Buscar

Sensopercepção e Pensamento

Prévia do material em texto

Saúde Mental João Vitor P. Gama – MED 103 UV 
_______________________________________________________________________________________ 
 
SENSOPERCEPÇÃO E PENSAMENTO 
 
SENSOPERCEPÇÃO 
Definição: Sensação + percepção 
• Sensação: fenômeno elementar gerado por estímulos físicos/químicos/biológicos variados, que 
produzem alterações nos órgãos receptores, estimulando-os 
• Percepção: tomada de consciência do estímulo sensorial 
Imagem sensoperceptiva: apresenta nitidez, corporeidade, estabilidade, extrojeção ininfluenciabilidade 
voluntária, completude 
Imagem representativa: evocada pela memória. Tem pouca nitidez, pouca corporeidade, instabilidade, 
introjeção, incompletude 
Alterações patológicas 
• Quantitativa 
o Hiperestesia: uso de substâncias, alucinógenos, quadro maníaco 
o Hipoestesia: quadros depressivos ("o mundo está cinza", é verdade e comum nesses quadros) 
o Anestesia: questões neurológicas 
o Analgesia: drogas, substâncias 
• Qualitativas 
o Ilusões: percepção deformada de um objeto real e presente. Ocorrem em quadros de 
rebaixamento do nível de consciência, fadiga grave, de acordo com o estado afetivo (medo, 
angústia, ansiedade). 
▪ Podem ser visuais ou auditivas. 
o Alucinações: percepção sem objeto. Tem todas as características de uma imagem perceptiva 
real e uma irresistível força de convencimento. 2 a 28% da população sadia tem em algum 
momento da vida uma alucinação, sendo as visuais mais comuns. Podem não ter nada a ver 
com a psicose clínica, mas associadas a ansiedade e depressão; podem também não ter 
qualquer significado clínico, mas significados culturais. 
▪ Visuais: simples (como as fotopsias sem escotomas), complexas (de fato enxergar 
objetos mesmo) ou cenográficas (consegue-se ver uma cena, entra nas complexas). 
▪ Auditivas: as mais importantes para a psiquiatria. Simples (tinnitus, ruídos ou 
zumbidos) ou complexas (audioverbais, as vozes podem ser bem claras ou inteligíveis, 
podendo dirigir-se diretamente ao paciente ou dialogar entre si, referindo-se a ele na 
terceira pessoa; algumas vozes ofendem, criticam e ameaça o paciente, ou lhe dão 
ordens) 
▪ Musicais: a maioria ocorre em contexto de perda auditiva, mas pode ocorrer em 
qualquer quadro psicótico 
▪ Tátil: esquizofrenia, delirium 
▪ Olfativa: epilepsia do lobo temporal, esquizofrenia, precedendo crises epilépticas 
generalizadas, precedendo crises de enxaqueca (auras), em crises parciais complexas 
▪ Gustativa: associadas, muitas vezes, às alucinações olfativas. Uso de brupropiona 
Saúde Mental João Vitor P. Gama – MED 103 UV 
_______________________________________________________________________________________ 
▪ Combinadas: têm um nível de complexidade alto. Ocorrem com maior frequência em 
síndromes com alteração do nível de consciência, mas também na esquizofrenia 
(síndrome de Alice no país das maravilhas) 
▪ Extracampinas: percepção visual sem objeto e que não se está no campo de visão; 
mesmo se existisse a pessoa não conseguiria visualizar (como se o indivíduo visse uma 
imagem nas suas costas). Psicoses, como a esquizofrenia. 
▪ Autoscópica: alucinação visual (também pode ter componentes táteis e cenestésicos) 
em que o indivíduo enxerga a si mesmo contemplando-o. Relativamente mais rara. 
Epilepsia, lesões do lobo parietal, esquizofrenia. 
▪ Hipnagógicas: visuais (86% dos casos), auditivas (8-34%) ou somáticas e cenestésicas 
(25-44%) relacionadas à transição sono-vigília. Ocorrem no momento em que o 
indivíduo está adormecendo. 
▪ Hipnopômpicas: visuais (86% dos casos), auditivas (8-34%) ou somáticas e 
cenestésicas (25-44%) relacionadas à transição sono-vigília. Ocorrem na fase em que 
o indivíduo está despertando. 
▪ Cinestésica: tem a ver com movimento, sentir partes do corpo se movimentando. 
Esquizofrenia. 
▪ Cenestésica: tem a ver com a sensação tátil em relação a órgãos do corpo ("o coração 
derreteu", "o intestino está parado"). Síndrome de Cotard (ocorre nas depressões 
graves), esquizofrenia 
▪ Sinestesia: junção dos sentidos (como sentir gosto do cheiro, ouvir a cor, ver um som) 
o Alucinoses: alucinação, mas em que a pessoa sente como algo estranho a ela (não há toda 
aquela convicção), há um insight 
o Pseudoalucinações: a percepção ocorre no espaço interno e a percepção não é tão nítida (às 
vezes a pessoa diz ouvir vozes, mas que não percebe tão bem; às vezes fica em dúvida se é 
um pensamento próprio etc.). Também pode ter o insight/sensação de que é algo estranho, 
como na alucinose. 
Como avaliar? 
• Indícios de atividade alucinatória 
o Atenção comprometida 
o Mudanças súbitas da posição da cabeça 
o Fisionomia de terror ou perplexidade 
o Proteção dos ouvidos, olhos, narinas ou órgãos genitais 
o Falar sozinho, dar respostas incoerentes, risos imotivados (alucinações auditivas) 
o Olhar fixo em determinada direção, desvios súbitos do olhar, movimentos defensivos (visuais) 
o Recusa sistemática de alimentos (gustativa e olfativas) 
• Perguntas inicias 
o Tem observado coisas que não consegue explicar? 
o Tem ouvido vozes de pessoas estranhas ou desconhecidas? 
o Ouve vozes sem saber de onde vêm? 
o São ruídos, murmúrios ou vozes claras? (importante caracterizar ao máximo) 
• Perguntas posteriores 
o Entende o que dizem as vozes? 
o Elas vêm de perto ou longe? O volume é alto ou baixo? 
o São pessoas conhecidas ou desconhecidas? 
o As vozes vêm de dentro da cabeça ou fora do corpo? 
Saúde Mental João Vitor P. Gama – MED 103 UV 
_______________________________________________________________________________________ 
o Desagradam-lhe as vozes que ouve? 
o O que lhe dizem as vozes? Xingam, insultam ou ameaçam? 
o As vozes falam com você? Comentam algo sobre você? Ordenam /proíbem algo? 
o As vozes são seu próprio pensamento em voz alta? São repetições de seus pensamentos? 
o Acredita que eu também possa ouvi-las? 
o Ouviu as vozes durante a entrevista? 
o As vozes que ouve são reais ou produtos de um transtorno/doença? 
 
