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01- Serie Dark Hand- Indomavel - Zoe X

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INDOMÁVEL
Zoe X
 
LIVRO 1
SÉRIE DARK HAND
 
 
 
PERIGOSAS
NACIONAIS - ACHERON
Ficha Técnica
 
Copyright ® 2018 Zoe X
Título: Indomável
Autora: Zoe X
Série Dark Hand – Livro I
Revisão gramatical: Clara Taveira e Raphael
Pellegrini
 
PERIGOSAS
NACIONAIS - ACHERON
Sumário
 
SINOPSE
Agradecimentos
PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
PERIGOSAS
NACIONAIS - ACHERON
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
PERIGOSAS
NACIONAIS - ACHERON
EPÍLOGO
SINGULAR
PERIGOSAS
NACIONAIS - ACHERON
SINOPSE
Elizabeth Fabbri não esperava que sua vida
fosse virar de cabeça para baixo na primeira vez em
que botou os pés em uma balada após cinco anos de
um namoro falido, morto, mas não tão bem
enterrado assim. Um grupo de estrangeiros, uma
estudante de letras bêbada, tentando gastar seu
inglês e a primeira vez na vida em que o Don
recebe um não.
A garota tem um pai doente, contas
atrasadas e sonhos engavetados em forma de livros.
Dona de um orgulho que não cabe dentro de si e de
muitos mistérios, ela não entende o motivo de
Louis a procurar, oferecendo a solução de todos os
seus problemas por apenas uma noite. Ela não era a
mais bonita, a mais gentil ou a mais educada, mas
mesmo assim ele a queria.
PERIGOSAS
NACIONAIS - ACHERON
 
 
 
PERIGOSAS
NACIONAIS - ACHERON
Agradecimentos
Aos meus pais, que não desistiram da minha
alma nem mesmo quando eu estive no mais
profundo inferno, e por um milagre ainda tem fé
em mim.
Ao melhor namorado do mundo, que apoia
todas as loucuras que minha mente cria, a cada um
da minha #FAMÍLIAINDOMÁVEL, que se
permitiu viver a real história por trás de toda essa
trama — principalmente Ariane, Amanda, Ana,
Bruna, Day, Glau, Madu, Maria Clara, Maychan,
Preta, Rita, Tati e Yaya que estão comigo desde o
começo de tudo. E para Nana, a qual eu ainda não
sei como agradecer. Obrigada, obrigada, obrigada,
de todo o meu coração.
 
PERIGOSAS
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS
NACIONAIS - ACHERON
Olá, querido leitor.
Espero que você aprecie a história, tendo
consciência que ela não é um conto de fadas: esse
livro contém palavrões, sexo, violência e afins. Não
apoio os acontecimentos e comportamentos
descritos nesse livro. Não é minha intenção ofender
e causar mal-estar com as situações.
Esteja avisado.
 
Existe uma trilha sonora disponível no
Spotify chamada Livro: Indomável – Série Dark
Hand, na qual você encontrará as músicas que me
refiro no livro e muitas outras. Também tenho um
grupo no Facebook onde reúno minhas leitoras.
Caso queira entrar, é só procurar por Família
Indomável.
 
Por favor, caso vá avaliar de forma positiva
PERIGOSAS
NACIONAIS - ACHERON
ou negativa a obra, não dê spoilers sobre a história.
 
A distribuição dessa obra não é permitida,
mas caso você acabe lendo dessa forma, por favor,
apoie meu trabalho me seguindo nas redes sociais,
avaliando na Amazon e indicando para outras
pessoas a leitura da série do modo correto.
 
Espero que Elizabeth conquiste seu coração
assim como conquistou o meu.
 
PERIGOSAS
NACIONAIS - ACHERON
PRÓLOGO
Meu celular começou a vibrar.
Contei seis pequenos tremores.
 
Senti o corpo de Natasha se remexer, ela
iria acordar com a merda do barulho que o aparelho
fazia sobre o criado-mudo.
Eu me forcei a abrir os olhos, a cabeça
pesada por conta da bebedeira da noite passada me
fez ser lento para atender o telefone.
— O que é tão urgente assim para que você
me acorde, Felippo?
— Acabei de receber uns e-mails, seria bom
você ler — a voz do meu consigliere não era a mais
amigável do mundo, ele parecia preocupado e, em
consequência disso, eu despertei.
— Louis? Venha para a cama — o sotaque
PERIGOSAS
NACIONAIS - ACHERON
da garota era sensual, e quando suas unhas roçaram
nas minhas costas, precisei me controlar para não
soltar nenhum som indecente ao telefone.
— Quem está aí? Não me diga que a filhote
russa já está na sua cama? — Felippo zombou.
— Está intacta onde interessa, se é o que
você quer saber.
Virgindade dentro da máfia era uma merda.
Noite passada, eu havia precisado de todo o
controle para não foder a garota como eu queria.
Em compensação, ela lembraria de mim nas portas
detrás por algum tempo.
— Enfim, levante logo e veja o que mandei.
Dessa vez, eu não conseguirei resolver essa porra
sozinho. Já mandei preparar tudo, acho que você
vai gostar de São Paulo.
— Até depois — eu me despedi sem esperar
uma resposta e larguei o celular no criado-mudo.
Deitei, esfregando os olhos e vendo que o
PERIGOSAS
NACIONAIS - ACHERON
sol já nascia, se fazendo notar entre os prédios e
iluminando meu quarto o bastante para que eu
enxergasse o azul muito claro dos olhos da garota
ao meu lado.
Natasha era linda, eu não podia negar.
Se tudo desse certo, eu seria um homem de
sorte por esse lado, mas também sabia que ela era
manipuladora e inteligente… Sendo sincero, nem
isso me abalava o pensamento quando eu
enxergava o corpo dela nu ao meu lado. Os cabelos
eram de um castanho avermelhado forte, quase
ruivo, e a pele era tão branca, que parecia nunca ter
tomado sol. Ela era magra, mas tinha uma bunda
boa, e os peitos não decepcionavam.
— Diga que vou poder continuar
dormindo... — ela falou quando pousou a cabeça
no meu peito e acariciou minha barba por fazer. —
Você acabou comigo, preciso de um tempo para me
recuperar.
PERIGOSAS
NACIONAIS - ACHERON
— Durma o quanto for necessário, querida
— peguei sua mão e beijei seus dedos. — Mas eu
preciso resolver algumas coisas importantes hoje…
— O que Felippo disse? — a garota foi
criada dentro da máfia, o que eu esperava? O tom
de desprezo quando disse o nome do homem me
fez sorrir de canto, quase irritado. Ela era petulante
às vezes.
— Nada que você precise se preocupar…
Agora durma — disse, me levantei em um pulo,
assustando Natasha, e dei um belo tapa em sua
bunda branca antes de ir para o banheiro.
Esperava que, no Brasil, as bundas de São
Paulo fossem tão boas quanto as do Rio.
 
Eu estava dirigindo, puto demais para
aguentar qualquer um dos soldados com cara de
merda por precisarem ir em uma viagem de última
hora. Já havia ameaçado dois de manhã, com
PERIGOSAS
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direito a pegadas de colarinho e um bom susto.
Esses bostas achavam que eu queria sair de Nova
Iorque bem naquela hora? Eu tinha muitos assuntos
para resolver naquela cidade, mas grande parte do
lucro estava indo embora graças a uma ação de
higienização do novo prefeito de São Paulo. Uma
quantidade considerável das drogas da família ia
para aquele pedaço do mapa, e parecia que o povo
daquele lugar consumia cada vez mais… Bando de
merdinhas viciados.
Ali também era um ponto inteligente para
todas as mulas abastecerem seus estoques e
levarem mais do nosso material para o resto da
América Latina. O México estava de portas
fechadas por algum tempo, a merda da MS-13,
máfia que controlava a entrada dos negócios por lá,
não queria negociar comigo até eu decidir me casar
com uma das meninas deles… Não era difícil
imaginar grande parte delas na minha cama, mas eu
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não me envolveria em casamento com uma máfia
tão ridiculamente pequena e violenta. Eles eram
como uma matilha de cães raivosos e famintos, nós
éramos os leões daquela porra de selva.
 
— Achei que precisaria te ligar mais
duzentas vezes antes de ver sua cara hoje —
Felippo provocou.
Nós não éramos melhores amigos, mas
trabalhávamos muito bem juntos. Ele era como
uma grande babá. Além de cuidar das contas da
família comigo, também me aconselhava sobre
assuntos que influenciavam dentro da Mão Negra e
me dedurava para os capi quando eu decidia algo
que ele não concordava. Na maioria das vezes, eu
apenas fazia cara feia, era bom que eles soubessem
que, apesar de nós sermos uma célula, era eu quem
mandava naporra toda.
— O rabo da russa deu algum trabalho, mas
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não tanto quanto essa merda de homem — eu me
referi ao prefeito. — Mudando de assunto, quem
está assumindo pelas nossas costas? Nossos coiotes
já reclamaram que tem homens de mais daquela
merda mexicana envolvidos com a polícia, eles
parecem sempre saber onde nossos caras vão
estar… Tenho duas famílias reclamando de
dificuldade de receber e enviar seu produto. Fora os
bordéis, precisando de carne nova, já que Mateucci
não sabe controlar a quantidade de heroína
consumida por suas putas.
— É um problema que vamos resolver na
volta, você sabe que os russos estão de olho nessas
coisas, sobre como vamos controlar essa merda.
Outra que é bom que ninguém saiba onde a raposa
passou a noite, ou você terá problemas — alertou.
Raposa? O mesmo tom de desprezo que a
menina tinha por ele, aquilo me fez rir.
— Se conferirem o meio das pernas dela,
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vão ver que a virgindade continua intacta, nós só
temos que rezar para que ninguém resolva olhar o
rabo por pelo menos três dias — eu ri e me sentei
em uma cadeira velha, olhando as informações que
Felippo tinha conseguido das merdas que estavam
acontecendo fora da minha bolha fodida em Nova
Iorque. Eu havia perdido tanto tempo negociando
com as máfias de fora, que não enxerguei quando a
escória mexicana atentava contra meu povo. Miami
também não facilitava… Aquele território me
interessava, eu precisava fazer algo. Meter meu
irmão mais novo para cuidar daquilo tinha me
parecido uma boa ideia antes.
Felippo me empurrou uma nova pilha de
papéis enquanto eu bebia meu café, me fazendo
quase engasgar quando vi o quanto os números
estavam errados.
Soquei a mesa depois de ler o restante dos
documentos e encarei Felippo.
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— Você entendeu que o ponto é pior do que
pensávamos? Não estamos apenas lidando com os
de fora, existe alguém de dentro fazendo algo
errado — ele indagou.
— Vou explodir o desgraçado que tem feito
isso — fiquei puto lendo a quantidade de zeros no
papel, sabendo que se aquele rombo nas contas
dobrasse, um banho de sangue aconteceria dentro
da Família enquanto eu estava no poder, e isso
ficaria marcado. — Quero saber quanto dinheiro
tem entrado na conta de cada capo, de cada
membro da família. Investigue tudo e, então,
quando eu voltar dessa viagem de merda, vou atrás
do desgraçado e mostro como nós lidamos com
traição dentro da Mão Negra.
Felippo estava de braços cruzados me
encarando e, pela sua expressão, concordava com a
minha atitude.
 
