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TEMA 4- Ancestralidade e tradições africanas

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Ancestralidade e tradições africanas
Prof. Arthur José Baptista
Descrição
Rompimento da ignomínia de povos africanos como uma cultura inferior, explicando de forma clara e direta a
importância de sua cultura e ancestralidade.
Propósito
Fomentar a formação de profissionais mais bem preparados para apreender a diversidade.
Objetivos
Módulo 1
Para uma antropologia da ancestralidade
Reconhecer o impacto da antropologia para o conhecimento da ancestralidade e tradições africanas.
Módulo 2
Recuperando histórias e tradições
Identificar o conceito de ancestralidade e suas categorias para sua historicização.
Introdução
Se a escravidão acabou e vivemos todos na mesma sociedade, para que remexer esse passado? Se você pensa
assim, é bem possível que seu pensamento esteja mergulhado no sucesso do processo de colonização. História se
faz na tradição europeia, seu mundo se modifica a partir de feitos e homens brancos e isso está naturalizado para
você.
Essa naturalização é uma construção histórica com o objetivo de consolidar domínios e naturalizar paisagens e
imagens, que acaba por gerar uma percepção de que aquela é a verdade. Muitos fatores entram nesse processo:
ética, religião, moral, comportamentos, ideais, só para ficar em um primeiro plano.
Para romper com esse olhar, essa tradição, de nada adiantaria dizer: isso não é verdade. Seriam meras palavras.
Palavras que só vão obter sentido se as velhas crenças forem revistas, ressignificadas e reassumidas. É isso que
passaremos a fazer, em um texto leve, mas profundo. Pense sobre o conjunto de informações que
tradicionalmente você não obteve: agora é o momento de recuperá-las. Para isso, vamos rumar para o continente
africano.

1 - Para uma antropologia da ancestralidade
Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer o impacto da antropologia para o
conhecimento da ancestralidade e tradições africanas.
Valores das sociedades tradicionais africanas
Culturas tradicionais africanas
A maioria dos seres humanos nascidos no continente africano que vieram para o Brasil e para as Américas ao
longo de aproximadamente 350 anos, tempo que durou o comércio de seres humanos na época Moderna, foi
proveniente de sociedades portadoras de culturas tradicionais.
O tráfico atlântico de escravizados foi a base da acumulação de capitais que permitiu
aos países do continente europeu a arrancada de seu padrão de desenvolvimento
moderno.
As culturas tradicionais africanas (de agora em diante denominadas CTAs) eram, geralmente, portadoras das
seguintes características gerais:
O elemento estruturante das CTAs eram as religiões tradicionais.
A religiosidade cobria todas as esferas da existência e influenciava os comportamentos individuais e coletivos.
Seu alcance começava antes do nascimento dos indivíduos e se prolongava para além de suas mortes físicas,
ligando-os aos seus ancestrais e àqueles que ainda estavam por nascer.
Cerimônia de adivinhação e dança, Brasil, década de 1630.
Para a maioria das CTAs, os valores civilizatórios mais característicos poderiam ser resumidos nos seguintes
termos:
A oralidade e o poder da
palavra
O poder dos ritos e dos
símbolos
A autoridade dos anciãos na
transmissão da tradição do
grupo
A
O princípio da relação e da participação comunitária na força vital universal.
Nas CTAs, a educação tradicional assume uma grande importância que marca o indivíduo mais que todas as
outras educações que ele recebe na sociedade. Uma educação caracterizada pelo método iniciático. A iniciação
tradicional é baseada na concepção da vida como uma longa jornada de crescimento em que o indivíduo, guiado
pela mão dos mais velhos, vai passando, gradual e progressivamente, de uma fase da vida a outra; de “menos ser
A crença na imortalidade.
A prevalência do bem comum sobre os interesses individuais.
O forte sentido de família alargada.
O valor da solidariedade, da hospitalidade e da partilha.
O amor à vida e à fecundidade.
O respeito e a veneração pelos mais velhos e crianças.
O sentido da paciência e da esperança na vida.
para mais ser”, até atingir o pleno estatuto de pessoa madura, consciente, autônoma, responsável, solidária e
comunicadora da vida.
O mundo nas culturas tradicionais africanas
Na concepção das CTAs, a pessoa não nasce já feita, mas vai se fazendo gradualmente no processo iniciático por
meio de instruções, ritos e cerimônias.
A pessoa passa por uma renovação interior profunda que modifica não apenas seus
comportamentos, atitudes, mentalidade e vida, mas também o próprio ser.
Trata-se de uma verdadeira transformação ontológica. Referindo-se particularmente às culturas tradicionais banto,
diz um estudioso das CTAs:
A chave para a compreensão dos costumes e instituições dos bantos é a comunidade, que se apresenta
como a unidade de vida. O segredo parece ser um princípio único, a participação. A participação na
mesma vida, ou a união vital, aparece como o princípio-base da cultura banto. Do princípio da união vital
fluem todas as instituições políticas, sociais, econômicas, artísticas e nele se fundamenta a religião
tradicional banto. A vida, princípio e fim de todo o criado e das comunidades banto, tem uma causa
primeira. Nzambi (Deus), princípio formador e informador de todos os seres, inundou a criação com esse
princípio vital. Nzambi é a origem e a plenitude da vida.
