Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CHOQUE AUTOR: PEDRO V.F. MEDRADO - O diagnóstico de choque baseia-se na avaliação clínica da presença de perfusão e oxigenação tecidual inadequada. - O primeiro passo na abordagem do choque é reconhecer a sua presença, e a segunda é identificar a provável causa e ajustar o tratamento adequadamente. - A hemorragia (hipovolemia) é a causa mais comum de choque no doente traumatizado. - Choque obstrutivo – pneumotórax hipertensivo e tamponamento cardíaco · Reduz o RV, devido ao sangue no saco pericárdico que inibe a contratilidade e o DC · Considerar naqueles doentes com lesões acima do diafragma. - Choque neurogênico – lesão extensa da medula espinhal ao nível da coluna cervical e torácica alta · Causado pela perda do tônus simpática e vasodilatação subsequente · O choque inicialmente é por vasodilatação e hipovolemia relativa - Choque séptico – é infrequente, mas é comum em doentes cuja chegada à sala de emergência é muito postergada. · Em idosos mais comumente por uma infecção do trato urinário. FISIOPATOLOGIA DO CHOQUE - DC (mL/minuto) = FC (batimentos por minutos) x VS (mL/batimentos) · Débito cardíaco – volume de sangue bombeado pelo coração em 1 minuto · Volume sistólico – quantidade de sangue ejetado a cada contração cardíaca - PA = DC x RVP - O Volume Sistólico é determinado pela pré-carga, pós-carga e contratilidade do miocárdio - Pré-carga = expressa o volume do retorno venoso (RV) para o coração · É determinado pela capacitância venosa, volemia e a diferença da pressão venosa sistêmica média (PVSM) e a pressão do átrio direito (PaD), que seria o fluxo venoso (PVSM – PaD). · Fluxo Venoso é o volume que retorna ao coração determina o enchimento ventricular no fim da diástole, e, portanto, o comprimento das fibras. · Lei de Frank-Starling – comprimento das fibras relaciona-se com às propriedades contráteis do músculo miocárdico. - O sistema venoso é considerado um sistema de capacitância, dentro do qual o volume sanguíneo é resultado de dois componentes 1. Volume de sangue que permanece no circuito de capacitância caso a pressão fosse igual a 0 a. Ou seja, não desempenha papel da PVSM. 2. Volume de sangue que contribui para a pressão sistêmica média a. Esse Volume Venoso contribui por 70% do volume sanguíneo total contido no circuito venoso. b. Diante de perdas sanguíneas, há espoliação desse componente de volume venoso e redução do gradiente de pressão, que por sua vez reduz o RV. - Pós-carga é a resistência ao fluxo anterógrado de sangue · Também é conhecida como resistência vascular sistêmica (periférica) na raiz da aorta. Diante do trauma - Traumatismo – resposta à perda aguda de volume circulante · Aumento da FC na tentativa de preservar o DC. · Taquicardia é o sinal mais precoce do choque · As respostas circulatórias inicias à perda sanguínea são compensatórias, há uma progressiva vasoconstrição das circulações cutâneas, muscular e visceral · Preservar o fluxo para os rins, coração e cérebro. - Liberação de catecolaminas endógenas - aumenta a RVP, que aumenta a Pressão Sanguínea Diastólica, queda no pulso · Mas isso não tem aumento significativo da perfusão orgânica. - Liberação de hormônios vasoativos – histamina, bradicinina, betaendorfinas, cascata de prostanoides e outras citocinas · Efeito profundo na microcirculação e na permeabilidade vascular. - O Retorno Venoso (RV) na fase inicial do choque é preservado por compensação pela redistribuição do volume sanguíneo no sistema venoso. - A maneira mais efetiva de restaurar o débito cardíaco e a perfusão a órgãos-chave é o restabelecimento do retorno venoso ao normal, através da localização e interrupção do foco de sangramento e de reposição volêmica apropriada. · A reposição volêmica somente permite a recuperação do estado se o sangramento estiver controlado. · Por isso, é preciso controlar primeiro do que repor o volume. - O tratamento inicial do choque é direcional para reestabelecimento da perfusão celular e orgânica com sangue