PERIGOSAS
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CAPÍTULO 1
Seria triste, se não fosse cômico, toda vez
escutar a mesma pergunta.
— Seus pais são fãs de Jane Austen? Você
tem apenas vinte e dois anos, é o único motivo
para...
— Para ter nome de gente velha? — cortei o
garoto gay, abusado e arrogante. Eu não gostava
dele e podia sentir de longe a energia pesada que
ele emanava, mas pelo bom convívio, eu o
suportava e fingia que aquilo não me abalava. —
Não. Elizabeth era o nome da minha avó e tenho
muito orgulho de ter o mesmo nome que ela.
Minha avó havia se fodido muito na vida, e
eu parecia não ter só herdado o nome, como
também o gênio da mulher. Ela criou meu pai e
meus tios batendo de porta em porta, trocando
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faxina por um lugar para dormir e algo para eles
comerem. Assim que meu avô, um italiano que
gostava de uma boa cachaça, morreu atropelado
enquanto ia para o trabalho, minha avó perdeu tudo
o que tinha, sendo expulsa da casa alugada logo em
seguida.
Ela tinha sido um exemplo, e a saudade que
deixou quando morreu ainda era um rombo enorme
no meu coração. Talvez, se não fosse sua partida,
eu não estaria aqui, sentada na cadeira da
faculdade, estudando para ser uma escritora decente
e fazendo meu inglês melhorar para poder tentar
um intercâmbio.
Mesmo com três meses de faculdade
atrasados, eu precisava dar um jeito na minha vida,
que vinha sendo uma montanha de emoções desde
que meu pai ficou doente e eu perdi o emprego. A
última entrevista que fui acabou comigo, me
lembrei da felicidade de passar por todas as etapas,
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quando, na semana passada, um dia antes de tudo
começar, recebi um e-mail dizendo que
infelizmente a vaga a qual eu preencheria deixaria
de existir por um reajuste da empresa.
Todos os meus sonhos pareciam ir pelo
ralo.
O intercâmbio, o namoro... Até mesmo
minha imaginação extremamente fértil andava me
deixando na mão, e eu ainda estava ali, sentada,
para fazer uma prova substitutiva em uma matéria
que eu havia ido mal.
Eu rezei para não pegar uma bela pendência
naquela merda.
— Ignora — recebi de Isabella, minha
parceira nos últimos quatro meses, batidinhas no
ombro.
Tínhamos uma conexão bizarra, junto
daquela sensação de “já te vi em algum lugar”.
Procuramos em tudo quanto é canto, mas a única
PERIGOSAS
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coisa em comum era que tínhamos casas de praia
no mesmo lugar — o único bem restante dos meus
pais. De qualquer jeito, ela havia armado a loucura
daquela noite e era o motivo da minha mochila
estar tão pesada, graças aos saltos que eu ainda
insistia em usar, mesmo sabendo que os pés
estariam massacrados pela manhã.
— Espero que seja a primeira balada hétero
que preste, juro! Pelo menos dizem que eles
recebem muitos estrangeiros, vai que eu encontro
uma francesa ou uma americana querendo
experimentar algo novo? — Isa piscou para mim e
me fez rir. — Boa prova! — ela me desejou antes
de eu perceber que a professora baixinha estava
dentro da sala de aula.
 
-
 
— Escrevi uma bíblia inteira nos últimos
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setenta minutos, minha mão está doendo pra
caralho! — reclamei. Eu era um pouco boca suja,
confesso, mas palavrão era advérbio de intensidade,
na minha concepção.
— Exagerada... — Isa cantou para mim,
sorrindo com seus um metro e setenta de
bronzeado, pernas longas e corpo magro. Seus
cabelos cacheados iam até pouco abaixo dos
ombros, e seus olhos eram enormes e quase pretos,
eu invejava isso nela. — Vamos logo para a casa
das minhas amigas, vamos nos trocar lá e esquecer
essa merda de faculdade até semana que vem! —
ela me puxou pelas rampas da PUC como se a vida
dependesse daquilo.
Sendo bem sincera, eu adoraria que aquela
noite trouxesse minha libertação.
 
-
 
PERIGOSAS
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O apartamento das amigas de Isa não ficava
longe, era uma república feminina. Eu conhecia de
vista uma ou duas meninas, mas nenhuma era
realmente minha amiga. Em sua grande maioria,
eram meninas do interior, com pais
multimilionários, mimadas a ponto de eu não
conseguir conversar meia hora com qualquer uma
delas sem revirar os olhos ou falar algo que faria
Isabella receber olhares tortos por ter me
convidado.
 
Quando terminamos de nos arrumar,
aproveitei que estava sozinha e me encarei no
enorme espelho da sala. Eu era a mais baixa dali,
com pouco mais de um metro e meio. Também era
a gorda do grupo, considerando que até a garota
mais magra dentro daquele apartamento queria
fazer lipo porque a barriga tinha dobrinhas quando
ela se sentava.
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Eu me sentia bem com meu corpo, e isso
bastava. Havia herdado os grandes seios da parte
italiana da família e a bunda grande da parte
brasileira. Entretanto, por mais acinturada que eu
fosse, sempre seria gorda, e por mim tudo bem. A
única coisa que me incomodava eram usar a
palavra gordo como ofensa quando aquilo não
passava de um adjetivo como qualquer outro.
Estava vestida com uma combinação
esquisita, mas que funcionava. Uma mistura de
botas overknee, meia-calça, shorts e uma camisa
xadrez larga por cima de uma regata branca. Meu
cabelo liso e comprido estava na altura da bunda, e
tudo o que fiz foi um coque no alto da cabeça,
prendendo o cabelo em um nó com ele mesmo.
A maquiagem de olhos esfumados que Isa
insistiu em fazer no meu rosto só deixou meus
olhos menores, mas eu não me importei, porque
minhamarca registrada era o batom vermelho. Eu
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tinha uma boca bonita, bem desenhada e cheia, com
lábios inferiores mais carnudos do que os
superiores.
Estava realmente gostando de me ver em
frente ao espelho, até que todas as garotas
chegaram perto e eu pude perceber o quanto todas
elas eram mais atraentes do que eu. A insegurança
foi sorrateira, e, por um minuto, o pensamento de
ter sido burra por terminar meu namoro me
consumiu. Respirei fundo e me olhei novamente no
espelho antes de sair para chamar o elevador,
afirmando para o fantasma da baixa autoestima que
ele não me dominaria mais.
A liberdade de uma noite insana era o que
tudo o que eu precisava, e nada estragaria isso.
 
-
 
O letreiro ultra luminoso era bem maior do
PERIGOSAS
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que eu imaginava, e as pessoas me encaravam mais
do que eu gostava de ser olhada.
— Por aqui, os VIPs não precisam esperar
— a garota loira encarou a fila com desprezo e
mais uma vez eu revirei os olhos. Se continuasse
nesse ritmo, até o final da noite, eu estaria
enxergando meu próprio cérebro.
O segurança pediu o RG de todas, para
confirmar a idade, e me encarou de um jeito sujo
quando percebeu que eu era a mais velha do grupo.
— Que foi? Perdeu alguma coisa? —
perguntei, erguendo a sobrancelha e tirando o
sorrisinho atrevido da cara do homem, que
colocava a pulseira no meu braço. — Obrigada —
puxei o braço com mais violência do que precisava
e segui atrás de Isa.
 
-
 
PERIGOSAS
NACIONAIS - ACHERON
Primeiro tudo estava escuro, e então eu
comecei a sentir o grave do som bater forte dentro
de mim, no meu estômago ou no meu útero, eu não
sabia direito.
Meus olhos demoraram para se adaptarem a
tanta luz neon. Tinha muito mais gente do que eu
esperava lá dentro e — obrigada, Deus — a música
era boa!
Eu amava dançar, amava demais me libertar
daquele jeito, fazia um bom tempo que isso não
acontecia, mal conseguia me lembrar qual tinha
sido a última vez em que tinha feito aquilo.
— VEM! — eu li os lábios de Isa, e ela me
puxou pela mão até o camarote.
 
