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Contabilidade e Mercado de Trabalho Aula 7 - Normatização da Contabilidade no Brasil INTRODUÇÃO No Brasil, o processo de normatização da Contabilidade segue padrões internacionais, cuja base é formada pelas Normas Internacionais de Contabilidade – International Financial Reporting Standards (IFRS), emitidas pelo Comitê de Normas Internacionais de Contabilidade – International Accounting Standard Board (IASB). O IASB é constituído de mais de 140 entidades de diferentes países – inclusive o Brasil – e tem como atribuição estudar, preparar e emitir Normas Internacionais de Contabilidade. Com base nas IFRS, o Comitê de Pronunciamento Contábil (CPC) emite os pronunciamentos contábeis, e os órgãos reguladores – tais como o Conselho Federal de Contabilidade (CFC), a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e o Banco Central do Brasil (BACEN) emitem normas em suas respectivas esferas de competência. OBJETIVOS Reconhecer a atuação dos órgãos como agentes normativos/reguladores da Contabilidade. Identi�car os principais aspectos relativos ao funcionamento do sistema CFC/CRCs. INÍCIO DO PROCESSO DE NORMATIZAÇÃO De acordo com Littleton (1953, p. 14 apud ANTUNES, 2012, p. 7): “A Contabilidade é um serviço de informação especial. Ela começou com a necessidade de informações dos proprietários das empresas comerciais. [...] Mas ao longo do tempo expandiu-se num instrumento complexo. [...] Como um mapa de navegação, ela assiste na realização da missão – uma ajuda na medida em que a informação esteja disponível para os navegadores e para todos a quem interessar”. VOCÊ SABE POR QUE A CONTABILIDADE NASCEU SEM REGULAMENTAÇÃO? Com o objetivo de permitir que os proprietários controlassem o patrimônio de suas empresas. Nesse contexto interno de cada organização, os relatórios utilizados não afetavam a terceiros e, portanto, não estavam sujeitos à legislação, sendo in�uenciados apenas pela cultura organizacional, pelas ideias dos gestores e dos proprietários. MAS O MUNDO DOS NEGÓCIOS MUDOU! As transações e as con�gurações societárias adquiriram diferentes formas, algumas das quais com certo nível de complexidade, envolvendo, muitas vezes, organizações com unidades e em diferentes países e variados interesses, em um processo de globalização. GLOBALIZAÇÃO E NORMATIZAÇÃO DA CONTABILIDADE A globalização é um processo de integração econômica, social, cultural e política, que tem como objetivo diminuir as barreiras existentes entre os países. Dentro desse contexto, a Contabilidade assumiu uma posição fundamental por tratar dos elementos capazes de promover o entendimento comum das informações de natureza �nanceira, econômica e patrimonial, colocando-se como uma espécie de “linguagem universal dos negócios”. Para tanto, fez-se necessário estabelecer um padrão internacional de Contabilidade, cuja tendência de adoção tem sido observada por parte da maioria dos países, inclusive o Brasil. Desde 2008, após a edição da a Lei nº 11.638/2007, o processo de alinhamento das Normas Brasileiras de Contabilidade (NBCs) com as internacionais tem sido efetuado gradativamente, provocando signi�cativas mudanças nas práticas contábeis adotadas pelas empresas brasileiras. RELATÓRIOS CONTÁBEIS E NORMAS DE CONTABILIDADE Com que objetivo os relatórios contábeis são divulgados? Com o objetivo de atender a muitos interessados que os utilizam para tomar decisões. Isso torna indispensável o estabelecimento de mecanismos que assegurem a �dedignidade, a compreensibilidade e a comparabilidade das informações contábeis, de forma que seja possível a análise por parte dos usuários, principalmente os externos à empresa geradora da informação. Por constituírem o principal meio através do qual se materializa a divulgação das informações econômico-�nanceiras das empresas, as demonstrações contábeis vieram ao proscênio (glossário) e se tornaram o eixo central em torno do qual se desenvolveu o processo de construção do arcabouço normativo da Contabilidade. Em decorrência da necessidade de estabelecer mecanismos que garantissem a qualidade das informações contábeis, teve início o processo de normatização da Contabilidade. ÓRGÃO REGULADORES DA CONTABILIDADE BRASILEIRA “Muitos países são regidos pela �gura [...] do direito da normatização extensiva e detalhada sobre todos os direitos e todas as obrigações, da exigência do cumprimento de tudo que estiver escrito da forma como está escrito, onde a presença do ato jurídico ou de qualquer instrumento nele alicerçado é fundamental [...]