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Transtornos de Ansiedade



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Saúde Mental João Vitor P. Gama – MED 103 UV 
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TRANSTORNOS DE ANSIEDADE 
 
Sintomas ansiosos podem estar presentes em pessoas saudáveis, em diversos transtornos psiquiátricos e 
também em doenças clínicas 
• Sintomas psicológicos: antecipação, irritabilidade, sensibilidade sensorial, inquietação, dificuldade 
de concentração, pensamentos de preocupação, insônia, terror noturno 
• Sintomas físicos: hiperestimulação autonômica → boca seca, dificuldade em engolir, desconforto 
epigástricos, constrição no peito, dificuldade em inalar, palpitações, micção frequente/urgente, cólica 
menstrual, tensão muscular, tremor, cefaleia, hiperventilação, tontura, parestesia distal 
• Os transtornos de ansiedade estão entre os mais prevalentes na população geral (em torno de 25%). 
• Em pacientes com ansiedade, 20-45% referem uso abusivo de drogas ao longo da vida 
Transtorno de ansiedade generalizada 
• Todos os sintomas podem ocorrer (psicológicos e físicos), mas há um padrão característico 
o Preocupação e apreensão mais prolongadas que em pessoas saudáveis 
o Preocupações generalizadas e não focadas em algo específico 
o A pessoa sente que as preocupações são de difícil controle 
o Sintomas persistentes e não restritos ou acentuadamente aumentados em determinadas 
circunstâncias 
o Alguns pacientes pedem ajuda com sintomas físicos, sem mencionar espontaneamente os 
sintomas psicológicos 
• Diagnóstico 
o Há uma linha tênue entre ansiedade normal e TAG. TAG tem duração mais extensa. 
o Há diferenças entre os critérios no DSM-V e CID-10 
o No DSM-V e CID-10, os sintomas devem estar presentes por 6 meses 
• Diagnósticos diferenciais: esquizofrenia, transtorno depressivo, abuso de substâncias, síndromes 
demenciais (memória pode ficar prejudicada por falta de concentração), doenças físicas 
(hipertireoidismo, feocromocitoma) 
• Epidemiologia 
o Afeta 6% da população geral e é o mais frequente transtorno de ansiedade na APS 
o Mulheres tem 2x mais que homens e isso está associado a vários índices de desvantagem 
social (menor renda familiar, desemprego), divórcio, separação 
• Etiologia 
o Parece ser causado por estressores em uma personalidade predisposta à ansiedade (por 
combinação de fatores genéticos e influências ambientais na infância) 
o Os mecanismos neurobiológicos são os que mediam a ansiedade normal, a amígdala e o 
hipocampo 
o Eventos adversos podem exacerbar os sintomas 
• Tratamento 
o Abordagem psicoterápica 
o Técnicas de relaxamento e exercícios físicos (durante a manhã ou tarde, pois à noite pode 
gerar insônia) 
o Abordagem farmacológica 
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▪ Benzodiazepínicos: eficazes, mas deve-se pensar em efeitos colaterais e tolerância. 
Geralmente em terapia de resgate (SOS) ou uso contínuo que não ultrapasse 3 
semanas 
▪ Buspirona: igualmente eficaz para curto prazo, mas tem início de ação mais lento e é 
menos provável de causar dependência 
▪ Antagonistas β-adrenérgicos: algumas vezes usados para ansiedade associada a 
estimulação simpática, mas são mais frequentes para ansiedade de desempenho que 
para TAG 
▪ Antidepressivos inibidores da receptação de serotonina (escitalopram, paroxetina, 
sertralina, fluoxetina) ou inibidores da receptação de serotonina e noradrenalina 
(venlafaxina, duloxetina) são 1ª escolha para tratamentos mais prolongados 
▪ Pregabalina (anticonvulsivante) também é indicado no Reino Unido. É bom para o 
idoso. 
• Geralmente, no início do tratamento com inibidor de recaptação de serotonina, 
há uma piora da ansiedade. Por isso, geralmente associa-se uma baixa dose 
inicial de benzodiazepínico, para o paciente não desistir do tratamento. 
▪ Quando os pacientes respondem à medicação, o risco de recaída é substancialmente 
reduzido se o tratamento for mantido por pelo menos 6 meses 
▪ Tratamento psicológico indisponível ou falhou → medicação (geralmente SSRI 
inicialmente) 
o Na APS 
▪ Verificar o diagnóstico, a comorbidade e fatores de manutenção psicossocial. 
▪ Explicar a avaliação e o tratamento proposto, especialmente as origens de quaisquer 
sintomas físicos de ansiedade. 
Transtorno do pânico 
• A característica central é a ocorrência de ataques de pânico 
o Ataques súbitos de ansiedade em que predominam sintomas somáticos e são acompanhados 
de medo de uma consequência médica grave, como ataque cardíaco 
o Período de intenso tremor/desconforto, no qual 4 ou mais dos seguintes sintomas se 
desenvolveram abruptamente e alcançaram um pico em 10 min 
 
