Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
TRANSTORNOS DE ANSIEDADE Os principais transtornos ansiosos e como abordá-los. V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O INTRODUÇÃO: TRANSTORNOS DE ANSIEDADE DEFINIÇÃO DE ANSIEDADE: Sensação subjetiva, desagradável, uma inquietação interna acompanhada de sintomas físicos e com intrínseca relação com o medo (autoproteção, luta e fuga, esquiva). • Ansiedade é algo normal: Todo mundo vai ter um pouco, é benéfico até certo ponto (como mostra o gráfico abaixo), mas que gera queda no desempenho depois de certo ponto. • Quando a ansiedade deixa de ser normal? Temos que levar em consideração a intensida- de dos sintomas, o tempo e o grau de prejuízo ou sofrimento que aquilo te causa. FISIOPATOLOGIA MODELOS NEUROPSICOLÓGICOS DE ANSIEDADE 1. Sistema de Inibição Comportamental (SIC): Sua ativação desencadeia ansiedade após contato com estímulos ambientais ameaçadores, causando inibição do comportamento motor, hipervigília e preparo para ação física intensa, é o comportamento de aproximação cautelosa. 2. Sistema Cerebral Aversivo (SCA): Responsável pelas manifestações psicológicas e fisiológicas quando submetidos a ameaça interna ou externa como a sensação de medo, vasodilatação, sudorese, taquicardia e taquipneia. É o comportamento de esquiva ativa. *Esses dois sistemas tem ação de diversos circui- tos cerebrais e estruturas importantes, descritas abaixo. ESTRUTURAS RELACIONADAS COM A ANSIEDADE • Amígdala: Tem relação com inúmeras reações relacionadas ao medo e ataques de pânico, serve como “alarme” para um estímulo ameaçador. o Núcleo parabraquial: Ritmo respiratório. o Núcleo lateral do hipotálamo: Ativa o sistema nervoso simpático. o Locus coeruleus: Liberação de epinefrina, aumentando PA, FC e resposta comport. o Núcleo paraventricular do hipotálamo: Liberação de corticoesteroides. o Subs. cinzenta periaquedutal: Comporta- mento de defesa e paralisia postural. • Hipocampo: Armazena as memória experienciais e que podem servir como gatilho para entender que aquilo é uma ameaça. (Ex: O indivíduo vê uma faca e se lembra de uma ameaça com faca que sofreu a um tempo atrás, isso desencadeia ansiedade) • Núcleo-leito da estria terminal (NLET): Ou amígdala estendida, centro de integração das informações e fundamental no estímulo do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, causando estresse, medo de longa duração e comportamento social. V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O *A maioria dessas vias tem um componente serotoninérgico importante! Por isso, o tratamento muitas vezes é voltado ao aumento da serotonina! NÍVEIS DE DEFESA 1. Primeiro nível: Quando há uma ameaça em potencial, tendemos a fazer uma investigação cautelosa e mediado pelo SIC. 2. Segundo nível: O perigo está ali, só que distante, tendemos inicialmente a uma reação de imobilida- de, tensão e congelamento. Esse nível é mediado pela substância cinzenta periaquedutal (n. da rafe). 3. Terceiro nível: É quando o perigo está iminente, isso ativa o nosso SCA, desencadeando um comportamento de luta e fuga. ALTERAÇÕES BIOQUÍMICAS NA ANSIEDADE EPIDEMIOLOGIA • Transtorno psiquiátrico mais prevalente • Até 10% das crianças e adolescentes sofrem • Prevalência: A fobia específica é o transtorno mais prevalente (6-12%), seguido da fobia social (10%), transtorno de pânico (2-5%), ansiedade generaliza- da (3-5%) e agorafobia (2%) • Prevalência ao longo da vida: • Idade: Média de início de 21,3 anos. Média abaixo! • Curso e evolução: QUAIS SÃO OS TRANSTORNOS ANSIOSOS? • Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) • Transtorno