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ESTRATÉGIA EXECUTIVA W BA 00 77 _v 2. 2 22 Regis Garcia Londrina Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2019 Estratégia executiva 1ª edição 333 © 2019 POR EDITORA E DISTRIBUIDORA EDUCACIONAL S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. Presidente Rodrigo Galindo Vice-Presidente de Pós-Graduação e Educação Continuada Paulo de Tarso Pires de Moraes Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Braga de Oliveira Higa Carolina Yaly Giani Vendramel de Oliveira Juliana Caramigo Gennarini Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Tayra Carolina Nascimento Aleixo Revisor Isamaura Krauss Franco Editorial Alessandra Cristina Fahl Beatriz Meloni Montefusco Daniella Fernandes Haruze Manta Hâmila Samai Franco dos Santos Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Garcia, Regis G216e Estratégia executiva/ Regis Garcia, – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2019. 147 p. ISBN 978-85-522-1622-3 1. Concorrência. 2. Empreendedorismo. I. Garcia, Regis. Título. CDD 300 Responsável pela ficha catalográfica: Thamiris Mantovani CRB-8/9491 2019 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ 44 ESTRATÉGIA EXECUTIVA SUMÁRIO Apresentação da disciplina 5 Estratégia na perspectiva organizacional 7 Empreendedorismo estratégico organizacional 32 Planejamento e alinhamento estratégico 56 Perspectivas globais da estratégia executiva 84 Estratégia de inovação e competitividade 109 Monitoramento do plano estratégico: controles e métricas 133 Feedback e avaliação de desempenho 159 55 5 Apresentação da disciplina Caro aluno, Tenho a satisfação de lhe apresentar a disciplina Estratégia Executiva, que representa um conjunto de discussões sobre temas de alta relevância para a gestão estratégica e eficaz das organizações. Com o foco na execução da estratégia, os temas certamente contemplam a gestão de pessoas e de processos. A disciplina conta com uma série de temas que nos levam à reflexão sobre o quão importante são as respostas que damos às demandas dos contextos (principalmente o global) nos quais estamos inseridos. O “pano de fundo” das discussões trazidas pela disciplina é, dentre outros aspectos, o contexto VUCA (acrônimo para, do inglês, volatility, uncertainty, complexity e ambiguity), que é caracterizado pela volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade dos ambientes. Essas características invocam ações e reações das organizações em busca de maior eficácia e ampliação de sua competitividade. Você terá a oportunidade de conhecer e discutir a questão da estratégia no contexto organizacional como instrumento para a concentração de ações em prol da sobrevivência e expansão dos negócios. Terá a oportunidade de conhecer os vários aspectos do empreendedorismo sob a perspectiva organizacional, além de ter acesso a conteúdos sobre a aplicabilidade dessas características. A estratégia é abordada sob a perspectiva do alinhamento cultural e da liderança, fatores fundamentais para o equilíbrio do ambiente de trabalho e garantia da execução mais eficaz daquilo que foi planejado. Você também conhecerá as características que compreendem assuntos globalmente discutidos e que impactam a realidade organizacional. 66 Verá também, que nem sempre mudar a estrutura da organização é necessário para se implantar a estratégia. Muitas vezes, mudar o comportamento e as regras que os orientam é o suficiente. A inovação está contemplada no contexto estratégico organizacional, principalmente quando considerada como elemento de competitividade. Por fim, os elementos de controle, avaliação e feedback são tratados como elementos fundamentais para garantir que a estratégia organizacional se realize na prática, gerando os resultados pretendidos. Do conceito à aplicação, temos nessa disciplina a grande oportunidade de conhecermos e entendermos como são aplicadas as práticas que tornam as empresas mais alinhadas estrategicamente (interna e externamente) e, consequentemente, mais eficazes. Você é nosso principal convidado para essa desafiadora viagem pelos vastos caminhos do conhecimento sobre o papel do executivo no processo de elaboração, implantação e execução estratégicas. 77 7 Estratégia na perspectiva organizacional Autor: Regis Garcia Objetivos • Conceituar e discutir a importância das decisões estratégicas no contexto organizacional e apresentar o mecanismo de tradeoff como alternativa para a melhoria da eficácia decisória. • Apresentar e discutir os fatores críticos de sucesso considerando os desafios do contexto VUCA world. • Discutir a necessidade de adaptação estratégica constante, em resposta aos desafios do contexto de atuação da organização, e apresentar a filosofia lean como uma das alternativas para melhorar a eficácia organizacional. 88 1. Decisões estratégicas: o mecanismo de tradeoff Estratégia pode ser considerada como um conjunto de métodos e planos de ação, pensado a partir e em prol de um objetivo. No contexto das organizações, as estratégias compreendem as metodologias utilizadas para gerir os negócios e os planejamentos que visam levar a organização ao cumprimento de sua missão e à realização de sua visão. A Figura 1.1 evidencia a relação entre a estratégia e os objetivos organizacionais, tanto os objetivos de curto e médio prazo, como aqueles estratégicos de longo prazo como a missão e visão organizacionais. Figura 1.1 – Relação: estratégia versus objetivos Fonte: elaborada pelo autor. 99 9 As organizações – sejam elas, empresas, instituições, fundações, cooperativas, ou qualquer outro tipo - envolvem a conjugação de vários elementos fundamentais para a sua existência e operação. Para que uma organização exista é necessário que haja, no mínimo, a disponibilidade de recursos financeiros e humanos. A partir do momento em que a organização inicia a sua operação, ela passa a demandar o uso e o consumo de recursos, além de inúmeras decisões e ações das pessoas que a integram ou que com ela se relacionam. A decisão, portanto, é elemento integrante do funcionamento da organização. Pollamen et al. (2017) apresentam vários resultados de estudos que demonstram a forte relação entre o desempenho organizacional e os modelos relacionados aos processos de tomada de decisões. O processo decisório afeta a organização como um todo. Ocorrem decisões em qualquer uma das perspectivas organizacionais: financeira, dos processos internos, do aprendizado e crescimento, ou dos clientes. Os resultados destas decisões acabam gerando experiências que orientam outras novas, formando um ciclo de geração de conhecimento e aprendizado. Quando a organização pensa estrategicamente, ela busca se antecipar aos problemas por meio do planejamento. Faz parte do planejamento todo o conhecimento e aprendizado obtido a partir das experiências decisórias. Para Ference e Thurman (2012), o ponto chave do pensamento estratégico envolve a utilização da perspectiva estratégica como um processo de aprendizado. As decisões organizacionais devem se pautar em informações. São elas que geram o conhecimento que aprimora o processo e a eficácia das decisões. 1010 A estratégia organizacional compreende o processo decisório. As escolhas do presente definem os rumos da organização no futuro. A estratégia, conforme Ference e Thurman (2012), relaciona um futuro desejado com um presentereal. No mesmo sentido, Collis e Montgomery (2014) destacam que Andrews (1971), considerado um dos primeiros autores a discutir a estratégia no contexto organizacional, diz que a estratégia compreende a combinação de dois fatores: • Aquilo que se pode fazer. • Dentro do universo daquilo que se poderia fazer. Não basta, porém, que seja estabelecida uma estratégia eficaz. A implantação e execução da estratégia é o que, em última análise, garantirá a consecução dos objetivos almejados pela organização. Ocorre que ao se por em prática uma estratégia, abre-se também a oportunidade para que algumas coisas não saiam conforme o planejado. Daí a importância do monitoramento constante das atividades e a avaliação sobre o quanto se está próximo ou distante daquilo que se planejou. A esse processo dá-se o nome de avaliação de desempenho. A eficácia do monitoramento e da avaliação de desempenho estratégico depende, em grande medida, do estabelecimento de indicadores que sirvam para medir, de forma mais objetiva, o desenvolvimento das atividades organizacionais estabelecidas no planejamento. Segundo Pollanen et al. (2017), o estabelecimento de medidas estratégicas de desempenho afeta positivamente o alinhamento estratégico, as decisões e as ações relacionadas à estratégia estabelecida pela organização. As interações da organização com o meio implicam na combinação de forças e fraquezas da organização com as oportunidades e ameaças do ambiente externo. Essas combinações estão ilustradas na Figura 1.2. 1111 11 Figura 1.2 – Combinações entre os ambientes interno e externo Fonte: adaptado de Collis e Montgomery (2014, p. 124). Sendo as decisões o elemento principal que viabiliza a operacionalização da organização, medir sua eficácia permite a correção tempestiva de possíveis equívocos, além de aumentar a capacidade de aprendizado a partir das experiências e dos resultados observados. PARA SABER MAIS Como a estratégia possui várias perspectivas a depender dos ambientes nos quais ela está sendo aplicada, torna- se importante conhecê-la de forma vinculada a contextos específicos. Sobre isso, o Capítulo 1 do livro Estratégia, de Ference e Thurman (2012, p. 3-12), traz uma boa discussão. Você pode acessar o material na biblioteca digital, no acervo “Minha Biblioteca”. FERENCE, Thomas P.; THURMAN, Paul W. Estratégia. Série Fundamentos. Conhecimento Real para um Mundo Real. Silvio Antunha [tradução]. São Paulo: Saraiva, 2012. 