Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
O TRANSTORNO DE PERSONALIDADE ANTISSOCIAL E SUAS IMPLICAÇÕES NA PSICOLOGIA JURÍDICA ANTISOCIAL PERSONALITY DISORDERS AND IT’S IMPLICATIONS IN LEGAL PSYCHOLOGY KARINA DE GOES MOTTA. Acadêmica de Graduação do Curso de Psicologia da Faculdade Sudoeste Paulista - FSP. FABIANA VENEGAS PIRES. Docente do Curso de Psicologia da Faculdade Sudoeste Paulista - FSP. . Endereço para correspondência: Rua José Chagas, 86, Jardim Ana Cecília, CEP: 18.800- 000, Piraju, São Paulo, Brasil. E-mail: karinagmotta@hotmail.com RESUMO Ao longo da história da psicologia jurídica e sua interface com o direito destaca-se o transtorno de personalidade antissocial ou psicopatia como um dos mais influentes nas implicações legais. Dessa maneira contempla-se a vital importância da discussão de cunho científico que pode repelir saberes de senso comum já estabelecidos sobre o transtorno em questão e os manejos propostos. Este estudo teve como objetivo traçar paralelos entre o transtorno de personalidade antissocial e as possíveis implicações com a psicologia jurídica e suas funções. Foi realizada uma revisão sistemática com as bases de dados Scielo e Lilacs usando as palavras chaves: transtorno antissocial, DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Distúrbios Mentais) psicologia jurídica, psicopatia e crime. Foram selecionados apenas artigos dos últimos dez anos, da língua portuguesa. A maioria dos artigos coloca os fatores de desenvolvimento como alavancas para a intensidade do transtorno e esclarecem o papel do psicólogo frente aos julgamentos e avaliações que envolvem questões ligadas ao direito. A psicologia jurídica pode ter um papel fundamental nas decisões judiciais incluídas no julgamento de indivíduos que cometem crimes através de avaliações e perícias envolvendo-se em vários aspectos para um parecer sobre a história e subjetividade do indivíduo. PALAVRAS-CHAVES: Transtorno de personalidade antissocial; psicologia jurídica; crime e psicopatia. ABSTRACT Throughout the history of legal psychology and its interface with law it stands out the antisocial personality disorder or psychopathy as one of the most influential in the legal implications. The vital importance of the scientific discussion that can repel established common-sense knowledge about the disorder in question and the proposed management is contemplated. This study aimed to draw parallels between antisocial personality disorder and the possible implications with legal psychology and its functions. A systematic review was conducted with the Scielo and Lilacs databases using the key words: antisocial disorder, DSM (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders), legal psychology, psychopathy and crime. Only articles from the last ten years of the Portuguese language were selected. Most articles place developmental factors as levers for the intensity of the disorder and clarify the role of the psychologist in the face of judgments and evaluations involving issues of law. Legal psychology can be important in judgments included the judgment of people who commit crimes through assessments and expertise engaging in various aspects for an opinion the history and subjectivity of the individual. 2 2 KEYWORDS: antisocial personality disorders; legal psychology; crime and psychopathy. INTRODUÇÃO O transtorno de personalidade antissocial já foi muito estudado ao longo da história da psiquiatria e psicologia, tendo suas definições modificadas de acordo com as percepções de autores e culturas em cada época. (ALVARENGA; et al, 2009). Com os estudos surgiram divergências entre profissionais para diagnóstico preciso e intervenções corretas, fazendo-se necessária a criação de algo que garantisse eficácia e parcimônia entre os conhecimentos dos transtornos mentais. Surgiram assim, através da Associação Americana de Psiquiatria (APA) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) o Manual Diagnóstico e Estatístico de Distúrbios Mentais (DSM) e o sistema de Classificação Internacional de Doenças (CID). (ALVARENGA; et al, 2009). Indivíduos que se incluem nos critérios para um diagnóstico de transtorno de personalidade (TP) são descritos como pessoas que apresentam padrões de comportamentos anormais ou mal adaptados, subsequentes de desvios significativos do padrão