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Princípios gerais da asculta cardíaca na criança e sopros na infância – PED Introdução Uma avaliação clínica sistematizada do sistema cardiovascular é fundamental para se estabelecer um diagnóstico sindrômico de cardiopatia e definir como as doenças cardíacas se manifestam na criança e quais são os princípios básicos necessários para se estabelecer diagnóstico inicial dessa cardiopatia. Uma história clínica e um exame físico bem realizados continuam sendo fundamentais para um diagnóstico adequado. Porém, com o surgimento de novas tecnologias, como a rcocardiografia, há uma tendência em se negligenciar o papel essencial que eles têm na formulação de uma hipótese diagnóstica adequada. História clínica 1. Hístoria gestacional e perinatal • Infecções maternas • Uso de medicações durante a gestação • Doenças maternas 2. Hístoria Pós- Natal • Cianose • ICC • Baixo débito sistêmico Exame Físico cardiovascular • Deve ser completo e realizado de forma sistematizada. A técnica e a sequência dependem da idade do paciente, sendo que o exame físico realizado em um lactente pode não ser realizado na mesma sequência que em um adolescente, mas ambos devem ser completos • Sugere-se iniciar com a aferição dos sinais vitais. Esses danos devem ser analisados e interpretados levando-se em consideração a idade da criança por meio de tabelas específicas. 1. Inspeção geral Analisar: • Aspecto geral • Sind. Genética • Cianose • Estado nutricional • Padrão respiratório 2. Peso e altura Essas informações são importantes, pois vai permitir determinar se a criança apresenta algum grau de comprometimento no crescimento. Várias cardiopatias podem cursar graus variados de desnutrição, como as cardiopatias com hiperfluxo pulmonar e icc (p ex. cardiopatias tipo comunição interventricular). 3. Sinais vitais principais • FC • FR • PA • Oximetria de pulso K Ver PA de acordo com a tabela< 4. Inspeção e palpação precordial A região precordial de uma criança normal geralmente não vai apresentar abaulamentos ou impulsões visíveis ou palpáveis. A presença de um precórdio abaulado e hiperdinâmico é característica de cardiopatias com aumento do volume cardíaco com os defeitos septais (p.ex, CIVD) ou grandes regurgitações valvares (p.ex, Insuficiência mitral). Durante a palpação do precórdio, devem-se definir a posição do ictus e a presença de brulhas palpáveis ou de frêmitos. 5. Ruidos cardíacos • A primeira bulha (B1), um som grave e suave (TUM), está associada ao fechamento das valvas AV; 2. • segunda bulha (B2), um som mais alto (TÁ), está associada ao fechamento das valvas do tronco pulmonar e da aorta (duração menor que B1). - Observação: O som TUM marca o início da sístole, enquanto o som TÁ ocorre no início da diástole. • A B3 ocorre na fase inicial da diástole, quando o fluxo de sangue atrial chega ao ventrículo, esse som é produzido pela vibração das paredes ventriculares devido ao rápido influxo. Pode ser um achado normal em crianças de 2 a 8 anos, mas está presente em cardiopatas com grande dilatação e redução da complacência do ventrículo esquerdo (p.ex., miocardiopatias, cardiopatas com grande shunt esquerda-direita). É um ruído audível, porém de menor intensidade que B1 e B2. Geralmente audível nos focos mitral e tricúspide (borda esternal esquerda baixa). • B4: ocorre na fase final da diástole, quando esse fluxo de sangue se choca com um ventrículo dilatado e com alteração de complacência (P.ex., miocardiopatias). É um ruído sempre patológico. 