do Pânico • Fobia Social • Fobia específica COMPARATIVO GERAL ENTRE OS TRANSTORNOS TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA DEFINIÇÃO: Condição heterogênea, caracterizada pela presença de ansiedade significativa e sintomas somáticos a pelo menos 6 meses. Tem como principal aspecto definidor a dificuldade em controlar preocupações excessivas sobre temas variados. V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O EPIDEMIOLOGIA • Prevalência: Varia de 2 a 6%. • Gênero: Varia na proporção 2 para 1 (mulheres). • Caráter genético: Aumento de 5-6 vezes na prevalência em parentes de 1º grau. ETIOLOGIA → Desconhecida! Multifatorial! • Personalidade: 5 grandes fatores na personalidade do paciente: Neuroticismo, amabilidade, conscien- ciosidade, abertura para experiência e extroversão sendo o neuroticismo o mais relacionado com TAG e depressão (paciente neurótico com tudo). • Processamento cognitivo e função comportamen- tal: Reatividade emocional aumentada e maior sensibilidade ao contraste emocional e um estado de preocupação crônica. • Fatores psicossociais: Atenção seletiva a detalhes negativos no ambiente e uma visão global negativa sobre a capacidade de enfrentar problemas. São dois principais fatores: Estresse crônico moderado e desamparo aprendido. NEUROBIOLOGIA QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO • Ansiedades e peocupações excessivas • Relacionada a diversos eventos e ansiedades • Maioria dos dias, por no mínimo 6 meses: Quadro crônico e intenso! • Difícil controle • Causam prejuízo/sofrimento ao paciente: Como todo transtorno! *Sintomas associados: Inquietação ou sensação de estar com nervos a flor da pele, fatigabilidade, dificuldade concentração, irritabilidade, tensão muscular, alterações de sono. COMORBIDADES PSIQUIÁTRICAS • Transtornos de humor: A depressão é a mais frequente, presente em 54% dos pacientes. 2x mais prevalente na TAG do que na população. • Transtorno disfórico pré-menstrual: Risco aumen- tado, a paciente não melhora dos sintomas na fase folicular, como ocorre na doença isolada. • Transtorno do pânico: 23% dos casos, destes, 34% tem fobia social. • Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC): Risco aumentado em 3,4 vezes! • Abuso de álcool e drogas: Reduz de maneira importante a chance de recuperação (5x). • Suicídio: 54,8% tem risco de suicídio! 4x maior do que a população em geral. *Comorbidades da clínica médica: DPOC, migrânea, epilepsia e doença coronatiana! DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL • Transtorno depressivo maior: O TAG não oscila, nem apresenta anedonia e anorexia. Os pacientes deprimidos tendem a se criticar pelo passado, e o TAG se preocupa com eventos futuros. • Transtorno afetivo bipolar (TAB): As alterações de humor são mais intensas nesses quadros! • Transtorno de pânico: O indivíduo nesse caso se preocupa com a possibilidade de acontecer outros ataques de pânico, e no TAG há uma preocupação generalizada. TRATAMENTO TRATAMENTO FARMACOLÓGICO • Primeira linha: ISRS e IRSN! V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O TRATAMENTO PSICOTERÁPICO • TCC: O psicólogo deve utilizar as etapas específicas de terapia para o TAG. TRANSTORNO DE PÂNICO E AGORAFOBIA DEFINIÇÃO: O transtorno de pânico consiste na presença de crises severas de ansiedade (ataques de pânico), acompanhado de ansiedade antecipatória e prejuízo funcional entre as crises. • Agorafobia: Medo de situações e lugares nos quais possa ser difícil de escapar ou a ajuda possa não estar disponível durante um ataque de pânico. EPIDEMIOLOGIA • Prevalência: Variável! 