cultural ao modo de sentir, agir, pensar, perceber e, sobretudo de se relacionar com outrem. (DSM-V, 2014). Segundo Hidalgo & Serafim (2016) “Os TP estão frequentemente associados a abuso de álcool e outras substâncias, violência (incluindo crime), e a altas taxas de mortalidade por suicídio”. É notório afirmar que nem todo portador desse transtorno sucumbirá à criminalidade, porém se o fizer, tende a ser violento. Assim vinculamos os saberes já postos, com os estudos acerca da relação desse transtorno com a criminalidade, que além de objeto de pesquisa do direito, também é explorado pela psicologia e criminologia em grande escala (ROCHA, 2011). Na ótica de Cruz (2015) “Enquanto criminosos comuns almejam riqueza, status e poder, os psicopatas apresentam manifesta e gratuita crueldade”. Para o criminoso com TP antissocial o ganho com o crime é secundário, a dominação e a sensação de poder são seus principais motivadores. Alguns desses criminosos apresentam históricos traumáticos na infância relativos a maus tratos físicos ou psíquicos, tendendo a isolar-se socialmente ou vingar- se (CRUZ, 2015). Entre as condutas antissociais estão o furto, roubo, latrocínio, homicídio, estupro, sequestro, tráfico de entorpecentes sendo marcado por alto índice de reincidências e tendência a práticas criminais. Apresentam baixa tolerância a frustrações, agressividade facilmente eclodida, indiferença afetiva acentuada e emoções superficiais. (HIDALGO & SERAFIM, 2016). 3 3 Gomes (2007) aponta que “Cabe definir a Criminologia como ciência empírica e interdisciplinar, que se ocupa do estudo do crime, da pessoa do infrator, da vítima e do controle social do comportamento delitivo”. O crime faz parte da vida de um sujeito, desse modo nenhum crime é exatamente igual ao outro, pois cada um tem sua história e subjetividade. A psicologia jurídica consiste, para Brito (2012, apud JACÓ-VILELA, 1999) na “personalidade do criminoso, o papel da punição, a influência do sistema penal na recuperação, ou não, da delinquência, esses são os temas de seu interesse”. Anton & Toni (2014) completam que a psicologia jurídica é a “área da Psicologia que se preocupa com os temas ligados ao sistema judiciário ou às práticas jurídicas”. A avaliação dos aspectos da personalidade em psicologia jurídica é um desafio, pois “as pessoas com Transtorno de Personalidade Anti-Social (TPAS) e/ou traços psicopatas têm como característica a tendência a negar ou minimizar atributos pessoais socialmente inadequados”, principalmente em implicações legais. Por isso, devemos atentar para o fato de que as informações fornecidas pelo periciado possam ser distorcidas (DAVOGLIO & ARNIMON, 2010). Este trabalho contempla a justificativa da importância que esse leque da psicologia jurídica seja discutido de maneira a repelir saberes de senso comum já disseminados sobre ele. Como já dito por Davoglio & Arnimon (2010) “devido às contravenções e transgressões da lei típicas destes indivíduos, esses conceitos se apresentam como temas que se colocam entre a clínica e o judiciário, sendo por isso alvo de atenção da Psicologia Forense”. O presente estudo se propõe ao objetivo de traçar laços entre o transtorno de personalidade antissocial e suas implicações na psicologia jurídica envolvendo questões legais e psicológicas. PRESSUPOSTOS METODOLÓGICOS Revisão da literatura é o processo de busca, análise e descrição de um corpo do conhecimento em busca de resposta a uma pergunta específica e mais precisamente as revisões sistemáticas são consideradascomo “estudos observacionais retrospectivos ou estudos experimentais de recuperação e análise crítica da literatura.” Além de testar hipóteses e ter como objetivo “levantar, reunir, avaliar criticamente a metodologia da pesquisa e sintetizar os resultados de diversos estudos primários”. (MANUAL UNESP, 2015) 4 4 Primeira etapa de pesquisa denominou-se mapeamento ou levantamento bibliográfico, no qual foram mapeadas todas as referências encontradas sobre o tema proposto, sempre com procedência científica. Para a pesquisa do referencial bibliográfico foram usados os seguintes indexadores eletrônicos: Scielo (Scientific Electronic Library Online) e Lilacs (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) Em primeira busca foram usadas as palavras chave: Transtorno Antissocial no indexador