Ser VIP era realmente algo naquele lugar.
Os convites foram oferecidos pelo tio de uma
menina chamada Camilla, eu não tinha certeza se
esse era o nome dela. Isa havia me contado que ele
PERIGOSAS
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era o mais novo sócio do lugar. Aos meus olhos,
pela quantidade de gente ali dentro e pelas que
estavam esperando para entrar, o homem tinha feito
um ótimo negócio.
Os camarotes eram na altura dos palcos e
distribuídos pelo salão, o chão de um carpete
vermelho escuro quase se misturava com o estofado
dos sofás, que circulavam o que eu achei ser uma
mesinha, mas logo percebi que eram pequenos
palcos de pole dance. A área tinha um parapeito
transparente, que nos permitia ver a pista. A minha
vontade de dançar cresceu enquanto ouvia as
meninas conversando.
— Ei! Vamos esquentar! — Isabella me
estendeu um shot com alguma bebida, brindamos e
colocamos para dentro. Eu não tinha ideia do que
era aquilo, mas desceu queimando pela garganta.
— Opa! — balancei a cabeça. — É bom
que isso seja bem caro, porque eu vou dar um
PERIGOSAS
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prejuízo da porra! — E foi o que fiz, tomei mais
uma dose daquilo e peguei uma garrafa que
deixaram em cima da nossa mesa.
— Vocês vão pra pista? — perguntei para
as meninas, que já tinham sentado no sofá
vermelho como se estivessem em uma casa de chá.
— Não mesmo, a vista está muito boa
daqui... — Carol me respondeu e logo em seguida
mordeu o canudo de seu drinque, encarando algo
atrás de mim. Quando me virei para ver, por sorte,
meus cabelos se soltaram e desceram pelas minhas
costas, escondendo parte do meu rosto.
Os homens eram bonitos, do tipo que nunca
iriam olhar para mim. Então depois de apreciar a
vista e me recuperar, dei de ombros e chamei a
única pessoa ali que eu sabia que não estaria
interessada naqueles caras, a não ser que eles
tivessem uma boceta. Peguei Isabela pela mão e
fomos para a pista, ficando na frente da área VIP,
PERIGOSAS
NACIONAIS - ACHERON
para que ninguém se perdesse ou encontrasse
alguma confusão.
Parecia que o DJ havia recebido de alguma
forma celestial a informação que eu estava
dançando e colocou para tocar uma sequência de
músicas que eu adorava. Eu dançava de olhos
fechados, às vezes sentia mãos em minha cintura,
mas tudo o que fiz foi empurrar seja lá quem fosse.
Eu ainda não estava pronta para beijar outra
boca que não fosse do meu ex-namorado. Era triste
saber que aquela coisa de “não namoramos, mas
estamos juntos” começava a desmoronar, e eu
contava os dias até o momento de perder meu ex-
namorado-melhor-amigo. Então, mesmo estando
em uma briga particular com Deus a uns belos dois
meses, eu orei.
Orei no meio de uma balada, quase bêbada
por não ter comido nada e cheia de mágoa dentro
do meu coração. “Deus, se você ainda ouve quando
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eu te chamo, por favor, faça meu coração parar de
doer tanto”. E foi nessa hora que resolvi abrir os
olhos, enquanto o refrão de Enjoy the Silence
tocava alto, e vi uma quantidade absurda de
seguranças em volta de um único homem passando
em direção ao camarote.
Quem será que tinha tanto dinheiro para
precisar levar os seguranças na balada? Revirei os
olhos e voltei a dançar, com raiva por saber que em
casa meus pais estavam desesperados, esperando a
resposta de um processo sair. Eu estava com risco
de não conseguir continuar a faculdade por conta
dos atrasos, com o nome fodido no banco, sem meu
pai saber, e então um riquinho metido à besta
esbanjava o dinheiro em baladas daquele tipo e
precisava ter quinhentos seguranças gorilões. Será
que ele limpava a bunda com dinheiro também?
— Preciso beber alguma coisa mais forte, já
volto — disse no ouvido de Bella antes de sair de
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perto dela e voltar ao camarote.
Fiquei surpresa ao ver que as meninas
tinham conseguido atenção de um dos homens da
outra mesa, eles pareciam mais velhos, e confesso
que bem intimidadores.
Sem falar nada, eu me ajoelhei na frente da
mesa e me servi de uma, duas, três doses de tequila.
Aquilo ia dar merda, mas eu não precisava ir para
casa naquela noite. Tudo o que fiz foi dar de
ombros e ter certeza de que não vacilaria ao me
levantar, mas não deu muito certo.
— Você está bem? — o cara que estava
sentado entre as meninas falou, e eu entendi que
aquele grupo todo era gringo.
Dei risada, fazendo ele ficar sem entender.
Peguei seu copo cheio de uísque de modo
atrevido, levantei no ar e brindei antes de dar um
gole na bebida. Devolvi o copo, pisquei para o cara
e saí andando de volta para a pista com uma garrafa
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de uma dessas cervejas novas que tem gosto de
tudo, menos de cerveja.
 
-
 
Não percebi a hora, mas logo a garrafa em
minha mão já havia se esvaziado e eu via o mundo
de um jeito muito mais legal. Enquanto dançava
com Isa, tentando me equilibrar em cima do salto
toda vez que me sentia vacilar, tomei consciência
da mulher que dançava em uma plataforma no meio
da pista. A garota estava quase sem roupa e se
mexia de um jeito muito sensual junto de um outro
dançarino.
Eu nunca liguei muito para gênero, desde
que eu gostasse da pessoa, e graças a coragem
desenfreada que o álcool causava, estendi minha
mão para que o homem me puxasse lá para cima.
Ouvi os gritos de excitação que as pessoas
PERIGOSAS
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em volta deram quando viram uma terceira pessoa
no palco. Vi o rosto de Isabella rindo e li seus
lábios: “sua louca”. Encarei o grupinho de meninas
mimadas, que me olhavam irritadas por perderem
momentaneamente a atenção do gringo, e então
parei meus olhos no homem que havia chegado
com os seguranças.
Minha dança foi inteiramente para ele,
passei minhas mãos pelo corpo da mulher enquanto
rebolava no homem e permiti que ela colocasse as
mãos em mim também. O cara me segurava pela
cintura, e eu podia sentir o membro duro dele
roçando bem no meio da minha bunda. Eu ri,
sentindo cada parte do meu corpo latejar.Senti
também culpa de estar sem transar a pelo menos
um mês, culpa por estar querendo algo que
ninguém entendia e podia dar. Querendo realmente
ser, uma vez na vida, Elizabeth de Jane Austen e ter
um Sr. Darcy para entender quando eu fosse uma
PERIGOSAS
NACIONAIS - ACHERON
filha da puta, ogra, no ápice no meu mau humor e
que me amasse, me cultuasse e me quisesse para
sempre.
A música acabou, minha vontade de estar
ali em cima também, mas o show precisava
terminar do modo certo. Sabia que os olhos do
homem que provoquei estavam sobre mim, então
puxei o rosto dos dançarinos e pisquei para o
desconhecido antes de darmos um belo beijo triplo,
que levou o público da casa à loucura.
Quando desci do palco, me esgueirei até
Isabella, e ela me abraçou.
— Sua maluca! Foi a coisa mais sensual
que eu já te vi fazer! — ela ria. — Não me faça
querer te dar uns beijos também!
Então foi minha vez de rir, eu sabia que não
fazia o tipo dela, nem ela o meu. Nós éramos mais
parceiras de alma do que de corpo.
Estávamos dançando, aproveitando o
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restante da noite, quando eu senti duas mãos na
minha cintura, quase entrando pelo meu short.
Tentei dar uma cotovelada para trás, mas a pessoa
não se moveu, continuou com as mãos em mim.
— QUE CARALHO DE PARTE VOCÊ
NÃO ENTENDEU QUE É PRA TIRAR SUAS
MÃOS DE MIM? — gritei por causa do som alto e
também pela raiva.
Eu era forte e dei um jeito de conseguir
afastar o cara o suficiente para poder me virar e
encarar o armário em forma de gente vestido de
azul.
— Qual é, você estava se divertindo ali em
cima e provocando tanto... Eu sei o que você quer
— o cara se aproximou de novo e me travou contra
o peito dele, o cheiro de cigarro em sua camisa me
fez querer vomitar.
— Me solta, agora! — eu sabia me
defender, agradeci mentalmente a minha maluquice
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de querer emagrecer fazendo lutas.
Não emagreci, mas aprendi a dar alguns
golpes.
Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa,
dois seguranças surgiram do nada, segurando o
homem e o fazendo tirar as mãos de mim. Agradeci
por estar livre, mas não antes de levar meu joelho
com toda força que tinha bem no meio das pernas
daquele merda.
— Nunca mais encoste em nenhuma mulher
sem que ela queira, entendido? — falei bem
próximo ao ouvido do cara, que havia se encolhido
pela dor.
Achei que naquela hora os seguranças iam
me levar embora, afinal, em São Paulo ou em
qualquer lugar do mundo, a regra é clara, não?
Arranjou confusão, vai para rua. Mas os homens
olharam em direção ao camarote e tudo o que eu vi
foi o branquelo de cabelos castanhos indicar com a
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cabeça a porta dos fundos. Os seguranças pareciam
não me ver e saíram arrastando o cara pelo caminho
indicado.
Eu me virei para encarar o homem que
ainda me olhava e cheguei bem perto da grade de
divisão de áreas, empurrando sem jeito as pessoas
no caminho.
Quando próxima dele, falei no meu melhor
inglês bêbado.
— Eu não preciso da sua ajuda — virei e saí
puxando Isabella, que me olhava chocada, em
direção ao bar.
— Senta aí! — ela mandou, e eu me larguei
em um dos bancos. — Você está bem?
— Estou, preciso beber mais algumas doses
e vou ficar ótima!
— Então vamos lá! — Isa não era o melhor
exemplo quando se tratava de sobriedade, nem de
maturidade, mas aquela noite nós podíamos tudo.
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As pulseiras da área VIP nos davam acesso
a todas as bebidas, e nós duas ficamos
experimentando drinques de nomes bizarros até a
hora que percebi que precisava urgentemente usar o
banheiro.
Quando me levantei, precisei sentar de
novo.
A bebida tinha feito seu efeito. Eu estava
tão bêbada, que mal conseguia andar.
— Ei, Bella! Vou mijar, me espere be-em
aqui! — disse e me virei, deixando Isa dando risada
sozinha no bar.
Quando cheguei na porta do banheiro
feminino, vi que a fila estava enorme e senti o
cheiro nojento que vinha do lugar. Bêbada daquele
jeito, eu não tinha condições de me segurar para
não encostar no vaso, e ainda usando aqueles
saltos... Então olhei para os lados, meio
atrapalhada, e empurrei a porta do banheiro
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masculino.
 