1212 Vale destacar, no entanto, que as decisões organizacionais são tomadas por pessoas e, dessa forma, o nível de interesse, engajamento e comprometimento são fatores influenciadores. É a partir disso que o conhecimento por todos os envolvidos sobre o processo avaliativo ao qual se submeterão se torna necessário. Embora se configure como um imperativo de qualidade e eficácia estratégicas, o processo de avaliação implica em desafios constantes, principalmente por envolver a percepção e o sentimento das pessoas. Nesse sentido, não apenas o estabelecimento dos critérios de avaliação, mas, sobretudo, a comunicação e a disseminação desses critérios entre os colaboradores, se tornam extremamente necessários, independentemente do seu nível hierárquico. As medidas estratégicas de desempenho são consideradas, conforme afirmam Pollanen et al. (2017), fatores fundamentais para a tradução das estratégias em objetivos mensuráveis. Como as decisões são muitas vezes pessoais, torna-se necessário o constante alinhamento entre os interesses individuais (dos pares) e os organizacionais. A clareza e a qualidade da comunicação intraorganizacional são fatores que contribuem para que haja a compreensão dos objetivos, para que se obtenha a confiança dos colaboradores e, especialmente, se fortaleça o comprometimento deles com a missão e visão da organização. No entanto, as implicações derivadas da relação entre os pares e os interesses organizacionais, estudadas na teoria da agência, representam desafios para a gestão com efeito direto no processo decisório. A avaliação de desempenho relativo, por exemplo, envolve a gestão dos interesses individuais e organizacionais. Sem essa gestão haveria conflitos de difícil solução. Mesmo assim, há dificuldades no estabelecimento de padrões eficazes de avaliação, como se observa na Figura 1.3. 1313 13 Figura 1.3 – Questões que dificultam o RPE Fonte: baseado em Wu (2019, p. 248). A Figura 1.3 demonstra a análise das dificuldades existentes para uma avaliação eficaz de desempenho dos “pares”, gerentes, diretores que recebem atribuições, metas e objetivos estratégicos das empresas, conforme Wu (2019). Além das dificuldades avaliativas, existem também dificuldades de decisão e execução que merecem atenção das organizações. As decisões organizacionais envolvem, em grande volume, opções excludentes, ou seja, ao se realizar uma determinada escolha, automaticamente se elimina a outra opção disponível. Às vezes, a depender do problema decisório, o decisor se encontra diante de opções condicionais, ou seja, para fazer uma escolha, deve-se decidir primeiramente por uma determinada opção. 1414 Tanto no primeiro caso (opções excludentes) como no segundo (opções condicionais), cabe ao decisor: • Identificar e compreender o problema decisório. • Estabelecer ou conhecer as alternativas de solução do problema. • Avaliar para cada alternativa sua respectiva consequência. • Exercer a escolha da alternativa que melhor lhe convém para a solução do problema decisório. • Acompanhar e monitorar a ocorrência das consequências a partir da alternativa por ele escolhida. É comum, no entanto, situações nas quais as alternativas de solução do problema decisório geram consequências conflitantes. Essas decisões envolvem conflito de opções, ou seja, a decisão tomada soluciona um determinado problema, porém implica no surgimento de outro. Esses tipos de decisões, no contexto organizacional, recebem a denominação de tradeoffs. Representa, na maioria das vezes, a opção por lançar mão de um bem ou serviço para adquirir outros. As decisões de tradeoffs exigem que o tomador de decisão tenha pleno conhecimento das opções que lhes estão disponíveis. Somente a partir disso é que se torna possível tomar a decisão mais adequada, minimizando possíveis prejuízos e maximizando os lucros derivados da escolha feita pelo decisor. Nem sempre o benefício de uma decisão ocorre no momento em que ela foi tomada. Podem ocorrer situações nas quais se perde momentaneamente em benefício de um ganho no médio e no longo prazo. O mecanismo de tradeoff envolve a consideração das consequências das decisões, principalmente da relação de custo-benefício e dos riscos inerentes ao projeto. Esses elementos são apresentados na Figura 1.4. 1515 15 Figura 1.4 – Mecanismo de tradeoff Fonte: elaborada pelo autor. O mecanismo de tradeoff consiste em se abrir mão de um benefício atual em prol de um ganho futuro. Um exemplo de tradeoff pode ser visto em Gao (2017). No seu estudo, o autor discute as opções de contratos financeiros, considerando que existe um tradeoff envolvendo dois tipos diferentes de contrato: o contrato rígido e o contrato flexível. Ambos possuem características de ganhos e perdas, levando o contratante a decidir pela alternativa que melhor lhe convém. No contexto organizacional, tradeoff contempla as decisões de longo prazo cujos resultados também serão obtidos nesse prazo. Algumas vezes as organizações são obrigadas a abrirem mão de um benefício imediato, como descontinuar um determinado produto, mesmo rentável, em benefício do lançamento de um novo produto que lhe garanta mais solidez e maior rentabilidade ao longo do tempo. Uma fabricante de automóvel, por exemplo, pode descontinuar um veículo com boa participação no mercado, mas que compete com um novo veículo por ela produzido, direcionado a um nicho mais específico. 1616 2. Fatores críticos de sucesso no contexto VUCA Cadadiferente organização possui suas peculiaridades, pois, em se tratando de individualidades, “cada caso”, de fato, “é um caso”. Todavia, existem questões que podem ser consideradas comuns à maioria das organizações. Essas questões são consideradas cruciais porque envolvem perspectivas críticas para a sua sobrevivência. O conjunto destas questões formam os fatores críticos de sucesso, estes podendo ser diferentes para cada tipo de organização. Todavia, ao analisá-los mais profundamente, é possível estabelecer um grupo mais ou menos homogêneo aplicável à maioria delas. Mas, por que deve haver a preocupação com esses fatores? Na verdade, basta que você olhe à sua volta para perceber que o ambiente no qual operam as organizações, e, consequentemente, onde as pessoas convivem cotidianamente, está repleto de movimentações, alterações e mutações cada vez mais rápidas. A pressão do contexto, caracterizado pela volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade, conhecido pelo acrônimo VUCA, faz com que a percepção de que as coisas andam muito rápido, ou, ao contrário, muito lentas, se faça presente. Por exemplo, formalidades e processos que antes eram tidos como necessários e positivos, atualmente podem representar fatores críticos para o bom andamento do planejamento e execução estratégicos. Estudos têm procurado desvendar esse contexto e suas implicações no comportamento das lideranças e liderados, e têm feito descobertas interessantes. Por exemplo, “[...] em função da rapidez cada vez maior com que se processa o movimento nos mercados, os gerentes reclamam do excesso de estadismo e lentidão no planejamento estratégico [...]” (COLLIS; MONTGOMERY, 2014, p. 122). 1717 17 ASSIMILE O termo VUCA, é um acrônimo de língua inglesa para Volatility, Uncertainty, Complexity e Ambiguity, que em língua portuguesa significa volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade. Todas elas são características do atual contexto social, político, econômico, ambiental, ou seja, o contexto no qual convivem pessoas e organizações, em movimentos constantes caracterizados pelo dinamismo e pela volatilidade que fazem com que tudo pareça provisório, temporário, fluído e, principalmente, incompreensível. Em última análise, o contexto exerce uma forte pressão sobre a organização, e, consequentemente, sobre as pessoas que nela convivem e trabalham. A maioria dos fatores críticos de sucesso envolve, portanto, aspectos que se não forem bem cuidados, ocasionam estragos significativos que podem, em certa medida, comprometer a sobrevivência das organizações. Se por um lado esses fatos representam possibilidades de sucesso, por outro podem significar a ruína da organização. Existem inúmeras listas de fatores críticos de sucesso, porém ao se avaliar a maioria dessas listas, percebe-se que existe um “núcleo duro” que: ou se repete, ou está presente com outras nomenclaturas. De forma geral, os fatores críticos de sucesso sempre evolverão as perspectivas organizacionais relacionadas às suas áreas: financeira, dos clientes, dos processos internos e da manutenção de sua força de trabalho a partir da formação, treinamento e oportunidades de crescimento. 