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CLIMATÉRIO E MENOPAUSA Menopausa: ponto no tempo um ano após a cessação da menstruação. Em seguida, tem-se a pós-menopausa. A média de idade do último período menstrual (FPM) é 51,5 anos. Climatério ou perimenopausa ou transição menopáusica: período de tempo relativo ao final do período reprodutivo. Geralmente se inicia com irregularidade no ciclo menstrual e se estende até um ano após a cessação da menstruação. Ocorre ao longo de 4 a 7 anos e, geralmente, se inicia por volta dos 47 anos de idade. Fatores que aceleram o envelhecimento ovariano: • Tabagismo – antecipa a idade da menopausa em 2 anos; • Quimioterapia; • Radioterapia pélvica; • Cirurgias ovarianas; • Histerectomia; RELATÓRIO STRAW Define os estágios e a nomenclatura do envelhecimento reprodutivo normal da mulher. Não é necessário que todos os estágios aconteçam e, quando acontecem, não seguem a sequência exata descrita. ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS EIXO HIPOTÁLAMO-HIPÓFISE-OVÁRIO No climatério, os folículos ovarianos sofrem uma taxa acelerada de perda até que, finalmente, ocorre exaustão no suprimento de folículos. Isso faz com que a produção de inibina seja reduzida. A redução na produção de inibina faz com que os níveis de FSH se elevem discretamente e induzam aumento da resposta folicular ovariana. Esse aumento resulta na elevação da produção de estrogênios. No climatério, portanto, os níveis de estradiol podem estar maiores do quem em mulheres com menos de 35 anos (devido a flutuação de FSH). Apesar dos ciclos menstruais regulares, durante a fase inicial da transição menopáusica, os níveis de progesterona são mais baixos do que nas mulheres na meia-idade reprodutiva. Com a insuficiência ovariana na menopausa (estágio +1b), a liberação de hormônio esteroide ovariano cessa, abrindo a alça de feedback negativo. Subsequentemente, o GnRH é liberado com frequência e amplitude máximas. Como resultado, os níveis circulantes de FSH e LH aumentam e se tornam quatro vezes maiores que nos anos reprodutivo. SUPRARRENAIS O sulfato de desidroepiandrosterona (SDHEA) é produzido quase exclusivamente pela suprarrenal. Com o avanço da idade, observa-se declínio na produção suprarrenal de SDHEA. GLOBULINA DE LIGAÇÃO AO HORMÔNIO SEXUAL A produção de SHBG declina após a menopausa, o que pode aumentar os níveis de estrogênio e testosterona livres ou não ligados. ENDOMÉTRIO As alterações microscópicas que ocorrem no endométrio refletem diretamente o nível sistêmico de estrogênio e de progesterona. Durante a fase inicial da transição menopáusica, o endométrio reflete ciclos ovulatórios que prevalecem nesse período. Durante o estágio final da transição menopáusica, a anovulação é muito comum, e o endométrio refletirá o efeito do estrogênio atuando sem oposição à progesterona. Alterações proliferativas ou alterações proliferativas desordenadas são achados frequentes no exame patológico de amostras de biópsia endometrial (EMB, de endometrial samples). Com a menopausa, o endométrio se torna atrófico em razão da ausência de estimulação estrogênica. FERTILIDADE Contracepção É possível haver gravidez no climatério e, nas mulheres com idade ≥ 40 anos, mais de 33% das gravidezes não são intencionais. Na seleção do método apropriado de contracepção para essas mulheres, diversos pontos devem ser considerados. O acetato de depomedroxiprogesterona (DMPA), cujo uso prolongado está associado à perda de densidade óssea, e não deve ser uma opção de primeira linha para mulheres em fase de transição menopáusica. A contracepção pode ser suspensa em todas as mulheres após 55 anos de idade. Não há relato de gravidez espontânea após esta idade. Algumas mulheres ainda menstruam, mas a ovulação é extremamente rara e qualquer eventual oócito provavelmente teria baixa qualidade e não seria viável. Utilizar estradiol (estrogênio natural) e progestágenos antiandrogênicos. FOGACHOS Sintomas vasomotores ocorrem em 11 a 60% das mulheres que menstruavam durante a transição. Os episódios de fogacho iniciam-se em média dois anos antes do FMP, e 85% das mulheres com o sintoma mantêm a queixa por mais de um ano. Entre essas mulheres, de 25 a 50% terão fogachos por cinco anos, e 15% por mais de 15 anos. Fatores associados: sedentarismo, tabagismo, elevação do FSH, redução do estradiol, maior massa corporal, etnia, antecedentes de TPM ou depressão. Sintomas vasomotores: um episódio de fogacho dura entre 1 e 5 minutos, e a temperatura da pele aumenta em razão de vasodilatação periférica. Essa alteração é