Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Autoimunidade Profa. Dra. Maysa Braga Autoimunidade Uma das principais características do sistema imune é a capacidade de diferenciar o que é próprio do organismo de um elemento estranho; Esta não responsividade aos antígenos (próprios), é também chamada de tolerância imunológica. O que garante que os linfócitos não reajam contra antígenos próprios? - Os linfócitos que são capazes de reconhecer antígenos próprios são constantemente gerados durante o processo normal de maturação de linfócitos. - Existem muitos mecanismos para prevenir a resposta imune aos antígenos próprios esses mecanismos são responsáveis pela capacidade de discriminar entre os antígenos próprios e os não próprios. - Se esses mecanismos falham, o sistema imune pode agredir as células ou tecidos do próprio indivíduo tais reações são chamadas de autoimunidade. Tolerância Imunológica Não responsividade do sistema imune a determinados antígenos (tolerogênicos). Tolerância Imunológica Tolerância Central (nos órgãos linfóides): - Precursor linfóide na medula óssea da origem aos linfócitos imaturos; - Linfócito B amadurece na medula óssea; - Linfócito T amadurece no timo nesse local acontece a apresentação de antígenos próprios, gerando: • Apoptose do linfócito morre no órgão linfoide; • Troca nos receptores de superfície (para não reconhecer os antígenos próprios) deixa de ser um linfócito auto- reagente e é liberado dos órgãos linfóides; • Desenvolvimento de linfócitos T reguladores (T CD4+). Apesar dos mecanismos de tolerância central, alguns linfócitos auto-reagentes são maturados e migram para tecidos periféricos. Tolerância Imunológica Tolerância Periférica (nos tecidos periféricos): - Caso esse linfócito reconheça um antígeno próprio, ele pode sofrer: • Anergia: estado de inativação (pois não terá um co-estimulador para ser ativado); • Apoptose; • Supressão por uma célula T reguladora. Tolerância Imunológica dos Linfócitos T Formação dos pró-linfócitos T (linfócitos imaturos) na medula óssea vão para o timo. • O linfócito normal, sofre a maturação e vai para os tecidos periféricos; • O linfócito auto-reagente sofrerá a tolerância central: - Sofre seleção negativa e entra em apoptose; - Ou transforma-se em célula T reguladora (podendo ir para os tecidos periféricos, pois não irá ter uma resposta contra o antígeno próprio – terá resposta supressora). Tolerância Central Tolerância Imunológica dos Linfócitos T Tolerância Periférica Se o linfócito auto-reagente não for reconhecido no timo e migrar para o tecido periférico, ele sofrerá a tolerância periférica. - APC apresenta o antígeno próprio ao linfócito auto-reagente, porém não há o co-estímulo e não há ativação dessa células anergia. - Apoptose. - Supressão por células T reguladoras. Tolerância Imunológica dos Linfócitos T Tolerância Periférica Anergia por 2 mecanismos: 1 - Não há sinal do co-estimulador; - Bloqueio da sinalização; - Célula T não responsiva. 2 - APC expressa níveis mínimos de co-estimulador; - Célula T expressa um receptor inibitório; - Receptores inibem os co- estimuladores. Tolerância Imunológica dos Linfócitos T Tolerância Periférica Supressão por células T reguladoras Tolerância Imunológica dos Linfócitos T Tolerância Periférica Apoptose - LT responde a apresentação de antígeno normais das APCs, pela secreção de interleucina-2 (IL-2), expressando proteínas antiapoptóticas e passam por proliferação e diferenciação; - O reconhecimento dos antígenos próprios pelas células T sem coestimulação pode levar à deficiência relativa das proteínas antiapoptóticas intracelulares, e o excesso das proteínas pró- apoptóticas causa morte celular ao induzir liberação dos mediadores da apoptose das mitocôndrias. Tolerância Imunológica dos Linfócitos B Tolerância Central: - Criado e amadurecido na medula óssea; - Célula B imatura que reconhece o antígeno próprio sofre edição de receptor (novo receptor que não reconhece mais o antígeno próprio) podendo ir para os tecidos periféricos; - Apoptose; - Anergia ao reconhecer um antígeno próprio devido a expressão reduzida de co-estimuladores. Tolerância Imunológica dos Linfócitos B Tolerância Periférica: - Se os LB conseguirem escapar da tolerância central, ele sofre tolerância periférica: • Anergia (devido a não estimulação de linfócitos T – necessária para a ativação dos LB); • Deleção por apoptose; • Expressão de receptores inibitórios. Autoimunidade Ocorre quando há uma falha expressiva desses mecanismos de tolerância imunológica; A doença auto imune acontece quando há um dano tecidual ou uma