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Criminologia | Introdução www.cenes.com.br | 1 DISCIPLINA CRIMINOLOGIA CONTEÚDO Teorias Psicológicas e Comportamento Humano Criminologia | Introdução www.cenes.com.br | 2 A Faculdade Focus se responsabiliza pelos vícios do produto no que concerne à sua edição (apresentação a fim de possibilitar ao consumidor bem manuseá-lo e lê-lo). A instituição, nem os autores, assumem qualquer responsabilidade por eventuais danos ou perdas a pessoa ou bens, decorrentes do uso da presente obra. É proibida a reprodução total ou parcial de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico ou mecânico, inclusive através de processos xerográficos, fotocópia e gravação, sem permissão por escrito do autor e do editor. O titular cuja obra seja fraudulentamente reproduzida, divulgada ou de qualquer forma utilizada poderá requerer a apreensão dos exemplares reproduzidos ou a suspensão da divulgação, sem prejuízo da indenização cabível (art. 102 da Lei n. 9.610, de 19.02.1998). 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A essas diversas correntes deu-se o nome de escolas penais, também chamadas de escolas criminológicas. Inicialmente, a criminologia tinha como único e principal objeto o crime praticado, portanto os estudos a respeito dessa ciência se concentravam na escola clássica. Grandes pensadores como Cesare Beccaria – Dos Delitos e das Penas (1764) –, Francesco Carrara (dogmática penal) e Giovanni Carmignani despontaram como teóricos desse pensamento. Eles baseavam-se na filosofia jusnaturalista, consideravam o crime um fenômeno jurídico e a pena um meio retributivo pela conduta, visto que foi praticada de forma livre e consciente. No entanto, não demorou muito para que, além da conduta em si, os teóricos analisassem o indivíduo delinquente e seu comportamento. Então, em meados do século XIX na Europa, surge a escola positivista, influenciada pelos pensadores Cesare Lombroso, Enrico Ferri e Raffaele Garofalo, que dividiram o positivismo em três fases, respectivamente, antropológica (Lombroso), sociológica (Ferri) e jurídica (Garofalo). Diferentemente da escola clássica, que tinha como fator principal a análise do crime, a escola positiva deixa o delito em segundo plano e passa a se preocupar com o indivíduo em si e com o meio social em que ele está inserido. A escola positivista mantém um pensamento determinista e defensivista, vez que encara o crime como um fenômeno social, e a pena como meio de defesa da sociedade e de recuperação do indivíduo. 3 O homem delinquente: teorias biopsicológicas, psicodinâmicas e psicológicas Conforme vimos, a escola positiva italiana defende um pensamento determinista e considera que o ato criminoso não passa de um fenômeno social, ao passo que a pena imposta ao delito é considerada um meio de defesa da sociedade. Essa escola defende Criminologia | O homem delinquente: teorias biopsicológicas, psicodinâmicas e psicológicas www.cenes.com.br | 5 que os indivíduos são fortemente condicionados em sua maneira de agir, influenciados por fatores exógenos (externos) e endógenos (internos) do comportamento e o foco da criminologia a época era analisar esse comportamento através da sociologia, psicologia, antropologia e, até mesmo, da estatística. Figura 1– Teorias sociais e biopsicológicas Fonte: Núcleo Editorial Focus Os estudos realizados pela escola positivista podem ser classificados em três fases diferentes, antropológica (Lombroso), sociológica (Ferri) e jurídica (Garofalo), todos tem como foco principal o indivíduo, porém, ele é analisado sob diferentes óticas. Inclusive, foi através da interdisciplinaridade da criminologia científica que surgiram os primeiros estudos a respeito da etiologia criminal, também conhecida como criminogênese. Assim, o estudo da criminogênese pode ser definido como um desdobramento da criminologia que concentra sua atenção nos mecanismos de natureza biológica, psicológica e social, com o intuito de desvendar os motivos que levaram o indivíduo a praticar determinado ato criminoso, através da interdisciplinaridade, analisando os fatores de natureza sociológica, econômica, filosófica, política, médica e psicológica. Criminologia | O homem delinquente: teorias biopsicológicas, psicodinâmicas e psicológicas www.cenes.com.br | 6 Figura 2 – Vertentes da escola positivista. Fonte: Núcleo Editorial Focus Desta forma, analisando a perspectiva e o método de análise de cada estudioso, Lombroso se baseou numa investigação indutiva, em que considerava o crime como um fato humano e social, traçando um perfil biológico de cada um deles, denominada perfil Lombrosiano ou teoria do criminoso nato. Ao longo de suas pesquisas, o criminólogo analisou diversos cadáveres de presos e soldados, com o intuito de verificar se os indivíduos portavam alguma peculiaridade física ou psicológica e comparou o resultado das pesquisascom os dados estatísticos da criminalidade. Criminologia | O homem delinquente: teorias biopsicológicas, psicodinâmicas e psicológicas www.cenes.com.br | 7 Considerado o pai da criminologia, Lombroso tentava localizar e identificar o fator diferencial em alguma parte do corpo ou no funcionamento do sistema e subsistema do ser humano, estabelecendo um padrão para determinado tipo de criminoso, de modo que a conduta delitiva pode ser entendida como uma espécie de consequência patológica. Esses estudos, posteriormente, comporiam a teoria do criminoso nato defendida pelo autor, através da