativo Um texto é dissertativo quando: 1) Apresenta um tema delimitado a ser discutido. O texto não deve fugir ao tema, para garantir sua coerência interna; 2) Demonstra o posicionamento de quem escreve acerca do tema proposto; 3) Possui unidade e coerência de ideias; 4) Possui argumentos convincentes do ponto de vista defendido. Estrutura do texto Dissertativo 67 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita 1) Introdução - é o início do texto, contendo o tema a ser desenvolvido, exposto com muita clareza. 2) Desenvolvimento - organização lógica do pensamento, contendo argumentos que defendam o posicionamento adotado. 3) Conclusão – consequência natural da argumentação. É a síntese do problema, apresentado como decorrência do que já foi dito. Recursos de Argumentação 1) Argumento de autoridade - consiste no emprego de uma citação de frase ou pensamento de uma autoridade no assunto discutido. 2) Argumento por ilustração e/ou exemplificação - consiste no uso de exemplos práticos da realidade que contribuam para esclarecer o ponto de vista adotado. 3) Argumentoorganizado pelo pensamento lógico - são basicamente de dois tipos: a) Organização por dedução - quando o pensamento parte das ideias gerais e chega às ideias particulares. b) Organização por indução - exatamente o contrário da argumentação por dedução. 4) Argumento de prova concreta - consiste em utilizar-se uma prova concreta (dados estatísticos, leis, fatos, do conhecimento geral) para reforçar a ideia que se defende. 5) Argumento de competência linguística - consiste na apresentação de forma clara, através de um estruturamento lógico do pensamento, e da clareza gramatical. Os meios de comunicação de massa devem alterar, nas próximas duas ou três décadas, em boa parte da fisionomia do mundo civilizado e das relações entre os homens e os povos. A educação, mola mestra deste impulso irresistível, é modernizada dia a dia a fim de suprir as novas necessidades que se multiplicam, adaptando o homem contemporâneo ao chamado das estrelas, que ele já não se 68 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita satisfaz em contemplar. O marco divisório entre os dois mundos, o que avança destemido e o que marca passo no círculo de giz e suas estruturas arcaicas, e tradicionais e sem dúvida nenhuma a educação. É que ao produzir tecnologia encaminha as soluções permanentes concebidas em nível de magnitude, por isso mesmo é a matéria-prima prioritária é o elemento deflagrador do processo rápido. Muitas nações subdesenvolvidas já despertaram para a ampla semeadura educacional. O fato de pensar-se na educação como meio de desenvolvimento já constitui um sistema de desenvolvimento, uma atitude para o desenvolvimento. Nem todas, porém, lograram ainda preencher o hiato entre o desejo e a vontade de se desenvolverem. O hiato persiste sob a forma e uma mentalidade rançosa, impermeável às mudanças. E, quando o influxo reformista vence barreiras e busca implantar-se, defronta quase sempre com a falta de organização e os condicionamentos superados. Só a esperança não basta; é preciso a consciência. (Manual de Redação & Gramática Aplicada, Luis Fernando Mazzarotto, 1999, 120). A subjetividade na avaliação de uma redação advém, em grande parte, da multiplicidade e critérios, nem sempre explícitos, que o professor utiliza para avaliar o texto. O leitor crítico se baseia em critérios, conscientes ou não, que foram abstraídos a partir de leituras que compõem o seu universo cultural. TÉCNICA DE ELABORAÇÃO DE TEXTOS TÉCNICOS Um bom artigo científico deve ser escrito com clareza, precisão e fluência, de tal forma que o leitor se sinta interessado em sua leitura e seja capaz de entender o seu conteúdo facilmente. O artigo deve apresentar adequadamente os objetivos, a metodologia utilizada e os resultados encontrados. Infelizmente, um grande número de artigos científicos e técnicos é recusado para publicação devido à má qualidade da apresentação. 80 Por vezes, eles possuem um excesso de páginas, informações irrelevantes, ausência de conclusões precisas, tabelas e gráficos mal feitos e carência de comparação dos resultados com trabalhos anteriores. Ao contrário do que muitas pessoas acreditam, equações claras não são suficientes para uma comunicação 69 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita efetiva em um artigo científico, elas deverão ser acompanhadas por um bom texto explicativo que conduza o leitor através do trabalho. Além de manter uma boa organização na apresentação dos objetivos, fatos e conclusões, você também deve tomar cuidado com a ortografia e a gramática para que o leitor não tenha problemas para entender o que você está tentando dizer. Aqui você encontrará algumas sugestões práticas e pontos a serem considerados durante a redação de um artigo científico ou técnico, como: • Por que publicar um artigo? • O que escrever em cada etapa de um artigo científico? • Dicas de redação • Revisão e Edição • Tradução • Considerações Finais POR QUE PUBLICAR UM ARTIGO? Existem várias razões para se publicar um artigo técnico ou uma publicação científica, como: ➢ Divulgação científica - A publicação de um artigo científico ou técnico é uma forma de transmitir à comunidade técnico-científica o conhecimento de novas descobertas e o desenvolvimento de novos materiais, técnicas e métodos de análise nas diversas áreas da ciência. ➢ Aumentar o prestígio do autor - Pesquisadores com um grande volume de publicações desfrutam do reconhecimento técnico dentro da comunidade científica, alcançam melhores colocações no mercado de trabalho e divulgam o nome da instituição a qual estão vinculados. 81 ➢ Apresentação do seu trabalho - Muitas instituições de ensino e/ou pesquisa, e várias empresas comerciais frequentemente requerem que os seus profissionais apresentem o progresso de seu trabalho e/ou estudo através da publicação de artigos técnico-científicos. ➢ Aumentar o prestígio da sua instituição ou empresa - Instituições http://www.freewebs.com/infinitetrans/artigo.html#n1%23n1 http://www.freewebs.com/infinitetrans/artigo.html#n2%23n2 http://www.freewebs.com/infinitetrans/artigo.html#n3%23n3 http://www.freewebs.com/infinitetrans/artigo.html#n4%23n4 http://www.freewebs.com/infinitetrans/artigo.html#n5%23n5 http://www.freewebs.com/infinitetrans/artigo.html#n6%23n6 70 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita ou empresas que publicam constantemente usufruem do reconhecimento técnico de seu nome, o que ajuda a atrair maiores investimentos e ganhos para esta organização. ➢ Se posicionar no mercado de trabalho - O conhecido ditado em inglês “Publish or perish”, ou seja, “Publique ou pereça”, provavelmente nunca foi tão relevante como nos dias de hoje. Redigir um artigo técnico lhe trará uma boa experiência profissional e contribuirá para enriquecer o seu currículo, aumentando assim suas chances de obter uma melhor colocação no mercado de trabalho. O QUE ESCREVER EM CADA ETAPA DE UM ARTIGO CIENTÍFICO Abaixo apresentamos o formato mais comum utilizado para se redigir um artigo técnico ou científico. Título: Faça um título curto, que chame a atenção e, além de tudo, que reflita o tema principal do artigo. Nome do autor e afiliação: Escreva o seu nome e a sua afiliação de forma uniforme e sistemática em todas as suas publicações para que seus artigos possam ser citados de forma correta por outros autores. Corpo do artigo: Definição do problema - Defina o problema ou tópico estudado, explique a terminologia básica e estabeleça claramente os objetivos e as hipóteses. Note que artigos são frequentemente rejeitados para publicação porque os autores apresentam apenas os objetivos, mas não as hipóteses. Formulação teórica, materiais e métodos: Apresente as formulações teóricas e hipóteses. Liste de forma abrangente todos os materiais e a metodologia utilizada de forma que os leitores sejam capazes de reproduzir o seu estudo. Em trabalhos experimentais, não faça um diário de eventos, mas reorganize os procedimentos de uma forma coerente. Você deverá explicar claramente os procedimentos usados para solucionar o problema e explanar cada etapa destes procedimentos. Não omita detalhes importantes. Tudo o que você puder escrever que irá validar o seu estudo deverá ser incluído nesta seção. Utilize métodos eficientes e precisos ao invés de técnicas ultrapassadas. Dê crédito ao trabalho de outras pessoas através de referências: forneça detalhes de conceitos discutidos e/ou refira-se às fontes. 71 www.soeducador.com.br Processo de ensinoe aprendizagem leitura e escrita Resultados: Faça tabelas com os dados obtidos, mas guarde os seus comentários para a seção Discussão. Uma vez que artigos com tabelas irão obter um maior número de citações porque outros pesquisadores podem usar os seus dados como base de comparação, construa suas tabelas com sublegendas adequadas para as linhas e colunas. Se possível, utilize figuras, gráficos e outras representações diagramáticas atrativas para ilustrar claramente os seus dados. Gráficos e tabelas devem sempre ter legendas, dizendo exatamente o que representam. Falhas comuns em artigos técnicos incluem o uso inapropriado de tabelas e figuras que confundem os leitores, e a falta de análises estatísticas adequadas. Tabelas devem ser incluídas quando se deseja apresentar um número pequeno de dados. Não devem ser usadas para listar dados levantados para se pilotar um gráfico. Neste caso, apenas o gráfico deve ser apresentado. A seção Resultados deve ser apenas longa o suficiente para apresentar as evidências de seu estudo. Discussão: Os revisores técnicos irão aceitar o seu artigo para publicação se eles estiverem convencidos de que os seus resultados são válidos. Assim, apresente argumentos convincentes e adequados, prova matemática, exemplos, equações, análises estatísticas, padrões/tendências observadas, opiniões e ideias além da coleção de números coletados e tabelados. Faça comparações com resultados obtidos por outros pesquisadores, caso existam. Sugira aplicações para o seu trabalho. Conclusão: Resuma, aponte e reforce as ideias principais e as contribuições proporcionadas pelo seu trabalho. Você pode iniciar a sua conclusão dizendo o que foi aprendido através do seu estudo. Sua conclusão deve ser analítica, interpretativa e incluir argumentos explicativos. Você deve ser capaz de fornecer evidências da solução de seu problema através dos resultados obtidos através do seu trabalho. Trabalho Futuro: Comente sobre os seus planos para um trabalho futuro com relação ao mesmo problema, ou modificações a serem feitas e/ou limitações do método utilizado que poderão ou não ser superadas. Agradecimentos: Dê crédito às pessoas e organizações por qualquer suporte técnico e/ou financeiro recebido durante a realização de seu estudo. Cite também 72 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita qualquer material com direitos autorais ou "copyright" utilizado com permissão. Referências: A seção das referências demanda tempo para ser organizada e é de extrema importância. Mantenha o estilo exigido pelo congresso ou jornal técnico. As referências normalmente seguem a ordem de aparecimento no texto. Obedeça sempre as normas de publicação específicas de cada publicação. Forneça informações completas sobre as referências utilizadas. Apêndices: Insira como apêndice as informações que não são fornecidas no texto principal como, por exemplo, questionários ou software utilizado. DICAS DE REDAÇÃO Anexe todos os gráficos e tabelas ao documento. Use as cores branca, preta ou tons de cinza em suas figuras uma vez que muitos congressos e jornais técnicos não publicam em cores. Muitas vezes o tamanho dos artigos é limitado entre 6 a 10 páginas (incluindo figuras). Escreva concisamente. Use um manual técnico de redação e estilo para ajudá-lo com a estrutura de parágrafos e sentenças, utilização de palavras, estilo de redação, elaboração de figuras e tabelas, etc. Confira a ortografia e a gramática com o auxílio de seu editor de texto. Imprima ou copie os “Regulamentos para Publicação” do congresso ou jornal onde você deseja ver o seu artigo publicado. É extremamente importante reconhecer o formato básico exigido. O seu artigo pode ser rejeitado por não se encontrar no formato padrão, mesmo que apresente um bom conteúdo. Margens, espaçamentos, numeração de páginas e figuras, e o estilo das referências, são todos aspectos importantes. Pode ser útil ter cópia de alguns artigos publicados em anais ou exemplares anteriores para se ter uma boa ideia do formato de apresentação de publicações aceitas. 