(ALTUNA, 2006, p. 22)
Em outras palavras, a cultura dos bantos, uma das mais importantes em difundir traços e organização na África,
tem como o seu maior dom e uma realidade sagrada e de preço inestimável a ancestralidade de sua formação. Os
primeiros antepassados receberam-na de Nzambi para a comunicar e defender.
A vida, que podemos entender como energia vital, manifesta-se em cada um, seu movimento, força e dinamismo.
Essa ligação contínua e poderosa impregna todo o universo. Todo o universo pulsa porque é dinâmico, ativo, vivo,
pujante. Porque existe uma única corrente vital, brota uma “unidade ontológica de todos os seres”, uma comunhão
universal, um dinamismo interno que se expressa sobretudo pela palavra e pelo movimento.
Mundo invisível e mundo visível parecem unidos em uma simbiose de vida indestrutível. Nesse sentido, todo o
universo visível e invisível, desde Nzambi até um grão de areia, passando pelos espíritos, antepassados, animais,
plantas e minerais, está composto de “vasos comunicantes”, de forças vitais solidárias, que emanam de Nzambi.
Estátua de madeira representando Nzambi.
O seu universo forma uma unidade indivisa, o “ntu” humano (o ser) vive em uníssono com o mundo visível e
invisível. O homem não está situado frente ao cosmos, mas no cosmos. A partir da integração na sua família-
comunidade pelo sangue-vida recebido dos antepassados, os bantos sentem-se em comunhão com o universo,
envolvidos na corrente vital.
Os mundos visível e invisível, embora muito amplos e complexos, estão unidos por relações vitais com
intercâmbios permanentes. As aparências sensíveis apresentam-se sob formas divergentes nos reinos vegetal,
animal e mineral. Mas estas são essencialmente manifestações de uma só realidade fundamental:
O universo, rede de forças divergentes, porém suplementares.
A realidade completa é o resultado da comunhão perfeita, ainda que em mutação, do visível e invisível. Aquele,
tangível e sensorial, significa a existência atual, concreta e representa o invisível. A aparência de um objeto, seu ser
concreto é a representação da sua natureza íntima.
Ambos os mundos constituem uma só realidade, se interacionam. Os elementos exterior e interior,
misteriosamente unidos, integram a realidade de tudo o que existe. Longe de manifestar qualquer sentimento de
mal-estar, ante o invisível, o banto encontra-se adaptado; pelo contrário, desorienta-se ante os fenômenos
exteriores, onde o choque perturba a sua harmonia interior.
Re�exão
Mas podemos definir toda a ancestralidade como algo único?
Claro que não, essa interpretação, como um fenômeno cultural e social, circulae marca sua presença de forma
maior ou menor em grupos diversos, sendo ressignificada e renomeada, e até mesmo renegada, mas isso não
representa o fim ou a negação absoluta, e sim a compreensão de como ela permanece viva, para muito além de um
passado esquecido.
Assista a cultos religiosos, mesmo cristãos, e manifestações musicais de Gana, Nigéria ou Congo, você perceberá
como eles mantêm diálogos com essa concepção de cultura e sociedade.
As culturas tradicionais africanas na diáspora
Na diáspora, as CTAs se reconfigurariam e criariam uma miríade de novas culturas, guardando os traços
característicos das CTAs originárias, seus valores, suas características e suas formas de ver e interpretar a vida e o
mundo. Nos dizeres de Sweet (2007), os membros dessas culturas precisaram “recriar Áfricas” como estratégias
de sobrevivência, resistência e reexistência.
iáspora
A palavra diáspora deriva dos termos gregos dia (através, por meio de) e speirõ (semear, disseminar). Utilizaremos a
expressão, entendendo-a nos termos de Butler (2020).
Saiba mais
A obra basilar de Mintz e Price (1992) dá conta de como essas culturas se amalgamaram nas Américas e
contribuíram para o surgimento do que esses autores denominaram de culturas afro-americanas com todas as
suas variações em termos de artes, religiosidade, modos de ser e de viver. Para Mintz e Price, os africanos que
povoaram o Novo Mundo não compartilhavam da mesma cultura.
Eles conceituam cultura como um corpo de crenças e valores socialmente adquiridos e padronizados, que servem
de guias para a conduta em um grupo organizado (em uma “sociedade”).
Se os colonos europeus já representavam tradições culturais nacionais específicas, os africanos seriam privados
dessas tradições. Estes eram retirados de diferentes locais do continente africano, de numerosos grupos
linguísticos e de múltiplas sociedades das mais diversas regiões. Assim, não se poderia afirmar que os africanos
trazidos à diáspora formavam uma única cultura.