 
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CAPÍTULO 2
O banheiro não estava tão cheio, um cara
que usava o mictório reclamou, e eu mostrei o dedo
do meio para ele enquanto procurava uma cabine
livre. Era estranho como o banheiro dos homens
não estava podre como o das mulheres.
Depois de quase virar o pé três vezes na
tentativa de fazer xixi sem encostar no vaso, me
sentei e dei risada, que merda eu estava fazendo
ali? Eu me limpei e dei descarga, depois subi as
calças me apoiando nas paredes e saí, numa
tentativa falha de andar em linha reta até a pia.
Encarei meu reflexo e dei risada novamente —
Deus sabia quão bêbada eu estava.
Bebi um pouco de água da torneira, na
esperança que dois goles d’água fossem capazes de
me livrar de uma ressaca das bravas, e ajeitei a
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maquiagem dos olhos, que parecia borrada. Tirando
aquilo, até que eu não estava nada mal.
Lembrei da minha insanidade na pista de
dança e gargalhei sozinha, pensando na provocação
gratuita, mas logo parei de rir, pois fui interrompida
pelo barulho alto da porta batendo e anunciando
que eu não estava mais sozinha.
Havia um segurança dentro do banheiro,
isso normalmente não me deixaria nervosa, mas o
homem para quem eu havia dito que não precisava
de ajuda estava lá também, me encarando com um
sorriso de canto nos lábios finos e mãos nos bolsos
de sua calça jeans, que deveria ser muito cara.
— E-e-está perdido? — falei me enrolando,
meu coração batia nos ouvidos graças ao medo de
algo acontecer contra a minha vontade. Obrigada,
fogo no cu, pela bebida!
— Eu não falo sua língua, mas você parece
falar muito bem a minha — o homem falou em
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inglês. Malditos gringos.
Tomada de uma coragem que eu tinha
certeza ser provocada pelo álcool, comecei a gastar
o inglês que eu tanto havia suado para aprender?
— Vocês são folgados demais, quando
pisamos na terra do Tio Sam, somos todos
obrigados a saber a língua de vocês. E não, nós não
falamos espanhol. Chama português, conhece? —
não sabia se era inteligente provocar aquele
homem, ele não parecia o tipo que perdia tempo
com brincadeiras. Na verdade, a postura firme e
aparentemente calma só me dava maior sensação de
poder.
Eu o observei ser o centro da mesa com
seus companheiros, sabia que ele não era protegido
daquele modo à toa.
— Eu sei que vocês falam português, o que
eu não entendo é essa sua postura... Já havia
escutado que brasileiras eram quentes... — ele
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disse, se aproximando lentamente. — Mas o que
você é ainda não tem nome — ele sorriu e não
chegou aos olhos.
Não gostei.
— Onde aprendeu a dar uma joelhada
daquele jeito? — o homem colocou a mão no meu
queixo e olhou profundamente nos meus olhos,
aproximando nossos rostos.
Eu sei que estava mais bêbada que bicha
menor de idade em parada gay, mas aquele homem
conseguia ser mais bonito de perto do que de longe,
e de longe ele já era maravilhoso. Pude ver os olhos
castanhos me encarando sob um belo par de
sobrancelhas grossas e vivas, uma delas estava
erguida como se esperasse logo a resposta.
A boca fina estava aberta em um sorriso de
dentes brancos e retos. Notei os caninos
proeminentes e sorri, achando aquilo sexy para
caralho. O rosto tinha as mandíbulas marcadas e a
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barba por fazer, me lembrei de anotar esse fato
mentalmente porque isso significava testosterona, o
que significava um belo pau grande. Comecei a rir
loucamente do meu pensamento sujo, o homem
pareceu não entender nada, o sorriso em seu rosto
sumiu, e ele tirou a mão de mim, mas continuou me
encarando.
De repente, graças a minha crise de riso, eu
vacilei com aqueles saltos enormes, e ele me puxou
pela cintura, sustentando meu corpo e me fazendo
voltar ao equilíbrio. Ter aquele homem me
segurando era irreal, eu não erao tipo dele, então
tentei não me abalar.
— Me desculpe — falei, parando de rir e
limpando as lágrimas que saíam dos olhos. —
Preciso encontrar minhas amigas — tentei me
soltar, mas ele não me largou.
— Eu poderia te levar em casa... Segura e
inteira, eu juro — ele ergueu as mãos, finalmente
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me soltando, e eu o encarei como se ele fosse
louco.
— Não sei como é no seu país, mas, aqui,
essa situação em que estamos já é estranha, então
faça o favor de sair da minha frente, ou farei um
escândalo. O tio de uma das minhas amigas é dono
disso aqui e seria assim — estalei os dedos — para
eu te foder.
O cara ergueu as sobrancelhas e se afastou
de mim como se tivesse tocado em algo muito
quente. Logo saiu da minha frente, e eu passei,
tentando manter minha dignidade sem cair de cara
no chão.
O segurança não liberou o caminho, e eu me
virei, irritada, olhando para o gringo com as mãos
na cintura.
— Você vai mandar ele me deixar sair, ou
eu vou precisar lidar com ele do meu jeito? —
ameacei, sabendo que não daria conta nem mesmo
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de dar um tapa na cara daquele armário em forma
de gente.
— Antes de ir, me diga seu nome — ele
provocou.
— Elizabeth — eu falei, entediada.
— Sobrenome?
Pra que diabos ele queria meu sobrenome?
Ia me adicionar no Facebook?
— Fabbri — ele ergueu as sobrancelhas,
parecendo interessado.
— Italiana?
— Porca miseria! — eu xinguei, e ele
pareceu se divertir.
— Deixe a garota ir, Henry... — ele
permitiu, ainda com aquele sorriso zombeteiro nos
lábios.
— E seu nome? — tentei me fazer de idiota,
mas estava curiosa.
— Louis Luppolo — ele respondeu mais
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sério do que eu esperava.
— Até nunca mais, senhor Luppolo... — eu
disse seu sobrenome lentamente, olhando por cima
do ombro, antes de sair batendo a porta atrás de
mim.
 
O que tinha acabado de acontecer?
Foi tudo o que eu pude pensar antes de
encontrar Isa e avisar que estava indo embora.
A ressaca moral foi grande, mas a ressaca
de álcool me deixou na cama, evitando luz e som
alto por todo o final de semana.
Eu estava sem celular, havia deixado o
coitado cair quatro vezes no mês, e meu dinheiro
tinha acabado, não tinha como arrumar naquele
momento. Isso não significava muita coisa quando
as pessoas ainda tinham o chat do Facebook para
falar comigo, mas eu fugi de todos naqueles dois
dias. Precisava colocar minha cabeça no lugar,
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fazer uma promessa de que não colocaria tão cedo
álcool na boca e que com toda a certeza eu nunca
mais sairia com aquelas meninas.
 
Na segunda à noite, quando Isa me abraçou
na sala de aula, eu tive certeza de que nem elas
queriam sair comigo de novo. Pelo menos uma
coisa boa.
 
Estava um frio do cacete. O começo de
julho castigava, e Perdizes tinha a péssima mania
de ser uma geladeira, mesmo no verão. A faculdade
estava quase vazia: tirando os poucos vendedores
ambulantes e as pessoas que bebiam mais do que
estudavam, não tinha nenhuma alma viva nas ruas
laterais da PUC.
— Vamos beber alguma coisa em
comemoração! Passamos raspando! — Isa me
obrigou a ir para o bar.
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— Eu realmente não estou no clima, Bel.
Vou te deixar no bar com alguém decente e depois
vou subir para pegar meu ônibus.
— Não quer que eu chame um Uber? — Isa
vivia querendo me ajudar, mas eu odiava que
gastasse dinheiro comigo. Orgulho era um defeito
grande dentro de mim.
— Não, só me empreste seu celular para eu
ligar para minha mãe. Ela fica louca esperando na
janela a cada ônibus que passa para saber se eu
cheguei.
Isa deu de ombros e me entregou o celular.
— Mãe? Sim, está tudo bem. Estou ligando
para avisar que vou enrolar um pouco aqui com a
Isa e depois vou para casa. Não se preocupe, ok?
Sim, peguei minhas chaves. Sim, meu bilhete tem
crédito. Também amo você — essa foi a curta
ligação com minha mãe.
— Tome cuidado. Amo você! — Isa disse,
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me abraçando.
— Também te amo! — beijei o topo de sua
cabeça e me virei, fazendo mais uma escolha errada
na vida quando decidi subir pela escura João
Ramalho em vez de ir por dentro da faculdade.
Eu estava com frio, minha calça jeans
chegava a estar gelada contra o corpo, e bem
naquele dia eu inventei de enfiar o tênis sem as
meias. A sorte é que por cima da camiseta, eu
estava usando uma camisa xadrez vermelha, de um
tecido bem quentinho. Esfreguei os braços com
força e me abracei enquanto subia aquele pedaço de
rua escuro.
Foi quando tudo aconteceu rápido demais.
De repente, uma Land Rover preta parou do
meu lado, eu já ia me preparando para xingar o
tarado que estava ali quando dois seguranças
gorilões, iguais aos da boate de sexta, desceram do
carro e me pegaram pelos braços. Que merda era
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aquela?
— Me solta! — eu gritei e tentei empurrar
os homens, um deles não gostou muito da minha
atitude e bateu no meu rosto com as costas da mão.
Aquilo doeu pra caralho. Senti meu lábio inferior
abrir com a força do tapa, mas nada ia me fazer
parar de lutar. Respirei fundo e me concentrei em
acertar um belo chute em um deles para depois
poder descer a mão no outro e correr.
O plano deu certo até a metade do caminho,
depois que um dos grandalhões se desequilibrou
com meu chute, o outro me puxou pela trança que
Isabella tinha perdido o maior tempo fazendo
enquanto a professora enrolava para passar a nota.
Eu berrei. Berrei alto, mas parecia que a
merda da música na rua de baixo também estava
alta. Não tive nenhuma ajuda, achei que Deus
também estivesse olhando para o outro lado.
Quando o segurança tapou minha boca, fiz questão
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de dar uma bela mordida até sentir o gosto de
sangue. Ele me jogou no chão, xingando em inglês,
e então eu me toquei que aquilo realmente devia ser
obra daquele gringo maluco. O que aquele bosta
tinha na cabeça?
— Mande seu chefe se foder! — eu falei,
sentindo os joelhos ardendo da ralada que levaram,
chegando a rasgar minha calça.
— Ele vai foder você, sua vaca gorda, agora
entra nesse carro.
— Me obrigue — desafiei e voltei a gritar,
me pondo de pé e tentando correr. Foi então que
senti uma dor aguda na nuca e tudo ficou escuro.
Bela hora para o primeiro desmaio da vida.
 