adequadamente oxigenado. A falta da perfusão adequada, resulta num aumento do metabolismo anaeróbico · Aumento de ácido lático, e por fim numa acidose metabólica. - Falta da perfusão adequada prolongada, causa uma depleção de ATP (energia celular), o que resulta numa perda da integridade da membrana. · Há uma liberação de iNOS, TNF e outras citocinas que resultam em dano orgânico e disfunção de múltiplos órgãos e sistemas. - Se Depleção de ATP não for revertida, o dano celular progride alterações de permeabilidade endotelial, edema tecidual e morte celular · Isso exige quantidades apropriadas de soluções apropriadas eletrolíticas isotônicas e sangue para reverter o processo. - Não se deve usar VASOPRESSORES no choque hemorrágico, pois pioram a perfusão tecidual. - Para avaliar o agravamento no estado hemodinâmico do doente, é necessário monitorar com frequência os índices de perfusão. - A maioria dos doentes traumatizados com choque hipovolêmico exigem intervenção cirúrgica precoce ou angioembolização para reversão do quadro. AVALIAÇÃO INICIAL DO DOENTE - Avaliar as condições circulatórias do doente - Confiar exclusivamente na pressão sistólica como indicador do choque pode resultar em reconhecimento tardio. - Os sinais mais precoces da perda de volume sanguíneo, na maioria dos adultos, são a taquicardia e a vasoconstrição cutânea Todo doente traumatizado que está frio e taquicardico* está em choque, até que se prove o oposto. · FC> 160 bpm – lactente; · FC> 140 bpm – criança em idade pré-escolar; · FC> 120 bpm – até a puberdade; · FC> 100 bpm – adulto. *Idosos podem não ter taquicardia, devido a limitação na resposta cárdica ao estimulo de catecolaminas, ou ao uso de medicamentos como bloqueadores beta-adrenérgicos. *A presença de um marca-passo pode limitar capacidade de aumento da FC. - Hematócrito e hemoglobina não são métodos confiáveis de avaliar a presença de choque, e não serve para excluir. · As perdas sanguíneas maciças podem produzir decréscimo mínimo do hematócrito ou da concentração de hemoglobina. - O valor do déficit de base e/ou do lactato na gasometria pode ser útil para determinar a presença e a gravidade do choque. Diferenciação clínica das causas do choque - A determinação inicial da etiologia do choque por meio de exames diagnósticos como estimativa da PVC, RX de tórax e/ou pelve, USG, não devem retardar de forma alguma a restauração agressiva do volume sanguíneo. Choque hemorrágico - A hemorragia é a causa mais comum de choque após o trauma, e virtualmente todo doente politraumatizado tem componentes de hipovolemia. - Se existem sinais de choque, o tratamento é iniciado como se o doente estivesse hipovolêmico – identificar prontamente e interromper rapidamente a hemorragia. - Fontes potenciais de perda sanguínea – tórax, abdome, pelve, retroperitônio, extremidades e sangramentos externos - Lesões concomitantes que agravam o estado de choque hemorrágico e hipovolêmico – tamponamento cardíaco, pneumotórax hipertensivo, lesão medular ou contusão cardíaca. Choque não hemorrágico - Inclui: choque cardiogênico, tamponamento cardíaco, pneumotórax hipertensivo, choque neurogênico e o choque séptico. · A maior parte desses choques respondem transitoriamente à reanimação volêmica - Choque cardiogênico – disfunção miocárdica causada por traumatismo fechado do coração, por tamponamento cardíaco, embolia gasosa, ou mais raramente por infarto do miocárdio associado ao trauma. · Deve-se suspeitar quando o mecanismo do trauma envolve uma desaceleração brusca com lesão torácica. · Todo doente com trauma fechado – ECG para determinar arritmia ou achados sugestivos de lesão · Níveis de isoenzima CK e isótopos específicos raramente tem valor no diagnóstico ou tratamento na emergência. · Ecocardiografia pode ser útil em suspeita de tamponamento ou ruptura valvular, mas não é prático ou acessível nos serviços de emergência. · FAST identifica presença de líquido no pericárdio e a possibilidade de tamponamento como causa do choque. · Monitoração precoce