Navio negreiro com escravizados na costa da África.
Obra Mercado de escravos.
A começar, era incomum grupos de africanos de culturas específicas poderem viajar juntos ou se instalarem no
mesmo local ao chegarem às Américas.
Não havia uma cultura africana no singular, mas, de uma perspectiva transatlântica, um “conglomerado
etnicamente heterogêneo” de indivíduos com sua cultura específica (DOMINGUES, 2004, p. 245).
Mintz e Price ainda asseguram que a população escravizada não reproduziu no Novo Mundo o mesmo padrão
cultural da África.
Exemplo
O sistema religioso não sobreviveu inalterado e intacto no novo contexto. Assim, “não mais parece suficiente
afirmar que o culto dos gêmeos no Haiti, a adoração de Xangô em Trinidad ou na Bahia, ou o uso de oráculos no
Suriname são simples exemplos de uma transposição da África, ou mesmo de continuidades culturais étnicas
específicas” (MINTZ; PRICE, 1992, p. 63).
Por fim, as continuidades formais diretas da África teriam constituído mais uma exceção do que a regra em
qualquer cultura afro-americana. A tarefa do historiador, portanto, seria entender como o material cultural, que foi
preservado, serviu para os escravizados construírem (e reconstruírem) uma identidade específica e conquistarem
certo grau de autonomia face ao domínio senhorial (DOMINGUES, 2004, p. 246). Segundo Mintz e Price, as culturas
africano-americanas plenamente formadas desenvolveram-se nos primeiros anos de povoamento de muitas
colônias do Novo Mundo. Tal processo, fundado no dinamismo e na criatividade dos africanos escravizados,
resultou no surgimento de uma “nova cultura” (MINTZ; PRICE, 1992, p. 76).
A diáspora se posicionou não como um processo contínuo em que todos os povos da mesma maneira foram
direcionados. Esteve em meio a disputas políticas, como revela a história da líder angolana Nzinga, que vinha de
uma histórica relação com os entrepostos portugueses, e passa a uma luta pela vitória sobre eles.
Ana de Sousa (1582-1663) foi a rainha do Reino do Dongo e do Reino da Matamba.
A cultura da diáspora acaba por gerar um híbrido entre o que aparece de forma inteiramente negada – culturas dos
grupos ancestrais –, mas que foi mantido e repetido de pessoa a pessoa, de tradição em tradição dos grupos que
se estabeleceram e pela memória e reafirmação manteve e demonstra o peso histórico dessa maneira de pensar o
mundo, a vida e o ser.
Se fosse em outra cultura, como os gregos, debates como esse chamariam atenção. Note seu ânimo neste
momento: se você leu como uma curiosidade distante, então releia, você ainda não sentiu o que significa.
Culturas africanas
Assista ao vídeo a seguir em que o professor Rodrigo Rainha recupera culturas tradicionais africanas.

Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
As culturas tradicionais africanas são um desafio importante à compreensão, uma vez que
A não sobraram vestígios.
B muito pouco foi produzido.
C eram sociedades orais e desorganizadas.
D os europeus queimaram e destruíram tudo.
Parabéns! A alternativa E está correta.
A questão das escolhas na construção das ideias de pensamento fez com que as culturas tradicionais
africanas fossem colocadas como primitivas em relação ao ideal civilizado europeu.
Questão 2
Ao lidar com cultura, devemos ter o cuidado de não perceber um grande todo, ou uma cultura africana. A visão
que é importante construir para recuperar traços é
Parabéns! A alternativa E está correta.
A busca de ressignificar características invisibilizadas requer tempo, comparações e novos olhares a serem
desenvolvidos.
E a tradição colonial optou por invisibilizar o passado dessas culturas.
A africanizar recuperando passado.
B vingar as violências sofridas.
C apagar os passados escravistas e coloniais.
D recontar a história a partir de linguagens exclusivamente africanas.
E reconhecer e buscar linhas históricas, linguísticas e antropológicas.
2 - Recuperando histórias e tradições
Ao �nal desse módulo você será capaz de identi�car o conceito de ancestralidade e suas categorias
para sua historicização.
A noção e a função do conceito de ancestralidade nas CTAs
Nas CTAs, o mundo dos antepassados é entendido como contínuo e análogo ao dos vivos, e as interações entre os
dois mundos são, por senso comum, base regular da existência.
Nessa realidade, os ancestrais podem ser chamados de guardiões extramundanos da ordem moral; toda a sua
preocupação é cuidar dos assuntos dos membros vivos de suas famílias, recompensando a conduta correta e
punindo o seu oposto, com justiça inquestionável, ao mesmo tempo que, em todos os momentos, trabalham para o
bem-estar deles.
A ancestralidade revela-se como base da organização social nas CTAs.