qual ele acreditava ser possível determinar o caráter criminoso do indivíduo antes mesmo dele cometer um crime, apenas com base em suas características. Nas palavras de Juarez Cirino dos Santos (2019, p. 56), a teoria de Lombroso parte de uma intuição Darwiniana e “supõe que o crime é um produto de fixações atávicas do criminoso: o comportamento antissocial é definido como uma forma de regressão ao estado selvagem, produzido por degenerações biológicas identificáveis por estigmas (caracteres físicos) do sujeito”. Isto é, Lombroso acreditava que o criminoso era portador de algumas características físicas e psíquicas dos homens primitivos, por isso agia de forma peculiar, muitas vezes beirando a selvageria. Outro fator relevante e que poderia influenciar no comportamento criminoso do indivíduo é a epilepsia. Durante as suas muitas pesquisas, Lombroso teve a oportunidade de realizar o exame necroscópico do famoso bandido Giuseppe Villella, conhecido como calabrês, e do soldado Misdea, constatou que a epilepsia larvar poderia desencadear impulsos nervosos, culminando em um comportamento criminoso. Assim, o criminólogo classificava os indivíduos em criminosos natos, loucos, de ocasião e criminosos por paixão. Criminologia | O homem delinquente: teorias biopsicológicas, psicodinâmicas e psicológicas www.cenes.com.br | 8 No mais, devemos ressaltar o entendimento de Natacha Alves (2020, p. 74) com relação as contribuições de Lombroso no estudo da criminologia. Em pleno século XXI, as vetustas concepções lombrosianas permanecem arraigadas no consciente coletivo, ante ao julgamento preconceituoso com base na aparência física de determinados grupos sociais. Exemplo claro disso é a comum seletividade de pessoas negras e pobres em buscas pessoais realizadas em blitz policiais, com base no vago conceito de "fundada suspeita" previsto no art. 240, § 2°, do Código Processual Penal. Analisando a criminologia a outros olhos, Raffaele Garofalo também estudioso da escola positivista, defende que o crime pode ser entendido como um sistema de anomalia moral ou psíquica do indivíduo, que se assemelha a uma conduta degenerada. Garofalo acreditava que, os criminosos possuíam características fisionômicas especiais que os distinguiam dos demais indivíduos e que o comportamento delinquente era sintoma de uma anomalia moral ou psíquica. Assim, é justamente neste aspecto, que o criminalista desenvolve o conceito de periculosidade, fixando o grau de maldade de cada sujeito e o quando devia ser temido pela sociedade. Além disso, o jurista Raffaele Garofalo levantou a necessidade de punir os indivíduos que apresentavam as referidas anomalias de forma diferente, assim, o criminólogo propôs a utilização da medida de segurança como uma nova modalidade de intervenção penal, alegando que esses indivíduos precisam de tratamento médico. Inclusive, de acordo com Natacha Alves (2020, p. 77) Garofalo “sustenta o dever de o criminoso indenizar o Estado e a vítima do crime, bem como prioriza a rigorosa repressão, chegando a admitir, inclusive, a pena de morte”. À vista disso, Garofalo passou a classificar os criminosos como: assassinos, violentos (enérgicos), ladrões (neurastênicos) e lascivos (cínicos). Criminologia | O homem delinquente: teorias biopsicológicas, psicodinâmicas e psicológicas www.cenes.com.br | 9 Agora, nos distanciando mais das teorias biológicas, resta falar sobre as contribuições do político socialista italiano Enrico Ferri no estudo da criminologia. Diferente de seus companheiros de escola – Lombroso e Garofalo – que dedicavam boa parte dos seus estudos unicamente ao indivíduo, Ferri somava as pesquisas antropológicas, físicas e biológicas aos aspectos sociais do indivíduo. Ferri defendia a ideia de que o crime era o resultado da soma de vários fatores antropológicos, físicos ou telúricos e sociais. O autor diz que “assim como as células, os tecidos e os órgãos não têm existência biológica no corpo do animal, a não ser como partes de um conjunto, o homem não tem existência sociológica senão como membro de uma sociedade” (OLIVEIRA, 2020, p. 75). Além disso, o criminólogo acreditava na tese de negativa do livre-arbítrio. Isto é, diferente de seus companheiros clássicos que defendiam o crime como sendo um produto da vontade livre e consciente do indivíduo, Ferri apoiava a ideia de que a conduta criminosa nada mais era do que um produto da sociedade, gerado por causas naturais, alheios a vontade do sujeito. Neste sentido, o autor propõe inda a lei da saturação criminal, dizendo que assim como determinado líquido entra em combustão e evapora quando aquecido em certa temperatura, alguns crimes também podem ser influenciados por determinadas condições sociais presentes no meio em que o indivíduo está inserido, como o clima, temperatura ou estações do ano. De acordo com Ferri, em determinados casos, esses fatores poderiam elevar as taxas de criminalidade (sobressaturação criminal). Assim, diante das diversas teorias apresentadas pelos criminólogos a respeito da saúde mental dos delinquentes, surgiram muitos estudos relacionados a isso nas áreas da psicologia e psiquiatria criminal, com foco principal no comportamento humano, tentando explicar a agressividade do indivíduo e sua tendencia ao crime. Criminologia | A criminologia do comportamento humano www.cenes.com.br | 10 4 A criminologia do comportamento humano Conforme vimos, há muito tempo o comportamento humano tem sido um dos objetos de estudo mais fascinante