1818 A perspectiva ambiental também faz parte desse rol de áreas cruciais e sensíveis das organizações contemporâneas. Em um contexto no qual a sustentabilidade ocupa papel de destaque, cabe às organizações garantir que suas operações atendam aos interesses próprios, mas, da mesma forma, aos interesses da sociedade como um todo. Para a determinação dos fatores críticos de sucesso não há necessariamente uma preocupação com o porte ou o ramo de atividade da organização. Como é possível observar, por exemplo, em Dobrovic et al. (2018), essas perspectivas listadas nos parágrafos anteriores derivam do modelo Balanced Scorecard, que pode ser aplicado com êxito em pequenas e médias empresas, desde que feitas algumas adaptações e consideradas as suas peculiaridades. PARA SABER MAIS O trabalho de Dobrovic et al. (2018) traz importantes aspectos envolvendo as perspectivas destacadas nos parágrafos anteriores. Vale a pena ler e estudar mais profundamente a proposta feita pelos autores. O trabalho está disponível na sua bilbioteca virtual, no acervo EBSCO. DOBROVIC, Jan et al. Non-financial indicators and their importance in small and medium-sized enterprises. Journal of Competitiveness, vol. 10, n. 1, jun./2018, p. 41-55. 1919 19 As preocupações com os fatores críticos de sucesso envolvem tanto aspectos internos como externos à organização. Quando se fala, por exemplo, da perspectiva dos clientes ou da perspectiva ambiental, é necessário que se reconheça as características anteriormente apresentadas do contexto Vuca. São estas características que definem os movimentos e as interações ocorridas no ambiente externo e interno das organizações. O impacto dessas características sobre o planejamento e a execução estratégicos é significativo. Nesse sentido, torna-se importante o cuidado especial com determinados fatores, que em conjunto, podem determinar o sucesso ou o fracasso de uma iniciativa organizacional, seja ela empresarial ou social. Para que o enfrentamento dos desafios impostos pelo ambiente externo seja eficaz, cabe às organizações montar uma estrutura sólida de gestão e monitoramento de suas atividades. Essa estrutura envolve desde pessoal capacitado até o uso de tecnologias da informação robustas o bastante para garantir a qualidade das informações geradas que apoiarão o contínuo processo de decisão. Segundo Ference e Thurman (2012), as empresas precisam se organizar internamente para competir externamente. Na 2.1 são apresentados os principais fatores críticos comuns à maioria das organizações. Eles formam uma espécie de quebra-cabeças. 2020 Figura 2.1 – Fatores críticos de sucesso Fonte: elaborada pelo autor. O que complica e pode comprometer a sobrevivência das organizações são as mudanças constantes e imprevisíveis no mercado. Para Pinho e Mendes (2017), diante do contexto globalizado atual, as empresas estão cada dia mais enfrentando grandes desafios. Essa realidade implica na busca constante de formas mais eficazes de operar. Modelos e mudanças de comportamentos são necessários na busca incessante e incansável por soluções. As organizações constituem-se em laboratórios reais para testar e aprimorar ferramentais que visem lidar com as variáveis ambientais. 2121 21 Mudanças de foco são observadas. Elementos que antes eram coadjuvantes no processo de gestão das organizações passam a ter papel de destaque. Por exemplo, segundo Peteraf (2014), nos últimos anos surgiu um novo modelo relativo à competitividade empresarial. Esse modelo é denominado de Visão Baseada em Recursos (VBR) (Resource-Based View – RBV). O modelo VBR, assim como outros inúmeros modelos de gestão estratégica, há vários anos vem sendo aplicado com diferentes intensidades nas organizações de todo o mundo. Modelos como esse não se desatualizam, pois envolvem perspectivas que sempre farão parte da realidade das organizações. O que muda, na verdade, são as características intrínsecas dessas perspectivas, mas elas mantêm-se presentes, influenciando as decisões e o comportamento organizacionais. Na defesa do VBR, Peteraf (2014) destaca que a vantagem competitiva é constituída a partir de uma base de recursos e competências das organizações, que seja superior à de seus concorrentes. A autora defende que a perspectiva baseada em recursos fornece a base necessária para a elaboração das estratégias de diversificação das empresas. O modelo VBR reconhece que as organizações são gestoras de recursos estratégicos, que estes recursos são heterogêneos e não estão disponíveis equitativamente entre as organizações. As características dos recursos estratégicos das organizações representam outro fator crítico de sucesso. Eles possuem valor, são raros, às vezes são de difícil imitaçãoe de difícil substituição. 2222 PARA SABER MAIS Sendo as organizações um conjunto de capital e pessoas, operando a partir de decisões, torna-se fundamental que a identificação, quantificação e gestão dos recursos tenham posição central nas preocupações estratégicas. Sobre essa visão, Peteraf (2014, p. 144-151) traz discussões bastante interessantes. Você pode acessar o material na biblioteca digital, disponível no acervo “Minha Biblioteca”. PETERAF, Margaret. Os pilares das vantagens competitivas: a visão baseada em recursos. In: LACERDA, Daniel Pacheco et al. Estratégia baseada em recursos: 15 artigos clássicos para sustentar vantagens competitivas. Porto Alegre: Bookman, 2014. Quanto mais difícil de imitação e de substituição, mais influente é o recurso estratégico na sobrevivência da organização. A 2.2 demonstra uma síntese da estratégia baseada em recursos. Figura 2.2 – Estratégia baseada em recursos e a opção pela diversificação Fonte: baseado em Wernerfelt (2014, p. 56). 2323 23 Não importa o modelo, e tampouco o rol de fatores críticos que se estabeleça para a organização, o que de fato se torna fundamental é que o executivo responsável pela concepção e execução da estratégia organizacional esteja alinhado com os objetivos organizacionais. Quando existe um alinhamento eficaz entre o indivíduo e a organização aprimoram-se os laços de confiança, envolvimento e comprometimento na busca das soluções aos problemas de decisão e de execução das atividades. Dessa forma, um dos fatores mais críticos de sucesso, conforme apresentado na 2.1, já estará sob o controle, quer seja, o da “liderança”. 3. Adaptação estratégica: o conceito lean Na busca por eficácia, os processos organizacionais sob a perspectiva dos ferramentais são constantemente revistos, repensados e aprimorados pela inserção de inovações e tecnologias. Sob a perspectiva humana, o aprimoramento se dá a partir da soma de experiências bem-sucedidas na gestão de processos. Após determinado tempo, essas experiências formam um conjunto de conhecimentos que permite a sistematização e a modelagem, tornando-o mais compreensível e replicável. Os modelos podem surgir e ser rapidamente substituídos ao longo do tempo. Há quem diga que eles são frutos de “modismos” e que passam rápido. Independentemente dessas considerações ou constatações, o que é importante de fato para as organizações é a contínua busca por aprimoramento sob ambas as perspectivas: ferramental e humana. 2424 As experiências resultantes dos processos de decisão e das ações deles derivadas devem transformar-se em conhecimento nas organizações. A capitalização dessas experiências é capaz de manter o ciclo de inovação e aprimoramento sempre em movimento. Nesse sentido, Johansson e Ostermana (2017) destacam que os paradigmas relacionados com o processo produtivo contemporâneo, dentre eles o lean manufactoring, são fruto de uma construção contínua de experiências. Para os autores, um processo de trabalho constitui-se de um conjunto de ações recorrentes que são executadas, com ou sem a ajuda de ferramentas ou máquinas, com a finalidade de realização de uma tarefa e, dessa forma, alcançar um determinado objetivo previamente estabelecido. A filosofia atualmente conhecida como lean manufactoring tornou-se uma ótima opção para a gestão estratégica das organizações. Desde sua origem, seus pilares funcionam como a base para se adquirir eficiência e eficácia nos processos produtivos mais complexos das organizações industriais. Embora a filosofia lean não seja exclusivamente aplicada às indústrias, elas representam o ambiente mais propício para a sua implantação e desenvolvimento. Trata-se da incessante busca por operações mais enxutas, menos custosas e mais produtivas como forma de melhorar a capacidade de competir em um mercado voraz e impiedoso. Segundo Pinho e Mendes (2017), a busca por operações mais eficazes é a forma pela qual as empresas se desenvolvem de forma sustentável no ambiente competitivo. A filosofia lean aplica-se a vários contextos, uma vez que, em resumo, ela orienta as ações organizacionais em prol da redução do uso dos recursos escassos, principalmente por meio da eliminação de desperdícios. 2525 25 A busca pela sustentabilidade organizacional passa pelo conhecimento e aplicação da filosofia lean. Para Wernerfelt (2014), a partir da amplitude das atividades da empresa, é possível inferir a quantidade mínima necessária de recursos envolvidos nessas atividades. Dois aspectos contextuais mantêm o mecanismo estratégico ativo das organizações. Segundo Ference e Thurman (2012), um deles é a escassez e o outro a competição. Segundo eles, a criação de proposições de valor dá solidez e adequabilidade aos produtos e serviços oferecidos pela organização. O trânsito pela busca da eficiência e consequentemente de competitividade faz com que as organizações estejam constantemente avaliando opções. A filosofia lean tem foco na busca contínua de melhoria do desempenho dos processos e atividades organizacionais. Trata-se de um “[...] sistema, e visa melhorar o desempenho da empresa através do desenvolvimento de operações com o menor custo possível e com o mínimo de desperdício [...]” (PINHO; MENDES, 2017, p. 7524). Assim como se discutiu em outras oportunidades nesta seção, a organização é um conjunto de perspectivas que unidas e equilibradas garantem seu bom funcionamento e sobrevivência. A filosofia lean, por sua vez, atua em parte nessas perspectivas, dando ênfase naquelas que correspondem mais especificamente ao desempenho da organização em suas principais operações. A Figura 3.1 apresenta estas perspectivas. 