particularmente acentuada nos dedos das mãos e dos pés, onde a temperatura da pele aumenta entre 10 e 15 ºC. A maior parte das mulheres sente uma onda de calor repentina que se estende por todo o corpo, em particular na parte superior e na face. A sudorese inicia-se principalmente na parte superior do corpo e corresponde ao período de aumento na condutância da pele. A sudorese foi observada em 90% das mulheres com fogacho. Os fogachos se caracterizam por aumento na pressão arterial sistólica tanto na vigília quanto durante o sono. Podem ser acompanhados por palpitações, ansiedade, irritabilidade e pânico. Fisiopatologia: não está bem esclarecida, mas sabe-se que a abstinência do estrogênio, ou suas oscilações, têm papel importante nessa fisiopatologia. Fatores de risco: menopausa cirúrgica, mulheres afro-americanas, índice de massa corporal, tabagismo, menopausa precoce, níveis baixos de estradiol circulante, sedentarismo. SONO E FADIGA A interrupção do sono é uma queixa comum de mulheres com fogachos. Elas podem acordar várias vezes durante a noite, ensopadas de suor. Os distúrbios do sono podem resultar em fadiga, irritabilidade, sintomas depressivos, disfunção cognitiva e alterações no funcionamento diário. METABOLISMO ÓSSEO Em mulheres saudáveis pré-menopáusicas, o estrogênio limita a expressão de RANKL nos osteoblastos e, consequentemente, a formação de osteoclastos e a reabsorção óssea. Nas mulheres pós-menopáusicas, os níveis reduzidos de estrogênio levam a aumento no número, na atividade e no tempo de vida dos osteoclastos. Segue-se reabsorção óssea sem que os osteoblastos consigam preencher totalmente as falhas deixadas. Osteoporose: • distúrbio esquelético que compromete a resistência dos ossos em razão de redução progressiva na massa óssea; • primária: perdas ósseas associadas ao envelhecimento e à deficiência estrogênica menopáusica. • Secundária: causada por outras doenças ou medicações. • Perda óssea é mais rápida nos anos iniciais da pós-menopausa. • A deficiência de estrogênio aumenta a sensibilidade do osso ao PTH. Portanto, para qualquer dado nível de PTH, mais cálcio será retirado dos ossos. Recomenda-se suplementação de cálcio para as mulheres pós-menopáusicas, a fim de manter níveis adequados. Um dos efeitos esperados é bloquear os efeitos do PTH sobre a reabsorção óssea. Além disso, também tem sido sugerida suplementação de vitamina D para esse grupo de pacientes. Embora essa vitamina ative os osteoclastos, seus efeitos cumulativos positivos sobre a absorção intestinal e a reabsorção renal de cálcio são suficientes para que sirva como auxiliar na prevenção de perda óssea. Prevenção: a densidade mineral óssea deve ser medida em mulheres pós-menopáusicas com mais de 50 anos que tenham um dos outros fatores de risco maiores (fratura por fragilidade após os 40 anos, histórico familiar, uso de glicocorticoide por mais de 3 meses, hipogonadismo, menopausa precoce), ou em qualquer mulher com mais de 65 anos. As intervenções medicamentosas mostraram-se efetivas na prevenção de fraturas somente em populações com média de idade superior a 65 anos. CARDIOVASCULARESObservou-se tendência para incidência 2 a 6 vezes maior de DCV em mulheres pós- -menopáusicas, em comparação com mulheres na pré-menopausa de mesma faixa etária. Prevenção da DCV: • Cessação de tabagismo • Atividades físicas de intensidade moderada durante 30 minutos diários • Manutenção do peso adequado • Dieta saudável • Controle da PA • Controle do perfil lipídico e glicídico GANHO DE PESO Com o envelhecimento, o metabolismo feminino fica mais lento, o que reduz as necessidades calóricas. Se não houver alteração nos hábitos alimentares e na prática de exercícios, o ganho de peso é inevitável. Durante esse período, o ganho de peso está associado à deposição de gordura no abdome, aumentando a probabilidade de desenvolvimento de resistência insulínica e, subsequentemente, de diabetes melito e doença cardíaca. TRATO REPRODUTIVO INFERIOR No climatério são comuns sintomas de atrofia urogenital (secura vaginal e dispareunia). Foram identificados receptores de estrogênio em vulva, vagina, bexiga, uretra, musculatura do soalho pélvico e fáscia endopélvica. Assim, essas estruturas compartilham responsividade hormonal semelhante, e são suscetíveis à supressão de estrogênio característica da menopausa, do período pós-parto durante a lactação, ou da amenorreia hipotalâmica. Sem a influência trófica do estrogênio, a vagina perde colágeno, tecido adiposo e capacidade de retenção de água. À medida que as paredes vaginais se