6. Sopro cardíaco • Sopros cardíacos são ruídos originados de um turbilhamento do fluxo sanguíneo em alguma estrutura cardiovascular. Contudo, este som pode ter uma causa funcional ou estrutural, ser fisiológico ou patológico. • Esse turbulento causa uma vibração nas estruturas intracardíacas e vasculares de intensidade suficiente para ser transmitida e ser audível na parede torácica. Sopro cardíaco patogenia • Aumento da velocidade circulatória • Diminuição da viscosidade sanguínea • Alteração no diâmetro de grandes vasos • Alteração dos anéis valvulares • Comunicação entre cavidades cardíacas ou grandes vasos Quando se detecta sopro cardíaco durante uma consulta de rotina em paciente assintomático, é necessário considerar as seguintes possibilidades 1. sopro inocente 2. existência de uma cardiopatia ainda não diagnosticada 3. doença não cardíaca causando a alteração da asculta Tipos de sopro: • Inocente • Patológico Sopro inocente • O sopro cardíaco inocente é a alteração da ausculta que ocorre na ausência de anormalidade anatômica ou funcional do sistema cardiovascular. É um achado frequente, que ocorre em 50 a 70% das crianças, geralmente em idade escolar. • Os sopros inocentes são mais facilmente audíveis nos estados circulatórios hipercinéticos (febre, anemia); são em geral sistólicos e raramente contínuos; nunca são diastólicos; têm curta duração e baixa intensidade (graus I a III); não se associam a frêmito ou ruídos acessórios (estalidos, cliques); localizam-se em uma área pequena e bem definida, sem irradiação; as bulhas são sempre normais; e associam-se com radiografia de tórax e eletrocardiograma normais. • A origem dos sopros inocentes ainda é controversa. Na maioria das vezes, ela é atribuída a fluxos turbulentos, originados em áreas de estreitamento na saída dos ventrículos esquerdo ou direito, ou em áreas de ramificações de artérias. Esses fluxos turbulentos provavelmente são mais audíveis na criança porque as vias de saída são proporcionalmente mais estreitas e as estruturas cardíacas ficam mais próximas da parede torácica, que é mais delgada em comparação ao adulto. • Tipos de sopros inocentes incluem sopro vibratório de Still, sopro de ejeção pulmonar, sopro de ramos pulmonares, sopro supraclavicular e zumbido venoso. SOPRO PATOLÓGICO • É o sopro causado por uma doença cardíaca. Nas cardiopatias congênitas acianóticas, o sopro tem características muito específicas em cada patologia, permitindo, com frequência, o diagnóstico clínico da doença com base exclusivamente nas características desse ruído. Isso, entretanto, não ocorre com as cardiopatias congênitas cianóticas, nas quais existem várias lesões associadas, com uma patofisiologia complexa, dificultando a determinação da origem do sopro. 1. CARACTERÍSTICAS: • irradiação bem nítida e fixa para outras áreas; • associação com alterações dos ruídos cardíacos: bulhas, cliques e estalidos; • podem vir acompanhados de sintomas sugestivos de cardiopatia; • exames laboratoriais e radiológicos alterados (radiografia, eletrocardiograma, ecocardiograma). Classificação do sopro Localização topográfica Deve-se procurar definir a sua localização no tórax da criança e determinar a área de maior asculta. Essa definição é fundamental para que possa prosseguir com o raciocínio clínico que culminará com o diagnóstico cardiológico. 1. Localização cronológica 1. Sopro Sistólico: acontece durante a sístole ventricular, podendo ser ejetivo (estenose aórtica, estenose pulmonar, CIV) ou regurgitativo (insuficiência mitral, insuficiência tricúspide). Entre a primeira e a segunda bulha. • Sopro sistólico de regurgitação = Ocorre na insuficiência das valvas atrioventriculares (mitral e tricúspide), sendo de intensidade constante, suave e associado a hipofonese de B1. • Sopro sistólico de ejeção = Geralmente com formato em diamante ou crescendo e decrescendo, rude, causado por turbulência na via de saída (estenose de válvula aórtica ou pulmonar) ou nos vasos da base durante a ejecção. 2. Sopro Diastólico: acontece durante a diástole ventricular (insuficiência aórtica, insuficiência pulmonar, estenose mitral, estenose tricuspide). Entre a segunda e a primeira bulha. • Soprodiastólico aspirativo= Ocorre pela regurgitação das valvas semilunares (insuficiência aórtica ou pulmonar) na diástole, iniciando-se logo após B2. • Sopro diastólico em ruflar= É característico da estenose das válvulas atrioventriculares (mitral e tricúspide), sendo granuloso e ocorrendo na protodiástole. 