Como foi possível, então, para as diversas culturas africanas exiladas na diáspora manter os traços de
ancestralidade tão fundamentais nas suas visões de mundo e de existência?
Resposta
Para Sodré (2017), as manifestações culturais de CTAs, particularmente da área conhecida como terra yorubá,
teriam sido preservadas por meio de recriações religiosas que, no Brasil, em particular, transmutaram-se naquilo
que hoje conhecemos como religiões de matrizes africanas.
Esses complexos culturais nagôs eram portadores de princípios filosóficos existenciais que poderiam ser
resumidos como culturas de Arkhé. Vejamos, a seguir, as palavras de Sodré a esse respeito:
agô
Nagô tornou-se um nome genérico para a diversidade do complexo cultural, na verdade equivalente à palavra iorubá. A
insistência na denominação “nagô” – mas também “jeje-nagô” – conota, para nós, a pouca familiaridade brasileira com
a diversidade étnica dos escravizados, mas, ao mesmo tempo, a preponderância do comércio intenso entre a Bahia e a
costa da África Ocidental, portanto, a manutenção do contato permanente entre os nagôs da diáspora escrava e as
suas regiões de origem (SODRÉ, 2017, p. 103).
Os deuses gregos e os orixás.
“Se estabelecermos uma analogia entreo grego e o nagô, as próprias divindades (orixás) são Arkhai, isto é,
princípios a serem cultuados como theos ou como epítetos divinos. Esse princípio é propriamente filosófico
(pois não se trata apenas de crença religiosa, mas principalmente de pensamento cosmológico e de ética, cuja
terminologia é variável) com roupagem religiosa, ou seja, pertencente a uma filosofia trágica, que afirma o divino
como uma faceta da vida, mas sem teologia.” (SODRÉ, 2017, p. 105)
Comunidade terreiro.
“Nessa composição complexa, uma metade é claramente humana, a outra pertence à ordem do ‘suprarracional’
ou do ‘divino’. A esse pensamento se deveram a recriação e a preservação de uma forma social caracterizada
por organizações litúrgicas (egbé) ou comunidades terreiros, que se firmaram como polos de irradiação de um
complexo sistema simbólico, continuador de uma tradição de culto a divindades ou princípios cosmológicos
(orixás) e ancestrais ilustres (egum).” (SODRÉ, 2017, p. 105)
Os orixás nagôs.
“Assim como o Eros platônico não é mera entidade religiosa, mas o princípio motor de uma dinâmica que busca
compensar por plenitude (poros) uma carência ou uma penúria (penia), os orixás nagôs são zelados como
princípios cosmológicos contemplados no horizonte de restituição de uma soberania existencial.” (SODRÉ, 2017,
p. 105)
É por esse motivo que os antepassados são tão venerados. Nota-se que, nessa mostra, a orientação da vida após a
morte na escatologia africana é completamente imanente a este mundo (WIREDU, 1992). Não
surpreendentemente, muitos costumes e instituições africanas têm alguma ligação com a crença nos
antepassados, em particular, e com o mundo dos espíritos, em geral.
O que, no entanto, é a justi�cativa para chamar a atitude em relação aos ancestrais e aos
outros "espíritos" de religiosa?
É evidente que isso se baseia em certas formas de compartimentar ontologicamente a cosmovisão apenas
delineada. As ordens de existência acima da esfera humana são categorizadas como sobrenaturais, espirituais e,
em alguns casos, transcendentes, enquanto o resto é designado como natural, material e temporal. Se a isso se
acrescenta a caracterização das atividades dedicadas ao estabelecimento de relações úteis com os poderes extra-
humanos e forças de culto, então a cena está montada para atribuir aos povos africanos não apenas um sentido
religioso intenso, mas também uma particular religião institucional penetrante, com impressões inequívocas em
todos os aspectos principais da vida (ver MBITI, 1970, introdução e passim).
As CTAs e o conhecimento histórico
Amadou Hampâté Bâ, grande estudioso da cultura tradicional do Mali, nos adverte sobre a importância de
validarmos as epistemologias e a produção da história em sociedades de oralidade.
Segundo ele, conhecedor das grandes tradições de oralitura das culturas mandê, deve-se relativizar a pretensa
superioridade da história europeia que se considera a priori científica, portanto, verdadeira, frente às demais
experiências de relatos e transmissões não europeias.
andê
Grupo étnico da África Ocidental. Os falantes das línguas mandês são encontrados na Gâmbia, Guiné, Guiné-Bissau,
Senegal, Mali, Serra Leoa, Libéria, Burquina Faso, Costa do Marfim e parte do Norte de Gana.
Nada prova a priori que a escrita resulta em um relato da realidade mais fidedigno do que o testemunho
oral transmitido de geração a geração. As crônicas das guerras modernas servem para mostrar que, como
se diz (na África), cada partido ou nação ‘enxerga o meio‑dia da porta de sua casa’– através do prisma
das paixões, da mentalidade particular, dos interesses ou, ainda, da avidez em justificar um ponto de vista.