-
 
Eu sempre me achei forte e também que
aquilo nunca aconteceria comigo, porque eu não
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era o tipo de garota que chamava atenção dos caras.
Nem dos certos, nem dos errados. Mas lá estava eu,
dentro de um carro, com quatro homens estranhos,
sendo levada para sei lá onde por conta de um
gringo maluco.
Como eu me xinguei mentalmente por ter
ido pelo lugar errado. Como eu me odiei por isso.
Quando voltei à consciência, ouvi a música
que tocava no carro, era algo clássico, o tipo de
música que me irritava profundamente. Senti
minhas mãos amarradas, meus pés também. Que
droga. Eu nem mesmo sabia onde estava, mas não
importava, eu precisava lutar. Respirei fundo e
juntei minhas mãos. Olhei para o lado, de relance, e
vi o segurança distraído, então coloquei meu plano
em ação, descendo uma cotovelada na cara daquele
homem com tanta força, que senti seu rosto
afundar. O outro logo tentou me segurar, eu o
mordi novamente e joguei os pés contra o peito do
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cara que eu havia dado a cotovelada, mantendo ele
longe. Eu estava arranhando a cara do idiota que
estava mais próximo das minhas mãos quando fui
chamada.
— Ei! Garota! Se não ficar quieta, eu vou
estourar os seus miolos, e se o chefe quiser, ele vai
te foder morta — o cara do banco da frente
apontava uma arma na minha direção. Eu arregalei
os olhos e engoli em seco.
— Eu vou foder a sua bunda com essa
arma, me aguarde — eu finalmente fiquei quieta.
— Essa vadia me mordeu de novo! — o
segurança ao meu lado reclamou. — Vou
amordaçar essa vaca.
E foi o que aconteceu.
Achei que teria um infarto durante os vinte
minutos seguintes, me sentindo como um gado indo
para o abate. Estava na merda e agora sóum
milagre poderia me salvar.
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O carro parou em um galpão no meio do
nada, era mato para todo lado, e tudo o que pensei
foi em tentar correr e me esconder na plantação.
— Nem pense em fugir, ou eu juro que
meto uma bala na sua cabeça — aquilo me
assustou. Queria matar o desgraçado que havia me
levado até ali.
Fui jogada dentro do enorme armazém e caí
sobre os joelhos machucados. Aquilo doeu como o
inferno, mas eu respirei fundo e me sentei o melhor
que pude, olhando para frente e vendo Louis
sentado em uma mesa de jantar, à luz de velas, me
olhando com muita curiosidade. Eu ia arrancar a
cabeça daquele filho da puta.
Não tentei me levantar e mantive meus
olhos fixos no chão, vendo o homem se levantar e
andar lentamente até mim pela visão periférica.
Podia ouvir cada passo que Louis dava
contra o chão frio, e aquilo foi fazendo meu
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coração acelerar em um nível louco, achei que ele
fosse saltar para fora do peito.
Eu me peguei rezando para que aquilo fosse
um sonho doido e implorando ao meu inconsciente
que me acordasse, mas tudo o que aconteceu foi
que o homem parou bem na minha frente com seu
terno bem passado e soltou a mordaça da minha
boca. Evitei olhar em seu rosto e me mantive em
silêncio, mas senti um alívio enorme sem aquilo me
apertando.
Minha respiração estava descompassada,
podia sentir meu peito subindo e descendo rápido
demais, e engoli em seco quando vi Louis sacar
uma faca do bolso e passar com ela próxima ao
meu rosto. Ele se abaixou, ficando na minha altura,
e disse com a voz mais mortal e séria enquanto
segurava meu queixo, me obrigando a encarar seus
olhos castanhos.
— Eu vou soltar você, mas me prometa que
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não vai correr — que opção eu tinha? Se correr o
bicho pega, se ficar o bicho come.
Fiz que sim com a cabeça, travando os
dentes para não mandar aquele homem enfiar a faca
no rabo.
Ele passou o dedão no meu lábio inferior.
— Quem fez isso?
— Um dos seus guardinhas — disse com os
dentes travados. Louis parecia enfurecido, passando
a faca em uma velocidade incrível nas cordas que
prendiam minhas mãos e pés.
— Tem um banheiro ali, se limpe e volte
aqui.
Eu me afastei o mais rápido que podia
enquanto ouvia o homem sair do armazém.
O pânico quase tomou conta de mim dentro
do banheiro quando me olhei no espelho. Meu lábio
estava inchado e ainda sangrava. Eu tinha um
arranhão leve na bochecha direita, e meus olhos
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estavam com marcas pretas do rímel úmido pelas
lágrimas. Olhei meus pulsos marcados, os joelhos...
Filhos da puta, estragaram meus jeans favoritos.
Limpei o rosto, ignorando que a maquiagem
estava saindo e mostrando as imperfeições que eu
tinha. Quanto menos interessante eu fosse, maiores
chances de voltar para casa inteira eu teria.
Lavei os joelhos e senti como se estivesse
passando fogo na ferida. Que merda! Soltei meu
cabelo da trança, que já estava praticamente
desfeita, e o prendi no alto da cabeça, em um rabo
de cavalo firme. Depois, me encarei no espelho e
fechei os olhos, respirando fundo enquanto tentava
encontrar um pouco de paz no meio do turbilhão de
pensamentos que estava tendo. Eu desejava ter uma
mente brilhante o bastante para armar algum plano.
O banheiro não tinha nada que pudesse ser
usado como arma, caso o idiota lá fora tentasse pôr
as mãos em mim.
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Respirei fundo, vencida.
Se esse maldito fosse me foder, eu faria de
tudo para que ele saísse sem o pau.
 
Quando abri a porta do banheiro, vi Louis
sentado de costas para mim, tamborilando os dedos
na mesa, demonstrando impaciência. Grande
merda. Eu me sentei de forma grosseira na cadeira
à sua frente e o encarei de volta.
— Por que diabos me trouxe aqui? —
perguntei, irritada.
— Eu gostaria de te chamar para jantar —
ele respondeu com muita calma.
— Não seria muito mais educado e menos
doloroso — indiquei minha boca e bochecha
machucadas — fazer isso pessoalmente ou por
telefone e esperar uma resposta?
— O que você me responderia? — ele
apoiou os cotovelos na mesa, me desafiando.
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— Que não. Nunca. Jamais — cuspi cada
uma das palavras.
— Por isso mesmo eu encurtei o caminho e
te trouxe logo para cá — ele sorriu, e novamente eu
vi que seu sorriso não chegou aos olhos.
— Minha mãe vai mandar a polícia atrás de
mim — e a polícia ia me achar como? Ele não
precisava saber que eu tinha certeza que seria mais
um corpo achado por aí sem identificação. Bendita
mania de andar sem documentos.
— Não, não vai. Você vai ligar agora para
ela e dizer que resolveu ficar na casa de uma amiga,
diga que amanhã estará em casa a tempo do café da
manhã com seu pai — ele me estendeu seu celular,
e eu peguei. Pude ver pelo visor que já passava da
meia-noite. Respirei fundo, encarando a tela, e
disquei o número de casa.
— Mãe? Sou eu. Não, está tudo bem… Eu
estava com as meninas e acabei tomando um
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tombo, nada sério. Ralei os joelhos e machuquei o
rosto. Não, não precisa mesmo me buscar. Vou
ficar aqui na casa da Isa até os ônibus voltarem a
passar — minha mãe confiava muito em mim para
pensar que eu estava mentindo. — Mãe? Eu te amo,
ok? Sempre — desliguei e joguei o celular no
homem à minha frente. Encarei Louis em silêncio,
analisando o maldito.
Ele era maravilhoso, mas diziam que o
diabo nunca se apresentava em uma má aparência.
— Pronto. E agora? — questionei.
— Agora nós vamos jantar, e você vai me
contar um pouco sobre a sua vida — o homem
empurrou uma pasta na minha direção, e eu a
peguei, puxando as folhas de dentro.
Fotos minhas na infância, e as raras da
adolescência, um belo resumo da minha vida.
Páginas de redes sociais, uma breve descrição da
minha família… Fechei os olhos, largando os
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papéis em cima da mesa. Minha cabeça girou, não
acreditando no que estava acontecendo.
— Sério, isso? Você é doente — ele apenas
riu da minha reação.
— Você é estranhamente interessante,
Elizabeth…
— O que você espera com isso?
Assustei-me com um barulho atrás de nós e
vi que eram garçons. Olhei sem entender nada
quando colocaram em cima da mesa uma barca
cheia de comida japonesa.
— Li que é sua favorita. Você foi em quatro
restaurantes de comida japonesa nos últimos três
anos, e tem um favorito, onde você já colocou o pé
trinta e quatro vezes só no último ano. Essa comida
é de lá — ele disse com calma enquanto abria seus
hashis. Eu nunca mais faria check-in no Facebook.
Nunca.
— Não vou comer. Você bateu em mim
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para me trazer aqui e espera que eu coma com você
numa boa?
— Bater em você estava extremamente
longe do que eu mandei meus homens fazerem, e
eu te peço desculpas por isso. Nenhum deles vai te
machucar, nunca mais. Dou minha palavra —
Louis me encarava, sério, com os olhos castanhos
que chegavam a ficar avermelhados sob a luz das
velas. — E o jantar é apenas uma bela desculpa.
Não existe nenhum problema com a comida, caso
haja alguma dúvida sobre isso, eu não estragaria a
noite, não sou fã de necrofilia — ele sorriu e enfiou
um pedaço de peixe cru na boca.
— Sua palavra não vale nada para mim. Eu
quero ir embora.
— Você vai, Elizabeth, mas antes eu tenho
uma proposta — a curiosidade estampada no meu
rosto o fez sorrir. Dessa vez, pela primeira vez, o
sorriso chegou aos olhos.
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— Então fale logo e me deixe ir — foi tudo
o que eu respondi.
— Primeiro, coma — era uma ordem. —
Então me escute e logo depois você será levada
para casa. Eu mesmo farei isso.
— Tenho outra opção? — provoquei.
— Você sabe que não — Louis continuava
comendo, então suspirei e me rendi. Não havia
nada que eu pudesse fazer.
— Você já ouviu falar sobre máfia? —
Louis me perguntou logo que enfiei de uma vez
meu hot roll favorito na boca. Fiz que não com a
cabeça. — Nunca assistiu nenhum filme sobre isso?
— neguei novamente — Por quê? — ele
questionou.
— Não acho interessante— fui clara.
— Nada? Nem mesmo O Poderoso Chefão
te chamou atenção? — ele parecia se divertir.
— Eu até gosto de filmes de ação, mas
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máfia? Sério? Não gosto, nunca vi nenhum em toda
minha vida — eu não tinha qualquer outra opção, e
já que estava ali, por que não encher o cu da minha
comida favorita e ir embora para nunca mais olhar
na cara desse merda?
— Sua conta da Netflix realmente mostra
isso… — ele parecia decepcionado. — Mas, Jane
Austen? Monstros S.A.? É disso que você gosta?
— eu parei o hashi no meio do caminho até minha
boca, sentindo minha cabeça esquentar. Respirei
fundo e o encarei.
— Eu não acredito que até na minha conta
da Netflix você conseguiu fuçar. Aliás, quem é
você? Como conseguiu tudo isso de informação
sobre mim?
Ele apenas sorriu e voltou a comer. Eu
esperei, encarando o homem.
— Digamos que eu sou alguém que tem
uma boa quantidade de dinheiro e poder de
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informação. Sou um Don. Você devia ter assistido
O Poderoso Chefão, assim poderia entender um
pouco o que eu posso fazer… — o cara estava se
vangloriando demais.
— Grande bosta — eu revirei os olhos e o
ouvi gargalhar, até a risada do desgraçado era
bonita. Ele precisava de um defeito, como esse
caráter lixo ou os pés feios. — O que foi? — eu
disse de boca cheia.
— Se fosse qualquer outra pessoa aqui na
minha frente, em um dia de mal humor, eu
simplesmente estouraria os miolos, mas tudo o que
eu quero fazer é foder você.
Aquilo me pegou desprevenida, e eu engoli
minha comida com mais força do que devia,
machucando a garganta.
— Me foder? Fora de questão. Procura uma
das garotas que estavam comigo na boate, mande
flores e um belo cartão, a calcinha da escolhida vai
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estar no chão no primeiro estalar de dedos. Se era
essa a sua proposta, a resposta é não. Obrigada pelo
jantar — eu me levantei.
— Sente agora, eu não terminei — a voz
dele estava cheia de uma ameaça velada.
Eu me sentei com medo enquanto
sustentava o olhar do homem.
— Termine, então.
— Vi que a situação da sua conta bancária
não está das melhores… — o homem mexia seu
copo de uísque e viu que seu comentário surtiu
efeito em mim. — E sua tão adorada faculdade está
com vários pagamentos atrasados… — meus olhos
encheram d’água, por raiva, constrangimento,
tristeza e vergonha. Aquilo me chocou ainda mais,
como esse filho da puta sabia? —Eu poderia ajudar.
Já pensou? Todos os problemas resolvidos apenas
por passar uma noite comigo? — aquilo fez meu
coração apertar de uma forma brutal.
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Eu não era idiota, era uma oportunidade de
ouro, mas meu orgulho engoliu qualquer outro
sentimento e me fez ver em vermelho.
Decidida, me levantei da mesa, andei até a
frente de Louis, que estava acompanhando meus
passos com um sorriso vitorioso no rosto, e dei o
tapa mais forte que eu podia.
— Você tá achando que eu sou o quê? Uma
puta? Você não pode me comprar! — eu gritei
antes do homem me surpreender. Ele cresceu sobre
mim, pegando em meus pulsos com força e me
sacudindo. Eu paralisei, assustada, e ele se
aproveitou da minha falta de ação para enfiar a
língua dentro da minha boca.
Foi o beijo mais agressivo da minha vida.
Louis me beijava como se pudesse apagar
todo o fogo da fúria que eu sentia, como se pudesse
me ganhar, e eu, idiota, correspondi por um belo
minuto, até que percebi a merda que estava fazendo
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e mordi seu lábio inferior com força suficiente para
fazer sangrar. O homem me empurrou, e seu olhar
poderia me fuzilar.
— Eu juro que foderia você nessa mesa até
você não aguentar andar, garota — ele disse,
passando a mão na boca, limpando o sangue que
agora escorria de seu lábio. Sorri, me sentindo
vitoriosa.
— Mas não vai. Vai me levar agora para
minha casa como disse que faria, ou, como você
mesmo disse, a palavra de um Don da máfia não
vale nada? — minha voz era carregada de desprezo
e ironia.
Ele passou as mãos nos cabelos, respirando
fundo, como se lutasse para não fazer alguma
besteira.
— Você ainda vai implorar por isso, eu juro
— ele disse com nossos rostos tão próximos, que
pensei que iria me beijar novamente, mas ele não o
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fez, só saiu andando e eu corri atrás.
 