2626 Figura 3.1 – Perspectivas lean Fonte: elaborada pelo autor. Você, na condição de executivo, terá contato com a realidade organizacional. É nela que os problemas decisórios se apresentarão “aos montes” e, muitas vezes, simultaneamente, para que você tome as decisões necessárias. Nesta condição, certamente você lançará mão de todo o conhecimento que adquiriu em seus estudos e em suas experiências de vida e de trabalho para ajudá-lo a fazer as escolhas corretas. Justamente a partir dessa realidade é que se tornarão mais claras as contribuições de todo o arcabouço tecnológico, metodológico e comportamental que estão disponíveis para serem utilizados. Ao final, o que mais importa nesta importante discussão envolvendo a estratégia no contexto organizacional é a sobrevivência. Vá em frente. 2727 27 TEORIA EM PRÁTICA Como forma de aplicar alguns dos conceitos discutidos nesta seção, considere que você está diante de uma importante decisão. A empresa para a qual você trabalha, por muitos anos, produziu e vendeu equipamentos para a área médica e agora está diante de um dilema. Seu produto de ponta, o mais vendido e que mantém a empresa como líder no segmento, precisa ser substituído. Uma nova tecnologia surgiu (com material, mais leve, resistente e seguro). A empresa precisa tomar a seguinte decisão: substituir seu parque fabril atual por uma nova estrutura que permita a fabricação da nova versão do seu produto. Ocorre que isso demandará um alto investimento para a empresa, mas, além disso, implicará na descontinuidade de seu produto de ponta, atual. Seu desafio é sugerir qual seria a melhor decisão para a empresa. Manter a produção e venda do atual produto ou partir para a nova tecnologia? Além de responder e justificar a sua escolha, identifique: diante de que tipo de mecanismo decisório você está? VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. A busca incessante por redução de desperdício e aumento de eficácia faz com que as organizações busquem por modelos que contemplem esses objetivos. A partir dessa consideração, podem ser feitas as seguintes afirmações: 2828 I. O modelo lean manufactoring é uma boa opção para a melhoria da eficácia organizacional, pois seu foco está na redução de mão de obra, de salários e de outros gastos com pessoalno contexto produtivo. II. A estratégia organizacional consiste em planos de ações de longo prazo, sendo que esses planos orientarão a organização ao longo de sua operação. III. São perspectivas organizacionais, dentre outras, a financeira, dos processos internos, do treinamento e crescimento e a do cliente. Essas perspectivas têm origem na estrutura estabelecida pelo modelo lean. A partir da análise dessas afirmações, assinale a alternativa correta. a. A afirmação I, apenas. b. A afirmação II, apenas. c. A afirmação III, apenas. d. As afirmações I e II, apenas. e. As afirmações II e III, apenas. 2. Os mecanismos de decisão possuem várias teorias e modelos explicativos. Dentre eles está o que se denomina de mecanismo tradeoff. Sobre esse mecanismo, são feitas as seguintes afirmações: 2929 29 I. Ele diz respeito a decisões que geram ganhos imediatos, em detrimento de decisões que possam gerar ganhos maiores no futuro. II. É aplicável no contexto organizacional, porém, existem situações da vida das pessoas que possuem as mesmas características do tradeoff organizacional. III. As decisões no contexto das organizações, embora envolvam majoritariamente situações de trabalho, são tomadas por pessoas, por isso envolvem interesses individuais e organizacionais simultaneamente. A partir da análise dessas afirmações, assinale a alternativa correta. a. A afirmação I, apenas. b. A afirmação II, apenas. c. A afirmação III, apenas. d. As afirmações I e II, apenas. e. As afirmações II e III, apenas. 3. A filosofia lean possibilita que as operações se tornem mais enxutas, menos onerosas e mais eficazes. Nesta seção foram apresentadas perspectivas lean. Qual das alternativas traz corretamente essas perspectivas? a. Qualidade, investimento, velocidade e custo. b. Qualidade, custo, investimento e controle. 3030 c. Custo, controle, velocidade e eficiência. d. Qualidade, custo, velocidade e eficiência. e. Custo, controle, investimento e velocidade. Referências bibliográficas COLLIS, David J.; MONTGOMERY, Cynthia A. Como você cria e sustenta estratégias lucrativas? Competindo por recursos: a estratégia dos anos 90. In: LACERDA, Daniel Pacheco et al. Estratégia baseada em recursos: 15 artigos clássicos para sustentar vantagens competitivas. Porto Alegre: Bookman, 2014. DOBROVIC, Jan et al. Non-financial indicators and their importance in small and medium-sized enterprises. Journal of Competitiveness, vol. 10, n. 1, jun./2018, p. 41-55. FERENCE, Thomas P.; THURMAN, Paul W. Estratégia. 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Em alguns casos, essas despesas podem até mesmo aumentar para tornar os processos mais eficazes. Questão 2 – Resposta: E Resolução: O tradeoff diz respeito a possíveis perdas imediatas, para gerar a possibilidade de ganhos no futuro. Questão 3 – Resposta: D Resolução: As perspectivas do lean, conforme modelo apresentado na seção, são: qualidade, custo, velocidade e eficiência. 3232 Empreendedorismo estratégico organizacional Autor: Regis Garcia Objetivos • Conceituar e discutir o mindset empreendedor visando a compreensão das características empreendedoras e suas implicações no planejamento estratégico corporativo. • Conceituar e discutir o corporate venture como base para a compreensão dos desafios inerentes ao contexto corporativo. • Destacar os principais aspectos envolvendo a liderança e o pensamento estratégico como elementos fundamentais para a gestão eficaz da estratégica organizacional. 3333 33 1. Mindset empreendedor Você provavelmente concorda com o fato de que todos nós estamos envolvidos em situações de decisão na maior parte da nossa existência. É indiscutível que todas as pessoas estão envolvidas, em intensidades diferentes, com contínuas situações-problema de toda ordem. Problemas mais simples ou mais complexos se apresentam a todo o momento, demandando das pessoas a identificação, a avaliação e as escolhas que convirjam para a sua solução. Essas características independem de questões individuais, pois se aplicam a todos os indivíduos independentemente de suas particularidades, principalmente sob a perspectiva do exercício profissional. A decisão em si, no entanto, envolve o conjunto de crenças e valores das pessoas. Isso explica, por exemplo, o fato de que diante de um mesmo problema, pessoas diferentes agem diferentemente uma das outras. Ao conjunto de elementos que orientam como as pessoas pensam, analisam e agem diante das situações diversas, dá-se o nome de mindset. É grande o volume de estudos envolvendo o conceito e as características do termo, assim como também o volume de perspectivas sob as quais o mindset é analisado. Por exemplo, Winck et al. (2016) relatam os estudos de Global Mindset Leadership em seu trabalho. ASSIMILE “O Global Mindset Leadership é um manual de desenvolvimento de competências do líder global que deve ser capaz de transcender as barreiras nacionais e empresariais [...]” (WINCK et al., 2016, p. 37) 3434 Sob uma perspectiva mais específica, considera-se mindset empreendedor o conjunto de características que são comuns à maioria das pessoas que empreendem, geralmente por vocação. Considerar o empreendedorismo como uma vocação não significa, porém, que não seja possível aprender a empreender. A maioria das características empreendedoras pode ser desenvolvida por meio de estudo e treinamento. Nesse sentido, fazem parte do mindset empreendedor as seguintes características: • Autoconfiança (confiar em si mesmo). • Capacidade de liderança (conquistar e liderar times de trabalho). • Visão empreendedora. • Busca incessante por oportunidades (monitoramento do ambiente). • Capacidade de buscar e interpretar informações (avaliação e análise). • Capacidade de autogestão (gerir a si mesmo). • Capacidade de planejamento e controle (planejar, executar e controlar). • Capacidade de iniciativa (proatividade). • Persistência (insistência). • Resiliência (capacidade de se recompor). • Comprometimento (se manter imerso nos negócios). • Propensão para assumir riscos(identificar, calcular e aceitar riscos). • Capacidade persuasiva (convencimento). • Desenvolver e manter um networking (rede de contatos profissionais). 