1,7% até 3,7% em média! • Idade de início: Média de 30,3 anos. E agorafobia sem transtorno de pânico em média 21,1 anos. • Prognóstico: Semelhante aos outros transtornos. ETIOPATOGENIA → MÚLTIPLA! Engloba inúmeros fatores como a genética, biológicos, psicológicose sociais. As principais alterações de neuroimagem são: SUBTIPOS DO TRANSTORNO DO PÂNICO • TP Subtipo respiratório: O paciente acredita que está ficando sem ar, e isso acarreta em um ataque de pânico. • TB Subtipo noturno: O paciente tem uma crise de pânico depois que pega no sono (24-225 min), o fazendo acordar com sudorese, taquicardia, etc. QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO → Antes de tudo, precisamos saber diferenciar ataque de pânico do transtorno de pânico! ATAQUE DE PÂNICO • Ataque abrupto de medo, apreensão ou descon- forto intenso + sintomas somáticos múltiplos • Alcança o pico em 10 minutos: Dura até 30 min só. • 4 ou mais dos sintomas a seguir: o Medo de enlouquecer o Sensação de asfixia o Palpitação, taquicardia o Sudorese o Tremores ou abalos o Desrealização ou despersonalização o Tontura, instabilidade, vertigem o Sensação de falta de ar (sufocamento) o Dor ou desconforto torácico o Náusea ou desconforto abdominal o Calafrios ou ondas de calor o Parestesias o Medo de morrer *Ataques de Pânico podem acontecer no contex- to de outras doenças psiquiátricas/clinicas. TRASNTORNO DE PÂNICO • Ataques de pânico RECORRENTES e IMOTIVADOS • Sem fatores desencadeantes • Prejuízo funcional em diversas áreas • Pelo menos um mês dos sintomas: o Preocupação de ter novos ataques o Comportamento evitativo, mudança desadaptativa por medo de crises: Deixa de ir trabalhar por ter uma crise no trab. o Medo de intenso das consequências das crises: Acha que vai morrer por conta das crises de pânico. V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O AGORAFOBIA • Maioria dos casos associado ao transtorno de pânico: Mas pode estar sozinha, por isso o DSM-5 traz a doença de maneira isolada. • Ansiedade em ficar em lugares que não tem como sair ou que a ajuda não chegue rápido caso ele precise: Envolve diversos lugares (quadro abaixo) • Medo que ocorra situações negativas no lugar CURSO E PROGNÓSTICO • ¼ dos pacientes com TP desenvolve agorafobia • Associação TP + agorafobia = pior prognóstico • Fatores de pior prognóstico: Gênero feminino, tontura severa, fatores cognitivos, presença de ansiedade social e personalidade dependente. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL TRATAMENTO • Tratamento psicoterápico: Como a maioria, a terapia cognitiva comportamental é a melhor! • Tratamento farmacológico: ISRS (1ª linha!), evitar prescrever bupropiona, buspirona ou propranolol! Nas crises, os BZD (lorazepam) são a primeira escolha, via oral, de preferência. o Associar BZD: Considerado caso queira minimizar os efeitos colaterais iniciais. o Duração: Pelo menos 6 meses e fazer desmame nos 3 últimos meses! TRANST. DE ANSIEDADE SOCIAL (FOBIA SOCIAL) DEFINIÇÃO: Medo ou ansiedade acentuados acerca de uma ou mais situações sociais em que o indivíduo é exposto a avaliação do outro: Medo de interações sociais, ser observado e quaisquer situações de desempenho. EPIDEMIOLOGIA • Prevalência: 10-13% (toda a vida) e 8% (anual). • Mais frequente em: Mulheres, na fase de adolescência ou em adultos jovens, principalmente nas sociedades orientais. ETIOPATOGENIA V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO • Duas apresentações: o TAS generalizado: Ansiedade na maior parte das relações interpessoais. o TAS em situações de desempenho: Ansiedade em situações de avaliação de habilidades (competições, apresentações). É