Um segurança jogou no ar a chave de uma
das Land Rovers do senhor “Você sabe o que é
máfia?”, e ele a pegou no ar. Entrou no carro sem
dizer uma palavra e me esperou. Eu entrei pela
porta do passageiro, no banco detrás.
— O que está fazendo? Pode vir aqui — ele
indicou o banco ao seu lado.
— Hoje não, Satanás, hoje não — como eu
adorava Bianca Del Rio. Queria minha cama,
RuPaul’s Drag Race e um balde de sorvete para
superar tudo aquilo.
O homem revirou os olhos e desistiu de me
convencer, então deu partida no carro e saiu
arrancando pelo meio do mato.
— Se não se importa, eu quero chegar viva
em casa. Diminua essa velocidade.
— E se eu não quiser? — ele pisou mais
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fundo no acelerador, apenas para me desafiar. Eu
não ia discutir, apenas prendi o cinto ao meu redor.
Tentei ser racional sobre o que havia
acabado de acontecer, mas a sensação ainda era de
estar em um sonho muito louco, minha cabeça
flutuava. Era como se o dia não tivesse existido.
— Com quantas mulheres você se atreveu a
fazer essa proposta suja? — perguntei de modo
atrevido.
— Algumas… — ele me olhou pelo espelho
retrovisor, o sorriso malicioso de volta aos lábios.
— Quantas? — insisti.
— Por que quer saber?
— Curiosidade, é meu segundo maior
defeito depois do orgulho. Você devia demitir
quem faz sua pesquisa de campo. Não acredito que
deixaram isso de fora — soltei de forma ácida.
— Eu não me lembro da quantidade, só me
lembro que tive tudo o que queria delas, mesmo
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que precisasse esperar — o tom não me agradou e
me fez revirar os olhos.
— Quanto trabalho por causa de uma
boceta. Por que você não casa logo? Ou come o cu
dos seus seguranças, tem mais de trinta, não vai
enjoar durante uns bons anos.
Não era minha intenção ser engraçada, mas
até eu ri do que disse.
Louis gargalhou novamente, chegou a
limpar os olhos. Era ridículo o quanto aquele
homem era bonito, o quanto parecia envolvente…
E aí você descobria que era um bosta e todo o
encanto acabava. Minha risada morreu aos poucos,
olhando para meus joelhos fodidos e pensando em
como meu pai ficaria preocupado quando me visse
naquele estado.
 
— O que está pensando? — ele me
perguntou.
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— No motivo que te fez me escolher para
encher a porra do saco, sendo que tinha tanta
mulher mais alta, mais magra e mais bonita naquele
lugar e no mundo todo.
— Nenhuma delas fala palavras sujas como
você — ele sorriu como se me elogiasse, e eu
revirei os olhos, tentando segurar o riso. Falar
palavrões como se fosse um ogro sujo se tornar
uma forma de atrair homens era uma novidade para
mim.
— Já pensou em me apresentar para sua
mãe? “O que a atraiu nela, filho?” “Você sabe,
mamãe, ela tem a boca de um caminhoneiro de
estrada” — pisquei e ri, mas percebi que Louis
havia parado de dar risada. — Quantos anos você
tem, senhor “vou comer quem eu quiser”?
— Trinta e três — dez anos de diferença.
Ele parecia bem mais novo.
— Não saio com menores, se esse é seu
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pensamento — ponto para o gringo.
— Eu não tenho nada com sua vida, e logo
que você me deixar em casa, não vai ter nada com a
minha também. A propósito, vocês estragaram o
meu melhor jeans.
— Vou pagar por ele, meus homens que
encostaram em você, também.
— Nada mais justo… — falei como se
minha língua pudesse ferir o homem, e distraída
pela lua cheia que iluminava a estrada, eu acabei
cochilando no banco do carro.
— Elizabeth, acorde — abri os olhos
lentamente, parecia que meu corpo pesava uma
tonelada. Eu estava cansada e com dores por todo
canto. Louis estava com o rosto bem próximo ao
meu, com uma das mãos no meu rosto, os dedos
acariciando minha bochecha. — Eu realmentesinto
muito por meus homens terem feito isso com você,
haverá consequências sérias — eu nem mesmo
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discuti, apenas encarei aquele par de olhos
castanhos e tentei decorar os detalhes do seu rosto.
Ele era bonito de se olhar, apenas isso.
— Não se preocupe — eu finalmente achei
minha voz, que saiu rouca e fraca. Limpei a
garganta e o fiz afastar as mãos de mim. —
Conviva com a sua consciência sobre hoje e não
durma por um mês ao saber que eu achei que seria
estuprada, que apanhei de três homens que são pelo
menos três vezes maiores que eu e que fui forçada a
jantar com um cara que acha que porque eu estou
fodida, pode me comprar. Sexo é muito mais que
um jogo de interesses para mim, Louis, é sobre
confiar, e eu não confio em você.
Pulei para fora do carro e puxei minha
mochila das mãos dele.
— Obrigada pela carona — falei cheia de
ironia enquanto procurava minha chave na bolsa.
Finalmente achei meu chaveiro, um Stitch gigante.
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Louis não me respondeu, o gringo apenas
me mediu de cima a baixo e me esperou entrar em
casa.
Não queria ver aquele homem nunca mais,
eu não era o tipo dele e, definitivamente, um
homem que força uma mulher a sair com ele do
jeito que ele fez, não fazia o meu tipo.
A primeira coisa que fiz em quando entrei
em casa foi ir para meu quarto. Joguei minhas
coisas na cama e entrei no banheiro, louca por um
banho, precisava tirar do meu corpo qualquer
resquício daquele dia. Era uma pena que a água que
caía sobre a minha cabeça enquanto eu chorava
sentada no chão não pudesse lavar meus
pensamentos também.
Eram seis horas, quando eu botei o
analgésico para dentro e deitei na cama,
agradecendo por não ter sido estuprada, por estar
em casa, por estar inteira, mesmo que minha vida
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estivesse quebrada.
Uma noite de sexo e todos os problemas
resolvidos… Aquilo era tão ofensivo quanto um
cuspe na cara, mas eu não tinha ideia de como ia
resolver tudo o que precisava.
Dormi pesado e sonhei com Louis pela
primeira vez. No sonho, ele até valia a pena. Pena
que era apenas no sonho.
 
 
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CAPÍTULO 3
Uma semana se passou até que eu tivesse
sinal de vida do gringo. Foi somente quando o
carro do correio parou em frente à minha casa com
uma entrega especial em meu nome, que fiquei
desconfiada.
O carteiro tinha uma caixa de presente com
laço vermelho em cima.
— Olá, Beth, como estão seus pais? — o
homem era um velho conhecido.
— Bem! E você? — perguntei
automaticamente enquanto assinava o local que ele
indicava com um x.
— Estou bem, mande lembranças.
— Pode deixar — eu não olhei muito na
cara do homem por culpa da curiosidade. Peguei a
caixa e entrei logo em casa.
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Subi para o meu quarto e tranquei a porta.
Parecia que eu enfrentaria uma cobra quando
abrisse aquela merda, meu coração batia mais
rápido, e eu sentia minhas mãos suarem. Que bosta!
Ao mesmo tempo que não queria nada vindo
daquele homem, eu esperava algo, e isso fodia
minha cabeça.
Quando tomei coragem o bastante, rasguei o
embrulho e encontrei uma segunda versão da minha
calça estragada. Como esse filho da mãe sabia meu
número? Balancei a cabeça, tentando afastar o
pensamento do que aquele homem sabia sobre
mim. Tirei a calça da caixa e ouvi algo cair contra o
papelão. Cheguei a engasgar quando vi.
O filho da puta havia me enviado um
celular!
Eu peguei o aparelho e vi que estava ligado,
havia uma mensagem em um contato chamado
“Don”. Lembrei da voz dele me dizendo que ele era
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um, coisa que eu não tinha ideia do que fosse.
A mensagem estava em português, parecia
que alguém estava aprendendo uma nova língua.
 