Scielo, três resultados pertinentes foram encontrados, posteriormente no mesmo sítio de busca foram usadas: Transtorno Antissocial e DSM, a fim de observar o histórico do transtorno no DSM e suas edições, e um arquivo foi encontrado. Em ambas usaram-se todos os índices e língua portuguesa. No indexador Lilacs foram inseridas: psicologia jurídica e psicopatia, em página única e 2 resultados foram encontrados. Após: psicopatia e crime na página um, com 8 estudos cabíveis. E por ultimo transtorno antissocial até a página dez, encontrados 12 resultados pertinentes. Nessa primeira etapa de busca foram encontrados 22 arquivos com todos os índices selecionados e em língua portuguesa, que seriam de grande valia para este estudo. O critério usado para inclusão e exclusão dos artigos foi uma breve leitura de resumos e introduções, além dos títulos, os que destoavam do tema a ser abordado não foram utilizados. Foram utilizados estudos na língua portuguesa e publicados nos últimos dez anos. As pesquisas foram realizadas entre os dias 05 e 21 de agosto de 2017, no período entre 10h00 e 18h00. Ao final do mapeamento os artigos foram lidos sistematicamente para avaliar sua valia a este estudo. Foram incluídos para esta pesquisa apenas artigos dos últimos 10 anos. Base de dados: Scielo Palavras-chave: Transtorno antissocial [todos os índices] e Transtorno antissocial e DSM [todos os índices] Base de dados: Lilacs Palavras-chave: Psicopatia, psicologia jurídica, crime e transtorno social [todos os índices] Resultado das buscas (n=238) Aplicação dos critérios de inclusão e exclusão Selecionados (n=22) Duplicados (n=1) 5 5 Figura 1 – Número de artigos selecionados e excluídos nas bases de dados Lilacs e Scielo. A figura 1 representa o total de artigos utilizados nessa pesquisa, que de acordo com o delineamento metodológico foram incluídos ou não no presente artigo. RESULTADOS Os artigos selecionados para este estudo foram todos na língua portuguesa. Seis dos oito artigos selecionados usaram de revisão bibliográfica como método de pesquisa, e três com pesquisas de campo, sendo uma realizada via redes sociais a partir de questionários estruturados de múltipla escolha, e o outro incluindo dados demográficos para aplicação de questionários estruturados com conteúdo de dados sócio demográficos, condutas antissociais e delitivas, e esquemas de personalidade. O outro realizado é dividido entre infratores e não infratores através de entrevista estruturada dos dois grupos separadamente. Dois dos estudos utilizados apresentam a base histórica do transtorno antissocial em relação à definição patológica em várias épocas. Dois deles focam na conceituação da patologia de transtorno antissocial, um deles discute os interesses da criminologia nessa doença, outro usa o foco do crime e quatro consistem em discussões sobre o transtorno e a psicologia jurídica, quais as implicações multidisciplinares na análise desse fenômeno e os interesses dos quais se aplicam para o estudo desse tema. Quadro 1: Caracteriza o total de artigos desta revisão para autor – data – objetivos. Incluídos (n=14) 6 6 GOMES, Luiz Flávio 2007 Definir a Criminologia como ciência empírica e interdisciplinar, que se ocupa do estudo do crime, da pessoa do infrator, da vítima e do controle social do comportamento delitivo. Hidalgo, Nathalie de Queiroz; Serafim, Antônio P. 2016 Levantar junto ao público de uma maneira geral o conceito de psicopatia verificando os saberes de senso comum acerca do assunto. Medeiros, Verônyca Muniz V. 2014 Apresentar a psicopatia, demonstrar as sanções penais aplicáveis ao psicopata criminoso e questionar as alternativas para as sanções penais dadas a ele a partir de suas dificuldades. Silva, Thamires C. O. A. 2016 Neste trabalho também será explorado as espécies de personalidades psicopáticas, como elas atuam e quais seriam as possíveis consequências, além de uma discussão acerca de qual melhor medida a ser aplicada, penas comuns ou medidas de segurança, e se os psicopatas podem ser considerados seres inimputáveis, imputáveis ou semi- imputáveis. Pacheco, Janaína T. B. Hutz, Cláudio S. 2009 Investigar variáveis individuais e familiares preditoras do comportamento antissocial, num estudo com adolescentes infratores e não infratores. Rocha, Marseilly Carvalho O. 2011 Verificar a existência de diferenças de médias de respostas para o questionário proposto, para diferentes crimes (roubo, homicídio, assalto, tráfico e etc) numa amostra de presidiários. Universidade Estadual de São Paulo. 