84 Revisão e Edição Peça a uma ou duas pessoas para revisarem o seu artigo. Forneça uma cópia a alguém que, de preferência, esteja familiarizado com o tópico específico de seu 73 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita artigo, e outra cópia a quem esteja familiarizado com a sua área geral de trabalho. Desta forma podem-se identificar enganos e pontos a ser esclarecidos. Tradução Após ter concluído todas as etapas anteriores na elaboração do seu artigo científico, e se você optou por publicar o seu trabalho em uma conferência ou jornal técnico internacional, você terá que traduzi-lo para o idioma da publicação, geralmente o inglês. Esta deverá ser não apenas uma tradução literal do seu trabalho, mas sim uma tradução científica, com a tradução precisa dos termos e expressões técnicas, ou o seu trabalho poderá ser rejeitado pelos revisores técnicos da publicação. Se você está procurando por uma tradução correta e precisa nós aconselhamos seriamente que você utilize um serviço de tradução e/ou revisão profissional. CUIDADO: Muitas empresas oferecem serviços de tradução “técnica ou científica” por preços mais reduzidos, mas na realidade apenas realizam uma tradução convencional do texto. Por melhor que seja a qualidade desta “tradução convencional”, ela não permitirá que seu trabalho seja aceito para publicação. A INFINITE oferece a você serviços de alta qualidade em traduções científicas, realizados por profissionais capacitados e com os melhores preços do mercado. Entre em contato conosco e solicite seu orçamento sem compromisso. Redação Oficial A redação de atos de cunho oficial requer um conhecimento básico das fórmulas e modelos de correspondências. Atos Legislativos - as leis resultam em projetos que podem ser apresentados pelos membros do Congresso Nacional e pelo Presidente da República, mediante sugestão que a este fazem ministros de Estado e presidentes de órgãos diretamente subordinados à Presidência da República. Quando o projeto é iniciativa de um parlamentar que procura ampará-lo por meio de justificação nos projetos. Pareceres - (Decretos legislativos, Resoluções, Emendas, Requerimentos, Indicações). http://www.freewebs.com/infinitetrans/portug.htm http://www.freewebs.com/infinitetrans/portug.htm http://www.freewebs.com/infinitetrans/portug.htm http://www.freewebs.com/infinitetrans/contato.html 74 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita Atos Executivos - (Decretos, Regulamentos e Regimentos, Instruções, Tratados Convenções Internacionais, Portarias, Despachos, Apostilas que tem nomes e anotações feitas num título, diplomas, patente, etc). Atos Judiciários - (Portarias, Acórdãos que dividem títulos e ementa, Sentenças e Decisões). Formas de Correspondências - (Mensagens, Cartas de Chancelaria, Carta de gabinete, Nota diplomática, Avisos, Ofícios, Despachos, Circulares). Memorando - (Exposição de Motivos vem acompanhada com um projeto de lei, Carta de Gabinete). Ordem do Dia - (Telegramas, comunicações urgentes). Ofícios, Portarias, Decretos Despachos, Certidões. Ex: Ofício Of. DM/1 São Paulo, 22 de novembro de 2007 N° 274/64 Senhor Diretor: Pelo presente, tenho a satisfação de apresentar a V. S., D. VIMA PELLACHIO BRATION, Escriturária Assistente de Administração, efetiva, referência “41”, lotada do Serviço de Fiscalização Artística, que a partir desta data passará a prestar serviços junto a essa dependência. Atenciosamente DIRETORGERAL ESTUDOS LINGUÍSTICOS Os estudos linguísticos do começo do século passado estavam baseados na Filologia, na Linguística Comparada e na Linguística Histórica, pois, naquela época, a ciência da linguagem estava constituída pela Filologia e pela Linguística pré- 75 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita estruturalista e seguia uma metodologia documental, motivo pelo qual adotava uma abordagem cuja cientificidade dependia 87 de as hipóteses serem comprovadas em textos escritos por literatos considerados exemplares. O pressuposto de que toda língua viva evolui ao longo do tempo também fazia parte dos pressupostos adotados. Alguns trechos do prefácio “Fatos de Língua Portuguesa” evidenciam os paradigmas de cientificidade então vigentes: (...) a razão de ser de trabalhos desta natureza [...] é que ninguém agora acredita que se adquira o conhecimento de uma língua apenas com o folhear de algumas gramáticas [...] Donde se originou tal desvalia? Primeiramente, de que a verdadeira dificuldade da língua não as resolve a teoria. E mais, de se conservarem os gramáticos duplamente segregados, por uma parte, da língua viva, da língua do tráfego diário [. ], por outra parte, da ciência da linguagem, cujas leis afetam desconhecer, cujos princípios se comprazem em desdenhar; donde resulta que, em contradição com uma e outra, desatam as dúvidas que lhes caem na alçada, segundo o modo de ver de cada um, o que faz desses manuais um corpo de doutrina inconsistente, sem base sólida na natureza, incapaz, por consequência, de se impor. [...] (. ) no terreno da ciência, o estudo do fenômeno linguístico abrange o fato positivo da exteriorização do pensamento, de larga documentação, nas obras dos grandes escritores, e as operações intelectuais e orgânicas que o determinaram, susceptíveis de verificação (. ) (RAMOS, 1982, 80). O ensino da Língua Portuguesa, pelo que se pode observar em suas práticas habituais, tende a tratar essa fala sobre a linguagem como se fosse um conteúdo em si, não como um meio para melhorar a qualidade da produção linguística. É o caso, por exemplo, da gramática como forma descontextualizada, que se tornou emblemática de um conteúdo estritamente escolar, o tipo que só serve para ir bem à prova e passar de ano, uma prática pedagógica que vai da metalíngua para língua como meio de exemplificação, exercícios de desconhecimento e memorização de nomenclatura. Em função disso, tem-se discutido se há ou não necessidade de ensinar a gramática. Mas essa é uma questão: a questão verdadeira é para que e como ensiná-la. Se o objetivo principal do trabalho de análise e reflexão linguística é imprimir maior qualidade ao uso da linguagem, as situações didáticas devem, principalmente nos primeiros ciclos, centrar-se na atividade epilinguística, no reflexo sobre a língua 76 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita em situações de produção e interpretação, como caminho para tomar consciência e aprimorar progressivamente os elementos para uma análise de natureza metalinguística. O lugar natural, na sala de aula, para esse tipo de prática parece ser reflexão compartilhada sobre textos reais. Os PCNs sugerem, como metodologia para o trabalho com os objetos de ensino de Língua Portuguesa, partir de atividades que envolvam o uso da língua, como produção e compreensão de textos orais e escritos em diferentes gêneros discursivos/textuais, seguidas de atividades de reflexão sobre a língua e a linguagem a fim de aprimorar as possibilidades de uso. O tratamento didático proposto pode ser assim esquematizado: É a partir das atividades interativas efetivas de produção e leitura de textos que se dá a análise linguística, entendida aqui como um conjunto de atividades que tomam um dos aspectos da língua como seu objeto de estudo e reflexão. Incluem-se nas atividades de análise linguista: • O reconhecimento das características específicas dos gêneros textuais; • O domínio de operações sintáticas que possibilitam as relações entre forma e sentido; • A ampliação do repertório lexical; • A descrição de fenômenos linguísticas de ordem morfológica e fonológica; • A comparação entre os fenômenos linguísticos observados na fala e na escrita. A escrita, motivada pelos estudos da linguística ao ensino da língua portuguesa, centrado em tópicos da gramática normativa, modificaram muito as práticas escolares nos últimos anos, permitindo uma função muito mais funcional da língua. Os estudos linguísticos registram pelo menos seis aspectos que determinam as variedades: a territorial, a social, a de idade, a de sexo, de geração e a de função. 89 Dessa forma destacamos quatro: 77 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita Variedades regionais Variedades que ocorrem entre pessoas de diferentes regiões que falam a mesma língua. É valido ressaltar que não existem linhas precisas de demarcação entre os diferentes dialetos regionais. Ex: onde começa o dialeto caipira e onde começa o carioca. Da mesma forma, distinguir a fala do gaúcho do nordestino pode ser fácil, enquanto que essa mesma distinção é tão nítida entre os falares gaúcho e catarinense. Variedades sociais O papel das variedades sociais a que pertencem os usuários da língua: linguagem dos artistas, dos médicos, dos economistas, dos jogadores de futebol, as gírias próprias dos adolescentes. Variedades cronológicas São as variedades de linguagens de pessoas de faixas etárias diversas: crianças jovens, adultos e idosos. Variedades históricas/temporais As variedades históricas são as mais perceptíveis na língua escrita. Vejamos o que diz Celso Cunha: Em todos os grupos humanos organizados, desde o momento em que adquirem a consciência de sua unidade, os que não pertencem ao círculo, os não iniciados, passam a ser vistos como profanos. E é justamente daí que decorre o antagonismo entre a ação uniformizadora da sociedade geral, procurando estagnar a língua, pela resistência da inércia coletiva a toda invenção linguística, e a ação dos grupos particulares tentando diferenciá-la, principalmente quando se trata de um 78 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita grupo mais ou menos fechado e autônomo. (CUNHA, 2004, p. 244). Entretanto, a linguagem especial pode passar à gíria: (. ) desde o momento em que deixe de ser uma proteção involuntária do grupo, mas no instante em que este, tomando consciência do caráter enigmático de sua linguagem, passe a usá-la voluntariamente, em ocasião oportuna, como arma não só de defesa, mas também de ataque aos profanos. (CUNHA, 2004, p. 244). Como se vê, toda gíria é uma linguagem especial, mas nem toda linguagem especial é obrigatoriamente uma gíria, o que se poderia condensar na definição dada por Zélio dos Santos Jota (1976:154), ou seja, a gíria é uma “linguagem especial de conteúdo expressivo vigente em um grupo social”. Continuando no caminho das referências acerca desse termo, vejamos mais alguns depoimentos sobre o verbete “gíria”: [gíria é] em sentido lato, [a] linguagem especial de um grupo social ou classe profissional; em sentido restrito, linguagem particular de um grupo caracterizada por deformações intencionais, criações anômalas, transformações semânticas, de caráter burlesco, jocoso ou depreciativo. (LUFT, 1973, p. 91). [em um sentido linguistico] mais técnico: representa exclusivamente uma forma de língua na qual o léxico específico está ligado a um grupo social, ou porqueo grupo tem uma vida fechada (a gíria politécnica), ou porque ele elaborou uma língua secreta que o protege (a gíria dos malfeitores, a gíria dos mercadores, comerciantes). (MOUNIN, 1993, p. 40). [a gíria é uma] variedade linguística compartilhada por um grupo restrito (por idade ou por ocupação), que é falada para excluir da comunicação as pessoas estranhas e para reforçar o sentimento de identidade dos que pertencem ao grupo. (CARDONA, 1991, p. 159). Frise-se também que, de um modo geral, a criação dessas línguas especiais atende a uma necessidade do falante, que emprega vocábulos que dão mais clareza a um conceito ou que designam significações novas. Observando o léxico das línguas especiais, vemos que ele é organizado pela formação de novos vocábulos, a partir de elementos da língua comum, através de significação nova, ou pelo uso de estrangeirismos. Encontramos também muitos casos de elipse e de troca de classe gramatical, o que serve de excelente material para a comprovação da vitalidade da língua. Além disso, mesmo nas vezes em que os vocábulos originais ou os oriundos 79 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita de línguas estrangeiras não são entendidos da forma como deveriam, isso não impede sua utilização, ainda que foneticamente alterada ou adaptada pela pronunciação. Como esses vocábulos são utilizados por muitas pessoas, acabam sendo incorporados com as eventuais modificações provocadas pelo princípio do menor esforço ou da economia de energia ou pela analogia. A gíria é, portanto, derivada de contribuições variadas da língua comum, incorporando arcaísmos, neologismos, aspectos estilísticos, mudanças sintáticas e outros recursos que, a princípio, teriam o objetivo de tornar uma linguagem irreconhecível. No entanto, como pode ter também uma conotação negativa, a gíria que concretiza a maneira de falar específica de um grupo profissional pode receber a denominação de “linguagem especial” ou “tecnoleto” ou “microlíngua”, conforme suas características intrínsecas. O uso de “se” como sujeito recebe a qualificação de função francesa: (...) Sempre se o vê, Louva-se os juízes [...] Essas construções constituem puros francesismos: nelas se está exercendo a função do on francês (palavra que nessa língua exerce função de sujeito), em desobediência à tradição do português e ao étimo do nosso se.(MENDES, 1961, p. 196). Alhures, Napoleão faz outras referências a construções com “se”, consideradas erradas por não obedecerem às regras de concordância: Na oração: “Alugam-se casas” [...] O verbo é passivo e essa passividade é indicada pelo pronome se. A oração “Alugam-se casas” é idêntica à oração “Casas são alugadas”; em ambas o sujeito é casas, que, pelo fato de estar no plural deverá levar também para o plural o verbo; dizer “Aluga-se casas” é erro igual a dizer “Casas é alugada”. Constituem, conseguintemente, erros inomináveis, construções como: “Vende-se livros usados” ou “Conserta-se relógios” ou “Reforma-se chapéus”. (MENDES, 1961, p. 200) Haja vista que Napoleão faz referência aos argumentos utilizados por Barreto, sem, contudo, fazer uso integral das explicações fornecidas pelo filólogo, é possível concluir que a Gramática Metódica da Língua Portuguesa apresenta uma síntese do conhecimento produzido por seus antecessores. Em todas as gramáticas ora analisadas, há referência à língua francesa e à sua influência no vernáculo. No período em que as obras foram publicadas, o estudo da língua francesa fazia parte da grade curricular de ensino no Brasil, haja vista ser a mais utilizada no comércio e na diplomacia. 