Além disso, os próprios documentos escritos nem sempre se mantiveram livres de falsificações ou
alterações, intencionais ou não, ao passarem sucessivamente pelas mãos dos copistas – fenômeno que
originou, entre outras, as controvérsias sobre as ‘Sagradas Escrituras’.
(HAMPÂTÉ Bâ, 2012, p. 169)
Com Hampâté Bâ, aprendemos que o desafio que se propõe à historiografia ocidental na compreensão da história
feita pelos tradicionalistas em culturas de oralidade é o de se alargar a compreensão da própria ideia de
humanidade, só possível com um diálogo interepistêmico e intercultural nos dizeres dos pensadores decoloniais.
Re�exão
A princípio, a grande desconfiança ocidental nasce de uma dúvida, a de que, para alguns estudiosos, podemos
resumir que o olhar para a oralidade é hierarquicamente inferior ao registro escrito. Não é essa a maneira correta
de se colocar o problema. O testemunho, seja escrito seja oral, no fim não é mais que testemunho humano, o texto
e a oralidade são registros diversos e devem ter modelos de análise singular.
A visão hierarquizada da escrita – que é sempre limitada – em relação à oralidade é o que se encontra por detrás
do testemunho, portanto, é o próprio valor do homem que faz o testemunho, o valor da cadeia de transmissão da
qual ele faz parte, a fidedignidade das memórias individual e coletiva e o valor atribuído à verdade em determinada
sociedade.
Um grande estudioso das sociedades de história oral, Jan Vansina, adverte-nos escrevendo sobre história oral, tal
como a praticada pelas CTAs, para a importância de compreendermos as atitudes de uma cultura oral em relação
ao discurso, totalmente diversas da experiência da civilização ocidental, na qual a escrita teria registrado todas as
informações ditas importantes. Vansina nos assegura que a oralidade é uma atitude diante da realidade, e não uma
ausência de habilidade.
A tradição oral na cultura africana é passada de uma geração para outra, geralmente pelos mais velhos e transmitida em discursos, histórias e canções..
Prova disso pode ser facilmente constatada percorrendo-se o continente africano e verificando-se que a escrita
está presente em toda parte, mas a sua existência não foi suficiente para varrer das sociedades e CTAs (e
afrodiaspóricas, como em nosso caso) a importância e a proeminência da palavra falada.
Uma sociedade oral reconhece a fala não apenas como um meio de comunicação diária, mas também
como um meio de preservação da sabedoria dos ancestrais, venerada no que poderíamos chamar
elocuções‑chave, isto é, a tradição oral. A tradição pode ser definida, de fato, como um testemunho
transmitido verbalmente de uma geração para outra. Quase em toda parte, a palavra tem um poder
misterioso, pois palavras criam coisas. Isso, pelo menos, é o que prevalece na maioria das civilizações
africanas. Os dogon sem dúvida expressaram esse nominalismo da forma mais evidente; nos rituais
constatamos em toda parte que o nome é a coisa, e que ‘dizer’ é ‘fazer’.
(VANSINA, 2012, p. 149.)
A educação e os valores civilizatórios das CTAs
Os valores civilizatórios afro-brasileiros aplicados à educação não são propriamente tema recente de reflexões.
Re�exão
A grande educadora brasileira, Azoílda Trindade, nos diz que “tais valores estão arraigados em nossa sociedade
uma vez que, ao falarmos de valores civilizatórios afro-brasileiros, temos a intenção de destacar a África, na sua
diversidade, e que os africanos e africanas trazidos ou vindos para o Brasil e seus e suas descendentes brasileiras
implantaram, marcaram, instituíram valores civilizatórios neste país de dimensões continentais que é o Brasil”
(2005, p. 30).
Azoílda Trindade prossegue afirmando: “Valores inscritos na nossa memória, no nosso modo de ser, na nossa
música, na nossa literatura, na nossa ciência, arquitetura, gastronomia, religião, na nossa pele, no nosso coração.
Queremos destacar que, na perspectiva civilizatória, somos, de certa forma ou de certas formas,
afrodescendentes. E, em especial, somos o segundo país do mundo em população negra” (2005, p. 30). Com base
nisso, observe a obra a seguir:
Obra de Jean-Baptiste Debret com representações de diferentes nações negras a partir da visão europeia.
A África e seus descendentes imprimiram e imprimem no Brasil valores civilizatórios, ouseja, princípios e normas
que corporificam um conjunto de aspectos e características existenciais, espirituais, intelectuais e materiais,
objetivas e subjetivas, que se constituíram e se constituem em um processo histórico, social e cultural.
Apesar do racismo, das injustiças e desigualdades sociais, essa população
afrodescendente sempre afirmou a vida e, consequentemente, constitui o(s) modo(s) de
sermos brasileiros e brasileiras.