2015 Auxiliar na definição do tipo de revisão de literatura a ser realizado, em forma de documento conciso com algumas definições e orientações sobre revisões de literatura. DISCUSSÃO Nesta revisão de literatura muito se observou os fatores relacionados às condutas antissociais delitivas, podendo ser os ambientais, que dizem do ambiente externo, os familiares que observa a estrutura e dinâmica familiar do indivíduo, o social que averigua a rede de contatos e muitos outros elementos como econômicos, por exemplo. Rocha (2011, apud MORANA et al, 2006) afirma que a negligência e maus tratos sofridos durante a infância, enquanto o cérebro ainda se forma a partir das Autor Data Objetivos Alvarenga, Marco Antônio S. et al. 2009 Realizar um breve percurso sobre o desenvolvimento conceitual de um dos construtos psicológicos de maior evidência nos dias atuais: o transtorno de personalidade antissocial (TPAS). American Psychiatric Association. 2014 Classificação de transtornos mentais e critérios associados que facilitam o estabelecimento de diagnósticos mais confiáveis desses transtornos. Anton, Juleine; Toni, Caroline Guisantes de S. 2014 Compreender as práticas de trabalho do psicólogo forense, principalmente no que se refere à psicopatia, bem como descrever o processo de avaliação e reconhecimento de psicopatas. Bertoldi, Maria Eugênia; et al. 2014 Apresentar um breve estudo sobre a Psicologia Jurídica e a sua aplicação no Direito Criminal, explicitando como se relacionam essas duas ciências, as características comportamentais dos delinquentes, as motivações que podem levar o indivíduo ao cometimento de atos delituosos, alguns tipos mais comuns de delitos, bem como os principais métodos e técnicas que subsidiam a atuação do psicólogo jurídico. Brito, Leila Maria T. Anotações sobre a Psicologia jurídica. 2012 Transpassar a história da psicologia jurídica, suas definições e modificações ao longo dos anos de profissão. CRUZ, Dário Aquino da. 2015 Mostrar as características da personalidade psicopática, demonstrar a razão ou a falta de razão para o cometimento de crimes bárbaros, analisar a formação da personalidade de um psicopata, trazendo também as causas que podem ocasionar tal transtorno. Davoglio, Tárcia Rita; Arnimon, Irani Iracema de Lima. 2010 Apresentar as características básicasdo Transtorno de Personalidade Antissocial e da Psicopatia, focando nas suas implicações no âmbito da avaliação psicológica forense, priorizando a realidade brasileira. 7 7 experiências induz uma anomalia nos circuitos cerebrais, podendo propiciar aspectos como agressividade, hiperatividade, delinquência, transtornos de atenção e abuso de substancias ilícitas. Para a psicologia jurídica é de demasiada importância que seja investigada as possíveis origens desse transtorno. Em concordância com isso, Pacheco & Hutz (2009) colocam que o padrão de comportamento antissocial é aprendido na infância, sendo diretamente produzido e influenciado por interações sociais, principalmente familiares, salientando que a criança pode moldar e manipular o ambiente com os pais e muitas das vezes com efetividade, isso diz de como ela aprende a interagir e lidar com outras pessoas, as atitudes antissociais da criança já dizem de seus futuros comportamentos na vida adulta sendo uma amostra do que pode acontecer posteriormente. A pesquisa realizada por Pacheco & Hutz (2009) mostrou que o uso de drogas feito pelos adolescentes ou por familiares, o número de irmãos, envolvimento de um familiar com algum crime, e as práticas educativas adotadas pelos pais (aconselhamento, punição física, castigos, punição material, delegar responsabilidades para outras pessoas, conivência e reforçamento do comportamento inadequado) explicaram 53% da variância do comportamento infrator. Dessa maneira o autor citado revela que as práticas realizadas pelos pais de reforçar os comportamentos de risco dos adolescentes como dormir fora de casa por dias, uso de drogas e desistência dos estudos, tem direta influência, pois, a atitude inadequada é entendida como correta. Fica evidente que o aconselhamento é uma prática que deve ser realizada nas