80 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita ESTUDOS LITERÁRIOS Barroco (séc. XVII ao começo do séc. XVIII) Toda forma exige fechamento e fim, e o barroco se define pelo movimento e instabilidade; parece-nos, pois, que ele se encontra ante um dilema: ou negar-se como barroco, para completar-se numa obra, ou resistir à obra para persistir fiel a si mesmo. (J. ROUSSET) Conhecido também por Seiscentismo (anos de 1600), este foi um estilo literário marcado pela linguagem rebuscada, o uso de antíteses e de paradoxos que expressavam a visão de mundo barroco em uma época de transição entre o teocentrismo e o antropocentrismo. No Barroco, estão presentes duas vertentes: cultismo e conceptismo: • Cultismo ou gongorismo - valorização de forma e imagem, jogo de palavras, uso de metáforas, hipérboles, analogias e comparações. Manifesta-se uma expressão da angústia de não ter fé. Ofendi-vos, Meu Deus, é bem verdade, É verdade, Senhor, que hei, delinquido Delinquido vos tenho... (GREGÓRIO DE MATOS) Para um homem se ver a si mesmo, são necessárias três coisas: olhos, espelho e luz. Se tem espelho e é cego, não se pode ver por falta de olhos; se tem espelho e olhos, e é de noite, não se pode ver por falta de luz. Logo, há mister luz, há mister espelho e há mister olhos. (PE. VIEIRA) Metamos o martelo nas teorias, nas poéticas e nos sistemas. Abaixo este velho reboco que mascara a fachada da arte! (VICTOR HUGO). REFERÊNCIAS HISTÓRICAS Contexto sociopolítico da época (início do Romantismo no Brasil): • 1808 - chegada ao Brasil de D. João VI e da família Real. 94 • 1808/1821 - abertura dos portos às nações amigas; instalações de bibliotecas e escolas de nível superior; início da atividade editorial. • 1822 - Proclamação da Independência. Daí nasce o desejo de uma 81 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita literatura autenticamente brasileira. • 1831 - abdicação de D. Pedro I e início do Período de Regência, que vai até 1840 (maioridade de D. Pedro II); fundação da Companhia Dramática Nacional; início da Guerra do Paraguai até 1840). CARACTERÍSTICAS Podem-se apontar, no amplo e diversificado movimento romântico, algumas tendências básicas: • A exaltação dos sentimentos pessoais, muitas vezes até autoridade; • Exaltação de seu “eu”, subjetivismo; • A expressão dos estados da alma, das paixões e emoções, da fé, dos ideais religiosos; • Apoiam-se em valores nacionais e populares; • Desejo de liberdade, de igualdade e de reformas sociais; e a valorização da Natureza, que é vista como exemplo de manifestação do poder de Deus e como refúgio acolhedor para o homem que foge dos vícios e corrupções da vida em sociedade; • Em alguns casos, fuga da realidade através da arte (direção histórica e nacionalista ou direção idílica e saudosista). A linguagem sofreu transformações: em lugar da bem cuidada sintaxe clássica e das composições de metro fixo, os românticos preferiram uma linguagem mais coloquial, comunicativa e simples, criando ritmos novos e variando as formas métricas. Essa liberdade de expressão é uma das características típicas do Romantismo e constitui um aspecto importante para a evolução da literatura ocidental. 9 Gerações Nomes Principais poetas Principais temas 1ª Geração Nacionalista ou Indianista Gonçalves de Magalhães, Gonçalves Dias e Araújo Porto Alegre Exaltação da natureza, excesso de sentimentalismo, amor indianista, ufanismo (exaltação da pátria) 82 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita • Indianismo - uma das formas mais significativas do nacionalismo romântico. O índio é um ser idealizado (nobre, valoroso, fiel), apesar disso demonstra a valorização das origens da nacionalidade. • Mal do Século - voltando-se inteiramente para dentro de si mesmos, esses poetas expressaram em seusversos pessimistas um profundo desencanto pela vida. Muitos marcados pela tuberculose, mal que deu nome à fase. • Condoreirismo - poesia social e libertária que reflete as lutas internas da Segunda metade do reinado de D. Pedro II. Autor: Gonçalves de Magalhães. • Seu poema de destaque foi “Noite Tempestuosa”, do livro Urânias. • Obras: “Suspiros Poéticos e Saudades” (1836); “Urânias” (1862); “Cânticos Fúnebres” (1864) e outros. Obras Principais: • “I Juca Pirama”, “Canção do Tamoio”, “Os Timbiras” - sentimento de honra e valentia do índio; • “Leito de folhas verdes”, “Se se morre de amor”, “Como? És tu?”, “Ainda uma vez - adeus!”, “Seus olhos” - sentimento amoroso; • “Canção do Exílio” - solidão, exílio, amor à pátria, retomada por muitos modernistas; 2ª Geração Ultrarromântica ou Mal do Século Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Junqueira Freire e Fagundes Varela Egocentrismo, sentimentalismo exagerado, morte, tristeza, solidão, tédio, melancolia, subjetivismo, idealização da mulher 3ª Geração Condoreira ou Social Castro Alves, Sousândrade, Tobias Barreto Sentimentos liberais e abolicionistas 83 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita • “O mar”, “A noite”, “A tarde” - poesias impregnadas de religiosidade sobre a majestade da natureza; • Livros – “Primeiros Cantos” (1846), “Segundos Cantos” (1848), “Sextilhas de Frei Antão” (1848), “Últimos Cantos” (1851), “Os Timbiras”, “Cantos” (1857). ARCADISMO Esta aproximação com o natural se dá por intermédio de uma literatura de caráter pastoril: o Arcadismo é uma festa campestre, representando a descuidada existência de pastores e pastoras na paz do campo, entre ovelhinhas. Porém, essa literatura pastoril não surge da vivência direta da natureza, ao contrário do que aconteceria com os artistas românticos, no século seguinte. Pode-se dizer que uma distância infinita separa os pastores reais dos “pastores” árcades. No exemplo abaixo, de Tomás Antônio Gonzaga, percebemos que o mundo pastoril é apenas um quadro convencional para o poeta refletir sobre o sentido da natureza: Enquanto pasta alegre o manso gado, minha bela Marília, nos sentemos à sombra deste cedro levantado. Um pouco meditemos na regular beleza, Que em tudo quanto vive nos descobre A sábia natureza. (Tomás Antônio Gonzaga) TEORIA DOS GÊNEROS LITERÁRIOS Muitas teorias e discussões há em torno dos gêneros literários. A palavra gênero, etimologicamente, significa família, raça ou conjunto de seres dotados de características comuns. Gênero lírico: Poemas de forma fixa: soneto, por exemplo. Gênero narrativo: Épico (epopeia), Ficção: romance, novela, conto, crônica. Gênero dramático: tragédia, comédia, 97 tragicomédia, drama. Gênero ensaístico: ensaio, artigo, análise de texto, oratória, carta. 84 www.soeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita Gênero lírico: O adjetivo lírico deriva de lira, instrumento de força expressiva já empregada pelos gregos. Gênero narrativo: A palavra ficção vem do latim fictionem (fingere, fictum), ato de modelar, criação, formação; ato ou efeito de fingir, inventar, simular; suposição; coisa imaginária, criação da imaginação. Elementos da narrativa - O mundo da ficção desenvolve-se ao redor dos seguintes elementos estruturais: 1. Personagem - É a pessoa (de personagem) que atua na narrativa. Pode ser principal ou secundária, típica ou caricatural. 2. Enredo - É a narrativa propriamente dita, que pode ser linear ou retrospectiva, cuja trama mantém o interesse do leitor, que espera por um desfecho. Chama-se também simplesmente de ação. 3. Ambiente - É o meio físico e social onde se desenvolve a ação das personagens. 4. Tempo - Cronológico, quando avança no sentido do relógio; psicológico, quando é medido pela repercussão emocional, estética e psicológica nas personagens. 5. Ponto de vista - Tecnicamente podemos dizer que se refere às diferentes maneiras de narrar. Geralmente, se resumem em duas: a) narrador- onisciente: autor conta a história como observador que sabe tudo. Usa a 3ª pessoa. b) narrador-personagem: autor conta, encarnando-se uma personagem, principal ou secundária. Usa a 1ª pessoa. 6. Discurso - é o procedimento do narrador ao reproduzir as falas ou o pensamento das personagens. Há três tipos de discurso: 85 www.sóeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita a) direto: neste caso, o narrador, após introduzir as personagens, faz com que elas reproduzam a fala e o pensamento por si mesmas, de modo direto, utilizando o diálogo. Exemplo: “Baiano velho perguntou para o rapaz: O jornal não dá nada sobre a sucessão presidencial”. b) indireto: neste tipo de discurso não há diálogo; o narrador não põe as personagens a falar e a pensar diretamente, mas ele faz-se o intérprete delas, transmitindo o que disseram ou pensaram, sem reproduzir o discurso que elas teriam empregado. Exemplo: “Baiano velho perguntou para o rapaz se o jornal não tinha dado nada sobre a sucessão presidencial”. c) indireto livre: consiste na fusão entre narrador e personagem, isto é, a fala da personagem insere-se no discurso do narrador, sem o emprego dos verbos de elocução (como dizer, afirmar, perguntar, responder, pedir e exclamar). Exemplo: “Agora (Fabiano) queria entender-se com Sinhá Vitória a respeito da educação dos pequenos. E eles estavam perguntadores, insuportáveis. Fabiano dava-se bem com a ignorância. Tinha o direito de saber? Tinha? Não tinha”. 7. Linguagem e estilo - É a vestimenta com que o autor reveste seu discurso, nas falas, nas descrições, nas narrações, nos diálogos, nas dissertações ou nos monólogos. • Espécies narrativas - Nem sempre é possível classificar um determinado texto ou obra dentro de uma determinada modalidade narrativa. Didaticamente, podemos caracterizar o romance, a novela, o conto, a crônica e a epopeia. 1. Romance - São exemplos de romances: “Iracema”, de José de Alencar; “Quincas Borba”, de Machado de Assis; “O mulato”, de Aluísio Azevedo; “Corpo vivo”, de Odonias Filho etc. 2. Novela - os diálogos são mais rápidos, as narrações são diretas e sem circunlóquios, tudo favorecendo a precipitação da história para o seu desfecho. 3. Conto - eis alguns exemplos de contos já clássicos: “O alienista”, de 86 www.sóeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita Machado de Assis; “Apólogo brasileiro sem véu de alegoria”, de Antônio de Alcântara Machado; “O negrinho do pastoreio”, de João Simões Lopes Neto; “O peru de Natal”, de Mário de Andrade. 4. Crônica - é uma espécie de narrativa curta e condensada que capta um flagrante da vida, pitoresco e atual, real ou imaginário, com uma ampla variedade temática. 5. Epopeia - É uma criação literária, geralmente em verso, de fundo narrativo. (Do grego epos = canto, narrativa). Desde os tempos antigos, a epopeia tem a finalidade de exaltar os heróis nacionais e cantar os grandes feitos dos povos. ESTUDO DA COMUNICAÇÃO E MÍDIA A qualidade de uma instituição escolar depende em grande parte do modo pelo qual ela é focada no processo de condução das atividades que se desenvolvem nas classes, pois, ali, não é somente o lugar onde se realiza o processo de ensino- aprendizagem, mas o lugar que traz sempre o momento oportuno para se desenvolver e promover os valores humanos nos alunos. Essa qualidade depende, sobretudo, da capacidade dos professores estimularem o esforçodas suas experiências vividas na construção do acompanhamento na formação humana. Nos processos em que a indisciplina é coletiva, a maioria dos alunos de uma classe se comporta com irresponsabilidade, as raízes podem estar em diversas condições ambientais que estão atuando sobre a realidade escolar. Percebe-se que o indivíduo está integrado em um contexto em que procura unir os conhecimentos, identificando a personalidade no desenvolvimento estudado. Estas condições devem ser analisadas com objetividade e identificadas para que se possa tratá-las de modo adequado: as instalações são funcionais? Soluções para os chamados problemas de “indisciplina” deverão estar baseados em uma análise exaustiva da situação, na reflexão, no diálogo e em técnicas que capacitem os alunos para o autocontrole e a responsabilidade por sua conduta. Realizar conceitos étnicos com possibilidade de alternativas e operativas no sentido de construir propostas articuladas que permitam operar a razão da educação, a reciprocidade humana, a didática ética para valorização dos que integram o meio. Nessa visão é que prepara para a profissionalização, montada diante de suas raízes, 87 www.sóeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita com história que faz mudar, reciclar, conhecer e ganhar a experiência segura dentro de uma didática que possa ser trabalhada de maneira íntegra. A preocupação em entender as mudanças de comportamento leva todos a uma preocupação. Surge a interrogação: onde nós educadores estamos errando? Onde está a maior falha? Na família ou na escola? As dificuldades e tendências sociais de cada indivíduo são analisadas e observadas sob vários aspectos. Os conflitos e os desafios procuram determinar formas de vida e limites obedecidos. Isso significa que na questão da indisciplina e violência na escola, ou fora dela, não se está observando comportamentos como se fossem fatos em si, mas formulando simultaneamente valores percebidos nos comportamentos conforme o grau de risco que esses comportamentos representam. Segundo Vânia Lúcia Quintão Carneiro, há uma cultura audiovisual eletrônica que proporciona aos jovens informações, valores, saberes, outros modos de ler e perceber. Para Martin-Barbero (1999), os complexos processos de comunicação da sociedade difundem linguagens e conhecimentos que descentralizam a relação escola-livro, âmago do sistema escolar vigente. Contemporaneamente, a TV é o meio de comunicação predominante, instrumental de socialização, entretenimento, informação, publicidade, composto em função dos interesses dos mercados. Por ela gerações aprendem a consumir e a conhecer a si e ao mundo. Reuniões públicas, antes nas ruas, têm como cenário e como mediadora a TV: campanhas políticas e pronunciamentos oficiais substituem interações coletivas. O diálogo ficção-realidade perpassa fronteiras e mostra a telenovela – o programa mais visto por crianças e adultos – superar