Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
MICHELLE CRISTIE GONÇALVES DA FONSECA TAXONOMIA INTEGRATIVA E ASPECTO HIGIÊNICO-SANITÁRIO DE HELMINTOS PARASITOS DE PEIXES TELEÓSTEOS MARINHOS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, BRASIL NITERÓI 2016 UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA VETERINÁRIA ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM HIGIENE VETERINÁRIA E PROCESSAMENTO TECNOLÓGICO DE PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL 2 MICHELLE CRISTIE GONÇALVES DA FONSECA TAXONOMIA INTEGRATIVA E ASPECTO HIGIÊNICO-SANITÁRIO DE HELMINTOS PARASITOS DE PEIXES TELEÓSTEOS MARINHOS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, BRASIL Tese apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Medicina Veterinária da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial à obtenção do grau de Doutora. Área de concentração: Higiene Veterinária e Processamento Tecnológico de Produtos de Origem Animal. Orientador: Prof. Dr. Sérgio Carmona de São Clemente Co-orientador: Prof. Dr. Marcelo Knoff Niterói 2016 3 MICHELLE CRISTIE GONÇALVES DA FONSECA TAXONOMIA INTEGRATIVA E ASPECTO HIGIÊNICO-SANITÁRIO DE HELMINTOS PARASITOS DE PEIXES TELEÓSTEOS MARINHOS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, BRASIL Tese apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Medicina Veterinária da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial à obtenção do grau de Doutora. Área de concentração: Higiene Veterinária e Processamento Tecnológico de Produtos de Origem Animal. Aprovada em de 2016. BANCA EXAMINADORA Professor Dr. Sergio Carmona de São Clemente Universidade Federal Fluminense Professor Dr. Marcelo Knoff Instituto Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) Professora Dra. Danuza Pinheiro Bastos Garcia de Mattos Universidade Federal Fluminense Professora Dra. Delir Corrêa Gomes Maués da Serra Freire Instituto Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) Professora Dra. Simone Chinicz Cohen Instituto Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) Niterói, 2016 4 A minha querida mãe Célia “minha vida” por ser meu leme, meu guia, meu chão. Por todo seu amor, incentivo, apoio, dedicação e presença constante em minha vida. Com todo o meu amor, carinho, respeito e admiração hoje e sempre. 5 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus por ter me dado entendimento para discernir tudo o que me foi ensinado. Por ter me concedido vida, saúde e inteligência para eu chegar à conclusão deste meu trabalho. Em particular à minha mãe, por sua força, determinação e presença constante em minha vida. Por sua torcida organizada que não me permite cansar ou muito menos desistir da busca pelo saber. À minha irmã Thaisa Christine e aos meus familiares por terem acreditado em mim, me apoiado e serem grandes amigos ao longo desta jornada. Aos meus orientadores, Prof. Dr. Sérgio Carmona de São Clemente e Prof. Dr. Marcelo Knoff que mais uma vez dedicaram seus conhecimentos, seriedade, experiência, amizade, apoio e contribuição imprescindíveis para me orientar e esclarecer em cada etapa deste meu novo conhecimento. A Profa. Dra. Delir Corrêa Gomes Maués da Serra Freire, pelas horas dedicadas a transmitir seus conhecimentos e experiências para a formação de novos profissionais. A Profa. Dra. Simone Chinicz Cohen e Profa. Dra. Danuza Pinheiro Bastos Garcia de Mattos pelo privilégio de tê-las como banca examinadora e participação na realização da minha meta profissional. Aos Professores da Pós-Graduação da Universidade Federal Fluminense (UFF) e demais funcionários, por tudo o que me ensinaram, pelas preciosas horas que a mim dedicaram. Ao Prof. Dr. Eduardo José Lopes Torres do Laboratório de Helmintologia Romero Lascasas Porto da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e Sr. Isaac Albert Mallet do Laboratório de Microscopia Eletrônica de Varredura da Universidade 6 Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) pela valiosa assistência na obtenção das fotomicrografias em MEV. A Profa. Dra. Alena Mayo Iñiguez e Profa. M.Sc. Maria Isabel N. Di Azevedo do LABTRIP, Instituto Oswaldo Cruz, IOC, Fundação Oswaldo Cruz, FIOCRUZ, pela participação de grande valia na realização da análise molecular e filogenia dos helmintos. Ao aluno e amigo Vinicius Machado Costa e Silva (in memorian) pela valiosa colaboração, amizade e companheirismo. Pelos bons momentos que ficarão guardados para sempre em minha memória e meu coração. A Srta. Heloisa Maria Nogueira Diniz e Sr. Ricardo Baptista Schmidt do Serviço de Produção e Tratamento de Imagens do Instituto Oswaldo Cruz, pelo processamento das figuras. As amigas M.Sc. Bianca Porto Kuraien, M.Sc. Gabrielle Fontenelle, M.Sc. Janaina Ribeiro, Profa. M.Sc. Mariana Lopes Leão, e aos tantos outros amigos da UFF por sua amizade, incentivo e companheirismo que dividimos ao longo destes anos. As amigas Profa. Adriana Rodrigues Mainenti, Profa. Dra. Daniela de Almeida Lopes, Profa. Juliane Nunes Bernardo da Silva, e aos tantos outros colegas do Laboratório de Helmintos Parasitos de Vertebrados, Instituto Oswaldo Cruz, IOC, Fundação Oswaldo Cruz, FIOCRUZ, pelos bons momentos de alegria, pela participação de todos na divisão de conhecimentos e ajuda mútua. A Srta. Vanda Amorim, Sra. Sonia Teixeira e Sr. Elias do Nascimento pela participação de grande valia na realização deste trabalho. Ao Sr. Drausio Ferreira, Srta. Mariana Oliveira e Sr. André Veiga, secretários da Pós-Graduação da Faculdade de Medicina Veterinária, UFF, pela amizade e colaboração. 7 Ao Sr. Marcelo dos Santos Pereira Junior por sua assistência na coleta dos linguados. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela concessão da bolsa de pesquisa que possibilitou minha dedicação exclusiva ao referido Programa de Pós-Graduação. A todas as pessoas que de uma forma ou outra contribuíram para o sucesso desta minha realização. A todos fica o meu respeito e reconhecimento. 8 “Talvez não tenha conseguido fazer o melhor, mas lutei para que o melhor fosse feito. Não sou o que deveria ser, mas Graças a Deus, não sou o que era antes”. Marthin Luther King 9 RESUMO A presença de parasitos no pescado tem sido motivo de preocupação para pesquisadores do mundo inteiro, devido aos enormes prejuízos econômicos para a indústria pesqueira, principalmente pelas espécies zoonóticas que conferem risco para a saúde pública e não em menor importância por aquelas que apresentam aspecto repugnante ao consumidor. Este trabalho foi dividido em três estudos, no primeiro, o objetivo foi identificar larvas de Anisakidae devido a sua importância higiênico-sanitária e na saúde pública, cujos parasitos infectam espécimes do peixe sapo-pescador, Lophius gastrophysus, obtidos em mercados dos municípios de Cabo Frio, Niterói, Duque de Caxias e Rio de Janeiro. Para tal, foram investigados 87 espécimes de L. gastrophysus. Desses, 17 (19,5%) estavam parasitados por larvas de anisaquideos. Estes peixes estavam parasitados com as espécies: Anisakis simplex, Hysterothylacium sp. e Raphidascaris sp., que apresentaram prevalências de 1,14, 12,6 e 12,6%, intensidade e intensidade média de infecção de 1, 2,81 e 10,5 e abundância média de 0,01, 0,35 e 1,33, respectivamente. Os sítios de infecção observados foram: o estômago, serosas do estômago e intestino e cavidade abdominal. Este foi o primeiro registro de A. simplex, Hysterothylacium sp. e Raphidascaris sp. nesta espécie de peixe. No segundo estudo, objetivou-se investigar as larvas de nematoides Anisakidaee Raphidascarididae, através do estudo integrativo, morfológico, morfométrico e genético, que infectam os linguados Paralichthys patagonicus (Pp) e Xystreurys rasile (Xr), comercializados no Estado do Rio de Janeiro, Brasil, e assim, identificar as espécies de nematoides, relacionando seus índices parasitários de prevalência (P), intensidade média (IM), abundância média (AM), amplitude de infecção (AI) e sítios de infecção (SI), juntamente com a sua importância sanitária. Para esse estudo foram necropsiados 66 espécimes de linguados, sendo 36 espécimes de P. patagonicus e 30 de X. rasile, que estavam parasitados por um total de 5915 larvas de terceiro estágio (L3) de nematoides, sendo 5666 L3 coletadas de P. patagonicus e 249 de X. rasile, pertencentes as espécies Anisakis typica com P = 11,1%, IM = 1.25, AM = 0.13, AI = 1-2 em Pp; P = 16.6%, IM = 1.8, AM = 0.3, RI = 1-3 em Xr; Terranova sp. com P = 33.3%, IM = 2.66, AM = 0.88, AI = 1-11 em Pp; P = 10%, IM = 1, AM = 0.1 em Xr; Contracaecum sp. com P = 8.3%, IM = 1.66, AM = 0.13, RI = 1-3 em Pp; P = 13.3%, IM = 1.33, AM = 0.13, AI = 1-2 em Xr; Hysterothylacium deardorffoverstreetorum com P = 100%, IM = 154.2, AM = 154.2, AI = 1-859 em Pp; P = 93.3%, IM = 7.21, AM = 6.73, AI = 1-17 em Xr; e Raphidascaris sp. com P = 38.8%, IM = 5.14, AM = 2, AI = 1-21 em Pp; P = 33.3%, IM = 3.1, AM = 1.03, AR = 1-8 em Xr. A identificação taxonômica foi baseada nos caracteres morfológicos e morfométricos, e a análise genética foi usada para A. typica e H. deardorffoverstreetorum. A caracterização genética confirmou a identificação dos espécimes das espécies de Anisakis e Hysterothylacium, usando ambos os alvos moleculares ITS e cox2, sendo este o primeiro registro de A. typica, H. deardorffoverstreetorum e Raphidascaris sp. parasitando esses linguados. O terceiro estudo teve como objetivo identificar morfológica e morfometricamente e geneticamente as espécies de Acanthocephala que parasitam P. isosceles (Pi), P. patagonicus (Pp) e X. rasile (Xr), apresentando seus índices parasitários