relações parentais. Consideramos que a porcentagem explicitada nessa pesquisa mostra até onde os pais podem ajudar a evitar consequências futuras que entrem nas implicações da psicologia jurídica, como atos infracionais. Já para o DSM V (2014), esse transtorno de personalidade condiz de um padrão persistente de experiência interna e comportamento desviante das expectativas de cultura daquele sujeito, desrespeito e violação dos direitos dos outros, é inflexível e começa na adolescência ou no início da fase adulta, não na infância, sendo mais especificamente diagnosticado a partir dos 18 anos de idade, mas apresentando sinais completos na faixa de 15 anos. Uma observação do manual diz que em alguns casos os sintomas aparecem antes dos 15 anos de idade. O manual não nega ou afirma qualquer influencia dos pais na infância, apenas apresenta que, para o diagnóstico oficial verifica- se uma menoridade limítrofe. Contrapondo essa ideia Medeiros (2014) diz que: “a psicopatia se encontra em indivíduos que possuem distúrbios de conduta que são exteriorizados durante a vida e que não são influenciáveis ou modificáveis por medidas 8 8 educacionais ou correcionais”. Sendo assim não há consenso entre a origem do transtorno e a eficácia de medidas tomada pelos pais e familiares. Para Medeiros (2014) o transtorno antissocial apresenta uma anormalidade nos instintos e na conduta, afetando primordialmente a capacidade de vivenciar a culpa e o arrependimento. Uma das características da psicopatia é não assimilar mudanças decorrentes de suas vivências. São incapazes de autorreflexão e de sentir tristeza pelas perdas, valorizam as qualidades como o poder e desprezam capacidades aprendidas pelo esforço. Silva (2016) concorda com isso e completa: “esses sujeitos não possuem consciência moral, ética e humana, além de possuírem atitudes sem vínculos de comprometimento com os demais indivíduos na sociedade, com as normas da sociedade”. Hidalgo & Serafim (2016) nomeiam ainda características como: falta de empatia, egocentrismo, falta de autopercepção, emoções superficiais, impulsividade, baixa tolerância a frustação, ausência de remorso e irresponsabilidade, alerta também sobre o alto índice de indivíduos que possuem o transtorno envolvidos na criminalidade, com constantes reincidências e indiferença afetiva exacerbada. Entrando no âmbito das implicações na psicologia jurídica que esse transtorno pode trazer devido a sua ligação com a criminalidade, Bertoldi et al (2015) pontua que “Quando o indivíduo não apresenta sensibilidade alguma – com ausência total de remorso ou arrependimento – ficando indiferente, isso pode levá-lo a um comportamento delituoso recorrente” E continua: “as reações emocionais primárias: medo, ira, atração amorosa possessiva; podem não ser eficaz na tarefa inibidora ou educativa – repressão, derivação ou sublimação social – e pode levar muitos indivíduos à delinquência em grandes níveis” Conforme a gravidade do delito a origem psicológica daquele crime para o indivíduo aparecerá menos ou mais claramente. Cabe ao psicólogo jurídico identificar possíveis distúrbios de personalidade que podem levar o sujeito à prática de um ato delituoso. E encerra dizendo: “para que isso seja possível se faz necessária à utilização de métodos, técnicas, exames psicológicos e exames criminológicos.” Dessa maneira o objetivo da utilização dessas técnicas é analisar o perfil do indivíduo, em cunho mental e de personalidade. Pacheco e Hutz (2009) concordam que: “É preciso considerar que o comportamento anti-social ocorre dentro de um contexto social e econômico mais amplo”, ou seja, ao avaliar o criminoso devemos também avaliar o ambiente em que se insere o individuo. Anton & Toni (2014) constatam que “para se trabalhar com esses indivíduos deve haver um amplo estudo, contando com habilidades dos profissionais atuantes dessa área, além do conhecimento no manuseio dos 9 9 instrumentos de avaliação.” E insere o conceito de que mesmo os indivíduos com TPAS devem ser tratados com respeito, evitando rótulos. Na ótica de Silva (2016) a psicologia jurídica pode dizer que “O psicopata, portanto, está consciente de seus atos, mas não é um ser consciente, devido as suas incapacidades emocionais.” E enfatiza que “justamente por não possuírem suas emoções, utilizam sua inteligência de forma mais