o entretenimento meramente alienatório e discutir temas sérios, oportunos, que antes eram ignorados ou não admitidos, devido aos preconceitos. Analisando a postura de crianças e jovens diante dos meios de comunicação, eles utilizam uma postura que foge da sua própria realidade. É a maneira como eles passam a fazer parte dos sonhos imaginários. Como preparar o jovem para analisar a televisão, ler um mundo recortado por ela, compreender-lhe os recortes (essa edição da realidade)? Como analisar sua presença cotidiana em nossa cultura? Como usá-la criticamente a serviço da educação? Como integrar TV/vídeo à escola? Educa-se pela televisão? Que postura tem os consumidores? Quais os papéis de produtores e proprietários de TV na 88 www.sóeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita educação? É viável produzir programas interessantes com a intenção de educar? Espera-se que a escola (en)foque o mundo audiovisual, faça da TV objeto de estudo, conheça-lhe linguagem, programação, condições de produção e de recepção e a incorpore pedagogicamente. Estudos garantem que se deve abordar a relação educação-televisão a partir de três perspectivas complementares: educação para uso seletivo da TV; educação com a TV; educação pela TV. O consumo seletivo e crítico da TV objetiva desenvolver a competência dos alunos para analisar, ler com criticidade e criativamente os programas. Na educação com a televisão se utilizam programas como estratégia pedagógica para motivar aprendizados, despertar interesses, problematizar conteúdos. E educar pela televisão significa comprometer emissoras a ofertar mais e melhores programas ao público infanto-juvenil. É preciso que a família esteja presente na vida de seus filhos na formação da base para prepará-las para receber as comunicações de fora para dentro. O PAPEL EDUCATIVO NA RECEPÇÃO Nos estudos sobre televisão, durante anos sobressaiu o modelo mecânico, que considerava a iniciativa da comunicação toda do emissor, ficando o receptor restrito a reagir aos estímulos enviados. Martín-Barbero (1995) afirma que a concepção condutista fundia-se à iluminista: “O processo de educação, desde o século XIX, era concebido como um processo de transmissão do conhecimento para quem não conhece. O receptor era tabula rasa, recipiente vazio para se depositar conhecimentos originados ou produzidos em outro lugar”. Não mais se negam os efeitos da TV e já se sabe que pais, professores, colegas influem na recepção de mensagens. Nesse processo ocorrem mediações cognitivas, culturais, situacionais, estruturais e as ligadas ao meio televisivo, à intencionalidade do emissor. O receptor é sujeito ativo e pertence ao contexto sociocultural específico. Interpreta mensagens seguindo sua visão de mundo, experiências, valores, a cultura de seu grupo. Recepção não é só o momento do assistir ao programa; prolonga-se nos cotidianos e em comunicações habituais, constitui-se um espaço de produção de sentidos, conhecimentos. A relação juvenil com a TV e as outras mídias tornou mais complexa a 89 www.sóeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita socialização. As crianças acessam ilimitadamente informações adultas, mães e pais trabalham fora e está decretada a realidade do difícil controle sobre o saber do filho. Adultos não mais detêm singularmente a informação – propiciadora de status – sobre as crianças, que desafiam a autoridade adulta. A televisão passou a fazer parte da vida da criança, na substituição dos seus genitores. O desempenho da mãe hoje em dia em buscar melhorias no mercado profissional para sua família deixou o acompanhamento de seus filhos através da TV. Muitas vezes a criança assiste a uma programação e nem sabe o que quer dizer. E quem vai explicar? Currículos escolares tentam ignorar que fora da sala de aula as crianças muito aprendem sobre o mundo, que a informação que a mídia lhes lega é acessível. A escola é solicitada a estimular competências não para simplesmente ler, interpretar, mas para compreender meios e mensagens audiovisuais que os jovens consomem e se envolvem afetivamente. Deve encorajar pais a conhecer a mídia, ativar-lhes o pensamento crítico, analisar o que a TV veicula. Em um telejornal, por exemplo, separar do fato as representações, as impressões do jornalista. Dessa perspectiva, a escola prescinde de ser instituição de repasse de informação para tornar-se lugar formador de pensamento, compreensão, interpretação. Preparar jovens para consumir com seletividade e criatividade a TV é com eles desenvolver competências para a análise e a crítica a partir de linguagens, produção e recepção. PROGRAMAÇÃOEDUCATIVA NA TV? Quer que seus filhos assistam a algo educativo na televisão? Então coloque o despertador para tocar por volta das 5h de sábado e domingo. É nesse horário que é exibido o que consta da programação das emissoras de TV aberta como 'programa educativo'. Mas a não ser que seus filhos sejam professores do Ensino Médio ou se interessem por discussões pedagógicas, você terá uma decepção. Mesmo assim, tecnicamente, nenhum dos canais está descumprindo a Constituição, que no artigo 221 determina que emissoras de TV deem 'preferência a finalidades educativas'. De fato, não há lei que determine o que é um programa educativo nem que regulamente a inclusão dessas atrações na programação das emissoras. (CROITOR, 2001, p. 23) Por programa educativo entende-se aquele produzido com a intencionalidade 90 www.sóeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita de educar, desenvolver aprendizagens, ter intuito educacional. Desde o Decreto n. 236/67, a finalidade educativa cobrada às emissoras de TV é a “transmissão de aulas, conferências, palestras e debates”. A obrigatoriedade de emissoras comerciais transmitirem programas educativos foi instituída na Portaria n. 408/70. Nesse ano, especificou-se: 5 horas por semana, sendo 30 minutos diários de segunda- feira a sexta-feira e 75 minutos nos sábados e domingos, entre 07h00 e 17h00 horas. Para efetivar o cumprimento legal e orientar a televisão educativa, estudo oficial sobre TV educativa concluiu que a prioridade seria de programas didáticos destinados a adolescentes e adultos. Em 1980, a Portaria n. 561 flexibilizou a exibição de programas educativos em todas as emissoras. Horários de transmissão ficam a critério da emissora, embora permaneça a distribuição semanal. No artigo 221 da Constituição Brasileira (1988), o atendimento “preferencial às finalidades educativas, culturais e informativas” é o primeiro princípio a nortear a produção e a programação das emissoras. A exibição obrigatória de uma quota de programas educativos em TVs comerciais diminuiu drasticamente em 1991. No acordo emissoras-Abert-MEC reduziu-se a obrigatoriedade de programação educativa de 5 horas semanais para dois programas de 20 minutos, nos sábados e domingos. Em 2001, um projeto-lei de radiodifusão do Ministério das Comunicações foi à consulta pública. No artigo 88, da versão ainda em tramitação no Congresso, emissoras devem “transmitir percentual mínimo de programas educativos e informativos dirigidos a crianças – entre 07h00 e 22h00 horas – e dispor de pedagogos e psicólogos para avaliar seus programas educativos”. Mas o que é “educativo”? A concepção predominante restringe-se à extensão da sala de aula. Polemiza-se entre “o que é educação” e “o que é televisão”. Televisão como entretenimento propõe evasão, diversão, emoção. Classicamente, associa-se o educativo a livro didático, sala de aula, objetivos curriculares, concentração, racionalidade. A que interesses serve manter tão limitada concepção de educativo? Deve-se cobrar de proprietários e produtores de televisão a inclusão da finalidade educativa? Programas pedagógico-didáticos para ensinar são rejeitados pela expectativa da TV diversão, da TV entretenimento. Correlaciona-se a intenção de educar a subordinação a uma modalidade expressiva (cinematográfica, televisiva, artística), à consequente perda da especificidade dessa modalidade, categorizando o 91 www.sóeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita educativo como gênero inferior, incompatível com as linguagens do cinema e da TV: Produzir tevê diferente para uso diferenciado, pedagógico, parece-nos uma proposta equivocada, embora tecnologicamente possível. Preferimos partir da tevê comercial e da escola que temos, pois acreditamos que educar-se pressupõe íntima relação do ser humano com sua realidade. Só dessa relação matricial podem surgir as condições de afloramento da consciência crítica. Assegurar a coerência entre a realidade contextual e a educação exclui o artificialismo de situações pedagógicas especialmente produzidas. (REZENDE, 1989, p. 60) Reduz-se a conceituação do pedagógico ao que programas educativos de TV adotam como pedagógico. Critica-se o educativo em TV/vídeo pela sua redução a veículo de discurso professoral e à não exploração do expressivo. Sobressai a concepção mecânica de relação comunicativa professor-aluno. AMPLIAÇÃO DA CONCEPÇÃO DE EDUCATIVO E MEDIAÇÕES PEDAGÓGICAS Ao se entender educar como (in)formação em uma perspectiva mais ampla que inclui dimensões do imaginário, do social, do emocional além da cognitiva, nota-se que existem programas de entretenimento produzidos com intenção de entreter, vender e educar. Isso se deve à existência de jornalistas, autores, editores, atores, produtores e apresentadores de TV que se comprometem com a educação, compreendida como divulgar, esclarecer, inserir e discutir ideias e temas relevantes. Em casos diversos, o sucesso da interpenetração ficção-realidade na telenovela brasileira cria entretenimentos educativos. Não se trata de adicionar falas e críticas sobre problemas desligados da trama, que podem levar a um vazio. Exigem- se trabalhos criativos, tensos, sob riscos. O autor entra em conflito com normas ou compromissos ficcionais ou socioeducativos, arriscando até mesmo uma obra dramática exitosa. O caráter educativo de um programa de televisão pode-se determinar a partir do que com ele se apreende na recepção. Vilches (1993) cita pesquisa que revela que o acesso da criança à ideia do que vai receber é precondição para se desenvolverem atividades mentais frente a isto. Programas não precisam ser especificamente educativos para a criança participar, trabalhar. Importa-lhes a ação conjunta com os 92 www.sóeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita pais e os educadores. Eis o valor da mediação. Na escola, em programas televisivos não originariamente produzidos para ensinar, introduzir-lhes intenções pedagógicas depende do professor. Regra geral, o educador determina as funções dos programas de TV/vídeo nas atividades escolares. Pode-se usá-los para ilustrar, motivar, informar, suscitar debates. Delineia-se aqui, outra estratégia complementar: tomá-los como objeto de estudo. Dessa perspectiva, TV, filmes, vídeos são objetos de estudo das condições de produção e de recepção de gêneros. A educação de alguma forma sempre esteve orientada pela inspiração iluminista: emancipar o homem da ignorância, apelar para sua consciência e, se possível, salvá-lo em uma perspectiva de encaminhá-lo para a construção de uma cidadania plena, livre, ética e moralmente responsável. O desenvolvimento da Ciência e especialmente a presença das novas tecnologias despedaçaram esta utopia. Descobrimos que as intenções salvacionistas da educação não têm sustentação prática. Por mais organizados que possamos ser não temos controle da situação e não podemos garantir quase nada. Não é possível afirmar que todo ser humano com experiência escolar se torne efetivamente um cidadão. Portanto, sonhos e projetos pedagógicos precisam ser revistos. Necessário se faz alterar os processos de formação dos professores, o que implica mudanças estruturais nos cursos e na própria formação dos formadores. Não serão as leis que garantirão as mudanças, mas uma efetiva mobilização dos interessados nesta questão. Afora isto, temos ainda que reconhecer o quanto é corpo estranho a questão das novas tecnologias na formação dos professores. Isto significa dizer o quanto é ausente a discussão em torno dos processos de comunicação e sua interferêncianos processos pedagógicos. A geração que hoje habita a escola praticamente já nasceu grudada nestes dois ambientes de aprendizagem: o da comunicação e o das tecnologias. A escola ainda não admite isto. Não se trata apenas de ter estes equipamentos dentro de casa, mas de estar convivendo com uma cultura onde a tecnologia e a comunicação são pontos de referência da organização civil. Os consumidores se movimentam em circuito fechado pelos corredores. No seu interior o indivíduo perde os referenciais de tempo e espaço – não sabe se é dia ou noite, onde deixou o carro estacionado, em que piso se encontra, tornando-se presa fácil para o bombardeio ininterrupto de 93 www.sóeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita estímulos luminosos e sonoros. Enquanto a nova geração vive esta nova dimensão do tempo, a escola ainda está organizada, considerando o tempo cronológico e linear. A reação dos adolescentes a algumas tarefas da escola, mais do que rejeição, incapacidade, negação, tem um pouco esse gosto de uma nova relação com o mundo. A noção de esforço, dedicação, empenho, toma outra forma. Se a aceleração tem um lugar privilegiado, chegar a um algum lugar é no mínimo discutível. Apesar deste novo cenário, o professor ainda reduz sua ação pedagógica em grande parte a uma finalidade moralizante e disciplinadora. É urgente iniciar outra reflexão com os professores. E não será suficiente garantir a condição de usuário da tecnologia, mas de incluir o campo da comunicação como um dos campos da educação. O campo da comunicação implica hoje a experiência com a conectividade, interatividade e transversalidade. Nesse novo cenário a dimensão tempo e espaço toma outra forma. Afinal, em que lugar está o conhecimento? Qual a sua extensão? Quanto tempo é necessário para adquirir o conhecimento? Qual é o tempo da mídia e da escola? Que significados estes tempos têm para os sujeitos envolvidos? A crise da modernidade, segundo Assmann, é em parte a crise da sua concepção do tempo. Perdurou por longos períodos o tempo cronológico mensurado através de instrumentos como: relógio de água, de areia, de sol/sombra, calendários, até os relógios hoje digitais e atômicos. O próprio Assmann escolhe uma das obras de Salvador Dali, aquela dos relógios que escorrem, para ilustrar o salto temporal da pós- modernidade. Antes um tempo inflexível, sempre exato e calculado (que hoje escorre entre nossos dedos) e, portanto, um tempo mais viscoso, onde a precisão fica relativizada. Estamos convivendo hoje com tempos de relógio e tempos vivenciais: “A fixação do conceito de tempo em seu aspecto mensurável era condizente com um determinado conceito de Ciência e com a ânsia de controle máximo dos tempos políticos e tempos produtivos”. E o tempo da mídia se comparado com o tempo da escola? A distinção se refere ao conflito entre a maneira como a mídia eletrônica preenche, absorve, chupa os tempos individuais (tempo curto, porque é, em geral, absorvente) e a maneira como a escola usa o tempo disponível (apesar de breves, os tempos escolares são, muitas vezes, pouco aproveitados e, por isso, se tornam longos). 