. Nesse grupo estamos nós, brasileiros, os latinos, os germânicos e alguns outros povos [...]. Nesses povos, [...] o processo de normatização contábil nasceu com a característica de ser ‘de cima para baixo’. Toda a normatização é derivada do alto dos poderes executivo e/ou legislativo e por eles realizada detalhadamente. Leis determinam como se dá o processo de normatização, e leis dão as normas contábeis propriamente ditas ou determinam quais órgãos governamentais têm o poder para tanto. [...] Por isso, temos, por exemplo, no Brasil, a Contabilidade normatizada pela Lei 6.404/76 [...], pelo Código Civil [...], pela Lei dando poderes ao Banco Central para emissão das regras contábeis especí�cas das instituições �nanceiras e pela Lei fazendo o mesmo para a CVM em termos das companhias abertas e alguns outros exemplos. E a �loso�a de que o Estado é quem normatiza tem até levado alguns órgãos reguladores federais a emitirem normas contábeis até mesmo sem autorização legal para tanto, quase que ‘por embalo’, no vácuo desse pensamento [...].” (MARTINS E.; MARTINS, V. A.; MARTINS, E. A., 2007, p. 8) Como podemos depreender desse fragmento, a emissão de normas contábeis por diferentes órgãos públicos, gerou um arcabouço normativo confuso e desarmônico, que criou di�culdades para as entidades sujeitas à normatização contábil. Promover uma harmonização que atenda às diferentes necessidades normativas, requer que todas as entidades envolvidas participem do processo de elaboração das normas. Com o objetivo de organizar o processo de elaboração das normas contábeis brasileiras que, com forte apoio governamental, em 2005, o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) criou o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC). Seu objetivo inclui: “[...] o estudo, o preparo e a emissão de Pronunciamentos Técnicos sobre procedimentos de Contabilidade e a divulgação de informações dessa natureza, para permitir a emissão de normas pela entidade reguladora brasileira, visando à centralização e uniformização do seu processo de produção, levando sempre em conta a convergência da Contabilidade Brasileira aos padrões internacionais”. Outra motivação para criação do CPC foi a necessidade de reduzir os elevados custos decorrentes da ausência de um padrão contábil que impede que as organizações tenham um entendimento harmônico das informações, econômicas, �nanceiras e patrimoniais entre as suas próprias unidades – as quais, muitas vezes, estão sediadas em diferentes países e, portanto, sujeitas a diferentes padrões normativos. Nesse contexto, o CPC passou e exercer papel fundamental no processo de normatização da contabilidade brasileira, atuando como representante dos interesses de diversas entidades para as quais as normas contábeis são fundamentais. Você sabia que o CPC não pode emitir normas? Isso porque a Constituição Brasileira impede que entidades públicas deleguem para terceiros atribuições que lhes foram dadas por lei. Dessa forma, a solução de contorno encontrada para legitimar as normas contábeis foi inserir formalmente os pronunciamentos do CPC no �uxo de elaboração das NBCs, e requerer que sejam avalizadas (glossário) por todas as entidades envolvidas. O CPC é integrado pelos seguintes membros: Além dessas seis entidades, participam do CPC como convidadas: No Brasil, o CFC é o principal órgão regulador da Contabilidade. Adicionalmente, a CVM e o BACEN (glossário) também emitem normas contábeis aplicáveis às entidades abrangidas por seus respectivos escoposde atividades. Outra entidade que tem expressiva atuação no processo de normatização contábil é o IBRACON (glossário). Isso pode ser con�rmado pelo reconhecimento à época das normas