de prevalência (P), intensidade (I), intensidade média (IM), abundância (A), abundância média (AM) e assim como as suas amplitudes de infecção (AI) e sítios de infecção. Os 120 espécimes de linguados estudados, 60 P. isosceles, 30 P. patagonicus e 30 10 X. rasile, foram coletados na costa do Estado do Rio de Janeiro, Brasil. Os resultados obtidos mostraram que os espécimes de P. isosceles e P. patagonicus estavam parasitados por acantocéfalos juvenis pertencentes as espécies Serrasentis sagittifer com P = 11.7%, IM = 1.4, AM = 0.17 AI = 1-4 em Pi; P = 26.7%, IM = 4.4, AM = 1.17, AI = 1-11 em Pp; Bolbosoma turbinella com P = 13.3 %, IM = 2.0, AM = 0.27, AI = 1-4 em Pi; P = 13.3 %, IM = 2.5, AM = 0.33, AI = 1-4 em Pp; Corynosoma australe com P = 5%, IM = 3.3, AM = 0.17, AI = 1-5 em Pi; P = 16.7 %, IM = 3.6, AM = 0.6, AI = 1-7 em Pp; P = 10 %, IM = 2, AM = 0.2, AI = 1-4 em Xr; e C. cetaceum com P = 1.7%, I = 1, A = 0.017 em Pi; P = 26.7 %, IM = 2.25, AM = 0.6, AI = 1-6 em Pp. Os espécimes de X. rasile estavam parasitados por C. australe, além disso, a caracterização genética confirmou a identificação dos espécimes pertencentes aos gêneros Bolbosoma e Corynosoma, como demonstrado pela análise filogenética, usando ambos os alvos moleculares ITS e cox1. Este é o primeiro registro para S. sagittifer e B. turbinella nos linguados das espécies P. patagonicus e X. rasile. Palavras-chave: Nematoides. Acanthocephala. Importância higiênico-sanitária. Peixes teleósteos. Taxonomia integrativa. Brasil. 11 ABSTRACT The presence of parasites in fish has been of concern to researchers worldwide due to huge economic losses to the fishery industry, especially by zoonotic species that confer risk to public health and not less important for those with repugnant aspect to consumer. This work was divided into three studies, in the first, the aim was to identify Anisakidae larvae due to its hygienic-sanitary importance and public health, whose parasites infect fish specimens of the blackfin goosefish, Lophius gastrophysus, purchased from markets in the municipalities of Cabo Frio, Niterói, Duque de Caxias and Rio de Janeiro. For this, 87 specimens of Lophius gastrophysus were investigated. Seventeen fish (19.5%) were parasitized with larvae of anisakid nematodes. These fish were parasitized with the species: Anisakis simplex, Hysterothylacium sp. and Raphidascaris sp. with prevalence of 1.14, 12.6 and 12.6%, intensity and mean intensity of infection of 1, 2.81, 10.5 and mean abundance of 0.01, 0.35 and 1.33, respectively. The sites of infection were stomach, stomach and intestine serosas and abdominal cavity. This is the first record of A. simplex, Hysterothylacium sp. and Raphidascaris sp. for this species of fish. In the second study aimed to study anisakid and raphidascaridid nematodes larvae through integrative study, morphological, morphometric and genetic, which infect flounders P. patagonicus and X. rasile commercialized in the State of Rio de Janeiro, Brazil, and thus, identify the nematodes species, relating to their parasitary indices of prevalence, mean intensity, mean abundance, range of infection, and infection sites, along with their sanitary importance. For this study, were necropsied 66 flounders specimens, i.e. 36 specimens of P. patagonicus and 30 of X. rasile, that were parasitized by a total of 5915 third larvae nematode (L3), being 5666 collected of P. patagonicus and 249 of X. rasile, of Anisakis typica with P = 11,1%, MI = 1.25, MA = 0.13, RI = 1-2 in Pp; P = 16.6%, MI = 1.8, MA = 0.3, RI = 1-3 in Xr; Terranova sp. with P = 33.3%, MI = 2.66, MA = 0.88, RI = 1-11 in Pp; P = 10%, MI = 1, MA = 0.1 in Xr; Contracaecum sp. with P = 8.3%, MI = 1.66, MA = 0.13, RI = 1-3 in Pp; P = 13.3%, MI = 1.33, MA = 0.13, RI = 1-2 in Xr; Hysterothylacium deardorffoverstreetorum with P = 100%, MI = 154.2, MA = 154.2, RI = 1-859 in Pp; P = 93.3%, MI = 7.21, MA = 6.73, RI = 1-17 in Xr; and Raphidascaris sp. with P = 38.8%, MI = 5.14, MA = 2, RI = 1-21 (Pp); P = 33.3%, MI = 3.1, MA = 1.03, RI = 1-8 in Xr. The taxonomic identification was based on morphological and morphometrical characters, and genetic analyses was used for A. typica and H. deardorffoverstreetorum. The genetic characterization confirmed the species identification of Anisakis and Hysterothylacium specimens, using both ITS and cox2 molecular targets. This is the first repport of A. typica, H. deardorffoverstreetorum, and Raphidascaris sp. parasitising these flounder species. Considerations on the zoonotic potencial of the parasites and their rules in sanitary inspection are presented. The third study aimed to identify morphologic, morphometrically and genetically Acanthocephala species parasitizing P. isosceles, P. patagonicus and X. rasile, presenting their parasitary indices of prevalence, intensity, mean intensity, abundance, mean abundance, range of infection, and their infection site. Hundred twenty specimens of flounder, i.e. 60 of Paralichthys isosceles, 30 of P. patagonicus and 30 of X. rasile were collected from the coast of State of Rio de Janeiro, Brazil. The results showed that the specimens of P. isosceles and P. patagonicus were parasitized with acanthocephalan juveniles of species Serrasentis sagittifer with P = 11.7%, MI = 1.4, MA = 0.17 RI = 1-4 in Pi; P = 26.7%, MI = 4.4, MA = 1.17, RI = 1-11 12 in Pp; Bolbosoma turbinella with P = 13.3 %, MI = 2.0, MA = 0.27, RI = 1-4 in Pi; P = 13.3 %, MI = 2.5, MA = 0.33, RI = 1-4 in Pp; Corynosoma australe with P = 5%, MI = 3.3, MA = 0.17, RI = 1-5 in Pi; P = 16.7 %, MI = 3.6, MA = 0.6, RI = 1-7 in Pp; P = 10 %, MI = 2, MA = 0.2, RI = 1-4 in Xr and C. cetaceum with P = 1.7%, I = 1, A = 0.017 in Pi; P = 26.7 %, MI = 2.25, MA = 0.6, RI = 1-6 in Pp. The specimens of X. rasile were parasitized withC. australe, besides this, the genetic characterization confirmed the species identification of the specimens belonging to the genera Bolbosoma and Corynosoma, as demonstrated by phylogenetic analysis using both ITS and cox1 molecular targets. This is the first repport of S. sagittifer and B. turbinella in the flounders P. patagonicus and X. rasile. Keywords: Nematodes. Acanthocephala. Higienic-sanitary importance. Teleostean fish. Integrative taxonomy. Brazil. 13 SUMÁRIO RESUMO, p. 9 ABSTRACT, p. 11 LISTA DE FIGURAS, p. 15 LISTA DE TABELAS, p. 19 1 INTRODUÇÃO, p. 21 2. REVISÃO DE LITERATURA, p. 23 2.1 PESCADO, p. 23 2.2 PRODUÇÃO PESQUEIRA MUNDIAL E NO BRASIL, p. 24 2.3 CONSUMO E PRODUTOS DA PESCA NO BRASIL, p. 25 2.4 HOSPEDEIROS ESTUDADOS, p. 26 2.4.1 Lophius gastrophysus Miranda-Ribeiro, 1915, p. 26 2.4.2 Paralichthys isosceles Jordan, 1890, p. 27 2.4.3 Paralichthys patagonicus Jordan, 1889, p. 29 2.4.4 Xystreurys rasile (Jordan, 1891), p. 30 2.5 PARASITOLOGIA DO PESCADO, p. 31 2.5.1 Nematoides Anisaquidae e Raphidascarididae, p. 32 2.5.1.1 Anisaquiose e Anisaquidose, p. 36 2.5.2 Acantocephala, p. 38 2.5.3 Outros Helmintos em Teleósteos do Presente Estudo, p. 40 2.6 HIPERSENSIBILIDADE E ALERGIAS RELACIONADAS AO CONSUMO DE PESCADO, p. 40 2.7 LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE PARASITOS DE PESCADO, p. 42 2.8 MEDIDAS PREVENTIVAS CONTRA PARASITOSES ASSOCIADAS AO CONSUMO DE PEIXES, p. 43 3 DESENVOLVIMENTO, p. 45 3.1 ARTIGO 1: ANISAKIDAE NEMATODES IN THE BLACKFIN GOOSEFISH, Lophius gastrophysus MIRANDA-RIBEIRO, 1915 PURCHASED IN THE STATE OF RIO DE JANEIRO, BRAZIL, p. 46 14 3.2 ARTIGO 2: INTEGRATE TAXONOMY OF ANISAKIDAE AND RAPHIDASCARIDIDAE NEMATODES OF Paralichthys patagonicus AND Xystreurys rasile (PISCES: TELEOSTEI) OF SANITARY IMPORTANCE IN THE SOUTH EASTERN BRAZIL MARINE ECOREGION, p. 52 3.3 ARTIGO 3: INTEGRATIVE TAXONOMY OF ACANTHOCEPHALANS PARASITIZING FLOUNDERS Paralichthys isosceles, P. patagonicus AND Xystreurys rasile (PISCES: TELEOSTEI) IN THE SOUTH EASTERN BRAZIL MARINE ECOREGION, p. 89 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS, p. 126 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS, p. 128 6 APENDICE, p. 149 6.1 CAPITULO DE LIVRO: ZOONOSE: DIFILOBOTRÍASE, p. 150 15 LISTA DE FIGURAS Figura 1 Lophius gastrophysus, p. 27 Figura 2 Paralichthys isosceles, p. 28 Figura 3 Paralichthys patagonicus, p. 29 Figura 4 Xystreurys rasile, p. 31 ARTIGO 2 Figure 1 (a-c) Anisakis typica collected of Paralichthys patagonicus. a) anterior region, ventral view, showing larval tooth, esophagus and ventriculus; b) detail of larval tooth, ventral view; c) detail of the tail showing mucron, p. 59 Figure 2 (a-c) Terranova sp. collected of Paralichthys patagonicus. a) anterior region, ventral view, showing larval tooth, esophagus, intestinal cecum and ventriculus; b) detail of larval tooth, ventral view; c) tail, p. 61 Figure 3 (a-c) Terranova sp. collected of Paralichthys patagonicus, SEM. a) anterior region, ventro-lateral view, showing larval tooth, and excretory pore; b) tail, ventral view; c) tail, dorsal view, p. 62 Figure 4 (a-c) Contracaecum sp. collected of Paralichthys patagonicus. a) anterior region, lateral view, showing larval tooth, esophagus, ventriculus, ventricular appendix and intestinal cecum; b) detail larval tooth, ventral view; c) tail, p. 64 Figure 5 (a, b) Contracaecum sp. collected of Paralichthys patagonicus, SEM. a) anterior region, ventro-lateral view, showing larval tooth, and excretory pore; b) tail, lateral view, p. 65 16 Figure 6 (a-c) Hysterothylacium deardorffoverstreetorum collected of Paralichthys patagonicus. a) anterior region, ventral view, showing esophagus, ventriculus, ventricular appendix and intestinal cecum; b) coninal tail, lateral view, showing mucron; c) detail