94 www.sóeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita Não é de hoje que se discute sobre a “Comunicação” ser “Educação”. Porém, essa afirmativa faz entrar em conflito várias questões teóricas e práticas dos dois processos. É bem verdade que instrumentos de comunicação, como os meios (TV, Rádio, Computador/Internet) têm proporcionado, com algumas programações de ordem educativa, uma visão mais “educativa” (podemos assim dizer) da Comunicação na sociedade contemporânea. Entretanto, seria arbitrário afirmar que os dois processos são um só e que Comunicação e Educação podem ser apresentadas por uma única denominação ou conceituação. ATIVIDADE COMPLEMENTAR “DISCIPLINA E INDISCIPLINA EM SALA DE AULA Segundo Celso dos Santos Vasconcellos, pedagogo, motivado pela questão da ausência da disciplina em sala de aula, recentemente destacou o tema em sua pesquisa Disciplina: construção da disciplina consciente e interativa em sala de aula e na escola. Este assunto tem sido objeto de grande preocupação em todas as escolas atualmente, para enfrentar a questão da indisciplina. Muitos professores são profissionais que bruscamente passaram para a condição de educadores sem nenhuma pedagogia ou didática para enfrentar as adversidades e diversidades de uma sala de aula, suprida em parte pela experiência e pelo convívio entre os pares. Mas uma das maiores dificuldades é, sem dúvida, a indisciplina na educação. Tornou- se um grande desafio, que cada vez mais tem sido alvo de preocupação das escolas, da direção, dos pais e professores. Da pré-escola à universidade, nunca a relação professor-aluno esteve tão difícil. Assim como um médico, em sua formação acadêmica, de modo geral não é preparado psicologicamente para receber os inevitáveis impactos e problemáticas características de sua profissão, também o professor geralmente não recebe por parte da escola e por comodismo próprio o suporte para administrar esta série de diferentes composições genéticas, origens, histórias, famílias, expectativas, pensamentos, experiências, etc. O que ele fala é realmente o que se vive hoje em dia na realidade escolar. Quando comecei a ler sobre este tema tive muita curiosidade de conhecer na prática. Porque enquanto lemos imaginamos e quando vemos sentimos. A experiência a princípio é preocupante, o conflito com a realidade muitas vezes nos faz pensar em 95 www.sóeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita mudar a rota da nossa existência profissional naquele momento. O que é a educação? Foi justamente pensando nela que encontrei métodos para trabalhar. A nossa clientela vem nos mostrando nos últimos anos uma postura confusa. A pergunta é: onde será que vai chegar? A família tem uma parcela muito grande, pois quando a criança é inserida na escola ela já vem para formar e a escola como receptora vai entendendo e adaptando as normas exigidas. Leva certo tempo, às vezes existem pensamentos diferentes e isso dificulta o andamento disciplinar. A escola x família tem que estar na mesma sintonia da disciplina para disciplinar formando. A família e a escola mudaram muito. Antes, a família era cúmplice da escola. Hoje deposita suas funções e delega suas responsabilidades a ela, porém a critica. Cada vez mais os alunos vêm para a escola com menos limites trabalhados pela família. Houve uma profunda mudança na relação universidade-sociedade e não percebemos. A sociedade mostra-se imatura pelo alto consumismo, levando à busca da satisfação imediata do prazer, diminuindo a capacidade de tolerância à frustração e aumentando a agressividade, a violência, a crise ética da corrupção, do “levar vantagem em tudo”. A indisciplina na sala de aula comparada à indisciplina social não é tão grave. Conforme Vasconcellos, “segundo alguns analistas, daqui a algum tempo teremos no país apenas duas categorias de pessoas: os que não comem – porque não têm o que comer ¾ e os que não dormem ¾ de medo dos que não comem...” (1994, p. 24). Vasconcellos (idem, p. 24) nos alerta que “a sociedade espera que a sala de aula seja um lugar de submissão, de doutrinação, de seleção natural, de domesticação”. E o educador? Qual é a sua postura: autoritária, conformada, comprometida, desesperada, desanimada, consciente? Que visão tem de sua ação pedagógica? Repressiva ou liberal? Vê o aluno como um mal necessário e a liberdade como um monstro subversivo e corrosivo, ou tem medo de ser repressor,quer ser legal e exalta o descompromisso, o espontaneísmo e a atitude do “cada um na sua”? Este último, pelo abandono e pela falta de responsabilidade, disciplina e conteúdo, acaba sendo desmoralizado pelos alunos “libertados”. Esses extremos aumentam o descompromisso e o descaso, transformando o movimento educacional em um processo destrutivo. Essas relações mostram-se alienadas. O professor espera que a classe faça silêncio para poder dar aula; o aluno quer logo ir embora e 96 www.sóeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita receber a nota; a direção não quer problemas e os pais querem que o filho seja aprovado objetivando a ascensão social. Quantos professores há que não estão preocupados com o futuro do educando, mas sim em sobreviver como educador. Não encaram o aluno-problema como desafio pedagógico. O professor que apenas quer obter o silêncio tem visão estreita. Os repressores conseguem uma disciplina que se esvai quando os alunos não estão na sua presença. O ideal é mostrar os limites, mas também as possibilidades, geralmente esquecidas. A educação por coação produz uma personalidade dependente, imatura e pouco criativa. O professor não entra sozinho na sala de aula. Vão com ele os colegas, os funcionários, as regras, as vivências, toda a instituição está representada. Que imagem os alunos fazem da escola? O professor precisa refletir a sua prática, fazer uma autocrítica. Sem uma definição clara do seu papel, não estará em condições de educar, dado que o aluno capta isso com muita facilidade e explora essa fragilidade. A falta de convicção da proposta do professor gera um acúmulo de dificuldades, podendo chegar a uma confusão generalizada na sala de aula. Há um consenso de que sem disciplina não se pode fazer nenhum trabalho pedagógico significativo. Trata-se de redimensionar o problema. A questão central não está na disputa entre professor e aluno, mas na organização do trabalho coletivo em sala de aula para se realizar a construção do conhecimento, quando o professor é o articulador da proposta, o coordenador do processo de aprendizagem e deve assumir seu papel de agente histórico de transformação da realidade, por meio de um ensino exigente e inteligente. Estar inteiro na sala de aula, manter a tensão entre a ternura e o vigor, o porto seguro e o “mar aberto”, entre direção e participação. Cabe a ele resgatar valores do passado, mas estar aberto aos novos valores emergentes, em função das necessidades colocadas pelas contradições sociais, políticas, econômicas, culturais, num processo de continuidade-ruptura, numa visão dialética. O ideal seria uma disciplina consciente e interativa, marcada por participação, respeito, responsabilidade, construção do conhecimento, formação do caráter e da cidadania. A disciplina deve formar o aluno “como pessoa capaz de pensar, de estudar, de dirigir ou de controlar quem dirige” (GRAMSCI, 1982, p. 36). Não queremos mais a educação tradicional autoritária, mas não desejamos a educação moderna, de cunho 97 www.sóeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita espontaneísta. A efetivação de uma disciplina democrática na universidade depende da democratização da sociedade, na medida em que esta assumir uma nova ética social (superar a “Lei de Gerson”), valorizar a educação e adotar uma nova política para os meios de comunicação. “... Ninguém educa ninguém. Ninguém se educa sozinho. Os homens se educam em comunhão, mediados pela realidade. (FREYRE, apud VASCONCELLOS 1981, p. 79). DISCIPLINA NA ESCOLA – RELACIONAMENTO – ESCOLA X COMUNIDADE A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (CONSTITUIÇÃO FEDERAL DO BRASIL, art. 205, 1988). É o que reza a nossa Constituição Federal e, aparentemente, o Estado e a família estariam cumprindo a sua parte. Mas não estão. É muito comum a escola afirmar: “não sei o que fazer com esse aluno”. Por outro lado e, da mesma forma, ouve-se da família afirmações como: “a escola não dá educação ao meu filho”. Onde está a razão? Tanto a escola como a família têm razão e culpa ao mesmo tempo. Na verdade, ultimamente, o mundo mudou bastante, o aluno também, a família muito mais e a escola, quase nada. Nos últimos 25 anos foram grandes as mudanças comportamentais e sociais da família. As novas configurações familiares, sem dúvida alguma, causam à escola dificuldades de entendimento. Dois fatores pesam e muito para a nova forma de ser e agir da família. Um fator de fundamental importância diz respeito à mulher exclusivamente mãe e à mulher mãe e trabalhadora. Sabidamente, a mãe de família tem ido ao mercado de trabalho cada vez mais e mais, não só pela necessidade de sobrevivência, mas também “em busca de uma vida confortável”, sempre pressionada pelo consumismo moderno. Outro fato é a influência da mídia, principalmente, a televisão massacrante, propondo o consumismo ao aluno em casa. Mais necessidades consumistas, maior necessidade de ganhos. Em compensação, menor tempo de mãe em casa, menos acompanhamento da vida escolar do filho e consequentemente mais desorientação, 98 www.sóeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita mais desencontros entre a expectativa da escola em relação à família e vice-versa. Tanto a escola quanto a família não estão se dando conta das mudanças. As consequências recaem sobre o educando, principalmente. Usar o saudosismo como desculpa para empurrar o problema “com a barriga”, é perda de tempo. A cada dia que passa mais reclamações, mais problemas, mais dificuldades de solução. A disciplina é hoje um dos problemas mais sérios na escola e no seio da família também. Os jovens cada vez respeitam menos pais e professores, com tendência a agravamento. Não é um pessimismo: é uma constatação. Todos nós sabemos que a disciplina é problema fundamental para funcionamento de qualquer instituição. Sem ela podem fracassar a ordem e a organização. É certo também que crianças e adultos, incluindo adolescentes, reconhecem a necessidade da disciplina, ainda que procurem transgredi-la periodicamente. Pais e professores, assim como toda a sociedade, confiam pouco nas instituições e homens públicos. A impunidade campeia entre nós. A criança e o adolescente, ainda que se pense ao contrário, não são ingênuos. Têm o mesmo sentimento. Enquanto isso, pais e professores são da opinião que o problema maior está nas determinações dos limites para os alunos e filhos. Mas não trocam opiniões, não discutem o problema, não buscam solução consensual. Há exceções, é claro. Mas será que o estabelecimento de regras de limites resolverá o problema? Claro que não. Só surtirão efeitos se forem estabelecidos com determinados objetivos e discutidos, inclusive, com os alunos e filhos. Tarefa difícil, sem dúvida. Mas é o caminho mais eficiente. É claro que a tarefa articuladora do bom relacionamento cabe ao Diretor de Escola e não é uma tarefa simples, sabemos. Mas é preciso tomar a iniciativa. A elaboração do Projeto Pedagógico será um primeiro contato relacional, pelo menos uma grande oportunidade. A tarefa pode começar com um grupo pequeno, aumentando momento a momento. Como sugestão, a discussão deve começar com os temas seguintes (apenas sugestão): A) O papel da escola e da família na educação de crianças e adolescentes. Cada um na sua?; B) Transformações na família nos últimos 25 anos. Novas configurações 99www.sóeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita familiares; C) A mulher mãe e trabalhadora; D) Influências dos meios de comunicação sobre crianças e adolescentes; E) Estabelecimento de limites na escola e na família. Participação de todos; F) Conflitos familiares e escolares; G) A difícil