alteração funcional ocasionada por ação do sistema imunológico contra antígenos próprios. Os principais fatores no desenvolvimento da autoimunidade são a herança de genes suscetíveis e os estímulos ambientais, como as infecções. Autoimunidade Suscetibilidade genética: algum fator genético que garante a produção dos linfócitos auto-reagentes, acompanhado de falha nos mecanismos de tolerância. Reação a estímulos ambientais: trauma, infecção ou dano tecidual que funciona como um gatilho para que a doença autoimune se instale os dois fatores juntos dão origem a doença autoimune. * Normalmente os linfócitos auto-reagentes não tem esse segundo sinal que os ativam, mas os fatores ambientes auxiliam nesse processo, por ex: infecções. Autoimunidade Mecanismos pelos quais os microrganismos podem promover a autoimunidade A: O encontro de LT maduros com antígenos próprios apresentados pelas APCs teciduais em repouso resulta na tolerância periférica. B: Os microrganismos podem ativar as APCs para expressar coestimuladores, e quando essas APCs apresentam autoantígenos, as células T específicas são ativadas em vez de se tornarem tolerantes. C: Alguns antígenos microbianos podem reagir de maneira cruzada com os autoantígenos, pois são parecidos com antígenos próprios (mimetismo). No entanto, a resposta imune iniciada pelo microrganismo pode passar a ser direcionada às células e aos tecidos próprios. Autoimunidade Fatores genéticos O risco hereditário para a maioria das doenças autoimunes é atribuído aos múltiplos alelos genéticos, dos quais a maior contribuição é feita pelos genes do MHC (alelos HLA). Apesar da associação clara dos alelos do MHC a diversas doenças autoimunes, o papel desses alelos no desenvolvimento das doenças permanece desconhecido, existem hipóteses: - Os alelos do MHC podem contribuir para o desenvolvimento da autoimunidade, pois eles são necessários para apresentar os peptídeos próprios patogênicos para as células T autorreativas; - Os alelos do MHC são ineficientes na apresentação de antígenos próprios no timo, levando à seleção negativa defeituosa das células T; - Os peptídeos antigênicos apresentados por esses alelos do MHC podem falhar em estimular as células T reguladoras. * HLA: antígeno de leucócito humano Autoimunidade Fatores genéticos Os polimorfismos nos genes não HLA também são associados a diversas doenças autoimunes e podem contribuir com a falha de autotolerância ou ativação anormal dos linfócitos. EM: Esclerose múltipla; AR: artrite reumatoide; LES: lúpus eritematoso sistêmico. Alguns distúrbios autoimunes raros têm origem mendeliana, são provocados por mutações nos genes únicos que têm alta penetração e levam à autoimunidade na maioria ou em todos os indivíduos que herdam essas mutações. Autoimunidade Fatores genéticos Autoimunidade Respostas que tendem a ser crônicas, pois: - O antígeno próprio está presente em grande quantidade; - A lesão tecidual causa a liberação de mais antígenos próprios, gerando uma reação em cadeia. As doenças autoimunes podem ser: - Órgão específicas: combate a antígenos próprios específicos de um determinado órgão; - Sistêmicas: combate a antígenos próprios em diversos tecidos. Doenças autoimunes Autoimunidade Tireoidite de Hashimoto:Doenças autoimunes - LB auto-reagente produzem auto-anticorpos ou LT auto- reagentes que reconhecem as células da tireoide reação inflamatória local levando a morte da células e a não produção hormonal hipotireoidismo. - LB produzem auto- anticorpos que se ligam ao receptores de TSH nas células da tireoide ativando-os mesmo sem o seu ligante ativação da produção de hormônios hipertireoidismo. Autoimunidade Doenças autoimunes Artrite reumatoide: - Inflamação crônica das articulações sinoviais com destruição progressiva de estruturas cartilaginosas e ósseas. - Linfócitos B auto-reagentes das membranas sinoviais produzem Acs (IgM) contra a porção Fc da IgG produzidas contra infecções ou respostas inflamatórias. - Possíveis causas: • Fatores hormonais (mulheres entre 35 a 50 anos); • Agentes infecciosos como Mycoplasma, Vírus da Rubéola, CMV, Herpes, Parvovírus B19, EBV e Mycobacterium tuberculosis; • Presença de MHC-II: HLA-DR4 e HLA DR1. Autoimunidade Artrite reumatoide: Diagnóstico Imunológico: - Determinação do fator reumatoide; - Fator reumatoide é o auto-anticorpo contra a porção Fc da IgG. - O fator reumatóide e a IgG se unem e formam complexos imunes que contribuem para a progressão da doença. - Não é um marcador específico, pode aumentar em outras condições patológicas ou até mesmo em pessoas sadias acima de 60 anos de idade. - Deve-se