• Diagnóstico 
o DSM-5 
▪ (1) Ataques de pânico recorrentes (pelo menos duas vezes) e inesperados (não é em 
resposta a estímulo fóbico) 
▪ (2) pelo menos um ataque foi seguido por 4 ou mais semanas de medo persistente de 
outro ataque de preocupações com suas implicações e/ou alteração desadaptativa 
significativa no comportamento (como evitar exercícios físicos) 
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• Diagnósticos diferenciais: TAG, transtornos fóbicos, IAM 
• Epidemiologia: prevalência de 12 meses de 2,7% (DSM-IV). Prevalência em mulheres de cerca de 2x 
maior 
• Etiologia: há um componente mais genético em relação ao TAG 
• Tratamento 
o Benzodiazepínico: geralmente terapia de resgate (SOS) e caso não tenha nenhum transtorno 
associado 
o Antidepressivos 
o Psicoterapia 
Transtornos fóbicos 
• Têm os mesmos sintomas principais que o TAG, mas que ocorrem apenas em circunstâncias 
específicas 
• A pessoa evita circunstâncias que provocam ansiedade → experimentam ansiedade antecipatória 
quando há perspectiva de encontrar essas circunstâncias 
• CID-10 e DSM-V dividem em fobia específica, fobia social e agorafobia 
• Fobia específica 
o Segundo DSM-V, há 5 tipos gerais 
▪ Animais 
▪ Aspectos do ambiente natural 
▪ Sangue, injeção, cuidados médicos e lesões 
▪ Situações (aviões, elevadores etc.) 
▪ Outros agentes provocadores (medo de asfixia, vômito etc.) 
o Etiologia 
▪ Em um estudo, 31% dos parentes de primeiro grau também apresentavam a fobia 
específica 
▪ Teorias psicanalíticas 
▪ Teorias cognitivas 
▪ Teoria do condicionamento: surgem a partir da aprendizagem por associação 
o Tratamento 
▪ Terapia de exposição 
▪ Benzodiazepínicos 
▪ D-cicloserina + propranolol 
▪ Estudos com MDMA (pode ser feito associado à terapia de exposição, 
potencializando-a) 
• Fobia social: experimentada em situações sociais, em que se sente observada por outros e sente que 
poderia ser criticada 
o Pode ser distinguida da timidez pelos níveis de sofrimento e prejuízo social e ocupacional 
o Diagnósticos diferenciais: timidez, outros transtornos ansiosos, transtorno depressivo, 
esquizofrenia, transtorno dismórfico corporal, transtorno do espectro autista (TEA) 
o Epidemiologia: quase igualmente frequente entre homens e mulheres que procuram 
tratamento, no entanto mais frequentes em mulheres em pesquisas na comunidade. Está 
associada a depressão e alcoolismo 
o Tratamento: psicoterapia e antidepressivos 
• Agorafobia: ansiedade e evitação associados a distância de casa, aglomeração ou confinamento 
o As situações incluem ônibus/trens, lojas/supermercados e lugares que não podem ser 
deixados repentinamente sem chamar atenção, como cadeira do cabeleireiro ou assento na 
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fileira do meio de um teatro/cinema. À medida que a condição progride, o indivíduo evita 
cada vez mais as situações, até que, em casos graves, pode estar absolutamente confinado 
o Às vezes a evasão pode ocorrer sem desenvolver ataques de pânico 
o Diagnóstico 
▪ DSM-V: agorafobia etranstorno do pânico são diagnosticados separadamente 
▪ CID-10: transtorno do pânico está incluído, mas quando há agorafobia concomitante, 
são diagnosticados como sofrendo de agorafobia com transtorno de pânico 
o Tratamento: psicoterapia, benzodiazepínicos, antidepressivos 
Transtorno obsessivo-compulsivo 
• Caracterizado por obsessões e/ou compulsões suficientemente severas para ocupar boa parte do 
tempo do paciente, causando desconforto e comprometimento geral importantes 
• Obsessões: ideias/imagens/palavras/frases/impulsos que invadem a consciência contra a vontade, 
repetitivas e estereotipadas, sentidas como estranhas/inapropriadas, em geral acompanhadas de 
medo catastrófico e podendo ser desencadeadas por estressores. Temas podem ser agressões, 
impulsos sexuais, dúvidas, temores catastróficos etc. 
• Compulsões: comportamentos/atos mentais repetitivos executados em resposta a obsessões ou em 
virtude de regras autoimpostas. Produzem alívio da ansiedade (mesmo que temporário) e 
geralmente não têm conexão realística com o que desejam prevenir 
o Mentais: repetir palavras especiais/frases, rezas, imagens, fazer contagens/repetir números, 
fazer listas, marcar datas 
• Diagnóstico 
 
 
• Etiologia 
o Alta concordância entre gêmeos idênticos (53-87%) 
o Disfunção serotoninérgica 
o Neuroanatomia funcional (hiperatividade do córtex órbito-frontal e núcleo caudado 
o Pós-infecção estreptocócica 
• Tratamento: considerar severidade dos sintomas 
o TOC com sintomas leves 
▪ Iniciar terapia cognitivo-comportamental (TCC); 
▪ Se resposta adequada, manter sessões mensais por 6 meses 
▪ Se resposta parcial, considerar programa intensivo de sessões semanais por 3 
semanas 
▪ Se sem resposta, tratar como TOC com sintomas severos 
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o TOC com sintomas mais severos 
▪ Combinar TCC com fármacos de 1ª escolha, por 10-12 semanas. Em pelo menos 4 
semanas na dose máxima preconizada ou tolerada pelo paciente 
• Clorimipramina 100-300 mg/dia 
• Fluoxetina 20-80 mg/dia 
• Paroxetina 20-80 mg/dia 
• Sertralina 75-225 mg/dia 
• Fluvoxamina 100-300 mg/dia