retraem, as dobras desaparecem e a vagina assume uma aparência rosa-pálido com superfícies achatadas. A superfície vaginal se torna friável e propensa a sangramentos, mesmo com traumas menores. Há estreitamento dos vasos sanguíneos da parede vaginal e, ao longo do tempo, a vagina se contrai e perde flexibilidade. O pH vaginal se torna mais alcalino, o que cria ambientes vaginais menos hospitaleiros para os lactobacilos e mais suscetíveis a infecções por patógenos fecais e urogenitais. A gordura subcutânea nos lábios maiores desaparece, levando a recolhimento e retração do prepúcio clitoriano e da uretra, fusão dos lábios menores e estreitamento e estenose do introito vaginal. Sintomas associados: ressecamento, irritação e prurido vaginais, dispareunia e infecções recorrentes no trato urinário DIAGNÓSTICO O diagnóstico de transição menopáusica pode ser feito com a comprovação de sintomas próprios da idade e exame físico completo. Diagnóstico diferencial: • Sintomas vasomotores o Hipertireoidismo o Feocromocitoma o Doença febril o Ansiedade • Vaginose bacteriana o Infecção por levedura o Patologia pélvica o Conflito conjugal • Osteoporose primária o Osteomalácia o Hiperparatireoidismo primário ou secundário o Excesso de terapia com corticoides • Sangramento uterino anormal o Anovulação o Câncer endometrial o Câncer do colo uterino o Hiperplasia endometrial o Pólipos, leiomioma o Tratamento com hormônios Testes para comprovar insuficiência ovariana: FSH e estradiol. Transição menopáusica: níveis normais de FSH. Níveis de FSH acima de 40 mUI/mL têm sido usados para documentar insuficiência ovariana associada à menopausa. EXAME FÍSICO Exame constitucional: estatura, peso e IMC, que podem ser usadas para orientar as pacientes sobre exercício físico, perda ou ganho de peso. Monitoramento da PA. Exame psicossocial: investigação do bem-estar psicossocial e sintomas de ansiedade, depressão e funcionamento sexual. Exame dermatológico: investigação de nevos anormais ou de exposição solar excessiva. Exame das mamas e linfonodos. Exame da pelve: • perda de tecido conectivo – resulta em contração dos pequenos lábios • estreitamento do introito vaginal • verificar presença de hiperemia, atrofia ou fibrose • avaliação da integridade dos órgãos pélvicos e da possibilidade de prolapso de bexiga, útero e reto • pedir que realize manobra de Valsalva para observar se há cistocele, retocele ou prolapso de colo uterino ou de vagina TERAPIA DE REPOSIÇÃO HORMONAL O melhor momento para iniciar a TH é em até 2 anos após a menopausa. Paroxetina auxilia no controle de alguns sintomas. TH está associado a aumento no risco de DCC em menopáusicas de mais idade, e a aumento no risco de AVE, tromboembolismo venoso e colecistite. Câncer de mama é fator de risco nos casos de uso em longo prazo ( > 5 anos). Aumento do risco de câncer de ovário em uso de longo prazo ( > 10 anos). São observados vários benefícios a longo prazo com o TH, incluindo aumento na densidade mineral óssea e redução nas taxas de fraturas e de câncer colorretal. TH é indicado apenas para tratamento de sintomas vasomotores e atrofia vaginal, bem como para prevenção ou tratamento de osteoporose. É necessário reavaliar a necessidade de manter a terapia em intervalos de 6 a 12 meses. Não há limite de tempo determinado para a duração do uso de TH em mulheres sintomáticas que estejam bem-informadas. Para mulheres com útero, um progestagênio deve ser combinada com o estrogênio para reduzir o risco de câncer endometrial. Terapia contínua: progestagênios prescritos diariamente com estrogênios. Como alternativa, o estrogênio pode ser administrado durante 25 dias todos os meses, com adição de um progestagênio nos últimos 10 dias. Os medicamentos são suspensos por cinco dias, havendo sangramento vaginal subsequente. Outro esquema: tratamento contínuo com estrogênio associado a um progestagênio administrado no últimos 10 dias de cada mês. Contraindicações do estrogênio: • suspeita ou confirmação do carcinoma de mama • suspeita ou confirmação de neoplasia dependente de estrogênio • sangramento genital anormal de etiologia desconhecida • gravidez suspeita ou confirmada • doença hepática ativa • trombose venosa profunda ou TEP em atividade ou antecedentes • Doença arterial tromboembólica ativa ou recente Esquema B: acetato de ciproterona (1mg/cp) + estrogênios conjugados (0,625 mg/cp) – 1 comprimido por dia VO. Esquema C: estradiol tópico (0,5-1 mg/puff) 1-3 puffs transdérmicos de 24/24h + progesterona micronizada (100 – 200 mg/cp) 1 comprimido VO ou via vaginal 1x/dia.