emitidas pelo IBRACON pelos reguladores da pro�ssão e do mercado. Saiba Mais , O IBRACON tem um envolvimento relevante no processo de adoção dos padrões internacionais de Contabilidade e de auditoria, interagindo com a IFRS Foundation, por meio do IASB, e com a Federação Internacional dos Contadores (IFAC), respectivamente., , Além disso, o IBRACON participa ativamente do CPC na elaboração de seus pronunciamentos, visando à adoção das IFRS, bem como desenvolve com o CFC o processo de tradução e revisão das normas internacionais de auditoria para adoção no ambiente brasileiro. NORMATIZAÇÃO NA ÁREA PÚBLICA Como funciona o processo de normatização da contabilidade no setor público brasileiro? Ele é conduzido pela Secretaria do Tesouro Nacional (STN). A STN edita, em harmonia com as normas emitas pelo CFC e de forma convergentes com padrões internacionais, normas, manuais e instruções de procedimentos contábeis para aplicação pelas entidades do Setor Público Federal. Saiba Mais , A STN edita, também, o Plano de Contas Aplicado ao Setor Público, de uso obrigatório pela União, pelos Estados, pelos Municípios e pelo Distrito Federal. SISTEMA CFC/CRCS O CFC e os Conselhos Regionais de Contabilidade (CRCs) foram criados através do Decreto-Lei nº 9.295/1946 (glossário), que, ao longo do tempo, sofreu diversas alterações, promovidas pelas seguintes leis: É POSSÍVEL QUE VOCÊ ESTEJA SE PERGUNTANDO: QUAL A FUNÇÃO DOS CONSELHOS DE CONTABILIDADE? Os Conselhos de Contabilidade são entidades que têm como função �scalizar o exercício pro�ssional e estabelecer normas e princípios a serem seguidos por todos os pro�ssionais da Contabilidade. Há certa controvérsia quanto a de�nição da natureza jurídica das entidades de �scalização pro�ssional: Se, por um lado, os Tribunais Superiores entendem que tais entidades têm natureza autárquica, por outro, alguns magistrados caracterizam-nas como Pessoas Jurídicas de Direito privado, sem observar que o artigo 58 (ressalvado o parágrafo 3º) da Lei nº 9.649/1998 foi considerado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Saiba Mais , Antes de continuar seus estudos, clique aqui (galeria/aula7/docs/a07_01.pdf) para saber mais sobre o CFC e suas competências. PROCESSO DE ELABORAÇÃO DAS NBCS A estrutura das NBC é tratada pela Resolução CFC nº 1.328/2011, que estabelece que tais Normas, editadas pelo CFC, devem seguir os mesmos padrões de elaboração e estilo utilizados nas normas internacionais, e compreendem as Normas propriamente ditas, as Interpretações Técnicas e os Comunicados Técnicos. As IFRS são traduzidas, analisadas e validadas pelo CPC, e, depois, formalmente aprovadas pelo CFC, transformando- se em NBCs. Outros órgãos reguladores (CVM, SUSEP, BACEN etc.) também podem aprová-las para adoção por suas respectivas entidades supervisionadas. https://stecine.azureedge.net/webaula/estacio/cmtcc9/galeria/aula7/docs/a07_01.pdf Saiba Mais , Para entender melhor o assunto, acesse o Organograma do CFC (//cfc.org.br/wp-content/uploads/2016/03/organo2016_�nal_4- 3.pdf). ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DA CVM – ASPECTOS CONTÁBEIS A CVM foi criada pela Lei nº 6.385/1976, com o objetivo de �scalizar, normatizar, disciplinar e desenvolver o mercado de valores mobiliários no Brasil. A CVM é uma autarquia em regime especial, vinculada ao Ministério da Fazenda, com personalidade jurídica e patrimônio próprios, dotada de: A CVM mantém convênio com o CFC, com o objetivo de promover intercâmbio de informações sobre os pro�ssionais da Contabilidade, especialmente os Auditores Independentes. https://cfc.org.br/wp-content/uploads/2016/03/organo2016_final_4-3.pdf Na estrutura organizacional da CVM, encontramos a Superintendência de Normas Contábeis e de Auditoria, que tem como atribuições: Estabelecer normas e padrões de Contabilidade a serem observados pelas companhias abertas, fundos e instrumentos de investimento coletivo e outros emissores; Credenciar e �scalizar a atividade dos auditores independentes, Pessoas Físicas e Jurídicas, e propor normas e procedimentos de auditoria a serem observados no âmbito do mercado de valores