associar o resultado do exame em pacientes com queixa de dor articular de risco para Artrite Reumatoide. Autoimunidade Doenças autoimunes Lupus Eritematoso Sistêmico: - Possíveis causas: • Fatores genéticos (HLA DR3, deficiência de C2 e C4); • Fatores hormonais (razão mulher/homem =10:1 entre 20 e 60 anos); • Fatores ambientais (exposição a Uv-B e medicamentos como procainamida, hidralazina, clorpromazina, isoniazinas, practolol e metildopa). - Anticorpos auto-reativos contra constituintes nucleares: DNA, ribonucleoproteínas, histonas e antígenos de nucléolos; - Imune-complexos se depositam nos glomérulos renais, articulações, pele e vasos sanguíneos. Autoimunidade Lupus Eritematoso Sistêmico: Diagnóstico Imunológico: - Determinação de auto-anticorpos: • Anticorpos anti-núcleo (FAN): Positiva na maioria dos pacientes com LES; • Anticorpos anti-SM (contra proteínas ligadas ao RNA): Positivo somente em pacientes com LES (porém está presente em apenas aproximadamente 10% dos casos); • Anticorpos anti-DNA de dupla hélice: Concentrações altas características de LES; • Anti-SSA e anti-SSB (contra proteínas nucleares e citoplasmáticas): Podem estar positivos. Deve-se associar esses marcadores com as manifestações clínicas do paciente. Outros exemplos: - Anemia Hemolítica: Anticorpos que se ligam a hemácias, lisando-as. - Diabetes tipo I: Linfócitos auto-reagentes que atacam as células beta pancreáticas. - Miastenia Gravis: auto-anticorpos que bloqueiam o receptor de acetilcolina. Autoimunidade Doenças autoimunes Imunodeficiências Primárias e Secundárias Imunodeficiências Os distúrbios causados pela deficiência imunológica são chamados de imunodeficiência. Imunodeficiências congênitas (ou primárias): podem resultar de anormalidades genéticas em um ou mais componentes do sistema imunológico; Imunodeficiências adquiridas (ou secundárias): podem resultar de infecções, anormalidades nutricionais ou tratamentos que causam perda ou função inadequada de vários componentes do sistema imunológico. Falhas no desenvolvimento e nas funções do sistema imunológico resultam em suscetibilidade aumentada a infecções recém adquiridas, reativação de infecções latentes, como citomegalovírus, vírus Epstein-Barr e tuberculose, em que a resposta imune normal mantém a infecção sob controle, mas não a erradica; e aumento da incidência de certas neoplasias. Imunodeficiências congênitas (Primárias) São causadas por defeitos genéticos que levam ao bloqueio da maturação ou função dos diferentes componentes do sistema imunológico. As imunodeficiências congênitas compartilham diversas características, e as características mais comuns são as complicações infecciosas. Entretanto, diferentes imunodeficiências congênitas podem diferir consideravelmente nas manifestações clínicas e patológicas. Alguns desses distúrbios resultam em suscetibilidade muito aumentada a infecções que podem-se manifestar logo após o nascimento e podem ser fatais, a não ser que os defeitos imunológicos sejam corrigidos. Outras imunodeficiências congênitas levam a infecções leves e podem ser detectadas pela primeira vez na vida adulta. Imunodeficiências congênitas (Primárias) Imunodeficiências congênitas (Primárias) Defeitos na Maturação dos Linfócitos Muitas imunodeficiências congênitas são o resultado de anormalidades genéticas que causam bloqueios na maturação dos linfócitos B, linfócitos T ou ambos. Os distúrbios que se manifestam como defeitos em ambos os ramos de células T e B do sistema imunológico adquirido são classificados como imunodeficiência combinada grave (SCID). ADA: Adenosina desaminase; Ig: imunoglobulina; PNP: purina nucleosídeo fosforilase. Imunodeficiências congênitas (Primárias) Defeitos na Maturação dos Linfócitos Imunodeficiências congênitas (Primárias) Defeitos na Ativação e na Função dos Linfócitos Doenças em que linfócitos amadurecem normalmente, mas as funções de ativação e execução das células são defeituosas. AID: enzima desaminase induzida por ativação Imunodeficiências congênitas (Primárias) Defeitos na Ativação e na Função dos Linfócitos Imunodeficiências congênitas (Primárias) Defeitos na Imunidade Inata Anormalidades em dois componentes da imunidade inata, fagócitos e sistema do complemento, são causas importantes de imunodeficiência. Imunodeficiências Adquiridas (Secundárias) Deficiências no sistema imunológico que se desenvolvem por causa de anormalidades que não são genéticas, mas adquiridas durante a vida. A mais importante dessas anormalidades é a infecção pelo HIV. SÍNDROME DE IMUNODEFICIÊNCIA ADQUIRIDA (AIDS) A AIDS é causada por infecção