3. Sopro Contínuo: acontece durante todo o ciclo cardíaco. Exemplos clássicos desses sopros são a persistência do canal arterial e as fístulas arteriovenosas em crianças maiores. • Sopros sistodiastólicos (em maquinaria)= São contínuos, em vaivém, ocorrendo, por exemplo, na persistência do canal arterial. • • Protossistólico: ocorre imediatamente antes da primeira bulha do coração (B1), durante a contração atrial. • Mesossistólico: ocorre no meio da sístole ventricular, após a abertura da válvula aórtica e antes do fechamento. • Telessistólico: ocorre no final da sístole ventricular, pouco antes da segunda bulha do coração (B2), quando o sangue está sendo ejetado para a circulação sistêmica ou pulmonar. • Holossistólico: ocorre durante toda a sístole ventricular, do início ao fim. • Diastólico: ocorre durante a fase de relaxamento do coração, entre a segunda bulha (B2) e a primeira bulha (B1). • Telediastólico: Refere-se ao final da diástole, quando os ventrículos estão quase cheios de sangue antes da próxima contração. 2. Intensidade Os sopros cardíacos são caracterizados de acordo com a intensidade em 6 graus, definidos como: 1. Grau I/6 = representa um sopro tão pouco intenso que só pode ser ouvido com muito esforço e concentração; 2. Grau II/6 = sopro de pequena intensidade mas que pode ser identificado rapidamente por um observador experiente; 3. Grau III/6 = sopro alto sem frêmito no foco de maior intensidade; 4. Grau IV/6 = sopro muito alto com frêmito; 5. Grau V/6 = sopro muito intenso, audível com o estetoscópio levemente encostado na pele do paciente; 6. Grau VI/6 = sopro tão intenso que pode ser audível mesmo quando o estetoscópio não está em contato direto com a parede do tórax. A partir dessa noção anatômica e fisiológica, podemos classificar os sopros durante a sístole e a diástole. • Sístole: Insuficiência das valvas atrioventriculatres (mitral ou tricuspide) e Estenose das Valvas Semilunares (pulmonar e aórtica). • Diástole: Insuficiência das valvas semilunares (pulmonar e aórtica) e Estenose das Valvas Atrioventriculares (Mitral e Tricúspide). OBS: Fremito palpável é uma vibração ou pulsação que pode ser sentida através da palpação. Na medicina, é comumente utilizado para descrever a sensação de vibração palpável gerada pela movimentação de fluidos, como o sangue, dentro de um vaso ou órgão CONDUTA EM CRIANÇAS COM SOPRO O paciente pediátrico com sopro cardíaco deve ser encaminhado ao especialista nas seguintes situações: • sopros de intensidade acima do grau III/VI, o que torna pouco provável o sopro inocente; • sopro holossistólico; • presença de frêmito; • neonatos com sopro persistente após as primeiras horas de vida; • crianças com síndromes genéticas ou malformações extracardíacas, devido ao risco aumentado de cardiopatia; • crianças que apresentam sintomatologia associada, como déficit ponderal, infecções pulmonares de repetição e cansaço aos esforços físicos; • presença de precórdio hiperdinâmico, arritmia ou alteração nos pulsos; • alteração na pressão arterial, ou pressão arterial diferente em membros superiores e inferiores; • cianose ou sinais de insuficiência cardíaca; • dúvida diagnóstica. CONSIDERAÇÕES • É necessário considerar as possibilidades de sopro inocente, cardiopatia ainda não diagnosticada e doença não cardíaca causando a alteração da ausculta. • Obter dados elucidativos na história clínica e exame físico que permitam classificar o sopro quanto a sua posição no ciclo cardíaco, definir a característica desse sopro, sua localização nas áreas de ausculta cardíaca e definir a intensidade do sopro. • Identificar as situações em que o paciente deve ser encaminhado ao cardiologista pediátrico. • Uma avaliação clínica sistematizada é fundamental para estabelecer um diagnóstico de cardiopatia cardiovascular sindrômico. • A ausculta cardíaca pode trazer informações importantes para o diagnóstico anatômico e funcional de uma doença cardíaca pediátrica
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