tarefa de relacionar escola e comunidade. Caminhos possíveis; H) Disciplina, ponto fundamental do bom relacionamento. Outros temas poderão ser propostos. Vale a pena. Só assim Estado e família serão competentes para o cumprimento integral do artigo 205 da Constituição Federal. A PRIMEIRA HIPÓTESE EXPLICATIVA: O ALUNO “DESRESPEITADOR” Uma primeira hipótese de explicação da indisciplina seria a de que “o aluno de hoje em dia é menos respeitador do que o aluno de antes e que, na verdade, a escola atual teria se tornado muito permissiva, em comparação ao rigor e à qualidade daquela educação de antigamente”. Esse primeiro entendimento, mais de cunho histórico, da questão disciplinar precisa ser repensado urgentemente. E a primeira coisa a admitir é que essa escola de antigamente talvez não fosse tão “de excelência” quanto gostamos de pensar hoje em dia. Nossa memória costuma aplicar alguns truques em nós. Às vezes, é muito fácil incorrermos em uma espécie de saudosismo exacerbado, idealizando o passado e cultivando lembranças de alguns fatos que não aconteceram ou que não se desenrolaram exatamente do modo com que nos recordamos deles. Portanto, se recuperarmos o modelo dessa escola do passado para cotejarmos nossos problemas pedagógicos atuais, precisaremos recuperar também o contexto histórico da época, pelo menos em parte. Não é possível trazer de volta aquela escola sem o entorno sociopolítico de então. É muito comum nos reportarmos à escola de nossa infância com reverência, admiração, nostalgia. Pois bem, na verdade, essa escola anterior aos anos 70 era uma escola para poucos, muito poucos. Uma escola elitista, portanto. Exclusão, pois, é um processo que já estava lá, nessa escola de antigamente, hoje tão idealizada. Eram elas escolas militares ou religiosas, e algumas poucas leigas, que atendiam uma 100 www.sóeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita parcela muito reduzida da população. Perguntemo-nos, por exemplo, se ambos nossos pais tiveram escolaridade completa de oito anos. Quanto mais recuarmos no tempo, mais veremos como escola sempre foi um artigo precioso, difícil de encontrar no varejo social. Todos se lembram, ou pelo menos já ouviram falar, dos exames de admissão e, portanto, dos níveis “primário” e “ginasial”. Pois é, esse é um bom exemplo de como essas tais escolas de excelência do passado eram fundamentalmente segregacionistas e elitistas, atendendo uma parcela pequena e já privilegiada da população. O exame de admissão representava o que hoje conhecemos como o vestibular para as universidades públicas, já na passagem do primário para o ginásio. Inclusive, vale lembrar que a partir do início dos anos 70 o primário e o ginasial deixaram de existir, dando lugar ao “primeiro grau” (e mais recentemente ao “ensino fundamental”), agora com nove anos consecutivos. Desta feita, oito anos passaram a ser o tempo mínimo e obrigatório de escolaridade – uma conquista e tanto! Além disso, o número de vagas e estabelecimentos de ensino foi ampliado consideravelmente, democratizando cada vez mais o acesso à escola. Entretanto, as conquistas que o povo brasileiro obteve do ponto de vista da democratização do acesso ao ensino formal, com a abertura de novas escolas/vagas e os nove anos mínimos, continuam um projeto inacabado, uma tarefa por se encerrar, uma vez que, decorridas quase três décadas da penúltima grande reforma do ensino brasileiro, ainda não conseguimos fazer valer integralmente essa proposta de democratização lá desencadeada. Outrossim, o grande desafio dos educadores atuais passou a ser a permanência “de fato” das crianças na escola – o que, sabidamente, se consegue apenas com a qualidade do ensino ofertado. Essa é a grande tarefa dos educadores brasileiros na atualidade: fazer com que os alunos permaneçam na escola e que progridam tanto quantitativa quanto qualitativamente nos estudos. Mesmo porque escolaridade mínima e obrigatória é um direito adquirido de todo aquele nascido neste país. E desse princípio ético-político, e também legal, não podemos abrir mão sob hipótese nenhuma. Quando conseguirmos fazer com que a cada criança corresponda a uma vaga em uma escola, bem como condições efetivas para que lá ela permaneça (e queira permanecer) por pelo menos oito anos, algo de radicalmente revolucionário terá acontecido neste país! Contudo, é curioso comparar o contingente da população 101 www.sóeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita efetivamente atendido pelas escolas hoje e aquele de antigamente. De certa forma, a porcentagem efetiva de aproveitamento escolar é ainda semelhante àquela de antes. Poucos são aqueles que conseguem permanecer na escola até o final do segundo grau e menos ainda frequentar uma universidade, consolidando-se assim a famosa – mas indesejável – “pirâmide” educacional brasileira. Parece, então, que ainda não conseguimos fazer valer aquele célebre artigo da Constituição de 1988, o de número 205, que prega: “educação é um direito de todos e um dever do Estado e da família”. É tarefa de todos nós (principalmente os educadores) garantirmos uma escola de qualidade e para todos, indisciplinados ou não, com recursos ou não, com pré- requisitos ou não, com supostos problemas ou não. A inclusão, pois, passa a ser o dever “número um” de todo educador preocupado com o valor social de sua prática e, ao mesmo tempo, cioso de seus deveres profissionais. Outro dado que precisa ser reconfigurado com certa imparcialidade quando evocamos essas escolas do passado é o fato de que elas eram fundamentalmente militarizadas no seu funcionamento cotidiano. E o que isso significa? Se buscarmos exemplos em nossa memória, veremos isso com clareza: as filas, o pátio, o uniforme, os cânticos e, particularmente, a relação de medo e coação que tínhamos com as figuras escolares (que descuidadamente nomeamos hoje como “de respeito”), revelavam um espírito fortemente hierarquizado/hierarquizante da época, desenhando os contornos das relações institucionais. Assim, quando constatamos que nosso aluno de hoje não viveu esses tempos históricos obscuros, que ele é fruto de outras coordenadas históricas – e agora estamos nos referindo à abertura democrática –, fica claro que precisamos estabelecer outro tipo de relação civil em sala de aula. É óbvio que uma relação de respeito é condição necessária (embora não suficiente) para o trabalho pedagógico. No entanto, podemos respeitar alguém por temê-lo ou podemos respeitar alguém por admirá-lo. Mas, convenhamos, há uma grande diferença entre esses dois tipos de “respeito”. O primeiro funda-se nas noções de hierarquia e superioridade, o segundo, nas de assimetria e diferença. E há uma incongruência estrutural entre elas! Antes o respeito do aluno, inspirado nos moldes militares, era fruto de uma espécie de submissão e obediência cegas a um “superior” na hierarquia escolar. Hoje, o respeito 102 www.sóeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita ao professor não mais pode advir do medo da punição – assim como nos quartéis – mas da autoridade inerente ao papel do “profissional” docente. Trata-se, assim, de uma transformação histórica radical do lugar social das práticas escolares. Hoje, o professornão é mais um encarregado de distribuir e fazer cumprir ordens disciplinares, mas um profissional cujas tarefas nem sequer se aproximam dessa função disciplinadora, apassivadora, silenciadora, de antes. Em contraposição, boa parte dos profissionais da educação ainda parece guardar ideais pedagógicos que preservam, de certa forma, a imagem dessa escola de antigamente e desse professor repressor, castrador. Muitas vezes, para esses profissionais o bom aluno do dia a dia é aquele calado, imóvel, obediente. Será este um bom aluno, de fato? É muito estranho tomar uma descrição do cotidiano escolar do século passado ou do meio desse século e perceber que as escolas atuais têm um funcionamento ainda parecido, em termos das normas disciplinares, com aquelas escolas do passado. A punição, a represália, a submissão e o medo ainda parecem habitar silenciosamente as salas de aula, só que agora, por exemplo, por meio da avaliação. Não é verdade que muitas vezes alguns professores chegam a ameaçar seus alunos com a promessa de provas difíceis, notas baixas, etc? Não será isso também outra estratégia dissimulada de exclusão? O que dizer, então, das expulsões ou das “transferências”? Sob esse ponto de vista, talvez a indisciplina escolar esteja nos indicando que se trata de uma recusa desse novo sujeito histórico a práticas fortemente arraigadas no cotidiano escolar, assim como uma tentativa de apropriação da escola de outra maneira, mais aberta, mais fluida, mais democrática. Trata-se do clamor de um novo tipo de relação civil, confrontativa na maioria das vezes, pedindo passagem a qualquer custo. Nesse sentido, a indisciplina estaria indicando também uma necessidade legítima de transformações no interior das relações escolares e, em particular, na relação professor-aluno. Assim, resta uma questão: afinal de contas, escola para quê? Sabemos hoje que, por meio da exclusão de grande maioria da população, aquela escola do passado não visava, em absoluto, o preparo para o exercício da cidadania. E a escola e o professor de hoje? O que eles visam, a bem da verdade? Qual é o seu papel e função? São diferentes daqueles da escola de antes? Se assim o forem, quais resultados temos obtido concretamente? Enfim, estamos a serviço ainda da exclusão ditatorial 103 www.sóeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita ou da inclusão democrática? O ALUNO “SEM LIMITES” Outra hipótese muito em voga no meio escolar, produto de nosso suposto e, às vezes, perigoso “bom senso” prático, diz respeito à suposição de que as crianças de hoje em dia não têm limites, não reconhecem a autoridade, não respeitam as regras e a responsabilidade por isso é dos pais, que teriam se tornado muito permissivos. Quase todos parecem concordar com essa hipótese do “déficit moral” como explicativa da indisciplina. Pois bem, esse tipo de entendimento da questão disciplinar, mais de cunho psicológico, merece pelo menos dois reparos: o primeiro, com relação à ideia de ausência absoluta de limites e do desrespeito às regras; o segundo, sobre a suposta permissividade dos pais. Vejamos o primeiro: se prestarmos um pouco de atenção nos alunos mais indisciplinados fora da sala de aula, num jogo coletivo, por exemplo, veremos o quanto as regras são muito bem conhecidas pelas crianças e adolescentes. Não é nada estranho a um jovem de hoje em dia a vivência de uma situação qualquer de acordo com regras muito bem estabelecidas, rígidas na maioria das vezes. Um bom exemplo disso se encontra quando, num jogo ou brincadeira infantil, alguém não cumpre aquilo que foi acordado previamente entre os participantes, e este assim considerado “desviante” ou infrator é severamente punido ou mesmo expulso do jogo. No limite, pode-se afirmar que um “governo” infantil é nitidamente despótico, porque não prevê jurisprudências, prerrogativas, maleabilidade. Nesse sentido, as crianças, quando ingressam na escola, já conhecem muito bem as regras de funcionamento de uma coletividade qualquer, mesmo porque elas são inerentes a qualquer tipo de atividade humana, a qualquer tipo de relação grupal. Podemos encontrar outro exemplo concreto disso na língua. Quando escolhemos uma palavra ou uma construção linguística específica para narrar algo, estamos nos sujeitando automaticamente a um conjunto já dado de regras. E isso todos fazemos, queiramos ou não. A criança e o jovem também o fazem, talvez até com mais força e veemência do que os adultos. Isso é tão factual que, curiosamente, no mundo infantil as regras nem sequer permitem muitas exceções. 