of mucron, p. 66 Figure 7 (a-c) Hysterothylacium deardorffoverstreetorum collected of Paralichthys patagonicus, SEM. a) anterior region, ventro-lateral view; b) tail, ventro-lateral view, showing mucrom; c) Detail of mucrom, p. 67 Figure 8 (a-c) Raphidascaris sp. collected of Paralichthys patagonicus. a) anterior region, ventral view, showing larval tooth, nerve ring, esophagus, ventriculus, ventricular appendix; b) detail larval tooth, ventral view; c) tail lateral view, p. 69 Figure 9 (a, b) Raphidascaris sp. collected of Paralichthys patagonicus, SEM. a) anterior region, dorso-lateral view, showing larval tooth; b) tail, lateral view, p. 70 Figure 10 mtDNA Anisakis sp. cox2 phylogenetic tree. NJ tree inferred from Anisakis sp. mtDNA cox2 gene sequences from this study (PP) and GenBank sequences, p. 72 Figure 11 Hysterothylacium sp. ITS-1 phylogenetic tree. Neighbor-Joining tree inferred from Hysterothylacium sp. ITS-1 region sequences from this study (PP) and GenBank sequences, p. 73 Figure 12 mtDNA Hysterothylacium sp. cox2 phylogenetic tree. NJ tree inferred from Hysterothylacium sp. mtDNA cox2 gene sequences from this study (PP) and GenBank sequences, p. 74 17 ARTIGO 3 Figure 1 (a-d) Juveniles of Serrasentis sagittifer in Paralichthys isosceles. a Female, total, lateral view. b Detail of vagina, ventral view. c Hooks of proboscis and sensory papilla. d Male, posterior portion, lateral view, p. 95 Figure 2 (a, b) Juvenile of Serrasentis sagittifer in Paralichthys patagonicus. a Male, total, lateral view. b Detail of proboscis and neck, p. 96 Figure 3 (a, b) Juveniles of Serrasentis sagittifer in Paralichthys isosceles, SEM a Proboscis, neck and anterior trunk spines. b Detail of trunk combs, p. 96 Figure 4 (a-d) Juveniles of Bolbosoma turbinella in Paralichthys isosceles. a Female, total, lateral view. b Detail of vagina, ventral view. c Hooks of proboscis. d Male, posterior portion, lateral view, p. 99 Figure 5 Juvenile of female of Bolbosoma turbinella in Paralichthys patagonicus. Detail of vagina, ventral view, p. 100 Figure 6 Juvenile of Bolbosoma turbinella in Paralichthys isosceles, SEM. Proboscis, neck and trunk spines, p. 100 Figure 7 (a-d) Juveniles of Corynosoma australe in Paralichthys patagonicus, a Female, total, lateral view. b Detail of proboscis of a female. c Female, posterior end, lateral view. d Male, posterior end, ventral view, p. 103 Figure 8 (a-c) Juvenile of Corynosoma australe in Paralichthys patagonicus, SEM, a Male, total, latero dorsal view. b Detail of proboscis of a male, latero dorsal view. c Male, posterior portion, detail of genital spines, latero dorsal view, p. 104 18 Figure 9 (a-d) Juveniles of Corynosoma cetaceum in Paralichthys patagonicus. a Male, total, lateral view. b Proboscis, neck and trunk spines, lateral view. c Female, posterior end, lateral view. The brackets indicate the two ventral trunk folds that are devoid of spines, lateral view. d Male, posterior end, detail of genital spine, lateral view, p. 107 Figure 10 (a, b) ML phylogenetic trees inferred from ITS sequences from this study (HE14, HE23, and HE25) and GenBank sequences (species and accession numbers are shown). a ITS Dataset I applying TN92+G model. b ITS Dataset II using K2P+G model. Numbers at nodes are support bootstrap values higher than 50%. Regular numbers correspond to ML analysis, and italic numbers to NJ analysis with K2P model, p. 110 e 111 Figure 11 ML phylogenetic tree inferred from cox1 gene sequences from this study (HE 25, HE38 and HE43) and GenBank sequences. Numbers at nodes are the support bootstrap values higher than 50%. Regular numbers correspondto ML analysis using HKY model and G+I parameters, and italic numbers to NJ analysis with K2P model, p. 112 19 LISTA DE TABELAS ARTIGO 2 Table 1 Morphometric data on Anisakis typica third-stage larvae collected from Paralichthys patagonicus and Xystreurys rasile in the State of Rio de Janeiro, Brazil, p. 60 Table 2 Morphometric data on Terranova sp. third-stage larvae collected from Paralichthys patagonicus and Xystreurys rasile in the State of Rio de Janeiro, Brazil, p. 62 Table 3 Morphometric data on Contracaecum sp. third-stage larvae collected from Paralichthys patagonicus and Xystreurys rasile in the State of Rio de Janeiro, Brazil, p. 65 Table 4 Morphometric data on Hysterothylacium deardorffoverstreetorum third-stage larvae collected from Paralichthys patagonicus and Xystreurys rasile in the State of Rio de Janeiro, Brazil, p. 68 Table 5 Morphometric data on Raphidascaris sp. third-stage larvae collected from Paralichthys patagonicus and Xystreurys rasile in the State of Rio de Janeiro, Brazil, p. 71 ARTIGO 3 Table 1 Measurements of juveniles of Serrasentis sagittifer, males and females, collected from Paralichthys isosceles and P. patagonicus, p. 97 Table 2 Measurements of juveniles of Bolbosoma turbinella, males and females, collected from Paralichthys isosceles and P. 20 patagonicus, p. 101 Table 3 Measurements of juveniles of Corynosoma australe, males and females, collected from Paralichthys isosceles, P. patagonicus and Xystreurys rasile, p. 105 Table 4 Measurements of juveniles of Corynosoma cetaceum, males and females, collected from Paralichthys isosceles and P. patagonicus, p. 108 21 1 INTRODUÇÃO Atualmente a presença de parasitos no pescado tem sido motivo de preocupação para pesquisadores do mundo inteiro, devido aos enormes prejuízos econômicos para a indústria pesqueira, principalmente pelas espécies zoonóticas que conferem risco para a saúde pública e não em menor importância por aquelas que apresentam aspecto repugnante ao consumidor. O peixe sapo-pescador Lophius gastrophysus Miranda-Ribeiro, 1915 e os linguados Paralichthys isosceles Jordan, 1890, P. patagonicus Jordan, 1889 e Xystreurys rasile (Jordan, 1891) constituem uma apreciada categoria de pescado e apresentam elevado valor comercial, principalmente no mercado internacional (BERNARDES et al., 2005). Os nematóides estão entre os mais frequentes e mais importantes parasitos de peixes, constituindo uma significante parte da parasitofauna desses hospedeiros de água doce, salobra e marinha em todo o mundo. Eles parasitam os órgãos do corpo de peixes e alguns são conhecidos como agentes de sérias doenças de peixes, causando consideráveis perdas para a indústria (MORAVEC, 2007). As larvas de anisaquídeos podem parasitar diversas espécies de peixes, os quais são seus hospedeiros intermediários e/ou paratênicos. Já suas formas adultas atingem a maturidade sexual principalmente no estômago de aves piscívoras e mamíferos marinhos. Quando larvas vivas são acidentalmente ingeridas pelo homem, estas podem determinar lesões em diferentes pontos do trato gastrointestinal ou migrar para localizações extra intestinais, desencadeando diferentes manifestações da enfermidade (AUDICANA; KENNEDY, 2008; DASCHNER et al., 1997; GÓMEZ et al., 2003; HOCHBERG; HAMER, 2010; IVANOVIC et al., 2015; MATTIUCCI et al., 2013; RUBIO et al., 2003). Outro grupo importante de parasitos são os do filo Acanthocephala, onde o número de espécies conhecidas é superior a mil e, das quais mais da metade são parasitos de peixes marinhos ou de água doce (TARASCHEWSKI, 2008). Segundo Amin (1985, 1987), os acantocéfalos que parasitam os peixes pertencem as classes Paleacanthocephala, Eoacanthocephala e Polyacanthocephala. Porém a maioria das espécies é incluída nas duas primeiras classes e a última, menos estudada, possui um número reduzido de espécies conhecidas. Os espécimes adultos, juvenis 22 e os cistacantos desses acantocéfalos parasitam peixes e mamíferos marinhos distribuídos amplamente pelo mundo. Esses acantocéfalos adquirem importância higiênico sanitária pelo aspecto repugnante que transferem ao consumidor, sendo os peixes descartados na indústria de beneficiamento, nos serviços de inspeção ou rejeitados pelo consumidor, causando prejuízos econômicos. As manifestações alérgicas a antígenos de parasitos de peixes são bastante frequentes, principalmente aquelas atribuídas aos anisaquídeos. Os casos de hipersensibilidade ocorrem em consequência do consumo do pescado infectado por larvas de anisaquídeos em indivíduos previamente sensibilizados, ou seja, que já tiveram contato anterior com os antígenos dessas larvas, ocasionados por manuseio ou ingestão, que se dispersaram na musculatura do peixe infectado. Alguns antígenos de Anisakis simplex (Rudolphi, 1809) são extremamente resistentes à aplicação do calor ou de congelamento não havendo alteração no seu potencial alergênico. Adicionalmente, a larva de terceiro estágio do A. simplex possui um amplo número de moléculas alergênicas, e reatividade a estes alérgenos ocorre de forma exagerada (AUDICANA et al., 2002; LÓPEZ-SERRANO et al., 2000; SABATER; SABATER, 2000). Em relação aos acantocéfalos não existem estudos onde tenha sido testado o potencial alergênico para humanos. Sendo assim, tendo em vista a escassez de dados na literatura mundial sobre os parasitos desses teleósteos, o presente estudo buscou trazer contribuições inéditas utilizando a taxonomia integrativa para adicionar novos dados morfológicos, morfométricos e análise genética desses helmintos. 