pelo HIV. Estima-se que existam 34 milhões de pessoas infectadas em todo o mundo e, dentre elas, cerca de 70% estão na África e 20% na Ásia. Mais de 30 milhões de mortes são atribuíveis ao HIV/AIDS, com cerca de 2 milhões de mortes anualmente. Fármacos antirretrovirais eficazes foram desenvolvidos, mas a infecção continua a se disseminar em partes do mundo onde essas terapias não estão amplamente disponíveis, e em alguns países africanos, mais de 30% da população têm infecção por HIV. SÍNDROME DE IMUNODEFICIÊNCIA ADQUIRIDA (AIDS) Vírus da Imunodeficiência Humana Ciclo de vida do HIV: - O HIV infecta as células com a principal glicoproteína do envelope, chamada gp120, que se liga ao CD4 e receptores de quimiocinas particulares nas células humanas (linfócitos T CD4+ , macrófagos e células dendríticas). - Após se ligar a receptores celulares, a membrana viral se funde com a membrana celular do hospedeiro e o vírus entra no citoplasma celular. - No citoplasma, o vírus é descoberto pela protease viral e o seu RNA é liberado Uma cópia de DNA do RNA viral é sintetizada e o DNA se integra ao DNA da célula hospedeira - O DNA viral integrado é chamado pró-vírus. O vírus da imunodeficiência humana é um retrovírus que infecta células do sistema imunológico, principalmente linfócitos T CD4+ , e causa destruição progressiva dessas células. SÍNDROME DE IMUNODEFICIÊNCIA ADQUIRIDA (AIDS) Vírus da Imunodeficiência Humana Ciclo de vida do HIV: - Caso a célula T infectada, macrófago ou célula dendrítica seja ativado por algum estímulo extrínseco, como outro agente infeccioso, a célula responde ativando a transcrição de muitos genes próprios e frequentemente pela produção de citocinas. - Uma consequência negativa dessa resposta protetora normal é que as citocinas e o próprio processo de ativação celular também podem ativaro pró-vírus, levando à produção de RNA virais e proteínas O vírus é, então, capaz de formar uma estrutura central, que migra para a membrana celular, adquire um envelope lipídico do hospedeiro e é liberado como uma partícula infecciosa viral, pronta para infectar outra célula. O pró-vírus HIV integrado pode permanecer latente no interior das células infectadas por meses ou anos, escondido do sistema imunológico do paciente. SÍNDROME DE IMUNODEFICIÊNCIA ADQUIRIDA (AIDS) Patogênese da AIDS A AIDS se desenvolve ao longo de muitos anos à medida que o HIV latente torna-se ativado e destrói células do sistema imunológico. Após a infecção pode existir uma viremia aguda e breve, quando o vírus é detectado no sangue, o que suscita uma resposta do hospedeiro como em qualquer infecção viral leve. A depleção de células T CD4+ após a infecção pelo HIV é causada por um efeito citopático do vírus, resultando na produção de partículas virais nas células infectadas e na morte das células não infectadas. Outras células infectadas, como células dendríticas e macrófagos, também podem morrer, resultando em destruição da arquitetura dos órgãos linfoides. A infecção pelo HIV é adquirida por relação sexual, agulhas contaminadas usadas por usuários de drogas intravenosas, transferência transplacentária ou transfusão de sangue ou produtos sanguíneos infectados. SÍNDROME DE IMUNODEFICIÊNCIA ADQUIRIDA (AIDS) Transmissão Características Clínicas Logo após a infecção pelo HIV, os pacientes podem experimentar uma doença leve e aguda com febre e mal-estar, correlacionados com a viremia inicial. Essa doença regride em poucos dias e entra em um período de latência clínica. Durante essa latência, geralmente há uma perda progressiva de células T CD4+ nos tecidos linfoides e destruição da arquitetura desses tecidos consequentemente, a contagem sanguínea de células T CD4+ começa a declinar, e quando a contagem cai abaixo de 200 por mm3 (o normal é de cerca de 1.500 células por mm3 ), os pacientes tornam-se suscetíveis a infecções e são diagnosticados com AIDS. SÍNDROME DE IMUNODEFICIÊNCIA ADQUIRIDA (AIDS) Tratamento O tratamento atual da AIDS visa: - Controlar a replicação do HIV; - Controlar as complicações infecciosas da doença. Combinações de fármacos que bloqueiam a atividade das enzimas virais estão agora sendo administradas precocemente no curso da infecção, com benefícios consideráveis. Esse tratamento, chamado de terapia antirretroviral de alta atividade. O vírus é capaz de mutações que podem torná-lo resistente a esses fármacos, e os reservatórios latentes do vírus não são erradicados. O desenvolvimento de vacinas eficazes serão provavelmente um componente importante da estratégia para o controle da infecção por HIV ao redor do mundo.
Compartilhar