3535 35 De modo geral, o mindset empreendedor envolve uma espécie de programação mental, a saber, a organização de conhecimentos e comportamentos que culminam em atitudes empreendedoras. A Figura 1.1 demonstra que as crenças e valores são a base para a construção do mindset dos indivíduos. Esses elementos que fazem parte da cultura das pessoas influenciam sua forma de ver o mundo e, consequentemente, afetam seu pensar, seu decidir e seu agir nos vários contextos nos quais atuam. Figura 1.1 – Mindset Fonte: elaborada pelo autor. É evidente que muitas outras características são importantes para um empreendedor, todavia essas permeiam com mais frequência as pesquisas e os estudos envolvendo o tema. Por exemplo, para Hisrich, Peters e Shepherd (2014) reduzir dúvidas quanto às oportunidades é o desafio inicial de todo empreendedor, ou seja, aquele que assume as responsabilidades e os riscos inerentes a um novo negócio. Já para Farah, Cavalcanti e Passos (2017), o empreendedor, acima de tudo, é um realizador de novas ideias, e a atividade empreendedora envolve congruência entre a criatividade e a imaginação empreendedora. 3636 Embora o mindset afete as ações humanas, ele não deve ser considerado como uma receita direcionada para a execução de uma tarefa específica. Nesse sentido, Yan, Zhang e Xu (2018) esclarecem que o mindset é mais amplo (geral) do que as operações cognitivas específicas, como as que envolvem a conclusão de determinadas tarefas. Sob essa perspectiva, o mindset representa o conjunto global de conhecimentos que está de prontidão para a solução de qualquer tarefa que se apresente ao indivíduo. Para Yan, Zhang e Xu (2018) o mindset envolve os elementos cognitivos que influenciam a forma como um indivíduo, em particular, estimula e processa informações. Além das características elencadas anteriormente, a experiência deve ser considerada quando o assunto é empreender, afinal, se o mindset empreendedor envolve o conhecimento humano, as experiências individuais afetam a sua formação e aplicação. Nesse sentido, Dokko e Gaba (2012) discutem a teoria dos escalões superiores, que aborda os antecedentes funcionais dos CEOs, cujos modelos mentais constituem fontes de conhecimento e influenciam mudanças estratégicas nas organizações. PARA SABER MAIS Sobre a Teoria dos Escalões Superiores, consulte o artigo escrito por Jeff Seaton em 2018, “The relationship of confucian dynamism and the strategic leader: an upper echelon theory perspective” (em português, O relacionamento do dinamismo confuciano e o líder estratégico: uma perspectiva da Teoria dos Escalões Superiores). O artigo apresenta os principais aspectos da teoria, bem como discute importantes questões envolvendo a influência do conhecimento prévio dos executivos na gestão e no ambiente das organizações onde trabalham. 3737 37 A experiência e, portanto, o conhecimento dela advindo, conduz os indivíduos a desenvolver atitudes empreendedoras mais consistentes e eficazes. Lenet (2019) atribui a atração de fluxos de negócios de qualidade à variável experiência. Além disso, o autor destaca que essa variável contribui para evitar erros de decisão dispendiosos. Veja na Figura 1.2. Figura 1.2 – Elementos relacionados à experiência Fonte: baseado em Lenet (2019). Além da experiência, a estratégia utilizada pelo empreendedor exerce papel fundamental para que as ideias empreendedoras sejam colocadas em prática, conforme é possível observar na Figura 1.3. 3838 Figura 1.3 – Estratégia empreendedora Fonte: baseado em Hisrigh, Peters e Shepherd (2014, p. 21). O mindset empreendedor, portanto, influencia no pensamento e na estratégia empreendedora visando a execução dos projetos. Nesse sentido, Hisrich, Peters e Shepherd (2014) destacam que a ação de empreender envolve o pensamento empreendedor caracterizado por processos mentais com os quais o indivíduo supera o desconhecimento acerca de uma oportunidade. Entre o surgimento da oportunidade e a correta identificação e aproveitamento dela por parte do indivíduo, existem processos cognitivos diversos que podem aproximar ou distanciar o empreendedor deste objetivo. O empreendedor, segundo Hisrich, Peters e Shepherd (2014), deve decidir avaliando se um determinado “sinal” representa de fato uma oportunidade. O mindset empreendedor não consiste em algo imutável e tampouco padronizado a ponto de que se possa considerar a mente empreendedora como um computador no qual se insere um programa capaz de executar determinadas tarefas a partir dos comandos do usuário. 3939 39 Embora a metáfora descrita no parágrafo anterior possa em certa medida representar o funcionamento do cérebro humano, é preciso reconhecer que as crenças e valores são elementos culturais e, portanto, passíveis de influência de fatores, como: do contexto social e familiar, da área geográfica e do momento no qual o indivíduo vive. Sob essa perspectiva, os modelos mentais e o mindset empreendedor podem sofrer mutações e alternarem-se de um estado para outro. Segundo Yan, Zhang e Xu (2018), a mudança de mentalidade, alternando entre diferentes estados mentais, é uma prática comum no trabalho diário. Adicionalmente, os autores esclarecem que a capacidade de alternar entre tarefas é considerada um aspecto básico das funções executivas. Como se pode observar, o empreendedorismo não diz respeito exclusivamente ao ato de se constituir e implantar um novo negócio. Os executivos em suas funções estratégicas devem conhecer e aprender a empreender em suas próprias atividades de trabalho. A constituição de um mindset empreendedor deve fazer parte dos objetivos dos profissionais que tenham relação direta com a estratégia corporativa. Nessa condição, o executivo compreenderá melhor as atitudes dos empresários, mas, sobretudo, conseguirá pensar e agir como eles. O empreendedorismo no contexto corporativo não está reservado aos sócios e acionistas das corporações, mas a todos aqueles que participam do seu planejamento e de sua gestão estratégica. É possível observar no contexto corporativo a existência de um conjunto de elementos que caracterizam o comportamento empreendedor. A forma de pensar e agir dos empreendedores é influenciada por esse conjunto. 4040 Todavia, é fundamental que se reconheça também a necessidade de adaptação de todos, alternando seus mindsets em prol do fortalecimento e do alinhamento entre as ideias e as práticas empreendedoras. Embora os insights empreendedores ocorram no âmbito das ideias, é na prática corporativa que se encontram os maiores desafios de empreender. 2. Corporate venture O processo empreendedor não acaba no ato da identificação de uma oportunidade de negócio. Ao contrário, esse é apenas o ponto inicial. Os modelos de negócios contemporâneos exigem adaptações em todos os sentidos e sob todas as perspectivas organizacionais. Um dos fatores fundamentais que influenciam o sucesso das organizações no contexto contemporâneo é a forma de financiamento dos projetos. Por exemplo, o alto volume de ideias e projetos escaláveis propostos por startups em todo o mundo nos últimos anos têm influenciado substancialmente os modelos de investimento e captação de recursos. Estas empresas, principalmente da área de tecnologia e informação, possuem em um primeiro momento apenas uma boa ideia. Mas como transformá-la em um negócio? Essa tem sido a principal questão a ser respondida pelos empreendedores e executivos. Você já pensou nesse assunto? Já vivenciou uma situação empreendedora ou teria uma resposta a essa importante pergunta? Certamente, um dos elementos cruciais para que os projetos saiam do papel é representado pelo capital empregado no negócio. Desde o início de um projeto empreendedor deve haver a preocupação com a forma de financiamentoe manutenção financeira da organização. 4141 41 Os executivos devem ver na captação e formação de capital financeiro um dos objetivos estratégicos de qualquer empreendimento. É preciso reconhecer a importância que o capital, independentemente de envolver fundos de investimentos ou o bolso do próprio empreendedor, tem para o start e para a sustentabilidade do negócio ao longo de sua existência. Por exemplo, conforme destacam Gutmann, Schmeiss e Stubner (2019), a provisão de smart capital afeta de forma positiva a sustentabilidade e o sucesso das atividades empresariais. As avaliações sobre a fonte e o volume de capital são estratégicas, uma vez que os recursos podem derivar de investimentos dos próprios empreendedores ou de fontes externas. Aliás, fontes externas, como é o caso de investimentos de venture capital, são comuns e representam grande parte das formas de financiamento das startups atualmente, porém existem outras. Segundo Lenet (2019), conforme demonstrado por muitos programas bem-sucedidos de Corporate Venture Capital, parceiros externos não são o único caminho válido para o financiamento dos novos negócios. A modalidade Corporate Venture Capital (CVC) representa uma importante fonte de financiamento, apresentando algumas características específicas que precisam ser consideradas pelos executivos ao iniciarem o plano estratégico das organizações. ASSIMILE Corporate Venture Capital (CVC) consiste em fundos de investimento (unidades CVCs) que investem em empresas com o objetivo de obterem rentabilidade. Geralmente esses fundos preferem startups devido às suas características de negócios inovadores e escalabilidade. 