104 www.sóeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita Quando uma criança diz, por exemplo, “eu fazi” em vez de “eu fiz”, ou “eu trazi” em vez de “eu trouxe”, ela está demonstrando o quanto está apegada a uma norma invariante já dada e que descarta possíveis alterações, desvios. Ela está sendo, portanto, rigorosa ao extremo. Dito de outra maneira, os seus “limites”, inclusive intelectuais, são extensivos, implacáveis – ao contrário do que possa parecer à primeira vista. Desse modo, não se pode sustentar, nem na teoria nem na prática, que as crianças padeçam de falta generalizada de regra e de limite, embora esta ideia esteja muito disseminada no meio escolar. Ao contrário, a inquietação e a curiosidade infantis ou do jovem, que antes eram simplesmente reprimidas, apagadas do cotidiano escolar, podem hoje ser encaradas como excelentes ingredientes para o trabalho de sala de aula. Só depende do manejo delas... Não é evidente que quanto mais engajado o aluno estiver nas atividades propostas, maior será o rendimento do trabalho do professor? E que quanto maior for a reapropriação das regras da matemática, da língua ou das ciências, maiores serão o aproveitamento e o prazer em aprendê-las? Uma vez de posse da “mecânica” de determinado campo de conhecimento (as operações matemáticas, da gramática, das ciências, das artes, dos esportes, etc), o pensamento do aluno parece fluir com maior rapidez e plasticidade. Pois bem, um segundo reparo a essa ideia da falta de limites da criança e do jovem refere-se à suposta permissividade dos pais que, por sua vez, estariam criando obstáculos para o professor em sala de aula. Segundo boa parte dos professores, a família, em certa medida, não estaria ajudando o trabalho do professor, pois as crianças seriam frutos da “desestruturação”, do “despreparo” e do “abandono” dos pais (vale lembrar, oriundos também das décadas de 60/70). E, mais ainda, os professores teriam se tornado quase “reféns” de crianças tirânicas, deixados à mercê de crianças “sem educação”. Será isso verdade? É muito comum imaginarmos que “criança mal-educada em casa” converte-se automaticamente em “aluno indisciplinado na escola”. Pois alertemos que isso nem sempre é necessariamente verdadeiro. Não é possível generalizar esse diagnóstico para justificar os diferentes casos de indisciplina com os quais deparamos. Além disso, há uma evidência irrefutável de que os mesmos alunos indisciplinados com alguns professores podem ser bastante colaboradores com outros. Ora, precisamos recuperar alguns consensos quanto às funções da família e 105 www.sóeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita da escola, distinguindo claramente os papéis de pai e de professor. Família e escola não é a mesma coisa e uma não é a continuidade natural da outra; porque se assim o fosse, também o inverso da equação acima deveria ser igualmente plausível. Ou seja: “aluno indisciplinado na escola” converter-se-ia em “filho mal-educado em casa”. Estranha essa última fórmula,não? Quando desponta algum entrave de ordem disciplinar na sala de aula, uma das atitudes usuais por parte dos professores é convocar as autoridades escolares, e estes, os pais para que “deem um jeito no seu filho”. Imaginemos se, a cada vez que o filho desses mesmos pais apresentasse um problema disciplinar em casa, eles convocassem o professor para que este também “desse um jeito no seu aluno”. Muito estranho, não? Esse exemplo ficcional revela o quanto se costuma confundir e, às vezes, justapor os âmbitos de competências, os raios de ação das instituições escola e família. Portanto, precisamos admitir um consenso básico, muitas vezes esquecido no dia a dia escolar: o de que aluno não é filho, e professor não é pai. Em geral, a maioria dos professores imagina que o trabalho de disciplinarização moral da criança (de introjeção das regras e, portanto, da constituição dos famigerados “limites”), a cargo, mormente dos pais, é um pré-requisito para o trabalho de sala de aula. E esta ideia, embora correta em parte, também precisa ser repensada, pelo menos em parte. Quando falamos genericamente em “educação” de uma criança ou jovem, compreendemo-la como resultado conjunto da intervenção da família e da escola. Embora essas duas instituições basais sejam complementares e possam chegar a se articular, elas são bastante diferentes em suas raízes, objetos e objetivos. O trabalho familiar diz respeito à moralização da criança – essa é a função primordial dos pais ou seus substitutos. A tarefa do professor, por sua vez, não é moralizar a criança. O objeto do trabalho escolar é fundamentalmente o conhecimento sistematizado, e seu objetivo, a recriação deste. O resto é efeito colateral, indireto, mediato. No caso da família, o que está em foco é a ordenação da conduta da criança, por meio da moralização de suas atitudes, seus hábitos; no caso da escola, o que se visa é a ordenação do pensamento do aluno, por meio da reapropriação do legado cultural, representado pelos diferentes campos de conhecimento em pauta. Uma diferença e tanto, não é mesmo? Mas mesmo se argumentasse que determinadas crianças não apresentam as posturas morais mínimas para o trabalho 106 www.sóeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita de sala de aula (caso isso fosse possível...), esse argumento admitiria a seguinte réplica: trata-se de um complicador, jamais um impeditivo para o trabalho em torno do objeto do conhecimento, porque a docência sequer implica um trabalho semelhante àquele realizado pela família. Entretanto, muitos professores, diante das dificuldades do dia a dia, acabam se colocando como tarefa para que, só a partir daí, ele possa desencadear o trabalho do pensamento. Um bom exemplo disso é outro tipo de máxima muito frequente no meio pedagógico que reza, a nosso ver, equivocadamente: “para ser professor, é preciso antes ser um pouco pai, amigo, conselheiro etc”. Esse tipo de enfrentamento do trabalho pedagógico é desaconselhável por três razões, pelo menos: * Em primeiro lugar, trata-se de um desperdício da qualificação e do talento específico do professor, porque ele não se profissionalizou para ser uma espécie de pai “postiço”. Para uma ocupação como a paternidade não se exige uma preparação profissional – cada um é pai ou mãe de um jeito peculiar e assistemático. No caso do professor, exige-se uma preparação lenta e especializada, devendo ele atuar de maneira semelhante aos seus colegas de profissão e de modo diverso dos profissionais de outras áreas; * Em segundo lugar, trata-se de um desvio de função, porque ele não foi contratado para exercer tarefas parentais, e dele não se espera isso. Por mais que o trabalho em sala de aula demande muitas vezes exigências adicionais ao âmbito estritamente pedagógico, não se podem delegar ao professor funções para as quais ele não esteja explicitamente habilitado. É preciso, então, que o trabalho docente restrinja-se a um alvo específico: o conhecimento sistematizado, por meio da recriação de um campo lógico-conceitual particular. Não confundir seu papel com o de outros profissionais e outras ocupações: eis uma tarefa de fôlego para o professor de hoje em dia!; * Em terceiro, trata-se de uma quebra do “contrato” pedagógico, porque o seu trabalho deixa de ser realizado. Se o professor abandona seu posto, se ele não cumpre suas funções específicas, quem fará isso por ele? Se o professor não se responsabilizar imediatamente pelo conhecimento, quem o fará? Como em todas as outras relações sociais/institucionais (médico- paciente, patrão-empregado, marido- mulher, etc), na relação pedagógica existe um contrato implícito – um conjunto de regras funcionais – que precisa ser conhecido e respeitado para que a ação possa se 107 www.sóeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita concretizar a contento. E é curioso constatar que os próprios alunos têm uma clareza impressionante quanto a essas balizas contratuais do encontro pedagógico. Sem dúvida nenhuma, eles sabem reconhecer quando o professor está exercendo suas funções, cumprindo seu papel. O professor competente e cioso de seus deveres não é, em absoluto, um desconhecido para os alunos; muito ao contrário. Estes sabem reconhecer e respeitar as regras do jogo quando ele é bem jogado, da mesma forma que eles também sabem reconhecer quando o professor abandona seu posto. Nesse sentido, a indisciplina parece ser uma resposta clara ao abandono ou à habilidade das funções docentes em sala de aula, porque é só a partir de seu papel evidenciado concretamente na ação em sala de aula que eles podem ter clareza quanto ao seu próprio papel de aluno, complementar ao de professor. Afinal, as atitudes de nossos alunos são um pouco da imagem de nossas próprias atitudes. Não é verdade que, de certa forma, nossos alunos espelham, pelo menos em parte, um pouco de nós mesmos? Por essa razão, talvez se possa entender a indisciplina como energia desperdiçada, sem um alvo preciso ao qual se fixar, e como uma resposta, portanto, ao que se oferta ao aluno. Enfim, a indisciplina do aluno pode ser compreendida como uma espécie de termômetro da própria relação do professor com seu campo de trabalho, seu papel e suas funções. Sob esse aspecto, valeria indagar: qual tem sido o teor de nosso envolvimento com essa profissão? Temos nos posicionado mais como agentes moralizadores ou como professores em sala de aula? Temos nos queixado das famílias mais do que deveríamos ou, ao contrário, temos nos dedicado com mais afinco ainda ao nosso campo de trabalho? Temos encarado os alunos, nossos parceiros de trabalho, como filhos desregrados, frutos de famílias desagregadas, ou como alunos inquietos, frutos de uma escola pouco desafiadora intelectualmente? Enfim, indisciplina é uma resposta ao fora ou ao dentro da sala de aula? O ALUNO “DESINTERESSADO” Ainda, uma terceira hipótese que os professores levantam frequentemente sobre as razões da indisciplina é que para os alunos, a sala de aula não é tão atrativa quanto os outros meios de comunicação, e particularmente o apelo da televisão. Por 108 www.sóeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita isso, a falta de interesse e a apatia em relação à escola. A saída, então, seria ela se modernizar com o uso, por exemplo, de recursos didáticos mais atraentes e assuntos mais atuais. Esse tipo de raciocínio, mais de cunho metodológico, também merece alguns reparos. O principal deles refere-se ao fato mais do que evidente de que escola não é um meio de comunicação. Da mesma forma que distinguimos anteriormente as instituiçõesfamília e escola, aqui se faz importante a distinção escola e mídia. Enquanto a mídia (os diversos meios de comunicação como a televisão, o rádio, o jornal, o próprio computador atualmente, etc.) tem como função primordial a difusão da informação, a escola deve ter como objetivo principal a reapropriação do conhecimento acumulado em certos campos do saber – aquilo que constitui as diversas disciplinas de um currículo. Ainda, os meios de comunicação podem ter como objetivo o entretenimento, o lazer. Escola, ao contrário, é lugar de trabalho árduo e complexo, mas nem por isso menos prazeroso... Por essa razão, assim como afirmamos anteriormente que professor não é pai e aluno não é filho, é preciso acrescentar: o professor não é um difusor de informações, e muito menos um animador de plateia, da mesma forma que o aluno não é um espectador ou ouvinte. Ele é um sujeito atuante, corresponsável pela cena educativa, parceiro imprescindível do contrato pedagógico. Na escola, portanto, não se “repassam” informações simplesmente: ensina-se o que elas querem dizer, para muito além do que elas dizem... O trabalho pedagógico- escolar é mais da ordem da desconstrução, da desmontagem das informações, e isso se faz com o raciocínio lógico-conceitual propiciado pelos diferentes campos de conhecimento, representados nas disciplinas escolares. Claro está, pois, que o objetivo da ação docente não é “transmitir” ou difundir determinados produtos, tais como dados, fórmulas ou fatos, mas fundamentalmente reconstruir o caminho percorrido antes que se chegasse a tais produtos. É isso, e tão-somente, o que se faz em uma sala de aula! Por exemplo, não se apregoa apenas que a fórmula da água é H2O, ou que a ordem de sucessão sintática é “sujeito/verbo/objeto”, ou ainda que “- x - = +”. Toma-se uma construção linguística, a estrutura molecular da água ou os números negativos como questões concretas da vida, pinçando-as do cotidiano, e propõe-se, sob a forma de problematização, o que já é sabido sobre esses temas. Mas, para tanto, refaz-se o caminho já percorrido por aqueles que nos precederam, 109 www.sóeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita mediante os mesmos problemas, tomando uma espécie de atalho no itinerário das descobertas. Não é essa, em última instância, a razão por que se ensina, por que existe escola: refazer a história dos campos de conhecimento? Revisitar as respostas já consagradas às velhas inquietações humanas? Pois bem, ponto pacífico, o trabalho pedagógico é muito mais do que a difusão de determinadas informações. Assim, se não obtivermos o suporte do conhecimento, ou seja, o recuo do pensamento que o conhecimento sistematizado nos proporciona, como fazer para decodificar as informações difusas que os meios de comunicação veiculam cotidianamente e a granel? Este é outro dado importante, uma distinção basal: enquanto a informação refere-se ao presente, o conhecimento reporta-se obrigatoriamente ao passado. O conhecimento é aquilo que subjaz a (ou antecede) determinada informação, e, portanto, o requisito básico para a sua inteligibilidade. Por exemplo, a televisão ou o rádio podem veicular uma determinada notícia – e isso eles fazem às centenas todo dia – mas se não tivermos disponíveis certas ferramentas, de tal maneira que possamos compreender o que aquilo significa e implica, essa notícia não é compreendida por completo e acaba, mais cedo ou mais tarde, sendo esquecida, apagada, substituída. Ela simplesmente desaparece se não houver meios propícios para decompô- la, assim como um locus para armazená-la. Em suma, pode-se afirmar que a memória é, antes de tudo, donatária das competências cognitivas. Por essa razão, a inteligência humana não é, sob hipótese alguma, um depósito de informações, mas um centro processador delas. Não apenas “ingerimos” informações, mas as “digerimos”, e isso é o que nos torna diferentes uns dos outros... Alguns têm uma capacidade de digestão muito maior do que outros e essa capacidade se aprende e se potencializa principalmente no meio escolar. É fundamental, portanto, que tenhamos claro que, em sala de aula, o nosso ponto de partida é a informação, mas o ponto de chegada é o conhecimento. E essa é uma diferença nem um pouco sutil! Uma máxima pedagógica recente espelha e, ao mesmo tempo, ameaça esse princípio básico, do conhecimento como alvo prioritário da intervenção escolar: “trabalhar com os dados de realidade do aluno”. É possível, e até desejável, que a ação pedagógica seja desencadeada a partir dos elementos informativos de que os alunos dispõem, mas o objetivo docente deve 110 www.sóeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita ultrapassar em muito esse escopo restrito, da disponibilidade cognitiva do aluno e sua pontualidade. O trabalho escolar visa, sem sombra de dúvida, a transformação do pensamento do aluno. Em certo sentido, ele se contrapõe aos “dados de realidade” discente. Antes, o mundo do conhecimento contrapõe os saberes sistematizados àqueles pragmáticos, do dia a dia. Por essas e outras, escola