23 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1 PESCADO Segundo a portaria nº 185 do MAPA, pescado é a denominação genérica que compreende os peixes, crustáceos, moluscos, anfíbios, quelônios e mamíferos de água doce ou salgada, usados na alimentação humana (BRASIL, 1952, 1997). O pescado é uma fonte de proteína tão importante para o homem quanto a carne bovina, porém com aproximadamente 60% menos calorias. Os pescados correspondem a 5,6% do total de proteína e a 15,6% do total de proteína animal consumida mundialmente (BAUTISTA; ENGLER, 2005; CATO, 1998; FRANCO; LANDGRAF, 2003; HOLUH; HOLUB, 2004). Porém, dentre os produtos cárneos, o pescado é o mais susceptível às alterações devido as suas características intrínsecas, pois a quantidade de água elevada e o pH próximo à neutralidade, na sua musculatura, favorecem o desenvolvimento microbiano; além disto o teor de gorduras insaturadas, facilmente oxidáveis, e a ação dos sucos digestivos e as enzimas dos tecidos promovem a deterioração química do alimento (FRANCO; LANDGRAF, 2003; OETTERER, 1991; PHILIPPI, 2003). Mesmo sendo extremamente variável, a composição química da carne do pescado, especialmente dos peixes, aproxima-se da composição de aves, bovinos e suínos. Seu principal componente é a água, cuja proporção (na parte comestível) pode variar de 64% a 90%, seguido pelas proteínas, 17 a 25%, e pela gordura, que pode variar de 0,5% a 25%. A proteína do peixe é altamente digerível e rica em metionina e lisina, considerados aminoácidos essenciais, não sendo sintetizados pelo organismo humano e cuja ingestão na dieta é fundamental. A composição dos aminoácidos essenciais (histidina, isoleucina, leucina, metionina, fenilanina, treonina, triptofano e valina) nos peixes é completa, balanceada e bastante semelhante entre as espécies de água doce e salgada (FIB, 2009). Entre os constituintes minoritários dos pescados estão os sais minerais, que têm seu teor variando de 1,0% e 2,0%; os carboidratos, (no caso dos peixes) não chegam a representar 1,0% da sua composição,e as substâncias nitrogenadas não protéicas (sem importância nutricional) que não atingem 0,5% na carne dos peixes frescos (FIB, 2009). 24 2.2 PRODUÇÃO PESQUEIRA MUNDIAL E NO BRASIL A carne do pescado é um importante alimento da dieta diária das populações de muitos países e contribui com cerca de um quarto da oferta de proteína de origem animal, além de ser fonte importante de emprego e renda em alguns países (GONÇALVES et al., 2008). Segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação - FAO, a produção pesqueira mundial em 2014 foi de 158 milhões de toneladas, incluindo a produção extrativa e a aquicultura (FAO, 2014). Os cinco maiores produtores do mundo são, sequencialmente: China, Indonésia, Índia, Peru e Japão. O Brasil, devido ao vasto território marítimo e grande quantidade de espécies nativas possui um grande potencial de produção, entretanto, é o 18º colocado no ranking mundial, com produção média de 1.264.765 toneladas em 2010 (MPA, 2012) e 19º em 2014 (FAO, 2014). A produção do pescado no Brasil tem o maior potencial do mundo com 8.500 km2 de costa marítima, cinco milhões de hectares de terras alagadas (reservatórios) e 12% do total de reserva de água doce do planeta (BRASIL, 2005). O Estado do Maranhão, com 640 km2 de costa, a segunda do Brasil em extensão, oferece uma enorme variedade de espécies de pescado de importância comercial, com um grande potencial de crescimento, tanto na pesca quanto na aquicultura (MARANHÃO, 1999). Entretanto, apesar de o Brasil ser um dos líderes mundiais na produção e exportação de frango, carne suína e bovina, o pescado nunca ocupou um papel de destaque na produção de proteína animal nobre (MINOZZO et al., 2008). Segundo o Ministério de Pesca e Agricultura - MPA (MPA, 2013) com o aumento no consumo de pescados, houve uma motivação por parte da indústria do pescado, sobretudo da aquicultura, que é a modalidade com mais espaço para crescer a produção. Para o Ministério de Pesca e Agricultura (MPA, 2013) em 2011, a criação de pescado em cativeiro no Brasil atingiu 628,7 mil toneladas, o que representou um crescimento de 31,1% em relação ao ano anterior. Entretanto, este grande empenho ainda foi insuficiente para atender a demanda. De acordo com o Ministério, a produção brasileira de pescado alcançou 1,43 milhão de toneladas, das quais uma pequena parte, 42.263 toneladas, foi destinada à exportação em 2011, e o País ainda precisou importar 37% do pescado consumido. 25 Em relação à produção de águas interiores, a FAO informou em seu relatório que a produção global de captura de águas interiores atingiu 11,6 milhões de toneladas em 2012, mas a sua participação na produção total de captura global ainda não excedeu 13% (FAO, 2014). Para a organização, a produção aquícola mundial atingiu 90,4 milhões toneladas (peso vivo equivalente) em 2012 (US $ 144.400.000.000), incluindo 66,6 milhões toneladas de peixes e 23,8 milhões de toneladas de algas aquáticas, com estimativas para 2013 de 70,5 milhões e 26,1 milhões de toneladas, respectivamente. Ainda, segundo a FAO, só a China produziu 43,5 milhões toneladas de peixes e 13,5 milhões de toneladas de algas aquáticas naquele ano (FAO, 2014). 2.3 CONSUMO DE PRODUTOS DA PESCA NO BRASIL O consumo de carne de peixe tem aumentado de forma significativa ao longo dos anos devido às qualidades nutricionais benéficas (BURGER, 2008; MACIEL et al., 2013). Esse aumento caracterizou um perfil de consumidores exigentes em relação ao produto a ser comprado. A presença de vitaminas (A e D), íons importantes (cálcio e fósforo), ácidos graxos insaturados (ômega 3 e 6) e alto teor proteico são qualidades encontradas em algumas espécies e que estão relacionados à diminuição da incidência de doenças cardiovasculares (GONÇALVES et al., 2009; MACHADO et al., 2013; SILVA et al., 2013; TAVARES et al., 2013). Estudos epidemiológicos têm demonstrado que a ingestão regular de pescado (duas vezes por semana) pode exercer efeito favorável sobre os níveis de triglicerídeos, pressão sanguínea, mecanismo de coagulação e ritmo cardíaco, na prevenção do câncer (mama, próstata e cólon), redução da incidência de arteriosclerose e de acidentes vasculares cerebrais isquêmicos, declínio cognitivo, redução dos riscos de depressão, ansiedade, doenças inflamatórias, auxilia na integridade das membranas celulares e tecidos nervosos (SOUZA et al., 2003). Além disso, há estudos que indicam que o consumo regular de pescado por mulheres grávidas reduz o risco de problemas neuronais nas crianças. Portanto, o consumo de pescado tem sido associado a diversos benefícios para saúde humana, fato que tem estimulado as pesquisas na área (SOCCOL; OETTERER, 2003; TACON; METIAN, 2013). 26 Apesar das estatísticas mostrarem expansão do setor aquícola brasileiro em aproximadamente 21% ao ano (OSTRENSKY et al., 2008), o consumo de pescado per capita não apresenta crescimento na mesma proporção, sendo a carne menos consumida no país (CARVALHO; LEMOS, 2009). O consumo per capita mundial em 1997 foi aproximadamente de 15,7 kg ao ano, dados mais recentes demonstraram que no Brasil, em 2010, o consumo per capita foi aproximadamente 9,75 kg de pescado ao ano, inferior ao recomendando pela Organização Mundial de Saúde - OMS de 12 kg por habitantes ao ano (MPA, 2012; OSTRENSKY et al., 2008). O consumo per capita na região Sudeste, incluindo Belo Horizonte, é inferior, aproximadamente 5,4 kg/hab./ano (SARTORI; AMÂNCIO, 2012). Mesmo diante dos diversos benefícios, o consumo de pescado ainda é baixo em muitos países e tal fato pode estar vinculado a diferenças culturais, influências do grupo social, conveniência do preparo, preço elevado e problemas na cadeia de produção (BOMBARDELLI et al., 2005; MACIEL et al., 2009; OETTERER, 2002; OLSEN et al., 2007; OSTRENSKY et al., 2008; PIENIAK et al., 2010; TUU et al., 2008). 2.4 HOSPEDEIROS ESTUDADOS 2.4.1 Lophius gastrophysus Miranda-Ribeiro, 1915 Ordem: Lophiiformes Família: Lophiidae Gênero: Lophius Linnaeus, 1758 Os espécimes de L. gastrophysus (Figura 1) são bentônicos, apresentam a cabeça e tronco largos, fortemente achatados e parte posterior do corpo menos desenvolvida. Corpo sem escamas, marrom escuro e com a margem inferior da nadadeira peitoral enegrecida. Boca muito ampla, com a mandíbula projetando-se anteriormente à maxila superior; e um ilício próximo a ponta do focinho que corresponde ao primeiro espinho da nadadeira dorsal. São encontrados em intervalos de profundidade que variam de 40 - 620 m de profundidade (BERNARDES et al., 2005; FIGUEIREDO; MENEZES, 1978). Esta espécie apresenta importante valor comercial no Brasil, principalmente para a exportação. No sudeste e sul do Brasil, o peixe sapo foi identificado como um 27 dos principais alvos no processo de expansão da pesca demersal para áreas profundas da Zona Econômica Exclusiva Brasileira, a qual tomou impulso no ano 2001. Com elevado valor econômico no mercado internacional e devido a crescentes oportunidades de exportação para países europeus e asiáticos, a espécie desencadeou o rápido desenvolvimento de uma pescaria dirigida, tanto por embarcações nacionais quanto arrendadas, e uma ampla e inédita ocupação das áreas de pesca do talude entre o norte do Rio de Janeiro e o sul do Rio Grande do Sul (PEREZ et al., 2002; RAMELLA et al., 2005). Figura 1. Lophius gastrophysus. Barra = 5 cm. 2.4.2 Paralichthys isosceles Jordan, 1890 Ordem: Pleuronectiformes Família: Paralichthyidae Gênero: Paralichthys Girard, 1858 A ordem Pleuronectiformes (Osteichthyes, Teleostei) inclui os peixes conhecidos como linguados, linguas-de-mulata, solhas ou tapas, constituindo um grupo muito distinto, com morfologia extremamente peculiar (NELSON, 1994). Os linguados encontram-se largamentedistribuídos ao longo de toda a costa brasileira, 28 até mesmo em águas interiores (FIGUEIREDO; MENEZES, 2000). Na região sudeste do Brasil são citadas cinco famílias, 14 gêneros e 31 espécies, onde as cinco