4242 Dokko e Gaba (2012) descrevem o Corporate Venture Capital como a prática pela qual, além da questão relativa ao financiamento, se busca oferecer recursos gerenciais aos jovens negócios, principalmente aqueles com capacidade exponencial de crescimento. Como se pode observar no parágrafo anterior, não é apenas o recurso financeiro que está envolvido na prática de CVC, mas a própria gestão do negócio. Como essa modalidade de investimento se faz, em sua maioria, por meio de fundos de investimentos, a gestão eficaz do negócio no qual estão investindo passa a integrar o rol de ações que visam a implantação e sustentabilidade da nova empresa no longo prazo. A pouca idade dos empreendedores é uma característica comum às startups. Sendo assim, torna-se ainda mais importante o apoio estratégico efetuado pelas unidades CVCs. Essa necessidade se justifica, não apenas pela juventude, mas, sobretudo, pela inexperiência em gestão destes empreendedores. Segundo Gutmann, Schmeiss e Stubner (2019), unidades de CVC oferecem apoio envolvendo acesso a capital, além de suporte na gestão, principalmente para jovens empreendedores. Os autores acrescentam que o suporte estratégico oferecido pelas unidades de CVC é fundamental para que os novos negócios prosperem no ambiente competitivo em que estão inseridos. A estratégia concebida para o negócio deve contemplar todas as perspectivas organizacionais: a financeira, a dos processos internos, a do treinamento e crescimento e a dos clientes, sob o risco de sobrar capital e faltar consistência operacional nas áreas vitais para a sobrevivência do empreendimento. Embora as questões financeiras tomem grande parte do tempo de trabalho dos executivos do alto escalão, a estratégia organizacional não se restringe a elas. 4343 43 Daí a importância de que os processos de investimentos, como é o caso do CVC, contemplem a busca da eficácia na gestão organizacional. É nesse sentido que Gutmann, Schmeiss e Stubner (2019) destacam que informações sobre novas tecnologias e modelos de negócios emergentes representam um excelente ativo oferecido pelas unidades de Corporate Venture Capital às empresas por elas apoiadas. No processo de construção da estratégia corporativa, torna-se fundamental a incorporação de parcerias que contribuam para o crescimento sustentável do novo negócio, seja na forma de CVC ou de outra fonte de recursos. Dokko e Gaba (2012) destacam que mais recentemente muitas empresas de tecnologia passaram a ver as unidades de CVC como parte crucial de suas atividades de pesquisa e desenvolvimento e de sua estratégia de crescimento. PARA SABER MAIS Para compreender melhor o conceito e as características do CVC a partir da perspectiva do investimento, leia o Capítulo 15 “Desenvolvimento do mercado de capitais e eficiência em alocação de ativos”, entre as páginas 214-216 do livro Alocação de Ativos em Private Banking. O livro está disponível na sua biblioteca digital, mais especificamente no acervo Minha Biblioteca. A mensagem que fica, ao analisarmos as características do CVC, é de que a organização não funciona apenas a partir da injeção de capital. A disponibilidade de recursos financeiros é fundamental, mas não suficiente, para que, depois da fase inicial, as organizações se mantenham sustentáveis e aptas para responder às ameaças ambientais. 4444 Em mercados com alta competição, estratégias inovadoras envolvendo políticas bem definidas para cada uma das perspectivas organizacionais representam importantes diferenciais competitivos. Portanto, além das fontes de capital, deve-se levar sempre em conta a possibilidade de conciliação entre a obtenção de recursos e aprimoramento da gestão estratégica organizacional. 3. Liderança e pensamento estratégico Após discutir o mindset empreendedor e a função de apoio à gestão oferecida por fundos CVCs, você provavelmente percebeu que o empreendedorismo corporativo envolve uma série de fatores que precisam estar alinhados para que a organização funcione adequadamente e se desenvolva. Um dos fatores fundamentais para a realização da estratégia organizacional é a liderança. A capacidade de liderança, seja ela exercida pelos próprios empreendedores, seja por executivos, tem o poder de unir todo o time de trabalho ao redor dos mesmos objetivos, principalmente aqueles que visam à realização da missão e visão organizacionais. A liderança é capaz de unir as pessoas. Também cabe a ela a função de manter sempre em evidência os caminhos e objetivos organizacionais. Por isso, o pensamento estratégico deve fazer parte das práticas de todos aqueles que direta ou indiretamente exercem o papel de líderes. A manutenção da motivação dos times para a realização das tarefas está entre as atividades da liderança organizacional. Isso representa, no entanto, um desafio. Neves e Coimbra (2018), por exemplo, alertam que nem sempre as motivações individuais, observadas no cotidiano das pessoas, funcionam da mesma forma quando consideradas no contexto de trabalho. 4545 45 Nenhuma estratégia sai do papel, transformando-se em ações, se não houver o trabalho efetivo da liderança e o envolvimento e motivação dos times de trabalho. Por isso, a função do líder é uma função estratégica. As pessoas são o recurso mais importante das organizações e as relações interpessoais representam o mecanismo para fazer toda a máquina organizacional funcionar. Utilizando uma metáfora, o relacionamento interpessoal no contexto corporativo é similar ao combustível que alimenta o funcionamento do motor do carro. O carro, nesse caso, é a organização que se moverá na mesma proporção de disponibilidade e uso deste combustível. Questões técnicas são importantes quando o assunto é ser um bom líder, afinal as pessoas confiam muito mais em líderes capacitados do que naqueles que não sabem exatamente sobre o que estão falando no momento de cobrar por resultados. Todavia, a principal característica de uma boa liderança é a sua capacidade de envolver, convencer e gerar comprometimento nos times de trabalho. É nesse sentido que Mintzberg et al. (2007) consideram que a liderança ativa exige alto nível de envolvimento pessoal. Para que a liderança seja exercida de forma eficaz, deve haver sempre uma estratégia. Um exemplo disso podeser visto na Figura 3.1. 4646 Figura 3.1 – Modelos de estratégias de liderança Fonte: baseado em Mintzberg et al. (2017). Conceitualmente é possível considerar a liderança, por meio das relações interpessoais, como a força que faz a máquina girar. Ela é conceituada como sendo a “capacidade de definir e orientar a realização de tarefas, de combinar métodos e procedimentos práticos e de conduzir pessoas para alcançar objetivos almejados” (FARAH; CAVALCANTI; PASSOS, 2017, p. 21). Embora o principal desafio da liderança seja o de conduzir pessoas, existe a necessidade de que o líder exerça a autogestão. Por conseguinte, e por meio de sua capacidade de se auto-organizar, que o líder encontrará tempo e identificará os recursos necessários para exercer a sua liderança de forma mais eficaz. A autogestão envolve a inteligência emocional do líder. Sua capacidade de se autogerir está diretamente relacionada com a sua condição emocional e cognitiva. 4747 47 ASSIMILE A autogestão tem sido discutida sob a perspectiva da liderança ágil. Para se obter mais eficácia (agilidade) nas atividades, torna-se necessário que o time se autogerencie a fim de que as metas sejam atingidas sem a necessidade de intervenção constante da liderança. O ambiente organizacional se configura como complexo e dinâmico, e dessa forma exige muita habilidade e conhecimento dos executivos responsáveis por sua gestão. As variáveis, bem como seus principais efeitos sobre o ambiente organizacional, podem ser observadas na Figura 3.2. Figura 3.2 – Variáveis de influência na gestão organizacional Fonte: baseado em Dokko e Gaba (2012). O executivo deve exercer papel de liderança nas organizações e, conforme destacam Farah, Cavalcanti e Passos (2017), desenvolver a capacidade de agir a partir de uma visão sistêmica e estratégica. 4848 Para exercer de forma eficaz a liderança, os executivos precisam desenvolver a capacidade de lidar com as variáveis que afetam o ambiente organizacional. Para que os executivos se mantenham alinhados às demandas do contexto organizacional, torna-se necessário que eles conheçam métodos e modelos de gestão reconhecendo suas vantagens e limitações. O que não pode ocorrer é a estagnação no aprendizado desses executivos a partir de experiências decisórias e administração de suas consequências. Shani e Noumair (2017) avaliam que os líderes empresariais estão explorando novas maneiras de construir estruturas e formas de trabalho. Essas estruturas e as formas de trabalho, na concepção dos novos líderes corporativos, são mais flexíveis e, principalmente, mais ágeis. Vale destacar que a agilidade e a adaptabilidade são características das demandas de um contexto caracterizado pela volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade. Se as organizações estão inseridas nesse desafiante contexto, cabe à liderança executiva identificar e selecionar mecanismos de respostas eficazes. Torna-se primordial que os executivos pensem como empreendedores e atuem como tal no contexto organizacional. O pensamento estratégico pressupõe que o líder reconheça o ciclo que resulta no empreendedorismo. Um ciclo que envolve as ações empreendedoras estratégicas, conforme apresentado na 3.3. 