da PVC – usado no trauma cardíaco contuso paraorientar a reposição volêmica. - Tamponamento cardíaco – mais comum no ferimento penetrante do tórax, mas pode ser resultado de contusão torácica. · Tríade de Beck: Taquicardia e Hipotensão arterial + Abafamento de bulhas + Turgência de veia jugular · A hipotensão que não responde à reposição volêmica sugere tamponamento · O pneumotórax hipertensivo pode simular o tamponamento cardíaco a diferença é que: · No pneumotórax hipertensivo – ausência do MV e timpanismo à percussão no hemitórax afetado · Tratamento para tamponamento – Toracotomia imediata · Pericardiocentese é uma manobra paliativa e temporária quando não for possível ser feito a toracotomia. - Pneumotórax hipertensivo – é uma verdadeira emergência cirúrgica e requer diagnóstico e tratamento imediato. Ocorre devido a um mecanismo de válvula que permite a entrada do ar, mas não sua saída · Aumento progressivo da pressão intrapleural, que causa o colapso total do pulmão e desvio do mediastino para o lado oposto. · Diminuição do retorno venoso (RV) e redução do débito cardíaco (DC). · Diagnóstico – presença de insuficiência respiratória aguda, enfisema subcutâneo, ausência de murmúrio vesicular, timpanismo à percussão e desvio da traqueia · Descompressão torácica sem esperar confirmação radiológica · Alívio temporário dessa condição potencialmente fatal – posicionamento adequado de uma agulha no espaço pleural. - Choque neurogênico – lesões intracranianas isoladas não causam choque, por isso a presença de choque em uma paciente com trauma de crânio exige que o médico pesquise outras causas para o choque. · Lesão medular cervical ou torácica alta – provoca hipotensão por perda do tônus simpático, o que acentua o efeito fisiopatológico da hipovolemia, e tal acentua o efeito da denervação simpática, como um ciclo. · Hipotensão SEM taquicardia e vasoconstrição cutânea – quadro clássico de choque neurogênico. · Pulso fino não é visto no choque neurogênico. · Doentes com choque neurogênico, ou suspeita, devem ser tratados como se estivessem hipovolêmicos. · O insucesso no restabelecimento da perfusão orgânica com a reposição volêmica sugere a presença de hemorragia contínua ou de choque neurogênico. - Choque séptico – é incomum, mas é o choque por infecção imediatamente após o trauma, e ocorre se a chegado do doente ao PS demorar algumas horas. · Pode ocorrer em doentes com ferimentos penetrantes de abdome com contaminação peritoneal por conteúdo intestinal · Difícil diferenciação – doentes sépticos hipotensos e afebris e doentes com choque hipovolêmico, ambos podem apresentar taquicardia, vasoconstrição cutânea, diminuição do débito urinário, diminuição da pressão sistólica e pulso fino. · Fase precoce do choque séptico – volume circulante normal, discreta taquicardia, pele rósea e quente, pressão sistólica próxima do normal e alargamento da pressão de pulso. CHOQUE HEMORRÁGICO - A hemorragia é a principal causa de choque no paciente traumatizado - A hemorragia é a perda aguda de volume sanguíneo, sendo que o volume sanguíneo de um adulto normal corresponde a 7% do seu peso corporal. · Por exemplo, um indivíduo de 70kg tem aproximadamente 5L de sangue circulante. · Obesos – é calculado de acordo com o seu peso corporal ideal, pois se considerado o peso real o valor pode ser superestimado. · Crianças – o volume sanguíneo é calculado de 8 a 9% do peso corporal. As alterações representam uma condição de hemorragia contínua e servem somente como um guia para o tratamento inicial, a classificação é útil para enfatizar os sinais precoces e a fisiopatologia do choque. Perdas de sangue – Classificação fisiológica - Classe I (até 15% do VS) – semelhante a um doador de uma unidade de sangue · Taquicardia leve, sem alterações mensuráveis de PA, pulso ou FR. · Não exige reposição volêmica, pois o reenchimento capilar e outros mecanismos restabelecem o volume circulatório em 24h. - Classe II (15%-30% do VS) – hemorragia não complicada, mas na qual é necessária a