proveitosa do que o resto da sociedade, entretanto é aí que se reside a diferenciação do cérebro de um psicopata e o de uma pessoa normal”. O autor especifica que “segundo estudos científicos médicos o cérebro de um psicopata é fisicamente diferente a de uma pessoa comum, e que algumas partes do cérebro não são ativadas, o que provoca a deficiência emocional e de julgamentos morais para o indivíduo”. Sendo assim, o indivíduo possuinte do transtorno antissocial pode ser penalizado pelos seus crimes? Levando em vista que nem todos os psicopatas são criminosos, mas Medeiros (2014) propõe que: “Quando criminosos, os psicopatas são mais propensos a cometerem delitos mais cruéis e com emprego de violência, do que os demais criminosos, por costumarem ser mais agressivos”. Medeiros (2014) ajuda a olhar para essa questão: “Os psicopatas vêem as outras pessoas como objetos que eles usam quando precisam para satisfazer as suas necessidades, tendo por elas somente o sentimento de posse, não compreendendo que essas pessoas são vulneráveis e passíveis de sofrimento”. Sendo que os possuintes do transtorno costumam reincidir cinco vezes mais do que outros tipos de criminosos nos primeiros anos de liberdade. São três tipos de denominações para criminosos: os imputáveis (responsáveis), os inimputáveis (que não podem ser responsabilizados) e uma categoria específica que são chamados de semi-imputáveis (de responsabilidade diminuída). Medeiros (2014) classifica que “indivíduo psicopata se enquadra na definição de semi-imputabilidade por possuir um transtorno que afeta a personalidade, diferentemente do transtorno mental que afeta a lucideze desequilibra as emoções como, por exemplo, a esquizofrenia e a depressão”. E completa: “Do ponto de vista doutrinário e jurisprudencial, o psicopata é considerado semi-imputável”, do ponto de vista psicológico-legal, “afirma-se que ele possui completo entendimento do caráter ilícito do fato, o que é afetada é a sua capacidade de autodeterminação, não excluindo sua culpabilidade”. Assim justifica-se que o psicopata tenha sua responsabilidade diminuída e não anulada. Na lente de Silva (2016) os semi-imputaveis são aqueles que vivem no limiar da loucura e da sanidade e elenca que “é necessário que no momento da prática do fato delituoso a semi-imputabilidade seja constatada. Ou seja, a redução da capacidade 10 10 mental do agente que está praticando o delito seja constada” contendo laudos e perícias para comprovação. Em caso de constatação pode ser que haja redução da pena ou medida de segurança, caracterizada como de finalidade preventiva, a fim de evitar que o individuo cometa novos crimes, considerando que possa ser perigosa sua liberdade. Apenas pode ser sancionada uma dessas opções, não há coexistência entre pena e medida de segurança (SILVA, 2016). Atualmente na justiça brasileira o psicopata pode ser considerado pelo juiz como imputável ou semi-imputável, sendo a segunda opção com possibilidade de redução de pena ou internação em hospital de custódia. Quando há pena, e são cumpridas em sistema prisional comum, o nível de reincidência é alto. Ao individuo reincidente é recomendado pela lei que se aplique na segunda vez a pena em vez de medida de segurança, pois mostra-se que há periculosidade na liberdade do sujeito. (SILVA, 2016) Assim, vemos que atualmente as implicações da psicologia jurídica estão em avaliar, examinar, e periciar fatores relacionados aos indivíduos possuintes do TPAS, a fim de aplicação de leis diante da criminalidade. CONSIDERAÇÕES FINAIS É notório que, nem todo indivíduo com transtorno de personalidade antissocial sucumbe ao crime, mas tem maior propensão de fazê-lo. Caso ele cometa algum tipo de crime o psicólogo jurídico tem o dever de avaliar o diagnostico do indivíduo, observando sistematicamente os sintomas colocados pelo DSM V (2014), e seus níveis de periculosidade frente à liberdade do sujeito. Periciar o caso do crime quando solicitado pelo juiz para avaliar a pena ou medida de segurança também está entre as implicações da psicologia jurídica. Destaca- se a importância de considerar o avaliado como ser humano que possui história, subjetividade, família e costumes, tendo um olhar mais abrangente. Considerar o histórico familiar é de extrema importância em uma avaliação, as condições em que se deram o desenvolvimento, e em caso mais graves como homicídios olhar para esse enfoque mais atentamente ainda. A aplicação de testes regulamentados cientificamente também é uma possibilidade de avaliação, apesar de auxiliarmos nos laudos ao juiz, deve-se lembrar que quem decide qualquer tipo de pena ou medida de segurança é o juiz segunda a regulamentação de leis brasileiras vigentes. REFERÊNCIAS ALVARENGA, Marco Antônio S. et al. Evolução do DSM quanto ao critério categorial de diagnóstico para o distúrbio da personalidade antissocial. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, Rio de Janeiro, 2009, vol.58, n.4,. Disponível em: 11 11 <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0047220852009000400007&script=sci_abstract&tlng=pt> Acesso em: ago/2017. AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-5 – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. Porto Alegre: Artmed, 2014. ANTON, Juleine; TONI, Caroline Guisantes de S. A Psicologia Forense e a Identificação de Indivíduos Psicopatas. Revista Unioeste, Paraná. v. 16, n. 24, Jul/Dez 2014 Disponível em: <http://e- revista.unioeste.br/index.php/fazciencia/article/viewFile/11403/9724> Acesso em: ago/2017 BERTOLDI, Maria Eugênia; et al. Psicologia jurídica aplicada à criminologia e sua relação com o direito. São Paulo, v. 4, n. 4 2014. Disponível em: <http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/967-1095-1- pb.pdf> Acesso em: ago/2017 BRITO, Leila Maria T. Anotações sobre a Psicologia jurídica. Psicologia ciência e profissão, Brasília, v. 32, n. spe, 2012. Disponível em: <http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=282024795013> Acesso em: ago/2017 CRUZ, Dário Aquino da. Influência do Transtorno de Personalidade Antissocial no Cometimento de Crimes. Revista Científica do Isctac, v. 2, n. 6, dez/2015. Disponível em: <http://isctac.org/revista/index.php/revistacientifica/article/view/54>. Acesso em: ago/2017. DAVOGLIO, Tárcia Rita; ARNIMON, Irani Iracema de Lima. Avaliação de comportamentos anti-sociais e traços psicopatas em psicologia forense. Revista Avaliação Psicológica, Ribeirão Preto - SP v. 9, n. 1, abril/2010. Disponível em: <http://www.redalyc.org/pdf/3350/335027281012.pdf> Acesso em: ago/2017 GOMES, Luiz Flávio. A criminologia como ciência empírica e interdisciplinar: conceito, método, objeto, sistema e funções da criminologia. Revista dos Tribunais, São Paulo, 5ª ed. revisada e atualizada, 2007. Disponível em: <http://www.egov.ufsc.br:8080/portal/sites/default/files/anexos/13515-13516-1-PB.pdf> Acesso em: ago/2017 HIDALGO, Nathalie de Q.; SERAFIM, Antônio P. Psicopatia: o que as pessoas sabem de fato sobre este conceito. Revista Universidade Metodista De São Paulo, São Paulo, v. 24, n. 2, 2016. Disponível em: <https://www.metodista.br/revistas/revistas-ims/index.php/MUD/article/view/6987/5477> Acesso em: ago/2017 MEDEIROS, Verônyca Muniz V. A psicopatia como semi-imputabilidade no sistema penal. 2014, 52f. Dissertação (Graduação em Direito), Centro Universitário de Brasília - UniCEUB. Disponível em: <http://repositorio.uniceub.br/handle/235/5516> Acesso em: ago/2017 SILVA, Thamires C. O. A. A penalização do psicopata frente ao ordenamento jurídico brasileiro. Revista Intertemas, Presidente Prudente – SP, v. 32, n. 32, 2016. Disponível em: <http://intertemas.unitoledo.br/revista/index.php/Juridica/article/viewArticle/5862> Acesso em: ago/2017 PACHECO, Janaína T. B. HUTZ, Cláudio S. Variáveis Familiares Preditoras do Comportamento Anti- Social em Adolescentes Autores de Atos Infracionais. Revista Psicologia: Teoria e Pesquisa, Rio Grande do Sul, v. 25 n. 2, Abr/Jun 2009, Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ptp/v25n2/a09v25n2.pdf> Acesso em: ago/2017 ROCHA, Marseilly Carvalho O. Estudo das condutas antissociais e delitivas e esquemas de personalidade numa amostra de presidiários. 2011. 210 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Humanas) - Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2011. Disponível em: <http://repositorio.ufu.br/handle/123456789/17136> Acesso em: ago/2017 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SÃO PAULO. Tipos de Revisão de Literatura, Manual da UNESP, Botucatu, 2015. Disponível em: <http://www.fca.unesp.br/Home/Biblioteca/tipos-de-evisao-de- literatura.pdf> Acesso em: ago/2017
Compartilhar