4949 49 Figura 3.3 – Ação empreendedora Fonte: adaptado de Hisrich, Peters e Shepherd (2014, p. 21). Pensar estrategicamente significa revisitar os objetivos organizacionais de forma constante. Significa conhecer e compreender a razão de existência da organização, bem como onde ela pretende chegar. O foco na visão empresarial, aliado ao controle das atividades voltadas para essa finalidade, torna o processo de gestão estratégica mais eficaz. É nesse sentido que Mintzberg et al. (2007) consideram que a liderança envolve a integração de visão, continuidade e controle. O pensamento estratégico resulta em um processo avaliativo contínuo, uma vez que a depender do quão próximo ou distante se está dos objetivos almejados, se acionará a reformulação. Serão efetuados ajustes nos planos e nos processos de trabalho. Daí a necessidade de avaliação e feedback constantes. A Figura 3.4 demonstra como funciona a matriz utilizada para se proceder a avaliação de projetos, processos e atividades no contexto organizacional. 5050 Figura 3.4 – Matriz de avaliação Fonte: elaborada pelo autor. Somente a partir do pensamento estratégico é que o executivo pode antecipar consequências de longo prazo a partir de decisões de curto prazo. PARA SABER MAIS Para compreender melhor o conceito e as características do pensamento estratégico sob a perspectiva de vários modelos e filosofias disponíveis, leia o capítulo “Estratagemas de Ataque” do livro: Compreender e aplicar Sun Tzu: o pensamento estratégico chinês – sabedoria em ação, entre as páginas 83-90. O livro está disponível na sua biblioteca digital, mais especificamente no acervo Minha Biblioteca. O empreendedorismo enquanto um conjunto de ações proativas integra a gestão organizacional. É ele que possibilita o planejamento e a execução da estratégia da organização como se fossem ciclos avaliativos contínuos. 5151 51 Nesse sentido, o empreendedorismo representa um processo constante que envolve a identificação, mensuração e aceitação de riscos por parte das lideranças organizacionais. Isso se desenvolve em um ambiente complexo e dinâmico, o que exige adaptação e velocidade de resposta. O pensamento estratégico, por sua vez, é o elemento que mantém os executivos focados na visão e na missão organizacionais, além de orientar as ações que resultarão na execução da estratégia, mantendo a competitividade, a sustentabilidade e o crescimento da organização. TEORIA EM PRÁTICA Agora chegou o momento de você pôr os conceitos estudados nesta seção em prática. Para isso, considere que você foi selecionado para assumir imediatamente a função de executivo em uma grande corporação. Seu primeiro desafio é liderar o processo de planejamento estratégico de uma nova unidade da empresa que será instalada em uma região na qual a empresa não possui penetração no mercado. Na condição de executivo e, portanto, de líder desse projeto, qual a abordagem que você tentaria utilizar para envolver seu time de trabalho no sentido de superarem esse desafio? Justifique sua opção. VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. Embora as questões cognitivas compreendam uma área de estudo que está em constante desenvolvimento, trazendo de tempos em tempos novos conhecimentos e 5252 descobertas, é possível que seja elaborado um conjunto de características que retratam o perfil empreendedor. A partir dessa concepção, é possível fazer algumas afirmações: I. O mindset empreendedor representa esse conjunto de características, podendo ser considerado como uma espécie de programação mental. II. Todos os empreendedores possuem as mesmas características, por isso é possível estabelecer um perfil exato de como ele pensa e age. III. Empreender está geralmente relacionado com a abertura de novos negócios, porém a visão empreendedora é fortemente aplicável em posições de liderança estratégica nas organizações, independentemente de ela ser exercida por empresários ou por executivos contratados. A partir da análise dessas afirmações, assinale a alternativa correta. a. A afirmação I, apenas. b. A afirmação II, apenas. c. A afirmação III, apenas. d. As afirmações I e II, apenas. e. As afirmações I e III, apenas. 5353 53 2. A captação de recursos para viabilizar projetos empresariais representa um dos maiores desafios para empresas jovens. A partir desse pressuposto, são feitas as seguintes afirmações: I. A principal e mais adequada fonte de recursos para novas empresas, principalmente para as grandes corporações, é a que se denomina de Corporate Venture Capital que significa capital de giro. II. As organizações de CVC, conforme tratadas na seção, além de recursos financeiros, oferecem apoio à gestão para jovens empreendimentos. III.As unidades de CVCs influenciam o sucesso das organizações para as quais convergem seus recursos financeiros, por isso sempre será a melhor opção em relação a parceiros internos do empreendimento. A partir da análise dessas afirmações, assinale a alternativa correta. a. A afirmação I, apenas. b. A afirmação II, apenas. c. A afirmação III, apenas. d. As afirmações I e II, apenas. e. As afirmações II e III, apenas. 5454 3. O contexto no qual as organizações estão estabelecidas e exercem as suas atividades possui algumas características que impõem à liderança comportamentos empreendedores e de velocidade nas repostas. Qual das alternativas traz corretamente as características destacadas na seção? a. Volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade. b. Complexidade, dinamismo, certeza e fragilidade. c. Complexidade, incerteza, fragilidade e dinamismo. d. Volatilidade, incerteza, significância e ambiguidade. e. Incerteza, significância, dinamismo e fragilidade. Referências bibliográficas DOKKO, Gina; GABA, Vibha. Venturing into new territory: career experiences of corporate venture capital managers and practice variation. Academy of Management Journal. Jun. 2012, vol. 55, n. 3, p. 563-583. FARAH, Osvaldo Elias; CAVALCANTI, Marcondes; PASSOS, Marly Luciana. Empreendedorismo estratégico: criação e gestão de pequenas empresas. 2. ed. São Paulo, SP: Cengage Learning, 2017. GUTMANN, Tobias; SCHMEISS, Jessica; STUBNER, Stephan. Unmasking smart capital: how Corporate Venture Capital units configure value-adding services. Research Technology Management. Jul./Ago. 2019, vol. 62, n. 4, p. 27-36. 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Questão 2 – Resposta: B Resolução: As opções de financiamento de novos negócios são várias, embora o CVC possa ser importante, não é a única opção. Ele está relacionado à capital de risco, e não capital de giro especificamente. Questão 3 – Resposta: A Resolução: As características apresentadas na seção dizem respeito ao contexto VUCA – acrônimo em inglês que significa Volatilidade, Incerteza, Complexidade e Ambiguidade. 5656 Planejamento e alinhamento estratégico Autor: Regis Garcia Objetivos • Compreender e discutir os elementos necessários para a construção do plano estratégico na perspectiva roadmap. • Compreender e aplicar os métodos de organização e análise de informações estratégicas: Matriz BCG, Ansoff e SWOT. • Discutir os conceitos, pensamentos e ações relativos à organização voltada para a estratégia. 5757 57 1. Construção do plano estratégico: apoio do roadmap Caro aluno, o assunto central desta seção representa um dos mais importantes elementos que configuram o processo de gestão das organizações. Seja sobre a construção ou a aplicação do plano estratégico, deve sempre haver o cuidado com a possibilidade de que obstáculos surjam no caminho trilhado pela organização. Desta forma, a eficácia das reações diante desses obstáculos pode depender significativamente do quanto eles estavam corretamente previstos no planejamento estratégico previamente realizado. A estratégia organizacional corporativa faz parte do conjunto de ações relacionadas à gestão dos negócios. Por se tratar de um elemento de direção e norteamento, é considerada como fundamental e necessária para qualquer tipo de entidade que deseja atingir a eficácia e garantir a sua sobrevivência. A construção do plano estratégico consiste no processo pelo qual são definidos os rumos da organização. De forma mais abrangente que os demais planos: neste caso, o plano tático e o operacional, o planejamento e o plano estratégico servem como a estruturação dos objetivos e metas que balizam as decisões e ações com impacto geralmente de longo prazo sobre a organização. Quando não existem ou não estão expressamente definidas, o planejamento estratégico envolve a elaboração da missão e da visão organizacionais. Nos casos em que elas existem, o processo se inicia pela análise, interpretação e compreensão desses dois elementos. De uma forma ou de outra, eles representam o ponto inicial da estruturação e 5858 elaboração do plano estratégico, além de orientar indiretamente o desmembramento deste nos planos de curto e de médio prazos. A missão e a visão organizacionais devem ser constantemente revisitadas, a fim de que nenhum objetivo ou meta estratégica esteja destoante quanto ao que a organização pretende fazer e em que condições ela pretende estar no futuro. Ater-se ao que determinam a missão e a visão organizacionais pode representar um importante auxílio no estabelecimento de objetivos e metas mais claras. A correta compreensão dos caminhos e etapas a serem seguidos pelos membros da organização contribui para o