“Querida Elizabeth, sinto muito pelo mal-
entendido de dias atrás. Meu travesseiro anda
falando coisas sem sentido sobre como que eu
deveria ter cuidado pessoalmente de nosso encontro
— sério que ele chamava aquilo de encontro? —
Espero que se encontre melhor e que aceite jantar
comigo, hoje, às 19h. Espero sua confirmação.
Atenciosamente, Don Louis Luppolo.
 
P.S.: Use esse jeans, ele deixa seu traseiro
maravilhoso.”
 
Revirei os olhos lendo aquilo. Sério mesmo
que ele achava que tinha alguma chance de sair
comigo depois da palhaçada da semana passada? E
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que porra era um Don?
Larguei o celular de canto e sentei a bunda
de frente para o computador, procurando por “O
que é um Don da máfia” na ferramenta de pesquisa
e esperei, batendo as unhas na mesa sem muita
paciência. Logo achei o que queria.
Don: Um termo tradicional de respeito por
um homem que é chefe da máfia.
Ou seja, estava lidando com um cara que
mexia com tráfico, prostituição e sabe mais lá o
que. Meu estômago revirou, eu realmente não
queria aquilo.
Na impulsividade, coisa muito comum
quando se lidava comigo, peguei o celular e resolvi
responder a mensagem.
 
“Odiado senhor traficante, explorador de
mulheres e Deus sabe mais lá o quê,
Eu espero, do fundo do meu coração, que
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seu travesseiro seja feito de pedra, pois só assim
sua cabeça pode descansar o peso de toda a
desgraça que você promove. Sinto muito que você
goste do meu traseiro, espero que tenha gravado em
sua mente a imagem dele, pois essa é a única que
terá por toda a sua vida. Depois me mande um
endereço para enviar essa porcaria de celular de
volta. Eu não sou do tipo que aceita presentes
financiados por dinheiro sujo.
P.S.: Espero que seu pau caia.
Atenciosamente, Elizabeth Fabbri.”
 
Joguei o celular na cama e, logo em
seguida, me arrependi de ter respondido a merda da
mensagem. Se aquele homem tinha todo aquele
poder, o que mais ele poderia fazer contra mim? E
contra minha família? Meu coração começou a
bater descompassado, e eu fiquei agoniada.
O celular apitou com uma nova mensagem,
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e eu me encolhi. Olhava ou não? Curiosidade em
excesso nunca foi considerado uma qualidade.
Peguei a merda do iPhone e olhei a nova
mensagem, agora em inglês. O homem não havia
aprendido que no meu país precisava aprender a
falar minha língua? Revirei os olhos.
 
“Se fala desse modo, com toda a certeza já
sabe o que eu sou e já deve imaginar que eu não
aceito não como resposta. Minha proposta ainda
está de pé, pense nisso com carinho quando for,
hoje, renovar seu semestre na faculdade.
P.S.: Você vai adorar quando eu enfiar ele
na sua boca.
Ainda aguardando sua confirmação,
Don Louis Luppolo”
 
IDIOTA! Eu quase joguei o celular na
parede. Como ele podia saber o que eu faria hoje?
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Como esse filho da puta tinha coragem? Minha
cabeça doía só de imaginar que eu precisaria lidar
com aquele homem novamente. Fechei os olhos e
lembrei de como o desgraçado ficava bonito no
terno que estava usando da última vez que o vi, das
gargalhadas que soltou, da quase conversa normal
que tivemos no carro, do sorriso com caninos
maiores que o normal — o que eu achava sexy para
caralho — e aqueles malditos olhos que pareciam
variar em tons de marrom... Por que o infeliz tinha
que ser tão bonito?
Minha cabeça voltou para Pedro, meu ex-
atual-namorado-melhor-amigo, e eu me senti suja.
Nós namoramos por longos cinco anos. Nos dois
primeiros, eu era louca por ele, nos três últimos,
tentei manter o namoro por medo de perder meu
melhor amigo e o cara em quem eu confiava para
ficar nua quando o tesão batia. E ele batia
constantemente, a diferença entre o meu fogo no
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rabo e a fogueira de São João é que meu fogo no
rabo não apagava. Eu ri do pensamento, como eu
podia ser tão boba?
Encarei o tempo pela janela do quarto e saí
na esperança de que renegociar minha faculdade
não fosse um problema tão grande.
 
-
 
Eu não sabia para onde ir.
Meu coração doía e minhas pernas pareciam
ter vida própria, me levando para longe de qualquer
um que pudesse ver minha cara de choro.
 