Azoílda Trindade (2005, p. 32-35) lista os valores das CTAs, por ela chamados de valores civilizatórios nos
seguintes termos:
Energia vital
Tudo que é vivo e que existe tem axé, tem energia vital: planta, água, pedra, gente, bicho, ar, tempo,
tudo é sagrado e está em interação.
Oralidade
Muitas vezes preferimos ouvir uma história a lê-la, preferimos falar a escrever... Nossa expressão
oral, nossas falas são carregadas de sentido, de marcas de nossa existência.
Circularidade
A roda tem um significado muito grande, é um valor civilizatório afro-brasileiro, pois aponta para o
movimento, a circularidade, a renovação, o processo, a coletividade: roda de samba, de capoeira, as
histórias ao redor da fogueira.
Corporeidade
O corpo é muito importante, na medida em que com ele vivemos, existimos, somos no mundo. Um
povo que foi arrancado da África e trazido para o Brasil só com seu corpo aprendeu a valorizá-lo
como um patrimônio muito importante.
Musicalidade
A música é um dos aspectos afro-brasileiros mais emblemáticos. Um povo que não vive sem dançar,
sem cantar, sem sorrir e que constitui a brasilidade com a marca do gosto pelo som, pelo batuque,
pela música, pela dança.
Ludicidade
A ludicidade, a alegria, o gosto pelo riso, pela diversão, a celebração da vida. Se não fôssemos um
povo que afirma cotidianamente a vida, um povo que quer e deseja viver, estaríamos mortos, mortos
em vida, sem cultura, sem manifestações culturais genuínas, sem axé.
A obra de Azoílda nos chama a atenção para a importância de lembrarmos aos alunos das nossas escolas os
valores civilizatórios africanos. Essa preocupação foi, durante décadas, uma demanda do movimento negro no
Brasil, até a promulgação da Lei nº 10.639/03 que tornou obrigatório o ensino de história africana e afro-brasileira
nos estabelecimentos de ensinos públicos e privados no nosso país.
Re�exão
A África e os saberes que permeiam as CTAs são os grandes ausentes nos currículos das escolas brasileiras. Os
silenciamentos são sempre significativos, são indiciários, como aponta a psicologia e as teorias da educação.
O silêncio sobre a África pode ser entendido como uma manifestação do racismo epistêmico, alimentado por um
racismo estrutural, que entendemos, juntamente com Almeida, como sendo “uma decorrência da própria estrutura
social, ou seja, do modo ‘normal’ com que se constituem as relações políticas, econômicas, jurídicas e até
familiares, não sendo uma patologia social nem um desarranjo institucional” (ALMEIDA, 2021, p. 50).
Cooperatividade
A cultura negra, a cultura afro-brasileira, é cultura do plural, do coletivo, da cooperação. Não
sobreviveríamos se não tivéssemos a capacidade da cooperação, do compartilhar, de se ocupar com
o outro.
Ensino de história da África
Nossa persistente desigualdade na distribuição dos recursos econômicos, naturais e simbólicos (por meio dos
currículos) é reforçada por aquilo que Petronilha Gonçalves chamou de “alienação de processos pedagógicos”. Um
currículo marcado, principalmente, por ausências de conhecimentos deixados como herança dos povos africanos
em suas diásporas.
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e
Cultura Afro-Brasileira e Africana detêm-se pouco nesse aspecto, destacando, no item “Ações educativas de
combate ao racismo e a discriminações”, a “valorização da oralidade, da corporeidade e da arte, por exemplo,
como a dança, marcas da cultura de raiz africana, ao lado da escrita e da leitura” (GONÇALVES, 2004).
Meninas e suas famílias participando de atividades como aulas de yorubá e de dança na escola.
Estudantes participando de um projeto sobre ancestralidade na escola.
Desse modo, “o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana se fará por diferentes meios, em atividades
curriculares ou não, em que: se explicitem, busquem compreender e interpretar, na perspectiva de quem o formule,
diferentes formas de expressão e de organização de raciocínio e pensamentos de raiz da cultura africana” (BRASIL,
2004a, p. 15).
O parecer da CNE considera fundamental a incorporação de saberes provenientes das contribuições dos povos e
das culturas africanas no Brasil quando aponta para a urgente tarefa de garantir a oferta de um currículo que
explicite a história do continente africano, nesses termos:
Em história da África, tratada em perspectiva positiva, não só de denúncia da miséria e discriminações
que atingem o continente, nos tópicos pertinentes se fará articuladamente com a história dos
afrodescendentes no Brasil e serão abordados temas relativos: ao papel dos anciãos e dos griots como
guardiões da memória histórica; à história da ancestralidade e religiosidade africana; aos núbios e aos
egípcios, como civilizações que contribuíram decisivamente para o desenvolvimento da humanidade; às
civilizações e organizações políticas pré-coloniais, como os reinos do Mali, do Congo e do Zimbabwe; ao
tráfico e à escravidão do ponto de vista dos escravizados; ao papel dos europeus, dos asiáticos e também
de africanos no tráfico; à ocupação colonial na perspectiva dos africanos; às lutas pela independência
política dos países africanos; às ações em prol da união africana em nossos dias, bem como o papel da
União Africana para tanto; às relações entre as culturas e as histórias dos povos do continente africano e
os da diáspora; à formação compulsória da diáspora, vida e existência cultural e histórica dos africanos e
seus descendentes fora da África; à diversidade da diáspora, hoje, nas Américas, Caribe, Europa, Ásia; aos
acordos políticos, econômicos, educacionais e culturais entre África, Brasil e outros países da diáspora.
