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Esquistossomose A esquistossomose é uma doença parasitária, de evolução crônica, causada pelo Schistosoma mansoni, platelminto pertencente a classe dos Trematoda. Ciclo biológico O homem, hospedeiro definitivo, apresenta a forma adulta do helminto, que se reproduz sexuadamente e possibilita a eliminação de ovos no ambiente através das fezes. No momento em que ocorre a contaminação das coleções hídricas de água doce por essas fezes contendo ovos do Schistosoma mansoni, os ovos eclodem e liberam larvas (miracídio) que infectam os caramujos gastrópodes do gênero Biomphalaria, possibilitando a reprodução assexuada do helminto. Essas larvas abandonam os caramujos sob a forma de cercarias, forma responsável pela infecção do homem. Assim, o homem adquire a esquistossomose por meio da penetração ativa da cercaria na pele, seja pelo tegumento, seja pela ingestão de água contaminada com cercaria. Após a infecção, as cercarias se desenvolvem em esquistossomos, que iniciam o processo de migração, via circulação sanguínea e linfática, até atingir o coração e, em seguida, os pulmões. Posteriormente os esquistossomos alcançam o fígado, onde evoluem para as formas adultas. Nos vasos portais mesentéricos (veia mesentérica), ocorre a sobreposição da fêmea no canal ginecóforo do macho e, consequentemente, a cópula, seguida de oviposição. Assim, esses ovos são eliminados pelas fezes reiniciando o ciclo do helminto. OBS: embora passe pelo pulmão, o parasita não depende disso para seu desenvolvimento e, por isso, o helminto não faz Ciclo de Loss. É importante ressaltar que a maioria dos ovos são eliminados na veia mesentérica inferior, penetram o intestino e são eliminados pelas fezes. No entanto, alguns ovos podem escapar da veia mesentérica, alcançar a circulação sistêmica e se alojar no fígado, onde formam granulomas não caseosos e podem provocar hipertensão portal. Manifestações clínicas As manifestações clínicas correspondem ao estágio de desenvolvimento do parasito no hospedeiro, sendo que a maioria das pessoas infectadas podem permanecer assintomáticas. Clinicamente, a esquistossomose pode ser classificada em fase inicial e tardia. Fase inicial A fase inicial corresponde a penetração ativa das cercarias, sendo que a maioria dos pacientes não manifestam sintomatologia. No entanto, os casos sintomáticos são marcados por manifestações alérgicas dermatológicas. Sendo assim, após a infecção ocorrem manifestações pruriginosas na pele, semelhantes a picadas de inseto e eczema de contato, que podem durar até 5 dias após a infecção, conhecidas como dermatite cercariana. A febre de Katayama pode ocorrer após 3 a 7 semanas de exposição. É caracterizada por alterações gerais que compreendem: linfodenopatia, febre, cefaleia, anorexia, dor abdominal e, com menor frequência, o paciente pode referir diarreia, náuseas, vômitos e tosse seca. Ao exame físico, pode ser encontrada hepatoesplenomegalia. O achado laboratorial de leucocitose com eosinofilia elevada é bastante sugestivo, quando associado a dados epidemiológicos. Fase tardia A fase tardia se inicia a partir dos 6 meses após a infecção, podendo durar por vários anos. Podem surgir os sinais de progressão da doença para diversos órgãos, chegando a atingir graus extremos de severidade, como hipertensão pulmonar e portal, ascite, ruptura de varizes do esôfago. As manifestações clínicas variam de acordo com a localização e intensidade do parasitismo, da capacidade de resposta do indivíduo ou do tratamento instituído. Apresentam-se nas seguintes formas: − Hepatointestinal → caracteriza-se pela presença de diarreias e epigastralgia. − Hepática → apresentação clínica dos pacientes pode ser assintomática ou com sintomas da forma hepatointestinal. − Hepatoesplênica compensada → característica fundamental desta forma é a presença de hipertensão portal, levando à esplenomegalia e ao aparecimento de varizes no esôfago. Os pacientes costumam apresentar sinais e sintomas gerais inespecíficos, como dores abdominais atípicas, alterações das funções intestinais e sensação de peso ou desconforto no hipocôndrio esquerdo, devido ao crescimento do baço − Hepatoesplênica descompensada → Caracteriza-se por diminuição acentuada do estado funcional do fígado. Essa descompensação relaciona-se à ação de vários fatores, tais como os surtos de hemorragia digestiva e consequente isquemia hepática e fatores associados (hepatite viral, alcoolismo). Ainda existem outras formas clínicas, como a forma vasculopulmonar e hipertensão pulmonar, verificadas em estágios avançados da doença. Além da neuroesquistossomose caracterizada pela presença de ovos e de granulomas esquistossomóticos no sistema nervoso central. Diagnóstico − Parasitológico de fezes (Hoffman, Pons e Janer) → padrão ouro para o diagnóstico de esquistossomose. − Parasitológico de fezes (Kato-Katz) → possibilita a visualização e contagem dos ovos por grama de fezes, fornecendo um indicador quantitativo que permite avaliar a intensidade da infecção e a eficácia do tratamento. − Biópsia de mucosa retal → apesar de não indicada para utilização na rotina, pode ser útil em casos suspeitos e na presença de exame parasitológico de fezes negativo. − Sorologia/pesquisa de anticorpo → IFI (imunofluorescência indireta com pesquisa de IgM) e o ELISA; − Pesquisa de antígenos; − Métodos moleculares (PCR). OBS: Os exames marados de amarelo são os mais utilizados no contexto do SUS. OBS II: só é possível identificar esquistossomose por meio de parasitológico de fezes cerca de 40 dias após a infecção. No entanto, em caso de suspeita clínica com menos de 40 dias da exposição, deve-se realizar teste sorológico. Resposta imunológica Na etapa inicial do contato — disseminação hematogênica do Schistosoma, após atravessar a pele — a resposta imunológica possui um perfil TH1, o que explica a dermatite cercariana. No entanto, após cerca de 30 a 40 dias, com a maturação da larva em verme adulto, o perfil de resposta imunológica muda: declínio do perfil TH1 e aumento do perfil TH2. Posteriormente, cerca de 40 a 45 dias após a infecção, ocorre a oviposição intensa (copulação macho e fêmea com liberação de cerca de 300 ovos/dia). Essa oviposição intensa vai resultar em um perfil de regulação (resposta regulatória), tendo em vista que a resposta TH2 irá se dirigir ao verme adulto, os ovos levarão a intensificação da resposta TH1, entretanto, com o tempo e estimulação constante, os antígenos dos ovos podem fazer uma modulação com liberação de IL-10 e TGF- beta. Assim, com a exposição crônica, o perfil de resposta TH2 se transforma em um perfil regulatório. OBS: Em área endêmica, os indivíduos já possuem células regulatórias e, por isso, as reações dermatológicas iniciais podem não ser manifestadas. Tratamento O medicamento preconizado é o praziquantel.
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