é lugar sempre do passado, no bom sentido do termo. E deve continuar sendo! Muitas vezes conotamos o passado como velho, antiquado, ultrapassado, em desuso. Não é esse, em absoluto, o caso do conhecimento escolar. Pode-se afirmar com segurança que, de certo modo, o conhecimento sistematizado é a grande dádiva que os nossos antepassados nos legaram, a única herança que as gerações anteriores podem deixar para as gerações dos “forasteiros” recém-chegados ao velho mundo. Todos sabem que a condição humana é extremamente transitória; somos um ponto fugaz entre o passado e o futuro. E é no interior dessa evidência que se figura a “transitividade” do lugar educativo, daquele que se coloca como lastro, mediador entre novos sujeitos e velhos objetos. Então, vale a pena perguntar: será que estamos conseguindo que nossos futuros cidadãos estejam angariando efetivamente tudo aquilo que lhes foi legado, para que possam usufruir da vida, a que têm direito, com intensidade e responsabilidade? Muitas vezes, entretanto, temos a impressão de que os alunos não têm interesse algum naquilo que temos para lhes ofertar. Ou então, que os conteúdos escolares seriam, na verdade, alheios aos interesses imediatos, pontuais da criança e do jovem contemporâneos. Isso não é bem assim. Vale lembrar que suas demandas não são tão definidas, ou irredutíveis, a ponto de não poderem ser transformadas. Além do mais, a curiosidade é algo que marca fortemente a infância e a adolescência, assim como a imaginação é a estratégia principal empregada para descobrirem o mundo intangível à sua volta. Pois então, qual é o papel do professor perante isso? No nosso entendimento, talvez algo muito simples e, ao mesmo tempo, absolutamente sofisticado: contar histórias... Em sala de aula, recontamos histórias – as histórias das conquistas do pensamento humano (nas ciências, nas humanidades, nas artes, nos esportes). E isso não é nada desinteressante, quanto mais para uma criança ou um jovem! Na 111 www.sóeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita abstração implicada nesses domínios do pensamento pode-se atestar o cerne mesmo da perplexidade humana perante a existência. E nisso reside grande parte do fascínio do viver! De mais a mais, não existe nada tão instigante como desvendar a “lógica” de algo que desconhecíamos total ou parcialmente, o que pode se apresentar sob a forma de um problema matemático, da análise de um texto literário, do movimento de astros longínquos, ou da geografia de terras alheias.Para tanto, exigem-se do aluno apenas imaginação e inquietude – curiosamente, os mesmos ingredientes básicos da indisciplina, verificados na engenharia de uma “cola”, numa brincadeira maliciosa com o colega, ou ainda numa piada sobre uma mania ou trejeito qualquer do professor. Além disso, o ritmo do trabalho pedagógico é outro. Não se pode imaginar que o tempo de “digestão” do conhecimento seja o mesmo das informações. Ele é, obviamente, mais lento, mais artesanal, assim como a inteligência humana é mais seletiva, mais qualitativa do que quantitativa. Sala de aula, portanto, é o lugar onde o pensamento deve se debruçar por alguns instantes sobre algumas indagações basais da vida, aquelas corporificadas pelas questões impostas pelos diferentes campos do conhecimento e seus múltiplos objetos. Portanto, vale indagar: temos nos posicionado como aqueles que guiam essa “viagem” do aluno rumo ao desconhecido, ou, ao contrário, temos tomado o trabalho de sala de aula como algo maçante e previsível? Temos visto em nosso aluno a possibilidade de um futuro ex-forasteiro no mundo, alguém mais complexo e menos afoito do que antes, ou, ao contrário, como alguém despossuído ou não habilitado integralmente para essa possibilidade? Temos tomado nosso ofício como uma linha de montagem ou como um ateliê de uma modalidade singular de arte – aquela de forjar cidadãos? UMA LEITURA DA INDISCIPLINA ESCOLAR Até agora debatemos três grandes hipóteses explicativas da questão disciplinar, tentando demonstrar que se trata de versões diagnósticas que não se sustentam por completo, por três razões, pelo menos: * A primeira é que elas estão apoiadas em algumas evidências equivocadas e em alguns pseudoconceitos (como a visão romanceada da educação de antigamente, 112 www.sóeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita a moralização deficitária por parte dos pais, além da ideia do conhecimento escolar como algo ultrapassado e desestimulante); * A segunda razão é que, de uma forma ou de outra, elas acabam isolando a indisciplina como um problema individual e anterior do aluno, quando, ao contrário, a ato indisciplinado revela algo sobre as relações institucionais-escolares nos dias atuais; * A terceira razão deve-se ao fato de que as três hipóteses esquivam-se de levar em consideração a sala de aula, a relação professor-aluno e as questões estritamente pedagógicas. Elas esboçam razões para a indisciplina, mas não apontam caminhos concretos para sua superação ou administração. Essas três hipóteses explicativas cometem um engano, já de largada, que é o de tomar a disciplina como um pré-requisito para a ação pedagógica, quando, na verdade, a disciplina escolar é um dos produtos ou efeitos do trabalho cotidiano de sala de aula. E todos sabem disso de alguma maneira, por mais que evitemos o peso dessa constatação... É sempre bom lembrar que um mesmo aluno indisciplinado com um professor nem sempre é indisciplinado com os outros. Sua indisciplina, portanto, parece ser algo que desponta ou se acentua dependendo das circunstâncias. Por isso, talvez devêssemos nos indagar mais sobre essas circunstâncias e, por extensão, despersonalizar o nosso enfrentamento dos dilemas disciplinares. Quase sempre se imagina que é necessário aos alunos apresentarem previamente um conjunto de ações disciplinadas (como: ser “obediente”, permanecer “em silêncio”, etc) para, então, o professor poder iniciar seu trabalho. E esse é um equívoco sério, porque, em nome dele, perde-se um tempo precioso tentando-se disciplinar os hábitos discentes. Qual uma possível saída, então? Qual outra visão alternativa que não se paute em nenhuma das três comentadas até agora ou, mais ainda, que evite a tentação de incorrer em um pot-pourri de todas elas? Gostaríamos de propor outra hipótese diagnóstica, agora de cunho explicitamente escolar, para que pudéssemos olhar com outros olhos a indisciplina “nossa de cada dia”, um dos “ossos de nosso ofício”... Tomando a indisciplina como uma temática fundamentalmente pedagógica, talvez possamos compreendê-la inicialmente como um sinal, um indício de que a intervenção docente não está se processando a contento, que seus resultados não se aproximam do esperado. Desse ponto de vista, a indisciplina passa, então, a ser algo salutar e legítimo para o 113 www.sóeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita professor. Indisciplina é um evento escolar que estaria sinalizando, a quem interessar, que algo, do ponto de vista pedagógico, e mais especificamente da sala de aula, não está se desdobrando de acordo com as expectativas dos envolvidos. O que fazer, então? Como interpretar claramente o que a indisciplina está indicando de forma indireta? Vamos por partes. Em geral, o trabalho docente é compreendido como a associação de duas, digamos, grandes “dimensões”. Uma que é a dos conteúdos específicos e outra que é a dos métodos utilizados. Ou seja, no ideário pedagógico, a fórmula da intervenção docente resume-se a uma equação como esta: “ensina-se algo de alguma forma’. Gostaríamos, a partir de agora, de adicionar a essa combinação pedagógica clássica um terceiro dado, que chamaremos de dimensão “ética” do trabalho docente. Assim, nossa fórmula pedagógica passaria a contar com mais um elemento: “ensina-se algo, de alguma forma, a alguém específico”. Longe de psicologizar o ato educativo, o que se quer dizer com isso? A dimensão dos conteúdos refere-se a “o que se ensina”, a dimensão dos métodos ao “como se ensina”, e a dimensão ética ao “para que se ensina”: aquilo que delimita o valor humano e social da ação escolar, porque sempre inserido em uma relação concreta. Essa é uma distinção importante porque os grandes problemas que enfrentamos hoje evocam, na maioria das vezes, este “para quê escola?”. Acreditamos, portanto, que grande parte dos nossos dilemas de todo dia exija um encaminhamento de natureza essencialmente ética e não metodológica, curricular ou burocrática. Curiosamente, essa ideia parece apontar na mesma direção para a qual o aluno indisciplinado está incessantemente nos chamando a atenção. É essa a pergunta que ele está fazendo o tempo todo: para que escola? Qual a relevância e o sentido do estudo, do conhecimento? No que isso me transforma? E qual é meu ganho, de fato, com isso? Temos conseguido responder essas perguntas quando direcionadas a nós mesmos? Qual a relevância e o sentido da escola, do ensinar e do aprender para nós, professores? Escola realmente faz diferença na vida das pessoas? Se ela marca uma diferença sem precedentes, por que ela geralmente é conotada como um lugar entediante, supérfluo, aquém da “realidade”, inclusive para nós mesmos? Por que nos esforçamos em imaginar, tal como nossos alunos, que a “vida mesmo” está para além dos muros escolares? E por que é que o mundo deixou (e parece deixar cada vez mais) de parecer com um grande livro aberto? 114 www.sóeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita Todas essas indagações são inadiáveis hoje em dia porque se os professores, na qualidade de profissionais privilegiados da educação, tiverem clareza quanto ao seu papel e ao valor do seu trabalho, eles conseguirão ter outro tipo de leitura sobre o cotidiano da sala de aula, sobre os problemas que se apresentam e as estratégias possíveis para o seu enfrentamento. Por incrível que possa parecer à primeira vista, grande parte de nossos contratempos profissionais pode ser resolvida com algumas ideias simples e eficazes, mesmo porque muitas das armadilhas que o cotidiano nos arma parecem ter nossa anuência,quando não nossa autoria. Portanto, rever posicionamentos endurecidos, questionar crenças arraigadas, confrontar posicionamentos imutáveis, debater-se contra fatalidades: eis algo que, antes de ser uma obrigação, significa uma oportunidade ímpar de vivência dessa profissão, de certo modo, extraordinária. Para que isso possa ser otimizado, algumas premissas pedagógicas precisam ser preservadas (e fomentadas, é claro) no trabalho de todo dia, de sala de aula. E essas premissas ultrapassam o plano dos conteúdos e dos métodos, ou melhor, elas os abarcam. Nada de muito complexo, ao contrário. Tendo-as em mente, todo o resto (disciplina, aproveitamento, interesse, credibilidade, sucesso escolar) virá a contento... Vale à pena apostar! Há, a nosso ver, alguns princípios éticos balizadores de nosso trabalho, e estes implicam, inicialmente, quatro elementos básicos, a saber: * O conhecimento, que é o objeto exclusivo da ação do professor. O âmbito de atuação do professor é o essencialmente pedagógico. Portanto, ater-se ao seu campo de conhecimento e suas regras particulares de funcionamento, nunca à moralização dos hábitos, é uma medida fundamental. * A relação professor-aluno, que é o núcleo do trabalho pedagógico, uma vez que o aluno é nosso parceiro, co-responsável pelo sucesso escolar, portanto. Mas é fundamental que seja preservada a distinção entre os papéis de aluno e de professor. Não se pode esquecer nunca que é dever do professor ensinar, assim como é direito do aluno aprender. Isso nem sempre é claro ainda para o aluno, principalmente aqueles do ensino fundamental, o que não significa que o mesmo deva acontecer conosco; * A sala de aula, que é o contexto privilegiado para o trabalho, o microcosmo concreto onde a educação escolar acontece de fato. É lá também que os conflitos têm de ser administrados, gerenciados. É lá, e apenas lá, que se equacionam 115 www.sóeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita os obstáculos e que se atinge uma possível excelência profissional. Portanto, mandar aluno para fora de sala (e, no limite, para fora da escola) é um tipo de prática abominável, que precisa ser abolida urgentemente das práticas escolares brasileiras; * O contrato pedagógico. Trata-se da proposta de que as regras de convivência, muitas vezes implícitas, que orientam o funcionamento da sala de aula – e daquele campo de conhecimento em particular – precisam ser explicitadas para todos os envolvidos, conhecidas e compartilhadas por aqueles inseridos no jogo escolar, mesmo se elas tiverem de ser relembradas (ou até mesmo transformadas) todos os dias. Portanto, a medida mais profícua é a seguinte: jamais iniciar um curso ou um ano letivo sem que as regras de funcionamento dessa “sala de aula/laboratório” sejam conhecidas, partilhadas e, se possível, negociadas por todos. 116 www.sóeducador.com.br Processo de ensino e aprendizagem leitura e escrita REFERÊNCIAS ALMEIDA, Napoleão Mendes de. Gramática Metódica da Língua Portuguesa. São Paulo: Saraiva, 1999. ANDRADE, Maria Margarida de. Curso de Língua Portuguesa para a área de humanas: enfoque no uso da linguagem jornalística, literária, publicitária. São Paulo: Atlas, 1997. ANTUNES, Celso. Professor bonzinho = aluno difícil: a questão da indisciplina em sala de aula. Rio de Janeiro: Vozes, 2002. ARAÚJO, Francisca Jackeline Dantas de. Aquisição da Leitura e Escrita. Recife: Milagres, 2007. BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002. BRUNER, Jerome S. O Processo da Educação. São Paulo: Nacional, 1978. CÂMARA JÚNIOR, Joaquim Matoso. 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