da criminologia, desde a escola positiva o que tinha como elemento principal, até a criminologia crítica que analisa os aspectos sociais e tem como uma das fontes de pesquisa o comportamento do indivíduo. Assim, conforme destaca Natacha Alves (2020, p. 43-44), devido a importância do comportamento humano para o estudo da criminologia, ele foi analisado sob diferentes perspectivas de acordo com cada escola criminológica, Para a Escola Clássica, o autor do fato, dotado de livre-arbítrio, era visto como um pecador que teria optado pelo mal quando poderia ter direcionado sua conduta para o bem. Por sua vez, de acordo com o positivismo antropológico, vigia a concepção de criminoso nato, visualizando-se o criminoso como um ser atávico simiesco. Ainda, de acordo com a Escola Correcionalista, o criminoso era visto como alguém que precisava de ajuda e a pena seria dotada de uma função terapêutica, despida de conteúdo retribucionista. Desta forma, surgiram diversas teorias que, ao longo da história, esmiuçaram o assunto, como a teoria behaviorista da agressividade e os estudos a respeito dos transtornos da personalidade com o advento da criminologia clínica. 4.1 Teorias Behavioristas da agressividade O movimento denominado Behaviorista surge em 1913, com a publicação do artigo “Psicologia: como os behavioristas a veem” e da obra “Behavior”, ambos de autoria de John Watson, como uma forma de contrapor a psicologia introspectiva de Wundt e William James. A teoria behaviorista idealizada por Watson tem o intuito de analisar o comportamento humano e, a partir das respostas obtidas, definir um mecanismo de estímulos e respostas. Influenciado pelo pensamento deDescartes, Pavlov, Loeb e Comte, o behaviorismo de Watson era baseado nos métodos empíricos de natureza objetiva, de modo que partem da observação do comportamento do indivíduo, Criminologia | A criminologia do comportamento humano www.cenes.com.br | 11 descrevendo-o através de formas de estímulos e respostas (OLIVEIRA, 2020, p. 129). Assim, conforme destaca Juarez Cirino dos Santos (2019) as teorias psicológicas behavioristas defendem a existência de predisposições agressivas inatas enraizadas na estrutura somática do ser humano, que podem ser definidas como uma espécie de “ativo instinto para ferir e destruir”, de modo que essas disposições podem ser controladas pelos processos de socialização, mas nunca erradicadas da estrutura fisiológica do indivíduo, dado que são intrínsecas a ele. Desta forma, sob a ótica da criminologia, a teoria behaviorista de Watson tem o intuito de modificar o comportamento delinquente através de esforços positivos, sendo representada na fase da execução penal, pelo sistema de recompensas e punições (OLIVEIRA, 2020, p. 129). Ainda, é válido destacar que, embora tenha como precursor o inglês John Watson, a teoria behaviorista se subdividiu em outras vertentes. Um exemplo disso é o behaviorismo radical defendido pelo psicólogo americano Burrhus Frederic Skinner que, diferente de seu antecessor, dizia ser possível determinar e modificar o comportamento humano, de acordo com o meio ambiente em que o sujeito está inserido, considerando que o comportamento se traduz nas reações de fome, raiva, tristeza ou paixão, por exemplo. No entanto, ainda que muito criticada, a vertente radical do behaviorismo não nega a existência de emoções ou sentimentos, ela simplesmente não os considera como uma causa relevante para o comportamento humano e sim como formas de se comportar, diferente das teorias atuais. Portanto, de acordo com Juarez Cirino (2019, p. 63-64) as teorias behavioristas da agressividade, de um modo geral são criticadas pela explicação que conferem a violência, dado que possuem as mesmas deficiências de outras teorias biológicas do comportamento no estudo da criminologia, como, por exemplo, a “acentuação dos fatores fisiológicos do comportamento criminoso e exclusão das condições políticas e ideológicas da organização social da vida”. Criminologia | A criminologia do comportamento humano www.cenes.com.br | 12 4.2 Transtornos da personalidade Além da teoria behaviorista e suas vertentes, surgiram também, junto com a criminologia clínica, diversos estudos relacionando os aspectos da criminologia com os transtornos da personalidade humana. Inclusive, nas palavras de Newton e Valter Fernandes (2010, p. 182) a personalidade humana pode ser definida, basicamente, como “a hegemonia mental e emocional da pessoa moral, hegemonia determinante de sua individualidade. É a maneira estável de ser de uma pessoa que a distingue de outra”. Assim, despontam no âmbito da medicina legal a psicologia criminal e a psiquiatria criminal, tendo como atividade principal o estudo do comportamento humano. A psicologia criminal pode ser definida como sendo aquela matéria que estuda a “personalidade normal” do indivíduo e os fatores que possam influenciá-la de alguma forma. Por outro lado, a psiquiatria criminal é a ciência responsável pela análise daqueles transtornos tidos como “anormais” da personalidade, ou seja, as doenças mentais, os retardos mentais, as demências, esquizofrenias e outros transtornos, sejam de caráter psicótico ou não (PENTEADO FILHO, 2020). Desta forma, a psicologia e a psiquiatria criminal, através da psicopatologia, definiram os transtornos da personalidade de diferentes formas, sendo denominado ao longo da história como “insanidade moral (moral insanity), monomania moral, neurose de caráter, caracteropatia, psicopatia”, até