reposição de cristaloides · Taquicardia (acima de 100bpm), taquipneia e diminuição da pressão de pulso (PP) · Aumento de catecolaminas · Elevação da PAD (diminui PP), porém pouca, ou nenhuma, alteração da PAS. · Catecolaminas circulantes aumentam o tônus e a RVP · Alterações sutis no SNC, ansiedade, medo ou hostilidade · Diurese pouco alterada, DU usualmente é de 20 a 30 mL/h no adulto. · Perdas hidroeletrolíticas agravam a situação, alguns necessitam de sangue, mas podem ser estabilizados com cristaloides. - Classe III (30%-40% do VS) – mais complicado, exige reposição de no mínimo cristaloides, e possivelmente sangue · Sinais clássico de perfusão inadequada, incluindo taquicardia, taquipneia, estado mental alterado e queda mensurável da PAS. · Doentes requerem quase sempre transfusão, concentrado de hemácias e produtos sanguíneos para reverter o estado de choque. · A prioridade é interromper a hemorragia por cirurgia de emergência ou embolização. · A decisão de transfusão é baseada na resposta do doente à reposição líquida inicial. - Classe IV (mais de 40% do VS) – evento pré-terminal, doente morrerá em minutos se não for adotadas medidas agressivas. · É uma ameaça imediata à vida · Taquicardia acentuada, diminuição da PAS e pulso ‘pinçado’ ou PAD não mensurável · DU desprezível · Nível de consciência deprimido · Pele fria e pálida · Exigem transfusão rápida e intervenção cirúrgica imediata – decisão baseada na resposta do doente às medidas de tratamento inicial. · Perdas superiores a 50% determinam inconsciência, diminuição da pressão de pulso e da pressão sanguínea. - É perigoso aguardar o doente traumatizado se enquadrar numa classificação fisiológica precisa antes de iniciar a restauração agressiva de volume – o controle da hemorragia e a reposição com solução balanceada deve ser iniciada precocemente, tão logo se tornem suspeitos ou aparentes sinais e sintomas de perda sanguínea - não quando a pressão arterial se reduza ou não possa ser aferida. Alterações secundárias de fluido nas lesões de partes moles - Fratura de úmero ou tíbia – perdas equivalentes a 1,5 unidade de sangue – 750 ml - Fratura de fêmur – até 1.500 ml - Fratura pélvica – vários litros de sangue podem acumular-se em um hematoma de retroperitônio. - Edema de partes moles traumatizadas – ativação da resposta inflamatória sistêmica, produção e liberação de múltiplas citocinas – aumentam a permeabilidade no endotélio vascular. - Edema tecidual – transferência de líquidos do plasma para o espaço extravascular/extracelular · Essa transferência espolia ainda mais o volume intravascular. ABORDAGEM INICIAL DO CHOQUE HEMORRÁGICO - O princípio básico do tratamento é interromper o sangramento e repor as perdas volêmicas - A e B: Ventilação e oxigenação adequadas são a prioridade – SatHb > 95% manter - C: controle da hemorragia externa, obtenção de acesso venoso e avaliação da perfusão tecidual. · A prioridade é a interrupção do sangramento, e não o cálculo de perdas volêmicas. · Fraturas pélvicas – controle com lençol ou cinta pélvica podem ser usados para controlar o sangramento. - D: nível de consciência, movimentação ocular, resposta da pupila, melhor função motora e nível de sensibilidade. · O restabelecimento da perfusão e oxigenação do cérebro deve ser alcançado antes da atribuição desses achados a lesões intracranianas. - E: Ao despir o doente, a prevenção da hipotermia é essencial · Uso de líquidos aquecidos, técnicas de reaquecimento externo passivo e ativo. · Tríade mortal – hipotermia, coagulopatia e acidose metabólica · A hipotermia pode exacerbar a perda sanguínea através da piora da coagulopatia e acidose metabólica. - Dilatação gástrica – hipotensão inexplicada ou arritmias cardíacas, bradicardia devido ao estímulo vagal, o que aumenta o risco de aspiração do conteúdo gástrico e complicações fatais · A descompressão – introdução de um tubo naso ou orogástrico conectado a um equipamento de aspiração para remover o conteúdo gástrico. - Sondagem vesical – avaliação da presença