(BRASIL, 2004a, p. 12)
Além disso, o parecer pretende superar a colonialidade dos currículos, a racialização e o pensamento abissal, pois
este toma como conhecimento universal aquele que, na realidade, é produzido por apenas uma parte da
humanidade: a Europa. Tudo isso se tornará possível apenas se a interculturalidade crítica “sulear” as práticas
pedagógicas.
Enrique Dussel mostra as possibilidades de resistência dessas culturas subalternizadas de indígenas e africanos
pela modernidade quando aponta:
A capoeira surgiu entre os escravizados como um grito de liberdade e foi declarada patrimônio imaterial da humanidade em 2014 pela Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).
“Essas culturas foram, em parte, colonizadas, mas a maior parte de suas estruturas de valores foram sobretudo
excluídas, desprezadas, negadas, ignoradas mais do que aniquiladas. O sistema econômico e político foi
dominado no exercício do poder colonial e da acumulação gigantesca de riqueza, mas essas culturas têm sido
interpretadas como desprezíveis, insignificantes, sem importância e inúteis.” (DUSSEL, 2015, p. 12)
Obra Africanos escravizados recém-chegados, Rio de Janeiro, Brasil, 1819-1820. O período de escravidão no Brasil foi marcado por uma rotina de trabalho
pesado e violência. Os escravizados sofriam punições públicas com frequência.
“Esse desprezo, no entanto, permitiu-lhes sobreviver em silêncio, desdenhadas simultaneamente por suas
próprias elites modernizadas e ocidentalizadas. Essa alteridade negada, sempre existente e latente, indica a
existência de uma riqueza cultural insuspeita, que renasce lentamente como chamas de carvão enterrado no mar
de cinzas centenárias do colonialismo.” (DUSSEL, 2015, p. 12)
Portanto, retornamos ao texto das Diretrizes Curriculares de 2004, quando se afirma ocaráter político propositivo
da lei enquanto assevera apontando para uma educação antirracista e uma educação das relações étnico-raciais
no trecho a seguir:
Oferecer uma resposta, entre outras, na área da educação, à demanda da população afrodescendente, no
sentido de políticas de ações afirmativas, isto é, de políticas de reparações, e de reconhecimento e
valorização de sua história, cultura e identidade. Trata, ele, de política curricular, fundada em dimensões
históricas, sociais, antropológicas oriundas da realidade brasileira, e busca combater o racismo e as
discriminações que atingem particularmente os negros. Nessa perspectiva, propõe a divulgação e
produção de conhecimentos, a formação de atitudes, posturas e valores que eduquem cidadãos
orgulhosos de seu pertencimento étnico-racial – descendentes de africanos, povos indígenas,
descendentes de europeus, de asiáticos – para interagirem na construção de uma nação democrática, em
que todos, igualmente, tenham seus direitos garantidos e sua identidade valorizada.
(BRASIL, 2004, p. 10)
Em tudo isso, o tema de luta política subjaz às disputas curriculares, uma vez que não podemos dissociar a luta
pelas reparações históricas do povo negro das políticas curriculares produzidas pelo Estado brasileiro. Portanto,
estarmos atentos aos projetos de formação continuada de professores é também contribuir para que se construa
uma prática pedagógica antirracista e uma educação libertadora. Sim, luta política, pois, como apontam as
mesmas diretrizes: “a obrigatoriedade de inclusão de história e cultura afro-brasileira e africana nos currículos da
educação básica trata-se de decisão política, com fortes repercussões pedagógicas, inclusive na formação de
professores. Com esta medida, reconhece-se que, além de garantir vagas para negros nos bancos escolares, é
preciso valorizar devidamente a história e cultura de seu povo, buscando reparar danos, que se repetem há cinco
séculos, à sua identidade e a seus direitos. A relevância do estudo de temas decorrentes da história e cultura afro-
brasileira e africana não se restringe à população negra, ao contrário, diz respeito a todos os brasileiros, uma vez
que devem educar-se como cidadãos atuantes no seio de uma sociedade multicultural e pluriétnica, capazes de
construir uma nação democrática” (BRASIL, 2004, p. 17).
As leis e as políticas a�rmativas no Brasil
O professor Rodrigo Rainha discute sobre os avanços e as necessidades desse conjunto legislativo.