culminar, finalmente, no transtorno de personalidade, termo utilizado hoje em dia (DALGALARRONDO, 2019). Portanto, de acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, atualmente o transtorno de personalidade é caracterizado pelo “padrão persistente de experiência interna e comportamento que se desvia acentuadamente das expectativas de cultura do indivíduo, é difuso e inflexível, começa na adolescência ou no início da fase adulta, é estável ao longo do tempo e leva a prejuízo” (DSM-V, 2014, p. 645). Sendo assim, “os transtornos de personalidade não são tecnicamente doenças, mas anomalias do desenvolvimento psíquico, sendo consideradas, em psiquiatria criminal, perturbações da saúde mental” (PENTEADO FILHO, 2020, p. 228). Criminologia | A criminologia do comportamento humano www.cenes.com.br | 13 Desta forma, são consideradas, a respeito do estudo da criminologia e do comportamento humano, dentre as espécies mais frequentes do transtorno da personalidade: as neuroses; as psicoses; as personalidades psicopáticas; e os transtornos da sexualidade (parafilias). Figura 3 – Transtornos de personalidade. Fonte: Núcleo Editorial Focus. 4.2.1 Neuroses As neuroses são estados mentais da pessoa humana, que conduzem o indivíduo à ansiedade e a distúrbios emocionais como: medo, raiva, rancor e sentimento de culpa. Assim, pode-se afirmar que as neuroses são afecções muito difundidas, sem base anatômica conhecida e que, apesar de intimamente ligadas à vida psíquica do paciente, não lhe alteram a personalidade como as psicoses, ao passo que acompanham de consciência penosa e frequentemente excessiva do estado mórbido (MARANHÃO, 2004, p.356). A base anatômica do transtorno é representada pela ausência de características físicas, capazes de indicar se determinada pessoa é portadora ou não do transtorno, sendo assim a pessoa neurótica não possui nenhum sintoma físico que dê indícios do transtorno, é algo totalmente psíquico, assim como não existe nenhuma forma de prevenir ou antecipar o transtorno. Neste sentido, dispõe Paulo Dalgalarrondo (2019, Criminologia | A criminologia do comportamento humano www.cenes.com.br | 14 p. 650) que, As neuroses se caracterizavam, no plano da subjetividade, por dificuldades e conflitos intrapsíquicos e interpessoais que mantinham no indivíduo um estado contínuo de sofrimento associado a frustração, angústia, rigidez emocional e sentimentos de inadequação. Seus mecanismos básicos eram o recalque (mas também projeção, deslocamento, negação, regressão, racionalização e formação reativa), que representava a luta interna, quase sempre inconsciente, entre impulsos inaceitáveis perante um julgamento rígido e automático. Também de grande importância eram as dificuldades interpessoais do sujeito “neurótico”, o qual era marcado pela rigidez e frustração recorrente nas relações pessoais e pela insatisfação constante com o que recebia e dava aos outros (DALGALARRONDO, 2019, p. 650). Desta forma, não sendo a neurose associada a um fim pejorativo ou popular banal, recebe um nome técnico cuja definição está relacionada com as características psíquicas que alteram o estado emocional do indivíduo e não a sua personalidade. Lembrando que, a psicose não deve ser confundida com a neurose, dado que esta não altera a personalidade do indivíduo e nem possui uma base anatômica conhecida. Além disso, um sujeito neurótico reconhece que está doente e, na maioria dos casos, procura auxílio médico, diferente do que ocorre na psicose, vez que o sujeito não percebe sua enfermidade, pois a doença altera a percepção da realidade. Ademais, afirmam Newton e Valter Fernandes (2010, p. 190-191) que “as neuroses são doenças mentais da personalidade que se destacam por conflitos intrapsíquicos que inibem os comportamentos sociais. São desacertos incompletos da personalidade que incomodam mais o equilíbrio interior da pessoa do que o seu relacionamento com o mundo exterior”. Assim, as neurosespodem ser classificadas como uma doença mental moderada, dado que apresenta apenas sintomas subjetivos – ex.: angústia e ansiedade – os quais podem ser amenizados pelo sistema de defesa do próprio indivíduo, estando, portanto, abaixo da psicose. No entanto, em casos mais graves, a neurose pode se transformar em uma neurose- obsessiva, que embora tenha as mesmas origens, possui consequências muito mais intensas, como por exemplo, desencadear um distúrbio que obriga um indivíduo a praticar furtos (cleptomania) ou criar incêndios (piromania), que diante de tanto medo e sofrimento podem levar o indivíduo a cometer um homicídio ou suicídio. Tem-se aí, Criminologia | A criminologia do comportamento humano www.cenes.com.br | 15 as neuroses obsessivas que devido a intensidade e a constância do sofrimento, fazem com que o sujeito tenha atitudes criminosas como consequência (FERNANDES e FERNANDES, 2010). Ainda, com relação a este aspecto, José Fiorelli e Rosana Mangini (2020, p. 465-466) classificam o comportamento como sendo uma espécie de delinquência neurótica, neste caso, “a conduta delitiva é encarada como uma manifestação dos conflitos do sujeito com ele mesmo. O que incomoda o psiquismo reflete-se no ato, com a finalidade inconsciente (total ou parcial) de punição. Trata-se, pois, de uma delinquência sintomática”. Isto é, para esses indivíduos a punição é aplicada para amenizar um sentimento de culpa, proveniente do conflito primário. 