o famoso pipoqueiro! • Três principais fatores: Medo de interação social, medo de observação e medo de falar em público. • Crianças: Raiva, imobilidade, encolher-se. • Teme agir de forma vergonhosa/constrangedora • Tem que ser um transtorno: Causar prejuízo, as situações tem que sempre provocar ansiedade. CURSO E PROGNÓSTICO • Início no fim da ingância/adolescência • Propensão à ansiedade, traumas e ideação suicida • Menor índice de remissão: Junto com o TP. TRATAMENTO • Tratamento farmacológico: ISRS (1ª linha) e IRSN, estudos mostram uma eficácia maior da paroxetina e venlafaxina em relação ao demais. Devemos usar em dose antidepressivo por pelo menos 1 ano após a melhora do quadro! o IMAO: Melhor resposta de todas, mas apresentam muitos efeitos colaterais e risco cardiovascular aumentado. o Propanolol: Associado com os ISRS, devem ser tomados 1h antes da apresentação ou evento social e reduzem os sintomas autonômicos. • Tratamento psicoterápico: TCC (como sempre). FOBIAS ESPECÍFICAS DEFINIÇÃO: Medo ou ansiedade intensa acerca de um objeto ou situação, o medo tem que ser irracional, DESPROPORCIONAL e persistente (+6 meses) e que causam sofrimento ou prejuízo significativo, o que caracteriza uma fobia. EPIDEMIOLOGIA • Prevalência: Transtorno de ansiedade mais prevalente (10,6-12,4%) segundo o SP Megacity. o Maior na adolescência: 13-17 anos, 16%. • Mulheres mais afetadas: Proporção 2:1, mas varia conforme o tipo de fobia! QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO • Medo/ansiedade por alguma coisa que não oferece perigo real ao indivíduo: Antecipatório! • Sintomas autonômicos, musculares e cinestésico o Autonômicos: Taquicardia, sudorese, taquipneia, vasoconstrição, midríase. o Musculares: Contraturas, tremores, dores. o Cinestésicos: Parestesias, calafrios. • Tais objetos/situações causam resposta imediata de medo ou ansiedade • Situação/objeto são ativamente evitados ou suportados com intenso sofrimento • Fobias específicas mais comuns: Animais, ambientes naturais, sangue, injeções, ferimentos. TRATAMENTO • Tratamento psicoterápico: Grandes resultados! A TCC é o padrão-ouro. (COMO SEMPRE!) • Tratamento farmacológico: Benefícios sutis e modestos na literatura, pode fazer uso de ISRS e, em situações pontuais agudas, benzodiazepínicos. V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O TRATAMENTO DOS TRANSTORNOS ANSIOSOS (GERALZÃO) PONTOS IMPORTANTES • Não é qualquer ansiedade que consideramos transtorno: Como foi enfatizado, transtorno tem que causar prejuízo na vida do paciente! • Não é qualquer transtorno que precisa de tratamento medicamentoso TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO • Psicoeducação: Acalmar o paciente, oferecer apoio e suporte. • Exercício físico • Boa alimentação: Evitar estimulantes, café, fumo. • Higiene do sono: Fazer esse paciente dormir bem! • Terapias alternativas: Yoga, Mindfulness, Acupuntura. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO • Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina: Primeira escolha! Os principais são a Sertralina, Paroxetina, Escitalopram. • Inibidores Seletivos da Receptação de Serotonina e Noradrenalida (Duais): 2ª opção! Venlafaxina é o nosso principal exemplo.. • Antidepressivos Tricíclicos: Em última instância, quando o paciente está refratário. *USO DE BENZODIAZEPÍNICOS: Evitar em longo prazo! Risco de dependência e muitos efeitos colaterais! Deve ser usado nas crises de ansiedade na emergência. o Crise de ansiedade: Lorazepam = padrão- ouro! Mas pode usar qualquer BZD disponível no serviço (Clonazepam 0,25 mg sublingual, oral).
Compartilhar