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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
“Um turbante tornou-se o epicentro de um acalorado debate [...]. Identificado como um símbolo da população
negra e da ancestralidade africana no Brasil, o adereço ganhou, nos últimos anos, destaque em editoriais de
moda e passou a ser encontrado com facilidade em lojas, multiplicando seu uso por pessoas de diversas
origens. A produção em massa do objeto e o uso motivado apenas por interesses estéticos, inspira, porém,
críticas e ressalvas feitas pela população negra, que aponta problemas com essa prática, se feita sem
reflexão, como a invisibilização de quem produziu aquela cultura” (CARTA CAPITAL, 2019). Assinale a
alternativa que aponta um termo comumente utilizado para fazer referência à discussão abordada no texto.
A Produção cultural.
B Apropriação cultural.
C Identificação cultural.
Parabéns! A alternativa B está correta.
Quando determinados elementos são retirados de seu contexto e tornam-se ícones descolados, sem constituir
valor aos grupos que o produziram, isso é apropriação cultural.
Questão 2
A diáspora é um conceito que acaba por gerar compreensão e novos debates. Ao lidar com o termo, estamos
sinalizando que
Parabéns! A alternativa E está correta.
A percepção da escravidão como um evento duro e que gerou disputas e resistência na organização e
reorganização de seus símbolos.
D Anulação cultural.
E Simbolização cultural.
A grupos étnicos migraram de sua terra.
B grupos sociais entram em crise política.
C existiu escravidão na África.
D as práticas africanas eram próximas à judaica.
E de maneira compulsória muitos africanos deixaram seu lar.
Considerações �nais
A necessidade de rediscutir os paradigmas é fundamental. A crença de que a história e as tradições culturais de
diversas regiões africanas eram inexistentes, reproduzida até mesmo pelos descendentes mais claramente
identificáveis, é fruto de um projeto histórico de colonialidade. A única forma de vencer é o efetivo mergulho nos
debates de reconhecimento, investigação e ressignificação desse passado.
Discute-se uma reafricanização como se retomar o passado fosse possível e não é esse o princípio, é a percepção
vívida do presente, da história que temos e das construções históricas que nos constituem como sociedade. É
preciso lidar com diáspora, reparação, leis que impõem a demanda de educação pertinente aos debates e as
demandas que efetivamente se materializam em nossa sociedade.
Podcast
Para encerrar, ouça os principais aspectos sobre o debate de ancestralidade e tradições africanas.
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Referências
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ASÚA, R. R. de. Altuna. São Paulo: Paulinas, 2006.
BRASIL. Lei Federal nº 10.639/2003. Altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e
bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática
“História e cultura afro-brasileira” e dá outras providências. Brasília – DF, 2003. Consultado na Internet em: 10 de
outubro de 2022.
BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História
e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Brasília, MEC. 2004.
BUTLER, K. D. Definições de diáspora. In: BUTLER, K. D.; DOMINGUES, P. Diásporas imaginadas. São Paulo:
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GONÇALVES E SILVA, P. B. Relatório. Brasil. Ministério de Educação e Cultura. Conselho Nacional de Educação.
Diretrizes curriculares nacionais para a educação das relações étnico-raciais para o ensino de história e cultura
afro–brasileira e africana. Conselho Pleno, v. 3, p. 2002-96, 2004.
HAMPÂTÉ BÂ, A. A tradição viva.In: KIZERBO, J. Metodologia e Pré-Historia da África. História Geral da África. v. 1.
São Paulo: Cortez, 2012.
MBITI, J. S. Concepts of God in Africa. London: SPCK, 1970.
MINTZ, W. S.; PRICE, R. O nascimento da cultura afro-americana, uma perspectiva antropológica. Rio de Janeiro:
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SODRÉ, M. Pensar nagô. Petrópolis: Vozes, 2017.
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WIREDU, K. Death and the Afterlife in African Culture. In: WIREDU, K.; GYEKYE, K. (Eds.). Person and Community:
Ghanaian Philosophical Studies. Washington, D.C.: Council for Research in Values and Philosophy, 1992.
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Vamos mergulhar na decolonialidade? Indicamos as seguintes leituras:
FANON, F. Pele Negra, máscaras brancas. Tradução de Renato da Silveira. Salvador: Edufba, 2008.
LANDER, E (Org.). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas.
Buenos Aires: 2005.
QUIJANO, A. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. In: SWEET, J. H. Recriar África: cultura,
parentesco e religião no mundo afro-português. Lisboa: Edições 70, 2007.
WALSH, C.; OLIVEIRA, L. F.; CANDAU, V. M. Colonialidade e pedagogia decolonial: para pensar uma educação outra.
Arquivos Analíticos de PolíticasEducativas, 26(83), 2018.
Agora, indicamos dois filmes:
Pantera Negra – 2018. Direção: Ryan Coogler.
A Mulher Rei – 2022. Direção: Gina Prince-Bythewood.

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