4.2.2 Psicose O termo psicose surgiu para enfatizar as afecções mentais mais graves apresentadas pelo sujeito. Assim, podemos defini-las como um conjunto de doenças caracterizadas pelos transtornos emocionais do indivíduo, sua relação com a realidade social e com o convívio em sociedade. Nas palavras de Newton e Valter Fernandes (2010, p. 194), As psicoses, de fato, são responsáveis pela desintegração da personalidade do indivíduo e pelo seu conflito com a realidade. Trata-se de categoria de doenças caracterizadas por desordens cognitivas mais graves, incluindo, frequentemente, delírios e alucinações, oportunidade em que o enfermo torna impossível o convívio social ou familiar, devendo permanecer sob vigilância médica para evitar que provoque danos físicos em si próprio ou em terceiros. Isto é, as síndromes psicóticas são geralmente caracterizadas por episódios de alucinações e delírios, confusão do pensamento e comportamento catatônico. Conforme destaca Paulo Dalgalarrondo (2019, p. 667) “na psicose, o mundo é que é percebido como se dirigindo ao sujeito. O mundo invade, por assim dizer, a consciência. Há, assim, a chamada inversão do arco intencional da consciência”. Além disso, afirmam também José Fiorelli e Rosana Mangini (2020, p. 464) que, a psicose também pode se manifestar no comportamento delinquente do indivíduo, Criminologia | A criminologia do comportamento humano www.cenes.com.br | 16 através da chamada delinquência psicótica, ou seja, “a prática criminosa que se efetiva em função de um transtorno mental”. Os autores complementam dizendo que, além da psicose, “diversas psicopatologias podem conduzir a comportamento delitivo; devem ter diagnóstico por especialista e é indispensável que o quadro seja predominante ao tempo da ação”. No mais, é válido destacar que, o transtorno psicótico pode se manifestar de diferentes formas no indivíduo, contudo, ao longo do texto abordaremos três delas, que se mostram mais relevantes ao estudo da criminologia. 4.2.2.1 Psicose paranoica De acordo com Genival França (2017) as psicoses paranoicas podem ser definidas como uma espécie de transtornos mentais caracterizados por pensamentos delirantes, que facilitam a manifestação de ideias autofilistas e egocêntricas. Os paranoicos fantasiam e nos seus delírios relacionam o seu bem-estar ou a dor com as pessoas que lhes rodeiam, atribuindo a elas a causa de seu estado. Por exemplo, a paranoia do ciúme, a de perseguição e a erótica. Seriam considerados paranoicos os assassinos de Abraham Lincoln, Gandhi e John Lennon e aquele que atentou contra a vida do Papa João II (FERNANDES e FERNANDES, 2010). Em outras palavras, para aquele indivíduo que sofre de psicose paranoica as fantasias presentes em sua mente beiram a realidade, sejam elas agradáveis ou não. Diferente do que ocorre com as interpretações delirantes que, em algumas situações, podem representar o completo desconhecimento das pessoas a sua volta e, inclusive, do Psicose Paranoica Psicose Maníaco depressiva Psicose Carcerária Criminologia | A criminologia do comportamento humano www.cenes.com.br | 17 ambiente que se encontram, ou seja, durante o episódio tanto amigos ou pessoas próximas, quanto inimigos ou pessoas desconhecidas, se apresentam ao paranoico de diferentes formas (FERNANDES e FERNANDES, 2010). Desta forma, os paranoicos psicóticos exigem uma atenção especial, devido a instabilidade de seu comportamento que, em alguns casos, conforme citamos acima, podem gerar mortes, pois, eles culpam as pessoas existentes em seu círculo mental pelo seu sofrimento ou bem-estar. Por fim, como bem destacam Newton e Valter Fernandes (2010, p. 198) “o paranoico, às vezes, aparenta certa normalidade; aliás, os psiquiatras se deparam com vários indivíduos assim, contudo, a qualquer momento, vem à baila a moléstia, revelando o verdadeiro estado mental do paciente”. Assim, tem-se que a principal característica da paranoia psicótica é o fato de o sujeito fantasiar situações irreais e associar seus sentimentos a elas e as pessoas que a rodeiam. 4.2.2.2 Psicose maníaco-depressiva A psicose maníaco-depressiva, atualmente estudada como transtorno bipolar do comportamento, é marcada por crises de excitação psicomotora e estado depressivo. A fase maníaca é caracterizada por hiperatividade motora e psíquica, com agitação e exaltação da afetividade e do humor, o maníaco não permanece quieto, é eufórico. A melancolia ou depressão, caracteriza-se pela inibição ou diminuição das funções psíquicas e motoras, ao passo que o indivíduo apresenta um quadro marcado pela tristeza, pessimismo, sentimento de culpa. As tentativas de suicídio são frequentes durante este período (FRANÇA, 2017). Neste sentido, afirmam Newton e Valter Fernandes (2010, p.199) que a psicose maníaco-depressiva pode ser definida como uma espécie de “enfermidade de caráter endógeno, hereditária, caracterizada pela anormalidade de ânimo, anormalidade anímica, da qual surgem os restantes sintomas, sem que a doença seja de curso progressivo, nem conduza jamais à demência, intercalando-se entre suas fases períodos de remissão mais ou menos prolongados”. Criminologia | A criminologia do comportamento humano www.cenes.com.br | 18 Os autores afirmam ainda que, Nos casos mais graves e em que existe ansiedade, o doente tende a movimentar-se continuamente, passeia infatigável o dia todo de um lado para outro, chora muito e se lamenta, arranca os cabelos ou esmurra a parede, chegando a bater com a cabeça nela, quebra objetos ou os atira furioso contra o solo, buscando no movimento a descarga que o libere do sofrimento cruel que lhe provoca o intenso estado de tensão interna (FERNANDES e FERNANDES, 2010, p. 201). Assim, nestes casos, os índices de suicídios ocasionados pela depressão profunda são extremamente elevados, pois, ainda que o sujeito esteja tomado por um sentimento de extrema alegria, pode se afundar rapidamente em uma profunda tristeza, que vem acompanhada de uma intensa sensação de morte. No entanto, embora muito frequentes, o suicídio pode ser impulsivo ou premeditado, por isso, os pacientes acometidos desta enfermidade, devem estar sob vigilância constante. 