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Vontade, Psicomotricidade, Linguagem e Inteligência

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Saúde Mental João Vitor P. Gama – MED 103 UV 
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VONTADE, PSICOMOTRICIDADE, LINGUAGEM E INTELIGÊNCIA 
 
VONTADE 
Processo psíquico de escolha entre várias possibilidades de ação; atividade consciente de direcionamento 
da ação. Elaboração cognitiva a partir dos impulsos, influenciada por fatores intelectivos e socioculturais 
Processo volitivo 
1. Fase de intenção ou propósito → esboçam-se as tendências básicas do indivíduo, suas inclinações e 
interesses. Muitas vezes impulsos/desejos/temores inconscientes exercem influência mesmo sem o 
indivíduo perceber 
2. Fase de deliberação → ponderação consciente; análise básica do que seria positivo/negativo, 
favorável/desfavorável, benéfico/maléfico 
3. Fase de decisão → instante que demarca o começo da ação, em que os móveis e motivos vencidos 
dão lugar aos vencedores 
4. Fase de execução (pragmatismo, depende da linguagem e da psicomotricidade) → os atos 
psicomotores decorrentes da decisão são postos em funcionamento, a fim de realizar e consumar o 
que foi mentalmente decidido e aprovado 
Alterações patológicas 
• Hipobulia/abulia: diminuição/abolição da volição; “não tem vontade para nada”, sente-se 
desanimado, sem forças, sem energia. Depressão grave 
o Geralmente associada a apatia, fadiga fácil e dificuldade de decisão 
• Hipopragmatismo/apragmatismo 
• Atos impulsivos: são súbitos, incoercíveis e incontroláveis; são um salto da fase de intenção à fase de 
execução. Transtornos de personalidade (borderline), transtornos psicóticos graves. 
o Geralmente associados a incapacidade de tolerância a frustrações 
o Tipos patológicos de impulso 
▪ Autoagressividade e heteroagressividade: é o que mais se vê na prática 
▪ Automutilação: muito comum em borderline, transtornos psicóticos em momentos de 
agitação psicomotora 
▪ Frangofilia: impulso de quebrar objetos e deixar aos pedaços (frangalhos) 
▪ Piromania: tendência em atear fogo às coisas 
▪ Potomania: ingerir água (mas de forma louca, até 40 litros/dia) 
▪ Parafilias: perversão sexual (pedofilia, zoofilia, masoquismo etc.) 
▪ Alotriofagia (PICA): perversão alimentar (come pedra, terra, galho) 
• Atos compulsivos: há a tentativa de resistência ou adiamento do ato; há luta entre compulsão e 
vontade (no ato impulsivo não existe). 
o Há a sensação de alívio ao realizar o ato, mas logo depois retorna o desconforto subjetivo e a 
urgência em realizar novamente. 
o Os atos ocorrem frequentemente associados a ideias obsessivas 
o Tipos patológicos de compulsão 
▪ Abuso de substancias 
▪ Jogo patológico 
▪ Compulsão por compras 
▪ Compulsão alimentar 
Saúde Mental João Vitor P. Gama – MED 103 UV 
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O córtex pré-frontal é o centro executivo do cérebro e está relacionado a identificação, planejamento e 
monitorização das ações. 
• Lesões nos lobos pré-frontais → síndromes frontais, caracterizadas por desinibição, impulsividade, 
reações explosivas, hipobulia, inibição afetiva, empobrecimento da capacidade de julgar 
 