espécies brasileiras do gênero Paralichthys e gênero Xystreurys, família Paralichthyidae, que ocorrem no litoral do Estado do Rio de Janeiro assumem grande importância comercial, principalmente no mercado internacional (BERNARDES et al. 2005). A espécie P. isosceles (Figura 2) se distingue das outras por apresentar três ocelos muito nítidos: dois situados sobre a vertical que passa aproximadamente pela metade da distância entre a margem posterior do opérculo e a base da nadadeira caudal, um deles próximo à base da nadadeira dorsal e o outro próximo à base da nadadeira anal, e o terceiro situado na região pré-peduncular, sobre a linha lateral; uma minúscula mancha negra circular na região distal da nadadeira pélvica esquerda, entre o terceiro e quarto raios. Atingem pelo menos 29 cm de comprimento e ocorrem desde a costa até 190 m de profundidade, sendo mais comum a partir dos 50 m. Os peixes desta espécie distribuem-se no sudoeste do oceano Atlântico, do Brasil até a Argentina. Como todas as espécies do gênero são demersais, e tem sua alimentação constituída de peixes e cefalópodes. (FIGUEIREDO; MENEZES, 2000). Figura 2. Paralichthys isosceles. Barra = 5 cm. 29 2.4.3 Paralichthys patagonicus Jordan, 1889 Ordem: Pleuronectiformes Família: Paralichthyidae Gênero: Paralichthys Girard, 1858 Conhecido vulgarmente como linguado, esta espécie se diferencia das outras do gênero, principalmente, por apresentar dois ocelos no corpo, um sobre o início da parte reta da linha lateral e outro sobre a região mais anterior do último terço da parte reta da linha lateral (FIGUEIREDO; MENEZES, 2000). Os linguados da espécie P. patagonicus (Figura 3) distribuem-se desde Cabo Frio, Estado do Rio de Janeiro, Brasil até a Patagônia, Argentina. A espécie apresenta um período reprodutivo prolongado com desova entre a primavera e o final do verão com maior intensidade no mês de novembro (ARAÚJO; HAIMOVICI, 2000; MACCHI; DÍAZ DE ASTARLOA, 1996). No sul do Brasil, o comprimento médio de primeira maturação sexual foi estimado em 33 cm para as fêmeas e 31 cm para os machos (ARAÚJO; HAIMOVICI, 2000). Como todas as espécies do gênero, é um predador voraz que se alimenta de peixes, e também de cefalópodes e crustáceos (ARAÚJO; HAIMOVICI, 2000). Figura 3. Paralichthys patagonicus. Barra = 8 cm. 30 A espécie P. patagonicus constitui uma importante espécie de peixe de águas sul-americanas, sendo a espécie de linguado economicamente mais importante, devido a abundância e o tamanho que atinge, em comparação com outros peixes planos (DÍAZ DE ASTARLOA, 1994). Esta espécie está incluída na chamada pesca fina por causa da alta qualidade da carne do pescado e seu alto preço no mercado (MASSA et al., 2005). 2.4.4 Xystreurys rasile (Jordan, 1891) Ordem: Pleuronectiformes Família: Paralichthyidae Gênero: Xystreurys Jordan & Gilbert 1880 A espécie X. rasile (Figura 4) apresenta como características, cor castanho, do mais claro ao mais escuro, com numerosas manchas escuras de tamanho variável que tendem a formar ocelos presentes ao longo das nadadeiras dorsal e anal e em uma fileira longitudinal acima e abaixo da linha lateral; sobre a linha lateral há dois grandes ocelos escuros, elípticos, um na junção das partes curva e reta e outro sobre o início do terço posterior da parte reta; são considerados de porte médio, alcançando 40 cm de comprimento. Ocorrem desde o norte do Estado do Rio de Janeiro, até a Patagônia (FIGUEIREDO; MENEZES, 2000). Esses linguados se reproduzem na primavera - verão (outubro a fevereiro) com maior intensidade no mês de novembro. O tamanho médio da primeira maturação sexual é calculado de 20 cm nos machos e 21 cm nas fêmeas, com 1 e 2 anos de idade, respectivamente. É uma espécie de crescimento rápido. A idade máxima registrada é de oito anos para ambos os sexos, mas as médias de tamanho por idade que as fêmeas alcançam é maior que a dos machos (DÍAZ DE ASTARLOA et al., 1997). Os linguados desta espécie fazem parte da chamada pesca fina porque são um produto de alta qualidade e as capturas são relativamente pequenas (cerca de 8.000 toneladas em 1997), quando comparada a outros recursos demersais, como a pescada (650.000 toneladas em 1997) (FABRÉ et al., 2001). 31 Figura 4. Xystreurys rasile. Barra = 6 cm 2.5 PARASITOLOGIA DO PESCADO Podem ser observados vários grupos de seres vivos que podem viver em uma uma relação de parasitismo com animais aquáticos. Estes, podem causar prejuízos à saúde dos animais parasitados, perdas econômicas aos produtores ou à indústria da pesca, e por vezes também significar um risco à saúde dos consumidores do pescado. Dentre os parasitos responsáveis por infecções acidentais em humanos, os mais comuns são os cestóides Diphyllobothrium sp. Cobbold, 1858 e Diplogonoporus sp. Lönnberg, 1892, os trematódeos das famílias Heterophyidae Heterophyes sp. Cobbold, 1866 e Metagonimus yokogawai (Katsurada, 1912) e Opisthorchiidae Clonorchis sinensis (Cobbold, 1875) Looss, 1907 e Opistorchis sp. Blanchard, 1895, e os nematóides dos gêneros Anisakis Dujardin, 1845 e Pseudoterranova Mosgovoy, 1950 (AUDICANA et al., 2002). Alguns parasitos, mesmo sem potencial zoonótico, podem conferir aspecto repugnante ao pescado, onde os peixes são descartados pelo consumidor ou condenados pelo Serviço de Inspeção, quando na indústria de beneficiamento. Além disso, podem representar riscos à saúde humana por desencadearem respostas alérgicas em organismos previamente sensibilizados (BRASIL, 1952). No Brasil existem, relatos sobre a ocorrência de nematóides anisaquideos em vários peixes de importância comercial e moluscos bivalves marinhos (OKUMURA et al., 1999). 32 2.5.1 Nematoides Anisakidae e Raphidascarididae As larvas da família Anisakidae desenvolvem seu ciclo biológico no ambiente aquático, onde as larvas têm como hospedeiros intermediários peixes, crustáceos ou cefalopodes e têm como hospedeiros definitivos, os mamíferos marinhos (SMITH; WOOTEN, 1978; VALLS et al. 2005). O homem é um hospedeiro acidental e neste ocorre a síndrome da larva migrante ou anisaquíase que caracteriza-se por dores abdominais, cólicas, náuseas e eventualmente vômitos (ANTÓN et al., 2008; ALONSO et al., 1997; AUDICANA; KENNEDY, 2008; AUDICANA et al., 2002; DASCHNER et al., 1997; GARCÍA; ARAUZO, 2004; GÓMEZ et al., 2003; MERCADO et al., 1997, 2001; PURELLO-D’AMBRÓSIO et al., 2000; RODRÍGUEZ et al., 2006; RUBIO et al., 2003). Van Thiel et al. (1960) descreveram o primeiro caso de anisaquíase humana. Os casos conhecidos no mundo têm como causa principal os hábitos alimentares, tais como o consumo de peixes crus, mal cozidos, defumados a frio e inadequadamente salgados contendo a larva L3 infectante (ACHA; SZYFRES, 2003). Os nematóides da família Anisakidae são de interesse para a inspeção sanitária, onde os gêneros Anisakis, Pseudoterranova Mozgovoi, 1951 e Contracaecum Ralliet & Henry, 1912 são os helmintos presentes em peixes que apresentam maior importância zoonótica (ADAMS et al., 1997). A maioria dos casos é reportada para as espécies A. simplex e Pseudoterranova decipiens (Krabbe, 1878) (ADAMS et al., 1997; ARCANGELI et al., 1997; MERCADO et al., 2001). Apesar de não ser comum, a espécie Hysterothylacium aduncum (Rudolphi, 1802) também está envolvida em um caso humano no Pacífico (YAGI et al. 1996). Os peixes teleósteos, por estarem envolvidos no ciclo biológico dos anisaquídeos, como hospedeiros intermediários, vem sendo investigados no intuito de se encontrar as formas larvares desses nematoides. Algumaspesquisas foram realizadas detectando a presença de larvas da família Anisakidae em peixes teleósteos marinhos e de água doce comercializados no litoral brasileiro, onde Abdallah et al. (2002, 2005) registraram a presença de Anisakis sp., Contracaecum sp., Raphidascaris sp. Railliet & Henry, 1915 em espécimes de cavalinha Scomber japonicus e registraram a presença de Raphidascaris sp. Railliet & Henry, 1915 em espécimes de sairú Cyphocharax gilbert. Alves e Luque (2006) registraram a presença de larvas de Anisakis sp., Contracaecum sp. e Raphidascaris sp. em cinco 33 espécies de escombrídeos do litoral do Rio de Janeiro. Alves et al. (2002a, b; 2004) estudaram a prevalência e a intensidade de infecção do anisaquídeo Contracaecum sp. no mesentério de Genypterus brasiliensis; também estudaram Anisakis sp. e Contracaecum sp. em Urophycis mystaceus e espécimes de Contracaecum sp., Raphidascaris sp. em Urophycis brasiliensis respectivamente. Alves et al. (2005) notificaram a presença em Balistes capriscus e B. vetula do anisaquídeo Contracaecum sp. Azevedo et al. (2006, 2007) registraram Contracaecum sp. em acarás coletados no Rio Guandu, Estado do Rio de Janeiro e Hysterothylacium sp. e Raphidascaris sp. do gordinho Peprilus paru. Barros (1994) relatou a presença de Contracaecum sp. em pargos Pagrus pagrus. Barros e Cavalcanti (1998) estudaram sete espécies de pescado de elevado consumo provenientes de litoral Nordeste do Brasil e registraram a presença de larvas Anisakidae nesses pescados. Em 1993, Barros e Amato (1993) estudaram a prevalência dos gêneros Contracaecum e Anisakis em peixes espada Trichiurus lepturus. São Clemente et al. (1994) observaram a resistência a baixas temperaturas das larvas de anisaquídeos, coletadas neste mesmo hospedeiro; espécimes dos gêneros Anisakis, Pseudoterranova e Contracaecum, parasitando T. lepturus, apresentaram também resistência a refrigeração, congelamento, cocção e salga (MARQUES et al. 1995; SÃO CLEMENTE et al. 1996). Benigno et al. (2012) estudaram espécimes de Hoplerytrinus unitaeniatus, Hoplias malabaricus