Negado.
Que palavra mais desgraçada.
Eu estava com a merda do nome sujo,a
faculdade não aceitou minha renegociação e, com
isso, eu não podia me matricular para o próximo
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semestre.
Que merda de vida.
Cobri a cabeça com o capuz, e sentindo
meus olhos ardendo pelas lágrimas que rolavam, eu
saí sem rumo pela rua. Precisava andar, pensar, dar
um jeito.
Meu pai não podia nem sonhar com isso, eu
já via a reprovação em seus olhos. Aquilo me
consumia antes mesmo de algo acontecer. O pânico
queria tomar conta, senti falta dos remédios que eu
havia largado, senti falta de me machucar, de poder
descontrolar… O mundo parecia rápido demais, e
de um segundo para o outro, eu estava no chão.
O impacto não foi dos piores, a dor me
trouxe parcialmente de volta ao mundo. O trânsito
em volta da cena parou, um homem saiu do carro
desesperado, gritando comigo que o farol estava
aberto, que eu havia surgido de repente e por isso
ele não tinha me visto. Uma senhora me perguntava
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se eu estava bem, e eu não conseguia responder,
parecia que o nó na minha garganta havia prendido
minha voz.
Para minha surpresa, um segurança gorila
apareceu ao meu lado, me ajudando a ficar de pé.
Ele olhou bem no fundo dos meus olhos, deu leves
batidinhas no meu rosto, olhou para outro da
espécie dele e falou algo que eu não ouvi.
Era como se eu estivesse fora do meu corpo,
sem controle algum sobre nada.
Eu me sentia miserável.
O segurança ao meu lado não disse muita
coisa, só me tirou dali e me enfiou em um carro
parado do outro lado da rua. Eu não sabia se
agradecia ou se me rebelava, tudo o que minha
cabeça gritava era o quanto eu estava fodida, por
todos os lados, não havia para onde correr, nem
como me salvar.
— Senhorita Elizabeth? A senhorita está em
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choque — o segurança falou em um português
ruim, me olhando pelo retrovisor.
Eu não consegui responder, apenas olhei
pela janela e fiquei pensando em como seria melhor
não existir naquele minuto. Faculdade fodida, sem
emprego, com a conta negativa em nem sei quantos
mil reais, meu pai doente, minha mãe frágil, os dois
falidos, e eu como fardo nas costas deles. O
desespero tomou conta, e as lágrimas começaram a
vir junto de soluços que faziam meu corpo tremer.
Naquele minuto, tudo o que eu queria era morrer,
então me deitei no banco de couro daquele carro
que custava mais do que minha casa e chorei até
adormecer.
Acordei ouvindo vozes:
— Ela dormiu no caminho, deixe ela
descansar — não queria me mexer. Onde eu
estava? Meu estômago roncava de fome, eu devia
estar um lixo.
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Respirei fundo e esperei não ouvir mais
ninguém em volta para poder levantar e tentar sair
dali correndo.
Abri a porta e coloquei os pés no chão.
Ajeitei as calças e limpei os olhos. Quando ia
começar a caminhar, ouvi uma voz atrás de mim.
— Vai para algum lugar? — eu reconheci a
voz, o cheiro, o tom de desafio.
— Não te interessa — eu nem mesmo me
virei para responder, sabia que aquele homem não
poderia me ver naquele estado.
— Interessa, sim, você vai subir agora
comigo, nem que eu precise te carregar.
Eu ri, em volume máximo e de forma
aberta.
Eu me virei lentamente para Louis. Ele
vestia uma camisa preta de seda, marcando os
músculos do peito e dos braços, junto de um jeans
muito bem cortado e sapatos sociais lustrados. O
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cabelo estava como se recém-saído do banho.
Respirei fundo, tentando ignorar a aparência do
homem e falei:
— Duvido. Pra me levantar, você precisava
ser do tamanho do seu segurança.
— Você até pode ser pesada, mas não é
duas — o homem andou na minha direção, e antes
que eu pudesse reagir, o desgraçado me colocou
sobre seus ombros como se eu fosse um saco de
batatas e caminhou comigo até o elevador enquanto
eu o xingava de todos os nomes que conhecia e
batia em suas costas.
Ele desceu um tapa pesado na minha bunda,
e eu gritei, surpresa.
— Belo traseiro — ele disse. — É um
prazer revê-lo — podia sentir que o infeliz estava
sorrindo.
— Vai se foder — foi o que eu disse, mas a
vontade era de rir.
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O que eu estava fazendo? Brincando de
flertar com o perigo? Alguma hora isso ia dar
merda.
Nós entramos no elevador, eu, cansada de
brigar, e ele, provavelmente satisfeito por eu estar
fazendo o que ele queria, de um jeito ou de outro.
O elevador subiu direto para o andar que ele
queria. Graças a Deus ninguém entrou durante o
caminho, e eu agradeci, uma humilhação a menos
na conta do dia.
— Será que você pode me colocar no chão?
— Ainda não, você tem uma tendência
maluca a se meter em encrenca — revirei os olhos
e bufei, em resposta ele bateu de novo na minha
bunda.
— EI! — reclamei, e ele riu, abriu a porta
do quarto e a fechou com o pé. Andou comigo mais
alguns passos e me jogou na cama.
— Não estava tão pesado assim — Louis
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disse, massageando o ombro.
— Onde estão suas babás? Deu folga desse
seu ego enorme pra eles?
— Não, estão fazendo a ronda no hotel. Eu
posso me defender sozinho — ele sorriu.
— E eu posso saber por que um dos seus
homens estava me seguindo? Por que ele me trouxe
aqui e por que diabos tem outra mesa com pratos?
— falei, aumentando o tom de voz assim que
percebi o plano.
— São quase oito horas da noite, pensei que
estivesse com fome e aproveitei a oportunidade
para trazer você aqui para jantar comigo — o
infeliz estava mais solto que na semana anterior.
— O que eu disse em resposta quando você
me mandou mensagem essa manhã se traduz na sua
língua como “nem pensar”, não em “me siga, me
sequestre e me alimente” — tentei imitar a voz
dele, mas tudo o que consegui foi com que ele
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gargalhasse.
— Sei que está com fome e também sei o
que aconteceu hoje, sente logo aqui, e vamos
comer.
Verdade seja dita, eu estava faminta. Eu me
sentei em uma das cadeiras livres, e então o homem
que devia ser evitado a todo custo me serviu um
dos meus pratos favoritos. Salmão teriyaki com
batatinhas salteadas na manteiga. Meu estômago
roncou alto, e eu fiquei constrangida.
— Desde que horas você não come? — ele
perguntou enquanto me servia de um vinho que eu
não conhecia.
— Desde as nove da manhã, e eu odeio
vinho — olhei o repreendendo.
— Não esse. Experimente. Mandei embora
meu homem de informações e consegui um melhor
no lugar — ele sorriu de canto, o sorriso que não
chegava aos olhos e que me irritava.
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— Pelo menos acertaram no prato — eu
comecei a comer de imediato, mostrando que não ia
esperar por ele. Louis não se importou, se serviu no
seu tempo e começou a comer, me encarando.
Eu podia ouvir Back to Black tocando
baixinho, como se fosse som de elevador, e sorri.
— Isso é algo do seu gosto ou é algo para
me agradar? — perguntei sem olhar para ele,
concentrada no meu prato.
— O que? A música? Parece que temos um
gosto em comum, finalmente.
— O que é, vovô? — eu finalmente olhei
para ele. — Não encontrou nenhuma outra
brasileira que fale sua língua? É por isso que não
larga do meu pé? — tomei um gole do vinho e não
consegui esconder o quanto gostei daquilo, era
doce e não tinha o gosto de álcool que eu tanto
odiava. Ele notou e sorriu sem mostrar os dentes.
— Que bom que não gosta de vinho — ele
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provocou. — E não, não é por falta de mulheres
bilíngues. Já te disse que nenhuma delas xinga
como você — ele colocou os cotovelos na mesa e
se aproximou. A música trocou, e agora Amy
Winehouse cantava You Know I’m No Good. — Eu
realmente gosto da sua fibra, garota, seu espírito é
forte… — fiquei chocada com o elogio e tentei
disfarçar.
— Depois de ser tão fodida pela vida, é a
única coisa que resta. Um brinde ao meu espírito e
a habilidade exemplar de falar tudo o que penso
sem um filtro decente — ergui minha taça na
direção dele e bebi todo o vinho que havia ali. Ele
me serviu de mais e ficou me olhando por algum
tempo, ambos em silêncio.
— O que te fez ficar tão descontrolada?
Meus homens falaramque você saiu da faculdade
em direção ao metrô de forma desnorteada — ele
voltou a mexer no seu prato, terminando de comer.
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— Vou parar a faculdade... — senti meu
coração rachar.
— Por quê?
— Porque eu não tenho dinheiro para
continuar, não finja que não sabe — revirei os
olhos e enchi minha taça, queria dar algum prejuízo
para aquele homem.
— Você sabe que poderia resolver tudo isso
de modo rápido e muito prazeroso — ele limpou a
boca e me encarou como um jogador de pôquer. —
No dia seguinte, tudo estaria resolvido. Não pense
nisso como uma compra, pense em uma troca. Eu te
dou o que você quer, e você me dá o que eu quero.
Levantei bruscamente e joguei a taça de
vinho na cara de Louis. Ele respirou fundo, puxou o
ar pelo nariz pelo menos quatro vezes antes de se
limpar e me encarar.
— Eu não estou à venda. Você está
acostumado com essa vida de ter tudo o que quer,
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mas vou te contar uma novidade: não sou obrigada
a ficar com você.
O homem levantou, ele era uns bons
centímetros mais alto que eu. Confesso que senti
um arrepio de medo subir pela minha coluna.
— Você me disse que sexo envolvia
confiança — ele veio se aproximando e me fazendo
andar para trás.
— Fique longe — eu me ouvi dizer, mas
isso não o impediu.
Louis parecia um felino, andava com passos
marcados na minha direção até que não tinha mais
para onde correr. Estava entre a cama e o homem.
— Estou tentando fazer você confiar em
mim, querida — eu fechei meus olhos, sentindo o
cheiro do vinho misturado ao perfume dele. Sentia
seus dedos frios contra minha bochecha.
Ele desenhou com a ponta dos dedos,
desceu pelo meu pescoço e afastou meu cabelo dos
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ombros. Meu corpo tremia, não sabia se era medo
ou excitação, mas permiti. Senti a respiração dele
em meu ouvido, e logo sua língua estava ali, no
lóbulo da minha orelha. Ele lambeu e raspou os
dentes sobre o ponto sensível, eu me senti arrepiar.
Sua boca desceu pelo meu pescoço enquanto a mão
dele puxava meu cabelo para o lado, me forçando a
virar a cabeça e liberando o lugar de vez, para que
ele pousasse pequenos beijos até meu ombro
descoberto pela regata que eu usava. Louis voltou o
caminho todo com calma, e então começou a
morder e dar longos beijos de língua pela minha
pele.
Meus lábios estavam entreabertos, e eu me
ouvi puxar o ar entre os dentes.
Algo começou a crescer dentro de mim,
sentia minha temperatura aumentar, meu coração
bater aceleradamente e aquela sensação do corpo
inteiro latejar.
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Puta que pariu, eu o queria.
De repente, minhas mãos estavam no cabelo
macio daquele idiota, e eu estava puxando o rosto
dele em direção ao meu. Suas mãos desceram pelo
meu corpo, devagar, e eu me vi na ponta dos pés
para beijar aquele homem louco. Envolvi o lábio
inferior de Louis com os meus, e o puxei entre os
dentes, sua boca estava entregue.
Suas mãos na minha cintura me puxavam
forte contra seu corpo enquanto sua língua se
encontrava com a minha e me fazia esquecer do
meu próprio nome. O beijo começou devagar, mas
logo que Louis me empurrou para a cama e se
encaixou entre as minhas pernas, me fazendo sentir
o volume de suas calças, me senti incendiar.
Aquilo era tão errado, que começou a
parecer certo. Enquanto ele devorava minha boca,
como se aquilo fosse a melhor coisa do mundo,
suas mãos vasculhavam meu corpo e apertavam
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lugares certeiros, me fazendo corresponder ao
estímulo. Logo uma das mãos chegou sobre meu
seio e apertou forte, de um jeito que me fez gemer
contra sua boca.
— Ah, Elizabeth… — ele sussurrou em
resposta ao meu gemido, e então voltei ao meu
corpo.
Se aquilo continuasse, provavelmente eu
tiraria a roupa junto de um homem que havia visto
três vezes na vida e que não confiava. Então, reuni
toda minha força, de vontade e física, para afastar
Louis.
— Nã-ão — eu disse com a respiração
totalmente descompassada quando consegui tirar o
homem de cima de mim. Eu me sentei na cama e
repeti alto, para que eu mesma ouvisse e
entendesse. — Não!
Depois, me coloquei de pé, arrumei a blusa
e as calças do melhor jeito que deu e saí daquele
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quarto o mais rápido que pude, deixando Louis de
pau duro sem entender nada, na cama, como um
deus grego irritado.
Que se fodessem ele e o volume enorme
dentro daquelas calças, que explodissem ele e todo
o dinheiro que tinha.
Eu podia estar no lixo, mas tinha dignidade,
e ela ainda valia alguma coisa.
Quando entrei no elevador, apertando o
botão para que descesse logo, vi Louis vindo pelo
corredor, correndo em minha direção.
— Elizabeth! — ele gritou e esmurrou a
porta que havia acabado de se fechar. Eu respirei
aliviada, chega de gringos-loucos-mafiosos. Eu já
tinha tido minha parcela de loucura na vida e
paguei caro, não iria passar por aquilo de novo.
Saí do hotel o mais rápido que consegui, e
graças ao celular que o infeliz havia me dado, e eu
tinha esquecido de devolver, descobri como voltar
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para casa e, em seguida, desliguei aquela merda
para que ele não me achasse.
Pedi desculpas aos meus pais pelo horário
que havia chegado e corri para o meu quarto.
Joguei-me na cama, rindo desesperada de tudo o
que havia acontecido naquele dia, mas logo estava
em prantos, chorando tanto, que uma hora depois
meu corpo só se sacudia, não tinha mais lágrimas
para sair.
Insônia sempre foi uma constante na minha
vida, e, naquela noite, fiquei refém dela de novo. O
problema é que eu não conseguia tirar da mente a
boca de Louis e seu corpo todo sobre o meu. O que
eu tinha feito para merecer aquilo? Com toda a
certeza, em alguma vida passada eu havia jogado
cocô de dinossauro na cruz, porque não era
possível!
Respirei fundo e pensei em tudo o que
podia fazer para resolver a situação da minha conta
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e da faculdade. Pensei em falar com meus pais, em
tentar algo com o banco… Eu precisava achar uma
solução para todos aqueles problemas o mais rápido
possível.
 
 
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CAPÍTULO 4
Negado.
Era a palavra do ano para mim no momento.
Eu nem me abalei quando o gerente do
banco disse que não podia negociar minha dívida
sem saber se eu teria como pagar. Só me levantei
enquanto ele falava sozinho e saí andando.
Estava um dia de merda, o céu era uma
massa cinza e chovia intensamente.
Mais uma vez na vida, me senti fracassada,
e olha que eu nem tinha tanto tempo de vida assim.
O quão difícil seria me olhar no espelho depois de
aceitar a proposta de Louis? Só de pensar que eu
me venderia para aquele homem, meu estômago
dava sinal de vida. Andei na chuva até em casa,
cheguei encharcada e agradeci por ninguém
perguntar nada.
PERIGOSAS
NACIONAIS - ACHERON
Depois de estar seca, limpa e quente, dentro
dos meus moletons folgados, resolvi ligar o celular
supercaro que o idiota havia me dado. Qual foi
minha surpresa quando o negócio começou a vibrar
desesperadamente com todas as mensagens que eu
havia recebido? Precisei deixar o celular em cima
da cama por um tempo até ter coragem de mexer
nele e encontrar as mensagens de um Louis
enfurecido.
Cento e sessenta e duas mensagens, trinta e
duas ligações — e eu esperava que nenhuma
ameaça de morte —, era o que tinha naquele visor.
Engoli em seco.
Boa parte das mensagens eram “Aonde
você foi?”, “Onde você está?” e “Não me faça
aparecer na porta da sua casa”. Eu não abri o
restante, deveria ser mais do mesmo então eu só
respondi a última, pensando que ao fazer aquilo
com toda a certeza estava garantindo minha vaga
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no colo do capeta.
“Sua proposta ainda está de pé?” mandei
aquilo sentindo as lágrimas descendo, a garganta
queimava de raiva.
O celular vibrou logo em seguida.
“Quero discutir os termos novamente. Um
dos meus homens vai passar para te pegar às 19h.
Avise seus pais que não sabe quando vai voltar para
casa.
Atenciosamente, Don Louis Luppolo.”
 
Que bosta eu estava

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