mobiliários; Elaborar pareceres sobre assuntos contábeis e de auditoria, no âmbito do mercado de valores mobiliários. Subordinadas à Superintendência de Normas Contábeis e de Auditoria, encontramos duas gerências: Gerência de Normas de Auditoria (GNA); Gerência de Normas Contábeis (GNC). ATIVIDADE 1. A globalização é um processo de integração econômica, social, cultural e política, que tem como objetivo diminuir as barreiras existentes entre os países. Dentro desse contexto, a Contabilidade assumiu uma posição fundamental, porque: a) Trata dos elementos capazes de promover o entendimento comum das informações de natureza �nanceira, econômica e patrimonial. b) Exige que as unidades organizacionais de uma empresa, independente do país em que esteja sediada, emitam todas as demonstrações contábeis. c) É pautada por princípios e postulados de aplicação obrigatória e universal no que se refere a informações de natureza �nanceira, econômica e patrimonial. d) Tem o poder normativo ao qual os países têm de se submeter, sob pena de serem julgados por tribunais internacionais. e) É pautada por leis, decretos e normas de aplicação obrigatória e universal. Justi�cativa 2. O CPC passou e exercer papel fundamental no processo de normatização da Contabilidade brasileira, atuando como representante dos interesses de diversas entidades para as quais as normas contábeis são fundamentais. É CORRETO a�rmarmos que o CPC: a) É a principal entidade emissora de normas no Brasil. b) Está subordinado às seis entidades que o integram. c) Emite apenas normas relativas ao exercício da pro�ssão contábil. d) Não pode emitir normas. e) Foi criado pelo CFC e a ele está subordinado. Justi�cativa 3. A emissão de normas contábeis por diferentes órgãos públicos gerou um arcabouço normativo confuso e desarmônico, que criou di�culdades para as entidades sujeitas à normatização contábil. Para promover uma harmonização democrática, que atenda às diferentes necessidades normativas, foi criado(a): a) O Conselho Federal de Contabilidade (CFC). b) A Comissão de Valores Mobiliários (CVM). c) A Autoridade Nacional de Regulamentação Contábil (ANRC). d) O Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (IBRACON). e) O Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC). Justi�cativa 4. Considere as seguintes a�rmativas: I. Os Conselhos de Contabilidade são entidades que têm como função �scalizar o exercício pro�ssional, bem como estabelecer normas e princípios a serem seguidos por todos os que atuam na área contábil. II. Compete aos CRCs �scalizar e controlar as atividades �nanceiras, econômicas, administrativas, contábeis e orçamentárias do CFC. III. As IFRS são traduzidas, analisadas e aprovadas pelo CPC e, depois, formalmente aprovadas pelo CFC. Entre os itens anteriores, está(ão) CORRETO(S): a) Apenas I b) I e II c) I e III d) II e III e) I, II e III Justi�cativa 5. No setor público brasileiro, o processo de normatização da Contabilidade é conduzido pelo(a): a) Ministério da Fazenda b) Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão c) Secretaria do Tesouro Nacional d) Secretaria Setorial de Normas Contábeis e) Secretaria de Orçamento Federal Justi�cativa PDF , Antes de encerrar seus estudos, clique aqui (galeria/aula7/docs/a07_02.pdf) para fazer mais uma atividade. Glossário PROSCÊNIO Local em que os fatos ocorrem à vista de todos (sentido �gurado). Parte anterior dos palcos dos teatros junto à ribalta. AVALIZADAS Autorizadas ou apoiadas. CVM E O BACEN: A CVM e o BACEN estabeleceram o ano de 2010 como o início da adoção dos IFRS para as demonstrações �nanceiras consolidadas das entidades sob seu escopo. https://stecine.azureedge.net/webaula/estacio/cmtcc9/galeria/aula7/docs/a07_02.pdfIBRACON De acordo com a própria entidade, foi o IBRACON quem primeiro se ocupou de organizar e estabelecer um arcabouço contábil para o Brasil, ao mesmo tempo em que estabeleceu as primeiras Normas de Auditoria Independente. DECRETO-LEI Nº 9.295/1946 “Art. 1º Ficam criados o Conselho Federal de Contabilidade e os Conselhos Regionais de Contabilidade, de acordo com o que preceitua o presente Decreto-Lei.”