engajamento, comprometimento e para a eficácia dos processos, atividades, e tarefas a serem realizadas. Sem o apoio desses elementos basilares, torna-se mais complicada a tarefa de se estabelecer a melhor estratégia dentre todas as possíveis para cada situação. Conforme Shala, Kastrati e Krasniqi (2019), as empresas geralmente encontram dificuldades em definir qual é a alternativa estratégica que lhe permitirá melhor funcionalidade e desempenho. Esta dificuldade tem origem, geralmente, na falta de objetivos bem definidos, por um lado, e por outro, no estabelecimento de objetivos e metas que não condizem com o que está previsto na missão e na visão organizacionais. A estratégia organizacional deve refletir as razões para a sua existência, suas crenças e valores, bem como a sua visão de futuro. Nesse sentido, mesmo nos casos em que não existe um processo formal para a sua elaboração, a estratégia está presente. Esta questão é tratada por Pereira (2010), que considera que toda organização possui uma estratégia. Segundo o autor, ela pode não estar formulada, pode ser a estratégia certa ou a errada, mas ela existe, estando ela formalizada ou não. 5959 59 A contribuição da formalização deste processo baseado na missão e na visão organizacionais, no entanto, reside na possibilidade de consultas, avaliações e ajustes, o que tornam a elaboração da estratégia organizacional um processo contínuode planejamento, ações, feedbacks, ajustes e aprendizado. Para Miller e Proctor (2016), o maior desafio da gestão organizacional hoje é o de entregar os elementos necessários para a mudança contínua, de forma a adaptar-se à economia e ao ambiente de mercado. Além disso, também é um desafio a necessidade de operar de forma a sustentar a vantagem competitiva da organização. Como o ambiente externo das organizações é caracterizado pela volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade, é função dos executivos e demais profissionais do alto escalão tornarem as atitudes e respostas às demandas ambientais algo tempestivo e eficaz, principalmente no que se refere a manter o nível de competitividade organizacional. O ambiente externo da organização impõe um contínuo processo de mudança, adaptação e adequação com influência direta sobre seu ambiente interno. Defeo e Barnard (2005), ao tratarem do assunto, trazem uma ilustração: eles utilizam a metáfora da ação do antibiótico no paciente para exemplificar o que ocorre nas organizações quando elas estão em processo de mudança. Assim como o antibiótico, aos poucos e lentamente, contribui para que o organismo crie anticorpos e elimine o vírus do paciente, na organização a velha cultura (vírus) vai dando lugar a uma nova cultura. Os autores comparam a organização com sua nova cultura com o paciente curado. O plano estratégico tem uma função nobre no que se refere ao processo de mudança contínua, afinal, ele precisa contemplar esse objetivo em suas políticas de gestão e de desempenho organizacionais. 6060 Os mapeamentos dos caminhos, dos obstáculos e das ações de superação fazem parte do gerenciamento estratégico. Esses mapeamentos interferem diretamente na eficácia decisória, uma vez que ao se estudar previamente as alternativas e consequências relacionadas a estes obstáculos, é possível o estabelecimento de diferentes cenários e diferentes opções de escolha. Estes cenários, por sua vez, apoiam o processo de seleção e escolha das alternativas mais eficazes para a solução dos problemas analisados. Prever os obstáculos significa antecipar as decisões e, consequentemente, as reações que resultarão na sua superação. Farah, Cavalcanti e Passos (2017) salientam que o empresário deve ter capacidade de ação diante dos obstáculos, mudar a estratégia, se isso for necessário, mas sempre enfrentar os desafios em prol da realização dos objetivos por ele traçados para a organização. Uma das técnicas que contribui para tornar os cenários, os processos, as atividades e as tarefas mais claras e devidamente disseminadas entre os envolvidos com o planejamento estratégico, é o roadmap. O roadmap representa um instrumento gerencial, na forma de um “mapa” ou de um “roteiro”, que objetiva orientar a condução da organização pelos caminhos que ela percorre durante a sua existência e operação. Fluxogramas, por exemplo, representam um recurso visual eficaz para demonstrar os processos estratégicos organizacionais. Uma política corporativa, por exemplo, tem suas bases conceituais e atividades descritas em documentos estratégicos, mas, podem e devem ser sintetizadas em instrumentos mais fáceis para a visualização e compreensão. 6161 61 A Figura 1.1, por exemplo, evidencia os processos relacionados ao fluxo do pensamento inovador em uma organização. Esse fluxo culmina no processo contínuo de mudança radical em prol da adaptação da organização às demandas advindas do contexto ambiental no qual atua. Figura 1.1 – Fluxo do pensamento inovador para a mudança radical Fonte: adaptado de Defeo e Barnard (2005, p. 26). A ideia do roadmap como apoio ao processo de planejamento estratégico está fundamentada no fato de que, além de organizar as etapas que constituem o plano, este instrumento pode contribuir para o direcionamento das discussões, envolvendo a aderência das prioridades aos objetivos propostos pela missão e visão organizacionais. O refinamento do plano estratégico contribui para a garantia da eficácia no momento de sua execução. 6262 O roadmap facilita o planejamento estratégico à medida que ele permite tratar das atividades complexas, que geralmente se dividem em muitas etapas. O planejamento estratégico possui estas características. A divisão de um plano amplo e geral em pedaços menores constitui uma forma eficaz de detalhamento, de organização e de atribuição de consistência. Neste caso, a soma das partes menores resulta em um todo organizado, com sentido, e de mais fácil implantação e acompanhamento. ASSIMILE As principais características do roadmap são o detalhamento das etapas, metas, objetivos, atividades, etc., e a evidenciação desses elementos por meio do uso de recursos visuais. Estas características facilitam a compreensão e o acompanhamento da estratégia empresarial. Para ficar mais clara a contribuição da técnica de roadmap para o processo de planejamento estratégico, observe a Figura 1.2. Ela detalha níveis, etapas e ações relativas ao processo estratégico de mudança organizacional. 6363 63 Figura 1.2 – Roadmap do processo de mudança organizacional Fonte: adaptado de Defeo e Barnard (2005, p. 26). A elaboração do planejamento estratégico constitui-se basicamente em responder as seguintes questões: • Quem nós somos? • Onde estamos? • Aonde esperamos chegar? • Como esperamos chegar lá? Estas são questões comuns a qualquer tipo de planejamento, todavia, elas ganham notoriedade quando se coloca em discussão: 6464 • A missão – ou seja, a razão de existência da organização. • A visão – o que a organização pretende ser no futuro. Nenhuma tentativa de resposta às quatro questões anteriores faz sentido sem antes haver uma reflexão sobre esses dois aspectos. Eles conjuntamente constituem os macro-objetivos organizacionais: o que a organização é e quer continuar sendo, e o que ela deseja ser no futuro. Ao se observar a Figura 1.2, fica evidente que o primeiro passo para se estabelecer uma política de mudança e adaptação estratégicas é o exercício do “sim”. Sem uma decisão firme e consciente sobre que tipo de organização se pretende ter no futuro, não há como iniciar o processo de mudança. Esta decisão, no entanto, deve estar alicerçada na missão da organização, e alinhada à sua visão, ambas expressamente estabelecidas. O roadmap é, portanto, eficaz não apenas para organizar as informações que integram o plano estratégico, mas, sobretudo, para permitir o retorno aos objetivos macro-organizacionais sempre que necessário. PARA SABER MAIS A técnica roadmap é melhor compreendida a partir da visualização de sua aplicação prática. Ela possui aplicabilidade em muitas situações empresariais. Uma destas aplicações pode ser vista e analisada no trabalho de Defeo e Barnard (2005). Os autores discutem o roadmap aplicado na situação de mudança estratégica organizacional. Você pode acessar esse trabalho na base de dados Ebsco via Biblioteca Virtual, mais especificamente no acervo EBSCO. 6565 65 2. Matriz BCG, Ansoff e SWOT Existem inúmeros modelos de organização informacional para subsidiar o planejamento estratégico organizacional. É fundamental que você os conheça, para que esteja habilitado a selecionar e aplicar aqueles que melhor se enquadram a sua necessidade. Existem técnicas e modelos que são pautados em análises quantitativas complexas, outros que são estritamente qualitativos, e outros mais, que procuram o equilíbrio entre esses dois extremos. Na verdade, a organização é um complexo de variáveis, análises e decisões, o que dificulta sua sistematização e compreensão absolutas. A primeira pergunta que deve ser feita antes de se iniciar um planejamento estratégico é: mas enfim, por que estamos planejando? A resposta a esta pergunta passa pelo reconhecimento de que o planejamento, independentemente de seu nível: estratégico, tático ou operacional, constitui-se de um mecanismo de antecipações. Mas o que justifica antecipar o futuro?
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