4.2.2.3 Psicose carcerária A psicose carcerária é decorrente da privação da liberdade do indivíduo submetido a estabelecimentos carcerários que nãodispõem, em sua grande maioria, de condições adequadas de espaço, iluminação e alimentação. Isto é, essa psicose é frequente em pessoas que tiveram sua liberdade restrita ou que foram submetidas a condições sub- humanas de encerramento. A pessoa acometida desse mal, manifesta a "síndrome crepuscular de Ganser", apresentando sintomas com as seguintes características: estranhas alterações da conduta motora e verbal do indivíduo que, quando interrogado, encerra-se em impenetrável mutismo ou passa a exibir para respostas ("respostas ao lado"), como se estivera acometido de um estado deficitário orgânico. Além disso, não é raro que o transtorno venha acompanhado de sintomas depressivos ou catatônicos (FERNANDES e FERNANDES, 2010). Outra denominação empregada a esse transtorno é “delírio pré-senil de indulto”, de modo que alguns velhos presidiários são consumidos por um súbito sentimento de Criminologia | A criminologia do comportamento humano www.cenes.com.br | 19 anistia e “passam a apregoar sua iminente libertação, mostrando-se eufóricos e agradecidos às autoridades judiciárias e adotando, no interior do presídio, conduta consentânea com o conteúdo apriorístico de suas convicções” (FERNANDES e FERNANDES, 2010, p. 202). 4.2.3 Personalidade psicopática A personalidade psicopática é caracterizada por uma distorção do caráter do indivíduo. Os indivíduos acometidos por tal personalidade geralmente apresentam o seguinte quadro característico: são inteligentes, amorais, inconstantes, insinceros; são egocêntricos, inclinados a condutas mórbidas. Nas palavras de Genival França (2017, p. 1.856) “os psicopatas não vivem, representam. Pode-se dizer que eles, a seu modo, são felizes porque não sofrem, não sentem culpa, não têm remorso. Sabem o que fazem, mas não se importam com as consequências. São mentirosos e manipuladores”. No entanto, é válido destacar que, o termo psicopata, ao longo do tempo, se tornou banal e genérico, não sendo mais utilizado no âmbito da psicologia e da psiquiatria para definir o sujeito com tendencias psicopáticas, atualmente a denominação clínica correta é transtorno de personalidade antissocial, contudo, isso não impede que ainda os profissionais da área ainda indiquem que seus pacientes apresentam uma personalidade psicopática. Neste sentido, o psicólogo Paulo Dalgalarrondo (2019, p. 517) afirma que apresentam o transtorno de personalidade antissocial, embora reconhecidos há muito tempo, ainda guardam uma posição polemica no âmbito da psicologia, dado que não é “[...] enquanto os criminosos comuns almejam riqueza, status e poder, os psicopatas apresentam manifesta e gratuita crueldade” (PENTEADO FILHO, 2020, p. 229). Criminologia | A criminologia do comportamento humano www.cenes.com.br | 20 possível identificar se o transtorno está relacionado a uma variação da normalidade ou a uma doença psicopatológica. Nestes casos o sujeito “têm muita dificuldade nas relações interpessoais; falta-lhes sensibilidade ao sofrimento dos outros (ou podem apresentar mesmo elementos de sadismo, tendo satisfação ou prazer com o sofrimento alheio). Há um padrão difuso de desconsideração pelas outras pessoas, violação dos direitos alheios”. Assim, conforme ressalta Nestor Sampaio (2020, p. 229) “é bem verdade que o portador de psicopatia não é um doente, na acepção estrita do termo, no entanto se acha à margem da normalidade emocional e comportamental, ensejando dos profissionais de saúde e do direito redobrada atenção em sua avaliação”. Por isso, a análise dos transtornos da personalidade se torna tão importante para o estudo da criminologia, à medida que os portadores desses transtornos se envolvem facilmente em atos criminosos. Ainda, com relação as sanções aplicadas os sujeitos que detêm uma personalidade psicopática, os teóricos José Fiorelli e Rosana Mangini (2020, p. 157) destacam algumas informações pertinentes. Na prática prisional, o fundamental, que torna a intervenção mais delicada, é a dificuldade de essas pessoas aprenderem com a experiência, sendo que a intervenção terapêutica, em geral, não alcança os valores éticos e morais comprometidos. Para alguns autores, pessoas que preenchem os critérios plenos para psicopatia não são tratáveis por qualquer tipo de terapia; alguns estudos, porém, indicam que, após os 40 anos, a tendência é diminuir a probabilidade de reincidência criminal. Existe medicação que busca minimizar a excitabilidade do comportamento (FIORELLI e MANGINI, 2020, p. 157). Por fim, no que diz respeito a classificação das pessoas que possuem o transtorno de personalidade antissocial, assim como as características da personalidade psicopática não são pacíficas no meio clínico, dado que, cada paciente se comporta de uma forma diferente