PSICOMOTRICIDADE 
É uma expressão voluntária do psiquismo, sendo a expressão final de alterações da volição (junto com a 
linguagem) 
Alterações patológicas 
• Agitação psicomotora: exaltação de toda a atividade motora; em geral secundárias a taquipsiquismo 
(aceleração de todos os processos mentais) 
o Comumente associa-se a hostilidade e heteroagressividade 
o É um sinal muito frequente e relativamente inespecífico. 
o Quadros maníacos, episódios esquizofrênicos agudos, quadros psicorgânicos agudos 
(intoxicação com substâncias, síndromes de abstinência, TCE, encefalopatias metabólicas 
etc.) e quadros paranoides (pessoas com deficiência intelectual e pessoas com demência) 
• Lentificação psicomotora: toda a movimentação voluntária torna-se lenta, difícil e pesada 
(bradicinesia, hipocinesia); pode haver período de latência entre uma solicitação ambiental e a 
resposta motora 
Estupor: é um sintoma; perda da atividade motora espontânea na vigência de nível de consciência 
preservado e de capacidade sensório-motora para reagir ao ambiente. 
• Pode ser gradual 
Catatonia: é uma síndrome (dentre os sinais e sintomas, está o estupor); pode estar presente em vários 
transtornos mentais, mas também em condições neurológicas e médicas gerais. 
• Transtornos mentais: transtorno afetivo bipolar > esquizofrenia > transtorno depressivo maior 
• Pode se confundir/sobrepor à Síndrome neuroléptica maligna, conferindo risco de morte 
• Caracterizada por: estupor + 3 dos seguintes critérios 
o Mutismo 
o Negativismo: passivo ou ativo 
o Catalepsia (hipertonia) 
o Flexibilidade cerácea: o indivíduo ou parte do corpo é colocado em uma posição e assim 
permanece, como se fosse um boneco de cera 
o Fenômenos em eco: ecolalia, ecopraxia etc. 
o Maneirismo/estereotipias (movimentos sem nenhuma finalidade) 
Alterações psicomotoras associadas ao uso de psicofármacos 
• Pseudo-parkinsonismo: postura curvada, marcha arrastada, rigidez, bradicinesia, tremores em 
repouso, movimento de contar moedas/enrolar comprimidos nas mãos 
• Acatisia: agitação, problema em ficar parado, anda pelo chão, pé em constante movimento (vai e 
volta) 
• Distonia aguda: careta, movimento involuntário dos olhos para cima, espasmo muscular da língua, 
face, pescoço e costas (tronco se curva para a frente), espasmos laríngeos 
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• Discinesia tardia: protrusão e enrolamento da língua, movimento de sucção e estalo dos lábios, 
movimento de mastigação, discinesia facial, movimentos involuntários do corpo e extremidades 
 
 
LINGUAGEM 
Fundamental na elaboração e na expressão do pensamento e emoções 
Alterações patológicas 
• Secundárias a disfunção ou lesão neuronal identificável 
o Afasias 
o Disartrias 
• Associadas a transtornos psicopatológicos 
o Dislexia 
o Afonia 
o Tartamudez (gagueira, disfluência da fala) 
o Logorreia (paciente não para de falar, normalmente há uma pressão de fala): aceleração do 
pensamento, manias 
o Bradifasia (pessoa fala muito pouco/devagar) 
o Ecolalia 
o Mutismo, onde não existe nenhuma lesão identificada (geralmente não há vontade em falar) 
o Coprolalia 
o Neologismos (criar uma palavra nova ou atribuir um significado novo a uma palavra existente) 
 
INTELIGÊNCIA 
Conjunto das habilidades cognitivas, que permitem identificar e resolver problemas novos, reconhecer 
adequadamente as situações cambiantes da vida e encontrar soluções, as mais satisfatórias possíveis, para 
si e para o ambiente, respondendo às exigências de adaptação às demandas do dia a dia 
É um construto da psicologia bastante robusto e consistente. O QI de um adolescente com 15 anos tende a 
ser estável até que se complete 60 anos ou mais 
Pelo menos uma parte importante da inteligência depende de influências genéticas 
• Correlação média da inteligência entre pais e filhos biológicos → em torno de 50% 
• Entre gêmeos idênticos → em torno de 90% 
• Entre pais e filhos adotivos → em torno de 25% 
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 O QI avalia quantitativamente o nível de inteligência. Embora bastante estável, pode mudar com 
intervenções psicopedagógicas adequadas, intensas e precoces, bem como declinar com a idade ou doenças 
Deficiências intelectuais (DI’s): transtornos do neurodesenvolvimento que incluem condições de 
desenvolvimento comportamental e cognitivo deficitárias, surgidas no período de desenvolvimento da 
infância (geralmente antes de ingressar na escola) e que implicam dificuldades na aquisição de funções nas 
áreas intelectuais, sociais e motoras. 
• A média de QI da população é 100, com desvio-padrãode 15. 
• QI inferior a 70 (dois desvios-padrão abaixo da média) é relacionado ao diagnóstico de DI 
• Pessoas com DI devem ter, necessariamente, déficits funcionais em suas vidas 
• Inteligência limítrofe: QI entre 70 e 84 
• DI leve (80%): 50-69 
• DI moderado: QI entre 35 e 49 
• DI grave: 20-34 
• DI profundo: QI < 20 
• Avaliação médica das DI’s 
o Anamnese: dados da gestação, parto, período pós-natal, desenvolvimento neuropsicomotor, 
história familiar (de pelo menos 3 gerações) 
o Avaliação clínica 
▪ Perímetro cefálico 
▪ Altura (baixa pode sugerir síndrome alcoólica fetal, alta pode ser síndrome do X frágil, 
síndrome de Sotos) 
▪ Avaliação neurológica com exame neurológico 
▪ Avaliações oftalmológicas 
▪ Avaliações otorrinolaringológicas 
▪ Avaliação da pele (anormalidades de pigmentação) 
▪ Dismorfismos de face e extremidades, avaliação de malformações internas

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