PENSAMENTO 
Os elementos do pensamento são divididos em 3 categorias básicas 
• Conceitos: identificam atributos ou qualidades mais gerais e essenciais de um objeto/fenômeno. é 
expresso em uma palavra (exemplo "céu", "pessoa", "azul") 
• Juízos: estabelece uma relação entre 2 ou mais conceitos ("o céu é azul") 
• Raciocínio: operação mental que relaciona juízos, levando à formação de novos juízos ou conclusões 
(“todo homem é mortal”; “Sócrates é um homem”, portanto “Sócrates é mortal”) 
Aspectos do pensamento 
• Curso: velocidade e ritmo do pensamento (quantidade de ideias ao longo do tempo) 
• Forma: estrutura do pensamento, como as ideias se organizam (coerência) 
• Conteúdo: temática do pensamento, qualidades ou características 
Alterações patológicas 
• Quantitativas (relacionadas ao curso) 
o Lentificação 
o Aceleração: quadros maníacos, esquizofrenia, ansiedade 
o Interrupção: bloqueio do pensamento. É patognomônico de pacientes esquizofrênicos. A 
pessoa está falando e para do nada 
• Qualitativas (forma) 
o Fuga de ideias: sempre é secundária à aceleração. Paciente maníaco (começa a falar uma 
coisa, depois fala outra, sempre com relação de assonância, proximidade fonética). Pode ficar 
confuso, mas o paciente tende chegar aonde você quer que ele chegue. Tem coerência 
o Desagregação: falta de coerência, não se entende nada que a pessoa está falando. 
Esquizofrenia, delirium, demência avançada, extrema agitação maníaca. 
o Prolixidade: discurso repleto de detalhes irrelevantes. Minucioso, tangencial e circunstancial 
(só nesse caso a ideia-alvo seria atingida). Comprometimento intelectivo (retardo mental, 
demência), transtorno da personalidade associado a epilepsia do lobo temporal, 
esquizofrenia. 
o Perseveração: ruminação de ideias, não se consegue parar de pensar em algo, dificuldade em 
abandonar determinado tema. Demência, retardo mental, delirium, epilepsia, esquizofrenia. 
• Qualitativas (conteúdo)o Concretismo: não há capacidade de abstração; não se entende metáfora, ironia; a pessoa é 
muito objetiva. Retardo, espectro autista, esquizofrenia, demência. 
o Ideias delirantes → Delírio: a pessoa tem uma convicção exagerada. Delírios são juízos 
patologicamente falsos (não é o conteúdo que o caracteriza, mas sim a justificativa dessa 
crença). 
Saúde Mental João Vitor P. Gama – MED 103 UV 
_______________________________________________________________________________________ 
▪ Erros de julgamento: "a terra é plana". São passíveis de correção pela experiência, 
provas e dados que a realidade oferece. Surgem e persistem por ignorância e/ou 
fanatismo. 
▪ Delírios: convicção extraordinária, imutabilidade pela experiência objetiva, conteúdo 
impossível ("implantaram um chip na minha cabeça"). 
▪ Os principais conteúdos são: persecutórios, depreciativos, de 
poder/riqueza/grandeza/missão, religiosos/místicos, sexuais/de ciúmes, de culpa, 
conteúdos hipocondríacos 
▪ Congruentes com o humor (como paciente maníaco com mania de grandeza) ou 
incongruentes com o humor (o prognóstico é pior) 
o Ideias deliroides → Delírio secundário: origina-se de outras manifestações psíquicas 
patológicas (alterações do humor, da sensopercepção e da consciência). As ideias de culpa na 
depressão, de grandeza na mania, de influência nas alucinações cenestésicas, de perseguição 
no delirium tremens. 
o Ideias sobrevaloradas: ideia errônea por superestimação afetiva; o erro decorre do fato de a 
ideia estar relacionada a uma carga afetiva muito intensa, que influencia o julgamento da 
realidade. A convicção é menor que no delírio (a ideia é mais influenciável). Pode ocorrer em 
pessoas normais, hipocondria, transtorno dismórfico corporal, anorexia nervosa, TOC, 
transtorno da personalidade paranoide. 
Como avaliar? 
• A fala do paciente é o único meio de acesso ao seu paciente. 
• Deve-se deixar o paciente falar livremente durante algum tempo, evitando interrupções.

Continue navegando