destacando alguns aspectos mais do que outros. Desta forma, é possível classificar o transtorno de personalidade antissocial da seguinte forma: Criminologia | A criminologia do comportamento humano www.cenes.com.br | 21 Figura 4 – Classificação da personalidade psicopática. Fonte: Núcleo Editorial Focus. EXPLOSIVOS/ EPILEPTOIDES São classificados como explosivos ou epileptoides aqueles indivíduos que manifestam em seu comportamento a habitualidade de um estado colérico, raivoso, agressivo, tanto verbalmente como fisicamente. De acordo com Genival França (2017, p. 1.859) predominam nos psicopatas com personalidade explosiva “uma irritabilidade excessiva do humor e da afetividade, seguida de tensões motoras, violentas”. Geralmente, essas pessoas são extremamente instáveis na relação conjugal e não costumam ser bons exemplos na educação dos filhos. PERVERSOS/ AMORAIS Os perversos ou amorais são maldosos, cruéis, destrutivos, esses indivíduos não são capazes de sentir afeto, simpatia ou qualquer outro sentimento de estima por qualquer pessoa, portanto, estão sujeitos a prática de qualquer conduta antissocial, desde os menores delitos como furto até o mais bárbaro dos homicídios. Tais características revelam-se precocemente em crianças, nas tendências à preguiça, inércia, indocilidade, impulsividade, indiferença, propensos à criminalidade infanto-juvenil. Na fase adulta, o indivíduo possui grau elevado de inteligência, podendo ser observadas mentiras, calúnias, delações, furtos, roubos. Encontram-se no rol dos amorais os incendiários, os vândalos, os "vampiros" e os envenenadores. (FERNANDES e FERNANDES, 2010). Criminologia | A criminologia do comportamento humano www.cenes.com.br | 22 Ainda, conforme destaca Genival França (2017, p. 1.860) os crimes cometidos pelos psicopatas que apresentam uma personalidade perversa ou amoral “são desumanos, frios, impulsivos, bestiais”. Esses indivíduos, “não admitem ser fiscalizados e realizam atos movidos pelas suas paixões, pelo domínio dos componentes instintivos de sua personalidade. Praticam o mal por necessidade mórbida”. Por fim, é válido destacar que, todas as medidas de reeducação e de recuperação impostas aos indivíduos caracterizados como perversos têm-se mostrado inúteis e ineficazes, ao passo que o confinamento carcerário só vem acelerando e requintando suas técnicas amorais e delituosas. Assim, principal questão debatida no direito e principalmente no estudo da criminologia é, qual a punição mais adequada para esses casos (FRANÇA, 2017). FANÁTICOS Os fanáticos são caracterizados por um ânimo constante de eufemismo, além da extrema exaltação daquilo que desejam. Esses indivíduos lutam por seus ideais de forma impulsiva, sem qualquer limite ou controle de suas ações, os fanáticos são capazes de praticar qualquer ato delinquente na busca incessante por seus interesses. De acordo com Genival França (2017, p. 1.861) a principal questão e justamente o que requer uma atenção especial nos fanáticos, é que eles podem “assumirliderança de grupos ou massas humanas em épocas de instabilidade político-social, mesmo sendo eles intelectualmente limitados e de ideias confusas”. Os fanáticos jamais serão julgados por ficarem “em cima do muro”, pois, até nas situações mais banais e insignificantes, tomam partido e defendem o seu ponto de vista de forma fervorosa. MITOMANÍACOS Os mitomaníacos, por sua vez, são acometidos de um desequilíbrio da inteligência no tocante à realidade. Esses indivíduos são totalmente propensos à mentira, à simulação e à fantasia, eles conseguem distorcer, de forma quase convincente, a realidade dos fatos, podendo chegar a extremos de delírios e devaneios. Criminologia | A criminologia do comportamento humano www.cenes.com.br | 23 Nas palavras de Newton e Valter Fernandes (2010, p. 187) “a mitomania pode se acentuar até o estado de devaneio, os verdadeiros delírios de imaginação, agudos ou em eclipse, mas frequentemente sintomáticos de estados hipomaníacos, tóxicos ou orgânicos, que vêm a despertar as aptidões mitopáticas do indivíduo”. Essa característica pode se manifestar tanto em crianças quanto nos adultos e, geralmente, são acompanhadas de outras debilidades mentais, como, por exemplo, as paranoias e as perversões instintivas. 4.2.4 Transtornos da sexualidade O estudo da sexualidade anômala, também chamado de transtornos da sexualidade, são definidos pelo estudioso Genival França (2017, p. 1.016) como “distúrbios qualitativos ou quantitativos do instinto sexual, fantasias ou comportamento recorrente e intenso que ocorrem de forma inabitual”, os quais podem se manifestar através de sintomas de perturbação psíquica, como intervenção de fatores orgânicos glandulares ou simplesmente como uma questão de preferência sexual. Assim, de forma suscinta os transtornos da sexualidade podem ser definidos como uma espécie de distúrbio mental caracterizado pela degeneração psíquica do indivíduo ou por fatores orgânicos glandulares, os quais podem ser classificados da seguinte forma: → Sadismo: o termo “sádico” ou sadismo surge a partir do Marquês de Sade, que mantinha sua satisfação sexual através do sofrimento de suas companheiras. Assim, o sadismo pode ser definido como um transtorno sexual, através do qual o indivíduo obtém prazer sexual ao ver o parceiro ou parceira sofrer fisicamente, através da crueldade podendo, inclusive, resultar na morte do sujeito. → Masoquismo: diferente do sadismo em que o indivíduo sente prazer no sofrimento