e Pygocentrus nattereri, do Lago Arari, Ilha do Marajó, Estado do Pará e observaram que os nematóides Contracaecum sp., Eustrongylides sp. e Procamallanus sp. estavam presentes nas três espécies de peixes. Bicudo et al. (2005) registraram Anisakis sp. em Prionotus punctatus. Cordeiro e Luque (2005) ao estudarem espécimes de peixe-galo Selene setapinnis registraram a presença de larvas de Anisakis sp., Contracaecum sp. Hysterothylacium sp., Terranova sp. e Raphidascaris sp. Dias et al. (2010) estudaram espécimes de peixe-porco, Aluterus monoceros de estabelecimentos de pescado nos municípios de Niterói e Rio de Janeiro e observaram larvas de Anisakis sp. encontradas no mesentério de um peixe; e de Contracaecum sp. no fígado e mesentério, sendo as larvas de Anisakis sp. registradas pela primeira vez parasitando este peixe. Dias et al. (2011) registraram as espécies Anisakis sp. e Contracaecum sp. parasitando Scomberomorus cavalla. Felizardo et al. (2009a, b) fizeram um inventário das larvas Anisakidae parasitos de 34 linguado P. isosceles e observaram que as larvas de A. simplex, Contracaecum sp. Hysterothylacium sp., Terranova sp. e Raphidascaris sp. estavam presentes na cavidade abdominal, mesentério, intestino, fígado, mucosa estomacal, estômago, ovários, musculatura abdominal e nas serosas do coração, baço, estômago, rim e ovário. Além disso, registraram a histopatologia pelas larvas de Hysterothylacium sp. nesses espécimes de P. isosceles. Fontenelle et al. (2013, 2015) registraram a presença de Anisakis sp., Terranova sp., Contracaecum sp. e H. deardorffoverstreetorum Knoff, Felizardo, Iñiguez, Maldonado Jr, Torres, Pinto & Gomes, 2012 em espécimes de Cynoscion guatucupa e registraram Terranova sp., e H. fortalezae (Klein, 1973) em Selene setapinnis respectivamente. Germano e Germano (1998) discutiram a importância dos nematoides A. simplex e Pseudoterranova sp. responsáveis pela anisaquíase após o consumo de pescado marinho cru, mal cozido, inadequadamente salgado, insuficientemente congelado ou defumado. Knoff et al. (2004) relataram a primeira ocorrência de larvas de Anisakis sp. na musculatura de congro-rosa, Genypterus brasiliensis. Knoff et al. (2007) relataram A. physeteris (Baylis, 1923), A. simplex, Anisakis sp., Pseudoterranova decipiens (Krabbe, 1878), Pseudoterranova sp., Hysterothylacium sp., Raphidascaris sp., Contracaecum sp. e Terranova sp. de G. brasiliensis. Knoff et al. (2012) descreveram a partir da caracterização morfológica e molecular uma nova espécie de larva de Hysterothylacium Ward & Magath, 1917 parasitos de P. isosceles. Lacerda et al. (2009) ao estudarem duas espécies de corvinas, Pachyurus bonariensis e Plagioscion ternetzi, coletadas no Pantanal, Mato Grosso registraram Contracaecum sp. Luque e Alves (2001) registraram a presença de Contracaecum sp., Pseudoterranova sp. e Raphidascaris sp. em xaréu, Caranx hippos e em xerelete, Caranx latus. Luque e Chaves (1999) observaram a ecologia da comunidade de metazoários parasitos da anchova Pomatomus saltator e registraram as espécies Anisakis sp. e Contracaecum sp. Luque et al. (2002, 2008) registraram Anisakis sp., Contracaecum sp. e Raphidascaris sp. no peixe trilha, Mullus argentinae. Marques et al. (1995) testaram a utilização do frio (resfriamento e congelamento) na sobrevivência de larvas de nematóides anisaquideos em Trichiurus lepturus. Padovani et al. (2005) testaram o efeito in vitro da radiação gama em larvas de Anisakis sp. coletadas de congro-rosa G. brasiliensis. Paraguassú et al. (2005) registraram Contracaecum sp. no acará, Geophagus brasiliensis no reservatório de 35 Lajes, Estado do Rio de Janeiro. Pereira et al. (2000) registraram a prevalência de A. simplex e Pseudoterranova sp. na musculatura e superfície da pele do bacalhau importado, Gadus morhua, comercializado no Estado de São Paulo. Luque et al. (2003) encontraram Contracaecum sp. em Paralonchurus brasiliensis no mesentério, entretanto, não relataram a presença destes na musculatura. Pereira Jr. et al. (2004) estudaram larvas de Hysterothylacium sp. de Micropogonias furnieri coletadas no Rio Grande do Sul. Prado e Capuano (2006) fizeram o relato de nematóides da família Anisakidae em bacalhau, pescado importado, comercializado em Ribeirão Preto, São Paulo. Rego et al. (1983) estudaram os parasitas de anchovas, P. saltator no Rio de Janeiro. Ribeiro et al. (2014) registraram pela primeira vez Hysterothylacium sp. em Chaetodipterus faber e pampo Trachinotus carolinus. Saad e Luque (2009) registraram as larvas de anisakiade na musculatura de pargos Pagrus pagrus coletados no Estado do Rio de Janeiro; Sabas e Luque (2003) registraram Hysterothylacium sp. e Terranova sp. em Cynoscion guatucupa e Macrodon ancylodon. Salgado et al. (2004) registraram larvas de anisaquídeos em espécimes de Pseudopercis numida e G. brasiliensis. São Clemente et al. (1994) registraram os anisaquideos em P. pagrus realizando um estudo do seu controle através de baixas temperaturas. São Clemente et al. (1995) registraram o parasitismo por Contracaecum sp., Terranova sp. e Raphidascaris sp. em peixe- espada T. lepturus e em São Clemente et al. (1996) testaram a sobrevivência de larvas de anisakídeos de peixe-espada submetidos ao processo de salmouragem e cocção. Silva e São Clemente (2001) registraram os nematoides da mesma família em filés de dourado Coryphaena hippurus e ariocó Lutjanus synagris. Silva et al. (2000) estudaram os parasitos do peixe-espada T. lepturus e registraram as espécies Anisakis sp., Contracaecum sp., Raphidascaris sp., Pseudoterranova sp. Tavares et al. (2001) registraram anisaquideos em olho-de-cão Priacanthus arenatus. Tavares et al. (2004) estudaram os nematoides Hysterothylaciumsp. e Pseudoterranova sp. de Tylosurus acus e Tavares e Luque (2006) listaram os peixes da família Anisakidae do litoral do Rio de Janeiro enfocando aspectos da sistemática, biologia e da importância em saúde coletiva. No Brasil, já foram realizados estudos envolvendo os nematoides em espécimes de peixes sapo-pescador L. gastrophysus, onde Saad et al. (2012) identificaram Anisakis Tipo I, Terranova sp., Contracaecum sp., Hysterothylacium sp. e Raphidascaris sp. parasitando esta espécie e Knoff et al. (2013) (ARTIGO 1) 36 registraram a presença de Anisakis simplex, Hysterothylacium sp. e Raphidascaris sp. Estudos relacionados aos nematóides Anisakidae em linguados têm sido realizados em algumas regiões do mundo. No Chile, Riffo (1991) e González et al. (2001) encontraram Anisakis sp. no mesentério e no intestino e Pseudoterranova sp. na musculatura de Hippoglossina macrops. No Canadá, Arthur e Albert (1994) encontraram A. simplex e P. decipiens na musculatura de Reinhardtius hippoglossoides. No Chile Oliva et al. (1996) registraram Anisakis sp., A. physeteris, P. decipiens e Hysterothylacium sp. em Paralichthys adspersus e Torres et al. (2000) registraram a presença de A. simplex, P. decipiens e Hysterothylacium sp. em P. microps. Castillo-Sánchez et al. (1998) e Perez-Ponce de Leon et al. (1999) encontraram espécies de Hysterothylacium sp., Anisakis sp., Contracaecum sp. em P. californicus no México. Incorvaia e Díaz de Astarloa (1998) observaram a presença de larvas pertencentes aos gêneros Terranova, Raphidascaris e Contracaecum em P. orbignyanus e P. patagonicus e Anisakis e Hysterothylacium em P. patagonicus. Koie (1999) no Golfo da Finlândia referiram A. simplex, Hysterothylacium aduncum Rudolphi, 1802, Raphidascaris acus (Bloch, 1779) e Contracaecum sp. parasitando Platichthys flesus. Marques et al. (2006) durante estudo realizado em Portugal sobre a identificação molecular de espécies pertencentes ao gênero Anisakis provenientes de linguados, examinando 25 espécies da ordem de Pleuronectiformes observaram que apenas sete espécies desses peixes estavam positivas e que não foi possível identificar estas larvas além do nível genérico. Na Argentina, Alarcos e Timi (2012) estudaram e encontraram Anisakis simplex, Terranova galeocerdonis (Thwaite, 1927), Contracaecum sp., Pseudoterranova sp., Hysterothylacium sp. e H. aduncum em X. rasile, P. patagonicus e P. isosceles. 2.5.1.1 Anisaquiose e Anisaquidose Em 1876 Leucckart descreveu pela primeira vez um caso de parasitose humana, por nematóide da família Anisakidae em uma criança na Groelândia. Contudo, só no século XX e a partir dos anos 60, Van Thiel et al. (1960) estabeleceram uma relação causa-efeito do parasito com a doença humana. 