de hematúria (retroperitônio c/ foco de sangramento)e monitoração da perfusão renal pelo débito urinário (DU). · Contraindicado – sangue no meato uretral ou na próstata deslocada cranialmente, móvel ou não palpável no homem – confirmação radiográfica na integridade da uretral, uretrocistrografia retrograda. Acesso vascular - Inserção de dois cateteres intravenosos periféricos (calibre mínimo de 16 G no adulto) antes de considerar um acesso central. · Lei de Poiseuille – Velocidade do fluxo proporcional à quarta potência do raio (R4) do cateter, e inversamente proporcional ao comprimento. · Preferencial cateteres calibrosos e curtos para rápida infusão de fluidos - Preferencialmente nas veias de grosso calibre do antebraço ou antecubitais. - Circunstâncias não permitem veias periféricas – estará indicado a dissecção cirúrgica da veia safena ou acesso venoso central (femoral, jugular ou subclávia) pela técnica de Seldinger. · Caso um acesso venoso periférico não possa ser obtido, considere um acesso intraósseo (IO) como medida temporária - O Acesso Venoso Central (AVC) aumenta os riscos de complicações graves (pneumotórax ou hemotórax), e necessitam ser trocadas tão logo a depender das condições ambientais e do doente. - Crianças menores de 6 anos, antes do AVC, devem-se tentar o acesso intraósseo com uma agulha intraóssea. - Assim que se conseguir um acesso venoso – colher amostra de sangue para tipagem, prova cruzada, exames laboratoriais adequados, estudos toxicológicos, gasometria arterial e teste de gravidez em todas mulheres em idade fértil. - Após um AVC (cateter na subclávia ou jugular interna) – solicita-se uma radiografia de tórax para documentar posição do cateter e avaliar possível pneumotórax ou hemotórax. Reposição volêmica inicial - Reanimação inicial com soluções eletrolíticas isotônicas aquecidas, como Ringer Lactato ou soro fisiológico – expansão intravascular transitória que contribui para estabilização do volume vascular, por meio da reposição das perdas do interstício e para o compartimento intracelular. - A dose habitual é a administração de liquido aquecido 1L em adultos, e 20 ml/kg em crianças abaixo de 40kg. · A infusão continua de grandes volumes não substitui o controle definitivo da hemorragia - É mais importante avaliar a resposta do doente à reposição volêmica e identificar a evidência de· uma adequada perfusão e oxigenação orgânica finais (por exemplo, débito urinário, nível de consciência e perfusão periférica). - Objetivo da reposição – restauração da perfusão dos órgãos. - Se a pressão subir rapidamente antes que a hemorragia tenha sido controlada definitivamente, pode haver um aumento do sangramento. · Por isso, a infusão de grandes quantidades de fluidos e sangue não substitui o controle definitivo da hemorragia. · Inclusive, retardar a reposição agressiva de fluidos até que o controle definitivo da hemorragia tenha sido alcançado, previne sangramento adicional. - A administração excessiva de fluidos pode exacerbar a tríade letal · Coagulopatia · Acidose metabólica · Hipotermia com ativação da cascata de inflamação. - Repor volemia e evitar hipotensão – tratamento inicial de doentes com trauma fechado, p.ex TCE. - Trauma penetrante com hemorragia – retardo na reposição volêmica agressiva, até que o controle definitivo da hemorragia tenha sido feito, pode prevenir uma hemorragia maior. - As complicações relacionadas à reanimação sejam indesejáveis, a alternativa da exsanguinação é pior - Deve-se colocar na balança a restauração da perfusão dos órgãos de um lado e do outro os riscos inerentes do aumento da hemorragia do outro, aceitando-se uma pressão abaixo dos níveis normais (Reanimação controlada ou hipotensiva). Avaliação da resposta à reposição volêmica - Normalização da pressão sanguínea, pressão de pulso e da frequência cardíaca são sinais de que a perfusão está retornando ao normal · Embora, tais não forneçam informações da perfusão orgânica e da oxigenação tecidual - Melhora da PVC e da circulação cutânea – sinais da normalização da perfusão orgânica - Débito urinário – indicador de perfusão renal (monitoração da reanimação e resposta do doente). Débito urinário - Monitor do fluxo sanguíneo renal - Reposição adequada · DU de aproximadamente 0,5 mL/kg/h no adulto; · DU de 1 mL/kg/h em crianças; · DU de 2 mL/kg/h em crianças abaixo de 1 ano. · Se não mantém esses valores, indica uma reanimação inadequada Equilíbrio acidobásico - Choque hipovolêmico precoce tem alcalose respiratória devido à taquipneia, que se segue com uma acidose metabólica nas fases precoces do choque, que não requer tratamento. - Acidose metabólica grave pode surgir quando o choque é prolongado ou grave – decorre do metabolismo anaeróbico devido a perfusão tecidual inadequada e produção de ácido lático. - A persistência reflete uma reanimação inadequada ou perdas sanguíneas continuadas. - Em doentes normotérmicos em choque, deve ser tratado com a infusão de líquidos e de sangue. - Bicarbonato de sódio não deve ser usado rotineiramente para tratamento da acidose metabólica secundária ao choque hipovolêmico. Padrões de resposta do doente - Hemodinamicamente estável – apresenta taquicardia, taquipneia e oligúria persistentes – ele não foi reanimado adequadamente e continua em choque. - Hemodinamicamente normal – não exibe qualquer sinal de perfusão tecidual inadequada - A resposta do doente à reposição inicial de fluido é a chave para determinação do tratamento subsequente Resposta rápida · Respondem rapidamente à reposição volêmica inicial, e permanecem hemodinamicamente normais após o término da reposição inicial. · Pequena perda da volemia (inferior a 15%) · Não é indicada a administração adicional de soros ou infusão imediata de sangue. · A necessidade cirúrgica é possível – é indispensável a presença e avaliação por um cirurgião · Deve-se estar disponível sangue tipado e com prova cruzada. Resposta transitória · Responde à reposição inicial rápida · À medida que se reduz a velocidade de infusão para níveis de manutenção, mostra-se deterioração da perfusão periférica – sangramento persistente ou reanimação inadequada. · Perda sanguínea estimada entre 15 a 40% · Sangue e derivados são indicados · Cirurgia ou angiografia são requeridos para controle da hemorragia. Resposta mínima ou ausente · Falta de resposta na sala de emergência à administração adequada de cristaloide e de sangue · Intervenção definitiva com cirurgia ou angioembolização para controlar a hemorragia exsanguinante. · Insuficiência da bomba – traumatismo cardíaco contuso, tamponamento cardíaco ou pneumotórax hipertensivo. · Monitorização da PVC ou ecocardiografia de emergência – ajuda a diferenciar as várias etiologias do choque. REPOSIÇÃO DE SANGUE - Aqueles ditos respondedores transitórios ou não respondedores, precisam de uma transfusão precoce de concentrado de hemácias, plasma e plaquetas durante a reanimação inicial. Sangue com provas cruzadas, tipo específico e tipo O - O principal objetivo da transfusão sanguínea é restabelecer a capacidade de transporte de oxigênio do volume intravascular. · Sangue com todas provas cruzadas é preferível, porém exige 1h para teste. - Naqueles casos que o sangue com todas provas cruzadas não está disponível, o sangue O é indicado para aqueles com hemorragia exsanguínante. · O tipo O negativo é preferível em mulheres em idade fértil para evitar sensibilização e complicações futuras - Se disponível, o sangue tipo específico é preferível ao sangue tipo O. Exceto em situação de várias vítimas, e há risco de troca inadvertida de bolsas de sangue. - Professor: “se não tiver sangue O, faz qualquer tipo de sangue”. Prevenção da Hipotermia - A maneira mais eficaz de prevenir a hipotermia em qualquer doente que receba reposição maciça de cristaloides e de sangue é o aquecimento dos cristaloides a 39ºC (102,2ºF) antes da infusão. - Embora, sangue e hemoderivados não podem ser armazenados em estufas aquecidas, mas podem ser aquecidos pela passagem de aquecedores de fluidos intravenosos. Autotransfusão - Deve ser considerada para pacientesque apresentarem hemotórax maciço (>1.500ml), e pode considerar transfusão de plasma e plaquetas. - Dispositivos e tubos de drenagem que permite uma coleta estéril, anticoagulação e retransfusão. Transfusão maciça - O que é transfusão maciça? · A transfusão de mais de 10 unidades de concentrado de hemácias dentro das primeiras 24 horas da admissão hospitalar, ou 4 unidades dentro da 1ª hora - Reanimação “balanceada”, “hemostática” ou “de controle de danos” consiste na administração precoce de concentrado de hemácias, plasma e plaquetas em proporção balanceada. - A administração apropriada de hemoderivados tem demonstrado melhorar o desfecho nesse grupo de doentes Coagulopatia - Medidas do tempo de protrombina, tempo de tromboplastina parcial e da contagem de plaquetas são estudos valiosos na 1ª hora. - Ácido tranexâmico no ambiente pré-hospitalar em doentes traumatizados graves, aumenta sobrevida se administrado nas 3 primeiras horas do trauma. · 1ª dose dentro de 10 minutos e no ambiente pré-hospitalar, e a dose seguinte de 1g é infundida durante 8 horas - Pacientes com trauma craniano grave são suscetíveis a anormalidades de coagulação, e a administração precoce de plasma ou fatores de coagulação e/ou plaquetas aumenta sobrevida dos doentes que estiverem em uso de anticoagulantes ou antiagregantes plaquetários. Reposição de Cálcio - A maioria dos doentes que recebem transfusão de sangue não precisam repor cálcio, se for necessária, depois de repor dose o cálcio ionizado (ATLS). · Professor: “repor cálcio nos indivíduos que fizeram a reposição de bolsa de hemoconcentrado devido a presença de quelante de cálcio (citrato) com 1 a 2 ampolas para cada bolsa de sangue.” CONSIDERAÇÕES ESPECIAIS - Um aumento da pressão sanguínea pode não equivaler a um aumento concomitante do débito cardíaco ou da reversão do estado de choque. · Exemplo disso, são os pacientes em uso de vasopressores, que elevam a RVP e a PA, mas não melhora perfusão e a oxigenação tecidual Situações Especiais · Idoso – o idoso não consegue aumentar a FC ou a eficiências das contrações miocárdica. 1. Diminuição relativa da atividade simpática no que diz respeito ao sistema CV; 2. Depleção de volume preexistente devido ao uso de diuréticos ou desnutrição; 3. Uso de beta-adrenérgicos podem mascar a taquicardia; 4. Redução da complacência pulmonar e fraqueza da musculatura respiratória limitam demanda gasosa; 5. Menor preservação do volume renal – liberação de aldosterona, catecolaminas, vasopressina e cortisol; 6. Rins suscetíveis ao hipofluxo e ação de agentes nefrotóxicos. · Atletas de treinamento rigorosos – a resposta à hipovolemia pode não se manifestar, ainda que tenha ocorrido perda volêmica significativa, devido à capacidade de compensação da perda sanguínea. 1. Volume sanguíneo aumenta 15 a 20%; 2. DC aumenta até 6 vezes; 3. Volume de Ejeção sistólica aumenta até 50%; 4. Pulso de repouso em torno de 50. · Gravidez – hipervolemia fisiológica da gravidez exige uma perda sanguínea maior para manifestações de anormalidade de perfusão. · Medicamentos 1. Bloqueadores de receptores beta-adrenérgicos e os bloqueadores dos canais de cálcio alteram a resposta hemodinâmica do doente à hemorragia; 2. Superdosagem de insulina – hipoglicemia que pode contribuir para o trauma; 3. Diuréticos crônicos – hipocalemia; 4. AINE – prejudica função plaquetária; · Hipotermia – o choque hemorrágico não responde normalmente à reposição volêmica e a administração de sangue pode desenvolver, ou piorar, coagulopatia. 1. Vítima de trauma + Álcool – hipotérmica com mais facilidade por resposta vasodilatadora; 2. Temperatura esofágica ou vesical – medida clínica mais acurada de temperatura central; 3. Reaquecimento central – irrigação da cavidade peritoneal ou torácica com solução cristaloide a 39ºC ou circulação extracorporal. · Marca-passo – são incapazes de responder à perda sanguínea de maneira habitual, pois o DC é diretamente proporcional à FC.
Compartilhar