alheio, no masoquismo o indivíduo só consegue sentir prazer sexual diante do próprio sofrimento, quando é humilhado ou castigado pelo companheiro ou companheira. → Pedofilia: a pedofilia é uma das formas de parafilia caracterizada pela predileção sexual e atração por crianças ou adolescentes. A satisfação sexual do indivíduo vai desde “atos obscenos até a prática de atentados violentos ao pudor e ao estupro, denotando sempre graves comprometimentos psíquicos e morais de seus autores” (FRANÇA, 2017, p. 1.039). Criminologia | Conclusão www.cenes.com.br | 24 → Vampirismo: é a aberração venérea na qual a gratificação é alcançada com o degenerado sugando obsessivamente o sangue de seu parceiro sexual, ou seja, o indivíduo só sente prazer durante a relação ao sugar literalmente o sangue do parceiro. A medicina legal ainda estuda estes casos. → Necrofilia: é uma das espécies de transtorno sexual caracterizado pela prática de relações sexuais com cadáveres. De acordo com Genival França (2017, p. 1.035) muitos dos indivíduos que possuem esse tipo de transtorno “chegam a penetrar nos cemitérios e violar os corpos retirados dos túmulos. Outros se satisfazem com o ato de masturbar-se diante do cadáver”. De uma forma geral, os transtornos da sexualidade sempre que tratados exigem um certo cuidado, pois, até muito pouco tempo atrás era um assunto velado e gerava grande constrangimento ao ser comentado, até mesmo pela comunidade acadêmica. Contudo, atualmente, tem se tornado cada vez mais “comum falar sobre sexo a qualquer pretexto, ou até sem pretexto algum, utilizando-se falsos conceitos científicos ou escamoteados por propósitos pouco recomendáveis” (FRANÇA, 2017, p. 1.016). Ainda, conforme destaca Paulo Dalgalarrondo (2019, p. 745) em determinados casos a linha entre o comportamento normal e o patológico nos transtornos da sexualidade é muito tênue, “visto que nem sempre é fácil a discriminação entre o gostar e integrar determinada fantasia ou prática, em meio à atividade sexual geral, e o fixar-se de forma intensa a um padrão sexual frequente, muitas vezes exclusivo, e que traz sofrimento ou dano significativo”. Desta forma, embora tratemos o assunto com certa naturalidade, é preciso destacar tamanha sua importância para as áreas criminais, pois, em alguns casos a barreira da naturalidade é quebrada e o ato praticado viola a integridade física, psíquica ou moral de terceiros. 5 Conclusão Por muito tempo o comportamento humano representava um grande ponto de interrogação para os estudiosos não só do campo criminológico, como para aqueles que se dedicavam as ciências clínicas da psicologia e da psiquiatria. Assim, desde os estudos realizados pela escola positivista com as análises biológica, psicológica e Criminologia | Conclusão www.cenes.com.br | 25 sociológicas a respeito do comportamento do indivíduo, até o surgimento da psicologia e da psiquiatria criminal, que os estudiosos tendam desvendar as nuances do comportamento humano e qual sua relação com as condutas criminosas. É a partir disso que surgem, as teorias behavioristas, tentando explicar a agressividade do indivíduo, utilizando métodos empíricos – mecanismo de estímulos e respostas – buscando modificar o comportamento do delinquente através de esforços positivos, empregando um sistema de recompensas e punições. Ainda, no âmbito da criminologia clínica, através da interdisciplinaridade, se intensificam os estudos a respeito do indivíduo e suas propensões criminosas especialmente com relação aos transtornos de personalidade, na psicologia e psiquiatria criminal, à medida que relacionam o comportamento delinquente do sujeito a uma psicopatologia. No entanto, devemos concordar que, embora tenha evoluído consideravelmente comparado aos séculos passados, a mente humana está longe de ser desvendada por completo e, portanto, os estudos a respeito deste tema não apenas relevantes para a criminologia e o direito em si, mas para todas as outras áreas, afinal a cada dia nos conhecemos um pouco mais. Criminologia | Referências Bibliográficas www.cenes.com.br | 26 6 Referências Bibliográficas BARATTA, Alessandro. Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal: introdução à sociologia do direito penal. 6 ed. Rio de Janeiro: Instituto Carioca de Criminologia, 2011. COLETTA, Eliane Dalla [et al.]. Psicologia e criminologia. Porto Alegre: SAGAH, 2018. CRESPO, Aderlan. Curso de criminologia: as relações políticas e jurídicas sobre o crime. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais [recurso eletrônico]. 3 ed. Porto Alegre: Artmed, 2019. DE MORAES, Rodrigo Iennaco. Behaviorismo e criminologia: controle do comportamento desviante. DSM-V Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Porto Alegre: ArtMed, 2014. FERNANDES, Newton; FERNANDES, Valter. Criminologia integrada. 3 ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010. FIORELLI, José Osmir; MANGINI, Rosana Cathya Ragazzoni. 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Criminologia | Referências Bibliográficas www.cenes.com.br | 28 1 Sumário 2 Introdução 3 O homem delinquente: teorias biopsicológicas, psicodinâmicas e psicológicas 4 A criminologia do comportamento humano 4.1 Teorias Behavioristas da agressividade 4.2 Transtornos da personalidade 4.2.1 Neuroses 4.2.2 Psicose 4.2.2.1 Psicose paranoica 4.2.2.2 Psicose maníaco-depressiva 4.2.2.3 Psicose carcerária 4.2.3 Personalidade psicopática 4.2.4 Transtornos da sexualidade 5 Conclusão 6 Referências Bibliográficas