37 A anisaquiose é uma antropozoonose de distribuição mundial, que ocorre principalmente em regiões próximas ao litoral, devido à facilidade de consumo de produtos do mar. É causada pela ingestão acidental de larvas de nematóides da família Anisakidae, possui maior prevalência nos países em que o consumo de produtos de pesca ocorre sob forma de produtos crus, mal cozidos, defumados a frio, inadequadamente salgados e refrigerados. É considerada endêmica no Japão, Espanha, Chile e no Peru (CABRERA; OGNIO, 2002; LÓPEZ SERRANO et al., 2000; SÃO CLEMENTE et al., 1995; VALLS et al., 2005). Atualmente, denomina-se Anisaquiose apenas manifestações provocadas por parasitos do gênero Anisakis. Já Anisaquidose é um termo mais genérico, sendo destinado a manifestações provocadas por todas as espécies da família Anisakidae e inclui também o Hysterothylacium sp. (KLIPMEL; PALM, 2011). A anisaquidose provocada por parasitos do gênero Hysterothylacium é de rara ocorrência e foi relatada por Yagi et al. (1996), onde um paciente relatou dor abdominal e diarréia durante a passagem completa do parasito pelo tubo gastrointestinal, sendo expelido ainda vivo pelas fezes do individuo. A anisaquidose, é descrita nas formas gastrointestinais e extra-intestinais (hepática, esplênica e pulmonar) e deve ser considerada em pacientes que apresentam dor abdominal e antecedentes de ingestão de peixes e/ou mariscos crus. As formas gastrointestinais podem subdividir-se em luminal, quando apenas existe a aderência do parasita à mucosa digestiva e é quase sempre assintomática, podendo as larvas serem detectadas nas fezes e nos vômitos. Já a forma gástrica está associada a náuseas, vômitos e epigastralgias que surgem 24-48 horas após a ingestão e acompanha, frequentemente, sintomas cutâneos e intestinais, cuja sintomatologia, é semelhante à apendicite, ileíte ou diverticulite, podendo, até, evoluir para perfuração intestinal com peritonite (NUNES et al., 2003; TORRES, 2000). No Brasil, existe até o momento um registro sobre a anisaquidose humana, que foi diagnosticada por meio de endoscopia digestiva, onde mostraram a presença de larvas de nematóides e, também, os ferimentos causados por eles (CRUZ et al., 2010). Segundo Amato e Barros (1984) e Luque e Chaves (1999), a presença de parasitos de peixes marinhos com repercussão na saúde pública, era um problema muito pouco estudado no Brasil. É importante considerar a subnotificação ou diagnóstico incorreto de casos de anisaquidose devido a semelhança de sintomas de outras doenças com quadros 38 gastrintestinais como a obstrução intestinal, apendicite, peritonite ou doença de Crohn (BARROS et al., 2006; MCCARTHY; MOORE, 2000; SABATER; SABATER, 2000). 2.5.2 Acanthocephala Os acantocefalos são invertebrados, com sexos separados, que apresentam tamanhos que variam de alguns centímetros a aproximadamente 70 cm, porém a maioria mede cerca de 1 cm de comprimento (MILLER; DUNAGAN, 1985). São exclusivamente parasitos do tubo digestório de vertebrados. São endoparasitas que possuem como característica morfológica principal, na região anterior do corpo, uma probóscide invaginável e retrátil onde são encontrados os ganchos e espinhos utilizados para fixação no hospedeiro. Não possuem sistema digestório, fazendo a absorção dos nutrientes através das paredes do corpo. Os sexos são separados, exibindo acentuado dimorfismo sexual. O ciclo de vida é heteroxeno, envolvendo dois hospedeiros. A cópula ocorre no intestino do hospedeiro. Os ovos são expelidos para o exterior e ingeridos pelo hospedeiro intermediário, no qual se rompem e originam o acântor. Este se desenvolve para uma forma encistada, o cistacanto. Depois da ingestão da larva pelo hospedeiro definitivo o cistacanto liberta-se, desenvolvendo-se para adulto, que se fixa ao intestino do hospedeiro (EIRAS et al., 2006). O número de espécies conhecidas é superior a mil, das quais mais da metade são parasitos de peixes marinhos ou de água doce (AMIN, 1987; TARASCHEWSKI, 2008; VERWEYEN et al., 2011). Segundo Amin (1985, 1987), os acantocéfalos que parasitam os peixes pertencem às classes Paleacanthocephala, Eoacanthocephala e Polyacanthocephala. Porém a maioria das espécies é incluída nas duas primeiras classes e a última, menos estudada, possui um número reduzido de espécies. Roberts e Janovy Jr (2000) relataram que as infecções em humanos por acantocefalos são poucas devido à natureza dos hospedeiros intermediários e paratênicos envolvidos nos ciclos de vida dos parasitos. Foram registrados casos de acantocefalíases humana adquiridos pela ingestão de peixe cru causados por Acanthocephalus rauschi Golvan, 1969 e Corynosoma strumosum (Rudolphi, 1802) Lühe de 1904, ambos em esquimós no Alasca (GOLVAN, 1969; SCHMIDT, 1971). 39 Além disso, espécimes de uma espécie não determinada pertencente ao gênero Bolbosoma foram registrados parasitando japoneses (BEAVER et al., 1983). Efeitos patológicos e a sintomatologia da acantocefaliase humana têm sido relatados, como fraqueza, tonturas, cólicas abdominais agudase perfuração do intestino e, em outros casos assintomáticos (ACHA SZYFRES, 2003; BEAVER et al, 1983;. TADA et al., 1983). Adultos, juvenis e cistacantos de Serrasentis sagittifer, Bolbosoma turbinella, Corynosoma australe e C. cetaceum já foram registrados em mamíferos marinhos e peixes do mundo. Espécimes de Serrasentis sagittifer (Linton, 1889) Van Cleave, 1923 têm sido encontrados em peixes do México e na costa dos Estados Unidos da América, oeste da Africa, Brasil, Australia, Golfos Árabe e Pérsico, Mar Vermelho e oceano Índico (ABDEL-GHAFFAR et al., 2014; AMIN; SEY, 1996; GOLVAN, 1969; JANSEN; BURRESON, 1990; KARDOUSHA, 2005; MAGHAMI et al., 2008; PETROCHENKO, 1971a; RUCKET et al., 2009; SALGADO-MALDONADO, 1978; TRAVASSOS, 1966; VERWEYEN, et al., 2011; YAMAGUTI, 1963); Bolbosoma turbinella (Diesing, 1851) Porta, 1908 têm sido resgistrados em cetáceos dos oceanos Atlântico e Pacífico, Artico e Antartico, e em peixes da costa Chilena (ALARCOS et al., 2016; BAYLIS, 1929, 1932; DAILEY; VOGELBEIN, 1991; GALKINA, 1972; GEORGE-NASCIMENTO; ARANCIBAI, 1992; KLUMOV, 1963; MACHADO FILHO, 1964; MEASURES, 1992, 1993; MEYER, 1932; PETROCHENKO, 1971b; SILVA; COUSIN, 2006); Corynosoma australe Johnston, 1937 e C. cetaceum Johnston & Best, 1942 em mamíferos e peixes dos oceanos Pacifico e Atlântico (ALARCOS; TIMI, 2012; ALARCOS et al., 2016; ANDRADE et al., 1997; AZNAR et al., 1994a, b, 1999a, b, 2001, 2002a, b, 2004, 2006, 2012, 2015; BRAICOVICH et al., 2005; BERON-VERA et al., 2007, 2008; BROWNELL JR, 1975; CORCUERA et al., 1995; DANS et al., 1999; FIGUEROA; PUGA, 1990; GOLVAN, 1959; HERNANDEZ-ORTS et al., 2013; KAGEI et al., 1976; KNOFF et al., 2001; OLIVA et al., 1996, 2008; PETROCHENKO, 1971b; SANTOS et al., 2008; SARDELLA et al., 2005; SCHIMIDT; DAILEY, 1971; SHOSTAK et al., 1986; SMALES, 1986; TANTALEÁN et al., 2005; TORRES et al., 1992; YAMAGUTI, 1963; ZDZITOWIECKI, 1984). 40 2.5.3 Outros Helmintos em Teleósteos do Presente Estudo Em relação a espécie L. gastrophysus, São Clemente et al. (2007) registraram a presença de Tentacularia coryphaenae Bosc, 1802, Nybelinia sp. Poche, 1926, Mixonybelinia sp. Palm, 1999 e Progrillotia dollfusi Carvajal & Rego, 1983 em espécimes de peixe sapo-pescador. No Brasil, já foram feitos trabalhos relacionados à fauna parasitária de linguados. Felizardo et al. (2010) registraram oito espécies de cestoides Trypanorhyncha, Nybelinia lingualis (Cuvier, 1817), Heteronybelinia nipponica (Yamaguti, 1952) Palm, 1999, Otobothrium sp. Linton, 1891, Pterobothrium heteracanthum Diesing, 1850, P. crassicolle Diesing, 1850, Grillotia carvajalregorum (Carvajal & Rego, 1983) Menoret & Ivanov, 2009, Callitetrarhynchus gracilis (Rudolphi, 1819) Pintner, 1931; os cestoides Tetraphyllidea Scolex pleuronectis Müeller, 1788 e os cestoides Diphyllobothriidea Diphyllobothrium sp. 1 Cobbold, 1858 e Diphyllobothrium sp. 2. em P. isosceles. Felizardo et al. (2011) registraram duas espécies os trematódeos Didymozoidae dos tipos Torticaecum Yamaguti (1942) e Neotorticaecum Kurochkin & Nikolaeva (1978) em P. isosceles e P. patagonicus. Knoff et al. (2012) fizeram a caracterização morfológica e molecular e descreveram a espécie, Hysterothylacium deardorffoverstreetorum parasito de P. isosceles. Fonseca et al. (2012) estudaram os cestóides Trypanorhyncha de P. patagonicus e X. rasile com a redescrição da espécie Nybelinia erythraea Dollfus, 1960. 2.6 HIPERSENSIBILIDADE E ALERGIAS RELACIONADAS AO CONSUMO DE PESCADO Os casos de hipersensibilidade ocorrem em consequência ao consumo do pescado com a presença de larvas de anisaquídeos em indivíduos previamente sensibilizados. Alguns antígenos de A. simplex são extremamente resistentes à aplicação do calor ou de congelamento não havendo alteração no seu potencial alergênico. Adicionalmente, a larva de terceiro estágio do A. simplex possui um amplo número de moléculas alergênicas, e reatividade a estes alérgenos pode http://www.marinespecies.org/aphia.php?p=taxdetails&id=419278 41 ocorrer de forma exagerada (AUDICANA et al., 2002; LÓPEZ SERRANO et al., 2000; SABATER; SABATER, 2000). Uma específica e intensa resposta imune, com a possibilidade de induzir reações anafiláticas por A. simplex encontrada em pacientes, foi relatada depois da ingestão de peixes, cuja comprovação foi feita através da prova negativa realizada com os hospedeiros, mas sendo positiva no que se refere a ingestão do parasito (DEL POZO et al., 1997). Fernández et al. (2001) destacam que a ingestão de pescado cru na Espanha tem apresentado uma relação direta entre o aumento de sensibilização a A. simplex com o avanço da idade. A elevada frequência de anticorpos IgE específico para A. simplex em indivíduos com ou sem reações alérgicas, tem sido um fator importante gerador de dúvida quanto ao diagnóstico. A IgE específica para A. simplex é a única variável independente da alergia provocada pelo parasito. López-Serrano (2001) de forma controversa, sugere que a verdadeira alergia a proteínas termoestáveis de A. simplex parece ser menos frequente que o suposto, e que a resposta IgE mediada em sua maioria em pacientes sensibilizados, poderia corresponder a contatos transitórios prévios com o parasito vivo. Toro et al. (2006) chamam atenção para os resultados laboratoriais (soropositividade para A. simplex) aliados a um acurado histórico de hábitos de consumo de pescado, podem auxiliar na identificação de possíveis episódios de anisaquíases de relevância clínica. Estes autores ainda destacaram que somente os casos de anisaquíases, que causam alergias severas ou sintomas gástricos, têm sido diagnosticados, pois nestes casos a necessidade do uso de técnicas diagnósticas invasivas propiciam a sua comprovação. Entre as reações alérgicas dois tipos podem ser diferenciados: uma reação anafilática induzida por antígenos termoestáveis e desenvolvida independente do peixe ter sido submetido a cocção ou congelamento, desta forma sem larvas viáveis em seu interior; e um parasitismo digestivo agudo acompanhado de sintomas alérgicos, conhecida também como anisaquidose gastroalérgica (CORRES et al., 2001). Apenas alguns indivíduos apresentam sinais clínicos como urticária e angioedema associado à dor abdominal e vômito, descrito como anisaquiose gastro- alérgica. Neste caso, os sintomas de hipersensibilidade após o contato com o parasito, são mais intensos e severos do que os gástricos (LÓPEZ SERRANO et al., 2000; VALLS et al., 2005). As manifestações clínicas surgem após um período de latência da ingestão do pescado cru ou insuficientemente cozido, que geralmente é 42 de uma a doze horas para a afecção gástrica e reações alérgicas, e a partir de doze horas para afecções intestinais Acredita-se que os e antígenos provenientes de larvas de anisaquideos se dispersam na musculatura do peixe infectado e podem causar reações alérgicas em indivíduos sensibilizados mesmo que o nematoide se encontre morto quando consumido (SOLAS et al., 2008). De acordo com Ortega e Martínez-Cócera (2000) é imprescindível conhecer as diferentes formas clínicas da enfermidade, do diagnóstico e posterior atividade terapêutica. Como uma forma de profilaxia, os autores recomendam a evisceração do pescado, ainda no barco em alto mar, diminuindo assim a possibilidade de contaminação da carne do pescado. Audicana (2000) relata que a espécie A. simplex é um fator etiológico de anafilaxia em adultos com idade média entre 40 a 60 anos que regularmente consomem pescados, sugerindo uma prevalência similar ou maior que outros alimentos, considerados tradicionalmente alergênicos. A exposição repetida às proteínas parece frequente, em vista dos dados de alta incidência de parasitismo nos pescados na Espanha. Embora os relatos de anisaquidose alérgica apontem o A. simplex como principal responsávelpelas reações de hipersensibilidade, Caldas et al. (1998) sugeriram que há reação cruzada entre antígenos de A. simplex e H. aduncum. Segundo Caldas et al. (1998) esses parasitos possuem alguns antígenos comuns e outros que são espécie-específicos. Outras espécies distintas como Ascaris lumbricoides (Linnaeus, 1758), Ascaris suum (Goeze, 1782), Toxacara cannis (Werner, 1782), Blatella germanica (Linnaeus, 1767) e gênero Chironomus Meigen, 1803 também apresentaram reações cruzadas descritas com antígenos de A. simplex (CALDAS et al., 1998). O diagnóstico desta parasitose em humanos é difícil devido à ausência de sintomas e sinais clínicos característicos, porém ele se confirma ao se observar a larva, quando é expectorada ou extraída mediante endoscopia de zonas acessíveis (esôfago, estômago, cólon); contudo, é mais difícil quando a larva migra até o intestino delgado ou está extragastrointestinal, requerendo com frequencia cirurgia ou quando a infecção se torna crônica e a larva é destruída pelo sistema imune (DEL REY-MORENO et al., 2008). 2.7 LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE PARASITOS DE PESCADO 43 A legislação em vigor no Brasil com relação aos parasitos de pescado é o Decreto nº 30.691, de 29 de março de 1952 (BRASIL, 1952), publicado no Diário Oficial da União de 07/07/1952, que em seu artigo 445, item 4, cita como impróprio para o consumo, o pescado que apresenta infestação muscular maciça por parasitos, que possam prejudicar ou não a saúde do consumidor. Todo pescado considerado impróprio deve ser condenado e transformado em subprodutos não comestíveis. 2.8 MEDIDAS PREVENTIVAS CONTRA PARASITOSES ASSOCIADAS AO CONSUMO DE PEIXES A evisceração a bordo logo após a captura tem sido apontada por diversos autores como uma medida de controle, uma vez que a presença das larvas na musculatura ocorre, em sua maioria, por migração das larvas nas vísceras para a musculatura durante os períodos de espera nos barcos e entrepostos (DIAS et al., 2010, 2011; KNOFF et al., 2007; VALLS et al., 2005). Além disso, como ressaltado por Sabater e Sabater (2000), não se deve descartar diretamente ao mar essas vísceras, pois os órgãos parasitados seriam ingeridos por mamíferos marinhos e completariam seu ciclo, para evitar o aumento da disponibilidade do parasito em seu habitat. A análise visual dos peixes com descarte de espécimes parasitados também é recomendada e prevista na legislação de países como Espanha, dentre outros. Na indústria, esta análise pode incluir a utilização da “candling table” para análise e amostragem do produto filetado (ALONSO-GÓMEZ et al., 1997, AUDICANA et al., 2000). Para prevenção, recomenda-se a não ingestão do peixe cru, e a cocção deverá atingir 70 ºC por um minuto. O congelamento na temperatura de – 20 ºC por, no mínimo, 72 horas e a salga, desde que em altas concentrações de sal sejam distribuídas uniformemente em todo o peixe, são capazes de matar os parasitos (ACHA; SZYFRES, 2003). Porém, a morte das larvas não inviabiliza os antígenos alergênicos, segundo Sabater e Sabater (2000), a retirada da porção ventral da 44 musculatura, minimizaria a ocorrência da alergia, visto que essa região, por estar mais próximo das vísceras é, em geral, a mais parasitada. Outra medida importante para a prevenção é a conscientização. Alguns autores sugerem que as autoridades sanitárias realizem campanhas educacionais por folhetos explicativos, informes, reportagens, debates e propagandas, através de uma abordagem correta, clara e didática evitando-se alarme social desnecessário, conduzindo à conscientização e educação sobre o assunto (DIAS et al., 2010; KNOFF et al., 2007; SABATER; SABATER, 2000). Em relação ao tratamento não existem fármacos eficazes para o combate da anisaquidose, sendo a eliminação das larvas por extração endoscópica o tratamento de eleição (FERRE, 2001). 45 3 DESENVOLVIMENTO O estudo foi iniciado com a análise dos nematoides Anisakidae do peixe sapo-pescador Lophius gastrophysus comercializados nos municípios de Cabo Frio, Niterói, Duque de Caxias e Rio de Janeiro. Em seguida, foram realizadas as taxonomias integrativas dos nematoides Anisakidae e Raphidascarididae dos linguados Paralichthys patagonicus e Xystreurys rasile e dos acantocefalos de P. isosceles, P. patagonicus e Xystreurys rasile, comercializados no litoral do Estado do Rio de Janeiro, Brasil. Os resultados são apresentados a seguir na forma de manuscritos. 3.1 ARTIGO 1: ANISAKIDAE NEMATODES IN THE BLACKFIN GOOSEFISH, Lophius gastrophysus MIRANDA-RIBEIRO, 1915 PURCHASED IN THE STATE OF RIO DE JANEIRO, BRAZIL 3.2 ARTIGO 2: INTEGRATE TAXONOMY OF ANISAKIDAE AND RAPHIDASCARIDIDAE NEMATODES OF Paralichthys patagonicus AND Xystreurys rasile (PISCES: TELEOSTEI) OF SANITARY IMPORTANCE IN THE SOUTH EASTERN BRAZIL MARINE ECOREGION 3.3 ARTIGO 3: INTEGRATIVE TAXONOMY OF ACANTHOCEPHALANS PARASITIZING FLOUNDERS Paralichthys isosceles, P. patagonicus AND Xystreurys rasile (PISCES: TELEOSTEI) IN THE SOUTH EASTERN BRAZIL MARINE ECOREGION 46 3.1 ARTIGO 1: ANISAKIDAE NEMATODES IN THE BLACKFIN GOOSEFISH, Lophius gastrophysus MIRANDA-RIBEIRO, 1915 PURCHASED IN THE STATE OF RIO DE JANEIRO, BRAZIL Autores: Marcelo Knoff, Sergio Carmona de São Clemente, Michelle Cristie Gonçalves da Fonseca, Nilza Nunes Felizardo, Francisco Carlos de Lima, Roberto Magalhães Pinto, Delir Corrêa Gomes Publicado: Março de 2013 Acta Scientiarum, Biological Sciences, v. 35, n. 1, p. 219-133, 2013 (Quails B3 - Capes 2014) 47 48 49 50 51 52 3.2 ARTIGO 2: INTEGRATE TAXONOMY OF ANISAKIDAE AND RAPHIDASCARIDIDAE NEMATODES OF Paralichthys patagonicus AND Xystreurys rasile (PISCES: TELEOSTEI) OF SANITARY IMPORTANCE IN THE SOUTH EASTERN BRAZIL MARINE ECOREGION Autores: Michelle Cristie Gonçalves da Fonseca, Marcelo Knoff, Alena Mayo Iñiguez, Maria Isabel N. Di Azevedo, Eduardo José Lopes Torres, Delir Corrêa Gomes, Nilza Nunes Felizardo, Sérgio Carmona de São Clemente Submetido para publicação em 18/01/2016 no Periódico: International Journal of Food Microbiology (Qualis A1 - Capes 2014) 53 Integrate taxonomy of Anisakidae and Raphidascarididae nematodes of Paralichthys patagonicus and Xystreurys rasile (Pisces: Teleostei) of sanitary importance in the South Eastern Brazil marine ecoregion Michelle Cristie Gonçalves da Fonsecaa, Marcelo Knoffb,*, Alena Mayo Iñiguezc, Maria Isabel N. Di Azevedoc, Eduardo José Lopes Torresd, Delir Corrêa Gomesb, Nilza Nunes Felizardoa, Sérgio Carmona de São Clementea aLaboratório de Inspeção e Tecnologia do Pescado, Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Federal Fluminense, Rua Vital Brazil Filho, 64, Vital Brazil, Niterói, RJ, 24230-340, Brazil bLaboratório de Helmintos Parasitos de Vertebrados, Instituto Oswaldo Cruz, FIOCRUZ, Avenida Brasil, 4365, Manguinhos, Rio de Janeiro, RJ, 21045-900, Brazil cLABTRIP, Instituto Oswaldo Cruz, FIOCRUZ, Avenida Brasil, 4365, Manguinhos, Rio de Janeiro, RJ, 21045-900, Brazil dLaboratório de Helmintologia Romero Lascasas Porto, Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia, Escola de Ciências Médicas, Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Rua Prof. Manuel de Abreu 444, 5º andar, Vila Isabel, Rio de Janeiro, RJ, 20550-170, Brazil ABSTRACT From February 2007 to March 2015, 66 flounders specimens (Pleuronectiformes, Paralichthyidae) were collected in the State of Rio de Janeiro, Brazil, i.e., 36 Paralichthys patagonicus and 30 Xystreurys rasile specimens. The fish were measured,
Compartilhar